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Capítulo 2 A Medição da Actividade Económica 1 — Versão Preliminar — 2 Vivaldo Mendes e So…a Vale c ° Copyright. All rights reserved: Vivaldo Mendes e So…a Vale ”Macroeconomia”, a publicar em 2001 ISCTE, Março 2001 1 Alunos de OGE e IGE. As partes do texto que se encontram entre dois símbolos contendo um ”pimento vermelho” podem ser ”saltadas” pois não afectam a compreensão das partes seguintes do texto. Por isso, estas partes não são de leitura obrigatória. 2 Este texto foi editado em ”LaTex”. Esta linguagem faz a hifenização automati- camente, mas infelizmente ainda não consegue superar todos os pequenos truques da língua portuguesa. Pequenos lapsos na hifenização serão corrigidos na próxima versão.

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  • Captulo 2

    A Medio da Actividade Econmica 1

    Verso Preliminar 2

    Vivaldo Mendes e Soa Vale

    c Copyright. All rights reserved: Vivaldo Mendes e Soa ValeMacroeconomia, a publicar em 2001

    ISCTE, Maro 2001

    1Alunos de OGE e IGE. As partes do texto que se encontram entre dois smboloscontendo um pimento vermelho podem ser saltadas pois no afectam a compreensodas partes seguintes do texto. Por isso, estas partes no so de leitura obrigatria.

    2Este texto foi editado em LaTex. Esta linguagem faz a hifenizao automati-camente, mas infelizmente ainda no consegue superar todos os pequenos truques dalngua portuguesa. Pequenos lapsos na hifenizao sero corrigidos na prxima verso.

  • Contedo

    1 Medio da Actividade Econmica 21.1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.2 Principais Agregados da Contabilidade Nacional . . . . . . . . . 3

    1.2.1 O Fluxo Circular do Rendimento . . . . . . . . . . . . . . 41.2.2 As trs pticas de medir o PIB . . . . . . . . . . . . . . . 71.2.3 Activos Lquidos Sobre o Exterior . . . . . . . . . . . . . 111.2.4 PIB versus PNB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111.2.5 O Financiamento da Actividade Econmica . . . . . . . . 121.2.6 Os Dces da Balana Corrente em Portugal . . . . . . . 181.2.7 Outras Relaes Importantes da Contabilidade Nacional . 19

    1.3 ndices de Preos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211.3.1 O que so ndices de preos? . . . . . . . . . . . . . . . . 221.3.2 Construo de ndices de Preos . . . . . . . . . . . . . . 23

    1.4 ndices de Preos: Um Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281.4.1 ndices de base xa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281.4.2 ndice de Fisher em Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    1.5 Questes importantes para recordar . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    A As Causas dos Dces na Balana Corrente 36

    1

  • Captulo 1

    Medio da ActividadeEconmica

    1.1 IntroduoNeste captulo vamos discutir fundamentalmente duas questes: os principaisagregados da contabilidade nacional, e os ndices de preos mais frequentementeutilizados na literatura econmica.

    Os principais agregados da contabilidade nacional so construidos no sen-tido de obter uma estimativa to vel quanto possvel do nvel e do valor daactividade econmica. Por exemplo, questes importantes da contabilidade na-cional so as seguintes:

    O que o PIB? E o PNB?

    Como medir o PIB e o PNB?

    Qual a taxa mdia de progresso do bem estar dos cidados numa dadaeconomia?

    O que a Poupana?

    Como nanciada a actividade econmica numa economia como um todo,ou seja em termos macroeconmicos?

    Um dce nas relaes econmicas de um pas com o exterior ser sempreum indicador de m performance?

    A contabilidade nacional pretende dar resposta a este tipo de questes. Nu-ma economia moderna existem milhares de empresas produzindo bens e servios,milhares de preos de bens e servios, milhes de consumidores, etc., sendo prati-camente impossvel medir com rigor absoluto valores como a produo de bense servios, o nvel do consumo de bens e servios e da poupana pelas famlias,bem como o nvel de bem estar mdio. No entanto, para gerir a economia deforma minimamente aceitvel, com o objectivo de aumentar a riqueza e melhoraro bem estar dos cidados, indispensvel obter uma estimativa vel do nvel

    2

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 3

    da produo de bens e servios, bem como das variaes que se vo processan-do ao longo do tempo neste nvel de produo. Estimar em termos trimestrais(ou anuais) o nvel da produo, do consumo, do investimento e da poupana,da inao, do desemprego, das necessidades de nanciamento do investimentode forma a manter ou aumentar a capacidade produtiva de uma economia, soas questes fundamentais sobre as quais a contabilidade nacional pretende darresposta.

    Por outro lado, os ndices de preos servem para transformar variveismedidas em termos nominais em variveis reais. O valor de uma varivel medidaem termos nominais resulta da multiplicao da quantidade produzida destavarivel pelo seu respectivo preo. Ou seja, o valor nominal equivalente aovalor de mercado a preos correntes. No entanto, sempre que se verique aexistncia de subida nos preos (isto , inao), o valor de mercado a preoscorrentes tender a subir articialmente. O valor em termos reais da mesmavarivel pretende corrigir este aumento articial do valor nominal e resulta dovalor de mercado mas a preos constantes. Ou seja, corresponde a um valormonetrio ao qual a inao foi expurgada (ou retirada). Portanto, sempre quese verique uma subida de preos numa varivel, tornase necessrio retirar ainao a esta varivel no sentido de obter o seu verdadeiro valor real, e este o objectivo fundamental da construo de ndices de preos.

    Vejamos um exemplo muito simples. Sempre que se verique uma subidado preo de uma varivel, o valor nominal da sua produo aumentar, masisso poder no traduzir o que se passou de facto ao nvel da sua produo. Seos preos aumentarem em 10%, e se a sua produo diminuir em 4%, o valornominal aumenta em 6%, enquanto que o valor da produo diminui de factoem 4%.

    Como existem milhares de bens e servios e, consequentemente, milharesde preos praticamente impossvel medir a variao de preos de todos estesbens e servios, bem como o peso relativo de cada um dos bens no conjuntode todos os bens e servios, de forma a obter com rigor absoluto o nvel dainao em toda a economia. No entanto, existem tcnicas que permitem obterum valor bastante vel para a variao dos mesmos preos e para os respectivospesos relativos. Existem vrias formas de obter estes valores aproximados, unsprivilegiam uns aspectos, outros privilegiam outros. Conforme iremos ver, osndices mais utilizados so os seguintes:

    ndices construidos utilizando um ano como base xa. Dentro desta classeencontramse os ndices de Laspeyres e de Paashe;

    ndices construidos utilizando os anos em cadeia. Dentro desta classe ondice mais utilizado o de Fisher em cadeia.

    1.2 Principais Agregados da Contabilidade Na-cional

    Nesta seco vamos apresentar um conjunto de aspectos tcnicos fundamentais(ou procedimentos) sobre as quais se alicera a Contabilidade Nacional. No

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 4

    sentido de tornar a exposio to simplicada e intuitiva quanto possvel, va-mos comear com um modelo muito simples, onde apenas existem empresase famlias. Depois introduziremos outros dois grandes agentes econmicos nomodelo: o Estado e o Exterior. Os procedimentos contabilisticos em ambos osmodelos so exactamente iguais, pretendendose com esta metodologia tornar algica subjacente construo dos vrios um agregados macroeconmicos facil-mente apreensvel e sem grandes esforos analticos.

    O principio bsico mais importante para a compreenso das estimativas dosvrios agregados macroeconmicos consiste no uxo circular do rendimento ger-ado numa economia atravs da aplicao de factores produtivos (trabalho e cap-ital) no processo de produo de bens e servios. Deste processo resultam astrs formas de medir o valor da produo numa economia em termos agregados:

    Produo de bens e servios por parte das empresas

    Rendimento dos factores produtivos distribudos por trabalho e capital

    Despesas em bens e servios adquiridos s empresas

    1.2.1 O Fluxo Circular do RendimentoImaginemos uma economia muito simples, sem Estado e fechada s relaeseconmicas com o Exterior, onde existem apenas dois grandes grupos de agenteseconmicos, as famlias e as empresas. Em ltima instncia, as famlias so asdetentoras de todos os factores produtivos que existem numa economia, os quaisassumem a forma de trabalho e capital. As empresas alugam estes servios sfamlias, e em troca pagam um determinado rendimento aos factores produtivospela prestao desses servios. Por outro lado, as empresas utilizam os factorespara produzir bens e servios, os quais so depois vendidos s famlias que ospodem consumir ou investir.

    Na Figura 1.1 temos representadas as relaes econmicas que se estabele-cem entre os dois agentes que trocam entre si os recursos econmicos de quedispem. A troca pressupe uxos reais (representados a azul) e uxos nomi-nais ou monetrios (representados a vermelho). Deve notar que um uxo realpressupe sempre a existncia de um uxo monetrio como contrapartida. Ca-so contrrio a transaco no teria uma natureza econmica, e portanto nopoderia constar nem do nosso estudo, nem da medio do nvel da actividadeeconmica.

    Toda a actividade econmica tem trs vertentes: produo de bens e servios,distribuio de rendimento pelos factores produtivos, e despesas em bens eservios. Vamos passar a descrever cada uma destas vertentes.

    Lado do rendimento dos factores produtivos

    As famlias detm factores produtivos como sejam a sua fora de trabalhoe o capital que acumularam ao longo do tempo. No que diz respeito ao factorcapital deve terse sempre presente que so as famlias que em ltima instnciadetm as empresas e isto vericase mesmo nas empresas cujo capital estdisseminado por um grande nmero de accionistas, como so as empresas cotadas

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 5

    Famlias

    Empresas

    Bens e ServiosC + IW +

    Trabalho e Capital

    Vendas e Compras de produtos intermdios

    Produtos intermdios

    Figura 1.1: A representao grca do uxo circular da produo e do rendi-mento numa economia com Empresas e Famlias.

    nas bolsas de valores e, portanto, devemos considerar que as famlias alugams empresas os servios do factor capital que acumularam no passado.

    Vamos designar a fora de trabalho por L e o capital por K. No processoeconmico estes factores so alugados s empresas, que os utilizam para produzirbens e servios (B&S). este aluguer dos factores produtivos das famlias sempresas que gera um uxo real. Como contrapartida nesta transaco, asfamlias recebem um uxo monetrio que consiste no pagamento do aluguer dosmesmos factores, sendo este pagamento constitudo pelos salrios pagos pelaprestao de servios de trabalho (W ) e os lucros pela prestao de servios docapital ().

    Note que na referida gura, os factores produtivos K e L so uxos reais,pelo que o sentido das setas vai das famlias para as empresas (que os recebem),enquanto que as remuneraes de cada um destes factores (W e ) so uxosmonetrios, sendo os mesmos recebidos pelas famlias.

    Lado das transaces de bens e servios

    Aps as famlias terem recebido o rendimento pela sua participao no pro-cesso produtivo, as mesmas iro afectar o seu rendimento na aquisio de bense servios que as empresas obtiveram neste processo. Ou seja, no que diz re-speito s transaces de bens e servios, as empresas vendem s famlias bens eservios o que tambm d origem dois tipos de uxos: um uxo real e um uxomonetrio.

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    Do lado real, temos a entrega de bens e servios por parte das empresass famlias, os quais podem ser afectados ao consumo ou podem ser poupa-dos, neste ltimo caso para serem depois canalizados para investimento. Dolado monetrio desta transaco temos os montantes de despesa como formasde pagamento. Estas despesas envolvem o pagamento do conjunto de bens eservios transaccionados, quer estes tenham sido afectados ao Consumo privadodas famlias (C); quer tenham sido canalizados para Investimento (I). Portanto,na Figura 1.1, o uxo monetrio agora recebido pelas empresas como a somadas despesas em bens de consumo e de investimento, enquanto que o uxo real destinado s famlias na forma de bens e servios.

    Lado da produo de bens e servios

    As prprias empresas estabelecem uxos reais e monetrios entre si, bastandopara tal pensarmos na cadeia de fornecedores e clientes que existem para umaempresa individual. Estes uxos so igualmente contabilizados e permitem obtertambm uma estimativa vel do nvel da produo de bens e servios. Aquiconvm apresentar uma claricao sobre bens e servios nais e bens e serviosintermdios. Para determinarmos um valor vel para o nvel da produo que efectivamente obtida num dado perodo de tempo, devemos levar apenas emconsiderao as transaces de bens e servios nais (ou seja, para consumo nale investimento), excluindo as transaces de bens e servios intermdios.

    A razo que justica a excluso das transaces de bens e servios intermdiospara a determinao do valor da produo e do rendimento muito simples deexplicar. Suponha que uma pastelaria produz 1000 pastis de nata, os quais sovendidos por 1.5 Euro cada. O valor das vendas dos pastis de nata de 1500Euros. Suponha que a pastelaria, para produzir os pastis, comprou a outrasempresas ovos, manteiga, farinha e leo, tudo no valor de 700 Euros. Casoconsiderssemos todas as transaces que esto associadas produo e vendados pastis, para determinar o valor da produo dos mesmos, diramos que estesvaleriam 2200 Euros (1500+700). No entanto, o valor de mercado do pastis deapenas 1500 Euros porque este foi o montante monetrio que a pastelaria obtevecom a venda dos mesmos aos seus clientes. Os 700 Euros que correspondemaos bens intermdios j esto incorporados no custo de produo e no preo devenda dos pastis. Portanto se considerssemos tambm as vendas de produtosintermdios estaramos a contar duas vezes o valor destes produtos no produtonal. Para evitar esta dupla contagem, devemos apenas considerar as vendas debens e servios nais para o valor da produo.

    Sntese

    Da anlise deste processo circular do rendimento e da produo devemosrealar quatro ideias fundamentais, as quais resultam de um ponto fundamental:como o processo circular, o valor criado em qualquer um dos lados do circuito,dever ser necessariamente igual ao valor criado nos restante sectores do mesmoprocesso. Estas trs ideias so as seguintes:

    Rendimento dos factores igual Despesa em B&S. O rendimento gera-do no processo produtivo, e distribudo pelos factores produtivos K e L,

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 7

    tem de ser igual soma das despesas em bens e servios feitas pelos de-tentores desse mesmo rendimento, sendo estas afectas a consumo (C) ouinvestimento (I).

    Valorizao dos B&S os bens e servios tm de ser sujeitos a transacesde mercado. Para que um bem ou servio possa ser considerado como umbem (ou valor econmico), este ter de passar pelo ltro do mercado, casocontrrio o valor a atribuir ao mesmo teria sempre um maior ou menornvel de subjectividade. O valor da produo determinado a partir dastransaces de mercado, sendo o preo determinado por inmeros com-pradores e vendedores. Isto signica que, numa economia de mercado, aactividade de produo que no estiver sujeita a transaces de mercadoca excluda da contabilidade da produo de bens e servios.

    Transaces de bens e servios nais versus bens e servios intermdios.Somente as transaces de bens e servios para consumo nal (neste mod-elo simples, consumo das famlias e investimento) podem contar para adeterminao do valor da produo, do rendimento, e da despesa de umaeconomia num determinado ano. As transaces de bens e servios in-termdios (ou de consumo intermdio durante a produo) devero serexcludas da determinao daquele valor.

    Transferncias de rendimento. As transferncias de rendimento no devemser consideradas como elementos para a determinao do valor da produoe do rendimento porque elas representam uma mera redistribuio daquiloque foi produzido e distribudo no processo produtivo. Caso fossem in-cludas, bastaria que numa economia se aumentasse de forma sucessiva ouxo de redistribuio do rendimento gerado num determinado ano, e esterendimento passaria a cada vez mais elevado nesse ano. No entanto, overdadeiro valor do rendimento gerado neste mesmo ano no aumentariaminimamente com esta redistribuio. Isto no passaria de uma formaarticial de obter um valor mais elevado para o rendimento e, por isso,operaes de redistribuio do rendimento no devem ser consideradas noclculo do rendimento gerado num determinado ano.1

    1.2.2 As trs pticas de medir o PIBVimos j como a Contabilidade Nacional permite transformar uxos reais emuxos monetrios e pretende contabilizar estes atravs de um conjunto de princ-pios bsicos, tendo como objectivo proceder medio dos principais agregadosmacroeconmicos. Vamos agora aplicar estes princpios bsicos na medio doProduto Interno Bruto (PIB), o primeiro grande indicador do estado de umaeconomia nacional e do valor econmico da sua produo.

    1 Repare que isto no implica que uma melhor redistribuio do rendimento no possa seruma forma de obter um nvel do rendimento mais elevado no futuro. De facto, em muitas situ-aes, uma melhor redistribuio do rendimento no sentido de eliminar a pobreza e aumentara escolaridade e o conhecimento das populaes tendem a melhorar o nvel do rendimento nolongo prazo, conforme a histria do sculo que agora acabou to claramente evidenciou. Noentanto, no ano em que esta redistribuio efectuada, o nvel do rendimento gerado nesteano em nada se altera.

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    Denition 1 Denio do PIB. O Produto Interno Bruto de um pas o valordas transaces a preos de mercado de todos os bens e servios produzidos numdeterminado ano, transaces essas destinadas aquisio de bens para consumonal e para investimento, e produzidos no territrio deste pas.

    Primeiro, iremos determinar as trs formas de obter uma estimativa para ovalor do PIB usando o modelo simples que temos utilizado at agora. Nestemodelo simples, os nicos agentes que utilizam os bens e servios nais paraconsumo e investimento so as famlias e empresas. Depois vamos estender estemodelo simples de forma a introduzir na nossa anlise outros dois agentes: oEstado e o Exterior.

    O modelo simples

    Continuando com o modelo simples uma economia onde existem apenas doisgrupos de agentes econmicos, famlias e empresas e tendo em conta os uxosque se estabelecem entre estes agentes econmicos, podemos medir o valor daproduo nacional (o PIB) para um certo perodo de tempo. Como j vimosatrs, o PIB pode ser mensurado a partir de trs pticas distintas: a ptica dadespesa, a ptica do rendimento e a ptica da produo.

    Pela ptica da despesa, o PIB corresponde ao somatrio das transacesde bens e servios nais e, no nosso esquema, medido pelo uxo monetrioestabelecido entre famlias e empresas como contrapartida dos bens e serviosque as empresas entregam s famlias, portanto, corresponde ao somatrio dasdespesas em consumo (C) com as despesas em investimento (I). De acordo comesta ptica, s podemos contabilizar despesas que resultem de trocas de bens eservios nais efectuadas entre os agentes, pelo que deixamos de fora o uxo quese estabelece entre empresas e que corresponde troca de produtos intermdios.Pela ptica da despesa, temos ento

    PIB = C + I

    Pela ptica do rendimento o PIB corresponder ao somatrio dos rendi-mentos dos factores produtivos. Mais uma vez, com base no nosso esquema,vamos somar os uxos monetrios que resultam das transaces dos factoresprodutivos, os quais so os salrios (W ) enquanto remunerao do factor pro-dutivo trabalho, e os lucros () como remunerao do factor produtivo capital.So os factores produtivos que permitem obter a produo de bens e serviosnais (os mesmos que contabilizvamos pela ptica da despesa) e, por isso mes-mo, existe uma correspondncia entre a remunerao dos factores produtivos ea despesa em bens e servios nais. Pela ptica do rendimento o PIB calcula-seento como a soma dos dois tipos de rendimento

    PIB = W +

    Por m, temos o PIB calculado pela ptica da produo. Nesta ptica oPIB corresponde ao somatrio dos valores acrescentados pelas diferentes empre-sas na produo de bens e servios. A produo corresponde a tudo aquilo que produzido no perodo em questo, mas como h bens que so produto nal

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 9

    para uma empresa e depois so produtos intermdios para outra (por exemp-lo, farinha e pastis de nata), s devemos contabilizar aquilo que cada empresaacrescenta de facto ao processo produtivo. Assim, de acordo com a Figura 1.1,o PIB calculase como

    PIB =X

    valores acrescentados

    = V endas totais das empresas Compras produtos intermedios das empresas

    Temos portanto trs formas diferentes de medir o PIB, as quais contabilizamo valor da produo com base em uxos de agregados que tm igual montanteou valor econmico, mas que so registados segundo pticas de contabilizaodiferentes. As famlias recebem rendimentos por participarem no processo pro-dutivo, as empresas utilizam estes factores para produzir bens e servios, asfamlias afectam os seus rendimentos a despesas em bens e servios nais (nobens e servios intermdios). com base nestas trs relaes que se procuragarantir que qualquer uma das pticas permite obter o mesmo montante para ovalor do PIB que, naturalmente, um e um s na realidade.

    O modelo completo

    Se as relaes econmicas que se estabelecem dentro da nossa economia se am-pliarem, passando a existir mais dois agentes econmicos no processo Estadoe Exterior para determinar o valor do PIB temos de considerar tambm osuxos reais e monetrios que resultam da participao na actividade econmicadestes dois grandes agentes.

    Comeando pela ptica da despesa, os dois novos agentes tambm efec-tuam despesa em bens e servios nais. Por um lado, o Estado faz despesaem bens e servios nais para consumo pblico, os chamados gastos pblicos(G) e, por outro lado, o Exterior compra s empresas implantadas no territrionacional bens e servios nais, despesa essa que corresponde s exportaes debens e servios (X). Contudo, a abertura ao exterior tem um reverso que con-siste no facto de, usualmente, os agentes econmicos residentes no territrionacional adquirirem bens e servios nais ao exterior, despesa que correspondes importaes de bens e servios (F ). Como no sabemos qual o montante dasimportaes que correspondem a despesa associada ao consumo privado de bense servios, ou a investimento em bens e servios, ou ainda ao consumo pblico,no podemos apresentar estas rubricas deduzidas do montante que foi importa-do. Logo, como alternativa, contabilizamos todos os bens e servios que foramimportados do exterior e deduzimoslos do total da despesa nacional acrescidadas exportaes (C + I + G + X). Desta forma, pela ptica da despesa e nomodelo completo, o PIB calculase como

    PIB C + I + G + X F

    A ptica do rendimento tambm sofre alteraes ao acrescentar algunsuxos de rendimento que tm origem na existncia do Estado e de relaeseconmicas com o Exterior. Ao estabeleceremse relaes com o Exterior pas-sam a coexistir num mesmo territrio geogrco factores produtivos nacionais

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 10

    e do exterior. Isto signica que passa a vericarse uma situao em que os fac-tores produtivos do Exterior (trabalho e capital) podem alugar os seus serviosno nosso pas, enquanto que , por outro lado, os agentes econmicos nacionaispassam a poder alugar os seus factores produtivos no Exterior. Em contraparti-da destes uxos reais, geramse uxos monetrios que resultam do pagamentode rendimentos dos factores produtivos do exterior aplicados internamente erendimentos dos factores produtivos nacionais aplicados externamente. Estesrendimentos so rendimentos do capital e do trabalho. Como estamos aqui aanalisar os factores que determinam o nvel da produo que obtida interna-mente (ou seja, produto interno bruto), e no o que produzido por factoresnacionais (produto nacional bruto),2 devemos apenas considerar a participaodos factores externos que so aplicados na produo interna. Aos rendimentosdestes factores externos que esto relacionados com a prestao de servios detrabalho designamos por WX , e os que esto relacionados com os servios decapital por X .

    Por outro lado, o agente econmico Estado nancia parte da sua despesa embens e servios com base nos impostos (directos) sobre o rendimento dos factoresprodutivos aplicados na nossa economia (quer estes sejam nacionais, quer sejamdo exterior). Estes impostos sobre o rendimento iro ser denominados por (T ).Note que como o Estado um agente improdutivo, j que a sua funo no a de produzir bens e servios, a razo destes impostos est relacionada com asnecessidades de nanciamento da actividade do Estado.

    No modelo simples a equao que nos dava o valor do PIB pela ptica dorendimento era PIB = W+. Agora no modelo completo, como temos mais doisagentes econmicos (Estado e Exterior) temos de levar tambm em consideraoos rendimentos destes dois agentes. Assim, numa economia aberta ao Exterior ecom Estado, o PIB pode ser tambm estimado a partir da seguinte expresso, aqual nos d a soma de todos os rendimentos dos factores aplicados no processoprodutivo dentro do espao geogrco da nossa economia

    PIB (WI + I)| {z }rendimento dos

    factores nacionais

    + (WX + X)| {z }rendimento dos

    factores do exterior

    + T|{z}rendimentodo Estado

    (1.1)

    Note que WI +I no mais do que a soma dos factores produtivos nacionaisque permanecem afectados actividade produtiva internamente, ou seja, nonosso pas. Existem ainda outros factores produtivos nacionais que se encontramaplicados no no nosso espao econmico mas sim no exterior. Neste caso, orendimento destes factores no pode ser considerado no clculo do PIB mas numoutro agregado que iremos estudar de seguida e que se chama Produto NacionalBruto (PNB). O que deve ser retido que a soma de rendimentos na equaoacima (1.1) resultam da utilizao de factores produtivos na nossa economia eda cobrana de impostos sobre o rendimento por parte do Estado.

    Por m, para calcularmos o PIB na ptica da produo teremos apenasde continuar a utilizar a mesma metodologia anterior de distinguir produtos

    2 Mais frente ir perceber melhor esta diferena entre produto interno bruto (PIB) eproduto nacional bruto (PNB). O nacional j leva em considerao quer os rendimentos dsfactores exteriores que esto aplicados na nossa economia, como os rendimentos dos factoresnacionais que esto aplicados no exterior.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 11

    nais de produtos intermdios, tendo apenas agora ateno para o facto de queas compras de produtos intermdios e as vendas de produtos nais se podemalargar a mais dois agentes econmicos: Estado e Exterior. Temos, ento

    PIB X

    valores acrescentados

    V endas totais das empresas Compras produtos intermedios das empresas

    1.2.3 Activos Lquidos Sobre o ExteriorEsta rubrica serve para expressar o estado em que um pas se encontra quanto possibilidade do mesmo ser devedor ou credor relativamente ao exterior. Porexemplo, quando os agentes econmicos de um pas compram activos nanceirosde empresas situadas noutro pas (ou mesmo activos reais, como prdios, ter-renos, etc.), o saldo dos activos do pas sobre o exterior aumenta. Por outro lado,quando os agentes residentes no exterior adquirem activos reais ou nanceirosem Portugal, o saldo dos activos de Portugal sobre o exterior diminui.

    A diferena entre os activos que os residentes em Portugal detm sobre oexterior e os activos que os residentes no exterior detm sobre Portugal, quereles sejam reais ou nanceiros, designada por saldo lquido dos Activos sobre oExterior (ALX).

    Estes activos reais e nanceiros tero certamente uma remunerao associa-da sua posse, ou seja devero conceder um rendimento aos seus titulares. Aaquisio de activos no exterior por parte de agentes econmicos nacionais temassociado a si um determinado rendimento, o qual denominado por RFNX (ouseja, rendimentos de factores nacionais aplicados no exterior). Por outro lado, osactivos aplicados no territrio nacional que so detidos por agentes econmicosdo exterior, tambm tero associados a si um determinado rendimento, sendoeste designado por RFXI (ou seja, rendimentos de factores produtivos do exteri-or aplicados internamente). Ou seja, o saldo lquido dos activos sobre o exteriornum determinado ano dado pela expresso

    ALX RFNX RFXIComo estes activos tero vrias taxas de remunerao, consoante o tipo de

    activo e consoante o pas onde estas aquisies tenham sido efectuadas, vamossupor que existe uma taxa mdia internacional (ix) que traduz a remuneraomdia associada deteno destes activos, ou seja associada ao saldo lquido deactivos sobre o exterior. Portanto, o rendimento mdio que um pas retira destesaldo lquido, ou seja, o rendimento dos factores sobre o exterior (RFX), podeser dado pela expresso

    RFX = ix ALX

    1.2.4 PIB versus PNBQual ento a grande diferena entre o Produto Interno Bruto e Produto Na-cional Bruto? O PIB corresponde ao valor da produo obtida em cada ano den-tro de um determinado territrio nacional. Por outro lado, o PNB corresponde

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 12

    ao valor da produo obtida em cada ano a partir dos factores produtivos de umpas, independentemente do local onde so utilizados. Dito de outra forma, o PIB o valor da produo de bens e servios obtido com todos os factores produtivos(nacionais e estrangeiros) aplicados na produo dentro do espao geogrcoque compreende a economia nacional, enquanto que o PNB o valor da pro-duo de bens e servios alcanada com todos os factores produtivos nacionais(e somente com factores produtivos cuja titularidade de agentes econmicosnacionais) quer estes tenham sido aplicados na economia nacional, quer noexterior excluindo portanto a contribuio de factores externos na produo.

    Portanto, a diferena fundamental entre o Produto Interno Bruto e o ProdutoNacional Bruto tem a ver com o saldo em termos lquidos dos rendimentos defactores produtivos com o exterior. No ponto anterior vimos que os Rendimentosdos Factores Produtivos sobre o exterior em termos lquidos dado pelo produtoda taxa de juro mdia internacional (ix) e os Activos Lquidos sobre o Exterior(ALX), ou seja

    RFX = ix ALXAnteriormente, quando nos preocupmos com a medio do PIB (nomeada-

    mente pela ptica do rendimento), vimos que este no poderia englobar os Rendi-mentos dos Factores Produtivos sobre o exterior em termos lquidos, porquesendo um valor produzido internamente deve contemplar apenas a produo quediz respeito ao territrio nacional. Se o nosso objectivo for agora calcular no aproduo que est connada ao territrio nacional, mas sim a produo que efectuada exclusivamente por factores produtivos nacionais, estaremos procu-ra do indicador Produto Nacional Bruto (PNB). Temos ento que adicionar aoPIB o montante de Rendimentos dos Factores Produtivos sobre o exterior emtermos lquidos para adicionarmos o rendimento do aluguer dos nossos factoresprodutivos no exterior e deduzirmos o rendimento gerado no territrio por fac-tores produtivos do exterior. Portanto, para calcularmos o PNB a partir do PIBfazemos

    PNB PIB + RFX

    1.2.5 O Financiamento da Actividade EconmicaPara que uma economia possa obter progresso econmico e social ter de afectardespesas em bens e servios para investimento. De onde vem este investimento?Quais so as fontes que permitem nanciar o investimento ano aps ano? Seroapenas foras internas, ou sero tambm agentes econmicos do exterior? Nahiptese de recorrer a agentes externos isso gerar dces nas contas externas.Sero estes dces maus? Sero sempre maus? Confrontemos dois exemplosrecentes.

    A economia portuguesa tem apresentado ao longo dos ltimos anos nveis dedces das contas externas (balana corrente)3 que ultrapassam os 6 ou mes-mo 8% do PIB. Este resultado tem sido considerado como um sinal evidentede grande fraqueza da nossa economia relativamente ao exterior, indicando que

    3 No se preocupe por enquanto com este conceito. Mais frente ele ir ser explicado emdetalhe.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 13

    poder avizinharse uma grave crise econmica. Este um argumento con-vencional que identica um dce das contas externas como um sinal de maudesempenho econmico, e tanto mais grave quanto maior for o volume dessedce.

    Por outro lado, vejamos o que se tem vericado com a economia dos EUA.Esta tem tido durante a dcada de 90 o maior perodo de expanso econmica dasua histria (com taxas de crescimento econmico mais elevadas que qualquerespao econonmico com os qual compete a nvel internacional). No entanto,tem apresentado tambm o maior dce das suas contas externas de que hmemria. Este dce tem atingido cerca de 4.5% do PIB nos ltimos anos.

    Ento, qual o cenrio mais favorvel: o da economia portuguesa, ou oda economia americana? Parece que existe aqui uma contradio, pois se aeconomia dos EUA proliferou em termos econmicos com um elevado dceexterno, maior dce externo tem apresentado a economia portuguesa. Assimpoderamos ser levados a concluir que, se um dce elevado parece ser bom(EUA), dces muito levados deveriam ser ainda melhores para o crescimentoeconmico, ou mesmo que dces elevados seriam sempre bons.

    No entanto, estas concluses parecem ser incorrectas em termos de intu-io bsica econmica. Com o objectivo de claricar esta situao convenientemostrar qual a importncia das contas externas no funcionamento de uma econo-mia. Como iremos explicar, dces nas contas externas respresentam uma dasfontes de nanciamento da actividade econmica, ou melhor, uma das fontes doinvestimento numa economia aberta ao exterior.

    O nanciamento do investimento numa economia aberta ao Exterior e comEstado est dependente dos seguintes factores:

    Poupana Privada interna (SP ) : esta determinada pelas decises dasfamlias sobre a afectao do seu rendimento entre consumo e poupana

    Poupana Pblica (ou do Estado) interna (SG) : esta determinada pelasdecises do Governo sobre despesas e receitas pblicas (ou seja igual aoSaldo Oramental)

    Poupana do Exterior (SX) : esta determinada pelo conjunto das transacesde bens e servios e transferncias de rendimento com o exterior (ou se-ja, igual ao simtrico do saldo da balana corrente , BC, a qual iremosapresentar de seguida).

    A Balana Corrente

    Quando introduzimos o modelo completo, referimos a existncia do agente econmi-co Exterior com o qual os agentes econmicos nacionais se relacionam atravs deuxos reais e monetrios. A Balana Corrente uma rubrica onde se registamtrs tipos de operaes com o exterior : (i) as transaces de bens e serviosefectuadas entre os agentes econmicos de um pas com o Exterior e que cor-respondem fundamentalmente s exportaes (X) e importaes (F ) de bens eservios; (ii) nela registamse tambm as operaes correntes efectuadas entre osgrupos de agentes referidos e que se prendem com transferncias unilaterais (porexemplo, as remessas dos emigrantes), as quais so designadas por TRX ; (iii)

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 14

    nalmente registamse tambm nesta balana as transferncias de rendimentos(entradas menos sadas), sendo o saldo lquido designado por RFX ; conformevimos atrs. Portanto, o saldo da balana corrente pode ser apresentado pelaseguinte expresso

    BC (X F ) + TRX + RFX

    Vamos agora rever algumas identidades bsicas da contabilidade nacionalcom o objectivo de relacionar a actividade registada na balana corrente coma produo de um pas, ou seja om o PNB. Para este efeito, devemos primeiroutilizar o conceito de PIB. O PIB, pela ptica da despesa, dado por

    PIB C + I + G + X F

    Por sua vez, conforme vimos acima, o clculo do PNB a partir do PIB fazse daseguinte forma

    PNB PIB + RFX

    Se adicionarmos a ambos os lados da equao anterior a rubrica transfernciasunilaterais do exterior (TRX); e se substituirmos a expresso do PIB que surgeno segundo membro da mesma pela sua expresso segundo a ptica da despesa,teremos

    PNB + TRX C + I + G + X F| {z }PIB

    + RFX

    | {z }PNB

    + TRX (1.2)

    Observando esta equao, vemos que nela est contida a expresso do saldoda Balana Corrente, a qual dada por BC (X F )+RFX +TRX : Portanto,podemos reescrever a equao (1.2) como

    PNB + TRX C + I + G + BC

    Vemos assim que o conceito da Balana Corrente se relaciona de forma directacom o conceito de PNB, isto , esta balana um conceito que pretende captaro saldo das transaces econmicas correntes de um pas com o exterior, sendoesse pas identicado com os agentes econmicos nacionais e no com o territriogeogrco nacional.

    Podemos ainda reescrever a ltima equao apresentada como

    BC PNB + TRX| {z }rendimento nacional

    (C + I + G)| {z }despesa nacional

    Desta equao resulta claro que o saldo da Balana Corrente corresponde diferena entre o rendimento disponvel de um pas dado pela soma do PNBcom as transferncias unilaterais do exterior e a despesa nacional de um pas,ou seja, aquilo que os agentes econmicos nacionais gastam. Assim, quando orendimento disponvel de um pas for superior despesa nacional do mesmo osaldo da Balana Corrente excedentrio. Pelo contrrio, quando o rendimento

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    disponvel de um pas for inferior sua despesa nacional, os agentes econmicosnacionais recorrem ao exterior e o saldo da Balana Corrente decitrio.

    Isto signica que o saldo da Balana Corrente reecte as necessidades denanciamento externas de uma economia. Assim:

    BC < 0 ! Exterior nancia a nossa actividade econmica, ou seja nan-cia o nosso investimento (conforme iremos ver de seguida)

    BC > 0 ! Os agentes econmicos nacionais nanciam a actividadeeconmica no exterior, ou seja, nanciam o investimento realizado no ex-terior.

    A poupana, o investimento e a balana corrente

    Se atentarmos na equao que nos d o saldo da balana corrente enquanto umadiferena entre o rendimento disponvel de um pas e a sua despesa nacional,vemos que essa despesa nacional composta por dois tipos de despesa distintas.Por um lado, temos despesa improdutiva em bens e servios, representada pelasvariveis consumo privado e consumo pblico em bens e servios (C + G) e, poroutro lado, despesa produtiva aqui representada pelo investimento (I). Ora,aquilo que um pas no gasta em consumo improdutivo de bens e servios considerado como a sua poupana. Assim, a poupana nacional (S) corresponde diferena entre aquilo que rendimento nacional (PNB + TRX) e a soma dosconsumos improdutivos de um pas (C + G). Temos portanto

    S PNB + TRX (C + G)

    Reparese que, sabendo que PNB C + G + I + [(X F ) + RFX ], a ex-presso anterior pode ser apresentada por

    S C + G + I + [(X F ) + RFX ] + TRX (C + G)

    Como C e G se anulam na expresso anterior, cando a mesma reduzida aS I + [(X F ) + RFX ] + TRX , e como o saldo da balana corrente dadopor BC X F + RFX + TRX , ento a equao da poupana nacional podeser bastante simplicada, podendo ser escrita como

    S I + BC

    Esta expresso contm uma ideia muito simples mas muito poderosa. E podeser apreendida melhor atravs da sua reformulao em

    I S BC (1.3)

    Primeiro, o investimento numa economia nanciado se existir poupanainterna positiva (S > 0); ou se existir poupana externa positiva. Note que umsaldo negativo da BC reecte uma poupana externa positiva, j que os agentesresidentes no exterior esto a nanciar a nossa economia, ou seja, a poupanaexterna (SX) pode ser escrita como SX = BC . Dito de outra forma, numaeconomia aberta s pode existir investimento se pouparmos internamente ou seo exterior aceitar nanciar a nossa actividade econmica.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 16

    Segundo, vemos que o saldo da balana corrente dado pela diferena entrea poupana nacional e o investimento privado em bens e servios. Ou seja,sempre que a poupana nacional no for suciente para nanciar o investimento,recorrese ao exterior (a poupana externa) e o saldo da balana corrente cadecitrio. Portanto, as duas foras que determinam o saldo da balana correnteso a poupana interna (positivamente) e o investimento (negativamente). desta equao bastante simples que poderemos perceber quando que um dceda balana corrente bom ou mau para a performance de uma economia:

    Se o dce for causado por um aumento do investimento, e se este investi-mento for aplicado em projectos rentveis, no existe partida razo paraconsiderar o dce como um indicador de ms opes econmicas;

    Se o dce for causado por uma diminuio da poupana, neste caso omesmo deve ser considerado como um indicador de problemas econmicosno curto e longo prazos.

    Para perceber ainda melhor estes pontos, resta saber quais so as principaisforas que determinam o nvel da poupana nacional. Como iremos ver, estasforas esto associadas poupana pblica (ou seja, ao nvel do saldo oramentalde um pas) e poupana dos agentes nopblicos desse pas, ou seja poupanaprivada.

    A poupana pblica, a poupana privada, e os dces da BC

    Neste ponto pretendemos analisar as duas formas de poupana nacional exis-tentes, a poupana pblica e a poupana privada, tentando compreender de queresulta uma e outra.

    Poupana Pblica

    Numa economia onde exista o agente econmico Estado, teremos um conjuntode uxos econmicos associados actividade por este exercida. O Estado efectuadespesas pblicas em bens e servios que nancia com as receitas pblicas quedecide angariar junto dos agentes privados. As receitas pblicas do Estadoresultam essencialmente dos impostos que este cobra, sendo estes impostos dedois tipos: impostos directos sobre o rendimento (T ) ; e impostos indirectossobre as transaces de bens e servios (TI); sendo este ltimo tipo de impostosnormalmente identicado como o IVA. Para obtermos o montante de receitaspblicas lquidas, teremos de levar tambm em considerao os montantes detransferncias que o Estado distribui pelas famlias, os subsdios produo queo Estado atribui s empresas, bem como as despesas com os juros da dvidapblica.

    Na sua actividade redistributiva, o Estado transfere um conjunto dos rendi-mentos para as famlias, na forma de abonos de famlia, subsdios de desemprego,rendimento mnimo garantido, etc., os quais designamos aqui por TransfernciasUnilaterais Internas (TRI). O Estado tem tambm um papel de incentivador daproduo, subsidiando actividades produtivas que, devido s suas caractersticas,no seriam produzidas ou seriam produzidas mas em quantidades subptimasem termos sociais. Para evitar situaes deste tipo o Estado concede subsdios

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    de vrios tipos s empresas no sentido de baixar preos de venda ou garantira produo, e estas despesas pblicas so contabilizadas na rubrica subsdios explorao e produo (Z). Outra deduo s receitas pblicas correspondeainda aos encargos do Estado com a amortizao da dvida pblica s famlias.No sentido de nanciar as suas despesas pblicas, o Estado emite anualmentettulos de dvida pblica (DP ) que so adquiridos pelas famlias com o intuitode receberem um rendimento. Este rendimento constitudo pelos juros sobrea dvida pblica, sendo determinado pela aplicao da taxa de juro praticadano mercado (i) ao montante total da dvida pblica acumulada (DP ). Ou seja,este rendimento corresponde assim aos encargos que o Estado tem com a dvidapblica (i DP ):

    Assim, a expresso das despesas pblicas lquidas dada pela diferena entreas receitas pblicas brutas obtidas com os impostos, deduzidas de transfernciasinternas, subsdios produo e juros de dvida pblica

    RecP T + TI| {z }receitas pblicas brutas

    TRI Z (i DP )

    Por outro lado, o Estado tem despesas pblicas em bens e servios paraconsumo pblico, sendo estas denominadas por (G), pelo que temos

    DespP G

    O saldo oramental (BG) dado pela diferena entre receitas pblicas lquidase despesas pblicas cando assim igual a

    BG [T + TI TRI Z (i DP )] G

    Reparese que o saldo oramental tudo aquilo que sobra (normalmenteno sobra) do rendimento do agente econmico nacional Estado depois desteefectuar consumo improdutivo de bens e servios. Ora, se nos recordarmos, esta a denio de poupana que utilizmos anteriormente escala nacional masque pode ser agora aplicada escala de um agente. Logo, o saldo oramental no mais do que a poupana pblica, ou seja do Estado (SG), pelo que podemosescrever

    SG BG RecP DespP

    Poupana Privada

    A poupana privada (SP ), por sua vez, corresponde ao rendimento disponveldas famlias de um pas (PNB + TRX), deduzido do consumo improdutivo dasfamlias em termos de bens e servios (C) e ainda de todo aquele rendimento que transferido das famlias para o Estado na forma de receitas pblicas lquidas(RecP). Portanto, a poupana privada pode ser escrita como

    SP PNB + TRX C RecP

    As causas dos dces na Balana Corrente

    Podemos agora ver de forma clara todas as principais variveis que podem es-tar na origem dos dces da Balana Corrente, em virtude de podermos discernirentre a poupana pblica da poupana privada.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 18

    Recuperando a equao onde relacionmos o investimento com a poupanae com o saldo da balana corrente, equao (1.3)

    I S BC

    sabendo agora que a poupana nacional se divide em poupana privada (SP ) epoupana pblica (SG = BG), e pondo em evidncia o saldo da balana corrente,podemos obter o seguinte resultado

    BC SP + BG| {z }S

    I (1.4)

    Esta ltima equao repe uma concluso anterior, a de que o saldo dabalana corrente resulta da diferena entre a poupana nacional (composta pelapoupana pblica e pela poupana privada) e o nvel da despesa de investimentoem bens e servios.

    1.2.6 Os Dces da Balana Corrente em PortugalA equao (1.4) permite-nos identicar facilmente quais so as variveis quepodem dar origem a um dce da balana corrente. Vemos que um agravamentodo saldo desta balana pode ser causado sempre que

    a poupana privada diminui;

    o saldo oramental se agrava;

    o nvel do investimento aumenta;

    ou, acontecem dois ou mais destes trs factores em simultneo.

    Reparese que estes factores tm efeitos diferentes sobre a economia. Umagravamento do dce resultante de um aumento do consumo improdutivo que pode resultar do aumento do consumo privado de bens e servios ou do con-sumo pblico de bens e servios provoca uma reduo no nvel da poupananacional, e tende assim a reduzir o nvel do investimento na economia nacional.Se isto se vericar, a diminuio do investimento s poder ser contrariada se severicar um agravamento do dce da balana corrente, resultante de um aumen-to das importaes de bens e servios canalizadas para investimento produtivo.Assim, podemos armar que o agravamento do dce da balana corrente sermau se for gerado por um aumento do consumo improdutivo de bens e servios(que se traduz numa reduo da poupana privada ou da poupana pblica),e ser bom, no sentido em que ter efeitos positivos sobre a economia, se forgerado por aumento da despesa em investimento em bens e servios.

    No entanto, esta ltima armao s estar correcta se acrescentarmos queesse investimento dever ser produtivo e rentvel, devendo aumentar a produo,dar origem a mais investimento e tudo isto com rentabilidade prpria, portanto,sem recorrer a subsdios pblicos que s iriam agravar o dce e, consequente-mente, reduzir ainda mais a poupana privada. Este investimento dever ainda

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 19

    ser canalizado para sectores de bens transaccionveis com o exterior (se se desti-nar, por exemplo, a produzir bens que seriam importados ou a produzir bens quepossam ser exportados), em qualquer dos casos reduzindo o dce da balanacorrente no futuro e garantindo assim que o aumento do investimento no curtoprazo no gerar uma maior dependncia face ao exterior no longo prazo.

    inserir gura sobre a BCinserir gura sobre Investimentoinserir gura sobre Saldo Oramental

    1.2.7 Outras Relaes Importantes da Contabilidade Na-cional

    Para concluirmos esta seco importante ter ainda uma noo sobre os seguintesaspectos da contabilidade nacional:

    PIB a preos de mercado versus PIB a preos de factores Produto Interno Bruto versus Produto Interno Lquido Rendimento Nacional Rendimento disponvel das famlias

    PIB a custo de factores versus PIB a preos de mercado

    Com o objectivo de simplicar a exposio, omitimos que temos vindo atrabalhar com o PIB contabilizado a preos de mercado (PIBpm), isto , temoscontabilizado os bens e servios a nvel macroeconmico ao preo a que estesso transaccionados no mercado. Contudo, a valorizao a preos de mercadopode alterar articialmente o verdadeiro valor econmico dos bens e servios,ou seja, pode alterar o valor que custa efectivamente sociedade produzir osbens e servios. Este verdadeiro valor dado pelo custo dos factores produtivos(trabalho e capital) que so utilizados na produo e que tero de receber umaremunerao (ou rendimento) pela sua contribuio. Este verdadeiro valor, ouseja a produo expressa em termos do custo dos factores produtivos, designadopor produto a custo de factores, o qual expresso aqui pela sigla PIBcf .

    Os factores que podem alterar articialmente o verdadeiro valor econmicodos bens e servios esto associados incidncia de impostos indirectos lanadospelo governo sobre as vendas de bens e servios (TI), e da atribuio de subsdios produo pelo governo s empresas (Z). Os primeiros tendem a aumentararticialmente o valor de mercado dos bens e servios, enquanto que os segundostendero a reduzir articialmente o valor dos mesmos.

    Portanto, no sentido de obter o verdadeiro valor de produo dos bens eservios, partindo do valor do PIBpm (o qual no difcil de obter em termosde estimativas, pois os preos de mercado so facilmente observveis), deveremosdeduzir a este valor os impostos indirectos, somando os subsdios produo.Ou seja,

    PIBcf PIBpm TI + Z

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    Produto Bruto versus Produto Lquido

    Outra questo importante a diferena entre o Produto Interno Bruto eo Produto Interno Lquido. Na produo utilizado um factor produtivo o capital que se desgasta no decurso da mesma. Esse desgaste medidoatravs de uma taxa de depreciao que, em termos das contas de uma empresaprodutiva, se contabiliza como a amortizao do capital. As empresas podemimputar esta amortizao (Am) como um custo do exerccio, o que de facto fazemporque (entre outras razes) podem pagar menos impostos sobre o rendimentoao Estado. Esta imputao traduzse em preos mais elevados pelos quais osbens so transaccionados no mercado, pelo que tambm aumenta articialmenteo verdadeiro valor daquilo que foi efectivamente produzido num determinadoano ou perodo.

    Portanto, se quisermos contabilizar apenas aquilo que se produziu efectiva-mente, deveremos retirar o desgaste do stock de capital existente que a produogerou, ou seja, deveremos retirar as amortizaes ao agregado PIB. O conceitode Produto Interno Lquido pretende dar o verdadeiro valor da produo de bense servios que se produziram num pas e num determinado ano, e dado pelaseguinte expresso

    PIL PIB Am

    Rendimento Nacional

    Juntando estes dois novos conceitos o de Produto a custo de factores eo de Produto lquido da depreciao do capital ao de Produto Nacional etermos um novo conceito: o conceito de rendimento nacional (Y ): Este conceito equivalente ao Produto Nacional Lquido a custo de factores e pretende mediro rendimento gerado no processo produtivo e distribudo por todos os factoresprodutivos exclusivamente nacionais. Assim, para calcularmos o RendimentoNacional a partir do PIBpm; teremos que somar a este valor o saldo lquido dosrendimentos dos factores produtivos do exterior (RFX)4 pois este saldo lqui-do inclui entradas de rendimentos provenientes dos factores produtivos nacionaisaplicados no exterior (RFNX), menos as sadas de rendimentos de factores es-trangeiros aplicados na nosso territrio (RFXI) ou seja, RFX = RFNX RFXI. Teremos tambm de deduzir as amortizaes do capital (Am); pois estas noconstituem rendimento gerado no ano que estamos a considerar; e temos nal-mente de deduzir os impostos indirectos lquidos de subsdios (TIZ); em virtudedestes alterarem articialmente o verdadeiro rendimento gerado no processo deproduo.

    Assim camos com a seguinte expresso para o nvel do rendimento nacional

    Y PNBcf PIBpm + RFX Amort (TI Z)

    Esta expresso dnos o nvel do rendimento gerado pelos factores produtivosnacionais independentemente do local geogrco onde a sua produo ocorre,subtrado do desgaste que esses factores produtivos sofrem durante a produo

    4 Lembrese que o termo lquido aqui no tem a ver com amortizaes de capital, mas simo saldo em termos lquidos dos rendimentos de factores produtivos: entradas menos sadas derendimentos dos factores produtivos nas relaes econmicas com o exterior.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 21

    e considerando a produo efectivamente gerada por esses factores produtivos.Isto , dnos o verdadeiro valor do rendimento gerado num determinado ano(ou perodo) por todos os factores produtivos nacionais aplicados na produode bens e servios.

    Rendimento Disponvel das Famlias

    A partir da expresso do rendimento nacional (que distribudo pelos fac-tores produtivos nacionais), podemos chegar a mais um importante conceitomacroeconmico, o de rendimento disponvel das famlias (YD). Este conceitopretende fornecer uma estimativa do nvel do rendimento de que dispem asfamlias nacionais para afectarem ao consumo privado de bens e servios naise poupana.

    Partindo do conceito de rendimento nacional, teremos que lhe subtrair osimpostos directos cobrados pelo estado sobre esse rendimento das famlias (T ),adicionarlhe as transferncias unilaterais que o Estado canaliza para as famlias(ou seja transferncias internas, TRI), adicionar as transferncias que as famliasrecebem do exterior (TRX);e nalmente adicionar tambm os juros da dvidapblica (JP ); j que estes representam um rendimento resultante do investimentonanceiro das famlias junto do Estado. Temos assim

    YD = Y T + TRI + TRX + JP

    1.3 ndices de PreosDe uma forma breve, ndices de preos so sries de nmeros (ou ndices), cu-jo valor no ano de base da srie igual a 1 ou a 100%, e que servem paratransformar variveis nominais (ou seja, medidas a preos correntes) em var-iveis expressas em termos reais ou em preos constantes. Dito de outra forma,so sries que servem para expurgar a inao/deao das sries de variveismacroeconmicas medidas a preos correntes.

    O objectivo fundamental da contabilidade nacional medir o nvel e a vari-ao de variveis macroeconmicas em termos reais e no em termos nominais.No entanto, como existe um vasto nmero de bens e servios e, consequente-mente, um vasto nmero de preos dos mesmos bens e servios, e como preose quantidades podem variar de ano para ano, o valor de mercado da produodos mesmos pode resultar de:

    Variao das quantidades produzidas

    Variao dos preos;

    Variao de preos e das quantidades produzidas.

    Como saber se a variao do valor de mercado resultou de um mero aumentode preos? Ou de um aumento real da produo, ou de ambos? E se ambosaumentaram, qual a proporo de aumento de cada um? Os ndices de preospermitem dar resposta a estas questes e permitem, portanto, calcular o ver-dadeiro (ou aproximado) aumento real da produo de bens e servios ao longo

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 22

    de um determinado perodo de tempo, retirando o efeito da inao sobre o valornominal da produo ao longo deste perodo.

    Um exemplo muito simples serve para claricar a natureza e a importnciados ndices de preos. Suponha que numa dada economia s existe um bemhamburgers, (h), sendo o preo de cada hamburger designado por Ph. O valornominal da produo (V Nh) nesta economia dado pelo produto V Nh = hPh. Caso o nvel de preos dos hamburgers permanecesse constante, uma alter-ao no valor da produo apenas poderia advir de uma alterao no nmerode hamburgers produzidos. Por exemplo, se a produo h aumentasse em 10%num dado ano (ou trimestre), o valor monetrio aumentaria tambm em 10%.Por outro lado, se h se mantiver constante e se Ph aumentar em 5% num dadoperodo de tempo, poderemos tambm concluir que o valor nominal da produode hamburgers aumentou em 5%. No entanto, neste ltimo caso o valor efecti-vamente produzido de hamburgers (ou seja o seu valor real) no sofreu qualqueralterao, pelo que o valor nominal aumentou apenas devido inao.

    Portanto, quando pretendemos saber quanto varia o valor da produo debens e servios numa economia necessrio ter em considerao que existem doisvalores que nos do uma indicao sobre esta variao: o valor nominal, e o valorreal. Estes valores so ambos expressos numa unidade de moeda nacional (porexemplo Euros). No entanto, enquanto que o primeiro tem em si incorporada ainao, o valor real um valor ao qual foi retirada a inao. Isto , o valor real um valor monetrio que resulta de uma situao onde os preos permanecemconstantes ao longo do tempo.

    1.3.1 O que so ndices de preos?A forma de retirar esta inao s variveis expressas em termos nominais (ouseja, transformar valores nominais em valores reais) consiste na aplicao dendices de preos do seguinte modo

    V Rh =V NhPIh

    (IP)

    sendo V Rh o valor real, V Nh o valor nominal, e PIh o ndice de preos que nosd a variao dos preos dos hamburgers entre dois perodos de tempo.5 Noano/perodo base, ou ano 0, o valor do ndice igual a 1 (ou a 100 por cento).

    Um exemplo muito simples permite ilustrar como se aplica um ndice depreos. Suponha que num dado ano (t = 0) so produzidos 1000 hamburgers eo preo dos mesmos de 3 Euros cada. Neste caso o valor nominal da produode hamburgers de

    V Nh(0) = h0 Ph(0) = 1000 3= 3000 Euros

    Como no mesmo perodo de tempo no existe inao (j que a inao s podeexistir entre dois perodos de tempo), portanto o ndice de preos P Ih = 1 no

    5 A lgica da apresentao do ndice de preos a seguinte: P reecte preos, I representandice. h representa aqui o bem ou serviosobre o qual o ndice incide.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 23

    ano base, ento o valor real igual ao valor nominal:

    V Rh(0) =V Nh(0)P Ih(0)

    =V Nh(0)

    1= V Nh(0)

    No ano t = 1 vericase, relativamente ao ano anterior, um aumento de 3%na produo de hamburgers, enquanto que os preos dos mesmos aumentaramem 5%. Neste caso, o valor nominal ser igual a

    V Nh(1) = h1 Ph(1) = 1000(1 + 0:03) 3(1 + 0:05)= 3244: 5 Euros

    representando um aumento de 8:15% relativamente ao valor do ano anterior.Mas quanto aumentou o valor real da produo de hamburgers? Certamente

    no aumentou 8:15% por que houve inao. Vejamos, sabemos que os preosaumentaram em 5%, portanto o PIh do ano t = 1 ser superior ao seu valorno ano t = 0 em 5%, ou seja P Ih(1) = P

    Ih(0)(1 + 0:05) = 1(1 + 0:05); portanto

    P Ih(1) = 1:05: Agora fcil determinar o valor real, bastando para tal aplicar afrmula ndice de preos acima apresentada

    V Rh(1) =V Nh(1)PIh(1)

    =3244: 51:05

    = 3090 Euros

    Portanto, o valor real da produo aumentou apenas em 3% j que 3090=3000 =1:03 e no os 8:15% que correspondem ao aumento do valor nominal da produo.

    1.3.2 Construo de ndices de PreosNo exemplo que acabmos de apresentar existia apenas um bem e apenas umpreo pelo que se torna bastante simples medir quer a variao das quantidadesproduzidas quer a variao dos preos de hamburgers entre dois perodos detempo. Contudo, na realidade econmica das sociedades em que vivemos istono acontece, existindo uma grande variedade de bens e servios e, consequente-mente, tambm um grande nmero de preos cujas variaes tm que ser levadasem considerao para se poder obter valores reais. Por outro lado, existem bensque vo sendo substitudos por novos bens e que, portanto, desaparecem da pro-duo de uma economia. No entanto, isto no representa um impedimento poispodemos generalizar a partir da abstraco que apresentamos de seguida.

    Suponha que existe um somatrio de bens i = 1; 2; 3; 4:::N produzidos comas quantidades Qi e sendo transaccionados aos preos Pi. O bem 1 pode serhamburgers (conforme acima h), o bem 2 computadores (que podem ser des-ignados por c), o bem 3 sapatos, etc. Existem quatro formas alternativas deconstruir ndices de preos utilizando informao sobre este somatrio de bens.Estes ndices so designados por ndice de Laspeyres, ndice Paashe, ndice deFisher, e nalmente um ndice em cadeia. Como iremos ver, os trs primeirospressupem a existncia de um ano base para a sua construo, enquanto queo quarto (ou seja, o ndice em cadeia) no pressupe a existncia de um anobase. Resta dizer que o ndice de preos em cadeia hoje em dia o ndice mais

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 24

    utilizado a nvel internacional para deacionar variveis nominais por razes queiro ser explicadas mais abaixo.

    Paashe Index

    Vamos determinar o ndice para dois perodos de tempo, o ano base quedesignamos por perodo 0 e um outro que designamos por ano t (este t pode serigual a 1, 2, 3, etc.). O valor deste ndice para o ano t relativamente ao ano base designado pela sigla PPt e dado pela seguinte expresso

    PPt =PN

    i=1 Qi(t) Pi(t)PNi=1 Qi(t) Pi(0)

    (1.5)

    Como facilmente observa o nico elemento na fraco acima que est expressoem termos do ano base so os preos no denominador.

    Exemplo. Suponha que tem os dois bens hamburgers: (h) e computadores(c). O ndice de Paashe entre os perodos 0 e 1 ser dado pela razo

    PPt =h1 Ph(1) + c1 Pc(1)h1 Ph(0) + c1 Pc(0)

    (1.6)

    Laspeyres Index

    O valor deste ndice para o ano t relativamente ao ano base designado pelasigla PLt e dado pela seguinte expresso

    PLt =PN

    i=1 Qi(0) Pi(t)PNi=1 Qi(0) Pi(0)

    (1.7)

    Neste caso, o nico elemento na determinao do ndice que est expresso emtermos do ano t so os preos no numerador. Todos os restantes esto expressosem termos do ano base (ou seja, 0).

    Exemplo. Continuando com os dois bens hamburgers (h) e computadores (c);o ndice de Laspeyres entre os perodos 0 e 1 ser dado pela razo

    PLt =h0 Ph(1) + c0 Pc(1)h0 Pc(0) + c0 Pc(0)

    (1.8)

    ndice de Fisher

    Conforme podemos facilmente vericar nos rcios dos dois ndices acima,em ambos as quantidades so xas e o que varia so os preos. Note aindaque em ambos os ndices, a variao de preos do ano t relativamente ao ano0 aparece da mesma forma em ambos os ndices, ou seja o termo Pi(t)=Pi(0) comum ao clculo dos dois ndices. Portanto, o que varia a forma como asquantidades so xadas nos ndices. No primeiro as quantidades so mantidasxas relativamente ao ano corrente (ano t), enquanto que no caso do ndiceLaspeyres elas so mantidas xas mas relativamente ao ano base (ano 0).

    Isto implica que o ndice de Laspeyres tende a sobreestimar o efeito de vari-aes nos preos sobre a evoluo da actividade econmica porque as quantidades

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 25

    so xadas relativamente ao ano 0. Ou seja, porque as quantidades podem variarentre os dois perodos, mas so mantidas arbitrariamente como constantes emambos os perodos para o clculo do valor do ndice, ento, qualquer variao novalor do ndice resulta apenas das variaes nos preos entre os dois perodos detempo. Assim, as variaes nas quantidades aparecem subestimadas no valorapresentado por este ndice relativamente ao verdadeiro impacto das mesmassobre a produo em termos reais.

    Por outro lado, pelo mesmo tipo de raciocnio mas em termos inversos, ondice de Paashe tende a sobreestimar o efeito de variaes nas quantidades ou seja, tende a subestimar o efeito de variaes nos preos sobre a determinaodo valor do ndice em virtude de xar as quantidades relativamente ao anocorrente. Estas questes podem ser facilmente conrmadas no exemplo sobrendices de preos que apresentado mais abaixo.6

    Uma forma expedita de evitar os problemas de estimao associados a estesdois ndices consiste em determinar uma mdia geomtrica dos dois, a qual normalmente conhecida pelo ndice de Fisher (PFt ) e determinada pela expresso

    PFt =q

    PPt PLt (1.9)

    Este novo ndice importante porque elimina o problema da sub/sobre esti-mao do efeito dos preos.

    No entanto existe um outro problema que extremamente importante, pelomenos no que diz respeito anlise do funcionamento da economia no curtoprazo. Como os ndices Paashe e Laspeyres so ambos construdos sobre umesquema em que se admite a existncia de um ano base, cada vez que se muda oano base reescrevese a histria da economia relativamente s variveis medidasem termos reais, as quais so no m de contas as mais importantes para analisara evoluo da economia e do bem estar social. Esta alterao da histria dosprincipais agregados macroeconmicos acaba por ser feita praticamente em todasas dcadas, em virtude de ser conveniente ter o ano base relativamente prximodo perodo em que vivemos, e esta alterao dos dados estatsticos no somenteinconveniente do ponto de vista estatstico, como pode ser inaceitvel do pontode vista poltico.7

    ndice em Cadeia

    Uma forma de evitar a regular mudana da histria econmica consiste empassar a utilizarse um ndice de base mvel. Para este efeito, em meados dadcada de 90 passouse a utilizar nos EUA, e em vrios pases da OCDE, ondice PFt somente que agora o ano base vai sendo sempre o ano anterior, ano

    6 Por exemplo, os ndces de variaes de preos nos bens de consumo das famlias (normal-mente designado por IPC ndice de preos no consumo ou taxa de inao conforme expressa na comunicao social) e o ndice de preos na produo (IPP) so determinadossegundo a lgica de Laspeyres. A antiga forma de determinar o ndice de preos do PIB seguiaa lgica de Paashe, e foi abandonada em meados da dcada de 90 nos EUA e em outros pasesda OCDE.

    7 H quem sustente que caso fosse utilizada uma forma diferente de construir ndices depreos o ndice de preos em cadeia, que iremos apresentar de seguida os resultados daseleies para a presidncia dos EUA em 1992 poderiam ter sido diferentes, em virtude destaapresentar uma crise econmica menos acentuada do que os ndices de preos convencionais.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 26

    aps ano (ou perodo aps perodo). Esta a losoa fundamental do ndice debase mvel ou em cadeia.

    Suponha que o tempo decorre de forma discreta (t) ; com t = 0; 1; 2; 3; :::,em que o subscrito colocado numa varivel reecte o ano em que medimos ovalor da varivel. Assim, P0 o valor de P no ano zero, ou seja no ano base;enquanto que P1 o valor do ano seguinte ao ano base, P2 o ano aps P1; e assimconsecutivamente. extremamente importante que retenha que o ano base denido pelo subscrito 0.

    Para se deacionar o PIB devemos percorrer os seguintes passos.

    i. Calculamse os ndices PPt e PLt de um ano sempre relativamente ao anoanterior (t e t 1) a partir do ano base (t = 0). Ou seja, calculamse osndices PP(t ; t1) e P

    L(t ; t1): De outra forma ainda, calculamse os ndices

    PPt e PLt entre os perodos t : 0 ! 1 ! 2 ! 3 ! 4 ! :::; e assimsucessivamente.8

    ii. Utilizando os resultados do passo anterior, aplicase a frmula do ndicede Fisher para determinar o valor de PF(t ; t1); que nos d a indicaoda variao dos preos relativamente ao ano anterior a partir do ano base(t = 0): Os perodos so os mesmos: t : 0 ! 1 ! 2 ! 3 ! 4 ! ::: .

    iii. No prximo passo, temos de calcular um ndice que mea a evoluo dospreos no de ano para ano, mas sim entre o ano base (t = 0) e qualquerano t = T , com t = 0; 1; 2; 3; :::; T . Para tal calculamos o ndice de Fisherem cadeia, o qual calculado do seguinte modo:9

    PFC(t ; 0) = PF(t ; t1) PFC(t1 ; 0) (1.10)

    Desta forma, repare que este ndice acaba por ligar o ano t ao ano t = 0atravs do seguinte processo, e isto pode ser visto olhando para a sequnciados subscritos de tempo no lado direito da equao acima

    t (t 1) (t = 0)

    cando a srie do ndice de preos a ligar os anos 0 ! t, num processoem cadeia e expresso em termos do valor da moeda do ano base. Esteprocesso parece complicado mas de facto bastante simples. Na Figura1.2 apresentamos uma visualizao grca dos passos (ii) e (iii) inerentesao processo de obteno do ndice de preos de Fisher em cadeia.

    8 Note que este procedimento diferente do caso em que os ndices so calculados relati-vamente a um ano base, onde os mesmos so calculados entre os anos t = 1; 2; 3; 4; :::: massempre relativamente ao ano de base (t0):

    9 A expresso do ndice a seguinte: PFC(t ; 0) = PF(t ; t1) PFC(t1 ; 0): Note que PF(t ; t1)

    d uma indicao da evoluo dos preos entre t e t 1 mas sem ser ir mudando a base. Poroutro lado, PFC(t1 ; 0) d uma indicao da evoluo dos preos entre ano base (0) e o ano t1;mas j colocando o processo em cadeia. Portanto, PF(t ; t1)PFC(t1 ; 0) reecte a variao dospreos entre o ano base (0) e o ano t; e para alm disso garante que a base vai mudando anoaps ano.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 27

    Anos I. P. de Fisher I. P. Fisher em Cadeia

    t = 0 : PF0,0 = 1 PFC0,0 = 1

    t = 1 : PF1,0 = x1 PFC1,0 = PF1,0 PFC0,0

    t = 2 : PF2,1 = x2 PFC2,0 = PF2,1 PFC1,0

    t = 3 : PF3,2 = x3 PFC3,0 = PF3,2 PFC2,0

    Figura 1.2: A representao grca do processo lgico para construir ndices deFisher em cadeia.

    iv. Finalmente, para expurgar a evoluo dos preos da srie nominal dividese o valor nominal da produo pelo ndice PFC(t;0) para se obter o valor realda produo

    V Rt =V NtPFC(t;0)

    Concluso

    Do estudo dos ndices de preos deve reter duas importantes concluses parao estudo da macroeconomia:

    1. Para transformar uma varivel nominal numa varivel real deve dividir aprimeira pelo ndice de preos, ou seja pelo deator. Um valor real continuaa ser um valor expresso numa dada moeda nacional, s que agora comose os preos permanecessem constantes ao longo do tempo

    PIBreal =PIBnominal

    PFC

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 28

    2. O ndice de preos correntemente mais utilizado o ndice de Fisher, tendosempre o ano anterior como o ano base, e aplicado em cadeia. Por exemplo,O PIB em termos reais para o ano de 1999 determinado pela expresso

    PIBreal(1999) =PIBnominal(1999)PFC(1999; ano base)

    1.4 ndices de Preos: Um ExemploSuponha que na economia Ecolndia produzemse apenas dois tipos de bens:hamburgers (h) e computadores (c). A produo destes dois bens, bem como opreo unitrio de cada um dos bens, encontramse na Tabela 1. As colunas 1e 3 apresentam as quantidades produzidas de hamburgers e computadores (Q),enquanto que as colunas 2 e 4 fornecem os preos (P ) de cada um destes bens.

    O valor da produo medido em termos nominais de cada um dos bens obtido atravs da multiplicao do preo pela respectiva quantidade (V Ni =Pi Qi); sendo i = h; c. O valor do PIB nominal o somatrio do valor daproduo nominal de hamburgers (coluna 5) com o valor nominal da produo decomputadores (coluna 6). Este o valor para cada um dos anos apresentado pelacoluna 7. Por sua vez a taxa de crescimento do PIB em termos nominais dadapela expresso g = (PIBt PIBt1) =PIBt1; cujos valores esto apresentadosna coluna 8.

    Como se pode facilmente constatar nesta tabela, ao longo dos anos vericaramse alteraes quer nas quantidades produzidas de cada bem, quer nos preos dosmesmos. Como poderemos saber qual foi a taxa de crescimento do valor real doPIB? Temos de utilizar os ndices de preos para responder a esta questo. Co-mo iremos ver, a utilizao de diferentes ndices fornece diferentes valores paraesta taxa de crescimento.

    Tabela 1: PIB nominal e taxas de crescimento

    Anos Hamburgers Computadores Hamburgers Computadores PIB Nominal

    Q P Q P PxQ PxQ ValorTaxa

    Crescimento

    [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8]

    1992 550 2 100 50 1100 5000 6100

    1993 500 2.3 120 45 1150 5400 6550 0.074

    1994 470 2.7 150 40 1269 6000 7269 0.110

    1995 450 3 200 35 1350 7000 8350 0.149

    1.4.1 ndices de base xaPrimeiro vamos proceder ao clculo do valor dos vrios ndices em base xa.Depois iremos apliclos para obter o valor real para o PIB, bem como sas taxasde crescimento deste agregado.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 29

    Clculo dos ndices

    Suponhamos que o ano base o de 1992. Portanto, como no pode existir inaodentro da mesma unidade de tempo (apenas entre dois perodos de tempo podeexistir inao), no ano base todos os ndices tero o valor igual unidade. Osresultados para os vrios ndices, e para os anos considerados neste exemplo,podem ser encontrados na Tabela 2. Vamos descrevlos de seguida.

    Tabela 2

    A n o s nd ic e s d e P r e o s P I B R e a l e m B a s e F i xa a p reos de 1992 ( nd i ce de Paashe )

    L a s p e y r e s P a a s h e F isher

    [1 ] [2 ] [3 ]

    1 9 9 2 1 1 1

    1 9 9 3 0 .945 0 .936 0 .940

    1 9 9 4 0 .899 0 .861 0 .880

    1 9 9 5 0 .844 0 .766 0 .804

    ndice de Laspeyres. A frmula deste ndice dada pela equao (1.8).Aplicando a frmula aos vrios anos obtemos os resultados da coluna 1 da Tabela2. Por exemplo, para o ano de 1994 o valor do ndice vir 10

    PL94 =h0 Ph(1) + c0 Pc(1)h0 Pc(0) + c0 Pc(0)

    =550 2:7 + 100 40550 2 + 100 50

    = 0:899

    ndice de Paashe. A frmula deste ndice dada pela equao (1.6). Apli-cando a frmula aos vrios anos obtemos os resultados da coluna 2 da referidatabela. Para o mesmo ano de 1994 o valor deste ndice ser diferente do valoranteriormente calculado, vindo neste caso

    PP94 =h1 Ph(1) + c1 Pc(1)h1 Ph(0) + c1 Pc(0)

    =470 2:7 + 150 40470 2 + 150 50

    = 0:861

    ndice de Fisher. A frmula deste ndice dada pela equao (1.9). Apli-cando a frmula aos vrios anos obtemos os resultados da coluna 3 da Tabela 2.Por exemplo, para o ano de 1994 o valor deste ndice de

    PF94 =q

    PP94 PL94= 0:879 ' 0:88

    Aplicao dos ndices

    Depois do clculo dos vrios ndices para o perodo considerado, poderemoscalcular o valor real do PIB para o os vrios anos. Iremos utilizar o ndice deLaspeyres e de Paashe para este efeito.

    10 Utilizando a mesma frmula, calcule os valores para os restantes anos para este ndice.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 30

    Na Tabela 3 apresentamos os clculos para o PIB real atravs da aplicaodo ndice de Laspeyres. Na coluna 1 temos o valor do ndice de preos para osvrios anos (o qual j foi atrs calculado). Na coluna 2, obtemse o valor realdo PIB atravs do mtodo convencional de transformar variveis monetrias emreais, aplicando a seguinte frmula para cada um dos anos do perodo em questo

    PIBreal =PIBnominal

    PIPIB

    Por exemplo, no ano de 1993, o valor real calculado do seguinte modo

    PIBreal (93) =PIBnominal (93)

    PIPIB(93)

    =65500:945

    = 6931:2 ' 6931

    Na coluna 3 calculamos a taxa de crescimento do PIB real para os vrios anos,utilizando os valores da coluna 2, e como se poder facilmente constatar estastaxas so diferentes das taxas de crescimento do PIB em termos nominais.11 Acoluna 4 uma mera cpia dos valores do ndice da coluna 1, e na coluna 5apresentamos os valores para a taxa de inao segundo o ndice de preos deLaspeyres. Esta taxa de inao calculada usando o mtodo convencional detaxas de crescimento (neste caso, crescimento do ndice de preos):

    taxa de inao = pt =PLt PLt1

    PLt1

    Para o ano de 1993, a taxa de inao de p93 =PL93 PL92

    =PL92 = (0:945

    1)=1 = 0:055:

    Tabela 3: PIB real em base xa: ndice de Laspeyres

    Anos ndice Preos PIB Real - Base Fixa a preos de 1992 (Laspeyres)

    Laspeyres ValorTaxa

    CrescimentoIP mplicito base fixa

    Taxa de inflao

    [1] [2] [3] [4] [5]

    1992 1 6100 1

    1993 0.945 6931 0.136 0.945 -0.055

    1994 0.899 8084 0.166 0.899 -0.049

    1995 0.844 9890 0.223 0.844 -0.061

    11 Compare com coluna 8, Tabela 1.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 31

    Na Tabela 4 apresentamos os clculos para o PIB real atravs da aplicaodo ndice de Paashe. O processo de apresentao e clculos totalmente semel-hante ao que zemos acima com o ndice anterior. Na coluna 1 temos o valor dondice de preos, na coluna 2 o valor real do PIB (calculado atravs da divisodo PIB nominal pelo valor do ndice de preos na coluna anterior), e na coluna 3apresentamos a taxa de crescimento do PIB real utilizando os valores da coluna2. Finalmente, a coluna 4 uma mera cpia dos valores da coluna 1, e a coluna5 mostra a taxa de inao que resulta do clculo da variao de preos segundoo ndice de Paashe.

    Tabela 4: PIB real em base xa: ndice de Paashe

    Anos ndice Preos PIB Real - Base Fixa a preos de 1992 (Paashe) PIB Real em Base Fixa a preos de 1992 (ndice de Laspeyres)

    Paashe ValorTaxa

    CrescimentoIP mplicito base fixa

    Taxa de inflao

    [1] [2] [3] [4] [5]

    1992 1 6100 1

    1993 0.936 7000.0 0.148 0.936 -0.064

    1994 0.861 8440.0 0.206 0.861 -0.080

    1995 0.766 10900.0 0.291 0.766 -0.111

    Conforme referimos acima, quando apresentmos os conceitos dos ndicesde preos, o ndice de Laspeyres tende a sobreestimar o efeito de variaesnos preos sobre a evoluo da actividade econmica porque as quantidadesso xadas relativamente ao ano 0. Por outro lado, o ndice de Paashe tendea sobreestimar o efeito de variaes nas quantidades ou seja, tende a subestimar o efeito de variaes nos preos sobre a determinao do valor realdo PIB em virtude de xar as quantidades relativamente ao ano corrente.Agora podemos conrmar estas concluses com uma simples gura, utilizandoos valores deste exemplo.

    Na Figura 1.3 apresentamos dois painis, um com a evoluo dos preossegundo estes dois ndices (o grco superior), outro com a evoluo do PIBem termos reais a partir dos mesmos ndices. Qual dos ndices nos apresentaum ndice de preos mais elevado? Ou seja, qual dos dois ndices atribui maiorimportncia variao de preos? No primeiro painel desta gura podese facil-mente vericar que isto acontece relativamente ao ndice de Laspeyres, j queeste encontrase sempre acima dos valores apresentados pelo ndice de Paashe.Ou seja, isto conrma a alegao de que o ndice de Lapeyres tende a sobreesti-mar a variao de preos. Por outro lado, se um ndice sobrestima variaes nospreos, isto equivalente a subestimar o valor real do PIB. No painel inferiorda Figura 1.3, podese facilmente conrmar que o valor real do PIB segundo ondice de Laspeyres encontrase sempre abaixo do valor equivalente calculado apartir do ndice de Paashe.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 32

    -0.120

    -0.110

    -0.100

    -0.090

    -0.080

    -0.070

    -0.060

    -0.050

    -0.040

    -0.030

    -0.020

    1993 1994 1995

    Paashe Laspeyr

    6000

    6500

    7000

    7500

    8000

    8500

    9000

    9500

    10000

    10500

    11000

    1992 1993 1994 1995

    Paashe

    Laspeyr

    Figura 1.3: A inao medida atravs dos ndices de preos de Laspeyres ePaashe em base xa (painel superior). O nvel do PIB real segundo os doisndices (painel inferior).

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 33

    Conforme foi referido atrs, uma forma de evitar o enviezamento dos doisndices de preos acima calculados, consiste no clculo do ndice de Fisher emcadeia. isso que iremos fazer de seguida.

    1.4.2 ndice de Fisher em CadeiaPara perceber bem os clculos seguintes convm recordar os passos que deveroser percorridos para obter os valores para este ndice (vide os passos i a iii naexplicao terica do mesmo). Os valores calculados para este ndice encontramse na Tabela 5.

    As colunas 1 e 2 apresentam os valores para os ndices de Paashe e Laspeyrescalculados sempre de um ano relativamente ao ano anterior. Note que estesvalores so diferentes dos valores calculados para estes ndices com base xa de1992 , conforme Tabela 2. A coluna 3 apresenta o valor do ndice de Fisher comoa mdia geomtrica dos dois ltimos ndices, e os clculos seguem o processonormal.

    A determinao do valor do ndice de Fisher mas em cadeia (coluna 4) aparte mais elaborada do exerccio. Este ndice calculado segundo a equao(1.10)

    PFC(t ; 0) = PF(t ; t1) PFC(t1 ; 0)

    Por exemplo para calcularmos o valor do ndice em cadeia para o ano de 1994,a preos de 1992, teremos de calcular os seguintes valores usando o esquemalgico da Figura 1.2

    PFC(94 ; 92) = PF(94 ; 93) PFC(93 ; 92)

    = 0:934 0:940 = 0:8779 ' 0:878

    Para o ano de 1995 o ndice tem o seguinte valor

    PFC(95 ; 92) = PF(95 ; 94) PFC(94 ; 92)

    = 0:911 0:878 = 0:799 ' 0:8

    Tabela 5: O clculo do ndice de Fisher em cadeia

    Anos ndices de Preos PIB Real em Cadeia a preos de 1992

    Laspeyres Paashe FisherIP mplicito (Fisher em

    cadeia)Valor

    Taxa Crescimento

    Taxa de inflao

    [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7]

    1992 1 1 1 1 61001993 0.945 0.936 0.940 0.940 6965.22 0.142 -0.0601994 0.939 0.928 0.934 0.878 8279.85 0.189 -0.0661995 0.916 0.906 0.911 0.800 10438.52 0.261 -0.089

    Por sua vez, o valor do PIB em termos reais obtido atravs da diviso dovalor do PIB nominal em cada ano pelo ndice de preos em cadeia agora calcu-lado, e este valor real do PIB encontrase na coluna 5. A taxa de crescimento

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 34

    -0.112

    -0.102

    -0.092

    -0.082

    -0.072

    -0.062

    -0.052

    -0.0421993 1994 1995

    Laspeyres Paashe Fisher Cadeia Fisher

    Figura 1.4: A representao grca dos vrios ndices de preos consideradosneste exemplo.

    do PIB em termos reais est apresentada na coluna 6, sendo calculada com ainformao disponvel na coluna anterior. Finalmente na coluna 7 encontramosos valores da taxa de inao, os quais foram obtidos sabendo que a taxa de in-ao pode ser dada pela taxa de crescimento do ndice de preos; desta forma,esta taxa obtida como o crescimento do ndice de preos presente na coluna 4.

    Agora poderemos confrontar a evoluo de todos os ndices que calculmosneste exemplo. Na Figura 1.4, encontramse representados trs ndices constru-idos em base xa: Paashe, Laspeyres e Fisher; e um ndice em cadeia, o ndicede Fisher em cadeia. Como se pode ver, os ndices de Fisher funcionam comomdias dos ndices de Paashe e de Laspeyres. Os ndices de Fisher (simples e emcadeia) tm uma evoluo sem grandes diferenas, no entanto, isto vericaseporque no existiu qualquer mudana de base neste exemplo. Caso existisse estamudana de base, os ndices apresentariam diferentes resultados relativamente variao de preos.

    Como foi j referido, o ndice de Fisher em cadeia representa uma mdiageomtrica dos ndices de Paashe e de Laspeyres, evitando, portanto, sobreesti-mar quantidades ou preos. Por outro lado, este ndice permite ainda evitar osproblemas associados ao reescrever da histria dos principais agregados macroe-conmicos que normalmente resultam da mudana do ano de base. Devido aestas duas razes, o ndice de Fisher em cadeia um indicador mais vel daverdadeira variao mdia dos preos numa economia e, por isto, hoje em diao ndice de preos mais rigoroso (e o mais utilizado) para permitir medir o PIBem termos reais.

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 35

    1.5 Questes importantes para recordar Qual o objectivo principal da Contabilidade Nacional?

    Dena o conceito de PIB.

    Distinga entre:

    i) valorizao em termos reais e nominais;ii) valorizao a preos de mercado e a custo de factores;iii) produto bruto vs produto lquido;iv) produto nacional vs produto interno.

    Quais so as principais formas de nanciamento da Balana Corrente(BC)?

    O que so ndices de preos? Para que servem?

    Quais so os ndices de preos que conhece?

    O que um ndice de preos em cadeia?

  • Apndice A

    As Causas dos Dces naBalana Corrente

    Existe uma forma mais expedita de demonstar as causas dos dces da balanacorrente. No texto do captulo, percorremos as diferentes etapas, passo porpasso, no sentido de evitar demonstraes algbricas que poderiam tornarseum pouco mais exigentes. Neste apendice vamos mostrar como se poderia faxera demosntrao rapidamente, incluindo j a distino entre a poupana pblicada poupana privada.

    Recuperando a equao onde relacionamos o PNB com a despesa nacional ecom o saldo da balana corrente, a qual dada pela equao (1.2)

    PNB + TRX C + G + I + [(X F ) + RFX ] + TRX| {z }BC

    e que pode, portanto, ser reescrita como PNB + TRX C + G + I +BC . Podemos subtrair a ambos os membros desta ltima equao o termo(C + RecP), vindo esta

    PNB + TRX (C + RecP) C (C + RecP) + G + I + BCque pode ainda ser simplicada, cando

    PNB + TRX C RecP| {z }poupana privada

    (RecP G)| {z }saldo oramental

    + I + BC

    Repare-se que, no primeiro membro da equao anterior temos a expresso dapoupana privada (SP ), enquanto que a expresso (RecP G) que se encontrano segundo membro corresponde ao saldo oramental (BG), portanto, a equaopode ser apresentada por

    SP BG + I + BCou, pondo em evidncia o saldo da balana corrente, podemos ter

    BC SP + BG I

    36

  • 2. MEDIO DA ACTIVIDADE ECONMICA 37

    Esta ltima equao repe uma concluso anterior, a de que o saldo daBalana Corrente resulta da diferena entre a poupana nacional (composta pelapoupana pblica e pela poupana privada) e o nvel da despesa de investimentoem bens e servios.