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 Materiais Empregados em Prótese Maxilo Facial 4 No ca pítulo anterior j á est udam os os d iversos ma- teriais utilizados na modelagem maxilo-facial . Ago ra, par a comp reenderm os a evo lução da prót ese r naxilo- facial atr avés dos se us materiais. at é aos mo dernos prinpios que hoje orientam a sua prática, estudemos rapidament e as várias s ubstâncias que m sido empre- gadas par a a co nstrução d os apa relhos protéticos. Alguns dos materiais citados neste capítulo não são mais usad os, o utr os sã de recente lançamento, esta ndo pr aticamente em f ase ex perimental. De qual- quer maneira, um rápido retrospecto histórico poderá se r útil p ara o est udioso d o ass unto, levando- o a con- clu sões vá li das. O passad o é se mpre pród igo e m ensi- namentos. METAIS Assim como em prót ese de ntária, alguns metais tiveram, no passado, grande apli cação e m prót ese ma- xilo-facial. O our o, a prata, a platina, o duralumínio, as li gas de aços inoxidáveis e o tântalo têm sid o as subst âncias metálicas usadas. Ouro Tal vez o mais antigo dos materiais empre- gados em prótese, o our o é, pe a suas e xcepcionais qualidad es, o metal ma s popu l ar nas restaur ões pro- tét i cas. O seu emp r ego e m odontologia rem onta, co mo vimos no Capo J  à época da antiguidade clássica. Além do seu d ifundido .empr ego e m prót ese ex- terna, o ou ro teve g rande utilidade em prótese interna. A sua contribui ção, es pecialmente nas próteses crania- nas, foi d e valo r muito apreciado, por s er muito b em tolera do e por po ssui r as qu alidades de re sistência ne- cessárias à proteçã o do enc éfalo. Já no culo XVI , o le bre PAR É e o cirurgião MEGATUSpreconi zavam o usodesse metal nas restaur ações c ranianas, n os casos de acidentes. Em 1757BOURDETdescreveu a técnica das denta- du ras de o uro. Dpara tem el e ocupado um lu gar de destaque entre os materiais dentários. A bibliografi a sob re o empr ego desse metal em pr ótese i ntern a e ex tern a év sta , principalmen te após a Primeira Grande Guerra. Foi sempre co nsiderado como o melho metal, por suas reconhecidas qualida- des: dutili dade i nvejável e facilidade de ser trabalhado, inalterabilidad e e, s obretud o, as u a com pleta inocui- dade pa ra os tecidos. Para a prótese da fac e o se u principal inconve- niente foi sempre a sua cor e a dificuldade de lhe ser d ado u a pintura ace itá vel e d uradoura. Contu do, o o ur o teve sua época. Par a const rui r-se peças pr otéticas e m ouro, exis- tem dois processos: o da es tamp agem e o da fundição. A técn i ca de estam pagem consiste e m obter um modelo metálico da peça que se deseja reproduzir, du- plicando-o de um primi tivo mod elo de gesso. So bre esse modelo positivo metálic o, esta mpa-se a peça. sendo necessário, também, um contramodelo - o ne- gativo, construído de um met al mais brando. O me lhor pr ocesso, porém, é o da fundição.Para fundir-se uma mandíbula, por exemplo, confecciona-se primeiramente um model o em ce r a. Depo is de aplicar algun s bas ton etes f inos de cera, que irão constituir a canaletas p raa passagemdo metal na fundição, in- clui -se esse modelo em revestimento, da mesm a ma- neira como proced e os para com as comuns incrusta- ções a o u ro. O ouro encontra grande indicação nas prótese intra-orais. Obtura ores palatinos, gramp os, ga rras e qualquer elemento de fixação podem ser construído vantajosa mente com ouro ou ouro platinado. Prata Se be m que nas próte ses intra-orais nunca f oi um m ate rial ade qua do , sempre de uso muito re strito. em prótese cirúrgica a prata já foi utilizada. É b em tolerada pelos tecidos e DIEFFEMBACH, BERCHERe BABCOK,segundo relatam REBELONETOe MALBEC.' citamcasos de pr óteses intern as co m o empr ego d a

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Materiais

Empregados emPrótese Maxilo-Facial

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No capítulo anterior já estudamos os diversos ma-teriais utilizados na modelagem maxilo-facial. Agora,para compreendermos a evolução da prótese rnaxilo-facial através dos seus materiais. até aos modernos

princípios que hoje orientam a sua prática, estudemosrapidamente as várias substâncias que têm sido empre-gadas para a construção dos aparelhos protéticos.

Alguns dos materiais citados neste capítulo nãosão mais usados, outros são de recente lançamento,estando praticamente em fase experimental. De qual-quer maneira, um rápido retrospecto histórico poderáser útil para o estudioso do assunto, levando-o a con-clusões válidas. O passado é sempre pródigo em ensi-namentos.

METAIS

Assim como em prótese dentária, alguns metaistiveram, no passado, grande aplicação em prótese ma-xilo-facial.

O ouro, a prata, a platina, o duralumínio, as ligas deaços inoxidáveis e o tântalo têm sido as substânciasmetálicas usadas.

Ouro. Talvez o mais antigo dos materiais empre-gados em prótese, o ouro é, pela suas excepcionaisqualidades, o metal mais popular nas restaurações pro-téticas.

O seu emprego em odontologia remonta, comovimos no Capo J, à época da antiguidade clássica.

Além do seu difundido .emprego em prótese ex-terna, o ouro teve grande utilidade em prótese interna.A sua contribuição, especialmente nas próteses crania-nas, foi de valor muito apreciado, por ser muito bemtolerado e por possuir as qualidades de resistência ne-cessárias à proteção do encéfalo. Já no século XVI, océlebre PARÉe o cirurgião MEGATUSpreconizavam o

uso desse metal nas restaurações cranianas, nos casosde acidentes.

Em 1757BOURDETdescreveu a técnica das denta-

duras de ouro. Daí para cá tem ele ocupado um lugar dedestaque entre os materiais dentários.

A bibliografia sobre o emprego desse metal emprótese interna e externa é vasta, principalmente após a

Primeira Grande Guerra. Foi sempre consideradocomo o melhor metal, por suas reconhecidas qualida-des: dutilidade invejável e facilidade de ser trabalhado,inalterabilidade e, sobretudo, a sua completa inocui-dade para os tecidos.

Para a prótese da face o seu principal inconve-niente foi sempre a sua cor e a dificuldade de lhe serdado uma pintura aceitável e duradoura. Contudo, oouro teve sua época.

Para construir-se peças protéticas em ouro, exis-tem dois processos: o da estampagem e o da fundição.

A técnica de estampagem consiste em obter ummodelo metálico da peça que se deseja reproduzir, du-plicando-o de um primitivo modelo de gesso. Sobreesse modelo positivo metálico, estampa-se a peça.sendo necessário, também, um contramodelo - o ne-

gativo, construído de um metal mais brando.O melhor processo, porém, é o da fundição. Para

fundir-se uma mandíbula, por exemplo, confecciona-seprimeiramente um modelo em cera. Depois de aplicaralguns bastonetes finos de cera, que irão constituir acanaletas para a passagem do metal na fundição, in-clui-se esse modelo em revestimento, da mesma ma-neira como procedemos para com as comuns incrusta-ções a ouro.

O ouro encontra grande indicação nas próteseintra-orais. Obturadores palatinos, grampos, garras equalquer elemento de fixação podem ser construídovantajosamente com ouro ou ouro platinado.

Prata. Se bem que nas próteses intra-orais nuncafoi um material adequado, sempre de uso muito restrito.em prótese cirúrgica a prata já foi utilizada. É bemtolerada pelos tecidos e DIEFFEMBACH,BERCHEReBABCOK,segundo relatam REBELONETOe MALBEC.citam casos de próteses internas com o emprego da

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MATERIAIS EMPREGADOS EM PRÓTESE MAXILO-FACIAL 61

prata. Já foi, há tempos, empregada em prótese rnaxi-lo-facial, segundo informam MARTINIER e VILLAl "mas hoje não é mais utilizada em nenhuma modalidadede prótese.

Platina. A platina, ao contrário, sempre foi mate-riai largamente preconizado para todas as modalidadesde prótese, tanto internas como externas. Já em 1940,KUKULIES,2 na Alemanha, preconizava seu uso em

prótese maxilo-facial. Foi descoberta em 1736 na Amé-rica do Sul e introduzida na Europa por WOOD. Em1820 foi empregada na França pela primeira vez emprótese dentária, na confecção de um aparelho de ce-râmica. Foi depois utilizada para a fabricação dos pinosdos dentes de porcelana e, mais tarde, foi usada comoplacas-bases para dentaduras, aliada ao irídio ou àprata.

Em liga com o ouro, dá um material muito útil emprótese rnaxilo-facial, o ouro platinado que, por suagrande resistência, é excelente para a confecção degrampos, garras e outros dispositivos de fixação daspróteses.

A platina possui as mesmas excepcionais qualida-des do ouro, como material para prótese; tem sobre elea vantagem de um ponto de fusão mais elevado, o que é

muito útil em certos casos. Porém, seu alto preço foisempre um obstáculo para seu uso corrente, sendo em-pregada somente em raríssimos trabalhos.

Alumínio. A inalterabilidade do alumínio, sua ma-leabilidade, leveza e resistência fizeram dele, em certaépoca, um material indicado para uso em prótese. Équase inoxidável, possuindo brilho e cor semelhantes àprata.

Sua descoberta data do século XVIII,. A expe-riências para obtê-lo se iniciaram, praticamente, comGUYTON de MORVEAU em 1760. Mais tarde dele seocupou o grande LAVOISIER e também HUMPHRYDAVYem 1807. Todavia o primeiro que conseguiu iso-lá-lo foi WÓHLER, em 1827. Em 1854 BUNSEN, obten-do-o por eletrólise, fê-lo entrar para a prática.

Já em 1859 um método para fundir dentaduras de

alumínio era descrito por D. V AN DENBURGH. Porém,a falta de uma solda para o metal foi sempre um empeci-lho para sua maior aplicação.

Também em prótese interna o alumínio já foi em-pregado. DUVAL,3 em 1916, relata, entre outros, novecasos de cranioplastias com placas de alumínio. PRE-VOT, no IIICongresso Francês de Cirurgia Plástica,relatou um caso de plástica nasal (nariz em sela), noqual uma peça protética de alumínio foi bem toleradadurante 15 anos. REBELO NETO e MALBEC4 citam aobservação de um caso idêntico e também a de um casode depressão fronte-nasal conseqüente a traumatismo.Em ambos os casos o duralumínio foi empregado comêxito.

O duralumínio, ou seja, uma liga de alumínio que

'MARTlNIER, P. et VILLAIN, G. Principies generaux appliqués auxdiferents prótheses. Bailliêre, Paris, 1922.'KUKULIES, C. Dissimulacion protetica de Ias defectos fociales. Pró-tesis Odont ologica. Esc. Odont. Alemana. Ed. Labor, 1940.'DUV AL, PREVOT. Citados por REBELO e MALBEC.'REBELO NETO, J. e MALBEC, E.lnclusões em cirurgia plástica. An.do 1.0 Cong. Lat. Amer. de Cir. Plast. São Paulo, 194I.

apresenta as suas mesmas qualidades, sendo porémmuito mais resistente, é composto de:

Alumínio .Cobre .Manganês .Magnésio .

95%4%

0,50%. 0,50%

Em nosso livro Fraturas Mandibulares, publicadoem 1944, citamos o emprego de goteiras basilares dealumínio para osteossínteses em certas fraturas damandíbula. Tivemos um êxito relativo mas não prosse-guimos em experiências porque materiais melhoresexistem para a prótese interna. E em prótese externa,ou seja, na construção de peças protéticas para repara-ção de deformidades maxilo-faciais, não temos conhe-cimento que alguém o tenha utilizado.

Aços inoxidáveis. Quando surgiram essas ligas no-bres, conhecidas geralmente sob o nome de aços ino-xidáveis, tiveram logo grande aceitação em prótesedentária. Sofreram depois transformações e aperfei-çoamentos, sendo lançadas no mercado excelentesligas com variados nomes comerciais. O vitalium e oticonium são muito conhecidos nos Estados Unidos e

também no Brasil e o metal Wipla, produzido na Ale-manha pela fábrica Krupp, de Essen, foi muito usado naEuropa.

Cabe a HAUPTMEYER, dentista da fábrica Krupp,o mérito de ter introduzido esses materiais na odontolo-gia. Depois de muitos anos de investigações, apresen-tou ao 8.0 Congresso Dentário Internacional, de Paris,o resultado de suas pesquisas, citando uma casuísticade cerca de 200.000 aparelhos colocados.

O aço Wipla é uma liga composta de:

CromoNíquel

17,88%8,68%

Da prótese dentária passou logo a ser ensaiado emprótese facial. KUKULlES cita o Wipla entre os metais

utilizados na confecção das próteses restauradoras daface (nariz, orelha etc.), mas o uso principal dessas ligasmetálicas é a prótese interna.

O vitalium, muitíssimo usado em ortopedia paradiferentes modalidades de prótese cirúrgica, encontravastíssimo campo de aplicação em cirurgia e próte ebuco-rnaxilo-facial; é uma liga criada por ERDLE ePRANGE, dos Austenal Laboratoires Inc., de NewYork. Em sua composição entram:

Cobalto 65%Cromo................................. 30%Molibdênio 5%

É muito resistente e é mais leve que o ouro; seupeso é de 8,29, enquanto que o do ouro é de 19,3. Suas

excelentes qualidades tornaram rotineiro o seu uso emprótese dentária e também em prótese interna e a bi-bliografia a esse respeito é vasta.

Além do vitalium muitas outras ligas de aço ino-xidável têm surgido, e a tecnologia dos aços especiaispara uso cirúrgico tem avançado no sentido de preen-cher as necessidades da prótese interna, tanto em orto-pedia e traumatologia gerais como na cirurgia especiali-zada.

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62 PRÓTESE MAXILO-F ACIAL

mandibulares, fios de Kirschner, parafusos para fixação externa etc.

Tântalo. O tântalo é um corpo metálico simplespertencente à família do vanádio e é o 73.° corpo descala dos elementos. Foi descoberto em 1802 pelquímico sueco EKEBERG.Seu nome provém do fato dser ele dificilmente isolado. Acha-se quase sempre associado com o colúmbio, sendo encontrado na naturezasob a forma de colurnbiatos e tantalatos de ferromanganês, relativamente abundantes no Brasil, havendo diversas jazidas no vale do Rio Doce, em Mina

Gerais, e outras. É também encontrado na Austrálianos Estados Unidos, em Dakota do Sul e outras partes.Metal raro, só foi produzido comercialmente d

J 922 para cá. Pela sua extraordinária resistência aoácidos e à corrosão, tornou-se logo o seu empregomuito importante para a indústria química.

Na prótese cirúrgica, foi o tântalo logo empregadoe com grande êxito, pois sua resistência à química dorganismo é comparada à do vidro. É completamenteinerte ao ácido clorídrico, água régia, ácidos orgânicossais, álcoois, acetonas, aldeídos e éteres. É tambéminatacável pela c1orina, brornina ou iodina à temperatura abaixo de 150°C. Os únicos ácidos que conseguematacá-Io são o hidrofluórico, o sulfúrico e o fosfóricoestes dois últimos somente em soluções muito concentradas e em temperaturas altas. Segundo cálculos reali

zados, um pedaço de tântalo submetido a tais soluçõestemperaturas, poderia durar cerca de 900 anos.Outra qualidade faz o tântalo ser indicado par

prótese cirúrgica: sua dutilidade, comparável à do nquel, faz com que seja facilmente puxado, estampadoou moldado a complicadas formas. É também passíve

Fig. 4.1 Placas de vi/aliam de variados tamanhos.

As qualidades necessárias para que uma dessasligas seja usada em cirurgia são as seguintes: deve serquimicamente livre de qualquer toxidez e não ser no-civa aos tecidos orgânicos; possuir um moderado graude dureza e resistência mas não tanto a ponto de nãopoder ser curvada na forma desejada; ser inerte eletroli-ticamente; receber um polimento perfeito sem proces-sos especiais; ser de simples obtenção e de preço aces-sível. Este último requisito é muito importante em paí-ses que dependem da importação para obter referidasligas.

Um exemplo do que afirmamos é o que acontececom o vitalium, que apesar de suas reconhecidas eexcepcionais qualidades, o preço elevado e a impossibi-lidade de manter-se em estoque uma variedade de peçasimpedem a generalização de seu emprego em nossomeio.

O aço inoxidável que preenche os requisitos queenumeramos acima, principalmente sob o ponto devista da toxidez e das qualidades eletrolíticas, é o cha-mado 18.8 - S.Mo. (steel molibdenum). É de grandeutilidade em traurnatologia e prótese buco-rnaxilo-fa-cial, sendo o seu uso bastante difundido atualmente.

A fórmula do aço inoxidável !8.8-S.Mo. é a se-guinte:

ferro 68% carbono 0,08%cromo 18% silício 0,75%

níquel 8% fósforo 0,03%molibdênio 2-4% enxofre 0,03%manganês 2%

O uso mais corrente desse aço especial é em formade fios e placas metálicas para osteossíntese e próteses

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MATERIAIS EMPREGADOS EM PRÓTESE MAXILO-FACIAL 63

de ser temperado e endurecido a alta escala sem perdersua excepcional resistência aos agentes químicos.

Seu emprego no organismo humano iniciou-se em1963 com os estudos de BURcH e CARNEY,5 que preco-nizaram o seu uso para as osteossínteses metálicas:placas, parafusos e fios, nas fraturas. Esses autoresincluíram pedaços de tântalo nos tecidos moles de cãese verificaram que o metal se tornava encapsulado em

finas camadas de tecido fibroso. Em 1940, com as expe-riências de BURKE, ficaram definitivamente demons-tradas as excelentes qualidades do metal para a próteseinterna.

Em 1942, foi o seu uso introduzido na neurocirur-gia por PUDENZ,6 que substituiu com vantagem o antigouso da prata. O tântalo, em contato com os tecidoscerebrais, produz uma proliferação mínima de tecidoconectivo e produz uma mínima reação sobre as rnenin-ges, ao contrário do que acontecia anteriormente com aprata. Sabemos como são exigentes e intolerantes ostecidos nervosos para com os corpos estranhos. O tân-talo teve seu uso adotado pelas clínicas de neurocirur-gia do Corpo Médico do Exército norte-americano.

Na reparação protética das perdas de substânciado crânio, tem sido usado o tântalo por inúmeros espe-

cialistas, como WOODHAL,1 GARDNER,8 FULCHER,9THOMA'o e outros.Na cirurgia geral as suturas de tântalo têm sido

usadas nas feridas abdominais e a chamada "gaze detântalo", ou seja, uma rede trançada com finíssimosfios do metal, tem sido utilizada para reforçar as pare-des abdominais na cirurgia da hérnias.

A "gaze de tântalo " tem sido também de grandevalor nas próteses oculares. Por meio da fixação dosmúsculos do olho a uma rede de tântalo revestindo aparte posterior de um globo de acrílico, têm-se conse-guido os melhores resultados nessas próteses, permi-tindo ao olho artificial movimentos quase iguais aosnaturais (ver Capo IJ ).

Nas restaurações protéticas maxilo-faciais tem en-contrado o tântalo um bom campo de aplicação. Placas,

parafusos, fios e goteiras têm sido empregadas na fixa-ção das fraturas mandibulares. Implantes de peças detântalo proporcionam excelente meio de restauração docontorno facial, como, por exemplo, nos casos de rni-crognatia, fazendo-se uma inclusão ao nível do mento.Com o mesmo fim, THOMAII praticou a inclusão deuma gaze de tântalo nos tecidos moles do mento numcaso de microgenia.

Um longo relatório sobre o emprego do metal emquestão no Serviço de Cirurgia Maxilo-Facial e Cirur-

'BURCH, J. C. and CARNEY, H. M. Experimental Study with Tanta-lum. Proe. Coe. Exper. Biol. & Medie., 51, Outubro, 1942.·PUDENZ, R. H. The RapairofCranial Defects with Tantalum.loum.

Am. Med. Assoe., Fevereiro, 1943.'WOODHAL, B and SPURLlNG, R. G. Tantalum Cranioplasty for WarVounds of the Skull. Ann. Surg., 121, 1945.8GARDNER, W. J. Closure of Defects ofthe SkuIJ with Tantalum. S. G.Q,~1~5. •9FULCHER, O. H. Tantalum as a Metallic Implant to Repair CranialDefects. louro Am. Med. Assoe., 121, 1943.'OTHOMA, K. H. and KALlL, F. H. Surgical Prosthesis. CranialProsthesis. Amer. louro Orth., OroSurg., Outubro, 1~3."THOMA, K. H. Genioplasty with Tantalum Gauze. OralSurg., Oral

Med. and Oral Path., Janeiro, 1~9.

gia Bucal do Hospital Henry Ford, em Detroit, foiapresentado pelo chefe do referido serviço, Dr. D. H.BELLINGER,12 ao 28.0 Congresso Anual da SociedadeAmericana de Cirurgiões Bucais realizado em Miamiem outubro de 1946. Foi empregado o tântalo em inú-meros casos entre os quais os seguintes:

Onze casos de fraturas da mandíbula, tratados pormeio da osteossíntese, direta com fio de .025 de diâme-

tro. Cinco casos de restauração do contorno facial pormeio de "lã de tântalo ", preparada com fios de suturade .007 de diâmetro.

Um caso de paralisia facial foi tratado por meio deum fio de tântalo ancorado na região do temporal eligado aos músculos atacados, em redorda boca. Aliás,para as paralisias faciais esse método tem sido muitoutilizado por vários outros cirurgiões.

Em quatro casos de perda de substância da mandí-bula após ressecções de tumores malignos e em um casode perda de substância por arma de fogo, foram aplica-das próteses imediatas constituídas por lâminas de tân-talo.

MAXWELL, SCHORK e HEI DT, ia dentistas doexército americano relatam alguns casos de ferimentos

causados por armas de fogo, na última guerra mundial,nos quais as perdas de substância do arco mandibularforam restauradas com o auxílio de implantes de tân-talo, casos esses bem-sucedidos. .

Vemos assim que o emprego desse metal já é dodomínio da cirurgia e da prótese rnaxilo-facial, bemcomo da prótese interna em geral. Sua utilização jápassou da fase experimental para o terreno da prática efigura hoje entre os métodos consagrados.

GALVANOPLASTIA

A construção das próteses faciais por meio da gal-vanoplastia teve seus dias de apogeu.

PONROY e PSAUME, no seu tratado de prótesemaxilo-facial, escreveram a respeito desse método:

.. Há mais de 15 anos usarno-lo no Centro Maxilo- Fa-cial de Paris. Tem-nos dado satisfação, essas próteses,porquanto são fortes, permitindo um longo uso, aindaque seus portadores não sejam muito cuidadosos".

Na Alemanha também, em certa época, foi postoem prática o seu uso. Consiste, o método, em obter peloprocesso da galvanoplastia, uma fina camada de metal,reproduzindo fielmente um modelo previamente prepa-rado.

O aparelhamento necessário é o geralmente usadonos trabalhos comuns de galvanoplastia: o recipientepara o banho, baterias elétricas, aparelhos de controle(como o voltímetro e amperímetro etc.).

Depois de pronto o modelo em cera, tira-se domesmo um negativo em gesso. É sobre este negativoque se irá obter a camada metálica no banho galvânico.

Unta-se com uma solução de grafite somente as partesque irão ser recobertas pelo metal e as demais partessão recobertas com uma camada de cera. Mergulhada a

'2BELLlNGER, H. D. Preliminary repor! on the use of tantalum inmaxillofacial and oral surgery. J, of Oral Surg., 2, 1947.\3MAXWELL, M. M.; SCHORK, C. J. and HEIDT, Ed. Rationale ofTreatment in Maxilo-Facial Injuries with Report of Four Cases. J, of

OroSurg., Outubro, 1~6.

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64 PRÓTESE MAXILO-FACIAL

peça assim preparada em banho galvânico de prata, estase precipita sobre o grafite e tem-se uma reproduçãopositiva em metal. Uma camada de cerca de I mm deespessura é suficiente para produzir um aparelho bemresistente, sendo que essa camada é rigorosamenteigual em espessura, mesmo nos pontos mais retentivos.

Em 1916, o inglês F. D. WOOD14 preconizou aconstrução dos aparelhos num banho de cobre e, de-pois, dar um banho superposto de prata, para evitar aoxidacão do cobre.

Depois de um bom acerto e polimento, o aparelhoestará pronto para receber a pintura, naturalmente feita

com cores a óleo. Evidentemente, essa pintura jamaispoderá ser perfeita nem duradoura e o aspecto da res-tauração será sempre desgracioso, duro e antiestético.Hoje, com o advento dos modernos materiais plásticosresilientes ou elásticos e das siliconas, esse tipo deprótese tem apenas valor hist órico.

PORCELANA

Foi CLAUDE MARTIN o primeiro a construir umaprótese facial de porcelana.

Comojá nos referimos no Capo 1, em 1774 DUCHA-TEAU inventou o processo de fabricar dentes de porce-lana. Na sua composição entram o feldspato, a sílica(quartzo) e o caulim, os quais, depois de fundidos,resultam nesse material branco, impermeável e translú-cido empregado em cerâmica. A coloração da porce-lana é obtida com diferentes óxidos metálicos.

Segundo afirmam MART1N1ER e LEMERLE'5 os na-rizes artificiais construídos em cerâmica por CLAUDEMARTIN "eram translúcidos e imitavam a pele viva".PONT acrescenta que "eles davam a ilusão da reali-dade".

A generosidade desses autores para com essas pró-teses é justa, se atendermos à época em que essasopiniões foram externadas. Os dois primeiros escreve-ram sua obra em 1915 e a primeira edição do livro dePONT foi escrita em 1920. Muito antes, pois, da mo-derna era dos plásticos sintéticos. Se os resultados des-ses aparelhos fossem na realidade o que essas expres-sões fazem supor, as próteses de cerâmica ainda esta-

riam por certo em uso rotineiro, não teriam sido aban-donadas.Vejamos agora, em linhas gerais, como se cons-

truía uma prótese com esse material. A sua técnicamuito se assemelha à confecção das coroas de jaqueta.Estampa-se primeiramente a peça em uma finíssimalâmina de platina, a qual servirá de arcabouço parasustentar a pasta de porcelana; esta, depois de prepa-rada e devidamente colorida na tonalidade exata dapele, é aplicada sobre a platina com um pincel. Leva-seao forno para produzir-se a sua fusão, dependendo atemperatura da qualidade da porcelana empregada. A

lâmina de platina é, posteriormente, dissolvida em umrecipiente com água régia.

"WOOD, F. D. Citado por Kazanjian, V. H. Prothetic rest auration ofdeformities of face and jaw, Prost. Dent s. Nichols, SI. Louis 1930.

"MARTINIER, P. et LEMERLE, G. Prothêse rest auratrice bucco-fa-ciale. Bailliêre, Paris, 1915.

GELATINA

Em 1889 um austríaco, o DR. KARL HENNINGanunciou uma descoberta, a qual estava, no dizerespecialistas, "destinada a revolucionar a prótese retau radora " .

Consistia, a descoberta, no emprego de uma pastgelatinosa - a pasta de Henning - cuja fórmula fconservada em segredo até o início da Primeira GrandeGuerra.

Em 1915, PONT, da Escola Dentária de Lyon, dáconhecer a técnica das próteses de gelatina. Os apare

Fig. 4.2 Exemplo de perda de substância do nariz para a questaria indicada uma prótese de gelatina.

Fig. 4.3 Máscara facial do caso da figura anterior.

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MATERIAISEMPREGADOSEMPRÓTESE MAXILO-FACIAL 65

lhos construídos por esse novo processo - diziam naépoca - eram superiores em todos os pontos de vistaaos aparelhos até então construídos.

Essas restaurações tinham a singular particulari-dade de serem feitas pelo próprio paciente. Não eramduradouras e seus portadores tinham que renová-Ia acada três ou quatro dias.

De fato, a gelatina apresentava vantagens, sob o

ponto de vista estético, não encontradas em nenhummaterial conhecido na época. Vejamos qual o procedi-mento para construir-se uma prótese com esse material.

Modela-se primeiramente a deformidade pelosprocessos usuais. Reconstroem-se as partes perdidasem cera, sobre o modelo de gesso. A seguir, inclui-se apeça construída em cera em uma fôrma de gesso, demaneira a obter-se um molde e um contramolde, comonas peças protéticas de resinas. Têm-se então os mol-des negativos, onde deverá ser fundida a gelatina.

A preparação do material, segundo as indicaçõesde SALAMON,é feita da seguinte maneira: derrete-seem banho-maria 75 g de gelatina com 50 g de água,adicionando-se, pouco a pouco, 30 g de glicerina ebatendo-se constantemente a mistura. Assim, pois, afórmula é:

Gelatina 75 gGlicerina 30 gÁgua , 50g

Para colorir, preparam-se, com glicerina, emulsões debranco de zinco, acre, carmim, siena e azul ultrama-rino. Gota a gota, adicionam-se essas cores, até conse-guir a tonalidade exata da pele do paciente.

A mistura é então vertida no molde e, ao esfriar, apeça está pronta para uso. Para aumentar a resistênciapodem-se adicionar previamente duas ou três gotas decolofônia, aquecendo para isso a mistura em fogo di-reto, por alguns instantes, para chegar ao ponto defusão da colofônia. A fixação é feita utilizando-se umacola de mastic dissolvido em éter.

Como vimos, a gelatina pode proporcionar umarestauração mais ou menos elástica, com a cor da pele;se considerarmos o entusiasmo com que os au tores a elase referiram, devemos aceitar que s e tratava, de fato, deum material aceitável. Ela apresentava duas vantagens:a de poder ser colorida previamente, produzi ndo próte-ses que não precisam pintura, e a de não ser rígida,tendo uma elasticidade aproximada à da pele.

Mas os seus graves inconvenientes são bem evi-dentes. O fato de não ser uma restauração permanente,durando apenas três ou quatro dias, é a principal des-vantagem. Além disso, essas restaurações não são indi-cadas para todos os casos, mas apenas para os peque-nos defeitos, menos graves. O processo é uma merasolução cosmética, tratando-se mais de uma maquila-gem do que uma prótese.

VULCANITE

Utilizada antigamente, por muitos anos, tanto emprótese dentária como em prótese restauradora maxi-lo-facial, a vulcanite entrou para a prática desde que sedescobriu o processo de vulcanizar a borracha.

Segundo PRINZ,J6 foi THOMAZ W. EVANS, deParis o primeiro a fazer uma dentadura de "borrachadura", empregando a vulcanite em 1848.Segundo aindao mesmo autor, Evans construiu uma dentadura devulcanite para Charles Goodyear pai e, em 1855, Char-les Goodyear Junior requereu uma patente para o usodesse material como base para dentaduras artificiais.Desde então foi o material difundido universalmente

para uso em prótese dentária.Todos os grandes mestres da prótese maxilo-fa-cial, na época, encontraram na vulcanite um auxiliarprecioso e passaram a empregá-Ia. Entre as suas vanta-gens estava a de ser facilmente adaptada sobre os mode-los, proporcionando próteses muito fiéis; impermeávelaos líquidos, insolúvel e, além disso, era desprovida dequalquer ação galvânica, qualidade apreciada sobre-tudo nas próteses intra-orais.

Mas entre os seus inconvenientes para as peçasfaciais estava a dificuldade na obtenção da cor exata dapele; isso só pode ser conseguido por meio de pinturas aóleo, as quais não são permanentes, gastando-se e des-corando-se. Além disso, impregna-se facilmente devárias substâncias, que se acumulam sobre sua superfí-cie, seu cheiro não é agradável e seu peso dificulta a

confecção de grandes peças protéticas para as grandesperdas de tecidos.Tem-se citado, também, a ação nociva de certas

substâncias corantes, tóxicas. Para colorir o materialempregavam os fabricantes não pequenas quantidadesdesses ingredientes, tais como o vermelhão, derivadodo mercúrio; e essa substância produz a formação desais venenosos.

Finalmente, temos a rigidez e a opacidade do mate-rial, tornando as próteses com ele fabricadas, muitodiferentes do aspecto normal dos tegumentos da face.

Os componentes essenciais do material são a bor-racha e o enxofre. As outras substâncias são adiciona-das unicamente com a finalidade de corrigir certas pro-priedades ou dar coloração. Assim, variando-se assubstâncias adicionais, fabricam-se vulcanites de

várias cores, e também de duas consistências; usa-vam-se em prótese os tipos duros e os flexíveis, conhe-cidos como vulcanite vela, assim chamado por ter sidoo seu principal uso a confecção de obturadores para ovéu do paladar.

Enquanto que o material rígido continha de 1/3 a1/2 mais de enxofre que borracha, a vulcanite velacontinha enxofre na proporção de cerca de 1/20do pesode borracha.

Existiam vulcanites nas seguintes cores: vermelha,alaranjada, rósea, branca, preta e dourada (preta compó de ouro). A presença do vermelhão entrava emconsiderável quantidade nos tipos vermelho e róseo.Algumas fórmulas substituíram as substâncias nocivaspor outras mas nem por isso a vulcanite se tornou ummaterial adequado para próteses faciais.

Embora há muito abandonada, a vulcanite entroupara a história, porque foi com ela que os precursoresda prótese buco-maxilo-facial trabalharam e consegui-ram introduzir várias técnicas e princípios ainda hojeválidos. Basta citar, por exemplo, o francês Claude

16PRINTZ, H. Dental chronology . L. & F., Philadelphia, 1945.

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66 PRÓTESE MAXILO-F ACIAL

Martin, hoje considerado o pai da prótese restauradorabuco-maxilo-facial.

CELULÓIDE

Em certa época, o preço elevado da vulcanite e suaescassez levaram à procura de vários substitutos paraaplicações protéticas e entre diversas substâncias figu-rou o celulóide.

FURNAS refere que quando a vulcanite se tornoupopular em odontologia, a Companhia Goodyear, va-lendo-se de sua patente, iniciou a cobrança de direitos

dos dentistas, para empregarem o material, o que pro-vocou muitos litígios nos tribunais e acelerou a busca deum substituto.

Um certo material plástico, o parksite ou zilolite,havia sido inventado pelo inglês PARKES. Outros modi-

.ficaram a fórmula, como por exemplo os americanosMCCLELLAND, em 1860, e STREETER, em 1869, com ofim de tornar o material mais aceitável para a prótesedentária.

Foi quando JOHN WELSEY HYATT e seu irmão,estudando o material, aperfeiçoaram sua fórmula e lhederam o nome de celulóide. Em 1872, abriam no estadode New Jersey a primeira fábrica do produto, marcoinicial da moderna indústria dos materiais plásticos.

O celulóide é um composto de nitrocelulose e cân-fora. Tratando-se acelulose com uma misturade ácidosnítrico e sulfúrico, obtêm-se, segundo as condições dafabricação, duas substâncias diferentes, que são: co ló -

dio e algodão pólvora. Misturando-se o colódio comcânfora obtém-se o celulóide.

É, pois, um corpo coloidal, muito inflamável, des-prendendo ao queimar-se um odor forte de cânfora. Aadição de bicarbonato de magnésia ou amônia, diminuisua inflamabilidade. Numa temperatura de 140°, de-compõe-se produzindo uma fumaça avermelhada.

Sendo uma substância termoplástica, pode ser fa-cilmente prensado, quando submetido a uma tempera-tura de 100 a 105° durante 10 minutos. Não se podesubmetê-lo , porém, a uma temperatura maior que 110°sem alterá-Ia. Pode ser modelado sob qualquer formaque se deseje.

Outro método de trabalhá-lo é o processo de inje-ção. Sob a forma pastosa é colocado numa seringa eimpelido para dentro do molde.

O seu forte cheiro de cânfora, sua porosidade, suapouca estabilidade e, principalmente, as suas más con-dições estéticas, acrescidas ainda do rápido apareci-mento de materiais melhores, não permitiram que ocelulóide se tornasse muito empregado em prótese.

Suas inúmeras aplicações em certos ramos da in-dústria tornaram-no conhecido como excelente mate-rial plástico para numerosos fins. Mas tanto em prótesedentária como em prótese maxilo-facial, o seu uso foirapidamente abandonado. Não conseguiu destronar avulcanite. .

DERIVADOS CELULÓSICOS

Com o advento do celulóide, estava fundada amonumental indústria que é hoje a dos materiais plásti-cos.

Com os primeiros desenvolvimentos dessa indús-tria, vários derivados da celulose apareceram, os quais

RESINAS FENÓLICAS

foram logo introduzidos naprótese. Fórmulas melhoradas encontraram logo aceitação, tornando-se conhcidos da profissão odontológica dois tipos de derivadoso nitrato e o acetato de celulose, ambos materiais temoplásticos.

O nitrato de celulose foi lançado no mercado svários nomes comerciais; os mais conhecidos foram:Hecolite, empregado na Alemanha desde 1914, e oAcolite.

Conseguiam-se ótimos efeitos de cor com essmateriais, mas sua alta inflamabilidade tornou perigosos tanto a sua fabricação, como o seu emprego.

acetato de celulose, tendo a vantagem de não serflamável, começou logo a ser utilizado em filmes ftográficos e cinematográficos, e em seda artificial. Nindústria bélica foi também de grande utilidade.

Fornecido de início, em placas, barras e tubos, e1929 passou a ser lançado sob a forma de compostosmoldáveis. A odontologia passou logo a ernpregá-lotendo sido lançado, pelo comércio dentário, sob várionomes comerciais: Fiberloid, Dermatex, NixonitePlastacele etc.

Outros materiais plásticos a surgirem depoisPrimeira Guerra Mundial foram os compostos fenoformaldeídos, ou seja, as resinas tipo fenoI.

São resinas sintéticas, produtos da condensaçãofenol e do formaldeído. Enquanto que os derivadoscelulose são substâncias termoplásticas, os fenolformaldeídos são plásticos termofixos, porque se fixamendurecem, quando submetidos a uma temperaturaadequada, como em um vulcanizador, por exemploEsse endurecimento é acompanhado de uma reaçãquímica, de maneira que o material, uma vez usadonão poderá ser novamente empregado.

As resinas fenólicas foram introduzi das depois qo DR. BAEKELAND descobriu a reação fundamentalcondensação do fenol com o formaldeído, para formauma resina; o material, conhecido primitivamentecomo bakelite, levou o seu nome. Foi seu inventoquem demonstrou também a eficácia do calor e da pre

são para moldar o material. Alguns anos antes de 190inventor trabalhou com o material em seus laboratóriode Nova York, e nesse ano requereu uma patenteOutros pioneiros no desenvolvimento dessas substâncias foram RASCHING, na Alemanha, e REDMANA YLESWORTH, nos Estados Unidos.

A nova resina sintética logo granjeou sólido prestgio na indústria, principalmente na indústria automobiIística. Sua alta resistência e facilidade em ser moldadatornaram-na popular e, em 1927, com a expiraçãopatente de Baekeland muitas outras fábricas foram intaladas e vários tipos foram lançados, para diferenteaplicações.

Em 1928 descobriu-se um processo para fundirresina, isto é, prepará-Ia no estado de um xarope vcoso que colocado nos moldes se solidifica, tal como

processo de fundição dos metais.Para uso em prótese dentária, porém, semprepreferiu o método de prensagem sob calor. Foi muiusado o método de prensagem em óleo.

Na odontologia o material foi largamente emprgado, sendo os seguintes os mais conhecidos nome

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MATERIAISEMPREGADOS EM PRÓTESE MAXILO-FACIAL 67

comerciais sob os quais foram lançados: Duratone,Co-Oral-Lite, Porcelite, Ster-L-Dent, Phenolglas, Ixo-lain.

RESINAS VINÍLICAS

As primeiras experiências com essas resinas repor-tam-se a REGNAULT, que as descobriu em 1838. Ob-servou ele que em tubos fechados de c1oreto vinílico,quando expostos à luz do sol, formava-se um precipi-tado branco. Não se deu, todavia, grande importância àdescoberta, a qual permaneceu esquecida por muitosanos.

Estudos posteriores sobre os vários compostos vi-nílicos demonstraram que duas resinas eram as maisvantajosas para produção industrial: o c1oreto vinílico eo acetato vinílico.

Em 1927 STAUDINGER, na Alemanha, desenvol-veu estudos para a produção industrial do acetato viní-lico. Segundo SCHWARTZ,em 1917 KLATTE e ROL-LETTobtiveram um privilégio para a fabricação de umaresina de acetato vinílico.

Nos Estados Unidos, a firma Carbide and CarbonChemicals Corp., de Nova York, foi a primeira a manu-

faturar resinas vinílicas, isso em 1928. Nesse ano deraminício à produção de um composto de acetato e c1oretovinílico, ao qual deram o nome de Vinylite, conhecidotambém como "vidro elástico".

Da mesma maneira que os demais materiais surgi-dos com o aperfeiçoamento da química dos plásticos, asresinas vinílicas trouxeram novas esperanças à profis-são odontológica. Apareceram logo muitos materiaisvinílicos para bases de dentaduras, os quais foram lan-

çados com vários nomes comerciais: Resovin, Vydon,Neo-Hecolite, etc.

Todavia, muito cedo esses materiais se mostraramineficaze para uso protético. Suas propriedades físicasnão eram adequadas, sua manipulação não era simples;por estes e outros inconvenientes, foram abandonados.

RESINAS ACRÍLICASFoi na Alemanha, em 1901, que o DR. OTTO

RÓHM, de Darmstadt, realizou os primeiros trabalhosde pesquisa com as resinas acrílicas, atualmente tãoempregadas na odontologia, tornando possível a suapreparação comercial.

São substâncias derivadas do ácido acrílico. Paraproduzi-Ias submete-se à polimerização os derivadosmonômeros do ácido acrílico. A resina obtida é o meta-crilato de meti Ia.

Tais como muitos outros materiais sintéticos, suaimportância industrial só foi devidamente apreciadamuitos anos após sua acidental descoberta e prepara-ção. Isso se reporta a 1843, quando REDTE BACHERconseguiu pela primeira vez obter uma substância só-

lida com a oxidação do ácido acrílico; essa substânciafoi objeto de investigações por outro químico, em 1872,que verificou o seu inchamento quando imersa em água.A luz solar as convertia em uma massa clara, dura etransparente.

Depois que RÓHM produziu vários compostoscomerciais do ácido acrílico, intensivas pesquisasforam levadas a efeito por várias companhias interessa-das, dando em resultado consideráveis aperfeiçoamen-

tos no material e em sua produção. Salientaram-se nes-sas pesquisas a Imperial Chemical Industries, de Lon-dres, a Companhia Du Pont e a Rôhrn & Haas, dePhiladelphia.

Esta última companhia foi a primeira a produzir osmateriais acrílicos nos Estados Unidos, em 1931. Seuproduto, oPlexiglas, tornou-se famoso durante a últimaguerra mundial, quando grandes quantidades desse ma-terial acrílico foram -utilizadas na construção ae-ronáutica. Em 1937 chapas de material acrílico transpa-rente começaram a ser produzidas com o nome comer-cial de Lucite .

Essas mesmas companhias introduziram as resinasacrílicas para uso na prótese dentária. A Rõhrn & Haasiniciou a fabricação do conhecido Vernonite e do Crys-tolex e a Du Pont lançou o Lucitone, materiais essesque foram muito empregados pelos dentista brasilei-ros.

O êxito das resinas acrílicas como material pro té-

tico foi absoluto. É evidente que nã o é ainda o materialideal. Seus inúmeros inconvenientes, assim como mui-tas vantagens, têm dado motivo a muitas discussões,muitos artigos e mesmo livros. Mas hoje, a odontologiaestá em plena era acrílica. O advento das modernas

resinas à base de metacrilato de metila veio abrir novosrumos para a prótese.Na prótese rnaxilo-facial, elas têm encontrado;

nestes últimos anos, vasto campo de aplicação. Emtodos os casos em que se necessita um material rígido, é .atualmente a melhor substância com que se pode con-tar. Quanto ao seu emprego na con trução de peçasprotéticas extra-orais, nas deformidades faciais, nasquais a semelhança com a pele é uma condição impor-tante, não é indicada a resina comum de emprego emprótese dentária, mas a indústria de plásticos tem lan-çado no comércio tipos de resinas acrílicas resilientes,com excelentes resultados sob o ponto de vista estético,pois preenchem muitos dos requisitos exigidos para autilização em prótese facial. A respeito dessas resinasacrílicas elásticas ou resilientes cuidaremos páginas

adiante sob o título Resinas Elásticas.Qual o material ideal?

Segundo H. KIMBALL,17 uma substância ideal parauso na prótese deverá preencher os seguintes requisi-tos.

I.o Tolerância dos tecidos2.0 Ausência de cheiro ou sabor desagradável3.0 Resistência;

a) à flexãob) ao choquec) à tração;

4.o Inalterabilidade.a) quanto à formab) quanto ao volume;

5.0

Cor permanente esatisfatória;

6.0 Reprodução exata do modelo original;7.0 Simplicidade de manipulação e acabamento;8.0 Facilidade e êxito nas reparações;9.0 Peso;

10.0 Condutibilidade térmica.

17 KI MBALL, H. Modern denture base materiaIs and what to expect ofthem. J.A.D.A., 1938.

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68 PRÓTESE MAXILO-FACIAL

A tolerância dos tecidos está, logicamente, emprimeiro lugar. Tanto em prótese dentária como emprótese rnaxilo-facial, um material que seja nocivo aosdelicados tecidos mucoso ou cutâneo deverá ser rejei-tado sumariamente.

A ausência de cheiro e sabor desagradáveis é outraimportante condição. O cheiro deve entrar em maiorconsideração, principalmente nas restaurações protéti-cas nasais, nas quais a peça protética está permanente-mente ao alcance do olfato. E evidente que o fatorsabor, em se tratando de próteses extra-orais, deixa deser importante. Quanto à existência desses inconve-

nientes nos materiais hoje conhecidos, é uma questãomuito discutida, havendo, para cada material, adeptos eadversários.

A resistência, como vimos, deverá ser de três es-pécies:

A resistência à flexão é a propriedade mecânica deresistir à fadiga flexural, ou seja, ao entortamento ourecurvamento repetido, até quebrar. KIMBALL achaque a fadiga flexural pode ser considerada como a me-dida da "vida" do material.

A resistência ao choque é a resistência oferecidapelo material à fratura ao ser submetido a um choque,como, por exemplo, uma queda. Dos materiais conhe-cidos, uns se quebram com mais facilidade que outros,mais resistentes.

A resistência à tração é a que o material oferece ao

alongamento. Essa condição não é muito importante,porque os aparelhos de prótese geralmente usados nãosofrem a ação de forças capazes de rompê-I os por tra-ção.

A inalterabilidade quanto à forma é uma condiçãoque, de um modo geral, apresenta todos os atuais mate-riais plásticos empregados em prótese, uns mais, outrosmenos. É um importantíssimo fator, pois qualquer mo-dalidade de prótese, quer seja ela dentária ou rnaxilo-facial, deverá conservar sua forma indefinidamente,ainda quando submetida a uma temperatura maior doque a tolerada pelos tecidos. Esse requisito deve serpreenchido de uma maneira especial, pelos materiaisque possuem elasticidade, como, por exemplo, as mo-

dernas substâncias elásticas preconizadas para as res-taurações faciais.

A inalterabilidade quanto ao volume, não a possuio material muito poroso, sujeito à absorção de líquidos.Quanto a esse requisito, é sabido que os mais porosossão os nitratos de celulose, sendo que os demais emgeral preenchem esta condição. Têm surgido muitasdiscussões quanto à porosidade dos materiais acrílicos.A porosidade é, de fato, um grande inconveniente naspró teses intra-orais. Quanto à prótese da face, entre-tanto, esse requisito perde completamente sua impor-tância.

A cor permanente e satisfatória, condição exigi dapara os materiais para dentaduras, torna-se muito maisimportante na prótese da face. Aliás, nesta, esse requi-sito toma um aspecto diferente; o material deve permitiruma coloração fei ta pelo próprio especialista, para igua-lar a cor da pele, coloração essa que deverá ser rigorosae permanente. O problema da cor tem sua importãnciamultiplicada, numa restauração facial.

A reprodução exata do modelo original, natural-mente, é condição essencial em qualquer espécie detrabalho protético. É possuída por todos os materiaisatualmente empregados.

A facilidade de manipulação e acabamento é con-dição que varia muito com o material. Uma boa subs-tância não deverá exigir técnicas complicadas na con-fecção dos aparelhos e deve permitir um acabamento

eficiente e fácil. Os fenolformaldeídos, por exemplo,são de manipulação dificultosa, o que os torna poucorecomendáveis.

Quanto à facilidade e êxito nas reparações, qual-quer material deve permitir que uma peça protética,uma vez danificada, seja reparada. Mas é necessárioque essa reparação não seja complicada nem prejudiquea inalterabilidade da prótese, quanto à forma, ao vo-lume e à cor.

O peso excessivo é um inconveniente que nãoexiste nos modernos materiais.

A condutibilidade térmica, requisito de certa im-portância em prótese dentária, perde muito de sua im-portância sob o ponto de vista da prótese facial. Aliás, é

Fig. 4.4 Placas de aço inoxidável e respectivos parafusos.

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MATERIAISEMPREGADOSEMPRÓTESEMAXILO-FACIAL 69

uma condição que, verdadeiramente, nenhum dos ma-teriais plásticos atualmente empregados em prótesepossui.

As referidas condições devem ser preenchidaspelos materiais utilizados na prótese dentária, mas aprótese maxilo-facial sempre tem-se utilizado dessesmesmos materiais. As próteses mandibulares e as domaxilar superior, os obturadores palatinos e outras são

construídos atualmente com os materiais acrílicos.Também as próteses extra-orais, ou seja, as restaura-ções das perdas de substância dos tegumentos faciais,têm sido construídas com materiais semelhantes.

Só mais recentemente surgiram materiais para uti-lização específica nas restaurações protéticas faciais,tais como as resinas elásticas e as siliconas.

Não há dúvida que os materiais até agora introdu-zidos para uso na prótese dentária nunca preencheramas condições exigidas para uma boa restauração facial,no que diz respeito aos tecidos moles. Por outro lado, amaioria dos requisitos já citados podem ser realmenteaplicados para uma substância destinada a ser utilizadaem prótese facial. Mas é imprescindível que sejamacrescentados mais quatro requisitos, os quais são ver-dadeiramente essenciais, em se tratando dessa dife-

rente modalidade de prótese.Assim, pois, além dos requisitos enumerados porKIMBALL, um bom material para a construção de apare-lhos protéticos para substituir os tegumentos faciaisdeve preencher mais as seguintes condições:

1.0 - Elasticidade e flexibilidade aproximadas àda pele;

2.° - Permitir uma coloração perfeita e perma-nente;

3.° - Permitir bordos finos e regulares;4.° - Oferecer retenção a metais.1.° - A elasticidade eflexibilidade aproximadas

à da pele é uma condição sem a qual uma restauraçãoprotética parecerá "sem vida", por mais perfeita queseja a sua construção e adaptação. Um nariz, porexemplo, feito com qualquer plástico rígido, será sem-

pre uma peça incômoda, a destoar a sua dureza com adelicadeza e maciez natural da pele. Assim, pois,achamos que deve ficar definitivamente estabelecidoque um material para ser empregado em uma restaura-ção protética sobre a face deve ser, antes de mais nada,elástico. Deve ter, tanto quanto possível, a consistên-cia natural dos tegumentos cutâneos.

2.° - Permitir uma coloração perfeita e perma-nente é, mesmo, mais importante que a primeira condi-ção. É que em se tratando de restaurações faciais, ofator estética ocupa o primeiro lugar. A coré tudo numaprótese facial. A menor divergência entre a cor naturalda pele e a cor da prótese pode comprometer totalmenteo êxito desta. E não é qualquer material que se prestapara receber um bom método de coloração.

3.0 - Permitir bordos finos e regulares. Uma das

qualidades que deve possuir um aparelho de prótese .facial é a de dissimular o tanto quanto possível as suasconexões com o tecido cutâneo. Para isso é imprescin-dível que a peça tenha um contorno perfeitamente regu-lar e que seus bordos sejam, além de finos e delicados,resistentes e regulares. Nem todos os materiais empre-gados geralmente em prótese permitem a existênciadessa qualidade.

4.° - Oferecer retenção aos metais é um requi-

sito que devem preencher os materiais, em função doselementos metálicos empregados para a fixação da pró-tese. Os aparelhos protéticos faciais utilizam-se, muitasvezes, de disposi tivos de fixação construídos em metal(ouro, aço inoxidável etc.), dispositivos esses quepodem necessitar perfeita fixação no material empre-gado, por meio de retenção mecânica.

Pelo que acabamos de expor, deixamos esclare-

cido que a reconstrução protética da face exige nummaterial condições particulares as quais não possuem enem podem possuir um material fabricado especial-mente para uso ern prótese dentária.

Afirmamos, entretanto, que se a prótese facialsempre se tem utilizado dos mesmos materiais empre-gados em prótese dentária, foi devido a não-existênciade uma substância que satisfizesse seus requisitos pró-prios.

Hoje, porém, já se pode contar com vários mate-riais destinados especificamente para uso em prótesefacial. São materiais com propriedades -elásticas ou fle-xíveis, que procuram imitar as condições peculiares dostecidos cutâneos. É desses materiais que nos ocupare-mos a seguir.

MATERIAIS ELÁSTICOS OU FLEXÍVEIS

Pelo estudo que fizemos dos diferentes materiais,nas páginas anteriores deste capítulo, concluímos quetodos eles, exceção feita da gelatina, oferecem restau-rações rígidas, de cor "fria"; vimos que esses mate-riais, tanto pela cor como pela consistência, só poderãoproduzir restaurações "sem vida", que serão sempreuma agressão aos cânones da estética, quando utiliza-dos para restaurar as partes moles da face, em próteseexterna.

As prótesesrígidas não acompanham os movimen-tos musculares nas zonas em que se produz a mímicafacial; são mais difíceis de se adaptarem sobre os teci-dos que a s circundam; e quando estes são móveis, como

acontece em alguns casos, dão à restauração um terrí-vel aspecto de falta de naturalidade.Muito antes do advento dos modernos materiais

elásticos,já se pensava em remediar esses inconvenien-tes. Há muitos anos, pensou-se, por exemplo, em cons-truir aparelhos de vulcanite, mas empregando, em lugardo material rígido, a vulcanite vela. Mas, para isso, eranecessário construir um aparelho misto, com as bordasapenas em vulcanite mole. Sem citar os inconvenientespróprios de toda prótese facial em vulcanite, como, porexemplo, a dificuldade de se proceder a uma coloraçãoadequada, esses aparelhos mistos tinham a desvanta-gem de sofrerem logo a deformação das bordas, as quaisse estragavam com o uso, tornando-se irregulares, semcor e sem forma. A vulcanite não permitia margensdelicadas.

Construíram-se as próteses de gelatina. Mas,como já frisamos páginas atrás, essas restaurações nãoeram propriamente aparelhos de prótese, sendo ummero recurso de maquilagem.

Portanto, há necessidade de recorrer-se a substân-cias que sejam elásticas e flexíveis para proporciona-rem uma restauração que se assemelhe o mais possívelà textura, à elasticidade e flexibilidade e também à corda pele.

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70 PRÓ TESE MAXILO-F ACIAL

Felizmente, nestes últimos anos muitos novos ma-teriais têm sido postos à disposição dos especialistas eeles vêm sendo testados com entusiasmo. Alguns sãologo abandonados, outros permanecem em uso en-quanto que outros têm sido objeto de estudo para mui-tos pesquisadores que procuram melhorar suas quali-dades e eliminar seus inconvenientes.

Podemos destacar três tipos de materiais elásticosque têm sido utilizados: a) a borracha não-vulcanizadaou látex; b) as resinas sintéticas elásticas; c) as silico-nas.

a) BORRACHA NÃO-VULCANlZADA OU LÁTEX

Se bem que hoje, com o advento de modernas

resinas sintéticas elásticas e também das siliconas,tenha deixado de ser empregada, a borracha não-vul-canizada ou látexjá foi utilizada com muito entusiasmopor numerosos especialistas e talvez venha ainda aocupar lugar de destaque na construção de prótesesfaciais, se forem removidos alguns dos inconvenientesque ainda apresenta.

Foi ARHUR BULBULIAN,18 da famosa ClínicaMayo dos Estados Unidos, que na década de 40 desen-volveu a técnica de confeccionar-se uma peça protéticapor meio da introdução do líquido látex em um molde degesso para obter seu endurecimento. Publicou ele, em1945, um excelente livro sobre o assunto.

O desejo de encontrar uma substância que combi-nasse uma certa resistência e durabilidade com a resi-liência e a favorável aparência da então conhecida mis-

tura gelatina-glicerina, levou Bulbulian a realizar expe-riências com várias preparações feitas com o látex.

Não se tratava de um material novo, pois há maisde um século que esse exsudato leitoso produzido porcertas plantas começou a ser usada na indústria.

Depois do descobrimento da América em 1492,exploradores espanhóis que regressavam à Espanha,após viajarem por este continente, levaram informa-ções, colhidas entre os indígenas, a respeito de umasubstância pastosa e elástica retirada por eles por meiode cortes praticados no tronco de certas árvores.

A primeira informação positiva a respeito dessasubstância data do ano de 1525, quando MARTYRD' ANGHIERA19 publicou detalhada descrição dasbolas de cautchu com que jogavam os rapazes, nasaldeias mexicanas; deu informes sobre objetos cons-truídos com essa mesma substância, tais como capas,bolsas etc.

Dois séculos mais tarde, uma comunicação é apre-sentada à Academia de Ciências de Paris pelo natura-lista francês CARLOSLA CONDAMINE, relatando aspropriedades do suco vegetal chamado látex, extraídode uma árvore do gênero Hevea e explicando as aplica-ções da goma resultante de sua coagulação, a qual eramuito utilizada pelos índios das margens do Amazonas,na confecção de muitas utilidades.

Em 1763 uma memória é apresentada à mesmaAcademia por HERISSANT,na qual eram estudadas asreações da substância em presença de diversos solven-

18BULBULlAN,.H. Repairoffacialdefectswithprosthesis usingalatexcompound..A.D.A., Abril,1941.19MARTYR'ANGHIERAHERISSANT.CitadosporFerrer.ln-dustrias dei cauchu y otras materias plastics, Ed.J. Monteso,B.Aires,1942.

teso Mas somente no começo do século XIX se inicia-ram as tentativas para sua aplicação na indústria.

Já se sabia, então, que o produto obtido com acoagulação do látex era substância com notáveis pro-priedades físicas, químicas e mecânicas, tendo o seuemprego passado a ser indispensável em numerosasindústrias e artes.

O termo látex, em tese, designa um líquido encon-trado nas células das plantas angiospermas e que con-siste em uma emulsão de várias substâncias em suspen-são em um meio aquoso. Nesse líquido estão dissolvi-das substâncias tais como alcalóides, sais, açúcares,tanino, enzimas e outras.

O látex de algumas plantas é aproveitado paraobter a borracha, mas a principal planta utilizada paraesse fim é aHevea brasiliensis, a conhecida árvore queé abundante e nativa nos Estados do Pará e Amazonas.

Quase a totalidade da borracha natural que se pro-duz no mundo provém dessa planta, embora muitosesforços estejam sendo empregados para aumentar aprodução da borracha provinda de outras famílias botâ-nicas e também da obtida sinteticamente. Principal-mente durante a Segunda Grande Guerra, os principaispaíses beligerantes aumentaram consideravelmente aprodução da borracha sintética. .

O látex da Hevea brasiliensis é também o rnaispuro e o da melhor qualidade. Outras plantas, tais comoa Dyera costulata, abundante nas Índias Orientais, aEuphorbia, da África, oferecem o látex em quantidadee qualidade inferiores.

Temos no Brasil certas famílias cujo látex se riva-liza com o daHevea brasiliensis e é largamente aprovei-tado para a manufatura da borracha. São elas a Heveabenthamiana, a Manihot glariovii e a Castilloa elas"tica. Todas essas variedades são encontradas comabundância no vale do Amazonas e em outras regiõesdo norte do Brasil.

Antes de 1920, quando pouco se conhecia ainda arespeito da preservação do látex fresco, era ele precipi-tado com ácidos fracos e transformados em folhas deborracha, na própria plantação, e enviado assim para oscentros industriais. O transporte do látex fresco foigrande mente simplificado desde que se descobriu queele pode ser facilmente conservado desde que se lheacrescente um preservativo, como a amônia. Atual-

mente, as fábricas de borracha dispõem do látex nãocoagulado, misturado com amônia, podendo assim serconservado por meses ou anos.

É do látex assim preparado que podemos lançarmão para uso em prótese facial, havendo necessidade,todavia, de incorporar-lhe substâncias de carga, como oóxido de zinco, e substâncias corantes, para dar aomesmo a cor natural da pele.

Aqueles que desejarem realizar pesquisas comesse material tão brasileiro encontrarão no capítulo se-guinte os dados necessários para a construção de próte-ses em látex.

b) RESINAS ELÁSTICAS

Desde 1945 começaram a surgir nos Estados Uni-dos muitas pesquisas sobre o emprego de resinas sinté-

ticas resilientes ou elásticas na prótese restauradoramaxilo-facial.Por essa épocajá era conhecida uma resi na flexível

do tipo vinílico, a qual era fornecidajá polimerizada, em

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MATERIAIS EMPREGADOSEM PRÓTESE MAXILO-FACIAL 71

forma de tiras, as quais depois de cortadas em pequenospedaços, estes eram entulhados no molde; a seguireram submetidos à temperatura e pressão, da mesmamaneira que para os então conhecidos materiais termo-plásticos. Esse material era oriundo do laboratório depesquisas do DR. WILLIAMT. SWEENEK,de Pittsburghe designado pelo mesmo como produto 579. Tinha pro-priedades físicas muito semelhantes às da borracha

mole, semitranslúcido, resistente à ruptura e pratica-mente indeformável, retornando à forma original apósconsiderável distorção.

Em 1946 surgira uma resina polivinílica (P.V.e.)flexível, fomecida em forma de pó e líquido como oscomuns materiais acrílicos para prótese dentária. Era oDicor-A, produzido pela Vernon-Benshoff Co., dePittsburgh. Como por essa época nós estudávamos nosEstados Unidos, de lá trouxemos esse material e pas-samos a utilizá-Io em nosso Serviço no Hospital daSanta Casa de Misericórdia. Fomos, ao que parece, osprimeiros a empregar uma resina P. V. C. em prótesefacial no Brasil, e o resultado de nossos trabalhos foio assunto de nossa tese de concurso para a Livre-Docência apresentada à Faculdade de Odontologia daUniversidade de São Paulo.20

Posteriormente passamos a empregar também umaresina acrílica flexível, o Skin-Tex, também produto daindústria americana destinado à mesma finalidade ecom excelentes propriedades como material para res-taurações faciais.

Outras marcas de resinas elásticas foram surgindono comércio, muitas à base de P. V.e. e outras deriva-dos acrílicos, mas todas com as mesmas característicase destinadas exclusivamente à prótese facial.

Para citar apenas as mais conhecidas, podemosrelacionar as seguintes:

Dicor-A - resina polivinílica (P.V.C.)Skin-Tex - resina acrílica flexívelPalamed - resina acrílica flexívelRealastic - resina polivinílica (P. V. C.)Mediplas - composto polivinílico (P. V. Cc)

Corda - resina polivinílica (P. V. e.)Rapidaflex - resina acrílica flexívelEssas re. inas contêm certos agentes plastificado-

res que lhes cão as desejadas propriedades elásticas.São materiais que depois de polimerizados dão umaimpressão muito aproximada da contextura da pele.São facilmente moldados pelo conhecido processo dosmuflos e gesso-pedra, ou empregando-se moldes metá-licos. Alguns exigem pressão e temperatura enquantoque outros são polimerizados a frio e a manipulação dosmesmos é feita, evidentemente, segundo as instruçõesde cada fabricante. São materiais que reproduzem commuita fidelidade os menores detalhes do molde, pro-porcionando, por isso mesmo, próteses esteticamenteeficientes, uma vez que permitem, também, uma ade-quada coloração. Mantêm suas formas e suas proprie-

dades resilientes e elásticas mas sua durabilidade évariável de um para outro material.

As possibilidades a respeito da coloração são asqualidades que mais distinguem as resinas elásticas.

20GRAZIANI, M. A Protese Fada/ à Luz dos Materiais Modernos.Tesede Concurso UniversidadeeSãoPaulo.S. Paulo,1946.GRAZIANI, M.MateriaIesElásticosenPrótesisFaciaI.Revista Odon-tológica de IaAss. Odont. Argentina, 10, Outubro,BuenosAires,1948.

Podem ser obtidas em cores básicas, que reproduzemas mais comuns tonalidades da pele. Escalas de coresfacilitam a verificação da tonalidade da pele. Mas umacoloração modificadora da cor base é também possível,com o emprego de pigmentos adicionados ao pó, antesde preparar a mistura. E uma alteração da tonalidadeem certas partes da restauração ou mesmo dela toda éainda possível, com.a aplicação. de pigmentos com três

cores básicas (azul, vermelho e amarelo) na superfícieda prótese, depois de pronta.Assim, pois, podemos enumerar as seguintes pro-

priedades desses plásticos sintéticos: fácil de seremprensados em moldes de gesso; facilidade em reprodu-zirem fielmente os menores detalhes; possibilidade emreproduzir com exatidão a cor natural de uma determi-nada pele; estabilidade de forma; semitranslucidez se-melhante ao tecido natural; grande resistência à rup-tura; ~a [ápwa à primitiva forma após qualquer dis-torção, demorada retenção das propriedades elásticas;facilidade em receber e reter cosméticos; facilidade delavagem com escova e sabão.

Infelizmente, já com a experiência adquirida comalguns anos de uso, podemos assinalar também seusinconvenientes.

O primeiro é o fato de serem, com o tempo, altera-dos pelas secreções da pele e pelas substâncias utiliza-das como adesivo. Após alguns meses de usojá se iniciao endurecimento das bordas da prótese e, por conse-guinte, a perda da sua excelente propriedade inicial- aelasticidade - e da sua excelente adaptação. O se-gundo inconveniente é decorrente do primeiro: a poucadurabilidade, exigindo a renovação da restauraçãoapós, no máximo, um ano, se se desejar manter os bonsresultados iniciais. Bem por isso a utilização de moldesmetálicos é sempre aconselhável para que sejam possí-veis e fáceis as sucessivas duplicações.

Vejamos a seguir algumas das características es-pecíficas das resinas elásticas que acabamos de citar:

Dicor-A. Foi talvez o primeiro material à base deP. V. e. produzido especialmente para emprego em pró-

tese maxilo-facial, na década de 40. Trata-se de umcopolímero polivinílico ao qual são incorporados agen-tes plastificadores para obter a desejada propriedadeelástica, produzido nos Estados Unidos pela Vernon-Benshoff Co., de Pittsburgh. Fornecida sob a forma depó e líquido, acompanhados de frascos contendo pig-mentos de várias cores, para serem agregados ao mate-rial durante o preparo da mistura.

O material é moldado a baixa pressão em mufloscomuns com gesso-pedra e sua polimerização é obtida àtemperatura de 1000C durante uma hora; uma tempera-tura mais elevada pode alterar a cor. Pode ser empre-gado como complemento de uma prótese rígida de re-sina acrílica bastando para isso ser feita uma massaincluindo as duas resinas na zona da união e polimeri-zadas juntamente. Apresenta boa estabilidade de

forma, boa translucidez e excelente semelhança com apele; rápido retorno à forma primitiva após qualquerdistorção. Além disso aceita facilmente os métodosusuais de coloração extrínseca ou caracterização. Parasolventes são indicados o clorofórmio, o tetracloreto decarbono ou acetona.

Skin-Tex, Também um material norte-americanobem antigo, foi lançado na mesma época que a resinaque acabamos de citar, produzida pela H. D. Justi &