capÍtulo 3: metodologia -...

Download CAPÍTULO 3: METODOLOGIA - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/5489/9/ulfc096328_3_metodologia.pdf · científico, encontram-se sempre questões epistemológicas ligadas

If you can't read please download the document

Upload: ngotu

Post on 08-Feb-2018

243 views

Category:

Documents


11 download

TRANSCRIPT

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    33

    CAPTULO 3:

    METODOLOGIA

    Num processo de investigao deve explicar-se, detalhadamente, os princpios

    metodolgicos e mtodos a utilizar. Neste captulo, inclui-se, por isso, toda a

    explicitao e fundamentao no que diz respeito s opes metodolgicas e ao

    processo heurstico seguido neste estudo.

    Estruturamos este captulo de metodologia em quatro seces. Na primeira

    expomos uma reflexo sobre questes metodolgicas de modo a fundamentar a

    estratgia de investigao escolhida. Na segunda seco feita uma caracterizao do

    contexto do estudo e na terceira seco expe-se o plano de investigao emprico nas

    suas fases. Na quarta seco aborda-se todo o procedimento relativo execuo do

    trabalho emprico, descrio dos instrumentos e tcnicas utilizadas na recolha de

    informao, como sejam o Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X), a

    observao de aulas e o mtodo de tratamento de dados.

    3.1. QUESTES METODOLGICAS

    Uma investigao pode ser definida como sendo o melhor processo de chegar a

    solues fiveis para problemas, atravs de recolhas planeadas, sistemticas e

    respectiva interpretao de dados. uma ferramenta da mxima importncia para

    incrementar o conhecimento e, deste modo, promover o progresso cientfico

    permitindo ao Homem um relacionamento mais eficaz com o seu ambiente, atingindo

    os seus fins e resolvendo os seus conflitos (Cohen & Manion, 1980; Santos, 1999,

    2002).

    Como referem Ludke e Andr (1986) e Santos (1999, 2002) investigar um

    esforo de elaborar conhecimento sobre aspectos da realidade na busca de solues

    para os problemas expostos. Consideramos que, tal como Bell (1997), uma

    investigao conduzida para resolver problemas e para alargar conhecimentos

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    34

    sendo, portanto, um processo que tem por objectivo enriquecer o conhecimento j

    existente.

    Relacionadas com a investigao e, num sentido mais vasto, com o processo

    cientfico, encontram-se sempre questes epistemolgicas ligadas a trs aspectos: (1)

    Natureza do objecto da investigao (o qu); (2) Questes sobre a relao

    investigador/objecto, ou seja, sobre o processo do conhecimento cientfico (o como);

    (3) Objectivo inerente a uma investigao, ou seja, a finalidade da actividade cientfica

    (o porqu).

    3.1.1. Natureza do Objecto de Investigao

    Numa investigao, no mbito educacional, existem caractersticas especficas,

    prprias dos fenmenos educativos em estudo, com uma multiplicidade de fins e

    objectivos que lhes esto associados (Santos 1999, 2002).

    A realidade educativa complexa, dinmica, interactiva, situando-se o fenmeno

    educativo num contexto social, numa realidade histrica, e contemplando aspectos

    importantes, tais como crenas, valores, significados que no sendo directamente

    observveis so, por isso, difceis de investigar (Arnal et al., 1994; Ludke & Andr,

    1996; Santos, 1999, 2002). Na opinio destes mesmos autores, esta realidade

    educativa encontra-se ainda dimensionada por aspectos morais, ticos e polticos onde

    so diversas as variveis que interagem.

    Por este facto, e no mbito de uma investigao educativa, o comportamento

    deve ser contextualizado, pois as caractersticas nicas dos fenmenos em estudo

    tornam-nos impossveis de repetir (Arnal et al., 1994). A captao desta realidade

    complexa, dinmica, interactiva, um desafio para qualquer investigao educacional

    (Santos, 1999, 2002).

    3.1.2. Questes sobre a relao Investigador/Objecto de investigao

    O investigador parte integrante do fenmeno social que investiga, ou seja, a

    educao. Deste modo, temos que equacionar tambm esta relao peculiar entre o

    investigador e o objecto de investigao. O investigador no pode ser totalmente

    alheio, independente e neutro, em relao aos fenmenos educacionais que estuda,

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    35

    pois participa neles sempre com os seus valores, crenas e ideias, pelo que deve tentar

    integrar-se no contexto de estudo, fazendo parte natural do cenrio (Santos, 1999,

    2002).

    3.1.3. Objectivo Inerente a uma Investigao

    Numa investigao educacional, a compreenso do fenmeno educativo o seu

    objectivo maior, pelo que a deciso sobre a escolha da metodologia apropriada

    sempre da mxima importncia, ainda que difcil.

    Dependendo da posio do investigador, do problema em estudo e dos

    objectivos a atingir, existem vrias abordagens possveis, originando diferentes

    perspectivas de concepo da investigao educacional, optando por uma abordagem

    emprico-analtica (positivista) ou por orientaes interpretativas e crticas (Arnal et al.,

    1994).

    O paradigma interpretativo, englobando os aspectos qualitativo,

    fenomenolgico, naturalista, humanista, engloba um conjunto de correntes

    humanstico/interpretativas cujo interesse centrado no estudo dos significados das

    aces humanas e da vida social (Erikson, 1986; Santos, 1999, 2002). A orientao

    interpretativa parece centrar-se mais na descrio do que nico e particular do

    objecto de estudo, do que no generalizvel. O seu objectivo principal desenvolver

    conhecimento ideogrfico, aceitar a realidade educativa como dinmica, mltipla e

    holstica, construda e divergente, realando a compreenso e interpretao da

    realidade, desde os significados das pessoas implicadas nos contextos educativos,

    estudando as suas crenas, intenes, motivaes e outras caractersticas do processo

    educativo no observveis directamente nem susceptveis de experimentao

    (Tenreiro-Vieira, 1999).

    As noes cientficas de explicao, previso e controlo do pensamento

    positivista so substitudas pelas noes de compreenso, significado e aco. Para

    uma perspectiva interpretativa, investigar compreender os comportamentos

    humanos, os significados e intenes dos sujeitos que intervm no cenrio educativo,

    sendo a interpretao no mais que a compreenso dos fenmenos educativos

    (Santos, 1999, 2002).

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    36

    Considerando as caractersticas referidas por Bogdan e Biklen (1994) como

    ligadas a uma investigao qualitativa, vamos enunciar algumas delas que, na nossa

    opinio, estaro inerentes a este estudo:

    i. A fonte directa de dados o ambiente natural. Uma vez que se assume que o

    comportamento humano significativamente influenciado pelo contexto em

    que ocorre, entende-se que as aces podero ser melhor compreendidas se

    observadas no seu ambiente natural de ocorrncia.

    O instrumento principal de recolha de dados o investigador. O instrumento-

    chave da anlise , por isso, o entendimento que o investigador tem sobre os

    dados e sobre o contexto em que estes so recolhidos e complementados pela

    informao resultante do contacto directo do investigador com o ambiente de

    recolha.

    ii. Os dados recolhidos so predominantemente descritivos. Estes podem assumir

    a forma de palavras ou imagens. A recolha de dados descritivos permite uma

    abordagem minuciosa do mundo, em que nada considerado trivial e passvel

    de ser deixado ao acaso.

    iii. O processo mais relevante que os resultados ou produtos. Destaca-se a

    necessidade de compreenso pelo investigador de como se desenvolve a

    relao do objecto em estudo com as suas actividades, procedimentos e

    interaces.

    iv. Os dados so analisados de forma indutiva. Os dados recolhidos no tem como

    funo a verificao de hiptese, sendo a inter-relao dos dados a fonte de

    construo das teorias, mesmo partindo de um quadro terico de base. Toda a

    investigao baseada numa orientao terica. A recolha de informao,

    sendo orientada pelo quadro terico de referncia, revela a necessidade de

    ajustar, especificar ou at reformular este quadro, tornando-o um guia de

    observao do real mais eficaz e preciso (Almeida & Pinto, 1986). Durante todo

    o processo investigativo existe uma interaco entre a teoria e a pesquisa

    emprica, uma retroaco mtua (Vieira-Tenreiro, 1999).

    v. O significado de importncia vital na abordagem qualitativa. Os

    investigadores privilegiam, essencialmente, a compreenso dos

    comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigao, estando

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    37

    interessados no modo como as pessoas do significado s coisas e s suas

    vidas, e em aprender as perspectivas participantes (Bogdan & Biklen, 1994).

    3.2. VALIDADE DA INVESTIGAO

    Na maioria das situaes, a validade da investigao no simples de averiguar.

    De um modo geral, quanto mais directa for a forma de medir o fenmeno em causa

    mais vlido ser o mtodo utilizado.

    Numa investigao qualitativa, problemas epistemolgicos, tais como o do

    carcter cientfico da prpria pesquisa e o que se prende com a relao

    subjectividade/objectividade, so postos em discusso. O facto de o investigador ser o

    instrumento principal e a fonte de dados ser o ambiente natural, coloca-nos perante a

    formao de uma realidade que fruto da nossa realizao, como refere Popper

    (1992). Estando o sujeito profundamente implicado no processo de produo de

    conhecimento, torna-se imperioso reconhecer a subjectividade inerente a esse

    processo como parte integrante da objectivao, aprofund-la e reflectir sobre ela. A

    explicitao dos processos, expondo aos outros a nossa subjectividade e, por tal,

    confrontando-a, necessria (Morin, 1984; Popper, 1992; Sousa Santos, 1995; Santos,

    1999, 2002). Todos os investigadores so vtimas dos desvios inerentes ao observador,

    devendo ento tentar reconhecer isso e ter esse facto em considerao, bem como

    manterem uma preocupao constante com o rigor ou confiabilidade, a abrangncia

    dos dados e a correspondncia entre estes e o que de facto se passa no local (Tenreiro-

    Vieira, 1999).

    Na perspectiva de Guba (1981) e Guba e Lincoln (1988), todo o processo de

    pesquisa precisa de apresentar um valor prprio (truth value), aplicabilidade

    (applicability), consistncia (consistency) e neutralidade (neutrality) de forma a ter

    valor cientfico. Assim, o rigor procurado, usando um paradigma quantitativo,

    conseguido usando critrios de validade interna e externa, fiabilidade e objectividade,

    num paradigma qualitativo procura-se a confiabilidade (trustworththiness) usando

    como critrios a credibilidade (credibility, ou seja a capacidade dos participantes

    confirmarem os dados), a transferibilidade (transferability, ou seja, a capacidade de os

    resultados do estudo serem aplicados noutros contextos), a consistncia

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    38

    (dependability, ou seja, a capacidade de investigadores externos seguirem o mesmo

    mtodo usado pelo investigador) e a aplicabilidade ou confirmabilidade

    (confirmability, ou seja, a capacidade de outros investigadores confirmarem as

    construes do investigador) (Lincoln & Guba, 1991).

    A credibilidade, termo paralelo ao de validade interna de um estudo

    quantitativo, diz respeito ao quanto as construes do investigador reproduzem os

    fenmenos em estudo e/ou os pontos de vista dos participantes na pesquisa. A

    credibilidade obtida submetendo (os resultados) aprovao dos construtores das

    mltiplas realidades em estudo (Lincoln & Guba, 1991), e pode operacionalizar-se de

    diversas formas. Uma das formas o peer debriefing, que traduzimos por reviso por

    pares, que consiste em permitir que um par um colega) que seja um profissional fora

    do contexto mas que tenha conhecimento geral da problemtica e do processo de

    pesquisa, analise os dados, teste as hipteses de trabalho e sobretudo escute as ideias

    e preocupaes do investigador (Erlandson et al., 1993). Outro processo o que se

    designa por member checks, que traduzimos por reviso pelos participantes, que

    consiste em devolver aos participantes do estudo os resultados da anlise feita pelo

    investigador as informaes que lhe forneceram, para que estes possam confirmar se

    as interpretaes do investigador reflectem de facto as suas experincias/

    ideias/sentimentos.

    A transferibilidade refere a possibilidade de que os resultados obtidos num dado

    contexto numa pesquisa qualitativa possam ser aplicados noutro contexto. Trata-se,

    por isso, do conceito equivalente ao de validade externa ou generalizao da

    metodologia quantitativa experimental. Na opinio de Firestone (1990), podemos

    considerar trs tipos ou nveis diferentes na generalizao dos resultados de um

    estudo emprico: a generalizao da amostra para a populao, a generalizao

    analtica ou relacionada teoria e a transferncia caso a caso. No plano de um estudo

    qualitativo a generalizao do segundo tipo, ou, como refere Stake (1994, 1995) ou

    Flick (1998), uma generalizao terica que contrapes generalizao cientfica da

    investigao experimental clssica. A transferabilidade deve ser uma preocupao

    central do investigador qualitativo, uma vez que, como referem Lincoln e Guba (1991,

    p. 298), se houver tansferabilidade, o fardo da prova fica menos em cima do

    investigador original do que na pessoa que procura aplicar os resultados do estudo

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    39

    noutro contexto. O investigador original no conhece o ambiente para o qual se vai

    proceder transferabilidade, mas quem o faz sabe A responsabilidade do

    investigador original termina no momento em que fornece um conjunto de dados

    descritivos capazes de permitirem que juzos de semelhana sejam possveis.

    A consistncia, equivale ao conceito de fiabilidade de uma investigao

    quantitativa, e traduz-se pela capacidade de replicar o estudo, que s possvel se os

    instrumentos de pesquisa forem neutros, ou seja, aplicados de novo produzem os

    mesmos resultados (Denscombe, 2001). Como resultado da flexibilidade do

    desempenho, da constante interaco entre investigador e participantes, os resultados

    so irrepetveis, pelo que este tipo de replicabilidade impossvel de se conseguir.

    Deste modo, a questo da fiabilidade pode traduzir-se da seguinte forma: Se outra

    pessoa fizesse o mesmo estudo, obteria os mesmos resultados e chegaria s mesmas

    concluses a que chegou o investigador?

    Por seu lado, a confirmabilidade o paralelo da objectividade na pesquisa

    quantitativa e visa certificar-se se investigador tenta estudar objectivamente os

    contedos subjectivos dos sujeitos (Bogdan & Bilken, 1994), se est envolvido na

    actividade como participante activo mas capaz de reflectir sobre ela como um

    observador externo, por outras palavras, averiguar at que ponto o investigador se

    esfora por ver a realidade atravs dos olhos dos sujeitos envolvidos (Vieira, 1999).

    Trata-se tambm de equacionar a legitimidade para se inferir dos dados, ou seja,

    verificar at que ponto as interpretaes que o investigador faz no so fragmentos da

    sua investigao (Mertens, 1998).

    A validade do conhecimento depende da forma como se procede observao;

    diferentes observadores perante os mesmos factos devem chegar s mesmas

    concluses. Deste modo, e sempre que os processos metodolgicos tenham sido

    correctamente aplicados, no h razes para duvidar da vaidade e fidelidade da

    informao obtida.

    3.3. OPO METODOLGICA

    Uma das formas de assegurar a validade interna atravs do recurso

    triangulao dos dados. A triangulao tambm nos permite avaliar a fiabilidade duma

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    40

    investigao. A triangulao consiste em combinar dois ou mais pontos de visa, fontes

    de dados, abordagens tericas ou mtodos de recolha de dados numa mesma

    pesquisa para que possamos obter como resultado final um retrato mais fidedigno da

    realidade ou uma compreenso mais completa do fenmeno a analisar. A maior

    diversidade e integrao de mtodos produz uma maior confiana nos resultados

    (Santos, 1999, 2002). Segundo Denzin (1970), citado em Merrian (1998) a

    racionalidade desta estratgia reside no facto de se poder atingir o melhor de cada um

    dos mtodos, pois que os defeitos de um mtodo so, muitas vezes, os pontos fortes

    de outro, pelo que a combinao de mtodos permite que se ultrapasses as suas

    deficincias especficas.

    Desta forma, optando por uma investigao qualitativa com abordagem multi-

    metodolgica, utilizaram-se como tcnicas de recolha de dados a observao, a anlise

    documental e a entrevista semi-estruturada.

    Segundo Ludke e Andr (1986), a observao um dos instrumentos bsicos

    para a recolha de dados na investigao qualitativa. Na verdade, uma tcnica de

    recolha de dados, utilizando os sentidos, de forma a obter informao de

    determinados aspectos da realidade. Obriga o investigador a um contacto mais directo

    com a realidade, ajudando-o a identificar e a obter provas a respeito de objectivos

    sobre os quais os indivduos no tm conscincia, mas que orientam o seu

    comportamento (Lakatos & Marconi, 1990; Santos 1999, 2002).

    Quer a observao seja estruturada ou no, o seu papel consiste em observar e

    registar da forma mais objectiva possvel e depois interpretar os dados recolhidos.

    Como vantagens para esta tcnica, podemos referir o facto de a observao permitir

    chegar mais perto da perspectiva dos sujeitos e a experincia directa ser melhor

    para verificar as ocorrncias (Ludke & Andre, 1986), ou ainda o permitir a evidncia de

    dados que no seriam possveis de obter nas respostas a questionrios (Lakatos &

    Marconi, 1990).

    Para complementar as informaes recolhidas pela observao, recorremos

    anlise documental das fichas de respostas dos alunos que permitir revelar aspectos

    novos, sendo, por isso, uma tcnica de recolha de informao necessria em qualquer

    investigao.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    41

    Para obter informaes e colectar dados que no seriam possveis apenas

    atravs da observao e da anlise documental, pode realizar-se uma entrevista.

    Haguette (1997) define entrevista como um processo de interaco social entre duas

    pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objectivo a obteno de

    informaes por parte do outro, o entrevistado. A entrevista como colecta de dados

    sobre um determinado tema cientfico a tcnica mais utilizada no processo de

    trabalho de campo. Atravs dela, os pesquisadores buscam obter informaes, ou seja,

    colectar dados objectivos e subjectivos. Se os dados objectivos podem ser obtidos

    tambm atravs de fontes secundrias tais como questionrios, testes, etc., os dados

    subjectivos s podem ser obtidos atravs da entrevista, pois que, estes se relacionam

    com os valores, s atitudes e s opinies dos sujeitos entrevistados.

    A preparao da entrevista uma das etapas mais importantes da investigao

    que requer tempo e exige alguns cuidados, destacando-se entre eles: o planeamento

    da entrevista, que deve ter em vista o objectivo a ser alcanado; a escolha do

    entrevistado, que deve ser algum que tenha familiaridade com o tema pesquisado; a

    oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do entrevistado em fornecer a

    entrevista que dever ser marcada com antecedncia para que o investigador se

    assegure de que ser recebido; as condies favorveis que possam garantir ao

    entrevistado o segredo das suas confidncias e da sua identidade e, por fim, a

    preparao especfica que consiste em organizar o roteiro ou formulrio com as

    questes importantes (Lakatos & Marconi, 1996).

    No que diz respeito formulao das questes o investigador deve ter cuidado

    para no elaborar perguntas absurdas, arbitrrias, ambguas, deslocadas ou

    tendenciosas. As perguntas devem ser feitas levando em conta a sequncia do

    pensamento do entrevistado, ou seja, procurando dar continuidade na conversao,

    conduzindo a entrevista com um certo sentido lgico para o entrevistado. Para se

    obter uma narrativa natural muitas vezes no interessante fazer uma pergunta

    directa, mas sim fazer com que o entrevistado relembre parte da sua vida, podendo o

    investigador ir suscitando a memria do entrevistado (Bourdieu, 1999).

    Das vrias formas de entrevistas, as mais relevantes so: a entrevista

    estruturada, semi-estruturada e aberta.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    42

    Uma entrevista estruturada elaborada a mediante um questionrio totalmente

    estruturado, ou seja, aquela onde as perguntas so previamente formuladas e onde

    se mantm uma preocupao em no fugir a elas. O principal motivo deste zelo a

    possibilidade de comparao com o mesmo conjunto de perguntas e que as diferenas

    devero reflectir diferenas entre os respondentes e no a diferena nas perguntas

    (Lakatos, 1996). Algumas das principais vantagens de um questionrio que nem

    sempre necessria a presena do investigador para que o respondente responda s

    questes. Alm disso, o questionrio consegue atingir vrias pessoas ao mesmo

    tempo, obtendo um grande nmero de dados, podendo abranger uma rea geogrfica

    mais ampla, se for esse o objectivo da investigao.

    A tcnica de entrevistas abertas a mais adequada a finalidades exploratrias,

    sendo bastante utilizada para o afinar de questes e para uma formulao mais precisa

    dos conceitos relacionados. Para a sua estruturao, o entrevistador introduz o tema e

    ao entrevistado dada a liberdade de discorrer sobre o tema sugerido. uma forma

    de poder explorar mais amplamente uma questo. As questes so respondidas

    dentro de uma conversao informal. A postura do entrevistador deve ser a de

    ouvinte, intervindo apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o trmino

    precoce da entrevista.

    A entrevista aberta utilizada quando se pretende obter o maior nmero

    possvel de informaes sobre determinado tema, segundo o ponto de vista do

    entrevistado, e ainda para obter mais e melhores detalhes sobre o assunto em questo

    (Minayo, 1993).

    Numa entrevista semi-estruturada cominam-se perguntas abertas com

    perguntas fechadas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o

    tema proposto. O entrevistador deve seguir um conjunto de questes previamente

    definidas, mas f-lo num contexto semelhante ao de uma conversa informal. O papel

    do entrevistador o de dirigir, sempre que achar oportuno, a discusso para o assunto

    que lhe interessa, fazendo perguntas adicionais para esclarecer questes que no

    ficaram claras ou para ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o entrevistado

    tenha fugido ao tema ou manifeste dificuldades com ele.

    Em oposio aos questionrios, que tm um ndice de devoluo muito baixo, a

    entrevista tem um ndice de respostas mais abrangente, uma vez que mais fcil as

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    43

    pessoas aceitarem falar sobre determinados assuntos, que responder por escrito. As

    tcnicas de entrevista aberta e semi-estruturada apresentam tambm como vantagem

    a sua elasticidade quanto durao, permitindo uma cobertura mais profunda sobre

    determinados assuntos. Alm disso, a interaco entre o entrevistador e o

    entrevistado favorece respostas espontneas. As respostas espontneas e a maior

    liberdade que os entrevistados tm pode fazer surgir questes inesperadas para o

    entrevistador que podero ser de grande utilidade na sua pesquisa.

    Quanto a desvantagens da entrevista aberta e semi-estruturada, estas dizem

    respeito muito mais a limitaes do prprio entrevistador, como por exemplo: a

    escassez de recursos financeiros e prprio dispndio de tempo. Por parte do

    entrevistado h a insegurana em relao ao seu anonimato e por causa disso muitas

    vezes o entrevistado retm informaes importantes, contudo, estas questes so

    melhor apreendidas pela entrevista aberta e semi-estruturada.

    Acabmos, assim, de justificar a utilizao, como tcnicas de recolha de dados,

    da observao, da anlise documental e da entrevista semi-estruturada. Num captulo

    adiante iremos descrever, para cada uma delas, como ocorreu o nosso estudo, sua

    preparao e realizao bem como os instrumentos que utilizmos e adaptmos.

    3.4. O CAMPO DE ANLISE

    O trabalho emprico a realizar teve como campo de estudo, uma Escola Bsica de

    um concelho da regio Oeste, classificado como NUT III (Nomenclatura de Unidade

    Territorial para fins estatsticos), mais especificamente com alunos do 3. ano de

    escolaridade, no mbito da rea curricular Estudo do Meio.

    A escolha deste nvel de escolaridade, terceiro ano, ficou a dever-se ao facto de

    os alunos neste nvel apresentarem j alguma autonomia nas competncias de leitura,

    essenciais para a interpretao dos instrumentos a utilizar, ainda que os mesmos

    tenham sido trabalhados e validados para este nvel de escolaridade.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    44

    3.4.1. O grupo experimental

    O grupo interveniente no estudo, grupo experimental, era constitudo por alunos

    de uma turma do 3. ano de escolaridade matriculados naquela Escola Bsica de 1.

    Ciclo.

    A docente da turma mostrou total disponibilidade para colaborar na

    implementao do programa de interveno proposto.

    Deste modo, o grupo interveniente ficou constitudo por uma turmas do 3. ano,

    com 21 alunos, tendo 12 alunos do sexo masculino e 9 do sexo feminino. A mdia de

    idades da turma de 8,5 anos.

    3.4.2. O contexto

    A escola onde foi desenvolvida esta investigao tem uma populao estudantil

    de 105 alunos estando inserida num meio urbano onde os habitantes podem ser

    classificados como pertencentes a uma classe mdia. A escola est inserida num

    Agrupamento de Escolas, nico agrupamento escolar do concelho e que congrega

    todos os nveis de ensino no superior desde o pr-escolar ao 12. ano de

    escolaridade.

    Tal como as restantes escolas do concelho, tambm na escola onde foi

    desenvolvida esta investigao no existem salas especficas para a implementao de

    aulas experimentais. De acordo com os dados constantes na Carta Educativa, a maioria

    das salas de aula das escolas do concelho apresenta deficincias de variadas tipologias,

    sendo, contudo, as da escola em causa as que menos problemas apresentam, em

    particular no que diz respeito adequao do mobilirio e edifcio.

    3.5. PLANO DE INVESTIGAO EMPRICO

    Neste ponto iremos explicitar as diferentes fases de desenvolvimento do

    trabalho emprico e as diferentes actividades promovidas em cada uma dessas fases.

    1. Fase do trabalho emprico:

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    45

    Esta primeira fase teve como objectivo geral a programao do estudo

    investigativo onde se incluiu: a escolha e estudo do contexto onde iria decorrer o

    trabalho, elaborao de estratgias auxiliadoras investigao pretendida e o estudo

    dos instrumentos de recolha de dados. Dentro desta programao, salientamos as

    seguintes etapas:

    i. Anlise de documentos: anlise do programa da rea curricular Estudo do Meio do

    1. Ciclo do Ensino Bsico; anlise do manual adoptado na escola para esta rea

    curricular e de outros manuais referentes mesma rea.

    ii. Calendarizao das actividades de acordo com a planificao anual para a escola e

    para o 3. ano de escolaridade.

    iii. Estudo sobre a aplicao no terreno do Teste de Pensamento Crtico Cornell

    (nvel X) formulado por R. Ennis, J. Millman e T. N. Tomko em 1985 e adaptado e

    testado para a realidade portuguesa pela Professora Doutora Maurcia de Oliveira

    em 1992 no decurso da sua tese de doutoramento.

    iv. Planeamento e construo das actividades experimentais de carcter investigativo

    que complementariam o ensino de capacidades de Pensamento Crtico.

    v. Elaborao de folhas de registo de dados para os alunos.

    vi. Elaborao de uma grelha de registo, para a observao de aulas.

    vii. Elaborao de um pequeno guio para a entrevista.

    2. Fase do trabalho emprico

    Nesta segunda fase, com a implementao das actividades experimentais relativas

    aos contedos escolhidos, ocorreu a recolha de dados no mbito deste trabalho

    emprico. Para tal, desenvolveram-se as seguintes actividades:

    i. Administrao do Teste de Pensamento Crtico Cornell (Nvel X).

    ii. Observao e interveno nas aulas de explorao dos conceitos escolhidos,

    correspondentes rea curricular de Estudo do Meio.

    iii. Recolha de fichas dos alunos respeitantes s actividades desenvolvidas.

    iv. Realizao de entrevista semi-estruturada s docentes participantes no trabalho

    emprico.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    46

    3.6. PLANEAMENTO DO TRABALHO EXPERIMENTAL

    O trabalho emprico desenvolvido assentou no pressuposto de que, se os alunos

    forem treinados nas capacidades e disposies do pensamento crtico, ento iro

    reflectir este facto atravs da utilizao de um pensamento reflexivo e sensato sempre

    que confrontados com a necessidade de decidir como cidados activos numa

    sociedade. Deste modo, a construo de actividades que operem sobre o Trabalho

    Experimental de modo a que este contemple o ensino de capacidades de pensamento

    crtico necessria para que os alunos realizem um trabalho experimental de carcter

    investigativo, na sala de aula, que contemple e exija o uso de capacidades do

    pensamento crtico.

    Neste ponto, como foi referido anteriormente, iremos explicitar todo o

    procedimento na execuo do trabalho emprico, exceptuando as trs primeiras

    actividades da 1. fase. A anlise do programa da rea curricular Estudo do Meio do 1.

    Ciclo do Ensino Bsico encontra-se desenvolvida e publicada por Afonso (2008); a

    anlise do manual adoptado na escola para esta rea curricular e de outros manuais

    referentes mesma rea limitou-se a identificar se as actividades propostas pelos

    mesmos corresponderam aos objectivos preconizados pelo currculo nacional,

    constatando-se que as mesmas se limitavam a algumas actividades de demonstrao

    de fenmenos, no sendo por isso adequadas ao presente estudo. Relativamente

    calendarizao das actividades experimentais, ela seguiu a planificao geral proposta

    pelos professores do Agrupamento de Escolas, para que decorresse da interveno um

    impacto cuja avaliao se pudesse atribuir ao trabalho emprico e no alterao de

    programao curricular, permitindo, deste modo, uma comparao mais objectiva dos

    resultados.

    Quanto ao estudo sobre a aplicao no terreno do Teste de Pensamento Crtico

    Cornell (Nvel X) para a nossa realidade, encontra-se extensamente descrito na tese de

    Doutoramento da Professora Doutora Maurcia de Oliveira, bem com em teses

    posteriormente apresentadas, tais como a tese de mestrado, no publicada, de Vieira

    R. (1995).

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    47

    3.6.1. Realizao do estudo em sala de aula

    No incio de Maro, foi aplicado o Teste de Pensamento Crtico Cornell (Nvel

    X), (Anexo 2), com o objectivo de medir as capacidades de Pensamento Crtico

    abrangidas por este teste, quer no grupo experimental quer nas turmas de controlo.

    Durante os meses de Maro, Abril e Maio, e de acordo com a planificao anual

    para o 3. ano e no Agrupamento de Escolas, os alunos tiveram contacto com os

    assuntos propostos para o Estudo do Meio, atravs da abordagem experimental

    conforme o programa de interveno deste trabalho emprico.

    Uma vez finalizado o programa de interveno, foi de novo aplicado o Teste de

    Pensamento Crtico Cornell (Nvel X), com o objectivo de se verificar se houve alguma

    mudana no desenvolvimento de algumas capacidades do pensamento crtico.

    Por ltimo, foi feita uma entrevista docente da turma experimental, com o

    objectivo de conhecer a opinio desta sobre os trabalhos desenvolvidos e o seu

    impacto no desempenho dos alunos no decurso das restantes actividades lectivas.

    3.6.2. Elaborao do material de apoio ao trabalho experimental

    Sempre fui de opinio que para educar um futuro cientista, o desenvolvimento da sua criatividade tem uma importncia excepcional e por isso deve desenvolv-la desde a escola e quanto mais cedo melhor" (P. L. Kapitza, Premio Nobel de Fsica de 1978).

    Tendo como ponto de partida esta frase, e assumindo o pressuposto que muitos

    alunos universitrios perderam o interesse para estudar, comemos por pensar em

    algumas actividades experimentais que pudessem ser realizadas por crianas e deste

    modo despertar-lhes o interesse pela cincia desde o 1. ciclo do ensino bsico.

    O Currculo Nacional para o Ensino Bsico (D.L. 6/2001) refere nos princpios

    orientadores a Valorizao das aprendizagens experimentais nas diferentes reas e

    disciplinas, em particular, e com carcter obrigatrio, no ensino das cincias,

    promovendo a integrao das dimenses terica e prtica.

    Como princpio orientador, o programa de Estudo do Meio refere-se

    importncia do conhecimento do meio pela assumpo de uma atitude de

    permanente pesquisa e experimentao. Ou seja, aponta para o desenvolvimento,

    pelo aluno, de uma atitude cientfica que deve ter em conta os seguintes aspectos: i) a

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    48

    funo da descoberta, da explicao e das preconcepes; ii) o papel da evidncia no

    desenvolvimento e testagem de ideias; iii) a necessidade de ser crtico em relao s

    suas ideias e forma de trabalhar; iv) a compreenso de que pode aprender

    gradualmente atravs da sua prpria actividade adaptado de Bettencourt e Mata,

    (1998 in Currculo Nacional, 2001).

    Para o desenvolvimento desta atitude cientfica torna-se fundamental o

    envolvimento dos alunos na planificao e execuo de experincias e pesquisas.

    Assim, deve ser oferecida aos alunos a possibilidade de realizarem actividades

    investigativas que lhes permitam apropriarem-se dos processos cientficos para

    construrem conceitos e ligaes entre eles de forma a compreenderem os fenmenos

    e os acontecimentos observados e, deste modo, contriburem para um melhor

    conhecimento, compreenso e domnio do mundo que os rodeia.

    Logicamente, estas actividades experimentais deveriam cumprir uma srie de

    requisitos essenciais: (1) apresentarem um risco fsico nulo; (2) serem simples; (3)

    serem rpidas; (4) serem atractivas; (6) de baixo custo; (7) deviam permitir trabalhar

    numa escala reduzida, tornando-se mais baratas e de menor risco; (8) serem

    conceptuais.

    importante assinalar que para chamar a ateno dos alunos tem que se ter em

    considerao a sua idade. A maturidade intelectual fundamental para entender e

    manter a sua ateno perante uma actividade experimental. H exemplos de

    experincias que poderiam ser realizadas com crianas de cinco anos e outros que

    apenas se podem realizar com crianas a partir dos 8 anos de idade.

    A partir destes requisitos, idealizmos vrias actividades que podem ser

    desenvolvidas por alunos da escola com idades compreendidas entre os 7 e os 10 anos

    de idade. Pensmos que esta seria a forma de iniciar o contacto entre a cincia e as

    crianas desde a escola, como disse Kapitza.

    Como temas para a implementao das actividades, foram escolhidos os temas

    correspondentes ao domnio do Estudo do Meio do terceiro ano de escolaridade, que

    no envolvessem a manipulao de lquidos dada a inexistncia nas escolas de salas

    adequadas ao trabalho experimental, nomeadamente laboratrios ou salas com pias

    ou at gua corrente.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    49

    Tendo como base o anteriormente referido pensou-se que a definio

    operacional do pensamento crtico proposta por Ennis (1985a, 1985b, 1987, 1991,

    1996, 2003) serviria de base para a construo dos instrumentos que permitiriam a

    concepo e desenvolvimento das actividades experimentais de investigao

    promotoras de pensamento crtico.

    Usando como referencial a taxonomia de Ennis (1985a, 1985b, 1987, 1991, 1996,

    2003), pensou-se ser possvel desenhar as actividades, formular o Guio do Professor

    (APNDICE A1) e Fichas de Apoio para o Aluno (APNDICE A2), que apresentassem

    uma relao estreita com os itens da prpria taxonomia (ANEXO 1). Este quadro

    terico foi considerado como base das actividades experimentais investigativas pois,

    como o prprio Ennis (1985a, 1985b, 1987, 1991, 1996, 2003), salienta, a definio

    operacional de pensamento crtico pode ser a base para se desenvolver um trabalho

    emprico focado no desenvolvimento do pensamento crtico. Considerou-se que a

    operacionalizao das capacidades de pensamento crtico feita por este autor contm,

    em si, propostas concretas para o desenho de Actividades Experimentais centradas na

    manifestao e na utilizao de capacidades de pensamento crtico (Vieira-Tenreiro,

    1994, 2000; Vieira-Tenreiro & Vieira-Marques, 2001).

    Foi delineada, ento, uma metodologia para conceber um trabalho emprico

    constitudo por seis actividades experimentais promotoras das capacidades do

    pensamento crtico. Esta metodologia desenvolveu-se em duas fases: 1) na primeira

    fase procedeu-se identificao, a partir da taxonomia de Ennis, das capacidades de

    pensamento crtico que as actividades experimentais permitiriam desenvolver; 2) a

    segunda fase consistiu em desenhar as actividades experimentais de acordo com

    propostas concretas encontradas na prpria taxonomia de Ennis (Oliveira & Vieira-

    Tenreiro, 1994; Vieira-Tenreiro, 1994, 2000; Vieira-Tenreiro & Vieira-Marques, 2001).

    Em funo da metodologia traada, e de acordo com os critrios estabelecidos e

    anteriormente descritos, optou-se por conceber e desenvolver o trabalho emprico a

    partir das sugestes de actividades experimentais preconizadas no programa da rea

    curricular de Estudo do Meio, pois se aceita ser este um meio ideal para proporcionar

    aos alunos o vivenciar dos processos da Cincia e, deste modo, facilitador da aquisio

    de uma viso real sobre a construo do conhecimento cientfico. Por outro lado, e

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    50

    atendendo a que os processos da Cincia assentam em capacidades de pensamento

    crtico, estes obrigam os sujeitos a utilizarem tais capacidades.

    Assim, numa primeira fase, seleccionaram-se os assuntos sobre os quais iria

    incidir o trabalho emprico. Fez-se uma anlise dos mesmos, bem como da forma como

    eram executados habitualmente no mbito da rea de Estudo do Meio, que se passa a

    descrever.

    Nas aulas, os alunos realizavam algumas verificaes, ou assistiam a

    demonstraes simples dos fenmenos conforme as disponibilidades da escola e

    sugestes do manual. Frequentemente, apenas se procedia a uma explicao terica

    dos fenmenos, procedendo-se ao completamento de fichas de apoio disponveis nos

    manuais e policopiadas pelos professores.

    Optou-se por manter, no essencial, para cada actividade proposta, os contedos

    inerentes a cada assunto, desenhando um guio para o aluno que lhe permitisse

    desenvolver passo a passo as vrias tarefas, actuando, apenas, ao nvel da forma de

    realizao das aprendizagens exigidas. Operou-se de forma a que estas aprendizagens

    fossem obtidas a partir da utilizao de capacidades de pensamento crtico.

    Pretendeu-se que o trabalho experimental no se reumisse execuo de meros

    exercicios com base em procedimentos e instrues precisas, seguindo os passos de

    um protocolo experimental. Cuidou-se para que fosse possvel o deliniar e realizar

    experincias, intervir, discutir com os colegas, interpretar as descobertas feitas e

    providenciar explicaoes para as observaes efectuadas (Hodson, 1992).

    Assim, com o objectivo de reescrever as actividades luz da taxonomia de Ennis,

    comeou-se por dar cumprimento primeira fase da metodologia delineada. Desta

    forma, para cada actividade experimental seleccionada, identificaram-se as

    capacidades de pensamento crtico exigidas pelas respectivas execues

    experimentais.

    Relativamente execuo experimental, constata-se que esta, na maior parte

    dos casos, no exige o uso de capacidades de pensamento crtico. Traduz-se, apenas,

    em rotinas de manuseamento. Deste modo na construo da folha do aluno, houve a

    preocupao de que esta contivesse alguns tipos de aprendizagens a realizar, tais

    como o registo das observaes efectuadas e a interpretao dos resultados.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    51

    Por consequncia, foi esencialmente sobre a folha do aluno que, para cada uma

    das fases anteriormente mencionadas, se aplicou a segunda fase da metodologia

    delineada. Com base na taxonomia de Ennis, identificaram-se as capacidades de

    pensamento crtico que se poderiam exigir. Assim, desenharam-se as actividades

    experimentais, introduzindo-se itens que obrigavam os alunos a manifestar e a utilizar

    capacidades de pensamento crtico. A incluso destas capacidades teve como limites:

    (1) as pasveis de serem contempladas de acordo com a natureza dos trabalhos

    experimentais e (2) as capacidades medidas pelo Teste de Pensamento Crtico usado

    neste estudo.

    Os Quadros 3.1 a 3.6 que a seguir se apresentam mostram a forma como a

    metodologia baseada na taxonomia de Ennis (1985a, 1985b, 1987, 1991, 1996, 2003)

    foi empregue para desenhar os trabalhos experimentais integrados no trabalho

    emprico desenvolvido, correspondendo, respectivamente, s actividades

    experimentais de 1 a 6. Para cada um dos itens da folha do aluno explicitam-se as

    capacidades de pensamento crtico que se pretendem desenvolver. Os alunos, ao

    responderem aos itens formulados, tiveram que usar essas capacidades.

    Quadro 3.1

    Relao entre as capacidades de pensamento crtico e os itens includos nas linhas

    orientadoras da actividade experimental 1 Caixa Preta

    Tabela de Ennis Itens da actividade experimental:

    Clarificao elementar 1. Focar uma questo

    b) Identificar ou formular critrios para ajuizar possveis respostas.

    3. Fazer e responder a questes de clarificao e/ou desafio, como por exemplo: a) Porqu?

    Suporte bsico 8. Fazer juizos de valor e) Comparar, pensar e decidir

    O que contm a caixa no interior? O que me permitiu chegar a esta

    concluso:

    Porque:

    Pensamos que o interior da caixa assim:

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    52

    Quadro 3.2

    Relao entre as capacidades de pensamento crtico e os itens includos nas linhas

    orientadoras da actividade experimental 2 Pndulo

    Tabela de Ennis Itens da actividade experimental:

    Inferncia

    7. Induzir e avaliar indues: b) Inferir concluses e hipteses

    explicativas: 2) Investigar: 3) Critrios: a partir de

    assumpes dadas aceitveis. iv. A concluso proposta parece

    plausvel. 1) Tipos de explicaes e hipteses

    explicativas: iii. Interpretaes dos

    significados pretendidos.

    8. Fazer juzos de valor a) Factos antecedentes.

    b) Consequncias.

    O que posso alterar no meu pndulo:

    Parte 2. TESTE: Parte 2. CONCLUSO: Resumo da actividade. Item 4. - Se a

    Joana tem um pndulo com 20 cm de comprimento e o Artur tem um com 40 cm de comprimento, qual dos pndulos oscilar mais em 30 segundos?

    Resumo da actividade. Item 3. - Qual

    a relao entre o comprimento do pndulo e o nmero de oscilaes que este produz?

    Resumo da actividade. Item 5. - Alguns relgios usam um pndulo para marcarem o tempo. Se um dado relgio estiver a adiantar-se (andar demasiado rpido), que deves fazer para o acertar?

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    53

    Quadro 3.3

    Relao entre as capacidades de pensamento crtico e os itens includos nas linhas

    orientadoras da actividade experimental 3 ptica

    Tabela de Ennis Itens da actividade experimental:

    Inferncia 7. Induzir e avaliar indues:

    b) Inferir concluses e hipteses

    explicativas:

    1) Tipos de explicaes e hipteses

    explicativas.

    vi. Afirmaes de que algo

    uma razo ou uma concluso

    no enunciada.

    2) Investigar.

    ii. Procurar evidncia e contra-

    evidncias.

    i. Delinear investigaes,

    incluindo o planeamento de

    variveis controlveis.

    Suporte bsico

    5. Observar e avaliar relatrios de

    observao.

    Item 1. Dentro da caixa

    Item 5. Corpos opacos, corpos

    translcidos e corpos transparentes.

    Item 3. Tamanho e formas das

    sombras.

    Item 4. A forma da sombra permite

    identificar o objecto?

    Item 6.2. Reflexo da luz.

    Item 7. Refracao.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    54

    Quadro 3.4

    Relao entre as capacidades de pensamento crtico e os itens includos nas linhas

    orientadoras da actividade experimental 4 Mecnica

    Tabela de Ennis Itens da actividade experimental:

    Clarificao elaborada

    9. Definir os termos e avaliar as

    definies em trs dimenses.

    b) Estratgia de definio.

    2) Identificao e trabalho com

    equvocos.

    Inferncia

    7. Induzir e avaliar indues:

    b) Inferir concluses e hipteses

    explicativas:

    2) Investigar.

    8. Fazer juzos de valor

    b) Consequncias.

    Clarificao elementar

    Fazer e responder questes de

    clarificao e/ou desafio.

    Item 2.4. Uniformizao.

    Item 3. Investigao.

    Item 4. Previso de desequilbrio.

    Ficha do aluno 4.a. Item 2.

    Classificao dos objectos.

    Ficha do aluno 4.a. Pgina 3.

    Item: Qual dos mobiles est em

    equilbrio? Porqu?

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    55

    Quadro 3.5

    Relao entre as capacidades de pensamento crtico e os itens includos nas linhas

    orientadoras da actividade experimental 5 Elasticidade

    Tabela de Ennis Itens da actividade experimental:

    Clarificao elementar 3. Fazer e responder questes de

    clarificao e/ou desafio.

    Suporte bsico 5. Observar e avaliar relatrios de

    observao.

    Estratgias e tcticas 12. Interactuar com os outros. 11. Decidir uma aco.

    Inferncia 8. Fazer juzos de valor

    b) Consequncias.

    Suporte bsico 5. Observar e avaliar relatrios de

    observao. d) Ter registos.

    Inferncia 8. Fazer juzos de valor

    b) Consequncias.

    Item 1. Comportamento de um

    elstico. Item 3. Vamos proceder a algumas

    medies. Item 4. Discute com os teus colegas os

    resultados. Item 5. O que poderemos mudar no

    nosso sistema elstico que possa alterar o comprimento verificado com a carga colocada no balde?

    Item 6. Poderei colocar dentro do

    balde um nmero infinito de berlindes (mesmo se o balde fosse muito grande)?

    Ficha do aluno 5.a. Item 1. Completa a

    tabela. Ficha do aluno 5.a. Item 3.: Se

    colocasse 7 berlindes dentro do balde, qual seria o comprimento que o elstico apresentaria?

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    56

    Quadro 3.6

    Relao entre as capacidades de pensamento crtico e os itens includos nas linhas

    orientadoras da actividade experimental 6 Magnetismo

    Tabela de Ennis Itens da actividade experimental 6:

    Clarificao elementar 3. Fazer e responder questes de clarificao e/ou desafio.

    Inferncia 8. Fazer juzos de valor.

    a) Factos antecedentes.

    Item 1. Observaes dos manes: Item 2. Os manes colam-se ou

    atraem-se? Qual a diferena entre colar e atrair?

    Item 5. Actividades onde os manes podem ser teis:

    Item 8. Como retirar o clipe de dentro do frasco, sem lhe tocar?

    Item 3. Quais os objectos que sero

    atrados pelos manes?

    3.6.3. Instrumentos e tcnicas de recolha de dados

    3.6.3.1. Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X)

    Nesta seco comea-se por explicitar os critrios de seleco que adoptados na escolha do teste de pensamento crtico usado nesta investigao. Depois, faz-se uma descrio do instrumento. De seguida, descreve-se o trabalho desenvolvido no mbito da validao do instrumento usado para os alunos do terceiro ano do primeiro ciclo do ensino bsico. Finalmente, descrevem-se os procedimentos na administrao do instrumento e na determinao das cotaes das respostas dadas ao teste pelos sujeitos da amostra.

    3.6.3.1.1. Critrios de Seleco

    Para medir o pensamento crtico dos alunos envolvidos no estudo escolheu-se o

    Cornell Critical Thinking Test, Level X de R. Ennis e Jason Millman (1985),

    denominado em portugus por Oliveira (1992) por teste de Pensamento Crtico

    Cornell (Nvel X). Seleccionou-se este teste por obedecer a alguns critrios: (1) este

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    57

    teste encontra-se traduzido e validado para a realidade portuguesa; (2) adequado

    para alunos desde o primeiro ciclo do ensino bsico at aos primeiros anos do ensino

    superior; (3) trata-se de um teste de tipo geral que cobre as capacidades de

    pensamento crtico na sua globalidade, como era desejvel. Isto porque no se

    pretendia medir aspectos muito especficos do pensamento crtico como, por exemplo,

    a observao; (4) o teste permite determinar o nvel e os aspectos do pensamento

    crtico; (5) pode ser aplicado no contexto de sala de aula, em um ou mais tempos

    lectivos de cinquenta minutos. Isto, porque o teste tanto pode ser aplicado na ntegra

    ou seja, de uma s vez, como em partes, em funo do nvel etrio dos sujeitos; (6) o

    manual do teste em causa explicita as instrues de administrao a seguir (Ennis et

    al., 1985; Oliveira, 1992; Vieira, 1995). Inclui tambm um conjunto de instrues

    especiais no caso de se aplicado a alunos de nveis de escolaridade mais baixos, como

    o caso do terceiro ano de escolaridade (Ennis et al., 1985; Oliveira, 1992; Vieira,

    1995); (7) um teste de cotao pouco demorada e fcil de realizar.

    Em Portugal, o teste j foi usado em investigaes realizadas com alunos dos

    ensinos secundrio e superior, bem como com alunos do segundo ciclo do ensino

    bsico. Assim, o estudo efectuado por Oliveira (1992), com base nos resultados obtidos

    no teste por alunos dos ensinos secundrio e superior, apresenta uma consistncia

    interna, expressa por um valor de igual a 0,80 e um valor de normalizado igual a

    0,79, que permitem concluir que esta sua traduo para portugus uma verso vlida

    para a realidade portuguesa. Na verdade, Anastasi (1990) refere que desejvel que

    um valor alfa se situe entre 0,80 e 0,90; Guildford e Fruchter (1973) so de opinio que

    um bom coeficiente aquele que apresenta um alfa maior do que 0,90; Nunnaly

    (1978) afirma que um valor alfa igual a 0,80 um coeficiente aceitvel, sendo tambm

    um valor igual a 0,70 em verses de pr-teste; e W. R. Borg e Gall (1989) consideram

    que em determinados projectos de investigao um valor alfa igual 0,75 aceitvel.

    Por sua vez, Vieira (1995) procedeu adaptao do teste para alunos do segundo ciclo

    do ensino bsico. Assim sendo, o uso do Teste de Pensamento Crtico Cornell (Nvel

    X), no contexto da presente investigao, conduz no s a uma economia de tempo no

    seu estudo, designadamente, para outros anos de escolaridade, bem como a uma

    maior garantia na sua aplicao a alunos portugueses.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    58

    Alm disso, desejou-se que o teste de pensamento crtico a utilizar fosse

    consistente e coerente com a definio de pensamento crtico adoptada no estudo.

    McMillan (1987) salienta, a propsito da importncia de coincidncia dos quadros

    conceptuais, que numa investigao nesta rea se reveste de todo o interesse que a

    medio do pensamento crtico coincida, estritamente, com a interveno que busca a

    mudana. Ora, o Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X) baseia-se na

    concepo de pensamento crtico de Ennis (1985a), a qual foi adoptada no presente

    estudo.

    A adopo do Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X) apresenta,

    teoricamente, um nico problema por possuir uma nica forma e no contexto do

    presente estudo se pretender medir o nvel de pensamento crtico dos sujeitos do

    estudo em dois momentos distintos (pr-teste e ps-teste). Sendo assim, no obstante

    as razes j referidas reforarem a escolha deste teste, foi feita uma pesquisa de

    outros existentes que tivessem como foco aspectos gerais do pensamento crtico e que

    apresentassem duas formas alternativas.

    Porm, na pesquisa efectuada para averiguar da existncia de outros testes com

    formas alternativas, no foi encontrado nenhum passvel de ser usado. Os dois testes

    encontrados, para alm de no estarem estudados para a realidade portuguesa, em

    funo das caractersticas dos mesmos, no se afiguraram adequados. Por um lado, o

    teste designado no original por TAB Science Test: An Inventory of Science Methods

    de David P. Butts (1966) no um teste de ndole geral como se pretendia, pois

    destina-se especificamente resoluo de problemas. Por outro, o teste de G. Watson

    e E. M. Glaser (1980), denominado no original por Watson-Glaser Crtical Thinking

    Appraisal, parece possuir, conforme referido na literatura, limitaes tcnicas

    suficientes para terem enfraquecido as investigaes que usaram o teste. Uma das

    limitaes apontadas a este teste diz respeito ao facto de avaliar o pensamento crtico

    atravs da leitura. Outra prende-se com a validade do constructo. A fiabilidade

    julgada como adequada mas no tanto como em outros testes e a validade de

    constructo no sistemtica e completa como o deveria ser (McMillan, 1987;

    Tenreiro-Vieira, 1994).

    Atendendo ao exposto no pargrafo anterior, reiterou-se a deciso de optar pelo

    Teste de Pensamento Crtico Cornell (Nvel X), assumindo-se correr o risco dos

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    59

    efeitos resultantes da aprendizagem com o prprio teste na pr-testagem. At porque,

    a ocorrerem, os efeitos seriam, em princpio, sentidos de forma similar por todos os

    grupos. Alm disso, cr-se que mnima a probabilidade de ocorrer aprendizagem

    com o teste. No obstante o facto de o respondente poder reter alguns dados, o uso

    correcto destes em posteriores realizaes no automtico nem linear. Trata-se de

    um teste de escolha mltipla com um elevado nmero de itens, em relao aos quais

    os sujeitos desconhecem a chave de respostas.

    3.6.3.1.2. Descrio do Instrumento

    O Cornell Critical Thnking Teste, Level X de Robert H. Ennis e Jason Millman

    (1985) usado, foi testado com alunos desde o quarto ano de escolaridade at aos

    primeiros anos do ensino superior. Trata-se de um teste de tipo geral, de escolha

    mltipla. Os 76 itens que o constituem encontram-se organizados em quatro partes.

    Os da primeira, exigem que se ajuze se um determinado facto sustenta ou no uma

    hiptese. Os itens da segunda, apelam para o ajuizar da credibilidade das observaes

    relatadas com base, quer na origem, quer nas condies segundo as quais so obtidas.

    Os da terceira parte pretendem medir a capacidade de deduo dos alunos ao

    avaliarem se determinadas hipteses podem ser consequncia das afirmaes feitas.

    Os itens integrados na quarta parte envolvem o reconhecimento de assumpes ao

    pedir a identificao do que se toma por certo num argumento e o que serve de base

    construo de raciocnios.

    O teste baseia-se na concepo de pensamento crtico definido como o processo

    de decidir racionalmente aquilo em que acreditar ou fazer. Foi construdo com o

    objectivo de avaliar as capacidades de pensamento crtico do indivduo ou grupo.

    Permite, ainda, medir aspectos de pensamento crtico tais como a induo, a

    observao, a credibilidade, a deduo e a identificao de assumpes. No obstante

    o facto de os aspectos de pensamento crtico estarem enumerados separadamente,

    existe entre eles uma sobreposio e interdependncia considervel. Exemplo disso

    o que acontece com os itens 27 a 50 que testam simultaneamente os aspectos de

    pensamento crtico: observao e credibilidade.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    60

    O Quadro 3.7 que se segue estabelece a relao entre os aspectos de

    pensamento crtico contemplados pelos Testes de Pensamento Crtico de Cornell

    (Nvel X) e os testes que os testam.

    Quadro 3.7

    Relao entre os Aspectos do Pensamento Crtico includos no Teste de Cornell (Nvel X)

    e os Itens que os avaliam

    Aspectos do pensamento crtico Itens do Nvel X

    Induo 3 25; 48; 50 Deduo 52 65; 67 76

    Juzo de Valor No testado Observao 27 50

    Credibilidade 27 50 Assumpes 67 76 Significado Testado implicitamente

    Esta tabela representa uma tentativa de simplificao e sntese. O facto de serem

    indicados os itens que testam os diferentes aspectos do pensamento crtico torna

    possvel a sua medio. Por conseguinte, este instrumento permite tanto medir o nvel

    como os aspectos de pensamento crtico de um indivduo ou grupo.

    Atravs da leitura da tabela pode constatar-se que o teste no mede o aspecto

    Juzo de Valor e que o significado testado implicitamente. Alm disso, no contempla

    atitudes. Apesar de os autores concordarem com o facto de idealmente um teste de

    pensamento crtico de ndole geral cobrir estes aspectos de pensamento crtico,

    optaram, deliberadamente, por no o fazer. Os autores optaram por no incluir no

    teste itens para medir o Juzo de Valor, de forma a evitar que os sujeitos fossem

    criticados ou penalizados pelos seus juzos de valor polticos, econmicos ou sociais.

    Segundo os autores, a deciso de no incluir itens para medir, explicitamente, o

    significado consequncia, nomeadamente, do facto de o teste se destinar a pessoas

    no especialmente sofisticadas. A no incluso de itens para avaliar atitudes deveu-se

    a razes pragmticas e de funcionalidade do prprio teste. Por outras palavras,

    assumindo ser muito difcil testar atitudes, para tornar mais simples a tarefa de

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    61

    construir o teste, ser possvel administr-lo num intervalo de tempo limitado e poder

    ser facilmente cotvel, os autores optaram por no contemplar atitudes.

    Os autores pensam existir uma outra limitao em relao aos itens que se

    prende com a testagem da capacidade de induo, pois estabelecer concluses

    indutivas, ajuiz-las e decidir da quantidade de evidncia que se possui, depende de

    um vasto conjunto de assumpes auxiliares acerca da forma como as coisas

    acontecem. De forma a ultrapassar esta dificuldade, os autores tentaram elaborar

    itens que apelam para assumpes auxiliares com as quais a maior parte das pessoas

    concorda.

    Alm disso, acrescentam os autores, uma pessoa menos sofisticada apresenta,

    por vezes, argumentos para chamar falso a algo que uma pessoa mais sofisticada tem

    justificao para designar apenas por provavelmente falso. Para reduzir este problema,

    os autores decidiram perguntar em que direco aponta a evidncia, sempre que

    exista, em vez de questionarem se a concluso verdadeira, provavelmente

    verdadeira, etc.

    Os autores optaram por considerar que, na seco de induo, um acordo

    superior a 85 % em relao s respostas tidas como correctas indicava o domnio da

    capacidade. Cada um dos itens do teste foi discutido pelos membros da equipa que

    realizaram uma discusso pormenorizada das respostas. A este respeito, os autores

    sublinham que, parte alguns desafios inevitveis surgidos na seco de induo

    ocasionados pelas assumpes auxiliares, houve um acordo generalizado sobre as

    respostas chave. Tal constitui, na opinio dos autores, evidncia relacionada com a

    validade de contedo. Outra evidncia o facto de haver concordncia nas discusses

    quanto aos itens testarem realmente os vrios aspectos do pensamento crtico

    anteriormente indicados. Outra evidncia ainda advm da interdependncia entre os

    aspectos do pensamento crtico, pois cada item pode ser olhado como avaliando mais

    do que um aspecto do pensamento crtico.

    Resumindo, para os autores a acumulao de evidncia relacionada com a

    validade de contedo das inferncias feitas a partir dos resultados do teste baseia-se

    fortemente na conceptualizao de pensamento crtico adoptada e que se encontra

    subjacente aos procedimentos de escrita dos itens, na profunda reflexo e extensiva

    discusso das respostas chave que surgiram. Note-se que os autores consideram que,

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    62

    para acumular evidncia relacionada com o contedo, no faz sentido a abordagem,

    por vezes recomendada, de seleccionar uma amostra de situaes-teste, por o

    universo a elaborar ter de ser, no caso do pensamento crtico, infinito.

    Relativamente evidncia relacionada com a validade de critrio, os autores so

    de opinio que no apropriado abord-la, uma vez que ainda no foi estabelecido

    nenhum critrio para o pensamento crtico. Em relao evidncia relacionada com a

    validade de constructo, os autores consideram que, apesar de o Teste de Pensamento

    Crtico de Cornell (Nvel X) j ser utilizado h algum tempo, continua a no haver

    informao disponvel para poder ajuizar desta com justificada confiana. A este

    respeito, os autores sublinham que, apesar de terem conhecimento da realizao por

    outros autores de algumas anlises factoriais, os resultados como um todo parecem

    inconclusivos. De qualquer forma, Ennis et al. (1985) afirmam estar convictos de que

    ser sempre difcil assegurar, no Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X),

    factores fortemente independentes numa anlise factorial. Segundo os autores,

    qualquer tentativa, a esse nvel, est limitada devido interdependncia entre os

    aspectos de pensamento crtico.

    3.6.3.1.3. Validao do Instrumento

    O Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X) encontra-se traduzido e

    adaptado para a lngua portuguesa (Oliveira, 1992). Foi validado para a realidade

    portuguesa, concretamente para alunos do ensino secundrio dos 11. e 12. anos de

    escolaridade e para alunos do ensino superior, por Oliveira (1992). O trabalho

    realizado por esta autora estende-se ao modo de aplicar o teste, sendo para tal

    fornecidas todas as instrues necessrias. No seguimento do trabalho realizado por

    Oliveira (1992) sobre a validao do Teste de Pensamento Crtico (Nvel X), Vieira

    (1995) procedeu, no mbito da sua investigao de mestrado, validao do mesmo

    para alunos do segundo ciclo do ensino Bsico.

    O trabalho efectuado por Vieira (1995) centrou-se essencialmente no adaptar do

    teste s caractersticas dos alunos no nvel de escolaridade mencionado e no tanto

    em preocupaes de traduo, uma vez que o mesmo j se encontrava traduzido para

    lngua portuguesa. Apesar disso, Vieira (1995) preocupou-se com a formulao dos

    itens, tentando assegurar um nvel de leitura adequado aos anos de escolaridade a que

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    63

    se destinava, tanto em termos de vocabulrio utilizado como da facilidade de

    compreenso do texto. Teve tambm a preocupao de cuidar da validade facial do

    instrumento, tendo em conta, uma vez mais, o nvel etrio dos alunos aos quais se

    destinava.

    A verso do Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X) destinada a alunos

    do segundo ciclo do ensino bsico, comparativamente verso a ser usada com alunos

    do ensino secundrio e superior, inclui as seguintes modificaes. A primeira consiste

    em administrar o teste, em dois tempos lectivos de cinquenta minutos, referentes a

    dois dias da semana consecutivos e no num nico tempo de cinquenta minutos. As

    razes subjacentes a esta alterao decorrem do facto de Vieira (1995), na pilotagem

    do Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X), ter verificado que um tempo

    lectivo de 50 minutos no era suficiente para os alunos deste nvel de ensino

    resolverem o teste, observando as instrues de administrao fornecidas no

    respectivo manual. Como consequncia desta alterao, o teste deixou de existir num

    nico livrete, para ser constitudo pelas quatro partes que o compem

    separadamente. A administrao do teste em partes levou, por sua vez, utilizao de

    uma folha de respostas para cada parte.

    A segunda alterao diz respeito, por um lado, substituio, no prprio teste,

    de alguns vocbulos por outros sinnimos, concretamente: ngreme, apeiam-se e

    tez, respectivamente por demasiado inclinado, descem e pele do rosto; por

    outro, elaborao de um glossrio a ser usado pelos alunos durante a realizao do

    teste. A substituio no teste dos trs vocbulos deveu-se ao facto de serem

    desconhecidos da quase totalidade dos sujeitos e ao facto deles (ngreme e apeiam-

    se) surgirem na formulao do mesmo item, o 25. No glossrio foram includos

    vocbulos de significado desconhecido para alguns dos sujeitos que responderam ao

    teste (Vieira 1995).

    A terceira tem a ver com a apresentao do teste. Atendendo aos comentrios

    feitos e s observaes efectuadas, Vieira (1995) optou por apresentar o teste em

    folhas A4 e com caracteres de maior tamanho. Decidiu, tambm, repetir no final de

    cada item da primeira parte as opes de resposta, em vez de surgiram apenas no

    incio de cada pgina.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    64

    A quarta, reporta-se substituio da palavra teste por histria em todo o

    instrumento. Congruentemente, na capa de cada uma das partes dos teste no foi

    escrita a designao Teste de Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X). Para substituir

    essa designao habitual do instrumento, foi escolhido um ttulo de entre os sugeridos

    por sujeitos que realizaram o teste, aquando da pilotagem do instrumento feita por

    Vieira (1995). De entre os ttulos sugeridos foi escolhido o ttulo Desaparecimento em

    Nicoma. Os critrios subjacentes escolha deste ttulo foram, por um lado, a

    frequncia com que foi sugerido e, por outro, a sua adequao narrativa em que se

    baseia o teste (Vieira, 1995).

    3.6.3.1.4. Aplicao do Instrumento

    Tendo em ateno o trabalho efectuado por Vieira (1995), considerou-se que se

    estava em condies de ensaiar a aplicao do Teste de Pensamento Crtico de Cornell

    (Nvel X) conforme adaptaes feitas por Vieira (1995), junto de uma amostra

    constituda por alunos do terceiro ano de escolaridade. Ao faz-lo, pretendeu-se

    reforar as concluses relatadas por Vieira (1995) no mbito do estudo de validao do

    teste e, assim, acumular evidncia para suportar as inferncias a fazer com base nos

    resultados obtidos a partir da aplicao do teste a alunos do primeiro ciclo do ensino

    bsico.

    Sendo assim, solicitou-se a colaborao de professores do 1. Ciclo do Ensino

    Bsico com os quais havia facilidades de contacto, e que leccionavam o terceiro ano de

    escolaridade. Acederam em colaborar trs professoras do 1. Ciclo do Ensino Bsico, s

    quais correspondiam as nicas turmas com alunos de apenas um ano de escolaridade a

    leccionarem em escolas do concelho correspondente ao contexto deste estudo.

    Decorrente do exposto, a amostra constituda por 55 alunos do terceiro ano de

    escolaridade, correspondente a trs turmas. Dos 55 sujeitos, 31 so do sexo feminino e

    24 do sexo masculino. A idade mdia, em anos, dos alunos da amostra 8,6 (DP = 0,4).

    As trs turmas submetidas ao teste foram divididas em dois grupos: o grupo

    experimental e o grupo de controlo. O primeiro grupo, experimental, foi constitudo

    por uma turma, e o grupo de controlo formado pelas restantes duas turmas, cujas

    aulas decorrem em outras duas escolas do Agrupamento. A opo desta diviso

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    65

    permite reduzir os efeitos de contgio entre os grupos, experimental e controlo, dado

    o reduzido contado dos alunos em contexto escolar.

    Dado a dimenso de cada grupo de estudo estar condicionada pela distribuio

    dos alunos em turma, factor alheio ao investigador, a composio das turmas sobre as

    quais incidiu a implementao do trabalho emprico correspondeu a um total de 21

    alunos, enquanto as duas turmas de controlo corresponderam aos restantes 34 alunos,

    sendo 21 numa turma e 13 na outra.

    Aplicou-se o instrumento a cada uma das turmas da amostra, por partes, em dois

    tempos lectivos, utilizando-se no primeiro tempo lectivo um total de 75 minutos e no

    segundo um total de 45 minutos, e distribudos por dois dias consecutivos. Antes e no

    decorrer da realizao deste foram dadas as instrues necessrias, em tudo

    semelhantes s explicitadas pelos autores do manual do Teste de Pensamento Crtico

    de Cornell (Nvel X) e traduzidas para lngua portuguesa por Vieira (1995). Clarifique-se

    que foram seguidas as instrues especiais para alunos dos primeiro e segundo ciclos

    do ensino bsico, semelhana do j efectuado por Vieira (1995). Estas, assim como os

    cuidados de administrao do teste, encontram-se descritos nas instrues do teste de

    Pensamento Crtico de Cornell.

    Durante o intervalo de tempo em que decorreu a realizao pelos alunos de cada

    uma das quatro partes do teste, procedeu-se ao registo dos comentrios, das

    observaes e das questes feitas pelos alunos. Uma vez que a realizao do teste foi

    processada em simultneo, com leitura do administrador, pediu-se aos alunos que

    explicitassem as dvidas surgidas, as dificuldades de interpretao sentidas, bem como

    os vocbulos usados no teste cujo significado desconheciam ou sobre os quais tinham

    dvidas. Concomitantemente foram formuladas algumas questes com o propsito de,

    por um lado, clarificar opinies, observaes e comentrios feitos pelos alunos; por

    outro, assegurar a veracidade de algumas informaes fornecidas, tais como itens e

    vocbulos sobre os quais referiram no ter tido dificuldades de interpretao.

    Na sequncia deste trabalho, verificou-se que os alunos, na sua maioria, no

    revelaram dificuldades. Constatou-se ainda que tempo atribudo para a realizao do

    teste era suficiente. Considerou-se que tal apontava no sentido de que o Teste de

    Pensamento Crtico de Cornell (Nvel X), conforme adaptaes feitas por Vieira (1995),

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    66

    era adequado, para o propsito visado, para os alunos do terceiro ano de escolaridade

    do primeiro ciclo do ensino bsico.

    Procedeu-se ento anlise qualitativa e quantitativa dos itens, de forma a

    apreciar a qualidade mtrica dos mesmos. Uma vez que os dados obtidos a partir do

    Teste de Pensamento Crtico Cornell (Nvel X) se incluem, segundo a estatstica

    descritiva, nos chamados dados quantitativos discretos, a sua representao grfica foi

    feita por diagramas de barras, que consistiu em marcar, num sistema de eixos

    coordenados, no eixo dos XX os alunos testados. Em cada aluno representaram-se

    barras verticais com altura igual frequncia absoluta em relao ao nvel e as

    capacidades de Pensamento Crtico, quer antes quer depois da implementao do

    trabalho emprico.

    3.6.3.2. Observao de aulas

    Em virtude do seu teor naturalista, a observao no foi dirigida por um guio de

    observao rgido. Contudo, foi dada especial ateno s interaces estabelecidas e

    ao grau de envolvimento dos alunos durante a realizao das actividades

    experimentais. O investigador, dado o seu envolvimento no desenrolar das

    actividades, assumiu um papel de participante directo, intervindo nas interaces

    estabelecidas na sala de aula, pelo que se verifica a sua influncia nos registos das

    observaes.

    A interaco constante do investigador, na conduo das actividades de aula,

    bem como a relao de empatia com as professoras e alguns alunos, fizeram com que

    estes solicitassem frequentemente a opinio do investigador relativamente a itens das

    fichas de explorao das actividades.

    A utilizao combinada de observao e de uma entrevista visa proporcionar um

    conjunto de informaes mais rico sob a forma como os alunos sentiram e

    desenvolveram capacidades de Pensamento Crtico, bem como da transferabilidade

    destas para as restantes actividades lectivas.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    67

    3.6.3.3. Entrevista

    A entrevista um mtodo de recolha de informaes que consiste em conversas

    orais, individuais ou de grupos, com vrias pessoas seleccionadas cuidadosamente,

    cujo grau de pertinncia, validade e fiabilidade analisado na perspectiva dos

    objectivos da recolha de informaes (Ketele & Roegiers, 1999). Atravs de um

    questionamento oral ou de uma conversa, um indivduo pode ser interrogado sobre os

    seus actos, as suas ideias ou os seus projectos. Previamente, a entrevista carece de um

    propsito (tema, objectivos e dimenses) bem definido. De seguida, a amostra dos

    indivduos a entrevistar deve ser seleccionada segundo mtodos representativos da

    populao ou de oportunidade.

    O guio de entrevista um instrumento para a recolha de informaes na forma

    de texto que serve de base realizao da entrevista propriamente dita. O guio

    constitudo por um conjunto (ordenado ou no) de questes abertas (resposta livre),

    semi-abertas (parte da resposta fixa e outra livre) ou fechadas (resposta fixa). Deve

    incluir uma indicao da entidade e/ou pessoa, data, local e ttulo. Um texto inicial

    apresenta a entrevista e os seus objectivos, devendo ser lido ao entrevistado. O guio

    ainda pode conter notaes (condies de administrao) que auxiliam a conduo da

    entrevista (tempo previsvel de resposta, palavras-chave de resposta, questes para

    aprofundamento do tipo pode dizer-me mais acerca deste assunto?, etc.).

    Antes da realizao da entrevista, deve efectuar-se uma pilotagem, podendo,

    eventualmente, ajustar o guio da entrevista. Depois de registada em papel ou em

    suporte magntico ou digital, a informao recolhida pela entrevista tratada com

    vista sua anlise e redaco das concluses.

    Uma das questes de investigao colocada no incio deste trabalho emprico

    prendia-se com o desenvolvimento aspectos e nvel de pensamento crtico aps a

    implementao de um programa de interveno, fazendo uso de actividades de

    carcter investigativo, em alunos do 1. Ciclo do Ensino Bsico, e em particular do 3.

    ano de escolaridade. No decurso da implementao deste programa, foi possvel ao

    investigador recolher alguns dados cuja validade pode ser conferida pela anlise de

    dados de outras fontes. Para a medio do nvel de pensamento crtico, antes e depois

    da implementao do programa de interveno, usou-se o teste de pensamento crtico

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    68

    de Cornell (Nvel X). Os resultados obtidos pela anlise dos dados deste teste podem

    ser comparados com recurso aos registos da professora da turma correspondente ao

    grupo experimental. Estes registos sero recolhidos atravs de uma entrevista, que,

    para este fim, se supe ser o mtodo mais adequado. Os dados revelados na entrevista

    podem ainda complementar as informaes recolhidas na observao directa por

    parte do investigador, acrescentando ainda eventuais evidncias do desenvolvimento

    de capacidades de pensamento crtico dos alunos, em particular no decurso das

    restantes aulas em que o investigador, obviamente, no esteve presente. No sendo

    exclusivo das cincias a utilizao de capacidades de pensamento crtico, do

    acompanhamento dirio do processo de ensino-aprendizagem dos alunos nas outras

    reas curriculares que se poder inferir do desenvolvimento destas capacidades de

    pensamento crtico. Para dar resposta a esta primeira questo de investigao

    listaram-se os itens do primeiro grupo de questionamento no guio da entrevista.

    A segunda questo de investigao relaciona-se com a eficcia na aprendizagem

    de contedos de cincias por parte dos alunos devido implementao do programa

    de interveno. Para a avaliao das aprendizagens, as professoras aplicam fichas

    mensais de avaliao, trabalhadas em grupo de trabalho, dentro do departamento

    curricular do 1. Ciclo. Partindo deste pressuposto, achou-se conveniente que a

    sintetizao destes dados fosse obtida atravs de uma entrevista, listando-se para o

    efeito o segundo grupo de itens.

    A avaliao do grau de consecuo dos objectivos preconizados para este

    trabalho emprico pode ser efectuada atravs da observao directa e contacto regular

    mantidos ao longo do tempo de implementao deste programa. Contudo estes

    dados, por serem recolhidos pelo prprio investigador, podem estar feridos de alguma

    parcialidade, pelo difcil afastamento entre observador e observado. No sentido de

    garantir a fiabilidade dos dados, torna-se necessrio confront-los com outras fontes,

    recorrendo a metodologias diversas. Pretende-se avaliar a sensibilizao dos

    professores do 1. Ciclo do Ensino Bsico, participantes neste estudo, da importncia

    do desenvolvimento de competncias de pensamento crtico nos seus alunos. Assim,

    redigiram-se os itens constantes do terceiro grupo do guio de entrevista.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    69

    O segundo objectivo estabelecido neste trabalho emprico est ligado a uma

    eventual continuidade do programa de interveno. No sentido de avaliar a

    consecuo deste objectivo, introduziu-se o quarto grupo de itens na entrevista.

    Ao proceder-se comparao de dados obtidos pela entrevista com os dados

    resultantes da observao directa por parte do investigador conferem-se a estes

    fiabilidade, no caso de se verificar concordncia nos mesmos. A triangulao de dados

    obtida deste modo fundamental.

    Neste trabalho de investigao, a anlise de dados obtidos no campo,

    provenientes das entrevistas, das conversas informais, das falas e discursos recolhidos

    durante a observao participante ser efectuada por meio de triangulao de dados e

    de fontes (Minayo, 1996). A triangulao tem a finalidade de convergir os dados

    recolhidos, para verificar a consistncia das informaes, tendo como base as diversas

    fontes utilizadas.

    Considerando as etapas atrs referidas, procedeu-se elaborao do guio de

    entrevista, observando os seguintes pontos:

    1. Descrio do perfil do entrevistado: professoras do 1. Ciclo do Ensino

    Bsico, com mais de quinze anos de experincia docente.

    2. Constituio da populao e da amostra de indivduos a entrevistar: as

    professoras leccionam as turmas-alvo do programa de interveno.

    3. Definio e dimenses do propsito da entrevista (tema, objectivos): uma

    vez terminado o programa de interveno, fundamental recolher

    informaes sobre a eventual evoluo verificada pelos alunos no seu

    desempenho escolar, nomeadamente no que diz respeito s competncias de

    pensamento crtico e mobilizao destas na aprendizagem dos contedos

    respeitantes ao Estudo do Meio e outros domnios do 1. Ciclo do Ensino

    Bsico, como por exemplo a Matemtica; tambm importante a recolha da

    opinio em primeira pessoa, relativamente aos objectivos da investigao,

    que se prendem com a motivao gerada no sentido da continuidade do

    programa de interveno e seu eventual desenvolvimento e/ou

    aperfeioamento.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    70

    4. Estabelecimento do meio de comunicao, do espao e do momento: a

    entrevista ser realizada oralmente, com recurso a registo digital mediante

    autorizao prvia, com a durao prevista de 45 minutos, aps o horrio

    lectivo das professoras entrevistadas e na prpria escola ou caso seja mais

    conveniente para as entrevistadas na sede de Agrupamento.

    5. Discriminao dos itens ou caractersticas para o guio;

    5.1. Avaliao das competncias de pensamento crtico

    i) Um dos objectivos das actividades experimentais, implementadas

    neste programa de interveno, era o desenvolvimento de

    capacidades de pensamento crtico por parte dos alunos. Aps este

    programa, sentiu alguma evoluo dos alunos, nomeadamente nas

    capacidades de induo, deduo, observao, credibilidade e/ou de

    assumpo?

    ii) Na leccionao de contedos de outras reas, Matemtica por

    exemplo, sentiu algumas diferenas quanto forma como os alunos

    abordaram os conceitos? D alguns exemplos elucidativos.

    5.2. Avaliao das aprendizagens:

    i) Relativamente ao programa implementado, de que forma acha que

    este contribuiu para a aprendizagem dos conceitos abordados?

    ii) De um modo geral como classifica a aprendizagem dos alunos dos

    contedos versados neste programa de interveno?

    iii) Comparando com turmas de anos anteriores, em que no houve a

    interveno com recurso a actividades experimentais, como classifica

    os resultados com esta turma?

    iv) Assinalou algum(ns) caso(s) que merea(m) destaque pela positiva

    quanto ao seu progresso na aprendizagem? Em caso afirmativo,

    descreva-o(s) sumariamente.

    5.3. Importncia do pensamento crtico.

    i) Na sua prtica, qual a importncia que atribua ao desenvolvimento de

    capacidades de pensamento crtico por parte dos alunos?

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    71

    ii) No que diz respeito preparao das aulas, houve alguma mudana

    nos seus hbitos de trabalho, decorrente do programa de

    interveno? Qual ou quais?

    iii) Modificou, de alguma forma, as suas ideias sobre a forma como os

    alunos aprendem (ou devem aprender) o Estudo do Meio?

    5.4. Continuidade.

    i) De que forma pensa que este programa de interveno poderia ser til

    na mudana de estratgias curriculares, ao nvel das suas prticas em

    situaes futuras?

    ii) Em que moldes continuaria este tipo de trabalho? O que modificaria?

    iii) Como v a integrao deste tipo de tarefas/actividades no currculo?

    Assume-se como fundamental que, no incio, se proceda explicao da

    entrevista atendendo aos pontos (1) esclarecimento do que pretende o entrevistador e

    do objectivo da entrevista; (2) assegurar a confidencialidade do entrevistado e das

    suas respostas; (3) ressaltar a necessidade da colaborao do entrevistado, sem

    tolhimento de qualquer ordem.

    tambm necessrio observar-se a criao de um ambiente agradvel para a

    realizao da entrevista. Para tal deve (1) verificar que o espao/local da entrevista

    favorece a descontraco do entrevistado (temperatura, luz, mveis, ); (2) manter

    uma distncia audvel entre o entrevistado e o entrevistador (1 a 2 metros); (3)

    verificar se existem condies de privacidade do entrevistado e (4) permitir que o

    entrevistado mantenha o controlo da entrevista.

    Deve ainda garantir o favorecimento das respostas pertencentes ao

    entrevistado, pelo que se deve (1) mostrar compreenso e simpatia pelo entrevistado;

    (2) usar um tom informal, de conversa, mais do que de entrevista formal; (3)

    apresentar a questo oralmente e por escrito (combinar as duas linguagens!); (4)

    comear com questes fceis de responder (para pr o entrevistado vontade); (5)

    pedir ao entrevistado para dizer em voz alta o que est a pensar, o que pensou em

    fazer, se est com alguma dificuldade na resposta, ; (6) evitar influenciar as respostas

    pela entoao ou destaque oral de palavras; (7) pedir exemplos de situaes, de

    pessoas ou de objectos que o auxiliem a exprimir-se; (8) apresentar uma questo de

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    72

    cada vez e (9) o entrevistador deve explicitar aceitao pelas opinies do entrevistado

    (entrevista diferente de exame).

    Dever garantir-se um registo de tudo o que o entrevistado diz! Pelo que (1)

    previamente, deve verificar-se a funcionalidade dos suportes de registos (papel, fita,

    pilhas, captao do som, ); (2) antes de iniciar a entrevista, pedir autorizao ao

    entrevistado para fazer a gravao; (3) Registar com as mesmas palavras do

    entrevistado, evitando resumi-las; (4) anotar, se possvel, gestos e expresses do

    entrevistado.

    Relativamente gesto do tempo de conversao, dever (1) demorar at 25

    minutos; (2) parar antes do tempo previsto se o ambiente se tornar demasiado

    constrangedor.

    ainda importante garantir que o trmino da entrevista seja idntico ao seu

    incio, num ambiente de cordialidade, garantindo que o entrevistador possa voltar (se

    necessrio) e obter novos dados.

    Relativamente anlise dos dados recolhidos pela entrevista, devem verificar-se

    os requisitos dos dados fornecidos pelo entrevistado, nomeadamente a sua validade,

    relevncia, especificidade e clareza, profundidade, e extenso (Marconi & Lakatos,

    2002). Deste modo, os dados devem ser comparados com uma fonte externa, de

    forma a conferir validade, demonstrar importncia face aos objectivos, as referncias

    devero ser concretas (objectividade relativa a dados, datas, nomes, ) e relacionadas

    com sentimentos e lembranas do entrevistado, sua intensidade e intimidade.

    3.7. TRATAMENTO DE DADOS

    3.7.1. Anlise por Estatstica Descritiva

    Os dados relativos ao nvel e aos aspectos do pensamento crtico dos sujeitos do

    estudo foram obtidos mediante a aplicao e consequente cotao do Teste de

    Pensamento crtico de Cornell (Nvel X), segundo o processo j descrito.

    Para um tratamento dos dados de forma rpida e sem o risco de erros, utilizou-

    se como ferramenta o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences),

    verso 17.

  • 3. Metodologia Ricardo J. P. Miranda

    73

    Para uma pr-anlise dos dados e apresentao grfica destes, optou-se pela

    utilizao do soft