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Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança” - Ano 5 - nº 47 - Novembro/2004 Distribuição Gratuita Cairbar Schutel Família Família no mundo dos espíritos Página 14 Kardec em Estudo Crueldade e Destruição Página 15 Página 03 Cantinho do Verso em Prosa - Página 13 Finados

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Page 1: Cairbar Schutel - Núcleo de Estudos Espíritas "Amor e Esperança" · prego numa farmácia situada na Rua 1º de Março, no Rio de Janeiro. Entra como aprendiz. Inteligente e firme

Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança” - Ano 5 - nº 47 - Novembro/2004 Distribuição Gratuita

Cairbar Schutel

Família

Família no mundo dos espíritos

Página 14

Kardecem Estudo

Crueldade e Destruição

Página 15

Página 03

Cantinho do Verso

em Prosa - Página 13Finados

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editorialEditorial

Publicação mensaldoutrinária-espírita

Ano V – nº 47 – Novembro/2004Órgão divulgador do Núcleo de

Estudos Espíritas Amor e EsperançaCNPJ: 03.880.975/0001-40

CCM: 39.737

Seareiro é uma publicação mensal, desti-nada a expandir a divulgação da doutrinaespírita e manter o intercâmbio entre osinteressados em âmbito mundial. Ninguémestá autorizado a arrecadar materiais emnosso nome a qualquer título. Conceitosemitidos nos artigos assinados refletem aopinião de seu respectivo autor. Todasas matérias podem ser reproduzidas desdeque citada a fonte.

Direção e RedaçãoRua Turmalinas, 56

Jardim DoniniDiadema – SP – Brasil

CEP: 09920-500

Endereço para correspondênciaCaixa Postal, 42Diadema – SP

CEP: 09910-970Telefone: (11) 4044-1563

com EloísaE-mail: [email protected]

Conselho EditorialRoberto de Menezes Patrício

Wilson AdolphoVanda Novickas

Ruth Correia Souza SoaresReinaldo Salles Licatti

Fátima Maria GambaroniRosângela Neves de Araújo

Geni Maria da Silva

Jornalista ResponsávelEliana Baptista do Norte

MTb 27.433

DiagramaçãoMarcos GalhardiTel: 4067-3378

Arte e ImpressãoVan Moorsel, Andrade & Cia Ltda

Rua Souza Caldas, 343 – BrásSão Paulo – SP

CNPJ: 61.089.868/0001-02Tel.: (11) 6097-5700

Tiragem8.000 exemplares

Distribuição Gratuita

Como devemos tratar a questão do jovem no agrupamento espírita? Muitos de nós já nos fizemos esta pergunta.

Em visitas a alguns agrupamentos espíritas, notamos que na maioria deles, a chamada Mocidade, tem dentro do quadro de atividades da insti-tuição, digamos “vida própria”.

Será que determinado procedimento estaria correto?Precisamos recorrer às orientações evangélicas, para que possamos

obter o embasamento necessário, a fim de analisarmos a questão.Ao consultarmos a lição Mocidade do livro Caminho, Verdade e Vida,

podemos encontrar a instrução de Emmanuel, com relação a esta fase reencarnatória:

“Concordamos com as suas vastas possibilidades, mas não podemos esquecer que esta fase da existência terrestre é a que apresenta maior número de necessidades no capítulo da direção”.

Diante desta elucidação, temos que refletir quanto ao posicionamento dos jovens, na planificação das instituições espíritas, do qual fazemos parte.

A liberdade que a chamada Mocidade Espírita tem na estruturação de tarefas e de estudos, nas instituições espíritas, bem como a inde-pendência que se vê na execução e programação das quais participam, são preocupantes, diante da falta de direcionamento doutrinário por parte de “espíritos envelhecidos na experiência”, como nos diz a lição de Em-manuel.

Questionamos a criação de mocidades, já que os jovens podem e de-vem começar a participar, com supervisão é óbvio, das tarefas onde os adultos participam, já que obterão com isto o amadurecimento doutrinário necessário para o verdadeiro aprendizado.

Quer-se alegar de que as mocidades são necessárias para atrair os jovens para as atividades, pois eles não suportariam as tarefas de maior responsabilidade. Ledo engano!

Não podemos ajustar tarefas para satisfazer o trabalhador. Temos sim que, desde pequeno, manter os nossos filhos ajustados aos ensinamentos cristãos, procurando exemplificá-los em nossos atos e palavras, para que quando eles chegarem à adolescência, tenham a base moral sólida e a maturidade doutrinária, que fazem com que entendam a disciplina e a responsabilidade das tarefas que lhes cabem, mantendo-se porém, o dire-cionamento das tarefas sempre a pessoas com maior experiência dentro do agrupamento.

Lembremos que os jovens são espíritos que já tiveram experiências reencarnatórias de diversas ordens, e não devemos fazê-los perder tempo com mocidades, onde estarão dispersos apenas com músicas, teatros e atividades chamadas culturais, onde poderiam não estar perdendo tempo, iniciando com estudos sérios e tarefas que efetivamente os irá auxiliar na sua elevação moral, resgatando o seu passado de débitos, tudo isto com a interiorização dos ensinamentos do Cristo, com a renovação interior.

Neles encontraremos a maturidade para os desvios de toda ordem, desde que não estejam bem orientados, portanto, têm condições de absorverem os conhecimentos cristãos, e serem produtivos nas tarefas que todos nós temos, como valiosas oportunidades de servir ao nosso semelhante.

Portanto, não nos iludamos! Os nossos jovens têm de ombrear conos-co as tarefas cristãs, e o estudo deverá ser uma constante em suas vidas, mas não devemos esquecer a orientação de Paulo, que diz que a moci-dade deverá seguir em tudo “a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor”.

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3Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

grandes pioneirosGrandes Pioneiros

Cairbar SchutelCairbar de Souza Schutel!Reencarna na Terra, mais um baluarte da Doutrina

Espírita!Teve com berço, a sua terra natal, a bela cidade

do Rio de Janeiro, cartão postal da Natureza. Era o dia 22 de setembro de 1868, quase a entrada da pri-mavera. Como ela, Cairbar chegou trazendo flores e muita alegria para seus pais, senhor Anthero de Souza Schutel e a senhora Rita Tavares Schutel.

Por essa época, o Brasil envol-via-se com a Guerra do Paraguai. Muitas eram as notícias decisivas sobre a Batalha de Tuiuti.

O Rio de Janeiro era a sede da Corte Imperial e, como tal, embora a crise trazida pela guerra, não ofusca-va a elegância com que os senhores e senhoras da Corte, vestiam-se.

O casal Schutel, quando do nas-cimento do primogênito, Cairbar, residiam na famosa Rua do Ouvidor, 49, que resplan-decia pelas ruas centrais, toda a beleza das senhoras da sociedade da Corte, sempre acompanhadas pelas suas escravas de confiança.

O senhor Anthero Schutel, pai do pequenino Cairbar, por essa fase, era ainda jovem e trazia a evidente vai-dade pelo seu belo aspecto físico. Era muito admira-do pelas mulheres, e sempre fora mimado pelos pais. Com isto cresceu, mas tornou-se imaturo, pois filho como era de fazendeiros ricos e prósperos, tanto o pai como a mãe, nada lhe negavam. Vivia gastando fortunas no Cassino Fluminense, na Sociedade de Recreação Campestre ou nos Clubes de Petropólis, que eram os mais conceituados salões aristocráticos da época.

Conhece um dia a nobre senhorita Rita Tavares. Ainda solteiro, ambos moravam em Santa Catarina. Dona Rita era nascida na cidadezinha de Tijuca. Quando Anthero a viu, deslumbrou-se pelo seu porte elegante e lindo semblante simples. Apaixonou-se perdidamente pela sua meiguice e, dali para o casa-mento, foi um passo.

Ritinha, como era chamada intimamente pelos pais, fora criada com energia e como toda jovem da época, educada para o casamento, para ser mãe e es-posa do lar.

De natureza submissa e tolerante, dona Rita, pro-

curava ocupar-se com o filho Cairbar, e com a re-ligião católica. Esta preenchia sua vida, se dedicando a ajudar nos afazeres da igreja e dos carentes.

Amava profundamente o marido, e não dava ou-vidos aos mexericos da Corte, que sabiam de suas aventuras extras lar e das jogatinas. Passava noites

e noites, perdendo e ganhando. Ora, dona Rita tinha sua casa or-nada pelos belos móveis, e ora via tudo ser levado, para pagar as dívidas de jogos contraídas pelo seu marido.

Com tudo isto, ele era bom, amável e adorava a família. Devido ao desregramento de sua vida, no dia 24 de abril de 1878, o senhor Anthero, ao tomar banho sentiu-se mal e veio a falecer subita-mente, sem que o socorro médico chegasse a tempo.

Dona Rita sofre profunda-mente a esse golpe. Estava grávida e dá a luz a mais um menino, que recebe o nome do pai, Anthero. Porém, em 24 de setembro, cinco meses após o desencarne do esposo, dona Rita não consegue vencer a febre pueperal, e vem também a desencarnar, deixando o pequeno Anthero, que só viveria por 4 anos. O menino nascera a 12 de setembro, portanto, pouco foi o tempo que o menino teve do regaço ma-terno.

Quando dona Rita pressentiu que seus dias es-tavam contados na carne, ela chamou Cairbar, que chegou todo desarrumado e despenteado à sua pre-sença. Ela com sóbria severidade, falou:

— Vai se arrumar, meu filho. O menino, sempre obediente, corre para se re-

compor e ao retornar ao lado de sua cabeceira, ouviu o porquê:

— Filho, quero que você esteja constantemente limpo, e com roupas e sapatos bem cuidados. Mesmo dentro de casa, seu aspecto deve apresentar postura e elegância. Lembre-se de como seu pai se cuidava.

E, dessa forma, Cairbar seguiu o conselho mater-nal até o fim de sua existência.

Após a dura realidade por ver partir sua mãezinha, e ficando órfão, teve de separar-se do irmãozinho, que também pouco tempo teve de reencarnação, mas que seria uma companhia para ele.

Dessa forma os avós paternos passaram a cuidar

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do menino. O avô, Dr. Henrique Schutel, procurando dar a

melhor educação ao neto, matricula-o no “Imperial Colégio D. Pedro II”, onde era tido como o melhor colégio em estudo e disciplina instrutiva. Cairbar permanece aí, até o segundo ano, abandonando a es-cola após esse período, pois não suportava mais a rigidez e disciplina da mesma.

Cairbar tornou-se um adolescente de aspecto tris-tonho. Parecia estar sempre insatisfeito e brigado com o mundo.

Quando lembrava de sua mãezinha e do irmãozinho, que nem chegara a conhecer, grossas lágrimas cor-riam pelo seu rosto, já tão marcado por amarguras.

Com o decorrer do tempo, ele consegue um em-prego numa farmácia situada na Rua 1º de Março, no Rio de Janeiro. Entra como aprendiz. Inteligente e firme em seus propósitos, em pouco tempo, aprende o ofício, e torna-se prático na indicação e manipu-lação dos medicamentos. Era muito procurado pela clientela da farmácia.

Mas esse trabalho dava-lhe pouco rendimento. Procurou algo diferente para a noite, onde alguns níqueis lhe dariam mais sobras. Encontrou uma vaga de cozinheiro num restaurante central e aí permaneceu algum tempo. Com esse novo emprego, Cairbar começou a gostar da vida noturna. E a boemia tomou conta de sua vida. Após a saída do restaurante, ele entregava-se aos prazeres das noites cariocas. Jogos, mulheres, todas as formas de diversões. Tudo isto seria funesto em sua vida. Todos que o viam, diziam ter ele herdado os mesmos vícios do pai.

Freqüentava as praias, as serestas noturnas, e com isto sua saúde estava meio abalada. Isto porque, a higiene na cidade do Rio de Janeiro era péssima. Nas ruas vendia-se de tudo, desde lascas de bacalhau, be-bidas, frituras de toda espécie e o resto de gordura e pedaços indigestos de alimento, eram jogados nas

ruas, onde moscas, animais e insetos viviam por ali, completando o baixo teor de saneamento básico. Os becos à noite, eram verdadeiros banheiros públicos. O mau cheiro, o calor e o sol ardente faziam proliferar, ainda mais, a convivência com ratos, e formavam o quadro, para que as pestes e as doenças como a varíola, a cólera, a peste bubônica, e até a temida febre amarela e ainda a tuberculose, se instalassem na cidade.

Com esse ritmo de vida, e precisando estar logo cedo na farmácia, começou Cairbar a sentir o problema de sua saúde agravando-se, com o aparecimento de febres, vez por outra.

Mas havia outra festa que se aproximava, e a qual Cairbar passou a esperar ardentemente a chegada: o carnaval. Tornou-se um autêntico folião, misturan-do-se aos cordões carnavalescos, que se infiltravam entre os carros, que formavam as alegorias e eram puxados pelos cavalos, todos adornados em várias cores. O povo compartilhava dessa folia, que com-parada a de hoje, era muita ingênua. Via-se que a Avenida Rio Branco, no Rio, parecia um mar de pes-soas, blocos e fantasias da época.

A saúde de Cairbar piorou. Passado o carnaval, consultado o médico, este foi incisivo no diagnósti-co:

— Sua saúde, senhor Schutel, está péssima. Ou você se cuida, saindo rapidamente do Rio para outra região, onde o ar seja mais puro, ou essa tuberculose, que está prestes a se manifestar, o levará ao túmulo. Portanto, sua vida está nas suas mãos.

Diante disto, toma ele a decisão de partir. Pede suas contas dos empregos, arruma seu baú, e vai des-pedir-se dos avós. O avô Schutel queria levá-lo para a Europa, para ter um tratamento mais adequado, mas Cairbar não quis. Disse ao avô, que ora em diante, ele havia entendido que precisaria levar a vida mais a sério. Abraça comovidamente os dedi-cados avós, e agradece o carinho, partindo para a es-tação ferroviária D. Pedro II. Não sabia ainda para que local iria.

O choque de seu estado de saúde, soara como uma bomba em seu interior. Ele jamais pensara em mor-rer, pois era tão jovem e adorava viver. Só que estava compreendendo que estava errando, como errara seu pai, a quem ele criticava tanto em seu íntimo. Era preciso mudar o rumo de sua vida!

Eis, portanto, as mãos do Criador. Viera, Cairbar, para tarefas importantes a realizar. A ameaça dessa doença, que na época, era de difícil cura, fizera-o reagir para melhor. Ele não poderia permitir esses arrastamentos inferiores, para tirá-lo do Bem. Não entendia ainda o que era, mas sabia que a sua mu-dança agora era importante.

Impulsionado por algo estranho, compra a passagem para o final da linha, cuja a cidade seria Araraquara. Te-ria que fazer uma baldeação em São Paulo para a Cia. de Ferro Paulista. Seriam doze horas de viagem, até o local escolhido. Portanto, no dia seguinte sua vida teria novo rumo! Até lá, havia muito o que planejar.

Atual vista do Colégio Imperial D. Pedro II, onde Cairbar Schutel estudou, localizado no Rio de Janeiro - RJ(hoje Colégio D. Pedro II).

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5Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

Desce do trem, e olha o sertão paulista. Fica para-do por instantes, estudando como encontrar a melhor farmácia da cidade. Pergunta para o chefe da estação, e este lhe indica a Farmácia Moura, localizada na Rua do Comércio, esquina com Avenida São Paulo.

Vai até lá e conhece o dono, o Senhor Raia. Apre-senta-se como prático, e pede o emprego. Para isto, o senhor Raia dá-lhe um teste. Teria que aviar três difíceis receitas e a manipulação de remédios. Saiu-se muito bem, pois era afeito a esse propósito, que fazia com muito carinho.

Dedicou-se por vários anos nessa tarefa. Obteve o retorno da saúde, pela vida sadia que passou a viver.

Com estudo e muita inteligência, desenvolveu várias poções e xaropes, que através das essências naturais, eram muito procuradas, e faziam grande bem às pessoas. Com isto, tornou-se um empregado de confiança e muito querido pelo senhor Raia.

Mas um dia, por algo feito ao qual o senhor Raia não gostou, Cairbar sentiu-se melindrado e ferido em seu orgulho. Pediu as contas. O senhor Raia ten-tou trazê-lo à razão, mas Cairbar não quis entender. Só o faria, após ter conhecido a Doutrina, corrigindo o acontecimento.

O senhor Raia sentiu profundamente, mas o or-gulho venceu seus propósitos.

Dizia ele que aguardaria seu retorno, pois sabia que não seria fácil para Cairbar arrumar outro em-prego.

Sabedor disto, o jovem em seu conceito, preferiu ser entregador de uma mercearia a voltar a ser em-pregado da farmácia. Dessa forma, ele passava constantemente pela frente da farmácia do Sr. Raia, empurrando uma carrocinha de entregas domi-ciliares.

Passou-se mais um tempo, e Cairbar decide ir para Piracicaba, e emprega-se na Farmácia Neves, cujo proprietário era o senhor Samuel Castro Neves. Este tinha por irmão o senhor Oseas Castro Neves,

que era o tabelião de Piracicaba. Oseas era estudioso da Doutrina Espírita, e um dos primeiros a divulgá-la naquelas paragens. Torna-se ele, muito amigo de Cairbar, que lhe relata os fatos de sua agitada vida. Oseas esclarece-o sob o lado espiritual e, dessa for-ma, algo começa a se tornar claro na obscura vida de Cairbar.

Por volta de 1894, Cairbar, compra um pequeno sítio em Araraquara. Desenvolve ali o cultivo de fru-tas e verduras. Também entra no comércio, com um pequeno estabelecimento de tabacaria e venda de bilhetes de loteria.

Já mais amadurecido, sem vestígio algum do boê-mio do passado, Cairbar pensa em constituir uma família. Mas sua primeira investida foi frustrada, pois a jovem Izaltina, por quem ele se interessara, era de família conceituada no meio social, e os pais, ao sa-berem por quem a menina andava enamorada, pres-sionou-a severamente, impedindo-a de ir em frente. A fama do passado boêmio e da doença que ameaçara sua saúde, embora já refeito, impediu que a família o aceitasse, e foram contrários a esse matrimônio, mesmo com a insistência de Cairbar. Resolve então afastar-se, achando que mais uma vez seu destino era de amarguras e solidão.

Vez por outra, lembrava-se das palestras com seu saudoso amigo Oseas, que falava em resgates do pas-sado. Mas haveria mesmo isso? Ele fora criado na re-ligião católica, e obedecia cegamente seus princípios. Não estaria ele transgredindo os princípios cristãos? Não seria esse motivo dos dramas em sua vida? Talvez Deus estivesse castigando-o para ver se ele seria mais fiel em sua crença.

Perdido nessas divagações encontra ele, ao atravessar a praça central da cidade, uma jovem sen-tada no banco da praça, chorando.

Sem saber por quê, Cairbar aproxima-se e sentan-do-se ao lado dela, procura conversar:

— Posso ajudá-la? Tenho um pequeno comércio aqui perto, vamos até lá e poderemos conversar mais à vontade, sem que chamemos a atenção dos que passam.

Erguendo o rosto, Cairbar, viu os belos olhos da jovem que se tornava mais atraente pelas lágrimas, que teimavam em rolar pelas faces coradas.

A jovem, um tanto assustada, falou:— Creio que apesar de sua boa vontade, o senhor

nada pode fazer. Estou já há um tempo procurando um local para morar. Acreditei nas falsas promes-sas de um rapaz, que depois abandonou-me. Minha família não me quer de volta. O senhor sabe o que é ser uma noiva abandonada antes do casamento?

Cairbar ficou mais impressionado ainda e insistiu no convite.

Ela resolveu acompanhá-lo. Já instalada na peque-na sala que servia de escritório da tabacaria, ela de-sabafa seu coração.

Chamava-se Maria Elvira da Silva Lima, para os íntimos Mariquinhas. Nascera em Itápolis, interior de São Paulo, de família humilde, mas rígida em

Vista atual da Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro - RJ, com o Teatro Municipal ao centro.

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seus princípios morais. Contava Mariquinhas, que os pais não queriam ter na família uma noiva quase abandonada na porta da igreja.

— O povo — dizia ela a Cairbar — não perdoa, e diante dos falatórios, fui expulsa de casa. Estou pro-curando emprego e onde morar, pois deixei Itápolis, onde nada mais tinha a fazer.

Cairbar sentiu-se atraído e comovido com o drama de Mariquinhas, e recolheu-a em seu sítio. Apaixonados, passaram a viver maritalmente. Ele não tinha pre-conceito algum, acreditava no ser humano, e Mari-quinhas fora vítima de um ser irracional e falido na moral, pois nessa época tudo era muito radical.

Quando finalmente, Cairbar passa a estudar Kar-dec e a aceitar o espiritismo, ele consolida essa união com Mariquinhas. Não com festas, mas numa sim-ples cerimônia civil, onde ele fez questão que fosse realizada em Itápolis, junto com a família da esposa, onde ela fora tão maldosamente tratada. Agora, ela era igual a qualquer senhora respeitosa de Itápo-lis. Era o dia 31 de agosto de 1905, segundo Mari-quinhas, o dia mais feliz de sua vida!

Cairbar com isto, falavam os adeptos da Doutrina, professava o que já mantinha como certo em sua vida: a fé em Cristo. Ele já houvera pesquisado muito so-bre a mulher adúltera e achara a verdade: Quem es-tará livre de pecado? Portanto, ninguém deverá atirar pedras nos erros do próximo, porque senão, elas com certeza voltarão para os arremeçadores.

Embora esses pequenos contatos com a Doutrina, não o fez espírita de imediato. Isso viria acontecer bem mais tarde.

Após o casamento, Cairbar e a esposa fixaram residência em Matão. Porém, antes do casamen-to, Cairbar já mostrava a força do progresso dessa pequena cidade. Por esses idos, a cidadezinha tinha o nome de “Senhor Bom Jesus das Palmeiras do Matão”.

Em rápida análise, para podermos entender o espírito renovador desse pioneiro, entenderemos o quanto Cairbar fez para o progresso dessa cidade. Foi ele que, ali chegando e envolvido pela fé sincera de seu coração, e sabendo que as criaturas precisa-vam ter um templo onde pudessem freqüentar, e ter um lugar de paz para orar (pois era assim que ele en-tendia, enquanto católico), fez erguer uma pequena capela. Todos os habitantes ajudaram a construí-la. Foi erguida com muito amor pelos devotos. Quando finalmente ficou pronta, recebeu o nome de Capela do Bom Jesus de Matão.

Para sua inauguração, engalanaram-na de flores silvestres em seus altares. Os santos foram doados pelos habitantes, e o Altar Mor apresentava acima um grande crucifixo com o Cristo pregado, e abaixo uma imagem maior de Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe Maior, Maria de Nazaré, num nicho colorido de azul, como seu manto, doado pelas mães das cida-dezinhas, ou melhor dos sitiantes locais.

Para essa primeira missa, Cairbar convida seu amigo e confessor em sua fé, o Padre Antônio Ceza-

rino, vindo de Araraquara.Por este e outros feitos realizados por Cairbar a

essa cidade, foi ele escolhido o primeiro Intendente do novo Município. Esse cargo era equivalente ao de Prefeito, como atualmente se designa o candidato eleito pela cidade.

Isto porque Matão, em 1895, era apenas Distrito Policial. Após, em 1897, designou-se Distrito de Paz, e só em 1898 é que foi elevada a Município, pertencente à Comarca de Araraquara.

Além de se tornar a figura mais importante no cenário político da época, e muito respeitado, ainda se tornara o farmacêutico mais procurado. Pessoas de todos os arredores vinham procurar pela sua orientação e remédios preparados por suas mãos. Essa “Boti-ca”, como era chamada na época, localizava-se à Rua do Comércio, Bairro da Pedreira, em frente ao “Juca Barbeiro”.

E esse foi o local, onde Cairbar e dona Mari-quinhas fixaram seu lar “ninho de paz e amor”, pois uma singela casa fora construída atrás da farmácia, para facilitar o trabalho de Cairbar.

Leopoldo Machado, grande autor literato e filó-sofo, onde também foi emérito divulgador da Doutri-na Espírita, escreveu em sua obra “Uma Grande Vida”, de 1952 sobre o político Cairbar:

“Cairbar Schutel não era considerado um político comum do sertão, autoritário, vaidoso e monopoli-zador de poder, mas um homem público totalmente voltado à causa pública e aos interesses maiores de sua gente. Mais tarde, portanto, Matão perderia o homem político, para ganhar o benfeitor, um Após-tolo do Cristo”.

Isto, porque algo diferente começou a inquietar Cairbar. Durante algum tempo, ele passou a sonhar constantemente com seus pais. Principalmente com seu pai. O senhor Anthero lhe contava fatos que eram de causar muita estranheza.

Sem saber como agir procurou seu amigo, o padre

Vista atual da Rua 1º de Março, Rio de Janeiro - RJ, ondeCairbar Schutel trabalhou numa farmácia.

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7Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

Cezarino. Este, apreensivo, recomendou-lhe rezar missa para os pais. Achava que esses acontecimen-tos, poderiam levá-lo à loucura.

Mas pouco adiantou, pelo contrário, pois os fatos foram tomando vulto. Cairbar, mesmo sem dormir, divisava o pai a gesticular, e a dizer-lhe coisas que ele não conseguia entender.

E no início do ano de 1906, resolveu procurar a pessoa de Quintiliano José Alves, onde soubera que este e o senhor Calixto Prado, eram espíritas e cos-tumavam realizar sessões espíritas.

Diante da fé católica que professava e os acon-tecimentos, embora titubiante, ouviu o que o senhor Quintiliano lhe disse:

— Na verdade, costumávamos fazer essas ses-sões, mas já há algum tempo deixamos de realizá-las, porque espíritos de conhecimentos inferiores, começaram a introduzirem-se em nossas reuniões, causando muita confusão entre os médiuns e os par-ticipantes. Pensando que algo de errado deveria estar se passando, e sem muito conhecimento doutrinário, resolvemos parar com as reuniões.

Cairbar querendo entender mais sobre o assunto, insistiu para que reiniciassem, e quem sabe teriam alguma solução!

Novamente retornaram as reuniões, mas usando a sessão de tiptologia (linguagem através de pancadas enumeradas pelo alfabeto) pelo fato de Cairbar ter ouvido algo a respeito. Porém, por falta de conheci-mentos doutrinários, as perguntas feitas aos espíritos eram banais e, conseqüentemente, as respostas eram as mais desbaratadas possíveis. Cairbar, então, pas-sou a exigir a presença de espíritos, onde o assunto fosse mais interessante.

Começaram a comunicar-se espíritos em grande sofrimento, e sempre com os mesmos pedidos, que rezassem missas para eles melhorarem.

Isto começou a ficar pesado para os bolsos dos par-ticipantes, e Cairbar já mais atento, resolveu analisar

a questão, e falou aos companheiros que algo havia de errado. Os outros pouco sabiam do assunto, pois não tinham onde procurar maiores conhecimentos, pelo fato de que as comunicações mediúnicas ainda serem raras. Cairbar saiu à procura dos esclareci-mentos necessários. Ele queria e precisava entender. Algo havia em seu interior que o inquietava, e muito. Precisava realizar alguma coisa, mas o quê? Os sonhos persistiam, já com visões até mesmo acor-dado. Teria ele que encontrar o caminho certo.

Cairbar lembrou-se de um seu amigo, que era caixeiro-viajante e morador em Itápolis. Foi pro-curá-lo, e contou-lhe os acontecimentos. Ele poderia elucidá-lo, pois era muito estudioso no assunto.

O amigo João P. Rosa e Silva, após ouvi-lo, entre-ga-lhe um exemplar de O Reformador, dizendo-lhe:

— É o que posso lhe arrumar. Creio que aí você poderá encontrar alguma obra que lhe interesse.

Ele lê a revista durante a noite toda. Quantas lições!

No dia seguinte, pede pelo Correio que lhe seja enviada as obras da Codificação Kardequiana e o livro “Estudos Filosóficos” de Bezerra de Menezes.

Chegada as encomendas, Cairbar estuda-as du-rante um mês. Os ensinamentos envolve-lhe a alma, e chega a finalmente compreender a Doutrina dos Espíritos. Ele agora iria começar a sua verdadeira vinda à Terra! Cairbar, o Espírita! Mais tarde seria chamado por todos “O Pai dos Pobres de Matão”.

Na verdade, ele sentiu reacender a chama nessa reencarnação. Pois os ensinamentos cristãos já habita-vam seu espírito. Fora apenas o tempo necessário para o seu despertar, na continuidade de sua missão na Terra.

O Livro dos Espíritos deu a Cairbar a certeza da continuidade da vida, pela lei da reencarnação. Entendeu as comunicações espíritas, através dos médiuns e as experimentações de tiptologia. E o Evangelho, tocou seu coração com as lições do Mestre Jesus.

Portanto, o caminho agora era outro. Precisaria desbravar os sertões, onde o materialismo era a cau-sa principal da vida, e mostrar que haviam fatores mais sérios para serem desvendados.

Para esse grandioso trabalho, Schutel precisaria de um local determinado, para reunir pessoas e começar a praticar a tarefa.

De início, ele faz de uma sala de sua própria casa a primeira reunião, para fundar o Centro Espírita “Amantes da Pobreza”. Com certeza, o primeiro a ser fundado no interior de São Paulo.

E a ata dessa fundação, datava a 15 de julho de 1905, ano em que suas dúvidas tivera início. Para tanto, muitos dos amigos que também comunga-vam o mesmo ideal, estavam presentes como: João Pereira da Silva, Manuel Bittencourt, Agripino Martins, Quintiliano José Alves, Calixto Nunes de Oliveira e as senhoras Justina Alexandrina Pereira Silva, Maria Gertrudes de Souza, Hortência de Cam-pos Bueno, Maria Elvira da Silva Schutel (esposa) e

Vista atual da Estação Ferroviária D. Pedro II, Rio de Janeiro - RJ, de onde partiu Cairbar Schutel para Araraquara.

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muitos outros.Todos ali se propuseram a desempenhar as tare-

fas renovadoras, levando aos corações dos neces-sitados, todo e qualquer favorecimento que o Alto enviasse, desde a parte material, mas principalmente o Evangelho. Este seria primordial. Para tanto, desde aquele minuto, Schutel, designou uma equipe com-posta principalmente das senhoras presentes, tendo à frente sua esposa, dona Mariquinhas, para que visi-tassem os lares mais carentes, levando não só o es-sencial para reter a fome, mas principalmente o pão espiritual.

Todos aplaudiram a idéia de Schutel, que deu àquela equipe iniciante, o caminho da luz, regido pelo Plano Espiritual Superior.

Aos poucos, o ideal de Cairbar começava a ser di-vulgado. Até que se juntou a eles, vindos da Federa-ção Espírita Brasileira, e trazendo um ofício desta entidade, parabenizando-o pela divulgação do Evan-gelho, muitos companheiros de ideal. Entre estes es-tavam Pedro Richard, Batuíra e Vieira de Macedo, que não só faziam palestras ilustres, como ajudaram com seus serviços prestados aos enfermos, com en-trega de medicamentos homeopáticos, aliás muito utilizados por Cairbar, que aprendera a manipulá-los.

As lutas de Schutel, como sempre aconteceu aos grandes pioneiros, não poderiam ser diferentes. Di-famações, calúnias, polêmicas e críticas destruti-vas. Maledicências espalhavam-se, trazendo muito desconforto ao Centro Espírita “Amantes da Pobre-za”. Mas, ele continuava firme em seus propósitos. Por vezes, ainda guardando os impulsos inferiores que fazem parte do ser reencarnado, com a finalidade de serem trabalhados, para alcançar-se o controle das emoções mais fortes, foi ele visitado, certa vez, para que fosse testado na sua fé e na serenidade, diante de fatos irritantes aos ser humano.

Matão, naquela época, como qualquer cidade in-teriorana, era pequena, quase um sítio em grandes áreas, portanto, profundamente católica. Seus pou-cos habitantes eram, por assim dizer, mandados em sua fé pelo padre local, que era o padre João Batista Van Esse. Todos o temiam por sua violência, mas o queriam assim mesmo, para que pudessem se con-frontar com os espíritas. Auxiliados pelas idéias do padre, queriam expulsar Cairbar e seus aliados do local. Imaginaram incendiar desde a farmácia até a

casa, para destruir com esse ato perverso o Centro Espírita “Amantes da Pobreza”.

O subdelegado local, o senhor Otávio Mendes, não só por ser amigo e simpatizante do movimento espírita, dirigido por Schutel, resolveu avisá-lo dos atos que só Deus saberia que rumo tomaria, se al-guém não pusesse fim a esse conflito.

Sabedor disto, Schutel, comunicou ao subdelega-do que, como autoridade policial da Comarca, que tomasse as providências, pois ele iria abrir o Centro como sempre, e os trabalhos seriam normais.

O cuidado de Schutel foi enviar telegramas para o Governador do Estado, o Chefe de Polícia e para o Comandante da 2ª Região Militar, dando informes sobre o que se passava em Matão.

Isto, porque o Centro não era clandestino, tinha alvará de abertura correta e dignamente transcrito, como a lei exigia. Portanto, que fossem tomadas me-didas urgentes, caso houvesse algo mais sério, como estavam programando.

Pensando nos acontecimentos, Schutel abriu o Centro como sempre, e só não permitiu que as senhoras e as crianças entrassem. Só os homens permaneceriam, pois ele já havia combinado como seria o contra-ataque; se necessário fosse, quando ele desse um sinal com as mãos, todos se jogariam ao chão.

Abriram-se as janelas, portas da frente e laterais e, após a prece inicial, Schutel começou a comentar o Evangelho. Falava o mais alto possível. Parecia que muitos microfones estavam ligados, e sua voz se propalava pelas ruas próximas.

Logo após, ouviu-se as vozes do pessoal que realiza-vam a procissão. Cantos e as ladainhas proferidas pe-los fiéis comandados pelo Padre Van Esse. Sob suas vestes escondiam pedaços de paus, porretes, pedras etc. Imaginem, tudo em nome de Deus! Pensavam com isto, expulsar os demônios e seus seguidores “que estavam tomando conta do local”.

Quando chegaram em frente do Centro, começaram a gritar, proferir impropérios, levantavam as “ar-mas” escondidas, em grandes ameaças de entrarem no Centro e baterem em todos os que ali estavam “possuídos pelo demônio”, cujo alvo principal era Schutel, por ser ele o chefe.

Nisto, indignado por tanto barulho e confusão, um advogado, vizinho do Centro, sobe num muro próximo e naturalmente, ajudado pelo Alto, começa a gritar que parassem com tamanha falta de respeito. A esposa dele acabara de dar a luz, e não estava pas-sando bem, assim como seu filhinho. Estava muito difícil para a parteira concretizar os trabalhos do difícil parto, com tanta gritaria. Dirigindo-se ao pa-dre, descendo do muro, pois já agora o barulho era menor, falou:

— Se algo grave acontecer à minha esposa ou ao meu filhinho, o senhor e essa turba enlouqueci-da serão responsáveis. E ainda lembrou ao padre o desrespeito contra a Constituição de 24 de fevereiro de 1891, que punia severamente aquele que fosse

Foto dafarmácia onde Cairbar Schutel trabalhou logo que chegou em Araraquara, SP.

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9Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

contrário à Lei do Silêncio, e que incomodasse o ci-dadão.

Dizia ainda que, não estava ali como defensor de Schutel, pois ele não havia solicitado seus préstimos, mas defendia o direito de liberdade de expressão e de religião, segundo a Lei dos homens, a qualquer cidadão.

Falava com tanta firmeza, que o povo com medo das ameaças de serem presos, começaram a correr, a empurrarem uns aos outros para não serem pegos em flagrante, como ameaçava o advogado, caso a polí-cia fosse acionada. O Padre Van Esse, embora ten-tasse acalmar a turba, teve sua batina rasgada, pois quando viu que a situação estava grave, quis fugir pela cerca de arame farpado, e ficou todo enroscado, demorando-se para soltar-se. Quase volta à igreja, sem roupas.

Enquanto isso, Schutel prosseguia sua preleção, junto dos adeptos da doutrina, sem praticamente ou-virem as confusões da rua.

Soube ele dos acontecimentos no dia seguinte. Mas nem por isso, deixou de ouvir as palavras, como sempre sábias do Plano Espiritual que em se mani-festando chamou duramente a atenção de Schutel, como orientador da Instituição, dizendo:

— Cairbar, que fé você diz professar? Onde os acontecimentos terrenos, com matizes de violência, serem providências ao Bem? Estávamos atentos, dando toda proteção à vocês! Quando Cairbar, que você vai aprender a ter fé em seus guardiães?

Cairbar chorava profundamente arrependido, por ter incentivado os companheiros a revidarem tam-bém com violência, caso fossem atacados. O sinal de alarme combinado por ele, era para que todos pe-gassem as armas escondidas, ao lado de cada um, en-quanto deitados no chão. Schutel pedia perdão, pois esquecera a passagem do Evangelho, que nos ensina que só o Amor constrói. Entendeu a lição, assim como todos os companheiros, que se propuseram a repensar no caso e propalar a paz, em qualquer cir-cunstância.

O Padre Van Esse foi transferido após o acon-tecimento. Antes de deixar Araraquara, teve um ato digno. Foi até Matão despedir-se de Schutel. Dis-sera ele estar ali para abraçá-lo, pois compreendera a atitude infantil de ambas as partes, ao qual Schutel respondeu:

— Penso que a Verdade está comigo, mas creia não haverá ressentimentos, pois o espírita deve per-doar sempre.

O Padre Esse não deixou por menos e completa:— Perdoemo-nos uns aos outros. Todos erramos.

Mas quero partir de Matão levando bons pensamen-tos.

Finalmente abraçaram-se sem as farpas do orgulho, que os instigava para desavenças. Os espíritos que acompanhavam a cena, respiraram aliviados.

Desta forma, Schutel sempre foi atacado pelos jornais e por cartas. Ele procurava com clareza, ser firme nas respostas, mas com as lições de testemunho

que era obrigado a dar, aprendera a ser calmo e pa-ciente. As polêmicas vindas de outros credos, se faziam persistentes pelos seus líderes católicos, protes-tantes, evangélicos etc, em praça pública com alto-falantes potentes, procurando ridicularizar Cairbar por uma fé digna de “loucos”. Com isto, vieram muitos livros escritos por ele como: Imortalidade da Alma, O Diabo e a Igreja e Carta a Esmo. Muitos artigos em jornais da Capital e pelo interior de São Paulo. Fazia-se presente em palestras ilustrativas, por onde fosse chamado.

Isto fez com que a Doutrina tivesse sua pureza, e passasse a ser conhecida por milhares de pessoas.

Com o decorrer do tempo, e cada vez mais em-penhado em divulgar a doutrina, Schutel achou que chegara a hora de ter um jornal próprio. Todos comun-garam seu ideal. Os espíritas, já em número maior, aderiram à idéia. Que nome teria esse periódico?

Todos acharam por bem chamá-lo de “O Clarim”, pois ele seria o som que deveria repercutir em al-tos brados, a profissão de fé espiritual, que cada ser

reencarnado deveria ouvir, fosse onde fosse, levado pelas vozes que o lessem.

No início, foi difícil o povo de Matão ter o jor-nal “O Clarim” em mãos. Muitos, levados por idéias pré-concebidas, orientados pelos fanáticos religio-sos, queimavam-no, e para que todos vissem isto, era feito no meio da rua e com aclamações ruidosas de caráter ofensivo à Doutrina. Mas Schutel não se deixou abater, e até hoje “O Clarim” circula em to-dos os lugares.

O movimento espírita em Matão continuou. Schutel chegava ao ponto de levar os doentes, enfer-mos do corpo ou do espírito, para sua própria casa, para atendê-los mais de perto. Desdobrava-se nas tarefas. Pouco dormia, pois a farmácia e a gráfica tomavam mais ainda o seu tempo, tão precioso na Terra.

Desenvolveu ele as faculdades de psicofonia, psi-cografia, vidência, audiência e a mediunidade de cu-ras.

Prédio antigo, onde nasceu a Casa Editora O Clarim,na cidade de Matão, SP (foto de 1924).

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Foi um esposo amoroso e respeitoso, pois Dona Mariquinhas era portadora de uma doença de pele, que diziam os médicos terrenos ser lúpus ou han-seníase. Mas o Dr. Agripino Dantas Martins, com os exames rigorosos a que ela fez, constatou que não, sem portanto, chegar-se a algum termo final.

Isto levou Schutel a escrever para outra grande personalidade mediúnica, Eurípedes de Barsanulfo, com o fim de saber o que fazer, pois os amigos es-pirituais deram-lhe esta sugestão.

Eurípedes prontificou-se no auxílio à distância, marcando horário para que ambos recebessem o am-paro do Alto, a benefício de Dona Mariquinhas. Essa doença, sem causa definida no mundo físico, durou quarenta anos. Schutel sempre esteve ao seu lado, apoiando-a nos momentos difíceis, principalmente no final, quando as dores eram intensas, e ela ficava toda inchada, com a pele ralada e vermelha.

Mas ela também continuava, embora doente, a in-centivá-lo no trabalho da doutrina. Pedia também às senhoras que não descuidassem da assistência, do Evangelho no Lar e do encaminhamento das crian-ças na escola. De resto, dona Mariquinhas a tudo supor-tava com resignação. Esta ela adquiriu quando abraçou a Doutrina, ao lado do marido. Compreendeu que era sua prova, portanto, hora do tes-temunho perante Deus.

Os trabalhos de benemerên-cia continuavam. Schutel era auxiliado pela sua filha ado-tiva, Benedita Silvério. En-quanto dona Mariquinhas podia, ambas dividiam as tarefas de atender a todas as famílias que batiam à porta, em busca de alimento, roupa e calçados. Além de servirem o almoço e o jantar, a quem precisasse.

Diziam as pessoas que o Sr. Schutel era muito bravo, mas tinha um coração de ouro. O que ele era na verdade, era o disciplinador, aquele que não admi-tia desordens. Hora da prece, era a hora sagrada e de respeito, exigia de velhos, crianças, fosse quem fosse. Não admitia conversação em altos tons, e nem mesmo empurra-empurra. Tudo era muito bem con-trolado.

Três eram as datas comemoradas no Centro Es-pírita “Amantes da Pobreza”: Finados, para que fosse divulgada a continuidade da vida e não da morte; a Páscoa, por ser a entrada do inverno, onde eram en-tregues agasalhos e cobertores, mas antes a explica-ção dessa comemoração, que nada significa para a Doutrina, e o Natal. Aí sim a festa era maior. Todo o povo de Matão, por este acontecimento, esque-ciam as rixas e ajudavam, com doces, mantimentos e brinquedos e, principalmente, todos que vinham para ajudar nos festejos, assistiam as palavras de Schutel,

lembrando o Cristo pela sua passagem no mundo físi-co. Diziam que, embora o grande número de pessoas que se aglomeravam para ouvi-lo, nenhum barulho incomodava, pois até o vôo de um inseto perturbava, tanto era o silêncio e o respeito do momento.

O tempo passa célere, e com isto, Matão foi se desenvolvendo. Com o aumento do povo, que com vagar foram chegando e erguendo suas casas, com os sitiantes crescendo em suas lavouras, sentiu Cairbar que a cidade tendo avançado em seu progresso, ne-cessitava de um hospital. Surgiu a idéia de que todos os que freqüentavam o Centro e o povo em geral, ajudassem na campanha da fundação desse hospital.

O Doutor Agripino Dantas Martins sabia dessa ne-cessidade, pois fora a farmácia, o atendimento dele e o de Schutel, não havia mais nada. Precisava-se recorrer a São Paulo ou a Araraquara nos casos mais urgentes. Portanto, com todo empenho, liderados por Schutel, surgiu o “Hospital da Caridade”.

E no dia 2 de março de 1912, o jornal “O Clarim”, noticia sua inauguração. Foi grande o contentamento

da população.Outro fato interes-

sante ocorrido na vida de Cairbar Schutel, foi pelo ano de 1913, pre-cisamente em novembro. Já salientamos que uma das épocas que Cairbar gostava de mencionar em suas palestras, era o Finados. Isto, porque ele achava que as pes-soas precisavam saber que a Doutrina, levava consolo aos corações dos parentes que passa-vam por esse momento tão difícil de superar, a

separação causada pela morte. Era necessário falar sobre a existência do espírito após a morte.

Nesse ano, portanto, alegre por ver o “Hospital da Caridade” funcionando plenamente, ele resolve tirar uma edição extra do “O Clarim”, expondo a data de Finados. Fora uma tiragem de 40.000 exemplares, que foram enviados a todos os cantos. O próprio Cairbar foi aos cemitérios e adjacências para distribuí-los. Porém, qual não foi a surpre-sa de Cairbar receber um telegrama do delegado Dr. Rudge Ramos, de São Paulo, proibindo termi-nantemente a distribuição do jornal, nos cemitérios do “Araçá” e da “Consolação”. Foram apreendidos muitos exemplares, e Cairbar foi ameaçado de ir para a prisão, caso insistisse. Mesmo assim, foram dis-tribuídos mais de 1.500 exemplares. Mesmo aqueles que eram jogados ao chão, sempre alguém pegava, portanto, quase nenhum fora perdido.

Mas o fato foi amplamente divulgado, e todos os jornais de todos os estados do Brasil, se manifesta-ram formando uma corrente de protestos contra o tal

Cairbar Schutel ao volante de seu Ford,em 25 de outubro de 1931.

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11Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

delegado, Dr. Rudge Ramos. O jornal “Correio da Manhã”, de São Paulo, fez

uma grande matéria intitulada: “Atentado à Impren-sa”. Entre outras coisas, o repórter pergunta: “Onde achou esse Delegado a base para tal proibição? Será que o Chefe de Polícia tomou conhecimento desse absurdo? Pois isso é ilícito, contra os princípios constitucionais, depondo também contrário aos po-deres policiais de São Paulo, portanto, não deve ficar impune, restando ao Dr. Secretário de Justiça e Se-gurança Pública, tomar as devidas providências.

A avalanche de cartas vindas de todas as cidades do interior, de todos os estados, também fizeram com que o assunto não fosse esquecido, pois durante me-ses as publicações em todos os jornais, foram imen-sas, tornando-se recorde de vendagem. Dessa forma, a Doutrina ganhou novos adeptos e muitos outros “Centros Espíritas” apareceram, levando luz aos que procuravam esclarecimentos evangélicos.

Em julho de 1914, Schutel, passou a fazer o Evangelho na Cadeia Pública de Matão. Com isto, os presos recebiam passes também. Os policiais passaram a notar que após, os presos ficavam mais calmos, e menos agressivos uns com os outros. Quando havia algum sinal de rebelião, os policiais imediatamente pediam socorro a Schutel.

Essas visitas passaram a ser feitas, também, na Cadeia de Araraquara. Por ser maior, os presos iam para um salão, onde Schutel lia e comentava o Evangelho, levando muitos presidiários a emociona-rem-se, e pedirem perdão pelos crimes cometidos. Grande era a fluidificação sentida, saída do coração de Eurípedes Barsanulfo, orientador desse trabalho em desdobramento, desenvolvido por Cairbar.

Numa dessas vezes, alguém tirando uma foto à hora do passe, ao revelar-se a fotografia, via-se duas mãos erguidas ao Alto, num sinal de bênçãos vindas do céu.

As curas, por intermédio de Cairbar, foram sem

precedentes. De todas as partes chegavam doentes de lugares longínquos, trazendo a fé inabalável no coração. Cairbar atendia pacientemente, agradecen-do a Jesus a oportunidade de continuar sendo útil.

Mas na divulgação da Doutrina, Cairbar acalen-tava outro sonho. Queria editar uma revista. Esta de-veria ter um caráter mais profundo. Deveria abordar temas que servissem para estudos de medicina, de fi-losofia e da ciência em geral. Era necessário traduzir temas da La Revue Spirite, Vie D’Outre Tombe, City Nerris, Luce e Ombra, The Two Worlds, Ghost Stories, Psychic Science, La Tribuna de Genéve etc. Eram pesquisadores e escritores como Sir Oliver Lodge, Sir Arthur Conan Doyle, Ernesto Bozzano, Camille Flamarion, entre tantos outros, que conhe-ciam a doutrina profundamente. Cairbar sonhava em traduzir esses artigos, e trazê-los editados nessa re-vista. Possivelmente chamar-se-ia “Revista Interna-cional do Espiritismo (RIE)”.

Cairbar contava com a grande amizade e com-preensão de seu amigo Luiz Carlos Oliveira Borges, morador em Dourados, estado do Mato Grosso do Sul, que vindo a Matão visitá-lo, soube de seu ideal, mais um feito na publicação dessa revista, para benefi-ciar e propagar a Doutrina. Luiz Carlos apaixonou-se pela idéia, e ajudou Cairbar em tornar esse sonho em realidade.

A Revista Internacional do Espiritismo circula até hoje. Ela teve muitos adeptos, já na pátria espiritual, que em vida física ajudaram em seu desenvolvimen-to, como até agora, Espíritos como: Ismael Gomes Braga, Militão Pacheco, dona Maria Elisa Oliveira Borges (esposa do senhor Luiz Carlos), entre outros.

Schutel procurava sempre trocar correspondên-cias com Eurípedes e Chico Xavier, a respeito das publicações do jornal “O Clarim”, e com o lança-mento da Revista Internacional. Ambos respondiam, ajudando-o no que fosse possível.

Chico conta que teve a oportunidade de conhecer Schutel, ainda no plano físico, uma única vez. Isto porque fora ele, Chico, convidado a comparecer numa semana espírita que se realizaria em São Pau-lo. Diz ainda o médium, que nunca tendo saído, até então, de Pedro Leopoldo, cidade onde morava e tra-balhava, no Ministério da Agricultura, pensava ser São Paulo ali mesmo.

Saiu só com a roupa do corpo, não imaginava que a viagem duraria trinta e seis horas. Chegou no dia seguinte! Mas com muita dificuldade, pode chegar ao referido local e lá conheceu Cairbar Schutel. Após as apresentações e entendimentos fraternos, Schutel convidou Chico a acompanhá-lo à casa de seu grande amigo, Luiz Carlos Borges, pois a esposa estava muito mal, e este havia lhe solicitado a pre-sença para ministrar-lhe um passe. Chico o acom-panha, e acha a casa triste e fria. Oram, porém, não puderam adentrar ao quarto da enferma, pelo mo-mento de precariedade do seu estado.

Chico lembrou-se desse fato com muita emoção, e contou que após esse fato ele só retornou a ver Cair-

O jornal “O Clarim”, foi fundado por

Cairbar Schutel em 15 de Agosto de 1905, editado

até os dias de hoje, sendo

um importante órgão de divul-

gação da doutri-na espírita.

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bar através das psicografi as que recebeu dele, após seu desencarne e também por volta de 1975, numa sessão de materialização, com a médium Dona Hilda Odilon Negrão, que Chico compareceu e pode con-versar com Schutel, pelo fenômeno da voz direta.

Schutel agradecia a Chico, pelo carinho e falava de seu agradecimento a Deus, por ter tido em dona Mariquinhas, o apoio e a alma de sua tarefa, e por ter sido a esposa compreensiva e amiga em todas as horas.

Cairbar já estava beirando os seus quase seten-ta anos nesta reencarnação. Seu corpo estava demonstrando os desgastes naturais, tendo sido uma vida tão intensamente vivida. Seu coração mostrava-se cansado.

As lutas foram muitas e dolorosas. Mas ele hou-vera sido um dos “muitos a ser chamados e um dos poucos escolhidos”. Mas ele já havia provado “a que viera”.

E mais ou menos lá pelo dia 13 de janeiro de 1938, seu estado de saúde complicou-se. As dores no peito o impediam da dar a continuidade às tare-fas. Sentia ele o fi m próximo. Não podia nem fi car deitado, apenas recostado entre travesseiros, numa cadeira de vime.

Dona Antoninha Perche, leal amiga do casal, era a quem Schutel transferira as ocupações da casa, após a partida de sua venerável esposa. Dona Antoninha dividia as tarefas com sua irmã Zelia, porém, quando as dores se tornavam mais fortes no peito de Schutel, ela era a quem Schutel havia ensinado a aplicação da injeção, indicada pelo Dr. Agripino Dantas Martins. Este o acompanhou até as últimas horas. Dois dias antes de seu desencarne, Schutel pediu à sua amiga, Antoninha, para aproximar-se, pois ele já não con-seguia falar claro e alto. Dona Antoninha colocou o ouvido bem perto, e Schutel muito tímido disse:

— Minha amiga, não pense que estou delirante ou fora de juízo, mas vi Jesus! Não conte a ninguém, mas estava em preces fazendo um retrospecto da minha vida, e pedia perdão pelas horas perdidas, e pelo muito que deixei de realizar pelo meu incontro-lado orgulho. Quando eu O vi. Aproximou-se e me consolou. E Schutel chorava convulsivamente, junto com dona Antoninha que o abraçava, como mãe en-volvendo o fi lho, naquela hora tão resplendente de luz.

E no dia 30 de janeiro de 1938, deixava a Terra esse grande batalhador da Doutrina Espírita. Partira o Apóstolo dos Pobres de Matão.

Grande foi a comoção. A notícia espalhou-se rá-

pida e seu cortejo, foi um dos maiores, dizem que, até então, o maior féretro teria sido de José de An-chieta, o “Apóstolo da Caridade”, mas o de Schutel, por ter se mantido fi rme em seus propósitos, e sem-pre enérgico em suas atitudes doutrinárias, ganhara o respeito de toda Matão e adjacência. Foi muito homenageado em todos os cantos como “O Bandei-rante do Espiritismo”.

Com todo conhecimento, a vida dedicada à Doutrina, e pelas experiências adquiridas, Cairbar no mesmo dia do desligamento do plano físico, usou da mediunidade de seu amigo e seguidor fi el nas tare-fas, o senhor Urbano, e falou aos que ali estavam em seu quarto, nas últimas horas de vida. Combinavam o local e o túmulo de Cairbar, quando este usando da mediunidade obtemperou, espantando a todos:

— Amigos, preciso falar o que sinto neste mo-mento. Ainda há pouco, vocês conversavam sobre como seria meu túmulo, que querem erguer para mim. Porém, embora agradecido, peço-lhes não fazer isso. Por quê túmulo? O espírita não precisa disso. Se puderem, façam uma simples lápide com os dizeres:

“Cairbar Schutel! Vivi, Vivo e Viverei porque sou imortal”.

Todos comoveram-se e não duvidaram, pois real-mente era Schutel que exprimia sua última vontade. E assim foi feito.

Cairbar continuou a nos enviar muitas mensagens através da psicografi a do médium Chico Xavier, con-tida em vários livros como: Luz no Lar, Seareiros de Volta e muitos outros.

Eloisa

Com todo conhecimento, a vida dedicada à Com todo conhecimento, a vida dedicada à

A “RevistaInternacional de Espiritismo”, foi fundada porCairbar Schutel em 15 de Fevereiro de 1925, editada até os dias de hoje, sendo dedicada aos estudos anímicos e espíritas.

Bibliografi a:

* Grandes Espíritas do Brasil, Zêus Wantuil, FEB, 1ª edição, 1969* O Bandeirante do Espiritismo, Eduardo Carvalho Monteiro e Wilson Garcia, O Clarim, 1ª edição, 1986* Cairbar Schutel na Intimidade, Sérgio Lourenço, Luz no Lar, 1ª edição, 1989* O Clarim, de 13.06.1914.

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13Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

cantinho do verso em prosaCantinho do Verso em Prosa

Finados!... Feliz do mortoQue encontra, pensando em casa,

Uma oração de esperança À beira da cova rasa

Trova recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier,em 02.11.63, pelo espírito de Isolino Leal, em Uberaba, na Comunhão Espírita Cristã,Reformador, FEB, 1964.Finados

Finados, para a Terra, é o dia em que homenagea-mos o “Dia dos Mortos”. Quando, para o mundo es-piritual, é o signifi cado da liberdade do Espírito. Des-prendimento da carne do corpo físico.

Se pudéssemos compreender, dessa forma, a Lei de Amor, a Lei mais perfeita vindo de Deus, pelo teste-munho do Mestre Jesus, quanto em bênçãos levaría-mos aos corações dos entes queridos que partem.

Toda essa situação, conforme se apresenta, deveria ser interpretada pelos que fi cam, parentes ou amigos, como uma breve separação. A prece é a única oferen-da aliada às lições contidas no O Evangelho segundo o Espiritismo, que traz conforto e a sensação da paz interior.

Deveríamos procurar entender, que a Misericórdia de Deus, une as criaturas no bálsamo santifi cante do núcleo familiar, para que os resgates se cumpram de maneira mais branda.

O reconhecimento e a gratidão devem se fazer

presentes na hora defi nitiva da partida, para que essa transição, seja acompanhada pelos prepostos de Je-sus. Nesse ambiente, com o controle das emoções naturais do momento, poderá o ente amado ter o envolvimento fl uídico de um “fi nal feliz”, pois não houveram queixas, cobranças, revoltas...

Apenas a dor da saudade!As lágrimas misturam-se com a esperança do “novo

porvir”, mas antes, as mentes que encarnadas evocam a presença dos bons espíritos, podem entrelaçar-se com as vibrações de sublimes vozes, que aromatizam o ambiente com fl ores feitas de Amor!

Elielce

livro em focoLivro em Foco

Conhecer o pensamento do maior responsável humano pelo surgimento do Es-piritismo entre os homens é um privilégio de elevado apetite intelectual, que todo espírita sincero e dedicado deveria saborear. Obras Póstumas, editada pela primeira vez em Paris em 1890, reúne importantes textos que o Codifi cador deixou, quer de caráter teórico sobre diversos assuntos, quer sobre fatos relativos às suas atividades espíritas. Nele encontramos o discurso de Camille Flammarion, pronunciado junto ao túmulo de Kardec, por ocasião de seu desencarne, relatando características de sua per-sonalidade como incisiva, concisa, profunda, que sabia agradar e se fazer compreen-dido, numa linguagem ao mesmo tempo simples e elevada. O livro apresenta também valiosas contribuições sobre temas considerados fundamentais do Espiritismo, como: Deus, a alma, a criação, o perispírito, manifestações visuais, conhecimento do fu-turo, estudos sobre a natureza do Cristo sob vários ângulos e incorpora a este estudo a opinião dos apóstolos e a predição dos profetas, com relação a Jesus. Pierre-Gaétan Leymarie, organizador e editor da obra, incorporou no livro, textos que Kardec deixara registrado de suas experiências pessoais, como sua missão, seu Guia espiritual, etc., apresentando inclusive o que ele chamou de “Constituição do Espiritismo” com a exposição de motivos.

Portanto, uma leitura imprescindível a todos que queiram um maior entendimento da Codifi cação Kardequiana e dos ensinamentos do Cristo.

Obras Póstumas Obras Póstumas Allan Kardec397 páginas

FEB

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familiaFamília

No mês de novembro, temos uma data lembrada por todos. É o dia de finados, aonde muitas pessoas vão até aos cemitérios para “lembrar e homenagear” os seus fa-miliares que estão “mortos”.

Somos muitas vezes, levados a ter este hábito, sem nem ao menos refletir sobre os ensinamentos de Jesus à luz da Doutrina Espírita, sobre este assunto

Sabemos que os nossos familiares não morreram. Es-tão mais vivos do que nunca!

Muitas vezes estão ao nosso lado, em nossa própria residência e nem nos apercebemos disso ou, às vezes, temos aquela impressão de que aquele familiar desen-carnado estava conosco em determinado momento. Se-gundo Emmanuel, “eles te vêem e te escutam! Quanto possível, seguem-te os passos compartilhando-te problemas e aflições!”

Aliás, usamos o termo desencarnado pois é mais coerente com a situação, afinal não morremos e sim “perdemos a carne” ou em melhores termos, deixamos o corpo físico que não terá mais vida orgânica, mas o espírito continuará com as suas faculdades normais.

Não nos falou o Mestre Jesus que somos espíritos eternos?!

Quem poderá discordar de um ensinamento vindo da boca de Jesus?

A pergunta 153 de “O Livro dos Espíritos” nos ex-plica:

“Em que sentido se deve entender a vida eterna? A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é tran-

sitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma re-toma a vida eterna.”

Jesus não falou com os espíritos de Elias e de Moisés

no Monte Tabor?Se o espírito morre, como Jesus teria falado com

aqueles dois personagens conhecidos de todos?O próprio Cristo não veio, após à crucificação, falar

com os díscipulos?Todas estas perguntas encontram respaldo para a res-

posta no atributo na imortalidade do espírito.Se de tal forma Jesus nos ensinou, o que vamos fazer

no cemitério?Este hábito vem da incapacidade das pessoas em

acreditar na força que há no pensamento. Não precisaría-mos ir até um determinado local para homenagear ou lembrar de um ente querido que tenha desencarnado. É só elevar o pensamento a Deus e pedir que aben-çoe aquele que desencarnou. E isto pode ser feito em qualquer lugar, dia ou hora.

Talvez seria recomendável que aproveitássemos o Culto do Evangelho no Lar, aonde possamos reunir os familiares, para fazermos uma oração em conjunto por aquele que desencarnou.

Se ele estiver em condições espirituais de vir até o local aonde está sendo realizado o Culto do Evangelho no Lar, ele ali estará.

Caso ele não tenha esta condição, receberá as vibra-ções que sejam emitidas no momento da reunião.

Conforme nos ensina Emmanuel, “deixa que os cora-ções amados, hoje no Mais Além, te enxuguem as lágri-mas, inspirando-te ação e renovação, porque, no futuro, tê-los-ás a todos positivamente contigo nas alegrias do Novo Despertar.”

Wilson

Família no mundo dos espíritos

Livros básicos da doutrina espírita. Temos os 412 livros psicografados por Chico Xavier, romances de diversos au-

tores, revistas e jornais espíritas. Distribuição permanente de edificantes mensagens.

Venham nos visitar e ter acesso a todas essas obras.Praça Presidente Castelo Branco - Centro - Diadema - SP

Tel 4043-4500 com Roberto Horário de funcionamento: 8:00 às 19:30 horas

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Banca de Livros Espíritas“Joaquim Alves

(Jô)” Você poderá obter informações sobre o Es-piritismo, encontrar matérias sobre a Doutrina e tirar dúvidas sobre Espiritismo por e-mail. Poderá também comprar livros espíritas e ler o Seareiro eletrônico, além de poder se asso-ciar ao nosso Clube do Livro.

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15Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança

Fala-nos o Consolador: “no que tem de pior”. A crueldade é o que a criatura tem de pior. Traz den-tro de si a fúria, o ódio, que destrói tudo que vê pela frente.

Complementa ainda que, no primitivismo, ou seja, no desconhecimento das lições divinas, o instinto de preservação é maior, aguardando a cooperação dos povos mais desenvolvidos, para transmitir-lhes seus conhecimentos morais, e dessa forma enfraquecer tal instinto.

Alerta-nos ainda que estas criaturas que ainda tem o sentimento de crueldade, são aquelas árvores más, apesar das oportunidades constantes de poderem ser árvores boas, para darem bons frutos, mas que ainda não conseguiram entender o quão benéfi co seria a sua melhoria espiritual.

A princípio, imaginamos essa crueldade destruidora apenas nos romances e novelas, tão distantes de nossas vidas, no entanto, esse instinto ainda está dentro de nós, mesmo que não percebamos.

Tão recentemente pudemos tomar conhecimento de uma senhora, cuja profi ssão era de Acompanhante de Idosos, e no entanto, bateu até à morte numa senhora de 90 anos, de quem cuidava.

Destruiu com sua crueldade, não somente esta cria-tura, mas toda uma família que se viu aviltada em seus sentimentos mais nobres, permanecendo ali, marcas extremamente profundas.

Sentimo-nos imunes, mas com apenas uma pala-vra que dirijamos a outrem, poderemos ter a força de destruir não apenas uma pessoa, mas famílias, comuni-dades e até uma nação. Aí estão, diante de nossos olhos, guerras tão sangrentas que muitas vezes as encaramos, equivocadamente, como fatos corriqueiros e comuns...

É importante que saibamos que neste plano evo-lutivo a que nos encontramos, todos nós somos pos-

kardec em estudoKardec em Estudo

Crueldade e Destruiçãosuidores desse instinto, mas que de acordo com o nosso esforço espiritual, podemos estar ligados ao bem, o que faz com que se vá atenuando este instinto.

Acabamos tendo um verdadeiro verniz diante de todos, constrangidos em não expormos o que verda-deiramente somos e sentimos. Contrariados em nossas vontades e desejos, muitas vezes lançamos o veneno destruidor do ódio a tudo e a todos, mesmo que apenas em pensamento, mas que perante Deus, o compromisso é o mesmo.

A crueldade não é uma destruição que se dá ao chamado acaso. Ela se dá por nossa escolha. Os atos cruéis que damos vazão, acontecem por nossa própria vontade, e por falta do desenvolvimento do nosso sen-so moral. Este desenvolvimento se dará lentamente e, através do estudo constante do Evangelho, e pela práti-ca da caridade, se fará desabrochar sentimentos mais puros, sufocando os instintos que nos inspiram à cruel-dade.

Quando a maioria dos seres humanos compreen-derem esta necessidade de evolução, não mais teremos esse mal, e sim o Amor. Mas, para isso, ainda será ne-cessário que nos esforcemos a cada reencarnação, para que o aprimoramento destes nossos sentimentos se faça a passos mais largos.

Se a diminuição gradativa desse mau, se dará através de nosso crescimento moral, e como já somos possuidores de uma pequena luz do Evangelho do Cristo, através das lições já recebidas de espíritos tão magnânimos que nos auxiliam tanto, não percamos a oportunidade de levar à Jesus não só a nossa gratidão, mas também e principalmente as mãos no trabalho de auxílio aos nossos irmãos mais necessitados de esclare-cimento e de amor.

Jesus, obrigado mais uma vez.Elvira

O Livro dos Espíritos - Pergunta 752“Poder-se-á ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?

É o instinto de destruição no que tem de pior, porquanto, se, algumas vezes, adestruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo.

Ela resulta sempre de uma natureza má.”

Clube do Livro Espírita - “Joaquim Alves (Jô)”Receba mensalmente obras selecionadas de conformidade com os ensinamentos espíritas. Informe-se através

de telefone, e-mail ou correio. Caixa Postal, 42 - CEP 09910-970 - Diadema - SP(11) 4044-1563 (com Eloísa) - E-mail: [email protected]

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