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Ricardo Motta Pinto-Coelho Produção, Consumo e Reciclagem de Vidro no Brasil. 6.0 CAPÍTULO 6.1 - Introdução 6.2 – Tipos de Vidros 6.3 - Manufatura do Vidro 6.4 - Produção de Vidros no Brasil 6.5 - Consumo de Vidros no Brasil 6.6 - Reciclagem de Vidro no Brasil 6.7 - Estatísticas da Reciclagem do Vidro 6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem de vidro VIDRO

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  • Ricardo Motta Pinto-Coelho

    Produo, Consumo e Reciclagem de Vidro no Brasil.

    6.0C A P T U L O

    6.1 - Introduo

    6.2 Tipos de Vidros

    6.3 - Manufatura do Vidro

    6.4 - Produo de Vidros no Brasil

    6.5 - Consumo de Vidros no Brasil

    6.6 - Reciclagem de Vidro no Brasil

    6.7 - Estatsticas da Reciclagem do Vidro

    6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem de vidro

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    6.1 - Introduoo vidro fundamentalmente um composto formado por xidos de slica (74%) e de sdio (12%) muito embora outros elementos tais como o sdio, clcio, magnsio, alumnio e potssio tomem parte da composio final (Tab. 6.1). Segundo a definio proposta pela American Society for Testing and Materials (ASTM, 2009), o vidro um produto inorgnico de fuso, que foi resfriado at atingir condio de rigidez, sem sofrer cristalizao (ASTM, 2009; AcheTudo, 2009b).

    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    Tab. 6.1 - Principais componentes do vidro simples e suas funes

    Fonte: AcheTudo, (2009b).

    Existem registros de que o vidro j era usado pelos povos da Babilnia e pelos fencios h pelo menos 5000 anos atrs. No entanto, ele s foi amplamente popularizado no mundo antigo pelos romanos (400 a.C at 300 d.C). Na idade mdia, ele j era muito usado na construo de igrejas principalmente nos vitrais (Fig. 6.1).

    COMPONENTE FRMULA % FUNO

    xido de Slica Sio2 74 Vitrificante

    xido de Sdio Na2o 12Baixa o ponto de

    fuso da slica

    xido de Clcio Cao 9 Estabilidade

    xido de Magnsio Mgo 2 Resistncia mecnica

    xido de Aumnio Al2o3 2 Resistncia

    Potssio K2 1 Estabilidade

    Fig. 6.1 - o uso dos vidros j estava muito disseminado na Europa durante a idade mdia. Ele era muito usado, por exemplo, em vitrais de igrejas, castelos e residncias da nobreza. Aqui, um belo exemplo de uma antiga catedral, hoje sede de um dos Colleges no campus da Cambridge Univeristy, inglaterra.

    Foto: RMPC.

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    No sculo XVi, a tcnica da flutuao do vidro para a sua fabricao foi introduzida e os monoplios para a sua fabricao e, principalmente, em relao ao seu comrcio foram uma das bases da formao da inglaterra como potncia comercial durante os sculos XViii e XiX. Hoje, o vidro um componente inseparvel das sociedades modernas dadas as suas caractersticas e atrativos. (Tab 6.2).

    o vidro possui uma srie de propriedades fsicas que o tornam um produto muito apreciado pela civilizao moderna. o vidro tem uma alta durabilidade, elevada transparncia, tima resistncia gua, a solventes e cidos (exceto para o cido fluordrico, HF e o cido fosfrico, H3Po4). o vidro, em geral, pode ser facilmente reciclvel muito embora isso no seja possvel para alguns tipos de vidros, principalmente os vidros planos. Essas caractersticas, aliadas ao baixo preo se comparado ao alumnio, garantem a sua praticidade e versatilidade de usos.

    Tab. 6.2 - Principais propriedades fsico-qumicas e atrativos do vidro,

    Fig. 6.2 - Carbonato de sdio, a barrilha (Na2Co3), uma das principais matrias primas do vidro.

    PROPRIEDADES FSICAS ATRATIVOS

    dilatao trmica muito baixa

    Transparente

    inerte

    Prtico e verstil

    Reutilizvel

    Higinico

    Alta durabilidade impermevel

    Baixa condutividade eltrica Retornvel

    tima resistncia gua e a lquidos salga-dos bem como substncias orgnicas, alcalis e cidos, com exceo ao cido fluordrico e

    o fosfrico.

    Reciclvel

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    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    Tab. 6.3 - Composio e granulometria dos dois tipos de barrilha, a barrilha leve (BL) e a barrilha densa (Bd).

    Fonte: ALCALIS, 2009.

    Assim como os plsticos, certas propriedades fsicas dos vidros podem ser modificadas pela adio de um determinado tipo de aditivo. os vidros podem ter uma impressionante diversidade de cores que podem ser obtidas pela adio de vrios tipos de xidos. o Cobalto e o cobre conferem uma tonalidade azul enquanto o mangans e o selnio geram cores em vermelho. o cromo e o nquel so usados quando se deseja obter uma colorao amarela ou marron e o verde obtido quando se adiciona o ferro (Fig. 6.3).

    Segundo o Manual de informaes da Companhia Nacional de lcalis (ALCALiS, 2009), a principal matria prima para a fabricao do vidro a barrilha. A barrilha o nome comercial do carbonato de sdio (Na2Co3). Trata-se de uma substncia alcalina, de cor branca, em forma de p (barrilha leve) ou gro (barrilha densa), sem cheiro (Fig. 6.2).

    A barrilha um produto higroscpico, ou seja, absorve umidade lentamente quando exposta a atmosfera mida, sendo responsvel pela aglomerao do produto. A barrilha no um produto inflamvel ou explosivo. Ela usada como o agente fundente na indstria do vidro. Uma das mais importantes fbricas de barrilha do Brasil localiza-se em Arraial do Cabo, RJ (ALCALiS, 2009). Ali, a barrilha obtida atravs do processamento de sedimentos lacustres da lagoa de Araruama, Rio de Janeiro, que so muito ricos em conchas de moluscos.

    Existem dois tipos de barrilha, a barrilha densa e a barrilha leve (Tab. 6.3). Ambos os tipos possuem diversas aplicaes. A barrilha leve empregada em diversos tipos de indstrias tendo destaque as indstrias petroqumicas, papel e celulose, sabo e detergentes. Esse tipo de barrilha utilizado na fabricao de vidros ocos e especiais.

    A barrilha densa muito usada na indstria alimentcia e farmacutica, na fabricao do papel e celulose, em diversas indstrias qumicas, no preparo de sabo e detergentes e at no tratamento de gua. A barrilha densa essencial na fabricao de vidros planos.

    Composio BL Bd

    Na2Co3 99% 99%

    NaCl 0,4% 0,7%

    Na2So4 0,07% 0,07%

    Fe2o3 0,003% 0,003%

    densidade Aparente (g/l) 470-570 950-1150

    Tamanho dos gros < 2,00 > 2,0mm

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    A colorao dos vidros usada no somente para atrair o consumidor para adquirir um dado produto, tal como o caso de frascos de perfume, por exemplo. o uso de certos tipos de cores pode impedir a penetrao de radiao solar na faixa do infra-vermelho ou na faixa da radiao ultra-violeta. o uso de garrafas na cor mbar para a cerveja e na cor verde para o vinho impede a penetrao de radiao UV que comprometeria seriamente a qualidade desses produtos. os vidros planos usados em janelas de residncias e veculos frequentemente so dotados de filtros coloridos que impedem a entrada de radiao na faixa do infra-vermelho mas permitem, por outro, lado a entrada da luz visvel. Esses filtros impedem, portanto, a passagem do calor e tornam o clima interior mais agradvel e ainda economizam o uso de sistemas de refrigerao.

    6.2 - Tipos de VidrosExistem vrios tipos de vidros. Abaixo so apresentadas as principais caractersticas dos

    vidros mais comuns.

    Slica Vtrea

    Esse material obtido aquecendo-se areia de slica ou cristais de quartzo at uma temperatura acima do ponto de fuso da slica, ou seja, acima de 1.725C. Por causa da rede tridimensional da slica cristalina, o processo de fuso muito lento. o vidro resultante to viscoso que qualquer bolha de gs formada durante o processo de fuso no capaz de se libertar do fluido fundente. A slica vtrea tem um coeficiente de expanso trmico muito baixo e uma excelente resistncia a choques trmicos. devido extrema pureza obtida no processo de sua produo, a slica vtrea um material de alto custo de produo. A slica vtrea utilizada em aplicaes especiais tais como na manufatura de janelas de veculos espaciais, espelhos astronmicos ou ainda para produo de fibras ticas.

    Fig. 6.3 - xidos que conferem cor ao vidro bem como o padro final da cor do vidro em funo do percentual de adio dos xidos de cromo, nquel, selnio, mangans, cobalto, cobre e ferro. original: RMPC.

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    Vidros Sodo-Clcicos

    os xidos alcalinos so excelentes fluxos j que eles amolecem o vidro, reduzindo a viscosidade do vidro fundido de slica. Eles so muito usados como geradores de fluxo ou modificador de rede. Esses xidos alcalinos so incorporados nas composies dos vidros sob a forma de carbonatos. Acima de 550C, os carbonatos reagem com a slica formando um lquido silicoso. Em determinadas propores, a mistura de carbonato alcalino e slica ir formar o vidro aps o resfriamento. A adio dos carbonatos alcalinos diminui a resistncia qumica do vidro. Com altas concentraes de lcalis, o vidro ser solvel em gua, formando a base da indstria de silicatos solveis muito utilizados em adesivos, produtos de limpeza e pelculas protetoras.

    Para reduzir a solubilidade dos vidros de silicatos alcalinos mantendo-se a facilidade de fuso, fluxos estabilizantes so includos na composio do vidro no lugar de fluxos alcalinos. o xido estabilizante mais utilizado o de clcio (Cao), muitas vezes junto com xido de magnsio (Mgo). Estes vidros so comumente chamados de sodo-clcicos (Tab. 6.4). Este tipo de vidro compreende, de longe, a famlia de vidros mais antiga e largamente utilizada. Pertencem categoria dos vidros sodo-clcicos a maior parte das garrafas, frascos, potes, janelas, bulbos e tubos de lmpadas.

    Vidros ao chumbo

    Vidros alcalinos ao chumbo tm uma longa faixa de trabalho (pequena alterao de viscosidade com diminuio de temperatura), e, desta maneira tm sido usados por sculos para produo de artigos finos de mesa e peas de arte. o chumbo tambm confere ao vidro um maior ndice de refrao, incrementando seu brilho. o vidro ao chumbo o vidro nobre aplicado em copos e taas finas. Esse tipo de vidro tambm conhecido como cristal, um termo errneo, pois, o vidro no um material cristalino, amorfo. devido ao fato do xido de chumbo ser um bom fluxo e, ao contrrio dos xidos alcalinos, no abaixar a sua resistividade eltrica, os vidros ao chumbo so usados largamente na indstria eletroeletrnica. Uma aplicao importante desse tipo vidro o seu uso na manufatura de funil de tubo de televiso, devido s caractersticas eltricas e a sua propriedade de absoro dos raios X. Vidros ao chumbo so tambm utilizados em tica, devido aos seus altos ndices de refrao.

    Vidros boro-silicatos

    o xido de boro, por si s, forma um vidro com resfriamento a partir de temperaturas acima do seu ponto de fuso a 460C. os vidros boro-silicatos possuem uma alta resistncia ao choque trmico e por isso so empregados em produtos de mesa que podem ser levados ao forno. o caso dos produtos Pyrex e Marinex.

    devido a menor quantidade de xidos modificadores, alm da resistncia ao choque trmico, os vidros boro-silicatos so tambm muito resistentes ao ataque qumico e por isso so utilizados em vrios equipamentos de laboratrio.

    Vidros alumnio-boro-silicato

    Quando se adiciona alumina (xido de alumnio) em uma formulao de vidro silicato alcalino, o vidro se torna mais viscoso em temperaturas elevadas. Assim, os vidros alumino-

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    Tab. 6.4 - Tipologia do Vidro

    Fonte: ABIVIDRO, 2009.

    TIPO DE VIDRO APLICAES

    Slica Vtrea indstria aero-espacial / Telescpios / Fibras ticas

    Sodo-ClcicoEmbalagens em geral / indstria automobilstica, construo civil e eletro-domsticos (na forma de vidro no planos);

    Boro-Silicato Utenslios resistentes a choque trmico

    Ao chumboCristais: copos, taas, ornamentos e peas artesanais. (o chumbo confere mais brilho ao vidro).

    Vidros PlanosVidro Temperado / Vidro Laminado (ou blindado)Vidros de Controle Solar / Espelhos

    boro-silicatos (Tab. 6.4) podem ser aquecidos a temperaturas superiores, sem deformao, comparativamente a vidros sodo-clcicos ou maioria dos borosilicatos. os vidros alumino-silicatos so utilizados em tubos de combusto, fibras de reforo, vidros com alta resistncia qumica e em vidros cermicos.

    Finalmente, existe a famlia dos vidros planos que podem ser vidros temperados vidros laminados e os espelhos que recebem uma camada de prata para refletir as imagens. os vidros planos, em geral, exigem uma tecnologia especial para serem reciclados. Alguns vidros planos resultam da sobreposio de camadas de vidros e polmeros tais como o policarbonato, por exemplo. Esse polmero pode atingir transparncia de at 90%, alm de ser extremamente resistente a impactos. muito utilizado na produo de vidros planos, lentes de culos e Cds. os vidros planos ainda podem receber uma srie de aditivos especiais para filtrarem a radiao infra-vermelha, por exemplo. E devido a essas caractersticas especiais, a reciclagem dos vidros planos no feita atravs dos mtodos convencionais (vide abaixo). Um resumo das principais aplicaes dos diversos tipos de vidros apresentado a seguir (Tab. 6.4).

    6.3 - Manufatura do VidroAs principais etapas para a produo do vidro so a fuso dos insumos, a moldagem da

    pea e o seu posterior resfriamento (Tab. 6.5). A fuso do vidro obtida em altas temperaturas, algo da ordem de 1500-1600C. A afinagem, moldagem e homogeneizao so realizadas em temperaturas oscilando entre 800 e 1600C (Tab. 6.5).

    FASES TEMPERATURA

    Fuso 1.500 - 1.600C

    Conformao (Afinagem e homogeneizao) 800 - 1200C

    Resfriamento (Recozimento) 100 - 800C

    Tab. 6.5 - Principais etapas da produo de vidros.

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    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    Fig. 6.4 - Esquema de uma prensa usada para a moldagem de utenslios de vidro. original: RMPC.

    devido s altas temperaturas exigidas nas diferentes fases da sua produo, o vidro requer um elevado aporte de energia por cada tonelada produzida desse material. Em geral, a produo de uma tonelada de vidro requer cerca de 1,8 milho de kcal de energia trmica o que equivale a 200 m3 de gs ou 200 kWh/de energia eltrica.

    o princpio de fabricao o mesmo para todos os tipos de vidros no planos. o vidro, depois de elaborado e condicionado termicamente, cortado em gotas. Essas gotas constituem em determinadas quantidades de vidro fundente que tm exatamente a quantidade de vidro necessria para a obteno da pea final. o vidro no plano pode ser trabalhado de diferentes maneiras. As peas podem ser fabricadas por prens agem (Fig. 6.4) ou por assopro (Fig. 6.5).

    Na conformao por prensagem, as gotas caem em um dos moldes que esto situados em uma mesa giratria. Uma vez que a gota tenha sido depositada no molde, a mesa gira, e a gota passa para uma posio onde vai ser prensada juntamente com o molde, que conforma a parte interna, forando o vidro a adquirir seu formato final. Ao sair da prensa, a pea esfriada, at se enrijecer e no mais perder sua forma. Ao mesmo tempo, nova gota prensada. Neste ponto, se for uma pea que tem aba, como uma xcara, o molde se abre, pois ele feito em duas metades, para liberar a pea. No caso de pratos e travessas, o molde inteirio. A partir da, a pea retirada do molde por um rob, chamado de take-out, e transferida para um forno chamado de REC, onde a temperatura homogeneizada, preparando a pea para a tmpera. Logo aps a sada do forno REC, a pea temperada, atravs de fortes jatos de ar que cobrem toda superfcie da pea.

    A vantagem da tmpera que o produto fica mecanicamente mais resistente e menos sujeito a sofrer quebras ou perder lascas durante o uso. Em casos de quebra, os cacos so menores, reduzindo os riscos de ferimentos. Aps a tmpera, o produto j est pronto, devendo apenas ser esfriado, passar pelos controles de qualidade, ser embalado e vendido.

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    os vidros para embalagens e garrafas so moldados pela conformao tipo assopro (Fig. 6.5). Nessa tcnica, uma gota (ver a definio desse termo logo acima) do vidro fundente cai dentro do bloco onde, primeiramente, ser formado o gargalo. Para garantir a eficincia do mtodo, feita uma compresso com ar na parte superior. A seguir, ar soprado por dentro do gargalo, criando o vazio interno da embalagem. formando, ento, o parison, que a primeira etapa da conformao.

    A segunda etapa inicia-se com a abertura do bloco e o parison ento transferido para o molde, que visa a dar a forma final do produto. Uma vez dentro do molde, o parison permanece em repouso por alguns instantes, para que a pele do vidro, que teve contato com o bloco metlico e se esfriou um pouco possa novamente se reaquecer com o calor vindo do ncleo do vidro. Finalmente, soprado ar no interior do parison, que vai empurrar a massa de vidro fundente contra o molde, definindo a forma final da pea. o molde, ento, se abre, e a embalagem pronta extrada e conduzida ao forno de recozimento. Essa etapa caracterizada por um lento processo de resfriamento at que a temperatura ambiente seja atingida. Esse processo de lento resfriamento necessrio j que assim so produzidas tenses que poderiam tornar a pea mais frgil.

    Este processo chamado de soprado-soprado, pois tanto o parison como o produto final so produzidos por sopro. Um outro processo, chamado de prensado-soprado, semelhante ao anterior, diferindo apenas pela formao do parison, que feita por prensagem e no por sopro de ar. Este processo indicado no caso de potes e peas muito leves, onde exigida uma perfeita distribuio do vidro.

    Fig. 6.5 - Esquema de moldagem do vidro pela tcnica vidro soprado. original: RMPC.

    No caso dos vidros planos, o processo mais comum o do estiramento. o estiramento pode ser obtido por laminao ou por flutuao (floating) sobre o estanho lquido (Fig. 6.6). o processo float foi inventado em 1959, por Alastair Pilkington (Pilkington, 2009). o processo baseia-se no uso do estanho lquido, que mais denso do que o vidro fundente. o vidro fundente literalmente flutua sobre estanho lquido e no se mistura com ele, nas temperaturas em que se d o enrijecimento do vidro (de 600 a 1.100C). Ao se despejar o vidro fundido sobre o estanho,

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    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    Fig. 6.6 - dois mtodos usados para o estiramento de vidros planos. (A) Laminao e (B) Floating sobre o estanho lquido. original. RMPC.

    (A) Trabalhando vidros planos por laminao.

    (B) Trabalhando vidros planos por flotao (floating) no estanho lquido

    a tendncia de se formar uma lmina de 5 a 6 mm de espessura. o banho de estanho deve ser longo o suficiente para que d tempo para o vidro esfriar, dos 1.100C na sua entrada, at 600C, na sada, quando estar rgido.

    A espessura do vidro determinada atravs do equilbrio entre as tenses superficiais, a fora de gravidade e a velocidade de extrao. Aumentando-se a velocidade, a fita torna-se mais delgada. Ao diminuir a velocidade de trao, a placa se engrossa.

    o controle da temperatura de sada muito importante, pois, caso a temperatura for muito elevada, o vidro ficar marcado pelos rolos que conduzem a placa pelo forno de recozimento (chamado de estenderia). Ao contrrio, se a temperatura estiver muito baixa, a placa poder se romper.

    A velocidade de extrao do vidro controlada por mquinas chamadas de top-roll que so dotadas de rodas dentadas que pinam o vidro pelas bordas e que tm rotao e ngulos variveis e regulados por motores. Para a produo de vidros de 5 a 6 mm de espessura, os top-rolls ficam paralelos ao fluxo de vidro e o controle da espessura se faz pela velocidade de extrao. os vidros mais finos que a espessura de equilbrio (5-6 mm), so formados a partir de disposio das placas nas mquinas top-roll em ngulos divergentes, o que leva a placa a ser mais esticada e ainda em conjunto com uma maior velocidade de trao. ngulos convergentes e menor velocidade de trao geram, ao contrrio, vidros planos mais espessos do que 6 mm.

    o estanho (Sn) tem um srio inconveniente: ele se oxida em contato com o oxignio, nas temperaturas exigidas na fabricao do vidro. Ento, necessrio que todo o banho de estanho fique enclausurado dentro de uma grande caixa, onde se injeta nitrognio gasoso. dentro desta caixa, h, tambm, uma srie de resistncias eltricas que garantem um perfil trmico conveniente desde a entrada at o ponto de sada do vidro.

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    o vidro ainda pode ser formatado em uma grande variedade de fibras que podem ser empregadas em inmeras utilidades. Elas so produzidas atravs de um processo especial (Fig. 6.7). As fibras se originam pela passagem do vidro fundente em placas metlicas de platina dotadas de milhares de furos de um ou dois milmetros de dimetro. Aps passar pelas fieiras, os fios so esticados mecanicamente a uma grande velocidade. Esse processo ir gerar filamentos muito finos da ordem de poucos micrmetros de dimetro (um micrmetro = 0,001 milmetro). imediatamente aps serem formados, os filamentos so impregnados com uma soluo aquosa de compostos orgnicos, em processo que recebe o nome de encimagem. Atravs desse processo, a fibra ir ter uma boa aderncia ao material que ela vai reforar (ABiVidRo, 2009).

    As fibras se esfriam rapidamente porque so muito finas. Elas podem ser enroladas na forma de novelos em bobinas de cartolina. o fio de vidro por ser mais fino que um fio de cabelo bastante flexvel. As bobinas com as fibras tratadas com a soluo de produtos orgnicos so transferidas a uma estufa de secagem onde a fibra sofre um processo de polimerizao com os orgnicos. A seguir, a fibra de vidro pode sofrer vrias transformaes que iro resultar em fibras de diferentes formas: (a) rovings (bobinas); (b) fio cortado (3 mm de comprimento); (c) fibra tecida picotada e (d) fibras espalhadas sob manta de ligante (Mat).

    As fibras de vidro so usadas sobretudo para aumentar a resistncia mecnica de plsticos que, reforados, se prestam a muitas outras finalidades, como, por exemplo, piscinas, caixas dgua, carroceria de carros, pranchas de surf. Elas podem ser usadas at mesmo na construo de trens e avies.

    Fig. 6.7 - Esquema ilustrando a produo de fibras ( esquerda) e tubos de vidro ( direita). original: RMPC.

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    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    As fibras por serem muito finas no requerem recozimento. outra exceo seriam alguns produtos domsticos, que j so temperados diretamente ao final da linha (o duralex, por exemplo).

    o recozimento realizado em fornos tipo tnel, cuja entrada fica perto de onde se faz a conformao, e a sada no local onde o produto passa por inspeo e controle de qualidade. No processamento dos vidros planos pela tcnica do float, estes fornos so chamados de estenderia e, na embalagem e domstico, de arca de recozimento ou simplesmente forno de recozimento. A partir da, o vidro est pronto para ser inspecionado, embalado ou transformado.

    6.4 - Produo de Vidros no BrasilSegundo a ABiVidRo (2009), existem atualmente mais de duzentos fabricantes de vidro

    no Brasil que atendem tanto ao mercado interno quanto ao mercado externo. A produo total de vidros planos e no planos no pas alcanou, em 2007, 2,9 milhes de toneladas ano. o universo das empresas que fabricam vidros no Brasil emprega cerca de 11.500 trabalhadores e a comercializao dessa produo alcanou um faturamento anual (2007) em torno de R$ 3,8 bilhes. os segmentos dos vidros empregados em embalagens e vidros planos atingiram, juntos, uma participao de 65,8% do mercado de vidros (Tab. 6.6)

    Tab. 6.6 - desempenho do setor de vidros no Brasil em 2007.

    SEGMENTO FATURAMENTO (X 106 R$)PARTICIPAO

    (%)PRODUO (X 103 TON)

    EMPREGOS (X 103 )

    Embalagem 1350 35,1 1303 5,2

    domstico 558 14,5 229 2,4

    Vidros Tcnicos 759 19,7 182 2,4

    Vidros Planos 1183 30,7 1240 1,5

    Total 3850 100,0 2954 11,5

    Fonte: ABIVIDRO, 2009.

    Ao contrrio de outras cadeias produtivas enfocadas nessa obra, como, por exemplo, a da indstria do papel, a produo nacional de vidro vem se mantendo em patamares estveis ao longo dos ltimos anos, excetuando o segmento dos vidros planos que teve um aumento significativo de sua produo a partir de 2004. os incrementos no faturamento das empresas so mais uma decorrncia dos ajustes nos preos do que de aumentos nominais de produo. Houve uma sensvel queda tanto na produo quanto no faturamento dos vidros domsticos talvez em decorrncia do aumento do uso dos plsticos no ambiente domstico (Fig. 6.8).

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    6.5 - Consumo de Vidros no Brasilo consumo de embalagens de vidro entre os brasileiros de 12 kg por habitante por

    ano. Nos pases europeus, tais como na Frana, o consumo per capita chega pode chegar 65 quilos. Como j visto anteriormente (Fig. 6.8), a maior demanda do setor est concentrada na construo civil.

    o setor de vidros planos um dos setores que maior expanso apresenta dentro desse segmento, principalmente em decorrncia da forte acelerao da atividade de construo civil observada nos anos de 2007 e 2008. o setor de vidros planos apresentou um crescimento de mais de 10% em 2007 sendo que a mesma tendncia foi observada nos dez primeiros meses de 2008. Apesar de toda essa expanso, o consumo per capita de vidro plano no pas ainda baixo, cerca de quatro quilos por ano, bem abaixo dos quatorze quilos observados na Argentina. A produo de vidros planos no Brasil dominada por trs grandes fabricantes de vidros: Cebrace, Guardian e UBV (CBiC, 2009).

    Fonte: ABIVIDRO, 2009.

    Produo Nacional de Vidros - ABIVIDRO

    Ano

    Embalagens Vidros Planos

    (x10

    3 to

    nel

    adas

    )

    20020

    2003 2004 2005 2006 2007

    500

    1000

    1500

    2000

    (x10

    6 R

    $)

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    Vidros domsticos Vidros Especiais

    Embalagens Vidros Planos Vidros domsticos Vidros Especiais

    Fig. 6.8 - Capacidade de produo em milhares de toneladas (barras verticais) e faturamento em milhes de reais (linhas) da indstria nacional de vidros por segmento.

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    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    Fig. 6.9 - depsito de vidro em uma empresa recicladora.

    6.6 - Reciclagem de Vidro no Brasilo vidro pode ser reciclado ilimitadamente. No entanto, o processo da reciclagem do vidro

    implica em custos elevados seja pelo emprego intensivo de mo de obra ou ainda pelo aporte de grande quantidade de gua ou de energia necessrios para que o processo da reciclagem se complete.

    o processo inicia-se com a coleta e deposio do vidro em um depsito de uma empresa recicladora (Fig. 6.9). o processo da coleta de vidros usado no Brasil ainda muito rudimentar. No entanto, no isso o que ocorre em pases mais desenvolvidos. Esse processo deve envolver a prpria indstria do vidro, deve estar associado a programas muito bem estruturados de coleta seletiva gerenciados pelas prefeituras. Nada disso ir funcionar se no houver o envolvimento da comunidade-alvo. Uma coleta moderna de vidro bem como de outros resduos potencialmente reaproveitveis e reciclveis exige uma boa logstica de transporte, uma boa campanha de marketing e, sobretudo, um suporte de aes de educao ambiental especificamente desenhadas para motivar todos setores da comunidade que podem atuar nessa cadeia: associaes de bairro, supermercados, igrejas, clubes, postos de gasolina, administraes regionais, imprensa local, etc. (WasteonLine, 2009b)

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    A reciclagem dos vidros continua com a remoo de tampas e tampas e rtulos. A seguir, feita uma triagem com separao de garrafas de bebidas, frascos de remdios e cosmticos e potes de conservas. os vidros so nessa fase tambm separados em cores ou transparentes. Espelhos, lmpadas, Pyrex ou similares e cristais no se prestam para a reciclagem tradicional do vidro (Fig. 6.10).

    Na prxima fase, os recipientes devem ser lavados para a completa remoo dos resduos (Fig. 6.11). At hoje, no existe uma clara orientao aos consumidores sobre o fato se eles devem ou no lavar os recipientes de vidro antes de jog-los no lixo. Sugerimos aos consumidores finais que eliminem os restos de alimentos e lquidos dos recipientes antes de jogarem os frascos no lixo. Um leve enxge pode deixar o vidro praticamente limpo o que implicar em um ganho de economia de gua e energia na lavagem final a ser feita pela recicladora.

    Fig. 6.10 - Triagem de vidro em uma empresa recicladora.

    Fig. 6.11 - Lavagem de vidros em uma empresa recicladora.

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    Reciclagem e Desenvolvimento Sustentvel no Brasil

    Uma das etapas finais do processo de reciclagem consiste na moagem dos vidros (Fig. 6.12). o material previamente triado e limpo levado para esteiras rolantes que esto acopladas a um moinho industrial. Essa fase implica em gastos com energia e constante manuteno dos equipamentos bem como em gastos com o treinamento em segurana dos funcionrios.

    A ltima etapa da reciclagem a refundio do vidro. A reciclagem completa do vidro propicia uma enorme economia de energia que seria necessria para a fabricao do vidro novo.

    Na fabricao do vidro novo, as temperaturas giram em torno de 1500C e 1600C. J na reciclagem, h necessidade apenas de uma nova refuso do material o que implica em temperaturas bem menos elevadas, na faixa de 1000C e 1200C. Considerando o acima exposto, uma importante medida de economia e que contribui para a melhoria do meio ambiente a agregao de cacos de vidros no processo convencional da produo de vidros. A agregao a uma taxa de 10% de cacos, por exemplo, pode gerar um ganho energtico de cerca de 4% e uma reduo de 5% na emisso de Co2. Assim, a agregao de uma tonelada de cacos pode gerar uma economia de cerca de 1,2 toneladas de matrias primas.

    essencial o envolvimento do setor produtivo para que haja um aumento ainda maior nos percentuais de reciclagem de qualquer tipo de material. Um bom exemplo dessa estratgia pode ser visto na figura abaixo (Fig. 6.13), onde so dadas informaes ao consumidor de quais os tipos de vidros que podem ser aceitos em um programa convencional de reciclagem (ABiVidRo, 2009).

    Fig. 6.12 - Esteira que transporta os resduos do vidro aps a moagem.

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    Hoje, sabemos que para cada tonelada de vidro reciclado, evitamos a extrao de 1.300 Kg de areia. isso significa que se a totalidade dos 2,95 x 109 Kg de vidro produzidos no Brasil em 2007 fosse reciclada seria evitada a extrao de 3,83 x 109 Kg de areia.

    A extrao de areia uma das principais causas da rpida degradao dos rios em diversas partes do Brasil. A extrao de areia na vrzea do rio Paraba do Sul, nos estados de So Paulo e do Rio de Janeiro um bom exemplo disso. A produo de areia dessa regio corresponde a 10% de toda a produo nacional. isso equivale a uma taxa mensal de retirada de areia igual a 1,02 x 106 m3.mes-1 (dNPM, 2006). Grande parte dessa areia levada para a regio metropolitana de So Paulo. Em um estudo sobre o impacto da minerao de areia no balano hdrico do rio Paraba do Sul, Reis et al. (2006) demonstraram que, no perodo 1993-2003, o crescimento das reas de cavas abertas que resultam da explorao de areia, ao longo desse importante rio, foi extraordinrio (Fig. 6.14). Esses autores estimaram um aumento de evaporao de at 203% devido a essas cavas na regio abrangida pelo estudo. importante destacar que essa uma regio que j afetada por um ntido dficit hdrico, principalmente entre os meses de abril e setembro.

    Fig. 6.13 - Quadro organizado pela ABiVidRo para ser usado em campanhas educacionais visando a reciclagem de vidros (ABiVidRo, 2009).

    Fig. 6.14 - imagem de satlite Landsat demonstrando a evoluo das atividades de extrao de areia no rio Paraba do Sul, entre as cidades de Jacare e Pindamonhangaba (SP). Em vermelho, cavas de reas de extrao de areia. esquerda, situao em 1993; direita, a mesma rea 10 anos depois (2003).

    Fonte: Reis et al. 2006.

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    deve ser ressaltado, contudo, que a rentabilidade da reciclagem do vidro est muito aqum da rentabilidade obtida na reciclagem do alumnio, por exemplo. A rentabilidade da reciclagem do vidro est hoje na casa de R$ 0,21 por kg de vidro enquanto que no caso do alumnio esse valor pode chegar a R$ 3,70 por kg de latas de alumnio. Esses contrastes de rentabilidade ressaltam a complexidade logstica e operacional da reciclagem j que ela implica no somente em uma grande diversidade de metodologias dependendo do material considerado, mas tambm deve ser levada em conta a grande diferena nos custos finais envolvidos. diante desse cenrio, recomendvel que as diferentes esferas de governo passem no somente a reconhecer a importncia da reciclagem, mas tambm passem a atuar mais ativamente na questo da reciclagem. o governo deve atuar, no somente criando, aplicando e fiscalizando novas normas que possam disciplinar mais esse segmento, mas tambm criando polticas de fomento para a reciclagem no Brasil a exemplo do que j vem sendo feito h dcadas nas respectivas cadeias produtivas desses materiais.

    6.7 - Estatsticas da Reciclagem do VidroEm 2001, o Brasil reciclava apenas 42% do consumo interno um valor que estava bem

    prximo dos EUA, por exemplo. Nesse mesmo ano, vrios pases europeus apresentaram taxas de reciclagem acima de 80% com destaque para a Sua, Finlndia ambos com percentuais superiores a 90% do consumo interno (Tab. 6.7).

    Tab. 6.7 Estatsticas da reciclagem de vidro em alguns pases europeus e dos EUA, comparados ao Brasil.

    RECICLAGEM DO VIDRO (2001)

    PAS % TONELADAS/ANO

    Suia 92 -

    Finlndia 91 -

    Blgica 88 -

    Noruega 88 -

    Alemanha 87 2,6 milhes

    Brasil 42 390 mil

    inglaterra 34

    EUA 40 2,5 milhes

    Fonte: WasteonLine (2009b), ABIVIDRO (2009).

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    o Brasil tem experimentado um grande avano na reciclagem do vidro (Fig. 6.15). Basta mencionar que em 1991, apenas 15 % do vidro era reciclado no pas. Em 2007, os ndices nacionais de reciclagem se aproximavam de 50% do total de vidro comercializado no pas. No entanto, ao observarmos os dados da Tab. 6.7, fica evidente que h um grande caminho a ser percorrido para a reciclagem do vidro especialmente se as estatsticas nacionais forem comparadas quelas dos pases europeus mais desenvolvidos.

    Em termos de origem do vidro reciclado, a maior parte (80%) vem de embalagens e do mercado difuso que constitudo pelo universo dos catadores, associaes de catadores e pequenas empresas de reciclagem. o canal frio representado pelos bares e restaurantes. Ao contrrio da indstria de matria plstica, o refugo industrial tem um papel apenas secundrio na reciclagem do vidro (Fig. 6.16).

    40%

    40%

    10%

    10%

    Envaze

    Mercado Difuso

    Canal Frio

    Refugo da Indstria

    Fig. 6.15 - Evoluo da reciclagem de vidro no Brasil entre 1991 e 2007.

    Fig. 6.16 - origem do vidro reciclado no Brasil.

    Fonte: ABIVIDRO (2009).

    Fonte: ABIVIDRO ( 2009).

    Reciclagem de Vidro no Brasil

    % R

    ecic

    lage

    m

    0

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    1996

    1997

    1998

    1999

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    2001

    2002

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    6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem de vidro

    A ABiVidRo (2009) elaborou um estudo sobre a abertura de empresas de reciclagem de vidros e muito do que ser exposto adiante sumariza esse documento e pode, inclusive, ser aplicvel a vrias outras empresas de reciclagem, em geral. inicialmente, o empreendedor deve buscar uma rea apropriada. Ser necessrio um galpo industrial com rea mnima construda de 600 a 800m2. A escolha do local da usina deve considerar, dentre outros aspectos, os seguintes fatores: (a) proximidade e facilidade de acesso aos pontos de captao do caco; (b) proximidade e facilidade de acesso aos clientes compradores; (c) a rea deve estar adequada legislao urbana (municipal e estadual) sobre uso do solo (rea permitida para uso industrial). Para se saber se uma rea pode ser usada basta fazer uma consulta prefeitura local; (d) boa oferta de servios pblicos tais como energia eltrica, gua potvel e rede de esgotos, telefone fixo e sinal de telefonia mvel, servio de internet por banda larga, transporte coletivo, segurana, limpeza urbana confivel.

    Embora exista no pas a tradio de que a atividade de reciclagem seja informal, toda empresa de reciclagem e, em particular, uma miniusina de reciclagem de vidro, deve estar totalmente enquadrada em um dos modelos jurdicos admitidos pela legislao brasileira para esse tipo de atividade: firma individual, sociedade comercial ou sociedade civil, ou ainda organizaes da sociedade civil de interesse pblico (oSCiP) e, dentre elas, as associaes comunitria Em todos os casos, ser estabelecida uma razo social, um nome fantasia. o novo empresrio (ou o seu contador) dever estar ciente de toda a regulamentao da atividade e dever proceder aos pedidos de cadastramento na Junta Comercial da regio, na Secretaria da Receita Federal, Secretaria Estadual da Fazenda e na Prefeitura Municipal do municpio.

    Alm dos documentos fiscais (CNPJ, inscrio estadual, etc.), ser necessrio verificar em cada caso qual a documentao requerida para se obter tanto o alvar de funcionamento bem como a licena de instalao e a licena ambiental. Esses documentos so normalmente emitidos pela secretaria do meio ambiente do municpio considerado e pela fundao estadual do meio ambiente (ou congnere) o que normalmente ocorre aps adequao do galpo s exigncias locais (essa fase pode demandar despesas adicionais em modificaes ou melhorias no galpo, dependendo do estado do galpo, da regio considerada). Tambm so necessrios o alvar da vigilncia sanitria (que emitido pela prefeitura local), o atestado da vistoria do corpo de bombeiros, alm de toda a documentao fiscal e trabalhista do novo estabelecimento.

    Embora exista muita falcia a respeito das vantagens de se reciclar, preciso de que o empresrio(a) que ir se dedicar ao negcio tenha em mente de que, em primeiro lugar, o seu negcio como qualquer um outro no sentido de que ele deve gerar lucros para que possa ser realmente sustentvel. A reciclagem deve ser encarada como um negcio que vai gerar resultado financeiro, justificando a sua prtica alm do aspecto educativo e ambiental. Para isso, uma srie de premissas devem ser levadas em considerao (Tab. 6.8).

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    o programa deve ser autosustentvel do ponto de vista financeiro. Nunca confiar em financia-mentos como forma de sobrevivncia do negcio.

    desejvel que o empresrio faa ou encomende um plano de negcios para a nova empresa. Esse dever orientar todo o negcio desde a sua instalao, as necessidades de investimentos a curto e longo prazos, o gerenciamento de recursos humanos, etc.

    o envolvimento da comunidade um pr-requisito para qualquer programa de reciclagem. Toda empresa de reciclagem ter mais sucesso se estiver inserida em um programa de coleta seletiva de lixo no municpio onde atua.

    A empresa deve possuir uma excelente logstica. Bons veculos, devidamente equipados e ade-quados legislao local, uma rota muito bem definida a fim de que o gasto de combustvel seja minimizado e, ao mesmo, tempo todos os clientes sejam visitados na freqncia adequa-da. absolutamente fundamental que o programa de coleta seja regular, confivel. A estrutura de armazenamento deve ser adequada.

    Um bom conhecimento do mercado pr-requisito para garantir a compra dos resduos a preos que justifiquem a operao. essencial que o empresrio tenha uma noo precisa dos custos envolvidos bem como das oscilaes de mercado para a compra e venda de seus respectivos produtos. Nesse sentido, a organizao de vrias empresas em um sistema de cooperativas ou de franquias poder ser muito til, principalmente no sentido de apressar o retorno do investimento no negcio e de prover uma contnua troca de experincias.

    A captao dever ser planejada, respeitando a legislao pertinente quanto a mobilirio urba-no e facilidade de acesso. Recomenda-se a formalizao de pequenos contratos de compra de resduos com os clientes maiores.

    No caso de uma empresa recicladora de cacos de vidros no so necessrios altos investimentos em equipamentos de processamento, pois o beneficiamento pode ser feito de forma manual ou de forma semiautomatizada. Uma miniusina de beneficiamento se justifica partir de coletas que atinjam 300 toneladas por ms e no requer equipamentos sofisticados. Com investimentos de R$ 150.000,00 possvel implantar uma unidade desta natureza (ABiVidRo, 2009).

    Fonte: ABIVIDRO (2009), modificado pelo autor.

    Tab. 6.8 - Premissas de um negcio autosustentvel em reciclagem de vidros.