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CALEIDOSCÓPIO POLICIÁRIO FEVEREIRO M. Constantino [email protected]

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CALEIDOSCÓPIO POLICIÁRIO  

FEVEREIRO  

M. Constantino  

[email protected]  

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CALEIDOSCÓPIO POLICIÁRIO  

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FEVEREIRO   

  Os romanos chamavam‐lhe FEBRUARIUS, de Februus deus dos mortos, também de 

februare – purificar, porque era o mês em que se celebravam as  festas expiatórias dos Lupercais. 

Já  que  é  o mais  pequeno  dos meses  do  ano,  28  dias  ou  29  nos  anos  bissextos, deixamos o exemplo de uma pequena fábula moderna de um dos grandes pensadores do século passado, Anthony de Mello (in The Song of a Bird). 

 COME A TUA PRÓPRIA FRUTA  Queixava‐se um discípulo ao mestre: O senhor conta‐nos histórias, mas nunca nos revela o seu sentido. E respondeu o Mestre: Que dirias se alguém te oferecesse uma fruta já mastigada?  Resposta  acertada.  O  sentido  das  coisas  é  um  bem  que  ninguém  dá,  é  uma 

descoberta pessoal. 

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Com demasiada  frequência o ser humano tem tentado  ignorar ou banir a verdade fundamental, de que tem de semear antes de colher, de ganhar antes de poder gastar, de  APRENDER  ANTES  DE  COMPREENDER.  A  vida  não  é  governada  por  actos  ou circunstâncias extrínsecas, vindos de fora. Cada um de nós cria a sua própria vida pelos pensamentos que tem. 

É a  faculdade de pensar, de  raciocinar, de melhorar a sua condição, o sentido das coisas que torna os humanos diferentes de outras espécies animais, só está nas nossas mãos  pelo menos  tentar  apoiar  o  nosso  pensamento  em  bases  adequadas…  ninguém pode fazê‐lo por nós! 

 M. Constantino 

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1 DE FEVEREIRO   

SETE DE ESPADAS  

  Sete de Espadas (1921‐2008) – 1 de Fevereiro de 1921, data de nascimento de Sete 

de Espadas ou Tharuga, pseudónimos usados respectivamente para o policiário e para o charadismo de Manuel José Lattas, natural da Chamusca, Ribatejo. Iniciou‐se no policiário no princípio da década de 40, na secção dirigida por Repórter Mistério (Gentil Marques). Foi amor à primeira vista, amor para ficar e se desenvolver. Não só abraçou a modalidade de  solucionista  como  a  de  Produção. Nesta  última modalidade  é  de  relevar,  a  par  de outros, o título de Campeão Nacional, no II Torneio Nacional de Problemística Policiária, disputado  em  1958,  com  Lúcifer  Interveio  na  História.  Com  vocação  especial  para  o relacionamento com a juventude, vê, com satisfação, os mais jovens de ontem tornarem‐se os Homens de hoje! Pode orgulhar‐se de, até hoje,  ser o homem que mais Secções Policiárias dirigiu  e mais  convívios  entre  policiaristas organizou, desde  as  Tertúlias dos cafés às visitas a vários locais do país, em plena e franca confraternização. 

Dirigiu  a  primeira  Secção  no  Jornal  de  Sintra  (1947),  com  o  título,  predilecto,  de Mistério e Aventura; em 1948, aparece no Camarada, com nova Secção; em 1953, são as Secções  do  Guião,  Em  fim  de  Livro…  na Colecção  Xis,  a  da  Lente  (propósito  editorial 

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próprio!); em 1954, no Cavaleiro Andante, com a Página Dezassete e o pseudónimo de Misterioso  C.  A.;  em  1956,  no  Jornal  do  Sporting.  Uma  pausa  para  ganhar  fôlego, surgindo,  em  1975,  na revista  Crime  (editada  pelo  Inspector  Varatojo),  no Mundo  de Aventuras  Especial,  na  Secção Mistério  Policiário  do Mundo  de  Aventuras  (de  1975  a 1986), no Jornal O Crime (1989 a 1994) – e no mesmo com a Secção Édipo e a Esfinge, de 1995 até ao falecimento em 9 de Dezembro de 2008. Dias antes, já muito doente, ainda prometia um torneio policial para aquela secção a iniciar em 2009. 

Lutador  incansável,  não  esquecemos  que  criou  e manteve  com muita  dedicação, durante  32  números,  debaixo  de  canseiras  e  dificuldades  monetárias  que  se adivinhavam, uma revista própria – o seu maior sonho – a XYZ. 

O  Sete  de  Espadas  está  referenciado  como  um  dos  três  grandes  do  policiário português:  Repórter Mistério,  o  introdutor  do  enigma  em  Portugal;  Artur  Varatojo,  o divulgador  nos  jornais,  rádio  e  televisão;  e  Sete  de  Espadas  que  expandiu  o  policiário português e  lhe deu expressão, o homem que mais adeptos conseguiu captar –  iniciou, manteve  e  reconduziu  muitos  dos  afastados  para  a  modalidade.  O  SETE  marca  três gerações de aplicação do poder do raciocínio e profunda amizade. 

  

AINDA SETE DE ESPADAS  Como  já  se disse,  Sete de Espadas  iniciou‐se no enigma policiário no princípio da 

década de 40,  talvez mais propriamente no  ano de 1944 ou 1945. De qualquer modo desde  logo  se destacou, com vivacidade  invulgar, na defesa da  literatura de mistério e emoção. Daí  que  ao  aparecer  no mercado  nacional  a  publicação  brasileira  Policial  em Revista, fizesse chegar a sua escrita de letra garrafal ao Brasil. 

Em  1946  o  redactor  da  referida  revista,  assinala  a  publicação  de  uma  das  suas críticas, que publica do seguinte modo: 

 Veio‐nos  de  Portugal,  há  algum  tempo,  uma  colaboração  de Manuel  José  Lattas, 

residente  em Agualva‐Cacém.  Se  tem  boa memória  devem  lembrar  daquele  bem  feito trabalho  intitulado  Chesterton  ou Wallace? Que  deu  início  em  nossas  colunas  a  uma polémica do nosso colaborador A.B. Hoje inserimos novo trabalho do Amigo Português. 

 VANTAGENS DA LITERATURA DE FICÇÃO De Manuel José Lattas 

 Procurando  bons  autores,  cujas  traduções  são  bem  cuidadas,  eu  posso  encontrar 

entre as suas personagens todos tipos do dia a dia da vida, verdadeiramente retratados, absolutamente  reais  e  ligados  por  aquele  fio  que  assenta  em  bases  de  pura  dedução lógica e me encaminham para a resolução final de um problema que me atrai e seduz. 

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Lendo‐os  eu  encarno  um  a  um,  todas  as  suas  personagens  e  posso  sentir  amor, paixão, desilusão ódio, ciúme, cinismo, abnegação, justiça e toda a gama de sentimentos que nós mortais temos cá dentro, calcados bem no fundo do nosso íntimo, mais ou menos em estado latente. 

Além do magnífico e salutar exercício cerebral, eu vou encontrar sempre nas páginas da literatura policial, uma figura que me domina e que me prende, quer esteja incarnada num  inspector de polícia, num advogado ou num detective particular, mas que é, acima de tudo, um magnífico paladino da justiça e da moral, cumpridor da lei, que a lei é muitas vezes sofisma e um lutador enérgico contra o Universo cheio de mentiras idealista e onde o mal impera. 

Confesso que leio livros policiais e isso não me assusta nem me diminui. A crescente expansão do romance policial trouxe as suas obrigações e deveres; um vastíssimo público, composto de homens das leis e de ciência, de médicos, de engenheiros e de toda a espécie de  especialistas  não  podia  deixar  de  ser  observante  e  exigente;  e  para  satisfazer  este Argos  de  olhos  inexoráveis  tornou‐se  necessário  um  extremo  cuidado  na  construção  e apresentação da história. Um erro ou deslize podia deitar abaixo ou  invalidar a solução. Cada nova conquista da ciência criou responsabilidades novas. A história policial manobra hoje todos os lados da ciência, da arte e da lei. 

E por tudo isto e pelo muito que fica por dizer, eu não tenho medo de me confessar um defensor da  literatura policial, que  já não faz encolher desdenhosamente os ombros senão a uma meia dúzia de senhores muito sérios e superiores a estas coisas, tudo o que seja realmente vivo e do nosso tempo. 

Entre os mestres do género, sem margem para discussão, está colocada a criadora da  figura  extraordinária  do  detective amador  Sir  Edward  Palliser morador  no  nº  9  de Queen Anne’s Close, um beco sem saída – Agatha Christie! 

Prefiro, porém, Oppenheim! Mais  romancista!  Os  seus  livros  são  sempre  histórias  bem  delineadas  e  bem 

dosadas. Ele não  tem necessidade de  forçar; não procura as histórias de  rabo  torcido e também  não  tem  necessidade  de  puxar muitos  cordelinhos  para  a movimentação  das suas personagens. Ali  tudo  é natural  e  lógico. Nada de aventuras  rocambolescas, nem plataformas especiais. 

Simples! Humano! Leal!   

EFEMÉRIDES  Ribeiro de Carvalho  (1952) – Data do nascimento em Torres Novas do policiarista 

Eduardo  Filipe  Ferreira  Bento.  Solucionista  e  produtor,  que  conquistaria  um  amplo horizonte. Contista de enormes qualidades é  lembrado pelo seu anonimato voluntário. Em sede própria voltaremos a lembrar o autor. 

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H.  C.  Bailey  (1878‐1961)  –  Data  do  nascimento  de  Henry  Christopher  Bailey  em Londres. É repórter do Daily Telegraph entre 1901 e 1946 e começa a escrever literatura histórica.  Publica  o  primeiro  romance  policiário  em  1930,  Garstons  (ou  The  Garston Murder Case), onde cria o personagem  Joshua Clunk,  também herói de The Red Castle (1931), um malandro e hipócrita, uma espécie de detective que chega a disfarçar‐se de beata para atingir os seus fins. No entanto Reggie Fortune é o primeiro personagem que aparece  no  conto  Call Mr  Fortune  (1920)  e  que  dá  origem  a  uma  série  e  entra  no romance  Shadow  on  the Wall  (1934)  e  continua  em  outros,  alternando  com  Clunk. Reginald Fortune ou Reggie é baixo, gorducho louro e de olhos azuis, parece uma criança, mas é astuto e é o favorito do público, chegando a aparecer em dois volumes de contos por ano durante duas décadas. 

 

      Matthew Head  (1907‐1985)  – Nasce  John  Edwin  Canaday  em  Fort  Scott,  Kansas‐

EUA. Frequenta a Universidade do Texas e serve no Marine Corps durante a 2ª Guerra. É professor universitário de História de Arte e publica vários livros sobre temas de arte sob o nome de John Canaday. Escreve o seu primeiro romance policiário The Smell of Money em  1943.  Em  1945  apresenta  um  personagem  fixo,  a  Drª Mary  Finney,  que  volta  a aparecer  numa  série  de  romances.  A  acção  de muitos  dos  livros  de Matthew  Head decorre em África em Brazaville, no Congo. 

Bibliografia: The Smell of Money (1943), The Accomplice (1947) e Another Man's Life (1953); na série Drª Mary Finney: The Devil in the Bush (1945), The Cabinda Affair (1949), The Congo Venus (1950) e Murder at the Flea Club (1955). 

 Leonard Gribble (1908‐1985) – Leonard Reginald Gribble nasce em Londres. Usa os 

pseudónimos de Bruce Sanders, Dexter Muir, James Gannett, Landon Grant, Lee Denver, Leo Grex, Louis Grey, Piers Marlowe e Sterry Browning. Pertence ao Press and Censorship Division do Ministério da Informação em Londres entre 1940 e 1945. Escritor imaginativo e  prolífero  escreve muitos  policiários, mais  de  uma  centena  de  romances  e múltiplos 

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contos  curtos,  espalhados  pelas  revistas  da  especialidade.  Inicia‐se  em  1929  com  The Case of the Marsden Rubies, o primeiro da série Anthony Slade e Departamento X2. Com o pseudónimo Leo Grex começa uma nova série com os protagonistas Paul Irving and Phil Sanderson: The Tragedy at Draythorpe Hutchinson (1931) e The Nightborn (1931). 

Leonard Gribble é um dos membros  fundadores da Crime Writers Association em 1953.  

 

      Colin  Watson  (1920‐1983)  –  Nasce  em  Croydon,  Surrey,  Inglaterra.  Escritor  e 

jornalista,  publica  o  primeiro  romance  em  1958.  Cria  vários  personagens:  Inspector Walter Purbright and Lucilla Teatime. É  famoso pela série Flaxborough, um  total de 13 títulos, alguns dos quais adaptados pela BBC, na série televisiva Murder Most English. 

Bibliografia:  Coffin,  Scarcely Used  (1958),  Bump  in  the Night  (1960), Hopjoy Was Here  (1962),  Lonelyheart  4122  (1967),  Charity  Ends  at  Home  (1968),  Flaxborough Chronicle  (1969), The Flaxborough Crab  (1969) também editado com o título  Just What the Doctor Ordered, Broomsticks over Flaxborough (1972) também editado com o título Kissing  Covens, The Naked Nuns  (1975)  também  editado  com  o  título  Six Nuns  and  a Shotgun, One Man's Meat (1977) também editado com o título It Shouldn't Happen to a Dog,  Blue  Murder  (1979),  Plaster  Sinners  (1980),  Whatever's  Been  Going  on  at Mumblesby? (1982). 

  

CONTO  Dissemos  no  início  que  Ribeiro  de  Carvalho  era  um  contista  de  enormes  qualidades, agora  podemos  acrescentar  que  nas  várias  categorias,  porque  o  conto  que transcrevemos,  da  sua  autoria,  é  um  conto  de  ficção  científica  de  1993  publicado  na revista Célula Cinzenta, ainda que extenso é um bem a não perder.  

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O MUNDO É UMA ESPERANÇA  Pese  embora  todos  os  esforços  e  verbas  que  governos  e  instituições  privadas 

dedicaram  à  investigação,  é  certo  que  o  vírus  continuava  a  fazer  vítimas  a  um  ritmo alarmante.  Dos  laboratórios  saíam  regularmente  vacinas,  remédios,  xaropes  e  outros tratamentos para combater o mal. Mas o vírus ia resistindo, modificava‐se, criava novas formas  e  quando  os  cientistas  esgotaram  o  alfabeto  a  baptizar  as  suas  várias manifestações, passaram a utilizar nomes latinos tão do agrado da comunidade. 

Bruxos, gurus, mães‐santas, ervanários, hipnotizadores, iam fazendo fortunas com a cura do mal, mas o vírus continuava a alastrar. Alguns hospitais sentiam‐se já impotentes para dar guarida e tratamento a todos os doentes que lhes apareciam e um sentimento de medo ia‐se apossando progressivamente de todos os povos. Os governos apelavam à calma, aconselhavam o uso de preservativos,  faziam grandes campanhas nos meios de comunicação. Mas nada resultava. 

A  primeira  tentativa  séria  de  pôr  ordem  na  Sociedade,  veio  da  Igreja  Católica. O Papa publicou uma encíclica em que excomungava todos aqueles que tivessem relações sexuais extra‐conjugais ou com pessoas do mesmo sexo. Era contra as leis de Deus e da natureza, dizia, e quem não cumprisse estas directivas arderia eternamente no  Inferno. Do alto dos púlpitos, os padres ameaçavam os indignos com as penas mais pesadas que se pudessem imaginar e apelavam para que os verdadeiros católicos se lançassem numa nova  Cruzada  contra  todos  os  seguidores  de  Satã.  Começaram  a  surgir  distúrbios  nas casas nocturnas,  incêndios, destruições, apedrejamentos. As prostitutas e homossexuais eram  ferozmente  perseguidos  e  a mais  antiga  profissão  do mundo  estava  em  vias  de extinção. 

Seitas  político‐religiosas,  ultra‐conservadoras,  formaram‐se  rapidamente  e espalharam‐se por  todo o mundo. Em  Itália, os Filhos da Virtude, que preconizavam a abolição  de  todo  o  tipo  de  relações  sexuais  e  a  supressão  dos  toxicodependentes, ganharam as eleições nacionais com 53% dos votos. Na Índia, os Guerreiros da Inocência sofreram 60.000 baixas durante uma manifestação  reprimida pelo governo. Durante os dois primeiros anos após o aparecimento da Encíclica, 27 partidos de cariz nitidamente racista assumiram o governo dos seus países, em eleições livres e democráticas. 

O principal objectivo destes partidos tornou‐se a eliminação de todas as formas de exploração  e  desejo  sexual.  Grandes  estádios  passaram  a  servir  de  campos  de concentração  onde  prostitutas,  homossexuais,  artistas  pomo,  livreiros  pouco escrupulosos,  pintores  de  nus,  se  amontoavam  até  as  autoridades  definirem  o  seu destino que, normalmente, acabava em valas pouco fundas. Bibliotecas foram obrigadas a fechar. Estações de televisão proibidas de passarem qualquer programa que contivesse, explícita ou implicitamente, referência a sexo ou drogas. A maioria acabou por encerrar. Foi generalizado o uso obrigatório de  véus e  saias para as mulheres e  túnicas para os homens. Naturalmente, a  investigação  sobre o vírus,  sofreu  fortes  retrocessos até que 

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estabilizou num nível mínimo. Movimentos de  resistência  apareciam  e desapareciam mas,  embora  com  grandes 

perdas, iam consolidando e profissionalizando as suas acções. Os principais alvos que, no princípio, tinham sido os Santuários da Moral, depressa passaram a ser as figuras político‐religiosas.  De  entre  todos,  sobressaiu  o  movimento  conhecido  da  Esperança  que, nascendo em França, se espalharam rapidamente por toda a Europa e depois pelo resto do mundo, tornando‐se um verdadeiro exército internacional. 

As medidas tomadas pelos vários governos, porém, eram ainda insuficientes. O vírus continuava  a  espalhar‐se  e  a  aterrorizar  as populações. As percas  sofridas pelo C.P.S., Confederação dos Povos do Senhor, formada por todos os países Defensores da Virtude, corresponderam  a  10%  do  total  da  população,  nos  primeiros  quinze  anos  da Confederação; esta percentagem era nitidamente  inferior às dos restantes países onde, durante o mesmo período, a percentagem de mortos em virtude do vírus foi de 27%. A apresentação  destes  números,  acompanhada  por  uma  campanha  de  propaganda devidamente elaborada, levou à tomada de poder pelos partidos irmãos da C.P.S. com o apoio de parte significativa da população. 

As  várias  agências  e  organizações  humanitárias  que  tiveram  a  sua  missão dificultadas,  foram dissolvidas. Os membros da Organização Mundial de Saúde, da Cruz Vermelha,  do  Crescente  Vermelho  e  de  todas  as  outras,  foram  perseguidos  e  presos, considerando‐se que todos se tinham mostrado incapazes e Inimigos da Fé. O edifício da ONU, em Nova  Iorque,  foi  implodido dando assim origem ao  fim do Mundo Velho e ao nascimento da Nova Ordem. 

Mas ninguém  conseguia  eliminar o  vírus  e  embora os Guerrilheiros da  Esperança sofressem  baixas  altíssimas,  as  suas  forças  eram,  ainda  que  lentamente  ao  princípio, rapidamente  substituídas  por  elementos  da  população.  Calcula‐se  que  em  25  anos  as suas baixas, motivadas pelo vírus, foram da ordem dos 47%. 

Apesar  disso,  as  suas  acções  tornavam‐se  cada  vez mais  significativas.  Assaltos  a depósitos de armamento, destruições de templos,  libertação de crianças dos Orfanatos de Deus,  libertação de áreas geográficas e organização das populações. Nesta altura, a estratégia definida pelo Alto Comando dos GEs passava pela consolidação do movimento em áreas  significativas.  Lembre‐se, no entanto, que um dos  feitos mais espectaculares durante esse período, foi o assalto ao estádio do Maracanã, de onde  libertaram 40.000 prisioneiros. 

O aparecimento dos Territórios Livres agravou os problemas internos dentro da CPS. Com  uma  população  a  reduzir‐se  significativamente,  em  virtude  das mortes  causadas pelo  vírus  e,  principalmente,  por  deserção,  a  CPS  viu‐se  subitamente  com  grandes cidades  abandonadas,  vias  de  comunicação  destruídas,  fábricas  fechadas,  insurreições armadas. Culpando os Adoradores do Vírus pelo estado caótico da economia, o Comando Militar  dos  Anjos  decidiu  bombardear  os  territórios  livres  com  armas  químicas,  de neutrões, de protões, com tudo o que ainda havia nos seus arsenais e estava operacional. 

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Quando ELES chegaram, verificaram que tinha havido um pequeno erro de cálculo. O computador da nave informava ainda 27.324 humanos em todo o planeta. 

Não se  importaram. Tinham passado duzentos anos desde que  inocularam o vírus nos duzentos humanos. Podiam esperar outro tanto. 

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2 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Frank L. Packard  (1887‐1942) – Frank Lucius Packard nasce em Montreal, Canadá. 

Engenheiro  civil  de  profissão,  trabalha  no Canadian  Pacific  Railway.  A  partir  de  1911 dedica‐se à escrita, em 1914 escreve e publica The Miracle Man e em 1917 inicia a série protagonizada por Jimmie Dale com The Adventures of Jimmie Dale (1917). Jimmie é um aventureiro,  um  malfeitor  para  a  polícia  e  um  justiceiro  para  os  delinquentes.  Este personagem, nascido  fabulosamente  rico e graduado em Oxford, é sócio do sigiloso St. James Club. Solteiro, rodeado de servidores, é um conquistador entre as mulheres de alta sociedade, onde conhece tudo e todos. Aborrecido, disfarçado de vagabundo, converte‐se  em  Larry  o  Morcego,  para  se  permitir  os  roubos  convenientes,  divertindo‐se  a desarticular os grandes bandos violentos, deixando a marca pela qual é conhecido Gray Seal – o selo cinzento. 

 

  Frank Gruber (1904‐1969) – Nasce em Elmer, Minnesota, EUA. É também conhecido 

pelos pseudónimos Charles K. Boston, John K. Vedder e Stephen Acre. Fixa‐se em Iorque onde  passa  momentos  difíceis  enquanto  escreve  para  revistas.  Publica  o  primeiro romance, um western, em 1934, mas só em 1940 alcança a  fama com o primeiro  livro policiário, The French Key, seguido de The Laughing Fox, do mesmo ano, protagonizado 

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pela  dupla Johnny  Fletcher e Sam  Cragg,  dando  início  a  uma  série  de  bons  romances policiários.  Johnny  e  Sam  são  uma  parelha  de  vendedores  de  um  único  livro, oportunistas, mas  inteligentes.  O  primeiro  é  um  cérebro, mas  um  bom  cérebro  que assombra a própria polícia com as deduções e descobertas  sobre os crimes que  se  lhe deparam,  é  uma  espécie  de  detective  amador,  Sam  designado  por  jovem  Sansão,  é  a forma  em  que  se  apoia  o  primeiro.  Johnny  Fletcher  e  Sam  Cragg,  sem  família  e  sem emprego fixo tentam viver e divertir‐se, o que nem sempre é fácil… ressalvando o humor e o optimismo que dão mostras. 

Frank  Gruber  escreve  mais  de  60  livros  policiários,  mais  de  2  centenas  de argumentos para cinema e  televisão e cerca de 300 contos para  revistas,  reproduzidos em várias colecções e antologias. 

Em Portugal diferentes editoras  têm vindo a publicar os  livros de Frank Gruber. O primeiro a ser editado, em 1951, pela Livros do Brasil, o nº 51 da Colecção Vampiro é O Enigma do Quarto Fechado (The French Key). A Livros do Brasil‐Vampiro editou já mais 30 títulos diferentes de Frank Gruber. A Publicações Europa‐América também publicou uma dezena de livros de Frank Gruber na Colecção Livros de Bolso, Clube do Crime.  

 

      Georges Pierquim  (1922) – Nasce em Aix‐en‐Provence,  França. Escritor,  jornalista, 

fotógrafo,  produtor  de  televisão.  Dedica‐se  ao  rádio  com  Claude  Duvel,  tem  um programa de enigmas policiais. Escreve o primeiro romance com o pseudónimo Georges E. Perkins em 1955, L’Assassin Frappe Deux Fois. Com um intervalo de cinco anos, volta a escrever com a colaboração de Jimmy Guieu; adoptam o pseudónimo Jimmy G. Quint e escrevem romances de espionagem Destination Cataclysme (1960), Vengez Ma Trahison (1961) e Pouvoirs Spéciaux (1961), etc. etc. Só ou em colaboração escreve três ou quarto livros por ano. 

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3 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Modesto Navarro  (1947) – António Modesto Navarro nasce em Vila Flor. Serve nas 

forças armadas como fuzileiro naval em Moçambique. Regressa à vida civil e trabalha em publicidade e associações culturais. Desenvolve  intensa actividade política e é fundador da Associação Portuguesa de Escritores. Publica contos, ensaios e  romances, num  total de  cerca  de  40  obras.  Na modalidade  policiário,  sob  o  pseudónimo  de  Artur  Cortez, escreve três  livros. Posteriormente na mesma  linha, mas sob Modesto Navarro escreve outros  romances  entre  os  quais  Condenada  à Morte  a  que  foi  atribuído  em  1991  o Prémio  Caminho  de  Literatura  Policial.  É  o  autor  de  histórias  da  série  policial  Crime  à Portuguesa, da RTP. 

Bibliografia Policiária: A Morte no Tejo (Artur Cortez), A Regra do Jogo Edições, 1982 A Morte dos Anjos (Artur Cortez), Livros Horizonte, 1983 A Morte do Artista (Artur Cortez), Ulmeiro, 1984 A Morte no Douro, Ulmeiro, 1984 O Pântano, Ulmeiro, 1986 Condenada à Morte, Caminho, nº 138 Policial de Bolso (1991) Fina Flor, Caminho, nº1 58 Policial de Bolso (1993)  

 

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Henning Mankell (1948) – Nasce em Estocolmo, Suécia. Trabalha como dramaturgo durante vários anos e publica o seu primeiro em 1973. Escreve peças de teatro, ficção e livros  infantis.  Actualmente  divide  a  sua  vida  entre  a  Suécia  e  Moçambique  onde desenvolve  a  sua  actividade  teatral  como  director  do  Teatro  Avenida  de Maputo. Na literatura policiária é o criador do Kurt Wallander, um oficial da Polícia de Ystad. É um dos autores suecos mais conhecidos e os seus livros são bestsellers internacionais. 

Em Portugal os seus livros têm sido editados pela Editorial Presença na colecção Fio da Navalha. 

1 – Assassino Sem Rosto, nº 30 Colecção Fio da Navalha (Faceless Killers, 1991) 2 – A Quinta Mulher, nº 37 Colecção Fio da Navalha (The Fifth Woman, 1996) 3 – A Falsa Pista, nº 42 Colecção Fio da Navalha (Sidetracked, 1995) 4 – Os Cães de Riga, nº 48 Colecção Fio da Navalha (The Dogs of Riga, 1992) 5 – A Leoa Branca, nº 57 Colecção Fio da Navalha (The White Lioness, 1993) 6  – O Homem  que  Sorria,  nº  66  Colecção  Fio  da Navalha  (The Man Who  Smiled, 

2005) 7 – Um Passo Atrás, nº 92 Colecção Fio da Navalha (One Step Behind, 1997) 8 – A Muralha Invisível, nº 101 Colecção Fio da Navalha (Firewall, 1998) 9 – O Homem de Pequim, nº 106 Colecção Fio da Navalha  (The Man  from Beijing, 

2010) Apenas este último não pertence à série Kurt Wallander. Site oficial do autor: http://www.henningmankell.com/  

 

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4 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Maurice  Procter  (1906‐1976)  –  Nasce  Maurice  Procter  em  Nelson,  Lancashire, 

Inglaterra.  Ingressa  na  polícia  em  1927,  publica  o  primeiro  livro  em  1947,  No  Proud Chivalry e, ao constatar que pode viver apenas da escrita, dedica‐se a esta em exclusivo. A experiência na polícia confere realismo à sua obra literária. Procter, entre 1947 e 1969, publica um total de 26  livros. É conhecido pela série Martineau, um total de 14 títulos, em que o protagonista é Harry Martineau, um Inspector Chefe da polícia de Granchester City. Seis dos seus romances foram adaptados ao cinema, incluindo Rich Is The Treasure (1952) e Hell Is a City (1954). 

Em Portugal, Maurice Procter estão editados os seguintes livros: 1 – E o Diabo os Juntou, Portugália Editora, nº 2 da Colecção Olho de Lince 2 – Dinheiro do Diabo, Portugália Editora, nº 5 da Colecção Olho de Lince, 1963 3 – A Emboscada, Portugália Editora, nº 8 da Colecção Olho de Lince 4 – Mudança ao Luar, Agência Portuguesa de Revistas, nº 5 Colecção Dossier Crime, 

1965 (Devil in Moonlight, 1962) 5 – Dois Homens em Vinte, Empresa Nacional de Publicidade, nº 19 Colecção Policial 

Esfinge, 1967 (Two Men In Twenty, 1964)  

  

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Harry  Whittington (1915‐1990)  –  Harry  Benjamin  Whittington  nasce  em  Ocala, Florida, EUA. É um escritor policiário de um género violento e novela negra. Entre 1950 e 1970 publica cerca de 200 romances, alguns dos quais adaptados ao cinema e televisão. Reparte o título de rei da ficção Pulp com H. Bedford‐Jones. Na sua vastíssima produção literária  utiliza  15  pseudónimos  diferentes:  Ashley  Carter,  Blaine  Stevens,  Clay  Stuart, Curt  Colman,  Hallam  Whitney,  Harriet  Kathryn  Myers,  Harry  White,  Henri  Whittier, Hondo Wells, J. X. Williams, John Dexter, Kel Holland, Suzanne Stephens, Tabor Evans e Whit Harrison. 

 

      Jean‐Pierre Bastid (1937) – Nasce em Montreuil, França. É escritor e realizador. Tem 

vários livros publicados em nome próprio e é co‐autor em outras obras com Jean‐Patrick Manchette, Michel Martens,  Jean‐Pierre  Lajournade  e  Charles  Villeneuve.  O  romance mais conhecido é Laissez Bronzer Les Cadavres! (1971), que segundo a crítica representa uma renovação do polar e do policial negro francês. 

 Peter  Driscoll  (1942‐2005)  – Nasce  em  Londres.  Escritor,  repórter  e  editor  é  um 

autor de bestsellers. Escreve  vários  romances,  a maioria  thrillers  internacionais e uma peça de teatro. 

Bibliografia: 1 – The White Lie Assignment (1971), com acção na Albânia 2 – The Wilby Conspiracy (1972), com acção na África do Sul 3 – In Connection With Kilshaw (1974), com acção na Irlanda 4 – The Barboza Credentials (1976), com acção em Moçambique 5 – Pangolin (1979), com acção em Hong Kong 6 – Heritage (1982), com acção na Algéria 7 – Spearhead (1987), com acção em na África do Sul 8 – Secrets of State (1992), com acção nos EUA 9 – Spoils of War (1994), com acção no Iraque 

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HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA – ANTES DE POE  É  actualmente  inquestionável  que  a  verdadeira  narrativa  policiária  nasceu  com 

Edgar  Allan  Poe  ao  publicar  no  número  de  Abril  de  1841  no  Graham's  Lady's  and Gentleman's Magazine, de Filadélfia, o conto The Murders  in the Rue Morgue. E é bem possível que o autor não tivesse consciência do seu notável feito, porquanto ao fazer a crítica dos seus contos, o citado, A Carta Roubada e O Mistério de Marie Roget (os três personalizados pelo primeiro  investigador amador da História) referia‐se a estes contos analíticos devem  em  grande parte  a  sua popularidade  ao  facto de  apresentarem uma nova chave. Todavia, ninguém poderá afirmar se a  ideia analítica será ou não resultado do  conhecimento de anteriores escritos,  já que a análise dedutiva é  remota. Veja‐se a fábula  do  Leão  e  da  Raposa,  de  Ésopo,  a  História  de  Daniel  no  Tempo  do  deus  Baal (Bíblia), um e outro reportando‐se à interpretação analítica dos rastros. 

De Salomão, rei de Israel, juiz célebre, sábio, decifradores de charadas, conhecem‐se alguns episódios  interessantes e sinais de notável  inteligência. Citam‐se entre outros, o desvio da pedra de xadrez e o 

 CASO DA ROSA ARTIFICIAL 

 Tendo  chegado  a  soberana  de  Sabá  dos  remotos  países  da Ásia  à  corte  do  sábio 

Salomão a fim de lhe prestar homenagem, quis a soberana avaliar a subtileza do espírito de Rei Hebreu, pedindo a solução de alguns enigmas. 

Apresentou‐lhe  a  rainha,  para  que  as  diferenciasse,  uma  rosa  natural  e  outra artificial, tão iguais entre si, que seria impossível ao olho humano distingui‐las. 

Ordenou o rei que as colocasse no jardim. Breve  veio  uma  abelha,  mirou  com  desdém  a  rosa  artificial  e  foi  segredar 

misteriosamente no cálice da flor natural. 

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Por um estratagema habilidoso, Salomão conseguiu decifrar o enigma.  O poder de observação é digno de um moderno e treinado detective. Nas  obras  dramáticas,  As  Coéforas de  Esquilo  e  Rei  Édipo  de  Sófocles,  perduram 

desafios de interesse. Arquimedes, no notável Vitrúvio Tratado de Arquitectura, nos dá em A Coroa do Rei 

uma extraordinária lição de dedução‐indução. Também Virgílio em Eneida (Livro VIII) nos apresenta uma achega com a lenda do monstro Caco. 

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5 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Margaret Millar  (1915‐1994)  – Margaret  Ellis Millar  nasce  em  Kitchener, Ontário, 

Canadá. O  seu primeiro  romance, The  Invisible Worm, em 1941,  torna‐a alvo de  fama. Trabalha também como argumentista para a Warner Brothers. Margaret Millar é casada com Kenneth Millar, mais conhecido pelo pseudónimo, Ross Macdonald, o casal  forma uma parceria na escrita e no  crime. Em 1982 é agraciada  com o Grand Master of  the Mystery Writers of América e em 1986 recebe o Derrick Murdoch Award.  

Nas suas obras cria vários personagens: Paul Prye, um psiquiatra detective amador, Tom Aragon, advogado hispânico, e o Inspector Sands. Publica os seguintes livros: 

Série Paul Prye: The Invisible Worm (1941) The Weak‐Eyed Bat (1942) The Devil Loves Me (1942) Série Inspector Sands: Wall of Eyes (1943) Taste of Fears, também com o título The Iron Gates (1945) Série Tom Aragon: Ask for Me Tomorrow (1976) The Murder of Miranda (1979) Mermaid (1982)   Margaret Millar escreve ainda  cerca de vinte  romances policiários,  com destaque 

para Beast  In View  (1955), vencedor do Edgar Allan Poe Award em 1956 e  incluído na lista dos 100 melhores  livros de crime e mistério do crítico e novelista H.R.F Keating; A Strange in My Grave (1960) e In Banshee (1983), que são considerados respectivamente um dos seus melhores trabalhos e o enredo mais emocionante. 

Em Portugal: 1 – Vida por Vida, Minerva, nº 76 da Colecção Xis (1958), Vanish In An Instant (1952) 2 – A Bola de Cristal, Minerva, nº 83 da Colecção Xis (1958), Beast In View (1955). 3  – A Caixa de Prata, Minerva, nº 99 da Colecção Xis  (1960),  The  Listening Walls 

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(1959) 4 – Um Estranho no Meu Túmulo, Averno (2011), A Stranger in My Grave (1960)  

   

ENIGMÍSTICA POLICIÁRIA – O ENIGMA E A SUA APRESENTAÇÃO  Semente do fruto da literatura policiária e, para além das virtudes do romance e do 

conto,  nasceu  o  problema  policiário  ou  enigma,  tão  do  agrado  de  alguns milhares  de adeptos ou cultores que ao  longo da vida se recrearam ou recreiam com este actuante estímulo cerebral. 

 MAS O QUE É O ENIGMA POLICIAL? 

 Fundamentalmente  é  uma  questão  exposta  para  se  lhe  encontrar  solução.  De 

harmonia com o conceito é a descrição de uma coisa que por particularidades ou pelas qualidades que  lhe são próprias, ou deliberadamente nela  inseridas, de modo a  tornar difícil  a  identificação  do  que  se  trata.  O  mistério  que  advém  destes  problemas  ou enigmas  é  um  desafio  ao  espírito  observador,  dedutivo  ou  indutivo,  estimulante  do intelecto ante o  labirinto ardiloso da questão. Nada mais do que o desafio contido num conto ou romance policial clássico. 

No início dos anos 40, a apresentação de tais enigmas ou problemas que as revistas ofereciam  eram  exclusivamente  apresentados  em  fotografias,  o  chamado  foto‐crime, cuja solução  resultava da observação dos pormenores das  fotos, com contradições das declarações  dos  personagens.  Trabalho  dispendioso  para  os  apresentadores  que começaram a usar o desenho manual, o que não resultou, optando‐se pela prosa – verso ou peça teatral, por curiosidade. 

Hoje.  muitos  anos  decorridos,  é  o  relato  do  crime  com  enredo  integrado, constituindo uma espécie de conto, do qual se requer a finalização (solução) que é usada 

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totalmente ou preferencialmente. E com boas razões, tanto se pode escrever um enigma do tipo clássico, isto é, apresentando o crime, detalhes e suspeitos, pedindo‐se a solução, ou  apresentar  o  enigma,  descrevendo‐o  e  ao  respectivo  criminoso  e  intervenientes, desafiando o  solucionista a apontar o erro ou erros que  incriminam o delinquente. De qualquer  modo  são  vastas  as  alternativas  e  sem  dispêndio  (fotos),  tão  só  com  a imaginação e arte do produtor do enigma ou problema. 

 Apresentamos um enigma escrito pelo  inesquecível Roussado Pinto e desafiamos o 

leitor a tentar encontrar a solução.  Sam  Sixkiller  e  Paul  Justice  entraram  no  escritório  onde  tinham  sido  chamados  e 

olharam  para  o  corpo  do  homem  caído  sobre  a  secretária.  Ferber,  o  sargento,  estava presente, e em voz breve, disse: 

– O médico legista também vem aí, e a brigada de homicídios chega um pouco mais tarde. 

– Pormenores? Ferber informou: Suicídio. É dono da firma, e pelo que parece tudo está complicado 

em questão económica. Tem dívidas e poucas possibilidades de pagá‐las. Paul  rodeou a  secretária, e do  lado onde pendia a mão da vítima, em pleno  solo, 

estava uma garrafa. Ele baixou‐se, apanhou‐a, tirou‐lhe a rolha e cheirou‐a. Caminhou para o inspector e 

disse: – Conheço o cheiro. Veneno demasiado violento. Morte instantânea. Basta uma gota 

misturada em qualquer líquido para… Calou‐se. Sam não  lhe  ligava  importância. Caminhara para a porta, a receber uma 

senhora que acabara de entrar. – É a mulher do morto. Sam, cumprimentou a senhora e na intenção de evitar cenas 

violentas, disse: – Desculpe, mas é melhor esperar lá fora. Por agora, tem que nos deixar trabalhar. – Mas que aconteceu, meu Deus? – O seu marido suicidou‐se. –  Perdão  –  interveio  Paul.  –  O  marido  desta  senhora  não  se  suicidou.  Foi 

assassinado. O que levou Paul Justice a optar pelo assassínio? 

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6 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Louis Nizer (1902‐1994) – Nasce em Londres, mas vive a maior parte da sua vida nos 

EUA. Advogado e escritor, é o fundador de uma firma de advogados em Nova Iorque. Ao longo  da  sua  longa  carreira  defende muitas  celebridades,  como  Charlie  Chaplin, Mae West  e  Johnny  Carson.  Em  1962  escreve My  Life  in  Court,  um  dos  seus  livros mais conhecidos, um bestseller com a descrição de alguns dos seus próprios casos. Em 1973 publica  The  Implosion  Conspiracy,  que  analisa  o  julgamento  e  a  execução  do  casal Rosenberg; o  livro baseia‐se principalmente na transcrição do  julgamento, mas também inclui muitas histórias comoventes de vida dos Rosenberg. 

 

   

O CRIME NA LITERATURA – NÃO ESPECIALIZADA  A extensão do crime e a variedade dos grupos nele envolvidos refutou teses de que 

este pode ser explicado por generalizações causais ou que o problema pode ser resolvido como parte de um problema socioeconómico. 

A  literatura é a expressão da vida humana no que se  refere ao belo e ao  feio, ao virtuoso e ao maligno, a alma e o espírito do povo eleito ou obscuro captado pela lente 

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fotográfica  das  letras.  As  reacções  da  literatura  não  especializada  –  não  ligada  ao policiário  –  não  ligada  ao  facto  criminológico,  pormenorizada  por  autores  dos  mais diversos quadrantes. 

Escolhemos  Portugal  e  Brasil,  língua  comum  para  fixar  estes  clichés  inseridos  na rubrica. 

  

ANATOMIA DO CRIME  

1 – REPARTIÇÃO DE ÁGUAS  Um pouco além do  sítio onde a vereda  se bifurcava,  lá estava patente a prova do 

delito: o  rego de água  repartido  em dois, um  fio  correndo para a belga do Pimpim, o outro,  não mais  farto  que  o  primeiro,  continuando  de  rota  batida  para  as  batatas  do Francisco. 

–  É  uma  vergonha,  seu  Pimpim. Um  homem  que  faz  a  barba  não  pratica  destas safadezas. 

O outro saltara para o caminho e desculpava‐se apaziguador: – Escuta, Milheirinha, tenho tudo a morrer à sede. Hoje vim ver esta desgraça, com 

ideias de para aí me pôr a chorar. E vai senão quando os meus olhos deram com o rego de água a correr por aí fora. Não sabia para quem ia a água. E que soubesse, era o mesmo. Pensei em dar um nadinha de água às cebolas. 

– E não tem vergonha… – Homem, compreende… – Compreendo que é um larápio. – Milheirinha, criatura de Deus, já todos fizemos coisas destas pelo menos uma vez 

na vida. Ver os frutos definharem‐se sem  lhes podermos acudir, retalha o coração, bem sabes. Não faças tanto banzé por nada, homem. 

Perdi a paciência. Mas Milheirinha não notara. – Já lhe disse: vossemecê é um larápio. João Pimpim chegou para ele. – Larápio és tu, barbeiro de trampa seca. – Seu Pimpim, que eu perco a cabeça! E ergueu o sacho. O outro porém  foi mais rápido,  jogou‐lhe a  lâmina da sachola à 

tola. E ele caiu, como uma massa banhado em  sangue. Caiu para o  lado  sem um ai. A água, que corria cantando, tingiu‐se de vermelho. 

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7 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Charles Dickens (1812‐1870) – Charles John Huffam Dickens nasce em Landport, na 

ilha  de  Portsea,  na  costa  sul  de  Inglaterra.  É  considerado  o  escritor mais  popular  do período vitoriano e nos seus romances a critica social tem uma presença forte. Apesar de não ser encarado como um escritor de ficção policiária, é óbvia a ligação da sua obra ao crime  e  ao mundo  dos  criminosos.  Por  exemplo,  em  The  Adventures  of  Oliver  Twist (1838)  o  famoso  carteirista  Fagin  é  um  verdadeiro  professor  do  crime  ao  treinar  os miúdos da rua na arte do roubo, em The Life and Adventures of Martin Chuzzlewit (1844) o detective particular Nadgett,  é  encarregado de  resolver um  assassinato,  e  em Bleak House  (1853)  há  o  detective  Inspector  Bucket  e  um mistério  para  esclarecer. Dickens interessa‐se  pelas  actividades  da  Polícia  e  não  nega  o  seu  fascínio  pelos  detectives profissionais, o que é bem patente em vários textos curtos, como The Detective Police e On  Duty with  Inspector  Field,  publicados  na  revista  semanal  Household Words  (1850‐ 1859).  Charles  Dickens morre  inesperadamente  e  deixa  por  terminar  The Mystery  of Edwin Drood, um romance publicado em folhetins mensais. 

 

    

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J. S. Fletcher (1863‐1935) – Joseph Smith Fletcher nasce em Halifax, West Yorkshire, Inglaterra. É  jornalista e escritor. Escreve o primeiro romance, Andrewlina, em 1889, ao qual se seguem quase duas centenas de romances e contos do género clássico popular. Cria o investigador privado Ronald Camberwell, protagonista de livros cuja acção decorre em Londres. The Middle Temple Murder de 1919 é considerado o seu melhor trabalho. 

 

   

JUSTIÇA – OS DUELOS E A LEI  Data  do  histórico  duelo  entre  Antero  de  Quental  e  Ramalho  Ortigão,  dois 

intelectuais da época. Antero considerado um temperamental ilhéu, bélico e atrevido na linguagem, mas  de  débil  compleição  física  e  que  ousava  com  presunção,  desafiar  um tripeiro ágil e destemido, de características atléticas, apanágio de Ramalho, o qual era já de  antemão  tido  como  vencedor,  havendo  quem  temesse  pela  sorte  do  açoriano.  O evento teve lugar em Arca de Água, no Porto, e Ramalho sai ferido aos primeiros passos. O acontecimento foi fortemente comentado e os portuenses não calavam o pasmo. 

Nota:  Existem  diferentes  datas  atribuídas  a  este  duelo:  4,  6  e  7  de  Fevereiro  de 1966.  Sem  hipótese,  de momento,  de  poder  confirmar  a  data  exacta  a  opção  foi  de manter o dia 7, referenciado por Eça de Queirós nos seus registos. 

  

FICHA CRIMINAL – O PRAZER DE MATAR  Cada dia, em algum lugar, uma pessoa chega ao último dia da sua existência. O caso 

Grace Buddle, dez anos de  idade, parecia ter pouquíssimas possibilidades de ocorrer no domingo, 3 de Junho de 1925. Ainda que para os pais e o filho Edward, de dezoito anos, e a  pequena Grace  estivessem muito  longe  da  abundância,  formavam  uma  família  feliz. Edward publicara um anúncio a pedir um emprego e tudo melhoraria. O optimismo deste 

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foi confirmado, um homem de avançada idade e aspecto respeitável, Frank Howard dava uma oportunidade a Ed para viver ao ar livre, ajudando‐o numa quinta em Farmingdale. Por gratidão, confiando no homem baixo e de cabelos brancos, o casal permitiu que ele levasse a  filha, Grace, a uma  festa  infantil que a  irmã de Frank Howard  ia dar naquela tarde. 

Não voltaram a vê‐la com vida. Não  havia  qualquer  festa.  A  pequenita  foi  levada  a  uma  casa  desabitada  em 

Greenburgh, onde Albert Fish – o verdadeiro nome de Howard – a estrangulou. Passaram‐se  seis anos antes que alguém  tivesse notícias de Grace Budd. Todavia, 

em  11  de Novembro  de  1934,  os  Budd  receberam  uma  carta  enviada  pelo  assassino, informando que  se acostumara a comer carne humana com um amigo, o capitão  John Davis, e não resistiu em  levar Grace, e depois de a estrangular, comê‐la. Não a tomara, morrera virgem, afirmava. 

A carta causou um efeito terrível. Contrataram o detective Smith que descobrira a pista de Fish, de 66 anos, até Nova  Iorque, onde foi preso a 13 de Dezembro. Tinha em seu poder uma  série de  recortes narrando os  crimes que  cometera  Fritz Haarmann, o vampiro de Hanover. Fish  confessou o assassinato e até ao  julgamento no Tribunal de White  Planes  foi  submetido  a  variadíssimos  exames  psiquiátricos  pelo  Dr.  Fredric Wertham,  que  considerou  Fish  um  dos  casos  de  perversão  mais  desenvolvidos  da literatura  de  psicologia.  Fish  confessou  que  sentia  prazer  em  matar  crianças  e  que actuava  segundo as ordens de deus. Admitiu  cometer actos obscenos  com quase uma centena de crianças e ter assassinado quinze, em vinte e três estados, desde New Jersey a Montana. 

Parecia óbvio que a defesa de Fish se basearia em loucura. Mas em 12 de Março de 1935  os  jurados  opinaram  pela  culpa  deliberada  de  assassinato  em  1º  grau.  A  única esperança de Fish estava nas apelações, enquanto aguardava a execução em Sing Sing. Não  sabemos  o  prazer  que  teve  na  sua  própria  execução  na  cadeira  eléctrica,  numa manhã gélida de 1936. 

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8 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Júlio Verne (1829‐1905) – Jules Verne nasce em Nantes, França. Tal como aconteceu 

com Willian Morris, Samuel Butler, Bulwer‐Lytton, Albert Robida e o próprio Edgar Poe, entre outros, não foi  incluído como autor de ficção científica, pela quase totalidade dos especialistas. No entanto, Verne escreve num género e viveu permanentemente com ele. Na sua época não havia, de facto, a chamada ficção científica e quanto muito, Verne era o autor por excelência da literatura de antecipação. 

Começou por estudar  lei, mas estava mais  interessado em escrever. Abandona os estudos e trabalha como corrector na bolsa para se sustentar sem deixar de escrever. Em 1863 aparece Cinco Semanas em Balão das suas Viagens Extraordinárias. Curiosamente este balão era muito mais perfeito do que os então existentes. Dá conta que o público gosta e surgem mais viagens extraordinárias e aventuras, não só pelo ar, como à lua e ao centro da terra. Em 1870 publica Vinte Mil Léguas Submarinas com um submarino que nunca  ninguém  ainda  construíra,  ainda  que  existisse  um modelo  holandês  de  1620  e outro de 1776 de um estudante de Yale, sem forma prática de navegação. O submarino de Verne tem aparelho de direcção e inovações que foram utilizadas para um submarino operacional conseguido em 1880. 

Não  se  fica  por  aqui  e,  ainda  que  por  vezes  seja  apelidada  de  literatura  infantil, ressalta da mesma uma sabedoria tal, que vale a pena ler e reler. 

Em breve resenha, destacamos: Cinco Semanas em Balão (1863) Viagem ao Centro da Terra (1864) Da Terra à Lua (1865) À Volta da Lua (1869) Vinte Mil Léguas Submarinas (1869/70) Uma Cidade Flutuante (1871) Volta ao Mundo em 80 Dias (1874) O Raio Verde (1882) A Ilha da Hélice (1895) Robur, o Conquistador (1886) 

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A Aldeia Aérea (1901) O Senhor do Mundo (1904) A Caça ao Meteoro (1907) obra póstuma publicada em versão revista.  

      André  Gillois  (1902‐2004)  –  Maurice  Diamantberger  nasce  em  Paris.  É  um  dos 

pioneiros da rádio em França. Escritor, argumentista e realizador (com o pseudónimo D. B. Maurice). Tem uma  longa carreira e uma vasta obra  literária com destaque para 125, Rue Montmartre (1958), vencedor do Prix du Quai des Orfèvres do mesmo ano. O último livro de André Gillois foi publicado em 2000. 

  

CRIMINOLOGIA – LOCAL DO ACIDENTE  Encontrado um  corpo,  se  ferido,  a polícia deve  chamar  a  equipa de paramédicos 

para prestar assistência; se morto deve permanecer como foi encontrado. Na dúvida de ter  havido  acidente,  suicídio  ou  crime,  o  local  deve  ser  isolado  para  certificar  a  não destruição de indícios probatórios. Compete ao médico, regra legista, confirmar a morte, a causa, a provável hora da mesma, aproximadamente, pela temperatura, lividez ou rigor mortis, que pode  fornecer pistas cruciais para uma  investigação, antes da autópsia. Os agentes fazem observações preliminares, interrogam testemunhas (se as houver), o que constará  do  relatório  de  ocorrência.  A  posição  do  cadáver  pode  contribuir  para estabelecer  o  diagnóstico  diferencial  entre  homicídio,  suicídio  ou  acidente,  quer considerado individualmente, quer conjugado com outros elementos, pelo que antes do levantamento do corpo, este deve ser  fotografado de vários pontos associados ao  local onde  foi  encontrado.  Este  local  deve  ser  registado  pela  fotografia  e  desenho esquemático. Também  imprescindível, por ser de grande utilidade, a  fotografia métrica judiciária, pois permite fixar as distâncias entre os diferentes objectos e as suas rigorosas dimensões.  A  justiça,  através  dos  seu  colaboradores  especializados  não  deixará  de 

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assimilar e recolher tudo o que constituir pistas ou indícios, tal como impressões digitais, manchas de sangue, urina, sémen, pelos, cabelos, etc., e porventura, armas, cartuchos, detonadores. A busca estende‐se à roupa do morto, calçado, unhas, vestígios de pegadas, de arrastamentos, rastos de veículos ou exame destes, se presentes no local. Tudo. Nada é demais, o exame no local é um auxiliar precioso.  

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9 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Le Livre de Poche (1953) – Data do lançamento em França de Le Livre de Poche, uma 

colecção  literária  fundada e  impulsionada por Henri Filipacchi que  reúne vários amigos editores em  torno deste projecto. O  formato de  livro de bolso existia desde 1905 com romances populares a baixo preço, mas a aposta de Le Livre de Poche é na literatura de qualidade  a  um  preço  seis  vezes menor  do  que  o  formato  habitual. A  colecção  é  um sucesso empresarial e depressa a edição de policiais e de thrillers se junta à dos clássicos. A  autora mais  vendida  é Agatha Christie,  com mais de  40 milhões de  livros  vendidos, seguida de Émile Zola com 22 milhões. O Le Livre de Poche continua activo após quase 60 anos de actividade editorial. 

 

      Michel  Vianey  (1939‐2008)  – Nasce  em  Paris.  Jornalista,  escritor,  argumentista  e 

realizador é mais conhecido pelos  filmes policiais que escreve para cinema e  televisão, Salientam‐se Un Assassin Qui Passe  (1981), Un Dimanche de Flic  (1983) e Spécial Police (1985). 

   

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ESTATÍSTICA – LONGEVIDADE DAS DAMAS DO CRIME  As escritoras e os escritores são seres humanos. Nem sempre inteligentes, por vezes 

imaginativos, ociosos ou  trabalhadores, estudiosos ou mandriões. Ricos ou pobres  têm alegrias e tristezas, êxitos e fracassos, são cobardes ou valentes, sujeitos à abastança, à fome,  ao  amor  e  ao  ódio,  ambíguos, nascem,  vivem ou  vegetam  e morrem.  Idênticos atributos para as escritoras. Eis uma pequena estatística da  longevidade das Damas do Crime: 

Shirley Jackson (1916‐1965) 48 anos Holly Roth (1916‐1964) 48 anos Craig Rice 1908‐1957) 49 anos Frances Noyes Hart (1890‐1943) 53 anos Josephine Tey (1896‐1952) 55 anos Ethel Lina White (1876‐1944) 57 anos  Margery Allingham (1904‐1966) 62 anos Mary Fitt (1897‐1959) 62 anos Joanna Cannan (1898‐1961) 63 anos Charlotte Armstrong (1905‐1969) Dorothy L. Sayers (1893‐1957) Elisabeth Sanxay Holding (1889‐1955) 66 anos Frances Lockridge (1896‐1963) 67 anos Phoebe Atwood Taylor (1909‐1976) 67 anos Doris Miles Disney (1907‐1976) 69 anos Helen Reilly (1891‐1962) 71 anos Georgette Heyer (1902‐1974) 72 anos Carolyn Wells (1862‐1942) 73 anos Anthony Gilbert (1899‐1973) 74 anos Evelyn Berckman (1900‐1978) 78 anos Rae Foley (1900‐1978) 78 anos Elizabeth Daly (1878‐1967) 79 anos Baronne Orczy (1865‐1947) 82 anos Mary Roberts Rinehart (1876‐1958) 82 anos Patricia Wentworth November (1878‐1961) 83 anos Ngaio Marsh (1895‐1982) 83 anos Agatha Christie (1890‐1976) 86 anos Miriam Allen DeFord (1888‐1975) 87 anos Anna Katharine Green (1846‐ 1935) 89 anos Vida média de 69,3 anos.   

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FICÇÃO CIENTÍFICA EM PORTUGAL  Como sucede com quase todas as classes de Literatura, e Portugal não é excepção, a 

Ficção  Científica  foi  aflorada  ao  longo  dos  tempos  por  um  ou  outro  autor  sem  que conscientemente pretendesse escrever obra da temática, como é o caso, das utopias, a que muitos estudiosos, mais ou menos fundamentados, negam enquadramento na ficção científica. Estão nesta consideração o Canto VIII de Os Lusíadas, de Luís de Camões, no qual se descreve a fabulosa Ilha dos Amores, e um ou dois episódios de A Peregrinação, de  Fernão Mendes Pinto.  É o  caso,  igualmente, de alguns escritores  sob pseudónimos anglo‐saxónicos,  cujos  temas  de  cientista  louco,  Frankenstein,  guerras  futuras  entre continentes,  etc.,  são  postos  em  evidência,  conquanto  emoldurados  na Literatura  de emoção. 

Conscientemente,  Ficção  Científica propriamente  dita,  quer  no  que  respeita  a autores nacionais, quer traduções estrangeiras, mais estas do que aquelas na proporção de  100  (cem)  para  um  (1),  só  após  a  segunda Guerra Mundial  se  desenvolveram  em Portugal. E, por outro lado, bastante difícil, tal a falta de dados existentes, indicar qual o texto que mereceria a honra de encetar o género. Fernando Saldanha, um estudioso da matéria,  ele  próprio  escritor  da  classe,  situa  o  primeiro  original  em  1965  com  a publicação  das  novelas  de A. Maldonado Rodrigues, Vieram  do  Infinito  e Os Mágicos, seguidas de vários contos de Carlos Macedo, Maria Judite de Carvalho e Francisco Reich de Almeida, etc. Por sua vez, Hugo Rocha, autor de Outros Mundos, outras Humanidades, revela no prefácio de A Ameaça Cósmica, de Luís Mesquita ser A Mensagem no Espaço, deste  último  autor,  o  primeiro  trabalho  de  ficção  científica  de  autor  nacional. Consideramos porém o romance Através do Espaço, de Francisco Cruz, escrito em 1937 mas só publicado em 1942 um sério candidato ao  título da primazia. Seja como  for, as obras publicaram‐se,  leram‐se e  são hoje extraordinariamente difíceis de encontrar no mercado. E  isto embora, como explica o editor da Colecção Satélite que se quedou pelo primeiro  número, mau  grado  o  nosso  natural  cepticismo  dada  a  relativamente  pouca audiência que este número  inexplicavelmente  tem continuado a encontrar entre nós e ainda o facto, tristemente comprovado, de autoria portuguesa não ser ainda acarinhada pelo público em certos ramos de literatura. 

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10 DE FEVEREIRO   

HOMENAGEM A EDGAR WALLACE  

 

O nascimento é uma débil estrela que crescerá de  forma opaca ou cheia de  luz. A estrela de Wallace só na morte do escritor em 10 de Fevereiro de 1932 revelará todo o brilho que foi seu apanágio. De facto, filho  ilegítimo de um casal de actores miseráveis, Wallace  nasce  no  dia  1  de  Abril  de  1875  e  foi  adoptado  por  um  vendedor  de  peixe. Vendeu  jornais  e  leite,  foi  soldado  na  África  do  Sul,  poeta  e  jornalista;  regressa  a Inglaterra  cheio  de  querer  e  desde  logo,  começou  a  escrever.  De  improviso  e  fácil diálogo,  tremendamente  produtivo,  chegando  a  escrever  seis  livros  em  simultâneo. O êxito levou‐o para a área do cinema e, quando morreu cheio de dívidas, deixou milhares de dólares de direitos de autor para os herdeiros. Nada menos que 173 livros, traduzidos em  28  línguas,  23  peças  de  teatro,  655 sketches,  957  novelas  e  contos,  165  filmes extraídos  das  suas  obras,  incontáveis  artigos  espalhados  por  revistas  e  jornais. Richard Horatio Edgar Wallace nasceu uma estrela opaca para morrer cheio luz de luz. 

  

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EFEMÉRIDES  Frederick Van Rensselaer Dey (1861‐1922) – Nasce em Watkins Glen, no Estado de 

New  York,  EUA.  Advogado  de  profissão  inicia‐se  na  escrita  durante  o  processo  de recuperação de uma doença. Escreve para edições populares americanas (Dime Novel e Pulp Fiction). Em 1891 é contratado para continuar a série de aventuras de Nick Carter, série  de  mistério/detective  iniciada  por  John  R.  Coryell.  Dey  escreve  para  este personagem 185 romances e 437 contos. Sob o pseudónimo Marmaduke Dey publica 5 romances e 2 peças de teatro. Utiliza ainda outros pseudónimos: Varick Vanardy com que escreve 8 romances; para outros editores assina como Ross Beckman, Dirck Van Doren e Frederic Ormund; em colaboração com mais escritores escolhem os pseudónimos Bertha M. Clay e Marian Gilmore. Autor muito produtivo e popular, destacam‐se na  sua obra literária  The Magic Word  e  The Magic  Story  com mais  de  vinte  edições  cada  e Night Wind, contos sob o pseudónimo Varick Venardy, publicados entre 1913 e 1920. 

 

     E. L. Konigsburg (1930) – Elaine Lobl Konigsburg nasce em Nova Iorque. É escritora e 

ilustradora de livros para crianças e jovens. Galardoada com vários prémios é uma autora reconhecida pelo seu contributo para a  literatura  infantil e  juvenil. No campo policiário destaque para: 

The View from Saturday (1996) Silent to the Bone (2000) The Outcasts of 19 Schuyler Place (2004) The Mysterious Edge of the Heroic World (2007) Uma  colecção de  livros para  jovens  (10‐14  anos) que  juntam  enigmas, mistério  e 

história de detectives.    

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ESPIONAGEM – ALGUÉM QUE FOI ESPIÃO E HERÓI  

SIDNEY REILLY (1873‐1925)  Agentes do Secret  Intelligence Service  (SIS), o mais proficiente, melhor equipado e 

talvez o mais implacável serviço de espionagem ao longo dos tempos, tem somado êxitos indiscutíveis, alguns dos quais nunca serão revelados. Não Reilly, o capitão Sidney Reilly manifestou‐se como um super‐espião. Filho de um irlandês e de uma bela russa, herdara o  sangue  romântico  e  temperamental,  o  bastante  para  se  ligar  activamente,  sem  fins lucrativos,  ao  serviço de  espionagem britânico. Correu o mundo  antes de  ser  enviado para a pátria dos czares, com a missão de enfraquecer o colosso russo a favor do Japão. Instalou‐se na Manchúria sob o disfarce de negociante de madeiras, período em que teve contacto com o famoso capitão Tanama e descobriu que um dos seus compatriotas era agente  russo. Prestes a ser apanhado antecipou‐se,  tomou a decisão –  jornada difícil e longa  –  de  chegar  ao  Japão.  Daí  acompanhou  os  eventos  então  ocorridos  –  a  vitória militar nipónica  – para  a qual  teria  contribuído  conforme  interesses britânicos.  Só  em 1910 a presença do capitão voltou a ser assinalada, mudara de nome e de condição – na Rússia, cuja língua dominava perfeitamente. Regressou à Pátria com um relatório imenso e  apreciado.  Alistou‐se  na  Royal  Flying  Corps  (RFC)  no  início  da  1ª  guerra  mundial, cobrindo‐se  de  glória  pelo  seu  arrojo.  É  ferido  e  condecorado.  O  Departamento  de espionagem precisa dele,  acode para desaparecer deliberadamente,  algures na Rússia. Na missão  de  que  fora  encarregado  caminha  entre  a  Alemanha  e  a  Rússia  onde  se insinuou entre os revolucionários de Março, que destruíram o domínio czarista, sem que a sua identidade fosse posta em causa. Apoderou‐se de valiosos documentos secretos de natureza política mundial, o que lhe permitiu à Inglaterra proceder às suas escolhas. Teve de enfrentar a acusação de  ser um espião ao  serviço do estrangeiro, mas Reilly,  como bom  elemento de  Intelligence,  forjou documentos,  arranjou provas  tão brilhantes que confundiu o inimigo, acabando por condenar o denunciante. Mas nada seria como antes, a dúvida ficou e passou a ser vigiado primeiro e depois procurado. Prevenido, escapa‐se. No seu alcance o governo põe o retrato na imprensa e oferece uma quantia elevada pela sua localização, no entanto Reilly está a caminho da pátria. Em 1925 vigia de nova para a Rússia. Foi a derradeira façanha, foi morto perto da aldeia de Allakul na Rússia, abatido a tiro pelos agentes da polícia secreta da URSS em luta emocionante, tenaz e desigual para o heróico britânico. 

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11 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Elliot Paul  (1891‐1958) – Elliot Harold Paul nasce em Linden, Massachusetts, EUA. 

Graduado pela Malden High School, participa na 1ª Guerra Mundial em França. Trabalha como  jornalista  e  dedica‐se  à  escrita  inspirado  na  sua  experiência militar.  Escreve  10 romances policiários protagonizados por Homer Evans, onde a detecção pura e a sátira se misturam. Além destes, publica mais vinte de romances policiários. 

  

       Roy  Fuller  (1912‐1991)  –  Roy  Broadbent  Fuller  nasce  em  Failsworth,  Lancashire, 

Inglaterra. Educado na Blackpool High School, trabalha como solicitador, serve na Royal Navy e, mais  tarde,  lecciona na Oxford University. Este escritor britânico é reconhecido pela sua obra poética. Escreve Savage Gold (1946), um  livro de aventuras e  lança‐se na área do  romance policiário em 1948  com With My  Little Eye, que é descrito  como um exemplo  perfeito  de  uma  história  de  crime.  Segue‐se  The  Second  Curtain  (1953)  e Fantasy and Fugue  (1954),  também editado com o  título Murder  in Mind. Em 1988  foi publicado Crime Omnibus, que reúne estas três obras do escritor. 

  

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Sidney  Sheldon  (1917‐2007) –  Sidney  Schechtel nasce em Chicago,  Illinois, EUA. É escritor, guionista e director em Hollywood nos anos 40. Está no sexto lugar na lista dos escritores de ficção que mais livros vendem em todo o mundo, com mais de 300 milhões exemplares, traduzidos em 51 idiomas. Tem vários livros adaptados ao cinema e televisão e  recebe mais de  trinta prémio ou galardões, com destaque no policiário para o Edgar Allan Poe Award em 1969  com The Naked Face. Os  livros de Sidney Sheldon  têm  sido editados em Portugal pelo Círculo de Leitores; Publicações Europa América (na colecção Obras  de  Sidney  Sheldon)  e  pela  Livros  do  Brasil  (na  Colecção  Vida  e  Aventura).  O primeiro livro deste autor publicado em Portugal foi The Naked Face com o título A Face Nua, o nº 160 da Colecção Enigma na Edições Dêaga em 1972. Este livro é reeditado pela Círculo de Leitores com o título A Outra Face em 1985 e pela Europa‐ América em 1992 – Rosto Nu. 

   

   

ENIGMA POLICIÁRIO (TEORIA)   Referimos  anteriormente  que  os  enigmas  ou  problemas  policiários,  segundo  os 

pormenores nele inseridos, são de diversos tipos, classes ou espécies‐tipos, conceito este mais adequado. O que se segue é do tipo CONTRADIÇÃO – certamente o mais usado em problemística – e consiste em encontrar no texto de enredo uma contradição dos factos materiais, ou  imateriais,  como por exemplo nas declarações dos  intervenientes que  se contradizem  ou  contradizem  os  factos  observados  pela  narração.  Não  é  incomum  o declarante, na ânsia de se livrar do imbróglio, ter lembranças tardias que não passam de mentiras.  Tenha‐se  em  atenção  os  falsos  álibis,  as  recordações  exageradas  que  não correspondem à realidade. 

  

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ENIGMA PRÁTICO – UM TELEFONEMA ANÓNIMO de AUSTIN RIPLEY  O  relógio  batia  suavemente  as  oito  badaladas,  quando  o  médico  legista,  Dr. 

Bryerson, disse: – Este ferimento no coração produziu morte instantânea, Fordney. Ela morreu entre 

as duas e as quatro horas. – Isto faz‐nos lembrar um suicídio – observou o Sargento Merry. – Mas será mesmo? 

– Acrescentou abrindo casualmente uma caixa de bombons que estava em cima de uma mesa, ao lado do cadáver. 

– Repare, professor. – Mostrou uma  fotografia de  jornal de um empresário de um cabaret, Frank Malddon, um dos admiradores da jovem morta. Fora rasgada do jornal da tarde e colocada em cima dos bombons. Estava manchada de sangue. 

–  Talvez  ela  tenha  sido  assassinada  e  colocou  isto  aqui  para  denunciar  quem  a matou – comentou Merry 

Fordney  ficou  em  silêncio  diante  da  cadeira  onde  se  sentava  Bebea  Beluscu,  a vítima, com um pijama vermelho e um  jornal manchado de sangue no regaço. No chão estava uma automática de calibre 25. O ângulo do ferimento dirigia‐se para baixo. Bebea era excepcionalmente alta. Faltava uma quarta parte dos bombons de camada superior da caixa… 

Aquele  telefonema anónimo  informara‐os da morte de Bebea… a porta aberta do apartamento… perfeito… 

As  investigações  revelaram que os dois únicos visitantes  foram  Jim Dalton e Frank Malddon. 

Estes indicaram: Danton – Hoje era o aniversário de Bebea. Mandei‐lhe aquela caixa de bombons de 

manhã, vim vê‐la cerca das 2h30, saí às 2h45. Estava satisfeita e viva a essa hora. Malddon – Fui ao apartamento de Bebea às 8h30, a porta estava aberta… encontrei‐

a morta.  Nada  podia  fazer,  por  isso  parti  imediatamente.  Não  fui  eu  que  informei  a polícia, estou a responder num processo de homicídio. 

O Professor Fordney pensou um pouco e ordenou ao sargento uma prisão. Quem foi preso? Pense  um  pouco,  ponha‐se  no  lugar  do  célebre  Professor  Fordney  e  arranque  a 

solução. 

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12 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Paul Winterton  (1908‐2001)  –  Nasce  em  Leicester,  Inglaterra.  Estuda  na  London 

School of Economics e trabalha como  jornalista no The Economist e no News Chronicle. Na 2ª Guerra Mundial é correspondente estrangeiro em Moscovo, que será cenário de alguns  dos  seus  livros. Usa  os  pseudónimos Andrew Garve, Roger  Bax  e  Paul  Somers. Entre 1950  e 1978  escreve 30  livros policiários  como Andrew Garve. Como Roger Bax publica  Death  Beneath  Jerusalém  (1938),  Red  Escapade  (1940),  Disposing  of  Henry (1947),  Blueprint  for Murder  também  editado  com  o  título  The  Trouble With Murder (1948), Came the Dawn também editado com o título Two If by Sea (1949) e A Grave Case of Murder  (1951). Sob o pseudónimo de Paul Somers escreve os trillers Beginner's Luck (1958),  Operation  Piracy  (1958),  The  Shivering Mountain  (1959)  e  The  Broken  Jigsaw (1961). É membro fundador da Crime Writers' Association em 1953. 

 

      John Boland  (1913‐1976) – Bertram  John Boland nasce em Birmingham.  Serve no 

exército  britânico  como  artilheiro,  é  trabalhador  agrícola,  marinheiro,  lenhador, trabalhador ferroviário, operário, vendedor de cartazes publicitários e escritor de ficção científica  e  policiários.  Escreve  contos  para  revista  da  especialidade,  como  Galaxy Science Fiction e New Worlds. Publica o primeiro livro White August em 1955, depois No 

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Refuge (1956), seguem‐se mais cerca de trinta livros em com destaque para as séries The Gentlemen  e  Kim  Smith.  Publica  três  peças  de  teatro:  Murder  in  Company  (1973), Elementary My Dear (1975) e Who Says Murder? (1975); ainda dois livros sobre escrita de alguma  forma  ligados  ao  policiário  Short‐Story Writing  (1960)  e  Short  Story  Technique (1973). John Boland utiliza também o pseudónimo James Trevor. 

 Janwillem van de Wetering (1931‐2008) – Nasce em Roterdão, mas vive um pouco 

por todo o mundo, África do Sul, Austrália, Colômbia, Japão… É um escritor de literatura infantil e de  literatura policiária. Escreve em  inglês e holandês e muitas  vezes as duas versões tem diferenças significativas. A sua criação mais conhecida é a dupla Grijpstra e de  Gier:  Henk  Grijpstra  e  Rinus  de  Gier  detectives  da  Brigada  Criminal  da  Polícia Municipal  de  Amesterdão,  cidade  incluída  na maior  parte  obra  do  autor.  Outsider  in Amsterdam (1975) é o primeiro livro de Wetering que publica cerca de vinte romances e ainda contos curtos no Alfred Hitchcock's Mystery Magazine e no Ellery Queen's Mystery Magazine. Em 1984 é galardoado com Grand Prix de Littérature Policière para o melhor romance policiário internacional do ano. 

 

   

OS PRIMEIROS CÃES POLÍCIAS De Carlos Estegano 

 É  de  8  de  Fevereiro  de  1816  o  primeiro  exemplo,  registado,  do  uso  de  um  cão, 

treinado, ao serviço da lei. Foi  em  Midmar  Lodge,  no  Condado  do  Aberdeen,  na  Escócia,  que  um  Terrier, 

propriedade  de  M.  Gillespie,  agente  da  polícia,  participou  na  luta  contra  os contrabandistas do whisky. 

A acção do cão, que tinha sido ensinado a usar o olfacto para a detecção dos cavalos usados no  transporte da bebida, provocou de  imediato uma diminuição no movimento 

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dos carregamentos e levou as autoridades a apreenderem quatro depósitos de whisky e a destruírem outros quatro. 

O Terrier – cujo nome os anais da época não registam – foi morto a tiro, numa outra investigação próxima de Kintyre,  também na Escócia, a 30 de  Julho do mesmo ano. Só sessenta anos mais tarde, em Abril de 1876, voltamos a ter notícia doutro facto criminal, tendo como protagonista um cão. 

Em  Bastwell,  na  zona  de  Blackburn  e  ao  norte  de Manchester,  a  polícia  inglesa investiga a morte de E. Holland, uma  criança de  sete anos de  idade, que  fora atacada sexualmente e posteriormente degolada. 

Procurando pistas, no  local do crime, a polícia emprega um cão, mas as tentativas resultam infrutíferas. 

A polícia tem, no entanto, dois suspeitos. O cão,  levado a casa do primeiro, não  revela qualquer excitação, mas em casa do 

segundo,  o  barbeiro W.  Fish,  o  animal  encaminhou‐se  para  o  fogão  da  sala,  onde  a criança é encontrada, escondida na chaminé. 

Fish é preso e confessa o crime. Do herói deste caso nem o nome, ou a raça, ficou registado. O uso  regular de cães  treinados para o  trabalho policial é  iniciado em 1899, pelas 

autoridades  de  Ghent,  na  Bélgica,  em  sequência  do  auxílio  útil,  dado  anteriormente, pelos animais nas patrulhas nocturnas. Na Inglaterra, o emprego regular de cães polícias iniciou‐se em 1908, por instigação de E. Geddes, director da North‐Eastern Railway Police Force, preocupado  com o  grande número de  roubos das mercadorias em  trânsito nos comboios. 

Foram comprados  três cachorros Terrier à polícia de Ghent, para o primeiro canil, em Hull Docks, tendo os animais, posteriormente, contribuído sensacionalmente para a diminuição dos roubos. A primeira força de polícia inglesa a usar permanentemente cães foi a do condado de Wilt, a oeste de Londres, cujo chefe, coronel H. Lekellyn, começou a empregar cães de caça, em 1910, para seguir pistas. Em 1912, enquanto a North‐Eastern Railway  construía  canis  em Hartlepool,  Tyne Dock  e Middlesbrough,  na  costa  leste,  a polícia de Wilt adquiria alguns cães, da raça Labrador, para patrulhas nocturnas. Depois, e a partir de 1914, o uso de cães nas actividades policiais foi‐se multiplicando, mas isso é outra historia. 

A dos primeiros cães polícias, dos Precursores, termina aqui.        

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CONTO CURTO  

AO FUNDO DA ESTRADA VELHA De António Serra In Célula Cinzenta 

 … As botas produziam um ruído estranho ao pisarem o cascalho solto, do caminho 

que conduzia ao palheiro. Tinha enfiado, à pressa, um casacão que usava em noites de temporal, bem como 

umas botas de  carneira  já gastas pelo  correr dos anos. O  frio misturado  com a minha ânsia provocavam‐me arrepios. 

Acordara estremunhado com o ladrar dos cães. Olhara a janela e vira qualquer coisa como  um  grande  clarão  seguido  dum  som  abafado,  parecido  como  aquele  que  é produzido com o cair dum muro. 

Seguia  agora,  quase  que  a  trote,  a  caminho  do  barracão.  A  noite  estava  clara. Uma lua bem cheia inundava de luminosidade todo o terreno de searas que me rodeava. A cerca de 20 metros estaquei. Estava ofegante e o suor corria‐me por todo o corpo. A pouco e pouco recuperei o sangue  frio. À medida que me  ia aproximando via  jorrar de dentro do palheiro uma  luz  intensa… e o cheiro que chegava até mim era um cheiro a queimado. 

Não queria acreditar no que os meus olhos acabavam de presenciar. – Mas porquê eu… meu Deus?!... – balbuciei. Dei a volta e desatei a correr de volta a casa. Peguei no telefone e disquei, o mais 

rápido que os meus dedos podiam. – Está?... Está lá por favor! – Sou eu novamente – disse afogueado – é para trazerem 

um reboque que desta vez foi… um camião TIR que me entrou pelo palheiro dentro!... 

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13 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Robert  Bruyez  (1911‐????)  –  Nasce  em  França.  Estuda medicina  que  interrompe 

para se licenciar em letras, repórter de informação e judiciário escreve obras de carácter histórico até se dedicar, à  literatura policiária. Em 1960 obtêm o Grand Prix du Roman d'Aventures com Crimes Sur Ondes Courtes, escreve ainda Sous Les Yeux de Verre (1951) e Bonne Pêche Monsieur Sandy  (1955). Em Portugal a Livraria Clássica editou em 1952 A Última Causa de Redet tradução de Sous Les Yeux de Verre. 

 

      Georges Simenon (1903‐1989) – Georges Joseph Chistian Simenon nasce em Liège, 

Bélgica. Jornalista, escreve o seu primeiro livro aos 17 anos sob o pseudónimo de George Sim. Decide viver apenas da escrita e  fixa‐se em França. Criador do  famoso Comissário Maigret,  inicia  em  1931  com  Pietr‐le‐Letton  uma  vasta  série,  que  ultrapassa  os  100 títulos. Simenon utiliza 27 pseudónimos diferentes e escreve mais de  seis  centenas de romances e contos. É o escritor de língua francesa que mais vende em todo o mundo; é o 4º  autor  de  língua  francesa,  e  autor  belga mais  traduzido  em  todo  o mundo,  em  47 idiomas diferentes. 

   

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FICÇÃO CIENTÍFICA – BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (1) 

 Entre os vários géneros literários dominantes, a Ficção Científica é certamente a que 

mais  representa a  imaginação dos autores. Não só não existe definição  teórica  literária que encaixe no  género,  como não há  fronteira  limitativa para o  seu  âmbito, por mais engenhoso ou  imaginativo que os escritores  se apresentem. O que  foi, o que é, o que será a humanidade; o homem no passado, presente e futuro, vida, morte, ressurreição, imortalidade;  máquinas  pensadas  e  impensáveis,  o  mundo  real,  paralelos, desconhecidos,  terrestres,  extraterrestres,  utopias  fruto  de  conhecimento  acumulado durante séculos. A revolução técnica e científica levada ao infinito é a forma mais extensa da novela intelectual de hoje e exerce uma influência sobre milhões de leitores. 

Perante a forte oferta editorial, lê‐se o mau, o pior, o menos mau e, naturalmente o bom.  Para  o  aficionado  criámos  uma  pequena  biblioteca,  BIBLIOTECA  ESSENCIAL  DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA com apenas 100 volumes. Lemos  livros, revistas, críticas de  todas  as  áreas,  aprendemos  a  escolher,  ou  melhor,  ganhámos  experiência, ordenadamente  por  datas,  deixamos  ao  dispor  cem  volumes.  Se  não  os  tem  e  os encontrar, não os perca. 

 Volume 1 – Frankenstein; or, The Modern Prometheus (1918) de Mary Shelley 

 

  Concebida como uma novela de horror, estilo gótico, tem sido citada sob os prismas 

criminal,  terror,  ficção científica etc. É um  facto que a Ficção Científica não  tinha ainda nome nem a forma  literária de hoje, o que justifica o  impacto de ser considerado como progenitora da transformação genética e da mutação, um elemento de  futuro possível. Na  realidade  Shelly  foi  escritora  de  um  só  livro  (The  Last Man  escrito  em  1926,  não obteve votos para escolha) que preenche um dos temas Básicos da Ficção Científica sob a 

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ideia de duplicar a vida, de  criar um  substituto do homem, um  ser mecânico a que  se insufla vida e alma, converte‐se de certo modo numa alternativa a Deus. Um dos anseios mais antigos da Humanidade. 

 Ficha Técnica Frankenstein Autor: Mary Shelley Ano da Edição: 2009 Editora: Leya Colecção: BIS Páginas: 240 ISBN: 9789896530198 Obs: Livro de Bolso 

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14 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  1929 – Massacre do Dia de São Valentim – A Lei Seca nos EUA proíbe o  fabrico, a 

venda e o transporte de bebidas alcoólicas. A cidade de Chicago está repartida entre Al Capone e Bugs Moran, o primeiro chefia a Zona Sul – italiana, e o segundo lidera a Zona Norte – irlandesa. A cidade parece demasiado pequena para dois gangs. Numa tarde do dia de São Valentim no  interior da garagem de Chicago são encontrados sete corpos de homens,  bem  vestidos,  com  sinais  de  terem  sido  alinhados  contra  a  parede  e sumariamente executados. Algumas das vítimas são homens de Moran, as testemunhas identificam veículos (falsos) da polícia no local, Al Capone está oportunamente de férias, longe de Chicago e Bugs Moran escapa à cilada por causa de um providencial atraso. É o início de um  intricado processo de  investigação, que  ficou conhecido como o Massacre de  São Valentim, por  ter acontecido no dia 14 de  Fevereiro, e  também o princípio da decadência de Moran e da perseguição do governo a Al Capone. 

 

    

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LITERATURA POLICIÁRIA E DIA DOS NAMORADOS  A Judgement in Stone (1977) de Ruth Rendell No Dia dos Namorados a governanta Eunice Parchman mata os quatro membros da 

família que a emprega. O detective superintendente‐chefe William Vetch  investiga para descobrir evidências da tragédia pessoal que precipitou o crime. Este  livro estÁ editado em Portugal com o título Sentença em Pedra. 

 The Saint Valentine's Day Murders (1984) de Ruth Dudley Edwards Robert Amiss funcionário fica envolvido numa teia complexa de mistério e assassínio 

quando tenta encontrar o responsável pelo envio de chocolates envenenados no Dia dos Namorados. 

 Saint Valentine's Night (1989) de Andrew M. Greeley O repórter Neal Connor mistura romance e perigo quando regressa a Chicago, a sua 

cidade natal, e reencontra uma antiga namorada, agora viúva do seu melhor amigo.  Deadly Valentine (1991) de Carolyn G. Hart Um baile  inocente no Dia dos Namorados em Broward's Rock torna‐se fatal. Annie 

Laurance investiga o crime em que a sua própria sogra é a principal suspeita.  Bleeding Hearts (1994) de Jane Haddam Ex‐agente  do  FBI  Gregor  Demarkian  corre  contra  o  tempo  para  prevenir  um 

assassinato no Dia dos Namorados.  Crimes of the Heart (1995) Uma colectânea de 14 contos tendo como tema a atração fatal. Inclui Matchmaker 

de Sharyn McCrumb, Hard Feelings de Barbara D'Amato e The Rosewood Coffin ou The Divine Sarah de P. M. Carlson. 

 Valentine (1996) de Tom Savage Jillian  Talbot, um  escritor de  suspense,  vê o  seu quotidiano  idílico  em Greenwich 

Village  interrompido  pela  presença  de  um  indivíduo  obcecado  que  se  torna  mais agressivo com o Dia dos Namorados. 

 Love Lies Bleeding (1997) de Susan Wittig Albert China Bayles espera um pedido de casamento no Dia dos Namorados, em vez disso 

o seu noivo, Mike McQuaid, é baleado.   

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Claws and Effect (2001) de Rita Mae Brown Harry  Haristeen  e  seu  gato  detective, Mrs. Murphy,  tem  um  desafio  de  Dia  dos 

Namorados  relacionado  com  cartas  ameaçadoras  e  o  assassinato  de  um  director hospitalar. 

 Love and Death (2001) Uma  antologia  de  14 mistérios  do  Dia  dos  Namorados.  Contos  originais  do  tipo 

A whodunit ou Whodunnit de Dorothy Cannell, Caroyn Hart, Nancy Pickard, Gar Anthony Haywood,  Peter  Robinson,  Eve  Sandstrom,  Ed  Gorman, Margaret Maron,  Jean  Hager, Robert J. Randisi, M. D. Lake, Susan Dunlap, Marilyn Wallace e Kathy Hogan Trocheck. 

 Crimes of Passion (2002) de Nancy Means Wright e outros Quatro histórias emocionantes de obsessão e desejo dos mestres do mistério. Inclui 

The Lovebirds de B. J. Daniel onde o detective Tempest Bailey tem de resolver o mistério que envolve o assassinato de Peggy Kane, uma amante que recebeu um presente do dia fatal  dos  namorados.  Outros  contos  de  Maggie  Price,  Jonathan  Harrington  e  Nancy Means Wright. 

 A Catered Valentine's Day (2007) de Isis Crawford No  funeral  da mãe  de  um  cliente,  as  irmãs  Bernie  e  Libby,  vêem‐se  perante  um 

estranho mistério quando o  cadáver de Ted Gorman, o proprietário da  Just Chocolate, que  supostamente  morreu  há  algumas  semanas  num  violento  acidente  de  carro,  é encontrado na sepultura de outra pessoa. 

 Cat Playing Cupid (2009) de Shirley Rousseau Murphy Quando um casamento no Dia dos Namorados, é  interrompido pela descoberta de 

um cadáver, Joe Grey e seus companheiros relacionam o assassinato com um caso antigo envolvendo o passado romântico do pai da noiva.   

  

BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA POLICIÁRIA IDADE MÉDIA, RENASCENÇA E DEPOIS… 

 O raciocínio ORAL e narrativo perde motivação com a Idade Média, não é sem razão 

que também se apelida esta época de Idade das Trevas. Na  realidade  os  crimes  e  delitos  não  eram  considerados  como  tal,  o  assassínio 

inclusive, resolvia‐se no seio das famílias que gozavam de  liberdade absoluta de agir ou não e, em caso afirmativo, quase sempre, não pelo crime, mas pela vingança daquele. A verdadeira  repressão  de  crime  apenas  era  usada  quando  relacionada  com  o  culto religioso.  O  Juiz  supremo  era  o  padre,  sem  apelo  quanto  ao  veredicto  deste.  As 

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investigações  eram  substituídas  pelo  designado  Juízo  de  Deus.  Uma  prova  a  que  os suspeitos se submetiam que, pela sua índole, só poderia ser positiva. 

A  terra,  a  água  e  o  fogo,  no  pensamento  do  homem  da  Idade  Média,  são  os elementos de que Deus se serve para apontar o culpado ou salvar o inocente. 

De mãos nuas o acusado devia levar um ferro em brasa da pedra baptismal ao altar‐mor; caminhar descalço sobre  ferros previamente aquecidos ao rubro – era a prova de fogo. 

Mergulhar o braço em água a ferver para extrair uma pedra colocada no fundo, era a prova do caldeirão ou prova de água que poderia igualmente consistir em atirar com o suspeito para dentro da água amarrado de pés e mãos. Se voltasse à tona era inocente, se mergulhasse era culpado… necessariamente existiam bem poucos inocentes! 

O  julgamento  pela  cruz  e  pelo  caixão  eram  novas  formas  de  prova. No  primeiro caso, os queixosos deviam ficar de braços erguidos diante do crucifixo sem demarcação de tempo, o primeiro que baixasse os braços era o culpado; no segundo, o suspeito era levado  perante  o  corpo  da  vítima  e  tocar‐lhe,  se  esta  começasse  a  sangrar,  era considerado culpado. 

O  Juízo  de Deus  pelo  duelo  aparece mais  tarde, mas  ainda  no  período  da  Idade Média e havia de estender‐se até ao Século XVIII. 

A propósito do  tema, ainda que  tenha sido escrito para além da  Idade designada, cabe  registar a narrativa de Heinrich Von Kleist, poeta, dramaturgo e novelista alemão (1777‐1811). 

 No dia designado pelo tribunal para a execução, no qual Friedrich e Littegard deviam 

morrer  queimados  na  fogueira,  o  moribundo  conde  conseguiu  ser  levado  junto  do Imperador e, reunindo as últimas forças, gritou: 

– Alto! Antes de lançarem fogo deixem‐me falar! Quero declarar a inocência dos que vão ser queimados, são palavras de um pecador arrependido que vai morrer. 

O Imperador levantou‐se. – Que dizes? Então não ficou tudo esclarecido com o Juízo de Deus? –  Littegard  é  inocente!  –  exclamou  o  enfermo.  –    É  claro  que  o  Juízo  de Deus  é 

infalível.  Von  Trotta  atingido  três  vezes  com  feridas  mortais,  cada  uma  por  si  só, recuperou… este pecador que apenas  foi atingido na pele, morre sem  remédio. Quereis mais claro onde está a mão de Deus? Littegard é  inocente, foi com a sua criada que me encontrei na noite escura, vestida com os trajes da bela viúva. 

O Imperador ordenou que soltassem os prisioneiros, mandou dar‐lhes roupas novas e  abraçou‐os.  Vota  Trotta  aproximou‐se  do  moribundo  e,  sem  rancor,  abraçou‐o, enquanto Jacob Barbaroxa pronunciava as suas últimas palavras: 

–  Jamais poderei obter o perdão de Deus, nem dos homens, pois  sabei que  sou o assassino  de meu  irmão  o  nobre  Duque  de Wilhelm  Von  Breysach…  a  quem mandei matar… na noite… na noite… 

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O cadáver tomou o lugar dos ex‐condenados e, em breve, o fogo purificava o corpo imundo. 

 Como  se  viu,  na  ligeira  amostra,  o  Juízo  de Deus,  em  qualquer  das  suas  formas, 

apresentava riscos consideráveis, sobretudo numa época em que a ameaça das infecções era constante. Para a  Igreja,  só o espírito  impuro, ou  seja o culpado, podia  ter  sangue impuro, enquanto a pureza de sangue provava a pureza da consciência. 

Mais modernamente, mas não menos  feroz, era o  julgamento do pão, o acusado tinha  de  engolir  um  pedaço  de  pão  sobre  o  qual  se  havia  lançado  previamente  uma maldição;  se  o  engolia  sem  dificuldade,  estava  salvo,  se  o  pão  não  lhe  passava  da garganta, era culpado. 

A  este  respeito  num  dos  capítulos  de  Decameron  (1344‐1366),  de  Giovanni Boccaccio, escritor italiano (1313 ‐1375), quando conta: 

 No Roubo do porco de Calandrino por Bruno e Buffalmacco, o julgamento pelo pão 

é‐nos  apresentado  sob  a  forma  de  bolinhas  de  gengibre,  das  quais  duas  haviam  sido confeccionadas  com  aloés  hefático  fresco  e  coberto  de  açúcar  como  as  outras.  A operação era chamada "tiromanteia" e preparava‐se segundo determinados pedacinhos de pão e queijo, os quais eram benzidos com especiais fórmulas pela Igreja e distribuída aos presumíveis ladrões para os identificar, baseando‐se a questão na convicção de que o culpado não era capaz de engolir comida benta. 

Na História de Boccaccio dá‐se uma inversão às regras. É o dono do porco roubado, Calandrino, que é submetido ao juízo pelos dois ladrões, Bruno e Buffalmacco, sendo‐lhe distribuídas as bolinhas confeccionadas com aloés, que não consegue  tragar, acabando por se convencer que roubou o porco a si próprio… 

 (continua…) 

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15 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  B. M. Gill  (1921‐1995) – Barbara Margaret Trimble nasce em Holyhead, Anglesey, 

País  de  Gales.  É  educada  em  Convent  du  Bon  Sauveur  e  trabalha  como  professora. Escreve  sob os pseudónimos B. M. Gill  e Margaret Blake. Como B. M. Gill  cria  a  série Inspector Maybridge que protagoniza 3  livros: Victims  (1980), que nos EUA tem o título Suspect,  Seminar  for Murder  (1985) e The  Fifth Rapunzel  (1991); escreve ainda mais 6 romances, com destaque para The Twelfth  Juror  (1984) e Nursery Crimes  (1988) ambos nomeados para o Edgar Awards Best Novel. Como Margaret Blake escreve 8  livros num género que a crítica classifica como thrillers românticos. Em Portugal está editado Morto por te Conhecer (1991), o nº 17 da Colecção Crime S.A. da Ulisseia; Título original: Dying To Meet You (1988). 

 

      Sax  Rohmer  (1883‐1959)  –  Arthur  Henry  Sarsfield  Ward  nasce  em  Birmingham, 

Inglaterra. Criador do celebérrimo Doutor Fu Manchu em 1913 em The Mystery of Dr Fu‐Manchu  (também  intitulado  The  Insidious  Dr.  Fu‐Manchu,  cria  também  outras personagens  Paul Harley, Daniel  “Red” Kerry, Gaston Max  e  Sumuru, num  total de 41 romances policiários de mistério/detective. Neste género publica ainda 9 colectâneas de contos e 4 peças de teatro. Usa também o pseudónimo Michael Furey. Em Portugal estão 

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editados: Sumuru (1955), Livros do Brasil. Título original: Sumuru ou Slaves of Sumuru (1951) Relíquia Sangrenta (1957), nº 4 Colecção Policial Corvo, António Lopes Ferreira A Serpente de Jade (1957), nº 13 Colecção Biblioteca Mocho, Organizações O  Sinistro  Dr.  Fu‐Manchu  (1975),  Colecção  Aventura,  Portugal  Press, mais  tarde 

reeditado com o título: O Mistério do Doutor Fu Manchu (1979), nº 1 da Colecção Círculo Negro, Editorial Veja. Título original: The Mistery of Doctor Fu Manchu (1913) 

O Regresso do Dr. Fu‐Manchu (1976), nº 5 Colecção Aventura, Portugal Press. Título original: The Return of Dr. Fu‐Manchu. 

  Anthony Gilbert  (1899‐1973)  –  Lucy Beatrice Malleson  nasce  em  Londres. Autora 

prolífica escreve cerca de 70 romances policiários a maioria protagonizados por Arthur G. Crook,  um  advogado  /detective.  Publica  30  peças  de  rádio  e  teatro.  Utiliza  ainda  os seguintes  pseudónimos:  Kilmeny  Keith,  Lucy  Egerton,  Anne Meredith  e  Sylvia  Denys Hooke. Durante muitos anos a identidade de Anthony Gilbert é mantida em segredo e os leitores  julgam que o autor é um homem. A sua escrita é caracterizada por uma trama hábil, diálogos e acção inteligentes sem violência exagerada. O livro The Woman in Red é adaptado ao grande ecrã em 1945 no filme My Name is Julia Ross. 

 

      Gregory  Mcdonald  (1937‐2008)  –  Nasce  em  Shrewsbury,  Massachusetts,  EUA. 

Trabalha como jornalista no Boston Globe entre 1966 e 1973. No ano seguinte inicia uma série  de  novelas  policiárias  protagonizadas  por  Fletch  e  caracterizadas  por  ironia  e humor. No segundo romance entra um novo personagem, o Inspector da Polícia Francis Xavier  Flynn.  No  total  escreve  25  livros  policiários,  incluindo  9  da  série  Fletch  e  3 mistérios sobre Flynn. Gregory Mcdonald é galardoado duas vezes com o famoso Edgar Allan Poe Award em 1975, Fletch, com Best First Novel e em 1977 Fletch Confessed com Best  Paperback Original.  Em  França,  em  1997,  recebe  o  prémio  Trophées  813  para  o 

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melhor  romance policiário estrangeiro por The Brave, escrito em 1991 e  traduzido em francês em 1996 com o título Rafael, Derniers Jours. 

  

PERSONAGEM: FU MANCHU, O SENHOR DO MAL  De entre os criminosos mais temíveis criados pela ficção policiária, Fu Manchu é de 

certo o mais sinistro. Une ao mistério da sua personalidade o medo da sua presença e a angústia que irradiam das acções tenebrosas a que se impõe, reforçando o hoje esvaído perigo amarelo. Vestia uma folgada túnica amarela, de tonalidade idêntica ao seu rosto, crânio de  cabelos  rapados, mãos ossudas  rematadas por unhas  grandes,  agudas  como punhais.  Infinitamente  rico  e  inteligente,  o  doutor  Fu Manchu  é  senhor  de  poderes ocultos,  mestre  do  crime,  o  Senhor  do  Mal  que  ambiciona  a  conquista  do  mundo. Imponente  e  terrífico  de  figura  esguia  e  gigantesca,  chefe  incontestável  de  poderosas seitas secretas, a sua ascendência aristocrática, que talvez remonte à longínqua dinastia Manchu, determina que honre a palavra dada, mau grado a perfídia da acção. 

Maquiavélico e implacável no seu combate, tem como principal adversário Sir Denis Nayland  Smith,  que  apesar  do  apoio  do Dr.  Petrie,  abnegado  cientista,  e  da  sua  bela esposa, escrava resgatada ao jugo do inimigo, não consegue contrariar a eterna ambição do maléfico opositor. 

 

 

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16 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Desmond Cory (1928‐2001) – Pseudónimo de Shaun Lloyd McCarthy que nasce em 

Lancing, Sussex,  Inglaterra. Estuda na Steyning Grammar School e em St Peter's College, Oxford.  Serve  nos  Royal  Marines.  Combina  a  carreira  de  escritor  com  a  carreira académica de professor universitário em vários países: Espanha, Suíça, Chipre, Qatar e Bahrein  etc.  Autor  policiário  cria  os  personagens Mr Dee,  Johnny  Fedora,  Lindy Grey, John  Dobie  e Mr  Pilgrim,  escreve  um  total  de  35  romances  de mistério/detective  e espionagem.  Publica  ainda  4  colectâneas  de  contos  curtos,  1  peça  de  ficção  científica para  a  rádio e 2  livros de mistério para  jovens. O primeiro  romance  é  Secret Ministry (1951) protagonizado por  Johnny Fedora,  seguido de Begin, Murderer, do mesmo ano, com Lindy Grey. 

Em Portugal estão publicados: Onda de Choque (1967), nº 18 Colecção Espionagem, Dêagá O Tesouro Nazi (1970), nº 54 Colecção Espionagem, Dêagá Os Mortos Vivos (1970), nº 57 Colecção Espionagem, Dêagá  

    

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FICCÇÃO CIENTÍFICA – SUPERPOVOAÇÃO  Regista‐se  que  o  nosso  globo  terrestre  tinha  no  ano  de  1950  uma  população  de 

2.556.000.053  habitantes,  cinquenta  anos  depois  sobe  para  6.082.966.429.  Nesta expectativa o  crescimento  indefinido da população  é  tema de preocupação/actividade por parte dos escritores de ficção científica. Os profetas da desgraça clamam que a fome é  a  ruína  universal  do meio  ambiente,  advogam  que  a  população  da  terra  não  pode manter‐se,  sendo preciso  reduzir o  índice de natalidade, através de produtos químicos sem  efeitos  secundários  ou  outro  procedimento  social.  Os  imaginativos  autores encontram sempre alternativas para conter a corrida célere dos cavaleiros do Apocalipse. É  verdade  que  no  conhecimento  presente  nenhum  dos  mundos  do  sistema  solar  é habitável, excepto a Terra. Mas uma vez mais a ficção defende a implantação de órgãos para  viver  noutros  mundos  possíveis  de  albergar  ou  viver  debaixo  de  células  aí adaptadas,  ou  no  subsolo,  onde  se  estabeleceriam  condições  similares  às  da  terra.  Quimera naturalmente para a actualidade. 

Enquanto este velho lugar de nascimento e sepultura puder suportar o futuro, e até quando, parece urgente encarar o problema, ou pelo menos  indagar  seriamente: para onde vamos? 

  

ANATOMIA DO CRIME – DESCONFIANÇA   Extracto do conto OS CEGOS de Luís Jardim, Brasil – 1946 

 É a terrível suspeita que enche o pai estúpido de ódio provocado contra o infeliz. Joaquim levantou a cabeça e olhou o cego Umbelino. Os seus ouvidos guardavam a 

expressão da mulher do tio. E na cabeça a expressão reproduzia‐se como um eco de gota em gota; filho de gato é gatinho; filho de cego é ceguinho. 

De súbito, sem se dominar, empurrado por uma força estranha, Joaquim pulou em cima  de  Umbelino,  agarrando‐o  pelo  pescoço.  O  cego  estrebuchou  com  um  berro medonho. O menino assombrou‐se e abriu ao choro. 

O velho Borges  levantou‐se de um pulo e gritou para o afilhado, dando‐lhe murros nas costas. 

– Atrevido dos diabos, larga esse desgraçado. Tu não me respeitas, não, condenado? Apóstrofes terríveis soltam da boca do velho. – Um  homem  que  bate  num  cego  é  capaz  de  espancar Nosso  Senhor! Deus me 

perdoe mas eu acabo por te excomungar, se não te mato. O  vaqueiro  confessa  então  a  sua desconfiança.  Ele  “malda que  aquela marmota” 

não é seu filho. Porquê? Porque eu não sou cego e ele é… O velho, porém, tem a noção das coisas. 

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– O Divino é grande! O Divino é grande! Tu lembras‐te de teu pai, Joaquim? – Não me lembro, não, padrinho. A mãe dizia‐me que ele morreu quando eu tinha… 

coisa de um ano. E se tu vives maldando que esse menino não é teu filho só porque é cego e tu não 

és, como é que tu não nasceste cotó, sendo teu pai aleijado de nascença? Joaquim contudo não se  rende. A obsessão pode mais do que o seu  respeito pelo 

padrinho e  tio Umbelino,  sentindo que  algo de  terrível o ameaça,  acabe de  fugir, não sabe para onde; ele miserável, que não tem olhos para si como para os outros, apenas os olhos do  instinto.  Joaquim não se apieda. Põe o punha à cinta e cai o mundo. Onde o cego vá, ele o alcançará… 

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17 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Ronald  A  Knox  (1888‐1957)  –  Ronald  Arbuthnott  Knox  nasce  em  Knibworth, 

Leicestershire,  Inglaterra.  Trabalha  para  a  Military  Intelligence  durante  a  1ª  Guerra Mundial, é ordenado padre em 1911 pela  igreja anglicana e converte‐se ao catolicismo romano em 1917. Escritor  com uma obra  literária notável de poesia,  religião e outros tópicos – o que atesta a sua capacidade  intelectual –  inicia a escrita policiária em 1925 com The Viaduct Murder. De seguida cria o personagem Miles Brendon, protagonista dos seguintes romances: The Three Taps (1927), The Footsteps At the Lock (1928), The Body in the  Silo  (1933),  também editado  com o  título  Settled Out of Court,  Still Dead  (1934) e Double  Cross  Purposes  (1937).  Escreve  ainda  alguns  contos  que  estão  incluídos  em antologias famosas como Great Short Stories of Detection, Mystery and Horror 2nd Series (1931) editada por Dorothy L Sayers e Fifty Famous Detectives of Fiction (1983).  

Em  Portugal  no  nº  500  da  Colecção Vampiro  de  Bolso  da  Livros  do  Brasil, Quem Matou o Almirante, um livro conjunto de vários autores pertencentes ao Detection Club, Ronald  A.  Knox  escreve  o  capítulo  VIII,  Trinta  e  Nove  Pontos  Duvidosos  (Thirty‐Nine Articles of Doubt). 

 

  

 

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Lawrence  Blochman  (1900‐1975)  –  Lawrence  Goldtree  Blochman  nasce  em  San Diego,  Califórnia,  EUA.  Este  patologista  forense  norte‐americano  inicia  na  juventude  a carreira de escritor. Trabalha como editor no  Japão,  Índia, China e França. Dedica‐se à literatura policiária, na escrita e na tradução. Publica 11 romances, cujo protagonista é o Inspector Leonidas Prike do C.I.D. (British Secret Service) na Índia, e revela um profundo conhecimento da cultura e da atmosfera deste país. Escreve 1 peça de teatro e 14 short stories com Dr. Daniel Webster Coffee como personagem principal. Várias das suas obras são adaptadas à rádio, televisão e cinema. Traduz  livros para a  língua  inglesa policiários franceses,  incluindo  alguns  romances  do  famoso  escritor  belga  Georges  Simenon. Lawrence Blochman é o 4º presidente de Mystery Writers of America (1948‐49). Em 1951 recebe um Edgar Award na categoria de Best Short Story, Diagnosis: Homicide e em 1959 é  novamente  galardoado  com  um  Edgar  Allan  Poe  Award  especial  pelos  serviços prestados à Mystery Writers of America. 

 

      Elleston Trevor (1920‐1995) – Pseudónimo, e possivelmente o nome legal, de Trevor 

Dudley‐Smith que nasce em Bromley, Kent,  Inglaterra. Engenheiro aeronáutico escreve livros policiários para  jovens. Em 1946 escreve o que é considerada a sua primeira obra policiária  The  Immortal  Error,  sob  o  pseudónimo  Elleston  Trevor,  seguida  de mais  32 romances  até  1994.  Este  autor  usa  variados  pseudónimos:  Adam  Hall,  Caesar  Smith, Howard North, Lesley Stone, Mansell Black, Roger Fitzalan, Simon Rattray, Trevor Burgess e Warwick Scott. Cria diversos personagens e na sua extensa obra literária destaca‐se The Flight of the Phoenix  (1964) e a série Agente Secreto Quiller, 19 thrillers escritos com o pseudónimo Adam Hall.  

 Ruth  Rendell  (1930)  –  Ruth  Barbara  (Grassmann)  Rendell  nasce  em  Londres.  A 

autora que  também usa o pseudónimo de Barbara Vine, cria o  famoso Chief  Inspector Wexford, cuja estreia se regista em From Doon With Death (1964) e que conta já com 23 títulos. Escreve ainda mais 28 romances policiários e 33 short stories. Como Barbara Vine 

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publica 14 livros. É uma escritora muito premiada e os seus livros estão traduzidos em 22 línguas. Em Portugal diversas editoras tem publicado os seus livros. 

 

   

COLECÇÃO DE MORADAS  Há colecções para todos os gostos. Há quem coleccione notas bancárias de todos os 

países… para serem verdadeiras é necessário ter dinheiro. Alguns são mais modernos e coleccionam caixas de fósforos. Tenho um vizinho que colecciona garrafas de bom vinho, pelos  vistos  vazias,  tendo  em  consideração o  aspecto do nariz  e  a  recusa  em  receber alguém depois das 16 horas… 

O meu vício secreto é guardar as moradas dos meus amigos detectives… se alguém estiver interessado, aqui vai, não é segredo. 

Commissaire Maigret: 132, Boulevard Richard‐Lenoir, Paris 11e, FRANCE Thomas Carnacki: Cheyne Walk, Chelsea, London, UK Max Carrados: The Turrets, Richmond, London, UK Martin Hewitt: Strand, a 30 jardas da Charing Cross Station, London, UK Dr. John Evelyn Thorndyke: 5A King's Bench Walk, London, UK Hercule  Poiroit:  56B  Whitehaven  Mansions,  Charterhouse  Square,  Smithfield, 

London  W,  UK;  ou  228  Whitehouse  Mansions  em  The  Cat  Among  the  Pigeons.  Na tradução  portuguesa  Poirot  e  as  Jóias  do  Príncipe,  o  nº  31  das  Obras  Completas  de Agatha Christie da Livros do Brasil na página 357 tem Whitehouse Mansion, 28; ou ainda, 203, Whitehaven Mansions em The Clocks. Na  tradução portuguesa Poirot e os Quatro Relógios o nº 33 das Obras Completas de Agatha Christie da Livros do Brasil na página 326 temos Whiteheaven Mansions, 203 

Miss Jane Marple: Danemead, High Street, St Mary Mead Nero Wolfe: West 35th Street, New York City USA Philip Marlowe: Hobart Arms, Franklin Avenue, Hollywood USA 

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OS MUSEUS DE SHERLOCK HOLMES  A memória do Grande Detective acha‐se perpetuada em placas, réplicas de objectos 

canónicos, reproduções da figura de Holmes, cartazes alusivos às suas aventuras e outras manifestações de  carinho e  respeito, espalhadas, um pouco por  todo o mundo, desde Londres  (o  que  não  surpreende)  até  ao  Japão  (o  que  já  é motivo  de  estupefacção, porque, que se saiba, nas suas andanças canónicas, nunca Holmes foi ao Oriente). 

A mais espectacular de todas essas iniciativas é constituída pelos museus dedicados ao  Grande  Detective  e  que,  em  regra,  compreendem  a  reconstituição  dos  aposentos canónicos  de  Baker  Street,  ou,  pelo menos,  da  sala  em  que  Holmes  recebia  os  seus clientes  e  se  dedicava  quer  às  suas  loucuras  dedutivas  (com  recurso  ao  cachimbo,  ao violino, ou até à cocaína), quer a entretenimentos que por vezes nada tinham a ver com o caso, de momento entre mãos: experiências químicas; tiro ao alvo nas paredes; leitura do pensamento de Watson; consumo de bebidas (com ou sem intervenção do gasogénio) e de  iguarias variadas, que tanto podiam ser um ganso recheado como um tratado naval, servido como hors d'oeuvre, etc… 

Desses museus era já conhecido o que, recuperado do Festival Britânico de 1951, é um dos motivos de orgulho do pub The Sherlock Holmes, em Northumberland Street, a meio caminho entre Trafalgar Square e o Tamisa. 

Dois outros se lhe vieram juntar. O primeiro foi inaugurado, em 1990, no nº 239 de Baker  Street  (numerado  221‐B,  por  razões  de  óbvio  oportunismo. O  seu  proprietário, John Adianitz,  instalou‐o num prédio, estreito e esguio, de  três pisos, e  recheou‐o com móveis vitorianos que, para visitantes mais exigentes, parecem provir da Feira da Ladra Londrina. 

O  bilhete  de  entrada,  que  não  é  barato,  dá  acesso  a  um  arremedo  da morada canónica em que alguns adereços tradicionais alternam com outros que pouco ou nada dizem ao holmesiano que se preze. Acresce que a configuração e a tacanhez do  imóvel deixa  no  visitante  sérias  dúvidas  quanto  à  higiene  de  Holmes  e Watson  e  indicia  a promiscuidade a que seriam obrigados para conviver, em espaço tão apertado, com Mrs. Hudson, Billy e uma ou duas criadas. 

O museu mais recente data de 1991 e adorna o Parkhotel Savage de Meiringen, na Suiça, onde Conan Doyle situou o Englischer Hof que serviu de albergue ao famoso par, no Problema Final. Os hóspedes podem tomar o pequeno‐almoço ou os aperitivos num salão  que,  com  algum  rigor,  pretende  reproduzir  a  sala  de  visitas  do  221‐B  de  Baker Street, antes de irem contemplar, ao vivo, a catarata de Reichenbach – como parece fazê‐lo  a  estátua  de  Holmes,  sentado  num  pedregulho,  à  espera  do  regresso  de Watson, ludibriado pela mensagem fraudulenta de Moriarty que nas sombras aguarda o momento oportuno para, sem testemunhas, pôr ponto final a certo problema que o atormentava: a sobrevivência do seu inimigo privado nº 1. 

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18 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Auguste Le Breton  (1913‐1999) – Auguste Montfort nasce em Lesevem, Bretanha, 

França. É considerado um dos maiores vultos do policiário no âmbito do romance negro, contribuindo decisivamente para demarcar  a narrativa  francesa do  seu modelo  e  rival americano. É extenso o número de romances publicados em seu nome, muitos dos quais levados à tela. De entre todos cita‐se Du Rififi Chez  les Hommes (1953), publicado entre nós em 1983 pelas Edições 7 com o título Rififi, o nº 2 da Colecção Alibi. Anteriormente, em  1978,  a  Editora  A.M.  Pereira  publica  Os Marginais,  Les  Pégrilots  (1973)  no  título original. 

 

      Len  Deighton  (1929)  –  Leonard  Cyril  Deighton  nasce  em  Marylebone,  Londres. 

Ilustrador,  fotógrafo,  chefe de  cozinha, professor, agente  literário…  começa a escrever policiários em 1962 com The IPCRESS File, mais tarde adaptado ao cinema. A maior parte da sua obra é na área da espionagem. Cria duas séries: Harry Palmer, com livros editados e a série Bernard Samson, com 9 títulos. Escreve mais 11 romances de espionagem e 2 livros de short stories. Em Portugal estão editados alguns livros deste autor. 

1 – O Caso IPCRESS (1965), Portugália Editora 1º livro da série Harry Palmer 2 –  Funeral em Berlim  (1966), Portugália Editora. Título Original:  Funeral  in Berlin 

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(1964), 3º livro da série Harry Palmer 3 – Um Cérebro de um Bilião de Dólares  (1990), Gradiva, Colecção Não  Incomode. 

Título Original: The Billion Dollar Brain (1966), 4º livro da série Harry Palmer 4 – Adeus, Mickey Mouse (1990), Gradiva, Colecção Não  Incomode. Título Original: 

Goodbye Mickey Mouse (1982) 5  –  O  Que  Escondem  as  Águas  (1994),  Gradiva,  Colecção  Não  Incomode.  Título 

Original: Horse Under Water (1963), 2º livro da série Harry Palmer   

ENIGMA POLICIÁRIO – ELIMINATÓRIAS  Esta  é  a  classe de problemas ou  enigmas, designados por  eliminatórias de muito 

fácil decifração, se bem que por vezes, bastante trabalhosas. Trata‐se de um trabalho de lógica através do qual por sucessivas exclusões contidas 

nas premissas ou indicadores, se vai delimitando o seu número, até que reste a única que preenche a hipótese procurada. Consiste em chegar à verdade pela negação de todas as hipóteses admissíveis, menos uma. 

A apresentação desta espécie‐tipo é  regra geral por alíneas, numa segunda  forma acompanhada  de  um  desenho  onde  se  movimentam  algumas  figuras  do  problema. Muitas  vezes  os  dados  são  apresentados  por  uma  conversa  ocasional,  onde  se dispuseram os dados a eliminar. 

Célebre como o seu autor, o querido amigo Artur Varatojo, um nome de sucesso na área do policiário, publicou em 1947, no  Jornal de Sintra, um problema deste  tipo que ficará para a história do Policiário, aqui reproduzido. 

  

ALGUÉM GUARDOU O VELHO REVÓLVER   Há precisamente vinte anos naquela mesma sala Jack Grosset matara um homem. O revólver assassino escorregara para o chão e alguém o apanhara. Agora  a  mira  desse  velho  revólver  traçava  uma  linha  recta  com  o  coração  do 

assassino. Soou um tiro e... Jack Grosset caiu morto. Ricardo Diabo recordou o caso com um sorriso. Michael Brown contara‐lhe como tudo se passara, então. Ele estava no bar quando Jack Grosset matara o pai. Grosset deixara cair o revólver 

e Michael guardara‐o. Tinha então dez anos e  tomou  conta dos  irmãos mais novos. Três  rapazes e duas 

raparigas: George, Peter, Buck, Dorothy e Jenny. Jenny  era  bonita,  esguia  e  atraente,  enquanto Dorothy  tinha  ar másculo  que  lhe 

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dava uma dureza de feições sem a fragilidade feminina da irmã. Nenhum esquecera a morte do pai e Mick ditaria a  vingança.  Foi dado a  todos o 

direito igual de vingar o pai. Solenemente Mick meteu uma só bala no tambor vazio e rodou‐o várias vezes até 

não saber onde ela se encontrava. Então sortearam entre eles a ordem porque cada um tentaria a vingança. Por capricho o mais velho ficou marcado para último, imediatamente precedido de 

George. Qualquer um podia picar a única bala do  tambor de seis  tiros. O primeiro como o 

último, tinham iguais possibilidades. Ninguém sabia em que altura ia detonar o velho revólver, e essa dúvida transmitia‐

lhes um frémito de nervosismo. Combinaram  entrar  um  de  cada  vez  enquanto  os  outros  do  lado  de  fora  com  a 

respiração suspensa esperariam a detonação. O primeiro deles  levantou o revólver e o coração dos outros cinco parou de bater. 

As raparigas apertaram as mãos. Soou o estalido metálico da câmara vazia e o revólver dentro de momentos passava 

de mão. George não perdoou nunca o destino de nunca ter chegado a atirar. Buck  quando  recebeu  a  arma  das  mãos  da  irmã  viu  brilhar‐lhe  nos  olhos  uma 

lágrima  rebelde  de  raiva  incontida.  Só  quando  o  seu  dedo  pequeno  e  bem modelado premira o gatilho até ao fim, e o mesmo som metálico respondera negativamente é que a bonita rapariga compreendera a inutilidade da sua tentativa. 

Buck,  que  foi  o  primeiro  deles  a  irromper  no  salão  após  ter  soado  o  tiro,  nunca compreendeu  como  ninguém  reparou  nas  tentativas  dele  e  dos  irmãos  que  o precederam. 

Este  foi o caso que Ricardo Diabo não quis resolver apesar de ter descoberto qual dos irmãos Brown vingara o pai. 

E você, leitor, que também descobriu, diga‐nos: Quem matou Grosset? Porquê? 

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19 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Yves  Dermèze  (1915‐1989)  –  Paul  Béraot  nasce  em  Tonneins,  Aquitânia,  França. 

Escritor de policiário, aventura e ficção científica usa vários pseudónimos, sendo os mais conhecidos  Yves  Dermèze,  Paul  Béra.  É  galardoado  em  1950  com  o  Prix  du  Roman d'Aventures  com  Souvenance  Pleurait.  Em  1977  recebe  o  Grand  Prix  de  l'Imaginaire atribuÍdo pelo conjunto da sua obra. Escreve no total perto de 40 livros. Para registo eis os pseudónimos usados pelo escritor: André Gascogne, Michel Avril e Paul Mystère, este último  como  co‐autor. E ainda Alain  Janvier, Francis Hope, François Richard,  Jean Vier, John Luck, Luigi Saetta, Martin Slang, Serge Marèges, Serge Valentin, Steve Evans, Téka e outros… No campo policiário estão publicados em Portugal: 

1 – Um Anel de Rubis (1951), nº 104 da Colecção Os Melhores Romances Policiais, Livraria Clássica Editora. Título Original: Double Crime Sans Indices (1946) 

2 – Souvenance Chorava  (1951), Clássica Editora 1950. Título Original: Souvenance Pleurait 

 

      Ross Thomas  (1926‐1995) – Ross Elmore Thomas nasce em Oklahoma City, EUA. É 

jornalista,  agente  de  relações  públicas,  guionista  e  especialista  em  ficção  político‐criminal.  Cria  os  personagens  Mac  McCorkle  e  Mike  Padillo.  Inicia‐se  no  romance 

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policiário  em  1966  com  The  Cold War  Swap,  obra  que  ganha  o Edgar  Award  para  o melhor primeiro  romance no  ano  seguinte. Para  a série Mac McCorkle  escreve quatro títulos, para a série Arthur Case Wu, três, publica treze romances entre 1967 e 1994; sob o  pseudónimo Oliver  Leeck escreve  cinco  livros  de  suspense  e  aventura,  entre  1969  e 1976, protagonizados por Philip St. Yves, mais tarde adaptados ao cinema. Em 1982 Ross Thomas é  convidado por Wim Wenders para guionista do  filme Hammett, onde acaba por desempenhar um pequeno papel. Ganha o Edgar Award para o melhor romance, em 1985, com Briarpatch (1984). Depois de trinta anos ao serviço da literatura policiária Ross Thomas  recebe a  título póstumo, em 2002, The Gumshoe Lifetime Achievement Award pelo conjunto da sua obra. 

 A.D.G.  (1947‐2004) – Alain Fournier nasce em Tours. Jornalista e escritor policiário 

assina as suas obras com as iniciais do seu pseudónimo, Alain Dreux Gallou. Cria um estilo próprio,  muitas  vezes  rotulado  de  neo‐polar.  A  sua  escrita  é  recheada  de  gíria, trocadilhos e neologismos e os personagens das suas histórias são verdadeiros anti heróis livres truculentos. O seu primeiro romance é La Divine Surprise (1971) e seguem‐se mais de vinte livros na mesma linha. 

 

   

CONTO  

QUARTO COM SOL Vasco Fortes 

 Acordar de manhã. Raios de  sol  atravessam  as  finas  cortinas  e  incidiram  sobre o 

soalho dando um novo tom ao quarto. Uma  volta  na  cama.  O  desejo  de  estar  uns  momentos  mergulhado  no  sono 

comprometia o acordar. Estava em sonhos. Não deviam ser maus pois queria manter‐se 

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mais um pouco. Com um gemido a consciência aos poucos  tornava posse do seu corpo. As pernas 

mexeram‐se, algo  incomodadas com a  longa estada na mesma posição. Agora, eram os olhos  que  saíam  da  penumbra  característica  dos  sonhos. Notou  a  luz  que  lhe  chegou através  das  pálpebras  numa  tonalidade  vermelha  de  sangue.  Calmamente  caiu  na realidade  do  tempo.  Gradualmente  tomou  consciência.  E,  apesar  dos  olhos  fechados percebeu estar num sítio estranho. De facto os seus acordares não eram assim. 

Como  toda  a  família, dormia no  interior da pequena  e  velha  casa  entalada  entre prédios  altos mais modernos, mas mesmo  assim  já  antigos.  Apenas  a  janela  da  sala iluminava de  luz natural o espaço da casa. O seu quarto não era excepção. Também ele estava completamente imerso na escuridão, mesmo ao meio‐dia. 

O cheiro confirmava que estava fora do seu abrigo de todas as noites. Sim, cheirava a  cera  fresca,  pelo  menos  do  dia  anterior,  o  que  lhe  causava  um  certo  incómodo, irritando‐lhe as mucosas nasais. 

“Atchim!!” O  espirro  obrigou‐o  a  sentar‐se  na  cama  e  a  abrir  os  olhos.  Apesar  de  o 

compartimento ser de pequenas dimensões, reparou que eram maiores do que as do seu quarto.  Olhou  em  volta  ainda  empecilhado  com  a  irrigação  excessiva  dos  seus  olhos provocada pelo espirro e pelo rompante de luz que entrava em fios pelo meio do quarto. 

“Atchim!!” Novo espirro  impediu‐o de olhar mais atentamente. Fungou com força para tentar 

evitar novo ataque. Mais calmo, e em melhores condições pôde olhar em volta. Era um quarto simples, 

de pessoa que  vive  só. Pelo menos  assim dava  a entender  a estreiteza da  cama onde dormira.  Esta  coberta  com  uma  colcha  de  seda  natural  branca,  localizava‐se geometricamente no meio do quarto. De um  lado, e a meio  ficava a  janela alta e com bandeira. 

Enquanto  olhava  em  volta  coçava‐se,  reflectindo  no  sono  profundo  que  tinha passado.  Como  de  costume  não  lembrava  o  que  tinha  sonhado.  Apenas  traços muito gerais e esbatidos davam‐lhe a certeza de  ler sonhado. Não  importava;  importava,  isso sim, saber como tinha vindo ali parar, naquele quarto estranho. 

Absorto,  coçava  as  costas.  Estava  em  roupa  interior.  O  cabelo  completamente despenteado, tomava  jeitos e trejeitos a  fazer madeixas de cabelo  fino a sair em várias direcções, o que lhe dava um aspecto esgrouviado. 

“Ahhhhh!” Bocejou. Um esgar exagerado da sua boca acompanhava o ruído que fazia. Quando 

terminou, coçou a cabeça com força. Deixou‐se  cair de novo  sobre a  cama, ainda em pensamentos  confusos,  tentando 

descobrir  como  teria  vindo ali parar.  Fechou os olhos para  concentrar‐se melhor. Mas apesar de  tentar  resistir acabou por adormecer de novo, caindo nos pensamentos que 

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lhe turvavam a consciência. Acordou  de  novo, mas  agora  perturbado  pela  escuridão  familiar  que  o  envolvia. 

Estava de novo no seu quarto, e num salto brusco retomou as faculdades sobressaltadas pela lembrança do ocorrido havia pouco. Era de facto o seu quarto, e mais uma vez ficou intrigado pela circunstância. Abriu as gavetas da memória, e, ainda embriagado de sono, veio‐lhe à cabeça uma frase – Quarto com Sol. Fora com este desejo que adormecera na noite anterior, o que seria acordar num quarto completamente novo banhado pelo Sol… 

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20 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Rosemary Harris  (1923) – Rosemary  Jeanne Harris nasce em Londres. Frequenta o 

Courtauld Institute of Art e durante a 2ª Guerra Mundial faz parte da Red Cross. Trabalha nos estúdios de  cinema da Metro‐Goldwyn‐Mayer e entre 1970 e 1973 orienta para o jornal londrino The Times uma secção sobre livros infantis. É uma autora premiada pelos seus  livros  destinados  a  crianças.  Escreve  também  romances  policiários  com  uma manifesta  preferência  para  temas  como  o  terrorismo  e  o  totalitarismo  futurista. Destacam‐se os romances de suspense All My Enemies (1967), The Nice Girl's Story (1968) e The Double Snare (1975). 

Esta autora não deve ser confundida com a escritora policiarista do mesmo nome, Rosemary Harris, mas de nacionalidade norte‐americana e nascida em 1962. 

 

      Andrew Bergman (1945) – Nasce em Queens, New York, EUA. É produtor, realizador 

de cinema, guionista e escritor. Publica 4 romances policiários. Na série Jack LeVine: The Big  Kiss‐Off  of  1944  (1974),  Hollywood  and  Levine  (1975)  e  Tender  Is  Levine  (2001); escreve ainda Sleepless Nights (1994). Em Portugal foram editados dois destes livros: 

1 – Levine em Hollywood (1979), nº 3 da Colecção Série Negra, da editora A Regra do Jogo 

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2 – Verão Quente de 1944 (1980), nº 6 da Colecção Série Negra, da editora A Regra do Jogo 

  FICÇÃO CIENTÍFICA – BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (2) 

 Na  sequência  da  apresentação  do  1º  volume  da  Biblioteca  verifica‐se  que  alguns 

escritores excluídos merecem uma  lembrança, como  Júlio Verne, poeta da tecnologia e do imaginário técnico‐científico. Ficam igualmente de fora, mas registados para a história Le Vingtième  Siècle  de Albert Robida  (1848‐1926)  e  Edward Bellamy  (1850‐1898)  com Looking  Backward:  2000‐1887 publicado  em  1887,  uma  utópica  viagem  no  tempo  de 2000 a 1887. 

 Para incluir na Biblioteca Essencial temos: Volume 2 – The Time Machine (1895) de W G. Wells Volume 3 – The War of The Worlds (1898) de W G. Wells  H. G. Wells  (1866‐1946) é uma  figura  importante da  ficção científica e a  sua obra 

tem uma vigência de interesse duradouro. The Time Machine  introduz o conceito de viagem no tempo por meios mecânicos, 

constituindo  uma  excelente  divagação  sob  o  tema  da  exploração  temporal. Nela,  um sábio  do  século  IXX  fabrica  uma  máquina  graças  à  qual  se  desloca  ao  futuro  onde descobre que  a  raça humana,  após múltiplas mutações,  se  circunscreve  a duas únicas raças inimigas: os pacíficos Elois e as bestas antropófagas Morlocks. 

O volume 3, The War of The Worlds, é mais uma  inovação que no futuro será uma das grandes estrelas da Ficção Científica: a invasão da terra por extraterrestres. Obra de um realismo convincente desenvolve e põe à prova os factores psicológicos e morais da humanidade ao enfrentar criaturas diabólicas irredutíveis, originárias do planeta Marte e dispostas  a  arrasar  o  mundo  graças  às  armas  altamente  sofisticadas,  as  gigantescas tripodes  mecânicas  desintegradoras.  Nem  a  força  nem  a  inteligência  dos  humanos consegue vencer a força  invasora.  Inteligente, sim é a solução do autor: um  inesperado aliado salva a raça humana do extermínio total. 

        

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  Ficha Técnica A Guerra dos Mundos Autor: H.G. Wells Ano da Edição: 2011 Editora: Ulisseia ColecçãO: Vício da Leitura ISBN: 9789725684535  

  Ficha Técnica A Máquina do Tempo Autor: H.G. Wells Ano da Edição: 2002 Editora: Europa‐América Páginas: 108 ISBN: 9789721050198 

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21 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Jean Sabran (1908‐1994) – Jean‐Marie‐Edmond Sabran nasce em Hyères, Provença‐

Alpes‐Costa Azul,  França. É mais  conhecido pelo pseudónimo Paul Berna, que usa nos famosos livros para jovens – adaptações de clássicos e originais, que publica em conjunto com o  irmão. Utiliza os pseudónimos Bernard Deleuze e Paul Gerrard para o  romance negro  e  Joël  Audrenn  para  os  policiários.  Escreve mais meia  centena  de  livros  para adultos.  Destacam‐se  os  preferidos  do  autor  La  Chasse  au  Dahu  (1960),  Le Mistigri (1961),  La Tournée du Bourreau  (1962),  La  Javanaise  (1964),  Ilse Est Morte  (1967),  Les Incandescentes  (1973). Em 1959  recebe o Grand Prix de  Littérature Policière pelo  livro Deuil  en  Rouge.  Em  1968,  The  Secret  of  the Missing  Boat  é  nomeado  para  o  Edgar Awward Best Juvenile Mystery. Uma história curiosa envolve este romance, com o título original L'Épave de la Bérénice: como o editor francês recusa a obra, o escritor apresenta‐a  directamente  ao  editor  inglês,  que  a  traduz  e  publica,  uma  vez  nos  Estados Unidos acaba por obter a nomeação e só depois é publicada em França. 

Em Portugal estão publicados: 1 – Uma Carabina para Dois (19??) Ps. Paul Gerrard, nº 17 Colecção Policial Esfinge, 

Empresa Nacional de Publicidade. Título Original: Une Carabine Pour Deux (1964) 2  – O  Porche  Amarelo  (1970)  Ps.  Paul  Gerrard,  nº  23  Colecção  Policial,  Editorial 

Notícias. Título Original: La Porche Jaune (1967) 3 – A Dança da Meia‐noite (1979) Ps. Joël Audrenn, Europa‐América. Título Original: 

La Sardane de Minuit (1978)  

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CRMINALÍSTICA: MÉTODO PARA INTERROGATÓRIOS  A prova testemunhal, desvalorizada em relação às técnicas, não deixa de ter valor, a 

determinar pelo juiz. É extremamente útil na fase investigatória, daí o cuidado com que é encarada. 

Se a vítima do delito se encontra viva, e sem prejuízo do se estado de saúde, é a primeira pessoa a ser  inquirida e só depois as testemunhas presenciais ou relacionadas com  o  delito.  Em muitas  circunstâncias  é  possível  encontrar  testemunhas  voluntárias, outras vezes isso nem sempre é realizável, o que obriga o investigador à árdua tarefa de as  descobrir.  No  caso  de  existirem,  a melhor  forma  de  obter  informações  exactas  é quando os acontecimentos ainda estão frescos na mente das testemunhas. 

Em  geral  os  interrogatórios  perdem  eficiência  com  o  tempo:  falta  de  observação clara  dos  factos,  distorção  dos  mesmos,  exagero,  produto  da  imaginação  ou  por meditação, troca de impressões com amigos ou inimigos da vítima, leituras de jornais etc. Outra razão para o  interrogatório rápido, e com brevidade, ao acontecimento é o  facto de que, psicologicamente, as  testemunhas podem alterar os  factos depois de pensar e reflectir, o que um investigador prático e hábil deve evitar para descobrir o que pretende, a verdade. 

Há três espécies de testemunhas: a) Os  cooperantes,  aqueles  que  de  forma  espontânea  estão  dispostas  a  fornecer 

todas as informações; b)  Os  indiferentes,  que  não  só  não  estão  dispostos  a  colaborar,  como  lhes  é 

indiferente, nem lhes interessa a verdade do acontecimento; c) Os antagónicos, hostis, resistentes permanentemente a tudo e a todos. Claro que 

neste  caso  resta  o  recurso  ao Ministério  Público  para  obter  declarações  sob  pena  de desobediência judiciária. 

Os indiferentes e os antagónicos formam a classe única dos não cooperantes, a que 

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a psicologia judiciária justifica por: 1 – Antipatia ou repúdio pela polícia ou Justiça; 2 – Represália para com a vítima, amigos etc.; 3 – Experiências negativas anteriores pessoais ou de familiares ou amigos; 4 – Ser estrangeiro e considerar perigoso, ou receio de envolvimento judiciário; 5 – Ser iletrado ou de baixo nível social; 6 – Ser familiar ou ter ligações de amizade, ou comerciais, com os suspeitos. Em situações como as apontadas, o  investigador com habilidade e precaução deve 

analisar a causa que originou a relutância em proporcionar informações, desvanecer com argumentos  lógicos e  reais os  temores existentes e  convencer a  testemunha apelando para: 

– A sua própria dignidade e orgulho; – Deveres cívicos e sentimento de justiça; – Interesses futuros próprios e familiares; – Apelo sigiloso e prestígio patriótico. Na realidade são os procedimentos, contudo há que ter em atenção o depoimento 

feminino. As mulheres  são muito mais observadoras, podendo  com um  simples olhar, recordar e descrever do vestir ao olhar e movimentos de uma pessoa, por outro lado são emocionais  ao  ponto  de  transformar  um  pequeno  raio  de  hostilidade  numa  qualquer certeza irredutível. Em emoções e paixões nada as demove. 

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22 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Peter Cheyney  (1896‐1951) – Reginald Evelyn Peter Southouse Cheyney nasce em 

Whitechapel,  Londres.  Troca  o  trabalho  monótono  de  solicitador  pelo  mundo  do espectáculo. Estreia‐se na escrita policiária em 1936 com escrita This Man Is Dangerous, dando  início  a  uma  carreira  literária  que  só  termina,  com  a  sua morte,  em  1951.  É  o primeiro  escritor  britânico  de  romance  policial  negro.  Publica  uma  extensa  obra  com destaque  para  as  short  stories  e  para  34  romances  de  diferentes  séries  com  os personagens:  Slim  Callaghan  ,  Lemmy  Caution, Michael  Kells,  Everard  Peter  Quayle  e Johnny  Vallon  que  geralmente  retrata  o  submundo  de  violência  norte‐americano;  33 romances com a série Alonzo McTavish onde grupos criminosos competem entre si. Peter Cheyney também escreve sob o pseudónimo Lyn Southney. Alguns  livros do autor estão traduzidos em Portugal a maioria na Colecção Vampiro de Bolso da Livros do Brasil. 

 

     

 Edward D. Hoch (1930‐2008) – Edward Dentinger Hoch nasce em Rocherter, New 

York,  EUA.  Autor  extraordinariamente  prolífico  publica  cerca  de  mil  contos policiários/mistério/ficção científica. Cria as séries Nick Velvet  (a mais  famosa), Captain Jules  Leopold  (com  mais  de  cem  contos),  Dr.  Sam  Hawthorne  (mistérios  de  quarto 

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fechado),  Jeffery  ou  Jeffrey  Rand  (espionagem),  Simon  Arc  (detective  investigador  do sobrenatural), Sebastian Blue e Laura Charme  (crime  internacional) e ainda as séries Al Darlan,  Alexander  Swift,  Barney  Hamet,  Ben  Snow, Michael  Vlado,  Sir  Gideon  Parrot, Susan  Holt  e  Stanton  &  Ives.  Edward  D.  Hoch  utiliza  diversos  pseudónimos:  Anthony Circus, Irwin Booth, Pat McMahon, Mr. X, R.E. Porter, R.L. Stevens e Stephen Dentinger. 

Este autor é presidente dos 1982 Mystery Writers of América em 1968 e um dos mais premiados de  sempre. Em 1968  recebe o Edgar Allan Poe Award para Best Short Story  com  The Oblong  Room.  Em  1998  e  em  2001  é  galardoado  com Anthony Award respectivamente por One Bag of Coconuts e por The Problem of  the Potting Shed; em 2000  recebe  o  Lifetime  Achievement  Award,  em  2001  o  Grand Master  dos Mystery Writers of America e o  Lifetime Achievement Award e em 2008 Readers Choice Award com o conto The Theft of the Ostracized Ostrich.    BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA POLICIÁRIA – 2  

 No Ocidente era o pão, no Oriente o arroz. Conta‐se:  O corpo do irmão de um grande potentado, um príncipe da Índia, foi encontrado no 

Jardim  do  Palácio,  com  um  punhal  cravado  nas  costas. As  suas  jóias,  avaliadas  numa enorme fortuna tinham desaparecido… 

Diversos suspeitos foram presos, as suas casas revistadas. Objectos de menor valor foram encontrados na residência de um daqueles que, interrogado, declarou nada saber a respeito da morte nem como os objectos haviam ido parar na sua humilde casa. 

Submeteram‐no  a  um  interrogatório muito  rigoroso,  procurando  forçá‐lo  a  dizer como  se  tinha  desfeito  do  resto  das  jóias,  mas  não  conseguiram  nada.  Ele  apenas abanava a cabeça negativamente. 

Em  companhia  de  outros  suspeitos  foi  submetido  a  urna  prova  interessante  e clássica:  encher  a  boca  de  arroz  a  cada  suspeito  e  ordenar  que mastigassem.  Após  o exame, foram todos postos em liberdade. 

Dias  depois  o  principal  suspeito,  foi  encontrado  morto,  perto  de  casa,  com  um punhal  cravado  nas  costas,  como  o  príncipe.  Investigando‐se  o  caso,  descobriram‐se manchas de sangue pelo caminho que  ia dar à casa do  jardineiro. Preso este, confessou ter morto aquele  indivíduo porque o surpreendera em visita à sua esposa, enquanto ele trabalhava. 

Interrogado,  entretanto,  sobre  a morte  do  príncipe  negou  que  fosse  o  seu  autor. Consequentemente  ordenaram‐lhe  que  mastigasse  arroz  com  a  boca  cheia.  Não  o conseguiu e ao cuspi‐lo, verificou‐se que os grãos de arroz estavam tão secos como antes. 

Vendo‐se perdido ante  esta prova,  confessou  finalmente  ser o autor da morte do 

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príncipe, admitindo que colocara as  jóias na  casa do  rival para  inculpá‐lo,  confessando também onde enterrara o resto das jóias. 

 Enquanto  as  provas,  usadas  para  descobrir  quando  os  criminosos  mentem,  são 

consideradas, neste país as mais modernas possíveis; a Índia usa o arroz há centenas de anos, talvez milhares de anos, com sucesso. 

Uma  espécie  do moderno  “detector  de mentiras”;  nuns  casos  o  pão  ou  o  arroz impedem  a  salivação  do  culpado,  na  outra  –  o  método  actual  –  são  os  impulsos sanguíneos que denunciam o culpado. 

A fogueira e o enterramento nas encruzilhadas, das pessoas julgadas possuídas pelo diabo tais como os que atentavam contra a própria vida, faziam parte da vida quotidiana da época. O curandeiro ou curandeira, que viviam à parte das outras pessoas em cabanas ou grutas dos arredores das populações, servindo‐se de ervas, sementes silvestres para as poções curativas, capazes de prever o mau ou o bom  futuro das pessoas, mercê de, uma pré‐psicologia  apurada,  eram  temidos  e  ao mesmo  tempo  respeitadas pelo povo ignorante. 

A  tradição  traz‐nos,  desta  vez  por  intermédio  de  uma  lenda  do  folclore  inglês,  a história de uma  curandeira  com  todas  as qualidades natas de um moderno detective, capaz de observar, reunir os pormenores mais insignificantes, expurgar os inadequados e tirar conclusões pertinentes. 

 A  velha  riu,  um  cacarejo  sem  alegria  e  tornou:  –  Tu  brigaste  com  ela  por minha 

causa.  Ela  rompeu  o  noivado,  pobrezinha,  porque  viu  a maldade  da  tua  alma. Não  é verdade que a atiraste ali para dentro do lago quando ela não quis fazer as pazes? Não é verdade que a empurraste para dentro até ela não se mexer? 

– Sua malvada, feiticeira desdentada é essa a sua vingança? A velha tocou o corpo com a estaca enquanto falava: – A  sua mão nua  fala por  si. Dilacerada,  riscada,  como eu  cortei as minhas mãos 

neste mesmo ramo. Ela tentou agarrar‐se desesperadamente ao galho cheio de espinhos, conto eu fiz… ela foi empurrada! E o punho fechado, Metcalfe, sabes o que contem? Não reparaste que ela te devolvia o anel no momento, em que a empurravas. Abre o punho fechado onde está o anel. Para o que o tiraria ela da mão esquerda se não fosse para to devolver? Confessa, confessa Metcalfe… 

Ela própria abriu o punho fechado da moça, onde estava o anel. O homem procurou fugir, mas a multidão caiu sobre ele. 

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23 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  M. S. Craig (1923‐1991) – Mary Francis Shura (Young) Craig nasce em Pratt, Kansas, 

EUA.  É  uma  autora  de  livros  infantis  e  de  romances  para  jovens  e  adultos.  Utiliza diferentes  pseudónimos, M.  S.  Craig  para  os  romances  policiários.  Publica  na  área  do romance  de  suspense  To  Lay  The  Fox  (1982), Gillian's  Chain  (1983),  The  Third  Blonde (1985), Flash Point (1987). Em 1990 é eleita presidente dos Mystery Writers of America. 

 

      John  Sandford  (1944)  –  John  Roswell  Camp  nasce  em  Cedar  Rapids,  Iowa,  EUA. 

Jornalista, autor de bestsellers, recebe o Prémio Pulitzer do jornalismo em 1986. Rules of Prey,  o  seu  primeiro  romance  policiário,  é  editado  em  1989;  é  protagonizado  pelo detective Lucas Davenport, numa série com mais de 20  livros e que ainda se continua a publicar. 

  

MISTÉRIOS DA HISTÓRIA – A MORTE DO HERDEIRO DO FARAÓ  A catedrática Sue Black, chefe de anatomia e antropologia forense da Universidade 

de Dundee, na Escócia,  foi convidada para examinar um  fragmento de crânio e  face do 

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rosto mumificado, ostentando um nariz rotundo que o identifica como realeza faraónico e  por  tal,  guardado  no Museu  do  Egipto  do  Cairo  entre  outras múmias  destroçadas. Examinando o fragmento, a famosa catedrática, depois de séries de pesquisas e exames, verificou  que  se  tratava  de  um  varão  de  entre  trinta  a  quarenta  anos  e  que  o  nariz mumificado tinha uma depressão do  lado esquerdo devido, sem a menor dúvida, a um forte golpe capaz de lhe ter provocado por acidente ou crime. 

Atendendo  à  época,  recorreu‐se  ao  testemunho  bíblico,  dado  que  aquele  nariz pertencera a Ramsés II (1303?‐1213? a.C.) o faraó que inspirara o êxodo com seu filho, já que  ambos  haviam  conhecido Moisés,  sofreram  as  dez  pragas  do  Egipto  e  era  o  seu exército  que  perseguira  os  filhos  de  Israel.  Nas  tábuas  ou  nos  hieróglifos  não  se registavam  qualquer  acidente.  Sem  registos  os  estudiosos,  que  nem  sequer  põem  em dúvida o êxodo e o  fracasso do exército  faraónico,  voltam‐se para os egiptólogos que escavavam  o  solo  do  Vale  dos  Reis.  Aí  encontram  uma  tumba meio  destruída  onde recolhem  o  que  dizem  ser  o  1º,  2º,  6º  e  9º  filho  de  Ramsés,  o Grande,  e  que  foram retirados. 

Soe  Black,  com  toda  a  sua  autoridade  e  conhecimentos mantém  que  a  fractura encontrada originou a morte, por ter haver atingido um vaso sanguíneo, tem a forma de uma  pedra,  uma  arma  letal  usada  nas  batalhas  na  antiguidade.  A morte,  assim,  seria normal para um homem da sua idade e líder do exército d sereso seu pai, tratar‐se‐ia de Amun‐her‐khepeshef, o primogénito do Faraó. O êxodo envolveu dois milhões de seres, de entre os filhos de Israel, enquanto os homens do exército não chegariam aos 20 000, bem  armados mas  inúteis  em  terreno  quase  sempre  adverso. Nada mais  fácil  do  que passar despercebido o matador, mas não a morte,  já que o corpo  foi para o Museu do Cairo. 

Ontem  como  hoje,  razões  políticas  abafam  os  contratempos  cujo  conhecimento prejudica a governação. 

  

O CRIME NA LITERATURA NÃO POLICIÁRIA – TRAIÇÃO Extracto de Jornadas de Portugal de Antero de Figueiredo 

 O sr. Francisco, velho alquilador, dono e condutor da traquitana a espedaçar‐se nas 

suas  ferragens  desconjuntadas,  vai‐me  contando  casos  e  coisas  das  terras  que atravessamos. A sua cara sem barba, modelada pelas sombras da face seca e pelos vincos fundos  aos  lados  da  boca,  na  testa  e  em  volta  dos  olhos  negros  que  dominam,  com expressão fiel, toda esta rudeza – lembra a dos «homens do Infante», no painel de Nuno Gonçalves. 

Por  deferência,  conversa  comigo  em  língua  grave  (português),  mas  com  a  rara gentinha triste que vamos topando por estes rudes caminhos, troca dizeres em ter‐mos 

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charros (mirandês) de espanholado falar. – Como vai aqueilha que sabes? – Marie? – Si. – Não me hables delha! – Porquê? – Es una ambrulheira, una cotchina, una… – Que me cuntas?! Nesta altura o tal Menul (um moço de lavoura tosco e espadaúdo), fita os olhos de 

brasa nos olhos mansos do Francisco e, por entre dentes cerrados esfuzia uma palavra baixa  e  insolente,  a  espumar  ódio  e  sangue,  contra  a  traidora,  levantando  os  braços hirtos de  cólera e enviesando o olhar  inviperado na direcção de uma aldeia parda, ao longe,  faz,  com  as mãos  crispadas,  um  gesto  convulso  de  ameaça  tremenda.  Súbito, corta, duro, para o monte, em passadas agrestes. Vai furibundo: leva na alma o cio de um toiro e o ciúme arreganhado e noctívago de um felino montês. 

O cocheiro ainda lhe gritou do alto da boleia: – Manul, anda cá! – Adius! – Que tengas juizio!… E para mim: – A cabra da rapaza!… Pregou‐lha!…É rês ao monte!… – Mata‐a? – O mais certo. Nestes sítios, as mortes são só por vinho ou por mulheres. 

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24 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Grant  Allen (1848‐1899)  –  Grant  Allen  nasce  em  Alwington,  Kingston,  Ontário, 

Canadá. Naturista,  físico,  antropologista,  jornalista  e  escritor,  tem  uma  vasta  obra  no campo da  ciência, da  sociologia e  também dá um  contributo  importante para a  ficção científica e policiária. É  considerado um  inovador ao  criar o Coronel Clay, personagem principal de uma série de contos An African Millionaire publicados no Strand Magazine e mais  tarde adaptadas à  rádio. Escreve ainda duas  séries de  contos protagonizadas por mulheres detectives – das primeiras a surgir na  literatura –, Miss Cayley's Adventures e Hilda  Wade,  esta  última  uma  enfermeira  que  alia  a  detecção  aos  conhecimentos médicos. 

 

      August  Derleth  (1909‐1971)  –  August  William  Derleth  nasce  em  Sauk  City, 

Wisconsin,  EUA;  escritor  com  uma  vastíssima  obra  –  100  contos  e  150  livros  –  em diferentes áreas é também famoso pelo seu trabalho como antologista e editor. Começa a escrever com 13 anos de idade e mais tarde dedica‐se à escrita de contos góticos e de terror. Em 1939 funda com Donald Wandrei a editora Arkham House cujo objectivo inicial é a publicação da obra de H.P Lovecraft. Como autor de literatura policiária, Derleth cria o detective londrino Solar Pons, protagonista de uma dezena de romances. Cria ainda as 

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séries Judge Peck e Sac Prairie com duas dezenas de livros. Usa os pseudónimos Michael West, Stephen Grendon e Tally Mason. 

A British Fantasy Society instituiu em 1971 um prémio com o nome deste escritor, o August Derleth Award, que distingue o melhor  romance do ano no campo da  fantasia, ficção científica e horror.  

 Ralph  McInerny  (1929‐2010)  –  Nasce  Ralph  Matthew  McInerny  nasce  em 

Minneapolis, Minnesota,  EUA.  Filósofo  e  professor  durante  40  anos  na  University  of Notre  Dame  (EUA).  Inicia‐se  na  escrita  policiária  em  1977  com  Her  Death  of  Cold,  o primeiro  da  série  Father  Dowling Mysteries,  que  atinge  os  30  títulos  e  é  adaptada  a televisão. Escreve ainda, sob o pseudónimo Monica Quill, a série Sister Mary Teresa, uma freira  que  soluciona  crimes  (10  livros);  na  série  Andrew  Bloom  o  protagonista  é  em advogado (6 livros); a série Notre Dame romances de mistério passados na Universidade de Notre Dame com os personagens Roger e Philip Knight; (13 livros); Egidio Manfredi um detective  do  Ohio  à  beira  da  reforma  (2  livros).  McInerny  utiliza  os  seguintes pseudónimos:  Edward Mackin,  Ernan Mackey, Harry  Austin, Matthew  FitzRalph e  o  já referido Monica Quill. 

 

   

ESPIONAGEM – AGENTES SECRETOS (1)  Nem  se  nasce  agente  secreto,  nem  o  é  quem  quer.  Têm  formação  em  escolas 

próprias,  onde  poucos  entram  e  de  onde  só  sai  um  número  reduzido  dos  poucos admitidos.  A  selecção  exige  uma  capacidade  física  excepcional,  inteligência,  espírito patriótico,  conhecimento  perfeito  de  línguas,  etc.  O  treino  físico  proporciona endurecimento  e  resistência,  as  diferentes  técnicas  de  combate  são  estudadas  até  ao mínimo detalhe. Ninguém desconfia de um homem se trouxer consigo um simples jornal, um  isqueiro  ou  um  molho  de  chaves  no  bolso,  todavia  o  agente  secreto  sabe  com 

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facilidade como transformar tais objectos em armas. Uma arma de fogo apontada a curta distância raramente é perigosa quando se está preparado para o desarme ou em 90% dos casos, partir o braço que  a  empunha. Disparam  armas de  fogo de  todos os  calibres  e tipos. E preciso ter sangue frio também para manipular misturas explosivas. Nas escolas de espionagem há médicos que vigiam constantemente a alimentação e o repouso dos alunos para os manter em forma, engenheiros especializados numa série de cursos que visam ensinar principalmente a demolição de tudo, de pontes, de edifícios, dos veículos terrestres aos aéreos, que também é preciso conhecer e conduzir. Aprendem a fotografar com perícia e a usar os meios de  comunicação, a  transmitir e descodificar mensagens criptografadas,  ainda  que  existam  presentemente  máquinas  poderosas,  verdadeiros cérebros electrónicos para transmitir ou decifrar mensagens em segundos. 

  

FICHA CRIMINAL – O BAÚ DA MULHER TIGRE  Meter um cadáver num baú,  inteiro ou esquartejado, é  inconcebível, conhecido o 

espaço  reduzido  e  a  decomposição  rápida  do  corpo.  Fazer‐se  acompanhar  do  baú,  é simplesmente assombroso! Todavia, Winnie Ruth Judd acompanhou os baús contendo as suas vítimas durante uma longa viagem pela América do Norte. 

Na noite de 16 de Outubro de 1931, num apartamento da capital do Arizona, uma reunião  amigável  com Agnes Anne  LeRoi e Hedvig  Samuelson degenerou em  violência física e Winnie matou a tiro as duas mulheres. A 18 do mesmo mês tomou o comboio em direcção a oeste, acompanhada de Carl Harris. Quando chegaram ao destino previsto e foram reclamar os baús, saia deles um cheiro pestilento e o empregado exigiu as chaves para que abrissem os baús, julgando tratar‐se de contrabando de carne de veado. Sob o pretexto de irem buscar as chaves, desapareceram. 

Mais tarde, presa “a mulher tigre” como  foi apelidada,  foi  julgada e sentenciada à morte. Dez dias antes da execução o  tribunal conclui que a senhora não estava no seu juízo e foi internada no hospital estadual. 

Saiu em liberdade 40 anos depois… em 1971.  

 

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25 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  S.B.  Hough  (1918‐1990)  –  Stanley  Bennett  Hough  nasce  em  Preston,  Lancashire, 

Inglaterra.  Escritor  de  ficção  científica  sob  o  nome  de  Rex  Gordon,  usa  também  o pseudónimo Bennett Stanley. Publica 10 romances de mistério/detective. Cria o Inspector Brentford, personagem principal em Dear Daughter Dead (1965) e Sweet Sister Seduced (1968). 

 

       John Wainwright  (1921‐1995)  – Nasce  em Hunslet,  East  Yorkshire,  Inglaterra.  Em 

1947  ingressa na polícia em Yorkshire e estuda advocacia ao mesmo  tempo. Escreve o primeiro  livro  em  1956, mas  só  em  1966  se  torna  escritor  a  tempo  inteiro. Até  1992 publica  80  livros,  com  o  nome  próprio  ou  sob  o  pseudónimo  Jack  Ripley.  Cria  várias séries:  Lewis,  Gilliant,  Charles  Ripley,  Sullivan,  Inspector  Chefe  Lennox,  Inspector  Lyle, Superintendente Robert Blayde e Superintendente Ralph Flensing. 

    

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ENIGMA POLICIÁRIO – INVESTIGAÇÃO EM CINZENTO  Os  criminologistas  afirmam  que  é  na  juventude  que  se  preparam  os  grandes 

criminosos. Segundo as estatísticas mais recentes, em cada 10.000 habitantes. 536 delitos de roubo, fraude, passagem de moeda falsa, etc., são praticados por crianças até aos 14 anos, números inigualáveis para quaisquer outras idades. 

Da consequente leitura do relatado, o correr das recordações trouxe‐me ao presente um remoto caso que envolvia duas crianças de dez e doze anos e o desaparecimento de um diamante. 

Estávamos num dia implicante. Chuva leve mas contínua escorrera todo o santo dia, até cerca das 17 horas. Tudo ficara peganhento, de ambiente opaco. Nesta situação, foi com um sentimento de desconforto que correspondi ao apelo do Sr. Vila‐Pouca, residente, à época, na Rua dos Lusíadas, ali para o Restelo. Desvaneceu‐se‐me, no entanto, aquele estado de espírito ao conhecer o drama daquele homem que, se se permite, bem poderia chamar‐se, com inteira propriedade, o Senhor Pouca Sorte. 

Na verdade, emigrante de tenra  idade, por esse mundo comera o pão que o diabo amassou. Cansado, regressara à pátria, fazendo um casamento serôdio, aparentemente feliz, rematado com dois gémeos que viriam a revelar‐se atacados de afonia congénita, por deformação orgânica permanente. Acresce que, num passeio ao Alentejo, de onde era natural,  um  terrível  desastre  automobilístico  deixou‐o  viúvo,  preso  a  uma  cadeira  de rodas, sobrecarregado com a educação dos filhos e sustento  ‐ este mais consentido que imposto,  diga‐se…  do  inconformado  Rafael  Lobo,  o  condutor  do  veículo  daquele  dia fatídico, a quem o desastre amputara ambos os braços um pouco acima dos cotovelos. Valeu‐lhe,  na  vicissitude,  a  destreza  das  suas  mãos  de  hábil  lapidário.  O  infortúnio parecia, contudo, ser uma constante. 

Que sucedera agora? Como invariavelmente, na prisão imprescindível da sua cadeira de rodas, o lapidador 

trabalhava  um  esplêndido  diamante.  Olhos  cansados,  adormeceu.  Na  obscuridade  da tarde que findava, acordou sobressaltado. Como que pressentindo algo de desagradável, procurou instintivamente sobre a mesa o – diamante desaparecera! 

Ao  seu  grito,  Rafael  e  Rosa  acorreram.  Buscas,  explicações,  nada  resolveram. Embora existisse um seguro que cobria as “pedras” que lhe eram entregues, desorientado pedira  a  Rosa  que  me  telefonasse,  já  que  não  desejava  a  presença  da  Polícia. Determinado, olhei o grupo na minha frente, todos vestidos de cinzento (cor preferida ou imposta?). No  rosto  de  cada  transparecia  um  sentimento  diverso:  desespero  em  Vila‐Pouca, expectativa em Rafael,  indiferença na pequena Maria Bonita, afilhada de Rosa, indignação nesta e, em oposição, os gémeos, caras inidentificáveis pintadas de guerreiros índios,  a  que  não  faltava  a  tradicional  pena  no  cabelo,  camisolas  de  indispensável cinzento médio,  com o nome de  cada um em  letras  cinzentas mais escuras nas  costas, definiam  apenas  divertimento.  Comecei  por  pedir  a  Rafael  a  sua  versão  dos 

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acontecimentos.  Esclareceu‐me,  enquanto  com  um  gesto  de  cabeça me  apontava  as mangas da camisa vazias. 

– Bem  vê, não  tirei o diamante! Estava  sentado à  janela,  vigiando os miúdos que brincavam  aos  índios  no  pátio  das  traseiras.  O  patrão  adormecera  e  eu  também dormitava. Vi o menino aproximar‐se do pai e tirar‐lhe a  língua… Só quando se afastou, pelo nome, percebi que era o Marco. Fui atrás dele para lhe perguntar o que queria, mas não o alcancei. Deve ter sido ele por brincadeira, está sempre a pregar partidas… 

Rosa, muito alterada, alta e sólida, enrolava o avental nas mãos fortes, dizendo: – Os miúdos são uns diabos, isso são, mas não ladrões… Também não sei quem tirou 

aquilo. Não vi o menino entrar na sala; depois que a professora saiu, “às cinco”, foram os dois para o pátio. Por acaso  fui acender a  luz da cozinha – o  interruptor  fica ao pé da porta – e vi o Rafael dirigir‐se para a saída… ainda  lhe perguntei se os gémeos estavam bem, mas nem me olhou; respondeu‐me com um resmungo surdo. 

A pequena afilhada  foi encostar‐se à  sua protectora, envergonhada. Confirmou as declarações de Rosa, afirmando que não tinham saído da cozinha. 

Restavam‐me  os  rapazes.  É  bem  verdade  que  as  crianças  que  procedem delituosamente  apresentam  congénita  inclinação  para  o  crime  ou  são,  provavelmente, influenciadas  pelo  ambiente.  Naturalmente  que  não  seria  o  caso.  Tratar‐se‐ia  de brincadeira  e  agora  receariam  as  consequências.  Procurando  fazer‐me  entender, perguntei por escrito a cada, se tinha tirado a jóia ou estiveram na sala depois da saída da  professora.  Ambos  acenaram  veemente  negativa  e,  trocando  olhares,  como  se pensassem  por  um  só  cérebro,  cruzaram  os  braços  esfingicamente,  fecharam‐se  num mutismo feroz a todas as insistências da minha parte. 

Antes de me dirigir à sala do lapidário, contígua à que nos encontrávamos (segundo os  ensinamentos  de  Locard,  por  ali  devia  ter  começado),  perguntei  a  todos  se  se importariam de ser revistados. Face à resposta negativa, que me pareceu franca, passei ao local do “crime”. À esquerda da entrada, uma janela larga; em frente, um pouco para a direita, a porta da cozinha; à direita, duas janelas, numa das quais estava encostada a mesa  de  lapidário,  na  outra  a  cadeira  onde  se  sentara  Rafael.  Todas  as  janelas envidraçadas, com cortinas, estavam fechadas. Ao centro, sobre a mesinha, uma jarra de flores murchas, pétalas caídas, a contrastar ‐ o que não podia deixar de me surpreender suspeitosamente  –  com  o  asseio  de  toda  a  casa  e  o  próprio  soalho  encerado impecavelmente, que percorri de joelhos em busca da jóia perdida… 

Saí, dei a volta pelo pequeno jardim frente à casa, passei para o pátio das traseiras, de terra barrenta encharcada. Num pequeno círculo de relva ao centro, uma tenda tipo índio, na qual entrei procurando entre a amálgama existente algo que se parecesse com um diamante. Marto veio ter comigo e, zangado, empurrou‐me dali. Voltando ao convívio dos outros, pensava a  todo o vapor,  seguro à  teoria de Claude Bernard:  “a marcha do espírito  não  pode  avançar,  senão  pondo  uma  ideia  adiante  da  outra”. Quem?  Como? Talvez  sabendo  “Como”,  saberia  “Quem”. Comecei a expor  conclusões. Marco e Marto 

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trocaram um olhar – mais uma vez a  sensação de uma cabeça a pensar pelos dois – e esgueiraram‐se  para  a  saída.  Ainda  fiz  um  gesto  para  os  deter mas,  reconsiderando, continuei  com  a  explanação.  Subitamente,  voltaram. Marco,  puxando‐me  pelo  casaco, presenteou‐me com um pé de erva‐bezerra que trazia atrás das costas. 

Ambos  sorriam  abertamente.  Embatuquei.  Diacho  dos  miúdos,  estariam  eles  a gozar‐me? Estariam a dizer‐me algo? Ora bolas… A que propósito vinha a oferta? Teria esta relação com as flores murchas da jarra, que tanto me impressionara? 

Resolvi o caso. A  solução verdadeira viera‐me, afinal, em bandeja de prata… Sabe bem ao advogado, melhor diria, consultor criminólogo, porquanto raramente chegava ao Tribunal, divagar hoje no reino da saudade. 

 O  problema  apresentado  pertence  à  categoria enigma que  consiste  em  inserir  no 

conteúdo  do  trabalho  indícios  de  forma  metafórica  ou  ambígua  cuja  interpretação contribui  ou  é  a  solução.  São  infinitos  os  artifícios  que  se  podem  empregar. Desde  a colocação de um objecto, de determinada forma, a uma letra, uma carta, livro, deixados pela vítima para  indicar o autor da sua situação. Uma palavra dita para  ser ouvida, ou frase,  descrição,  cujo  efeito  depende  do  produtor  e  a  solução  do  raciocínio  e interpretação do solucionista. É um enigma de um enigma. 

Preste  atenção  aos  pormenores  e  pondere  na  solução,  que  apresentaremos proximamente. 

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26 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Jack Ritchie (1922‐1983) – John George Reitci nasce em Milwaukee, Wisconsin, EUA. 

Alista‐se no exército americano na 2ª Guerra Mundial e é colocado nas ilhas Kwajalein no Pacífico Central. É aqui que descobre a ficção policiária. Regressa a casa no final da guerra e como não quer dedicar‐se à profissão de alfaiate como o pai, decide viver da escrita de contos. Vê o seu primeiro trabalho Always The Season, publicado em 1953 no New York Daily  News.  Nas  três  décadas  seguintes  contribui  com  centenas  de short  stories para revistas  especializadas  em  ficção:  Alfred  Hitchock's Mystery Magazine,  Ellery  Queen's Mystery Magazine e Manhunt. Com várias adaptações ao grande e ao pequeno ecrã, os contos de Jack Richie abarcam uma diversidade de géneros: mistério, suspense, thriller, quarto  fechado,  vampiros,  etc.  São  escritos  com  o  mínimo  de  palavras,  mas  os personagens  são  bem  caracterizados  como  Henry  Turnbuckle,  um  detective idiossincrático  ou  o  vampiro,  detective  particular,  chamado  Cardula,  anagrama  de Dracula.  Jack Ritchie  recebe  um  Edgar Award para  best  short  story  em  1982  com  The Absence of Emily. O seu único romance Tiger Island é publicado postumamente em 1987. 

 

    

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Gabrielle Lord (1946) – Gabrielle Craig Lord nasce em Sydney, Austrália. Especialista em literatura vitoriana, é considerada a rainha do crime no seu país. Começa a escrever aos 30 anos, em especial na área do chamado thriller psicológico cria as séries Gemma Lincoln, Jack McCain e Conspiracy 365. Esta última é destinada à juventude e desdobra‐se em 13 volumes, 12 com o nome de cada um dos meses do ano e um último com o título Revenge (2011). A editora Contraponto tem vindo a publicar esta série da escritora. 

Em 2002 Gabrielle Lord recebe um Ned Kelly Award para a Best Crime Novel, prémio atribuído  pela  Crime Writers  Association  of  Australia  e  em  2003  é  distinguida  com  o Davitt Award, a melhor escritora de crime australiana, por Baby Did a Bad Bad Thing. 

 

      Elizabeth George  (1949) – Susan Elizabeth George nasce em Warren, Ohio, EUA. É 

uma autora de romances policiários, enquadrados na categoria de suspense psicológico. O seu primeiro livro A Great Deliverance (1988) recebe o e é triplamente premiado: com o Anthony Award, e com o Agatha Award para Best First Novel nos EUA e com o Grand Prix  de  Littérature  Policière  em  França.  O  livro  Well‐Schooled  in  Murder  (1990)  é galardoado com o prestigioso prémio alemão MIMI 1990. Cria o Inspector Thomas Lynley da  Scotland Yard e a  Sargento Detective Barbara Havers. A BBC adaptou à  televisão a série  The  Inspector  Lynley  Mysteries.  Elizabeth  George  é  uma  escritora  reconhecida internacionalmente e as suas obras têm sido também publicadas em Portugal. 

  

LITERATURA POLICIÁRIA – TESTEMUNHO COMO VI O ROMANCE POLICIÁRIO  Assinado por  J. Sousa, que pertenceu ou pertencia à PJ este  texto chegou até nós 

através  do  saudoso  colega  Inspector  Saldanha,  entre  os  documentos  com  vista  a  um Manual Policial, jamais concluído. 

Ao abraçar a carreira policial,  intuitivamente, devorei alguns  romances ou novelas policiais, convencido de que, na vida real, as ciências criminais, as técnicas e tácticas de 

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investigação ali explanadas seriam um manancial de conhecimentos quase  infalíveis ou, pelo menos,  um  frutuoso  contributo  na  investigação  criminal. A  breve  trecho,  porém, veio o desencanto, a desilusão! Com efeito, na minha então débil  inteligência  crítica e instintiva,  como  diria  Fernando  Pessoa,  entendi  que  o  romance  policial me  apontava falhas,  já  que  o  enredo  não  correspondia  sequer  a  uma  especulação  da  realidade. Também é certo que, então, nem sempre cuidei na escolha e, daí, que os romances a que tive  acesso, normalmente os mais económicos, me parecessem despidos de  interesse, quer no tocante à sua estrutura: espaço, tempo, personagens e acção; tudo uma série de actos  previamente  estudados  onde  o  crime  e  a  investigação  se  confundiam  com  o acidente ocasional; quer mesmo quanto à parte específica da  literatura que, para mim, muito deixava a desejar, resultando quase todos eles em história folhetinesca ou vulgar literatura  de  cordel.  Por  outro  lado,  ainda  na minha  óptica  de  então,  o  “investigador particular”, o “detective” – o herói de história – partia para a decifração dos enigmas com uma  tal  visão  superadora, mesmo  irreverente para  com  as  instituições, que deixava o pobre polícia da  lei amesquinhado e boquiaberto: de um mero  indício arranjava prova irrefutável; as testemunhas surgiam abundantes e espontâneas; as portas abriam‐se para as mais  incríveis  diligências;  e,  finalmente,  o  suspeito  era  de  imediato  identificado  e localizado. Dadas  as  conclusões  evidentes,  logo  este  se  confessava  culpado.  Enfim um happy end. Dessa maneira, como já se referiu, nasceu a desmotivação e as horas de lazer foram  orientadas  noutros  sentidos.  De  realçar,  todavia,  que  de  tudo  quanto  se  leu, depois de  sedimentado ou até esquecido, algo permaneceu no  subconsciente que, em tempo oportuno,  frutificou não só do ponto de vista cultural como  também no campo profissional. E  tanto assim é que, mais  tarde, quando a prole adrede me ofereceu, em festas  de  ano,  alguns  romances  policiais,  houve  como  que  uma  “refontalizacão”,  um voltar à fonte, ao princípio, mas, desta vez, foi à luz de um espírito mais amadurecido que se fez a sua leitura. 

Então, sim, os romances policiais seduziram‐me como a outros milhões de  leitores. Em face do exposto, esta singular introdução que compilei, aliás pouco lisonjeira ou quiçá incoerente, não pretende, como é óbvio, minimizar o romance ou a novela policial, mas, pelo contrário, estimular a sua leitura, alertando contudo os novéis leitores para as falhas e  reacções  apontadas,  tendo em  conta que  tais  romances  fomentam o mito policial e favorecem a confusão entre o imaginário e o real, bem como ainda será uma chamada de atenção para o que já alguém referiu: “a novela policial impõe‐se, desde que se cuide de dois  factores; por um  lado, da determinação da  inteligência do  investigador; por outro, da determinação psicológica do criminoso”. 

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27 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Joseph Hone  (1937) – Nasce em  Londres a 25 ou 27 de Fevereiro. É educado em 

Dublin. Trabalha como produtor na BBC e nas Nações Unidas, assistente de direcção de John  Ford,  professor  no  Egipto  e  editor.  Actualmente  é  professor  em Oxfordshire  em Inglaterra.  No  policiário  escreve  romances  de mistério  e  espionagem.  É  o  criador  do espião britânico Peter Marlow, herói dos seguintes livros: The Private Sector (1971), The Sixth Directorate (1975), The Flowers of the Forest (1980) publicado nos EUA com o título The Oxford Gambit e The Valley of The Fox (1982). 

 

  

 FICÇÃO CIENTÍFICA BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (3) 

 Volume 4 – We ou MbI (1920) de Evgueni Zamiatine 

 Yevgeny  Ivanovich  Zamyatin  (1884‐1937)  engenheiro  russo,  um  dos  primeiros 

dissidentes sovietes. We,  publicada  originalmente  em  inglês,  apresenta‐se  como  uma  arma  política 

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contra Lenine, contra os regimes ditatoriais ou totalitários, sob a forma de novela. Tem por  cenário um  futuro  Estado Unido Mundial, no  século XXVI,  em que  as pessoas  são números. A  felicidade matemática se não aceite é  imposta;  liberdade não é  felicidade! Supressão cirúrgica da fantasia e do desejo; o impulso sexual vencido pela Lex Sexualis – são  questões  postas.  Benefactor,  que  também  é  engenheiro  construtor,  autoridade única, fabrica uma nave planeando incorporar as plantas na sociedade. 

 Volume 5 – R.U.R. (Rossum's Universal Robots) (1920) de Karel Čapek  

Karel  Čapek  (1893‐1938),  jornalista  de  nacionalidade  checa,  escreveu  cerca  de cinquenta  livros nos domínios do teatro e da novela, além dos que vão ser destacados: RUR,  ou  Robots Universais,  é  uma  obra  teatral. Graças  a  esta  obra  que  escreveu  em colaboração com o seu  irmão Josef, se deve nada menos que o uso universal do termo robot,  para  designar  as  criaturas mecânicas,  inspirando‐se  num  antigo  vocábulo  que significa trabalho pesado: rabota, e que se havia de fixar mundialmente. 

Os robots de Capek têm um aspecto tão humano que a maioria dos autores de hoje classifica de androides. 

Em  RUR,  os  robots  não  só  se  parecem  com  os  humanos,  como  haviam  de comportar‐se como eles, invadindo‐os uma tal ânsia de poder que terminam por dominar o mundo. 

 

 Ficha Técnica 

Nós Autor: Evgueni Zamiatine Tradução: Manuel João Gomes Ano da Edição: 2004 Editora: Antígona Páginas: 287 ISBN: 9726080320 

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28 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Ben  Hecht  (1893‐1964)  –  Nasce  em  Nova  Iorque.  Romancista,  argumentista, 

produtor e director de cinema é conhecido como o  the Shakespeare of Hollywood. Na literatura  policiária  distingue‐se  a  escrita  para  cinema  dos  thrillers  The  Unholy  Night (1929) e Notorious (1946), produzido e realizado por Alfred Hitchcock. Ben Hecth é ainda o guionista do clássico Scarface (1932). 

 

  

 CRIMINALÍSTICA 

 A  identificação pelas  impressões digitais  foi um passo de gigante naquela área. O 

problema que se mantém até hoje, é que embora as investigações possam obter material biológico do principal delinquente, se este não constar das bases de dados dos bancos de identificação, os  teste não  servem para nada.  Impõe‐se uma aceleração positiva. Mais recentemente, ao partir‐se do princípio de que cada pessoa possui um padrão repetitivo de  sequência  das  bases  de  ADN  nos  cromossomas,  desenvolveu‐se  uma  técnica  de análise  intitulada  Short  Tandem  Repeat  (STR),  seguido  de  um  Simple  Nucleotide Polymorphism (SNP). Esta técnica tem grande futuro, pois permite criar uma espécie de 

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retrato  robô  em  traços  gerais  a  enquadrar  num  determinado  grupo.  O  perfil  SNP proporciona a alternativa ao sugerir uma série de características do possuidor de ADN, como a cor de cabelos, dos olhos ou a idade. As margens de certeza vão de 82% par a cor da pele e de 9 anos para a idade, o que por vezes é necessário e suficiente. 

A  identificação ocular permite a  leitura dos vasos  sanguíneos da  retina dos olhos, que é exclusivo de cada pessoa. 

Casualmente – assim nascem muitas descobertas – um mecânico que aperfeiçoava um instrumento a pedido de um oftalmologista, reparou na série de desenhos dos vasos sanguíneos de vários pacientes, constatando surpreendido que todos eles eram iguais na mesma pessoa. Uma investigação em larga escala confirmou o exposto. 

A  vantagem  sobre as  impressões digitais, é que  são  tão  seguras  como estas e de verificação mais  rápida.  É muito  provável  que  num  futuro  próximo  a  substituição  das impressões digitais ela identificação ocular seja aplicada em larga escala.   SEGREDOS DA LITERATURA – MORIARTY NAPOLEÃO DO CRIME 

 A vida  ficcionada de Sherlock Holmes  tem sido explorada e dissecada desde a sua 

idealização,  nascimento  e  acção.  E  para  lá  destes  atribuindo‐se‐lhe  novos  episódios detectivescos.  Ainda  que  em  plano  secundário,  outros  personagens  que  com  ele privavam ou contactavam na vida ou na  luta, são periodicamente abrangidos. Tal como Sherlock  Holmes  teria  sido  formado  na  figura  e métodos  do  Professor  Bell,  o maior inimigo  do  notável  detective,  o  Professor  Moriarty,  teria  resultado  de  Worth.  Na realidade Adam Worth, que durante 30 anos foi o mestre do crime, o génio do mal em que se  inspirou Arthur Conan Doyle para personalizar o terrível e  infame adversário do génio Holmes. 

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29 DE FEVEREIRO   

EFEMÉRIDES  Heimo Lampi  (1920‐1998) – Nasce em Hollola, Finlândia. Advogado e colunista de 

jornais está  incluído no grupo de escritores de crime escandinavos. O destaque na sua obra vai para Death Stalks Meteora , no título original Kuolema Kulkee Meteoralla, escrito em 1981. 

 

   

OS GRANDES TEMAS DA FICÇÃO CIENTÍFICA – ROBÔS   Desde os  tempos em que  a bruma da história é  intensa,  impenetrável, por  vezes 

transformada  em mera  lenda,  a  criação  de  seres metálicos  ou mecânicos  ocupa  uma parcela da fascinação humana. 

Um passeio pelo túnel do espaço  literário permite conhecer os homens mecânicos de As Mil e Uma Noites, as  raparigas de ouro do deus grego Hefaísto, os  jogadores de xadrez do Barão de Kempelen ou Maelzel, etc. etc. 

Em  R.U.R.,  iniciais  correspondentes  a  Rossum's Universal  Robots,  peça  teatral  de 1920, do autor checo Karel Čapek, (1890‐1938), nasce o termo robot, derivado de robota (trabalho) aplicado aos seres artificiais criados pelo  industrial Rossum para substituir os 

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homens no trabalho. A partir de então, o termo usa‐se, na generalidade, para designar criaturas metálicas,  quase  sempre  hominídeas,  perigosas  umas —  sempre  prontas  da dominar a humanidade em  seu proveito — pacíficas outras, por vezes  sujeitas a maus tratos e agressões da  incompreensão humana, a menos que apresentem programação menos segura. 

Breve  resenha  que  se  pretendia  esboçar  do  robô  através  da  história  da  ficção científica apresentar‐se‐ia como um tratado, tal o volume de diversificação da temática. 

Opta‐se por exemplificarão sabor da preferência. Os robôs de Rossum estão impregnados daquilo a que se convencionou designar por 

sindroma de Frankenstein, isto é, a constância da revolta da criatura contra o seu criador. Advirta‐se, por outro lado que, muito embora se tivesse recolhido e propagado o termo robô  através  daquela  narração,  no  actual  nível  da  literatura  de  ficção  científica  tais figuras  seriam  classificadas  de  andróides  dada  a  sua  natureza  orgânica  produzida  por meios  sintéticos.  A  palavra  robô  será  aplicada  exclusivamente  a  seres  mecânicos construídos de matérias inorgânicas, metal em regra, e dotados de cérebros electrónicos que lhes permitiria a movimentação. 

Os robôs de Rossum vestem‐se como ao pessoas, blusas de pano cru, apertadas por correias e ostentando placas de cobre com um numero. Caras sem expressão, olhar fixo, os seus movimentos e a maneira de  falaz tem qualquer coisa de seco, de hirto. Podem fazer o mesmo trabalho que o homem, mas por menor custo: os robôs Rossum podem ser adquiridos por 150 dólares cada. 

Harry Domin, director geral das fábricas, comenta: o velho Rossum queria destronar Deus.  Era  um materialista  terrível. O  que  ele  queria  era  fornecer  a  prova  de  que  não precisamos de Nosso Senhor, metendo‐se‐lhe na cabeça  fazer um homem exactamente igual a nós diante do seu tubo de ensaio e sonhando que dali sairia uma árvore da vida, inteirinha.  Uma  salmoura  coloidal  que  nem  um  rafeiro  seria  capaz  de  tragar,  e  que poderia  ter obtido, por  exemplo, uma medusa  com  cérebro de  Sócrates ou  então uma minhoca com cinquenta metros de comprimento. 

Isto é o que diz o velho Rossum, mas foi o jovem Rossum quem teve a ideia de fazer máquinas de trabalho vivas e inteligentes. 

Uma máquina de trabalho não precisa de sentir alegria, nem tocar violino, nem fazer uma porção de  coisas no género… e  fabricar operários artificiais é a mesma  coisa que fabricar motores a petróleo… os robôs não são homens; do ponto de vista mecânico. 

São mais perfeitos do que nós, possuem uma  inteligência admirável, mas não  têm alma… 

Mas de tempos a tempos os robôs que não têm amor a nada, nem a eles próprios, têm  um  ataque  de  raiva.  Chama‐se‐lhes  convulsões,  acredita‐se  num  defeito  do organismo e era necessário metê‐los na prensa. 

De trabalhadores passaram a soldados. Primeiro nos campos de batalha…, depois a insurreição em Madrid contra o governo… 

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  A primeira organização da raça robô formou‐se no Havre. Nós,  primeira  organização  da  raça  de  Rossum's  Universal  Robot,  declaramos  o 

homem inimigo e proscrito do universo. O homem já não nasce, mas vida não perecerá. A tradição explica a querela: urna nova imagem da rebelião de Lúcifer contra o seu 

criador, e que dominou a Ficção Científica primitiva. Foi preciso esperar até 1938, para que o robô monstruoso, vilão, desse  lugar a um 

tipo bem mais simpático, Adam Link, de Eando Binder (ps. dos irmãos Earl Andrew Binder (1904‐1965), e Otto Oscar Binder (1911‐1974), que protagoniza uma série de aventuras verdadeiramente agradáveis. 

A  confirmação  dessa  nova  imagem  deve‐se,  porém,  ao  famoso  Isaac Asimov.  Em 1939  escreveu  Robbie  um  robô‐ama‐seca,  que  ficará  famoso,  cuja  cabeça  era  um pequeno paralelepípedo de arestas e cantos arredondados  lidados a um paralelepípedo maior,  que  servia  de  tronco  por meio  de  uma  baste  curta  e  flexível,  brilhantes  olhos vermelhos, pele metálica mantida a uma temperatura de vinte e um graus pelas bobines interiores de alta resistência. Pernas e braços de aço cromado, braços capazes de vergar uma barra de aço de cinco centímetros de espessura até lhe dar a forma de um biscoito, mas capazes também de enlaçar suave e amorosamente uma menina de oito anos. Uma máquina sem voz, sim, mas uma máquina cheia de amor. 

A  Asimov  se  devem  os  robôs  positrónicos,  nova  técnica  que  substitui  cérebro electrónico então existente. Ao mesmo se devem as três Leis da Robótica, que baniu a terrível síndroma de Frankenstein: 

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1 – Um robô não pode causar dano a um ser humano nem, por inacção, permitir que qualquer homem sofra danos; 

2 – Um  robô deve  cumprir  as ordens que  lhe  forem dadas pelos  seres humanos, excepto em casos que essas ordens colidam com a Primeira Lei; 

3 – Um robô deve proteger a própria existência desde que essa protecção não colida com a Primeira ou com a Segunda Lei. 

 Máquinas perfeitas, sem dúvida. Em  L‐do‐it? ,  um  interessante  conto  de  Clifford  Simak,  encontramos  o  modelo 

suficiente perfeito para pôr em causa o termo máquina. Demonstraremos a Vossa  Senhoria  – disse  Lee  – que os  robôs  são algo mais que 

simples máquinas. Nós estamos dispostos a apresentar provas de que em tudo, salvo no metabolismo, o robô e uma cópia do homem e que inclusivamente t o metabolismo e até certo ponto, análogo ao metabolismo do homem. 

E o Tribunal pronunciou as suas decisões: Os robôs possuem capacidade de livre escolha… Os robôs possuem capacidade de pensar… Os robôs podem reproduzir‐se…