caravela | edição 02 | 1º semestre de 2013

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Ia lentia laa le Carioca EDIÇÃO 02 SEMESTRE 2013 Da Rocinha a Copacabana, o Rio de Janeiro fica ainda mais lindo com a autoestma e a diversidade do povo da cidade maravilhosa Arte na periferia: artsta conta porque trocou as exposições internacionais por oficinas na comunidade porque “navegar é preciso” Rio+20: a constatação do desinteresse dos governantes e do engajamento da sociedade nas questões socioambientais Imagem: Projeto Identdade Carioca

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Identidade Carioca: Da Rocinha a Copacabana, o Rio de Janeiro fica ainda mais lindo com a autoestima e a diversidade do povo da cidade maravilhosa

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IalentialaaleCarioca

EDIÇÃO

021º SEMESTRE

2013

Da Rocinha a Copacabana, o Rio de Janeiro ficaainda mais lindo com a autoestima e a diversidade

do povo da cidade maravilhosa

Arte na periferia: artista conta porque trocou as exposições internacionais por oficinas na comunidade

porque “navegar é preciso”

Rio+20: a constatação do desinteresse dos governantes e do engajamento

da sociedade nas questões socioambientais

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Mande seus textos, ilustrações, ensaios, comentários e sugestões de pauta para:[email protected]. E acesse nosso blog: www.revistacaravela.com

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Este número da Caravela talvez seja o mais poético de todos. Isso por-que apresentamos, no decorrer das páginas da edição, alguns trabalhosem verso de Hugo Paz e Antonio Lino, nossos colaboradores desde aedição zero, e também de Jackson Boa Ventura, que reverencia a cidadeonde é radicado, o Rio de Janeiro.

A cidade maravilhosa é tema não apenas do poemaNas Esquinas do Teatro Municipal, mas tambémdo ensaio fotográfico Identidade Carioca, nosso con-teúdo de capa desta edição. Ambos são trabalhos de Jack-son, mas para constituir o seu ensaio fotográfico, ele contoucom a colaboração de três amigas. O trabalho foi exposto noespaço Oi Futuro Ipanema, zona sul do Rio, em fevereiro ejunho de 2012, e também na comunidade da Rocinha e napraia de Ipanema, num varal de fotos.

A proposta do ensaio foi a “reconstrução e afirmação daautoestima do povo carioca”. Isso porque, se-gundo o próprio idealizador do ensaio, oRio de Janeiro é internacionalmente co-nhecido pelas belezas naturais, pelo CristoRedentor e pelas comunidades, mas nunca pelo povo. Trata-se de um reconhecimento mais que merecido!

Do Rio de Janeiro vamos a São Paulo, onde conversamoscom a artista plástica Mônica Nador, que insatisfeita com ocircuito da arte e, ao mesmo tempo, movida pela solidariedade,muda-se para a periferia da zona sul da capital paulista, ondeestabeleceu uma ONG dedicada à democratização da arte.Esperamos que você aprecie mais este passeio a bordoda nossa nau.

Boa viagem!

Bruno FerreiraEditor

A beleza da alma carioca

Tripulaçao

EditorBruno Ferreira

Projeto gráficoManuela Ribeiro

ArteManuela Ribeiro

Colaboradoresdesta ediçãoAntonio Lino

Evelise BarbozaGabriela Pessoa

Hugo PazJackson Boa Ventura

Julia DávilaRafael Martini

Simone NascimentoVanessa BalsanelliWanderson Viana

JornalistaResponsá velBruno Ferreira

(MTb 62552/SP)

-

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06. Papo na Proa. Artista plástica movida pelo ideal dasolidariedade refugia-se na periferia de São Paulo para se dedicarà democratização da arte

12. E Vanessa Balsanelli apresenta o trabalho de estilistas quese dedicam à Moda Inclusiva

15. Hugo Paz se entristece com o teor de uma Notícia barata

16. IDENTIDADE CARIOCAO Rio de Janeiro é muito mais que Cristo Redentor, favelas e belaspaisagens. Talvez a principal beleza da capital fluminense esteja nascaracterísticas do povo carioca

22. Rafael Martini se anima com o clima do Carnaval de Salvador

24. Enquanto Evelise Barboza e Julia Dávila fazem um balançoda Rio+20

30. E o tema Golpes de Estado na América Latina é objetode análise de Gabriela Pessoa

32. Ainda Menino, Bruno Ferreira relembra com saudade aépoca de escola

33. E Jackson Boa Ventura poetiza sobre o que vê Nas Es-quinas do Teatro Municipal e sobre sua Confusão libertiginosa

34. O Lápis de cor de pele, de Simone Nascimento, mostracomo o racismo começa na infância

35.E Antonio Lino revela em versos como plantou um lindo Pé-de-céu.

Serviço de Bordo

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Ponto de Partida

Autoritarismo e controle

Apesar de escrita em 1948, a obra de George Orwell continua sendo referênciapara a discussão de controle social. O romance 1984 aborda o contexto de um regimepolítico extremamente autoritário e repressivo que o autor inglês cria para, a partirdo personagem central Winston Smith, detalhar como uma oligarquia dominante écapaz de persuadir, oprimir e controlar toda a humanidade com medidas extremas.O monitoramento do comportamento humano, por meio de uma tela (teletela) exis-tente em cada domicílio, a modificação frequente de arquivos históricos de acordocom a conveniência do grupo dominante, e a proibição do uso de palavras e a men-ção a pessoas que afrontam a ideologia castradora do regime vigente eram alguns dos métodos utilizadospara limitar os seres humanos. O termo “Big Brother” tem origem nesta obra. Tratava-se da autoridademáxima da sociedade, que controlava a tudo e a todos, e a qual todos deviam obediência para não sofrera consequência do esquecimento. Isso porque, as pessoas que não seguiam as determinações do “GrandeIrmão” não eram apenas mortas, mas eliminadas da memória social, como se nunca houvessem existido.

Educação sob novo prisma

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Muniz Sodré pro-põe uma visão comunicacional da educação em sua mais recente obra Reinven-tando a Educação – Diversidade, descolonização e redes, da Editora Vozes.De acordo com o autor, a educação necessita rever seus paradigmas em razão dapresença das novas tecnologias da comunicação no cotidiano da sociedade, espe-cialmente a internet. A obra propõe uma reflexão acerca do modelo atual de educa-ção, segundo Sodré ainda conservadora, excludente e pouco aberta à diversidade.

Cinema participativo

O documentário Life in a Day (A Vida em um Dia) é a prova de que o acessoàs novas tecnologias da comunicação pode fazer do cidadão comum um verdadeirocineasta. O longa-metragem mostra como foi o dia 24 de julho de 2010 de diversaspessoas de 192 países, de diferentes etnias e hábitos, que registraram suas atividadesem vídeo nesse dia e enviaram as imagens aos produtores do documentário, queafirmam terem recebido 85 mil vídeos, o equivalente a 4.500 horas de imagens. Odocumentário foi feito em parceria com o site Youtube, onde está disponível gra-tuitamente. Há ainda o DVD, lançado no ano passado no Brasil.

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ENTREVISTA: BRUNO FERREIRA | IMAGENS: ARQUIVO JAMACPapo na Proa

Apesar de ser no mesmo bairro onde resido háum ano, não tinha uma noção exata do localonde encontraria a minha entrevistada. A or-

ganização fundada por ela fica numa casa de esquina,de “muro todo colorido”. O ponto de referênciadado por Mônica Nador não poderia ter sido melhor.Avistei o tal muro a muitos metros de distância.

Já próximo à casa, antes mesmo de tocar a cam-painha, percebi o movimento do local. Batidas demartelo indicavam algum tipo de obra em andamentoe latidos de cães davam a impressão de que aquele es-paço era mais do que um ambiente profissional. Mô-nica, além de trabalhar, mora na casa de 200 metrosquadrados, “num buraquinho ali atrás”.

Com voz firme e jovial, a artista plástica de 57anos me recebeu com um entusiasmo tímido, talveztípico de uma filha de húngaros. Há oito anos, decidiusair de São José dos Campos (SP) e abandonar o cir-cuito de arte para se estabelecer na periferia da zonasul de São Paulo por uma questão puramente ideo-lógica. De convicção socialista, acredita que quem es-tudou tem por obrigação repartir o conhecimentoque possui com quem não tem.

Mudou-se para o Jardim Miriam, bairro próximoà divisa com o município de Diadema para cumprircom a missão de “repartir a sua renda” com os maispobres. Por isso, em 2004, fundou o Jardim Miriam

“A gente tem que sersolidário, cara! Tem queensinar solidariedade.Nelson Rodrigues disse queo brasileiro só é solidáriono câncer. E é verdade!”

Colorindo ummundo solidário

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Arte Cluble (Jamac), onde envolve moradores da regiãoem atividades com estêncil, técnica em que se aplicatinta em um molde com o formato de uma figura quese deseja reproduzir. Hoje, um dos principais desafiosda organização é a garantia da sustentabilidade pormeio de uma recém-instalada estamparia no local.

Mônica Nador é conhecida pelos projetos artísticosvoltados à moradia e territorialidade que desenvolve.Um deles é o Paredes Pinturas, que foi realizado no Jar-dim Santo André, periferia de Santo André (SP), emparceria com a CDHU. A ação na comunidade do mu-nicípio do ABC paulista não apenas preencheu comcor e criatividade as moradias populares, mas sobretudodevolveu a autoestima dos moradores.

Durante o bate-papo de quase três horas comMônica, num sábado chuvoso de janeiro, ela contacasos de pessoas que se reencontraram nas ativida-des artísticas de seus projetos pessoais e nas doJamac, que até pouco tempo envolvia a comunidadetambém na linguagem do cinema. Muito mais quea experiência da ONG, a artista dá uma aula de mi-litância política. Admiradora assumida de Che Gue-vara, cita Darcy Ribeiro, Roberto Schwarz, NelsonRodrigues e o filósofo húngaro da educação IstvanMézaros para expressar sua indignação com as in-justiças sociais e com o ser humano, segundo ela,ainda avesso à solidariedade.

Caravela: Como foi que você escolheu o JardimMiriam para estabelecer uma ONG?

Mônica Nador: Eu escolhi porque eu sou dessecircuito de artistas de São Paulo, dos museus e galerias.Então, eu vim fazer um trabalho de arte na ONG daMilu Vilela, que até então era diretora do MAM. Euvim pra ficar um ano. Eu já tinha feito algumas ações,por exemplo, em uma favela em São José dos Campos,e eu não estava satisfeita com o modelo que o circuitooferece que é de ir, fazer uma ação e voltar para o seulugar. Eu queria ficar no lugar.

Queria fazer uma ação permanente?Sim, permanente, e ver virar! Resolvi inventar outro

formato pra mim. Precisamos reinventar a arte no Bra-sil, mas acho que já avançamos. Isso porque estamosconsumindo uma noção de cultura europeia. E issosempre foi assim, desde o começo do Brasil. Darcy Ri-beiro, em O Povo Brasileiro, diz que o Brasil não foidescoberto e não fica naquela coisa idílica de “NovasÍndias”. Quando fomos descobertos, já estava sendoorganizada uma sociedade capitalista megaevoluída e agente já nasceu pra ser a periferia, porque os caras es-tavam precisando de mais área. Mas eu não conseguiser conivente com isso, eu não conseguia achar normalver criança morrendo na rua e passando fome. Eu achoque quem estudou no Brasil tem obrigação de distribuir

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o que aprendeu, sabe? Eu acho o ser humano muitoruim. E eu sou a primeira geração da minha família,que é húngara, aqui no Brasil. Eu não cheguei a desen-volver o cinismo constituinte da sociedade brasileiraque o Roberto Schwarz, em Ao Vencedor as Batatas,se refere. Ele faz uma análise do pensamento da classemédia, da burguesia aqui do Brasil, que diz que tudo daEuropa é bom e que aqui, a colônia, é ruim; além davergonha que se tem do Brasil...

E como é que se muda essa visão que o próprioBrasil tem de si mesmo?

A gente tem que ir contaminando as pessoas. Existeum livro muito legal de um cara chamado Istvan Mé-zaros, um filósofo da educação húngaro maravilhoso.Ele tem um livro chamado A Educação para Alémdo Capital, em que ele fala de uma educação, seja láonde você estiver, que deve ser feita de outro jeito, comsolidariedade. A gente tem que ser solidário, cara! Temque ensinar solidariedade. Nelson Rodrigues disse queo brasileiro só é solidário no câncer. E é verdade!

Quando você veio pra cá, já veio com a ideiade fundar a ONG?

Eu vim para isso! Só inventei de fazer porque eu fi-cava cutucando umas pessoas lá da zona oeste, ondeeu morei, e antes mesmo de já ter o lugar já tinha umestatuto.

É interessante perceber que nos seus projetosprocura-se valorizar mais o processo do que o pro-duto final, não é?

Isso aí é uma coisa que tem que ser feita, porque avalorização do produto é a valorização da mercadoria.Os fins justificam os meios? Eu acho que a gente nãoestá mais nessa. A gente deveria prestar mais atençãono meio, porque olha a quantidade de exclusão socialque o modelo vigente produziu. Por isso que não meinteressa inventar uma linguagem mais elaborada, o queme interessa agora é distribuir conhecimento para aspessoas que não tiveram acesso. A gente precisa correratrás do prejuízo. Eu não consegui ficar acomodada nomeu canto.

“Os fins justificam os meios? Eu acho que a gente não está mais nessa.A gente deveria prestar mais atenção no meio, porque olha a quantidade

de exclusão social que o modelo vigente produziu.”

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Você sempre foi idealista? Antes disso, comovocê era?

Eu era uma artista, pintora, fiz a FAAP, era docircuito, mas era muito insatisfeita, eu quase mudeide profissão. Primeiro, porque era muito difícil viverde pintar tela. Eu estava de saco na Lua disso.Quando entrei para o mestrado em Poéticas Visuaisna ECA/USP (Escola de Comunicação e Artes daUniversidade de São Paulo), eu encontrei a literaturaque me abriu os olhos. Então eu entendi que a pa-lavra “museu” vem de “mausoléu”. Museu abertoao grande público foi uma coisa criada no Ilumi-nismo. Quando eu descobri que o que eu fazia ser-via direto para ser guardado em um “depósito” euquase fiquei louca.

E por que a opção por trabalhar com estêncilno Jamac?

Porque é super democrático, né? É linguagem degrafiteiro, da galera, e é muito fácil, barato. Fui fazeruma oficina lá na beira do Rio Purus, na Amazônia,há 17 horas de barco de Manaus. Eu levei material,mas havia acabado o material deles e lá eu conseguiuma cartolinazinha para fazer uma máscara. Então,é uma coisa que em qualquer lugar você faz. E temo fato de ser uma matriz maravilhosa, uma gravurarudimentar, e esse método de construção da ima-gem é garantido que fica bom.

Achei bem legal a ideia das formaçõesdaqui, que vocês chamam de Café Filosófico.Como isso foi pensado para o Jamac?

É uma coisa incrível mesmo! Quando eu disseque vinha para o Jardim Miriam me indicaram oprofessor Mauro, de Geografia. Ele foi metalúr-gico durante 30 anos, fez Ciências Sociais na PUCem 20 anos, no período noturno, entre um filho eoutro, uma greve e outra... Ele tem um coração deouro! Então, antes de me mudar pra cá, eu vinhatoda semana aos domingos de São José dos Cam-pos fazer uma conversa com o Mauro e os amigosdele, para ir mostrando o que eu queria. Eu mos-trei os trabalhos para o Mauro e ele me disse:“Então, Mônica, eu não tenho problema de mora-dia nenhum, o que eu quero mesmo é educaçãocontinuada”. Na época o João estava com a gente,um rapaz super inteligente que fazia mestrado emCiências Políticas. Ele conseguiu trazer para cá umprofessor da FEA/USP (Faculdade de Economiae Administração da Universidade de São Paulo) eele dava um curso lá que era “O Desenvolvimentodo Pensamento Econômico – Dos Pré-socráticosaté Hoje”. E ele trouxe esse curso e deu aqui emoito meses, de 15 em 15 dias.

E quem assistiu a esse curso?A turma do Mauro de professores da rede pú-

blica de ensino, metalúrgicos e militantes, genteque tem essa ligação com o antigo PT, como oMauro, que levou borrachada da polícia nos anos1970. Mas hoje tem muita gente nova nessegrupo... Depois desse curso, a gente começououtro, que era “O Desenvolvimento do Pensa-mento Político – Dos Pré-socráticos até Hoje”,que durou uns quatro meses. Depois disso, em2006, fomos convidados para participar da Bienalde São Paulo. Tinha um ônibus da Bienal que tra-zia, duas vezes por semana, os visitantes para co-nhecer a nossa experiência. Se estivéssemos lá,seria apenas mais um ateliê. A gente precisa inte-

“A gente precisa integrar aspessoas e considerar a diferençade classe uma coisa importante,

porque eu vejo muita gentedizendo assim: Estou indo láconhecer, mas eu não quero

mudar nada. Só estou indo paraaprender com eles.”

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grar as pessoas e considerar a diferença de classeuma coisa importante, porque eu vejo muita gentedizendo assim: “Estou indo lá conhecer, mas eunão quero mudar nada. Só estou indo para apren-der com eles”...

Só querem viver uma experiência antropo-lógica?

Sim. Mas enfim, quando eu fui convidada praBienal, eu reuni o grupo e foi definido que faría-mos um simpósio sobre arte contemporânea e pe-riferia. O Celso Favaretto, que é filósofo daeducação e professor da USP, veio pra cá para par-ticipar de um Café Filosófico. Quando ele veio, oMauro virou para ele e perguntou: ”Professor, eutenho reparado que uns professores de EducaçãoArtística não gostam, não sabem e nem queremsaber de Arte Contemporânea, acham feio ou nãoa entendem. Por que isso acontece?”, então oCelso respondeu: “Arte é uma coisa que semprefez parte do cotidiano das pessoas. Mas a partirda industrialização, o desenvolvimento da arte vaitomando um rumo diferente e se afasta da educa-ção da população como um todo. Então, as pes-soas daqui não têm condições de entender o quese passa”. Isso foi legal porque eu entendi o queeu queria: fazer uma coisa normal, que é fazercom que as pessoas vivam a arte não como um es-petáculo a ser consumido, mas como algo consti-tuinte da vida cotidiana.

O que você acha sobre a pichação?Ainda é discriminada, claro! Eu acho que é uma

expressão completamente legítima de cultura. Euacho que eles têm que pichar. Não gosta da picha-ção? Vamos dar educação para, quem sabe, fazeremoutra coisa. É o repertório dos caras. Tá reclamandodo que? Os caras picham porque eles têm que sesentir dentro da cidade. O cara quer se incluir. Temque considerar completamente, não tem nem o quequestionar! Teve uma Bienal em que foram os pi-chadores e a instituição em vez de dizer “Vinde amim as criancinhas”, os discriminou. Isso aumentaa segregação, a desigualdade, o incômodo...

Mas como resolver esse conflito?Educação! E tem que engolir! Tem que se apro-

ximar, chegar junto... O natural pra eles é virar gra-fiteiro e trabalhar com isso...

Isso porque o grafite é mais aceito?Sim, e porque é mais compreensível, né? Agora

já virou arte. Mesmo a pichação já virou arte. AFrança já levou um menino aqui da zona sul prapichar um museu e foi incrível. Tinha um meninodaqui da região que viu o outro no jornal e disse:“Nossa, eu conheço esse cara! Ele é muito pobre!Eu não acredito que ele está lá!” Foi a primeiracoisa que ele disse. Eu acho que tem uns pichosmuito legais por aí. Claro que precisa ter um olharpara aquilo, precisa desconstruir todo o precon-ceito. E isso é marcação de território mesmo.Esses caras estão se aproximando do território que

“Claro que estragar a casados outros é um saco. Mas não

adianta você não gostar.O cara está ali se manifestando,

sendo gente.”

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"A gente não pode devolver aviolência com a violência. A gente

tem que usar outra moeda, pormais difícil que seja.”

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também é deles, o que é completamente legítimo.Claro que estragar a casa dos outros é um saco. Masnão adianta você não gostar. O cara está ali se ma-nifestando, sendo gente.

Pra você, a melhor forma de revolucionar épor meio da Educação?

Sim! Mas isso depende de uma força tarefa, de von-tade política. Claro que nós, os bonzinhos, estamosnos replicando, mas os malvados também estão e emmaior escala. Mas também é verdade que a gente nãopode devolver a violência com a violência. A gente temque usar outra moeda, por mais difícil que seja.

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Legendas: 1. Estêncil na Parede | 2 e 3. Mônica Nador(Bruno Ferreira) | 4. Trabalhos feitos no Jamac | 5 e 6.Oficinas de estêncil no Jamac | 7, 8, 9 e 10. Paredes Pinturas

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“Mercado de estilos”, um dos termospelo qual a moda é conhecida, ex-plicita a grande e atualizada oferta

de escolhas no vestuário, possibilitando caracterizar-se de diferentes formas, a cada mudança de look.

No entanto, quando se tem alguma deficiência,esse parâmetro se altera. As ofertas se tornam es-cassas ou até mesmo nulas para alguns tipos de de-ficiência. Segundo informações do CensoDemográfico 2010, quase 24% da população bra-sileira declararam ter algum tipo de deficiência.Dessa porcentagem, 43 milhões de pessoas pos-suem deficiência física.

A Inclusão Social é a inserção de pessoas à mar-gem da sociedade ao ensino e ao mercado de tra-balho, viabilizando sua participação ativa nasociedade. No entanto, medidas inclusivas têm ca-minhado a passos lentos. Em 2010, somente 46%das pessoas com deficiência pesquisadas peloIBGE declararam possuir nível de ocupação ouserem economicamente ativas.

Essa dificuldade de inclusão também se refletena moda, em um aspecto fundamental: a necessi-dade de se vestir. Por não terem marcas com mo-delagem específica, muitos recorrem àcustomização de peças encontradas no mercado.Porém essa situação está aos poucos se alterandocom iniciativas de alguns profissionais que estãoconstruindo uma moda inclusiva.

Moda inclusiva vem do estudo especializado damodelagem ergonômica, aquela planejada especifi-camente para a pessoa em situação de uso, com ne-cessidades especiais. Esse tipo de modelagem não

é planejado somente na posição em pé, quando éprocurado o perfeito caimento da roupa, mas nautilização dessa peça como um todo, desde o vestiraté a resposta que ela apresenta ao uso.

Fátima Grave é tida como a percussora desse es-tudo no Brasil. Ela se especializou em ergonomia dohemiplégico após ser procurada pela mãe de um ga-roto com hidrocefalia, que não conseguia encontrarroupas que se adequassem ao uso da criança. Fátimapassou a visitar o Centro de Reabilitação do ServiçoSocial da Indústria – SESI, hospitais e times espor-tivos compostos por atletas portadores de deficiênciafísica para dar início à sua pesquisa. Segundo ela, asroupas especiais se diferenciam pela integração dastabelas, com medidas e angulações dos caimentosdas peças no corpo com deficiência, ela sintetiza:“São leis da física aplicadas na modelagem”.

Com 14 anos de pesquisa, Fátima escreveu trêslivros sobre ergonomia. Auxilia na organização doevento Reafashion com seus desfiles que ocorremhá dez anos durante o evento Reatech, uma feira denegócios voltada à tecnologia para pessoas comalgum tipo de deficiência. A cada ano ela pesquisaum tema, desenha e modela suas criações e as vê ga-nharem vida na passarela com modelos especiais decriança a adultos. Fátima, após apresentar seu estudoem um em um congresso em Portugal, foi convidadapelo núcleo da Weadapt a fazer parte do projeto.

A Weadapt é uma marca portuguesa de múltiplosdesigners que visam aliar à funcionalidade a estéticacom roupas especiais para cadeirantes. A venda éonline e o projeto apresenta uma fórmula tão acer-tada que possui até mesmo coleção de alta costura.

VANESSA BALSANELLI

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Moda InclusivaPensando nas pessoas com deficiência

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do cadeirante deve ter fechos acessíveis e ausênciade costura na parte traseira das peças de modo aevitar escaras ou desconforto à pessoa. Ela explicaque todo seu trabalho é fundamentado em dadosreais e não em hipóteses.

Neste semestre, Candida iniciou sua pesquisacom mães cadeirantes para viabilizar o desenvolvi-mento de um acessório adaptado para o uso do bebêde uma mãe cadeirante, inspirada pela obra literáriaMaria de Rodas – Delícias e desafios na mater-nidade de mulheres cadeirantes, da editora Scor-tecci, que trata da experiência de ser mãe. Ela ressaltaque em seu site (www.candidacirino.com.br) há umespaço exclusivo para interação com o público.

Iniciativa no Sul

No Sul, há a estilista paranaense Candida Cirino,que estuda a vestimenta ideal para pessoas comlesão medular, desenvolvendo moda especializadapara cadeirantes. Sua iniciativa começou no desen-volvimento de uma monografia voltada para a de-ficiência visual, quando ainda cursava Artes Visuais.Em sua segunda graduação, Moda, iniciou o estudocom atletas cadeirantes, jogadores de basquetebolda Universidade Estadual de Londrina. Ela afirmaque para desenvolver a vestimenta é preciso definiras particularidades conforme o grau de deficiênciade cada atleta, mas de uma maneira geral a roupa

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Agência de modelos

Uma iniciativa diferente de transformação namoda foi proposta por Kica de Castro, fotógrafaque em 2007 lançou a primeira, e até então única,agência de modelos com deficiência no Brasil. Kicateve uma experiência bem delicada em seu trabalhoem um centro de reabilitação para pessoas com de-ficiência física. Sua função era tirar fotos para pron-tuários médicos, algo desconfortável para ospacientes que ficavam em peças íntimas ou nus como número do prontuário. Disposta a mudar essa si-tuação desagradável, Kica comprou diversos artigosde beleza e acessórios e fazia uma pequena produ-ção antes das fotos, ela afirma que esses cinco mi-nutos de contato que promovia com a vaidadefaziam o trabalho menos agressivo aos pacientes. Eforam com constantes pedidos de books pessoais emais tarde estudos sobre a possibilidade de abriruma agência de modelos, que percebeu que na Eu-ropa havia numerosas iniciativas voltadas a deficien-tes, de concursos de beleza a reality show.

Sua agência, localizada em São Paulo, contacom 80 modelos de diversos estados, entre ho-mens e mulheres de quatro a 60 anos para mer-cado publicitário e da moda. Os quesitos paracontratação são os mesmos que qualquer agência,a pessoa deve cuidar da saúde e da aparência, éimportante praticar atividades físicas, ter boa ali-mentação e comunicação. As contratações maio-res são para recepção de eventos, alguns anúnciose desfiles além de exposições fotográficas, masKica ressalta que a parte publicitária deixa a dese-jar ao não incluí-los em suas propagandas.

Um parâmetro que aos poucos se modifica, aModa Inclusiva precisa de maiores investimentostanto de profissionais quanto de empresas e governospara edificar marcas e capacitar pessoas, promovendouma real inclusão social na moda. Com iniciativas

que se espalham pelo Brasil, esperamos que o futuroseja promissor e que as diferenças não sejam evitadas,mas reconhecidas com suas particularidades.

Vanessa Balsanelli é designer de moda

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Legendas: 1. Rayane Landim (Kica de Castro) | 2. CarolineMarques (Kika de Castro) | 3. Thayla Fernanda Fitz Becalhi(Acervo Cândida Cirino)

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HUGO PAZ

Notícia barataOs jornais... VendemA Tragédia.

A cólera... Apossa-se Das figuras empalhadas.

A taça... SangraO líquidoDo pecado.

A notícia barataSobe ao pedestalDos seres robóticos

O ModernismoTomou um tiro pela culatra.

O coração É órfãoDo amor.

A melancoliaDos novos temposPresenteia...

Os seres alienados.

As páginas se esbravejamPela indignação acasalada.

A notícia:Que um diaFoi sensata

Aos poucos...

Perdeu sua herança.Hugo Paz é escritor. Saiba mais sobre o seu trabalho no blog:

http://poesiaedahoramano.blogspot.com.br/

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IdentidadeCariocaS

egregados, colocados em formas quentes,cheias de julgamentos errôneos, infringidospor tantos preconceitos.

Sempre desestimulados por seus próprios go-vernantes e líderes. É hora de se levantaremcomo potência.

Porque o povo é a potência.Todo herói deve por vez e hora revelar sua iden-

tidade, essa é a nossa hora.Brava gente, sua voz merece ser exaltada e que

se ouça o grito de liberdade. Mais que as belezas na-turais, o Rio de Janeiro foi agraciado por ser territó-rio de um povo amado, povo que exala carisma eamor. Povo simples, mas incomum. Que reflete agrandiosidade e a glória do seu habitat. Cariocas dis-pensam o ser gentílico, “pode vir, pode chegar”,basta amar o Rio, ser feliz e batalhar. A principal ma-ravilha é ter coração de mãe, sempre cabe mais um,não importa a origem.

Originalidade e singularidade que consistem napluralidade carioca. Mistura com sintonia, riqueza.Gente que desmistifica. Há beleza no estranho, napobreza tem requinte. Povo com rosto marcante, eespontaneidade que encanta um mundo. Da favelaao asfalto, da periferia à orla vemos o povo em des-taque. E que assim seja. Podem sorrir cariocas,sejam felizes onde estão, em qualquer parte domundo. Porque agora vocês são o novo e maiorcartão postal da cidade.

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JACKSON BOA VENTURA | IMAGENS: AMANDA MARTINS, JACKSON BOA VENTURA, LOURENA AGUIAR, VYKTHORIA ALEXANDRA

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IdentidadeCarioca

As pessoas fotografadas, em dife-rentes locais da cidade maravilhosa,escreveram no papel a palavra que, se-gundo elas próprias, melhor as define.

(Nota da Redação)

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Não são poucas as pessoas que passam oano se preparando para a principal festado ano. Organizam grupos de amigos,

economizam mês a mês, delegam funções. Até fes-tas “preparatórias” acontecem. Tudo para que nadasaia errado no evento mais esperado do ano! Masque evento seria esse? O Réveillon? Pode até serque algumas pessoas digam que sim. Mas no Brasiluma grande parte do povo quer saber é do carnaval!

E quando falamos em carnaval, tem um destinoque é unânime. Salvador! A capital baiana recebeanualmente uma das maiores festas de participaçãopopular no planeta.

Os trios elétricos, como são conhecidos os ca-minhões que viram palco para os principais artistasdo “Axé Music”, desfilam pela cidade em três prin-cipais circuitos: Osmar (Campo Grande), Dodô

(Barra-Ondina) e Batatinha (Centro Histórico).Para se ter ideia do tamanho da festa, segundo a

empresa Salvador Turismo (Saltur), que organiza oevento, todo ano a cidade recebe mais de 2 milhõesde foliões. São 231 entidades (29 afoxés, 65 afros,14 alternativos, 39 blocos de trio, setepercussão/sopro, quatro especiais, quatro de índios,sete infantis, 19 de percussão, 33 de samba e dez detravestidos) cadastradas para o evento.

De acordo com o site oficial do carnaval, a ci-dade ocupa uma área de 25 quilômetros de ave-nidas, ruas e praças de Salvador, abrigandocamarotes, arquibancadas, postos de saúde, pos-tos policiais, além de toda uma infraestrutura es-pecial montada pelos diversos órgãos municipais,estaduais e federais. No ano de 2013, o carna-val acontece dos dias 7 a 12 de fevereiro.

Vem, Carnavalde Salvador!

RAFAEL MARTINI

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Cordeiros e cordeirasSão homens e mulheres, selecionados e contra-

tados, para segurarem as cordas que cercam os in-tegrantes do trio. Os cordeiros devem manter ascordas suspensas, garantindo a segurança do foliãoe permitindo uma tranquila fluência do bloco noscircuitos. Todos são uniformizados, recebem equi-pamentos de proteção individual (EPI), como luvase proteção auricular, e são divididos por lados (la-teral direita, lateral esquerda, frente e fundo) paraque todo o trio, carro de apoio e foliões estejamprotegidos pelas cordas.

CamarotesSão estruturas em torno dos circuitos, para

quem prefere um maior conforto para curtir o car-naval. Os camarotes proporcionam visão privile-giada ao folião, com um interior equipado comboates, lounges, baianas de acarajé, inúmeros res-taurantes, customização de abadás, salão de belezae até spa.

PipocaÉ o chamado conjunto de foliões que não

possuem abadás. Os foliões da pipoca curtem dolado de fora do trio e muitas vezes acompanhamo artista de sua preferência ao longo do circuito.A pipoca do Chiclete com Banana é conhecidacomo a maior de todos os circuitos de Salvador.

(Informações fornecidas pela Saltur)

Rafael Martini é jornalista é músico

Curiosidadessobre o carnaval

Fique por dentro dos termos que você vai ouvirse passar o carnaval na cidade do Axé!

Trios elétricosÉ o nome pelo qual é chamado o caminhão

adaptado com aparelhos de sonorização, que chegaa pesar 35 toneladas, em média, com a estruturapara shows musicais ao vivo, de aproximadamentecinco a sete horas em cada circuito do carnaval. Apotência do motor da carreta que puxa o trio variade 300 a 440 cavalos de força. O nível máximo deemissão sonora admitido para cada trio e carro desom é de 110 decibéis, medidos a cinco metros dedistância da lateral e à altura de 1,5 metro do solo.

AbadásCriado na década de 1990 pelo artista plástico

Pedrinho da Rocha, o abadá veio substituir as anti-gas e pesadas mortalhas (vestimentas). São camisascustomizadas para cada bloco, que dão direito aofolião brincar dentro das cordas.

CordasCada bloco é limitado por cordas, que são sus-

pensas por cordeiros, isolando o folião da área ex-terna do bloco.

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Entre os dias 20 e 22 de junho de 2012, a ci-dade do Rio de Janeiro recebeu a Conferên-cia das Nações Unidas sobre o

Desenvolvimento Sustentável, também conhecidacomo Rio+20. A Conferência recebe esse nome poracontecer, justamente, 20 anos após a ECO 92, ouCúpula da Terra, que reuniu líderes mundiais, nessamesma cidade, para debater meios de se conciliar de-senvolvimento econômico e meio ambiente.

A ECO 92, em particular, foi a ocasião em quese consagrou o termo “desenvolvimento sustentá-vel” e reconheceu-se a ligação entre os danos am-bientais e as atividades dos países desenvolvidos.Neste encontro, foram oficializados importantesdocumentos que até hoje são referência, como aCarta da Terra, a Declaração do Rio e a Agenda 21.

A Rio+20, por sua vez, surgiu num contexto emque as questões ambientais ficaram ainda mais ur-gentes e os compromissos firmados em 1992 nãohaviam sido inteiramente cumpridos. O encontrotinha como objetivo oficial estruturar a transiçãoda economia atual para uma “economia verde”(termo um tanto quanto polêmico), definir proces-sos para a legitimação da governança mundial sobreo desenvolvimento sustentável, e seus respectivosmeios de implantação e utilização.

Após três dias de negociações entre lideranças

Rio+20: a sociedadecivil dá seu recado

EVELISE BARBOZA E JULIA DÁVILA | IMAGENS: JULIA DÁVILA

mundiais, foi apresentada a declaração final cha-mada de “O Futuro que Queremos”, assinado por188 países. Ele recebeu fortes críticas, pois, na ver-dade, já estava sendo estruturado durante dois anoscom consultas livres a pesquisadores e técnicossobre os assuntos, dentro e fora da ONU e seus re-sultados estavam aquém do esperado.

Esperava-se que seu documento final fosse am-bicioso, marcado pelo real compromisso dos paísescom o desenvolvimento sustentável. Entretanto,não foi o que se verificou. O documento acabousendo genérico. Ele assinala os problemas, mas sempropor medidas concretas de solução. Pouco se falade financiamentos, metas e transferência de tecno-logias. Caracteriza-se mais como uma declaração dereconhecimento e reafirmação em relação aos acor-dos dos últimos 20 anos.

Sociedade civil engajadaMas, se por um lado as negociações oficiais

foram tidas como incipientes, o mesmo não sepode dizer da movimentação da sociedade civil. Ainiciativa da ONU motivou a organização de umasérie de eventos e processos de discussão paralelos,no Brasil e no mundo.

Destacadamente, a Cúpula dos Povos por Jus-tiça Social e Ambiental que ocorreu no Aterro do

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A Cúpula dos Povos reflete a necessidade datransição de um modelo capitalista em crise para aconstrução de novos paradigmas de sociedade.Como Marina Silva sabiamente lembra, a crise é, naverdade, civilizatória. O modelo neoliberal de cres-cimento econômico como sinal de desenvolvi-mento está esgotado.

O momento e contexto da Rio+20 foi propíciopara alertar isso. Com a participação restrita e maldefinida no processo oficial, a sociedade se organi-zou por conta própria, num fórum próprio. Muitosério, aliás, mas movido a muita paixão e menosformalismo.

Mais de mil eventos preencheram a programa-ção da Cúpula dos Povos, com a participação de

Flamengo, longe do Riocentro, onde estavam as ati-vidades oficiais, marcou o auge da manifestaçãocivil no Rio de Janeiro. Por lá, redes de ONGs emovimentos sociais se uniram em uma grandearena de interação autogestionada que contou comimportantes debates.

Desacreditados com os processos oficiais daONU, a Cúpula veio como uma resposta às nego-ciações da Rio+20, e teve o objetivo de denunciar ascausas da crise socioambiental, apresentar soluçõespráticas, fortalecer movimentos sociais do Brasil edo mundo, e, acima de tudo, transformar o mo-mento da Rio+20 numa oportunidade para tratardos graves problemas enfrentados pela humanidadee demonstrar a força política dos povos organizados.

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milhares de lideranças, jovens e maduras, que vi-venciaram nos acampamentos, nas mobilizações enos debates a importância da coletividade, da buscapelo equilíbrio entre a relação sociedade e meio am-biente e da garantia de uma vida digna. Lá, discuti-ram, conjuntamente, representantes dos maisdiversos movimentos, de todo o mundo: mulheres,negros, juventude, indígenas, agricultores, trabalha-dores, comunidades tradicionais, representantes deáreas urbanas, rurais, e de religiões.

O auge da Cúpula foi a grande Marcha em De-fesa dos Bens Comuns e Contra a Mercantilizaçãoda Vida que reuniu nas ruas do Rio de Janeiro cercade 80 mil pessoas. Muito embora cada grupo semanifestasse com sua bandeira, o recado comum

era claro: a solução para a crise está além dos pro-cessos tradicionais da ONU.

Para a sociedade civil, tanto a Rio+20, como oseventos paralelos ou autogestionados, promoverama convergência de diferentes coletivos e movimen-tos, muitos acordos autônomos foram firmados ea troca de experiências e a sinergia promoveram de-bates livres e intensos.

Certamente a movimentação e a união da di-versidade na Cúpula dos Povos foi histórica esimbólica. Enquanto os diplomatas e líderesmundiais estavam em suas salas fechadas discu-tindo seus próprios interesses, a sociedade civilorganizada estava na rua, ocupando a cidade,mostrando o verdadeiro futuro que queremos.

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Evelise Barboza e Julia Dávila são gestoras ambientais

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Será que nunca faremosSenão confirmarA incompetência

Da América católicaQue sempre precisaráDe ridículos tiranosSerá, será, que será?Que será, que será?

Será que estaMinha estúpida retórica

Terá que soarTerá que se ouvirPor mais zil anos...

Caetano Veloso, na década de 1980, lançoua música “Podres poderes”, que além decriticar a atuação da população em relação

aos seus governantes, colocava duas perguntas im-portantes. Na primeira, questionava “Será quenunca faremos senão confirmar a incompetênciada América católica que sempre precisará de ridí-culos tiranos”, lembrando que há anos a AméricaCentral e do Sul lidava com uma triste realidade,vários golpes de Estado que, com frequência, vi-nham acompanhados de repressão política, sus-pensão dos direitos civis, como a liberdade deexpressão, e do uso da força e violência com osexércitos nas ruas. A segunda pergunta nos faz

Nova roupa emum velho modeloConsiderações sobre os golpes na América

GABRIELA PESSOA

lembrar a reincidência destes golpes no território:“Será que esta minha estúpida retórica terá quesoar, terá que se ouvir por mais zil anos...”. Peloque a história nos mostra, a resposta para essa per-gunta de Caetano é sim. Ainda na década de 1980,vimos Golpes no Haiti, Peru, entre outros casos.A recente deposição do presidente paraguaio Fer-nando Lugo mostra uma nova modalidade degolpe que já estava presente na também deposiçãode Manuel Zelaya, de Honduras, em 2009.

Mas, afinal, o que é um golpe? O golpe de Estadoocorre quando o processo democrático, ou seja, oprocesso de escolha dos governantes pela maioria dapopulação, é interrompido bruscamente. No pas-sado, estes golpes vinham com justificativas diversas,seguidos, muitas vezes, por regimes militares violen-tos. No entanto, o que vemos agora são presidenteseleitos pela população, repentinamente destituídosde seus cargos, por membros do Congresso ou porjuízes, sem justificativas ou julgamentos claros.

No Brasil, temos dois exemplos que podemajudar a compreender as diferenças. Em 1964,quando o Congresso Nacional depôs o então pre-sidente João Goulart, havia descontentamento dealguns setores em relação à sua gestão, sobretudomilitares e setores da classe média, que acredita-vam que Goulart teria ligações com o comunismo.Sob o discurso de conter uma revolução comu-

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Você pode estar se perguntando por que asAméricas Central e do Sul colecionam golpes noslivros de História. Há vários fatores para respondera isso, que variam de país para país, mas de ummodo geral, para encontrar essa semente da discór-dia, voltamos à época colonial. Para existir uma co-lônia, deve existir um colonizador e um colonizado.Acontece que, com o passar dos anos, as marcas dacolonização vão criando raízes no lugar. Quando oseuropeus foram expulsos da América, os territóriosainda guardaram a fórmula colonial: deve existir umcolonizador e um colonizado. Essa fórmula foi apli-cada às classes sociais, os grandes proprietários man-dam e têm mais direitos na prática (apesar dosdireitos serem iguais para os cidadãos) do que os tra-balhadores das classes sociais mais baixas. As ten-sões aparecem, mas como essa pirâmide não deveser invertida, medidas autoritárias são tomadas.

Lembra que João Goulart foi deposto por umasuposta ligação com os comunistas? Aqueles quequeriam uma sociedade diferente, sem divisão emclasses sociais, e daí por diante? Lugo, no Paraguaiestava defendendo a reforma agrária, e teve seumandato retirado após um conflito entre sem-terrae policiais. Parece que é aquela velha história.Veste-se o velho modelo com roupa nova, paraque as coisas mudem, mas continuem iguais.

Gabriela Pessoa é historiadora

nista, o que não foi provado, retirou-se o presi-dente do seu posto legal. Já no governo de Fer-nando Collor de Mello, na década de 1990, umaforte crise econômica, somada às denúncias deatos de corrupção dentro do governo, forçaram aabertura de uma CPI (Comissão Parlamentar deInquérito) para averiguar as denúncias. O presi-dente foi julgado, condenado pelas irregularidades,a população também foi às ruas pedir a sua saídae o impeachment (impedimento) foi consolidado.

Estes “novos” golpes acontecem de forma cu-riosa. Zelaya não teve direito de defesa antes de serpedido o seu afastamento. Lugo teve o que algunsconsideraram um julgamento relâmpago, comprazo de defesa reduzido e acusações ideológicas.Vale lembrar ainda que Lugo não tinha um grandeapoio do Congresso paraguaio. Não nos cabe aquiavaliar se são governantes corretos ou não, masuma vez que apareçam irregularidades, estes repre-sentantes devem ser julgados de acordo com os pa-drões estabelecidos em cada país e se for provadaa culpa, devem deixar o cargo. Quando isso nãoacontece, o crime incide sobre a população, que vêanulado o seu direito de escolha.

Por que uma regiãotão instável?

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BRUNO FERREIRA | ILUSTRAÇÃO: WANDERSON VIANA

Oexcesso de peso causado pelas festas de fimde ano e o fechamento da academia de gi-nástica para a conclusão de uma reforma

me fizeram caminhar pelas ruas da minha região. Afim de quebrar a inércia dos dias de ócio,andei por lugares não frequentados pormim já há alguns anos.

Assim que saí de casa tra-cei o roteiro. Passaria pelaminha antiga escola,onde estudei do an-tigo pré até a 8ª série.Confesso que foiuma experiência revi-gorante. Pude perceberque o menino daquelaépoca ainda reside naminha intimidade.

É um alento saber queas situações vividas foradaqueles muros altos – dassalas de aula humildes, comcarteiras rabiscadas, paredespixadas, como na maioriadas escolas públicas, não memodificaram a essência – nãome tiraram a maneira inocentede sonhar com o futuro.

Os sonhos não mais sãoos mesmos, afinal os anospassaram e a vida se renova.Mas, por não permitir que amaldade do mundo se engran-decesse na criança de outrora, odesejo de viver para sorrir não morreu em mim.

Pude me lembrar, inclusive, do cheiro do local:cheiro de simplicidade, de alegria, de infância felizexpressada nas brincadeiras e gargalhadas nas aulas

de educação física, nas conversas amenas da horado recreio e no trato afável, quase

maternal, das saudosas e ines-quecíveis professoras.

Senti falta daquele cari-nho que tanto me

preenchia a alma e quehoje não tem o

mesmo calor. Relem-brar com saudadeuma época tãocheia de significa-ção foi um episó-dio inédito na

minha vida, poispouco me dou a

lembranças do passado.Foram anos acolhe-

dores, em que a ter-nura e a mansuetude eram

verdades absolutas, inquebran-táveis, imutáveis. Receávamos a vida

adulta, que chegou para todos. E agora,o que mais me faz perder o ar é otemor nos dias de hoje, pela incerteza

do cotidiano adulto, desconhecido pelasublimidade da infância bem vivida.

www.desabafosnefelibatas.com

Ainda menino

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Seus pais lhe obrigam a mudar a figura de gênero? Experimenta alterar o tempo verbal para o presente,e pôr a primeira pessoa do singular no centro. Sem ela não há nós. Sem nós eles não vivem. Se apega noteu ego e goza. Desperta rei! Que só os belos têm direito de adormecer. Tua história é como a de João, semMaria. Teu final é amar, passear pelo mundo deixando alegria, incomodando ditaduras, provocando sorrisos.Não podes amar o próximo sem se amar. Sabes que tu és teu próprio príncipe. Teu reino é em qualquer es-quina. Sem anões nessa história, sem regentes, nem marqueses. Esse capítulo é dedicado a você. Não secontamine com o espírito da carochinha, carpineje. Se atente! Perceba que sua loucura está a um passo dasanidade. Fuja do tédio. Teu signo é de emoção. Tua bandeira é a graça, de graça. Teu final é amar a si, atodos, a cada um. Enfeita-se de amor, transforma o rancor em serpentina e o orgulho em confete, faz dador um carnaval. És forte! Tatuaste nas areias do mar tua sorte, cravaste teu nome nas mãos de Deus paraque Ele não te esqueça. Teus pais lhe entenderam. Não temas o olho da rua, a sarjeta. Pois lá também hátalento, há beleza. Lembre-se de Basquiat. Serás grande em castelos, desertos, ou nas ruas.

Jackson Boa Ventura é designer e, além disso, sensível. Um verdadeiro poeta!

Confusão libertiginosatemorial desviativa

Indecentes nas esquinas do Teatro Municipal.Falavam de amor, cantavam liberdade, aportavam no cais da saudade,Indecentes descendem de Afrodite?Eram afro, só por isso já deviam ser imoraisIlegais,Legalizavam o viver de sonhar, por sonhar Nas esquinas do Teatro Municipal,Dançavam, declamavam guerra à senhora monotonia.A Cinelândia assistia atenta as nossas cenas.Êxodo: Indecentes pintavam seus sexos e protestavam em favor do sol.Beijavam as almas, matavam a tristeza e eram agoraCriminosos, Imorais, IlegaisIndecentesÉramos nós, descobrindo-se.Sendo gente. A gente.

Nas Esquinas do Teatro Municipal

JACKSON BOA VENTURA

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Era apenas uma criança e aprendia as cores,quando algo inconsciente ou bem cons-ciente já despertava o preconceito racial

nas pessoas, em nós: a forma que chamavam certolápis de colorir, o tal de “cor de pele”. Vocês já no-taram qual é a cor do lápis? Eu notei. “Por que osmeus amigos da escola pedem o lápis cor de pelese a pele não é só daquela cor? A minha não é”.Lembro até hoje da pergunta que fiz à minha mãe.

Algumas caixinhas com 12 lápis, outras com 36,algumas com muitos e muitos tons de cores, dife-rentes e incríveis, que tornam colorido o céu dosdesenhos, o mar e as florestas, caixinhas com tantascores, mas somente um chama-se “cor de pele”.

Não me esqueço daquela pergunta, um poucoengraçada e sincera, de resposta muito fácil e com-plicada ao mesmo tempo.

Hoje, não mais criança, continuo a notar que o pre-conceito racial prevalece, nascendo nas pessoas poralgum sentido que desconheço, por algum motivo quenão consigo entender, mas sei que está lá, que existe.

Desde muito novos, aprendemos que a cor depele tem que ser aquela, do lápis da caixinha, de corclara, meio rosadinha… Eu, quando pedia empres-tado, também chamava por esse nome.

Força do hábito? Eu chamo de preconceito. Corde pele, mas é pele de quem?

Crescemos tendo que aprender que os tons di-ferentes daquele não valem para colorir os dese-nhos dos corpos, não valem para nós, e que a nossapele deveria ser apenas daquela cor.

Nossa vontade de colorir com outros tons foisendo ignorada, e os lápis vermelho, amarelo, mar-

rom, preto e branco, por que não chamá-los tambémde lápis cor de pele? Cor de pele negra, cor de pelebranca, cor de pele mestiça, cores de pele, diversas.

Quem chamou aquele lápis de cor de pele? Nóschamamos, e sem perceber fomos preconceituosos,para nós e para outros, mas fomos. Com o lápis quedenominávamos único em seu nome, aprendemos acolorir, e em nossa caixinha de lápis não havia outro.

Algumas crianças hoje já cresceram, outras conti-nuam a crescer. Mas muitos de nós ainda continuamcom um único lápis cor de pele em suas caixinhas.

Naquele dia, minha pergunta não ficou sem res-posta, o que minha mãe questionou passou a sig-nificar muito. “Então, qual das cores você vaiquerer?”. Foi assim que minha caixinha delápis se transformou, cheia de tons paracolorir os desenhos, muitas cores para océu e o mar, para as florestas, e as pelesdos corpos.

Desde muito novos nos faziam acre-ditar que a cor das peles era apenas uma,e podia definir-se e limitar-se a um sim-ples lápis de cor: o lápis cor de pele.

Simone Nascimentoé estudante de

jornalismo

SIMONE NASCIMENTO

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Lápis decor de pele

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Sobre a metrópole,nem tudo quem voatem turbina no sovaco

Assim era um par de asasfazendo folias na fuligem

O cinza riaque até corava mais pra azul

(A profissão daquele passarinhoera esnobar gaiolas)

Tanto vai-e-vemfez inveja num imóvel

Poleiro de gentes,o condomínio pontiagudose arquitetou como vingança...

Por sua rota rotineira,os pinotes do passarinhotiravam o ar do vento

Foi quando o céu empedrou:num sopetão de arapuca,onde eu moro deu uma janeladabem na testa do passarinho

(Certas transparênciassão impróprias a voar)

ANTONIO LINO

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Encontrei-o tarde, já rijo e frio:minha janela envidreceu o passarinho

À duras penas, o esnobador de gaiolasaprendeu a nunca mais decolar

Seu epitáfio quem dirá é o chão:

Onde eu plantei o passarinhovai crescer um pé-de-céupra gente chupar liberdades.

Pé-de-céu

http://dizquefuiporai.blogspot.com

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