cap 5 -6 - 7

39
97 5 Estrutura dos compostos com substituintes funcionais A conexão de carbonos com hibridação sp 3 , leva a formação de alcanos e cicloalcanos, quando no encadeamento temos apenas carbono e hidrogênio. No entanto, se ocorrer à presença de outros átomos no encadeamento, como o oxigênio, nitrogênio e halogênio ocorrerá a formação respectivamente de funções oxigenadas, nitrogenadas e halogenadas. Os alcanos e cicloalcanos já foram estudados no capítulo 4, desta forma passaremos ao estudo das funções oxigenadas, nitrogenadas e halogenadas (haloalcanos). 5.1 Compostos oxigenados A função orgânica é denominada de álcool, quando o encadeamento de carbono apresentar a hidroxila ligada diretamente a carbono sp 3 (figura 5.01). No grupo hidroxila se encontra o centro reativo da molécula, onde pode correr a cisão heterolítica nas ligações carbono-oxigênio e oxigênio-hidrogênio. Grupo funcional hidroxila Carbono sp 3 primário CH 3 CH 2 OH Centro reativo da molécula a) Álcool Figura 5.01. Estrutura do etanol. De acordo com o posicionamento da hidroxila na cadeia carbônica, o álcool pode ser classificado em primário, secundário e terciário, desde que a hidroxila se encontre ligada à carbono primário, secundário e terciário. H H H H H H CH 3 CH 3 CH 3 OH OH OH CH 3 OH CH 2 CH 2 OH (CH 3 ) 2 CHOH Metanol Etanol 2-Propanol 1 2 3 Álcool primário Álcool secundário

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Page 1: cap  5 -6 - 7

97

5 Estrutura dos compostos com substituintes funcionais

A conexão de carbonos com hibridação sp3, leva a formação de alcanos e cicloalcanos, quando no encadeamento temos apenas carbono e hidrogênio. No entanto, se ocorrer à presença de outros átomos no encadeamento, como o oxigênio, nitrogênio e halogênio ocorrerá a formação respectivamente de funções oxigenadas, nitrogenadas e halogenadas. Os alcanos e cicloalcanos já foram estudados no capítulo 4, desta forma passaremos ao estudo das funções oxigenadas, nitrogenadas e halogenadas (haloalcanos). 5.1 Compostos oxigenados

A função orgânica é denominada de álcool, quando o encadeamento de carbono apresentar a hidroxila ligada diretamente a carbono sp3 (figura 5.01). No grupo hidroxila se encontra o centro reativo da molécula, onde pode correr a cisão heterolítica nas ligações carbono-oxigênio e oxigênio-hidrogênio.

Grupo funcional hidroxila

Carbono sp3 primárioCH3CH2OH

Centro reativo da molécula

a) Álcool

Figura 5.01. Estrutura do etanol.

De acordo com o posicionamento da hidroxila na cadeia carbônica, o álcool pode ser classificado em primário, secundário e terciário, desde que a hidroxila se encontre ligada à carbono primário, secundário e terciário.

H

H

H H

H H

CH3

CH3

CH3

OH OH OH

CH3OHCH2CH2OH (CH3)2CHOH

Metanol Etanol 2-Propanol

1 2

3

Álcool primário Álcool secundário

Page 2: cap  5 -6 - 7

98

Análise da estrutura de um álcool secundário.

CH3CHOHCH 3

H3CCH

CH3

OH Carbono sp3 primário

C sp3 secundário com

um hidrogênio secundário

Grupo funcionalhidroxila

Três hidrogênios primáriosem cada carbono primário

Análise da estrutura de um álcool terciário.

C sp3 primário

C sp3 secundário

C sp3 terciário

C sp3 primário

C sp3

primário

(CH3)2COHCH2CH3

Hidroxila

H3C

CH3C

OH

CH2

CH3

O grupo funcional hidroxila pode aparecer ligado a carbono saturado de estruturas que contém alcenila ou alquenila ou ainda em carbono saturado ligado a anel benzênico.

CH2 = CH - CH2 - OH

Grupo alcenila C sp3

Álcool alílico

CH2 = CH - CH2 -

Radical alila

CH C - CH2 - OH

C sp3

Álcool propargílico

CH C - CH2 -

Radical propargil

CH2OH

Álcool benzílico

Os compostos que possuem o grupo hidroxila ligado diretamente ao anel aromático

são chamados de fenóis.

OH OH

CH3Fenol p-metilfenol

OH

Brp-bromofenol

Page 3: cap  5 -6 - 7

99

OH

OH

OH

OH

OH

OH

1,2-BenzenodiolCatecol 1,3-Benzenodiol

Resorcinol1,4-BenzenodiolHidroquinona

A oxidação branda do catecol e da hidroquinona fornece as chamadas quinonas. A para-benzoquinona obtida da oxidação branda da hidroquinona é usada como defesa por muitos insetos.

OH

OH

1,2-Benzenodiol. Catecol

Oxidação branda

O

O

orto-benzoquinona. o-benzoquinona

OH

OH

Oxidação branda

O

O1,4-benzenodiol. Hidroquinona para-benzoquinona b)Éter

Função orgânica de fórmula geral ROR, onde os radicais orgânicos podem ser alquila, alquenila, alquinila ou arila. Para a IUPAC os éteres são denominados de alcóxialcanos, alcóxialquenos e alcóxiarenos. A figura 5.02 mostra éteres formados com grupo alquila.

OCH3

H

H

CH3CH2OCH3

H

H

CH3CH2CH2

Metóxibutano

CH3 - CH2 - CH2 - OCH3

Metóxipropano

CH3 - CH2 - CH2 - CH2 - OCH3

Figura 5-02. Éteres formados com grupos alquila.

Os éteres formados por radical alquenila apresentam o oxigênio ligado diretamente a um carbono sp2.

Page 4: cap  5 -6 - 7

100

CH3 - CH = CH - OCH3

Metóxipropeno

H

H OCH3

CH3

Trans-1-metóxipropeno Cis-1-metóxipropeno

HH

OCH3CH3

. Exemplos de éteres formados por radical arila.

OCH3

MetóxibenzenoAnisol

O

Fenóxibenzeno

Existe uma outra forma de denominar o éter. Nesta nomenclatura os dois grupos orgânicos ligados ao oxigênio são listados por ordem alfabética com o sufixo ico adicionado ao último radical, precedido pelo nome da função éter.

OC(CH3)3

Éter t-butil fenílico

CH3O CH2CH3

Éter etil metílico

CH2 - CH = CH2OCH3

Éter alil metílico

5.2 Compostos nitrogenados As aminas podem ser obtidas da estrutura da amônia, NH3, pela substituição de hidrogênio por grupamento alquila. O número de substituições realizadas pode gerar aminas primárias, secundárias e terciárias.

NH3

- H / + R

- 2H / +2 R

- 3H / + 3R

Amina primária RNH2

Amina secundária R2 NH

Amina terciária R3 N . R pode ser qualquer grupo alquila. A denominação comum de uma amina consiste no nome do radical alquila ligado ao nitrogênio, colocado em ordem alfabética, seguido da palavra amina. O nome inteiro é escrito como uma única palavra.

Page 5: cap  5 -6 - 7

101

H

H

H

H

CH3

Metilamina Etilamina

NH2H

NH2

H

H

CH3CH2

NH2

Propilamina

CH3NH2 CH3CH2NH2 CH3CH2CH2NH2

MetilaminaAmina primária

CH3NH2 CH3NHCH3

DimetilaminaAmina secundária

(CH3)3N

TrimetilaminaAmina terciária

NH2

Fenilamina. Anilina Difenilamina

NH

Fenildimetilamina

CH3 - CH - CH - CH - CH3

CH3CH3 NH2

2-Amino-3,4-dimetilpentano

H3C

N

CH3

Etildimetilamina

H3C

N

CH2CH3

CH3

No sistema IUPAC a amina é denominada pelo nome da cadeia principal do alcano, seguido da substituição da terminação ”o” pela palavra amina.

CH3 - CH2 - CH2 - CH2 - CH2 - NH2

1- PentanaminaPentan-1-amina

CH3 - CH2 - CH2 - CH - CH3

NHCH3N-metil- 2-pentanaminaN-metil-pentan-2-amina

12345 12345

CH3 - CH2 - CH2 - CH - CH3

CH3NCH2CH3

N-etil-N-metil- 2-pentanamina

12345

CH3 - CH2 - CH - CH2 - CH3

CH3NCH2CH3

N-etil-N-metil- 3-pentanaminaN-etil-N-metilpentan-3-amina

12345

Page 6: cap  5 -6 - 7

102

As amidas se apresentam sob a fórmula geral RCONH2, RCONHR1 ou RCONR1R2.

CH3 - CH2 - C - NH2

O

CH3 - CH2 - C - NH - CH3

O

Propanamida N-metilpropanamida

CH3 - CH2 - C - N - CH3

O

N-etil-N-metilpropanamida

CH2CH3

5.3 Haloalcanos ou halogenetos de alquila

Os haloalcanos ou halogenetos de alquila são obtidos dos alcanos pela substituição de um hidrogênio por um halogênio. Dependendo do hidrogênio substituído podemos formar haloalcanos primário, secundário e terciário.

H3C

H2C

Cl H3C

HC

CH3Cl H3C

C

CH3

Cl CH3

Cloreto de etilaCloroetanoHaloalcano primário

Cloreto de isopropila2-CloropropanoHaloalcano secundário

Cloreto de t-butila2-Cloro-2-metilpropanoHaloalcano terciário

CH3CH2Cl

CloroetanoCloreto de etila

Haloalcano primário

2-CloropropanoCloreto de isopropila

CH3CHClCH3

Haloalcano secundário

5.3.1 Haletos cíclicos

BrBr

CH3

bromocicloexano 1-bromo-2-metilcicloexano

BrBr

CH3

bromocicloexano 1-bromo-2-metilcicloexano

Page 7: cap  5 -6 - 7

103

O bromocicloexano na conformação cadeira, mostra o bromo nas posições axial e equatorial. A posição espacial mais estável para o bromo é a equatorial por mostrar ausência de interação 1,3 diaxial (figura 5.03).

Br

Br

Mais estávelMenos estável

Figura 5.03.Conformações do bromocicloexano

O estereoisômero trans diaxial do 1-bromo-2-metilcicloexano mostra duas conformações, uma menos estável que apresenta metila e o bromo na posição axial (trans diaxial), e outra mais estável que mostra o bromo e a metila em posição equatorial (trans diequatorial). Na conformação trans diaxial ocorre a interação 1,3-diaxial e a molécula fica com maior energia (figura 5.04a). A forma trans diequatorial é a mais estável por não existir esse tipo de interação.

Figura 5.04a.Conformações do trans-1-bromo-2-metilcicloexano

Br

Br

CH3

CH3

O estereoisômero cis do 1-bromo-2-metilcicloexano apresenta interação 1,3-diaxial nas duas conformações (figura 5.04b). Uma conformação mostra a interação 1,3-diaxial entre o bromo e os hidrogênios três e cinco enquanto que a outra mostra a interação 1,3-diaxial entre a metila e os hidrogênios três e cinco.

Br

CH3 Br

CH3

Figura (5.04b). Conformações do cis-1-bromo-2-metilcicloexano 5.3.2 Haletos vicinais

Mostram os halogênios como ligantes de carbonos vizinhos. Esses compostos podem ser produzidos através da reação de halogenação de olefinas que promove uma adição anti.

Page 8: cap  5 -6 - 7

104

Cl

Cl

Cl

Conformações do trans-1,2-diclorocicloexano

Cl

Br

Br

Cl

Cl

1,2-dibromobutano 2,3-dicloropentano

Cl

Cl

Cl Cl

Conformações do cis-1,2-diclorocicloexano

Cl Cl Cl

Cl(a) cis-1,2-diclorociclopropano(b) trans-1,2-diclorociclopropano

(a) (b)

5.3.3 Haletos geminais

Podem ser obtidos pela reação de adição eletrofílica entre um alcino e um hidrácido.

Br BrCl

2,2-dibromopropano3,3-dicloropentano

Cl Br I

3-bromo-3-iodoexano

Br

Br

1,1-dibromociclobutano

H

HH

H

H

H

H

HHH

H

H H H

Br

Br

1,1-dibromociclopentano

Cl

Cl 1,1-diclorocicloexano

Page 9: cap  5 -6 - 7

105

Br

Br

1,1-dibromocicloexano

Cl

Br

1-brom-1-clorocicloexano

I I

1,1-Diiodociclopropano

Cl

ClH

H

F

ClH

H

Clorofluormetano Diclorometano

Cl

Br

HH

Bromoclorometano

5.3.4 Haletos aromáticos

Podem ser produzidos através da reação de substituição eletrofílica aromática na presença do catalisador cloreto de alumínio.

BrCl

Clorobenzeno Bromobenzeno As estruturas a seguir apresentam o núcleo aromático di-halogenados e tri-halogenados.

Br

Br BrBrBr

Br

1,2-dibromobenzenoorto-dibromobenzenoo-dibromobenzeno

1,3-dibromobenzenometa-dibromobenzenom-dibromobenzeno

1,4-dibromobenzenopara-dibromobenzenop-dibromobenzeno

Cl

Cl

Cl

Br

Br

Br

1,3,5-Triclorobenzeno1,2,4- Tribromobenzeno

Page 10: cap  5 -6 - 7

106

O naftaleno quando halogenado nas posições alfa e beta forma os compostos alfa-halonaftaleno e beta-halonaftaleno.

Br

Br

α − bromonaftaleno -bromonaftalenoβ Funções orgânicas carboniladas. São compostos que possuem o grupo carbonila em

sua estrutura. 5.4 Funções carboniladas

R- C -H

OAldeído

R- C -R

OCetona

R- C - O-R

OÉster

R- C - O-H

OÁcido carboxílico

R- C - O- O -H

O

Peróxi-carboxílico

Ácido percarboxílico

R- C - NH2

OAmida

R- C - O - C - R

O O

Anidrido

R- C -X

OHalogeneto de acila

Nome particular dos grupos funcionais.

- C -

O Carbonila

R- C -

O

- C - O

O

- C - O-H

O CarboxílaIon carboxilatoRadical acila 5.4.1 Reatividade

A reatividade dos compostos carbonilados se encontra principalmente no grupo carbonila, devido ao efeito de ressonância que acontece na ligação pi. A deslocalização do par de elétrons fornece a separação de cargas gerando um dipolo elétrico na estrutura. Nesta região de separação de cargas se encontra o sitio reacional que permite a adição de um nucleófilo e de um eletrófilo.

OCentro eletrofílicoLocal onde o nucleófilo ataca

Entrada do eletrófilo

O

+

Page 11: cap  5 -6 - 7

107

Nu

Ácido de Lewis

Complexo coordenadoProduto

O

Base de LewisNucleófilo

O

Nu

Nas reações mostradas na figura 5.05, o ânion metóxi faz a conexão no centro

eletrofílico da carbonila e forma o complexo coordenado. O centro eletrofílico existe devido ao efeito de ressonancia que desloca os elétrons pi para o oxigênio da carbonila deixando como conseqüência o carbono da carbonila positivo.

O

CH3O

CH3O

Ligação sigma e pi

CH3OLigação sigma

OCH3O

O

CH3S

CH3S

Ligação sigma e pi

CH3SLigação sigma

OCH3S

Figura 5.05. Captura de hidrogênio ionizável da propanona. Em determinadas reações químicas, o mecanismo utiliza o carbono alfa do substrato

como fonte geradora de H+, desta forma o nuleófilo por ser uma base de Lewis captura um dos hidrogênios alfa e deixa o carbono alfa com uma carga negativa.Este processo é comum no mecanismo de condensação aldólica (capituloXVIII).

Page 12: cap  5 -6 - 7

108

Base de Lewis Nucleófilo

Ácido de LewisEletrófilo

Base conjugada Ion enolato

Ácido conjugado

H3C

C

H2C

H

O

Nu

H3C

C

H2C

O + HNu

Ressonância do ion enolato

Base conjugada Ion enolato

H3C

C

H2C

O

H3C

C

H2C

O

5.4.2 Tautomeria ceto-enólica. Catálise básica

Neste processo químico a forma ceto, C=O, será transformada na forma enol, C=OH com a ajuda de uma base. O papel da base, B, inicialmente é capturar um hidrogênio ionizável da estrutura, quando isto acontece forma-se um ácido conjugado HB e uma base conjugada gerada da estrutura que esta sendo transformada.

C

O

CH2CH3

H B

C

O

CH2CH3

C

O

CH2CH3

Base capturando o hidrgênio ionizável

Base conjugada. Ion enolato

+ HB

Ácido conjugado

Neste próximo passo o ácido conjugado doa seu hidrogênio para o íon enolato formando o enol.

+ H - BC

O

CH2CH3

Ion enolato

C

OH

CH2CH3

+ B

Enol

Page 13: cap  5 -6 - 7

109

5.4.3 Tautomeria ceto-enólica. Catálise ácida

Uma outra forma de transformar a forma ceto C = O, na forma enol C=OH, é através da catalise ácida. Nesta transformação o ácido presente no meio protona o oxigênio da carbonila e forma a composto protonado.

C

O

CH2CH3

H

+ H - B C

OH

CH2CH3

H

+ B

Protonação da carbonila

Propanona protonada

A carbonila protonada promove a ativação do centro eletrofílico, que fica ativo para

receber o par de elétrons deixado pelo hidrogênio após sua retirada pela base.

B

C

OH

CH2CH3

H

C

OH

CH2CH3

+ H - B

Enol

5.5 Nomenclatura de aldeídos e cetonas

A nomenclatura de aldeído é efetuada pela substituição da terminação –o dos alcanos pelo sufixo –al.

CH3 - CH2 - C - H

O

PropanalCH3 - CH - CH2 - C - H

OCH3

3- metilbutanalCH3 - CH2 - CH - CH2 - C - H

OCH3

3- metilpentanal

CH3 - (CH2)2 - C - H

O

Butanal / aldeído butírico

CH3 - (CH2)3 - C - H

O

Pentanal / aldeído valérico

CH3 - (CH2)4 - C - H

O

Hexanal / aldeído capróico

CH3 - (CH2)5 - C - H

O

Heptanal / aldeído enantílico

CH3 - (CH2)n - C - H

O n = 6 Octanal / aldeído caprílicon=7 Nonanal/ aldeído pelargônicon=8 Decanal / aldeído cáprico

Page 14: cap  5 -6 - 7

110

A nomenclatura de cetonas é derivada do nome do alcano acrescentando-se o sufixo ONA.

CH3 - CH2 - C - CH3

O

Butanona

CH3 - CH - CH2 - C -

O

CH3

2-pentanona

CH3 - CH2 - CH - CH2 - C - CH3

OCH3

4- metil-2-hexanona

OCicloexanona

C - CH3

O

Fenil-metilcetonaAcetofenona

C

O

DifenilcetonaBenzofenona

5.6 Ácidos carboxílicos

Os ácidos carboxílicos apresentam o grupo funcional carboxila, -COOH. Em presença de base produzem sal orgânico solúvel em água.

RC

O

OH

+ Na OHR

C

O

O Na

+ H2O

Ácido carboxílico

Base

Sal orgânico

Os ácidos carboxílicos através da ligação hidrogênio formam dímeros. A ligação hidrogênio formada pelos ácidos carboxílicos é efetuada no oxigênio da carbonila por ser maior a densidade eletrônica deste oxigênio.

C C

O H - O

R

OO - H

R

Esta ligação hidrogênio é mais forte que a formada pelo álcool, isto se deve ao fato

do ácido carboxílico efetuar uma ligação hidrogênio mais polarizada. A nomenclatura de alguns ácidos carboxílicos é mostrada na figura 5.06.

Ácido fórmico ou metanóico Ácido acético ou

etanóico

Ácido propiônico oupropanóico

H

C

OH H3C

C

OH H3C

H2C

C

OH

O O

O

Page 15: cap  5 -6 - 7

111

H3C

H2C

C

OH

O

( )n( ) n

n = 3 Ácido valérico ou pentanóicon = 4 Ácido capróico ou hexanóicon = 6 Ácido caprílico ou octanóico

n = 1 Ácido propiônico ou propanóico

n = 12 Ácido mirístico ou tetra decanóicon = 14 Ácido palmítico ou hexadecanóicon = 16 Ácido esteárico ou octadecanóico

n = 2 Ácido butírico ou butanóico n = 10 Ácido lauríco ou dodecanóico

n = 8 Ácido cáprico ou decanóico

Figura 5.06. Nomenclatura de alguns ácidos carboxílicos. Ácidos carboxílicos hidroxilados.

Ácido hidróxi-etanóico ou glicólico Ácido 2- hidróxipropanóico ou lático

HO

H2C

COH

O

H3CCH

C

OH

OH

O

5.6.1 Ácidos dicarboxílicos

HOC

COH

O

O

HOOC - COOH Ácido oxálico ouetanodióico

HOC

CH2

COH

O O

HOOC - CH2 - COOH Ácido malônicoou propanodióico

HOC

(CH2)n

COH

O O

n = 2 Ácido succínico ou butanodióico;n = 3 Ácido glutárico ou pentanodióico;n = 4 Ácido adípico ou hexanodióico;

n = 5 Ácido pimélico ou heptanodióico;n = 6 Ácido subérico ou octanodióicon=7 Ácido azeláico ou nonanodióico;n = 8 Ácido sebácio ou decanodióico

H

HOOC H

COOHHOOC

HOOCH

H

Maleico /cis-butenodióico Fumárico / trans-butenodióico 5.7 Ésteres

Os ésteres possuem fórmula geral RCO2 R1, e são obtidos através da reação entre um ácido carboxílico e um álcool. O processo ocorre através de uma catalise ácida e recebe o nome de reação de esterificação.

Page 16: cap  5 -6 - 7

112

+ R1 - OH

Ácido carboxílico

ÁlcoolÉster

+ H2OR

C

OH R

C

OR1

OO

+ CH3CH2 - OH

Ácido acético ou etanóico

Etanol

Éster etanoato de etilaAcetato de etila

+ H2OH3C

C

OH

O

H3CC

O

H2C

CH3

O

Etanol

+ H2O

Ácido propiônicoou propanóico

Éster propanoato de etila ouPropionato de etila

O

H3C

H2C

C

OH

O

+ CH3CH2 - OH H3C

H2C

CO

CH2

CH3

Etanol

+ H2O

Ácido butíricoou butanóico

Éster butanoato de etila oubutirato de etila

+ CH3CH2 - OHH3C

H2C

CH2

C

CH3

O

H3C

H2C

CH2

CO

H2C

CH3

O

5.7.1 Gorduras e óleos

São ésteres formados de ácidos graxos superiores que apresentam encadeamento de doze a vinte e dois carbonos, que ao reagir com o propanotriol (glicerol ou glicerina) formam as gorduras (figura 5.07). Estes ésteres são denominados de glicerídeos.

Figura 5.07.Fórmula geral de uma gordura

H2C

CH

CH2

OC

ROR

OC

R

O

O

O

CH2 - O - C - R

CH - O - C - R

CH2 - O - C - R

O

O

O

As gorduras se apresentam em estado físico sólido na temperatura ambiente

enquanto que os óleos apresentam estado físico líquido.

Page 17: cap  5 -6 - 7

113

Os ácidos graxos saturados obtidos através da hidrólise da gordura são: láurico (12 carbonos); palmítico (16 carbonos) e esteárico (18 carbonos). Os insaturados obtidos mais importantes são em C18: oléico (insaturação C9 – C10); linoleico (insaturação C9 – C10 e C12 – C13) e linolênico (insaturação C9 – C10 , C12 – C13 e C15 - C16). 5.8 Anidridos

São obtidos de ácidos carboxílicos através da perda de uma molécula de água. O grupo funcional do anidrido é R CO3R1.

R

C

O

O - H RC

O

H - O+ H2O

R

C

O

O RC

O

CH3

C

O

O - HC

O

H - O+ H2OC

O

OC

O

CH3 CH3CH3

Ácido acético Anidrido acético

O

O

O

C - O - H

C - O - H C

O

C

O

Ácido succínico Anidrido succínico

Page 18: cap  5 -6 - 7

114

6 Estereoquímica

A estereoquímica trata do diferente arranjo espacial dos átomos e/ou conjunto de

átomos em uma estrutura. Os isômeros são compostos diferentes, com propriedades físicas e químicas diferentes, obtidos da mesma formula molecular.Os isômeros se dividem em dois grandes grupos: Isômeros constitucionais e estereoisomeros. 6.1 Isômeros constitucionais

Os isômeros constitucionais se diferenciam pela conexão efetuada entre os átomos

na formação da molécula.Veja alguns exemplos de isômeros constitucionais na figura 6.01..

H3C

C

CH3

H3C

H2C H

O

OCetonaPropanona

AldeídoPropanal

OHH

H3C H

OHH

H CH3

trans-1-Hidroxipropenocis-1-Hidroxipropeno

Fórmula geral: C3H6O

Enol

HH

HO CH3

2-Hidroxipropeno

OC

CH2

CH2

H2C CH

CH3

O

H2

H2C CH

OH

CH2 Álcool

Ciclopropanol

EpóxidoÓxido de propileno

HO

H2C

CH

CH2

Álcool alílico ou2-propen-1-ol

OxetanoÓxido de trimetileno

Figura 6.01. Isômeros constitucionais de fómula C3H6O

6.2 Estereoisômeros

Os estereoisômeros apresentam a mesma conectividade entre os átomos, se diferenciando entre si no arranjo espacial dos átomos e/ou grupos de átomos no espaço.

Page 19: cap  5 -6 - 7

115

Como exemplo, podemos citar o (2E,4Z)-heptadieno; (2E,4E)-heptadieno; os estereoisômeros cis e trans do 1,2-dimetilcicloexano; 1,3-dimetilcicloexano e finalmente os estereisômeros cis e trans do 1,4-dimetilcicloexano.

H3C

C C

H

H

C C

C2H5

HH

H3C

C C

H

H

C C

H

C2H5H

1

2 3

4 5

6,7

(2E,4Z)- heptadieno(2E,4E)- heptadieno

H

CH3

H

CH3

cis-1,2-Dimetilcicloexano

CH3

H

H

CH3

trans-1,2-Dimetilcicloexano

H

CH3

H

CH3

cis 1,3-Dimetilcicloexano

trans-1,3-Dimetilcicloexano

CH3

HH

CH3

H

CH3

H

CH3

H

3HC

CH3

H

cis-1,4-Dimetilcicloexano trans-1,4-Dimetilcicloexano

Os estereoisômeros por sua vez se subdividem em dois grupos: os enanciômeros e

os diasteroisômeros como mostra a figura 6.02.

Isômeros

EstereoisômerosIsômeros constitucionais

Diasteroisômeros

Enanciômeros

Figura 6.02. Classificação dos isômeros.

6.3 Enanciômeros

São denominados de enanciômeros ou enantiômeros os estereoisomeros que são imagens especulares um do outro que não se superpõe. Desta forma, os enanciômeros são representados por moléculas que não se superpõem com suas imagens, assim como as mãos esquerda e direita (figura 6.03).

Page 20: cap  5 -6 - 7

116

Figura 6.03. Relação enantiomérica Mostra objeto e imagem nâo superponível. (Vollhardt, 2004). Os enanciômeros se caracterizam por apresentarem em sua estrutura um carbono

assimétrico ou quiral, ausência de plano de simetria. Moléculas com este comportamento são assimétricas e desviam o plano da luz polarizada, quando analisadas em um polarímetro. A figura 6.04 mostra a representação esquemática de um polarímetro.

Figura 6.04. Esquema de um polarímetro. (Allinger , 1976). As moléculas orgânicas que desviam o plano da luz polarizada são chamadas de

moléculas oticamente ativas, enquanto que, aquelas que não ocasionam nenhuma mudança no plano da luz polarizada, são denominadas de moléculas oticamente inativas.

As moléculas a seguir são portadoras de carbono assimétrico ou quiral, por esta razão são denominadas de moléculas assimétricas e quando colocadas diante de um polarímetro desviam o plano da luz polarizada. Moléculas com este comportamento formam um par de enanciômeros.

Page 21: cap  5 -6 - 7

117

H3CCH3

C2H5C2H5

H2NNH2

HH

Par de enanciômeros

Carbono assimétricoou quiral.

Espelho plano

Observe que uma molécula é imagem especular da outra não superponível. Sua mão direita é imagem especular não superponível de sua mão esquerda. A

estrutura da amina analisada possui um carbono assimétrico, também chamado de carbono quiral, estereocentro tetraédrico ou ainda carbono estereogênico. O carbono assimétrico identificado na estrutura apresentar quatro ligantes diferentes, -CH3, -NH2, -C2H5 e –H.

Como na estrutura ocorre apenas um carbono quiral, podemos afirmar que se trata de uma molécula assimétrica e, portanto desvia o plano da luz polarizada, tendo assim atividade ótica. Observe outros exemplos. Haloalcano

H3CCH3

C2H5C2H5

HH

Br Br

Espelho plano

Carbono quiral,assimétrico ou estereogênico

2-bromobutano. Par de enanciômeros

O carbono assimétrico ou estereogênico identificado na estrutura do haloalcano apresenta quatro ligantes diferentes, -CH3, -Br , -C2H5 e –H. Se considerarmos que a estrutura da esquerda, molécula identificada como objeto, desvia o plano da luz polarizada para direita, a molécula identificada como imagem irá desviar o plano da luz polarizada para esquerda, sendo assim, as duas estruturas identificas como objeto e imagem, formam um par de enanciômeros.

A figura 6.05 mostra os dois enanciômeros do 2-bromobutano não superponíveis.

CH3

H2C

CHBr

H3C CH3

BrHC

CH2

H3C

Figura 6.05. Os dois enanciômeros do 2-bromobutano não superponível. (Baseado em Volhardt ,2004)

Page 22: cap  5 -6 - 7

118

A estrutura do 2-butanol apresenta um par de enanciômeros.

H3C

CHOH

H2C

CH3

CH3

HOHC

CH2

H3C

Par de enanciômeros do 2-butanol

H3CCH3

C2H5C2H5

HH

OH OH

Molécula identificada como objeto Molécula identificada como imagem

Desvia o plano da luz polarizada para direita Desvia o plano da luz polarizada para esquerda

Toda estrutura que desviar o plano da luz polarizada para a direita receberá a denominação de estrutura dextrorotatória ou destrógira, e será reconhecida pelo sinal positivo colocado entre parêntese na frente de sua nomenclatura. (+), sendo assim, a molécula que desviar o plano da luz polarizada para a esquerda será chamada de levorotatória ou levógira, e será reconhecida pelo sinal negativo (-).

Assim podemos afirmar que a presença de carbono sp3 conectado a quatro ligantes diferentes, garante a estrutura à capacidade de desviar o plano da luz polarizada, passando a ser considerada uma estrutura oticamente ativa. O carbono responsável pela atividade ótica é chamado de assimétrico, quiral ou estereocentro tetraédrico e é definido como sendo um carbono de hibridização sp3 que está ligado a quatro átomos ou grupos de átomos diferentes. Estruturas orgânicas com apenas um estereocentro tetraédrico são assimétricas pelo fato de não apresentarem plano de simetria. Observe os exemplos a seguir.

HOOC

CHNH2

H2C

CH3

COOH

H2NHC

CH2

H3C

Par de enanciômeros do 2-aminobutanóico

Page 23: cap  5 -6 - 7

119

C2H5C2H5

H

NH2

Enanciômeros do aminoácido 2-amino-butanóico em fórmula tridimensional.

COOH HOOC

H2N

H

Molécual destrorotatória oudestrogíra

Molécual levorotatória oulevogíra

C2H5C2H5

H

OH

Par de enanciômeros do 2-hidróxibutanóico

COOH HOOC

HO

H

DestrorotatóriaDestrogíra

LevorotatóriaLevogíra

C2H5C2H5

H

Cl

COOH HOOC

Cl

H

Molécula destrorotatória oudestrogíra

Molécuala levorotatória oulevogíra

Par de enanciômeros do 2-clorobutanóico

6.4 Projeção de Fischer para estruturas quirais A projeção de Fischer mostra o arranjo tridimensional de grupos ligados ao estereocentro tetraédrico. O carbono sp3 se localiza na intersecção de duas linhas perpendiculares. As linhas horizontais representam ligantes posicionados para cima enquanto que as linhas horizontais representam ligantes voltados para baixo.

a

b

cd

CH3

CH2CH3

OHH

CH3

CH2CH3

OHH

2-butanol. Centro quiral no carbono-2

Page 24: cap  5 -6 - 7

120

6.5 Projeção em perspectiva para estruturas quirais

A projeção em perspectiva mostra dois ligantes no plano, um ligante voltado para cima conectado ao cento quiral através de uma cunha sólida e um quarto ligante voltado para baixo conectado por uma cunha tracejada.

Br

CH3CH3

HH

C2H5 H5C2

Br

2-bromobutano

Par de enanciômeros

CH3CH3

HH

C2H5 H5C2

2-butanol

Par de enanciômeros

OHOH

CH3CH3

HH

C2H5 H5C2

2-metilbutanóico

Par de enanciômeros

CH3CH3

HH

C2H5 H5C2

2-metilbutanal

Par de enanciômeros

COOH COOHCH

O

CH

O 6.6 Estruturas com dois estereocentros tetraédricos

H

H

OH

OH

H

H

OH

OH

C-2 quiral 2com quatro ligantes diferentes

C-3quiralcom quatro ligantes diferentes

11 223

3

44

2,3-butanodiol

CH3 CH3H3CH3C

H

H

H

H

11 223

3

44

2,3-dibromobutano

Br

Br

Br

Br

Ligante para baixoLocalização vertical na projeção de Fischer

Ligante para cimaLocalização horizontal na projeção de Fischer

H

H

Br

Br

CH3

CH3

12

3

4

Projeção de Fischer

H3C CH3 CH3H3C

Page 25: cap  5 -6 - 7

121

6.7 Da projeção em perspectiva para projeção de Fischer

H

H

H

H

11 223

3

44

2,3-dibromobutano

Br

Br

Br

Br

Ligante para baixoLocalização vertical na projeção de Fischer

Ligante para cimaLocalização horizontal na projeção de Fischer

H

H

Br

Br

CH3

CH3

12

3

4

Projeção de Fischer

CH3CH3

H3CH3C

H

H

H

H

11 223

3

44

2,3-butanodiol

H

H

CH3

CH3

12

3

4

Projeção de Fischer

OH

OH

OH

OH

HO

HOCH3CH3

H3CH3C

6.8 Da projeção de Fischer para a projeção em Cela

A projeção de Fischer traz os ligantes da posição vertical voltados para baixo e os ligantes da posição horizontal voltados para cima, desta forma, a projeção em cela que será utilizada será a cela coincidência, pois corresponde fielmente a posição dos ligantes colocados em Fischer.

OH

HCH3

HCH3

C2H5

OH

C2H5

CH3

CH3

H

H

Ligantes na vertical, localização para baixo

Ligantes na vertical, localização para baixo

Ligantes na horizontal, localização para cima

Localização para baixo

Localização para baixo

Localização para cima

Vamos colocar os estereoisômeros do 2,3-diclorobutano em projeção de Fischer e em seguida vamos passar para a projeção em cela.

Page 26: cap  5 -6 - 7

122

CH3CH3

CH3

CH3

CH3CH3

Cl

Cl Cl

Cl Cl

ClH

H H

H H

H

Substância Meso. Oticamente inativa

Plano de simetria

Par de enanciômeros

CH3

CH3

CH3

CH3

CH3

CH3

Cl

Cl

Cl

Cl

Cl

ClH

H

H

H

H

H

Substância Meso. Oticamente inativaem projeção em cela Par de enanciômeros em projeção em cela

O número de isômeros ópticos ativos é dado pela regra de Van’t Hoff que relata o seguinte: número de isômeros ópticos ativos = 2n, onde n é o número de carbonos assimétricos ou centro quirais.Número de misturas racêmicas = 2n-1

Isômeros com atividade ótica na glicose C6H12O6 OH OH OH OH | | | | HO-CH2-CH-CH-CH-CH-CHO

Isômeros ópticos ativos = 24 = 16 = 8D e 8L

Número de misturas racêmicas = 24-1 = 23 = 8

6.9 Configuração R,S para estereocentros tetraédricos

Para podermos discutir convenientemente a isomeria óptica, precisamos de um sistema de nomenclatura adequado. Os isômeros ópticos se diferenciam pela configuração, com isso precisa-se dispor de meios capazes de assinalar a configuração do átomo assimétrico. R. S. Cahn, C. K. Ingold e V. Prelog desenvolveram um sistema de nomenclatura adicionado ao sistema IUPAC. Este sistema é chamado sistema R e S vem das palavras latinas rectus e sinister, que significa direito e esquerdo respectivamente, em termos de configuração direciona a seqüência de prioridade de ligantes para direita (R) e a seqüência de prioridade de ligantes para a esquerda (S). Este sistema (R,S) é utilizado pelos químicos para indicar a configuração de um carbono assimétrico.

Page 27: cap  5 -6 - 7

123

1

2 3

4

Maior prioridade

Menor prioridade1

23

S1

2

3

R

A configuração desta estrutura seria S.

A classificação dos ligantes do carbono assimétrico é feita por ordem de prioridade, e saiba que, quanto maior o numero atômico do átomo conectado ao carbono assimétrico maior a prioridade. A classificação dos ligantes segue a seguinte seqüência. 1º) ordenar os ligantes do estereocentro por ordem de prioridade; 2º) formar uma seqüência de prioridade de acordo com o valor do peso atômico do átomo ligado diretamente ao estereocentro. 3º) colocar o átomo de ultima prioridade, quatro (4), o mais afastado possível do operador; 4º) traçamos um caminho de 1, 2, 3. Se quando fazemos isso, a direção de nossos dedos ou lápis está no sentido horário, o enantiômero é chamado R.

Se a direção da seqüência está no sentido anti-horário, o enantiômero é chamado S. Veja alguns exemplos.

Br

H

CH3 C2H5

1

23

R(R)-2-Bromobutano

Br

C2H5 CH3

H

1

3

(S)-2-bromobutano

2

S

Se o grupo de menor prioridade aparecer conectado para cima (cunha sólida), veja a seqüência direcionada pelos ligantes l e depois troque a configuração. Observe o exemplo abaixo.

Br

HC2H5

1

2

3

R

C2H5

CH3

H

1

32

SCH3

O direcionamento dos ligantes é R, porém o H de menor prioridade estapara cima, logo troca-se para (S)-2-Bromobutano.

OH O direcionamento dos ligantes é S porém o H de menor prioridade esta para cima, logo troca-se para (R)-2-Butanol

Page 28: cap  5 -6 - 7

124

CH3

OH

CH2CH3

H

R

Como o hidrogênio esta paracima, coloca-se (S)-2-Butanol

Cl

C3H7

H

C2H5

1

2

1

2

R

Como o hidrogênio esta para baixo coloca-se (R)-3-Cloroexano

6.10 Os prefixos treo e eritro

As moléculas orgânicas que apresentam em sua estrutura dois carbonos quirais (carbonos estereogênicos), podem mostrar ligantes similares ou idênticos colocados do mesmo lado da molécula, quando isto acontece, a molécula recebe o prefixo eritro. Quando os ligantes se posicionam em lados diferentes é utilizado o prefixo treo. Observe as estruturas a seguir.

Cl

Cl

H

H

123

4

2,3-dicloropentano

Cl

Cl

H H

H H

Cl

ClC2H5

CH3CH3

C2H5

(eritro)-2,3-dicloropentano

51

2

3

4 , 5

(treo)-2,3-dicloropentano

OCH3

H

H

123

4

2,3-dicloropentano

H H

H H

C2H5

CH3CH3

C2H5

(eritro)-2,3-dimetóxipentano

51

2

3

4 , 5

(treo)-2,3-dimetóxipentano

OCH3

OCH3

CH3O

CH3O

CH3O

6.11 Da projeção de Fischer para a projeção de Newman A estrutura do 2,3-butanodiol será colocada em projeção de Fischer obedecendo a seguinte disposição espacial: as hidroxilas localizadas nos carbonos dois e três serão colocadas para cima e as metilas terminais serão posicionadas para baixo.

Page 29: cap  5 -6 - 7

125

CH3 - CH - CH - CH3

OH OH

2,3-butanodiol H3C

CH

CH

CH3

OH

OH

CH3

CH3

OH

OHH

H

CH3

CH3

H

H OH

CH3

CH3

H

H

HOCH3

CH3

OH

HO

H

H

Projeção de Fischerpara o composto meso

Projeção celacoincidência

Projeção cela oposição

Projeção de Newmam

OH OH

(eritro)-2,3-butanodiol(treo)-2,3-butanodiol

torção

Transferência da molécula em projeção de Fischer na forma treo, para projeção em cela e posteriormente para a projeção de Newman mais estável.

CH3

CH3

OH

HO H

H

CH3

CH3

H

H OH

CH3

CH3

H

H

HOCH3

CH3

HO

HO

H

H

Projeção de Fischer do (treo)-2,3-butanodiol

Projeção celacoincidência

Projeção cela oposição

Projeção de Newmam

HO HOtorção

Projeção em cela do (treo)-2,3-butanodiol

Projeção em cela do (eritro)-2,3-butanodiol

6.12 Centro proquiral Quando um carbono sp3 possuir dois ligantes iguais e dois diferentes, será denominado de centro proquiral.

H

H

CH3

HO

Centro proquiral

H

H

CH3

Cl

Centro proquiral

Page 30: cap  5 -6 - 7

126

Se um dos hidrogênios for substituído por deutério o centro proquiral se transforma em um centro quiral. Esses hidrogênios idênticos são denominados de hidrogênios pro-(R) e pro-(S), pois quando cada um deles é substituído por deutério formam um para de enanciômeros.

OH

CH3

HS HR

OH OH

CH3 CH3

DD H H

(S) (R)

Par de enantiômeros

Os hidrogênios sãoligantes enantiotópicos

hidrogênio pro-S

hidrogênio pro-R

Cl

CH3

HS HR

CH3 CH3

DD H H

(S) (R)

Par de enantiômeros

Os hidrogênios sãoligantes enantiotópicos

hidrogênio pro-S

hidrogênio pro-R Cl Cl

6.13 Moléculas assimétricas sem carbono assimétrico

a)Molécula de alcadienos acumulados.

C = C = C

a

bc

d C = C = C

CH3

CH3 H

H

2,3-pentadieno

C = C = C

CH3

CH3H

H2,3-pentadieno

destrorotatório levorotatório

Os ligantes terminais precisam ser diferentes para que haja isômeros

C = C = C

CH3

C2H5 H

H

2,3-hexadieno

C = C = C

C2H5

CH3H

H2,3-hexadieno

destrorotatório levorotatório

Page 31: cap  5 -6 - 7

127

Para finalizar este capítulo, segue exemplos de estruturas quirais (formam par de enanciômeros) e aquirais (que não formam par de enanciômeros) figuras 6.06 e 6.07.

Plano simétrico

H

C

H H

C

H H

CO2H

H

C

H H

C

H OH

CO2H

H3C

H2C

COOH H3CCH

COOH

OH

Plano simétrico

Ácido propanóico (aquiral) Ácido lático (quiral) Figura 6.06. Estruturas quiral e aquiral. (Baseado em McMurry, 2005)

H CH3 H CH3

O

Plano de simetriaPlano não simétrico

metilcicloexano (aquiral) 2-metilcicloexano (quiral) Figura 6.07. Estruturas cíclicas quiral e aquiral. (Baseado em McMurry, 2005).

Page 32: cap  5 -6 - 7

128

+

7 Intermediários envolvidos nas reações orgânicas

Para que uma reação orgânica ocorra, é necessário que haja rompimento nas

ligações químicas envolvidas na estrutura das moléculas do substrato e do reagente e formação de novas ligações. O substrato é a molécula orgânica sujeita a transformação química enquanto que o reagente é o veículo transformador do substrato.

A reação abaixo mostra a transformação química do substrato 2-metil-2-buteno em um haloalcano, neste processo o veiculo transformador é o reagente ácido clorídrico. Observe como ligações são quebradas e formadas ao longo do mecanismo.

1

2

34

2-metil-2-buteno

+ H - Clδ δ

Cl

+ + Cl-

O par de elétrons pi captura o hidrogênio do ácido que tem carga parcial positiva,simultaneamente o cloro é deslocado na forma de ânion cloreto. Como a reação ocorreu com quebra de ligação o processo é endotérmico. A etapa mais endotérmica de um mecanismo é sempre a etapa lenta. O carbocátion formado é o intermediário.

EL

+ + Cl-

Neste processo o ânion cloreto faz a conexão no centro catiônico levandoa formação do produto. Como a reação ocorreu com formação de ligação o processo é exotérmico

carbocátion

Quebra de ligações

Formação de ligação

7.1 Cisão homolítica

Este tipo de cisão geralmente ocorre em ligações apolares. As reações que ocorrem através deste tipo de cisão formam ao longo do mecanismo radicais livres. A cisão homolítica se realiza em presença de luz ultravioleta, temperatura elevada ou ainda em presença de peróxidos orgânicos. Como os alcanos são compostos apolares favorecem

Page 33: cap  5 -6 - 7

129

mecanismo via radical livre. A adição de HBr em alcenos, na presença de peróxido, ocorre através de um mecanismo via radical livre ou radicalar.

CH4 + Cl2 CH3Cl + HClluz

Cl2λluz, Cl Cl

Cl

Fase de iniciação

HCl

Fase de propagação

HH

H

H

HH

H

H

HH

Cl-Cl

H

H

H

ClCl

Produto desejado

R R R-RFase de término. União de qualquer radical livrepresente no meio reacional.

R, representa qualquer radical livre presente no sistema de reação.

E L

Intermediário

Na fase de iniciação é formado o reagente radical livre que interage com o substrato metano levando a formação do radial livre metila, intermediário da reação,que em seguida reage com a molécula de cloro levando ao produto desejado clorometano, estas duas reações acontecem na fase de propagação.A última fase, denominada de término, ocorre às várias possibilidades de conexão entre os radicais livres presentes no meio reacional. Esta reação pode se prolongar levando a formação de diclorometano (CH2Cl2), clorofórmio (CHCl3) e tetracloreto de carbono (CCl4). 7.2 Estabilidade dos radicais livres

A estabilidade dos radicais livres se deve ao efeito de hiperconjugação ocasionado pela proximidade dos orbitais preenchidos do carbono com o orbital do carbono vizinho semi-preenchido(elétron desemparelhado). Este processo acontece pelo fato do radical livre gerar na estrutura um orbital semi-preenchido. Desta forma, quanto maior a área para a dispersão do elétron maior a estabilidade.

A geometria do radical livre é trigonal plana, estando o elétron desemparelhado em um orbital p (figura 7.01).

Page 34: cap  5 -6 - 7

130

H

H

Estrutura trigonal plana. Radical livre etila.

O orbital p se encontra perpendicular ao plano que contém o carbono sp2

CH3

sp2

sp3

Figura 7.01. Radical livre etila.

Dispersão do elétron desemparelhado no radical livre etila.

H H

H HH

Carbono com quatro orbitais sp3 preenchido

Carbono com três orbitais sp3 preenchido e um semi-preenchido

Região de proximidade entre os orbitais

CH2 - CH3 Radical livre etila

Carbono com quatro orbitais sp3 preenchido

C-2 se encontra com três orbitais sp3 preenchido e um semi-preenchido

Regiões de aproximação entre os orbitais prenchidos com o orbital semi-prenchido

CH3 - CH - CH3 Radical livre isopropila

H

HH

H

HH

H

Carbono com quatroorbitais sp3 preenchido

12

3

A ordem de estabilidade para os radicais livres seria: radical livre terciário > radical livre secundário > radical livre primário > radical livre metila. O radical livre metila é o menos estável por não ocorrer proximidade entre orbital de carbono preenchido com orbital de carbono semipreenchido.

Os radicais livres aromáticos são estabilizados pelo efeito de ressonância, que se manifesta através do movimento de um elétron pi do anel aromático, no sentido formar compartilhamento com o elétron que ocupa o orbital p orbital semi-preenchido.

Page 35: cap  5 -6 - 7

131

H

HH

H

H

H

H

H

H

H

Aumentando a quantidade de anel aromático na estrutura da molecular, aumenta o numero de formas de ressonância e o radical livre se torna mais estável.

C6H5

C6H5H

C6H5

HH

C6H5

C6H5 C6H5

HC

HCCH

CH

C

HC

= - C6H5

7.3 Cisão heterolítica

A cisão heterolítica ocorre geralmente em ligações covalentes polares. A quebra é assimétrica e o átomo mais eletronegativo estabiliza o par de elétrons, desta forma é obtido um cátion e um ânion. As reações orgânicas polares acontecem através de cisões heterolíticas e normalmente se realizam em soluções e podem ser catalisadas por ácidos ou bases.

H

CH3

CH3

Clδ δ

O átomo mais eletronegativo (C l) puxa o par de elétrons e favorece a quebra assimétrica. O par de elétrons da ligação acompanha o átomomais eletronegativo

H

CH3

CH3

Clδ δ

CH3H

CH3

+ + Cl

Carbocátion, eletrófiloÁcido de Lewis

Ânion, nucleófiloBase de Lewis

Page 36: cap  5 -6 - 7

132

A cisão heterolítica é um processo endotérmico. Em reações de substituição nucleofílica unimolecular, a cisão heterolítica entre o carbono e o halogênio é a etapa determinante da velocidade da reação.

Entalpia

HP

HR

CH3

CH3HC l

CH3

CH3HC l Estado de transição,momento de ocorrência

da quebra da ligação

+ C l

CH3

CH3H

Energiade ativação

Coordenada de reação

HP - HR > 0

∆ H > 0

Figura 7.02. Cisão heterolítica de um haloalcano. 7.4 Estabilidade e propriedades dos carbocátions

H

H

Estrutura trigonal plana do carbocátion etila

O orbital p se encontra perpendicular ao plano que contém o carbono sp2

CH3

sp2

sp3

+

Região de proximidade entre os orbitaisCH2 - CH3

Dispersão da carga no carbocátion etila. Efeito de hiperconjugação+

+

H

H

H

HH

Page 37: cap  5 -6 - 7

133

Os elétrons sigma da ligação se deslocam para o orbital p vazio. Essa deslocalização é facilitada pela proximidade entre os orbitais. Existem dois efeitos eletrônicos que estabilizam os carbocátions, o efeito de hiperconjugação e o efeito de ressonância.

Os carbocátions aromáticos são estabilizados pelo efeito de ressonância.

+

Carbocátion cicloeptatrienilaTropílio, mais estável

>> C

+

+

> CHCH2

+

Carbocátion trifenila

Carbocátion bifenilaCarbocátion benzila

Efeito de ressonância no tropílio.

+

++

+

Os carbocátions alifáticos são estabilizados pelo efeito de hiperconjugação.

CH3

CH3H3C

+

CH3

CH3

H CH3H

H

H H

H

++ + >> >

7.4.1 Propiedades do carbocátion

Rearranjo: ocorre com a finalidade de aumentar a estabilidade do carbocátion. Geralmente este processo acontece em uma das etapas do mecanismo de reação. O rearranjo pode acontecer com migração de hidreto ou através de migração de metila.

CH3 - C - CH - CH3

CH3

H

+

Migração de hidreto

CH3 - C - CH2 - CH3

CH3

+

Carbocátion secundário

Carbocátion terciário

Page 38: cap  5 -6 - 7

134

CH3 - C - CH - CH3

CH3

CH3

+

Migração de carbânion metila

CH3 - C - CH - CH3

CH3

+

Carbocátion secundário Carbocátion terciário

CH3

Eliminação de próton: o carbocátion na presença de base forte elimina próton e forma uma olefina (alceno).

CH3 - C - CH - CH3

CH3

H

+CH3 - C = CH - CH3

CH3

B

Eliminação de hidrogênio de carbono terciário.

Olefina (alceno)

+ H - B

CH3 - C - CH - CH2

CH3

H

+CH3 - C - CH = CH2

CH3

B

Eliminação de hidrogênio de carbono primário

Olefina (alceno)

+ H - B

H H

No processo de eliminação de próton é comum se aplicar à regra de Saytzeff, que tem o seguinte enunciado: ao eliminar próton se formará em maior proporção o alceno que possuir o maior numero de radicais alquila conectado no carbono sp2. A ordem de estabilidade dos alcenos será mostrada a seguir. R2C = CR2 >> RCH = CR2 > CH2 = CR2 CH2 = CHR> CH2 = CH2 Interação com nucleófilo: o carbocátion ao se formar pode interagir com espécies negativas (nucleófilo) do meio reacional.

CH3 - C - CH - CH3

CH3

H

+ + Nu CH3 - C - CH - CH3

CH3

H Nu

Interação do carbocátion com o nucleófilo

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7.5 Reagentes nucleofílico e eletrofílico

O reagente nucleofílico sempre irá atacar a parte positiva de uma estrutura orgânica. Possuem comportamento de bases de Lewis, portanto, podem doar par de elétrons. São considerados nucleófilos as sguintes espécies.

OH , OR , SR ,NC , H2O , RO H, R3N

O reagente eletrofílico sempre irá atacar a parte negativa de uma estrutura orgânica. São ácidos de Lewis e sempre recebem par de elétrons.

NO2 , CH3CHCH3 , Br , BF3 , ZnCl2 , FeCl3 , AlCl3+ ++

Possuem octeto incompleto, portanto, recebem par de elétrons

7.6 Cisão heterolítica e a formação de carbânion

O composto orgânico que sofre cisão heterolítica para gerar carbânion, é o reagente de Grignard. Este reagente possuí fórmula geral RMgX, e são conhecidos como haletos de alquil magnésio.

+CH3 Mg Cl CH3 + MgCl

Carbânion metilaCloreto de metilmagnésio

Os organometálicos de um modo geral fornecem carbânion através de cisão heterolítica.

+

CH3CH2 Li CH3CH2 + LiCarbânion etila, base de Lewis

7.6.1 Estabilidade dos carbânions

CH3

CH3H3C CH3

CH3

H CH3H

H

H H

H

>> >

Carbânion metila é o mais estável

O efeito de hiperconjugação desestabiliza os carbânions, sendo assim, o carbânion metila se torna o mais estável.