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  • www.autoresespiritasclassicos.com

    Cairbar Schutel

    O Esprito do Cristianismo

    1930

    Thodore Rousseau

    A Paisagem

    Contedo resumido

    Volume complementar a "Parbolas e Ensinos de Jesus", oferece os tesouros da religio viva em

  • linguagem direta, de Esprito a Esprito, sem dogmas para se compreender o Esprito do Cristianismo.

    Sumario Prefcio Exposio Preliminar 1 - Exclusivos Intuitos de Jesus e seu Pensamento ntimo 2 - Incio da Misso de Jesus 3 - A Justia dos Escribas e Fariseus 4 - Jesus em Nazar 5 - A Pesca Maravilhosa 6 - As Bens-Aventuranas - Os Ais - A Nova Lei do Amor 7 - A Vocao de Levi - A Popularidade de Jesus 8 - A Questo do Jejum 9 - A Personalidade de Joo Batista - Aparncia e Realidade 10 - A Primeira Excurso Evanglica 11 - As Multiplicaes dos Pes 12 - O Maior no Reino dos Cus 13 - Jesus na Aldeia dos Samaritanos 14 - A Misso dos Setenta 15 - A Volta dos Setenta 16 - Orao Dominical - O Valor da Prece 17 - Os Laudatrios e a Observncia dos Mandamentos 18 - O Sinal de Jonas

  • 19 - Os Olhos e a Candeia 20 - A Luta contra os Fariseus 21 - A Grande Revoluo 22 - A Priso e o Inferno 23 - Seguir a Jesus 24 - O Castigo e o Milagre 25 - Ao Decisiva de Jesus 26 - Dificuldades e Obstculos 27 - A Vinda do Reino de Deus 28 - A Simplicidade de Esprito 29 - O Homem de Bem perante ao Mundo e o Homem de Bem Perante Deus 30 - Zaqueu, O Publicano 31 - Entrada triunfal em Jerusalm 32 - A Purificao do Templo 33 - A Autoridade do Batismo 34 - Os Dois Tributos 35 - Os Saduceus e a Ressurreio 36 - O Sinal de Superioridade 37 - As Tentaes de Pedro 38 - O Pacto da Traio 39 - As Duas Espadas 40 - Jesus em Getsmani 41 - A Negao de Pedro e o Cantar do Galo 42 - Os Dois Crucificados 43 - A Morte de Jesus 44 - Independncia e Submisso s Leis 45 - A Fuga para o Egito

  • 46 - A Naturalidade do Bem 47 - As Bodas de Can 48 - Andar no Mundo sem Ser do Mundo 49 - A Revolta dos Setenta e Dois 50 - Premonies - Avisos Profticos e Sonhos Premonitrios 51 - Previses de Jesus 52 - As Curas de Jesus 53 - O Leproso de Genesar 54 - A Cura da Sogra de Pedro e de Outros Doentes 55 - Os Possessos Cadarenos 56 - O Paraltico de Cafarnaum 57 - Ressurreio da Filha de Jairo 58 - O Homem de Mo Seca 59 - A Cura de um Epilptico 60 - Os Cegos - Bartimeu e os de Jeric 61 - O Cego de Betsaida 62 - A Cura da Filha da Mulher Sirofencia 63 - O Endemoninhado de Cafarnaum 64 - A Cura de Dois Cegos 65 - A Cura de um Mudo Endemoninhado 66 - A Cura de um Surdo e Gago 67 - Ressurreio do Filho da Viva de Naim 68 - A Cura da Paraltica Obsidiada e o Dia de Sbado 69 - A Cura do Hidrpico 70 - A Cura do Filho do Oficial do Rei 71 - A Cura da Orelha de Malco Concluso

  • A Jesus Senhor e Mestre! Nas minhas lutas e dificuldades

    tenho sempre solicitado Teu auxlio, assim como nos meus triunfos e durante a prosperidade que me tem sido proporcionada, no tenho esquecido de glorificar o Teu nome, que no s representa a mais pujante individualidade, cujo amparo tenho sentido por muitas vezes, como tambm o mais confortante e puro Ideal, capaz de regenerar o Homem e estabelecer a paz e a fraternidade no Mundo.

    Tua Vida, Teus Ensinos e Tuas Aes constituem a mais ldima expresso da Perfeio que j nos foi dado lobrigar, embora muito longinquamente.

    Este livro representa essa viso, obscurecida embora pelos senes de que no nos pudemos ainda libertar.

    Mas, estamos caminhando, Senhor, norteados pelo Esprito da Verdade, e esforando-nos por no olhar para atrs, nem deixar a charrua que lavra o terrena para mais farta messe.

    Continua a dispensar-nos Tua complacncia e aceita os nossos melhores afetos, no culto de profundo respeito e alta venerao que Te devotamos.

    Roga sempre a Deus, Senhor, para que nos torne dignos das tuas Promessas.

  • A Meus Pais: 1868-1877 Nunca vos esqueci, mantenho a grata lembrana

    dos cuidados que nos proporcionastes, para que um dia eu pudesse ser til aos meus semelhantes.

    VELHA E INSEPARVEL AMIGA

    FRANCISCA Minha tia amorosa e protetora. Todos os meus afetos. A RESPEITVEL E VENERANDA D. MARIA

    ELISA DE OLIVEIRA BORGES E O QUERIDO ESPRITO DE LUS CARLOS DE OLIVEIRA BORGES, meu preito de sinceridade amizade e gratido.

    AO LUMINOSO ESPRITO DE GABRIEL

    DELANNE, que foi para mim fonte de gua viva a jorrar para a Vida Eterna, meus sentimentos de grande venerao.

    Prefcio

  • Esforcei-me o mais possvel para entregar o

    Esprito do Cristianismo publicidade, interpretando, em esprito e verdade, a Doutrina de Jesus, com o auxlio das inspiraes que tive a felicidade de haurir dos Espritos, que presumo encarregados da regenerao e evoluo da humanidade.

    Nunca tive em mira, escrevendo esta obra, como as demais que esto em circulao, fazer literatura ou colocar-me entre es homens de letras. Meu interesse principal no esteve voltado para a forma, mas para o fundo, e, mesmo quando a pena se recusava a escrever um pensamento que pudesse no ser bem compreendido, vali-me, principalmente na "Exposio Preliminar", de trechos compactos dos mestres da palavra, que receberam a misso de nos apresentar a Verdade em sua ldima expresso. Por isso, tudo o que houver de bem neste livro no representa, para mim, mais da que um depsito que recebi dos nossos maiores, cabendo-me unicamente o mrito do estudo, da pesquisa e da recepo desses tesouros que ponho ao alcance de todos.

    Respigando na Seara Evanglica, de conformidade com a parbola que lembra os maus obreiros que a devastam, nota-se que da semente lanada pelo Senhor, nenhuma se perdeu, e, a despeito do mau trata dos servidores de que resultou o quase aniquilamento

  • das vinhas, os frutos so, entretanto, deliciosos e vivificadores. Agora, com inteiro cultivo do parreiral, livre dos enxertos que nele fizeram, podadas as varas secas que a prejudicavam, estamos certos de que teremos, em breves tempos, uma farta messe a saciar os pobres viandantes, que despercebidos do Esprito do Evangelho, caminham exaustos e desanimados pela Estrada da Vida.

    Possa o Cu permitir que este livro leve, pois, aos lares em que penetrar, como fez o Divino Nazareno, a Luz e a Paz.

    Exposio Preliminar "O esprito que vivifica". Sem esprito no h

    vida, no h sabedoria, no h verdade. Em todos os seres existe o esprito vivificante. Em

    todas as coisas reala a iniciativa, que o resultado, o produto da inteligncia que caracteriza o esprito: nas nobres instituies, nos grandes empreendimentos, o esprito que impera, dirige, mantm, orienta.

    Nos animais inferiores e nas criaturas humanas, o esprito a entidade viva, que domina e equilibra a forma.

    Nas instituies, a letra do Cdigo, do, Regimento, reveste sempre um escopo determinativo, que se

  • denomina - o "esprito da lei". A lei no se interpreta por si mesma, mas representa a interpretao do "esprito".

    O Cristianismo, sob os ditames de Jesus, uma Religio Viva, representada por um corpo de espritos que se acham a ele subordinados e que dirigem e animam o Cristianismo.

    O Esprito do Cristianismo, que apresentamos aos leitores, a forma interpretativa da Religio do Cristo, segundo o nosso critrio.

    No livro Parbolas e Ensinos de Jesus nos esforamos, tanto quanto possvel, para traduzir as parbolas e explicar os ensinos do Senhor, bem como as exposies apostlicas, de acordo com a interpretao espiritual dos trechos, sem nos deixar vencer pela "letra que mata".

    No Esprito do Cristianismo, que um complemento dessa obra, modelamos a interpretao dos captulos e versculos, em seu conjunto, sem truncar a forma, de acordo com o pensamento ntimo de Jesus Cristo, corporificado nos quatro Evangelhos. Enfim, falamos do Esprito ao esprito livre dos dogmas sectrios, das interpretaes humanas.

    *

    Fundada a Religio do Cristo na Revelao, e no

    podendo esta efetuar-se sem a base da Imortalidade,

  • no quisemos entregar nossa obra publicidade sem faz-la preceder de um ligeiro esboo elucidativo do Esprito. Ele no representa mais do que uma resumidssima sntese da Ideologia Esprita, aclarada com rara maestria pelo grande Missionrio, Alan Kardec, e explicada, com lgica e clareza, pelos dois grandes luminares, Gabriel Delanne e Lon Denis, cujas, existncias foram das mais profcuas para o engrandecimento da Verdade.

    ESPRITO E MATRIA

    O homem um ser inteligente: pensa, sente, quer;

    odeia e ama; estuda e progride; em seu corao palpitam afetos e do seu crebro brotam luzes.

    O homem o "rei da criao", ttulo que auferiu pela superioridade da inteligncia, que tem sobre a dos animais, que lhe so inferiores.

    "O seu corpo: carne, sangue, nervos, ossos, desde as mais tnues camadas do crebro, at a carcaa ssea, que representa o reino mineral e faz parte do seu organismo, como alis aconteceu com todos os outros seres, nasce, cresce e morre; transforma-se e modifica-se, pois que composto desses mesmos elementos imponderveis que se decompem, oriundos da matria csmica universal: hidrognio, oxignio, azoto, carbono, constituintes das variedades da

  • matria, que se apresentam com nomes de cal, fsforo, sdio, potssio, enxofre, flor, cobre, chumbo, etc.

    Mas, existe no homem um princpio que no deve sua existncia Terra; existe no homem uma luz mais intensa do que a que resulta do fsforo.

    Esse princpio o que constitui seu verdadeiro EU; essa luz no arde no tmulo como um fogo-ftuo; deve, forosamente, permanecer na Eternidade.

    Tal concluso no s um ditame da razo, um aviso prvio do sentimento; mas o resultado de sabias lies que, durante prolongadas viglias, aprendemos pela induo e deduo da anlise comparativa dos sistemas filosficos, cientficos e religiosos, que passam pela nossa mente como o desenrolar de uma guerra sem trguas, de exrcitos inimigos que se combatem e se aniquilam, deixando, entretanto, imanentes os princpios que no entraram em luta e que, ignorados por uns, e proclamados intuitivamente por outros, atravessam eras e geraes, sem serem atingidos por uma negao lgica e positiva.

    Mas, no s no pice dessas escolas, umas proclamando soberania da matria, outras aplaudindo o reinado do Esprito, que ns vemos aparecer esse princpio, que tem animado as geraes, fixando-se atravs dos tempos.

    tambm na tela imensa, no grande panorama da vida terrena: com suas grandezas e misrias, suas

  • investidas para a luz e quedas para as trevas, que a Vida se apresenta em sua forma mais positiva, e a alma se reala com um ser que desempenha o seu papel (cada qual na sua esfera de ao) neste planeta que chamamos Terra.

    E se deixarmos essa esfera de observao comum, e entrarmos nos domnios da Metafsica e da Metapsquica, ficaremos admirados ao ver homens de responsabilidade moral e cientifica negarem a existncia da alma e chegarem a confundir a ao que esta exerce, com as funes dos rgos, tomando o efeito pela causa e inutilizando todos os princpios da lgica e do raciocnio, que devem guiar nossos passos na pesquisa da Verdade mas, limitemo-nos a estes anseios da alma sntese que, guisa de prefcio, damos a este livro, e comecemos a analisar o pr e o contra referentes ao princpio anmico, ou seja, o princpio da Imortalidade que, segundo afirma Pascal, " preciso ter perdido todo o sentimento e aniquilado toda a razo, para dele no tratar"

    MTODO DE ESTUDO

    De dois mtodos dispomos para a soluo de todos

    os problemas que se nos enfrentam como esfinge devoradora o da induo e o da deduo.

  • A induo o modo de raciocnio que consiste em tirar uma concluso geral dos fatos particulares que se produzem constantemente.

    A deduo o modo ou o processo de raciocinar em que se parte da causa para o efeito, do princpio para as conseqncias, do geral para o particular.

    MTODO INDUTIVO (1)

    Encarando o tema em questo sob a primeira

    perspectiva, no podemos deixar de concluir, pelos fatos particulares que constantemente se produzem, que a existncia e sobrevivncia da alma um fato incontestvel.

    A induo vem, pois, corroborar a idia de Imortalidade, segundo o nosso critrio.

    Justifiquemos esta assero. Para tal fim vamos examinar, embora ligeiramente,

    todos os fenmenos que sustentam nossos postulados, dos subjetivos aos objetivos.

    Os que mais se realam vista e se desdobram aos olhares investigadores, so os fenmenos da memria.

    (1) Gabriel Delanne, em A Alma Imortal e A Evoluo Anmica.

    FENMENOS DA MEMRIA

    A memria a faculdade que mais tem atrado a

    ateno dos filsofos de todas as pocas: "A faculdade

  • misteriosa que reflete e conserva os acidentes, as formas e as modificaes do pensamento, no espao e no tempo. Ela representa essa sucesso de idias, imagens e acontecimentos que j se esvaram e ficaram sepultados no passado. Ressuscita-os espiritualmente na mesma graduao pela qual o crebro os experimentou e a conscincia os percebeu e formou."

    A esto os fenmenos, a esto os fatos subjetivos, mas reais; como neg-los? Como explic-los sem a admisso de um principio imutvel que os coordena e expende?

    "Thompson, Vierodt, Flourens, dizem que os fatos justificam plenamente a suposio de que o corpo renova a maior parte da sua substncia em um lapso de 20 a 30 dias, e acrescentam: "at o ar que respiramos muda a cada instante a composio do crebro e dos nervos".

    Como demonstrar que, apesar dessas mutaes contnuas, nos conservamos sempre idnticos?

    "Entretanto envelhecemos e sabemos que nosso EU no mudou. No meio das vicissitudes da existncia, nossas faculdades podem alargar-se ou alternar-se, e mesmo obliterar-se; nossas predilees podem variar indefinidamente, e nossa conduta apresentar as contradies mais singulares, contudo, estamos persuadidos de que conservamos o mesmo ser primitivo, e temos conscincia de que ningum se

  • colocou em nosso lugar; entretanto, em todos os elementos do nosso corpo, nenhum dos tomos que o constituam h dez anos atrs subsiste presentemente neles."

    Como permanece a memria que temos dos acontecimentos passados?

    Foram os fenmenos da memria, e to somente da memria, que fizeram a Escola Espiritualista proclamar a existncia, no homem, de um princpio que imutvel, e cuja natureza indivisvel no se acha sujeita, como a da matria, destruio.

    Conseguintemente, a alma que conserva a reminiscncia dos fatos verificados, assim como favorece as conquistas da inteligncia e o desdobramento das virtudes, lentamente adquiridas na luta incessante contra as paixes:

    At aqui, nada de novo adiantamos: Aristteles, Descartes, Leibntz, So Toms de Aquino, Ballanche, Helmont e inmeros filsofos da Antiguidade proclamaram esta doutrina, ou seja, a doutrina da existncia da alma.

    Mas, o que a alma? No que consiste este principio imutvel, cuja natureza indivisvel no est sujeita s leis fsico-qumicas, por no se adstringir ao tempo e espao?

    No se pode deixar de concluir que a alma no a resultante do organismo, do corpo, desde que

  • permanece apesar das mutaes da matria, qual soube resistir e vencer.

    Ento que ser ela? - Uma chama, uma luz, uma estrela, uma nuvem, uma coisa abstrata, que nem idia de si nos possa dar?

    Aqui intervm o Espiritismo, cujos ensinos constituem a soluo do maior de todos os problemas que tm embaraado os filsofos de todos os tempos.

    O homem terreno, por mais ilustrado e perspicaz que seja, no pode perceber nem compreender as coisas Espirituais, seno por manifestaes, como dissemos, subjetivas e objetivas, ou sejam, diretas ou indiretas.

    A alma de per si, sem uma forma, sem um corpo para sua manifestao passaria, como passam as ondas hertzianas, a matria radiante, os raios imponderveis e invisveis.

    Tanto isso verdade que o filsofo materialista Hartmann disse: "Se se pudesse demonstrar que o Esprito individual persiste depois da morte, eu concluiria da que, apesar da desagregao do corpo, a substncia do organismo persistiria sob uma forma inalienvel, porque s com esta condio posso conceber a persistncia do Esprito individual."

    Pois justamente isso que o Espiritismo explica, demonstrando por meio de fatos incontestes, que uma substncia do organismo persiste sob forma inalienvel; e justamente essa substncia que

  • constitui o perispirito corpo espiritual que inseparvel da alma.

    Segundo o Espiritismo, a idia de alma inseparvel da idia de uma forma que a envolve. Assim como o corpo carnal parte integrante do homem, o corpo espiritual parte integrante da alma.

    O perispirito no uma concepo filosfica para remediar complacentemente as dificuldades da investigao uma realidade fsica, um rgo que no se conhecia e hoje constatado at pela chapa fotogrfica. A noo do perispirito vem esclarecer o fenmeno da memria, pois ele se nos apresenta como o local dos estados de conscincia passados, o armazm de lembranas, a regio no qual se faz a fixao mnemnica. Pois bem, o ser pensante continua a existir depois da morte, com esse corpo que inalienvel.

    HIPNOTISMO E MAGNETISMO

    "Em todas os pases civilizados, os jornais e as

    revistas mdicas tm-se ocupado dos fatos maravilhosos produzidos pelo Hipnotismo, novo nome de que revestiram o Magnetismo.

    Esta cincia compreende fenmenos diversos, que poderamos dividir em duas categorias: os que, se relacionam com a Teraputica, e os que vm em apoio da existncia da alma.

  • "Milhares de experincias, conformadas em atas assinadas por nomes dos mais honrados e conhecidos, descrevem fatos extraordinrios, em geral catalogados sob os nomes de sugesto, sonambulismo, xtase, catalepsia, exteriorizao da sensibilidade e que vm confirmar a existncia do esprito, independente do seu corpo material e revestido desse corpo que constitui o perispirito. De todos esses fenmenos, sem duvida o mais importante, e o que torna as nossas concluses solidamente baseadas, o da transposio dos sentidos, isto , a faculdade que possuem certos indivduos, quando em estado sonamblico, de verem sem a interveno dos olhos, cheirarem sem o rgo do olfato, ouvirem sem que lhes seja necessrio o ouvido.

    Estas estranhas faculdades denunciam forosamente um poder que se manifesta fora das condies da vida habitual."

    Para maiores esclarecimentos os leitores devem consultar as obras de Gabriel Delanne, cujos ditames lgicos e racionais muito nos tm orientado nesta "Exposio Preliminar."

    O TESTEMUNHO DOS ANESTSICOS

    Os anestsicos, como o clorofrmio e o ter,

    produzem nos pacientes analogias notveis com o Sonambulismo magntico e o Hipnotismo.

  • O Dr. Velpeau, que em 1884 apresentou Academia de Cincias de Paris, um relatrio, concluindo pela adoo do clorofrmio em todas as operaes dolorosas, relata a seguinte experincia, feita por ele em uma senhora a quem operara de um cncer no seio:

    "Depois de a ter adormecido pelos processos ordinrios, efetuava a operao, quando ficou muito admirado ouvindo a doente dizer que via o que se passava em casa de uma das suas amigas, moradora perto dali.

    No ligou muita importncia, entretanto, a esta comunicao, tomando-a por efeito de imaginao. Mas qual no foi a sua surpresa, quando a senhora em questo, tendo vindo informar-se da sade de sua amiga, declarou que fazia exatamente o que a doente vira durante o sono."

    Os anestsicos como se v, determinam um certo desprendimento da alma que transpondo as distncias, e revestida dos seus atributos, se pode pr, independente do seu corpo fsico, e em condies especiais, em relao com o mundo material.

    Podemos concluir este fato da questo com a afirmao de que a alma existe, quer a estudemos em face da Cincia, quer o faamos perquirindo os fenmenos do Magnetismo, do Hipnotismo e da Anestesia.

  • O mtodo da induo nos leva, forosamente, crena na existncia, em ns mesmos, do principio anmico, ao passo que nenhuma probabilidade oferece para a negao desse principio.

    Lgica, raciocnio, fatos abstratos e concretos, tudo vem em apoio da nossa tese, que no pode ser repudiada seno pelos ignorantes contumazes.

    Passemos agora ligeiramente sobre as manifestaes pstumas.

    AS MANIFESTAES PSTUMAS

    O Espiritismo um campo vasto de estudos; um

    repositrio, um manancial de sabedoria, nico capaz de solucionar todos os problemas da Vida e da Morte.

    Pena que a opinio pblica, mal orientada, no veja nele o que, de fato, ele .

    Quanto Moral, o Espiritismo o prottipo, o fac-smile da Doutrina de Jesus Cristo; como Filosofia e Cincia, um sistema maravilhosamente erguido sobre fatos escrupulosamente observados e constatados pelos sbios de maior nomeada e dos mais circunspetos do mundo.

    Analisando-se com esprito inteligente, imparcial, mesmo prevenido, os fenmenos de aspectos mltiplos, chamados supranormais, sejam os casos de materializaes, transportes, levitaes, fotografias (que constituem os fenmenos objetivos); sejam as

  • comunicaes faladas ou escritas pelos mdiuns (que constituem fenmenos subjetivos), no se pode deixar de chegar concluso da sobrevivncia da alma, com todas as suas prerrogativas e aquisies.

    Seria mesmo estultcia negar tais fatos ou lhes querer dar explicao diversa da que eles mesmos exprimem.

    A constncia, a persistncia dessas manifestaes, o carter que exprimem, tudo nos induz a crer que o EU Subsiste morte do corpo, assim como perante s renovaes contnuas das substncias que o mantm durante a influncia vital, que no permite a desagregao das suas clulas.

    Assim, pois, o mtodo indutivo, que a regra geral para o estudo dos fatos que se verificam em todos os ramos da Cincia, confirma categoricamente o que o Espiritismo ensina sobre a existncia e imortalidade do Esprito.

    *

    Encaremos agora nossa tese sob outro prisma: a

    deduo. Comecemos do maior para o menor; do grande

    para o pequeno; do Macrocosmo para o Microcosmo; do mega para o alfa; da causa para os efeitos; do principio para as conseqncias; do geral para o particular.

  • Ao contemplarmos os vastos horizontes que cobrem aa imensas paisagens, o cu infinito recamado de estrelas, que notamos quo insignificantes somos neste conjunto da Criao! Entretanto, nos sentimos presos a essa criao, sentimos fazer parte dela; admiramo-la, estudamo-la e aumenta nossa ansiedade por conhecermos os seus enigmas.

    ento que, sejam quais forem nossas crenas, seja qual for nossa posio social, sentimos a necessidade de nos conhecer intimamente e de saber as leis que regem nossa existncia. Quaisquer que sejam nossas preocupaes, sentimo-nos invencivelmente levados a ocuparmo-nos do nosso destino e de saber as leis que o regem.

    no contacto com a Natureza, essa sublime criao de Deus, que a alma se eleva, que a razo se aclara, que o sentimento se abre para aprofundar os mistrios da existncia.

    Se no meio das cidades populosas essa necessidade domina muitas vezes nosso esprito, com quanto maior fora ela se apodera de ns ao nos encontrarmos perante a Natureza eterna!

    O que a Terra? O que esse firmamento marchetado de estrelas que cintilam sobre nossas cabeas?

    Esses stios que perlustramos e que j foram calcados por multides de homens que, de sua passagem, no deixaram mais que o vestgio do p dos

  • seus ossos; homens que viveram como ns, que amaram, que sofreram; esses stios que se vo engrandecendo todos os dias com o trabalho inteligente das geraes, representaro, porventura, uma vasta cloaca onde o progresso, palavra sem significao literal, ergue escolas, edifica monumentos, faz cruzar redes areas e subterrneas para unir os povos e desenvolver civilizaes; para logo depois, aps alguns anos, fazer desaparecer nos bratros do nada, nos hiantes sorvedouros das trevas, sem aproveitar a quem quer que seja, nem fazer prevalecer a sua obra, para formao, engrandecimento e persistncia das inteligncias submetidas aos seus ditames, ao seu imprio dominador?

    Por que e para que todo esse movimento contnuo de trabalhos, de lucubraes modernas, de galas e esplendores, de consecuo de um ideal, se de todo esse harmonioso conjunto no resulta ao menos uma luz para esclarecer nosso futuro?

    Se tudo matria e no passa de matria; se a sabedoria no mais que uma funo do crebro e a virtude uma vibrao do corao, vamos abrir bancarrota Moral e continuemos a caminhar ao lu da sorte avara, aos marulhos do acaso, sem Deus, sem alma, sem religio, visto que tudo no passa de mera conveno humana!

  • Para que a vida, se no existe alma? Para que a verdade, se tudo falsidade? Para que a luz, se as trevas viro dominar at seus ltimos reflexos?

    Existem, no infinito, globos como o nosso, que obedecem a regras invariveis e cuja harmonia to admirvel que no podemos deixar de reconhecer uma profunda sabedoria presidindo sua disposio!

    Como admitir sem autoria de uma Inteligncia Suprema e Permanente no Universo, essa complicada mquina celeste, que liga em suas rbitas milhes de mundos, com uma regularidade to poderosamente estabelecida, que a mais frtil imaginao somente com muito esforo pode descobrir as suas leis mais elementares! Quem no fica maravilhado e no estremece de emoo vendo as mirades de estrelas, sis gigantescos, centros de outros sistemas planetrios, pairando no espao! Quem no se sente admirado pensando no astro em que pousamos, que desliza no ter com a velocidade superior de uma bala de canho, e sem outro ponto de apoio que no seja a atrao de um astro longnquo! Quem no compreender que a harmonia no pode nascer do caos, e que a casualidade, a fora-cega no pode engendrar a ordem e a regularidade?!

    *

  • A Cincia Moderna nos veio abrir novos horizontes inteligncia. Ela nos diz que, desde o tempo em que a Terra no era mais que uma poro de matria csmica, efetuaram-se nela infinitas metamorfoses, at produzir-se o resultado que nos dado conhecer na poca atual. No se pode, pois, negar o desenvolvimento da vida, atravs dos perodos geolgicos; e, em virtude dessa progresso, desse aperfeioamento contnuo, ininterrupto do nosso mundo, que vai do simples para o concreto, do mnimo para o mximo, da fealdade para a beleza e harmonia, poderemos negar a arte denunciadora da Inteligncia que tudo modela, que tudo aperfeioa?

    Seja no plano fsico, seja na esfera animal, seja na manifestao espiritual do ideal, no h que negar as fases transformativas que precederam o estado atual do nosso mundo, considerado um dos compartimentos da Casa de Deus, e que se vai tornando digno de ser habitado por Espritos de maior progresso moral e espiritual.

    Onde esto as ruas e praas de ento, os veculos, terrestres e martimos que tanto servio prestaram a nossos avs? Aonde se foram as candeias que os alumiaram, as mquinas medievais de que se serviram, como auxiliares do seu trabalho, como instrumentos dos seus esforos nas lutas cotidianas da aquisio do po e das vestes?

  • Nada desapareceu, mas tudo se transformou, tudo melhorou, tudo se aperfeioou!

    Tudo evolui, tudo progride no Mundo, no Universo, na Natureza! A prpria Natureza testemunha e d testemunho do progresso, da evoluo que constitui a Lei Suprema de Deus.

    Partindo do mnimo para o mximo, ns vemos traadas com letras indelveis, no plano da Natureza, a palavra: Evoluo! Comeando do mximo para o mnimo, salienta-se com exuberncia a sentena que inspirou o filsofo, para em altos surtos do pensamento glorificar a Deus: Semper ascendens!

    *

    Pelo exposto podemos confirmar que a razo, a

    inteligncia, o entendimento, seja pela induo, seja pela deduo, no se podem deixar de curvar idia mater da Imortalidade, que embalou as geraes passadas e abre, atualmente, novos e ilimitados horizontes s geraes futuras.

    A Imortalidade a base unica e inamovvel, sobre a qual se deve erguer o edifcio social e religioso.

    Portanto, no poderia o Cristianismo fundar-se em outra qualquer rocha, ou sobre outros quaisquer alicerces.

    Na anlise indutiva da alma e sua sobrevivncia, partindo dos efeitos para as causas, todas as razes,

  • todos os fatos vieram em favor da nossa tese, proclamando o esprito como o fator de todas as ocorrncias que se desdobram diariamente s nossas vistas, como que despertando-nos para uma idia mais nobre, para um ideal mais puro do que aquele que limitava nossas ocupaes e prazeres.

    Na anlise dedutiva, do Macrocosmo ao Microcosmo, do Universo ao Homem, tomando como premissas as grandes causas da Verdade Eterna, do mesmo modo, chegamos concluso da existncia de Deus, como o Grande Fator Primordial de tudo quanto existe, e da existncia da alma, base elementar da vida e autora dos fenmenos espritas e metapsquicos de que fala a Histria de todos os tempos.

    O estudo do Cristianismo, digno de toda a ateno e observao, est intimamente ligado ao estudo da alma, do esprito. No se pode compreender as leis morais e sua razo de ser, sem se haver desvendado os mistrios da Psique em suas mais esplendorosas formas.

    De fato, o que nos valem os ensinos de Jesus, os exemplos que nos legou de uma vida de pureza, as maravilhas que produziu, se no temos a crena na Imortalidade, se julgamos que tudo se finda com a morte, se o nosso Saducesmo vai ao ponto de crer que Deus s para esta existncia!

  • O Apstolo dos Gentios dizia: "Se cremos em Cristo s para esta vida, somos os mais miserveis de todos os homens."

    A Doutrina do Ressuscitado a manifestao viva da Sobrevivncia que j comeou a explodir no mundo todo e que se cumprir em todo o orbe como o Pentecoste no cenculo de Jerusalm que repercutiu por toda a Judia.

    Escrevendo, pois, este livro, quisemos concorrer, de certa forma, para que a Idia Religiosa se estreite cada vez mais com a Idia da Imortalidade, para que o Evangelho merea um lugar de destaque no nosso corao e a possa o Esprito de Jesus Cristo erigir a sua ctedra.

    Oxal que nesta humilde obra possam os estudiosos encontrar a Luz que ilumina, a F que orienta, a Verdade que alegra e felicita!

    1

    Exclusivos Intuitos de Jesus e seu Pensamento ntimo

    "Eu sou a luz que vim ao mundo, para que o que cr em mim no permanea nas trevas." (Joo, XII, 46.)

  • "Eu sou o bom pastor. O bom pastor d a vida pelas suas ovelhas..." (Joo X, 11.)

    "Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andar em trevas; pelo contrrio, ter a luz da vida." (Joo VIII, 12.)

    "Se algum tiver sede venha a mim e beba" (Joo VII, 37.)

    "Eu sou o po vivo que desci do cu." (Joo, VI, 51.)

    "Eu sei, respondeu a mulher, que vem o Messias (que se chama Cristo); quando ele vier, anunciar-nos- todas as coisas. Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo" (Joo, IV, 25-26.)

    "Como Joo no crcere tivesse ouvido falar nas obras do Cristo, mandou pelos seus discpulos perguntar-Ihe: s tu aquele que h de vir, ou outro o que devemos esperar?"

    "Respondeu Jesus: Ide contar a Joo o que estais ouvindo e observando: os cegos vem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos so ressuscitados; aos pobres anuncia-se-lhes o Evangelho; bem-aventurado aquele que no achar em mim motivo de tropeo." (Mateus, XI, 1-6.)

    "Joo, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntar: s tu aquele que h de vir, ou havemos de esperar outro? Quando esses homens chegaram a Jesus, disseram: Joo Batista enviou-nos para perguntar: s tu aquele que h de vir, ou havemos de

  • esperar outro? Na mesma hora curou Jesus a muitos de molstias, de flagelos e de espritos malignos; e deu vista a muitos cegos. Ento lhes respondeu.

    "Ide contar a Joo o que vistes e ouvistes: os cegos vem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos so ressuscitados, aos pobres anuncia-se-lhes o Evangelho; e bem-aventurado aquele que no achar em mim motivo de tropeo." (Lucas VII, 19-23.)

    "A ningum sobre a Terra chameis vosso pai; porque s um vosso Pai, Aquele que est no Cu. Nem queirais ser chamados mestres, porque s um o vosso mestre, o Cristo." (Mateus XXIII, 9-10.)

    "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ningum vem ao Pai seno por mim." (Joo XIV, 6.)

    As palavras de Jesus excluem antecipadamente todas as idias falsas que se possam fazer sobre Ele e o seu escopo primordial.

    O motivo exclusivo da sua vinda a este mundo foi, como profetizou Isaas, fazer raiar a Luz aos que se achavam na regio da morte: dar crena aos que no a tinham, guiar os que se haviam perdido e se achavam desviados da Estrada da Vida, anim-los e vivific-los, finalmente, apresentar-se a todos como o Modelo, o Paradigma, o Enviado de Deus, o nico Mestre capaz de legar um ensino puro e perfeito, o verdadeiro representante da Verdade que redime e salva. Da a

  • sua sentena: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ningum vai ao Pai seno por mim."

    Querendo excluir de si mesmo toda a primazia divina, Ele no se apresenta, apesar da sua incomparvel misso, como sendo Deus, o Pai, mas, sim, como um seu Enviado - o Cristo.

    Os intuitos da sua vinda ao mundo no foram, pois, o de ser deficado, o de que se levantassem igrejas ou catedrais em seu nome, nem se fizesse dos seus ensinos uma religio hierrquica, em que dominasse o formalismo, regida por um ritual.

    Ele apresentou-se no cenrio terrestre como o Mdico que deveria restabelecer a sade das almas; como o Pregoeiro a anunciar a todos o Reino de Deus; como um eleito do Cu, cheio de amor e poder para dominar Potestades e Elementos.

    A interpelao dos Mensageiros de Joo, a sua resposta foi categrica: "Ide contar a Joo o que estais ouvindo e observando."

    Humilde em extremo, mas de uma energia inquebrantvel; bondoso, mas justiceiro; estrito cumpridor dos seus deveres; trabalhador incansvel, cujos feitos soube to brilhantemente unir sua Palavra Redentora, a ponto de chegarem a aclam-lo Deus, estamos certos no poder Jesus ser solidrio com uma "religio" de franjas, de paramentos, de dogmas, que no condiz com o Verbo que reboou no

  • Carmelo e resplandeceu no Tabor, livre de todas as pompas que pudessem desnaturar a sua beleza natural.

    Sua Doutrina mais do que igrejas e sacerdotes, mais do que catecismos e sacramentos, mais do que todo e qualquer princpio de partidarismo que divide a famlia humana em vez de reuni-la sob um s preceito de moral, abrangendo a obedincia a Deus e o Amor ao prximo.

    Jesus a Luz do Mundo, o Sal da Terra, a gua Viva, o Po, o Suco da Vide, mas, todos esses atributos que e Mestre Galileu a si mesmo conferiu no representam outra coisa seno a Sua Doutrina, o Verbo que nele se fez carne e habitou entre ns.

    No transviemos o pensamento ntimo de Jesus, dedicando-lhe honrarias e ttulos que Ele no usou, e nem revistamos a Sua Palavra de preceitos e de roupagens que s podem desnatur-la.

    "O discpulo no pode ser mais do que o Mestre" e s nele permaneceremos se a Sua Palavra permanecer em ns, livre dos abusos de interpretaes e do dogmatismo bastardo que transvia as almas e obscurece o Seu Evangelho.

    Finalmente, o pensamento ntimo do Mestre quando veio a esse mundo, no teve intuitos glorificadores, mas de concorrer para que essa Religio Sublime do Amor a Deus e ao Prximo se tornasse conhecida de todos e pudesse, em breve

  • tempo, substituir os fermentos farisaicos que at hoje envenenam a Humanidade.

    2

    Incio da Misso de Jesus "Quando Jesus soube que Joo fora preso, partiu

    para a Galilia. E deixando Nazar, foi morar em Cafarnaum, situada beira-mar, nos Confins de Zabulon e Neftali; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaas (IX, 1-2):

    "A terra de Zabulon e a terra de Naftali, caminho do mar, alm do Jordo, a Galilia dos gentios, o povo que jazia em trevas, viu uma grande luz, e aos que estavam de assento na regio e sombra da morte, resplandeceu Ihes a luz."

    "Desde esse tempo comeou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos; porque est prximo o Reino dos Cus."

    "E andando ad longo do Mar da Galilia, viu dois irmos, Simo, tambm chamado Pedro, e Andr, lanarem a rede ao mar; porque eram pescadores. E disse-lhes: Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens. Imediatamente eles deixaram as redes e o seguiram. Jesus, passando adiante, viu outros dois irmos, Tiago e Joo, filhos de Zebedeu, que estavam

  • na barca com seu pai, consertando suas redes; e os chamou. Eles deixando logo a barca e seu pai, o seguiram.

    "Andava Jesus por toda a Galilia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todas as doenas e enfermidades entre o povo. E a sua fama correu por toda a Sria; e trouxeram-lhe todos os enfermos, acometidos de vrias doenas e sofrimentos, endemoninhados, epilpticos e paralticos; e ele os curou. E muita gente o seguiu da Galilia, de Decpole, de Jerusalm, da Judia e do alm do Jordo." (Mateus IV, 12-25.)

    "Depois de Joo ser preso, foi Jesus para a Galilia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: O tempo est cumprido, e o Reino de Deus est prximo; arrependei-vos e crede no Evangelho."

    "E caminhando ao lado do Mar da Galilia, viu a Simo e a Andr, irmo de Simo, lanarem a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Segui-me, e eu farei que vos torneis pescadores de homens. No mesmo instante deixaram as redes e o seguiram. Passando um pouco adiante, viu a Tiago e a Joo, filhos de Zebedeu, que estavam na sua barca, consertando as redes. Logo os chamou; e eles, tendo deixado a barca de Zebedeu, seu pai, como os empregados, foram aps Jesus." (Marcos, l, 14-20.)

    "Ento regressou Jesus para a Galilia no poder do Esprito, e a sua fama correu por toda a

  • circunvizinhana. "E ele ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos." (Lucas, IV, 14-15.)

    *

    Os grandes missionrios s aparecem no mundo

    nos momentos mais aflitos da Histria. Eles no so "deuses" que pretendem se glorificar

    pela posteridade, mas libertadores que revolucionam as massas com a sua palavra e seus feitos, erguendo os cativos, confundindo os poderosos, transformando por fim as sociedades e os costumes, para que o progresso se acentue e a Verdade cresa e aparea nas almas. Uns trazem destra a luz que ilumina; outros o amor que salva, e outros, ainda, a espada que destri. Uns, na sua ao devastadora, levam a razo imprios e naes, cidades e povoaes; outros so os edificadores que semeiam a palavra, como o semeador a semente, por toda a parte onde passam, e com a palavra estabelecem os seus feitos, mas certos de encontrarem espritos preparados, como a terra boa, para favorecerem o crescimento, as flores e os frutos dessa semente. Por isso as grandes misses requerem sempre grandes Espritos. Sendo Jesus Cristo o maior de todos, a sua misso no podia deixar de ser a mais rdua, a mais espinhosa, a mais nobre, a mais bela, a mais profcua para a Humanidade, a mais santa, a mais divina de todas, porque no apresenta o tmulo por

  • limite, mas atravessa as regies da morte e prossegue pela Eternidade.

    E foi por isso que o incomparvel Missionrio preferiu comear a sua tarefa quando todos emudeciam, num momento em que a "sombra da morte" estendia seu manto sobre a Terra. Foi assim que, intemerato ante o horrvel espectro que j ameaava Joo, o precursor, no crcere, deixou Nazar, herdade, famlia, aconchego paterno e localizou-se em Cafarnaum, nos confins de Zabulon e Neftali, onde as ondas se quebram nas praias prateadas, e onde poderia encontrar meia dzia de humildes pescadores, com os quais afrontaria as foras adversas, e, desse triunfo, faria ecoar hosanas que repercutiriam por toda a Judia; no s pelo efeito da sua Palavra, como pela Palavra da Redeno, que nunca se reteve em seus purssimos lbios, a Religio imaculada da qual demonstrou ser o Verdadeiro Representante e Fundador na Terra.

    O incio da Misso de Jesus o mais belo manifesto que o Cu poderia enviar Terra, como primrdio desse admirvel Livro que nos legou e que ns chamamos o Evangelho, ldima personificao do seu primoroso instituidor.

    Percorrendo o longo das praias, onde as guas beijam a terra e se balanam num culto constante de adorao aos cus, comeou Jesus a sua pregao repetindo os incessantes convites que a "Voz do que

  • clamava no deserto", Joo Batista, fazia a todos os que buscavam no seu "batismo de gua", o perdo dos pecados, a redeno para suas almas: "Penitentiam ogite; appropinquavit enim regnum coelorum" - "Arrependei-vos; porque est prximo o Reino dos Cus."

    Era preciso deixar a m vida, fazia-se mister que os futuros ouvintes da sua Palavra de Amor mudassem de costumes, para que essa Palavra lhes fosse dada e eles ento se esforassem para possuir o Reino dos Cus, que se aproximava e reclamava para sditos, coraes sinceros e inteligncias vigorosas.

    E assim, por um lapso de tempo, o facite ergo fructum, dignum poenitentioe - "dai frutos dignos do vosso arrependimento", que Joo clamava sem cessar, no se afagou, nem emudeceu, em Cafarnaum, Zabulon e Neftali, repercutindo como o soar de um relgio por todo o Deserto da Judia, para que o caminho do Senhor fosse preparado e endireitadas as suas veredas. Foi nesse nterim que o Mestre avistou dois pescadores, Pedro e Andr, que no servio de sua profisso, lanavam rede ao mar.

    Quem melhor que essas almas humildes e desinteressadas, destitudas de vanglria e de saber poderia seguir aqueles passos sagrados e como servos obedientes fazer tudo o que seu Senhor mandasse?

    Quem melhor que Pedro e Andr, exercitados na constncia da pesca e na pacincia que os fazia esperar

  • os peixes e procur-los onde se achassem, quem melhor que estes pescadores poderia pescar, retirar desse mar bravio da vida, revolto de paixes, homens que se destinassem vida superior, ao culto dos sagrados deveres humanos, para, entre as tramas dessa rede de parbola ergu-los das trevas para a luz, da "regio da morte" regio da Vida bem-aventurada e divina!

    - "Segui-me, eu vos farei pescadores de homens. Imediatamente eles deixaram as redes e o seguiram."

    "Segui-me, porque por vs que sois pobres, iletrados, mas laboriosos, pacientes, constantes e humildes que a glria de Deus se manifestar ao mundo; a vs, pescadores, que a "rede" do Cu ser entregue e com o meu auxlio e sob a minha direo se efetuar a milagrosa pesca, semelhante quela que vos deslumbrou no lago de Genesar, e a que sob minhas instrues, aps a minha morte, efetuareis no Mar de Tiberades."

    "E Jesus, passando adiante, viu outros dois irmos Tiago e Joo, filhos de Zebedeu, que estavam na barca com seu pai, consertando as suas redes; e os chamou. Eles, deixando logo a barca e seu pai, o seguiram."

    Reconheceram, na excelsa figura do Nazareno, o Esprito da Religio que salvaria o mundo, e, prevendo que nada poderia no mundo assemelhar-se a Jesus, sem pensar mais na sua barca, nas suas redes, em seu pai, acompanharam o Moo da tnica inconstil que os

  • havia chamado para o desempenho de uma tarefa maior que aquela que exerciam no cumprimento dos seus deveres terrenos.

    Os futuros Apstolos precisam entrar no grande Templo pela porta do desinteresse e revestidos daquelas virtudes que caracterizam o desapego das coisas do mundo, inclusive a autoridade paterna, quando exercida inconscientemente.

    "E andava Jesus por toda a Galilia, acompanhado dos quatro moos, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando todas as enfermidades do povo."

    Sua ao no sagrado ministrio no se limitou pregao, mas estendeu-se prtica da misericrdia e suas curas no ocorriam s entre os moradores da Galilia, pois que "a sua fama correu por toda a Sria, donde chegaram a Ele enfermas acometidos de vrias doenas e sofrimentos: endemoninhados, epilticos e paralticos; e Ele os curou."

    A repercusso da sua Palavra e dos seus feitos, embora os povos de ento no fossem servidos de imprensa, telgrafo, telefone, vias frreas, automveis, chegou no s Galilia, como a Decpole, a Jerusalm, a toda a Judia e alm do Jordo, donde enormes caravanas saam em busca do grande mdico que lhes devia curar o corpo, do Messias esperado que lhes mostraria, em palavras ao seu alcance, o verdadeiro caminho para o Reino das Cus.

  • A misso de Jesus no teve comeo por ocasio do seu nascimento, nem quando, com a idade de 12 anos, no Templo de Jerusalm, o encontraram discutindo com os doutores que, boquiabertos, admiravam a sua precocidade, a sua penetrao de esprito em relao s coisas de Deus.

    A misso de Jesus comeou quando terminou a de Joo Batista, e comeou como se viu, justamente no ponto em que Joo havia concludo a sua: "Arrependei-vos". Penitentiam agite.

    Foi s depois deste apelo reiterado, foi s depois de se dar a conhecer, de se apresentar ao povo com as credenciais de graa e de poder que havia recebido do Pai, e depois de haver convidado quatro discpulos para seus companheiros de pugnas pelo Bem e pela Verdade, s depois de atrair as multides que o cercavam pressurosas da sua Palavra, vidas de seus conselhos e confiantes na sua sabedoria, s depois de conseguir essa ascendncia sobre todos os que o ouviam ou dele tinham notcia, crentes ou no, simpticos ou indiferentes, amigos ou inimigos, que Ele subiu ao monte e falou s multides, proferindo o monumental discurso, a maior pea oratria que se conhece, a mais elevada Doutrina Moral que se pode conceber, a mais bela manifestao de Caridade, que se pode ler ou ouvir. Este discurso, j mencionado (1) por ns, resume toda a Religio de Jesus, explica e completa os seus sagrados intuitos ao tomar a

  • deliberao de vir a este mundo. Estud-lo e observ-lo quanto basta para o homem ter tudo o que se pode desejar de bens espirituais na Terra e a felicidade nos Cus.

    (*) Parbola e Ensinos de Jesus

    3

    A Justia dos Escribas e Fariseus "Porque eu vos digo que se a vossa justia no

    exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Cus." (Mateus, V, 20.)

    "Ento falou Jesus ao povo e aos discpulos: "Na cadeira de Moiss se assentam os escribas e

    fariseus. Fazei e observai, pois, tudo quanto eles vos disserem, mas no os imiteis nas suas obras; porque dizem e no fazem. Atam pesados fardos e os pem sobre os ombros dos homens, entretanto eles mesmos nem com o dedo querem mov-los. Praticam, porm, todas as suas obras para serem vistos dos homens, pois alargam os seus filactrios e alongam as suas tmbrias, e gostam dos primeiros lugares nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, das saudaes nas praas, e de serem chamados mestres pelos homens." (Mateus, XXIII, 1 a 7.)

  • A Nossa gerao parece ter herdado a mania de grandeza dos antigos escribas e fariseus.

    Educados pelos sacerdotes da Igreja Catlica Romana, que so outras tantas edies aumentadas do Farisasmo, os nossos "maiorais" no podiam livrar-se do estigma de condenao com que Jesus assinalou aquela "raa de vboras" que o condenou crucificao.

    E no so os sacerdotes de Roma, relembrando os fariseus, e os sacerdotes protestantes, evocando os escribas, que se acham assentados na "Cadeira de Moiss" ditando leis, reunindo conclios, fazendo dogmas, impondo cultos, exigindo dzimos, finalmente atando aos ombros de suas ovelhas, pesados fardos, "que eles mesmos nem com a ponta do dedo querem tocar"?

    No so os padres, constitudos em hierarquia, que alargam seus filactrios, se vestem de prpura e brocado com cruzes de safira e esmeralda crivadas de brilhantes, que alongam as suas fmbrias para se distinguirem dos demais homens, e, para conseguirem esse plano de domnio, freqentam os banquetes onde lhes so oferecidos os primeiros lugares, e tm a primazia das igrejas, das quais chegaram a constituir-se proprietrios, embora no gastem um vintm para essas edificaes?

  • No so eles que se tem na conta de mestres em Religio, doutores em Teologia, exigindo que a sua palavra seja o non plus ultra da sabedoria?

    Os fariseus constituam, no tempo de Jesus, uma seita muito numerosa, como a catlica romana da atualidade. Os escribas eram os doutores que explicavam a Lei Mosaica ao povo. Faziam causa comum com os fariseus. Estas duas seitas dirigiam a opinio pblica em Jerusalm e seus representantes eram homens do governo, ou tinham o apoio do governo.

    Jesus, revolucionrio denodado, apontava as gentes os rigores da lei porm mandava que todos a ela se subordinassem, porque o Cdigo era rigoroso e impunha penas pesadas a quem a ele no se submetesse.

    Entretanto, o Mestre no deixava de chamar a ateno dos seus ouvintes para as ordenaes dos escribas e fariseus: "'observai, pois, tudo quanto eles vos disserem, mas no os imiteis nas suas obras."

    A "justia dos escribas e fariseus" , mutatis mutandis, semelhante justia catlica, justia protestante, justia que se observa atualmente no mundo entre governos e governados; a justia do "dente por dente", "olho por olho", que mata os assassinos e que pune os criminosos com o mesmo crime que eles praticaram; a justia da condenao eterna erigida em dogmas pelos Papas e Conclios.

  • uma justia sem discernimento e sem justia, uma justia sem misericrdia e sem verdade, justia que antigamente dizia ser o Cristo filho de Davi (Mateus, XXII, 41-46), e atualmente erige nos seus tribunais como smbolo de sua Justia, o Cristo Crucificado.

    Mas, esperamos novos Cus, que venham a ns para que o Reino de Deus seja proclamado, e ento, sacerdotes de prpuras, escribas e doutores, governos e parasitas governamentais sero desligados da Terra para espiarem suas faltas em mundos que necessitem de sua ao, entre povos imaturos que tambm tenham por emblema o "dente por dente, olho por olho".

    O nosso planeta est no perodo agudo das dores que assinalam a Era Nova, em que resplandecero, como estrelas de primeira grandeza: a Justia, a Misericrdia e a F.

    A TENTAO DE JESUS

    "Ento foi levado Jesus pelo Esprito ao deserto,

    para ser tentado pelo Diabo. E depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Chegando o tentador, disse-lhe: Se s Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pes. Mas Jesus respondeu: Est escrito: No s de po viver o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Ento o Diabo o levou cidade santa, e o colocou sobre o pinculo do

  • templo, e disse-lhe: Se s Filho de Deus, lana-te daqui abaixo; porque est escrito: Aos seus anjos ordenar a teu respeito; e eles te sustentaro nas suas mos para no tropeares em alguma pedra.

    "Tornou-lhe Jesus: Tambm est escrito: No tentars ao senhor teu Deus. De novo o Diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glria deles, e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Respondeu Jesus: Vai-te, Satans; pois est escrito: Ao Senhor teu Deus adorars, e s a ele fars culto. Ento o Diabo o deixou; e eis que vieram anos, e o serviam. (Mateus, IV, 1-11)

    "Imediatamente o Esprito o impeliu para o deserto. E ali ficou quarenta dias tentado por Satans; e estava com as feras, e os anjos o serviam." (Marcos l, 12-13.)

    "Cheio do Esprito Santo voltou Jesus do Jordo, e foi levado pelo Esprito no deserto durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. E nada comeu nesses dias; mas, passados eles, teve fome. Ento lhe disse o Diabo: Se s Filho de Deus, manda que esta pedra se torne em po. Respondeu-lhe Jesus: Est escrito que no s de po viver o homem. E levando-o a uma altura, mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo. Disse-lhe o Diabo: Dar-te-ei toda a autoridade e glria destes reinos, porque ela me tem sido entregue, e a dou a quem eu quiser; se tu, pois, me adorares, tudo ser teu. Respondeu-lhe Jesus: Est

  • escrito: Ao Senhor teu Deus adorars, e s a ele dars culto. Ento o levou a Jerusalm, o colocou sobre o pinculo do templo e lhe disse: Se s Filho de Deus, lana-te daqui abaixo; porque est escrito: Aos seus anjos ordenar a teu respeito para te guardarem, e eles te sustero nas suas mos, para no tropeares em alguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Dito est que no tentars ao Senhor teu Deus."

    "Tendo o Diabo acabado toda a sorte de tentao, apartou-se dele at ocasio oportuna.

    "Ento regressou Jesus para a Galilia no poder do Esprito, e a sua fama correu por toda a circunvizinhana. Ele ensinava nas sinagogas, sendo glorificado, por todos." (Lucas 1V, 1-15.)

    Os Evangelhos no representam mais que as narrativas dos evangelistas.

    Duas partes distintas neles se observa; primeira, a Doutrina de Jesus, com a reproduo dos ensinos do Mestre e seus feitos; segunda, as narrativas dos evangelistas contendo o seu modo de ver sobre os fatos que observavam e lhes foram contados, de acordo com a verso popular e os costumes daqueles tempos.

    A nossa tarefa ao escrever O Esprito do Cristianismo no compreende certamente defender opinies pessoais, transviando a inteligncia dos leitores, para encerr-la em artigos de f que no so sancionados pela razo e repugnam conscincia.

  • Para tornar grande o Cristo, no preciso revesti-lo do sobrenatural, nem elev-lo s regies do mistrio; basta que o apresentemos tal como foi, em sua Palavra, em suas aes, nos seus feitos, durante toda a sua dolorosa existncia neste mundo, em que at hoje o Esprito das Trevas parece ter maior ao que o Esprito Divino.

    A "tentao do Cristo" explica perfeitamente este nosso modo de ver.

    Planeta ainda muito inferior, em que as Potestades Inferiores tm ao mais direta que as Potestades Superiores, bem provvel que Jesus tivesse lutado contra essa poderosa "Falange dos Ares" que transvia reis e vassalos, governos e governados, sacerdotes e religies, sbios e discpulos, do seu esforo de se encaminharem para Deus, libertando-se do orgulho e do egosmo que se querem eternizar no mundo.

    Hoje sabemos que os dominadores daqui levam para o Alm-tmulo a sua indisciplina e a sua maldade, bem como a cincia que aqui e em outras existncias adquiriram; como os bons, os humildes, os verdadeiramente sbios, os santos, levam a cincia e santidade que so as Suas insgnias no Mundo Espiritual.

    Sabemos tambm que os Espritos Superiores no permanecem chumbados superfcie da Terra, nem tampouco, na baixa atmosfera que nos circunda, mas gozam de uma vida mais suave, em mundos areos

  • que, embora circundando o nosso mundo, so constitudos de matria mais quintessenciada, de ares mais puros, em virtude do seu progresso espiritual e para com mais facilidade realizarem maior evoluo, pois o progresso constante e a perfeio infinita.

    Assim tambm os Espritos inferiores, presos Terra, sem poderem elevar-se acima da pesada atmosfera que respiramos, so os que esto em contacto direto com o mundo corporal, em virtude do seu perispirito, ainda muito grosseiro, no lhes permitir maior surto.

    Cada mundo atmosfrico tem, naturalmente, seu governo de acordo com a natureza da sua populao. E tendo estes espritos ao sobre o nosso meio, nossos governadores, nossa populao, os "grados" que daqui partem agem sobre os similares que aqui esto, da o desvairamento que tem predominado, as revoltantes injustias, a falta de critrio, de senso, de lisura, de honestidade, e a predominncia do personalismo, do orgulho, do egosmo, em detrimento das leis divinas que absolutamente no so praticadas.

    Esses prncipes, deste e do outro mundo, constituem a falange denominada no Evangelho pelo nome de Satans ou Diabo. So os adversrios, os inimigos da Justia, do Bem, da Verdade.

    Jesus veio ao mundo para dar cumprimento Lei para que a Justia aparecesse, o Bem fosse a norma da vida e a Verdade a orientadora dos povos.

  • Ele tinha de se manifestar com todos esses predicados para ser reconhecido, porque se verdade que, segundo narra o Evangelho, muitos espritos obsessores o reconheciam e obedeceram, no menos verdade que outros, talvez mais "grados" do que esses, no o conheciam. Esperavam a vinda do Filho de Deus e procuravam o Filho de Deus, desejando reconhec-lo por algum sinal maravilhoso por algum milagre, por alguma obra capaz de os impressionar.

    Certamente o Diabo no teve por fim tentar o Filho de Deus, mas, sim, reconhec-lo, embora os evangelistas pensassem que o escopo do Diabo era fazer o Filho de Deus prevaricar.

    Na vida popular de Jesus, vemos que os diabos que representavam o governo tambm pediam milagres, pediam sinais, para apreciarem melhor se, de fato, Jesus era o Messias; e aqueles que receberam provas demonstrativas de que Jesus, com efeito era o Cristo, se converteram. Vemos, por exemplo, a conversao de Jairo, que era chefe de sinagoga; a de Zaqueu; vamos dizer tambm a de Nicodemos e outras. Contudo, a maioria no teve seno provas morais, porque o Mestre no dava nem um Sinal gerao perversa. S o "sinal de Jonas" poderia ser dado, assim como no quis dar nem um sinal a Satans, ao Diabo, que no deserto, no pico do monte e no pinculo do templo, tentou tirar provas se de fato Jesus era o filho de Deus.

  • Se o Mestre quisesse, Ele, que era acompanhado de um exrcito de Espritos seus auxiliares, de uma milcia de anjos, podia, sem desdouro para si mesmo converter pedras em po, como converteu a gua em vinho nas Bodas de Can; podia demonstrar ao Diabo que os reinos da Terra, Ele e a milcia que o seguia tomariam de um jato, independente da vontade do Diabo, assim como ressuscitou contra a vontade de Satans, que at chegou a mandar soldados lhe guardarem o tmulo; podia lanar-se do pinculo do templo, assim como andou a ps enxutos no Mar da Galilia; mas no quis satisfazer as exigncias do Diabo, porque o nico sinal que o Diabo precisava receber era o de ser Ele o Filho de Deus, era v-lo cumprir a Lei de Deus. E, de fato, esse sinal foi o bastante para que Jesus dominasse o poder do Diabo e se tornasse conhecido do Diabo; "O Diabo o deixou; e eis que vieram anjos e o serviam."

    *

    No se conclua do que ficou dito que s os

    espritos inferiores agem sobre a Humanidade. Naturalmente, sendo nosso mundo ainda muito atrasado, e seus habitantes muito apegados matria, esses espritos predominam.

    preciso, entretanto, no excluir do nosso nome o os Espritos Superiores. Muitos deles se acham

  • encarnados em misso na Terra, e grande nmero deles, desencarnados, vive em misso na baixa atmosfera, para fazer progredir aqueles que se acham preparados para receber seus ensinos, porque a misso dos Espritos consiste em intensificar o progresso. Haja vista a tarefa de Jesus, que era seguido por uma dzia de espritos encarnados de certa evoluo, que a acompanhavam em sua misso, assim como era tambm seguido por uma pliade de espritos que, vivendo no Espao, corroboravam no trabalho que o mestre executava. Era a "Milcia Celestial" que acompanhou Jesus desde o seu nascimento at a sua morte e depois da sua ressurreio. Dentre estes espritos desencarnados, dois bem se deram a conhecer como tendo vivido no mundo em eras passadas. Eram os grandes missionrios da Lei e dos Profetas: Moiss e Elias.

    *

    Aclarando a narrao dos Evangelhos, vemos que

    logo depois de haver-se dado Jesus a conhecer a Joo Batista, que era o seu precursor, o seu "apresentador", conhecimento que mereceu a sano do Esprito "que desceu sobre Jesus" imediatamente o Esprito o impeliu para o deserto, diz o Apstolo Marcos, e o Apstolo Lucas acrescenta que "cheio do Esprito Santo voltou Jesus do Jordo e foi levado pelo Esprito

  • ao deserto, onde permaneceu durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo"

    O trecho d a entender bem que quem levou Jesus ao deserto no foi o Diabo, mas sim o Esprito Santo, que com Ele se manteve durante todo o tempo em que Jesus l estivera "com as feras, e servido pelos anjos", como diz Marcos.

    O "tentador", certamente poderoso, pois chegou a afirmar que "a autoridade e glria dos reinos da Terra lhe havia sido entregues e que destes poderia dispor como melhor entendesse" (Lucas IV, 6), o "tentador", maravilhado ante a imponncia do quadro que se desdobrava a suas vistas - um homem no deserto cercado de Espritos de Luz - inclinou-se a saber se, de fato, seria aquele homem o Filho de Deus, o Messias esperado e prometido. Da as provas cruciais a que quis submeter o Senhor.

    "O homem, para ser olhado na Terra, procurado, invejado, precisa mostrar-se pelo seu ventre, pelo seu estmago, e se Jesus fosse capaz de converter uma pedra em po, estava dada a prova de que ele disporia de todos os manjares que regalam o estmago e intumescem o abdome:

    "O homem, para ser poderoso, precisa dispor do mundo, dos reinos e imprios; dos governos e das naes, e; para que assim acontea, tem ele de "dobrar a espinha" a uns e se curvar, genuflexo, a outros; e se

  • Jesus se submetesse aos convites do "tentador", no haveria dvida para este, em ser Jesus o Filho de Deus;

    "O homem, para se distinguir de seus semelhantes e mostrar a sua superioridade, deve ser prodigioso, porque os sinais e prodgios seguem sempre os homens extraordinrios. Se aquele homem do deserto, que subiu ao cume do monte e anda acompanhado de uma milcia de gnios for o Filho de Deus, no relutar em dar provas, lanando-se da abaixo, porque nenhum mal sofrer;

    "Se a Escritura reza que o Filho de Deus ser o Maravilhoso, o Deus Forte, o Pai da Eternidade, e que Ele ser o Grande Prncipe para firmar e fortificar o zelo do Senhor dos Exrcitos;

    "Se corre uma voz pelo mundo e pelo espao que Ele ser o dominador do mundo;

    "Submetamo-lo desde j prova, examinemo-lo detidamente.

    No podia ser outro o raciocnio de Satans, ansioso por verificar se, de fato, Jesus era o Filho de Deus, que vinha redimir, no um povo, uma nao, mas o mundo todo.

    Sem conhecimento do Deus Vivo que impera no universo todo, sustentando os sis, multiplicando os mundos, criando humanidades, como poderia Satans o Prncipe do mundo, como o chamou Jesus, reconhecer o Mestre Nazareno como sendo o Filho de Deus?

  • Se na poca atual Ele outra vez aparecesse na Terra, seria reconhecido pelos reis, pelos governadores, pelos sacerdotes, pelos papas? E os papas e os csares que se conservam no Espao, como reis e prncipes deste mundo, reconhec-lo-o, porventura?

    No exigiro, como o fez Satans, que o Senhor produza a converso da pedra em po, que o Senhor os adore para poder andar livremente no mundo, pregando o seu mister, que o Senhor se atire dos pinculos das Catedrais e dos Vaticanos e das sacadas das Academias, para que eles possam crer que Jesus o Filho de Deus, o Messias cujo advento todos os sacerdotes anunciam para breve, o Cristo que todas as religies dizem estar chegando?

    Haja vista o martirolgio de mdiuns que, submetidos a tantas experincias e provas, apesar dos prodgios operados, prodgios relatados em livres que enchem hoje bibliotecas, entretanto, no conseguiram impor sequer crena na Imortalidade, quanto mais estabelecerem a lei da Fraternidade na Terra!

    *

    Jesus no podia ser tentado pelo Diabo, nem Deus

    podia submeter o Seu Eleito, o Seu Enviado, o Seu Escolhido, a essa humilhao. O Diabo no teve por objetivo tentar a Jesus, mas, sim, investigar, examinar,

  • observar se Jesus era, com efeito, o Messias que se esperava. o Filho de Deus.

    Os nababos do Espao que formam o "cortejo satnico" no eram oniscientes, no sabiam se o "homem do deserto", vestido duma simples tnica e calado de sandlias; que no carregava um po para o seu retiro espiritual, nem sequer levava um travesseiro para reclinar sua cabea, e mesmo assim era respeitado pelas feras e servido pelos anjos, seria o Cristo, o Filho de Deus. Eles no sabiam, mas desconfiavam, e a dvida os encaminhou para o exame.

    A "tentao de Jesus" no passa dum ttulo posto nas Escrituras por opinies pessoais, que no interpretaram bem a traduo dos originais dos Evangelhos.

    Entretanto, o que se evidncia nessas passagens, o que se pode auferir dessas narrativas, que os espritos malvolos no respeitam individualidades, por maiores que elas sejam. Todos esto sujeitos ao das potestades invisveis, sejam elas boas ou ms. E se os maus se pem em relao conosco, com ou sem intuito de nos prejudicar, em compensao os bons vm auxiliar-nos: "Jesus, tentado por Satans, tinha, por outro lado, os anjos para O servirem". Deus, quando permite o convvio dum esprito inferior conosco, certamente para que ele progrida, e, no, para que nos prejudique; por isso envia tambm espritos superiores para nos auxiliarem.

  • O que preciso que nos tornemos inflexveis no cumprimento da Lei. J que "nem s de po vive o homem", e "s ao Senhor nosso Deus pertence o culto e a adorao", para que tiremos bom proveito na nossa tarefa terrestre cumpramos esses mandamentos, e Satans nos deixar, submisso ao nosso exemplo, propondo-se tambm, qui, a renunciar s suas pompas, que tanto o fazem sofrer.

    O Esprito do Evangelho a Religio de Jesus Cristo, religio natural, pura, verdadeira, que dispensa retrica e sofismas, milagres e mistrios que s podem destrutura-lo.

    Olhemos para Jesus e caminhemos. Sua Vida a vida que precisamos viver.

    4

    Jesus em Nazar "Indo a Nazar, onde se criara, ao sbado entrou na

    sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaias e, abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito:

    "O Esprito do Senhor est sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar boas novas aos pobres e enviou me para proclamar a liberdade aos cativos, restaurar a

  • vista aos cegos, por em liberdade os oprimidos e proclamar o ano aceitvel do Senhor."

    "Tendo fechado o livro, entregou-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele: Ento comeou Jesus a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura nos vossos ouvidos. E todos lhe davam testemunho e se maravilhavam das palavras cheias de graa que saiam da sua boca, e perguntavam: No este o filho de Jos? Disse-lhes Jesus: Sem dvida citar-me-eis este provrbio: Mdico, cura-te a ti mesmo; tudo o que soubemos que fizeste em Cafarnaum, faze-o tambm aqui na tua terra. E prosseguiu: Em verdade vos afirmo que nenhum profeta aceito na sua terra. Porm com certeza vos digo que muitas vivas havia em Israel nos dias de Elias quando se fechou o Cu por trs anos e seis meses, de modo que houve uma grande fome sobre a Terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, seno a uma viva de Sarepta de Sidon. Havia tambm muitos leprosos em Israel no templo do profeta Eliseu; e nenhum deles ficou limpo. seno Naam, o srio. E todos na sinagoga se encheram de ira ao ouvir estas coisas; levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram at o cume da montanha sobre o qual estava edificada a cidade, para o precipitarem; mas Jesus, passando por meio deles, seguiu o seu caminho." (Lucas IV, 16-30.)

  • Tendo Jesus sado dali, foi para a sua terra, e seus discpulos o acompanharam. Chegando o sbado, comeou a ensinar na sinagoga; e muitos, ao ouvi-lo, se admiravam dizendo: Donde lhe vem estas coisas, e que sabedoria esta que lhe dada? e que significam tais milagres operados por sua mo? No este o carpinteiro, filho de Maria, irmo de Tiago, de Jos, de Judas e de Simo? e suas irms no esto aqui entre ns?"

    "E ele lhes servia de pedra de tropeo. Ento Jesus lhes disse: Um profeta no deixa de receber honra, seno em sua terra, entre os seus parentes e na sua casa. E no podia fazer ali nenhum milagre, a no ser que ps as mos sobre alguns enfermos e os curou. E admirou-se por causa da incredulidade do povo. Ele andava pelas aldeias circunvizinhas ensinando." (Marcos VI, 1-6.)

    "E chegando sua terra, ensinava o povo na sinagoga, de modo que muitos se admiravam e diziam: Donde lhe vem esta sabedoria, e estes milagres? No este o filho do carpinteiro? sua me no se chama Maria, e seus irmos no so Tiago, Jos, Simo e Judas? E no vivem entre ns todas as suas irms? Donde lhe vem pois, tudo isso? E ele lhes servia de pedra de tropeo. Mas disse-lhes Jesus: Um profeta no deixa de receber honra, seno na sua terra e na sua casa. E no fez ali muitos milagres por causa da incredulidade do povo." (Mateus XII, 54-58.)

  • Os profetas s tm honra em sua terra depois de mortos. Nessa ocasio todos lhes do a primazia, todos exploram o direito patritico de os exaltarem.

    Enquanto vivos, contudo, deles todos zombam, e so menosprezados, repudiados.

    Assim acontece nas demais ramificaes do saber humano: em sua terra um artista no tem arte, um sbio no tem sabedoria, um santo no tem virtudes, embora suas obras se contraponham s negaes.

    Poderia, porventura, Jesus, criado em Nazar, oriundo de famlia humilde, pobre artista que vivia do seu trabalho rstico, gozar, na sua terra, das regalias de um profeta de Deus?

    No, no podia. Os preconceitos humanos esto acima de todos os raciocnios, de toda a lgica, impedindo o funcionamento da razo.

    O Mestre e Senhor j sabia de tudo isto, mas fazia se mister que o Evangelho fosse pregado em Nazar; por isso, logo que chegou, aguardou o sbado, em que as sinagogas funcionavam, e tomou a tribuna, porque era esse um direito que a ningum podia ser recusado.

    Naquele tempo os livros que formam hoje o Antigo Testamento, no se achavam enfeixados num s volume. Foi-lhe entregue o do Profeta Isaas. O Mestre escolheu o trecho que fazia referncia sua misso, toda celeste, toda divina; leu-o, fechou o livro, passou-o ao assistente e sentou-se.

  • At aquela data o Senhor j havia dado demonstrao positiva da alta incumbncia que lhe fora confiada: muitas excelentes novas j animavam coraes, inmeros cativos se achavam libertos, cegos haviam recuperado a vista, e o ano aceitvel do Senhor j se irradiava em luz benfica por toda a Palestina. O Mestre poderia, sem receio, apregoar que nele, de fato, se cumpria aquela Escritura, cujo anncio era ansiosamente esperado por todas as naes.

    Mas o homem terreno no se prende ao fundo, essncia, ao esprito de quem fala; olha para a forma e fascina-se pela palavra que soa.

    A forma no era m, a palavra era atraente, mas a condio humilde de quem falava era um embarao para a recepo da Doutrina, que, para ser mesmo pura e verdadeira, deveria ser dada por alguma eminncia de alta estirpe e trazer o selo oficial!

    Todos aplaudiam o Mestre, arrebatados pela sua Palavra sem mcula, cheia de graa e de amor; ficavam maravilhados, mas o esprito do preconceito perguntava pelos seus lbios: "no este o carpinteiro, filho de Maria, irmo de Tiago, de Jos, de Judas e de Simo? Suas irms no esto entre ns? No este o filho do carpinteiro Jos?"

    Como poderia Jesus livrar-se desse maldito esprito que, em vez de sondar coraes, devassa a vida privada, semeando mazelas onde no as encontra e distribuindo defeitos onde s h virtudes?

  • Por maior que fosse a fora moral do Mestre, por maior que fosse a autoridade de que se revestisse, Ele no se livraria daquele "defeito" - ser um carpinteiro, filho do humilde carpinteiro Jos, e ter por me, irmos e irms, gente do povo, que no se salientava por nenhuma representao oficial.

    Como poderia o "mdico que curava os outros", curar a si mesmo, do mal que os outros diziam prejudic-lo?

    Poderia ele fazer em Nazar tudo o que fizera em Cafarnaum?

    No, no podia, porque nenhum profeta aceito na sua terra, e, alm disso, os profetas no podem ser mesmo recebidos por todos, nem a todos so enviados. Em Israel havia muitas vivas no tempo de Elias, entretanto, a nenhuma delas Elias foi enviado seno de Sarepta, de Sidon. Muitos leprosos havia em Israel no tempo de Eliseu, mas nenhum deles ficou limpo seno Naam, chefe do exrcito do rei da Sria.

    Os profetas no so enviados a quem no est em condies de receb-los, assim como no se d prolas a sunos, nem brilhantes a felinos, nem as coisas santas aos ces, para que no as despedassem.

    E como se poderia enviar um mdico a doentes que no se querem tratar!

    Mas, os mesmos que se arrebatavam primeiramente com suas palavras cheias de graas, aqueles mesmos que se mostravam maravilhados ouvindo-o, quando ou

  • viram essa censura acre mas cheia de razo, encheram-se de ira, expulsaram-no da cidade, tentaram precipit-lo do monte sobre o qual estava a cidade, mas o Mestre no se deixou prender e partiu para outro lugar, pois lhe convinha anunciar o Evangelho em outras povoaes.

    Entretanto, mesmo na terra da descrena, em Nazar, Jesus conseguiu curar alguns enfermos, diz o Evangelista Marcos; e, se mais no pode fazer, diz Mateus, foi devido incredulidade do povo.

    A visita a Nazar, feita por Jesus, testemunha ou faz lembrar mais um dos inmeros sentimentos de benevolncia e abnegao que eram os caractersticos de extraordinria individualidade.

    Ele sabia de antemo os resultados que produziria a sua ida a Nazar, mas era preciso que ficasse gravada nas pginas de sua Histria mais esse ato de altrusmo do seu elevadssimo carter.

    5

    A Pesca Maravilhosa "Apertado pela multido que ouvia a palavra de

    Deus, achava-se Jesus na praia do Lago Genesar, e viu duas barcas junto terra; mas os pescadores,

  • havendo desembarcado, lavavam as redes. Entrando em uma das barcas, que era a de Simo, pediu-lhe que a afastasse um pouco da terra; e sentando-se na barca, dali ensinava a multido. Quando acabou de falar, disse a Simo: Faze-te ao largo; e lana as tuas redes para a pesca. Disse Simo: Senhor, tendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; porm, sobre a tua palavra lanarei as redes. Feita isto apanharam uma grande quantidade de peixe; e as redes rompiam-se. Acenaram aos seus companheiros que estavam na outra barca para virem ajud-los; eles vieram e encheram ambas as barcas, a ponto de comearem ela, a afundar mas vendo isto Simo Pedro caiu aos ps de Jesus, dizendo: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador. Pois, vista da pesca que haviam feito, a admirao apoderou-se de Pedro, e de todos os seus companheiros, bem como de Tiago e Joo, filhos de Zebedeu, que eram scios de Simo. Disse Jesus a Simo: No temas; de hora em diante sers pescador de homens. E levadas as barcas para a terra, deixando tudo, seguiram-no," (Lucas, V, 1-11.)

    De duas "pescas maravilhosas" nos falam os Evangelhos, que os Discpulos realizaram sob as ordens e direo de Jesus. Uma a de que vamos tratar, a outra foi narrada pelo Evangelista Joo no captulo XXI, 1-14, do seu Evangelho. A esta j fizemos referncia na obra Parbolas e Ensinos de Jesus.

  • A Doutrina do Cristo a sano da razo pelos fatos. O Senhor sempre procurava dar demonstraes dos seus ensinos com fatos que provassem perfeitamente a verdade da sua Palavra.

    Diz Lucas que, assediado pelas multides que pretendiam det-lo para que no as deixasse mostrou-lhes a necessidade que tinha de pregar o Evangelho do Reino de Deus tambm em outras cidades; mas, oprimido por essa multido, quando se achava na praia do Lago de Genesar, provavelmente o Tiberades, que era atravessado pelo Rio Jordo, entrou na barca de Simo e pediu a este humilde pescador que a afastasse um pouco da terra. Ento, mais livre do povo, dali ensinava a multido.

    O que ensinaria Jesus multido? Porventura recomendaria ele algum culto,

    observncia de algum sacramento? Passe o leitor os olhos nos captulos V, VI e VII, de

    Mateus, e ver nessas poucas pginas o resumo sntese maravilhosamente explanada da sua incomparvel Doutrina, clara, lgica, racional, mas que, entretanto, o Senhor no quiz deixar sem provas objetivas para que ficasse erguido esse templo sobre a rocha indestrutvel dos fenmenos psquicos, nicos que podem, verdadeiramente, assegurar a perpetuidade da sua Palavra, estendendo-se sobre a vida no Alm, desde que ela a Palavra da Vida Eterna.

  • Pedro, bem como seus scios Tiago e Joo, j haviam presenciado muitos fatos operados por Jesus, como a "cura da sogra" daquele, bem assim a de muitos outros possudos por espritos malignos, como o endemoninhado de Cafarnaum; mas, no eram capazes de imaginar que sob as ordens daquele moo fosse possvel, aps insana lida, durante uma noite inteira de atirar redes sem colherem peixe algum, essas redes encher-se por encanto, a ponto de ser preciso chamar outros companheiros que estavam em outra barca para auxili-los a pux-las para terra, pois se rompiam ao peso de tantos peixes.

    Como se operaria esse milagre? O que teria feito Jesus para que assim acontecesse?

    Os fatos, quando aparecem s nossas vistas, no nos do tempo de pensar, porque ficamos deslumbradas ante a majestade desses mesmos fatos. "Simo, absorto cai aos ps de Jesus e lhe diz: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um pecador".

    Os fatos so os produtores das maravilhas, e constituem os aguilhes que nos foram ao progresso, espiritualidade. Foi com esse fim que o Senhor manobrou os fatos, para que eles pudessem despertar almas adormecidas por sugesto de religies decrpitas.

    A prodigiosa fora espiritual de Jesus, sua grande autoridade, os seus inmeros auxiliares que no invisvel punham em ao a sua Palavra, todos esses

  • elementos ss ou reunidos, expiram muito bem a reunio dos peixes em determinado lugar, para que as redes se enchessem e o efeito desse fenmeno calasse no nimo de seus discpulos.

    Os leitores que nos tm acompanhado j conhecem muito bem o efeito das foras vivas da Natureza, o poder do magnetismo animal, da dupla vista, da viso distncia e da ao dos Espritos sobre as coisas animadas e inanimadas.

    Pois foi por estes meios que Jesus conseguiu fazer que seus futuros apstolos realizassem a "pesca maravilhosa."

    A lio foi mais moral do que material, como o foi a lio do "estater da boca tio peixe."

    Queria o Mestre fazer ver queles a quem outorgaria a misso do Apostolado que, se permanecessem com Ele e com os seus ensinos, teriam a sua assistncia e lhes seriam mostrados os bandos e cardumes de homens que se converteriam Nova F, pois, Ele que estava resolvido a transformar os "pescadores de peixes" em "pescadores de homens", queria fazer dos "pescadores de corpos" pescadores de almas.

    Finalmente, h "duas pescas maravilhosas" assinaladas nos Evangelhos e transmitidas s geraes.

    A primeira o encorajamento para vencer as lutas que esperam os divulgadores da Palavra, e, a outra, que se verificou depois da morte do Mestre, conforme

  • narra o Evangelista Joo, captulo XXI, a confirmao das graas com novas promessas de Imortalidade.

    6

    As Bens-Aventuranas - Os Ais - A Nova Lei do Amor

    "E olhando para os seus discpulos, comeou a

    dizer: Bem-aventurados vs os pobres, porque vosso o Reino de Deus. Bem-aventurados vs que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vs que agora chorais, porque vos rireis. Bem-aventurados sois, quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem de sua companhia, vos ultrajarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, pois grande o vosso galardo no Cu; porque assim seus pais trataram os profetas. Mas ai de vs, que sois ricos, porque j recebeste a vossa consolao! Ai de vs, os que agora estais fartos porque tereis tome! Ai de vs, os que agora rides; porque haveis de vos lamentar e chorar! Ai de vs, quando todos vos louvarem, porque assim seus pais trataram os falsos profetas!

  • "Digo-vos, porm, a vs que me ouvis: Amai os vossas inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem, orai pelos que vos insultam. Ao que vos bater numa face, oferecei-lhe tambm a outra; e ao que vos tirar a capa, no lhe negues a tnica. Dai a todo que vos pede; e ao que tira o que vosso, no lho reclameis. Assim como quereis que vos faam os homens, assim fazei vs tambm a eles. Se amais queles que vos amam, que mereceis? Pois tambm os pecadores amam aos que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, que mereceis? At os pecadores fazem isso. E se emprestardes aqueles de quem esperais receber, que mereceis? At os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porm, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, nunca desanimando; e ser grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altssimo; porque Ele benigno para os ingratos e maus. Sede misericordiosos como misericordioso o vosso Pai. No julgueis, e no sereis julgados; no condeneis e no sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; dai e dar-se-vos-; boa medida, recalcada, sacudida, transbordando, vos poro no regao; porque a medida de que usais, dessa tornaro a usar convosco." (Lucas VI, 20-38.)

    Neste discurso se resume todo o ensino, toda a doutrina, toda a religio de Jesus.

  • Aquele que for capaz de pr em prtica todos esses preceitos, pode dizer no s que discpulo de Jesus, mas at que seu verdadeiro seguidor.

    Na prtica das recomendaes que do ingresso s bem-aventuranas, os homens encontraro a felicidade eterna; na prtica das que se referem aos "ais" tero eles o infortnio.

    O vinho novo o smbolo da Nova Lei do Amor que o Mestre, o Enviado de Deus, trouxe ao mundo, para fazer deste mundo de infortnio, um mundo de paz e de fraternidade.

    A nova vestidura referida pelo Nazareno, que no podia ser cortada para remendar roupa velha, consiste justamente nesta sntese religiosa mas verdadeiramente religiosa, exposta pelo grande Pregador dos Divinos Preceitos!

    Qual religio, seita, doutrina, filosofia, pode ser comparada Doutrina de Jesus?

    O Catolicismo com seus antemas e exclusivismo? o Protestantismo com o seu crculo vicioso de f passiva, sem tolerncia, sem amor para com os seus inimigos? O Budismo, o Xintosmo?

    Nenhuma! A nica doutrina perfeita, que a mais alta concepo espiritual que se pode imaginar, a que se acha sintetizada nesses 18 versculos. Amar os inimigos, fazer o bem a quem nos persegue, ultrapassa a todo o entendimento humano, por isso todos esses preceitos deixaram de ser dados multido. A

  • multido no os compreenderia, no os praticaria absolutamente. Resolveu Jesus, portanto, transmiti-los somente aos seus Discpulos. Estes, sim, estavam altura de receber essa Palavra, estavam aptos para meditarem sobre to transcendentais lies, e se esforarem para p-las em prtica, pois s por esse caminho, s com esse auxlio poderiam galgar os andares, os planos superiores da vida eterna.

    "No vos incomodeis com a pobreza, a misria, a fome, as tribulaes, o dio de uns e as injustias de outros, porque vos achais num mundo de miserveis egostas, de nojentos e orgulhosos, de dspotas e maus, de injustos e ingratos e tereis que suportar suas injustias, seu desamor, suas ingratides, suas maldades, pois na vossa tarefa missionria, para a realizardes como deveis, no podeis perder tempo rebatendo um e acusando outro. Vosso tempo precioso, e deveis aproveit-lo em coisas que vos afetam espiritualmente.

    melhor deixar a capa e no pensar mais na capa, do que discutir ou brigar dois dias, dois meses ou dois anos para reaver a capa e perder esse tempo que poderia ser aplicado nos vossos deveres espirituais.

    E melhor receber o tapa e preparar a outra face para receber outro tapa, sem vos preocupardes com os tapas, do que ferir o vosso agressor atrasado e ignorante, e perder um ms na priso com prejuzo de

  • vossa misso. Sede benevolentes para com os maus e o seu nmero diminuir ao menos para convosco.

    Dai, emprestai, porque o Pai Celestial, que misericordioso at para com os ingratos, por no vosso regao uma medida transbordando e recalcada.

    No vos detenhais ante as fragilidades da vida, no percais tempo a seguir o co que vos feriu, mas procurai meios de dominar-lhe a ferocidade com uma talhada de po, ou um pedao de carne.

    A Deus pertence a justia e os que riem hoje, choraro amanh; os potentados de agora, sem amor e sem benevolncia, que se acham consolados com o seu ouro, sero vazios; os fartos, egostas e avarentos tero fome.

    No apresseis os acontecimentos que vos penalizaro mais tarde, ao ver os que tiveram bens em farrapos, e os que foram injustos, escravizados!

    No exerccio da vossa tarefa esprita no vos entristeais por vos no louvarem os "sbios e entendidos" e at por vos odiarem eles e vos expulsarem de sua companhia, tendo o vosso nome como indigno, porque os seus pais trataram do mesmo modo os profetas que vos precederam. Antes regozijai-vos e continuai no desempenha do vosso dever, porque a honra, a glria, a hosana, s cabe a Deus!

    Amai, amai sempre porque o amar vence tudo. O Amor a Lei, sem o Amor no h profecia. Amai, envolvei-vos dessa nova vestidura que o Senhor vos

  • ofertou e que ser para vs o resguardo nas intempries, o auxlio na viagem, o escudo na luta, e resplandecer um dia na vossa alma como a tnica do Cristo no Monte Tabor!

    Amai: sem amor no h religio, no h Jesus Cristo, no h Deus.

    Amai, porque o amor a ncora da salvao no Porto Seguro da Vida Eterna.

    7

    A Vocao de Levi - A Popularidade de Jesus "Saiu e viu Jesus um publicano chamado Levi,

    sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, se levantou e o seguiu.

    "Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; e era grande o nmero de publicanos e outras pessoas que estavam com ele mesa. Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discpulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? Respondeu-lhes Jesus: Os sos no necessitam de mdico, mas sim os enfermos. No vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. Disseram-lhe eles: Os discpulos de Joo jejuam freqentemente e fazem oraes; assim

  • tambm os dos fariseus, mas os teus comem e bebem. Mas Jesus lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo est com eles? Dias, porm, viro, dias em que lhes ser tirado o noivo, ento nesses dias ho de jejuar. Props-lhes tambm uma parbola: Ningum tira remendo de pano novo e o pe em vestido velho; de outra forma rasgar o novo e o remendo novo no condir com o velho; outrossim, ningum pe vinho novo em odres velhos; de outra forma o vinho novo rebentar os odres; pelo contrrio, vinho novo deve ser posto em odres novos. Ningum que j bebeu vinho velho, quer o novo porque diz: o velho melhor." (Lucas, V, 27-39.)

    "Jesus, partindo dali, viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele se levantou e o seguiu.

    "Estando ele em casa, mesa, vieram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se com Jesus e com os seus discpulos. Os fariseus, vendo isto, perguntavam aos discpulos: Por que come o vosso mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus ouvindo-os, disse: Os sos no precisam de mdico, mas sim os enfermos. Porm, ide aprender o que significa: misericrdia quero, e no holocaustos; pois no vim chamar os justos, mas os pecadores." (Mateus IX, 9-13.)

  • "Saiu Jesus outra vez para beira-mar; e Poda a multido vinha ter com ele, e ele os ensinava. E quando ia passando, viu a Levi, filha de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele se levantou e o seguiu.

    "Estando Jesus mesa em casa de Levi, sentaram-se tambm com ele e os seus discpulos muitos publicanos e pecadores, pois havia muitos que o seguiam. E vendo os escribas dos fariseus que ele comia com os pecadores e publicanos, perguntaram aos discpulos dele: Como que ele come com os publicanos e pecadores? Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: os sos no precisam de mdico, mas sim os enfermos; no vim chamar os justos, mas os pecadores.

    "Ora, os discpulos de Joo e os fariseus estavam jejuando. E eles vieram perguntar-lhe: Por que jejuar aos discpulos de Joo e dos fariseus, mas os teus no jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento enquanto o noivo est com eles? Durante o tempo em que tm consigo o noivo, no podem jejuar. Dias, porm, viro, em que lhes ser tirado o noivo, ento nesses dias jejuaro. Ningum cose remendo de pano novo em vestido velho; de outra sorte o remendo novo tira parte do remendo velho, e torna-se maior a rotura. Ningum pe vinho novo em odres velhos; de outra forma o vinho far rebentar os odres, e perder-se- o vinho e

  • tambm os odres; pelo contrrio, vinho novo posto em odres novos." (Marcos II, 13-22.)

    Estas e outras passagens evanglicas se constituem em enorme repositrio de ensinamentos. E ao lado desses ensinamentos, v-se, claramente transparecer a figura inconfundvel de Jesus, bem assim o conjunto dos seus ensinos, livres de qualquer principio dogmtico, ou de qualquer interpretao humana da Religio.

    O saber de Jesus, seus costumes, sua superioridade moral no falar, no ensinar, no tratar seus adversrios; sua preocupao constante em difundir a Doutrina de que era portador, seu desejo de que ela fosse compreendida por todos; o esprito de cosmopolitismo que o dominava, tudo aparece nessas simples passagens, dignas de serem comentadas por melhor pena que a nossa.

    A popularidade de Jesus nascia justamente da humildade e da benevolncia, que eram os seus caractersticos dominantes. Ele preferia sempre a c