caio fernando abreu - inventário do ir-remediável

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1970 Inventário do ir-remediável Prêmio Fernando Chinaglia 1969 2ª edição revista elo a!tor

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1970

Inventáriodo

ir-remediável

Prêmio Fernando Chinaglia 19692ª edição revista elo a!tor

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"#$%& $' P(%)%

Inventário do Irremediável *oi me! rimeiro livro !+li,ado %ntes dele. havia !m vol!me de,ontos ,hamado )rês )emos /ortos. ,!os originais a,a+aram se erdendo deois deganharem. em 196. !ma /enção onrosa no Prêmio 3os4 5ins do (ego. da 5ivraria 3os4#lmio 'ditora 'm 1970. Carlos 3orge %el edito! aenas 00 e8emlares ela 'ditora/ovimento. lançados em noite de a!tgra*os na lendária 5ivraria Colet:nea. do me! maiorin,entivador ;,om /adalena <agner. =!e n!n,a mais volto! da %lemanha>. o es,ritor %rnaldoCamos 'm 192. Pedro Pa!lo de &ena /ad!reira ro?s reeditá-lo ela @ova FronteiraPrati,amente res,revi-o todo nessa 4o,a. a artista lásti,a /agliani *eA !ma linda ,aa masPedro Pa!lo desligo!-se da editora. e! viaei. entrei em novos roetos e a ,oisa a,a+o! nãoandandoPor =!e retomá-lo agora. 2 anos deoisB Primeiro. ainda a,redito nele &eg!ndo. 4rati,amente !m novo livro $a rimeira edição *oram eliminados oito ,ontos. os restantesrees,ritos. e at4 o tt!lo m!do!. assando da *atalidade da=!ele irremediável ;algo melan,li,oe sem sada> ara ir-remediável ;!m traeto =!e ode ser ,onsertadoB> )er,eiroD a,ho =!e sedeve insistir na ermanên,ia de t!do a=!ilo =!e desa*ia Cronos. o de!s- )emo ,r!el.devorador dos rrios *ilhos 'sta reedição *i,a. assim. ,omo !ma es4,ie de ,omemoraçãodas minhas. digamos. +odas de rata ,om a literat!ra 'stes ,ontos *oram es,ritos entre 1966. entre &antiago do "o=!eirão. onde e! ,ost!mavaassar as *4rias na ,asa de me!s aisE Porto %legre da 4o,a da *a,!ldade &ão Pa!lo dosrimeiros lo!,os temos de 196. %I- e e+!lição ,!lt!ral. e *inalmente a Casa do &ol. de ildailst. em Caminas Foi na ,asa de ilda =!e dei *orma *inal aos te8tos. ins,revendo-os noPrêmio Fernando Chinaglia ara a!tores ainda in4ditos em livroCreio =!e o mais erigoso neste Inventário 4 a e8,essiva in*l!ên,ia de Clari,e 5ise,tor. m!itontida em istrias ,omo Cor!as o! )ri:ng!lo %morosoD ariação &o+re o )ema /as há aindao!tras in*l!ên,iasD a do no!vea! roman *ran,ês de (o++e-Grillet. @atalie &arra!te e /i,hel"!tor. n!m ,onto ,omo Ponto de F!ga. e tam+4m do realismo-mági,o latino-ameri,ano ;em ##vo o! # /ar /ais 5onge H!e e! eo>. vagas alegorias so+re a ditad!ra militar do Pas ámeros e8er,,ios de *orma e estilo. al4m de te8tos demasiado essoais. =!e soam mais ,omotre,hos de ,artas o! diário ntimo&ea ,omo *or. ,om todas as s!as irreg!laridades e m!itas retenses ;*re=Jentemente 4demasiado literário>. sem dKvida Inventário do Irremediável *oi !ma das +ases de todos oslivros =!e vieram deois H!em sa+e isso talveA ossa interessar. al4m de mim mesmo. aalg!ns leitoresB Gostaria m!ito =!e sim

Caio Fernando %+re!/enino $e!s. setem+ro de 199

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 À memória de Carmen da Silva

Para:Hilda Hilst Madalena Wagnere Maria Lídia Magliani 

Vou com sonâmbulos e corsários !oetas astrólogos e a torrente

dos mendigos !erdulários"Cecília Meireles

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I@'@)L(I#&

$% /#()' 11#s ,avalos +ran,os de @aoleão 1M% =!em interessar ossa 21Cor!as 27%eron MM# ovo M6# mar mais longe =!e e! veo N$% &#5I$O# 1Ponto de *!ga MPai8ão seg!ndo o entendimento 9Fotogra*ia 6MItinerário 66# ,oração de %lAira 7M$omingo 7$# %/#( M$iálogo )ri:ng!lo amorosoD variação so+re o tema 91/eio silên,io 9%mor 99%mor e desamor 10N%enas !ma maçã 107$# '&P%@)# 11# rato 117/adr!gada 12N% ,have e a orta 12/etais al,alinos 1MMer+o transitivo direto 1MF!ga 1NInventário do ir-remediável 11

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 #escansa: !ouco te c$orar%o"""

& im!ulso vital a!aga as lágrimas !ouco a !ouco'uando n%o s%o de coisas nossas"

'uando s%o do (ue acontece aos outros sobretudo a mortePor(ue ) a coisa de!ois da (ual nada acontece aos outros"

*+ernando Pessoa,-lvaro de Cam!os.

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$% /#()'

OS CAVALOS BRANCOS DE NAPOLEÃO

Para /ra0a 1unes

% rin,io os ,avalos eram mansos Ino*ensivos ,omo moças antigas *aAendo se!*ooting na tarde de domingo Foi s deois de ,erta ,onvivên,ia. ganhando intimidade. =!e,omeçaram a tornar-se erigosos. assando da mansidão se,!ra e da se,!ra agressividade H!ando isso a,onte,e!. á t!do estava erdido @a verdade talveA estivessedesde semre. ois ,onvenhamos. ver ,avalos. e ainda or ,ima +ran,os -não 4 m!ito normal' =!em sa+e a doç!ra do in,io *osse aenas !m estratagemaD se de imediato os ,avalostivessem se mostrado ,omo realmente eram. 4 rovável =!e @aoleão não os re,e+esse 'onde eles. o+res ,avalos +ran,os reeitados. en,ontrariam o!tro alg!4m ara sed!Air eatormentarB #!tra hitese 4 =!e não teriam sido roriamente !m malD @aoleão os teriatraAido ,onsigo. latentes. desde o Ktero materno. e s de reente vieram tona Como seag!ardassem ,ir,!nst:n,ias mais ro,ias ara ata,ar Pois eram inteligentes ' r!dentes.tam+4m

%ntes. antes de t!do. @aoleão era advogado Carregava ,onsigo !m so+renometradi,ional e as demais ,ondiçes não menos essen,iais ara ser !m +om ro*issional &!avida se arrastava !ridi,amente. ,omo se estivesse destinado advo,a,ia 'm s!a rria,asa. hora das re*eiçes. todos dias semre se desenrolavam movimentadssimos

 !lgamentos$os =!ais ele era o r4! %,!sado de não dar !m anel de +rilhantes ara a esosa nem

!m *!s,a ara o *ilho nem !ma saia mar=!antiana ara a *ilha 'vent!ais visitas *aAiam ,orode !rados. onde s veAes ,ola+oravam ,riados mais Qntimos. semre ,on,ordando ,om aesosa. romotora tenaA e ,a,iosa )reinado desse eito. diariamente e ,om a vantagem deestar na do,e intimidade do d!l,ssimo lar. não era de admirar =!e *osse advogado,ometente &o+ret!do. e8eriente 'ntre a4is de de*ensor e a,!sado. dividia-se ema,iên,ia @ome nos ornais. ,a!sas vitoriosas. veAen=!ando *aAiam-no sorrir grati*i,ado.ensando =!e. en*im. nem t!do estava erdido. ora /as estava 'm+ora ele não so!+esse#! =!em sa+e estava t!do a,hado e não erdido. de tal maneira estão +em e mal interligadosB# *ato 4 =!e ele não sa+ia @ão sa+endo. não odia l!tar @ão odendo l!tar. não odiaven,er @ão odendo ven,er. estava derrotado Rm derrotado em oten,ial. ois ele vi! elarimeira veA

$e!-se nas *4rias. na raia. =!ando olho! ara as n!vens ' o *ato de ter vistoe8atamente ,avalos ainda mais e8atamente. +ran,os -talveA tivesse mesmo a ver ,om se!nome. ,omo mais tarde insin!aram os si=!iatras &e se ,hamasse %li o! /!sta*á.rovavelmente teria visto ,amelosB o! to!ros. se se! nome *osse 3!an o! Pa+loB /as narimeira visão isso não teve imort:n,ia &imlesmente vi!. ,om a simli,idade má8ima =!e há

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no rimeiro movimento do ato de ver )ão nat!ral a,ho! =!e ,!t!,o! a esosa deitada ao lado.aontando. olha s. /arta. ,avalos +ran,os nas n!vens @ão havia esanto nem temor nass!as alavras %enas a reação esont:nea de =!em vê o +eloD mostrar /arta disse nãoen,he. @aoleão. ,oisa ,hata ,!t!,ar ,om este ,alor

Como ele insistisse. a*asto! os ra+ans e de! !ma esiada %,ho! =!e as n!venstinham mesmo ,erto eito de ,avalos )ran=JiliAada. asso! !m o!,o mais de +ronAeadorargentino nas ,o8as # =!e ela não er,e+ia 4 =!e os animais estavam al4m ;o! a=!4m> dasn!vens ' entre elas assavam. ora galoantes. ora trotando. !ma +ran,!ra. !ma !reAa tãogrande e=!inidade a+sol!ta nos movimentos )anta =!e @aoleão is,o!. ,omovido ',omeço! a a*!ndar Por=!e ver 4 ermitido. mas sentir á 4 erigoso &entir aos o!,os vaie8igindo !ma s4rie de ,oisas o!tras. at4 o momento em =!e não se ode mais res,indir do=!e *oi simles ,onstatação 'm +reve os ,avalos se dil!ram no aA!l @aoleão volto! s!a%gatha Christie

@esse dia. n!vens dissiadas. no ,4! de !m aA!l sem mágoa não havia mais esaçoara os ,avalos & no n!+lado da manhã seg!inte eles voltaram a aare,er $esta veA. á,om o egosmo de =!em int!i =!e a ,oisa ,omeça a signi*i,ar. @aoleão não =!is dividi-los,om ning!4m %*!ndo! neles. ,oro desregado i da areia. levssima levitação. ,on*!ndindo-se,om as n!vens. tão ma,ias as ,arnes rel!Aentes. as ,rinas sedosas. os ,as,os marmreos.relin,hos +a,hianos +rotando das modiglianes,as gargantas. ri,os ,omo a,ordes +arro,os'stende! as mãos ara to,á-los. mas eles se es=!ivaram !di,os e desaare,eram $e volta areia. @aoleão olho! ,om ,erta s!erioridade ara a esosa. a,hando-a v!lgar na=!ela *alsamoreneAa tão oosta +ran,!ra dos ,avalos

Começo! a ,!ltivá-los Per,e+endo-os tmidos. asso! a *aAer longas ,aminhadassolitárias ela raia Per,e+endo-os lri,os. es,olhe! a hora do ?r-do-sol ara se!s *!rtivosen,ontros ' eles vinham %gora se dei8avam a*agar. *o,inhos a+ai8ados ,om sestro e+reeiri,e ariavam em =!antidade. n!n,a de ,or Como moças-de-reseito. amais oen,ontravam soAinhos. em+ora. ima,!ladamente +ran,os "ran,os o! +ran,asB Sg!as o!garanhesB @a verdade @aoleão amais sa+eria ese,i*i,ar-lhes o se8o ' =!e imort:n,iatinhaB 'm+ora aai8onado. não retendia dormir ,om eles;as>. ortanto era indi*erente s!ase8!alidade %*agava-os ,omo a*agaria !ma rosa. vivesse metido em ardins ao inv4s detri+!nais Como antigos vasos de or,elana. taetes ersas. re,iosidades s =!ais aenas seama. na tran=Jilidade de nada e8igir em tro,a )ran=Jilo. então. ele os;as> amava oltava+anhado em aA. rosto des,ontrado. sorrindo ara os animais aloados no *!ndo de s!asrrias !ilas /!lher. *ilhos. ,riados. visitas. viAinhos s!rreendiam-se ao vê-lo ,res,er dia adia em seg!rança e *orça #s ha+it!ais Kris não mais o ert!r+avam Pairava agorain*initamente a,ima de =!al=!er enalidade o! m!lta )anto =!e a esosa ,hego! a ensarseriamente em erg!ntar-lheD o =!e 4 a erdadeB ois dessa nem Cristo es,aara ileso Calo!-!m o!,o or ser demasiado ,atli,a. medrosa do sa,ril4gio. mas rin,ialmente or senti-loainda al4m da=!ela erg!nta. em+ora. org!lhosa. não o ,on*essasse a si mesma

oltando ,idade. *im de *4rias. ele teme! =!e os ,avalos o tivessem a+andonado(ealmente. d!rante dois dias eles desaare,eram @aoleão es=!e,e! Kris. ro,essos.reresentaçes. dedi,ado somente a!sên,ia dos amigos. onto +ran,o dolorido no se!ta=!i,árdi,o ,oração FeA então o rimeiro re,onhe,imentoD eles haviam ass!mido vitalimort:n,ia @ão odia mais viver sem os ,avalos $essa ,erteAa. arti! ara !ma seg!ndaDeram a Kni,a ,oisa realmente s!a =!e amais tivera em toda a vida

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/as eles voltaram 'ntraram ela anela a+erta do tri+!nal n!m dia em =!e ele estavaese,ialmente in*lamado na de*esa de !m matri,ida % rin,io ainda tento! rosseg!ir. *ingi!não os ver. traição. oção terrvel. entre o amor e a !stiça. ,omo na telenovela a =!e s!am!lher assistia 'les não estavam do,es $eois de entrarem ela anela. instalaram-sersidos entre os !rados $e onde o+servavam. se,os. in=!isidores &em sentir. @aoleão,omeço! a *alar ,ada veA mais +ai8o. mais lento. at4 a voA es*arelar-se n!m m!rmKrio dedes,!las. em ,ho=!e ,omo m!rmKrio de revolta ,res,endo dos arentes do r4! @aoleãoolho! ansioso ara os ,avalos. =!e não *iAeram nenh!m gesto de arovação o! tern!ra(gidos. álgidosD eseravam

# =!êB *oi a erg!nta =!e ele se *eA em :ni,o es,avando o ,4re+ro &em resosta.manteve-se en,olhido e =!ieto at4 o *inal do !lgamento 'stariam AangadosB

Por =!e oh me! $e!s. or =!êB /esmo assim a,omanharam-no at4 a orta de ,asainstalados no +an,o traseiro do a!tomvel /!dos @aoleão entro! devagar na sala =!asees,!ra. ,riados inde,isos entre aroveitar a l!A mortiça do entarde,er o! a,ender a l!A el4tri,aCon*!so. enterro! a ,a+eça nas 1mãos @esse instante. a l!A a,ende! e !m amigo. tam+4madvogado. entro! a,omanhado de /arta

%/IG# ;,arinhoso e ,omla,ente> -@ão há de ser nada. @aoleão Isso a,onte,e at4,om os melhores o,ê não deve se deseserar %s ,oisas voltam a ser ,omo antes

/%()% % ;o!sando a mão no om+ro de @aoleão> -%*inal. *oi a rimeira veA. me!+em

@%P#5'O# ;en,arando-os. agrade,ido> To,ês viram. entãoB iramB %h. e! não sei,omo e8li,ar Pare,ia t!do tão +em. tão ,omleto '! não entendo o =!e ho!ve

%/IG# - Isso a,onte,e. @aoleão/%()% - @ão se desesere. =!erido%/IG# - o,ê não teve ,!la/%()% - o,ê estava nervoso@%P#5'O# ;o+sessivo> - /as vo,ês reararam na atit!de delesB (eararam mesmoB%/IG# ;,on,iliador> - @at!ral =!e *i,assem revoltados. @aoleão %*inal. são arentes.

,lientes. agaram os t!+os H!eriam !m serviço +em *eito/%()% - Claaaaaro '. en*im. o ,ara ego! s sete anos @ão 4 tanto assim. vo,ê

ode aelar. edir o tal de ha+eas-,or!s@%P#5'O# ;erg!endo-se +r!s,o da oltrona> - ParentesB ClientesB (4!B a+eas-

,or!sB /as e! esto! *alando 4 dos ,avalos. entendemB $os ,avalos. ,aralhoU #s arentes. osr4!s. os !rados. =!e se *odam. entendemB H!e se *odam &em vaselinaU # =!e me interessasão os ,avalosU

/arta e o amigo se s!rreenderam ' reveAaram-se em des,!las. a ,lera de@aoleão ,res,endo. me! $e!s. *i,o! ert!r+ado ,om o *ra,asso. /aria. traA !m ,oo dVág!a.o ,oração. @aoleão. olha o in*arto. !ma asirina. minha *ilha. ,alma. @aoleão. elo amor de$e!s. ,riat!raU

%,almo!-se Pelo menos at4 os ,avalos voltarem. no dia seg!inte %inda indi*erentesremotos % ira ,res,e! de novo. medo de erder se! Kni,o motivo. se! Kni,o aoio Chamaramo m4di,o $e!-lhe ineçes. ,almantes. +ar+itKri,os 'ntre erodos de in4r,ia e desesero.@aoleão se dividia eio si=!iatra $evasso! a s!a vida. *aAendo-o ,orar de vergonha e raivae indignação @!n,a enso! em dormir ,om s!a mãeB 3á teve relaçes homosse8!aisB 'm

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,aso a*irmativo. ativas o! assivasB 3á enso! em estrang!lar a s!a esosaB ' em dormir ,oms!a *ilhaB H!e sensação e8erimenta =!ando está de*e,andoB Gosta de sentir dorB 'm ,asoa*irmativo. rovo,ada or homem o! m!lherB

Comle8os de Sdio. #restes. %gamemnon. 3o,asta. ilito. I*igênia. Promete!.Clitemnestra -toda a mitologia grega *oi ,olo,ada em *!nção de s!a doença'm aenas doisdias. *oi o+rigado a ler toda a o+ra de Ss=!ilo. &*o,les e '!redes ara des,o+rir =!andodevia o! não se o*ender (t!los ,omo sadomaso=!ista. ederasta. es=!iAo*rêni,o. arani,o.,om!nista. ate!. hiie. nar,isista. si,od4li,o. ma,onheiro. anar=!ista. ,atat?ni,o. tra*i,antede +ran,as ;o! +ran,osB> *oram-lhe imostos s!,essivamente elos si,analistas

Pa,iente. assivo. a,eitava t!do sem se=!er tentar ,omreender $a si,oteraiaindivid!al asso! de gr!o. e desta ao si,odrama. sonoteraia. eletro,ho=!es -s!+metendo-se in,l!sive a !m novssimo m4todoD a ,avaloteraia. ,riado ese,ialmente ara ele

Consistia em ermane,er d!rante d!as horas diárias no meio de ,avalos reais'8,l!sivamente retos. e os mais ,avalares ossveis. isto 4. mal,heirosos. des!dorados.arrogantes. et, @ada ,onseg!ia ,!rá-lo Passava de si,logo a si=!iatra. a si,analistaE desanatrio a ,asa de saKde. a hos,io ' nada 'n=!anto isso. os ,avalos mostravam-se ,adaveA mais agressivos. ,hegando mesmo o!sadia de investir ,ontra ele /elan,li,o. ,horavanoites inteiras. +!s,ando e8li,açes ara a atit!de ,ada veA mais ine8li,ável de se!s antigos,omanheiros #s si=!iatras. a esosa. os *ilhos. os ,riados. os ,olegas -todos ,res,iam eme8igên,ias. magoando-o ,om dKvidas e erg!ntas s!seitas @aoleão dimin!a em :nimo esaKde @ervos *lor da ele. re,!sava-se a ,omer o! +e+er e. nos Kltimos temos. in,l!siveem resonder s erg!ntas dos analistas

@!ma noite. de!-se o des*e,ho H!e. aliás. se armara inevitável desde o rin,io /aisarde. os en*ermeiros ,omentaram terem o!vido risos. seg!ndo alg!ns. o! lágrimas. seg!ndoo!tros /as ao ,erto mesmo. ning!4m *i,o! sa+endo ,omo @aoleão morre! H!ando om4di,o entro! no =!arto ela manhã. dearo! ,om o ,oro dele rgido so+re a ,ama Parada-,arda,a-rovo,ada-or-inanição. atesto! logo entre alvio e iedade /ando! ,hamar aesosa. *ilhos. ,olegas. ,riados. =!e vieram em tardias lágrimas inWteis &o+re a mesinha de,a+e,eira. em tinta aA!l. *i,ava s!a Kltima ;o! talveA rimeira> e8igên,ia H!eria ser ,ond!Aidoara o ,emit4rio n!m ,o,he !8ado or sete ,avalos "ran,os. nat!ralmente Foi C!lada. aesosa gasto! no enterro =!ase todo o seg!ro r4via e r!dentemente *eito &ete almos.@aoleão *oi enterrado )ivessem a+erto o ,ai8ão. talveA notassem =!al=!er ,oisa ,omo !mvago sorriso trans,endendo a d!reAa dos ma8ilares ara semre ,errados @ing!4m a+ri!)emos deois o Aelador esalho! elas redondeAas =!e vira !m homem estranho. n! emêlo. ,a+elos ao vento. galoando em direção ao CreKs,!lo montado em amáveis ,avalos"ran,os. nat!ralmente

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 A QUEM INTERESSAR POSSA

'! não tenho ,!la não *!i e! =!em *eA as ,oisas *i,arem assim desse eito =!e nãoentendo =!e não entenderia n!n,a vo,ê tam+4m não tem ,!la vo! ,hamá-lo de vo,ê or=!ening!4m n!n,a *i,ará sa+endo nem era re,iso a ,!la 4 de todos e não 4 de ning!4m não sei=!em *oi =!e *eA o m!ndo assim horrvel s veAes =!ando ainda valia a ena e! *i,ava horasensando =!e odia voltar t!do a ser ,omo antes m!ito antes dos edi*,ios dos +an,os da*!ligem dos a!tomveis das *á+ri,as das letras de ,:m+io e então =!em sa+e odia t!do ser deo!tra *orma deois de ensar nisso e! *i,ava alegre =!em sa+e =!em sa+e !m dia a,onte,eriamas deois ensava tam+4m =!e não ia adiantar nada e t!do ,omeçaria a *i,ar ig!al de novono momento =!e !m homem =!al=!er resolvesse tro,ar d!as edras or !m edaço demadeira or=!e a madeira valia mais e de reente o!tra veA iam e8istir essas ,oisas d!ras =!eveo da anela na televisão no ,inema na r!a em mim mesmo e =!e e! ia ,omo semre sair,aminhando sem sa+er aonde ir sem sa+er onde arar onde ?r as mãos os olhos e ia me dara=!ela ,oisa es,!ra no ,oração e e! ia ,horar ,horar d!rante m!ito temo sem ning!4m ver 4verdade tenho ena de mim e so! *ra,o n!n,a antes !ma ,oisa nem ning!4m me doe! tanto,omo e! mesmo me d?o agora mas ao menos nesse agora e! =!ero ser ,omo e! so! e ,omon!n,a *!i e n!n,a seria se ,ontin!asse me entende e! não ,onseg!iria não vo,ê não meentende! nem entende nem entenderia vo,ê nem se=!er so!+e sa+e sa+erá amanhã vo,ê vailer esta ,arta e nem vai sa+er =!e vo,ê oderia ser vo,ê mesmo e ainda =!e so!+esse vo,ênão oderia *aAer nada nem ning!4m e! á não a,redito nessas ,oisas or isso e! não te disse,omreende talveA se e! não tivesse visto de reente o =!e vi não sei no momento em =!e agente vê !ma ,oisa ela se torna irreversvel in,on*!ndvel or=!e há !m momento doirremediável ,omo e8istem os momentos anteriores de assar adiante tentando arran,ar oesinho da ,arne há o momento em =!e o irremediável se torna tangvel e! sei disso não=!eria demonstrar =!e li alg!mas ,oisas e at4 arendi a lidar !m o!,o ,om as alavrasaesar de =!e a gente n!n,a arende mas arende dentro dos limites do ossvel a,ho não=!ero me valoriAar não so! nada e agora sei disso e! s =!eria ter tido !ma vida ,omleta elaseram horrveis mas não =!ero *alar nisso odia *alar de =!ando te vi ela rimeira veA sem eitode reente te vi assim ,omo se não *osse ver n!n,a mais e seria +om =!e e! não tivesse viston!n,a mais or=!e de reente vi o!tra veA e o!tra e o!tra e en=!anto e! te via nas,ia !m

 ardim nas minhas *a,es não me imorto de ser v!lgar não me imorta o l!gar-,om!m diAer o=!e o!tros á disseram não tenho mais nada a resg!ardar !m momento +eira de não ser e!não so! mais t!do se revelo! tão inKtil medida em =!e o temo assava t!do ,aa n!mesaço enorme amar esse esaço enorme entre mim e vo,ê mas não se ,!le dei8a e! *alar,omo se vo,ê não so!+esse não se ,!le or *avor não se ,!le ainda =!e esse som na,amainha *osse gerada elos te!s dedos e! não atenderia e! me re,!so a ser salvo e 4 tãoestranho o entore,imento ,omeça elos 4s a=!ela noite e! ainda eserava =!ase digo sem=!erer te! nome digo o! es,revo não tem imort:n,ia vo! es,revendo e *alando ao mesmotemo ,om o gravador ligado 4 estranho me des,!la sa ,orrendo no ar=!e e me og!ei naág!a gelada de agosto invadi sem ter direito a n4voa dos ,anteiros desta=!ei me! ,oro ,ontraa madr!gada esmag!ei *lores não nas,idas aertei me! eito na lae *ria do ,imento a n4voa ee! o ar=!e e e! a madr!gada e e! ,ost!rado na noite ,erAido no es,!ro or=!e me dissolvia medida em =!e me integrava no ser do ar=!e e me desintegrava de mim mesmo

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reen,hendo esaços a=!eles enormes esaços +ran,os terrivelmente +ran,os e vo,ê nãoteve olhos ara ver =!e o ar=!e era vo,ê a ág!a vo,ê a n4voa vo,ê a madr!gada vo,ê as*lores vo,ê os ,anteiros vo,ê o ,imento vo,ê não teve mãos ara mim s a=!ela tern!radistrada a mesma dos edi*,ios e das r!as mas eles me deseseravam vo,ê me deseseravae! não =!ero *alar nelas mas elas estão na minha ,a+eça ,omo os me!s ,a+elos e as veo atodo instante ,antando a=!ela ,anção de morte a minha ,arne dila,erada e e! rid,!lo =!eriater !ma vida ,omleta vo,ê não se are,ia ,om $enise tinha os olhos de manga+a mad!ra osmesmos =!e tive !m dia e erdi não sei onde não sei or =!e e de reente voltavam em vo,ênos ,a+elos *inos m!ito *inos *inos ,omo ,a+elos *inos Vminto =!e me +astaria to,á-los ara =!et!do *osse o!tra veA mas não to=!ei e! não to,aria n!n,a na ,arne viva e livre eles merot!laram me analisaram ogaram mil ,omle8os em ,ima de mim ro+lemas introeçes *!gasne!roses re,al=!es tra!mas e e! s =!eria !ma ,oisa lima verde ,omo !ma *olha de malvaa=!ela mesmo =!e e8isti! ao lado do telhado ,ar,omido do oço e da aineira mas onde me+!s,ava s havia som+ra e! me !lgava demona,o mas não ense =!e esto! dis*arçando eensando ,omo-e!-so!-+onAinho-or=!e-ning!4m-me-ama e! me a,hava envile,ido me sentiasrdido h!milhado !ma *ai8a de treva ,res,ia em mim *eito !m ,:n,er a minha ,arne la,eradaesto! dentro dessa ,arne la,erada =!e anda e *ala inKtil a ,arne ,on!nta das 8i*agas e ovento !m vento =!e +atia nos ,irestes e me levava em+ora or so+re os telhados as ,isternasas varandas os so+rados os ores os ardins o ,amo o ,amo e o lago e a *aAenda e o mare! =!ero me ,hamar /ar vo,ê diAia e ria e ramos or=!e era a+s!rdo alg!4m =!erer se,hamar /ar ah mar amar e vo,ê diAia ,oisas tolas ,omo =!ando o vento +ater no trigo telem+rarás da ,or dos me!s ,a+elos vo,ê não vai m!ito al4m desses rn,ies e=!enos s!asalavras todas não tenho ,!la não tenho ,!la eram de =!em edia ,ativa-me e! á não,onseg!iria +em lento e! não ,onseg!iria e! não sei mais inventar a não ser ,oisassangrentas ,omo esta a minha maneira de ser !m momento +eira de não mais ser não meermite !m invento =!e sea aenas !m entre,aminho ara !m o!tro e o!tro invento mesmo adestr!ição tem =!e ser *inal e inteira =!al=!er ,oisa tem =!e ser a Kltima !ma era inteira e ao!tra nas,ia da ,int!ra e e8istia s da ,int!ra ara ,ima ,omo !m isilone mole esonosa !ma,arne vil !ma ,arne rearada or toda !ma estr!t!ra de g!erras eidemias estes dios=!edas e! me sentia ,!lado ao vê-las assim nosso odre sang!e a h!manidade inteira nelas=!e não riam e ,antavam a=!ela som+ria ,anção de morte +r!talmente do,e elas ,antavam eminhas ,ostas doam ,omo se e! soAinho as s!stentasse e não !ma o!tra mas e! e! ,omeste sang!e aodre,ido =!e assassina ,rianças de *ome droga adoles,entes +om+ardeia,idades e tam+4m vo,ê e todos ns gr!dados indissol!velmente gr!dados noentos mas mere,!so a ,ontin!ar ning!4m so*rerá or mim sem mim ,horar ning!4m entende nem re,isanem vo,ê nem e! o anel =!e t! me deste so+re a *olha =!e me ,ont4m sem ,omreender sem,omreender =!e vo,ê ,arrega toda !ma ,!la milenar e imerdoável a istria ,omo ,on,retoso+re os te!sme!snossos om+ros Cristo so+re nossos om+ros todas as ,r!Aes do m!ndo e as*og!eiras da in=!isição e os !de!s mortos e as tort!ras e as !ntas militares e a rostit!ição edoenças e +ares e drogas e rios odres e todos os lo!,os +ê+ados s!i,idas deseseradosso+re os te!s me!s nossos om+ros leves os te!s or=!e não sa+es sim sim e! tenho ,!lanão 4 de ning!4m esse desgosto de l:mina nas entranhas não 4 de ning!4m esse sang!eesantado e esse ,osmos in,omreensvel so+re nossas ,a+eças não osso ser salvo orning!4m vivo e os mortos não e8istem a *ita está a,a+ando ,omeço a *i,ar tonto a dormên,ia,hego! =!em sa+e ao ,oração talveA e! !desse e! so!+esse e! devesse e! =!isesse =!em

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sa+e mas não ,hore nem ,omreenda te digo en*im =!e o silên,io e o =!e so+ra semr4 ,omoem Gar,a 5or,a solo resta el silên,io !n ond!lado silên,io os esaço de temo a nos sit!ar*ragmentados no temoesaçoagora não sei onde *i=!ei onde estive onde andei nada,omreendi desta travessia ,ega a mesma n4voa do ar=!e o!tra veA a mesma dor de não servisto elas gritam s!a ,anção de morte este sang!e noento es,orrendo dos me!s !lsos so+rea ,ama o assoalho os lençis a sa,ada a r!a a ,idade os trilhos o trigo as estradas o mar om!ndo o esaço os astrona!tas navegando or me! sang!e em direção a @et!no e rindo nãonão =!e+res n!n,a os te!s invl!,ros as t!as *ormas assa lentamente a mão do anel =!e e!te dei e era vidro deois ri ri m!ito ri +ê+ado ri lo!,o ri ate te s!rreenderes ,om a t!a não dorat4 te s!rreenderes ,om não me ver n!n,a mais e ,om a desimortan,ia a+sol!ta de não mever n!n,a mais e ,om minha mão nos te!s ,a+elos distante invisvel into,ada no vento

Perdida a minha mão de es!ma a+rindo de leve esta orta assim

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CORUJAS

Para meus !ais 2ael e 1aire meus irm%os 3os) Cláudio Lui4 +eli!e Márcia eCláudia

INTRODUÇÃO

)inham !m olhar dentro. de =!em olha *i8o e sa,ode a ,a+eça. a,enando ,omo sen!ma enetração entrassem *!ndo demais. ,on,ordando. re*letidas #lhavam *i8o. !ilaserdidas na e8tensão amarelada das r+itas. e ,on,ordavam m!das % sa+edoria h!milhantede =!em er,e+e ,oisas aenas s!seitas elos o!tros 3amais sa+eramos das ,on,l!ses a=!e ,hegavam. mas o+l=!os olhávamos em tomo n!ma des,on*iança =!e s *indava ,omalg!m gesto o! alavra

@em semre oort!nos # *ato 4 =!e tnhamos medo. o! =!em sa+e alg!ma es4,iede reseito grande. de =!em se vê menor *rente a o!tros seres mais *ortes e ine8li,áveis/edo or ,arên,ia de o!tra alavra ara melhor de*inir o sentimento es,orregadio na gente.de leve es,aando ara !m ,anto da ,ons,iên,ia de onde. ressa+iado. esreitaria 'enveredávamos então elo ,aminho do *á,il. tentando s!aviAar o =!e não era s!ave(e,!sando-lhes o mist4rio. re,!sávamos o nosso rrio medo e as en,arávamos rot!lando-as sem ro+lema ,omo Xirra,ionaisX. relegando-as ao m!ndo +r!to a =!e deviam *orçosamenteerten,er # m!ndo de dentro do =!al não odiam atrever-se a desa*iar-nos ,om o,onhe,imento de algo ignorado or ns Pois org!lhos. não admitiramos =!e vissem o!sentissem al4m de se!s limites Condi,ionadas a se!s ,oros atarra,ados. de enas ,inAentase três garras =!ase rid,!las na agressividade *orçada -,ondi,ionadas s!a re,ariedade. elasnão oderiam ter mais do =!e lhe seria ermitido or ns. h!manos

A CHEGADA

V ieram de manhã ,edo. a ,asa adorme,ida re,!sando-se reg!içosa a admiti-las emse! ,otidiano

%enas a emregada levanto!-se entre resm!ngos ara a+rir a orta %,eito!-asimassvel em s!a sonolên,ia. dentro da gaiola em =!e estavam # homem =!e as tro!8erae8igira aenas !m sa+onete em tro,a @ão sei se ,hegaram. a sa+er. disso -talveA não. ois=!em sa+e a tro,a mes=!inha *aria os,ilar o org!lho delas. ameniAando-lhes a o!sadia noen,arar-nos &o+re a mesa. !ma en,olhida ,ontra a o!tra. massa in*orme. ,inAenta e tmida.onde ainda não se disting!ia o grito amarelo dos olhos. ag!ardaram a,ientes =!e o sols!+isse e as gentes a,ordadas viessem ,er,á-las de esantos e s!stos /e! ai no entantonão lhes de! atenção Constato!-as e asso! adiante. em direção ao +anheiro /inha mãesorri!-lhes. tentando a rimeira ,ar,ia. re,!sada talveA or ine8eriên,ia de a*eto Cont!do.não as enetro! *!ndo. ane8ando-as ino*ensivas em se! esarramar de +ondade semre,a!çes

Foram as ,rianças as rimeiras a hesitar. n!m re,!o =!e seria de o*ensa seerten,esse gente grande Crianças tro,aram assom+ros *rente estranheAa dos +i,hosn!n,a antes vistos Por terem menos temo de e8istên,ia eram talveA as mais v!lneráveis ao

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mist4rio # viver ,onstante demorado e desil!dido dos o!tros. a,ost!mados a d!reAa. nãoodena or ,aminhos diretos render-se soli,itação dos olhos delas /as a ine8eriên,ia das,rianças levava-as ao e8tremo oosto de desreseitá-las em s!a individ!alidade. traAendo-assem ,erim?nias ara se! m!ndo de +rin=!edos Perg!ntaram o nome dos +i,hos emregadaatare*ada em assar ,a*4

Cor!a - *oi a resosta se,a. desinteressada. ,omo se se tratassem de !m sa,o deaçK,ar

%arentemente satis*eitas. ,omenetraram-se em ,er,á-las de !ma tern!ra meio+r!s,a %=!ela mesma disensada s +one,as novas. =!e em o!,o temo restavamesati*adas em +raços e ernas elo =!intal 'ssa tern!ra +r!ta =!e destri or e8,esso iná+ilde amor (esto!-me o ,onsolo de ter sido o rimeiro a identi*i,á-las ,omo realmente eram #!,omo e! as via. d!vidando =!e a visão dos o!tros *osse mais ,orreta. ro*!nda o! ,oraosa

# sol á alto da manhã as *iAera a+rir os olhos. investigando o am+iente Creio =!e a+ran,!ra dos aA!leos da ,oAinha as s!rreende!. ois em +reve voltaram a en,olher-se.alheias %,ost!madas ,omo estavam aos vastos ,4!s e ,amos er,orridos dias inteirosre*eriam +!s,ar as ,oisas erdidas no ,alor dos ,oros !ma da o!tra Práti,a. minha mãein*ormavaD eram +oas ara ,omer +aratas ' ,ons,ientes de s!a li+erdade interromida. elaseseravam ela tare*a =!e lhes era destinada

BATISMO

5ogo ,aminhavam ela ,asa inteira. desvendando segredos %s ,rianças seg!ravam-nas. em+alando-as ,omo nen4ns &em eserar. de reente. agente dearava ,om o olharamarelo *i8o d!ma -ert!r+ando. interrogando. ,on*!ndindo % a,!sação m!da *aAia ,om =!eme investigasse ansioso. +!s,ando erros ' !nha-me em dia ,omigo mesmo. ara mearesentar novamente a elas de +anho tomado. !nhas ,ortadas. rosto +ar+eado. ,a+eloenteado -na il!são de =!e a limeAa e8terna arran,asse !m a,eno de arovação /as e!sa+ia -em+ora. o+stinado. re,!sasse a ,onvi,ção at4 o Kltimo min!to -. sa+ia =!e se! olhar!ltraassava ro!a. ele. ,arne. mKs,!los e ossos ara *i8ar-se n!m ,omartimento remoto.,!o ,onteKdo e! mesmo des,onhe,esse %dmitia-as envergonhado. mas hesitava em mostrar-me. ,riminoso negando o ,rime at4 a evidên,ia dos *atos #+servava os olhares desviados dosad!ltos. e desviava tam+4m o me!. ,irandando ,om eles na mesma negação

%s ,rianças dis!tavam a osse. 4 minha. não. 4 minha. manhê. a Cla!dia =!er seadornar das ,or!as. mas elas assavam adiante. sa+endo-se ara semre imoss!das.inde,i*ráveis $is!tavam tam+4m a rimaAia de +atiAá-las. ignorando =!e o anonimato *aAiaarte de s!a nat!reAa @essa ignor:n,ia. ,hamaram nas )!t!,a e )ele,ote,o Pis=!ei !m olhoara elas. rindo da ingen!idade. tentando enetrar em s!a intimidade. ,ada veA mais e maisnegada #*4lia e amlet. s!geri! !m leitor +vio de &haYeseare /as re,!sei-os ainda&e,retamente. reivindi,ava ara mim se! +atismo e osse. investigava almana=!es em +!s,ado nome =!e melhor assentasse Chamá-las de alg!ma ,oisa seria dar !m asso no ,aminhode se! ,onhe,imento. ,omo se s!tilmente as *osse amoldando minha maneira de deseá-lasFinalmente a,hei 'ram nomes de ,riat!ras estranhas. inde,i*ráveis ,omo elas. á erdidas notemo. misteriosas at4 hoe (as!tin e Cassandra Calei a des,o+erta. o,!ltei o +atiAado.aroriando-me ,ada veA mais de s!a nat!reAa. em+ora in,ons,ientemente so!+esse dain!tilidade de t!do (as!tin era menor. mais ágil. ,aminhava lento elo ar=!ê. os olhos

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semre a+ertos. ineseradamente al,ançando o en,osto das ,adeiras n!m v?o rasoCassandra ro,!rava os ,antos es,!ros. os olhos ,onstantemente semi,errados. !ma ernaen,olhida. atit!de de rosto-endido-e-ar-ensativo

A FOME

Passados os rimeiros dias. rin,iiaram a entrar na rotina eAen=!ando ainda mes!rreendia a en,ará-las n!m d!elo de mist4rios '!. o,!ltando ,!idadoso o me!. *eroA nade*esa. em+ora *osse semre o rimeiro a desviar os olhos (e,!sei to,á-las % ma,ieA dese!s ,oros assava =!ente. imassvel. de mão em mão. =!ando havia visitas ' s nessaso,asies elas voltavam a esantar C!mriam honestamente s!a tare*a de devorar +aratas.mas re,!savam =!al=!er o!tro alimento # homem =!e as tro!8era in*ormara a minha mãe dese! org!lhoD *eridas em li+erdade *aAiam greve de *ome at4 a morte Com a iminên,ia de se!s!i,dio. laneamos soltá-las no ,amo H!ase odia vê-las erg!endo-se de leve n!m v?o,ontido. e8erimentando *orças. as asas a+rindo-se aos o!,os n!ma s!+ida lenta F!ndidasem aA!l. s!+indo. s!+indo

%s asas ,ortadas. or4m. e8igiam temo ara ,res,er novamente Sramos o+rigados aeserar $eseei ,om!ni,á-las s!a r8ima li+ertação. mas a ine*i,iên,ia de gestos e alavrasisolo!-me n!m m!tismo ara elas in,omreensvel Sramos de*initivamente in,om!ni,áveis'!. genteE elas. +i,hos Cor!as. mesmo +atiAadas em segredo Cassandra e (as!tin #*4lia eamlet )!t!,a e )ele,ote,o H!al=!er nome não modi*i,aria a s!a nat!reAa @!n,a Cor!asara semre

/as a greve de *ome ersistia )ão +em ,!mriram se! serviço de ,omer +aratas =!eem +reve. ,reio. não restava mais nenh!ma #rg!lhosas. asseavam se!s est?magos vaAiosela ,asa toda. a gente se olhando ,!lado. as mãos desertas de sol!çes @ão nos restavamais nada a *aAer senão eserar Por s!a morte o! s!a ,ait!lação H!em as visse. ,onvi,tasem se! dês ilar *aminto. oderia *a,ilmente imaginá-las ,arregando ,artaAes de rotestoContra =!êB Contra =!emB erg!ntávamos temerosos da resosta +via

DESFECHO

@!m ,omeço de manhã ainda sem sol. ig!al a =!e as tinha traAido. (as!tin *oien,ontrado morto # ,oro e=!eno e ,inAento. á rgido. so+re os mosai,os *rios da ,oAinha$esviei os olhos sem dar nome ao sentimento =!e me invadia 'n,olhida em se! ,anto.Cassandra dimin!a ,ada veA mais #lhos ,errados ,om *orça. e! tinha imressão =!eveAen=!ando se! ,oro os,ilava. talo de ,aim ao vento. =!ase =!e+rado%t4 =!e morre!tam+4m $igna e solitária. =!em sa+e virgem 'nterraram-na no *!ndo do =!intal. !ns asmins

 ogados or ,ima da ,ova rasa. *eita ,om as mãos@ão *!i ver a se!lt!ra @ão sei se me ass!stava o mist4rio adensado o! ara semre

des*eito2

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 APEIRON 

Para 3os) 5onaldo +alleiro

%=!ela mat4ria de +ondade se reorganiAara dentro dele @o eselho en,ontraria n!ms!sto a mesma limideA de olhar. os mesmos ,a+elos ao vento. ainda =!e rigidamentearmados em torno da ,a+eça as mãos leves ,omo se seg!rassem algo do,e e !m tantoenoativo -todo !m ser de antigamente. reestr!t!rado. o en,araria meigo do *!ndo do vidro%enas nas *otogra*ias antigas lem+rava da mesma limideA.a limideA não de =!eme8erimento! e ven,e!. mas a ,laridade =!e vinha d!ma isenção. ,omo se n!n,a tivesseentrado no m!ndo % limeAa de =!em n!n,a tomo! +anho or n!n,a ter s!ado o! aanhadooeira &eria de novo o-=!e-dá-,onselhos. o-=!e amara. o-=!e-tem-mãos-ara-todo-m!ndoB' seria ossvel voltar a !m estágio anterior. á diserso em inKmeras assagens atrav4s deo!tros e o!tros estágiosB Pois se á e8erimentara a maldade. a devassidão. a *rieAa. o ,ál,!lo.o v,io. o ,inismo. a agressão e e8erimentara não ,omo *ormas de ser. nem ,omo oçes'8erimentá-los tinha sido simlesmente ser o =!e o ,aminho e8igia =!e se *osse. nãodesvios. nem atalhos %gora á não havia mar,as. as mar,as onde estavamB

/esmo imvel. ressentia a re,!eração de !m eito de sorrir =!e tivera. *e,har osolhos. ogar os ,a+elos ara trás. roer !nhas. ,aminhar devagar olhando vitrines sem olharvitrinesD mol4,!la or mol4,!la. ,4l!la or ,4l!la. re,!erava integralmente todo !m ser antigoComo se n!n,a ho!vesse sado dele ' mais =!e gesto. mais =!e movimento o! *ormaD a=!ele+rilho es,orregando dos olhos. a=!ele ,alor. não. ,alor não -teideA. issoD a=!ela teideA =!e*aria ,om =!e as essoas se a,on,hegassem lentas. tangveis. ao al,an,e da mão

'le. me! $e!s. ele =!e tinha sido siro,o ardente o! min!ano g4lido. ele +risa. agora#! nem +risaD a!sên,ia de ventos @ão ,omreendia )o,ava aele dos +raços +!s,ando asasereAas. as +r!s=!ides do rosto. a=!ele vin,o amargo no ,anto da +o,a. a ále+ratrêm!la. a ,arne *lá,ida das olheiras. as entradas *!ndas no ,a+elo. os dedos grossos. os êlosdos dedos grossos. as ,alosidades das almas das mãos de dedos grossos -onde haviam*i,adoB &e!s dedos lisos desliAavam mansos n!ma s!er*,ie do,e. assim mesmo. ,om todosos adetivos s!aves. @ão mais as +r!s,as aradas. ,omo se tivesse es=!inas e +e,os een,r!Ailhadas ela *a,e ' o ventre raso #s 4s sem ,alos # es,oço sem r!gas %s ,o8assem *la,ideA ' t!do. t!do voltava a ser antigo. e no entanto novo. ,omreendeB '8erimento!sentir dio. lem+rar essoa. ,oisas e *atos desagradáveis. aalar novamente a tessit!rasom+ria do =!e vivera. a massa esessa de =!e era *eita a mágoa. e todos os desen,ontros=!e tinha en,ontrado. e todos os desamores desil!ses desa,atos desnat!reAas não. não. ánem dio =!eria. =!e en,ontrasse ao menos a tên!e melan,olia. a=!ele ,omo-estar-de+r!çado-na-sa,ada-n!m-*im-de-tarde. a tristeAa. a solidão. a ai8ãoD =!al=!er ,oisa intensa,omo !m grito

/as se! ,entro havia-se tornado gentil e !m o!,o a!sente. ,omo il!stração deroman,e antigo ara moças @ada nele *eria )inha ,aminas verdes elo ,4re+ro e ,olinass!aves e almeiras esg!ias e !m ,4! ,or-de-rosa en,o+rindo !m lago aA!l no =!ieto ,oração3á não era mais !ma reorganiAação. não era se=!er !m ro,essoD estava ,ons!mado e al4m.m!ito al4m de =!al=!er ,oisa &em asereAas 'nverniAado P!ro Llgido Inatingvel$e*initivo &lido na s!a meig!i,e avia !ltraassado todos os ltios. todas as ro,!ras. as,renças. erdes e esantos

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%tingira a +ondade a+sol!ta /e! $e!s. isso 4 horrvel. 4 horrvel. =!is gritar 3á nãoodia # adre *e,hava raidamente a tama do ,ai8ão 'm +reve viriam os vermes

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O OVO

Ver o ovo ) im!ossível6 o ovo ) su!ervisível como $á sons su!ers7nicos" 1ingu)m ) ca!a4 dever o ovo"*Clarice Lis!ector6 & &vo e a /alin$a.

/inha vida não daria !m roman,e 'la 4 m!ito e=!ena /as 4 meio sem sentido *i,arensando em eitos de es,rever se ning!4m n!n,a vai ler )alveA eles me imeçam at4 mesmode ,ontar o =!e se asso! /as há dias está t!do es,!ro e a l!A da vela em ,ima da minhamesa não vai a,ordar ning!4m

"em. a,ho =!e todas as narrativas desse tio ,omeçam ,om !m nas,i no dia tal em tall!gar. ,oisa ro*!ndamente idiota. or=!e se o s!eito está es,revendo 4 mais do =!e evidente=!e nas,e! Pois e! tam+4m nas,i. determinado dia. determinado l!gar # =!ando e! nãolem+ro. mas onde *oi a=!i mesmo

@!n,a sa da=!i @em vo! sair mais. e! sei % ,ada dia t!do se torna !m o!,o maisdi*,il Por isso 4 =!ase imossvel =!e isto a=!i se torne !ma histria interessante %s essoasgostam de avent!ra. de viagens. treaçes lo!,as ' e! n!n,a tive nem *iA essas ,oisasH!eria es,rever =!al=!er ,oisa grande. o! m!ito triste o! m!ito es,!ra. mas =!al=!er ,oisa dem!ito. e =!e alg!4m. se des,o+risse. !+li,asse e ro,!rasse ,astigá-los /as vai sair t!doare,ido ,omigoD desinteressante. miKdo. t!rvo

"om. então nas,i $eois =!e nas,i. ,res,i e tive !ma in*:n,ia o!ve !m temo em=!e e! não sa+ia de nada. nem as o!tras ,rianças #s ad!ltos sim. todos sa+iam /asdissim!lavam tão +em =!e n!n,a nenh!m de ns teve =!al=!er es4,ie de dKvida 'ntão. averdade dos ad!ltos era a minha verdade ' deois. e! era ,riança $esinteressanteAinha.mi!dinha. t!rvinha. dimin!tiva /inha mãe era dessas gordas =!e *aAem tri,? e ,ro,hê. deois,olo,am toalhinhas so+re os mveis e =!ando ,hega visita edem des,!las or=!e a-,asa-4-de-o+re /e! ai era desses gordos =!e aos domingos lêem o ornal de iama e ,hinelos.+e+endo ,ervea )!do mKito ,hato. m!ito ig!al @ão me ,!lem or e! não *aAer !mades,rição min!,iosa de ,omo eles eram e o =!e *aAiam &e e! me estendesse mais neles. sdiria mentiras. or=!e eram aenas e e8atamente isso ' de resto. não tiveram nenh!maimort:n,ia em t!do =!e a,onte,e agora & =!e odiam ter me avisado

'! +rin,ava ,om as ,rianças. as ,rianças +rin,avam ,omigo Como todo o m!ndoveAen=!ando a gente +rigava. isava ,a,o de vidro. ro!+ava larana. *!gia ra tomar +anho norio Rma veA tam+4m !ma menina seg!ro! no me! into 'la era loira. gorda. tinha !m trançãoat4 a ,int!ra $eois ela ,aso! ,om !m soldado da +rigada. rende! as tranças em volta da,a+eça. mas ,ontin!o! gorda $essas gordas =!e tardinha se de+r!çam na anela so+re !maalmo*ada de ,etim rosa )oda veA =!e e! vinha do emrego assava em *rente ,asa dela eolhava e8atamente ,omo =!em ensa vo,ê !ma veA seg!ro! no me! into 5gi,o. ela não me,!mrimentava %,ho =!e não 4 m!ito ,om!m as meninas =!e seg!ram nos intos dosmeninos ,!mrimentarem eles deois =!e ,res,em e ,asam

H!ando e! tinha !ns treAe anos arranei !ma namorada =!e namorei at4 os deAessete'ssa n!n,a seg!ro! no me! into. e era di*erente. dessas ra ,asar -elo menos na=!ela4o,a e! ensava assim & há o!,o temo. deois =!e vim ara ,á. 4 =!e me ,onven,i de=!e são todas !mas va,as ' os homens. !ns ,ães )odos eles sa+endo e *ingindo =!e não

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sa+em % mãe da minha namorada *i,ava a noite inteira sentada ,om a gente na sala. slevantava ara traAer do,e de leite. de a++ora o! de +atata-do,e % menina veAen=!andoto,ava iano. mal ara +!rro. diga-se de assagem /as e! nem o!via direito S =!e =!andoela sentava !m edaço da saia levantava e aare,iam !mas ,o8onas m!ito +ran,as e grossas'! olhava dis,reto. o má8imo =!e *aAia era derr!+ar alg!ma ,oisa no ,hão ra ver melhor '!era !m moço de reseito

H!ando tinha deAoito anos. ela ,aso! Com !m soldado da +rigada Foi então =!eensei seriamente em entrar ara a +rigada. á =!e d!as m!lheres da minha vida tinham,asado ,om soldados Pare,ia =!e e! estava destinado a semre erdê-las ara eles & =!ee! a,hava horrvel a=!ela ro!a. os ,ot!rnos. o ,as=!ete -t!do /as se e! =!eria ,asar- ena=!ele temo e! =!eria -. tinha =!e ser soldado %t4 =!e des,o+ri !ma sol!ção melhor Pertoda minha ,asa morava !m soldado da +rigada % minha mãe era madrinha dele. a mãe deleera viKva H!ando ,rianças. ns +rin,ávamos m!ito. mas era !m g!ri es=!isito ,omo o dia+o)odo deli,ado. ,heio de não-me-to=!es. loirinho.,om !ns olhos ,laros. !ma ,or =!e e! n!n,amais ,onseg!i lem+rar deois =!e ele se mato! )odos os sá+ados de manhã ele ia visitarmamãe. levava !mas *r!tas o! do,e =!al=!er =!e a mãe dele tinha *eito e *i,ava ,onversandona sala. *eito moça 5ogo =!e minha namorada ,aso! e! nem olhava ra ele. de tanto dio$eois ,ome,ei a armar !ma vingança H!ando ele ,hegava e! *i,ava assando na sala sem,amisa. s veAes at4 sem ,alças. s de ,!e,as 'le *i,ava todo ert!r+ado e desviava osolhos '! sentava erto. en,ostava a erna. is,ava !m olho ra ele na hora de aertar a mãoRm dia ,onvidei-o ra *aAer !ma es,aria ,omigo 5evamos !ma +arra,a. ,o+ertores. inga.d!as dessas ,amas de armar ' de noite e! ,omi ele Com gosto Como se estivesse ,om oa! na +!nda de todos os soldados da +rigada do m!ndo 'le n!n,a mais *oi lá em ,asa. aminha mãe re,lamava. arava ele na r!a ara erg!ntar or =!ê %t4 =!e ele tomo! *ormi,ida emorre!

% nas,e! o me! irmão @ão tem nada a ver !ma ,oisa ,om a o!tra. mas não osso*aAer nada se me! irmão nas,e! mesmo =!ando ele morre! @as,e! direitinho e t!do. mas=!ando tinha !ns seis meses ,omeço! a de*inhar. de*inhar. e morre! de ,aganeira verde Foi+om &enão seria mais !m *ilho da !ta

#! soldado da +rigada. o =!e dá no mesmo /as no dia em =!e ele morre!. e! nãoensei assim &!+i em ,ima da montanha e *i=!ei olhando o m!ndo %gora e! enso =!e seele não tivesse morri do e! não teria s!+ido na montanha. e se não tivesse s!+ido namontanha não teria visto o =!e vi /as as ,oisas são or=!e têm =!e ser. não adianta nada agente =!erer =!e seam de o!tro eito

'ntão ele morre!. e! s!+i na montanha e vi # m!ndo /as al4m do m!ndo. !maarede +ran,a '! não ,onhe,ia geogra*ia nem astronomia nem nada. nem sa+ia o =!e haviaal4m do horiAonte. odia mesmo at4 ser !ma arede +ran,a /esmo assim. a ,oisa mes!rreende! 'ntão voltei ra ,asa e es=!e,i

Come,ei a tra+alhar na re*eit!ra. or=!e a minha mãe á estava *i,ando velha ra*aAer toalhas de ,ro,hê e tri,?. e o dinheiro =!e dava o armaA4m de me! ai era !ma mi8aria'! tra+alhava o dia inteiro e tinha !ma namorada 'ssa era viKva e m!ito !ta %s ,oisas =!eela *eA ,omigo e! a,ho =!e n!n,a ning!4m *eA ,om ning!4m. at4 tenho vergonha de ,ontar'! não ia ,asar ,om ela nem nada. mesmo assim a minha mãe *i,ava triste or=!e =!eria =!ee! ,asasse ,om a moça magrinha da ,asa em *rente. =!e deois morre! t!+er,!losa % tal

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viKva *i,o! eserando !m *ilho me!. mas e! não =!eria ter !m *ilho -de =!al=!er maneira. esseseria mesmo !m *ilho da !ta % ela *oi tirar o *ilho e morre!

Rm domingo =!e sa a ,aminhar. me lem+rei da montanha &!+i at4 lá e de novo vi aarede Pare,ia mais ,lara. mais erto oltei ra ,asa e disse mãe tem !ma arede +ran,aal4m do horiAonte '! á tinha !ns vinte e dois anos. mas ela ,hamo! me! ai e mando! e!reetir o =!e tinha dito '! reeti e ele me de! !ma +o*etada na ,ara % mãe ,omeço! a ,horare edi! ra e! n!n,a ,ontar a ning!4m =!e tinha visto a arede /as e! estava !ma *eraChamei me! ai de *ilho da !ta. disse =!e ele s me +atia na ,ara or=!e era !m velho e erame! ai e sa+ia =!e e! não era *ilho da !ta ao onto de +ater n!m velho =!e ainda or ,imaera me! ai %rr!mei minhas ,oisas e sa de ,asa

F!i ra !ma ensão '! dormia ,om a dona e edia dinheiro ara !m velho *res,o =!egostava de me ,h!ar % dona da ensão tinha !ns eitos ,ados e !ma ele ,or de terra =!eera mais s!eira =!e =!al=!er o!tra ,oisa '! ia montanha todos os domingos. e a arede láestava. ,ada veA mais r8ima

'! não =!eria ,ontar a ning!4m. iam ensar =!e e! era lo!,o 'ntão ,ome,ei a ler !nslivros ra ver se a tal arede era !ma ,oisa nat!ral /as nos livros de geogra*ia não haviaaredes +ran,as Falava de terras. mares #s de astronomia de estrelas. ,ometas $e aredes.nada #s o!tros livros =!e e! lia tam+4m não # má8imo de estranheAa =!e ,ontava era d!ms!eito =!e se trans*ormo! em +arata -ele devia ser soldado da +rigada

Rm dia e! ,ome,ei a andar em direção arede'la estava m!ito longe Caminhei=!ase !m dia inteiro. at4 =!e *i,o! noite e tive =!e edir ,arona a !m menino ,arro,eiroH!ando ,heg!ei na ensão ro,!rei o velho *res,o. =!e á *oi !8ando a ,arteira do +olso rame dar mais dinheiro /as e! disse =!e não era nada da=!ilo. e ,ontei da arede % o velho*res,o ,omeço! a gritar at4 =!e veio todo o m!ndo da ensão 'le aontava ra mim ,om ar deavor e +errava ele vi!. ele vi!U @ing!4m erg!nto! o =!e e! tinha visto & mandaram egaras minhas ,oisas e dar o *ora antes =!e ,hamassem a ol,ia $a e! ,olo=!ei os troços namala e *!i saindo H!ando ,heg!ei raça. disosto a assar a noite n!m +an,o. olhei ara ohoriAonte e vi a arede 'stava m!ito erto. era m!ito +ran,a

'ra domingo. a raça ,heia de gente asseando. os raaAes tomando ,ervea no=!ios=!e. as mo,inhas ,aminhando de +raços dados &!+i n!m +an,o. ,hamei todo o m!ndoara mostrar a arede Fi,o! ,heio de gente em volta de mim. !m silên,io desses horrveis.havia !ma orção de ,aras. e! olhava !ma or !ma +!s,ando !m sinal =!al=!er dere,onhe,imento. mas os olhos de todos estavam enormes. as +o,as are,iam ,ost!radas. asso+ran,elhas !nidas

$e reente !ns me seg!raram en=!anto os o!tros iam ,hamar os três#s três vieram $e +ran,o. da mesma ,or da aredeD !ma m!lher ,om !m ,hi*re no meio datesta. !m homem ,om três olhos e o!tro ,om vários +raços. ,omo !m olvo # de vários+raços me seg!ro! elas ,ostas en=!anto o de três olhos ia a+rindo ,aminho e a m!lher meem!rrava ,om o ,hi*re %s gentes *alavam alavres e me ,!siam en=!anto e! ia saindo '!,aminhava devagar. via a arede atrás da igrea. dos ,amos. olhei ara ,ima e tam+4m láestava a arede. es,ondendo as estrelas %ntes de eles me ogarem no ,aminhão. olhei aratrás e vi minha mãe e me! ai m!ito velhinhos. de +raços dados Pedi ra eles me salvarem.mas eles sa,!diram ,om dio a ,a+eça. o me! ai me mostro! o !nho *e,hado e minha mãees,arro! no me! rosto #s três me ogaram dentro do ,aminhão. a m!lher de ,hi*re dirigia. osdois o!tros me seg!ravam 'ntão me tro!8eram ara ,á

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)odos os dias a m!lher de ,hi*re me traA as re*eiçes. ao mesmo temo em =!e o devários +raços me seg!ra. o de três olhos ,olo,a !ns *ios na minha ,a+eça e e! sinto !ma ,oisaestranha. !m tremor em todo o ,oro. deois ,aio n!m sono esado e s a,ordo tarde &aiona anela esio ' veo a arede

Cada dia mais r8ima'! =!eria ,ontar toda a minha vida ara se alg!4m lesse visse =!e não so! lo!,o. =!e

semre *oi t!do normal ,omigo. =!e e! *iA e disse as ,oisas =!e todo o m!ndo *aA e diA. e =!ea ,oisa mais estranha da minha vida *oi s a=!ela menina =!e seg!ro! no me! into e a=!elao!tra =!e e! namorei terem ,asado ,om soldados da +rigada H!e e! via a arede e =!e todosos o!tros tam+4m viam. tenho ,erteAa. s =!e eles não =!eriam ver. não sei or =!e. erendiam =!em via #ntem ,hamei o de três olhos. =!e are,e o mais simáti,o. mostrei aarede. erg!ntei se ele não via Falei devagar. sem me e8altar nem nada % ele *i,o! =!ieto e+ai8o! a ,a+eça. a,ho =!e senti! vergonha de *aAer o =!e está *aAendo. or=!e ele tam+4mvê ' ela está ,ada veA mais erto

& ontem ,heg!ei ,on,l!são de =!e se trata de !m enorme ovo H!e estamos todosdentro dele /as 4 !m ovo =!e dimin!i ,ada veA mais. ,ada veA mais. ns vamos ser todosesmagados or ele @ão sei or =!e os homens não se armam de a!s e edras ara *!rar aarede &eria m!ito *á,il. a ,as,a de !m ovo 4 tão *rágil

'le á está meio aA!lado de tão r8imo. não se vê mais as estrelas. nem a l!a. nem osol % es,!ridão em =!e assamos o dia todo 4 meio aA!lada tam+4m # silên,io 4 imenso.,omo se ho!vesse !m grande vá,!o a=!i dentro % ,ada dia o movimento do ovo *i,a maisráido #ntem. á havia !ltraassado o m!ro. estava a !ns ,em metros da minha anela%manhã vai estar do lado da anela. talveA á estea. não o!ço mais os assos da m!lher de,hi*re ,aminhando elos ,orredores ,om as ,haves end!radas na ,int!ra e -agora lem+ro -ode três olhos e o de m!itos +raços não me deram ,ho=!es hoe %,ho =!e eles estão *ora doovo. e s e! dentro )alveA ,ada !m tenha o se! rrio ovo ' este 4 o me!

#lho ara o me! ,oro &erá =!e ele ,a+e dentro de !m ovoB &erá =!e não vai doerB'! não sei )enho tanto medo 'sto! eserando. ,ansei de es,rever. a vela está =!ase

aagando o! deitar 'sto! o!vindo o r!mor do ovo se aro8imando ,ada veA mais S !m+ar!lho leve. leve H!ase ,omo !m s!siro de gente ,ansada 'stá m!ito erto )ão erto =!ening!4m vai me o!vir se e! gritar

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O MAR MAIS LONGE QUE EU VEJO

8em !iedade Sat% desta longa mis)ria *9audelaire: Litanias de Sat%.

/e! ,oro está morrendo % ,ada alavra. me! ,oro está morrendo Cada alavra 4!m *io de ,a+elo a menos. !m imer,etvel milmetro de r!ga a mais -!ma mnima e8tensãode temo n!m a,Km!lo ,ada veA mais ins!ortável 'sta ,oisa terrvel de não sa+er a minhaidade. de não oder ,al,!lar o temo =!e me resta. esta ,oisa terrvel de não haver eselhosnem lagos. das ág!as do mar serem agitadas e não me ermitirem ver a minha imagem Perditodas as minhas imagensD as das *otogra*ias. dos eselhos. dos lagos &e me!s olhos *ossem,:meras ,inematográ*i,as e! não veria ,h!vas nem estrelas nem l!a. teria =!e ,onstr!ir,h!vas. inventar l!as. ar=!itetar estrelas /as me!s olhos são *eitos de retinas. não de lentes.e neles ,a+em todas as ,h!vas estrelas l!a =!e veo todos os dias todas as noites

Chove todos os dias a=!i. não tenho relgio nem rádio. mas sei =!e deve ser or voltadas três horas. or=!e 4 o!,o deois =!e o sol está no meio do ,4! e e! senti *ome 'ntão,omeça a s!+ir !m vaor da terra. e as n!vens. há as n!vens =!e se amontoam e deoise8lodem em ,h!va. e deois da ,h!va são as estrelas e a l!a @ão há !ma manhã. !matarde. !ma noiteD há o sol a+rasador =!eimando aterra e a terra =!eimando me!s 4s. deois a,h!va. deois as estrelas e a l!a @o ,omeço e! a,hava =!e não havia temo & aos o!,os*!i er,e+endo =!e se *ormavam lentos s!l,os nas minhas mãos. e =!e esses s!l,os. o!,omais =!e linhas no rin,io imer,etveis. eram r!gas ' =!e me!s ,a+elos ,aam /e!sdentes tam+4m ,aam ' =!e minhas ernas á não eram s!*i,ientemente *ortes ara me levarat4 a=!ela elevação. de onde e! odia ver o mar e o mar =!e *i,a mais al4m do mar =!e e! viada raia %ntes. e! ia e voltava da elevação no sol a+rasador deois e! s ,onseg!ia sair da=!ino sol a+rasador e voltar na ,h!va e. deois ainda s nas estrelas e na l!a %gora sãone,essárias m!itas ,h!vas. m!itas estrelas. m!itas l!as e m!itos sis ara ir e voltar ' isso 4o temo. m!ito mais tarde des,o+ri =!e isso era o temo Fi,o a=!i o dia inteiro. não háning!4m. não há nada Fi,o a=!i na gr!ta o dia inteiro. sem sa+er mais =!ando 4 sola+rasador. =!ando 4 ,h!va o! l!a e estrelas. e! não sei mais

@o ,omeço e! ensei tam+4m =!e ho!vesse o!tros. ndios talveA. animais. *ormigas.+aratas @ão havia ning!4m. nada $a elevação e! odia ver o todo. e o todo era s a areia eos ,o=!eiros =!e me alimentam # todo não tinha ning!4m. não tinha nada '! ,horava. no,omeço e! ,horava e não entendia. aenas não entendia. e não entender di. e a dor *aAia,om =!e e! ,horasse. no ,omeço '! sentia sa!dade. no ,omeço. !ma sa!dade aertada degente. rin,ialmente de gente @ão me lem+ro mais =!al era o me! se8o. agora olho no meiodas minhas ernas e não veo nada al4m de !ma s!er*,ie lisa e ásera. mas no ,omeço e!sa+ia. e! tinha !m se8o determinado. e a sa!dade =!e e! tinha de gente *aAia ,om =!e e!rolasse horas na areia do sol a+rasador. a+raçando me! rrio ,oro. inventando !m raAer=!e e! re,isava ara me sentir vivendo talveA. or=!e e! não tinha medos nem reo,!açesnem mágoas nem nada ,on,reto nem e8e,tativas. as minhas ,4l!las amorte,iam. e! sentia=!e ia a,a+ar virando !ma almeira. os me!s 4s agora are,em raAes. mas ainda tenhomãos. então e! rolava na areia =!ente en=!anto me!s dentes *aAiam mar,as *!ndas ro8as nosme!s +raços. nas minhas ernas e de reente todas as minhas ,4l!las e8lodiam em vida.e8atamente isso. em vida. e! tinha dentro de mim todo a=!ele sol todo a=!ele mar t!do a=!ilo

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=!e e! ,onhe,era antes. =!e ,onhe,eria deois. se não estivesse a=!i '! *i,ava amlo. naareia. a+raçado a mim mesmo

)alveA. sim. talveA e! *osse m!lher. or=!e ensava no rn,ie. a minha mão direitaera a minha mão e a minha mão es=!erda era a mão do rn,ie. e a minha mão direita e aminha mão es=!erda !ntas eram as nossas mãos %ertava a mão do rn,ie sem ,avalo+ran,o. sem ,astelo. sem esada. sem nada # rn,ie tinha !ns olhos *!ndos. es,!ros. !mo!,o ,ados nos ,antos e ,aminhava devagar. a*!ndando a areia ,om se!s assos #rn,ie tinha essa ,oisa =!e e! es=!e,i ,omo 4 o eito e =!e se ,hama angKstia '! ,horavaolhando ara ele or=!e e! s tinha ele e ele não *alava n!n,a. nada. e s me to,ava ,om aminha mão es=!erda. e e! ,antava ara ele !mas ,antigas de ninar =!e e! tinha arendidoantes. m!ito antes. =!ando era menina. talveA tenha sido !ma menina da=!elas de tranças.saia lissê aA!l-marinho. meias so=!ete. laço no ,a+elo. talveA &a+e. s veAes e! me lem+rode ,oisas assim. de m!itas ,oisas. ,omo essa da menina -,omo se ho!vesse !ma arte demim =!e não envelhe,e! e =!e g!ardo! G!ardo! t!do. at4 o rn,ie =!e !m dia não veiomais @ão. não *oi !m dia =!e ele não veio mais. *oram m!itos dias. em m!itos dias ele nãoveio mais. a ág!a do mar salgava a minha +o,a. o sol =!eimava a minha ele. e! tinha aimressão de ser de ,o!ro. !m ,o!ro resse,ado. s!o. mal ,!rtido ' havia essa ,oisa =!etam+4m es=!e,i o eito e =!e se ,hamava dio $e veA em =!ando e! ensava e! vo! sentiressa ,oisa =!e se ,hama dio ' sentia Cres,ia !ma ,oisa vermelha dentro de mim. os me!sdentes rasgavam ,oisas $evia ser +om. or=!e deois e! deitava na areia e ria. ria m!ito. era!m riso =!e *aAia doer a +o,a. os mKs,!los todos. e *aAia as minhas !nhas enterrarem naareia. ,om *orça

)enho !m livro ,omigo. não 4 !m livro. era !m livro. mas deois *i,o! s !m edaço delivro. deois s !ma *olha. e agora s !m *arrao de *olha. nesse *arrao de *olha e! leio todosos dias !ma ,oisa assimD X)em iedade. &atã. desta longa mis4riaX & isso Fi,oreetindoDtemiedadesatãdestalongamis4riatemiedadesatãdestalongamis4riatemiedadeXtemo. temo % sinto essa ,oisa =!e ainda não es=!e,i o eito e =!e se ,hama desesero

avia o!tras essoas. sim @ão a=!i. mas lá. +em ara lá do mar =!e e! avistava de,ima da elevação e =!e 4 o mar mais longe =!e e! veo /ais longe ainda tinha gente. a gente=!e me tro!8e ara ,á & não lem+ro mais or =!ê erdade. e! tinha =!al=!er ,oisa assim,omo andar de ,ostas. =!ando todos andam de *rente H!al=!er ,oisa ,omo gritar =!andotodos ,alam H!al=!er ,oisa =!e o*endia os o!tros. =!e não era a mesma deles e *aAia ,om=!e me olhassem vermelhos. os dentes rasgando as ,oisas. e! doa neles ,omo se *osseá,ido. esinho. ,a,o de vidro 'ntão eles me tro!8eram Por isso. me tro!8eram 5em+ro. sim.e! lem+ro =!e havia ,oisas es,!ras =!e eles *aAiam e =!e e! não *aAia. ,orrentes. sim. sim. e!lem+roD havia ,orrentes e *ardas verdes e do!rad!ras e ,r!Aes. havia ,r!Aes. ,er,as de arame*arado. ,hi,otes e sang!e. havia sang!e. !m sang!e =!e eles dei8avam es,orrer sem gritaren=!anto e! gritava. e! gritava +em alto. e! mordia de*endendo me! sang!e

% gr!ta 4 Kmida es,!ra *ria @ão tenho ro!a. não tenho *ome. não tenho sede &tenho temo. m!ito temo. !m temo inKtil. enorme. e este *arrao de *olha de livro @ão sei.at4 hoe não sei se o rn,ie era !m deles '! não odia sa+er. ele não *alava '. deois. elenão veio mais '! dava !m ,avalo +ran,o ara ele. !ma esada. dava !m ,astelo e +r!8asara ele matar. dava todas essas ,oisas e mais as =!e ele edisse. *aAia ,om a areia. ,om osal. ,om as *olhas dos ,o=!eiros. ,om as ,as,as dos ,o,os. at4 ,om a minha ,arne e!,onstr!a !m ,avalo +ran,o ara a=!ele rn,ie /as ele não =!eria. a,ho =!e ele não =!eria.

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e e! não tive temo de diAer =!e =!ando a gente re,isa =!e alg!4m *i=!e a gente ,onstri=!al=!er ,oisa. at4 !m ,astelo

%,ho =!e não asso da l!a desta noite. talveA não asse nem da ,h!va o! do sola+rasador =!e está lá *ora &ão m!itas alavras. tantas =!anto os *ios de ,a+elo =!e ,aram.=!anto as r!gas =!e ganhei. m!ito mais =!e os dentes =!e erdi 'sta ,oisa terrvel de não terning!4m ara o!vir o me! grito 'sta ,oisa terrvel de estar nesta ilha desde não sei =!ando@o ,omeço e! eserava. =!e viesse alg!4m. !m dia Rm avião. !m navio. !ma nave esa,ial@ão veio nada. não veio ning!4m & este ,4! limo. s veAes es,!ro. s veAes ,laro. massemre limo. !ma limeAa =!e ,ontin!a al4m de =!al=!er ,oisa =!e estea nele )alveA t!do

 á tenha terminado e não e8ista ning!4m mais ara lá do mar mais longe =!e e! veo # mar=!e ,om este sol a+rasador *i,a vermelho. o mar *i,a vermelho ,omo a=!ela ,oisa =!e e!es=!e,i o nome. *aA m!ito temo %=!ela ,oisa =!e se e! lem+rasse o eito oderia ser minhamat4ria de salvação )alveA olhando mais o vermelho e! lem+re. o mar dila,era ,oisas ,om osdentes. enterra as !nhas na areia. o mar tem a=!ela ,oisa =!e o rn,ie tam+4m tinha. o marde reente are,e =!e @ão. não adianta. o vaor está s!+indo Pela entrada da gr!ta veo asrimeiras n!vens se *ormando. não adianta. o mar está es,!re,endo. as n!vens a!mentam.a!mentam. 4 m!ito tarde. tarde demais $a=!i a o!,o vai ,omeçar a ,hover

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$% &#5I$O#

niciei mil ve4es o diálogo" 1%o $á ;eito"8en$o me <atigado tanto todos os dias vestindo des!indo e arrastando amor in<ância sóis esombras"*Hilda Hilst.

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PONTO DE FUGA

Para M=riam Cam!ello

$eois. t! sairias a4reo isando no ,as,alho Como ser a4reo ao isar ,om *orça aterraB talveA te erg!ntasses /as ao mesmo temo em =!e a erg!nta nas,eria do te!interior. roetada em s!rresa n!m ima,to =!e te *aria deter os assos -ao mesmo temoolharias ara al4m da linha do horiAonte. ao mesmo temo ara al4m da areia se,a. da areiamolhada. do =!e+rar das ondas deositando *ormas vivas e mortas na raia. ara o rimeiro=!e+rar de onda. esati*ado em es!ma de+ai8o do sol. o! talveA do ,4! es,!ro. mas se *ossel!A. se ho!vesse l!A. a onda =!e+raria n!m tremor. esalhada em gotas no ar. no vento. aomesmo temo -e t! olharias ara o Kltimo =!e+rar de onda. ara as ondas =!e á não =!e+rammais. ara onde á nem e8istem ondas. ara onde s resta o verdeverdeverde ine8li,ável nas!a simli,idade de ,or-de-mar-em-dia-,laro. ao mesmo temo olharias ara o onto deen,ontro entre o mar e o ,4! ' seria o al4m 'ntão ro,!rarias s?*rego or !ma alavra. em:ni,o es,avando dentro de ti. es=!isando letras. letras desidas de signi*i,ado o!signi*i,ante. letras ,omo !m o+eto $as letras re!nidas !ma a !ma. *ormarias !ma alavraara de*inir esta :nsia de v?o s!+indo desde o ,hão at4 os olhos Formarias !ma alavra. estaDa4reo @o rimeiro momento. serias a alavra. t! serias a ,oisa. ainda =!e ali. estáti,o eterreno. isando so+re o ,as,alho &erias a4reo no momento e8ato em =!e a alavra se,!mrisse em t!a +o,a Como algo =!e aenas or !m ato de ,rença. !m movimento de *4. se,on*irma e se ,ons!ma -a4reo

& deois desse rimeiro momento. nenh!m seg!ndo. nem !ma *atia mnima de temoD!m instante n*imo em s!a e=!eneA. má8imo na s!a amlit!de e in,omreensão. or=!e s oin,omreensvel 4 in*inito -s deois desse rimeiro momento 4 =!e te do+rarias ara timesmo. a alavra lateando na memria. no ,oro inteiro. nas mãos ,ontidas. e te erg!ntariaslK,ido -a4reoB %lado. talveA Pensarias o!tras alavras. +!s,ando á sonoridades.resson:n,ias. ritmos. mas nenh!ma delas. or mais laidada =!e *osse. seria maior =!e a=!elarimeira @enh!ma )odo erdido dentro do nas,ido invol!ntário dentro de ti ,aminharias,on*!so isando o ,as,alho

# ,as,alho - *arelos de edra esalhados so+re a areia # ,aminho de ,as,alho.nas,ido na areia. do ,omeço da raia. assando entre o m!ro de edras +ran,as e a estr!t!rain,omleta do edi*,io. erg!endo a n!deA dos tiolos ara o ,4!. mist!rando-se grama.derramado so+re os valos e as laes ,ar,omidas das ,alçadas # ,aminho de ,as,alho at4 o*im da r!a lana. no onto onde á não haveria mais r!a. não haveria mais ,4! Rm vagoen,ontro. onde mesmo o mar teria se dissolvido

# mar e o ,4!# onto' t!% r!a e o ,4!# onto&!senso entre dois en,ontros. t! ,aminharias desen,ontrado Como se *osse ara

semre. esado. os om+ros ,!rvos. esmagados ela solidão /as de reente haveria !maraça '8atamente assim. ,omo no oema. s =!e !ma raça. no meio do ,aminhoIneserada &!senderias os assos sem ,omreender. em desear ,omreender -tomado

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!ni,amente de esanto. nenh!m o!tro sentimento se,!ndárioD o esanto e8ato de teren,ontrado !ma raça Passado o instante da osse -a ,oisa a,hada tomando ,onta de ti orinteiro. t! *eito na ,oisa. t!D a rria ,oisa -. te! olhar se estenderia manso. ro,!rando ontosde re*erên,ia. traços em ,om!m ,om o!tras raças en,ontradas em o!tras sit!açes "an,os.árvores. ,anteiros. talveA estát!as. =!em sa+e !m lago-raça

@ão haveria nenh!m lago nessa raça &omente !ma estát!a. n!m dos ,antos Rmhomem na atit!de de ogar !m dardo. d!as asas nos 4s. ,oro +ran,o e n!. rosto de *eiçesdevastadas ela erosão %s árvores seriam +ai8as e o!,as. as *olhas de !m verde s!o.arenoso Caminhando. t! seg!rarias ,om raiva !m galho -sem ,omreenderes a rria raiva esem ,omreenderes a roeção dela no galho a oeira *ina e densa *i,aria *l!t!ando no ar at4=!e a !ltraassasses ara to,ar n!m +an,o ,om a mão # +an,o seria de mármore. mármoreamarelado elo temo. ,ar,omido elos inKmeros ventos # +an,o não g!ardaria se=!ernomes de namorados gravados n!m o!tro temo. nem !m alavrão. nem !m desenho- s a,arne lisa. ,omo se tivesse retomado a !m anterior estado de !reAa deois de m!itas mar,as

/as essa !reAa seria s aarên,ia @ovamente deterias os assos ara investigar oe8terior limo P!ri*i,adoB @ão % vida inteira vivida elo +an,o teria ermane,ido em alg!maes,ondida dimensão de se! ser. ' a vida ol!a Carne gasta. á inatingvel or =!al=!eralavra de dio o! de amor. =!al=!er revolta o! =!al=!er alegria -o +an,o im!ndo

&entada no ,hão. en,ontrarias a moça vestida de aA!l Pela ter,eira veA. t! seriasinvadido ela imagem $esta veA. a moça )!D vindo de !m ,aminho ,onhe,ido. em assadass veAes lentas. leves. o!tras esadas de esantos. =!edas. =!e+ras. t!D vindo or !m,aminho determinado. !m ,aminho de*inido em edaços de edras. so+re as =!ais t! isavas'ra o te! ,aminhoD !m ,aminho de edras des*eitas desde a raia at4 a moça % moça

' a moçaB $e =!e l!gar teria vindoB H!e ,aminhos teria isadoB H!e ins!seita dasdes,o+ertas teria *eitoB )! olharias a moça mas. as erg!ntas não a,orrendo. o mist4rio =!e aenvolveria seria des*eito -!ma moça vestida de aA!l. sentada no ,hão de !ma raça sem lago@ão oderias sa+er nada de mais a+sol!to so+re ela. a não ser ela rria FaAendoerg!ntas. t! o!virias resostas @as resostas ela oderia mentir. dissim!lar. e a realidade=!e estava sendo. a realidade =!e agora era. seria =!e+rada ois. não *aAendo erg!ntas. t!a,eitarias a moça ,omletamente $es,onhe,ida. ela seria mais ,omleta =!e todo !minventário so+re o se! assado $es,o+ririas =!e as ,oisas e as essoas s o são emtotalidade =!ando não e8istem erg!ntas. o! =!ando essas erg!ntas não são *eitas H!e amaneirar mais a+sol!ta de a,eitar alg!4m o! alg!ma ,oisa seria !stamente não *alar. nãoerg!ntar -mas verU 'm silên,io

)! verias a moça% moça ver-te-iaB&entarias no ,hão. ao lado dela. tentarias des,o+rir nos olhos o! na +o,a o! em

=!al=!er o!tro traço !m sinal não de re,onhe,imento. mas de visão ' ensarias =!e o =!e *aAnas,er as erg!ntas não 4 !ma ne,essidade de ,onhe,imento. mas de ser ,onhe,ido Por=!et! não sa+erias se a moça sentia a t!a resença Falando. o!virias a t!a rria voA. solta naraça. e terias a ,erteAa de =!e a moça te o!via %inda =!e não te visse. na visão ,omleta=!e terias a,a+ado de des,o+rir

&!sensa a voA n!m rimeiro momento. t! voltarias atrás. deseando ser visto /asara teres a ,erteAa de ser visto. terias =!e ter a ,erteAa de =!e eras o!vido % moça não*alaria @em se movimentaria )eria. á. des,o+erto o silên,io ,omo *orma mais amla de

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,om!ni,açãoB 'stenderias a mão e a to,arias no seio. e a moça ainda não se movia%*astarias o vestido. as t!as mãos des,eriam elos seios. elo ventre. as t!as mãos atingiriamo se8o ,om dedos ávidos. o te! ,oro iria se ,!rvando n!ma ante,iação de osse. o ,oro damoça ,omeçaria a,eder. a ressão de te! ,oro so+re o dela se *aria mais *orteD a moçadeitaria de ,ostas na areia. tão leve ,omo se a=!ilo não *osse !m movimento )! *arias at!aa*irmação de homem so+re a entrega dela /as os movimentos seriam s te!s. vendo !m ,4!talveA es,!ro. talveA il!minado. !ma e8tensão de raça are,endo imensa vista emerse,tiva ' !ma estát!a ,ar,omida %ssimD te! mem+ro e8lodiria dentro dela en=!antoolharias *i8o e *irme ara !m rosto de edra +ran,a desido de *eiçesM

$eois sairias ,aminhando devagar. ven,endo a raça. voltando ao ,aminho de,as,alho /as desta veA isarias m!ito s!ave &eria leve o to=!e de te!s 4s. seria verde o te!olhar no gesto de virar a ,a+eça ara ver o mar. seriam mansos os te!s movimentos emdireção ao onto de *!ga onde merg!lharia a r!a @a es=!ina olharias ela seg!nda veA aratrás e veria !m ,aminho. !ma raça e o mar Rm ,aminho. !ma raça e o mar ' no meio daraça. !ma moça "an,os de mármore. árvores s!as. ,anteiros vaAios. nenh!m lago. !maestát!a devastada e. m!ito re,!ada. !ma moça &em movimentos. !ma moça &em salvação.!ma moça &em ,omreender. !ma moçaRma moça e !ma tarde H!ase noite

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PAIXÃO SEGUNDO O ENTENDIMENTO

$esido e solitário. organiAo! o raAer no +anheiro. en=!anto o m!ndo não lheentregava a=!ela m!lher redestinada desde o in,io dos temos Rma sensação deestranheAa de se! ,oro mKltilo e ,on,entrado em !m Kni,o onto rio de *ogo. as mãosatare*adas ,ond!Aindo os movimentos 'nvolto em vidro n!ma atmos*era ao mesmo temo=!ente e deli,ada. ,omo as ,on,avidades da m!lher ignorada ' de reente assim. á nãovendo as rrias ,o8as onde o l=!ido te,ia desenhos. de reente tendo o!tra veA oito anosna s!rresa de er,e+er a mente in*antil arisionada n!m ,oro ad!lto e satis*eito %ntes. ovidro ameaçava ,eder a !m matagal de vel!do. =!al=!er ,oisa ásera e intensaD o vidro=!e+rado e os esados reosteiros so+re ele. n!m v?o

% mão s!sensa e8a!sta ' s as -a in,omreensão da rria ,arne # ,4re+ro orseg!ndos esvaAiado de ensamentos ,edia l!gar !ni,amente ao gesto. o ,4re+ro osto emreo!so voltava a *!n,ionar @ão. não eram re,riminaçesD !ma erle8idade distrada de nãoter ,ontrolado o =!e era se! e. mais al4m. o medo de não ,ontrolando o =!e era se! não oder,ontrolar amais o =!e era alheio # =!e seria alheio. ,orrigi!-se ensando na *êmea =!e lheera destinada %!sto!-se ao =!e voltara a ser. admitindo =!e á não ,onseg!ia to,ar-seD havia-se *ormado ,omo =!e !ma a!ra em torno do ,oro

@ão !ma a!ra de santidade. nem de irradiaçes. mas de desne,essidade de to,ar-se# ,oro tresandava e8a!stão @ão. á não era re,iso to,ar-se. e isso não doa $oa aenas=!ando o gesto se im!nha. e antes do to=!e. aenas antes igoroso. olho!-se no eselho esorri! ,omo !m animal. sem ,omreender =!e o sorriso não era ara si rrio. mas ara !mo!tro -ainda não s!seitava da ossi+ilidade de en,ontro de ,riat!ras de mesma *orça. n!marelação diversa da dominante-dominado =!e eserava ' mesmo =!e s!seitasse. nãoadmitiria. ois em =!al=!er arte do m!ndo havia !ma *êmea *eita ara ele. a,reditava Rma*êmea ,?n,ava em =!e. ,onve8o e sem esanto. se a,omodaria @ão. não s!seitava =!easereAas e saliên,ias !dessem se en,ontrar em violên,ia e *ogo. n!m ,r,!lo intenso. o,!lto%dmiro!-se. a mas,!linidade e8ressa no olhar arrogante s!+stit!indo o instr!mento e8a!sto% l!A ,oada da tarde im!nha !m re*le8o *antasmagri,o no liso da ele e. sem entender.admiti!

Por !m momento. !ma s!seita o *eA os,ilar re,árioD =!e estava se assandoB % mãodesliAo! mansa na ele. n!m to=!e novamente al4m da a!ra. mas di*erente. aenas isso.di*erente @em mais nem menos ro*!ndo 'ntão. ,omo no ,omeço do m!ndo. ,omeço! a se*aAer a l!A %travesso! seis dias ane8ando a si o ,laro e o es,!ro e o sim e o não e o amor e ag!erra e as estes e os sorrisos e as mãos dadas e os látanos erdendo as *olhas enovamente re,!erando e os desertos e as lan,ies e os oásis e as ,h!vas e os ventos e asraças e as grandes e8tenses de nada e as galá8ias e ,ada !m dos grãos de areia do *!ndodos o,eanos e os animais e as edras e o a,Km!lo de edras *ormando temlos e as estradase as ortas e as varandas e as ondas e as ,idades de *erro e metal e organdi e o silên,io todosos silên,ios e os gritos e os m!ros e os ores e as ,haves /as no s4timo dia. no s4timo diatreme! e hesito!. imediatamente ,o+rindo-se ,om toalha. e8!lso do =!e des,o+rira e =!e. orine8eriên,ia de lidar ,om as ,oisas. oderia transm!tar-se de araso em in*erno @ão ho!vetemo de es,olher nem araso nem in*ernoD re*eria a seg!rança de !m gesto

$e hoe em diante ,omerás o *r!to de te! rrio s!or- ainda o!vi!. sim. simD erare,iso dar sang!e e ão e ,arne a !m evento ara =!e não morresse 'ra re,iso sentir nos

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om+ros as garras do =!e inventara 'ntão vesti!-se demorado. re,onstr!indo aos o!,os o =!enão sa+ia se se amliara o! *ora destr! do. reass!mindo-se no =!e era simlesmente. a s!ademar,ação ,om *ronteiras e limites. o+s,!ras negaçes % *irmeAa e o ,onhe,imento do =!e,onstit!a se! rrio terreno. e =!e *e,hava a =!al=!er tentativa de modi*i,açes 3amais teriasido g!erreiro o! e8lorador de novas ,oisas o! !m des,o+ridor o! !m ,ientista o! !mastrona!taD se! herosmo residia na de*esa. não no ata=!e # má8imo =!e ediria a $e!s. sea,reditasse nele -e a,reditava- seria não ermitir amais =!e sasse de si rrio. nemavançasse al4m do =!e. des,!idado. á avançara Pois =!e. avançando. era o+rigado a ane8aro =!e des,o+rira. e não tinha *orças nem vontade de re*orm!lar todos os dias o se! ser de,ada dia ' olhando *ora de si. ressentia avisos. se,!lares avisos de sang!e de =!e o =!e oeserava não tardaria % isso ,hamava. amável. de !ma eserança 'm nenh!m momentoermitiria a si mesmo d!vidar da ,on,retiAação das eseranças. do =!e ,hamava eseranças

&im. sim. ,on*irmo! olhando-se no eselho. =!ase vestido % m!lher havia ,olo,ado amão no se! om+ro. diAendoD e! so! +onita /as ele *ora al4m e resonderaD e! so! # raAer=!e sentia era =!ase o mesmo de =!ando ogava tênis e ,onseg!ia inter,etar !ma +olaimossvel ara mar,ar ontos %enas. o es*orço dos mKs,!los doa deois Rma dorimre,isa. ao mesmo temo generaliAada e ,on,entrada. n!m onto inatingvel &im. reeti!!ma o!tra veA. e á não doa. nada mais doa Penso! n!ma *rm!la matemáti,a -ele eraengenheiro -a mãe eserando ara antar -ele era r*ão de ai -nos talheres de rata -ele erari,oD ,onseg!indo sit!ar-se &im. sim. delimitar-se. sim. sa+ia o =!e era. =!em era. sim %aro!,!idadoso o +igode e. re,omosto. des,e! tri!n*ante as es,adarias de mogno enverniAado

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FOTOGRAFIA

&entada a=!i. desde não sei =!ando. olho es=!erda. olho em *rente. em ,imaolho=!ase tonta de não en,ontrar. olham tam+4m da mesa ao lado. á erg!ntei as horas d!asveAes. não. três. o ,ara resonde! direito da rimeira veA. da seg!nda me olho! o+l=!o. nater,eira ,omento! =!al=!er ,oisa ,om a m!lher. deve ter dito ,oitada. levo! o +olo. me dá noo.não e8atamente noo. =!e 4 !ma ,oisa de est?mago =!e se derrama vis,osa elos o!tros.atingindo t!do em torno. esverdeada. não. nem dio. =!e 4 grande demais. não ,a+e dentro demim. da minha ar=!itet!ra *rágil de m!lher magra. as ernas *inas s!ortando não sei ,omo osom+ros e o tamanho dos olhos. o dio seria demais. e! troeçaria toda atraalhada ,om me!rrio eso. a raiva 4 mais mansa e e! me sinto ,aaA de s!ortá-la. a raiva ,a+e em mimor=!e não ermane,e. e as ,oisas s adentram em mim =!ando odem es,aar em seg!ida.e! s!*o,o. sei +em. s!*o,o e =!ase esmago as ,oisas. as gentes tam+4m. aenas !ltraassamn!ma. raideA de =!em não olha ara trás e vai seg!indo em *rente. *ra,a demais ara ser+arreira. transarente. orosa *eito ,ortina de *!maça. não. não e8ata mente. a *!maça aomenos *aA os olhos *i,arem vermelhos. rovo,a tosse. e! não ,onsigo a+alar ning!4m. !mlásti,o. material sint4ti,o. teve ena ,erta. e! não =!ero =!e tenham ena de mim. di mais=!e t!do os o!tros olhando de ,ima. ,onstatando a *ra=!eAa nossa. a nossa in*erioridade.=!ero =!e me olhem do mesmo lano. se ele =!er ,omentar alg!ma ,oisa ,om s!a,omanheira =!e diga lem+raB Rma veA =!e e! tam+4m eserei or vo,ê assim. vo,ê nãovinha. não vinha n!n,a. e! *!mava. e! +e+ia. e! eserava e vo,ê não vinha. mas a,a+o! vindoe está a=!i. agora. vendo !ma moça =!e esera ,omo e! eserei vo,ê na=!ele dia. are,e=!e da=!i a o!,o ele vai me diAer as horas sem e! erg!ntar. não ,omo se estivesse sedo+rando n!m eito de amigo. mas ,omo se me agredisse lançando a esera inKtil no me!rosto. es=!e,i ,omletamente as horas. não sei se esto! a=!i desde ontem. desde semre.are,e =!e á ,hove!. á *eA vento e garoa. =!e o amarelo das *olhas so+re a ,alçada 4 doo!tono assado. não deste. are,e =!e á 4 inverno gelando agente or dentro. =!e o verãoesa nas ále+ras tornando lentos os gestos. dessa reg!iça no andar ,omo se a ,adainstante agente morresse. mas esse salto or dentro 4 rimavera im!lsionando ara !m verderenas,ido. garoa morna. *ina. =!ieta nesse eito de ,olo,ar os olhos longe. !m longe desido de+arreiras. ah essa toalha aA!l a8adreAada de +ran,o. o ,r,!lo Kmido do ,oo onde !ma mos,ase de+ate. a minha +olsa. o maço =!ase vaAio de ,igarros. d!as garra*as vaAias de ,o,a-,ola.o ,inAeiro ,heio de ontas. essa mKsi,a inde*inida ma,h!,ando or dentro. ,omo se estivessedesde semre a=!i. es,orregando devagar. as notas *eito ingos de ,h!va na vidraçaa+ai8ada. vontade de diAer !m alavrão. esses dois me olhando. assim. goAando. rindo daminha esera. mesmo o garçom de alet +ran,o. !m dente de o!ro na *rente. vaies,!re,endo. trinta e d!as tá+!as no teto. gente saindo. assando. tivesse ao menos !m ornalara dis*arçar. não adianta. =!e horas serão. me! $e!s. não =!ero erg!ntar o!tra veA. vai*i,ar m!ito evidente. á m!dei mil veAes de osição na ,adeira. não en,ontro o eito. seriane,essário !m eito ese,*i,o de eserar. 4 medo o =!e e! tenhoB @ão sei. de reente meen,olho todaE !m movimento interior de de*esa eriçado or !m sentimento =!e des,onheço. damesa ao lado eles levantam. vão saindo. indo em+ora lentos. o garçom desaare,e ao lado do+al,ão. ,omeça a anoite,er. todos os relZgios estão arados. não sei se 4 ontem. se hoe o!amanhã. se 4 semre. se n!n,a mais. esto! solta a=!i. ,omletamente s. não há relgios.não há relgios e o temo avança li+erto. sem *ronteiras nem limitaç[es. !ma +ola de arame

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*arado. o sentimento vai se adensando em mim. trans+orda dos olhos. das mãos. sai ela+o,a em *orma de *!maça. sinto me!s lá+ios resse=!idos. ma,h!,ados. o gosto amargo. a+ola ,res,e estendendo tentá,!los. no meio dela e! me en,olho ,ada veA mais. resa n!m,r,!lo =!e ,res,e at4 e8lodir na vontade ,ontida de gritar +em alto. +em *!ndo. ro!,a.e8a!sta. ,orrendo. esmagando as *olhas de !m o!tro o!tono. de !m o!tro temo. ainda este. otemo. o o!tono. a tarde. o m!ndo. a es*era. a esera em =!e esto! ara semre resa

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ITINERÁRIO

$e reente. esto! s $entro do ar=!e. dentro do +airro. dentro da ,idade. dentro doestado. dentro do as. dentro do ,ontinente. dentro do hemis*4rio. do laneta. do sistemasolar. da galá8ia -dentro do !niverso. e! esto! s $e reente Com a mesma intensidadeesto! em mim $entro de mim e ao mesmo temo de o!tras ,oisas. n!ma se=Jên,ia in*inita=!e oderia me *aAer sentir grão de areia /as estar dentro de mim 4 m!ito vasto /inhasaredes se dissolvem @ão as veo mais. e or !m instante me! ensamento se e8ande.romendo limites n!m er,!rso desen*reado @esse ráido esraiar. me! ser ane8a a si as,oisas e8ternas # ar=!e. as árvores. o sol. as gentes dei8am de ter e8istên,ia rivada e.dentro de mim. estão so+ me! domnio Como mem+ros de me! ,oro. o! ensamentos á*eitos o! alavras á *orm!ladas -eles se aninham em mim. *aAendo arte do me! ser /e tornoem ar=!e. em árvore. sol. em gentes # ro,esso 4 tão +reve =!e se=!er tenho temo deregoAiar-me ,om ele Por=!e s!+itamente t!do volta

' so! aenas !m homem no ar=!e Tred!Aido somente a minha ,ondição de homemno ar=!e 'sio ara *ora de mim e veo as ,oisas =!e não são mais minhas %s árvoresde+ai8o das =!ais esto!. esta *olha =!e há o!,o desliAo! elo me! ,ha4!. es,orrego! orom+ro. atingindo a mão onde a esmago. esta gente ara =!em so! !m homem no ar=!e @aminha mão o ,ontato da *olha *erida 4 ásero /as não *ere Frente a me!s olhosD hirta. se,a.amarelada. 4 !ma *olha do inverno %s rami*i,açes se e8andem em mil ,aminhos at4 as+ordas. na tentativa á inKtil de levar a seiva aos ontos mais re,!ados. e ela 4 !ma ,oisamorta # e=!eno talo vi+ra entre me!s dedos ,omo !m ser vivo e agoniAante n!m Kltimoesasmo #lho as ontas reviradas e. n!m gesto. torno a esmagá-la 3á não 4 *olha. á não 4nada -somente !m !nhado de oeira =!e es,orrega in,?moda manga adentro do ,asa,o @oentanto. não so! !m assassinoD so! !m homem no ar=!eU =!ase grito ara =!e as o!trasessoas es,!tem e olhem ara mim e veam ,omo so! inteiramente normal trivial +anal e at4v!lgar dentro deste terno es,!ro. anti=!ado -re,iso =!e tomem ,ons,iên,ia do me! ser ere,iso e! mesmo tomar ,ons,iên,ia do =!e so! e do =!e signi*i,o nesta +re,ha de temo Porisso +ai8o os olhos e. s!+indo-os desde o +i,o dos saatos. vistorio todo o ,on!nto =!e *ormao me! ser em e8osição Calças. ,asa,o. ,ha4! e! so! !m homem no ar=!eU novamente=!ase grito or=!e a realidade de reente os,ila. ameaçando =!e+rar-se em *atias =!e *erem%oiado em minha seg!rança. =!e se revela re,ária. e! l!to

' eis =!e a l!ta *inda '! ,edo @ovamente as ,oisas se dissolvem e torno a es,orregarara dentro de mim /as estar em mim á não 4 vasto /inha e8tensão red!Ai!-se a este,r,!lo a,inAentado =!e 4 me! ensamento /inha e8tensão 4 tão mnima =!e s!*o,o dentrodela )!do se res!me a esta e8tensão @ão há mais nada *ora de mim Imossvel a *!ga/e!s mem+ros se en,olhem ,omo !m te,ido ordinário. re,4m-levado. estendido ao sol )!dose ,omrime em torno de mim 'ste ,r,!lo a,inAentado aertando ,ada veA mais. releto dearestas. de ontas ag!çadas @este ,r,!lo esto! em rotação /e! ser vai girando. girandon!m lento ,orr!io. n!m movimento =!e 4 =!ase dança. =!ase ,iranda %s arestas *erem leve.,om eito de ,ar,ia. as ontas aenas a*agam en=!anto o ensamento se es=!iva. naeserança de sair ileso 'ntão t!do ,essa

' volta o ar=!e ,om s!as gentes assando. ,om a=!ela s4rie de ,oisas =!e,onstit!em o ser de !m ar=!e %,endo !m ,igarro. minha mão treme. devolvida seg!rança=!e em relação s ,oisas de *ora novamente se revela e*i,iente @as minhas ,alças. o da

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*olha 4 a lem+rança do ,rime sem Kri nem !iA. nem ol!ição % me!s 4s. o tra+alho das*ormigas 4 intenso neste o!tono =!ase inverno. releto de *olhas ,adas % longa *ila seen,aminha lenta. desviando-se de me!s saatos. *olhas e=!ili+radas so+re as ,a+eças.!ltraassando os 4s do homem a me! lado. as ernas vagamente tortas da=!ela m!lher maisadiante. as meias aA!is da=!ela adoles,ente %t4 o *ormig!eiro. onde as desensas devemestar a+arrotadas /as as ,igarras á não ,antam

)!do volta Pro,!ro retomar a me! Kltimo ensamentoD tinha relação ,om in*:n,ia elivro. e! sei ' +!s,o Por entre essa in*inidade de *ormas. de signos des*eitos ,om =!e são,onstr!dos os ensamentos or entre esse amontoado de lem+ranças *eitas de imagemin,omletas ,omo retratos rasgadosE or entre essas id4ias a =!e *altam +raços. ernas.,a+eças or entre os retalhos dessa ,ati,a ,ol,ha de =!e 4 te,ido o ,4re+ro de !m homem noar=!e. e! +!s,o &em en,ontrar % seg!rança das ,oisas *á,eis e simles desliAa entre me!sdedos re,!sando *i8ar-se ' há o ,igarroD essa tonalidade aA!lada 4 aenas a *!maça s!+indoem lentas esirais. ,ada veA mais densa. tomando ,onta de mim. e! sei. deve ser. or=!e as,oisas não sendo o =!e são o!tra veA me ogarão n!m m!ndo de ro,!ras e esantos

' de novo esto! em mim %inda reso nas engrenagens do ,r,!lo H!e desta veA não*erem $entro da minha e=!ena e8tensão me são ermitido o movimento e o investigar/ovimento e investigar vãos. or=!e 4 t!do tão n*imo =!e nem há mist4rios elos ,antos @ãohá erse,tiva na esera de serem ressentidas @ão há se=!er v4rti,es nesta s!er*,iedesida de arestasD s a leve ,hama. em a,eno trêm!lo or entre o vaAio /as e! não =!ero&eria re,iso a+di,ar de todas as minhas verdades essas estr!t!ra das lentamente. dia asdia. =!ase min!to a min!to. s!aviAando os ,ontornos da realidade =!ando esta se tornaásera &eria re,iso a+di,ar de me! ser ,otidiano. ,onstr!do em longo la+or &eria re,isoa+di,ar de minha seg!rança. e e! a a,!m!lei em a,iên,ia em t4dio. mas a *iA *orte. e seagora eri,lita 4 or=!e todos ns temos o nosso momento de =!eda ' este 4 o me!

@o vá,!o de mim e! me desen,o Por=!e seria re,iso tam+4m a+di,ar de mimmesmo ara novamente re,onstr!ir-me )ornar a es,olher os gestos. as alavras. em ,adamomento de,idir =!al dos me!s se!s ass!mir 3á es*a,elei me! ser. á es,olhi as orçes =!eme são ,onvenientes. es=!e,endo deli+erado as o!tras ' são elas -serão elasB -=!e agora semovimentam revoltadas. edindo assagem em gritos m!dos. na :nsia de trans,ender limites.violentar *ronteiras. arre+entando ara a manhã de sol # trem!lar da ,hama 4 !m a,eno.,onvite ara ,hegar verdade Kltima e ntima de ,ada ,oisa

@ão =!ero @ão osso restar n!. desoado de mim mesmo @ão osso re,omeçaror=!e t!do soaria *also e inKtil %s minhas verdades me +astam. mesmo sendo mentiras @ão4 mais temo de re,onstr!ir

'm l!ta. me! ser se arte em dois Rm =!e *oge. o!tro =!e a,eita # =!e a,eita diADnão '! não =!ero ensar no =!e viráD =!ero ensar no =!e 4 %gora @o =!e está sendoPensar no =!e ainda não veio 4 *!gir. +!s,ar aoio em ,oisas e8ternas a mim. de ,!a,onsistên,ia não osso d!vidar or=!e não a ,onheço Pensar no =!e está sendo. o! antes.não. não ensar. mas en*rentar e enetrar no =!e está sendo 4 ,oragem Pensar 4 ainda *!gaDarender s!+etivamente a realidade de maneira a não ass!star 'ntrar nela signi*i,a viver

&?*rego. torno a ane8ar a mim esse monlogo re+elde. essa a,eitação ingên!a de=!em não sa+e =!e viver 4. ,onstantemente. ,onstr!ir. não derr!+ar $e =!em não sa+e =!eesse rolongado ,onstr!ir imli,a em erros. e sa+er viver imli,a em não valoriAar esses erros.o! s!aviAá-los. distor,ê-los o! mesmo eliminá-los ara =!e o restante da ,onstr!ção não sea

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a+alado "asta !ma a!sa. !m ensamento mais rolongado ara =!e t!do ,aia or terra(e,omeçar 4 doloroso FaA-se ne,essário investigar novas verdades. ade=!ar novos valores e,on,eitos @ão ,a+e re,onstr!ir d!as veAes a mesma vida n!ma Kni,a e8istên,ia Por isso mees=!ivo. desliAo or entre as ,hamas do e=!eno *ogo. or=!e elas =!eimam =!eimar tam+4mdestri

Perle8idade. re,!sa e medo *eitos em alavra *aAem t!do re,!ar # ,r,!lo a+andoname!s mem+ros. a ,hama se aaga % l!ta vai-se tornando lassidão (evolta s!*o,ada sãor!mores =!e a+a*o lentamente. ,om a deli,adeAa monstr!osa de =!em estrang!la !ma ,riançadormindo

'is =!e ,omeço a voltar @ão de !ma galá8ia distante. de o!tro laneta. se=!er de !ma,idade o! !m ar=!e $e mim. volto 'm torno as árvores rin,iiam a ganhar ,onsistên,ia.negativo aos o!,os revelado. ág!a es,orrendo da ,aa de o+s,!ridade &ão verdes. asárvores &e!s tron,os nas,em da terra. se alongam em +raços re,o+ertos elas *olhas =!e oo!tono amarelo! )ron,os r!gosos. *eito de e=!enos edaços áseros. de ,or inde*inida /aselas são verdes )odos as vêem verdes. mesmo agora. ,om as *olhas amareladas. ,om a ,or-sem-,or de se!s ,a!les # ,4! aA!l /esmo sendo ,inAento o! in,olor o ar =!e o *aA S re,isodar ,or e *orma s ,oisas or=!e desn!das elas aavoram

(esiro Fe,ho os olhos # ar enetra as narinas a+rindo ,aminhos elo ,oro n!ma!tomatismo =!e não terá *im en=!anto e! viver

'sto! de volta /inhas mãos so+re os oelhos. os oelhos ,o+ertos elo ano reto das,alças. o ano a*!nilando at4 os 4s metidos em meias listradas de aA!l e +ran,o. dentro domarrom dos saatos )!do me diA =!e esto! de volta %,eito &!senso no me! !lso. o temoti=!eta=!eia no ritmo do relgio #nAe horas Pre,iso ir andando á m!lher há *ilhos hátra+alho há a restação da televisão =!e assará !m +ang!e-+ang!e legal e ensando ,omo=!al=!er homem neste o! no!tro hoe noite e e! gosto de +ang!e-+ang!e ,omo !m meninogosta de sorvete metido no me! iama de +olinhas nas minhas ,hinelas s =!ais se amoldamme!s 4s ,omo dentro de !ma *?rma e a minha oltrona *!nda e o ,a,him+o e o ornal do lado)!do tão simles 3á vi mil veAes ,enas ig!ais em *ilmes e livros e revistas )anto e tanto =!ed!vido delas /as dKvida *aA es,orregar ' no *!ndo. deois do longo desliAar. no *!ndo 4Wmido e *rio. aesar da ,hama FaA-se ne,essário testar. aalar as massas =!e re,!samde*iniçes FaA-se ne,essário avançar /as t!do imede o avanço ' di

@ão' eis então =!e ,aminho ara r!a. ,hamo !m tá8i. entro nele 'is a =!e olho ela

 anela. veo o ar=!e. o +an,o. as io,as =!e não ,omrei 'is assim =!e en,osto a ,a+eçano +an,o. aanho !m ,igarro e trago longamente 'is deois =!e solto a *!maça de !m eito=!e não sei se 4 soro o! s!siro 'is

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O CORAÇÃO DE ALZIRA

Pois =!e ele era !ma essoa e ela o!tra. des,o+ri! de reente. a*astando as ,ortinas 'e! =!e =!is *aAer de mim algo tão ,laro ,omo !m rio sem ro*!ndidade. disse ara si mesma.em distração ,olo,ando em movimento os átomos de oeira C!rvo!-se at4 o ,hão araaanhar !m gramo H!ando se ,!rvava assim. o ,a+elo ,aindo no rosto. ass!mia !m arh!milde de ,oisa grande =!e se ,!rva

'la era toda grande. de mãos e 4s e olhos e +!sto. mas !m grande =!e não seim!nha. não *eria Rm grande =!e o!sava ,omo =!em á vai em+ora 'la are,ia levantarv?o. no s!rreendente de =!e ao elevar-se não deslo,asse o ar em torno nem rovo,asseventania %t4 mesmo se! ,oração era grande 'ra ,oração. a=!ele es,ondido edaço de seronde *i,a g!ardado o =!e se sente e o =!e se ensa so+re as essoas das =!ais se gostaB$evia ser Para tornar mais *á,il o desenrolar do ensamento. ela ,on,ordava ' arg!mentavade si ara si. lem+rando mKsi,as e oemas vagamente v!lgares =!e *alavam em ,oraçãoD oisse alg!4m *aAia !ma mKsi,a o! !m oema *orçosamente devia ser mais inteligente do =!e ela.=!e n!n,a *iAera nada %lg!4m mais inteligente ,ertamente sa+eria o l!gar e8ato onde *i,amg!ardadas essas ,oisas Coração. então. reeti! ara si. ,ons!mando a des,o+erta 'a,res,ento!D mas ele está tão longe Podia dar !m tom de desalento ao =!e ensava. masodia tam+4m soli,itar. agredir e8igir H!al=!er ,oisa =!e doesse

%i. a ne,essidade =!e tinha de doer em alg!4m. ,omo se á estivesse e8a!sta de tantoser grande e +oa Por !m instante ,onteve !m movimento. toda ,on,entrada no deseo de sere=!ena e má e vil e mes=!inha %t4 mesmo !m o!,o ,or,!nda o! meio vesga de tantar!indade #! ,ontin!ar a ser grande. mas sem a=!ela +ondade =!e esava. ara tornar-selas,iva #+s,ena /as o má8imo de o+s,enidade =!e ,onseg!ia era entrar de reente no+anheiro =!ando o marido tomava +anho. a*astando as ,ortinas ara entregar a ele !msa+onete o! erg!ntar =!al=!er ,oisa sem imort:n,ia # imortante era =!e o motivo não*osse imortante 3!stamente a estava o o+s,eno $eois saa toda ,orada. isando na ontados 4s rindo !m risinho de virgem irgem %i. estava t!do tão m!dado =!e as meninas nãodavam mais imort:n,ia virgindade. andavam de ,alça ,omrida. ,ortavam os ,a+elos,!rtinho. *!mavam. at4 *!mavam. me! de!s ' os raaAes. então. ,a+elos imensos. ,olares.ro!as ,oloridas /e! de!s. ela reetia ara si e ara os o!tros =!e não sa+ia mais disting!ir!m ovem de !ma ovem. e =!e isso a ert!r+ava ,omo se tivesse !m *ilho o! !ma *ilha e nãoso!+esse diAer se era mesmo *ilho o! *ilha %i. era terrvel 'sio! o marido n!. as ,o+ertasa*astadas or ,a!sa do ,alor %i. era tão moço ainda. tão não-sei-,omo =!e dava !ma vontademeio +r!ta de ma,h!,á-lo s or=!e era assim da=!ele eito &ento! na oltrona +eira da,ama. esiando o dia /as ele 4 !ma essoa. e! so! o!tra. reeti!. reeti!. re,!sando a,laridade =!e entrava ela anela ara se en,olher dentro dela. toda sem ro+lemas nemangKstias $e manhã +em ,edo

- 3orge - ,hamo!. a voA ressoando estranha no silên,io ' deseo! =!e ele a+risse osolhos e sorrisse diAendoD %lAira

/as ele não a+ri! os olhos. não sorri! nem disse 'ntão ela enso! e esta emregada=!e não ,hega 'ra de manhã-+em-,edo e a emregada s ,hegava de manhã-+em-tarde %dor =!e sentia de ser assim tão ,omo era &orri! devagar. rosseg!indo na doç!ra =!e semre*ora o se! ,aminho # marido tinha ,a+elos no eito. ernas grossas. +raços *ortes 'la eragorda. mole. grande # marido tinha olhos aA!is 'la. retos Pretos ,omo a noite. ele

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es,revera n!m oema antes de ,asarem # marido tinha mãos =!adradas. dedos ,omridos'la grandes. redondas. gordas. a,ol,hoadas 5eves ,omo as de !ma *ada To oema era omesmo. mas as mãos tam+4m seriamB Pre,isava en,erar o ,hão. mandar as ,ortinas ara alavanderia. *aAer ,a*4 %h. era domingo & agora ela lem+rava % emregada não viria 'ra diado marido dormir at4 tarde 'ra dia dela mesma *i,ar na ,ama at4 as deA 'ra dia de tantas,oisas di*erentes dos o!tros dias =!e ela ,onteve a resiração. a+alada no =!e estivera,onstr!indo e rearando ara !m dia =!e não seria mais

ago! in=!ieta elo =!arto 'ra domingo &e *!masse. a,enderia agora !m ,igarro ara*i,ar ,om ar de essoa distrada /as assim tão sem v,ios e ortanto sem ter so+re o =!ederramar a distração =!e deseava. ai -assim *i,ava tão solta Perdi at4 o sono. s!siro!. ,omose o sono *osse a s!a Kltima reserva de seg!rança @em de ler e! gosto. a,res,ento! ' esto!,om reg!iça de tra+alhar e tenho vontade de *alar !m alavrão. =!e merda tam+4m &emsentir ,onseg!ira a distração =!e ro,!rava /as agora =!e ,hegava a ela. ,ons,iente de =!e,hegara. a distração se esgotava FaAia-se ne,essário ir adiante /as o =!e vinha deois de!ma distraçãoB @ão tinha em =!e nem ,omo se ,on,entrar @!n,a tivera instr!mentos ara*orçar a atenção n!m determinado onto 'ra tão o+re )ão

%iCaminho! at4 o +anheiro. a*ogo! a agitação a+rindo três torneiras ao mesmo temo %

ág!a es,orrendo gerava !ma es4,ie de aA dentro dela /olho! as ontas dos dedos.asso!-as devagar elo rosto # eselho re*letia !m rosto amassado de essoa em estado dedesordem interna e e8terna Começo! a es,ovar os ,a+elos. *e,ho! a gola do ro+e amarelo.de! dois +elis,es nas *a,es ara torná-las mais ,oradas olto! ao =!arto # marido m!darade osiçãoD en,olhido *eito *eto. mãos ,r!Aadas so+re o eito %lAira sento! na +eira da ,ama'sreito! o dia avançando. o medo avançando 'stende! a mão n!m e8erimento de tern!ra(etrai!-se % lem+rança da dis,!ssão do dia anterior +arrava =!al=!er gesto H!e *aAer. =!e*aAer. =!e *aAer. erg!nto!-se lenta. sem entonação @ão havia resosta 'ngoli! algoare,ido ,om !m sol!ço % ,a+eça en,ostada no travesseiro. esiava o dia ,res,endo $ereente de! ,om o olhar do marido *i8o nela %r!mo!-se inteira. reo,!ada em a*etar !manat!ralidade de essoa s!rreendida em meio higiene ntima

- oe 4 domingo - disse- Pois 4 - ,on,ordo! o marido

' ela =!eria tanto mas tanto tanto =!e ele dissesse o nome dela assim +em devagarinho %l-Ai-ra ,omo se as sla+as *ossem !ma ,as=!inha de sorvete =!e+rada entre os dentes e =!aseerg!ntava ,omo 4 mesmo o me! nomeB vo,ê lem+ra do me! nomeB mas não adiantaria eleaenas a olharia s!rreendido e se dissesse seria !m diAer me,:ni,o não a=!ele diAer densolindo *!ndo e ela não =!eria isso não =!eria 'ntão *alo!D

- $ia de dormir at4 tarde' dormi!

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DOMINGO

&o+re a mesinha. ao lado da ilha de livros. o ,inAeiro ,heio de resd!os. +olinhas deael. ontas de ,igarro

(e,ostado na mesa. o ,oro. na onta do ,oro a mão. na onta da mão os dedosavançando at4 o maço aAio (evira o ,inAeiro. !m eso na ,a+eça. es,olhe a onta maiorRm Kltimo alito de *s*oro na ,ai8a % ,hama %A!lada )raga lento. deois solta a *!maçaela +o,a n!m ato. *i,a olhando o *io longo s!gado elo vento da anela a+erta Pela anelaa+erta. o silên,io do domingo imresso n!m ,4! sem ,or @a r!a deserta de r!moresD domingo%+re !m livro #s dedos ,ir,!ndam as letras. a !nha do indi,ador amarelada elo *!mo. osdedos a,ari,iam as letras ,omo se *ossem ,arne Carne des,onhe,ida. sem interesse Rmo!,o *ria 5etras =!e não diAem nada. gesto ,ansado. dedos =!e voltam osição anteriormas. in=!ietos. so+em ela ,amisa. li+ertam o Kltimo +otão da ,alça $edos =!e entram noeito. assam na ele. al,ançando o es,oço. o rosto onde a +ar+a não *eita *ere de leve $e!m aartamento ao lado o vento ro!+a !ma mKsi,a do rádio e a traA ara !nto de se!so!vidos Rm sam+a Gosto desse sam+a. ensa distrado. liga o rádio. ,oin,idên,ia. e8atinhona mesma estação. dedos agora a,omanham o ritmo +atendo na ,ol,ha. mas o ano não *aAsom. 4 re,iso +ater na mesinha. madeira sam+ando. a melodia es,orrega devagar elo ladodo ,inAeiro. se esalha no ,hão % voA a,omanha +ai8inho a letra melan,li,a. amor. *lor'smaga a onta do ,igarro na arede. atira-a so+re assoalho. a mãe vai re,lamar. n!n,a vi!tanto rela8amento nem tanta reg!iça n!m ,oro s

$eAoito anos e !m metro e oitenta de solidão $esliAa a mão ela arede. *e,hando osolhos o verde dei8a de *erir. as gran!laçes miKdas do ,imento are,em rometer alg!ma,oisa. /e8e os 4s sem meias de en,ontro ,ol,ha. a ,onsistên,ia *ria. !m o!,o vis,osa.,olo,a arreios na ele %+re os olhos e en,ontra o verde da arede. o aA!l da ,ol,haDdomingo esreitando na mold!ra da anela (ed!Aido a ele mesmo. miseravelmente. so+re a,ama @em sono tem 3á *e,ho! os olhos. tento! dormir mas tanta reg!iça =!e nem sono tem%aga o rádio $etesto tango argentino. nem sa+e se 4 argentino. ode ser at4 +rasileiro.s!e,o o! es=!im mas *ala em navalhada. ,a+ar4 \ traição. m!lher de ,a+elo tingido. talho nasaia reta mostrando a ,o8a. iteira. ále+ras ma,h!,adasD tango Coisa mais ,a*ona %indolên,ia a!menta ,om a m!deA do rádio Gosto da=!eles sam+as mais antigos. a +atidaleve. mansinho. a voA *ra,a do ,antor diAendo +em +ai8inho ,oisas +onitas e tristes #! entãog!itarras amli*i,ador ,a+elos ,resos +erros +rilhos oh eahU @o ,anto do =!arto. o to,a-dis,osD !ma ossi+ilidade. /as seria re,iso levantar. es,olher o dis,o. assar lentamente o*eltro. ,olo,á-lo no rato. aertar !m +otão. dois +otes. a!mentar o vol!me. dimin!ir o vol!me#!vir $eitar de novo. *e,har os olhos. ,oro a+andonado na ma,ieA da ,ama lem+rança,hegando de =!al=!er ,oisa. de re*erên,ia +em en*ossante. =!anto mais melhor #+rigaçãode sentir. se ossvel. ,horar 5arga de novo o ,oro so+re as ,o+ertas. =!e merda essa,arteira de ,igarros vaAia. odia levantar. ir at4 a sala. e edir ao noivo da irmã. !m sa,o.des,er at4 o +ar. en,ontrar os ,arinhas elo ,aminho. ,om o violão. na ,erta. sentados so+re omotor do *!s,a. não sei ,omo o o+re ag!enta a=!ela orção de +!ndes em ,ima dele. ,omo4. vamos dar !ma voltaB @ão =!ero. esto! na *ossa #! não diAer nada. são !ns animais. nãoiriam entender. erg!ntariam or =!e. ela te ,h!to!B não iriam entender =!e veAen=!ando agente *i,a triste sem motivo. o! ior ainda. sem sa+er se=!er se está mesmo triste /as odiaa,eitar. entrar no ,arro. vamos at4 raiaB deitar a ,a+eça nos +raços. aoiar os +raços na

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 anela a+erta. vento entrando. reme8endo nos ,a+elos. no rosto. eito de lagrima =!erendo rolar

% r4stia de sol en,olhe no ,hãoD temo & esse sol sem ,or neste dia sem ,or nem eito de domingo Idioti,eD or =!e domingo re,isa ter !m eito ese,ial. mania de eserar =!eas ,oisas seam !m eito determinado. or isso a gente se de,e,iona e so*re @a mesa. oslivros o*ere,em ,onsolo ontade de ler !m troço de,ente /as 4 re,iso assar or !maorção de +esteiras at4 ,hegar ao =!e interessa ontade de ter !m ensamento +emro*!ndo. desses =!e *aAem a gente se s!rreender =!e tenham sado da nossa ,a+eçamesmo. na=!ela mod4stia =!e s se tem =!ando se está distrado -desses ensamentos =!enas revistas em =!adrinhos aare,em em *orma de l:mada so+re a ,a+eça do ,ara /as o=!êB &o+re a vida. !m ,om+ate =!e aos *ra,os a+ate e aos *ortes e aos +ravos s odee8altarB &o+re o amor .=!e 4 isso =!e vo,ê está vendo hoe +eia amanhã não +eia deois deamanhã 4 domingo e seg!nda *eira ning!4m sa+e o =!e seráB #! so+re a ,!lt!ra e a,iviliAação. elas =!e se danem e! não ,ontanto =!e me dei8em *i,ar na minhaB )!do á *oiensadoD vida. amor. ,!lt!ra. ,iviliAação. li+erdade. anti,on,e,ionais. ,om!nismo.esteriliAação na %maA?nia. e8loração das otên,ias estrangeiras. mais =!e n!n,a 4 re,iso,antar. g!erra *ria e vem =!ente =!e e! esto! *ervendo )!do a mesma merda P!desse a+rir a,a+eça. tirar t!do ara *ora. arr!mar direitinho ,omo =!em arr!ma !ma gaveta )omar !m+anho de ,h!veiro or dentro

'm !m metro e oitenta. deAoito anos. e em deAoito anos. seis meses. =!atro dias.deAesseis horas e vinte min!tos ;em +reve vinte e !m> @esse amontoado de ,ara,tersti,as.sessenta =!ilos de magreAa e solidão 'n,osta o ,oro na ,ama. a mão assando de leve no8adreA do ,o+ertor do+rado a se!s 4s. o rosto na arede =!e o a,olhe ,om o sem,omromisso de s!a imessoalidade. a mão assa so+e des,e e de leve. de leve ,omeça a,horar

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DO AMOR

 >mar a nossa <alta mesma de amar e na secura nossa amar a água im!lícita e o bei;o tácitoe a sede in<inita"

*Carlos #rummond de >ndrade.

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DIÁLOGO

? Voc@ n%o com!reende n%o consegue com!reender"

@o meio do rio. e! via a edra % Kni,a na=!ela e8tensão aA!l de ág!a. o i,o negroerg!ido em ineserada *ragilidade na solidão '! não tinha instr!mentos ara ,aminhar at4 ela.a edra. tomá-la nos +raços. or !m instante de+r!çar minha tern!ra so+re se! isolamenton!m a+s!rdo deseo de =!e em s!a insensi+ilidade de ,oisa ela se *iAesse sensvel e. assims!aviAada. ,ontivesse o desesero amarando-se em mim Por =!e ela se erdia assim eassim se ass!mia e se ,!mria em edra. dona de si mesma. disensando =!al=!er a*eto.=!al=!er ,om!ni,açãoB 'la se +astava Pare,ia á ter ido al4m da rria estr!t!ra n!m lentoinventariar do m!ndo ao redor. ,omo se se! i,o tivesse olhos e esses olhos roetassemindagaçes em torno. avançando nas des,o+ertas. ,onstataçes se *aAendo ,erteAa ' ,omose se! isolamento *osse deli+erado. ,omo se á não a,reditasse em mais nada e tivessees,olhido o amaro aenas das ág!as. a re,ária roteção do aA!l ,omo se tivesse es,olhidoo vento. a erosão. os vermes. os m!sgos =!e a roam devagar %ssim. da mesma *orma ,omoo!tros es,olhem o aoio das essoas o! a n!deA do ,amo. ela es,olhera o desa*io daentrega # desoamento de ser. insol!,ionada e ,omleta em s!as *ronteirasD edra or=!eedra *ora era e seria n!m semre =!e a s!stentava. *rágil e a+sol!ta

? Ve;a os meus cabelos est%o mol$ados camin$ei $oras !ela c$uva (uerendo e n%o(uerendo !rocurar voc@"

Frágil e a+sol!ta em s!a ,amação de mineral. as raAes. se as tivesse. en,ravadas no*!ndo do rio % s!a +ase or onde es,orregam ei8es. ,o+ras. onde a lama se a,!m!lava lentatentando ,o+ri-la or ,omleto #ndas *rágeis de rio e. atrás. a ilha esalhada em verde ,ontrao ,4! =!ase negro do entarde,er # sol al4m do rio. e o ,4! =!ase todo des*eito em ,ores =!eem +reve a*!ndariam no es,!ro %s ,ores morreriam. o ,laro se *aria treva e a edramerg!lharia em som+ras. imressentida -=!em veria amais !ma edra emergindo do negro=!e ,o+riria o rioB ' re nas,eria. deois 'm ,ada amanhe,er. renovada e semre a mesma.end!re,ida em s!a nat!reAa % edra Por =!e me doa e esava or dentro. ,omo se e!

 amais ,onseg!isse atingi-laB %h me!s gestos in,omletos. me! olhos =!e não !ltraassavamo =!e viam -e ela me en,arava. alheia ao me! esanto. inatingvel =!em sa+e ara semre 'não seria aenas !ma *orma. !ma silh!eta de ,oisa nas,endo da ág!a. roetada ,ontra oesaço. ,er,ada de vaAio. !m edraB H!e es4,ie de d!reAa havia nela. negando aenetraçãoB % ,omreensão mesma de s!a in,omreensão -or =!e se *e,hava tanto. e tantose es=!ivava. e sem se es=!ivar nem se *e,har. *eita em si - aenas !m edraB

? Podia es!erar de (ual(uer um essa <uga esse <ec$amento" Mas n%o em voc@ sesem!re <oram de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros n%o !esavam e selAcidos nos recon$ecíamos !recários carentes incom!letos" Meras tentativas nós" Masdoces" Por (ue ent%o assim t%o de re!ente e duro !or (u@B

Rma edra Ig!al a si mesma. ,omo s o são as nat!reAas inertes %s essoases,orregam e. se n!m momento *oram. no seg!inte á não mais o sãoE a ossi+ilidade de ser

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se red!A. ,ontrai. es,aa. o! n!m reente a!menta ara e8lodir ineserada %s ,oisas sea*irmam nelas mesmas em ,ada seg!ndo de ,ada min!to ' em ,ada seg!ndo *!t!ro. serãoainda elas mesmas. sem se a,res,entarem o! dimin!rem Para semre. !ma edra será !maedra ' or =!e então. en*im. esta alideA minhaB Por =!e a en,arava e ensava. e a,onstatava em s!a ermanên,ia desida de mist4rios e. no entanto. hesitavaB $everia,omreendê-la no assar de olhos e ir adiante sem eserar Cont!do. eserava $e !ma edra-o =!êB &e me ma,h!,ava or dentro e =!ase tom+ava. meio ani=!ilado. imossvelrosseg!ir $erramar de tern!ra do vaAio de minhas mãos. me!s olhos =!ase verdes de tantoamor re,!sado. emoçes in*orm!ladas elo silên,io de not!rna re,isão -t!do ,onvergindoara a edra Rma *atalidade. o in!mano atingir o h!mano assim. de +r!s,oB % n!deA de me!s4s devassava o *rio # vidro do rio. a l:mina do vento. a morte do sol ' a edra Inatingvel

? Com!reenda eu só !reciso <alar com voc@" 1%o im!ortam as !alavras os gestos n%oim!orta mesmo se voc@ continua a <ugir e se em!areda assim se ol$a !ara longe e n%o meouve nem v@ ou sente" u só (uero <alar com voc@ escute "

Inatingvel 's,orregava em torno dela. er,orrendo ,ons,iente !ma traetria deimossvel 'm torno da edra !m ,r,!lo de re!lsão =!e me ogava longe no momento daaro8imação de se! ,entro Cansaço esando em mim. +ai8ei a ,a+eça %s minhas mãoserdidas so+re a areia s!a da +eira do rio. as minhas mãos *remiam de *adiga Cr,!losdo!rados er,orriam o esaço. enetravam ,on,êntri,os em minhas r+itas. os ,r,!losnas,idos em torno da edra Pelos des,aminhos. me! r!mo se erdia. e! tornava a +!s,ar.re,omeçava- e novamente errava. e novamente insistia. )Krgido de tern!ra. me en,arei 'N+ai8ei a ,a+eça ,om vergonha % edra res,india de mim '!. =!e me roetava n!m temodes,onhe,ido. res,indir de t!do e. imotente. me roetava na edra. lK,ido de =!e não seria

 amais o =!e ela estava sendo '! =!e não ,onseg!ia al,ançar o =!e ela al,ançara e arasemre me erderei entre as essoas. vagando sem en,ontrar. sem sa+er se=!er o =!e +!s,o.o =!e +!s,arei % edra me agredindo ,om se! ser ,omleto

? D esse gelo !or dentro (ue eu n%o consigo entender" Voc@ se doou tanto (uando eun%o !edia e no momento em (ue !ela !rimeira ve4 !edi voc@ negou voc@ <ugiu" D esse seublo(ueio de a0o encoura0ando o sil@ncio eu n%o consigo entender"

Comleto &eria ossvel o a+sol!to em algo o! alg!4m s v4seras da destr!içãoB '!não sa+ia nem sei. ainda 's,!re,ia ,ada veA mais. a silh!eta da edra á se dissolvera talveAna noite. mas a s!a imagem ermane,ia em minhas retinas ' no es,!ro. ela dei8aria de serB@o es,!ro as ,oisas es=!e,em de si mesmas ara se tornarem aenas ,oisas. desligadas de=!al=!er s!seita =!e se ossa ter so+re elasB % imo+ilidade do rio ,om s!as ondas *ra,as.*eito !m rea*irmar de in4r,ia ' e! H!e era e! na=!ele momento e8ato. ogado na areia. ,heiode movimentos s!+terr:neosB H!e era e!. ,om o in,omleto de minhas tentativas =!e não se,!mriam. e ermane,iam vagando n!m ritmo de esantoB # rio era o rio. o ,4! era o ,4!. aareia era a areia. mas a edra re,!sara me! ensamento e se *iAera !ni,amente em edra 'e! =!e es,orregava. me erdendo em ,orredores de l!A *iltrada. elas varandas entre,o+ertasde samam+aias. or solares ar=!itetados so+re :ntanos. elos :ntanos mesmo de ág!a

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Ktrida e serentes entrelaçadas em tron,o de árvores vis,osas - e! =!e me re,onhe,ia aolonge e não ia al4m do gesto ara me ,onhe,er /as se o rio tinha ei8es e lama e m!sgo no*!ndo. e tinha mist4riosE e se o ,4! estava releto de m!ndos *ormando o ,osmos e odes,onhe,ido in*inito das galá8ias. e tinha mist4riosE se a areia onde haviam restado detritos es!l,os. onde vi,eava !ma grama rala. tinha tam+4m mist4rios &omente a edra. at4 o *!ndode si edra. das nas,entes ao too. nada ,ontendo al4m de se! ser

? Seria isso ent%oB Voc@ só consegue dar (uando n%o ) solicitado e (uando !edemalgo voc@ <oge em deses!ero" Como se tivesse medo de <icar mais !obre medo de (ue sealcance seu centro e nesse centro eEista alguma coisa (ue voc@ n%o (uer mostrar nem dar oudividir" Contido dissimulado voc@ esconde essa coisa será assimB

&er 3á nada mais restava %enas a noite e. dentro dela. o me! silên,io dein,omreensão /e!s assos a*!ndavam na areia dei8ando !ma esteira de oças =!e,onteriam as estrelas. não *osse o imenso es,!ro de t!do Cada veA mais lento e! ,aminhavaPara longe do rio Para longe da edra Para longe do medo Para longe de mim

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TRIÂNGULO AMOROSO: VARIAÇÃO SOBRE O TEMA

Para Maria da /ra0a Magliani 

'ra !ma menina 'm+ora não =!isesse. =!ase desvairada na negação indireta.re,!sando atit!des e alavras =!e. !stamente or a*astadas. s!+linhavam a s!a ,ondição %osolhos dos arentes. alheios a se! ro*!ndo - mais ro*!ndo ainda talveA or=!e in,ons,iente.res!ltante =!em sa+e de alg!ma remota *r!stração. ,omo ia diAendo. se! ro*!ndoressentimento tomava *orma ,omo em todas as meninasD algo meio vago. =!ase in*orme.a,ent!ado veAen=!ando or la,inhos e +a+adinhos. ,omo se as *res,!ras no vestir !dessem,omensar o =!e lhe *altavaD a *orma %h ,omo re,!savam a s!a densidade. ,omo s!!nham!ltraassá-la =!ando. na verdade. se=!er ,hegavam s!a eri*eria Prin,ialmenteD ,omoerravam ao tentar a,ertar. s!asEatit!des de ,!rva at4 o ,entroAinho dela ;=!e eles ignoravamtodo ásero e esinhento> *aAendo-se =!eda lenta. dese=!ili+rada. mesmo grotes,a-irremediável =!eda 'la era. ois. o ser mais s da=!ela ,asa Isso e=!ivale a diAer =!e eratam+4m o mais s do m!ndo. á =!e se! am+iente limitava-se =!eles dois ais e =!eles=!atro irmãos e=!ili+rados re,ários em ares de long!ssimas ernas. =!e serviam aralançar no rosto da menina a s!a e=!eneA %h ,omo eles eram herm4ti,os /esmo amigos,om =!em tro,asse desditas. amigos miKdo-gigantes,os ,omo ela. não os tinha ivia n!maartamento desses engan,hados em edi*,ios ,inAentos. tão vaAio de ,ores =!anto de,rianças %l4m disso. ainda não havia areendido o grande desen,ontro das alavras -ortantonão oderia ,om!ni,ar-se de maneira ad!lta. osto =!e a maneira-ad!lta-de-,om!ni,ar-setrata-se de !m ,onstante diAer o =!e não se =!er. edir o =!e se tem e dar o =!e não seoss!i )am+4m nos gestos. ela ainda não ,onseg!ira re,isar-se. ad=!irindo a=!ela d!reAa=!e não ass!sta aos o!tros )oda ine8eriente de mem+ros. ela enrolava-se em +raços eernas. enredada em movimentos =!e a+sol!tamente des,ontrolava &!+etiva eo+etivamente. a menina era tremendamente solitária

Foi =!ando aare,e! o gato % nat!reAa dos gatos 4 are,ida ,om a das meninasDtam+4m eles oss!em a=!ela *ero,idade mansa. toda ,ontida e dissim!lada ao edir leiteroçando as ,ostas ,ontra as ernas das essoas % menina s era amorosa =!ando *aminta.*aAendo-se l:ng!ida. =!ase erti,a &a,iada. tanto se lhe dava estar ,om a=!ela *amlia alta emagra o! o!tra. +ai8a e gorda Como onto de ,ontato. havia ainda a=!ela l!,ideAdeseserada. ortal de lo!,!ra. nas noites de l!a ,heia 'la ,horava. ele miavaIn,omreensão da rria angKstia. !niam-se no !ltraassar de se!s limites. iam al4m. m!itoal4m. ,omletamente ss dentro do aartamento - =!em sa+e do !niverso -. ela gritava. l!Aesa,endiam. gestos re,isos a,ari,iavam l!gares imre,isosE ele miava ,arente de ,ar,ias. detentativas de ,omreensão. in,omreendido. in,omreensvel # +erro !nssono *aAia asaredes in,harem. renhes

#s olhos ,astanhos dela en,ontraram os olhos verdes dele n!ma manhã de ,h!va)odo s!o de lama. ele *ora en,olher-se e8atamente em *rente orta onde havia !ma eseraem +ran,o Com!ni,aram-se 'la não tinha alavras 'le tinha !nhas a*iadas 'la tinha dentesnas,endo. s!a arma em gestação ,ontra o m!ndo %h ,omo se amaram violentos e ternos em!nhadas de ai8ão. dentadas de las,via. mão so+re o êlo amarelo. ,a+eças !nidas -eleesta,ionado em evol!ção no onto onde ela estava. mas !ltraassaria $esde o in,io. ela *ora

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em oten,ial maior do =!e ele )inha erse,tivas. ao asso =!e ele estava ara semre,on*inado s =!atro atas. ao ra+o. s d!as orelhas. aos seis o! oito *ios de +igode

/as in,ons,ientes desse desen,ontro. doavam-se inteiros. ignorados. ignorantes -+r!tais e a+sol!tos em s!a osse ,alada

%t4 =!e ,hego! a gata #s ais tiveram o ra,io,nio lgi,o de =!e !m gato. mais =!e=!al=!er ,oisa no m!ndo. re,isa de !ma gata ' a tro!8eram 'la insin!o!-se *êmea. gata deloa de animais. g!iAos. laçarotes. miando es=!iva roçava o ,oro ,ontra as aredes.deli,adssima no ar=!ear do dorso. *ormando !ma ,!rva tão s!tilmente rometedora =!e amenina se esantava toda de tanto ,inismo ,aramelado ' ,omeço! a dis!ta $esde o in,io.a menina estava derrotada - ah ,omo os arentes não a ,omreendiam 'la -inde*inida. meiotos,a -insa+ia =!e ara ,on=!istar era ne,essário ser dissim!lada ,omo a gata 'la era,omletamente o+etiva nos se!s deseosD se =!eria agarrar o gato. não se erdia em tramas eatit!des Tia lá e agarrava a meta H!e se es=!ivava. agora. mais roenso s tern!ras menosostensivas da gata

Findo o erodo de namoro. o ,io ,hego! e a gata e o gato oss!am-se des!doradoselos ,antos. a menina in,omreendendo =!e ela mesma não era !ma gata. e =!e s oderia.assim mesmo *!t!ramente. e talveA. oss!ir nat!reAas ,omo a s!a # ro+lema 4 =!e elan!n,a tinha visto !m menino &!a Kni,a oort!nidade de amar *ora o gato H!e se tornaraa+sol!to ,omo amais ir!lito o! +one,a haviam sido

/ais s ainda - ela ,hego! então atit!de e8trema )alveA or in*l!ên,ia da gata.arende! a dissim!lar. e aro8imo!-se toda meiga do gato =!e tomava leite Foi t!doremeditado. o! tão esont:neo =!e a rearação estava iml,ita ' aerto! $e !ma s veA/ais ,om a *orça =!e teria. roriamente. do =!e ,om a =!e dis!nha no momento 'le nãomio! nem estre+!,ho!

%enas morre! &em adetivos'la *i,o! olhando o ,oro mole. desa*iando-se ,om a gata =!e *areava o ,omanheiro

avia !ma r4stia de sol so+re o taete % menina en,aminho!-se ara lá e ,omeço! a +rin,ar,om !ns ,!+os ,oloridos @ão des,o+riram o a!tor do ,rime 'la não ,horo! @o mesmo dia.disse a rimeira alavraD ato $eois ,omeço! a ,res,er ,res,er ,res,er %t4 =!e ,aso!. tevetrês *ilhos. ,omro! !m a!tomvel. !m aartamento de ,o+ert!ra no G!ar!á e !ma ,asa emPoços de Caldas

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MEIO SILÊNCIO

D tem!o de meio sil@nciode boca gelada e sus!irode !alavra indireta aviso na es(uina"8em!o de cinco sentidos num só"*Carlos #rummond de >ndrade.

Lg!as de vidro l!A doentia da madr!gada Rm vidro verde e *ino re*letindo longe otremor das l!Aes da ,idade %ro8ima lento o rrio dedo da onta a,esa do ,igarro at4 senti-lo retrair-se n!m a*astamento invol!ntário # rosto do o!tro tam+4m are,e *eito de vidro Rmvidro ainda mais *rágil =!e o da madr!gada )em a imressão =!e se sair ,aminhando o ar irá=!e+rar-se em r!dos e estilhaços % l!a está tão +onita =!e di or dentro. *ala $eois retrai-se ,omo o dedo não =!eimado &emre o medo de ,hegar erto demais. de não oder voltaratrás. ensa. e solta devagar a *!maça elas narinas

XH!er o!vir mKsi,aB me!s dedos avançam at4 o rádio Rm gesto e três alavras araen,her o silên,io H!e de tão releto não ,a+e em si mesmo /as ele diA não &!a resostame en,he de !ma +r!s,a vergonha Como se tivesse des,ido mais *!ndo do =!e e!.disensando as *a,ilidades =!e tam+4m são *!ga % l!A da l!a +ate nas edras. elas +rilham*eito mil l!as +ran,as. mil l!as áseras. mil l!as +eira de !m ,4!-rio sem estrelas 'stá t!do=!ieto - há =!anto temoB - e me!s o!vidos á não des,ost!ram do silên,io o r!mor dos ,arrosassando distantes na estradaX

#lham-se. mas não se vêem % es,!ridão não 4 !ma arede. mas o silên,io osimo+iliAa na +!s,a da alavra maior #s dois *!mam %s ontas a,esas desvendam o es,!ro. eor instantes ,olo,am !m +rilho avermelhado nas !ilas de am+os

Perg!nto! se e! =!eria o!vir mKsi,a @ão. e! disse sem ensar 'ntão ele ,alo! ,omose tivesse *i,ado o*endido or e! re,!sar alg!ma ,oisa s!a $es,onhe,idosD ,omo isso 4. a !ms temo. terrivelmente +om e terrivelmente ass!stador Pensar =!e e! estava s. no +ar.eserando nem sei =!e. nem sei se=!er se eserandoD de reente os olhos me +!s,ando no+al,ão em *rente erdes @o rimeiro momento *oi a Kni,a ,oisa =!e er,e+i erdes. osolhos. atrás da *!maça. no meio das gentes. na *rente do eselho ' o eselho re*letindo o me!esanto $eois vi os ,a+elos. a +o,a. os om+ros /as era nos olhos. s nos olhos. =!e se*i8ava a=!ele m!do aelo. a=!ele grito @em sei %=!ela ,lara maldição &a. sai! @ãodissemos nada '! s tenho eseras 'le traA a tran=Jilidade de mais nada eserar

XRm menino %=!ele ar esantado Rm o!,o trêm!lo Cigarro atrás de ,igarro )enhomedo de to,á-lo $e =!e+rá-loX

'! disseD a l!a está tão +onita =!e di or dentro 'le não entende! S t!do tão +onito=!e me di e me esa Fi,o ensando =!e n!n,a mais vai se reetir. 4 s !ma veA. a Kni,a. evai me magoar semre @ão sei. não =!ero ensar @este esaço +ran,o de madr!gada e l!a,heia. re,iso *alar. e mais do =!e *alar. re,iso diAer /as as alavras não diAem t!do. nãodiAem nada # momento me esmaga or dentro # esanto es+arra em aredes edindoe8terioriAação

o,ê vêB as edras are,em l!as tam+4m #! estrelas. ele diA Chão de estrelasamos isar nos astros distradosB 'le ri @esse seg!ndo ,heio de riso alg!ma ,oisa se

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adensa @ossos 4s isam em edras /as or ,ima dos saatos. sinto =!e são *rias e d!ras.e sei =!e se! signi*i,ado está em ns. não nelas Rma vontade =!e a manhã não venha n!n,aai voltar a grande +!s,a %s noites vaAias %marg!ra de estar eserando (eetir mil veAesDnão =!ero eserar ' a ,erteAa de =!e esse não =!erer á traA iml,itas as longas,aminhadas. o olhar devassando os +ares. a ná!sea. os olhares alheios. a ro,!ra. a ro,!raDse!s om+ros largos. !m eito de =!em isa mesmo em l!as. não em edras

%s som+ras se roetam alongadas na raia deserta (!mor de ,arros e *aris =!edevassam a noite sem a,har Pára de sK+ito. o ,oro *erido or !m sentimento inde*invelPre,isa *alar. re,isa diAer

%*inal. não *oi ara en*iar 4rolas =!e vo,ê me tro!8e a=!iD e! digo 'le está a me!lado 'ntão me olha s4rio. or !m instante a+alado. deois ri e diAD desista

Positivamente o ,inismo não *i,a +em em vo,ê ' se ,om essa ,itação s =!er mostrar=!e á le! &artre. e! tam+4m á li Por =!e *eriB Por =!e *eri!B Por =!e estamos diAendo ,oisas=!e não sentimos nem =!eremosB

XRm menino ass!stado =!erendo mas,arar o medo ,om a agressividade Rm meninoC!rvo-me ara ele )ão esg!io =!e me!s +raços o rodeariam or ,omleto Por !m instanteele *i,aria inteiro reso dentro dos me!s limitesX

# rosto dele r8imo do me! /ais adivinho do =!e veo o verde dos olhos desliAandoelas r+itas % s!a mão to,a no me! om+ro. so+e elo es,oço. me al,ança a *a,e. +rin,a,om a orelha. al,ança os ,a+elos # se! ,oro ,ola-se ao me! % s!a +o,a vem +ai8andodevagar. ven,endo +arreiras. ,olando-se minha. de leve. tão de leve =!e re,eio !mmovimento. !m s!siro. !m gesto. mesmo !m ensamento 'sto! em +ran,o ,omo a noite 'leme a+raça 'le está erto

'rg!e o +raço lentamente. a*!nda as mãos nos ,a+elos de o!tro ' de sK+ito !m ventomais *rio os *aA en,olherem-se !ntos. !nidos no mesmo a+raço. na mesma esera des*eita. nomesmo medo @a mesma margem

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 AMOR

$o ,orredor os r!mores ,hegavam dil!dos. ,o+ertos de ,inAa ,aindo mansa so+re oso+etos eAen=!ando !m rosto desavisado esiava na orta Fi,avam a en,arar-se. e nessed!elo -=!em saa erdendoB 'n=!anto e8aminava o rosto. g!ardava dentro de si !mensamento intenso. mas ina*irmado em gesto o! alavra )inha ,ons,iên,ia de estar sendolento em se! e8ame. do movimento da mão +ai8ando os ,!los. do ,igarro +atido nas +ordasdo ,inAeiro ' do olhar do o!tro. tam+4m arado. ,omo se dissessem m!t!amente me vêsB e o=!e vês em mimB e em =!e essa visão te a,res,enta o! dimin!iB te ,a!sa dio o! amor o! =!eo!tra es4,ie de sentimento veladoB Con,ordavam m!dos. mas não sa+eriam ir al4m darimeira erg!nta @ão sa+eriam de*inir a =!e es4,ie de =!e+rar interior se s!eitavam /assa+iam =!e !m ser h!mano amais atravessa in,l!me o ,r,!lo magn4ti,o de o!tro &a+iam.mas sa+iam tam+4m =!e. or ,ondi,ionamento o! medo de verem eri,litar a seg!rança*ragilmente estr!t!rada. aten!avam a ,arga de esanto o*ere,endo !m ,igarro o! erg!ntandose estava t!do +em Fingindo-se imert!r+áveis. não seriam o+rigados a reinventar ,adaen,ontro o! desen,ontro Por mais ,oraoso =!e *osse. or mais =!e se ermitisse a =!eda. odes,onhe,imento. ainda assim não sa+eria re,isar o movimento &eria ne,essário !m rt!lo=!al=!er ara a,i*i,ar-se ' os movimentos n!n,a vinham !ros. em essên,iaD era !mamansa iedade. =!e+rantada or !m visl!m+re de amor. o! !m dio ,om to=!es de desesero.o! ainda !m simles do+rar-se. !ma identi*i,ação de h!mano ara h!mano. sem se=!er !mnome aro8imado

%ssim. ele estava no es,ritrio. ,!mrimentara há o!,o a se,retária =!e estava deaniversário. diAendo vo,ê 4 de irgem. nãoB 4 o signo regido or /er,Krio. o laneta dainteligên,ia. as essoas de irgem semre ,onseg!em o =!e =!erem em+ora no ,omeçoareça t!do m!ito di*,il % moça sorria inde*esa. =!erendo diAer =!e não tinha ,!la nenh!made estar de aniversário Para dis*arçar. dissera =!e o relatrio estava ronto $e reente seolharam tão deseseradamente ss no ,orredor ,heio de gente. !ma tern!ra =!ase de ,ão+rin,ando nos olhos. ele olho! ara a onta dos saatos. ela +at!,o! de leve na má=!ina. eleimagino!-a morando n!ma ensão +arata. ,hegando do tra+alho ara lavar ,al,inhas na ia.indo ao ,inema ,om o noivo. ,ontando a ele as mi!deAas do dia -imagine. hoe o ,he*e me,!mrimento! e at4 erg!nto! o me! signo. ele. =!e n!n,a tinha *alado ,omigo @ãos!ortando mais. erg!nto!-lhe =!antas rimaveras. ,olo,ando !m a,ento meio trági,o na voAinte e =!atro. ela resonde! de olhos +ai8os ' =!ando ,hegaram ao onto de re,isar *aAer=!al=!er ,oisa ara =!e+rar o ins!ortável momento de tern!ra. disse +r!s,o vo,ê estádisensada or hoe &e,o. rati,amente ogando-lhe no rosto a s!a +ondade esmagadora.volto! as ,ostas e sai! isando d!ro ,orredor a*ora

@a mesa. a+ri! a gaveta ara en,ontrar !m velho a,ote de +ola,has. !ma *otogra*iarasgada e !m ,arretel de linha 'm instantes ,omo esse gostaria de te no rosto !ma e8ressãode dio tão ,oma,ta e de*inida =!e ning!4m s!ortasse en,ará-lo or mais de !m seg!ndo'sio! o v!lto re*letido na vidraça ImossvelD havia nos olhos tal ,arga de esanto eindagação =!e ,a!savam semre !m +ai8ar de olhos. =!al =!er ,oisa assim ,omo =!emes,onde a si rria ,om medo de ser des,o+erto $istrado. tentava aro8imaçes. mas tãoiná+eis =!e os o!tros se en,olhiam. medrosos da seg!nda intenção =!e ignorava ine8istenteComo ,hegar ara alg!4m e diAer de reente e! te amo ara deois e8li,ar =!e esse amorindeendia de =!al=!er soli,itação. =!e lhe +astava amar. ,omo !ma ,oisa =!e s or ser

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sentida e *orm!lada se ,omleta e se ,!mreB Pois se ning!4m a,eitaria ser o+eto de amorsem e8igên,ias

%gora eserava o emregado entrar. o!vira a ,onversa no ,orredor % *eli,idade doo!tro eserando o momento =!ase ,erto. ,hego ra ele e digo assim e! re,iso =!e o senhorme dê !m a!mento /erg!lho! na ,omreensão do sentimento do emregado =!ase. =!ase sesenti! o+re. assim. ,omo ,in,o olhos. !m edindo !m +i,i,leta. o!tro edindo !m livro. o!troedindo edindo !ma ,?dea de ãoU era assim =!e lia antigamente nos livros =!e *alavamdos o+reAinhos ' nada o ,omovia tanto =!anto a e8ressão !ma ,?dea Imaginava !mo+reAinho. a não estendida esera da ,as,a toda roda %rreia-se todo de amor elah!manidade H!ase não imortando a si mesmo de tanto amor reresado. saa o ,orredor edava !m +erro ara o rimeiro =!e saisse %s aredes =!ase os,ilavam. e ning!4m. masning!4m er,e+ia =!e a s!a raiva era !m amor m!ito +em dis*arçado. ara =!e ning!4m risse.ara =!e ning!4m o olhasse s!rreso ,om a grandeAa de se! ,oração Prearava-se aralevantar e +errar =!ando +ateram ortaD

- 'ntre - disse# oerário era magro. os ma8ilares ag!dos *!rando as *a,es. =!ase +onito teria sido

talveA n!m o!tro temo. sem a m!lher e os ,in,o *ilhos. +e+endo e rindo nos !teiros ,om os,omanheiros P!teiro. não -+rdel. ,orrigi!-se ráido "e+endo ,ervea. nat!ralmente. e rindonos +ord4is ,om os ,omanheiros #! rost+!los %s alavras m!itas veAes !sadas. sem oto=!e ,ni,o e ,arregado de s!gestes. mesmo !m o!,o melan,li,as no se! rid,!lo.rovo,avam !ma tern!ra maior Pis,o! ara si mesmo %h ,omo ,onhe,ia as s!as rrias*ra=!eAas. ,omo sa+ia aelar ao =!e lhe ma,h!,ava o ,oração e8e,!tivo

/ando! o oerário sentar. o*ere,e!-lhe !m ,igarro ameri,ano. *iltro +ran,o ' es,!to!atento a estria =!e á ,onhe,ia "at!,o! nervoso na mesa. eserando =!e o homem*alasse agora á !ma ,?dea de ão Por ine8eriên,ia de lidar ,om alavras o! or,onhe,imentos ,arentes da si,ologia dos ,he*es. o homem manteve-se dis,reto e o+etivo nos*atos '8li,o! t!do ,om m!ita ,on,isão. o ,igarro s!+linhando sem melodrama os detalhesmais amargos #lhava-o ensando no =!e ele ensaria de si # homem termino! de *alar een,aro!-o Rma a!sa de esera esta+ele,e!-se in,?moda entre as aredes Con*iante. ooerário er,e+ia s!as *eiçes ,omovidas. o ar e8ato de =!em vai ,on,ordar e dar !ma!mento %t4 se atreve! a largar !m o!=!inho de ,inAa no ,hão %lg!4m grito! no ,orredor#s estilhaços de som vieram arran,á-lo das es,!ras *avelas onde andava ,omassado.distri+!indo ,?deas de ão a mil o+res +em o+reAinhos. de +ra,inhos *inos e +arrigasest!*adas *eito ,rian,inhas de "ia*ra

#lho! o homem +em nos olhos. +ate! o ,igarro no ,inAeiro -ah se !desse ver a simesmo assim. ,arregado. ins!ortável de amor. de tanto amor. de !ro amor ' disse +emdevagarD

- # senhor está desedido

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 AMOR E DESAMOR

Ineserada. en,aro!-o edindo $entro do ?ni+!s =!e ,orria ara !m destino ,om aseg!rança dos =!e sa+em ara onde vão. ela de reente se ass!mi! em *êmea esimlesmente edi! &e! rimeiro movimento veio mar,ado de esanto. ois =!e edia !ra.motivada aenas elo deseo de re,e+er $eois adentro! em si. re,!sando. negando asoli,itação no ]ni+!s s!erlotado de *im de tarde -e. no entanto ainda edia. mas dissim!lada.tornando-se o!,o ao!,o ,ni,a na maneira es=!iva de olhar

'sio! ela anela. ,!rvando-se !m o!,o. =!ase a to,á-lo % nat!reAa de *ora do?ni+!s es,orria ,inAenta. meio amor*a. des*eita em tons =!e não ,hegavam a se a*irmar em,ores $entro. es,orria tam+4m. sem ,onseg!ir a nitideA de =!al=!er alavra &!+ira no ?ni+!stão desrearada. disse +ai8inho. ro,!rando en,ontrar a e8,lamação =!e não e8istia 'sK+ito. o homem estava ali $e ,!los. entradas *!ndas no ,a+elo. olhando erdido ela anela'ra +onitoB &a,!di! a ,a+eça em negativa de inde,isão. ,omo e8li,ar. ,omo *orm!lar =!e eleaenas era. sem adetivos. era. estava sendo. em+ora sem sa+er. sem es*orço alg!m -era 'ela edia H!e+rava-se toda or dentro n!m movimento entre !dor e medo. voltando a ,a+eçaara esiá-lo a se! lado. as mãos ostas em reo!so so+re as ,alças +eges ,laro %h ,omodoa soli,itar tanto e ir-se tornando ,ada veA mais lK,ida dessa soli,itação

)ento! voltar ao rimeiro s!sto. mas er,e+e! =!e este amais se +astaria em si 'ra odesass!stado ,omeço do medo e o resto se *aria ,aminhada lenta de olhar ara trás. ara oslados. a ver se não estava sendo vigiada Imossvel. ois. voltar ao ima,to rimeiro. =!e era!m nada de e8igên,ia não-doda or=!e des,onhe,ia a si mesma % ,omreensão =!eatingindo. doa @esse doer. ela ,omeçava a soer. imre,isa e vaga &!siro! aeitando os,a+elos =!e rendera na n!,a. reg!içosa de entear-se or=!e não revira o en,ontro

Imassvel. o homem ao lado ' á não mais era ,aaA de de*ini-loD ele se trans*ormarano =!e ela sentia Ia al4m dessa ,omreensão. er,e+endo sá+ia =!e o se! sentir era tãodentro -e vago ,omo as ,oisas interiores -=!e ela não oderia amais sa+ê-lo em l!,ideA,omleta Conseg!ia adivinhar o e8terno. mas o interno se erdia inde*inido em som+ras #?ni+!s es,orria no as*alto. o temo es,orria no relgio )!do ia em *rente. ela se ,omrimindo,ada veA ,om mais ardor Rltraassara o s!sto mas. temerosa te so*rer or amor. ,ara naai8ão %+s!rda e me8i,ana e en,errada em si e indeendente do =!e a desertaraD ai8ãoPelo homem =!e era o o+eto mais não. ,om a mesma intensidade ,om =!e amaria o Kni,o,o=!eiro da ilha onde estivesse ná!*raga

$e reente. se alg!4m a olhasse. ela ert!r+aria ,om s!a t!rgideA amla de *êmea emrit!al de amor #s olhos se haviam agradado. a +o,a *remia n!m aarente mist4rio. or=!e

 amais alg!4m ,onseg!iria ,omreendê-la o! a,eita-la em s!a =!ase o+s,enidade 'laavançara ráido demais. e agora á não ,a+ia dentro de si Perdera-se ,omletamente. oslá+ios mordidos e o *rio do s!or nas almas das mãos a ,omli,avam ainda mais Irritava-se,om as e=!enas ,oisas =!e tentavam a*astá-la de s!a danação Ta er!,a loira da m!lher em*rente. os solavan,os do ?ni+!s. o vento =!e entrava ela anela a+erta 'ntão =!ase odiava o=!e não ,ontri+!a ara o amor deseserado gritando dentro dela

Foi a =!e o ?ni+!s aro! e ela des,e! @ão sa+ia se antes o! deois o! no l!gar e8atoonde devia @ão sa+ia ainda se *!gira o! se a,eitara Rm ,arro asso!. molhando-a da ág!ada ,h!va =!e ,ara tarde 'ra noite %ssoo! o nariA 's+arravam nela. o ,ho=!e *aAendo-aenrie,er-se n!ma tentativa de de,i*ração # ?ni+!s ia longe. do+rando a es=!ina. a silh!eta do

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homem ,on*!ndida ,om as o!tras. não ,onseg!ia mais ligar os ensamentos. re,ordar em =!e,ara. e ,omo ,ara. e or=!e ,ara 'nveredo! lenta ela galeria. al,anço! a es,ada rolanteFoi no meio da s!+ida. o eselho re*letindo se! rosto. =!e ela des,o+ri! !m onto +ran,olateando vivo n!m l!gar des,onhe,ido Pre,iso ,ortar os ,a+elos. enso! sem ,omreender#! sem =!erer ,omreender #! sem =!erer. aenas

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 APENAS UMA MAÇÃ

@as,endo das minhas !ilas. ,r,!los do!rados se estendem at4 o in*inito % mação*ega em ,ima da mesa % rimeira er,eção 4 !m grito de l!A so+re o +ran,o. a resença damaçã. ,ontornos imre,isos ,ontra a anela #s ,r,!los amliados ,on,entri,amente ,ontêmátomos de oeira em asseio ela manhã S manhãB @ão seiD 4 silên,io aenas Fe,ho osolhos &omente a memria *alaD or=!e 4 ,erto =!e as essoas estão semre ,res,endo e semodi*i,ando. mas estando r8imas !ma vai ade=!ando se! ,res,imento e a s!a modi*i,açãoao ,res,imento e modi*i,ação da o!traE mas estando distantes. !ma ,res,e e se modi*i,an!m sentido e o!tra no!tro ,omletamente di*erente. distradas =!e *i,am da ne,essidade de,ontin!arem as mesmas !ma ara a o!tra # ,oro ao lado. vestido. e o movimento =!eressinto de re,!sa /as ela não *ala %enas olha %s !ilas ,heias de e=!enos ontosdo!rados Pontos de *ogo. de o!ro. de l!A ontos deD não

- @ão vo! erg!ntar or =!e vo,ê volto!. a,ho =!e nem mesmo vo,ê sa+e. e se e!erg!ntasse vo,ê se sentiria o+rigado a resonder. e resondendo daria !ma e8li,ação =!enem mesmo vo,ê sa+e =!al 4 @ão há e8li,ação. ,omreendeB '! tam+4m não =!eriaerg!ntar. ensei =!e s no silên,io *osse ossvel ,onstr!ir !ma ,omreensão. mas não 4. sei=!e não 4. vo,ê tam+4m sa+e. elo menos or en=!anto. talveA não se tenha ainda atingido oonto em =!e !m silên,io +astaB S re,iso en,her o vaAio de alavras. ainda =!e sea t!doin,omreensãoB & vo! erg!ntar or =!e vo,ê se *oi. se sa+ia =!e haveria !ma dist:n,ia. e=!e na dist:n,ia a gente erde o! es=!e,e t!do a=!ilo =!e ,onstr!i! !nto ' es=!e,e sa+endo=!e está es=!e,endo

Pede !m ,igarro. !m o+eto nas mãos torna mais *á,il !ma ,onversa dessas.,omreendeB % *!maça so+e devagar. á não e8istem os ,r,!los do!rados. agora são aenas,inAa -a *!maça 'm torno. nada m!do! %t4 a ág!a esverdeada do a=!ário are,e a mesma'sero # eso na ,a+eça se dissolve aos o!,os em ,ontato ,om o dia

- @ão =!ero ,omli,ar nada @!n,a =!is )am+4m não =!eria *alar /as e! não odiasimlesmente re,e+er vo,ê ,om a ,ara de ontem

&entada na oltrona ao lado da anela. !ma ,ara de hoe. o ,a+elo reso na n!,a. o,asa,o do iama es,ondendo as ernas. os 4s des,alços aare,endo /ovimento o ,oroso+ o lençol. sinto o ,ontato do ano em toda a ele 'sto! n! e ela adivinha o me!ensamento &orriD

- @ão ho!ve nada o,ê não re,isa se reo,!ar elo =!e não ho!ve o,ê estava+ê+ado demais ara =!al=!er ,oisa

# ,igarro. a maçã nas mãosD o temo ,olo,o! na testa !ma r!ga =!e antes não havia$e reente sinto medo Rm medo antigo. o mesmo =!e sentia o menino es,ondido

em+ai8o da es,ada. eserando ,astigos Rm medo e !m *rio =!e nas,em de alg!ma Aonaes,ondida no ,4re+ro. nas lem+ranças. nas ,oisas =!e o temo es,onde! ao avançar. ,omo sere,!ando sK+ito !sesse a des,o+erto todos os ,antos invisveis. todas as teias de aranhare,o+rindo velhos m!ros. os mesmos =!e tantas veAes tentei es,alar sem =!e ho!vesse nadadeois. nenh!m ,aminho. nenh!ma ,asa @ada

'R - /as detesto analista amador'5% - Camo o! +os=!e o! deserto. =!al=!er ,oisa assim. ,omreendeB # imortante

4 =!e sea ao ar livre Cola+ora. imagina S s !m teste'R - Rm deserto. então

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'5% - &em nadaB'R - @ada'5% - /as nem !ma almeiraB'R - @enh!ma'5% - Rm rio. =!al=!er ,oisaB'R - @ada & areia'5% - ' árvoresB'R - @ada'5% - "i,hosB'R - @ada'5% - entoB

  'R - @ada'5% - Lg!aB'R - @ada'5% - ' a ,haveB'R - @ão en,ontro ,have'5% - ' o m!roB'R - /!ro tem'5% - ' ,omo 4 o m!roB'R - %ntigo. *eio. todo des,as,ado. tiolos aare,endo. !m o!,o de limo. enorme'5% - o,ê so+eB'R - )ento s!+ir árias veAes /as ,aio. arranho os !lsos. sai sang!e $i m!ito

&emre tento s!+ir. semre ,aio o!tra veA /as sei =!e !m dia e! ,onsigo'5% - ' deoisB'R - $eois o =!êB'5% - $eois do m!ro. o =!e temB'R - @ada'5% - @adaB'R - %+sol!tamente nada'5% - ' vo,ê. o =!e vo,ê *aA. no nadaB'R - @ão sei. me desintegro. a,ho'5% - ' não diB'! - @ão @ão di;silên,io>'5% - o,ê á tento! o s!i,dio alg!ma veAB'R - )rês. or =!êB'5% - # m!ro =!e vo,ê tenta s!+ir # m!ro 4 a morte'R - %h;silên,io>'5% - o,ê agora me vai a,har iegas. mas dei8a e! erg!ntar 'R - Perg!nte'5% - o,ê não a,redita em amorB'R - %,ho =!e não Como 4 =!e vo,ê sa+eB'5% - @ão e8iste ág!a % ág!a 4 o amor'R - %h H!e maisB

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'5% - @ada'R - @adaB'5% - S @ada o,ê não a,redita em nada %,ha t!do est4ril aAio &e,o Rm deserto

@em ro+lemas vo,ê tem'R - Pro+lemasB'5% - S #s +i,hos'R - %h'5% - @em ideais Com o erdão da alavra'R - IdeaisB'5% - S %s árvores'R - ' daB'5% - $a. nada;silên,io>'R - ProntoD merg!lho! no silên,io o,e:ni,o;silên,io>'5% - o,ê não assa d!m !to d!m niilista # dia+o 4 =!e e! gosto de vo,ê a,a@ão mais 'la aanha o ,igarro. oga o to,o ela anela a+erta %anha a maçã- '! ia intar essa merda /as a,ho =!e não há mais nada a diAer so+re a droga d!ma

maçã @ada ao *aAer. tam+4m % não ser ,omê-la - S. ,omê-la /as esta está velha- Por=!e e!. me! *ilho. e! s tenho *ome ' esse eito instável de egar !ma maçã no

es,!ro- sem =!e ela ,aia- H!e sa,o. heinB 'stava demorando- # =!êB- % ,itação H!em 4B- Clari,e 5ise,tor'la não sorri o!ve !m temo em =!e tive !m rio or dentro. mas a,a+o! se,ando'R - S ossvel !m rio se,ar ,omletamenteB'5% - Claro =!e 4'R - /as será =!e ele não en,he deoisB @!n,a maisB'5% - %lg!ns sim. o!tros não'R - /as n!n,a maisB'5% - &ei lá. a,ho =!e não'R - o,ê tem ,erteAaB'5% - CerteAa e! não tenho & esto! diAendo =!e a,ho %*inal não so! nenh!ma

ese,ialista em mat4ria de rios. se,os o! não'R - &a+eB'5% - # =!êB'R - '! tinha eserança =!e o rio voltasse a en,her !m dia# dia avança lento H!em ode deter o avanço do temoB %lg!ma ,oisa vai ser dita o!

*eita. o temo reara me!s o!vidos e me! ,oro ara as alavras ainda em gestação5evanto as d!as mãos. veias estendidas so+ a tessit!ra ,lara da ele. dedos desertos ,omo seseg!rasse !ma alavra intangvel %nêmona aranda Cir,!nl=!io i4r+ole CantataColetero FaAendo !m gesto. talveA #! *alando Como di o deserto de dedosdesassom+rados 'ntre eles. a revista. a il!straçãoD !ma or=!estra sin*?ni,a /erda ara todas

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as or=!estras sin*?ni,as @os +an=!inhos. as +!ndas assentadas. violinos. *agotes GoAado*agote. não 4B Pare,e !m ,avalo galoando em ,ima de noAes. o+o4s. ,ontra+ai8os ',ontra,imas. não tem. heinB &o4 ' gir:ndolas G?ndolas girandoB /as se e! tivesse *i,ado.teria sido di*erenteB /elhor interromer o ro,esso em meioD =!ando se ,onhe,e o *im. =!andose sa+e =!e doerá m!ito mais -or =!e ir em *renteB @ão há sentidoD melhor es,aar dei8ando!ma lem+rança =!al=!er. lenço es=!e,ido n!ma gaveta. ,amisa ogada na ,adeira. !ma*otogra*ia T=!al=!er ,oisa =!e deois de m!ito temo a gente ossa olhar e sorrir. mesmo semsa+er or =!ê /elhor do =!e não so+rar nada. e =!e esse nada sea ásero ,omo !m temoerdido @ão digo %trás do a=!ário. os dois olhos ,on*!ndidos ,om os ei8es &erá =!e ei8egosta de maçãB /as se tivesse ido at4 o *im. teria voltadoB oltar não será ,omo ir at4 *im. nãostDB*á rolongar o ro,esso em veA de a+reviá-loB @!n,a so!+e a ,or e8ata de se!s olhosH!ando os via m!ito de erto. minha Kni,a reo,!ação era o+servar o movimento dosontinhos do!rados no *!ndo das !ilas

/as em =!e ,or estavam ,ontidos esses ontinhos. +oiando em ,astanho. em aA!l. emverde. em negroB # ,igarro =!eima os dedos. *!mado at4 o *im # sol il!mina !m remendo na,ortina % man,ha en,olhe lentamente

'R - o,ê gosta de marB'5% - Gosto Pare,e !ma ,oisa =!e e! sinto s veAes or dentro e nem sei +em ,omo

4 @em o =!e 4 %,ho =!e se !m dia e! me matasse seria no mar H!eria ir entrando na ág!a+em devagarinho. vestida de +ran,o. des,alça. ,a+elos soltos

'R - Poesia *á,il'5% - á merda%tira a maçã ara ,ima. re,e+e-a de novo. inde,isa. n!m movimento =!e =!ase

des,o+re os seios %s ernas ,omridas. !m o!,o +ran,as demais #s olhos talveA meioestrá+i,os /as a ,orB H!e ,orB # gesto antigo de a*astar !m *io de ,a+elo ine8istente

- á em+ora -ela diAisto a ro!a devagar Começo a des,er as es,adas @ão olho ara trás $e =!e

adiantaria olharB $e =!e adianta não olharBo! desviando das oças s!as da ,h!va de ontem # as*alto es+!ra,ado # ,4! ,heio

de *!maça ' de reente !ma maçã esati*ada ,ontra o ,imento % ,arne mad!ra demaisesalhada em torno @ão há nada a diAer so+re ela. não assa de !ma maçã morta

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DO ESPANTO

 > vida se me ) e eu n%o entendo o (ue digo" nt%o adoro"*Clarice Lis!ector.

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O RATO

%ssimD do lado direito. !m ,asal de velhosE do lado es=!erdo. !ma m!lher ,om d!as,rianças atrás. dois raaAes de ar inde*inido *rente. a toalha vermelha da mesa amliando-seem erse,tiva at4 a anela a+erta ara a noite # ar resse,ado estrang!la os movimentos.deositado ,omo oeira so+re as *a,es des*eitas de *eiçes. e8resses es,orrendo em s!orao ,alor ineserado so+revindo deois da ,h!va Rm rato ,aminha so+re !ma das vigas des!stentação 'le olha o rato. e o rato não o vê #lha o rato. mas as o!tras essoas não sa+em=!e se! olhar olha o rato &oAinho na=!ele +ar. na=!ela r!a. em todos os +ares em todas asr!as do m!ndo. no m!ndo inteiro -soAinhoD ele e o rato. nat!reAa ,inAa e=!ili+rada so+re =!atroatas

- o,ê re*ere lasanha o! raviliB- # me! dia s e8iste or=!e vo,ê e8iste dentro dele- Garçom. or *avor - o!-me em+ora. não s!orto mais este +ar. este ,alor. esta mesa @ão s!orto mais

vo,ê- '! =!ero +atatinha *rita- oe e8istir me di *eito !ma +o*etada- &em ,e+ola. or *avorH!ando arti!. levava as mãos no +olso. a ,a+eça erg!ida @ão olhava ara trás.

or=!e olhar ara trás era !ma maneira de *i,ar n!m edaço =!al=!er ara artir in,omleto.*i,ado em meio ara trás @ão olhava. ois. e. ois não *i,ava Comleto. arti! @ão vê. masode sentir o to=!e ásero da ele re,o+erta de êlos em s!as mãos =!e seg!ram o gar*o e a*a,a. e o to=!e 4 =!ase !ma ,ar,ia -!ma na!seante ,ar,ia de +i,ho ro,!ra de =!al=!er,oisa /as o rato está em ,imaE ele estava em +ai8o. o se8o enrie,ido. a m!lher semovimentando so+re ele Rma lassidão de ,oisa ,!o destino 4 oss!ir. mas s!+metida osse. =!em sa+e amliada no es,!ro '8andia-se dentro de si n!m movimento de revolta enoo /!ito r8imo do se!. o rosto da m!lher a+erto n!ma =!ase ,areta de goAo. os dentesman,hados de ,igarro esiando or entre os +eiços ,o+ertos de +atom =!e as gotas de s!or*aAiam es,orrer %erto!-a ,ontra si. as mãos ,omrimidas na +!nda ásera # se8o e8lodi!n!ma ,h!va densa. en=!anto olhava est!idamente ara o *io de l!A ,oado ela anela

- @ão osso ,omer massa. me! +em. engordo horrores- Por=!e se vo,ê não vem 4 ,omo se o temo *osse assado em +ran,o. ,omo se as

,oisas não ,hegassem a se ,!mrir or=!e vo,ê não so!+e delas- In*eliAmente o ,amarão a,a+o!- 'sto! ,omletamente ,heio- "em moleAinha. ,om +astante sal- /as este rato está s!o. =!e a+s!rdoUUU- )!do di. e e! á nem sei mais ara onde ir nem o =!e *aAer. se ao menos T vo,ê me

amasse !m o!,o. não estaria a=!i e agora. neste +ar. soAinho. longe de vo,ê e de mim# rato. agora. em assos hesitantes. a ,a!da enros,ando-se em madeiras 's*arela

devagar !m edaço de ão. o miolo es,orre or entre os dedos. *eito ág!a. *eito vento. *eitostodas as ,oisas =!e assam e não mar,am em nada. em nenh!m re,anto do ,oro *si,o al4mde memria %=!i e agora. edindo mais !ma ,ervea ao garçom vestido de +ran,o. +igodesretor,idos ara +ai8o Cer,o!-o devagarD !m ,!idadoso e8ame de ,omrador investigando a

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mer,adoria. a medir de ,ima a+ai8o. da ,a+eça aos 4s. a larg!ra do tra8. a gross!ra das,o8as. as mãos de dedos grossos nas !ntas. os olhos es,ondidos de+ai8o das so+ran,elhas.a +ar+a *orte aA!lando o rosto -,omo se ,onseg!isse ir al4m da ,alça aA!l e da ,amisa +ran,alimitando a ,arne # se8oD onto de ,hama entre as ernas 'stende a mão. mas o rato *ogen!m movimento +r!s,o

- Pre*iro ,arne. ao menos não engorda tanto- ' se vo,ê vem. *i,a t!do maior. mais amlo. sei lá mas 4 ,omo se e! e8istisse d!m

 eito mais ,omleto. ,omreendeB- )emos ei8e Fil4 de ei8e. serveB- $e reente are,e =!e todo m!ndo vai ,omeçar a morder agente- Feião não. e! odeio *eião- Rma merda. t!do Rma grande merda&K+ito es,orrega ara !ma região des,onhe,ida. onde t!do se dil!i em som+ra. em

silên,io @a som+ra e no silên,io. o rato desliAa manso. s!+indo a arede at4 al,ançarnovamente a viga =!e o s!stenta % m!lher o en,aro! o*endidaD se vo,ê gosta de homem. oro+lema 4 se!. me! *ilho. não tenho nada ,om isso Insisti! # g!arda o solto! e ele sai!,aminhando de ,a+eça +ai8a. deois de ter ogado o ,artaA na saretaD X# ovo assa *omeX3amais olhava ara trás. amaisD o =!e estava *eito. estava *eito. estava ,ons!mado. estavaara semre im!tável. inamoldável. *e,hado em si mesmo. estan=!eD o temo 'la sorri! delado. a lng!a metida na *alha entre os dois dentes Con,ordo! /ete! a mão no +olso.ro,!rando a ,arteira. e sento! o =!ase to=!e nos se!s saatos Cerro! os dentes. o se8olateava. estende! a mão e to,o! Imvel -o homem # inde,i*rável dos olhos. do vin,omar,ando a +o,a. esreitando o. tenso '! ago. disse /as o rato volto!. sem =!e ning!4m ovea

- )!do +em. !m +i*e. mas +em e=!enininho. +em assado e sem molho. heinB- @ing!4m toma de ning!4m esse tio de ,oisa. ning!4m- )emos soas. tam+4m /adame 4 =!em sa+e- /e dei8a ir em+ora '! não =!ero mais te ver @!n,a mais- %rroAB /as e! s =!eria +atatinha- ' a *a,aB &erá =!e 4 re,iso ,omer ,om as mãosB- &e ao menos dessa revolta. dessa angKstia. sasse alg!ma ,oisa =!e restasseH!al=!er ,oisaD e! teria ao menos algo em =!e me seg!rar. =!al=!er ,oisa # e8tremo

da revolta seria a ,oisa *eita. ronta ara =!e seg!rassem nela 'ram vermelhosB #! seriamaA!isB @!n,a vira os olhos de !m rato +em de erto & a ,a!da. estendendo-se de elo em elo.at4 o *inal ont!do. ,omo !ma serente @ão s!ortaria en,arar !m animal. =!al=!er =!e*osse %=!ela in,ons,iên,ia de si mesmo. a a!sên,ia de indagaçes. de mar,as- a isenção odei8ava aralisado. ,omo !ma *ero,idade ineseradaD !m animal. o homem n!. estendidoso+re a ,ama )o,ava o se8o. e o se8o vi+rava % ,ama vi+rava % noite vi+rava # m!ndovi+rava %linho! !m a !m os *arelos na es=!ina. *ormando !m nome ,om o l=!ido da !rina %mão ma,h!,ada de s!stentar o grito do ,artaA. os 4s so+ a revolta. os om+ros dodosem+ai8o da ,ontestação Foi de reente =!e ,omeço! a,orrer ara longe da=!ilo. esmagadoela e8igên,ia. elo esanto de estar edindo alg!ma ,oisa =!e nem ara si era Pedir e8igia!ma arti,iação ntima =!e ele não tinha. e se!s gritos ressoariam *alsos or todas as

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es=!inas. se!s om+ros ,!rvariam ao eso a,!m!lado. a ,a+eça +ai8a. ra+o entre as ernas #s!sto do rato ,om a +olinha de ão ogada so+re a ,a+eça

- Imagine. ele *alo! =!e tinha a,hado o ,ha4! detestável- & e! sei =!e ,heg!ei h!mildade má8ima =!e !m ser h!mano ode atingirD

,on*essar a o!tro ser h!mano =!e re,isa dele ara e8istir- H!em sa+e !ma *eioadaB- $a=!i a o!,o vai ,omeçar a ,hover de novo- )á +em. mas s se vier !m sorvete deois- H!er *aAer o *avor de me al,ançar o ,ooB- /as não sai nada @ada @em !ma lágrima%ro8ima-se #s olhos agrandaram na ro,!ra ,ons!mada em en,ontro. as atas

avançaram ara o o+eto - o ,inAento arrastando-se so+re o amarelo dos taetes- Invea. !ra invea. ,onheço demais essa gente- ' no momento em =!e se ,on*essa a re,isão. erde-se t!do. e! sei- @ãoB H!em sa+e então !m !m !m- @ão adianta insistir %gora e! vo!- $e ,reme. não H!ero de morango- ' essa ,o,a-,ola =!e não vemB- &ei lá. vo! dormir =!e 4 melhor%grandava-se &enhora dona C:ndida. ,o+erta de o!ro e rata. des,!+ra o se! rosto.

=!ero ver a s!a graça $es,o+ria-se %*astava o o!ro. a rata. as mãos =!e es,ondiam o rostoe dentro -o =!e haviaB Cont4m-se e ,omeça a ,ontar-se +ai8inhoD 'ra !ma veAD assimD do ladodireito. !m ,asal de velhosE do lado es=!erdo. !ma m!lher ,om d!as ,riançasE atrás. doisraaAes de ar inde*inidoE *rente. a toalha vermelha da mesa amliando-se em erse,tiva at4a anela a+erta ara a noiteX ' o rato H!is gritar. mas era tão tarde. era m!ito tarde. erasemre tarde i! o garçom arr!mando os ratos so+re a mesa. a *!maça elevando-se da,omida =!ente /as a vidraça ainda não re*letia a ,or e8ata dos olhos "ai8o! a ,a+eça ara orato. aoiado nas =!atro atas ,inAentas. o *o,inho *ino. as essoas es*arelando ães e

 ogando-lhe edaços. esanto!-se da deli,adeAa de s!a rrias garras. da leveAa de se!rrio ,oro. agora aertam s!a ,a!da entre os 4s. e ele *oge. tenta *!gir. mas alg!4m soraem se!s o!vidos algo are,ido ,om !ma ,anção de ninar #! !ma ,anção de g!erra. de dio.de noo. de sang!e. !ma ,antiga de roda. o! simlesmente !m grito estridente. ag!do. trêm!lo.in,omreensvel Rm grito h!mano

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MADRUGADA

Para >rnaldo Cam!os

$es,onhe,idos - mas somente antes do en,ontro H!e a,onte,era no +ar 'ntão.!nidos ela mesma ,ervea. elo mesmo desalento. dei8aram =!e o des,onhe,imento setransm!tasse na=!ela amiAade !m o!,o *e+ril dos =!e n!n,a se viram antes 'ntre rotestosde estima e goles de ,ervea deositavam lentos na mesa os ro+lemas ntimos 'n=!anto !mo!via. os olhos molhados não se sa+ia se de ál,ool o! ranto ,ontido. o o!tro ensava =!en!n,a tinha en,ontrado alg!4m =!e o ,omreendesse tão ,omletamente 'ra talveA or=!enão tro,avam estm!los. aenas o!viam ,om ar enaliAado. na sa+edoria e8trema dos =!e têm,ons,iên,ia de não oder dar nada Rma mão estendida ásera or entre os ,oos era o,onsolo Kni,o =!e se oderiam o*ere,er

Com a l!,ideA dos em+riagados. haviam-se re,onhe,ido desde o rimeiro momento#! talveA estivessem realmente destinados !m ao o!tro. e mesmo &em o ál,ool. n!ma r!areleta sa+eriam en,ontrar-se # *!lgor nos olhos e a in,erteAa intensi*i,ada nos assos *ora aerg!nta de !m e a resosta de o!tro

# rimeiro estava ali sentado há d!as horas. mas lá *aAia arte do am+iente Rm o!,oor=!e se! emo era de ,or ig!al s aredes do *!ndo. mas rin,ialmente or=!e ele era todo+ar @a *orma. no ,onteKdo /ais e8atamente. a=!ele +ar em ese,ial. =!e tinha !ma ,or!a nonome e nos desenhos da arede %ve =!e ele imitava invol!ntário. nos om+ros ,ontrados. noolhar verr!mante #lhar =!e lanço! so+re o o!tro no momento da entrada 'ste vinha aindain,erto. ,omo se +!s,asse ' s!a imre,isão atingi! o aro8ismo =!ando no ,ho=!e deolhares a,ilo! so+re as ernas. a ro!a are,endo mais amarrotada. s!+itamente !m +raçose des,ontrolo! atingindo a mesa mais r8ima. varrendo-a =!ase ,om doç!ra % doç!ra dos=!e de reente en,ontraram sem estar de so+reaviso % lo!ra o8igenada de! !m grito e ohomem =!e a a,omanhava ar!mo!-se em o*ensa. ronto a ata,ar. ma,ho r4-histri,orotegendo a *êmea em erigo %inda erdido no esanto. o seg!ndo +ê+ado não reagi! &!asmãos estavam ,heias aenas de erle8idade. não de dio @esse momento. o rimeiro+ê+ado enristo! se! metro e noventa de alt!ra. at4 então dil!do no en,olhimento de ,or!a em=!e se mantinha &em diAer alavra en,aminho!-se ara o amigo -ois =!e se!s olhareshaviam sido tão *!ndos =!e disensavam ritos rearatrios antes de emregar o s!+stantivo etomando-o elo +raço. levo! ara a mesa # a,omanhante da lo!ra a,almo!-se de imediato.en=!anto esta *i,ava ainda mais o8igenada no deseito

' os dois. satis*eitos ,om a ineserada oort!nidade ara a ,om!ni,ação. *oramo+etivos ao ass!nto 'stavam ss % m!lher de !m estava viaandoE o o!tro não tinha m!lher/as tinha noiva. e des,on*iava =!e ela o andava traindo # o!tro maravilho!-se ,om a,oin,idên,ia. ois tinha =!ase ,erteAa ser a viagem da m!lher aenas !m rete8to araen,ontrar ,om o amante Rnidos na mesma dor-de-,otovelo. s!a amiAade es=!ento! a raAãode ,em gra!s or seg!ndo %m+os estavam insatis*eitos nos rese,tivos emregos #erários.lanearam greves. i=!etes. sindi,atos. *alaram mal do governo Rm deles. =!e tinha lido !ma*rase de /ar8 n!m almana=!e. ,ito!-a ,om s!,esso ' o engaamento era o!tro elo a re*orçara ,orrente á slida =!e os !nia $e elo em elo. ligavam-se ,ada veA mais % tal onto =!esimlesmente não ,a+iam mais em si mesmo #s ,oos ,olo,avam-se em 4. os,ilantes ,omose estivessem em +anho-maria. os ,a+elos desenteados. rostos vermelhos. olhos ,hisantes

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-*!riosos e agressivos no diálogo @as o!tras mesas. seres rovavelmente *r!strados nodesen,ontro *arearam +riga e erg!eram as ,a+eças. esreitando @ão sa+iam =!e. orde*i,iên,ia de vo,a+!lário. a amiAade não raro se des,ontrola e ode levar ao ,rime %enasos dois ressentiram isso. tão sensveis haviam-se tornado no investigar sem alavras doterreno =!e ora isavam )!do neles era re,ro,o -e o medo de se *erirem ,res,e! !nto arae8lodir n!m silên,io sK+ito 'ntão se en,araram. mais desgrenhados do =!e n!n,a. e ,omtainhas nas ,ostas voltaram deli,adeAa dos rimeiros momentos

/as os *r!strados =!e en,hiam o +ar estavam a,hando a=!ilo !m grande desa*oro@ão era ermitido a d!as essoas se en,ontrarem n!m sá+ado noite e. ostensivas.h!milharem a todos ,om s!a in*eli,idade dividida # desesero não reartido dos o!tros era!ma raiva grande. e8ressa nos gestos de =!em não s!orta mais Com a s!tileAa dos donosde +ar. o dono deste senti! a hostilidade ,res,ente ' medroso de =!e o ,ho=!e res!ltasse emre!Aos ara si. ,olo,o!-se sem hesitação ao lado da maioria$irigi!-se aos dois oerários eedi!-lhes =!e se retirassem %oiado em se! metro e noventa. !m deles =!is reagir /as oo!tro mais *ra,o e. ortanto menos heri,o e mais realista. adverti!-o da in,onveniên,ia dareação ' olharam am+os os o!tros desen,ontrados elas mesas -s!+itamente en,ontrados nomesmo dio -*ormando !ma m!ralha indignada # mais alto. menos or sit!ação *inan,eira do=!e or *orça. ,aindo em si *eA =!estão a+sol!ta de agar todos os gastos $e +raço dado.saram ara a ma drogada

Fora deararam ,om o *rio e o +rilho desmaiado das l!Aes de mer,Krio 'n,olheram-sedevagar. as desgraças mKt!as morrendo em ,ala*rios # domingo vinha vindo 'les nãosa+iam o =!e *aAer das mãos ,heias de amiAade e lem+ranças das m!lheres a!sentes"ê+ados ,omo estavam. a Kni,a sol!ção seria a+raçarem-se e ,antarem Foi o =!e *iAeram@ão satis*eitos ,om o gesto e as alavras. desa+otoaram as +rag!ilhas e miaram em ,om!mn!ma *esta de es!ma Como no oema de in,i!s =!e não tinham lido nem teriam amais$eois ,alaram e olharam ara longe. ara al4m dos se8os nas mãos @as +andas do rio.amanhe,ia

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 A CHAVE E A PORTA

Falávamos de ,ara,is. mas no vidro se re*letiam as mãos em movimentosdes,ontrolados de a,ender ,igarros. a madeira da arede s!ortando a4is. *otogra*ias.,artaAes. e e! á não tinha nada al4m de alavras *orm!ladas em erg!ntas desidas. aenasletras. estát!as de sal. de gelo. de edra

'ra !m silên,io m!ito grande e os dois *alavam de ,ara,is &K+ito. sentia !ma alegriainterna =!ase ,omo !ma rimavera ' a alegria ,res,ia. e8andindo-se em m!itas direçes.tomando ,onta das mãos. dos olhos. á trans,endia o ensamento ara se aossar do ,orointeiro /as de reente t!do á não ,a+ia mais s dentro deleE re,isava de !m a,onte,imentoe8terno =!e !sti*i,asse toda a=!ela larg!eAa de dentro % ,oisa e8terna não a,onte,ia '. sea,onte,ia. não !sti*i,ava Por =!e não se render ao avanço nat!ral das ,oisas. sem ro,!rarde*iniçesB Como !ma rimavera. em mim /as se não havia !sti*i,ativa. a =!eda era lenta elonga @o *!ndo do oçoD +ai8o! a ,a+eça. esio!-o or +ai8o das so+ran,elhas )inha osolhos ,laros Falava de ,ara,is

&!+i em ,ima da mesa e ,ome,ei a a,enar ara as aves de raina =!e inventavamodrides no ,imento Pois se em +reve todas as estát!as ,airiam so+re a som+ra desdo+radado ,asarão antigo. e ,omo n!m medo m!ito grande e! s!+iria em ,ima da mesa. gritando semning!4m o!vir. a,enando ,om mãos =!e não se desrenderiam dos om+ros Protegia a simesmo da=!ela rimavera s!rgida +r!s,a no meio do dia revestido de l!A @a sala ao lado.alg!4m ,antava !ma mKsi,a antiga en=!anto !m tele*one ,hamava sem =!e ning!4matendesse. sem =!e ning!4m entendesse Rm estranho e triste aelo sem resosta artido noar em *atias de aço H!e +om se *?ssemos ,avalos e ,orrêssemos or !m ,amo de trigo. ,omao!las nas margens

'n,aro!-o tenso. ,olo,ando no olhar o desa*ioD e! te veo mais *!ndo do =!e vo,ê mevê. or=!e e! te invento nesse olhar. or=!e vo,ê se torna o me! invento. or=!e deois deolhar m!ito dentro e! res,indo da imagem e o me! olhar releto se +asta. ,omo se e! *osse,ego. mas tivesse g!ardado todas as imagensD !m ,ego vê mais =!e !m homem ,om!mor=!e não re,isa olhar ara *ora de si. or=!e o =!e ele desea ver está ,omletamentedentro e 4 inteiramente se! /as os olhos ,laros +arravam o inventário @ão ia al4m da ,or.não ia al4m das !ilas ,ontradas ela l!A # má8imo =!e disting!ia era !m rosto erto dose! Rm rosto m!ito erto do se! *alando de ,ara,is &!siro!. n!m re,onhe,imento de*ra=!eAa &e me! olhar não te desvenda 4 or=!e vo,ê me vê mais *!ndo. mas vo,ê não odever mais *!ndo or=!e o me! *!ndo está ,heio de m!sgo. or=!e o me! *!ndo 4 verde ,omo!m m!ro antigo. rodo ,omo mármore de ,emit4rio. denso ,omo !ma *loresta onde e! andolento. as árvores +arrando me!s assos e a transarên,ia de se!s olhos +arrando os me!s

o,ê á tomo! gim ,om maris,osB @ão. or=!e e! tenho noo e medoD e! não,onseg!iria rovar a ,arne mais ntima de !m o+eto o! de !m animal )ome logo. vo,ê nãosa+e o =!e está erdendo @ão. não seria madr!gada. não seria noite vestida de noite nemmanhã de +ran,o nem tarde de verde. não seria temo nenh!mE não seria se=!er a se8ta-*eiramais intensa =!e =!al=!er o!tro dia. or ser v4sera de t!do. em+ora o t!do res!lte em nada.na seg!ndaE não seria nem v4sera de sá+ado. não seria se=!er o sá+ado '! te *aloD seria!ma n4voa ,inAenta e o edi*,io deserto erg!ido s margens do rio s!o Fantasmas lentos. nsentraramos no edi*,io. o rio estaria dentro de ns. e e! não seria mais e!. seria o rio. e vo,ênão seria mais vo,ê. seria o rio # rio ris,ado de en,ontro

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# tele*one ,ontin!ava ,hamando no momento em =!e ele ris,o! a arede ,om a mãoa+erta Per*!rava a ,arne de madeira. *aAendo nas,er esantos dissolvidos na *!maça do,igarro =!e s!+ia ara o teto es+ran=!içado. ,heio de *!rinhos de onde !m dia talveA,omeçasse a +rotar !m *ino gás =!e as*i8iaria a todos Por dentro. a=!ele gosto ardido deareia. a=!ele gosto se,o de oeira. de +olo antigo. dissolvia-se de grão em grão. es,orregandoela +o,a em alavras =!e á não eram *oradas. es,orregando elas mãos em gesto não maisend!re,idos. es,orregando elos olhos =!e novamente olhavam ,omo se vissem /as e!resistia ainda em !sar a alavra 'santo!-se ,om o intervalo ineserado. onto +ran,o nomeio de ensamento ' a leveAa =!e des,ia *eito o gás =!e des,eria do tetoD vestido de leveAa.os olhos antigos de tern!ra. a morte iml,ita 3á era tarde. ,omeçava a ,hover. os ingos+atiam *ortes no vidro onde ning!4m mais desenhava *ig!ras o! es,revia nomes vadios @aterra agora molhada não havia mais ,irandas. do ,4! não ,aam mais +ales. na sala ao lado osam+a antigo morrera no *!ndo da garganta & as má=!inas a +ater +ater +ater e o tele*onegritando sem =!e ning!4m atendesse 'le ,ontin!ava sentado na mesa. os olhos ,laros. a,amisa verde. as mãos +ran,as Po!,o a o!,o. ,omo se e8erimentasse !m v?o. ,!rvo!-seara a mesa. as asas ,ortadas ' o medo $eois de limar +em toda a terra. a gente ,olo,aeles na anela e eles vão ,oAinhando devagar ivosB Claros. vivos )em !ns =!e aindatentam se seg!rar nas +ordas. es,aar. mas morrem todos )odos a,a+am morrendo /!itodevagar #s ,r,!los de t4dio des,iam ,on,êntri,os da l:mada. estendia o +raço e sentia a,arne inerte. os sentidos adorme,idos. o!,o mais =!e !m o+eto. e! # mesmo +ar. a mesmal:mada. a mesma ,arne. mas todos em vi+ração. os sentidos m!ltili,ados. intensos.el4tri,os. o ,oração =!ase arando de esanto. o esanto de ter en,ontrado no meio dodeserto !ma almeira. !ma almeira de olhos ,laros. ,amisa verde. mãos +ran,as )eren,ontrado !m ,ravo +ran,o entre os ,ai8otes de li8o ataetando a r!a )er en,ontrado oesaço de silên,io dentro de !m grito )er en,ontrado !m onto de aoio ara o ,ansaço o,ênão me vê. e! não te veo. mas tenho o ,oração álido. as mãos s!sensas no meio de !mgesto. a voA ,ontida no meio de !ma alavra. e vo,ê não vê o me! silên,io nem me!movimento dentro dele % rimavera se =!e+rava +r!s,a em esinho. *erro 3á não sei desde=!ando estamos a=!i. desde =!ando *alamos de ,ara,is. desde =!ando invento te! silên,ioig!al ao me! Por =!e estranha al=!imia assavam as alavras dele ara vará-lo assim. nessatão remota dimensão do serB % visão tardia de en,ontrar a ,have deois da orta ter-setornado ine8istente % ,have inKtil esando em *ogo nas mãos e o gesto há m!ito temorearado trans*ormado s!+itamente em ,ansaço e desen,anto de não ter visto antes #s doissentados !m *rente ao o!tro. ela tarde a trans*ormar-se lenta em noite. em madr!gada. em,inAa @ão virá n!n,a

4sera de sá+ado. na sala ao lado o tele*one grita ara o!vidos distrados &!a mãoes*a=!eia a arede. as alavras ,aem ,omo *r!tos odres. ,omo *lores ,olhidas. ,omo ,riançasmortas @as mãos. a ,have a,hada m!ito tarde. m!ito tarde )arde demais

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METAIS ALCALINOS

@ão sa+ia dominar !m rivil4gio ' metais al,alinos eram os metais do s!+gr!o I es!+gr!o I% da ,lassi*i,ação eridi,a dos elementosD ltio. sdio otássio. r!+dio e ,4sio 'raisso. ermiti!-se en=!anto os al!nos ,oiavam ráidos #+servo! os três rostos ,on*iantesen=!anto ditava. e !ma li+erdade at4 então ignorada. a ,ons,iên,ia dessa li+erdade a*loro!.ois =!e odia ensar e *alar ao mesmo temo. indeendente do ensamento ser a alavra o!da alavra ser o ensamento #s olhos aA!is intados da menina de =!atorAe anos des*ilavamela tama es,!ra da mesa. mas isso tornava a s!a li+erdade =!ase grosseira @ão. grosseiranão $esonesta. isso %alo! de leve a alavra e a,!m!lo! ,ontradiçes =!e. or assim diAer.,er,eavam a s!a ,aa,idade de ensar e não-diAer. o! vi,e-versa /as mal s!ortando aalegria da des,o+erta. imediatamente enso! em disensar os al!nos e entregar-se 'ntregar-se a =!e. homem de de!sB agredi!-se =!ase rsida. ois 'ra re,iso ade=!ar -ade=!ar !mane,essidade ntima a !ma ne,essidade e8ternaB 'ntão estende! a ta+ela ara =!e ,oiassem' !ni! +raços e ernas n!m movimento de =!em se levanta Cortado em meio. o gestorende!-o ao l!gar =!e o,!ava $o l!gar =!e o,!ava. o ,amo de visão era restritoD as,a+eças +ai8as dos três al!nos. lado alado. a arede or trás % arede +ran,a. as ,a+eçases,!ras. ,on,entradas % anela. es=!erda ' o gato &emre a=!ele enorme gato +ran,oso+re o m!ro do viAinho

&eg!i! atrás do rimeiro ensamento. mas não ,onseg!i! re,ordar % l!,ideA vinhasemre assim tão ráida e o*!s,ante =!e vivia toda !ma vida na=!ela +revidade. sem dei8armar,as. era issoB 'ra % e8istên,ia da l!,ideA era talveA longa ara a l!,ideA. ,omreendeBa=!ele menos =!e !m seg!ndo. menos =!e !m grito o! !ma il!minação. menos =!e =!al=!er,oisa =!e atina os sentidos -a=!ilo. ois não havia !ma alavra e8ata ara de*ini-lo. a=!ilo,!mria a ne,essidade da ,oisa /as a s!a ne,essidade era mais amla. re,onhe,e!. or issonão se en,ontravam. em termos de temo. a s!a ne,essidade era mais amla. não =!e tivesse!m ra,io,nio di*,il. mas or=!e havia todo !m ro,esso de desir-se de ,on,eitos anteriores.de +arreiras e resistên,ias. ara oder ,omreender Isso levava horas 5evava horas o desir-se

H!e mais. ro*essor #s olhos intados e a e8igên,ia da menina de =!atorAe anos'stamos no ,omeço. estamos no ,omeço. reeti! várias veAes at4 reass!mir-se 'm t!dore,isava de temo. m!ito temo ara =!e as ,oisas *ossem +em-*eitas. e não ho!vesse. nãoho!vesse $ito! a!sado !m e8er,,io. não. não havia erigo de ser s!rreendido #s trêsal!nos eram in*ormes em se!s invl!,ros de adoles,ente )oda !ma estr!t!ra ainda nãosolidi*i,ada. imre,isa. hesitante Rma nat!reAa =!e. or in,omreensão o! *alta de meios araatingir a ,omreensão. re,!sava medrosa =!al=!er aro8imaçãoD não l!,rariam nada ems!rreendê-lo ' mesmo =!e. indeendentemente de s!as três vontades. o ,onseg!issem.seria s !ma ,oisa +r!s,a e meio esásti,a ,omo eles rrios -não sa+eriam o =!e *aAerda=!ilo e iriam em+ora sem *orm!lar 'ra essa a raiA aos o!,os ele se sorria. entendendo osrrios ro,essos @ão sa+eriam *orm!lar ' não sa+er *orm!lar !ma ,oisa ,omreendida 4 omesmo =!e não ,omreender Pelo menos ara a=!eles três. limito! ráido. ois tinha medode =!al=!er a*irmação Como e8li,ar a eles =!e !ma ,oisa ode traAer no se! ser o se!rrio não-ser. ao mesmo temo e. des,!lem. ,on-,o-mi-tan-te-men-te. eles não,omreenderiam. e não havia interesse em e8li,ar-lhes. não havia nem mesmo interesse emo+servá-losD nenh!m deles ,ontin!aria sendo o =!e agora era %=!eles três ,oros

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des,o+ririam de reente a s!a *orça o,!lta. e aoiados nessa *orça 4 =!e se ,onstr!iriam emmassas slidas. +em delineadas Por en=!anto. os ,ontornos aenas ameaçavam @ing!4moderia imor !ma de*inição antes dessa de*inição imor-se or si mesmaD seria ,omo tentar*orçar !ma nat!reAa a ser a=!ilo =!e ela s seria se =!isesse

'ra verdade. não sa+ia dominar !m rivil4gio /ais al4m. não sa+ia dominarImediatamente as !ma des,o+erta. !m re,onhe,imento de *orça. im!nha-se !ma alegriatão des,ontrolada =!e o r8imo asso seria !m romimento do ro,esso @ão !m ,on,retiAar.mas !ma destr!ição C!rvo! o ,oro. tentando seg!rar. seg!rar. seg!rar Conseg!ia /asre,isava voltar atrás ara sintetiAar t!do # ro,esso nat!ralD !m re,onhe,imento de *orçaso+re alg!ma ,oisa. o emrego da *orça so+re essa ,oisa e as ,onse=Jentes vantagens -eraissoB # ro,esso interromidoD !m re,onhe,imento de *orça so+re alg!ma ,oisa. a alegria*ren4ti,a =!e isso lhe dava e a destr!ição não s da *orça em relação ,oisa. mas da *orça emrelação a si mesma. isto 4. da rria *orça 'ntendo. s!siro! e8a!sto ' olho! o gato lá *ora/as olhar o gato ,ansava @ão tinha nada a ver ,om a=!ela e8istên,ia. a menos =!e,omeçasse a ela+orar !ma aro8imação atrav4s de gestos e alavras ,otidianos avia aindao!tro ontoD era re,iso des,o+rir se a *orça agindo so+re a ,oisa lhe daria alg!ma vantagem#! desvantagem #! nem mesmo vantagem nem desvantagemD nada &e agisse so+re o gato.o gato lhe daria algoB %lgo al4m do ,alor de se!s êlos. da dissim!lação iml,ita em se!solhos verdes. do roçar em s!as ernas. talveA !ma !nhada o,asionalB # gato não lhe darianem isso. daria aenas isso o! mais =!e issoB /as a menos =!e tornasse o gato n!ma ,oisa=!e o gato não era. não teria nada

#s olhos aA!is intados da menina de =!atorAe anos 'stava ,erta. sim H!ase m!lher.a menina olho! vitoriosa so+re os dois raaAes. ainda ,!rvados so+re a mesa. em ,ál,!los etestas *ranAidas @esse silên,io ,riado elo =!e a menina ,hamaria. se,reta e des!dorada.deD !ma s!erioridade -nesse silên,io. era re,iso diAer alg!ma ,oisa 'ntão disse esto! ,om!m o!,o de dor de ,a+eça %h. sim. tenho !m ,omrimido na minha +olsa %,eito! o,omrimido. ,olo,o!-o na +o,a &em ág!aB . erg!nto! a menina S. sem ág!a 'ngoli! Comisso ermitia-se !ma e8travag:n,ia. e a menina rovavelmente diria a se!s ais na hora do

 antarD imaginem. o ro*essor toma ,omrimidos sem ág!a ' al4m de ser !m ro*essor.assaria a ser tam+4m !m ro*essor =!e tomava ,omrimidos sem ág!a # =!e não dei8avade ser !ma intromissão na s!a intimidade )ento! reass!mir a ost!ra omissa. mas os olhosaA!is intados da menina olharam-no d!m eito =!e seria o mesmo se ela não tivesse olhosaA!is intados ' sorriram. os olhos sorriram. or so+re a +o,a imvel '! não ermito. enso!ele. e de! as ,ostas menina %noite,ia. a ne,essidade de a,ender a l!A ,on,edia !m gestono momento e8ato

%,ende! a l!A %s ,oisas tornadas mais ,laras *eriram or !m momento Pare,iam ostrês mais *irmes. mais re,isos e o sorriso. o sorriso era erigoso @o entanto. as ,oisas sea,!m!lavam ara salvá-loD os dois raaAes estenderam os ,adernos ao mesmo temo e. ainda+em. !m dos e8er,,ios estava errado # ltio. o sdio e o otássio são os Kni,os metais menosdensos =!e a ág!a. es,lare,e!. e o raaA *eA ahU a voA tremida ,omo n!ma emoção #lho!-o,om ,!riosidade # raaA treme! mais ainda 'ra o mais vago dos três ' or ser o mais vago.

 !stamente o mais erigoso. ois a s!a re,isão oderia e8lodir sK+ita. não an!n,iada orsinais e8ternosD a s!a ne+lina não ermitia !ma e8loração ,!idadosa. e ele odia vir a ser*inalmente o =!e todos temiam /as o o!tro. o o!tro. ro,!ro! amedrontado ,om os olhos %h.o o!tro tinha ?m!los salientes =!e esti,avam a ele dominando todos os movimentos. o o!tro

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tinha !ma ,ara lisa. lima. de ?m!los salientes. e o ro*essor não ,onseg!ia ir al4m do rostosem esinhas. arado Ineserado olho! os três e não ,onteve !m desesero varrendoensamento $isse assim +r!to or hoe estamos rontos e. de reente. o ro*essor ,horo!

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VERBO TRANSITIVO DIRETO

Para rene 9riet4Fe

u (uero ir min$a gente eu n%o sou da(ui eu n%o ten$o nada (uero ver rene rir (uero verrene dar sua risada"*Caetano Veloso: rene.

H!e era !ma m!lher e amava essas as ,onsideraçes de nvel geral reetidas todas asmanhãs. antes de des,er s minK,ias ,otidianas $eois vinham os ro+lemas %s erg!ntasH!e era !ma m!lher não havia dKvida. em+ora o ser desenteado e vagamente s!o re,4m-deserto a olhasse !m tanto asse8!ado do *!ndo do eselho Con,retiAada a rimeiraa*irmação ;o! *ato. ,omo diria mais tarde aos al!nos do seg!ndo ano rimário> -,on,retiAada arimeira a*irmação. ,omo ia diAendo. ela a*irmava-se e ,!mria-se em m!lher. assando emseg!ida seg!nda H!e amava 5i+erta do entore,imento do sono =!e a erseg!ia at4 então.en,arava-se antiatiAada ,onsigo mesma H!e amavaB Pedra no ,aminho. a interrogaçãoa*aAia troeçar !m o!,o deseitada @ão ,om a edra nem ,om o troeção. =!e edrassemre havia e troeçes eram *atais. mas ,om não oder assar adiante. sa,!dindo a oeirado vestido e a,ari,iando rováveis arranhes 5avava o rosto. *aAendo-se mais e maisinteligente medida =!e se desia dos a,essrios do sono (esd!os nos olhos. *ios de ,a+elo*ora do l!gar. gosto r!im na +o,a T ,om sa+onete. ág!a. asta e es,ova de dentes ela oseliminava !m a !m ' em saga,idade. ,res,ia Ca+elos erg!idos n!m ,o=!e. =!ase gênio.voltava a*irmação H!e amava Pois a*irmara e não aenas. modesta. indagara Passava ao!tras oeraçes /atinais. *emininas @o ,oro. a=!ela =!ase idiota sensação de s!eira =!eo sono dei8ava &entia-se imoral ao a,ordar In,est!osa Prin,ialmente =!ando sonhava,onsigo mesma %h ho!vesse !m eito de dormir ,omletamente s. sem a ,omanhia se=!erde si mesma @ão havia In,est!osamente. então. deitava-se s deA da noite ara a,ordar sseis da manhã #ito horas e8atinhas ^s veAes detinha-se e ensavaD antil!nar o me! sistemaH!ando deitava. a l!a ainda não tinha vindoE =!ando a,ordava. á *ora em+ora Carregavaesada e magoada !ma l!a vista aenas or dentro H!e amava a l!aB #+sessiva. voltava edra )alveA des,o+rindo =!e lhe entrara no saato Por =!e não ogá-la longe de veAB H!eamavaB 'm resosta. mirava-se tri!n*ante no eselho. +o,a intada. ,a+elo enteado. seioseminados. e totalmente ass!mida em m!lher agamente desgostosa tri!n*o m!r,hando navistoria do ,oro -a=!i entre ns. diAia-se. =!ase inde,ente na intimidade ,onsigo mesma -a=!ientre ns. !m tanto assado FranAia as so+ran,elhas. dis*arçava a raiva esiando ela anela

# sol ainda não viera ' sem l!a nem sol ela estava soAinha no +anheiro 'starevelação a *eA +a=!ear !m o!,o /eio tonta ,om a solidão e a +ran,!ra do momento)r?ega. +!s,o! aoio na e8tremidade da ia. =!e resonde! *ria e ass4ti,a ao edido dea!da #lho! ara a orta. e se então tivesse sado teria es,aado /as *i,o! Ferindo a simesma e or si mesma sendo *erida Com o rete8to de lavar as mãos. molho! os !lsos. semadmitir a tont!ra T =!e s veAes tinha esses !dores ntimos

(e,!erada. volto! erg!nta H!e amavaB Com *ri,otes de namorada. *ingia não=!erer resonder. não =!erer sa+er -=!e amavaB $idáti,a. e8li,o!-seD amar. ver+o transitivodiretoD =!em ama. ama alg!ma ,oisa #! alg!4m. ,omleto! %naliso!-se. voltando a*irmação do in,io -=!e era !ma m!lher e amavaD 1> H!e era !ma m!lherE 2> H!e amavaD a>

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alg!ma ,oisa o! +> alg!4m # ronome inde*inido ,olo,o!-lhe !m arreio de*inido emelan,li,o na esinha )eve =!e s!+stit!i-lo or o!troD ning!4m avia. ,erto. vagos eavermelhados ro*essores do ,ol4gio onde le,ionava avia viAinhosB e homensB ' viAinhos ehomens. havia ' rin,ialmente !m namorado de adoles,ên,ia a =!em. reg!içosa.es=!e,era de amar -ossi+ilidade de alg!m so*rimento relegada em *otogra*ia Kltima gavetada es,rivaninha ' ,ont!do. amava 5eviana. o+etiva. esalhava se! amor so+re os mveisolidos ,om ,!idado. o assoa lho en,erado. as ,ortinas lavadas. =!e s!a ,asa era !m +rin,o %imagem lem+ro!-lhe as argolas de o!ro há temos es=!e,idas o! +otar hoe. de,idi!

' en,aro!-se Iml,ito no olhar. o edido de des,!las or ermitir-se =!elae8travag:n,ia Pedido de des,!las logo trans*ormado em olhar de revolta %*inal. não tenho odireito de !sar o =!e 4 me!B )eatralD e or =!e raios não saio logo deste maldito +anheiroB%,res,ento! o adetivo ara ver se sentia !m o!,o de raiva /as o +anheiro. +ran,o. limo.,om aA!leos. sais e sa+onetes en*ileirados nas rateleiras -o +anheiro não era nada odiávelCom se! dio re,!sado esando or dentro. interrogo!-seD =!e-=!e e! tenho hoe % erg!ntasoo! sem onto de interrogação (esiro! *!ndo e reeti! em voA altaD =!e-=!e e! tenho hoeB

'ntão vi! %ntes =!e tivesse temo de terminar a erg!nta. ela vi! )ento! dis*arçarlem+rando =!e se! nome -Irene -era de origem grega e signi*i,ava X/ensageira da PaAX. virano %lmana=!e /!ndial de &eleçes na noite anterior. antes de dormir 5indo lindo lindo-adetivo! três veAes em lento :ni,o )ão lento =!e não atino! ,om desir-se inteira do =!eat4 então vira ara sair n!a e ,ega do +anheiro # ensamento dava voltas devagar. ela !lgo!o!vir !m ,anto de ,riança longe )ão longe =!e oderia ser tam+4m !ma ,anção de ninar"o+a. sorri! )oda enleada na vis,osidade dos ensamentos. e8atamente ,omo !ma mos,a sede+atendo +ê+ada. deli,iada e a*lita. n!ma armadilha de mel /as os min!tos assavamen=!anto s!a ossi+ilidade de li+ertação dimin!a ,ada veA mais %lheia rria erdição elaa*!ndava. Irene. em+eve,ida ' se não sasse agora. á. e8atamente nesta nota deste ,antona=!ele assarinho da=!ela árvore ali de *ora. se não sasse agora estaria erdida Imvel.Irene não o!vi! o aelo do ássaro ' sem ter o!tro rem4dio. relegada a si rria. Irene vi!

(edonda. amarela. tentadora - a esinha +rilhava na onta do nariA Passado o rimeiroesanto. o gesto *oi de !dor Como se s!a *a,e e8i+isse !ma o+s,enidade. !m o!tro rgãose8!al ainda mais ,a+el!do e mais o,!lto Como se a =!ieta resença da esinha violentassealg!ma ,oisa no dia /as ,orrigi! esse rimeiro gesto. e ,ontemlo!-a novamente # seg!ndomovimento *oi de org!lho Como nas,era de si esinha tão er*eitaB '8amino!-se,ons,ien,iosa da ,a+eça aos 4s. e =!ando torno! a erg!er os olhos o maravilhamento *oiainda maior 'ra realmente !ma +ela esinha $e !ma +eleAa geom4tri,aD e8ata na,ir,!n*erên,ia. dis,reta na ,or. *ormando dois :ng!los de =!arenta e ,in,o gra!s ,om asa+ert!ras do nariA Irene lem+ro!-se de ,omará-las s o!tras esinhas de s!a vida /asa=!elas. al4m de o!,as. tinham se! ha+itat nat!ral em s!as ,ostas. l!gar ina,essvel aosolhos 5ogo tam+4m o desl!m+ramento desestr!t!ro!-se. rolando em indagaçes elo rostoa+ai8o ComoB H!andoB Por =!êB @a noite anterior. ao lavar o rosto. não vira se=!er anKn,ioda esinha ' hoe. min!tos a*io re,omondo-se. ainda não er,e+era nada ' se! rostosemre limo. revenindo a,onte,imentos dessa es4,ie ' s!a idade mad!ra. s!erandoesses ro+lemas adoles,entes )odas as erg!ntas tinham resosta /as a esinha,ontin!ava %lheia s investigaçes. atenta aenas a se! rrio amad!re,er )eria ,res,idod!rante a noiteB &eria aenas !ma esinhaB &eria !m *erimento in*lamadoB &eriaB @ovamente

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Irene amaldiçoo! as esinhas de o!trora. nas,idas semre nas ,ostas. e. ortanto negando-lhe!m event!al rearo ara en*rentá-las

'ntão. esgotadas as dKvidas. as hiteses. as erg!ntasE esgotada s!a rriaresistên,ia. ela ,ai! no ,r,!lo ro*!ndo =!e desde o in,io evitara $entro de si. olho! ara tráse vi! s s!as ,ostas os dias anteriores a,!m!lados Rma ilha inKtil. dis,os *ora de moda.revistas velhas. +ad!la=!es ' vi! dias agr!ando-se em semanas. em meses. em semestres.em anos. em d4,adas de ,ima da=!ela ir:mide =!arenta anos a ,ontemlavam )ento! ver-lhes as *a,es. ,!rvo!-se !m o!,o. e mais. e mais ainda $esne,essário es*orço %s massasin*ormes não oss!am *eiçes @ão haviam assado or elas as ,oisas =!e geram r!gas.vin,os. sorrisos. e8resses Cheiros não haviam *eito vi+rar a=!elas narinas &a+ores nosatingiam a=!eles aladares. imagens assavam in,gnitas elos olhares *i8os. sonsdes*aAiam-se em ,ho=!e e oeira ,ontra o!vidos 4treos. ,ontatos erdiam o sentido =!elesdedos *rios H!arenta monstrengos *ormados ,ada !m de in*inidades de o!tros a o+servavam.inertes )ento! des,o+rir !m visl!m+re de dio nas e8resses @em isso &em soli,itaçes o!e8e,tativas. eles ag!ardavam # =!e. de!s. o =!êB Pois se amava Pois se distri+!a se!amor or todas as ,oisas ,om =!e ,onvivia Pois se so*ria Pois se veAen=!ando ,horava semsa+er or =!ê

Pois se não via a l!a Pois se tinha ena das ,rianças o+res na es,ola Pois seen,arara a esinha Intensa na rria de*esa a,!m!lava aten!antes. !sti*i,ando-se a*litaConto! des,!las nos deA dedos das mãos a+ertas em *rente ao eselho @ão satis*eita.re,orre! aos dos 4s (e,orreria a o!tros. se mais tivesse %s des,!las se a,!m!lavam meentende. e! não =!is. e! não =!ero. e! so*ro. e! tenho medo. me dá a t!a mão. entende. or*avor '! tenho medo. merdaU

$evagarinho. dei8o! os om+ros ,arem Com a mão. a*asto! da testa os ,a+elosmolhados # grito ressoara *orte no +anheiro. e,oando elos aA!leos ara ,alar o ássaro lá*ora # ássaro =!e havia o!,o *ora s!a ossi+ilidade de salvação (e,!sada &a,!di! a,a+eça. *!riosamente a*astando ensamentos H!e era !ma m!lher e amava. =!e era !mam!lher e amava.=!eera!mam!lhereamava=!eera!mam!lhereamava=!eera!mam!lhereamava *oi reetindo ereetindo at4 li+ertar-se de t!do %+ri! os olhos. en,aro!-se Feminina. amorosa. deli,ada.levo! os dois indi,adores at4 o nariA e s!avemente esreme! a intr!sa $eois ,aminho! at4 a,oAinha e servindo-se de ,há na 8,ara rosada olho! ,om esanto o relgio -Como 4 tarde.me! de!sU Pre,iso me aressarU %resso!-se então. a +o,a ,heia de ão ,om manteiga. aomesmo temo em =!e se imaginava na roda do ,a*eAinho ,ontandoD -Imagina. Clotilde. hoeme a,onte,e! !ma ,oisa tão engraçadaU

/as tão engraçada. reeti! em voA alta no meio da ne+lina. argolas do!radas nasorelhas. a r!a vaAia &ai! ,orrendo ara egar o +onde &entada. a,ari,io! medrosa a onta donariA

@ão *i,ara nenh!m sinal

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FUGA

Para Cecília 1isemblat 

'les tinham seis anos de idade e iam *!gir !ntos 5ento. o menino en*io! o ião no+olso. s!a Kni,a osse. e en,aminho!-se ara a orta $e dentro ,hego! a voA da mãe n!mrenKn,io de re,lamação está =!ase na hora do antar. onde 4 =!e vo,ê vaiB @ão resonde!'m silên,io. ,omeço! a ,on,retiAar o =!e há dois dias se desenrolava dentro dele %seg!rança da ,oisa ,onstr!da em imaginação d!rante horas de =!iet!de emrestava a se!sassos !m re,isão at4 então in4dita. ermitindo-lhe a a!dá,ia de não resonder. ignorandoevent!ais almadas # trin,o =!ase ma,h!,o! a mão no ato de *e,har a orta. mas ele á,omeçava a ,riar das ,oisas =!e *ormavam Xo =!e *i,avaX ' o =!e *i,ava era tanto =!erati,amente não tinha nada al4m deD !m ião no +olso e !ma id4ia na ,a+eça

# morrer do sol ,olo,ava !ma ,or tam+4m de *!ga nas ,asas. nas ,oisas. nas essoas=!e ,r!Aavam n!ma melan,olia de anoite,er 'm +reve as som+ras se a*irmariam em es,!ro eele não estaria mais ali % id4ia oderia =!e+rá-lo or dentro. or=!e era d!ro de reente nãoestar mais n!m l!gar /as ele nem se ma,h!,ava. há tanto á adivinhara os movimentosinteriores revenindo os re,eios. re,avendo-se ,ontra a s4rie de sentimentaloidi,es =!e seamontoariam +r!s,as so+re se! ,oração de seis anos de vida Por tanto. estava rearado$entro do temo =!e vivera. dois dias era !ma longa rearação de es=!e,imento =!e seim!sera ,om m4todo. re,!sando tern!ras. ,omida na +o,a. ,a*!n4 antes de dormir 'stavatodo delineado ' *!gia

Caminhava devagar. a ,oisa reme8endo-se ,om gosto dentro dele @!m es=!e,imentode =!e era insida. =!ase estalava a lng!a de !ro raAer /ãos nos +olsos. ,a+eça +ai8a.ah n!n,a se sentira tão de*initivo 'ra se! rimeiro ,rime. e tão longamente remeditado =!enão havia esanto nem temor Como !m ro*issional da *!ga. ia indo ela ,alçada ,omrida.rente ao m!ro # sol esi,hava s!a som+ra ara trás. veAen=!ando ele se voltava ara ver seela ainda o a,omanhava %inda '8ressava se! alvio em *orma de s!siro. e rosseg!iaPermitia-se aenas esse medo. o de estar soAinho /as a=!ela som+ra imensa e a,hatada,ontra o ,imento não dei8ava de ser !ma seg!rança. em+ora dis*ormePego! !ma edrinha +ran,a e ,omeço! a ris,ar o ,alçamento $eois en*io!-a no +olso. n!masa+edoria de ,oisa de,ididaD oderiam seg!i-lo atrav4s do ris,o *ino. irreg!lar %inda maisseg!ro. olho! =!ase vesgo de satis*ação ara !ma senhora ,om a +olsa grávida de ,omras %m!lher en,aro!-o ,om des,on*iança 'le aro!. o medo se trans*ormando em desa*io nosolhos =!e meio *!ravam a nat!reAa da m!lher &!sensos no meio da tarde. mediam-see8e,tantes Penso! em ,orrer. deois ri! !m risinho ,ni,o =!e arendera na televisão -elanão sa+ia de se! ,rime 'ntão esero! %t4 =!e a m!lher a+ri! a +olsa e estende!-lhe dois+is,oitos "al+!,io! !m agrade,imento de esanto ,om tanta ino,ên,ia h!mana e en*io!-os no+olso. !nto ,om a edrinha +ran,a % silh!eta da m!lher morria na es=!ina =!ando ele seinterrogo!. n!ma rimeira in,omreensão &ara de ,asa aenas ,om o ião. agora á tinhadois +is,oitos. !ma som+ra. !ma edrinha +ran,a e !m a,onte,imento F!gir não era então irse desoando de ,oisasB @ão entende!. mas o oste =!e mar,ava longe o l!gar do en,ontros!sende! a dKvida Preo,!ado. en,aminho!-se ara lá

@ão via a menina Corre! ara o oste. investigo! as essoas =!e assavam masnenh!ma tinha eito-de-menina-=!e-ia-*!gir Coço! a ,a+eça @!m des:nimo. eserar

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%,omodo! a irritação no meio-*io. tiro! as osses do +olso Começava or !m +is,oito. deois+rin,ava ,om o ião. deois o o!tro +is,oito. deois desenhava no ,hão ,om a edrinha+ran,a. deois ensava na ,oisa a,onte,ida $etestava a imrovisação. or isso *i,o! !mo!,o a+alado ,om a a!sên,ia da menina e teve =!e lanear açes em =!e não haviaensado Começava a des,on*iar seriamente da honestidade do se8o oosto %,!m!lo! !ms4rie de =!ei8as =!e a+alaram o restgio da menina. e rearava-se ara ensá-las =!ando o+is,oito so+re a ,alça *eA !m eito *as,inante. assim meio edindo ara ser ,omido avia-sere,!sado tantas ,oisas nos Kltimos dois dias =!e g!ardava mesmo !m o!,o de *ome*ormando !m esaço +ran,o no est?mago (omendo ,om o laneamento. devoro! voraA osdois +is,oitos. deois mist!ro! edaços de !nhas aos *arelos restantes H!ase sa,iado. giro! oião de leve no ,imento Rm menino =!e assava olho! *i8o. inveando 5em+ro! daimont!alidade da menina e erg!nto! o+etivoD

- H!er *!gir ,omigoBIne8eriente dessas ,oisas. o o!tro arregalo! os olhosD- H!êB- H!er *!gir ,omigoB- Pra ondeB- @ão sei ainda H!al=!er l!gar- Pode ser ên!sB- Pode- ' Gotham CitB- Pode- ' e ;a geogra*ia *alhava>- H!er o! não =!erB- @ão sei. o =!e 4 =!e vo,ê me dá se e! *!gir ,om vo,êB # menino investigo! as osses des*al,adas Per,e+e! o +rilho de ,o+iça nos olhos do

o!troD- # ião H!erB# o!tro *eA ,ara de dKvidaD- &ei não Isso restaB- H!er o! não =!erB ;XS egar o! largarX. diAia o gangster na televisão>- H!ero'stende! a mão # menino *eA !m movimento es=!ivo de dissim!lação- %gora não & deois =!e a gente ,hegar lá- 5á ondeB- @o l!gar. ora- H!e l!garB- # l!gar ara onde agente vai *!gir - /as vo,ê não disse =!e não sa+e onde 4B- $isse- 'ntão ode levar anos- ' daB- $ai =!e e! =!ero o ião agora$esa,ost!mado a arg!mentar. estende! o ião %ntes =!e !desse *aAer =!al=!er

gesto. o o!tro á ai longe. risada do+rando a es=!ina. o ião ro!+ado. a romessa não

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8/13/2019 CAIO FERNANDO ABREU - Inventário do ir-remediável

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,!mrida )odo magoado ,om a desonestidade alheia volto! a ensar na menina'n,aminho!-se ara a ,asa dela "ate! devagar na orta % mãe da menina esio! ela

 anela- % 5!,inha estáB- @ão Foi no aniversário da menina a=!i ao lado/eio =!e troeço! no ineserado da ,oisa $evia ter *i,ado álido. or=!e a mãe-da-

menina-=!e-ia-*!gir do+ro!-se ara ele. erg!ntando se estava sentindo alg!ma ,oisa 'stava/as ,omo des,onhe,ia a=!ela onda verde +em ,laro =!e se =!e+rava in,omleta dentro dele.não teve alavras ara e8li,ar

$isse não. não tenho nada. e *oi saindo de ,a+eça +ai8a 3á não s d!vidava damenina. mas rin,ialmente de si rrio Pare,ia-lhe !m o!,o ,!la s!a a=!ele amontoadode desen,ontros $e deA min!tos ara ,á a,onte,iam ,oisas tão in,omreensveis =!e estava=!ase desistindo Por !ma =!estão de dignidade. +ate! na orta da ,asa de menina-=!e-estava-de-aniversário. =!e aare,e! de vestido ,or-de-rosa erg!ntando se ele tinha traAidoresente 'le desentende! !m o!,o mais. ainda assim *eA voA *irme e edi! ara *alar ,om amenina-=!e-ia-*!gir Com o maior ,inismo do m!ndo. ela +roto! de reente d!ma n!vem de+a+adinhos. a ,ara lima. o ,a+elo enteado ,om !ma *ita -ela. a *alsa. =!e vivia ,om os *iosna +o,a /ais graveD !m ,oo de g!araná e !ma ,o,ada nas mãos @!n,a a vira tão 5!,inhaem toda a s!a vida

)eve vontade de dar !m tiro nela /as estava tão desarmado =!e s ,onseg!i!erg!ntar ,om voA meio irreg!larD

- o,ê não ia *!gir ,omigoB- Ia -disse a menina mordendo a ,o,ada ' aiU # esaço +ran,o da *ome ,intilo! dentro

dele- 'serei vo,ê at4 agora Por =!e =!e vo,ê não *oiB- Por ,a!sa do aniversário. !4- ' o =!e =!e tem issoB- )em =!e *!gir a gente ode todos os dias. mas aniversário 4 s de veAen=!ando)inha sele,ionado !ma orção de adetivo eorativos ara ogar em ,ima dela. mas o

rete8to era de !ma lgi,a tão irre,!sável =!e ele *i,o! arado !ma orção de temo. sentindoo t!do =!e rearara lento em dois longos dias de meditação ir-se des*aAendo ,omo a ,o,adana +o,a da menina

'la olhava ara ele. ele ensava na *rase. ensava. ensava. ai. o esaço +ran,oa!mentando or dentro. !ma +aita raiva da menina. da m!lher =!e dera os +is,oitos. domole=!e =!e *!gira ,om o ião. vontade de +ater neles todos o!. na imossi+ilidade. saatearat4 *i,ar ro8o e a mãe ,hamar o m4di,o n!m s!sto /as os +ar!lhos da *esta ,res,iam ládentro. o sol morrendo do!rava ainda mais o g!araná. o esaço em +ran,o a!mentava at4 onão-s!ortar-mais Inde,iso ainda. viro! o 4 leve no ,hão %t4 =!e dei8o! de lado o !dor eerg!nto!D

- &erá =!e ela dei8a e! entrar sem resenteB

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INVENTÁRIO DO IR-REMEDIÁVEL

Para Carlos >ugusto Crusius

Foi de reente =!e o ,igarro =!eimo! os ,a+elos dele 5evantamos os olhos. nosen,aramos tensos. =!ase em dio. =!ase em amor. na=!ela reressão +eira de alg!ma ,oisa=!e oderia ,ond!Air a =!al=!er gesto. mesmo ao homi,dio /as sorrimos. e *oi deois =!et!do =!e+ro! 3amais voltamos entrega mesma de antes e a!sên,ia de soli,itaçes e a,eitação sem +arreiras Foi de !m de ns =!e arti! a morte. o! ela á nas,ia invol!ntária,omo a madr!gada or trás dos vidrosB

#lha em torno. o vaAio do olhar *!ndindo-se ,om o vaAio da sala %s essoas. más,arasend!radas em ,oros. o ,olorido das ro!as gritando alto ,omo se !desse emrestaralg!ma individ!alidade ao =!e não era se=!er som+ra # ar esado de *!maça dos ,igarros%erta nas mãos a ,ai8a de *s*oros vaAia $ei8ara o tele*one do +ar. o endereço. a hora =!eestaria ali Rm detalhado roteiro. *eito dissesse dissim!lado esto! eserando. vo,ê ode meen,ontrar %h ,omo doa manter-se assim disonvel. ,omletamente em +ran,o ara aro,!ra @ão ,onseg!e *i8ar-se em nada %s *a,es ine8ressivas. as aredes +ran,as ondenão há se=!er =!adros. a toalha vermelha da mesa -t!do em ordem atrás da aarentedesordem Rma ordem interna. im!tável. solidi*i,ada H!ase odeia os risos =!e +rotam sK+itosdos ,antos Por =!e lhe 4 negada essa ossi+ilidade de entrega ao =!e está sendoB Por =!e aesera. se a esera não o ,a+e maisB & o ar denso. aA!lado de ,igarros *!mados ' o vaAioda ,ai8a de *s*oros '8amina o relgio. mas não vê as horas. não vê nada &e! ensamentolatea reso n!ma imagem determinada H!ase não ode roetá-la ara *ora de si. ,on,retiAá-la em visão ' o vê a+rindo lento a orta.investigando em tomo. de reente erg!endo asso+ran,elhas n!m gesto de =!em re,onhe,e 'ntão se en,aminharia devagarinho at4 a mesa.vestido de aA!l -não sa+e or =!e. n!n,a o vi! de aA!l. não sa+e mesmo se e8iste a=!ele,asa,o ogado so+re os om+ros & vê !ma man,ha aA!l e o rosto desta,ado em indagação#s olhos Como se dissessemD *ala FalariaB # =!êB % orta se a+re. ,ortando o ensamento$o+ra-se em :nsia. =!ase vira os ,oosD !ma m!lher de verde. nariA grande. ar de si,logaem +!s,a de material ira ara a o!tra mesa. ede !m *s*oro

'! não ro,!rei. não insisti Contive t!do dentro de mim at4 =!e ho!vesse !mmovimento =!al=!er de a,eitação H!ando ho!ve. ,edi % s!a ,a+eça esava no me! +raço'le estava +ê+adoB 'stava ,ansadoB '! era aenas !m +raço onde ele de+r!çava a s!ae8a!stãoB 'le se indagava se e! o re,e+ia ,omo re,e+eria =!al=!er ,ansaço h!mano o! sa+ia=!e e! estava tenso. na esreita. dila,eradoB #s o!tros dois dançavam no meio da sala @ãoviam o! não =!eria. ver o! não havia nada ara verB # ,oro de 5dia era ag!do ,omo !ma*le,ha %=!ele ,ontato era remeditado o! o,asionalB

%s indagaçes esavam sem resosta. e n!ma l!,ideA deseserada e! n!m reenteassimilava todos os detalhes. disse,ava o =!e a,onte,ia em torno ,omo se tivesse mil olhos.envelhe,ia ,omo a noite lá *ora. virando madr!gada. a l!A *ra,a -e! t!do ,omreendia. t!dosa+ia /enos a=!ela ,a+eça esando no me! +raço H!e es4,ie de +!s,a o levara =!elegestoB /e =!e+rava or dentro. a ,a+eça a*!ndando ,ada veA mais no me! ,oro. e! negava.*!gia. tenso. o ,igarro morto nas mãos. a ,inAa ,aindo so+re o taete

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'les dançavam há m!ito temo. m!ito temo ' e! morria % ,a+eça dele se movimentava. s!a+o,a esmagava me! +raço Fe,hei os olhos e a*!ndei os dedos nos se!s ,a+elos

'rg!e-se de !m salto o!vindo o to=!e do tele*one 'sreita a se,retária levando o *oneao o!vido 5entamente. a,omanha os olhos da se,retária vagando em torno. ine8ressivos$eois ela ,hama or o!tro nome @ão o se! # tamo verde da mesa re,e+e os se!s +raçose o eso da ,a+eça %+re !ma gaveta toa. a4is mist!rados. enveloes. ,artas =!e nãodiAem nada. não traAem nada

'salma as mãos so+re o te,lado da má=!ina "ate. leve Podia es,rever !m oema@ão (e,!sa mesmo essa es4,ie de alvio @ão =!er a ,or Pre*ere o dila,eramento ,ada veAmais intenso. mais insol!,ionado Pre,isa so*rer e morrer m!itas veAes or dia ara sentir-sevivo Chegara ,onstatação de =!e era s. Wni,o. e =!e devia +astar-se a si mesmo. e

 !stamente or isso re,isava de !ma o!tra essoa #s grãos de areia n!n,a se to,am/esmo =!ando !ntos há entre eles !ma es4,ie de ,araaça =!e não os dei8a to,arem se3amais !m nK,leo to,a o!tro nK,leo % terra 4 aA!l. os olhos eram aA!is. ele vestiria aA!l-dentro de m!itos aA!is ,on,êntri,os. ele voltaria a se erder Rm ,erto raAer em sa+er-seassim solto. assim erdido entre as ,oisas. assim ,ontendo !m mal-estar =!e ning!4m sa+eriade =!ê # ti,-ta, das má=!inas de es,rever # sol ,oado elas ersianas Rma +re,ha de l!Aem ,ima da mesa % som+ra de se! er*il na arede %massa várias *olhas de ael. oga-asno ,hão. gesto +r!s,o o,ê sa+e =!e vai ser semre assim H!e essa =!eda não 4 a KltimaH!e m!itas veAes vo,ê vai ,air e hesitar no levantar-se. at4 !ma r8ima =!eda Pre*ere ogar-se n!ma atit!de =!e seria teatral. não *osse verdadeira. sentir os esinhos rasgando ,arne. asedras entrando no ,oro. o rosto esati*ado ,ontra o *im des,onhe,ido Pre,isa ir at4 o *!ndo

G!ardo! vários dias o er*!me dos ,a+elos dele nos êlos do rrio +raço Como !madoles,ente %gora s vê !m +raço deserto. a !lseira reta do relgio s!+linhando a Aona do!lso % arede em *rente ,heia de *otogra*ias %rran,a todas. vai i,ando em edaços ,adaveA e ,ada veA menores &olta devagar no ,esto de li8o G!arda !m entre os dedos 'sia@!m *!ndo inde,iso. resta !m olho a o+servá-lo %A!l

Foi na seg!nda veA =!e sentei no ,hão Carlos dormia 5dia desenhava # ,oo estava=!ase vaAio Foi então =!e ele sento! erto de mim %s mãos s!stentavam a ,a+eça %osição devia ser in,?moda -o ,oro aoiado em meio so+re o assoalho. a ,a+eça no ar. os4s no ar '! tremiaB @ão &entia minhas rrias !nhas *!rando as almas das mãos. masme! ,oro estava seg!ro. em riste # rimeiro to=!e *oi dele %s mãos ,omrimiram minhasernas $eois. !ma das mãos li+erto!-se avançando em *orma de tern!ra @os se!s ,a+elos.as minhas mãos iam e vinham. adivinhando a tessit!ra 'ra noite. ainda # rit!al á *ora,!mrido P!8o!-me ara si. os nossos ,oros oostos no assoalho. d!as lanças aontando!ma ara a o!tra ' de reente nos *erimos Com a +o,a &enti se!s lá+ios nos me!s. osdentes se ,ho,ando. as mãos =!e seg!ravam me! rosto. investigavam me!s traços. e! nas,iaor dentro. =!ase gritava. tentávamos desvendar !m ao o!tro. mas não amos al4m datentativa. . =!e á se *aAia angKstia em s!as mãos ,omo esinhos. s!+indo or me! ,orointeiro. +!s,a tensa @ão. não era amor. não *oi amor )!do e8lodia n!m lano m!ito maisalto. m!ito mais intenso @os desvendávamos ,om a *Kria dos =!e ante,iadamente sa+em=!e não vão ,onseg!ir amais

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%lg!ma ,oisa morria em mim na=!ela ro,!ra de meta inatingvel. des,onhe,ida -en!m temo mesmo algo nas,ia de reente. !8ado não sei de =!e desvão. de =!e som+rao,!lta. de =!e ar,a *e,hada. ,o+erta de oeira. a+riam-se ortas em mim. anelas =!e+ravam.estilhaços saltavam. edaços de vidro me ,ortavam sem iedade. á não via a noite. o dia. otemo. o esaço onde estávamos. vagávamos no ,osmos o! estávamos resos n!ma es*era,onhe,idaB e! não sa+ia. e! morria. e! nas,ia s!,essivamente. em desesero. e!,omreendia sK+ito @ão. não era amor 'ra terror

$es,e do ?ni+!s. al,ança a es,ada rolante # dia morre no *im da avenida =!e seesalha nas nas,entes da galeria #s degra!s s!+indo em lenta as,ensão ai al4m deles.,orre ven,endo a má=!ina % r!a ainhada de gente e ,arros %s +!Ainas em lo!,!ra #sanKn,ios l!minosos ,omeçam a a,ender. inde,isos %s l!Aes dos ostes %travessa a r!a,orrendo # a!tomvel *reia Pessoas aram. s!sensas. atentas a !m a,onte,imento =!e=!e+raria sK+ito o estáti,o do momento 3!nta os livros no ,hão. al,ança a ,alçada. =!ase,orre. es+arra. vira a es=!ina. o*ega. a s!+ida e gotas de s!or no se! rosto 'ntra no edi*,io# Aelador lê !ma *otonovela %lg!ma ,oisa ara mimB erg!nta H!êB %lg!ma ,oisa ara mim@ão erg!nta mais. a*irma. sa+e =!e tem %h sim. !ma ,arta 'stende o enveloe esado de=!e angKstia. de =!e e8li,ação. de =!e riso talveAB #lha o remetente. amassa em desalento oaoio =!e não =!er. =!e não +!s,a. =!e não esera

@ing!4m me ro,!ro!B @ão @ing!4m %erta o +otão do elevador Pelo ,orredor vaidesa+otoando a ,amisa. tira o alet. a gravata. a*ro!8a o ,into %+re a orta 'sia. os olhosmeio estrá+i,os no medo de ver o +ilhete =!e não e8iste so+re o assoalho vaAio 3oga asro!as n!ma ,adeira %ia o ,oro na anela %,ende !m ,igarro 'sia a r!a. as essoas. anoite =!e se ,!mre mais !ma veA 5iga o rádio @ão o!ve a mKsi,a #s olhos se t!rvam. ordentro !ma ,oisa aerta n!m eito de =!em estrang!la @ão ode gritar %s aredes sedo+ram. *remem. renhes de ironia

&!sira '8a!sto

@ão =!eria. desde o ,omeço e! não =!is $esde =!e senti =!e ia ,air e me =!e+rarinteiro na =!eda ara deois restar in,omleto. destr!do talveA. as mãos desertas. o ,orolasso F!gi '! não +!s,aria or=!e ,onhe,ia a =!eda. or=!e á ,ara m!itas veAes. e em,ada veA restara mais morto. mais inde*inido -e seria re,iso reestr!t!rar verdades. seriare,iso ir ,onstr!indo tRdo aos o!,os. e! temia =!e me!s instr!mentos se revelassemre,ários. e =!e nada e! !desse *aAer al4m de ,eder /as no meio da *!ga. vo,ê a,onte,e!Foi vo,ê. não e!. =!em +!s,o! /as o dila,eramento *oi s me!. ,omo s me! *oi odesesero H!e es4,ie de ,oisa o ,igarro =!eimo!. al4m dos ,a+elosB &ei =!e *oi mais *!ndo.mais dentro. =!e nessa ignorada dimensão rome! alg!ma ,oisa =!e estava em mar,ha '!=!is tanto ser a t!a aA. =!is tanto =!e vo,ê *osse o me! en,ontro H!is tanto dar. tantore,e+er H!is re,isar. sem e8igên,ias ' sem soli,itaçes. a,eitar o =!e me era dado &em iral4m. ,omreendeB @ão =!eria edir mais do =!e vo,ê tinha. assim ,omo e! não daria maisdo =!e dis!nha. or limitação h!mana /as o =!e tinha. era se! % noite !ltraasso! a simesma. en,ontro! a madr!gada. se des*eA em manhã. em dia ,laro. em tarde verde. emanoite,er e em noite o!tra veA Fi=!ei o,ê sa+e =!e e! *i=!ei ' =!e *i,aria at4 o *im. at4 o*!ndo H!e a,eitei a =!eda. =!e a,eitei a morte H!e nessa a,eitação. ,a H!e nessa =!eda.

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morri )enho me ,arregado tão erdido e esado elos dias a*ora ' ning!4m vê =!e esto!morto

%+re devagar o armário do +anheiro # eselho re*lete !ma *a,e de +ar+a não *eita.olheiras *!ndas. leve ,ontração nas so+ran,elhas %+re o a,ote de l:minas. retira !ma. vaiamassando aos o!,os o ael &enta na +eira da ,ama. o aço nas mãos

'8amina a ,i,atriA á antiga. !m simles *io no !lso %erta&ente as !lsaçes # *rio da l:mina entre os dedos % ,i,atriA. lem+rança de !ma

o!tra =!eda $o aartamento ao lado ,hegam os sons des*eitos de algo =!e devia ser mKsi,aRm vento inde,iso de madr!gada entra ela anela 'stá sentado na ,ama. ,oro n!. 4sdes,alços. ,ostas ,!rvas % l:mina vi+ra entre os dedos @enh!m ensamento & esera%tenção *i8a em si mesma $o+ra os om+ros. ,omo se ,horasse ' não ,orta 3oga a l:minaela anela. vai-se ,!rvando ara si mesmo #s +raços se ,r!Aam. enlaçam os oelhos. a,a+eça a*!nda entre as ernas @ão ,hora se=!er @o ,inAeiro. o ,igarro es=!e,ido =!eimaRm *ino *io de *!maça so+e aos o!,os inde,iso. adensando o ar =!e se en,he de olhos. demãos. de gestos in,omletos. voAes veladas. alavras não *orm!ladas &em ,omreender.vaga entre a *!maça e tom+a Como !m ,ego. vendo aenas ara dentro

o ano se desrende desse teto es,!roe o <umo se eleva sobre a rosa:

) $ora dá?me a tua m%oe vem comigo !elo es!a0o"

5K,io Cardoso

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