calvet politicas linguisticas prefacio

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Louis-Jean Calvet Tradução: I SABEL DE OLIVEIRA DUARTE J ONAS TENFEN MARCOS B AGNO Prefácio: GILVAN MÜLLER DE OLIVEIRA LINGÜÍSTICAS As políticas

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Page 1: Calvet Politicas Linguisticas Prefacio

Louis-Jean Calvet

Tradução:ISABEL DE OLIVEIRA DUARTE

JONAS TENFEN

MARCOS BAGNO

Prefácio:GILVAN MÜLLER DE OLIVEIRA

LINGÜÍSTICASA s p o l í t i c a s

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ....................................................................... 7

Capítulo I: NAS ORIGENS DA POLÍTICALINGÜÍSTICA ............................................................. 11I. Nascimento do conceito e de seu campo de aplicação 12II. O primeiro modelo de Haugen ............................ 20III. A abordagem “instrumentalista”: P. S. Ray e V. Tauli 25IV. O segundo modelo de Haugen ............................. 29V. A contribuição da sociolingüística “nativa” ............. 32

Capítulo II: AS TIPOLOGIAS DAS SITUAÇÕESPLURILÍNGÜES ......................................................... 37I. Ferguson e Stewart .............................................. 38II. As propostas de Fasold ......................................... 46III. A grade de Chaudenson....................................... 49Conclusão .................................................................. 58

Capítulo III. OS INSTRUMENTOS DEPLANEJAMENTO LINGÜÍSTICO ............................. 61I. O equipamento das línguas ................................. 62

A escrita ............................................................................. 63A padronização .............................................................. 67Do “in vivo” para o “in vitro ..................................... 68

II. O ambiente lingüístico ........................................ 71III. As leis lingüísticas ............................................... 74

Nomear a língua ............................................................ 78Nomear as funções ......................................................... 80

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6 AS POLÍTICAS LINGÜÍSTICAS

Princípio de territorialidade ou de personalidade? 81O direito à língua ........................................................... 84

Conclusão .................................................................. 85

Capítulo IV: A AÇÃO SOBRE A LÍNGUA (O CORPUS) 87I. O problema da língua nacional na China ............. 87II. Intervenção no léxico e na ortografia de uma

língua: o exemplo do francês ................................ 93Os “decretos lingüísticos” ............................................ 93As leis lingüísticas ......................................................... 93A ortografia ...................................................................... 95As indústrias da língua ............................................... 100

III. A fixação do alfabeto bambara no Mali ................ 101IV. A “revolução lingüística” na Turquia ................. 108V. A padronização de uma língua:

o exemplo da Noruega ......................................... 112

Capítulo V: A AÇÃO SOBRE AS LÍNGUAS (O STATUS) 117I. A promoção de uma língua veicular: o caso da

Tanzânia .............................................................. 117II. A promoção de uma língua minoritária: o caso da

Indonésia ............................................................. 122III. A paz lingüística suíça ........................................ 126IV. A defesa do status internacional de uma língua:

o exemplo do francês ........................................... 130Na Europa ........................................................................ 133A francofonia ................................................................... 136O francês no mundo ...................................................... 141

V. A substituição de um língua colonial: os iníciosda arabização na África do Norte ........................ 145No Marrocos ..................................................................... 148Na Tunísia ....................................................................... 151Na Argélia ........................................................................ 153

Conclusão .................................................................. 157

BIBLIOGRAFIA ............................................................... 161

ÍNDICE DE NOMES ........................................................ 167

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PREFÁCIO

Faz pouco tempo que o termo ‘política lingüísti-ca’ está circulando de maneira minimamente sistemáti-ca no Brasil, contrariamente ao que ocorre em váriosoutros países latino-americanos, notadamente na Ar-gentina ou nos países andinos. Na metade da déca-da de 1980, por exemplo, fui aluno de um bacharela-do em lingüística em uma importante universidadebrasileira, com várias áreas de estudo, e não tive ne-nhum contato com o termo ou a disciplina.

É que ‘política lingüística’, enquanto disciplinanascida na segunda metade do século XX, como Calvetmostra nesta introdução, está associada ao plurilin-güismo e a sua gestão. Está associada a mudanças polí-ticas que levaram a alterações no estatuto das diver-sas comunidades lingüísticas que integram a cidada-nia, como ocorreu na esteira do processo de descoloni-zação da Ásia e da África a partir dos anos 1950, en-tre outros.

No Brasil, onde a ideologia da ‘língua única’, des-de tempos coloniais, tem camuflado a realidade pluri-língüe do país, parecia haver pouco lugar para as ques-tões empíricas e teóricas levantadas pelos estudiososdas políticas lingüísticas. O consenso em torno da lín-

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8 AS POLÍTICAS LINGÜÍSTICAS

gua única — ‘todos os brasileiros se entendem de nortea sul do país, porque falam português [alguns acrescen-tariam: “e aqui não há dialetos”] — tem sido ampla-mente hegemônico, inclusive em muitos quadros uni-versitários, comprometidos, em grande parte, com aexecução de mais este item do ‘projeto nacional’ brasi-leiro. Note-se, por exemplo, que até a sociolingüísticamajoritariamente praticada no país é uma sociolingüís-tica das variáveis e variantes do português — uma so-ciolingüística do monolingüismo, portanto.

Nas duas últimas décadas, entretanto, o panora-ma das reivindicações dos movimentos sociais, a di-versificação de suas pautas, o crescimento das ques-tões étnicas, regionais, de fronteira, culturais, torna-ram muito mais visível que o Brasil é um país consti-tuído por mais de 200 comunidades lingüísticas dife-rentes que, a seu modo, têm se equipado para partici-par da vida política do país. Emerge em vários fórunso conceito de ‘línguas brasileiras’: línguas faladas porcomunidades de cidadãos brasileiros, historicamenteassentadas em território brasileiro, parte constitutivada cultura brasileira, independentemente de serem lín-guas indígenas ou de imigração, línguas de sinais oufaladas por grupos quilombolas. Emergem tambémolhares inovadores sobre o próprio português, nasci-dos dos novos papéis que o Brasil desempenha emcontexto regional e mundial.

O crescimento desses movimentos sociais e a rea-ção do Estado a essas reivindicações vão tornando diaa dia mais claro o âmbito das responsabilidades daspolíticas lingüísticas — seus métodos e interesses. So-bretudo, vão tornando mais claro que ‘política lingüís-

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9PREFÁCIO

tica’, para além de uma multidisciplina constituída deconhecimentos técnicos de lingüística, antropologia,sociologia, história, direito, economia, politologia, mo-bilizados para a análise das situações lingüísticas é, comodiz Lia Varela, uma prática política, associada à inter-venção sobre as situações concretas que demandam de-cisões políticas e planificação de políticas públicas.

O livro de Calvet vem, assim, em um bom mo-mento. É um livro que tem o mérito da apresentaçãoconceitual sistemática, necessária no atual momento dasdiscussões políticas envolvendo as línguas do Brasil eas ações político-lingüísticas do Estado. Aporta, alémdisso, análises de situações político-lingüísticas em vá-rias partes do mundo, mostrando com isso soluçõesproduzidas em planificação de corpus e em planificaçãode status das línguas, seus limites e possibilidades.

É uma contribuição importante para o que temoschamado de ‘virada político-lingüística’: o movi-mento pelo qual os lingüistas (mais que a lingüística)passam a trabalhar junto com os falantes das línguas,apoiando tecnicamente suas demandas políticas e cul-turais. Deixam de atuar no campo da ‘colonização desaberes’ para atuar no que Boaventura Santos chamade ‘comunidade de saberes’, e passam do campo uni-versitário ao campo dos conhecimentos pluriversitá-rios, o que prioriza a pesquisa-ação sobre uma visãode pesquisa que tem tratado os falantes das línguas co-mo meros informantes descartáveis, uma vez que ogravador capture o ‘dado’ lingüístico

Calvet define a lingüística como o estudo das co-munidades humanas através da língua. Em outro con-texto, afirma que são as línguas que existem para ser-

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vir aos homens e não os homens, para servir às lín-guas. Sua obra vai se estruturar centralmente em tor-no a essas máximas, descrevendo os conflitos huma-nos e procurando desenvolver uma conceituação paraa compreensão dessas situações que tem sua “questãoteórica primordial levantada pela própria idéia depolítica lingüística”: em que medida o homem podeintervir na língua ou nas línguas?

GILVAN MÜLLER DE OLIVEIRA

IPOL, Florianópolis, julho de 2007