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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO CARACTERIZAÇÃO DOS REGIMES CAMBIAIS BRASILEIROS DE 1994 A 2009 ALEXANDRA RODRIGUES DOS SANTOS MATTOS Matrícula n.º102056985 [email protected] ORIENTADOR: Prof. Antônio Luís Licha [email protected]

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

CARACTERIZAÇÃO DOS REGIMES CAMBIAIS

BRASILEIROS DE 1994 A 2009

ALEXANDRA RODRIGUES DOS SANTOS MATTOS Matrícula n.º102056985 [email protected]

ORIENTADOR: Prof. Antônio Luís Licha

[email protected]

ABRIL 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO

CARACTERIZAÇÃO DOS REGIMES CAMBIAIS

BRASILEIROS DE 1994 A 2009

______________________________________________ ALEXANDRA RODRIGUES DOS SANTOS MATTOS

Matrícula n.º: 102056985 [email protected]

ORIENTADOR: Prof. Antônio Luís Licha

[email protected]

ABRIL 2011

As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor

A Ronaldo Carvalho

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, inteligência primária de todas as coisas, pela minha vida, minha família, meus amigos e pela escolha, que faço todos os dias, da alegria de viver e aprender.

Aproveito para agradecer o especial apoio do meu orientador, o professor Antônio

Luís Licha, sem o qual não seria possível a realização desse trabalho. Obrigada pelo tempo concedido a mim, onde pude agregar tantos conhecimentos importantes.

Dedico a minha conclusão no curso de Economia a minha família. Ao meu querido

avô José Rodrigues dos Santos, que mesmo não lembrando muitas vezes o nome certo do meu curso sempre se orgulhava em falar “minha neta estuda na Federal do Rio de Janeiro!”, à você a minha gratidão eterna. A minha mãe Alice pela lapidação do meu caráter e pelo incentivo em todos os momentos da minha vida. Ao meu marido Ronaldo pelo amor incondicional e por acreditar no meu potencial e me incentivar todos os dias. Aos raios de alegria da minha vida, Bernardo e Daniella, com os quais o mundo se faz mais feliz.

A minha querida amiga Iraci, fonte inesgotável de coragem e força. Sinto-me

extremamente grata pela sua amizade e lealdade. Por fim, deixo registrado o meu “muito obrigada” a todos os funcionários,

professores e colaboradores que fazem do Instituto de Economia um ambiente acadêmico de tamanha relevância.

RESUMO

Nesta monografia estuda-se a forma pela qual os regimes cambiais brasileiros

adotados no período de 1994, logo após a implantação do Plano Real, até o ano de 2009,

devem ser caracterizados. O período escolhido tem sua importância justificada por se tratar

de uma mudança de direcionamento da política cambial, que passou de um regime de

câmbio fixo para flutuante. A pesquisa utilizou os dados e a literatura da economia

brasileira dos principais manuais e publicações do tema. Essa caracterização é realizada em

função da análise das formas e da constância das intervenções do Banco Central do Brasil

na economia, que sempre visa o alcance de metas de política econômica. A monografia

ressalta a importância da análise comparativa entre as ações observadas no mercado e o

discurso da autoridade monetária, que muitas vezes são divergentes. Como conclusão,

durante o período observado, pode-se auferir que num primeiro momento a taxa de câmbio

apresentava um caráter preponderamtemente fixo e posteriormente, a partir de 1999, passou

a possuir características mais flexíveis, porém num patamar distante do que pode-se

considerar como um regime de flutuação livre.

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 7

CAPÍTULO I - REGIMES CAMBIAIS EXTREMOS ...................................................................................... 9

I.1 - HISTÓRICO DOS REGIMES CAMBIAIS .................................................................................................... 9

I.2 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS REGIMES CAMBIAIS ........................................................... 10

I.2.1 - CÂMBIO FIXO .......................................................................................................................................... 10

I.2.2 - CÂMBIO FLEXÍVEL ................................................................................................................................ 13

I.2.3 - REGIMES CAMBIAIS INTERMEDIÁRIOS............................................................................................ 15

CAPÍTULO II - FORMAS DE INTERVENÇÃO DO BANCO CENTRAL. ................................................ 17

II.1 - INTERVENÇÕES ESTERELIZADAS E NÃO ESTERELIZADAS.......................................................... 17

II.2 - INTERVENÇÕES ATRAVÉS DO MERCADO DE CÂMBIO.................................................................. 29

II.3 - INTERVENÇÕES ATRAVÉS DA SINALIZAÇÃO .................................................................................. 22

II.4 - INTERVENÇÕES ATRAVÉS DA TAXA DE JUROS BÁSICA (SELIC) ................................................ 22

II.5 - INTERVENÇÕES ATRAVÉS DO CONTROLE DE CAPITAL................................................................ 23

II.6 - INTERVENÇÕES ATRAVÉS DA ESTIPULAÇÃO DE “PISO” E “TETO” ............................................ 26

CAPÍTULO III - COMO CARACTERIZAR OS REGIMES CAMBIAIS BRASILEIROS? . ................... 27

III.1 - ANTECEDENTES...................................................................................................................................... 27

III.2 - MARÇO DE 1995 A DEZEMBRO DE 1998: REGIME CAMBIAL CRAWLING-PEG ......................... 28

III.3 - JANEIRO DE 1999 A 2009: REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE ....................................................... 39

CONCLUSÃO....................................................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................... 45

ANEXOS: LISTAS DE GRÁFICOS, TABELAS, ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................ 47

7

INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como principal objetivo caracterizar os regimes cambiais

brasileiros adotados de 1994 até 2009. A monografia desenvolve o tema usando duas

formas de abordagem: a histórica e a teórico-analítica. A abordagem histórica ocorre no

primeiro e segundo capítulos, enquanto que a abordagem teórico-analítica se dá no terceiro

capítulo a partir do estudo do caso brasileiro durante o período em questão.

No primeiro capítulo primeiramente é apresentado um histórico dos regimes

cambiais adotados e posteriormente são levantadas, de forma geral, as vantagens e

desvantagens tanto dos regimes canônicos (câmbio fixo e câmbio flexível) quanto dos

regimes intermediários.

No segundo capítulo são verificadas as formas como os bancos centrais podem

intervir na economia buscando atingir suas próprias metas macroeconômicas,

demonstrando ser outro fator indispensável para análise almejada nessa monografia. Ainda

nesse capítulo, demonstra-se que as intervenções podem ocorrer de forma esterilizada ou

não esterilizada

Por fim, no terceiro capítulo realiza-se a análise específica do caso brasileiro em

função das intervenções do Banco Central do Brasil. A partir da divisão do período

proposto pelo estudo em dois momentos distintos da economia brasileira, é examinado o

comportamento do governo no que tange a política cambial adotada diante de diferentes

cenários ocorridos desde da implantação do Plano Real em 1994 até o ano de 2009.

8

CAPÍTULO I: REGIMES CAMBIAIS EXTREMOS

I.1 - HISTÓRICO DOS REGIMES CAMBIAIS

Durante o século XX o sistema monetário internacional passou por mudanças

significativas no que se refere a modalidade cambial. Portanto, ocorreram experiências

tanto com regimes extremos de câmbios fixo e flutuante, como também foi difundido

muitas opções de regimes intermediários. Em meio as experiências de câmbio fixo, possui

maior destaque: 1) o padrão-ouro internacional (1873-1913;1925-1931) e 2) os

experimentos de conselho da moeda (currency board), adotados em países como Argentina,

Hong Kong e Estônia.

Para que determinada política monetária de um país fosse condizente com o sistema

do padrão-ouro internacional era necessária a adoção de um conjunto de medidas, dentre

elas: a) a fixação de uma paridade da sua moeda em relação ao ouro; b) a manutenção de

um lastro em ouro para estoque de moeda emitido pelo Banco Central; c) a garantia da

conversão da moeda doméstica em ouro à paridade fixada. A implementação do padrão-

ouro internacional se deu na década de 1870, quando um grande número de países passou a

utilizar as suas regras. O período em que o padrão-ouro internacional foi melhor sucedido

foram os quarenta anos que se seguiram após o seu início. Em 1914, com o advento da

Primeira Guerra Mundial esse padrão não seria mais tanto utilizado como antes. No ano de

1925 houve uma tentativa de restabelecimento do mesmo, porém sem sucesso. Nessa

tentativa a Inglaterra foi particularmente afetada e passou por uma forte recessão na

segunda metade da década, e por fim abandonou essa modalidade cambial tanto defendida

por ela própria (CARVALHO, 2007, p.343).

Os países que adotaram os currency boards tinham como principal objetivo atrelar

suas moedas a uma moeda estrangeira forte (normalmente eram utilizados o dólar ou o

9

marco alemão) visando importar a credibilidade da moeda forte para a sua economia,

servindo assim como uma espécie de âncora cambial para a estabilidade de preços

domésticos. Em seu caso mais extremo, o currency board pode evoluir para a dolarização,

como aconteceu em 2000 com o Equador. Um efeito negativo tanto da dolarização quanto

do currency board é que o governo perde a liberdade da condução da sua política

econômica (CARVALHO, 2007, p.344).

Em 1944 foi firmado na conferência de Bretton Woods, um acordo onde foi

estabelecido o regime de câmbio fixo ajustável (amplamente adotado pelos países por um

período extenso de tempo). O padrão-dólar também responde como uma das principais

características do novo sistema, onde todas as moedas mantinham paridade fixa com o

dólar, que por sua vez possuía paridade com o ouro. O objetivo principal era harmonizar as

relações entre países através da estabilidade cambial, autonomia dos estados nacionais na

busca das suas próprias metas macroeconômicas e liberdade cambial. Objetivo esse que

pôde ser verificado de 1946 a 1971, pois se tratou de uma boa fase mundial de estabilidade

e crescimento. Entretanto, as condições para o sucesso do acordo eram de difícil

sustentação e, passado o cenário estável, esse sistema entrou em crise. A decisão do então

presidente do Estados Unidos, Nixon, de não mais converter o dólar em ouro estabeleceu o

fim da era Bretton Woods. Assim, o intervalo de agosto de 1971 ao começo de 1973 é

visto como um período de transformação do “padrão-dólar não-ancorado no ouro” para

regimes de flutuação cambial, majoritariamente suja.

A partir do ano de 1973 a Europa, os Estados Unidos e o Japão começaram a se

basear no regime de câmbio flutuante, utilizado até os dias de hoje. Embora a proposta

inicial contemplasse o livre funcionamento do mercado que por sua vez determinaria a taxa

de câmbio, isso não é o verificado ao longo desses últimos quarenta anos. A ideia dos

defensores desse regime era que a flutuação do câmbio estabelecesse a criação de um

“ambiente monetário internacional estável”, porém como esse cenário ideal não se

concretizou, muitos países realizaram intervenções não permitindo assim que o mercado

funcionasse de forma totalmente livre (CARVALHO, 2007, p.346).

10

Na primeira metade da década de 80, os Estados Unidos associaram a flutuação

livre do dólar com política fiscal expansionista e política monetária contracionista, como

consequência o dólar teve valorização em torno de 50%, quadro que foi completamente

revertido nos dois anos posteriores. Já nos anos 90 teve-se um cenário com grandes

mudanças cambiais, o euro e o iene, as duas principais moedas nas transações

internacionais, variaram em até 70%. As autoridades monetárias reagiram a esse quadro de

instabilidade e desalinhamento das taxas de câmbio se coordenando na tentativa de conter

maiores prejuízos, não só aos seus países como também ao funcionamento do sistema

financeiro internacional (CARVALHO, 2007, p.347).

I.2 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS REGIMES CAMBIAIS

I.2.1 - CÂMBIO FIXO

Existem duas vantagens consideráveis na adoção da taxa de câmbio fixa. Uma

vantagem ressaltada pelo autor, seria que a fixação da taxa de câmbio diminui incertezas,

pois transmite maior segurança no sentido de que os agentes já possuem a informação

prévia do valor nominal da taxa, portanto o risco de ocorrerem consideráveis variações na

taxa de câmbio é reduzido, encorajando assim o comércio e o investimento. Além disso,

nesse cenário, assim como o risco da taxa cambial, também serão reduzidos os custos de

transação. O autor ainda aponta que esse regime cambial criaria uma âncora nominal com

credibilidade para efeito de atuação da política monetária. Porém num regime de câmbio

flexível, como será visto a diante, o poder de atuação, que independe dessa política

monetária, tem sua habilidade potencializada (FRANKEL, 1999, p.9).

De acordo com Krugman (2004, p.496) existem algumas razões que justificam a

necessidade de compreensão do funcionamento das taxas de câmbio fixas. Como uma

dessas razões está a “FLUTUAÇÃO ADMINISTRADA”, uma vez que pode-se verificar

11

que não há uma flutuação totalmente livre mesmo nos países onde o governo não fixa a

taxa de câmbio, assim a partir de um sistema que mistura taxas fixas e flutuantes, a partir

do entendimento do regime cambial fixo, pode-se visualizar melhor as consequências de

uma intervenção cambial sob taxas flutuantes. O autor cita os “ARRANJOS DE MOEDAS

REGIONAIS”, no qual os países fazem acordos de taxa de câmbio, onde são fixadas taxas

a serem utilizadas entre os países envolvidos no acordo. Em relação aos demais países suas

taxas continuam a flutuar. Além das razões descritas anteriormente, o autor chama a

atenção para os “PAISES EM DESENVOLVIMENTO E PAISES EM TRANSIÇÃO”, que

tentam associar frequentemente suas moedas ao dólar norte americano, porém não somente

a ele. Por último, Krugman destaca a importância das “LIÇÕES DO PASSADO PARA O

FUTURO”, pois o regime cambial fixo foi tido como regra entre as décadas de 1920 e 1930

e depois mais uma vez no período de 1945 e 1973.

No regime de câmbio fixo existe uma paridade fixa entre a moeda doméstica e

moeda estrangeira. A fixação do câmbio normalmente é determinada pela autoridade

monetária. No Brasil, essa autoridade tem expressão através do Banco Central do Brasil,

que é responsável pela manutenção da paridade previamente estabelecida nessa modalidade

cambial fixa. A título de exemplificar-se uma intervenção passiva1, o Gráfico (1) ilustra

um cenário hipotético do governo possuir o objetivo de estabilizar o fluxo de capitais.

Ocorrendo uma elevação da demanda pela moeda estrangeira, o Banco Central irá injetar

no mercado uma quantidade maior de moeda estrangeira, isso evitará alterações no preço da

moeda doméstica, que não se desvalorizará frente a moeda estrangeira e tão pouco existirá

escassez de moeda. Assim, de acordo com o gráfico pode-se visualizar o deslocamento de

M0US$ para M2

US$ a fim de que seja mantido o nível de preços em E0. Vale ressaltar que para

a autoridade monetária realizar tal manobra, é necessário que haja disponibilidade de

reservas internacionais.(CARVALHO, 2007, p.341-342).

1 Carvalho e Sicsú (2007) denominam a forma de intervir do Banco Central de passiva, devido a compra e venda de moeda estrangeira de acordo com a necessidade verificada.

12

A credibilidade dada ao regime cambial fixo é proporcional a capacidade de

intervenção do Banco Central na economia (ZINI JR., 1996, p.119).

Gráfico 1: O Mercado de Câmbio

FONTE: CARVALHO (2007, p.341)

E1

E0

0 M0 US$ M1

US$ M2 US$

D0 US$

D1 US$

SUS$

E

SUS$, DUS$

13

I.2.2 - CÂMBIO FLEXÍVEL

O regime de câmbio flutuante puro é antagônico a modalidade descrita

anteriormente, de câmbio fixo. O Banco Central não intervém no mercado cambial, assim a

taxa é determinada em função da oferta e demanda de moeda estrangeira. O autor cita os

Estados Unidos da América como exemplo de país que chega o mais próximo de adotar a

chamada flutuação livre (FRANKEL, 1999, p.5).

A partir do mesmo exemplo dado anteriormente com o Gráfico (1) acima, é

demonstrado que no caso de um aumento da demanda de D0US$ para D1

US$, ocorre um

excesso de demanda por moeda estrangeira, M0US$ para M2

US$; logo, o mercado ajustará

instantaneamente E0 para E1 em um preço maior e uma oferta de moeda estrangeira menor,

M2US$ para M1

US$ (CARVALHO, 2007, p.340-341).

Segundo Krugman (2004, p.582-587), os motivos principais para a adoção de taxas

de câmbio flutuantes são:

(i) “AUTONOMIA DA POLÍTICA MONETÁRIA”: Retirada a responsabilidade

do Banco Central de intervir no mercado cambial, o mesmo estaria livre para se

concentrar e operar a política monetária com o objetivo de atingir os equilíbrios

interno e externo. Outro argumento positivo utilizado pelos defensores das taxas

flutuantes é que cada país poderia escolher a sua taxa de inflação de longo prazo

ao invés de importar a taxa de inflação exogenamente determinada;

(ii) “SIMETRIA”: O sistema de Bretton Woods provocou significativas assimetrias

durante os anos 60 e 70. Uma dessas assimetrias era gerada devido aos bancos

centrais atrelarem suas moedas ao dólar e acumularem o mesmo como reservas

14

internacionais, fornecendo ao Federal Reserve dos Estados Unidos o papel

crucial de determinação da oferta mundial de moeda . Assim, o abandono desse

sistema proporcionaria maior autonomia na determinação das suas próprias

ofertas domésticas de moeda. Além disso, os Estados Unidos poderiam, assim

como os outros países envolvidos, influenciar sua taxa de câmbio em relação as

moedas estrangeiras;

(iii) “TAXAS DE CÂMBIO COMO ESTABILIZADORES AUTOMÁTICOS”:

Com a flutuação, as taxas de câmbio originadas pelo mercado se ajustariam

automaticamente em função da demanda agregada propiciando a manutenção

dos equilíbrios interno e externo e evitando especulações por períodos longos de

tempo.

Em contrapartida, algumas das principais críticas a utilização de taxas de câmbio

flexíveis estão relacionadas as incertezas geradas pelo não conhecimento prévio dessas

taxas por parte dos agentes que transacionam no mercado cambial, fato que prejudicaria os

investimentos internacionais e o comércio. Além disso, essas taxas ficariam sujeitas a sofrer

“especulação desestabilizadora”, uma vez que o mercado de câmbio poderia ter sua

estabilidade comprometida devido a especulações sobre variações nas taxas. Outras críticas

dizem que a flutuação propicia cenário favorável ao “empobrecimento do vizinho” e ainda

aos excessos monetário e fiscal (KRUGMAN , 2004, p.611-615).

A escolha da política cambial que será adotada em um país envolvem dilemas

(“trade offs”) a serem discutidos em função da particularidade de cada situação econômica

vigente. Os países devem escolher entre as vantagens proporcionadas por uma maior

estabilidade da taxa de câmbio e as vantagens geradas pela flexibilização. De modo ideal,

os países optariam por uma taxa de câmbio com um grau de flexibilidade que otimizasse a

sua escolha (FRANKEL, 1999, p.2-3).

15

I.2.3 – REGIMES CAMBIAIS INTERMEDIÁRIOS

Classificar as taxas de câmbio apenas como fixa e flexível seria destacar apenas os

extremos diante de todo um cenário de possibilidades. De acordo com o FMI, entre essas

duas modalidades, estão enquadrados a maioria dos regimes cambiais adotados, assim se

faz necessário também os destacar (FRANKEL, 1999, p.2-5).

Entre os regimes cambiais que o autor destaca, convergem com o objetivo do

presente estudo as seguintes modalidades:

a. Câmbio atrelado ajustável (“adjustable peg”): Foi descrito sob o regime de Bretton

Woods como uma taxa de câmbio fixa, porém ajustável. Países que declaravam suas

taxas como fixas, eram submetidos a realinhamentos cambiais com uma certa

periodicidade.

b. “Crawling peg”: Nos países com altos índices de inflação, o câmbio poderia ser

regularmente ajustado por uma série de minidesvalorizações Em uma abordagem,

teria um pouco do papel de âncora nominal da meta da taxa de câmbio, já que a taxa

poderia ser colocada abaixo do nível da inflação esperada retirando

progressivamente o país do ciclo de inflação. Outra abordagem seria a indexação da

taxa de câmbio ao nível de preços com o objetivo de manter a taxa de câmbio real

constante.

c. “Basket peg”: A taxa é fixada em função da cesta de moedas de seus principais

parceiros comerciais. A adoção dessa modalidade cambial é justificada em países

que possuem parceiros comerciais geograficamente diversificados.

16

d. Bandas Cambiais (“Target zone”): É estabelecida uma taxa de câmbio central e

partir desse parâmetro central é determinado um intervalo dentro do qual serão

aceitas variações da taxa para cima ou para baixo, no qual a autoridade monetária

compromete-se a intervir caso a taxa de câmbio se aproxime dos limites das bandas.

e. Flutuação Administrada (“Managed float”): Também chamada de flutuação suja.

Nessa modalidade a autoridade monetária está apta a intervir sem defender

nenhuma paridade particular da taxa de câmbio.

De acordo com Carvalho (2007), os regimes cambiais intermediários, constituídos

de distintas modalidades de taxa de câmbio fixa ajustável e de flutuação administrada.

Esses regimes continuarão a ser adotados por muito tempo, visto que possuem grande

relevância do contexto atual (CARVALHO, 2007, p.348).

Um dos argumentos contrários a utilização dos regimes intermediários de câmbio

diz respeito insuficiência de transparência dessas modalidades para a análise dos

investidores globais exigentes, para esses a eficácia dos regimes intermediários não é fácil

de se verificar. Por outro lado, Frankel (1999) ressalta que muitas vezes as soluções

intermediárias são mais apropriadas a determinados países e economias do que os regimes

cambiais extremos (canônicos). Paras as economias emergentes não existiria apenas um

único regime a ser seguido. O autor relembra ainda que o passado inflacionário dos países

emergentes, como no Brasil, fez com a taxa de câmbio fosse utilizada como importante

elemento nos programas de estabilização monetária (FRANKEL, 1999, p.36-37)

17

CAPÍTULO II: FORMAS DE INTERVENÇÃO DO BANCO CENTRAL

Os regimes intermediários supõem as intervenções dos bancos centrais no mercado

de câmbio. Essas intervenções podem ser realizadas de duas formas diferentes, esterilizadas

ou não esterilizadas

II.1- Intervenções esterilizadas e não esterilizadas

As formas de intervenção dos bancos centrais no mercado de câmbio podem

influenciar diretamente a base monetária doméstica da economia, fazendo com essa base

aumente ou diminua. Nesse contexto, muitos autores distinguem as intervenções em

esterilizadas, quando não alteram a oferta doméstica de moeda, e não esterilizadas, quando

ocorre alteração da base. Para efeito de exemplificação, a compra de ativos estrangeiros

pelo banco central de um país eleva imediatamente a oferta de moeda daquele país em

questão. Em contrapartida, a venda de ativos estrangeiros pelo banco central

automaticamente reduz a oferta de moeda. Assim, para anular o impacto de suas operações

de câmbio sobre a oferta doméstica de moeda, os bancos centrais muitas vezes fazem

transações iguais de ativos estrangeiros e domésticos em direções opostas (KRUGMAN,

2004, p.502)

Consegue-se visualizar essa movimentação no balanço do Banco Central, pois ele

mostra como a “intervenção cambial afeta a oferta de moeda por causa das exigibilidades

do banco central, que aumentam ou diminuem quando seus ativos aumentam ou diminuem,

e que são a base do processo da oferta doméstica de moeda” (KRUGMAN, 2004, p.526).

Conforme já citado em seções anteriores, as políticas macroeconômicas adotadas

pelos governos possuem efeitos diferentes enquanto a utilização de taxas de câmbio fixas e

flutuantes. Ao fixar a taxa de câmbio, os bancos centrais não fazem uso da capacidade de

18

influenciar a economia através das ferramentas da política monetária. Nesse sentido, a

política fiscal possui um papel de tamanha importância e sua utilização afeta a produção e o

emprego. Aliás, a política fiscal é ainda mais efetiva sob uma taxa de câmbio fixa do que

sob uma taxa flutuante2, pois no caso de uma expansão fiscal, a mesma é acompanhada de

uma apreciação da moeda doméstica tornando os bens e serviços do país mais caros e isso

reduz o efeito direto positivo da política sob a demanda agregada. “Para evitar essa

apreciação, o banco central que fixa a taxa de câmbio é forçado a expandir a oferta de

moeda por meio de compras de divisas. O efeito expansionista adicional desse aumento

involuntário na oferta de moeda explica por que a política fiscal é mais forte do que sob

uma taxa flutuante” (KRUGMAN, 2004, p.507-509).

O Banco Central possui diversas modalidades de intervenção no mercado de câmbio

além da simples negociação à vista da moeda. Dentre todas as modalidades, aqui serão

abordadas as intervenções: 1) atuantes no mercado de câmbio, com as autoridades

monetárias comprando e vendendo através dos mercados à vista, futuro e de derivativos; 2)

a partir do controle de capital (IOF, restrição de transações); 3) Com a utilização da taxa de

juros; 4) Através de sinalização; 5) através da delimitação de piso e teto.

Em 2001, numa pesquisa realizada pelo FMI com um grande número de países de

economias emergentes, constatou-se que 82% dessas economias fazem intervenções no

mercado à vista. O Gráfico (2) abaixo é resultado outro levantamento, dessa vez realizado

pelo BIS (Bank for International Settlements), onde a partir de uma amostra de 22 bancos

centrais de países emergentes, perguntava-se quais eram as formas mais utilizadas para

intervir. A conclusão foi bem parecida com a pesquisa anterior do FMI, na qual a maior

parte das intervenções foi verificada através do mercado à vista (ARCHER, 2005, p.44).

2 Para maiores explicações ver Krugman, Paul R. – Economia Internacional. Teoria e Política – 5 edição (2004).

19

Gráfico 2: Ferramentas usadas nas intervenções

FONTE: Tradução do relatório nº24 do BIS: Foreign exchange market intervention: methods and tactics.

II.2- Intervenções através do mercado de câmbio

O Banco Central pode vender ou comprar moeda no mercado à vista ou no mercado

futuro. O que distingue os dois mercados é o tempo em que a transação será efetuada. No

mercado à vista temos a liquidação em até dois dias da data da operação, já no mercado

futuro a liquidação ocorre num prazo superior. No caso brasileiro, essa negociação se dá na

BM&FBOVESPA, única bolsa de valores, mercadorias e futuros em operação no Brasil, é a

principal instituição brasileira de intermediação para operações do mercado de capitais,

negociações de ações, derivativos de ações, títulos de renda fixa, títulos públicos federais,

derivativos financeiros, moedas à vista e commodities agropecuárias. Tendo em vista sua

área de atuação, a BM&FBOVESPA está sujeita à regulação e à supervisão da Comissão de

Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central do Brasil.

No mercado à vista o BACEN pode atuar na economia através das reservas

internacionais e domésticas. A liquidez no mercado de reservas é administrada diariamente

pelo Banco central com o objetivo de acomodar a demanda dos bancos por reservas

INSTRUMENTOS DE

MERCADO

À vista

Termo

NÚMERO DE BANCOS CENTRAIS

Opções

Swaps

Dívida pública

20

bancárias e preservar a estabilidade da taxa de juros. Normalmente, o Banco Central realiza

o gerenciamento diário da liquidez através de operações no mercado aberto, assim ele busca

neutralizar as oscilações da taxa de juros básica geradas pelas variações autônomas das

reservas bancárias, que podem ser originadas por diversos motivos, que variam desde uma

entrada anormal de capitais externos do país, transferência de recursos dos bancos privados

para os cofres públicos até ao comportamento inesperado da comunidade financeira, ou

seja, o Banco Central entra em ação a fim de evitar o desequilíbrio no volume das reservas

bancárias neutralizando assim os efeitos adversos que possam prejudicar ou causar

instabilidade do mercado. A busca desse equilíbrio pressupõe um nível ideal de reservas

bancárias que o Banco Central deve perseguir, por meio dessas ações compensatórias, para

garantir a estabilidade da taxa de juros(CARVALHO, 2001, p.126-127).

No mercado futuro, algumas das ferramentas mais utilizadas pelos bancos centrais

para intervir são os swaps e as opções. Assim, a autoridade monetária pode atuar de forma

direta ou de forma indireta, sem que ocorra qualquer transação financeira por meio de

divulgação ao público sobre metas e políticas a serem perseguidas, impactando o valor da

moeda na economia. Os bancos centrais podem acionar os swaps para atuar no mercado

sem que haja a necessidade de aplicação de recursos de forma imediata.

As opções fornecem ao seu dono o direito de comprar ou vender determinado ativo

em uma dada data e valor, previamente estipulados por um dado valor. É importante

ressaltar que o detentor da opção tem o direito, mas não a obrigação de exercê-la. Assim, as

autoridades monetárias também podem intervir efetuando venda ou compra de moeda a

partir de opções disponíveis no mercado. Um ponto positivo das opções é que elas reduzem

os potenciais impactos frente a um cenário de instabilidade do mercado.

A Tabela (1) foi retirada do mesmo relatório anteriormente citado do BIS, na

ocasião foi desenvolvida e analisada por Moreno (2005). Nela objetivou-se estudar a

“taxonomia das intervenções”. Para melhor entendê-la é proposto que a intervenção no

21

mercado cambial é impulsionada por objetivos macroeconômicos (controle da inflação,

manutenção do equilíbrio externo, garantia de boa alocação de recursos, preservação da

competitividade, alavancagem do crescimento, contenção de perturbações do mercado e

prevenção de crises). Para alcançar as metas acima, os bancos centrais podem atuar

influenciando a taxa de câmbio, contrabalanceando a volatilidade do mercado ou ainda

alterando o volume de reservas internacionais (MORENO, 2005, p.4)

Tabela 1: A Taxonomia das Intervenções

FONTE: Tradução do relatório nº24 do BIS: Motives for intervention.

22

II.3- Intervenções através da sinalização

Com a finalidade de influenciar a estrutura de taxa de juros da economia através da

taxa de juros de curto prazo, O Banco Central efetua a a sinalização para o mercado do

direcionamento da política monetária. Assim, visando uma estratégia de prazo mais longo,

são tomadas conjunto de medidas para atender objetivos mais amplos de política monetária.

Um exemplo citado pelo autor se dá no caso de adoção de uma política monetária restritiva,

onde o Banco Central deve colocar o o maior volume possível de títulos junto ao mercado

para alcançar uma redução das reservas bancárias e, consequentemente, um menor

crescimento dos agregados monetários (CARVALHO, 2001, p.127).

Mesmo sem a intenção de modificar a política monetária ou fiscal para obter uma

taxa de câmbio de longo prazo diferente, um governo pode ser tentado a explorar o efeito

sinalizador como forma de conseguir benefícios temporários. Porém o resultado de não

seguir a sinalização para o governo seria torná-la ineficiente, na medida em que os agentes

envolvidos não acreditariam nas próximas sinalizações. A partir da conclusão acima, o

autor enfatiza que a sinalização para intervenção não deve ser caracterizada como “arma

política” e que sua utilização não pode ser independente do direcionamento das políticas

monetária e fiscal (KRUGMAN, 2004, p.521).

II.4- Intervenções através da taxa de juros básica (Selic)

“A taxa de juros de curto prazo, ou taxa básica de juros da economia, nada mais é

que o resultado do confronto entre a oferta de reservas, definida pelas atuações do Banco

Central nas operações compromissadas e operações definitivas e o saldo do fluxo de

entrada e de saída do sistema bancário, com a demanda por reservas dessas instituições

definida pelas suas necessidades de atender as exigibilidades compulsórias e seus

compromissos com o setor não-monetário da economia”. Ainda segundo ao mesmo autor a

23

atuação do Banco Central se dá a partir da sinalização para as instituições das condições

que irão prevalecer no mercado de reservas, não só naquele dia como também por um

período mais longo de tempo. O Banco Central do Brasil e o Federal Reserve dos EUA

adotam o modelo de comunicação mais usual para “evitar ruídos”, isto é, realizam o

“anúncio de metas para taxa de juros”, dessa forma são criados comitês de política

monetária responsáveis pela definição e anúncio das determinações para o público

(CARVALHO, 2001, p.160).

Em função da atuação acima citada, alguns bancos centrais acabam por criar uma

programação monetária onde traçam as metas a serem perseguidas em relação aos

agregados monetários. A contração ou expansão monetária pelo Banco Central irá se

efetuar em função dessas metas e das estimativas para evolução autônoma das reservas,

atendendo assim aos seus objetivos de curto, médio e longo prazo para a taxa de juros.

“Para a autoridade monetária, as metas de juros atuam enquanto metas

operacionais para atender aos seus objetivos no que se refere a inflação e/ou produto e

emprego. Deste modo, O Banco Central pode, por um lado, definir – conjuntamente com o

Tesouro – um calendário de colocação de títulos nos leilões primários e, por outro lado,

atuar no dia-a-dia de modo a manter a taxa de juros no patamar definido previamente

como adequado pela autoridade monetária” (CARVALHO, 2001,p.161).

II.5- Intervenções através do controle de capital

Uma das formas de intervenção do Banco Central é o controle de capital que pode

ocorrer de diferentes formas. As autoridades monetárias exercem o seu poder de atuação

seja através de um imposto, como por exemplo o Imposto sobre Operações Financeiras

24

(IOF)3 ou mesmo a partir da restrição de transações. Os fluxos de capitais têm se

recuperado da queda que ocorreu em razão da crise financeira internacional deflagrada em

2008, e sob influência das expectativas de forte crescimento do produto de economias

emergentes e em desenvolvimento, esses capitais têm voltado a se atrair para esses

mercados em busca da remuneração das altas taxas de juros.

Para os autores Magud & Reinhart (2006), o controle de entrada e saída desses

capitais são justificados em virtude de quatro medos. Ocampo & Palma (2008) e Epstein

(2005) adicionam ainda o quinto e o sexto medo respectivamente, a fim de chamar a

atenção para mais pontos que devem ser levados em consideração e que legitimam a

intervenção.

I. Medo da apreciação: rápidos e substanciais influxos de capital podem valorizar a

taxa de câmbio real, reduzindo a competitividade dos produtos brasileiros e

diminuindo a rentabilidade das exportações;

II. Medo do “hot money”: a injeção súbita de fundos em um mercado pode ser

revertida tão rapidamente quanto foi iniciada. Assim, entradas de capitais de curto

prazo podem causar distorções gerando instabilidade de mercado;

III. Medo de grandes influxos: mesmo quando os fundos não são completamente

compostos por “hot money”, grandes influxos de capitais, principalmente os que

buscam indiscriminadamente maiores rentabilidades, podem causar

deslocamentos no sistema financeiro;

3 Em Carvalho & Garcia (2006) podemos verificar que a cobrança do IOF foi uma das principais medidas para controlar influxos de capitais na década de 1990, embora o mercado tenha realizado muitas manobras contra o IOF e consequentemente logrado ganhos com as taxas de juros elevadas sem pagar o imposto sobre as mesmas.

25

IV. Medo da perda de autonomia de política monetária: conhecido como

“trindade impossível”4 , se refere ao fato de que não é possível conciliar perfeita

mobilidade de capitais com a adoção de uma taxa de câmbio fixa e políticas

monetárias independentes;

“Ou bem se abre mão da autonomia no uso da política monetária doméstica,

aceitando que a taxa de juros do país simplesmente siga a internacional, ou se restringe a

mobilidade de capitais, para que possa usar políticas de esterilização com alguma eficácia

(pelo menos no curto prazo) ou, finalmente, mantém-se a livre mobilidade dos capitais e

pratica-se uma política monetária independente, mas adota-se o câmbio flutuante”

(CARVALHO, 2007, p.361).

V. Medo de bolha de ativos: grandes influxos de capital estrangeiro podem

alimentar bolhas de preços de ativos de forma insustentável;

VI. Medo de fuga de capital: medo do comportamento herdado pelos

investidores internacionais poderiam expor um país para o risco de uma reversão

brusca dos fluxos de capital no caso de uma crise ou de expectativa futuro não

favorável.

4 Robert Mundell usou essa expressão para se referir a essa implicação do modelo que leva o seu nome. Também é frequentemente chamado de “trilema de política econômica”.

26

II.6- Intervenções através da estipulação de “piso” e “teto”

A intervenção do Banco Central através da utilização de bandas cambiais ocorre

quando a taxa de câmbio se aproxima dos limites da banda. Esse movimento busca mostrar

aos agentes econômicos que o governo garantirá o equilíbrio necessário para o bom

funcionamento da economia, ou seja, afirma que a política cambial está controlada e

permanecerá estável. Segundo a autora,“quando o governo anuncia o estabelecimento de

um regime de banda cambial, ele está anunciando a disposição de sustentar os limites

anunciados mediante a correção dos ‘fundamentos’ de forma a evitar que a taxa de câmbio

ultrapasse os limites explicitados para a banda. Sendo o governo ‘crível’ e o mundo um

cenário onde prevalecem as expectativas racionais, a ideia é de que os agentes vão

antecipar as intervenções do governo de forma que o ajustamento ótimo de câmbio pelo

mercado será muito mais suave do que o que se observaria na ausência de banda”

(SILVA, 2002, p.7).

27

CAPÍTULO III: COMO CARACTERIZAR OS REGIMES CAMBIAIS

BRASILEIROS?

III.1- Antecedentes

Durante vinte e cinco anos que antecederam o lançamento do plano real em 1994, o

Brasil adotou um regime de minidesvalorizações cambiais, com o objetivo de manter

estável a taxa de câmbio real para que fosse mantido a competitividade externa da

economia. As minidesvalorizações deixaram de ser adotadas somente em breves períodos

de tempo devido as tentativas com os planos de estabilização (Planos Cruzado, Bresser,

Verão, Collor I e Collor II) dos anos 80 e início dos anos 90, porém todos sem sucesso. O

regime cambial consistia em realizar pequenas desvalorizações periódicas objetivando a

paridade com a inflação apresentada no período anterior, descontada a inflação externa.

Essa regra cambial, nos seus primeiros anos, era realizada com uma periodicidade mensal,

o que não se sustentou diante de patamares cada vez mais elevados da inflação, e assim a

interferência chegou a ser diária no fim dos anos 80 e primeira metade dos anos 1990,

esgotando as possibilidades de manter a indexação. Esse quadro pode ser explicado devido

a utilização da política cambial não como meio para o combate a inflação, e sim como

ferramenta para atingir a meta relativa a balança comercial. A taxa de câmbio teve seu

potencial mais aproveitado somente a partir de 1994 (CARVALHO, 2007, p.371).

Os planos de estabilização demonstraram as tentativas de conter a inflação.

Imediatamente após a introdução de um novo plano ocorreriam quedas consideráveis da

inflação, porém logo depois o movimento se revertia e voltávamos a ter uma aceleração.

Antes do começo do Plano Collor I (1990), o Brasil apresentava um quadro de

28

hiperinflação, com a taxa de inflação real de mais de 80% ao mês, taxa essa que foi

reduzida para 10% ao mês após a introdução do plano. Porém esse patamar não conseguiu

ser sustentado e já em 1991 as taxas haviam dobrado, então foi dado início ao Plano Collor

II e o movimento se repetiu, assim tivemos uma queda na inflação logo após a

implementação do Plano Collor II e em seguida uma aceleração contínua nos meses que se

sucederam. Esse padrão só foi interrompido com a introdução do Plano Real em 1994

(CASTRO, 2005, p.158-159).

III.2- Março de 1995 a Dezembro de 1998: regime cambial crawling-peg

“Com o advento do Plano Real, a abordagem de metas reais para a taxa de câmbio

– até então empregada como guia para a política cambial do governo – foi substituída pela

abordagem da âncora nominal. Esta abordagem coloca a taxa de de câmbio no centro da

política anti-inflacionária” (CARVALHO, 2007, p.371).

Segundo SEABRA (1998, p.200), pode-se caracterizar o regime cambial adotado de

Julho de 1994 a Fevereiro de 1995 como de banda unilateral ou regime de meia banda,

visto que o Banco Central estabelecia somente um limite superior para a cotação do dólar.

Após Março de 1995 o Banco Central adota o regime de bandas bilaterais a partir da

fixação de teto e piso para a flutuação da taxa de câmbio.

Essa política de câmbio flutuante para baixo, adotada imediatamente após a

implementação do plano real, teve um período de duração curto de apenas três meses,

quando não verificou-se a intervenção do Banco Central no mercado de câmbio brasileiro.

Paralelamente a esse fato, o BACEN ainda tentava o alinhamento em direção às metas

monetárias rígidas preestabelecidas Entretanto, em outubro de 1994, devido principalmente

ao não cumprimento das metas monetárias, o governo realizou a troca da âncora monetária

para âncora cambial (CASTRO, 2005, p.157).

29

A razão da assertiva em relação ao Plano Real se deu por um conjunto de fatores

reunidos a uma maior abertura da economia brasileira nos anos 90. O sucesso do regime de

âncora cambial foi garantido devido a fatores como o favorecimento das condições

externas, muito melhores em 1994 do que nos anos 80, existência de abundância de

liquidez internacional e o elevado patamar de reservas internacionais. No período seguinte

ao lançamento do plano real, de 1995 a 1998, os juros se mantiveram elevados quando

comparados aos níveis internacionais, isso fez com que ele também se tornasse mais uma

âncora para os preços, além da cambial, porém com resultados devastadores para a dívida e

para o crescimento (CASTRO, 2005, p.162).

Ao contrário do que havia ocorrido anteriormente5, o plano real obteve êxito no

controle da inflação, as taxas anuais de variação dos preços foram reduzidas de forma

significativa entre 1995 e 1998. Porém juntamente com o sucesso do plano, a situação

macroeconômica se deteriorava em função do crescente desequilíbrio externo e de uma

crise fiscal aguda (GIAMBIAGI, 2005, p.169).

III.3- Janeiro de 1999 a 2009: regime de câmbio flutuante

Segundo os autores Souza e Hoff (2006) em trabalho intitulado “O Regime Cambial

Brasileiro: 7 Anos de Flutuação” e, posteriormente em outro estudo realizado por Hoff

(2009), o período de janeiro de 1999 a 2009 – correspondente a terceira seção do último

capítulo da presente pesquisa – pode ser dividido em 7 fases distintas, que serão

expressadas de maneira cronológica com o objetivo de destacar em cada uma delas qual foi

a postura adotada e a forma de atuação do Banco Central frente a realidades econômicas

distintas.

5 O autor refere-se aos planos de estabilização ocorridos anteriormente, onde o objetivo de contenção da inflação inicialmente era atingido, porém logo após a implementação do plano essa contenção não se sustentava e a inflação retornava ainda mais forte.

30

FASE 1 – JANEIRO A MARÇO DE 1999

Em 1999, assim como ocorreu com muitas economias emergentes6 ao longo da

década de 1990, o Brasil se encontrava diante de uma situação delicada do ponto de vista

econômico devido a queda brusca de reservas internacionais e do forte ataque especulativo.

Portanto seria insustentável a permanência do regime cambial até então adotado, dessa

forma foi introduzido o regime de câmbio flutuante (CARVALHO, 2007, p.373)

Autores como Calvo e Reinhart (2002) iniciaram o processo de estudo de

indicadores que buscava levantar se o caráter do regime de flutuação cambial era

inteiramente puro. O objetivo principal desses autores, e de muitos outros seguidores dessa

linha de pesquisa, era de avaliar, nesses países que declaravam utilizar o câmbio flutuante,

a política econômica adotada a fim de identificar a realidade cambial. A proposta dos

indicadores contidos nesses estudos era de ressaltar as verdadeiras características de cada

arranjo cambial, uma vez que em muitos países, especialmente nos países emergentes, a

modalidade cambial se distanciava do que poderíamos chamar de livre flutuação. Na

verdade, esses países praticavam formas maquiadas de fixação da taxa de câmbio, por isso

os autores acima denominaram essa situação como “medo de flutuação”. Carvalho (2007)

nos chama atenção para os fatores comuns aos países detentores desse “medo”, uma vez

que se tratavam de “economias particularmente vulneráveis a choques cambiais em razões

de suas elevadas dívidas em moeda estrangeira”. Dessa forma, esses países tentavam,

através de intervenções cambiais, se proteger dos resultados perversos das variações

cambiais em sua economia (CARVALHO, 2007, p.373)

Nesse contexto, autores como Souza e Hoff (2006), ressaltam que podemos

observar em muitos casos um grande distanciamento entre regimes cambiais de facto

6 Ainda segundo o autor, crises semelhantes a brasileira, que fizeram com que os países trocassem do câmbio fixo para o flutuante, ocorreram no México em 1994, Leste Asiático em 1997, Rússia em 1998, Argentina e Turquia em 2001 e Uruguai em 2002.

31

(verdadeiro) e regimes cambiais de jure (declarado). Além disso, os regimes cambiais

flutuantes se aproximariam mais de câmbio fixo com roupagem de câmbio flutuante.

Explicam ainda a ideia contida nos Indicadores Calvo-Reinhart (2000) de que no caso de

uma “flutuação genuína”, a volatilidade da taxa de câmbio mostra-se elevada. Contudo,

quando não há interferência no mercado de câmbio visando controlar as cotações de moeda

estrangeira e a taxa de juros é fixada com a finalidade de perseguir metas internas de

política econômica, conseguimos observar que tanto as variações das reservas

internacionais quanto da taxa de juros são relativamente baixas. Assim, em análises a partir

da utilização desses indicadores citados acima, são realizadas medições da frequência,

durante um período estabelecido, em que as volatilidades das reservas, da taxa de câmbio e

da taxa de juros ficam dentro de intervalos pré-determinados (SOUZA, 2006, p.3).

As autoridades monetárias brasileiras afirmam que no Brasil o regime cambial

implementado desde 1999 sempre ocorreu de forma livre, portanto, segundo o próprio

governo, trata-se de um regime de flutuação pura. A explicação do governo é que

intervenções realizadas não tiveram pretensão de influenciar a taxa de câmbio. Assim, as

vezes em que o Banco Central interviu na economia mediante compra de moeda

estrangeira, foram justificadas como medidas pontuais para correção do funcionamento de

mercado que se encontrava com excesso de volatilidade. Já nos momentos em que o

BACEN atuou vendendo moeda estrangeira em fases de apreciação cambial, foram

explicados como estratégia para acumulação de reservas. Diante dessas afirmativas acima,

Carvalho (2007) levanta o questionamento se no caso brasileiro não haveria um regime

flutuante de jure, porém na prática o que tínhamos era uma estabilização da taxa de câmbio

de facto. Ou seja, existiria um distanciamento entre o regime cambial declarado pelo

governo e o regime que, efetivamente, era utilizado? (CARVALHO, 2007, p.373).

Após somente quarenta e cinco dias da implantação do regime de flutuação cambial,

a taxa de câmbio cresceu vertiginosamente devido ao grande desequilíbrio no mercado

cambial causado pela saída líquida intensa de capitais provocada pela incerteza do futuro da

política econômica que viria em seguida. Embora tenha permitido a flutuação do real, o

32

Banco Central interviu vendendo7 moeda estrangeira no mercado de câmbio com o objetivo

de controlar a desvalorização da moeda doméstica. Entretanto, a tentativa de contenção da

desvalorização não obteve resultado satisfatório e a taxa de câmbio sofreu uma

desvalorização de aproximadamente 60% (SOUZA, 2006, p.9).

Pode-se verificar, por meio das diretrizes de política monetária8 datada do dia 04 de

Março de 1999, a preocupação em passar ao mercado, até então em turbulência, o

direcionamento que seria adotado. Com a intenção de elucidar esse momento, o trecho

abaixo foi retirado das Notas da 33ª Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco

Central do Brasil (COPOM):

“...Considerando-se o novo regime cambial, é essencial transmitir à sociedade que a economia não opera sem âncora nominal e que o Banco Central possui capacidade de atuação. Nesse sentido, o desempenho da autoridade monetária passará a pautar-se pelo comprometimento com o controle da taxa de inflação”.

“...Dadas as expectativas de trajetória ascendente da inflação, o nível atual da taxa de juros foi considerado abaixo do desejado. Ponderou-se, também, que a volatilidade da taxa de câmbio exigia a atuação da autoridade monetária”.

Somente após quase três meses do lançamento do regime flutuante, em março de

99, a taxa de câmbio começou a apresentar sinais de queda, o que deveu-se aos seguintes

fatores: a)divulgação da confirmação de Armínio Fraga Neto para a presidência do Banco

Central, b) melhora nas expectativas dos agentes em relação ao rumo da política monetária,

que veio acompanhada de uma forte alta nos juros, c) sucesso da revisão do acordo com o

FMI.

Aos poucos, o regime de câmbio flutuante parecia mais claro aos agentes

econômicos, tendo assim maior credibilidade. A intervenção do Banco Central seria

admitida em duas situações específicas: a primeira seria se contrapor frente a uma situação

de desequilíbrio do mercado, já a segunda situação seria para atender as necessidades de

7 Essas vendas somavam, do início do regime de câmbio flutuante até Março de 1999, US$ 3,1 bilhões. 8 O documento está disponibilizado em: Notas da 33ª Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco

Central do Brasil (COPOM), http://www.bcb.gov.br/?COPOM33.

33

financiamento do balanço de pagamento. Segundo os autores, a primeira forma para

intervenção se mostra condizente com um regime de “flutuação tão pura quanto possível”,

em referência ao regime cambial adotado nos EUA durante o primeiro governo Reagan. Já

o segundo motivo para intervenção dado, na visão dos autores, não indica um regime de

flutuação livre, uma vez que nesse regime é a movimentação livre da taxa de câmbio que

ajustaria o saldo em conta corrente com o financiamento disponível do balanço de

pagamentos, e não o contrário.

FASE 2 – ABRIL DE 1999 A MARÇO DE 2001

Logo no início do período ocorreu uma rápida queda da taxa de juros, que a partir

do meio do ano fluiu de forma mais equilibrada. A influência da taxa de câmbio na

condução da política de juros passou a ser de forma indireta, e somente era verificada

quando grandes aumentos da taxa de câmbio geravam consequentes elevações na taxa de

inflação. Não foi observada a utilização de reservas com a finalidade de estabilização da

taxa de câmbio (SOUZA e HOFF, 2006, p.11).

No Gráfico (3), pode-se visualizar que, durante o período relacionado ao segundo

trimestre de 1999 até primeiro trimestre de 2001, as intervenções do BACEN foram raras, e

foi o mais próximo que o Brasil esteve do regime de flutuação pura.

34

Gráfico 3: Fases das intervenções no mercado de câmbio (1999-2005)

FONTE: SOUZA e HOFF, 2006, O Regime Cambial Brasileiro: 7 Anos de Flutuação.

Seis meses após a adoção do câmbio flutuante, tinha-se um novo quadro de política

macroeconômica sendo formado, que foi finalizado com a implantação do sistema de metas

inflacionárias. Fazia parte desse novo contexto econômico a geração de elevados superávits

primários nas contas públicas. A principal ferramenta utilizada para atingir as metas de

inflação seria a taxa de juros básica da economia. Já a taxa de câmbio, que antes realizava o

papel de âncora cambial para os preços, passou a ser flutuante e serviria como meio de

ajuste dos desequilíbrios do balanço de pagamentos. O iniciante regime cambial, após

passar pelo crivo de provas que colocaram em risco sua reputação devido a oscilações entre

estabilidade e grande volatilidade, obteve uma ampla aceitação entre economistas e

governo (SOUZA, 2006, p.1).

Souza e Hoff (2006) chamam atenção para a possibilidade dos indicadores de Calvo

e Reinhart de medo de flutuação falharem no caso de uma análise do período em questão

35

(Abril de 1999 a Março de 2001). Essa falha de análise decorreria da associação da forte

queda dos juros, observada no período, com uma das características inerentes ao medo de

flutuar, que é a alta volatilidade da taxa de juros. Porém, essa queda não possuiu relação

alguma com tentativas de controle da taxa de câmbio. Portanto, os autores afirmam que “na

ausência de grandes turbulências, o Brasil não teve medo de flutuar” (SOUZA, 2006,

p.11).

FASE 3 – ABRIL DE 2001 A MAI0 DE 2002

No período de 1999 até 2002, ocorreram situações adversas difíceis no cenário

externo. Giambiagi (2005) aponta como razões principais para se entender o contexto eram:

(i) maior crise econômica na Argentina em 100 anos; (ii) redução dos mercados

consumidores na América Latina; (iii) as consequências dos atentados terrorista às Torres

Gêmeas; a desvalorização do euro; (iv) escassez de crédito nos mercados internacionais e

(v) forte queda das exportações brasileiras entre 1998 e 2002. Todos os fatores acima

citados levaram a necessidade de intervenção para a desvalorização do câmbio, gerando

efeitos perversos sobre os níveis de preços e dos juros, que eram influenciados pela

necessidade de conter maiores índices de inflação, oriunda da taxa de câmbio

(GIAMBIAGI, 2005,p.191).

Aliadas as dificuldades impostas pelo cenário externo, internamente, dois fatores

influenciavam a piora – se comparada ao período anterior, FASE 2 – da conjuntura

econômica: a mudança brusca da base de sustentação do governo e a crise energética que

castigava o país. Assim, conjugou-se uma retração nos fluxos de capitais e um aumento da

demanda por hedge cambial por parte das empresas que detinham passivos em dólar.

Demanda essa que teve sua necessidade comprovada com o quadro que se seguiu, uma vez

que a combinação fatal de redução da oferta de moeda estrangeira com o aumento da sua

demanda geraria uma forte pressão no mercado de câmbio (SOUZA e HOFF, 2006, p.12).

36

A grande instabilidade do mercado e a crescente desvalorização da moeda fez com

que o Banco Central voltasse sua atenção para os impactos desse arranjo sobre a inflação. O

governo atuaria de três maneiras com o objetivo de controlar a elevação da taxa de câmbio:

emitindo maior número de títulos públicos atrelados ao dólar; vendendo reservas no

mercado de câmbio e a atuando na reversão trajetória de queda da taxa de juros básica da

economia (taxa Selic). Mesmo em meio a um cenário conturbado e com a adoção das

medidas citadas anteriormente, o Banco Central, adotou ainda a “ração diária”, onde o

principal objetivo era reverter o quadro de escassez de dólares que o governo tinha a

previsão que ocorreria. A medida consistia no anúncio de que o Banco Central venderia

US$ 50,0 milhões por dia ao longo do segundo semestre do ano, aliado a isso ele ainda

declarava a intenção de permanecer com essa política no ano seguinte. O Banco Central

tomava tais medidas e as julgava serem compatíveis com um regime de câmbio flutuante,

pois ele justificava que apenas estava evitando distorções geradas pelo mercado. A “ração

diária” foi adotada até o momento que foi verificada a reversão do cenário e teve-se

apreciação cambial, a partir daí não ocorreu mais a prática de venda diárias de dólares. Nos

cinco meses subsequentes não foram observadas novas intervenções no mercado de

câmbio, o que levou o regime cambial, novamente, próximo a flutuação pura. Contudo, em

março de 2002, o BACEN lançou uma nova forma de intervenção no mercado de câmbio,

através da venda de swaps (SOUZA e HOFF, 2006, p.12-13)

FASE 4 – JUNHO A DEZEMBRO DE 2002

Em função da possibilidade de que o Partido dos Trabalhados pudesse assumir a

presidência, surgia uma nova crise de confiança no Brasil. Situação ainda mais agravada

quando somadas as turbulências do cenário externo em função de dois motivos principais: o

aprofundamento da crise já existente na Argentina e a notícia de fraude fiscal em grandes

corporações norte-americanas. Nesse contexto, o mercado internacional colocava-se como

avesso ao risco e contraía-se. Como consequência dessa conjugação de fatores acima,

ocorreu uma forte depreciação do real. Em relação ao mercado de câmbio, nessa fase

seriam gerados efeitos ainda mais devastadores para a economia brasileira do que em 2001.

37

Para fazer frente ao cenário nada amistoso em que a economia brasileira se

encontrava, o BACEN elevou a taxa de juros e retomaram fortes intervenções no mercado

cambial. Foi realizado um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, onde o

Banco Central teria o seu poder de intervenção no mercado de câmbio ampliado, uma vez

que existiria uma redução do piso líquido das reservas de US$ 15 bilhões para US$ 5

bilhões. Os autores caracterizam o período do segundo semestre de 2002 como o de maior

intervenção do Banco Central através da venda de reservas desde 1999, quando foi iniciado

o regime de câmbio flutuante no Brasil (SOUZA e HOFF, 2006, p.15)

Mesmo com tamanho esforço do governo para conter a subida da taxa de câmbio, a

mesma apresentou um aumento de 64%. Além disso, era nítido que havia um

desalinhamento entre a inflação efetiva e a meta inflacionária perseguida. Com isso, não só

a política cambial, mas também a política monetária estaria perdendo credibilidade.

FASE 5 – JANEIRO DE 2003 A DEZEMBRO DE 2004

Passada as eleições e a partir da confirmação de que não seriam promovidas maiores

rupturas com a política econômica que já vinha sendo adotada e o alinhamento com as

metas do FMI, o mercado voltou a se acalmar e a crise de confiança deu lugar a um

ambiente estável da economia. Alguns números comprovaram a intenção do novo governo

de sinalizar ao mercado que o modelo adotado seria mantido: a taxa Selic aumentou de

22% para 25% e depois para 26,5%; a meta para o superávit primário foi verificado acima

da sugerida pelo FMI (fixando-se em 4,25%). Em consequência dessas medidas houve uma

queda no risco-país e a taxa de câmbio sofreu grande apreciação (SOUZA e HOFF, 2006,

p.16).

Em 2003 começou a ser adotada uma prática agressiva de resgate dos títulos

públicos cambiais. A diminuição da exposição da dívida pública em relação ao câmbio foi

38

possível devido a queda da demanda por hedge cambial. Do período de janeiro de 2003 a

janeiro de 2004, devido ao cenário mais confortável em que se encontrava a economia

brasileira, não foi verificada grande intervenção do Banco Central no mercado de câmbio

por meio de venda de reservas, ocorrendo apenas alguns movimentos em fevereiro de 2003

e em janeiro de 2004, esse último é especialmente ressaltado pelos autores por ter ocorrido

substancial intervenção com a compra de USD 2,6 bilhões sem que houvesse qualquer

justificativa apresentada pelo Banco Central do Brasil. O instrumento da taxa de juros foi

sendo administrado para baixo com cautela em virtude da grande alta observada nos meses

finais de 2002 e logo no início de 2003 (SOUZA e HOFF, 2006, p.16).

FASE 6 – JANEIRO A DEZEMBRO DE 2005

O Banco Central mantinha o seu discurso de que as compras realizadas do Tesouro

visava o acúmulo de reservas e portanto não existia o objetivo de influenciar a taxa de

câmbio. O observado foi que o ritmo de compra de divisas foi intensificado, chegando em

março de 2005 a somar USD 12,9 bilhões. Diante de uma demanda crescente no mercado

futuro por reais e tendo em vista que chegará ao fim os resgates dos títulos cambiais, a

atuação do BACEN se deu através da compra de dólares no mercado futuro, com os

chamados swaps reversos, assim entre fevereiro e março foram disponibilizados

aproximadamente USD 9,0 bilhões dessa modalidade (SOUZA e HOFF, 2006, p.17).

A taxa de câmbio, no mês de março de 2005, interrompeu sua trajetória de queda e

se depreciou. Esse novo direcionamento da taxa de câmbio pode ser explicada em função

do impacto das intervenções ocorridos no mercado à vista e na venda de swaps reversos,

uma vez que as duas frentes de atuação do Banco Central foram realizadas com montantes

bastante expressivos. Um outro fator que também pode explicar a taxa de câmbio foi o

anúncio por parte do COPOM em fevereiro de 2005 de que haveria possibilidade de

ocorrer, a qualquer momento, a interrupção da ascendência da taxa de juros, além disso a

ata também chamava a atenção para a elevação da taxa de juros de longo prazo dos EUA,

39

modificando dessa forma o quadro da economia internacional (SOUZA e HOFF, 2006,

p.17).

Em abril, a taxa de câmbio se direcionou para o caminho inverso, e aconteceu uma

valorização cambial. Essa mudança de trajetória foi consequência da determinação de

março do COPOM, que voltou a ser rígida somada a atitude de abril do Banco Central,

quando, sem anúncio prévio, decidiu parar com as compras no mercado à vista e com a

colocação de swaps reversos no mercado. Muitos autores argumentam que o motivo pelo

qual o BACEN tomou as medidas – interrupção de compras no mercado à vista e a

colocação de swaps reversos – foram os onerosos custos da intervenções que elevavam

ainda mais a dívida pública, que já se encontrava acentuada em função do aumento dos

juros (SOUZA e HOFF, 2006, p.18).

Em resumo, o período de dezembro a março de 2005, é indicado como um período

em que as intervenções do Banco Central obtiveram sucesso no sentido de conter

valorizações mais intensas, porém as mesmas não foram suficientemente eficazes a ponto

de desvalorizar a taxa de câmbio ao nível desejado, ou seja, elas serviram como barreira de

contenção, mas foram a solução para o problema observado.

De abril a setembro de 2005, pôde-se observar a não intervenção do Banco Central

no mercado, e o real voltou a se apreciar. Em função de uma extrema valorização cambial,

o BACEN interviu no mercado à vista e realizou uma expressiva compra de dólares em

outubro. Já em seguida, em novembro, a intervenção foi por meio da recolocação de swaps

reversos, quando ainda anunciou que em dezembro seriam vendidos US$ 500 milhões

diariamente, assumindo dessa forma uma posição de interferência crescente na taxa de

câmbio. Entretanto, assim como observado no período anterior, as intervenções realizadas –

com elevado custo fiscal – serviram para evitar a apreciação ainda maior da taxa de

câmbio, porém não conseguiram dar um direcionamento diferente à tendência da

valorização cambial (SOUZA e HOFF, 2006, p.18).

40

O intervalo de outubro de 2005 ao último trimestre de 2007 contemplou o seguinte

quadro econômico: trajetória declinante da taxa de juros, forte queda do risco-país e

permanência das expectativas de apreciação cambial. Essa expectativa sobre a taxa de

câmbio superou os efeitos da diminuição da taxa de juros, assim os ativos em real

continuaram a chamar atenção do mercado. Em relação a balança comercial, verificou-se

um saldo maior do que US$ 40 bilhões, que pode ser explicado em função do grande

volume exportado nos anos anteriores e do comportamento estável dos preços. Em janeiro

de 2007 a taxa de câmbio caminhava na direção desejada e alcançava seu piso em agosto de

2008 (Hoff, 2009, p.126-127)

FASE 7 – A PARTIR DE AGOSTO DE 2007

Essa última fase do regime de câmbio brasileiro, iniciada em agosto de 2007 com o

advento da crise do subprime, até então restrita a economia americana. Em resposta ao

cenário incerto da crise ocorreu uma desvalorização do real, que não se prolongou por

muito tempo, pois logo em seguida, em setembro a taxa de câmbio já havia retornado a se

apreciar.

A fase também é caracterizada pela pausa provisória, por parte do Banco Central,

das intervenções de compras de reservas, que no período anterior foi marcado pela

movimentação de montantes expressivos. Em setembro de 2007 o BACEN retorna atuando

através da sua política de compra de reservas e rolagem de swaps reversos, medidas que se

mostraram infelizes para conter a apreciação cambial. Na Tabela (2), logo abaixo, pode-se

verificar que a taxa de câmbio efetiva estava sempre abaixo do nível ideal de 100.

41

Tabela 2: Fluxo Cambial (em US$ bilhões)

FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL (HOFF, 2009, p.128)

Nessa fase foi verificada a deterioração do saldo em transações correntes, além do

declínio das exportações e, em contrapartida, o aumento das importações. Ainda havia, até

o terceiro trimestre de 2008, excesso de divisas no mercado de câmbio, assim o BACEN

comprava a maior parte dessa sobra. Em menor parte, esse excesso de dólares era comprado

pelos bancos comerciais, porém como os mesmos não tinham o objetivo de elevar muito as

suas reservas, a taxa de câmbio permanecia em queda. Nos últimos meses de 2008 a crise

explodiu e gerou reflexos globais, atingindo o Brasil e levando a um grande desequilíbrio

no mercado de câmbio e em consequência disso foi percebida a depreciação da taxa de

câmbio (HOFF, 2009, p.128-129).

Diante desse contexto, o Banco Central voltou a intervir no último trimestre de

2008 por meio da disponibilidade de swaps cambiais e através da venda de US$ 23 bilhões

de reservas. Essas intervenções foram essenciais para conter a depreciação cambial. O

mercado brasileiro sofreu as consequências da crise que abatia a economia global,

verificou-se que, tanto grandes empresas exportadoras quanto empresas menores,

expressaram ter prejuízos relacionados a operações com derivativos cambiais, segundo

HOFF (2009) foram os chamados “derivativos tóxicos”. Em janeiro de 2009, ocorreu o

42

movimento simultâneo de redução da saída de capitais e restabelecimento do fluxo

comercial, porém numa escala bem menor do que antes da crise. A trajetória que vinha

ocorrendo de desvalorização cambial começou a se reverter e em seguida já foi verificado

novamente uma apreciação do câmbio maior do que o governo classificava como ideal.

43

CONCLUSÃO

Caracterizando o regime cambial brasileiro no período de 1994 a 2009, pode-se

dizer que existem dois períodos grandes distintos entre si pela forma de condução da

política cambial.

No primeiro período, que vai de março de 1995 a dezembro de 1998, verificou-se o

regime cambial crawling peg, uma vez que se tratou de um período a partir do qual o

governo se utilizou das âncoras cambial e de juros para intervir no mercado e conter a

elevação dos preços da economia, buscando evitar assim os efeitos perversos da tão temida

inflação.

Durante os anos de 1999 até 2009, onde é delimitado o segundo período desse

estudo, o Banco Central do Brasil não estabeleceu âncoras e, segundo ele mesmo, deixou

com que o câmbio flutuasse a partir do funcionamento do mercado. Porém, verificou-se

através de dados e ações levantados que a política de facto foi diferente da política de jure.

Embora o BACEN não tenha realmente estabelecido uma taxa de câmbio fixa para

economia, ele também não a deixou flutuar livremente, assim como faz praticamente todos

os bancos centrais de forma mais ou menos intervencionista.

Ainda nesse segundo período, existiram várias fases com características diferentes,

assim o mesmo foi dividido em sete fases. Caracterizou-se como fator comum entre essas

fases o caráter pragmático das intervenções, pois ora elas se davam por um determinado

motivo e ora por outro, assim não foram verificadas regras suficientemente claras para a

atuação via intervenção do Banco Central. De forma geral, diante de um cenário de

turbulência o governo realizava a intervenção, através da compra e venda de reservas,

colocação de swaps, entre outros. E quando o mercado não demonstrava maiores

instabilidades o BACEN não intervinha deixando com que a taxa de câmbio fosse

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determinada livremente. Em função dessas intervenções pode-se concluir que a flutuação

administrada ou flutuação suja foi preponderante durante o segundo período analisado pelo

presente estudo.

45

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46

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ANEXOS: LISTAS DE GRÁFICOS, TABELAS, ABREVIATURAS E SIGLAS

LISTAS DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: O MERCADO DE CÂMBIO ......................................................................................................... 12

GRÁFICO 2 : FERRAMENTAS USADAS NAS INTERVENÇÕES ................................................................ 29

GRÁFICO 3: FASES DAS INTERVENÇÕES NO MERCADO DE CÂMBIO (1999-2005) ............................. 34

LISTAS DE TABELAS

TABELA 1: A TAXONOMIA DAS INTERVENÇÕES ..................................................................................... 21

TABELA 2: FLUXO CAMBIAL (EM US$ BILHÕES) ...................................................................................... 41

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BACEN: BANCO CENTRAL DO BRASIL

BIS: BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS

BM&FBOVESPA: BOLSA DE VALORES, MERCADORIAS E FUTUROS DE SÃO PAULO

COPOM: COMITÊ DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL

CVM: COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS

EUA: ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

FMI: FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

IOF: IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS

SELIC: SISTEMA ESPECIAL DE LIQUIDAÇÃO E CUSTODIA DE TÍTULOS PÚBLICOS

USD: UNITED STATE DOLAR