café e pobreza

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APRESENTAÇÃO Em abril de 2002, a campanha Comércio com Justiça, que trata das relações entre o comércio e a pobreza, foi lançada mundialmente pela Oxfam Internacional. A iniciativa prosseguiu em setembro, quando veio a público a campanha O que tem no seu café? - um esforço conjunto da Oxfam, Contag e CUT, com a colaboração do Observatório Social - para desvendar os motivos da crise na atividade cafeeira e dar voz aos que mais sofrem com a desregulamentação dos produtos primários. Nos últimos anos o setor do café vem sendo dominado pelas empresas transnacionais, trazendo conseqüências negativas para os agricultores familiares e os assalariados rurais. Nesta perspectiva, a campanha no Brasil tem como objetivo um maior entendimento da cadeia produtiva do café. O início desta etapa pode ser conferido nesta publicação, elaborada em conjunto com a Coalizão do Café, que é uma iniciativa de organizações holandesas. Trata-se de um estudo sobre a multinacional de origem norte-americana Sara Lee e sua atuação no Brasil, mais especificamente no segmento do café. Os principais objetivos são levar ao conhecimento público um perfil resumido da corporação, com ênfase na avaliação sobre a sua responsabilidade social na cadeia produtiva; e fornecer subsídios para que os trabalhadores organizados planejem as estratégias de defesa dos direitos dos pequenos cafeicultores e assalariados rurais, em âmbito nacional e internacional. Gigante no mercado mundial de café, a Sara Lee ocupa a liderança do mercado do Brasil, que por sua vez é o maior produtor mundial. A corporação atua em 55 países, emprega 155 mil trabalhadores e fatura 17,7 bilhões de dólares/ano. Produz alimentos, bebidas, roupas, aparelhos domésticos e artigos de higiene. No Brasil, emprega cerca de mil trabalhadores no negócio do café. Embora a empresa apregoe formalmente diversos compromissos sociais, a realidade dos cafeicultores que integram sua cadeia produtiva mostra um quadro bem distinto. A primeira parte do documento é um perfil sintético: estrutura, marcas de café com que atua e princípios de responsabilidade social. Na segunda, são apresentados indicadores contábeis e de desempenho econômico. A terceira parte é o relato de uma investigação jornalística sobre a relação entre os compromissos sociais da Sara Lee e a realidade dos produtores de café no sul do estado de Minas Gerais, maior produtor brasileiro. Este trabalho terá continuidade com a realização de uma pesquisa mais aprofundada. A expectativa é que as informações contribuam para fortalecer o trabalho das entidades governamentais e não-governamentais que lutam por um comércio com justiça. E que esse processo leve a empresa a praticar os princípios de responsabilidade social assumidos publicamente. Como meta, busca-se a melhoria das condições de vida e a conquista de direitos dos agricultores familiares, trabalhadores rurais assalariados e demais trabalhadores do café. Coalizão do Café Contag CUT Oxfam Internacional

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Trata-se de um estudo sobre a multinacional de origem norte-americana Sara Lee e sua atuação no Brasil, mais especificamente no segmento do café. Os principais objetivos são levar ao conhecimento público um perfil resumido da corporação, com ênfase na avaliação sobre a sua responsabilidade social na cadeia produtiva, e fornecer subsídios para que os trabalhadores organizados planejem as estratégias de defesa dos direitos dos pequenos cafeicultores e assalariados rurais, em âmbito nacional e internacional.

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APRE

SENT

AÇÃO

Em abril de 2002, a campanha Comércio com Justiça, que trata das relaçõesentre o comércio e a pobreza, foi lançada mundialmente pela OxfamInternacional. A iniciativa prosseguiu em setembro, quando veio a público acampanha O que tem no seu café? - um esforço conjunto da Oxfam, Contag eCUT, com a colaboração do Observatório Social - para desvendar os motivosda crise na atividade cafeeira e dar voz aos que mais sofrem com adesregulamentação dos produtos primários.

Nos últimos anos o setor do café vem sendo dominado pelas empresastransnacionais, trazendo conseqüências negativas para os agricultoresfamiliares e os assalariados rurais. Nesta perspectiva, a campanha no Brasiltem como objetivo um maior entendimento da cadeia produtiva do café. Oinício desta etapa pode ser conferido nesta publicação, elaborada em conjuntocom a Coalizão do Café, que é uma iniciativa de organizações holandesas.

Trata-se de um estudo sobre a multinacional de origem norte-americana SaraLee e sua atuação no Brasil, mais especificamente no segmento do café. Osprincipais objetivos são levar ao conhecimento público um perfil resumido dacorporação, com ênfase na avaliação sobre a sua responsabilidade social nacadeia produtiva; e fornecer subsídios para que os trabalhadores organizadosplanejem as estratégias de defesa dos direitos dos pequenos cafeicultores eassalariados rurais, em âmbito nacional e internacional.

Gigante no mercado mundial de café, a Sara Lee ocupa a liderança domercado do Brasil, que por sua vez é o maior produtor mundial. A corporaçãoatua em 55 países, emprega 155 mil trabalhadores e fatura 17,7 bilhões dedólares/ano. Produz alimentos, bebidas, roupas, aparelhos domésticos eartigos de higiene. No Brasil, emprega cerca de mil trabalhadores no negóciodo café. Embora a empresa apregoe formalmente diversos compromissossociais, a realidade dos cafeicultores que integram sua cadeia produtivamostra um quadro bem distinto.

A primeira parte do documento é um perfil sintético: estrutura, marcas de cafécom que atua e princípios de responsabilidade social. Na segunda, sãoapresentados indicadores contábeis e de desempenho econômico. A terceiraparte é o relato de uma investigação jornalística sobre a relação entre oscompromissos sociais da Sara Lee e a realidade dos produtores de café no suldo estado de Minas Gerais, maior produtor brasileiro.

Este trabalho terá continuidade com a realização de uma pesquisa maisaprofundada. A expectativa é que as informações contribuam para fortalecer otrabalho das entidades governamentais e não-governamentais que lutam porum comércio com justiça. E que esse processo leve a empresa a praticar osprincípios de responsabilidade social assumidos publicamente. Como meta,busca-se a melhoria das condições de vida e a conquista de direitos dosagricultores familiares, trabalhadores rurais assalariados e demaistrabalhadores do café.

Coalizão do CaféContagCUTOxfam Internacional

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ÍNDICE

PERFIL DA EMPRESA

__________________________________________ 5

ANÁLISE ECONÔMICA DA EMPRESA

_________________________________________ 11

RESPONSABILIDADE SOCIAL NÃO CHEGA À BASE DA CADEIA PRODUTIVA

_________________________________________ 23

PROPOSTAS PARA A CRISE DO CAFÉ

_________________________________________ 33

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Essa realidade só mudaráquando as empresas

assumirem, na prática, odiscurso da

responsabilidade social.Aníbal Pereira,

um dos líderes do Parque Rinaldi,comunidade carente da periferia de Varginha (MG).

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PERFIL DA EMPRESAPERFIL DA EMPRESAPERFIL DA EMPRESAPERFIL DA EMPRESAPERFIL DA EMPRESAEstruturaEstruturaEstruturaEstruturaEstrutura

A Sara Lee é uma empresa multinacional de origem norte-americana comsede em Chicago, Estados Unidos. A corporação está presente em 55 países,comercializa mais de 100 marcas em 200 países e emprega no mundo cercade 155 mil trabalhadores. A Sara Lee produz alimentos e bebidas, roupasíntimas, aparelhos domésticos e produtos de higiene pessoal. Tem marcaslíderes dos seguintes produtos: carnes embaladas, pães, cafés, chás, meiase roupas íntimas. Está em 282o lugar no Global Ranking 2002 da RevistaFortune, com faturamento mundial de 17,7 bilhões de dólares.A empresa foi fundada em 1939 pelo canadense Nathan Cummings, quandoele adquiriu a C.D. Kenny Company, uma pequena distribuidora de açúcar,café e chá na cidade norte-americana de Baltimore. A expansão deu-se apartir de 1942, quando Cummings comprou a Sprague, Warner & Company,companhia de distribuição de mercadorias renomeada mais tarde comoSprague Warner - Kenny Corporation.

Nos anos 1950 firmou-se a tendência da companhia de produzir e distribuiralimentos processados e embalagens. Adquiriu em 1956 a Kitchens of SaraLee, localizada em Chicago, e assegurou forte posição no mercado decongelados. Nos anos de 1960 a corporação expandiu-se para Europa eAmérica do Sul. Na década de 1970 a empresa diversificou suas atividades(alimentos e bebidas, roupas íntimas, aparelhos domésticos e produtos dehigiene pessoal) e em 1985 mudou o nome para Sara Lee Corporation.Atualmente, no segmento do café a Sara Lee é a terceira maior compradoramundial do produto – adquire cerca de 10 milhões de sacas anuais1 .

No BrasilNo BrasilNo BrasilNo BrasilNo Brasil

No Brasil a estratégia da empresa é comprar marcas conhecidas, manter o nome einjetar dinheiro nelas2. A Sara Lee dispõe no país das seguintes marcas:

••••• Bebidas: Café do Ponto, Caboclo, Café Pilão, Seleto e União••••• Meias e roupas íntimas: Zorba e Kendall••••• Higiene pessoal: Phebo

No segmento do café a Sara Lee é, atualmente, líder do mercado brasileiro,com 24% de participação. Para abastecer o mercado nacional, consome 2milhões e 200 mil sacas de café por ano3. A Sara Lee Cafés do Brasilemprega cerca de 800 trabalhadores. Suas unidades de produçãolocalizam-se em Barueri (SP), com 470 funcionários, e no bairro da Moócaem São Paulo capital, com 330 funcionários.A corporação comprou a marca Café do Ponto em 1998. O controleacionário foi adquirido por valor não divulgado. Até então, a torrefadorapaulista, localizada em Barueri, tinha um faturamento anual de R$ 110milhões e uma produção de 1.500 toneladas mensais. O Café do Ponto foifundado em 1951 pelas famílias Gonçalves, Asato, Hatori e Sato que, após atransação, retiraram-se da companhia4. No final de 1998 a multinacionaladquiriu a marca Café Seleto e tornou-se a segunda maior empresa de cafédo Brasil, com 20% do mercado. A liderança era da Companhia União5.

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A Sara Lee assumiu a liderança por meio de umanegociação específica feita com a Companhia União. Atradicional Companhia União dos Refinadores deAçúcar e Café foi fundada no Brasil por imigrantesitalianos em 1910. Em 1975 o controle acionáriopassou para a Copersucar e foram lançados osseguintes produtos: Coperálcool, Uniálcool, AçúcarGranulado Grançúcar e Açúcar Cristal Cristalçucar. Em1978 foi lançado o Café Pilão; em 1981, o Café Uniãoembalado a vácuo; em 1985, o Açúcar GranuladoDoçúcar; e em 1994, o Filtro de Café Pilão.

Em 2000, a Copersucar concentrou suas operações nofoco de negócio principal de seus cooperados – cana,açúcar e álcool. A operação de café torrado e moído –marcas Pilão e Caboclo – foi negociada com a SaraLee. A marca Café União foi licenciada pela corporaçãopor um período de dez anos6.

Em 2002 a estratégia da Sara Lee neste segmento foia criação de uma marca de café especial, Café doPonto Aralto, com grão desenvolvido nas regiõesserranas de Mogiana (SP) e do sul de Minas Gerais. Aestratégia envolve degustações em pontos-de-venda,como as redes de supermercados Pão de Açúcar e decafeterias do Café do Ponto. Atualmente a Sara Leecontrola dez das 92 lojas e o restante são franquias7.

A empresa atua também na área de cosméticos comvendas a domicílio. Apesar de a corporação dispor dedez marcas de cosméticos no mundo, a marcaescolhida no Brasil para cosméticos foi Sara Lee. Sãoproduzidos no Brasil, por terceiros, 100 itens quecirculam nas sacolas das 12 mil consultoras da SaraLee pelas principais cidades do estado de São Paulo.Até junho de 2003, a empresa espera distribuir 700itens8.

Responsabilidade SocialResponsabilidade SocialResponsabilidade SocialResponsabilidade SocialResponsabilidade Social

A corporação mantém um programa chamado GlobalBusiness Practice - GBP (Prática Global deNegócios), criado em setembro de 1997. O programaprocura comunicar e reforçar os valores básicos dacompanhia. O GBP traz algumas transformações emrelação ao Código de Conduta da Empresa: enfatizaobediência às leis e valores. Tais procedimentos estãoescritos em um documento chamado Global BusinessStandards - GBS (Padrões Globais de Negócios),distribuído para todos os funcionários. O programatambém inclui o Supplier Selection Guidelines (Guiade Seleção do Fornecedor)9.

De acordo com o Global Business Standards, apesarde a Sara Lee atuar em vários países com diferentesculturas, a empresa tem objetivos comuns deprioridades e valores. O GBS envolve responsabilidadesque devem ser assumidas por todos os funcionários nomundo todo, nos diversos ramos e subsidiárias da SaraLee, bem como joint ventures nas quais a SL tenha

Informações sindicaisDe acordo com informações da AmericanFederation of Labor and Congress of IndustrialOrganizations - AFL-CIO (central sindical dosEstados Unidos), a Sara Lee emprega cercade 57 mil trabalhadores em 1.139 localidadesna América do Norte – Estados Unidos eCanadá. Dessas localidades, 139 têmtrabalhadores organizados. Cerca de 22,5 milpessoas trabalham na empresa nesseslugares, mas isto não significa que todassejam vinculadas às organizações sindicais10.Os sindicatos que representam trabalhadoresda Sara Lee são:

••••• Bakery Confectionary Tobacco Workersand Grain Millers Union (BCTGM) –operações de panificação.

••••• United Food and Commercial WorkersUnion (UFCW) – operações de carneembalada.

••••• International Brotherhood of Teamsters(IBT) – distribuição de mercadorias.

••••• International Association of Machinistsand Aerospace Workers (IAM)

••••• Union of Needletrades, Industrial andTextile Employees (UNITE) – produçãode vestuário.

••••• International Union of OperatingEngineers (IUOE)

••••• Sheet Metal Workers InternationalAssociation (SMWIA)

No Brasil, os trabalhadores da Sara Lee Caféssão representados pelo Sindicato dosTrabalhadores da Indústria de Laticínios,Produtores de Açúcar, Torrefação e Moagemde São Paulo e Região. A entidade é filiada àForça Sindical e à Federação e Confederaçãodos Trabalhadores da Alimentação. OSindicato atende os trabalhadores dasunidades da Moóca e Barueri. Dos 800funcionários da Sara Lee Cafés, cerca de 140têm filiação sindical11.

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ESAresponsabilidade gerencial.

Para operacionalizá-lo foi criado Corporate BusinessPractices Committee, formado por executivos dacompanhia com a finalidade de estabelecer padrõeséticos/legais e fiscalizar a obediência às leis, respeitarregulamentos e o GBS. É designado também umCorporate Business Practices Officer, que tem afunção de inspecionar diariamente a implementação ea obediência aos padrões éticos da empresa. Osfuncionários não podem usar terceiros (agentes,consultores, distribuidores) para deixar de cumprir asnormas éticas da corporação12.

O leque de responsabilidades do GBS seria:

• com a própria empresa: todo funcionário deveser honesto e obedecer às leis, tratar comrespeito e lealdade o colega, ser responsávelpor ações e conseqüências. Deve seguir asnormas do GBS e, caso este não sejacumprido, o funcionário pode sofrer açãodisciplinar. Gerentes devem dar exemplo:comunicar o conteúdo do GBS e propiciar umambiente onde funcionários, consultores eterceiros saibam que um comportamento éticoe legal é deles esperado. Dos funcionários, agerência deve assegurar o recebimento efornecimento de informações que digamrespeito à observância de regras contidas noGBS13.

• com os outros: segundo as diretrizes do GBS,a SL obedece às leis trabalhistas nos paísesem que opera e apóia os direitos fundamentaisda pessoa. A Sara Lee não utiliza trabalhoinfantil nem trabalho forçado. Não permitepunição física ou abuso. A Sara Lee respeita odireito dos empregados de exercer livreassociação. Apóia leis contra discriminação deraça, cor, gênero, nacionalidade, idade,religião, deficiência, distinção de idade,conjugal ou quaisquer outras situaçõesdistintas. A empresa assume o compromissode tratar os funcionários de maneira leal ecompensadora, de reconhecer uma boaatuação e oferecer oportunidade decrescimento por meio de promoções etreinamento. Para a Sara Lee todo ofuncionário tem o direito de crescer livre dediscriminação e assédio. Os funcionáriosdevem trabalhar num ambiente livre deintimidação, ofensas, abusos ou hostilidade.Favores, conduta ou linguagem sexuais sãoproibidos e tais situações devem serdenunciadas. A Sara Lee se comprometetambém a oferecer um ambiente de trabalhosaudável e seguro. Um programa de segurançainclui treinamento, obediência às leis e aospadrões da empresa. Cada funcionário éresponsável pela observação da saúde esegurança no trabalho14.

• com os consumidores: a empresa se

compromete a oferecer ao consumidorprodutos de qualidade dentro dos padrões SL.Cada funcionário deve observar a obediênciarigorosa desses padrões. O marketing dosprodutos deve ser baseado na qualidade doproduto, distinção, preço justo e programaspromocionais15.

• com os acionistas: fornecer aos acionistasinformações exatas sobre a empresa, não darfalsas informações, expectativas ouresultados16.

• com os parceiros comerciais: parceirosdevem receber uma cópia do Global BusinessStandards e do Supplier Selection Guidelines.A Sara Lee não negocia com empresas quenão sigam os padrões delineados nestesdocumentos17.

• com as comunidades onde a empresa atua:a Sara Lee deve obedecer às leis dos países ecomunidades onde atua. O funcionário que nãorespeitar as leis locais deve sofrer uma açãodisciplinar. Mesmo se nestes países certosatos ilícitos forem socialmente aceitos, issonão desobriga o funcionário da SL de respeitaras leis18.

A Sara Lee pode também contribuir com odesenvolvimento das comunidades locais por meio daação da Sara Lee Foundation.

O respeito ao meio ambiente, bem como obediência àsleis ambientais e padrões empresariais para se diminuiro desperdício e os impactos ambientais nas operaçõesda empresa, deve ser seguido por todos funcionários.

A Sara Lee afirma respeitar o engajamento político/partidário de funcionários, desde que não respondampela empresa. Mesmo fora dos Estados Unidos, a SaraLee adota procedimentos de acordo com a ForeignCorrupt Practices Act (Lei contra Práticas deCorrupção Estrangeiras) norte-americana.

As transações internacionais da Sara Lee sãoreguladas por leis do comércio internacional. Aempresa consulta seu departamento jurídico antes de

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ReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasReferências

Sítios da InternetSítios da InternetSítios da InternetSítios da InternetSítios da Internet

www.ciauniao.comwww.estado.estadao.com.brwww.exame.com.brwww.fortune.comwww.istoedinheiro.com.brwww.saralee.com

NotasNotasNotasNotasNotas1 Disponível em http://www.cooxupe.com.br/folha/novembro02/pag18.htm. Acessado em 25/02/20032 Disponível em http://www.istoedinheiro.com.br/248/negocios/248_nova_safra_sara_lee.htm. Acessado em 20/12/20023 Disponível em http://www.cooxupe.com.br/folha/novembro02/pag18.htm. Acessado em 25/02/20034 Disponível em http://www.estado.estadao.com.br/jornal/98/03/12/news133.html. Acessado em 10/03/20035 Folha de S.Paulo, 20/10/1998, pp: 2-26 Disponível em http//www.ciauniao.com.br. Acessado em 06/01/20037 Disponível em http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2002/05/10/eco055.html . Acessado em 07/01/20038 Disponível em http://www2.uol.com.br/exame/edatual/pgart_0601_190802_34856.html. Acessado em 07/01/20039 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/global_business.html. Acessado em 18/12/200210 Informações fornecidas via e-mail pela AFL-CIO em 24/03/2003.11 Informações obtidas no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Laticínios, Produtores de Açúcar, Torrefação e Moagem de SãoPaulo e Região.12 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/introduction.html. Acessado em 01/12/200313 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/ourselves.html. Acessado em 09/01/200314 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/each_other.html. Acessado em 10/01/2003)15 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/our_consumers.html#top. Acessado em 10/01/200316 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/our_stockholders.html. Acessado em 10/01/200317 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/business_partners.html. Acessado em 10/01/200318 Disponível em http://www.saralee.com/corporate_overview/gbs/communities.html. Acessado em 10/01/200319 Idem20 http://www.saralee.com/corporate_overview/supplier_selection.html . Acessado em 10/01/2003

iniciar transações com novos países19.

O documento Supplier Selection Guidelines (Normasde Seleção dos Fornecedores), por sua vez, estendeos padrões éticos da Sara Lee aos fornecedores. ASara Lee inclui entre estes: empreiteiros, jointventures, vendedores de mercadorias e serviços,incluindo matéria-prima.

A Sara Lee afirma que procura, através da pressãocomercial, influenciar seus fornecedores a cumprirrígidos padrões éticos, obediência às leis eregulamentos. Segundo suas normas, os fornecedoresdevem tratar os funcionários com respeito e dignidade,promovendo bem-estar e qualidade de vida, obedeceràs leis trabalhistas, bem como ao direito de livreassociação. Fornecedores devem ser socialmenteresponsáveis nos países e comunidades onde aempresa opera.

Devem compartilhar com a corporação ocomprometimento de adotar práticas e respeitar

padrões que não agridam o meio ambiente. Devemtambém, em relação aos seus funcionários, adotar ajornada de trabalho estipulada por lei. O fornecedor nãodeve adotar o trabalho infantil. A SL afirma transacionarapenas com companhias que contratam trabalhadorescom idade acima de 15 anos e prefere aquelas queestimulam a educação continuada de seusfuncionários.

A corporação diz não contratar fornecedores queadotam trabalho forçado, sejam de matéria-prima,sejam do produto final, ou serviços provenientes detrabalho forçado. Ainda segundo o documento, aempresa prefere contratar terceiros que não adotemdiscriminação em função de características físicas oucrenças. A SL tem como compromisso não contratarempresas que adotem punições físicas, ou outra formade coerção física ou mental. Prioriza negócios comfornecedores que demonstrem preocupação ecompromisso com a saúde e segurança de seusfuncionários20.

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ICAANÁLISE ECONÔMICAANÁLISE ECONÔMICAANÁLISE ECONÔMICAANÁLISE ECONÔMICAANÁLISE ECONÔMICADO GRUPO CONSOLIDADODO GRUPO CONSOLIDADODO GRUPO CONSOLIDADODO GRUPO CONSOLIDADODO GRUPO CONSOLIDADOIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoA análise dos indicadores contábeis e de desempenho econômico dasempresas pode ser de grande valia nas relações entre capital e trabalho. Oconhecimento dos indicadores contábeis por parte dos sindicatos propiciaelementos inequívocos sobre a trajetória financeira e produtiva da empresa,além de traduzir sua estratégia mercadológica implementada.Ao longo deste estudo, apresentamos não somente os indicadores contábeisfundamentais do grupo Sara Lee consolidado, como também formulamosindicadores de desempenho econômico. Ambos os conjuntos de informaçõessão avaliados a partir de dois pontos de vista: primeiro, ao longo do tempoem relação à própria empresa; e segundo, especificamente para o ano 2000,comparamos os indicadores contábeis e de desempenho econômico da SaraLee com os das empresas fabricantes de produtos alimentícios e de bebidascom participação estrangeira majoritária no capital que atuam no Brasil. Taisempresas constam do Censo de Capitais Estrangeiros Ano Base 2000 feitopelo Banco Central. Importa ressaltar que a Sara Lee é uma dessas empresasatuantes no segmento de produtos alimentícios e de bebidas, especialmenteo último, e, em especial, na cadeia do café.O texto está estruturado em cinco seções, a contar por esta introdução. Naseção seguinte, de cunho metodológico, explicitamos os indicadorescontábeis fundamentais a serem usados na análise, os indicadores dedesempenho econômico construídos a partir dos indicadores contábeis eapresentamos algumas informações sobre as empresas com participaçãoestrangeira majoritária no capital que atuam no segmento de fabricação deprodutos alimentícios e bebidas. A terceira seção apresenta a análisecontábil e de desempenho econômico do grupo Sara Lee consolidado, bemcomo algumas informações específicas ao segmento de bebidas da empresa.Na quarta seção comparamos os indicadores contábeis e econômicos daSara Lee com os das empresas com participação estrangeira majoritáriaatuantes no segmento de fabricação de produtos alimentícios e bebidas. Naquinta seção apresentamos os últimos dados disponíveis e apontamosperspectivas.

MetodologiaMetodologiaMetodologiaMetodologiaMetodologiaOs indicadores contábeis fundamentais para esta análise são:

••••• Faturamento Líquido – resultado das vendas totais do grupo ao longode determinado período. Trata-se, portanto, de um fluxo expressosempre em milhões de dólares.

••••• Resultado Líquido – lucro livre de impostos auferido ao longo dedeterminado período de tempo. Trata-se de um fluxo que remuneraos investidores e os detentores de ações da empresa.

••••• Ativo Total – soma de todos os direitos contábeis da empresa emdeterminada data. Trata-se de um estoque que nesse estudo seráutilizado como proxy do estoque de capital da empresa.

••••• Número de empregados – estoque de todos os empregados daempresa Sara Lee nas datas de publicação dos balanços. Em relaçãoàs empresas do Censo de Capitais Estrangeiros, trata-se da médiaanual de trabalhadores.

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Os indicadores de desempenho econômico sãoconstruídos a partir dos indicadores contábeis acimarelacionados. São os seguintes:

• Produtividade do Capital – razão entre ofaturamento líquido e o Ativo Total. Expressa acontribuição de cada unidade monetária doAtivo para a realização das vendas. Expressoem porcentagem.

• Produtividade do Trabalho – razão entre ofaturamento líquido e o número deempregados. Indica a contribuição de cadaunidade de trabalho para a realização dasvendas. Expresso em milhares de dólares.

• Relação Capital Trabalho – razão entre oAtivo Total e o número de empregados. Indicase a empresa é intensiva em capital ou emtrabalho. Expresso em milhares de dólares.

• Rentabilidade do Capital – razão entre oresultado líquido e o Ativo Total. Expresso emporcentagem.

Neste trabalho, os indicadores contábeis e dedesempenho econômico das empresas que operam noBrasil na fabricação de alimentos e bebidas comparticipação estrangeira majoritária no capital socialsão utilizados como medida de comparação emrelação aos desempenhos contábeis e econômicos daSara Lee no ano de 2000. A limitação para esseperíodo deriva do fato de que as informaçõesconsolidadas e confiáveis da atuação das empresastransnacionais no país são disponibilizadas apenaspelo Censo de Capitais Estrangeiros elaborado peloBanco Central. Os resultados para 2000 referem-se aosegundo censo feito pelo Banco Central1 .

Indicadores Contábeis e deIndicadores Contábeis e deIndicadores Contábeis e deIndicadores Contábeis e deIndicadores Contábeis e deDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeA Sara Lee estrutura seus negócios em trêssegmentos: produtos alimentícios e bebidas, roupasíntimas e utensílios domésticos. No Gráfico 1 tem-se adistribuição do faturamento líquido e do resultadolíquido da empresa entre os três segmentos para oexercício fiscal concluído em 29 de junho de 2002.Identifica-se clara preponderância do núcleo deprodutos alimentícios e bebidas em ambos osindicadores contábeis.Dada a prevalência desse núcleo de negócios tanto nototal das vendas quanto no resultado líquido e dado queesse núcleo contém o segmento de bebidas dentro doqual está inserida a atividade de compra e venda decafé, apresentamos o Gráfico 2, que detalha adistribuição do faturamento líquido desse núcleo entreseus três segmentos de produtos. Nesse caso, asvendas de bebidas (café e chá) respondem por 28%das vendas desse núcleo no ano fiscal de 2002. Em

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002

Gráfico 1 – Distribuição do FaturamentoLíquido e do Resultado Líquido SegundoNúcleos de Negócios (%). 2002.

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relação ao total de todo o grupo, as vendas de café echá representam 14,4%. Esse valor é o menor desde,pelo menos, 1998, conforme indica o Gráfico 3.

Gráfico 2 – Distribuição do Faturamento LíquidoSegundo os Segmentos de Produtos do Núcleo deNegócios de Produtos Alimentícios e Bebidas (%).2002.

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002

Gráfico 3 – Participação Relativa das Vendas deBebidas no Faturamento Líquido Total do Grupo(%). 1998-2002.

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002

Uma vez definida a colocação relativa das atividadesvinculadas às bebidas, que incluem as compras evendas de café, passamos à rápida identificação daAmérica Latina no faturamento líquido e no resultadolíquido consolidado do grupo. Observa-se, por meio doGráfico 4, que a América Latina está consolidada comos mercados da Ásia e da Oceania. Mesmo assim,esses três continentes representam, em 2002, parcelamarginal de ambos os indicadores contábeisselecionados.

O mercado norte-americano emerge comopredominante, o que pode indicar que a empresa deveser considerada analiticamente como umamultinacional e que suas estratégias empresariaisdevem estar voltadas para a consolidação de espaços

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de mercado nos países desenvolvidos. De fato, emrelação especificamente ao café a empresa comentaem seu relatório anual:

O market share (fatia de mercado) da SaraLee nas vendas ao varejo de café aumentounos principais mercados europeus dacompanhia, incluindo a Holanda, Bélgica,Reino Unido, Dinamarca e Hungria (Sara LeeAnnual Report, 2002: 19).

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002

Voltando o estudo agora para os indicadores contábeis,identificamos que, em cinco anos, o faturamento líquidoexpande-se 6,5% – uma taxa de crescimento de1,65% ao ano. O valor do faturamento, de US$ 16,5bilhões em 2002, está em linha com grandes empresasmultinacionais (Tabela 1).

Em relação ao resultado líquido, a Sara Lee reverte umprejuízo de US$ 0,5 bilhão em 1998 num lucro de US$1 bilhão em 2002. A queda nesse resultado em relaçãoa 2001 deve-se basicamente à aquisição daEarthgrains Company por US$ 1,9 bilhão em meadosdo primeiro semestre de 2002. A EarthgrainsCompany foi consolidada à divisão de pães da SaraLee (Tabela 1).

Gráfico 4 – Distribuição Geográfica do Faturamento Líquido e doResultado Líquido do Grupo (%). 2002

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O Ativo Total da companhia eleva-se nada menos doque 27,5% entre os anos fiscais de 1998 e 2002,atingindo US$ 13,7 bilhões. Tal crescimento no Ativoestá relacionado à aquisição da Earthgrains Company.O emprego cresce menos no mesmo período, 15%,chegando ao ano fiscal de 2002 com 155 milempregados (Tabela 1).

Tabela 1 – Indicadores Contábeis Fundamentaisda Sara Lee. (US$ milhões, números absolutose %). 1998-2002.

Todavia, a correta composição entre esses indicadorespode nos fornecer o desempenho econômico daempresa. Por meio da Tabela 2 observamos que aprodutividade do capital míngua 16% entre os anosfiscais de 1998 e 2002, denotando que o crescimentodo Ativo Total, acima referido, foi maior do que aevolução do faturamento líquido. A produtividade dotrabalho, ou seja, a contribuição que cada trabalhadordá ao fluxo de vendas, também cai no período. De fato,o maior valor desse indicador é observado em 1998,denotando uma tendência de decréscimo daprodutividade do trabalho.

A relação capital-trabalho indica que a empresa éintensiva em trabalho, ainda que o valor do Ativo Totalpor trabalhadores aumente entre as pontas do períodoem virtude do aumento mais que proporcional do AtivoTotal no ano fiscal de 2002 em relação à elevação doemprego. Uma comparação com as empresas comparticipação estrangeira no capital que operam nosegmento de produtos alimentícios e de bebidas noBrasil indicará que essas empresas são menosintensivas em trabalho do que a Sara Lee (Tabela 2).

O resultado da razão entre os fluxos de lucros(resultado líquido) e o estoque de capital (Ativo Total)nos serve como uma medida aproximada darentabilidade do capital, que seria corretamente medidapela relação Lucro Líquido/Patrimônio Líquido. Observa-se que, em consonância com a trajetória do resultadolíquido em unidades monetárias, a rentabilidade doativo sai de um prejuízo de 4,8% ao ano para umarentabilidade positiva de 7,3% ao ano, após um ápicede 22,3% no ano fiscal de 2001. Importante verificarque o resultado negativo do ano fiscal de 1998 resultaem queda do estoque de Ativos no ano fiscal seguinte(Tabelas 1 e 2).

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002.

Indicadores 27.06. 03.07. 01.07. 30.06. 29.06. Var.% Var. %Contábeis 1998 1999 2000 2001 2002 ao ano 1998-2002Faturamento Líquido 16.526 16.277 16.454 16.632 17.628 1,65 6,7Resultado Líquido -523 1.191 1.222 2.266 1.010 - 293,1Ativo Total 10.784 10.292 11.611 10.167 13.753 6,25 27,5Número de Empregados 134.800 133.900 154.200 141.500 154.900 3,54 14,9Retorno sobre o Capital Investido (%) 16,0 21,5 22,0 21,2 15,1 - -5,6

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Tabela 2 – Indicadores de DesempenhoEconômico da Sara Lee

As conclusões preliminares que emergem das duastabelas são:

• A empresa aumenta seus volumes de venda noperíodo;

• A empresa recupera seus fluxos de lucro apósprejuízo no ano fiscal de 1998;

• A empresa mostra queda nos montantes delucro no ano fiscal de 2002 em virtude daaquisição da Earthgrains Company;

• O estoque de direitos contábeis da empresa, ouseja, seu Ativo Total, mostra significativaexpansão entre os anos fiscais de 1998 e2002, em especial de 2001 para 2002, dada aaquisição da Earthgrains Company;

• A companhia emprega mais trabalhadores noano fiscal de 2002 do que no ano fiscal de1998 e novamente o aumento do estoque deempregados está relacionado à aquisição daEarthgrains Company;

• Ambos os indicadores de produtividade dosfatores de produção (capital e trabalho)decrescem no período considerado, o que poderesultar em alguma estratégia de ampliação doestoque de capital da empresa e eventualdiminuição no número de trabalhadores;

• A relação capital-trabalho indica que se trata deuma empresa intensiva em trabalho e que esteperde produtividade ao longo do tempo;

• A rentabilidade do capital eleva-se no períodoconsiderado, o que pode resultar em formaçãode fundos a serem gastos em investimentos ouem outras aquisições, de tal sorte a semelhorar os indicadores de produtividade daempresa.

Estudo Comparado dos Indicadores deEstudo Comparado dos Indicadores deEstudo Comparado dos Indicadores deEstudo Comparado dos Indicadores deEstudo Comparado dos Indicadores deDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara LeeDesempenho Econômico da Sara Leecom as Empresas do Censo de Capitaiscom as Empresas do Censo de Capitaiscom as Empresas do Censo de Capitaiscom as Empresas do Censo de Capitaiscom as Empresas do Censo de CapitaisEstrangeirosEstrangeirosEstrangeirosEstrangeirosEstrangeirosEmbora a análise anterior sobre os indicadorescontábeis e de desempenho econômico da empresatenha inegável relevância para os sindicattos, é salutaraveriguar tais indicadores da Sara Lee com seuspotenciais concorrentes no segmento de fabricação de

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002.

Indicadores de 27.06. 03.07. 01.07. 30.06. 29.06. Var.%Desempenho Econômico 1998 1999 2000 2001 2002 1998-2002Produtividade do Capital (%) 153,2 158,2 141,7 163,6 128,2 -16,4Produtividade do Trabalho (US$ mil) 123 122 107 118 114 -7,2Relação Capital Trabalho (US$ mil) 80 77 75 72 89 11,0Resultado Capital Produto (%) -4,8 11,6 10,5 22,3 7,3 -251,4

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produtos alimentícios e bebidas do Brasil2 .

Em primeiro lugar temos que a produtividade do capitalda Sara Lee é superior à produtividade das empresasoperando no Brasil. Essa discrepância pode resultar damaior difusão tecnológica das plantas da Sara Lee nosEUA e na Europa Ocidental, localidades onde seconcentram as vendas da empresa (Tabela 3).

Em segundo lugar, a produtividade do trabalho nasempresas constantes do Censo de CapitaisEstrangeiros é maior do que a produtividade do trabalhoda Sara Lee. Essa circunstância deriva do fato de quea quantidade de capital por trabalhador nas empresasem operação no Brasil é superior à da Sara Lee(Tabela 3).

A questão tecnológica, que explica a maiorprodutividade do capital da Sara Lee, pode tambémexplicar o fato de que, ao menos para o ano fiscal de2000, a Sara Lee detenha uma rentabilidade do capitalexpressivamente superior à rentabilidade das empresasem operação no Brasil (Tabela 3).

Tabela 3 – Indicadores de DesempenhoEconômico da Sara Lee e das Empresas comParticipação Estrangeira Majoritária no CapitalSocial em Operação no Segmento de Fabricaçãode Produtos Alimentícios e Bebidas no Brasil.20003 .

Últimos dados disponíveis eÚltimos dados disponíveis eÚltimos dados disponíveis eÚltimos dados disponíveis eÚltimos dados disponíveis eperspectivasperspectivasperspectivasperspectivasperspectivasRecentemente a Sara Lee disponibilizou os resultadoscontábeis para os períodos fiscais de 29.06.2002 a28.12.2002 e de 28.09.2002 a 28.12.2002, ou seja,resultados trimestrais e semestrais, comparandoesses resultados com o mesmo período fiscal do anoanterior.

A Tabela 4 sintetiza alguns dos indicadores maisrelevantes, trazendo inclusive o setor de bebidas. Asvendas do segmento de bebidas mostram umcrescimento semestral semelhante ao total das vendasda empresa. Já em relação aos resultados trimestrais,o valor das vendas líquidas desse segmento supera ocrescimento do valor total das vendas líquidas dogrupo, indicando ganhos desse subsegmento no totaldo faturamento do grupo.

As vendas de café na Europa têm sido particularmente

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Indicadores de Produtividade Produtividade Relação RentabilidadeDesempenho Econômico do Capital do Trabalho Capital do Capital

(%) (US$ mil) Trabalho (%)(US$ mil)

Sara Lee 142 107 75 10,5Empresas do Censo deCapitais Estrangeiros 101 123 122 2,6

Fonte: Sara Lee Annual Report 2002 e Censo de CapitaisEstrangeiros Ano Base 2000.

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Fonte: Sara Lee Press Release For Second Quarter of Fiscal 2003.

Resultados Semestrais Resultados Trimestrais28.06.2001 - 29.06.2002- 27.09.2001 28.09.2002-29.12.2001 28.12.2002 Var.% 29.12.2001 28.12.2002 Var.%

Faturamento Líquido 8.938 9.312 4,2 4.688 4.777 1,9Carnes 1.933 1.899 -1,8 995 976 -1,9Pães 1.399 1.684 20,4 854 862 0,9Bebidas 1.297 1.350 4,1 683 731 7,0Utensílios Domésticos 964 1.010 4,8 500 532 6,4Roupas Íntimas 3.345 3.369 0,7 1.656 1.676 1,2

Resultado Líquido 733 1.062 44,9 336 556 65,5Carnes 141 203 44,0 73 113 54,8Pães 38 66 73,7 5 21 320,0Bebidas 212 207 -2,4 116 121 4,3Utensílios Domésticos 154 164 6,5 86 92 7,0Roupas Íntimas 188 422 124,5 56 209 273,2

positivas, em especial na Holanda e na Bélgica. Tantoque esse continente apresentou aumento nas vendasem volume de café de 1% entre os períodos fiscaisanalisados. No Brasil, as vendas em volume de caféno varejo e no atacado recuaram 12% em virtude darecuperação dos preços internacionais verificada apósoutubro de 2002.

Do ponto de vista da demanda, é provável que a SaraLee continue com a estratégia de diversificação docafé nos mercados europeu e norte-americano, o quetende a manter o nível corrente das quantidadesdemandadas. No Brasil, a recente alta dos preçosresultou em queda dos volumes de café vendidos.Todavia, deve-se levar em conta que o Brasil consome¾ da sua produção anual de café, o que, numcontexto em que ainda é responsável por parcelarepresentativa da oferta mundial, resulta emposicionamento estratégico da empresa em relação aopaís. As contínuas desvalorizações da taxa de câmbiobrasileira resultam em perda de receita em moedaforte pela matriz. Essa circunstância pode levar a SaraLee a promover maiores volumes de exportações doBrasil, a fim de alavancar as receitas em moeda forte apartir de suas posições de venda num dos maioresprodutores de café do mundo.

Desempenho contábil, remuneraçãoDesempenho contábil, remuneraçãoDesempenho contábil, remuneraçãoDesempenho contábil, remuneraçãoDesempenho contábil, remuneraçãodos agricultores familiares edos agricultores familiares edos agricultores familiares edos agricultores familiares edos agricultores familiares einstauração de melhores condições deinstauração de melhores condições deinstauração de melhores condições deinstauração de melhores condições deinstauração de melhores condições detrabalho para os assalariadostrabalho para os assalariadostrabalho para os assalariadostrabalho para os assalariadostrabalho para os assalariadosTendo em vista os resultados contábeis e econômicosacima apresentados, podemos auferir a sustentaçãode ações da empresa relativas a implementação de

uma política de maior remuneração aos agricultoresfamiliares e aos assalariados da empresa.

É relevante identificar que o objetivo expresso dequalquer organização capitalista é auferir lucros que setraduzam em dividendos para os detentores das açõesda empresa. Todavia, a pressão social tende amodificar em alguma medida este estado de coisas. Edentro dessa preocupação o conhecimento dodesempenho contábil e econômico da empresa forneceelementos relevantes para a pressão social.

O indicador inequívoco sobre a possibilidade demelhores pagamentos aos agricultores familiares decafé pode ser encontrado na evolução da taxa de lucroda empresa. Como vimos, a taxa de lucro eleva-se de1998 para 2002, atingindo um ápice de 22% em 2001.De toda a forma, uma rentabilidade de capital na casados 7% ao ano representa a existência de potenciaisfundos para melhores remunerações aos agricultoresfamiliares.

O resultado líquido de 2002, no montante de US$ 1bilhão, poderia em parte ser revertido para aimplementação de políticas de acompanhamento dospreços pagos aos assalariados rurais pelasintermediárias de comércio das quais a Sara Leeadquire os grão de café. Outro destino deste montantepoderia ser na implementação de programas demelhorias da qualidade ou no desenvolvimento detecnologias adaptadas à agricultura, promovendomelhores condições de vida para os assalariados.

Tabela 4 – Indicadores Contábeis Semestrais e Trimestrais Mais Recentesdo Grupo Sara Lee. Períodos Fiscais 28/06/2001 – 29/12/2001; 29/06/2002 –28/12/2002. (US$ milhões e %).

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Trata-se de utilizar o poder de quase monopsônio(apenas um comprador ou vendedor no mercado,equivalente ao monopólio) da Sara Lee nos elos paratrás da cadeia produtiva.

Todavia, há uma restrição: até que ponto reduções nosmontantes de lucro e na taxa de lucro, que resultamem quedas dos dividendos pagos aos detentores dasações da Sara Lee, serão compensadas por aumentosnas vendas das marcas de café por elacomercializadas na Europa e nos EUA decorrentes deforte propaganda das políticas de melhor remuneraçãodos agricultores familiares de café sul-americanos ouasiáticos?

Certamente, essa seria a questão colocada pelosexecutivos da empresa. É relevante perceber que aempresa só acatará uma proposta desta natureza seentender que em algum momento no futuro tais açõesresultarão em maiores montantes e taxas de lucro ouse, de fato, a empresa resolver praticar os seusprincípios de responsabilidade social.

Em suma, os indicadores contábeis e econômicos daempresa apontam a viabilidade de implantação de umapolítica de responsabilidade social associada àmelhoria das condições de trabalho e de rendimentosdos agricultores familiares.

Um elemento de pressão é justamente apresentar,segundo a análise do desempenho contábil eeconômico da empresa, os seguintes resultados:

••••• A taxa de lucro positiva e o montante delucro de US$ 1 bilhão podem ser em parteredirecionados para despesas dessanatureza;

••••• A recente aquisição da EarthgrainsCompany tende a elevar a rentabilidade daempresa, ou seja, ainda que se argumenteque tal aquisição incrementa os custosdiretos e indiretos, não haveriaracionalidade na aquisição se não seprojetasse expansão dos lucros no médioprazo;

••••• Essa aquisição resultou em queda daprodutividade do capital. Todavia, taltendência tende a se reverter no médioprazo;

••••• Os mercados nos quais a empresa vendeseus produtos certamente não são mercadosde concorrência perfeita, logo, a empresaaufere lucros extraordinários. Ou seja, doponto de vista teórico, é sustentável aimplantação de uma política nesse sentido.

Em relação aos assalariados da Sara Lee, é de seesperar que os salários reais dos trabalhadores dasplantas dos EUA e da Europa Ocidental sejamsensivelmente superiores aos dos trabalhadores naÁsia e América Latina. Isso resulta da diferença naatualização tecnológica do capital utilizado .

Portanto, uma união entre trabalhadores Norte-Sul serádifícil, mas necessária, especialmente com osconsumidores. Conhecendo-se a situação contábil daempresa, pode-se formular sólidos argumentos a favorda elevação dos salários ou da melhoria das condiçõesdo trabalho.

O primeiro e fundamental indicador contábil eeconômico nas relações capital trabalho é a taxa decrescimento dos montantes de lucros e a taxa decrescimento dos salários reais. Ou seja, supondo queos montantes de lucros sejam residuais, emmomentos de aumentos desses montantes, comoentre 1998 e 1999, 1999 e 2000, 2000 e 2001, ficaflagrante a possibilidade de se requisitar aumentos nosmontantes pagos de salários. A publicação periódicadesses indicadores de lucros viabiliza a organizaçãoquase contemporânea de pressões por aumentos desalários.

Entre 1998 e 2002, os lucros aumentaram em todos osanos, exceto de 2001 para 2002, muito em função daampliação do capital da empresa e não em decorrênciade queda nas vendas e eventuais aumentos dos custosdiretos (matérias-primas e insumos) e indiretos. Daí aviabilidade de se requisitar aumentos salariais e nospreços pagos aos produtores.

Mesmo em momentos de queda nos montantesabsolutos dos lucros, como entre os anos fiscais de2001 para 2002, pode-se avaliar suas causas. Nesteexemplo, já vimos a causa dessa queda. Por outrolado, supondo que a queda dos lucros resulte de quedanas vendas e não de aumentos de custos, orequerimento de aumentos salariais, como é sabido, étrocado pelas demandas por manutenção dosempregos.

Assim, monitorando-se alguns poucos indicadorescontábeis, é possível estruturar argumentos em favor dereajustes salariais e melhores preços. Tais indicadoressão:

••••• Taxa de variação dos salários reais;••••• Taxa de variação do montante de lucros;••••• Variação no ativo da empresa, para

detectar se está em curso uma expansãoda empresa, circunstância na qual asdemandas por elevação salarial serãoainda mais justificáveis;

••••• Variação das vendas dos produtos daempresa, a fim de detectar a colocaçãorelativa dos produtos da empresa em seusdiferentes mercados. Por exemplo,suponha-se que o mercado mundial decafé aumentou 1% de um ano para o outro,e que as vendas da Sara Lee nessemercado cresceram 2%. Logo, a Sara Leeganha posição no mercado. O queeventualmente favorece ganhos demonopólio da empresa e, portanto,maiores lucros.

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NotasNotasNotasNotasNotas1 O primeiro censo tem data base 1995. Para acessar os resultados e as planilhas deambos os censos, ver http://www.bcb.gov.br. Para análises dos resultados doscensos, ver Carta da SOBEET nº 08 e nº 24 (esta última no prelo).2 Para fins analíticos, excluímos desta comparação os segmentos de comércio varejistae de comércio no atacado e intermediários do comércio.3 Para as empresas do Censo de Capitais Estrangeiros, os indicadores referem-se aoano fiscal finalizado em 31/12/2000 e para a Sara Lee os indicadores referem-se aoano fiscal terminado em 01/07/2000.

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REPO

RTAG

EM

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Responsabilidade socialResponsabilidade socialResponsabilidade socialResponsabilidade socialResponsabilidade socialnão chega ànão chega ànão chega ànão chega ànão chega à

base dabase dabase dabase dabase dacadeia produtivacadeia produtivacadeia produtivacadeia produtivacadeia produtiva

Maior compradora do café produzido no Brasil, a SaraLee não tem controle sobre os problemas que ocorremna sua cadeia produtiva, como subemprego edesrespeito aos direitos trabalhistas. Isto revelacontradição entre o discurso social e as práticascomerciais da empresa.

Na região onde trabalha Maria Nair, no sul de MinasGerais, nunca se ouviu falar, por exemplo, em GlobalBusiness Standards (Padrões Globais de Negócios),documento proclamado como referência deresponsabilidade social pela maior compradora do cafébrasileiro, a multinacional Sara Lee, responsável pelocomércio de uma em cada quatro xícaras do caféconsumido no mercado interno e a terceira maiorcompradora de café em todo o mundo. A partir do finalda década de 90, a empresa entrou firme no mercadobrasileiro ao comprar marcas consolidadas como Cafédo Ponto e Café Pilão. O país assistiu a uma guinadabastante positiva na indústria de torrefação, quepassava por uma crise gerada, em grande medida, pelabaixa competitividade, pelo sucateamento do parqueindustrial e pela baixa qualidade do produto.

A entrada da Sara Lee trouxe um rápido processo deinovação tecnológica, melhoria significativa daqualidade do produto, competitividade comercial1. Masapenas isso, pois em nenhum momento, apesar doque apregoam suas normas de conduta empresarial, aempresa atuou para mudar o cenário dos lugares ondeobtém sua matéria-prima. Tudo segue de maneiramuito parecida àquele outono de 1953, quando MariaNair deixou de lado as brincadeiras de criança paratransformar-se em uma trabalhadora do café.

O documento Supplier Selection Guidelines (Guia deSeleção do Fornecedor), editado pela Sara Lee,deveria estender os padrões éticos da empresa aosfornecedores. Estão previstas diversas ações, inclusiveatravés da pressão comercial, para gerar benefíciosdiretos às comunidades que vivem nas áreas

A infância de Maria Nair deOliveira terminou bruscamente em

uma manhã do outono de 1953,quando sua mãe a tirou da cama

antes das primeiras luzes daalvorada. Comeu um pedaço de pão

com manteiga, bebeu um gole decafé e tomou o rumo da lavoura.Tinha 10 anos de idade quando

colheu seu primeiro grão de café.Desde então, sua vida vem sendopautada pelos humores da safra,

do preço, do clima, das normas domercado internacional. O mundodos negócios, a bem da verdade,

não conhece Maria Nair. Nunca aviu de perto, pois jamais foi dada aela a oportunidade de desfrutar a

renda de uma das culturasagrícolas mais importantes do

Brasil. Porque a ponta da cadeiaprodutiva do café descortina um

cenário desolador: miséria,doença, subemprego,

analfabetismo, violência social.

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a base da cadeia produtivaMaria Nair trabalha na colheita de café desde os dez anos de

idade e nunca pôde usufruir da riqueza gerada pelo grão

produtoras. O documento dá a entender que o podereconômico da multinacional deve ser usado paramelhorar a qualidade de vida, a saúde e aescolarização das pessoas ligadas à sua cadeiaprodutiva. "Isso não existe aqui; é conversa fiada", dizAntônio Joaquim de Souza Neto, o Toninho, presidenteda Cooperativa de Cafeicultores de São Gabriel daPalha (Cooabriel), sediada no estado do Espírito Santoe que tem dois mil sócios, a maioria formada poragricultores familiares.

Como a Sara Lee está entre as principais compradorasdo café da Cooabriel, Toninho não esconde um certoconstrangimento ao fazer tais observações. Mesmoassim, afirma que a adoção das práticas contidas nosdocumentos da empresa traria grandes benefícios aoscooperados. "A maioria do nosso pessoal tem 50hectares de terra e todas as nossas operações sãofeitas dentro da lei. Acho absolutamente justo privilegiara cooperativa e desenvolver a economia regional, aoinvés de comprar de grandes comerciantes que, muitasvezes, vendem o café mais barato graças à sonegaçãode impostos e às fraudes fiscais".

Fornecedores não respeitam aFornecedores não respeitam aFornecedores não respeitam aFornecedores não respeitam aFornecedores não respeitam alegislação trabalhistalegislação trabalhistalegislação trabalhistalegislação trabalhistalegislação trabalhistaCaso seguisse à risca o que apregoam seus manuaisde ética e conduta empresarial, a Sara Lee precisariamudar a relação que mantém com empresasatravessadoras, que atuam na compra e venda do caféverde produzido pelos pequenos e médios produtores.Isso porque, no Supplier Selection Guidelines, aempresa diz claramente que seus fornecedores devemobedecer às leis fiscais e trabalhistas e não exercernenhum tipo de abuso sobre seus empregados.Contudo, há fortes evidências de que a realidade é bem

diferente. "A maioria dos trabalhadores ganha menosde um salário mínimo e não é registrada em carteira",denuncia o coordenador-geral do Sindicato dosTrabalhadores Rurais da Região do Sul de MinasGerais, Paulo Sebastião. "As grandes empresas nãoestão nem aí para esse problema, pois o queinteressa, para elas, não é a condição de vida dotrabalhador da lavoura, mas o lucro financeiro", queixa-se. "E quem reclamar não consegue mais trabalho,pois entra para uma lista negra dos produtores".

Lucimara das Graças de Carli tem 31 anos de idade,20 dos quais como trabalhadora nas lavouras de café.Ela vive em Varginha, cidade-pólo da indústria cafeeirado sul de Minas Gerais, estado que produz 25% dasafra nacional e onde existe uma grande contrataçãode mão-de-obra clandestina2. O caso de Lucimara étípico e emblemático: em 2002 ela trabalhou duranteseis meses na colheita do café. Oficialmente, contudo,atuou por apenas 30 dias, período que teve registradoem carteira. Em 2001 a situação foi ainda pior, poistrabalhou seis meses e foi registrada por apenas 10dias. Tais práticas são bastante comuns, segundo odepoimento de diversos líderes sindicais. As empresasfazem isso para não pagar ao governo os encargostrabalhistas. Os trabalhadores saem prejudicados, poisnão têm seus direitos reconhecidos. Lucimara tem trêsfilhos pequenos, mal sabe ler e escrever (esteve naescola apenas por um ano) e atualmente estádesempregada. Tanto ela como o marido e toda a suafamília vivem em péssimas condições sanitárias. Umacaracterística comum a esses trabalhadores é opéssimo estado da dentição bucal. Boa parte delestem menos da metade dos dentes na boca.

O marido, Natal de Carli, 43 anos, está empregado. Seé que se pode chamar de emprego sua atividade deserviços gerais. Ganha R$ 8,00 por dia de trabalho(US$ 2,60 pelo câmbio de 15/04/2003), sem direito aoregistro profissional. É um trabalhador clandestino.

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"Não podemos reclamar e muito menos denunciar.Precisamos desse dinheiro para comer", explicaLucimara, que concedeu a entrevista em um final detarde do mês de fevereiro de 2003. Nesse dia, esperavaansiosa a chegada do marido e de sua preciosa diáriade R$ 8. Dependia desse dinheiro para comprar algo decomer para os filhos. "Não passamos fome, mas nossavida é uma guerra diária em busca do que comer".

Lucimara convidou a reportagem a visitar sua cozinha.Abriu a geladeira: duas latas de fermento para pão,duas garrafas de leite, uma tigela de mingau de farinha,ovos. Uma situação comum a muitos trabalhadores docafé que vivem no sul de Minas Gerais, gente comoMaria Nair, a personagem que em 1953 foiprecocemente despertada para a vida adulta, quando amãe a levou para a lavoura.

Atualmente desempregada, Maria Nair aguarda ansiosaa próxima safra, quando espera ser novamentecontratada para trabalhar na colheita. Para pessoascomo ela e Lucimara, o ano não tem 12 meses, masapenas seis, período em que as fazendas, por causada colheita, contratam mão-de-obra temporária. O restodo tempo é um eterno esperar. "Quando termina acolheita o trabalhador torna-se um estorvo. Aresponsabilidade social não existe na indústria docafé", diz o sindicalista Paulo Sebastião.

Esta opinião é corroborada por Jairo Darcy Passos,diretor da secretaria de assalariados da Federação dosTrabalhadores na Agricultura do Estado de MinasGerais, que tem 450 sindicatos filiados em todo oestado. "Eu gostaria muito de poder colocar alogomarca da Sara Lee nos cartazes de divulgação queenviamos para os sindicatos", diz ele. "Boa parte donosso material de comunicação prega a importância deseguir as leis trabalhistas e tem tudo a ver com odiscurso da empresa. A sociedade precisa se unir paracombater o trabalho escravo, o trabalho clandestino, ailegalidade que caracteriza a cafeicultura no Brasil.Contudo, a Sara Lee não pratica o seu própriodiscurso. É uma fachada".

Passos concedeu a entrevista na manhã de 7 de abrilde 2003, um dos piores dias de sua vida. Acabara dereceber a notícia de um acidente com um caminhãoque transportava sete trabalhadores para uma lavourade café. Os lavradores viajavam na carroceria doveículo, o que é proibido. Iam para uma fazenda que oscontratara para trabalhar no preparo dos pés de cafépara a colheita. Todos morreram. Detalhe: como nãoestavam legalmente registrados, as famílias dosmortos não terão nenhuma espécie de direito ouseguro por causa do acidente. Ficará o dito pelo nãodito. "Essa é a realidade do campo", lamenta Passos."O café é o maior gerador de empregos em MinasGerais, mas também é aquele que menos segue o quedetermina a lei". A cafeicultura gera 4,6 milhões deempregos diretos e indiretos no estado. Quase 700 dos853 municípios cultivam o produto, em 150 milpropriedades (30% do total).

“”

Não passamosfome, mas nossa

vida é umaguerra diária em

busca do quecomer.

Lucimara das Graças de Carli,trabalhadora do café

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abandono na velhiceArildo Augusto, que colhe café desde criança,fica sem trabalho na entressafra. Na foto daesquerda, panelas vazias na sua cozinha

A lavoura nunca ouviu falarA lavoura nunca ouviu falarA lavoura nunca ouviu falarA lavoura nunca ouviu falarA lavoura nunca ouviu falarem responsabilidade socialem responsabilidade socialem responsabilidade socialem responsabilidade socialem responsabilidade socialProblemas como esse são tão antigos quanto a própriahistória do café no Brasil. Seria pertinente, então,perguntar: o que a Sara Lee tem a ver com isso, já queestá no país há pouco tempo? A Sara Lee, naavaliação de vários produtores, cooperativas e líderessindicais, tem responsabilidade porque, para ela, écomercialmente vantajoso comprar um café em cujopreço não estejam agregados os custos sociais.

"A Sara Lee, no que diz respeito ao relacionamentocom os produtores, cooperativas e atravessadores, visaapenas o lucro", diz o presidente de uma grandecooperativa que tem a corporação como um dosprincipais clientes: "Não existe nenhum tipo de pressãopara que os trabalhadores sejam retirados dasprecárias condições de subemprego em que vivem". Aoconhecer as diretrizes delimitadas por documentoscomo o Global Business Standards e o SupplierSelection Guidelines, o presidente, que prefere não terseu nome revelado, é taxativo: "A Sara Lee não cumpreessas cláusulas no início da cadeia produtiva".

O subemprego, o analfabetismo e as péssimascondições sanitárias em que vivem os trabalhadoressão reforçados pelo desinteresse dos grandescompradores em relação às reais condições em que ocafé é produzido. A coordenadora geral do Sindicatodos Empregados Rurais do Sul de Minas, ElizabeteFlorêncio, dá uma dica de como uma mudança efetivapoderia ser realizada a partir de iniciativasprotagonizadas por corporações como a Sara Lee:"Evitem os atravessadores e negociem parte do cafédiretamente com os agricultores familiares; incentivemoutras culturas para evitar os problemas sociaisdecorrentes da monocultura; invistam em programassociais; visitem a região e conheçam a realidade doprodutor do café que vocês compram".

Em torno de 2 milhões de pessoas trabalham direta eindiretamente com a cafeicultura no sul de MinasGerais, segundo estimativa da Federação daAgricultura do Estado (FAEMG). Destas, 80% ficamsem trabalho durante a entressafra, calcula o Sindicatodos Empregados Rurais. Muitos trabalhadores, comona região onde vive Elizabete, recorrem ao subempregonas minas de pedras usadas em revestimento

“”

As questõessociais não fazem

parte dosinteresses das

grandescompradoras

Hugo Passos Swerts Jr.,produtor de café

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cerâmico. É o caso de Mateus Vieira Lima, pequenoprodutor do sul de Minas. Seis meses por ano, eleempunha talhadeira e marreta em uma mineradoralocalizada no município de Guapé. "A safra nãosustenta a família durante o ano todo, precisamosdeixar a terra de lado e recorrer ao trabalho naspedreiras", explica. "Não temos como estocar o cafépara esperar o melhor preço. Geralmente, no final dacolheita estamos cheios de dívidas. Precisamosentregar café por qualquer preço, é uma questão desobrevivência".

Arildo Augusto, 61 anos, trabalha com café desde os12 anos de idade. Mora no Parque Rinaldi, comunidadecarente localizada na periferia de Varginha. Nunca foi àescola. Na casa, moram ele, a mulher e outros seisparentes. É mais um dos desempregados daentressafra. Entre janeiro e fevereiro de 2003,conseguiu trabalhar durante oito dias limpando umroçado. Ganhou, pelo serviço, R$ 80,00 (US$ 26 pelocâmbio de 15/04/2003) . "A riqueza do café é parapoucos, muito poucos", diz ele. "Na época da safra agente consegue um dinheirinho. No restante do ano,dependemos da boa vontade dos parentes e da ajudada Igreja".

Uma vez por semana um furgão de uma entidade ligadaà Igreja Católica estaciona no pátio da casa de AníbalPereira, um dos líderes da comunidade do ParqueRinaldi. Duas grandes panelas de alumínio aliviam afome das pessoas que ali vivem, boa parte delastrabalhadores temporários nos cafezais. São os filhosdos trabalhadores, em geral, que vão buscar seubocado de sopa de arroz com batatas. As doses sãomedidas para que todos possam levar um pouco. Aspanelas ajudam a esperar até que chegue a próximasafra, alimentam a esperança de que, um dia, a vida nosul de Minas vai melhorar para todos. "Essa realidadesó mudará quando as empresas assumirem, naprática, o discurso da responsabilidade social", avaliaAníbal. "Aqui nós produzimos a matéria-prima sem aqual as empresas não teriam seus lucros. As relaçõesde trabalho precisam ser mais justas".

As cooperativas de pequenos e médios produtores, quepoderiam representar um maior poder de negociaçãocom os grandes compradores, não conseguiram, atéagora, cumprir a sua parte quanto à distribuição darenda gerada pela cultura do café. "Elas foram feitaspara o pequeno produtor, mas estão nas mãos dosgrandes compradores, que não vivem a realidade dessagente", avalia a sindicalista Elizabete Florêncio. Acrítica não parte apenas de sindicalistas. João PedroAlvarenga, dirigente da Volcafé, uma das maioresexportadoras de café sediadas no Sul de Minas,também acha que as cooperativas perderam, emgrande medida, sua função social. "Algumas virarammeros comerciantes de café: compram dosagricultores familiares com a intenção de especular nomercado futuro. E os produtores, após terem vendido ocafé para a sua própria cooperativa, não têm direito aos

Não temos comoestocar o café para

esperar o melhor preço.Geralmente, no final dacolheita estamos cheiosde dívidas. Precisamos

entregar café porqualquer preço, é uma

questão desobrevivência.

Mateus Vieira Lima, pequeno produtor

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Solidariedade

Filhos de trabalhadores temporários noscafezais aliviam a fome com sopa servida por

entidade ligada à Igreja Católica

lucros da venda futura".

A Cooxupé, que se intitula a maior cooperativa cafeeirado mundo, foi diretamente citada por Pedro Alvarengacomo uma entidade que adota a prática de especularcom café no mercado futuro. Com 8.600 sócios e 1.100funcionários, a cooperativa atua em 56 municípios etem capacidade de armazenamento de 3,3 milhões desacas de 60 kg. Ela está entre as dez maioresexportadoras brasileiras de café verde.

O diretor comercial da Cooxupé, Oto Villas-Boas, foiindagado a respeito. Ele diz que a compra dosagricultores familiares para a venda futura representaapenas 1% de todo o café movimentado pelacooperativa e que o produto armazenado nunca é decooperado, mas de produtores independentes. Areportagem pediu a ele que informasse:

- o montante de café que a cooperativa compra earmazena para venda futura;

- de onde vem esse café, e- qual café é vendido para Sara Lee e a que preço.

“São dados sigilosos, portanto, não podem serrevelados”, limitou-se a informar.

Por outro lado, os maiores produtores, que nãoprecisam da cooperativa para escoar o produto,também fazem muito pouco para reverter o círculovicioso que caracteriza o processo de produção ebeneficiamento do café. "Os grandes produtores aliam-se às empresas porque também, para eles, nãointeressa regularizar a situação do lavrador", explicaElizabete Florêncio. "São empresários que vêem oinvestimento social como despesa. Para eles, asquestões sociais simplesmente não interessam, nãofazem parte da administração do negócio".

As exceções em relação a essa postura são bempoucas. Na avaliação de diversos sindicalistas, oproblema ocorre em função da falta de fiscalização porparte dos órgãos governamentais e do desinteressedas grandes compradoras em saber as reais condições

sociais em que a matéria-prima foi produzida.“Produtores, trabalhadores e as grandes empresasprecisam olhar a questão de frente e tomar medidasconjuntas para reverter o problema”, propõe JairoPassos, da Federação dos Trabalhadores. O maiorprodutor de café de Varginha, Hugo Passos Swerts Jr.,tem a mesma opinião: “As questões sociais não fazemparte dos interesses das grandes compradoras”,afirma. “A Sara Lee quer saber é do preço. Para ela,não interessa qual é a relação que eu tenho com meusfuncionários, se eles comem ou se vão para a escola.A Sara Lee nunca me procurou para saber ascondições de vida do meu trabalhador. Só a Nestlé fazisso de vez em quando, pois está interessada no meuprojeto de agricultura sustentada”.

Em uma de suas fazendas, a Santa Cruz, o cafezal deHugo estende-se para além de onde a vista alcança.Nessa propriedade, ele tem 1,3 milhão de pés de café,45 funcionários fixos e 27 casas. Durante a época decolheita, o número de trabalhadores sobe para cercade 300. “Vou transformar esta fazenda em umareferência de produção agrícola com responsabilidadesocial”, anuncia ele. Sua intenção é desenvolverpráticas de agricultura sustentada. “Mudar a cultura donegócio é caro e arriscado. Contudo, tenho certeza queno futuro meu café estará mais valorizado. Estouagregando ao produto uma maneira de produzir queleva em conta os princípios da responsabilidade socialempresarial”. Segundo ele, faz isso também por umaquestão de consciência: “É muito fácil ficar ricomatando trabalhadores. A maioria das fazendas, porexemplo, não usa equipamentos de proteção individual.Os trabalhadores morrem ou ficam doentes por causados defensivos [agrotóxicos]”.

Antônio José Dias e Maria de Lourdes, casados há 15anos e pais de seis filhos, vivem uma realidade bemdiferente. Residentes na periferia de Guapé (MG),conseguem trabalho apenas durante a época da

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colheita. "Este ano, para não passar fome, fomosvendendo o que dava: móveis, televisão, geladeira.Temos que sustentar seis filhos pequenos e que aindanão trabalham", justifica Antônio.

Este casal não tem uma vida diferente da que levaMaria Nair, que começou a trabalhar aos 10 anos deidade; de Lucimara, que em 2002 trabalhou seis mesese só foi registrada por 10 dias; de Mateus, pequenoprodutor que durante a entressafra troca o cultivo decafé pelo trabalho na pedreira. Analfabetos, Antônio eMaria não têm perspectivas de melhorar de vida. Esabem disso: "Vivemos na escuridão, não esperamosnada para o futuro", lamenta Maria.

Há trabalhador do café que vive em situação ainda pior.Antônio e Maria pelo menos conseguem serregistrados nos meses que trabalham na safra. RobertoCarlos Rodrigues, 32 anos, nem isso alcança. "Nãotenho registro, não tenho documento, vivo entregue àsorte", diz ele. Por que não reclama? Por que nãoprocura a Justiça? "Somos fracos. Se reclamar, nãotrabalha pra mais ninguém. A vida no campo nãomerece reclamação".

Roberto Carlos viveu durante seis anos com a mulher eos filhos em uma casa de barro, que ele mesmoconstruiu. "Outro dia encontrei uma cobra dentro doguarda-roupa", conta. "A gente não pode se assustarcom essas coisas, precisa ter coragem para levar avida". Em 2003 conseguiu construir uma casa de tijolose a casa de pau-a-pique agora serve como cozinha."Não espero muita coisa da vida", diz. "Vamos torcerpara os filhos conseguirem concluir os estudos e vivermelhor". É o sonho de Roberto Carlos. É o pequenosonho a que se dão o direito os lavradores do sul deMinas Gerais.

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Sara Lee querparcerias paradifundir práticas sociais

Na primeira semana demarço a reportagem do Obser-vatório Social solicitou à gerên-cia de comunicação da SaraLee Cafés do Brasil uma entre-vista com o então presidente daempresa, Maurílio Lobo Filho.Fomos informados de que issonão seria possível, por causa demudanças na estrutura da dire-toria. A equipe do Observató-rio reiterou a importância de in-cluir a versão da empresa so-bre os temas abordados nestapublicação e propôs como al-ternativa uma entrevista por es-crito. No dia 7 de abril uma lis-ta de perguntas foi encaminha-da por correio eletrônico. Elasforam respondidas no dia 22

pelo diretor de Marketing daSara Lee Cafés do Brasil, ManuMelotte.

O diretor afirmou que aempresa está comprometidacom a justiça e o desenvolvi-mento na cadeia produtiva docafé. Ele disse que a Sara Leeadota normas globais para pro-mover a responsabilidade soci-al. Acrescentou ainda que, noBrasil, há um projeto de desen-

volvimento local sendo promo-vido há seis meses, mas queainda não foi possível obter re-sultados mensuráveis. Melotteadmitiu que a corporação nãotem o total conhecimento deseus fornecedores e expressouo desejo da empresa de contarcom órgãos governamentais,estaduais e ONGs para ajudá-la a difundir as práticas sociaisadequadas.

1) Qual é a política internacional da Sara Leepara responsabilidade social e que aspectosrecebem atenção especial no Brasil?

- A Sara Lee Corporation está interessada emdesenvolver a agricultura do café, o que beneficiatoda a cadeia produtiva: agricultor, fazendeiro,distribuidor e indústria. No entanto, quando temossuperproduções, como a que aconteceu no mundono ano passado, o preço e a qualidade do grãoverde caem. Para tentar solucionar problemascomo estes, a Sara Lee vem desenvolvendo váriosprojetos, tais como: Corporates Guide Lines: norteiam os valores da

empresa pelo mundo. Small Farmers Policy: (desde 1989) nos obriga

que no mínimo 10% de toda compra de café verdeseja efetuada diretamente dos pequenosfazendeiros, evitando assim os intermediários. Projetos in coffee originating - Projetos de

desenvolvimento local, hoje em andamento emUganda, Vietnam, Peru e Brasil.No Brasil o projeto para o desenvolvimento daagricultura e suas práticas, no norte de São Pauloe sul de Minas Gerais, existe há aproximadamenteseis meses, mas ainda não temos nenhumresultado concreto que possa ser divulgado.

2) Que ferramentas e procedimentos a Sara Leedispõe para garantir a implementação da suapolítica de responsabilidade social?

- Temos o GBS (Global Business Practices) que sãonossas práticas que devem ser difundidas, regidase controladas por responsáveis local de nível dediretoria ou através de um contato mundialacessado por um número de telefone (0800) ou e-

mail. Treinamentos foram ministrados pelo mundotodo, por equipes americanas altamentecapacitadas, a gerência e propagadores daspráticas, que acreditamos serem as mais justas atodos os nossos públicos interno e externo.

3) Quanto a empresa investe anualmente emresponsabilidade social no mundo e no Brasil ecomo o dinheiro é aplicado?

- A empresa tem por estatuto mundial não divulgarinvestimentos.

4) Como a Sara Lee informa seus stakeholders[acionistas, trabalhadores, consumidores efornecedores] sobre os resultados de suapolítica de responsabilidade social?

- Aqui no Brasil, o projeto está em andamento haaproximadamente seis meses e ainda não surtiuresultados mensuráveis, sabemos que só os vamosobter em longo prazo. Porém, os resultados serãocomunicados de maneira formal, ou seja, emreuniões, boletins e comunicados formais.

5) Que critérios a Sara Lee utiliza paraestabelecer o preço de compra do café? Existealgum benefício financeiro para os agricultoresfamiliares ou para produtores que adotempráticas de agricultura sustentada ou deresponsabilidade social?

- Os critérios quem define é o mercado. Além disso,queremos influenciar com projetos tais como:

Small Farmers Policy, que nos obriga que nomínimo 10% de toda compra de café verde feita

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NotasNotasNotasNotasNotas1 Fontes: Coffeebusiness e Centro de Comércio de Café do Estado de Minas Gerais.2 Café do BraZil, o sabor amargo da crise. Observatório Social, setembro de 2002.

pela Sara Lee seja efetuada diretamente dospequenos fazendeiros; Desenvolvimento da qualidade dos cafés, para

tirar o café do status de commodity, agregando-lhemaior valor. Isto faz com que cresça a demanda deprodutos de qualidade, aumentando o mercado (ex:Café Creme, projeto em parceria com a Philips naEuropa). Dinamizar o setor de café, aumentando o

equilíbrio entre oferta e demanda e aumentando oshare of stomach, ou seja, o consumo per capita; Desenvolvimento de blends de café que trazem

na sua composição produtos que não agridem anatureza. É o caso dos cafés orgânicos: produtocultivado sem agrotóxicos e solos fertilizados comadubos naturais, fiscalizados com a ajuda do IBD –Instituto Bio-dinâmico.

6) Quais são os 10 maiores fornecedores de cafépara a Sara Lee no Brasil e quais são osprincipais critérios utilizados para sua seleção?

- Como qualquer outra empresa, não podemos abrirnossos fornecedores. A concorrência pode nelesdescobrir os segredos dos nossos blends. Porém oprincipal critério para seleção é qualidade do grão.

7) Quais são os principais clientes no mercadointernacional para o café industrializado pelaSara Lee?

- A Sara Lee Cafés do Brasil não foca seu trabalho nomercado exterior e sim no local aonde ela produz,por isso a preocupação da Sara Lee Cafés doBrasil é desenvolver a agricultura brasileira.

8) Segundo as normas da empresa, os parceiroscomerciais devem receber uma cópia do GlobalBusiness Standards e do Supplier SelectionGuidelines, que determinam a maneira como aSara Lee se relaciona com os fornecedores esua postura em relação à responsabilidadesocial. A reportagem conversou, no Sul deMinas Gerais, com grandes parceiros comerciaisda Sara Lee, dentre eles cooperativas e grandesprodutores de café. Eles dizem, de maneiraunânime, que nunca receberam o documento eque a Sara Lee também nunca se interessou emsaber se eles seguem as leis trabalhistas ou seadotam práticas de gestão socialmenteresponsáveis. O que a Sara Lee tem a dizersobre isso?

- Isto realmente pode acontecer, mas com certeza

não pode ser unanimidade, levando-se em contaum universo de aproximadamente 10.000produtores e intermediários. Re-atualizaremos omaterial junto aos nossos fornecedores ecobraremos uma postura mais pró-ativa.

9) Os documentos oficiais da Sara Lee dizem quea empresa procura, através da pressãocomercial, influenciar seus fornecedores acumprir rígidos padrões éticos e obedecer asleis e os regulamentos. Segundo suas normas,os fornecedores devem tratar os funcionárioscom respeito e dignidade, promovendo bem-estar e qualidade de vida, obedecer às leistrabalhistas, bem como o direito de livreassociação. Devem ser socialmente responsáveisnos países e comunidades onde a empresaopera. A reportagem conversou com váriosfornecedores da Sara Lee e nenhum delesafirmou que foi pressionado a mudar suaconduta e aprimorar padrões éticos e morais.Isso quer dizer que a Sara Lee está satisfeitacom a maneira de atuar dos seus fornecedores?

- Sim, acreditamos ter os melhores parceirosnacionais, mas também sabemos não ter o totalconhecimento de seus fornecedores, para issogostaríamos de contar com órgãos governamentais,estaduais e ONGs para nos ajudar a difundir aspráticas sociais adequadas.

10) A Sara Lee afirma não contratar fornecedoresque adotam trabalho forçado e trabalho infantil,seja de matéria-prima, seja do produto final, ouserviços provenientes de trabalho forçado einfantil. Como a empresa controla essa práticajunto aos seus fornecedores?

- O que já podemos garantir é que em nossasfábricas não existe trabalho infantil nem exploraçãode mão-de-obra. Muito pelo contrário, em linha comos sindicatos que regem as categorias, pagamossalários e benefícios justos e implantamos projetossociais visando o desenvolvimento da população aonosso entorno. Porém, quanto aos fornecedores,detemos 15% do mercado de café verde, eprecisamos contar com a parcela restante, alémdos órgãos oficiais desta categoria. Nós, Sara LeeCafés do Brasil, queremos trabalhar junto àsassociações que representam o setor de café.Vamos estimular e influenciar fornecedores eintermediários para que não estabeleçam contatoscomerciais com parceiros que transgridam estaspremissas e façam com que este segmento sejacada vez mais justo e desenvolvido.

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PROP

OSTAS

PARA

A CRIS

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Propostas dos agricultoresfamiliares e assalariados rurais*

A agricultura familiar e os assalariadosrurais formam o elo mais vulnerável da cadeiaprodutiva do café. É onde o impacto social eeconômico da crise atual pode ser percebido deforma mais dramática. Enquanto astransnacionais do café aumentam seus lucroscom o produto, os agricultores familiaresabandonam suas lavouras e os trabalhadoresrurais ligados ao setor vêm perdendo seuemprego e tendo as suas condições de trabalhoprecarizadas.

Portanto, são necessárias medidasurgentes que viabilizem a cultura do café comoum produto de sustentação e fortalecimento daagricultura familiar no Brasil, bem como decondições de trabalho dignas para osassalariados e assalariadas rurais.

* Estas propostas foram aprovadas durante Encontro Nacional realizado em Vitória (ES) nos dias 20 e 21 de agosto de 2002, organizado pelaContag, CUT e Oxfam. O encontro contou com o apoio da Action Aid Brasil, Federação dos Trabalhadores na

Agricultura, do Estado do Espírito Santo (Fetaes) e Secretaria Estadual da Agricultura(ES).

BRASIL

Propostas dos agricultoresfamiliares e assalariados rurais*

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TORREFADORAS DE CAFÉCompromisso com um diálogo propositivo com a representação dos agricultores familiares.

Compromissos claros com respeito à garantia dos direitos dos trabalhadores envolvidos na produção do café, incluindo o financia-mento de mecanismos efetivos de monitoramento.

Investimento de recursos em programas de melhoramento da qualidade do café produzido pela agricultura familiar.

GOVERNOAgricultura FamiliarParticipação de representantes dos agricultores familiares e trabalhadores no Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC).

Participação de representantes dos agricultores familiares e trabalhadores nas reuniões internacionais da Organização Internacionaldo Café (OIC) e outras instâncias internacionais relevantes.

Implementação de políticas específicas para o café dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar(Pronaf), incluindo recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) que fortaleçam a extensão e a assistênciatécnica voltadas para a qualidade do café e a diversificação da produção; além de capacitação em estocagem, marketing etransformação do café para exportação direta.

Negociação das dívidas existentes junto ao Pronaf.

Política de garantia de preços mínimos para o café da agricultura familiar.

Ações para o fortalecimento da participação da agricultura familiar no mercado de Comércio Justo do café.

Acesso a terra, através da reforma agrária e da expansão do crédito fundiário, para que os meeiros, arrendatários e filhos depequenos proprietários possam melhorar suas condições de vida na produção do café.

Realização de pesquisa sobre o perfil da produção de café no Brasil, que identifique a participação e condições dos agricultoresfamiliares e assalariados rurais, feita em conjunto com as suas representações.

Criação de um selo de qualidade e origem da produção de café da agricultura familiar, com a participação do governo.

Política de marketing internacional que melhore a imagem do café do Brasil.

Estabelecimento de um mecanismo para monitoramento da competição efetiva entre torrefadores e outros atores da cadeia.

Transparência sobre os preços para produtores e consumidores em cada região e disseminação dessas informações aos agriculto-res familiares.

Campanha de esclarecimento ao consumidor brasileiro sobre a qualidade do café.

Assalariados ruraisCriação de uma legislação específica para que o contrato de safra seja feito de forma coletiva, através dos Sindicatos dos Trabalha-dores Rurais (STRs), garantindo os direitos trabalhistas e previdenciários.

Aumento da fiscalização no meio rural realizada pelas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs), garantindo a aplicação das leis enormas que protegem os direitos dos trabalhadores.

Suspensão do crédito público aos empregadores que desrespeitarem as legislações trabalhista e previdenciária.

Criação de um programa de capacitação dos trabalhadores quanto ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), manuseiode produtos químicos e técnicas que diminuam os riscos de acidentes no campo.

As propostas de políticas domésticas apresentadas devem ser complementadas poruma negociação do governo junto aos países produtores, buscando encontrarmecanismos que gerenciem a produção e os preços.

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É necessário um Plano de Resgatepara o Café que realinhe a oferta com a

demanda e apóie o desenvolvimentorural, de modo que os cafeicultores

possam ter uma renda decente. O planoprecisa reunir os principais atores

envolvidos na produção e no comérciodo café para que a crise seja superada e

se possa criar um mercado mais estável.

O Plano de Resgate representa o piloto de umaIniciativa de Gestão de Commodities, de prazo maislongo, destinada a melhorar os preços destes produtose a disponibilizar outros meios de vida para os produ-tores. Os resultados desse plano seriam os seguintes,entre outros:

1. Estabelecimento de mecanismos, por parte dosprodutores e dos governos de países consumido-res, para corrigir o desequilíbrio entre oferta edemanda, visando garantir preços razoáveis paraos produtores. Os produtores devem estar ade-quadamente representados nesses esquemas.

2. Cooperação entre governos de países consumido-res no sentido de impedir que entre no mercado

um volume maior de commodities do que podeser vendido.

3. Apoio aos países produtores para que estes ex-traiam uma parcela maior do valor de seus pro-dutos de commodity.

4. Amplos financiamentos de doadores para reduzira enorme dependência que os agricultores famili-ares têm de commodities agrícolas.

5. Fim dos duplos padrões adotados pela União Eu-ropéia e pelos Estados Unidos no comércio deprodutos agrícolas, que restringem as opções dospaíses em desenvolvimento.

6. Pagamento, pelas empresas, de um preço decentepor produtos primários (acima dos custos de pro-dução).

Dentro de um ano, e sob os auspícios da OIC, o Plano de Resgate deve resultar em:

1. Compromisso das empresas torrefadoras de pagar um preço decente aos produtores.

2. Compromisso das empresas torrefadoras de só comercializar cafés que satisfaçam aos padrões doEsquema de Melhoria da Qualidade da OIC.

3. Destruição de pelo menos cinco milhões de sacas como medida imediata, a ser financiada porgovernos de países ricos e por empresas torrefadoras.

4. Criação de um Fundo de Diversificação destinado a ajudar produtores com baixa produtividade abuscar outros meios de vida.

5. Compromisso, por parte das empresas torrefadoras, de comprar volumes crescentes de caféscomercializados de acordo com as condições propostas pelo movimento do Comércio Justo ediretamente dos produtores. Dentro de um ano, esse volume deve corresponder a 2%, com aumentosincrementais subseqüentes.

PROPOSTA INTERNACIONAL

Um plano de Um plano de

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O Plano de Resgate para o Café só poderá serbem-sucedido se todos os atores deste mercado seenvolverem ativamente na sua execução. As reco-mendações apresentadas a seguir incluem elementosdo que cada grupo pode fazer para que o plano funci-one.

Empresas de caféEmpresas torrefadoras– Kraft, Nestlé, Procter & Gamble e Sara Lee

1. Comprometam-se a pagar um preço decente aosprodutores.

2. Invistam um volume significativo de recursos nasuperação da crise do café (incluindo umacontribuição financeira para pacotes de ajudahumanitária contra a crise).

3. Rotulem produtos a base de café de acordo coma sua qualidade.

4. Comprometam-se a comprar volumes crescentesde cafés comercializados de acordo com ascondições propostas pelo movimento do ComércioJusto e diretamente dos produtores. Dentro de umano, o volume deve corresponder a 2% de suascompras de café, com importantes aumentosincrementais subseqüentes a serem determinadosanualmente pelo movimento do Comércio Justo.

5. Desenvolvam atividades de lobby junto aogoverno dos Estados Unidos para que este volte aser membro da OIC.

6. Assumam compromissos claros e verificáveis derespeitar os direitos de trabalhadores migrantes esazonais e as convenções da OIT.

Varejistas(supermercados e cafés)

1. Exijam dos fornecedores que o café vendido poreles garanta um preço decente aos produtores.

2. Promovam marcas e produtos à base de cafévinculados ao movimento do Comércio Justo.

3. Insistam para que produtos a base de café sejamrotulados de acordo com a sua qualidade.

4. A Starbucks deve divulgar publicamente suasverificações em relação à viabilidade comercial desuas diretrizes para a seleção de fontes para acompra de café.

Governos e instituiçõesOrganização Internacional do Café

1. Organizem, com a ONU (Organização dasNações Unidas) e com a participação do BancoMundial, uma conferência de alto nível sobre acrise do café, presidida por Kofi Annan, atéfevereiro/março de 2003, especificando que aparticipação deve estar vinculada à disposição ecapacidade de assumir compromissos concretos.

2. Trabalhem com países produtores, organizaçõesenvolvidas no movimento do Comércio Justo eempresas torrefadoras para definir uma rendadecente para os produtores.

3. Implementem o esquema de qualidade, apósavaliar seu impacto para pequenos produtoresrurais.

*Este plano faz parte da campanha globalO que tem no seu café, da Oxfam Internacional.

resgate para o café* resgate para o café*

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Banco Mundial

1. Identifique o apoio que o Banco pode oferecer apaíses produtores na administração do impacto decurto prazo de baixas no preço do café, tecendo,também, considerações sobre o desenvolvimentorural no exercício do Documento de Estratégiaspara a Redução da Pobreza (PRSP). O BancoMundial e o FMI devem desenvolver umaestratégia integrada de longo prazo para atacar oproblema das commodities.

2. Continue a avaliar o processo do programa HIPCà luz da queda esperada nas receitas deexportação, em decorrência da baixa nos preçosdos produtos primários, e tome as medidasnecessárias para que qualquer país que sofra osefeitos de uma queda importante nos preços deprodutos primários entre o Ponto de Decisão eConclusão da HIPC receba automaticamente umaassistência adicional em relação à dívida no Pontode Conclusão para cumprir a meta de 150% dedívida-exportações.

3. Contribua para a realização de uma conferênciainternacional de peso sobre o café, organizadapelas Nações Unidas (UNCTAD) e pela OIC atéfevereiro/março de 2003.

Conferência das Nações Unidassobre Comércio e Desenvolvimento(UNCTAD)

1. Desenvolva uma estratégia de longo prazo para oproblema dos produtos primários.

2. Organize uma conferência internacional de pesosobre o café com a OIC até fevereiro/março de2003.

Governos de países produtores

1. Cooperem entre si para impedir que entre nomercado um volume de commodities maior do quepossa ser vendido.

2. Coloquem a diversificação no centro dasestratégias de redução da pobreza.

3. Disponibilizem mecanismos de apoio a produtoresque precisam sair do mercado do café, incluindoassistência a mulheres deixadas em propriedadesrurais da família.

4. Adotem medidas para satisfazer as necessidadesimediatas de produtores rurais em termos deserviços de extensão, entre os quais:

· informações técnicas e de comercialização,· esquemas de crédito e serviços de gestão dedívidas.

Os serviços de extensão devem considerar,particularmente, as necessidades das mulheresprodutoras.

5. Estabeleçam sanções contra práticas comerciaisanticompetitivas que prejudiquem pequenosprodutores rurais.

6. Avaliem o impacto do Esquema de Qualidade daOIC para pequenos cafeicultores, principalmentepara mulheres produtoras.

7. Protejam os direitos de trabalhadores sazonais efixos, visando garantir a aprovação e aimplementação de leis trabalhistas compatíveiscom convenções essenciais da OIT. Os direitosdas mulheres trabalhadoras exigem atençãoespecial.

8. Promovam associações de pequenos produtores eempresas visando a fortalecê-los nos mercadosnacionais de café.

Investidores

1. Estimulem as empresas torrefadoras aadotar esquemas de gerenciamento decadeias de abastecimento e políticas depreços que garantam preços acima doscustos de produção e protejam os direitostrabalhistas dos trabalhadores em cafezais,visando garantir a sustentabilidade domercado do café no longo prazo.

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Consumidores

1. Comprem mais cafés comercializados no âmbitodo movimento do Comércio Justo.

2. Peçam aos varejistas que estoquem mais produtoscomercializados no âmbito do movimento doComércio Justo.

3. Exijam que as empresas adotem políticas depreços que garantam uma renda decente aosprodutores.

4. Exijam uma melhor rotulação sobre a origem docafé comercializado pelas torrefadoras/varejistas.

5. Peçam aos gerentes de fundos de pensão quelevantem as questões indicadas abaixo.

Governos de países ricosconsumidores

1. Ofereçam apoio político e financeiro para eliminaro problema da superoferta por meio de medidas,tais como:

· apoio e ajuda financeira ao esquema dequalidade da OIC, incluindo o monitoramentoda qualidade do café que entra em seusmercados oriundo de cada país produtor,disponibilizando rapidamente informaçõesresultantes desse monitoramento;· eliminação das tarifas ainda em vigor;· destruição de estoques de café de qualidadeinferior.

2. Apóiem a OIC como o foro no qual produtores econsumidores podem atacar a crise do café.

3. Aumentem o financiamento destinado aodesenvolvimento rural e aos meios de vida rurais naODA (Assistência Externa ao Desenvolvimento).

4. Ofereçam incentivos para que as torrefadorastransfiram tecnologia e desenvolvam umaproporção maior do processamento de valoragregado nos países em desenvolvimento.

2. Digam às empresas de café nas quaisinvestem que a promoção de melhoriasna qualidade de vida de produtoresrurais pobres será um critério-chave naavaliação da gestão do risco de suareputação à luz dos preços que adotame de sua gestão da cadeia deabastecimento.

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