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Cadernos da Semana de Letras Ano 2009 Volume I - Resumos Curitiba, PR 25 a 29 de maio de 2009

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Ano 2009 Volume I - Resumos

Curitiba, PR 25 a 29 de maio de 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS

DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

DEPARTAMENTO DE TEORIA E FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Page 3: Cadernos da semana_de_letras_-_ano_2009_volume_i

COMISSÃO ORGANIZADORA

PRESIDENTE

Márcio Renato Guimarães (DLLCV/Vice-Coordenador do Curso de Letras)

VICE-PRESIDENTE

Eduardo Nadalin (DELEM)

SECRETARIA GERAL

Rodrigo Tadeu Gonçalves (DLLCV)

COMITÊ CIENTÍFICO

Claudia Mendes Campos (DLLCV)

Maurício Mendonça Cardozo (DELEM)

Roosevelt Araújo da Rocha Junior (DLLCV)

COMISSÃO DE APOIO

Eva C. R. Avelar Dalmolin (DELEM/Coordenadora do Curso de Letras)

Sueli de Fátima Fernandes (DTFE)

Page 4: Cadernos da semana_de_letras_-_ano_2009_volume_i

EDITOR

Márcio Renato Guimarães

COMITÊ DE PUBLICAÇÃO

Claudia Mendes Campos

Eduardo Nadalin

Eva Cristina Rodrigues Avelar Dalmolin

Maurício Mendonça Cardozo

Rodrigo Tadeu Gonçalves

Roosevelt Araújo da Rocha Junior

Sueli de Fátima Fernandes

NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

José Olivir de Freitas Junior

PRODUÇÃO GRÁFICA

José Olivir de Freitas Junior

1ª edição

Catalogação-na-publicação

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliotecário Mauro C Santos - CRB 9ª/1416

S471c Semana de Letras (2. 2009 : Curitiba, PR)

Cadernos da Semana de Letras: resumos / Semana de Letras, 25 a 29 de maio de 2009. – Curitiba : UFPR , 2009. v.1 : 84 p.

Anual ISSN 2237-7611 1. Universidade Federal do Paraná – Congressos. 2. Universidades e faculdades – Pesquisa – Congressos. I. Título. CDU: 8(048.3)

Page 5: Cadernos da semana_de_letras_-_ano_2009_volume_i

APRESENTAÇÃO

Este é o Caderno de Resumos da Semana de Letras da UFPR, que se apresenta

em sua segunda edição neste novo formato, que se caracteriza por uma configuração de

Congresso e por uma participação mais do que maciça dos corpos docente e discente, com

especial destaque para as apresentações de nossos alunos de graduação e pós-graduação.

A Programação Geral consta das Conferências, Mesas-redondas e Sessões

Coordenadas organizadas por nossos docentes.

A Programação dos Simpósios – o V Simpósio dos Estudos da Tradução e o II

Simpósio de Estudos Linguísticos e Literários – consta das sessões de comunicações

individuais de nossos discentes, organizadas, na medida do possível, por área do

conhecimento.

Comissão Organizadora Maio de 2009

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Sumário CONFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 9

DE OLHOS BEM ABERTOS: A MÁSCARA DO TRADUTOR E O UORTERE PLAUTINO ................ 9 LA SURVIE DU FRANÇAIS AU QUÉBEC ........................................................................................................... 9 TRADUZIR HOPKINS ............................................................................................................................................... 9 UM BALANÇO DAS DIREÇÕES DOS MANUAIS DE GRAMÁTICA ....................................................... 10

MESAS-REDONDAS ......................................................................................................................... 11 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO CURSO DE GRADUAÇÃOEM LETRAS-LIBRAS NO PÓLO DA UFPR .......................................................................................................................................................... 11 PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO ESPAÇO ESCOLAR: POR UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS ..................................................................................... 11 TRADUÇÃO PORTUGUÊS-LIBRAS EM UM AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO: ENTRE PERFORMANCES E ESTRANHAMENTOS ..................................................................................................... 12 VISÕES DE MUNDO/VISÕES DE LINGUAGEM: ROSA/POESIA/BAKHTIN ................................. 13 CAMINHOS PARA UMA LITERATURA NÔMADE ....................................................................................... 13 REALISMO MÁGICO E EXISTENCIALISMO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA NO MEADO DO SÉCULO XX ....................................................................................................................................... 14 O REALISMO MÁGICO ARGUEDIANO EM LOS RÍOS PROFUNDOS ................................................. 14 ESTÉTICAS E POLÍTICAS DA INTERCULTURALIDADE: O DEBATE SOBRE ALGUNS TEMAS ASTURIANOS ENTRE AS VANGUARDAS E O PÓS-MODERNISMO ................................................... 14 O TÚNEL: UMA REFLEXÃO DO EXISTENCIALISMO DENTRO DA LITERATURA ..................... 15

COMUNICAÇÕES COORDENADAS .............................................................................................. 16 LITERATURA DE VIAGEM NO SÉCULO XX, I ............................................................................................. 16

MANUEL BANDEIRA VIAJANTE: AS CRÔNICAS DA PROVÍNCIA DO BRASIL ................... 17 O TURISTA APRENDIZ NO NORDESTE E AS RACHADURAS DO SISTEMA PATRIARCAL: ESTUDO DAS CRÔNICAS “O GRANDE CEARENSE” E “TEMPOS DE DANTES”, DE MÁRIO DE ANDRADE ..................................................................................................................................... 17 JARDINS DE CECÍLIA ...................................................................................................................................... 18

LITERATURA DE VIAGEM NO SÉCULO XX, II ........................................................................................... 18 AS VIAGENS DO TELÚRICO JOSÉ LINS DO REGO ............................................................................. 19 UMA VIAGEM À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NA PROSA DE RUBEM BRAGA E NA PROSA DE ELSA MORANTE ......................................................................................................................... 19 CECÍLIA MEIRELES E A CRÔNICA: RELATOS DE VIAGEM POR PORTUGAL ..................... 20 O TURISMO POLIÉDRICO NAS CRÔNICAS DE JOSÉ SARAMAGO ................................................ 20 GALIZA: DA FOZ À FONTE ........................................................................................................................... 21

AÇÃO INTEGRADA PARA O LETRAMENTO ............................................................................................... 21 LEITURAS DA LITERATURA HISPANO-AMERICANA ............................................................................. 23

LA DESMEMORIA EN LA ESCRITURA FEMENINA HISPANOAMERICANA: UNA LECTURA DE LA QUINTRALA DE MAGDALENA PETIT .............................................................. 23 PANORAMA HISTÓRICO-SOCIAL DA LITERATURA SALVADORENHA ................................. 23 LITERATURA E MÚSICA EM CONCIERTO BARROCO DE ALEJO CARPENTIER: UMA LEITURA NÃO-HERMENÊUTICA. ............................................................................................................. 24 MODERNIDADE POÉTICA PARAGUAIA: UMA INTRODUÇÃO .................................................... 24 UMA LEITURA DAS MÚSICAS DE BOLA DE NIEVE ........................................................................ 25

ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA ........................................................ 25 ESTUDOS FONOLÓGICOS EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: PARÂMETROS DE CONFIGURAÇÃO ........................................................................................................................................ 26 ASPECTOS DA MORFOLOGIA EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS ................... 26 FLEXÃO VERBAL EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS .......................................... 27 MORFOLOGIA: A ALOMORFIA E CLASSES DE PALAVRAS EM LIBRAS ................................. 27

EXPERIÊNCIA RURAL E A FORMAÇÃO DO ROMANCE BRASILEIRO ............................................. 28 AS FACES DA PRAGMÁTICA................................................................................................................................ 30

PRAGMÁTICA E LITERATURA: DA CIÊNCIA DA LINGUAGEM À ARTE DA LINGUAGEM. ....................................................................................................................................................... 30 PRAGMÁTICA: DISCIPLINA LINGUÍSTICA OU CAMPO TRANSDICIPLINAR ......................... 30 A PRAGMÁTICA DAS PIADAS ..................................................................................................................... 31 PRAGMÁTICA E IDENTIDADE .................................................................................................................... 31

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ESTUDOS DE POLIDEZ EM DIFERENTES CONTEXTOS....................................................................... 32 PROCEDIMENTOS LINGUÍSTICOS NO DISCURSO JURÍDICO - A POLIDEZ NA PETIÇÃO INICIAL ................................................................................................................................................................... 32 A POLIDEZ NAS INTERAÇÕES TELEFÔNICAS INSTITUCIONAIS .............................................. 33 O DCT COMO METODOLOGIA DE COLETA DE DADOS PARA A ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ USADAS NA REALIZAÇÃO DE PEDIDOS .................................. 33 A REPRESENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ POR ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA): SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA ................................................................................................................................... 33

INCERTEZA E INDETERMINAÇÃO: NA FÍSICA, NA LINGUÍSTICA E NA TRADUÇÃO ............ 34 TRADUÇÃO/ INTERPRETAÇÃO RADICAL: A TESE DA INDETERMINAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A COMUNICAÇÃO ........................................................................................ 34 O PRINCÍPIO DA INCERTEZA E A BUSCA DA CERTEZA DO OUTRO........................................ 35 INDETERMINAÇÃO, RELATIVISMO E TRADUÇÃO .......................................................................... 35 TRADUÇÃO E REESCRITA: DIÁLOGOS NO ÂMBITO DOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO. ...... 36 REESCRITURA, MANIPULAÇÃO E RESISTÊNCIA: VENUTI, LEITOR DE LEFEVERE ..... 36 TRADUÇÃO COMO REESCRITA DO GÊNERO CÔMICO NA ANTIGUIDADE: LEFEREVE, PLAUTO E TERÊNCIO ...................................................................................................................................... 37 UMA POÉTICA DA REESCRITA: ENLACES DE POUND E LEFEVERE .................................... 37 TRADUÇÃO, RELAÇÃO E MANIPULAÇÃO: DE BERMAN A LEFEVERE ............................... 37

IDENTIDADE E DESLOCAMENTO: REFLEXÃO SOBRE TRÊS AUTORES NO BRASIL ............. 38 REPRESENTAÇÃO DE NATAL NA OBRA O TURISTA APRENDIZ DE MÁRIO DE ANDRADE ............................................................................................................................................................. 39 A PROBLEMATIZAÇÃO IDENTITÁRIA EM TONIO KRÖGER, DE THOMAS MANN ............. 39 JOSÉ J. VEIGA: A REALIDADE X O REALISMO MÁGICO. .............................................................. 39

ASPECTOS DOS CONTOS DE GUIMARÃES ROSA ..................................................................................... 40 AMOR E LIRISMO NAS PRIMEIRAS ESTÓRIAS DE JOÃO GUIMARÃES ROSA ....................... 40 REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NOS CONTOS “O ESPELHO” DE MACHADO DE ASSIS E GUIMARÃES ROSA ........................................................................................................................... 40 A INFÂNCIA EM PRIMEIRAS ESTÓRIAS ................................................................................................. 40 ASPECTOS DA TEORIA DO CONTO ........................................................................................................... 41

UMA INTRODUÇÃO À MÚSICA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA .......................................................... 41 POR UMA ABORDAGEM DINÂMICA DE FATOS FÔNICOS DO PB .................................................... 42

DESSONORIZAÇÃO TERMINAL: DADOS DE INFORMANTES PARANAENSES ................... 42 ABORDAGEM DINÂMICA DO ROTACISMO NO PB ............................................................................. 43 PRODUÇÃO DE FRICATIVAS POR JAPONESES APRENDIZES DE PB COMO L2 ................... 43

PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO GESTUAL PARA O TAP NO PB .................................................... 44 ABORDAGEM DINÂMICA DA PRODUÇÃO DE FISSURADOS ........................................................ 45

AQUISIÇÃO DAS CATEGORIAS DE TEMPO E ASPECTO ....................................................................... 45 O LÉXICO VERBAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ASPECTOS MORFOLÓGICOS.................................................. 47 REALISMO MÁGICO E EXISTENCIALISMO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA NO MEADO DO SÉCULO XX ....................................................................................................................................... 48

O REALISMO MÁGICO ARGUEDIANO EM LOS RÍOS PROFUNDOS ............................................ 48 ESTÉTICAS E POLÍTICAS DA INTERCULTURALIDADE: O DEBATE SOBRE ALGUNS TEMAS ASTURIANOS ENTRE AS VANGUARDAS E O PÓS-MODERNISMO ........................... 49 O TÚNEL: UMA REFLEXÃO DO EXISTENCIALISMO DENTRO DA LITERATURA ............. 49

COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS ................................................................................................... 50 UMA ANÁLISE DE ERROS DE ESTUDANTES BRASILEIROS DE INGLÊS NA ACENTUAÇÃO DE PALAVRAS COM SUFIXOS............................................................................................................................. 50 A VISUALIZAÇÃO E O SIGNIFICADO DO ENGENHO NA OBRA DE JOSÉ LINS DO REGO ... 50 ENTRE IRMÃOS: REPRESENTAÇÕES DA FRATERNIDADE ................................................................. 51 TESSITURA DA MEMÓRIA: AS DIMENSÕES DE ESPAÇO E TEMPO NA POESIA DE H.DOBAL .......................................................................................................................................................................................... 51 DA HERMENÊUTICA À TRADUÇÃO: AS IDÉIAS SOBRE TRADUÇÃO DE SCHLEIERMACHER SEGUNDO OS PRESSUPOSTOS DE SUA TEORIA DA COMPREENSÃO ............................................ 52 O CASO GRAMATICAL DO NOME .................................................................................................................... 52 DIDÁTICA X DIDÁTICO NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA ........................................................... 53 O TRABALHO DA CITAÇÃO, DA TRADUÇÃO, DA RELAÇÃO .............................................................. 53 O PAPEL DO LÉXICO NA COMPREENSÃO DE LEITURA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: FOCO NO PROCESSO ........................................................................................................................................................... 54

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“O ESPAÇO LITERÁRIO COMO ESPAÇO DA IDENTIDADE NA OBRA ÓRFÃOS DO ELDORADO DE MILTON HATOUM” .............................................................................................................. 55 A DIMENSÃO CRÍTICA DA LEITURA SINTOMÁTICA VENUTIANA .................................................. 55 A PARÓDIA EM THE CRYING OF 49, DE THOMAS PYNCHON ............................................................ 56 “SALÒ, OU OS CENTO E VINTE DIAS DE SODOMA”: A TRANSPOSIÇÃO ...................................... 56 DO TEXTO ERÓTICO DO MARQUÊS DE SADE PARA O FILME DE PASOLINI ............................ 56 ESTUDO ACERCA DA OBRA INSTITUTO DE NOMINE ET PRONOMINE ET VERBO DE PRISCIANO .................................................................................................................................................................. 57 O ESPÍRITO DE LUCRO COMO ASCETISMO EM VASTAS EMOÇÕES E PENSAMENTOS IMPERFEITOS, DE RUBEM FONSECA ............................................................................................................. 57 O PROCESSO DE APROPRIAÇAO DA LINGUAGEM ESCRITA E SUAS HIPÓTESES DE CONSTRUÇAO DO CONHECIMENTO ............................................................................................................ 58 UM RETRATO DO FINNEGANS WAKE QUANDO JOVEM .................................................................... 59 CRÍTICA AO NATURALISMO EM TRÊS TEMPOS ........................................................................................ 59 RELATANDO EXPERIÊNCIAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA ........................................................................................................................ 60 A INTERNET COMO POSSIBILIDADE DE EXPRESSÃO ESCRITA EM LE ........................................ 60 LITERATURA E ABISMO – UMA ANÁLISE DA OBRA DE ROBERTO BOLAÑO ............................. 61 DR. SEUSS, UM ILUSTRE DESCONHECIDO .................................................................................................. 61 TRADUZINDO POESIA PARA CRIANÇAS: DR. SEUSS E GREEN EGGS AND HAM ..................... 61 NO CAMINHO DE SWANN, DE MARCEL PROUST: APONTAMENTOS PARA UM ESTUDO DA MODERNIDADE PARISIENSE NA VIRADA DOS SÉCULOS XIX-XX ................................................. 62 O DESLOCAMENTO DO CONCEITO DE FALANTE NATIVO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA LINGUÍSTICA E O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA ............................................................ 63 ACUSATIVO E DATIVO EM PREPOSIÇÕES ALTERNANTES NO ALEMÃO .................................... 63 A AUDÁCIA DE ANA MARIA MACHADO AO PROPOR UM OUTRO PONTO DE VISTA PARA DOM CASMURRO ..................................................................................................................................................... 64 “NOVAS CARTAS CHILENAS”: UMA ANÁLISE ............................................................................................ 64 DANDO MURRO EM PONTA DE FACA: SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA NOS DITADOS POPULARES ................................................................................................................................................................ 65 A POÉTICA DE JULIA DE BURGOS ................................................................................................................... 65 A ESCRITA CHINESA E SUA POESIA................................................................................................................ 66 A RELAÇÃO ENTRE ARGUMENTATIVIDADE, GÊNEROS TEXTUAIS E ANÁFORAS NOMINAIS INDIRETAS ......................................................................................................................................... 66 ESPINGARDAS E MÚSICA CLÁSSICA: ARES DE REVOLUÇÃO E OS LIMITES DA AMBIÇÃO . 67 O PRINCÍPIO DA INCERTEZA E A BUSCA DA CERTEZA DO OUTRO ............................................. 67 O USO DA TRADUÇÃO EM SALA DE AULA: UMA INVESTIGAÇÃO DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DESSA PRÁTICA .................................................................................................................. 68 A IMPORTÂNCIA DO (RE)CONHECIMENTO DOS GÊNEROS E DOS TIPOS TEXTUAIS .......... 68 UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE ANGELES MASTRETTA: UM ESTUDO DE CASO .................. 69 A ABORDAGEM DOS GÊNEROS TEXTUAIS NOS PLANOS DE AULA .............................................. 69 APROXIMAÇÕES INTERCULTURAIS ENTRE OS ROMANCES O SEMINARISTA E UNTERM RAD ................................................................................................................................................................................ 70 PROJETO DE TRADUÇÃO: THOMAS BERNHARD .................................................................................... 70 DESVENDANDO OUTRAS FACETAS DO GRAMÁTICO ANDRÉS BELLO ...................................... 71 TRADUÇÃO E RELAÇÃO: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A NOÇÃO DE RELAÇÃO BERMANIANA A LUZ DO CONCEITO DERRIDIANO DE HOSPITALIDADE ................................ 71 A LITERATURA ENGAJADA NA POESIA DE FERREIRA GULLAR...................................................... 72 GRÉCIA ANTIGA: INTERESSES LINGUÍSTICOS ......................................................................................... 72 TCHEKHOV E CONTO MODERNO ................................................................................................................. 72 CONVERSA ENTRE ALBERTO CAEIRO E PAULO HENRIQUES BRITTO........................................ 73 A LITERATURA DE JOÃO PAULO CUENCA: UMA QUESTÃO PÓS-MODERNA ............................ 73 BRINQUEDOS DE LER: PEQUENA REFLEXÃO SOBRE A POESIA DE JOSÉ PAULO PAES ...... 73 ESPECIFICIDADES MORFOLÓGICAS DOS VERBOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ................ 74 A SÁTIRA NO SATÍRICON: VÍCIO, MORAL E ESTÉTICA EM PETRÔNIO ........................................ 74 O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO LITORAL DO PARANÁ: DESAFIO DISCENTE E DOCENTE ................... 75 QUESTÃO DA ÉTICA NA TRADUÇÃO: UMA ANÁLISE DAS REFLEXÕES TEÓRICAS DE FRANZ ROSENZWEIG ........................................................................................................................................... 75 A CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO DA SOCIEDADE PÓS-MODERNA EM CALVIN & HOBBES ........................................................................................................................................................................ 76 UMA ANÁLISE DE EXPRESSÕES ESTATIVAS EM PORTUGUÊS .......................................................... 76

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UMA PROPOSTA DE MODELO COMPUTACIONAL .................................................................................. 77 QUADRINHO DE ESTÓRIA, DE JOÃO GUIMARÃES ROSA:OUTROS GRAUS E MODOS DE LER ................................................................................................................................................................................. 77 REFLEXÕES SOBRE A ABORDAGEM DA GASTRONOMIA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ELE (ESPAÑOL LENGUA EXTRANJERA) ................................................................................................................ 77 A MÁSCARA PROSAICA EM HOTEL ATLÂNTICO ...................................................................................... 78 AVERROES TRADUZIDO PELO AMOR .......................................................................................................... 78 AS IMAGENS CARNAVALESCAS EM O ANÃO, DE FIALHO D’ALMEIDA ........................................ 79 UM DRAMA PROSAICO EM HARMADA .......................................................................................................... 79 OS CONCEITOS DE ‘SEMELHANÇA’ E ‘DIFERENÇA’ NA OBRA DE LINGUA LATINA DE VARRÃO ....................................................................................................................................................................... 80 ASPECTOS CONTROVERSOS DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA............................................................................................................................................................ 80

ÍNDICE DE AUTORES .................................................................................................................... 81

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Cadernos da Semana de LetrasAno 2009 Volume I- Resumos

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CONFERÊNCIAS

DE OLHOS BEM ABERTOS: A MÁSCARA DO TRADUTOR E O UORTERE PLAUTINO

Isabella Tardin Cardoso

O corpus legado por Tito Mácio Plauto (séc. III - II a. C.) se mostra um excelente exemplo da variedade de questões com que um tradutor hodierno se depara quando se propõe a lidar com literatura latina. Raras sobreviventes da fase “arcaica” de Roma, as vinte e uma comédias plautinas desafiam ainda hoje estudiosos de histórias da língua, literatura e teatro, bem como de sociolinguística e crítica textual, para citar apenas alguns âmbitos. Têm desafiado igualmente poetas modernos, em sua imitação criativa. Tudo isso afeta, ou também deveria afetar o olhar de quem se pretende um leitor privilegiado, em íntimo contato com o texto, de modo a recuperá-lo em língua vernácula. Pelos mesmos motivos, tudo isso também é, ou deveria ser, afetado pelo uortere e intuição do tradutor. Baseada na experiência com algumas peças de Plauto, a exposição pretende refletir e discutir um pouco sobre o assunto.

LA SURVIE DU FRANÇAIS AU QUÉBEC

Jean-Guy Lebel

Esta Conferência tratará da situação atual da língua francesa na província canadense do Québec. A Conferência será ministrada em francês.

TRADUZIR HOPKINS

Luís Bueno

A apresentação será um relato de experiência de tradução da poesia e da prosa de Gerard Manley Hopkins (1844-1889). Serão apresentadas brevemente as linhas de força da leitura do poeta que subjaz às traduções, a visão teórica que orientou o trabalho, um rápido painel da história da tradução de Hopkins no Brasil e a apresentação comentada de exemplos concretos de tradução.

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Cadernos da Semana de LetrasAno 2009 Volume I- Resumos

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UM BALANÇO DAS DIREÇÕES DOS MANUAIS DE GRAMÁTICA

Maria Helena de Moura Neves

Maria Helena de Moura Neves é licenciada em Letras (em Português-Grego e em Alemão) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1970 e 1974, respectivamente), doutora em Letras Clássicas (Grego) pela Universidade de São Paulo (1978) e livre-docente (Língua Portuguesa) na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (1984). É bolsista de Produtividade em Pesquisa - nível IA do CNPq. Atualmente é professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da UNESP - Araraquara, atuando na Pós-Graduação em Letras. É Coordenadora do Grupo de Pesquisa Gramática de usos do português do CNPq e Membro do Grupo de Pesquisa Grupo de estudos lexicográficos do CNPq sob direção do Prof. Francisco da Silva Borba. É Coordenadora da equipe que elabora o volume de Sintaxe I da consolidação da Gramática do Português Falado, sob direção do Prof. Ataliba Teixeira de Castilho. Juntamente com a Profa. Daisi Malhadas e da Professora Maria Celeste Consolin Dezotti, é Coordenadora do Dicionário Grego-Português (3º Fascículo publicado). Atua na área de Linguística, nas linhas: Descrição e ensino de língua Análise de fatos linguísticos em uso na língua e Estrutura, organização e funcionamento discursivos e textuais , da Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP, Araraquara; O processo discursivo e a produção textual , da Pós-Graduação em Letras do Instituto Presbiteriano Mackenzie, São Paulo. Desenvolve trabalhos na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, e especialmente nos temas Gramática de Usos, Texto e Gramática, História da Gramática, Descrição da Língua Portuguesa e Funcionalismo. É autora, entre outros, dos livros Texto e gramática, 2006; Dicionário grego-português (1º fascículo alfa delta), 2006; A vertente grega da gramática tradicional. Uma visão do pensamento grego sobre a linguagem, 2005; Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, 2005; Guia de uso do português, Confrontando regras e usos. 2005 [2003]; Dicionário de usos do português, 2002; Gramática de usos do português, 2004 [2000]; Que gramática estudar na escola? Norma e uso na Língua Portuguesa, 2003; A gramática: história, teoria e análise, ensino, 2002; A gramática funcional, 2001 [1997]; Gramática na escola, 2005 [1990]. É Membro: do Conselho Consultivo / Editorial de 13 revistas especializadas. É Consultora de 15 Fundações de Apoio à Pesquisa. É sócia de seis Associações de Pesquisa no Brasil e no exterior.

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Cadernos da Semana de LetrasAno 2009 Volume I- Resumos

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MESAS-REDONDAS

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO CURSO DE GRADUAÇÃOEM LETRAS-LIBRAS NO PÓLO DA UFPR

Sueli de Fátima Fernandes

Marta Rejane Proença Filietaz Rita de Cássia Maestri

No Brasil, as políticas públicas em curso na década de 1990 foram contextualizadas pelas lutas políticas travadas pelos movimentos surdos. A aprovação da Lei Federal 10.436/02, que oficializa a Língua brasileira de Sinais – Libras, reconhecendo-a como meio de comunicação e expressão da comunidade surda brasileira, teve um impacto significativo na organização dos sistemas de ensino, com destaque à implantação de programas de educação bilíngue para os estudantes surdos, da Educação Infantil ao Ensino Superior. Em 2005, o Decreto Federal n. 5626, que regulamenta a Lei de Libras, estabelece as diretrizes legais para a formação de profissionais bilíngues – docentes e tradutores/intérpretes – por meio de cursos de graduação em Letras Libras, além de assegurar a obrigatoriedade da inclusão da disciplina de Libras nos cursos de formação de professores. Em 2008, a UFPR, por meio de da PROGRAD/NAPNE, firma parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, primeira instituição a ofertar o Curso de Graduação em Letras Libras, na modalidade de Educação a Distância. Atualmente, integrando um dos dezesseis pólos que ofertam o Curso em território nacional, a UFPR possui 31 estudantes surdos na Licenciatura e 33 no Bacharelado, cujo foco é a formação de Tradutores e Intérpretes de Libras. As aulas são realizadas de forma presencial, uma vez ao mês, e as demais atividades acadêmicas são desenvolvidas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), com apoio de videoconferências, vídeos-aulas postadas no ambiente virtual, textos, hipertextos, dentre outros. O tutor assume fundamental importância no processo pedagógico, como responsável pelo acompanhamento das atividades, desempenho dos alunos, além de esclarecer dúvidas em relação aos conteúdos, presencialmente e através do AVA. A Graduação em Letras Libras representa um grande avanço no reconhecimento da situação bilíngue da comunidade surda brasileira e constitui um campo profícuo de pesquisas que contribuirão para a legitimação da Libras e de seus usuários como integrantes do cenário multilíngue nacional.

PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO ESPAÇO ESCOLAR: POR UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS

Sueli de Fátima Fernandes Fagner Carniel Fátima Valente

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Cadernos da Semana de LetrasAno 2009 Volume I- Resumos

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Vivemos um momento de profundas mudanças no estatuto moral e jurídico das

pessoas surdas que exige da educação novas e criativas respostas às atuais tensões políticas em torno da surdez. O reconhecimento das cidadanias surdas e a consolidação das políticas inclusivas têm colocado o problema de como educar estes sujeitos para estarem informados e conscientes de sua cultura, identidades e direitos, desempenhando um papel ativo na sociedade. Diante deste contexto, ao longo de 2008 e início de 2009, procuramos desenvolver um trabalho sistemático de letramento com alunos (as) do Colégio Estadual Para Surdos Alcindo Fanaya Junior sobre temas relacionados à surdez e aos principais acontecimentos da sociedade brasileira – orientado por uma perspectiva bilíngue que assegura o uso prioritário da língua natural dos/as surdos/as ao mesmo tempo em que contextualize suas identidades e culturas no interior das relações multiculturais envolventes. Visando, desse modo, sua alfabetização/letramento e formação enquanto sujeitos capazes de exercer plena cidadania. Neste processo, tanto as práticas de letramento, quanto os conteúdos escolares tiveram de ser adequados às próprias vivências desses estudantes. O objetivo desta comunicação é apresentar alguns dos resultados obtidos com as práticas de letramento, problematizando obstáculos e possibilidades abertas pelo trabalho interdisciplinar.

TRADUÇÃO PORTUGUÊS-LIBRAS EM UM AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO: ENTRE PERFORMANCES E ESTRANHAMENTOS

Sueli de Fátima Fernandes Rimar Romano Segala Saulo Xavier de Souza

Nesta mesa-redonda, apresentam-se conceitos conectados ao processo de tradução

experimentado entre tradutores/atores surdos do curso de Letras libras da UFSC. Consideramos o contexto de saída e chegada dos textos traduzidos e tecemos análises segundo perspectivas descritivas dos Estudos da Tradução (ET) (Grbic, 2007; Quadros e Vasconcellos, 2008) e Estudos Surdos (ES) (Quadros, 2006). Apresentamos contribuições práticas às pesquisas sobre tradução intermodal: Língua Portuguesa Escrita para Língua Brasileira de Sinais – Libras, ou seja, de uma língua gráfico-visual de um sistema oral para uma língua visual-espacial. Logo, efeitos de modalidade (Quadros, 2006), tradução como re-textualização (Coulthard, 1992; Quadros e Vasconcellos, 2008), fidelidade (Gile, 1995), performance (Novak, 2005), normas surdas de tradução (Stone, 2007), bem como, aspectos interdisciplinares de pesquisas em torno dos Estudos da Tradução e Interpretação de Línguas de Sinais (ETILS) (Turner, 2007; Grbic, 2007) e noções do que é necessário para traduzir melhor uma outra língua (Toury, 1995) constituem o cenário teórico. Somado a isso, pretende-se seguir adiante no amadurecimento das considerações quanto à relevância da tradução como área a partir da qual se podem construir espaços híbridos e interculturais de pesquisa. Exemplos de traduções de conteúdos em Libras são apresentados e avaliados de acordo com seus textos-fonte, revelando estratégias utilizadas e acordadas entre os tradutores/atores surdos no contexto de chegada, bem como, performances de tradução. Mencionam-se ainda alguns estranhamentos (interferência de outra língua, cultura social, etc) que interferem na compreensão do público-alvo, que são leitores surdos e ouvintes usuários da Libras tanto como primeira quanto como segunda língua. Por fim, pelas

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relações teóricas entre os ET, ETILS e ES, propõem-se novas leituras técnicas desses estranhamentos com vistas a propostas de normatização surda do fazer tradutório em Libras, e ainda percepções descritivas de performances de tradução em língua de sinais.

VISÕES DE MUNDO/VISÕES DE LINGUAGEM: ROSA/POESIA/BAKHTIN

Caetano Waldrigues Galindo Sandra M. Stroparo

Cristóvão Tezza

O livro Entre a Prosa e a Poesia, de Cristovão Tezza, organiza parte fundamental da reflexão teórico-literária de Bakhtin: aquela que se refere a uma distinção entre prosa e poesia, entre uma visão prosaica e uma visão poética da linguagem. Nesta mesa, o professor Cristovão expõe esses critérios e, em seguida, procede-se à discussão de características das obras de Stéphane Mallarmé e de James Joyce, como excelentes exemplos de cada uma das posturas artísticas em relação a mundo e linguagem.

CAMINHOS PARA UMA LITERATURA NÔMADE

Isabel Jasinski Maria Josele Coelho Paulo Asthor Soethe

O nomadismo pode ser considerado um estado originário para a humanidade, referido ao trânsito de uma situação que nunca permanece a mesma. Como forma de apreensão do mundo, ele marca a caminhada do ser humano ao longo da sua existência. Porém, no século XX, a partir das vivências históricas das Grandes Guerras, adquiriu-se uma consciência da “mundialidade” para além das fronteiras nacionais. Por razões políticas, econômicas, ou simplesmente por aspirações hedonistas e aventureiras, a imigração, o exílio ou a viagem configuraram narrativas dessa experiência. Algumas vezes produto da capacidade de escolha do ser humano, outras não, elas redefinem os conceitos de liberdade, de autonomia e de identidade. Enquanto potencial de compreensão e auto compreensão por meio da busca, essa experiência desperta o interesse da reflexão literária que pensa sobre as possibilidades da representação de captar a fluidez da vida e a composição de uma eventual expressão nômade. Esta mesa propõe discutir sobre as possibilidades de pensar sobre uma literatura nômade e abordá-la enquanto potencial de significação para a condição cultural da atualidade a partir das mudanças históricas, sociais e simbólicas.

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REALISMO MÁGICO E EXISTENCIALISMO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA NO MEADO DO SÉCULO XX

Paulo Henrique da Cruz Sandrini

A nossa sessão coordenada tratará de leituras de artigos curtos e um debate centrado em três autores fundamentais do meado do século XX na América Latina. Fontes da discussão serão as questões ligadas ao multiculturalismo, transculturação e hibridrismo presentes em dois autores do chamado “realismo mágico” latino-americano, Miguel Angel Astúrias e José Maria Arguedas, fruto de um pensamento literário atrelado às questões do continente americano em sua formação histórica e cultural. Como contraponto, teremos a obra do argentino Ernesto Sábato, cujas principais referências literárias se ligam à corrente existencialista europeia da primeira metade do século passado. Com esses três autores, pretendemos discutir os tipos de produção e representação do sujeito e da cultura latino-americanas no âmbito literário. Tendo em vista o período de produção, num recorte feito entre as décadas de 1940 e 1950, estabeleceremos um diálogo entre essas três vozes literárias numa abordagem ampla do contexto cultural da época, contudo buscando uma atualização do debate sobre a obra desses três importantes autores e sobre o contexto literário latino-americano.

O REALISMO MÁGICO ARGUEDIANO EM LOS RÍOS PROFUNDOS

João Paulo Partala

Proveniente de uma sociedade permeada por questões multiculturais, José María Arguedas, um escritor mestiço por opção, produziu uma literatura em que quéchua e espanhol se misturam desembocando em uma linguagem própria. Essa mescla linguística e cultural tem como consequência elementos que permeiam o campo da magia e da espiritualidade oriundos de uma civilização antiga, os Incas. Propomos então, analisar a obra Los ríos profundos tendo em vista os pressupostos teóricos sobre fantástico e maravilhoso de Legoff, Todorov, Chiampi e Menton, além dos pressupostos sobre multiculturalidade e heterogeneidade de Antonio Cornejo Polar, um grande estudioso da obra literária de Arguedas. Com esse estudo, buscamos ressaltar a riqueza e complexidade da obra do escritor, procurando contribuir para com a crítica literária latino-americana.

ESTÉTICAS E POLÍTICAS DA INTERCULTURALIDADE: O DEBATE SOBRE ALGUNS TEMAS ASTURIANOS ENTRE AS VANGUARDAS E O PÓS-MODERNISMO

Emerson Pereti

Nesse trabalho é proposta uma revisão crítica da obra de Miguel Ángel Asturias a partir dos recentes debates sobre transculturação, hibridismo e heterogeneidade na América Latina. Com isso, se pretende analisar sua operatividade entre o contexto histórico das vanguardas

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do início do século XX e os deslocamentos geoculturais advindos da globalização e da pós-modernidade, sobretudo no que concerne ao projeto estético, político e antropológico do autor de resgate, inclusão e fusão de culturas subalternas no espaço de representabilidade da alta cultura letrada no Continente.

O TÚNEL: UMA REFLEXÃO DO EXISTENCIALISMO DENTRO DA LITERATURA

Inês Skrepetz

O objetivo desta pesquisa é analisar o conceito de existência na primeira breve e intensa novela de Ernesto Sábato, "O Túnel", publicada em 1948. Esta obra possui características do gênero policial psicológico, e é fruto da denominada "literatura existencial". A história é protagonizada pelo personagem Juan Pablo Castel, um pintor que se debate para compreender as causas que o levaram a matar a mulher que amava, Maria Iribarne, a única que parecia constituir sua via de salvação. "O Túnel" é uma passagem pelo alucinante drama da vida interior, carregado pela filosofia existencialista, que Sábato absorveu profundamente das leituras de Sartre e Camus. Neste sentido, a obra deixa transparecer também alguns traços autobiográficos do próprio autor, Sábato, dentro da concepção do personagem Juan Pablo Castel. A análise dos diálogos entre os personagens - bem como os silêncios constituídos por eles - nos permitem compreender a afirmação de Bosi (2002), na qual o que é silenciado, no curso da conversação banal, aflora na superfície do texto ficcional. Portanto, "O Túnel" deixa de ser apenas um texto ficcional de entretenimento e passa a ser um espaço em que se retratam as paixões profundas, as neuroses e as situações de violência que levam ao crime, instigando uma inquietante reflexão sobre o que entendemos por "existência".

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COMUNICAÇÕES COORDENADAS

LITERATURA DE VIAGEM NO SÉCULO XX, I

Raquel Illescas Bueno

As sessões coordenadas “Literatura de viagem no século 20 – I e II” resultam de uma disciplina ofertada na Pós-Graduação em Letras - Estudos Literários em 2008. O estudo da crônica de viagem produzida na primeira metade do século 20 por autores brasileiros revelou-se campo profícuo para a exploração de temas relacionados aos deslocamentos que geram arte literária e que colocam em xeque noções de identidade nacional e individual. Por aproximação, cabem nestas sessões as crónicas de viagem de José Saramago e a obra de Renard Perez, brasileiro que viajou à Galícia para ali encontrar as raízes de sua identidade.

Na parte I, serão enfocados os cronistas viajantes Manuel Bandeira e Mário de Andrade em suas andanças pelo Brasil na década de 20 e, na sequência, os olhares de Cecília Meireles para a Holanda e de Clarice Lispector para a Suíça. Na parte II, retorna Cecília Meireles, agora em viagem a Portugal, e surgem reflexões de Saramago e de Rubem Braga na Itália, além de José Lins do Rego em viagem à Grécia e do referido texto de Renard Perez. Algumas perguntas a serem respondidas: o que um escritor intuitivo como José Lins do Rego buscou em Delfos, referência de cultura clássica? O que distingue, segundo o cronista-viajante José Saramago, sua própria visão de um jardim italiano daquelas dos fotógrafos-turistas japoneses? De que forma se aproximam o registro jornalístico de Rubem Braga e o registro ficcional da romancista italiana Elsa Morante quando ambos têm como assunto a Segunda Guerra Mundial? Como Manuel Bandeira e Mário de Andrade focalizaram a cultura e as relações socioeconômicas brasileiras em suas crônicas de viagem? E a eterna viajante Cecília Meireles, o que descobriu ao viajar para a Europa? De que maneira a subjetividade de Clarice Lispector projetou-se sobre destinos que ela não escolheu?

Jackeline Peters Dück

Clarice Lispector desenvolveu vários perfis na imprensa brasileira ao longo dos anos: a contista, a entrevistadora, a repórter, a tradutora e a cronista, sendo que suas crônicas, que transitam entre diferentes estilos, tons e conteúdos, acabaram atingindo uma durabilidade que talvez a própria escritora nem suspeitasse. Vale notar que suas crônicas são escritas em primeira pessoa, o que revela alguém que não é mero observador, mas um participante da realidade. Além disso, é importante perceber que, para esta autora, os detalhes do mundo real apenas servem de pretexto para divagações pessoais, numa tentativa de se comunicar com o leitor e também consigo mesma. Lispector, casada com um diplomata, sempre precisou viajar muito em função do trabalho do marido, de modo que tal deslocamento geográfico deixou marcas em sua escrita, e embora a autora não tenha produzido, particularmente, uma literatura de viagem, há referências, explícitas ou

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implícitas, sobre esses diferentes lugares em várias crônicas. Pretende-se, nesta comunicação, discutir a contribuição das crônicas da Clarice Lispector viajante no conjunto de seu trabalho, explorando o que representou para ela o contato com o estrangeiro.

MANUEL BANDEIRA VIAJANTE: AS CRÔNICAS DA PROVÍNCIA DO BRASIL

Ernandes Gomes Ferreira

O presente trabalho, num primeiro momento, visa a resgatar alguns conceitos de crônica, tanto no aspecto histórico, quanto estético, para questionar a identificação da crônica como gênero menor. Para tanto, nos utilizamos de teorias que consideram o romance de folhetim, desenvolvido em um periódico e posteriormente publicado em livro. A crônica, como esse “gênero maior”, também permanece na memória literária, pois também é revisada pelo autor e publicada em livro. Num segundo momento, serão analisadas algumas crônicas de viagem de Manuel Bandeira, extraídas do livro Crônicas da província do Brasil, para exemplificar a necessidade e representatividade da crônica como gênero fulcral para o desenvolvimento da literatura e respectiva teoria no início do século XX.

O TURISTA APRENDIZ NO NORDESTE E AS RACHADURAS DO SISTEMA PATRIARCAL: ESTUDO DAS CRÔNICAS �O GRANDE CEARENSE� E �TEMPOS DE DANTES�, DE MÁRIO DE ANDRADE

Fernando de Moraes Gebra

Entre dezembro de 1928 e fevereiro de 1929, Mário de Andrade (1893-1945) realizou uma viagem para o Nordeste brasileiro, registrando seus apontamentos nas crônicas publicadas no Diário Nacional, que depois passaram a compor a segunda parte de O turista aprendiz. Na dúvida quanto ao valor do livro, Mário de Andrade não o publicou, apenas transformou alguns dos seus textos em cinco crônicas que fizeram parte do livro Os filhos da Candinha (1942): “O grande cearense”, “Tempos de dantes”, “Bom Jardim”, “Ferreira Itajubá” e “Guaxinim do banhado”, veiculadas com outros títulos no Diário Nacional. Das cinco crônicas supracitadas, examinaremos, neste estudo, apenas as duas primeiras. O primeiro momento interpretativo concentra-se na estilística do texto: o cotejo das duas crônicas nas suas duas versões permite destacar os efeitos de sentido gerados com as alterações na estrutura textual. O segundo momento refere-se às categorias “pessoa”, “tempo” e “espaço” do nível discursivo do texto, com destaque para o estudo do faroleiro Delmiro Gouveia, de “O grande cearense” e do senhor de engenho Antônio de Oliveira Bretãs, de “Tempos de dantes”, como emanações do sistema patriarcal da sociedade brasileira. Por fim, descrevem-se as formações discursivas e ideológicas, presentes no enunciado textual e nas conjunturas sócio históricas do nordeste brasileiro da primeira metade do século XX. O patriarcado, entendido como poder normativo e repressor, determina as relações sócioafetivas nas dimensões pública (relações de trabalho) e privada

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(ambiente familiar) e encontra na política do coronelismo nordestino a legitimação de suas ações.

JARDINS DE CECÍLIA

Solange Viaro Padilha

Cecília Meireles, poeta e educadora, percorreu o mundo: apresentou conferências, observou a história, o cotidiano, as cores e os ritmos intrínsecos às localidades visitadas. Viajou e absorveu as tintas da cor local, transmutando-as em palavras. Partindo da observação do cotidiano, Cecília, narradora-autora das crônicas de viagem, registra fatos concretos ficcionalizando-os e tratando-os de maneira subjetiva. Declarando-se viajante e não turista, a cronista prossegue em seu trabalho de investigação, contemplação, autoconhecimento, descoberta do eu e do outro. O encanto das viagens transparece em suas crônicas carregadas de lirismo. Com grande força poética, Cecília recria paisagens, ultrapassa fronteiras, tece filigranas, desenha arabescos que descrevem a criatura humana na sua eterna busca de realização. Suas viagens à Holanda (em 1951 e 1953), terra de bicicletas, jardins e canais, renderam-lhe textos de grande sensibilidade artística. Forasteira em Amsterdã, Cecília observa o particular e o universal, aponta semelhanças, contrastes, inquietações. Identifica-se com o estrangeiro e reflete sobre o sentido da vida, reinterpretando seu próprio modo de ser e de olhar o outro. Este artigo pretende analisar as crônicas da Holanda e o olhar estrangeiro de Cecília na sua viagem física e espiritual.

LITERATURA DE VIAGEM NO SÉCULO XX, II

Raquel Illescas Bueno

As sessões coordenadas “Literatura de viagem no século 20 – I e II” resultam de uma disciplina ofertada na Pós-Graduação em Letras - Estudos Literários em 2008. O estudo da crônica de viagem produzida na primeira metade do século 20 por autores brasileiros revelou-se campo profícuo para a exploração de temas relacionados aos deslocamentos que geram arte literária e que colocam em xeque noções de identidade nacional e individual. Por aproximação, cabem nestas sessões as crónicas de viagem de José Saramago e a obra de Renard Perez, brasileiro que viajou à Galícia para ali encontrar as raízes de sua identidade.

Na parte I, serão enfocados os cronistas viajantes Manuel Bandeira e Mário de Andrade em suas andanças pelo Brasil na década de 20 e, na sequência, os olhares de Cecília Meireles para a Holanda e de Clarice Lispector para a Suíça. Na parte II, retorna Cecília Meireles, agora em viagem a Portugal, e surgem reflexões de Saramago e de Rubem Braga na Itália, além de José Lins do Rego em viagem à Grécia e do referido texto de Renard Perez.

Algumas perguntas a serem respondidas: o que um escritor intuitivo como José Lins do Rego buscou em Delfos, referência de cultura clássica? O que distingue, segundo o cronista-viajante José Saramago, sua própria visão de um jardim italiano daquelas dos fotógrafos-turistas japoneses? De que forma se aproximam o registro jornalístico de

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Rubem Braga e o registro ficcional da romancista italiana Elsa Morante quando ambos têm como assunto a Segunda Guerra Mundial? Como Manuel Bandeira e Mário de Andrade focalizaram a cultura e as relações socioeconômicas brasileiras em suas crônicas de viagem? E a eterna viajante Cecília Meireles, o que descobriu ao viajar para a Europa? De que maneira a subjetividade de Clarice Lispector projetou-se sobre destinos que ela não escolheu?

AS VIAGENS DO TELÚRICO JOSÉ LINS DO REGO

Ricardo Luiz Pedrosa

Meu questionamento estará dirigido aos textos de viagem de José Lins do Rego. Além de estudá-los em sua especificidade, interessa-me também o modo como os textos de viagem podem iluminar melhor alguns dos aspectos mais característicos da obra romanesca do escritor. Há certa concordância crítica (corroborada pelo próprio paraibano) quanto à classificação de Lins do Rego como autor telúrico (regionalista), instintivo e que, fazendo uso do memorialismo e da autobiografia, dispôs ficcionalmente certa ligação trágica entre o homem e o meio. Os textos de viagem expõem tais temas de forma mais explícita do que se faz nos romances. São, assim, instantes privilegiados para a discussão da obra de Lins do Rego.

Tratarei das impressões de viagem do romancista paraibano, e, mais especificamente, dos textos reunidos em Gregos e Troianos, livro que pelo título em si já confere centralidade ao universo simbólico helênico na obra de cronista de viagens do autor. Falarei das várias viagens, mas dedicarei especial atenção a suas peregrinações pela Grécia. Num nível ainda mais localizado, abordarei separada e inicialmente os textos dedicados a Delfos. Pretendo investigar nos textos as relações que Lins do Rego desenvolveu com o aspecto clássico e racional da herança grega. Ele, um autor que se propôs intuitivo, isto é, desligado das formulações mais racionais e equilibradas da tradição clássica, buscava que tipo de legitimação para sua obra no contexto grego? Outra questão significativa em nossa investigação é a do telurismo. Na medida em que a obra de José Lins do Rego, além de instintiva, propôs-se também como telúrica, que tipo de abordagem foi estabelecido pelo autor em obras – as de viagem – que são caracterizadas justamente pelo desencaixar-se de um determinado contexto geográfico, sujeitando o autor a uma gama ampla de experiências de desterritorialização?

UMA VIAGEM À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NA PROSA DE RUBEM BRAGA E NA PROSA DE ELSA MORANTE

Luciana Cabral Doneda

Proponho um diálogo entre a narrativa do cronista brasileiro Rubem Braga e da escritora italiana Elsa Morante sobre a Segunda Guerra Mundial na Itália. Para ambos o conflito foi uma viagem que estimulou a criação literária. Analiso as obras Crônicas da guerra. Com a FEB na Itália, de Rubem Braga, e A História, de Elsa Morante, apontando escolhas de personagens e linguagem como elementos de comparação para concluir que o real oferece possibilidades criativas de lirismo e objetividade, intensificadas quando o autor se propõe a

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viajar pela realidade. A crônica, por tentar estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e pessoas, pode ser lida como uma viagem aos pequenos e grandes acontecimentos do quotidiano. Da mesma forma um romance pode resgatar momentos históricos cronologicamente, reconstituindo assim o quotidiano. Rubem Braga era um cronista viajante e uma das suas mais marcantes e principais viagens, do ponto de vista profissional e literário, foi a cobertura da Segunda Guerra Mundial. A História é um romance histórico que inverte o tradicional modelo ao transformar pessoas simples, anti-heróis, em protagonistas da narrativa. Esse contraponto entre a visão do repórter brasileiro e da escritora italiana nos permite perceber o quanto real e ficção podem retratar uma mesma situação, com personagens semelhantes, conflitos equivalentes de uma forma igualmente profunda e elaborada.

CECÍLIA MEIRELES E A CRÔNICA: RELATOS DE VIAGEM POR PORTUGAL

Karla Renata Mendes

Cecília Meireles é notadamente reconhecida como um dos mais importantes nomes da poesia brasileira, mas percebe-se que cada vez mais leitores, críticos e pesquisadores, descobrem também em Cecília uma exímia cronista. Autora de mais de duas mil crônicas produzidas ao longo de uma carreira de trinta nos no jornalismo brasileiro, a obra em prosa ceciliana é formada por textos que evidenciam toda a maestria literária da autora. Importante parcela dessa obra em prosa são as chamadas crônicas de viagem, fruto de deslocamentos de Cecília pelos mais diferentes países. Nesse âmbito, o presente trabalho visa explorar um dos relatos de viagem da cronista, no qual ela registra impressões sobre uma visita a Portugal, mais especificamente, a Lisboa. A crônica “O passeio inatual” deixa entrever uma turista que busca muito mais do que as belas paisagens da cidade lisboeta. Aqui, Cecília pede para ser conduzida por lugares que ecoam tempos de outrora, que resgatam um passado esquecido, que deixam vislumbrar figuras históricas. Dessa forma, pretende-se explorar como se dá a construção desse relato de viagem que foge a meras descrições turísticas, mas que envereda para uma observação muito mais profunda e subjetiva do lugar visitado. O cruzamento de tempos, a busca por elementos que resistem à efemeridade são algumas das características da crônica ceciliana aqui observáveis. Textos que ultrapassam a condição de relatos de viagem, para alcançar a perspectiva poética e literária que os tornam atemporais.

O TURISMO POLIÉDRICO NAS CRÔNICAS DE JOSÉ SARAMAGO

Saulo Gomes Thimoteo

A produção cronística de José Saramago volta-se para uma análise dos acontecimentos cotidianos. Assim como em seus romances, a ironia e a visualidade acabam por conferir um significado de aprofundamento às cenas apresentadas e às questões por elas suscitadas. Por essa maneira de observar, com um narrador que se caracteriza como um homo viator, isto é, como aquele que vai agregando todas as experiências adquiridas à sua própria, o cronista viaja no espaço. Constrói então, simultaneamente, uma viagem interior,

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feita de associações, análises e conclusões sobre o que vai captando. A partir desse conceito, o presente trabalho pretende captar esse surgir de experiências na crónica intitulada “O jardim de Boboli”, em que Saramago cria um paralelo entre a sua forma de viajar e descobrir outros lugares, e a maneira adotada por alguns turistas que por lá transitam. As descrições, as formas de ver e contar acabam por conferir ao relato do viajante as impressões que o assomaram e foram-lhe sugeridas, como a estátua disforme de Pietro Barbino e o embate com sucessões de turistas estrangeiros. Assim sendo, as imagens que surgem ao cronista fazem com que ele adquira uma maior bagagem de experiências e analogias, tornando-o um viajante mais consciente de si.

GALIZA: DA FOZ À FONTE

Otto Leopoldo Winck

A Galiza (Galicia em espanhol), situada no noroeste da Península Ibérica, é uma das regiões que mais exportaram emigrantes na Espanha no último século, de forma a haver criado nas Américas uma expressiva diáspora galega, inclusive no Brasil. O livro Chão galego, de Renard Perez, lançado em 1972, é a história da viagem de um brasileiro, filho de galegos, à Espanha. Na Galiza, Perez, o autor-protagonista, refaz – ao reverso – o percurso de seu pai quando este, há quase meio século, forçado pela situação de pobreza e ausência de perspectivas, deixou a terra natal rumo ao Novo Mundo. Mas Chão galego não é apenas um relato de viagens de cunho familiar-biográfico. Ao refazer a trajetória de seu pai, Perez não é somente um turista no intuito de conhecer a região de seus antepassados e parentes. Nesta viagem de regresso à Galiza e ao passado, Perez intenta desvelar essa figura um tanto enigmática que é a de seu pai. E mais: ao deparar-se com o pai, ou melhor, com uma imagem desconhecida deste pai já falecido, o autor julga encontrar a fonte de sua vocação literária, ao mesmo tempo que se reconcilia – postumamente – com ele, com quem tinha não poucas diferenças. Chão galego é assim não apenas um relato de viagens por uma Espanha ainda no crepúsculo franquista e por uma Galiza ainda primitiva, rural e mais subdesenvolvida do que o Brasil. É também a história da busca das raízes de uma identidade lá na mesma região onde há quase um milênio nascia aquela que seria conhecida como a língua portuguesa.

AÇÃO INTEGRADA PARA O LETRAMENTO

Lúcia Cherem

O Projeto Ação Integrada para o Letramento está inscrito na Iniciação Científica da UFPR e tem como objetivo estabelecer vínculos entre a Universidade e a escola pública do ensino fundamental e médio do estado do Paraná no que diz respeito às práticas de leitura tanto em língua estrangeira quanto em língua materna. Queremos chamar a atenção para o fato de que o conhecimento teórico sobre leitura não pode vir dissociado do aspecto da prática de leitura em sala de aula. O professor-pesquisador é esse profissional capaz de refletir sobre a situação concreta de ensino para poder reformular a sua ação, pois é ele que conhece o cotidiano de sua escola e a bagagem social de seus alunos. Nessa perspectiva, queremos evitar debates abstratos, privados do sentido do real, que não levem em conta a

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interação professor-aluno. Trata-se, então, de promover e valorizar a pesquisa-ação: uma reflexão sobre o fazer pedagógico que buscará soluções junto a especialistas do assunto que também souberam integrar fatos da prática pedagógica a conceitos teóricos. Esses conceitos, por sua vez, poderão ser revistos, discutidos e reformulados no âmbito da escola.

Luciane Boganika

O objetivo deste trabalho é fazer uma apresentação da parceria entre a Associação

Francesa pela Leitura – AFL, Lyon 2 e o projeto Ação Integrada para o Letramento realizado na UFPR, e uma breve discussão a partir da exibição de trechos de dois filmes: Apprendre à Lire (Aprender a Ler), produzido pela AFL e traduzido pela equipe do projeto Ação Integrada para o Letramento, e o vencedor da Palma de Ouro, Entre les Murs (Entre os muros da Escola), longa-metragem do diretor Laurent Cantet, , que através do exemplo de uma sala de aula da periferia de Paris, levanta grande discussão sobre a realidade das salas de aula de todo o mundo.

Lahis Tavares Lopes Budal

Uma das preocupações do projeto "Ação Integrada pelo Letramento", além da análise teórica do ensino da leitura nas escolas estaduais paranaenses, é a de interferir diretamente no desenvolvimento da capacidade de leitura da equipe de docentes do Estado e, consequentemente, nas práticas pedagógicas. A integração prevista pode ser considerada em dois níveis: 1) integração universidade + escola, tendo em vista ações efetivas da academia junto aos órgãos educadores e, portanto, colaboração nas atividades de formação contínua dos educadores de língua materna ou estrangeira moderna; 2) reflexão sobre a preparação acadêmica dos futuros professores de língua materna ou estrangeira moderna, considerando a problemática futura do ensino da leitura, ou seja, da necessidade de ensinar a ensinar o trabalho de manuseio do texto escrito, sua estrutura e materialidade, no ambiente acadêmico. Desta maneira a integração tem início com a preparação do professor que pensará o ensino a partir da sua própria aprendizagem. Este trabalho tem o objetivo de apresentar aos acadêmicos do curso de Letras as maneiras pelas quais o projeto tem posto em prática o objetivo de integração universidade/escola.

Anna Carolina Legroski

A partir das discussões teóricas e das palestras realizadas na Ação Integrada para o

Letramento, iniciamos uma oficina de avaliação em LEM e LM com os professores da Secretaria Estadual de Educação. O principal objetivo desta oficina foi a sensibilização dos professores para o trabalho com o texto. A avaliação de leitura ideal é aquela feita a partir de um profundo estudo prévio do texto, que seja capaz de deslizar pelas entrelinhas e encontrar nele tanto o que está explícito quanto o que está implícito. Quando se trata de elaborar questões para um texto, corre-se o risco de cair em perguntas que apenas reconstituem suas informações que, na maioria das vezes, não desafiam o aluno a pensar sobre o texto e na sua linguagem e, portanto, a trama textual não é abordada e o texto é tratado como um pretexto para outros tipos de discussão. Procuramos, com estas oficinas, incentivar a reflexão sobre o texto e sobre o que se encontra nele, desde a análise da razão gráfica até a análise da cadeia argumentativa que o autor construiu para a elaboração do seu ponto de vista. A avaliação, feita desta forma, está atenta às competências do aluno e a sua capacidade de esmiuçar o texto, de reconstituir informações e argumentações, de encontrar

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juízos de valor que existam no texto. Quando o trabalho com o texto em sala é efetivo, ele garante a formação de leitores autônomos que têm pleno domínio da língua e de suas estruturas e que são capazes de identificá-las sem maiores dificuldades. O objetivo deste trabalho é propor uma reflexão sobre as práticas de leitura e avaliação desta em sala de aula, tendo como base o trabalho das oficinas realizadas com os professores do SEED, bem como apresentar seus resultados.

LEITURAS DA LITERATURA HISPANO-AMERICANA

Maria Josele Bucco Coelho

Esta sessão tem como objetivo proporcionar a apresentação de leituras sobre temas, obras, autores e/ou contextos literários diferenciados, porém relacionados à produção literária dos países de fala hispânica do continente americano. Ela se caracteriza como uma oportunidade para os alunos de Letras/Espanhol apresentarem seus trabalhos de pesquisa no campo dos Estudos Literários.

LA DESMEMORIA EN LA ESCRITURA FEMENINA HISPANOAMERICANA: UNA LECTURA DE LA QUINTRALA DE MAGDALENA PETIT

Mariela Bermúdez Alvarez

Según Morales Piña, la novela histórica fue una de las modalidades discursivas que

más proliferaron en Chile. Las primeras manifestaciones del género ocurrieron en el siglo XIX – época de los primeros atisbos de una concepción de literatura nacional. A partir del concepto de desmemoria, planteado por Castelo Branco, este estudio se propone analizar la incorporación del personaje histórico femenino - Catalina de los Ríos y Lispeguer - en esta dicha modalidad y las implicancias de esta representación para la construcción de un imaginario femenino hispanoamericano. El corpus de estudio comprende la novela La Quintrala (1932) de Magdalena Petit. Así, desde la perspectiva de los estudios de género y de la crítica literaria feminista, se buscará comprender las características y desplazamientos de esta representación del femenino en el período colonial.

PANORAMA HISTÓRICO-SOCIAL DA LITERATURA SALVADORENHA

Christy Beatriz Najarro Guzmán

A literatura salvadorenha tem por tradição um caráter mais social, o que se deve a que, desde os seus possíveis fundadores até uns anos atrás, tanto a literatura como as

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demais representações artísticas tem sido caracterizadas pelo seu caráter social-político para a construção do que seria uma “identidade”. Sendo uma sociedade caracterizada por seu estrangeirismo, a literatura nacional foi o agente de forte questionamento social. O presente trabalho é um estudo geral sobre alguns aspectos que caracterizaram a literatura salvadorenha do século XX. Este trabalho não pretende se aprofundar em aspectos muito específicos das diferentes correntes que surgiram neste período, mas abordar alguns aspectos gerais dele.

LITERATURA E MÚSICA EM CONCIERTO BARROCO DE ALEJO CARPENTIER: UMA LEITURA NÃO-HERMENÊUTICA.

Lívia Morales

O objetivo do presente trabalho é entender como a relação da Literatura e da Música acontece no romance Concierto Barroco, de 1974, do escritor cubano Alejo Carpentier. Esta abordagem se estabelecerá por meio de uma hipótese de leitura em que a forma, e não unicamente a temática, pode ser um aspecto da relação entre as instâncias da Literatura e da Música nessa obra. Com esta intenção, parte-se da noção de “concerto” para observar como o romance estabelece essas articulações na estrutura narrativa e temática. A sustentação metodológica da análise é a proposta pós-moderna de leitura não hermenêutica sugerida por Hans Ulrich Grumbrecht no texto Corpo e forma (1998), que pensa sobre as expressões artísticas enquanto manifestações que se relacionam como sistemas distintos capazes de interagir. Assim, focalizando o objeto textual, uma interpretação que se pretende não hermenêutica busca na teoria do signo linguístico um suporte para novas leituras que rechaçam toda uma tradição de interpretação - que o teórico propõe desestabilizar. Isso permite que o objeto a ser analisado e o meio pelo qual se expressa sejam importantes para supor a influência sobre a leitura. O sujeito interpretante pós-moderno é colocado numa posição não passiva e não espera que o objeto do mundo lhe mostre seus significados, mas ele mesmo é o responsável pela operação da interpretação que a organização formal pode sugerir.

MODERNIDADE POÉTICA PARAGUAIA: UMA INTRODUÇÃO

Daiane Pereira Rodrigues

Nos estudos de literatura hispano-americana, geralmente nos limitamos à narrativa

de Augusto Roa Bastos (principalmente sua obra maestra Yo el Supremo (1974)) quando pretendemos citar um exemplo da literatura paraguaia. Porém, o processo de modernização artística paraguaia tem seus antecedentes nas cinco décadas anteriores, no que costuma-se chamar de Nueva Poesia Paraguaya.

Para maior entendimento desse processo faz-se necessário enfatizar a produção de dois de seus antecessores: Josefina Plá e Hérib Campos Cervera, que junto com Roa são personalidades importantíssimas para o modernismo no país. Hérib e Josefina começam

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sua produção nos anos 20 através da publicação de alguns poemas na revista Juventud (1923-1926) e posteriormente exercem grande influencia na poética de Roa. Através desses dois autores pretendemos ampliar o conhecimento do universo literário paraguaio, divulgando não apenas dois poetas geralmente ignorados no estudo das letras hispânicas, mas também a produção em verso de Roa, que acaba esquecida ante a sua supremacia narrativa. Portanto, esse trabalho tem um caráter introdutório, uma vez que tem primeiramente o objetivo de tornar pública uma produção poética desconhecida em nossa universidade. Para cumprir esses objetivos enfocaremos as características da poesia nueva nos poemas Trópico (Josefina Plá, 1938), Un sueño de noche y mar (Hérib Campos Cervera, 1936) e La tierra (Augusto Roa Bastos, 1947) ressaltando alguns aspéctos sócio históricos relevantes para o entendimento desse período na literatura paraguaia.

UMA LEITURA DAS MÚSICAS DE BOLA DE NIEVE

Miguel Angel Rodriguez Silva

Este estudo tem como objetivo descortinar as relações entre texto, música e

performance na produção musical latino-americana do século XX. O recorte proposto será a investigação das manifestações musicais cubanas, especificamente a produção do músico cubano Bola de Nieve. A escolha de um conjunto de músicas permite debates sobre os limites das linguagens e sobre o lugar da imaginação na história. Nos interstícios das músicas se encontram fragmentos interdependentes que são no mínimo ambíguos em relação ao discurso oficial, e, a partir deles que se podem depreender outros sentidos possíveis. Destarte, se instala uma práxis crítica e de oposição aos valores que não são nossos num primeiro momento e que passam a ser numa permanente tensão. Fazemos parte da tradição Ocidental, da qual não se pode renegar. Contudo, uma adesão incondicional é problemática, uma vez que não se pode esquecer qual é o nosso lugar de enunciação, a saber, o brasileiro e, por extensão, o latino-americano.

ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Sueli de Fátima Fernandes

Esta sessão coordenada objetiva apresentar resultados de estudos linguísticos acerca da Língua Brasileira de Sinais – Libras, sistematizados pela recente área da Linguística da Língua de Sinais, em franca expansão, no cenário nacional, na última década. As temáticas selecionadas pelos acadêmicos do Curso de Graduação em Letras Libras – Pólo UFPR, em suas apresentações, contemplam aspectos gerais da gramática da Libras, oportunizando o conhecimento mínimo sobre sua organização estrutural, com destaque a aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos.

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ESTUDOS FONOLÓGICOS EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: PARÂMETROS DE CONFIGURAÇÃO

Heloir Montanher

Jefferson Diego de Jesus A Fonologia das línguas de sinais é um ramo da linguística que objetiva identificar a

estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo descrições e explicações. Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, no que concerne à modalidade de percepção e produção, o uso do termo ‘fonologia’ tem sido usado para referir-se também ao estudo dos elementos básicos das línguas de sinais. Neste trabalho, procurou-se referir estudos na área da fonologia dos sinais, em especial, das unidades formacionais do sinal. Esses parâmetros de organização são denominados Configuração de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA) ou Locação (L), Movimento (M)/Orientação (O) e Expressões não-manuais ou faciais (Brito, 1998; Quadros e Karnopp, 2004) . Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinados pontos (locações) neste espaço. Através de exemplos de sinais em Libras, demonstra-se que suas palavras também são constituídas a partir de unidades mínimas distintivas – os fonemas – de modo semelhante às línguas orais. Pode-se observar pela descrição das unidades mínimas que as características das unidades dos sinais são de natureza visual-espacial (forma da mão ou do sólido, movimento linear e com retenção, vetores orientacionais da mão, etc.).

ASPECTOS DA MORFOLOGIA EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS � LIBRAS

Elizanete Fávero

Este trabalho pretende apresentar aspectos gerais da morfologia na língua de sinais brasileira, por meio da apropriação de conceitos consagrados nos estudos morfológicos relativos à língua portuguesa. Assim, compreendendo a morfologia como disciplina relacionada ao estudo da palavra e seus mecanismos formadores, identificamos a configuração de mãos (KARNOPP e QUADROS, 2004), um dos parâmetros formadores da Libras, como um importante elementos interno na formação da palavra. Observando diferentes exemplos da morfologia do português, constatou-se a existência de processos semelhantes de formação e derivação de palavras na língua de sinais. O estudo foi estruturado a partir da elaboração de referencial teórico que subsidiou as análises sobre os conceitos relacionados, bem como pesquisa de campo envolvendo acadêmicos do Curso de Graduação em Letras Libras – Licenciatura, modalidade de educação a distância, do Pólo UFPR. Os resultados obtidos tornaram possível identificar aspectos morfológicos da Libras, por meio de um terreno conceitual já delimitado para estudo da língua portuguesa. No entanto, esses estudos preliminares apontam para a necessidade da intensificação de pesquisas sobre o tema, tendo em vista a precariedade dos estudos investigatórios relacionados à língua de sinais brasileira.

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FLEXÃO VERBAL EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS � LIBRAS

Rafaela Piekarski Hoebel Lopes

Neste artigo pretende-se desenvolver considerações sobre os aspectos linguísticos

da língua de sinais tendo como recorte a flexão verbal. É importante ressaltar que a língua de sinais é natural das comunidades surdas, não oferecendo barreiras para sua aquisição. A Libras, língua de natureza visual-espacial, é um sistema linguístico capaz de expressar quaisquer conteúdos, constituindo um sistema convencional de sinais estruturados em regras estruturais e funcionais. Desta forma, apresenta estrutura e regras gramaticais próprias, através de parâmetros como a Configuração das Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimento (M), Orientação, Direcionalidade e Expressões não-manuais (expressões faciais e corporais). Percebe-se que o Movimento (M), dentre os parâmetros organizativos, gera mudanças na flexão verbal, determinando os chamados verbos com concordância, em oposição aos verbos sem concordância (QUADROS E KARNOPP, 2004). Nos casos dos verbos com concordância, o ponto inicial e final da trajetória do movimento dos argumentos estabelecidos no espaço podem incluir o sujeito, o objeto direto e o objeto indireto. Verbos com flexão como VER, AVISAR, RESPONDER, PERGUNTAR, AJUDAR são verbos em que a ordem vai ser sempre SVO, porque o sujeito e o objeto não aparecem na forma de constituintes separados dos verbos, mas sim na forma de flexão do próprio verbo através da direcionalidade de seu movimento, um vetor, cujo ponto de origem refere-se ao sujeito e cujo ponto final refere-se ao objeto. É a direcionalidade com esses dois pontos que é chamada flexão verbal. Estudos sobre a flexão verbal são ainda iniciais em Libras e merecem aprofundamentos nas pesquisas linguísticas, de modo a oportunizar maior compreensão sobre sua estrutura gramatical.

MORFOLOGIA: A ALOMORFIA E CLASSES DE PALAVRAS EM LIBRAS

Bruno Pierin

Este artigo originou-se de uma pesquisa de graduação cujo tema foi Morfologia: a alomorfia e classes de palavras em Libras, realizada no ano de 2009. Pretende-se abordar o conceito de alomorfia e as classes de palavra em Libras, considerando a variação de um morfema sem mudança no seu significado, com o objetivo de distinguir tais termos e permitir a compreensão sobre aspectos morfológicos da libras. Além disso, buscou-se compreender como se dá o processo de alomorfia e das classes de palavras em libras. Assim, o estudo foi estruturado em duas etapas distintas: a primeira, a partir da elaboração de referencial teórico que subsidiou as análises sobre os temas destacados recorreu-se a Britto (1995), Fernandes (1998) e Quadros e Karnopp (2004); a segunda, sob a forma de pesquisa exploratória, com o intuito de identificar alunos usuários da língua de sinais no curso de Letras Libras – Pólo UFPR, na modalidade de ensino a distância, com o intuito de identificar e conceituar aspectos morfológicos, a partir dos parâmetros da língua de sinais. Os resultados obtidos demonstraram que as discussões sobre o tema devem ser ampliadas, para uma apropriação e compreensão maior do tema.

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EXPERIÊNCIA RURAL E A FORMAÇÃO DO ROMANCE BRASILEIRO

Fernando Cerisara Gil

Os trabalhos desta sessão buscam estudar aspectos diversos das relações entre

matéria rural e a forma romance, de obras da ficção brasileira dos séculos XIX e XX. Dos problemas da constituição de um ponto narrativo no romance rural, passando pelo exame de perfis femininos, até a representação do engenho na ficção de 1930, a variedade de temas e de questões em foco faz parte de um esforço conjunto de alunos de Iniciação Científica e do Programa de Pós-Graduação em Letras em repensar o romance rural como uma das instâncias fortes formativas da ficção brasileira. Todos os trabalhos fazem parte do Projeto Experiência Rural e A Formação do Romance Brasileiro, vinculado ao Diretório de Pesquisa do CNPq Literatura e Modernidade, coordenado pelo prof. Fernando Cerisara Gil.

Ricardo Luiz Pedrosa Alves

Pretende-se discutir, a partir dos resultados iniciais da dissertação de mestrado,

meios de se investigar as formas com que José Lins do Rego visualizou o engenho de cana-de-açúcar em seus três romances iniciais, aqueles narrados e protagonizados por Carlos de Melo. Falamos de Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933) e Bangüê (1934), onde entendemos que haja um modo peculiar, que aqui denominamos de “íntimo”, pelo qual a obra inicial de José Lins do Rego, o “menino de engenho”, aprofundou a visualização do engenho. Se não há um gênero de romance de engenho, pode-se dizer que, por outro lado, para Lins do Rego, o engenho seja “o” gênero, na medida em que é o lugar em que melhor se estabelece literariamente, para o autor, a relação telúrica do homem. Particularmente nos três primeiros livros, em que ocorre a exploração de uma vivência íntima do espaço social, natural e produtivo. Observar-se-ão, portanto, as articulações entre o narrador da trilogia e a visualização, isto é, o que há de descrição nas obras, fator que lhes granjeou a alcunha de obras de molde documental ou sociológico. Partimos da suposição de que, naquelas três obras José Lins tenha introduzido uma diferença fundamental na percepção literária do engenho, que se dá, grosso modo, pela forma íntima e sensível de sua apreensão, no plano do narrador, e pela exposição descontínua e fragmentada da visualidade e da sociabilidade do engenho, no plano da construção formal. Além disso, a concepção de uma visada intimista do realismo implica também na apreensão de momentos nas obras em que avultam o narrador e as discussões da metalinguagem, essencialmente sob a ótica da narrativa oral em Menino de Engenho e, a partir de Doidinho, mas particularmente em Bangüê, das formas letradas de cultura, onde se insinua a discussão da condição do intelectual.

Gisele Thiel Della Cruz

O presente trabalho analisa as estratégias de atuação e afirmação social das mulheres no sertão brasileiro, através do discurso literário ficcional, em três obras: Inocência, de Visconde de Taunay; Dona Guidinha do Poço, de Manoel de Oliveira Paiva e O quinze, de Raquel de Queiroz. Estes romances, ambientados entre as décadas de 1860 e 1930, revelam dois momentos do sertão - a fartura e a miséria - e expõem, junto com esta simultaneidade,

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conflitos entre a instituição patriarcal e uma insurgência da emancipação feminina. Os gestos, os atos e as práticas de cada uma dessas mulheres retratam sistemas de valores específicos de uma cultura e reafirmam seu modo de vida. Para a discussão e a compreensão dos diversos papéis que se encerram em cada um dos personagens estudados, a análise tem como contraponto a produção da historiografia contemporânea e sua visão sobre o feminino naquele período. Nessa perspectiva, a investigação histórica transita na interface da literatura e vice-versa.

Ewerton de Sá Kaviski

O objetivo deste trabalho é centrar a atenção na maneira como se constitui a voz

narrativa em dois romances do século XIX, a saber, O Ermitão de Muquém (1869), de Bernardo Guimarães e O Cabeleira (1876), de Franklin Távora. Para tanto, priorizaram-se as relações entre a articulação da instância narrativa e a representação dos protagonistas bandidos. Não perdeu-se, entretanto, de vista a influência que a dimensão ideológica pode exercer para a constituição do ponto de vista narrativo e suas consequências para a forma romance em nossa série literária.

Thiago Bittencourt de Queiroz

Em Problemas da poética de Dostoievski, Mikhail Bakhtin estabelece o conceito de

polifonia, como sendo a presença, no romance, de vozes que não se sujeitam a um narrador centralizante; elas relacionam-se umas às outras quase que em igualdade. São vozes que destoam da voz do narrador, funcionando como um ser autônomo com visão de mundo própria e mantendo certa independência dentro da obra e até mesmo contrapondo-se ao narrador. Tendo isso em vista, o presente trabalho buscará caracterizar o narrador de Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva, como polifônico; na medida em que ele pode se desmembrar, se transformar e até mesmo desaparecer cedendo espaço para a intervenção de outras narrativas e outros narradores que vão se proliferando. E a partir de uma pequena análise comparativa, será demonstrado como esse narrador destoa dos demais narradores que se encontram nos romances rurais do século XIX.

Geisa Fabíola Mueller Silva

Este trabalho objetiva mapear, no romance rural do século XIX, os procedimentos

narrativos utilizados por diferentes autores, entre eles: Manuel de Oliveira Paiva, Franklin Távora, Bernardo Guimarães, José de Alencar e Visconde de Taunay. Tendo em vista o mecanismo do mando e do favor, engendrado pela ordem escravocrata-patriarcal, a análise do estatuto narrativo destacará o descompasso existente entre a condição social do protagonista e sua representação literária. Outro interesse deste estudo é acentuar as relações entre processo social e formas literárias, por esse motivo, serão apontadas algumas questões estruturais condicionadas pelo nacionalismo literário do período. Sob este aspecto, no que se refere ao material rural e ao empreendimento civilizatório encarnado pelo romantismo brasileiro, nota-se a predominância de um narrador que mantém distância da matéria narrada, marcando sua posição de homem branco urbano através da narrativa em 3ª pessoa e da utilização do discurso indireto.

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AS FACES DA PRAGMÁTICA

Rodrigo Bueno Elena Godói

PRAGMÁTICA E LITERATURA: DA CIÊNCIA DA LINGUAGEM À ARTE DA LINGUAGEM.

Desde o século XVIII, quando o termo “literatura” desligou-se da identificação de algo equivalente à gramática, temos duas concepções a seu respeito: a primeira, em sentido lato, representa todos os conjuntos de produção escrita; a segunda, em sentido estrito, diz respeito à criação ficcional, à recriação da realidade, inspirada ou não na realidade dos fatos, mediante os processos de (re) composição da linguagem. Embora ”o termo literatura seja mais uma dessas palavras impossíveis de uma conceituação uniforme” (Tavares, 1996), uma concordância que não tem faltado aos teóricos é a da literatura como a arte da linguagem: “O texto literário apresenta recriação da realidade, a transfiguração do real externo, a própria subversão do código linguístico, por meio de uma linguagem criadora, artística, com a presença evidente de aspectos denotativos, ou seja, com as palavras apresentando sentidos novos nas relações entre si, mostrando certa incompatibilidade semântica” (Dantas, 1979). Entendendo estes aspectos da literatura, uma abordagem pragmática, acerca do tema, pode ajudar na melhor compreensão da linguagem literária, visto que esta se utiliza de recursos estéticos e metafóricos, não se limitando a objetividade, tão menos agindo de forma simplista, antes, apresentando-se como um elemento constantemente criativo e evolutivo da linguagem. Deveras, não cabe à Pragmática o estudo da linguagem e de seus fenômenos? Assim, baseado no Princípio da Cooperação (Grice 1975), é proposto um diálogo entre a Pragmática e a Literatura, pretendendo perscrutar as interfaces destas duas áreas que se ocupam não somente da linguagem ou da textualidade, mas da maneira, da forma, da configuração de como são expressas. Portanto, o objetivo desta apresentação é trazer luz sobre a riqueza da pragmática existente na literatura, e refletir sobre o literato que, ainda que inconsciente, possui alto nível de competência pragmática, e propõe a seu leitor a execução dos processos inferenciais.

PRAGMÁTICA: DISCIPLINA LINGUÍSTICA OU CAMPO TRANSDICIPLINAR

Carlos Tadeu Grzybowski

O presente trabalho levanta um breve histórico dos estudos da linguagem em uso – Pragmática, mostrando que os mesmos se iniciam fora do âmbito da Linguística e por distintas disciplinas da ciência. Procura-se então descrever os pilares constituintes da

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transdisciplinaridade, distinguindo-se de seus similares (pluri, multi e interdisciplinaridade) e concluiu-se que, por sua própria natureza de campo investigativo, a Pragmática se constitui em uma transdisciplina, que por sua complexidade inerente transcende o campo da Linguística. Palavras-chave: Pragmática; transdisciplinaridade; complexidade.

A PRAGMÁTICA DAS PIADAS

Sebastião Lourenço dos Santos

De acordo com algumas pesquisas sobre o humor, o riso “provém de uma parte mais antiga do cérebro, responsável também por emoções tão primordiais no ser humano quanto o medo e a alegria.” (KRAFT, 2004: 35). Nesta perspectiva, não se pode rir de verdade atendendo a um comando consciente e tampouco é possível reprimir voluntariamente um acesso de riso. Se o riso é uma atividade inconsciente, como ele se processa na piada? Grice (1975) e Levinson (2000) já previam que a interpretação de um enunciado passa pelas implicaturas conversacionais, ou seja, para entendermos o significado de um enunciado há que se fazer inferências. Portanto, para interpretar a piada o ouvinte deve, necessariamente, possuir um “arquivo mental” sobre significados possíveis de palavras e de enunciados e acreditar, de alguma forma, que essas palavras e enunciados estabelecem uma relação de verossimilhança com as coisas no mundo. O objetivo deste trabalho é discutir o gênero piada pela perspectiva da pragmática. Para tanto, para dar conta da empresa, nos fundamentaremos na Teoria da Relevância de Sperber & Wilson (1986/95). As teorias linguísticas do humor (RASKIN, 1995; CURCÓ, 1995, YUS, 2003), centradas na semântica cognitiva, explicam a piada a partir do conceito de incongruência. Nossa hipótese é que para que o ouvinte processe a interpretação, ou seja, para resolver essa incongruência, este tem que, necessariamente, fazer uso de vários tipos de inferências, sejam estas semânticas ou pragmáticas. No entanto, na piada, que é regida pelo princípio de comunicação ostensivo-inferencial (SPERBER & WILSON, 1995), o locutor é co-responsável pela ativação desse paradoxo linguístico-cognitivo, uma vez que a narração se relaciona com o poder (BROWN & LEVINSON, 1986) que o ouvinte exerce sobre este e a cultura (MUNCK, 2000) que permeia ambos.

PRAGMÁTICA E IDENTIDADE

Luíza Suguimati

A discussão sobre processos identitários implica na percepção da concepção, do recorte e da perspectiva adotada que leva aos sentidos diversos expressos pelas correntes de pensamento das áreas do conhecimento que se dedicam ao estudo do tema. Adotando a visão da Pragmática, a caracterização da identidade como um processo exige configurá-la dentro de bases que considerem a re-interpretação da visão convencional que via a identidade como algo estável e consistente, para se ajustar à ideia de que a identidade é uma construção permanente.

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Dentro do paradigma da complexidade, o princípio da recursividade afirma que o sujeito constrói a sociedade que também o constrói e a identidade, seja individual, organizacional, cultural ou social, estabelece tensões com a sua alteridade, o que permite que ambos se desenvolvam e se transformem mutuamente.

Partindo desta premissa, a identidade consiste na distinção, na diferença, na fronteira que se cria a partir do desejo de ser algo diferente, o que não quer dizer que se pode existir separado dos outros. A afirmação de uma identidade cria condições para que outras interações tomem forma criando processos que vão moldando as identidades dentro de uma visão sistêmica e articulada.

ESTUDOS DE POLIDEZ EM DIFERENTES CONTEXTOS

Elena Godói

Esta sessão de comunicações coordenadas apresenta as pesquisas em andamento

que têm como fundamentação teórica o modelo da polidez linguística de Brown e Levinson (1987). Os conceitos da Teoria da Polidez e as metodologias de coleta e análise de dados desenvolvidos por vários pesquisadores são aplicados e estudados em diversas situações, tais como as solicitações e reclamações feitas pelo serviço telefônico de atendimento da Prefeitura de Curitiba (156), as petições iniciais nos processos judiciais, a sala de aula no contexto da EJA, além do estudo das estratégias da polidez do ato de fala específico que é o pedido em vários contextos. Todas as pesquisas apresentadas nesta sessão são inéditas.

PROCEDIMENTOS LINGUÍSTICOS NO DISCURSO JURÍDICO - A POLIDEZ NA PETIÇÃO INICIAL

Mariana Paula Muñoz Arruda

As estratégias de polidez utilizadas durante um processo judicial são imensamente diferentes. Dependem do objetivo ou objetivos visados por cada peça processual, como demonstrar um direito próprio na petição inicial, defender-se de uma acusação na contestação, ou mesmo decidir na sentença, em que o Juiz, diante da imparcialidade que lhe é exigida pela lei, utiliza-se de um vocabulário e argumentação próprios para aquele ato. As estratégias de polidez variam de acordo com o tema e com o desenrolar do processo. O objeto em si, se cível ou criminal, por exemplo, pode demonstrar essa variação. No entanto, não é só isso: a diferença de estar no pólo ativo (autor) ou no pólo passivo (réu) da demanda jurisdicional pode acarretar o uso de um ou de outro recurso linguístico. Assim, propomos aqui o estudo, na petição inicial, da utilização da polidez no discurso jurídico. Tal estudo pode revelar o efeito e a importância do uso das variadas estratégias de polidez, como propõem Brown e Levinson (1987), em Politeness: some universals in language usage.

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A POLIDEZ NAS INTERAÇÕES TELEFÔNICAS INSTITUCIONAIS

Carla Anéte Berwig

Este estudo tem o objetivo de analisar conversas telefônicas mantidas entre os

operadores e os usuários da Central de Atendimento da Prefeitura de Curitiba e verificar quais as estratégias de polidez empregadas pelos interlocutores nessa situação específica. Variáveis como o poder, gênero, distância hierárquica e grau de imposição precisam ser contempladas. O centro de interesse é o diálogo institucional, ou seja, a maneira pela qual os indivíduos desempenham atividades comunicativas associadas a contextos institucionais e a importância da polidez para a manutenção – ou não – da harmonia das relações. Para isso nos valeremos da Teoria da Polidez de Brown e Levinson (1987) e algumas revisões críticas dessa teoria, bem como pressupostos da Análise Conversacional e da Comunicação Organizacional e analisaremos alguns casos de pedidos, reclamações, etc.

O DCT COMO METODOLOGIA DE COLETA DE DADOS PARA A ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ USADAS NA REALIZAÇÃO DE PEDIDOS

Luzia Schalkoski Dias

João Paulo Partala

Em um primeiro momento, nos propomos a discutir a forma como o DCT

(Discourse-Completion Test) tem sido tradicionalmente empregado pelos estudos interlinguísticos/interculturais para a obtenção de dados empíricos relacionados a atos de fala específicos. Em um segundo momento, tomando como referencial teórico a Teoria da Polidez (Brown & Levinson, 1978, 1987) e a proposta de Blum-Kulka et. al. (1989), serão analisadas algumas estratégias linguísticas de polidez usadas por falantes da região de Curitiba na realização de pedidos em determinados contextos. A partir de algumas análises preliminares, buscaremos comparar as estratégias discursivas utilizadas pelos participantes.

A REPRESENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ POR ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA): SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Solange Gomes da Fonseca

Sabemos que a teoria da Polidez de Brown & Levinson (1987) tem como um dos seus pilares a noção de face que se refere ao amor-próprio do sujeito e que se desdobra em uma face positiva – que deriva da necessidade de ser apreciado e reconhecido pelo outro – e outra negativa – que está relacionada à necessidade que os participantes de uma interação

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têm de defender seu território e sua liberdade de ação. Para preservar a própria face, assim como a face do interlocutor, e manter a harmonia das relações sociais, os falantes recorrem a certas estratégias linguísticas de polidez.

O estudo das interações cotidianas envolve a análise do indivíduo de modo geral e as relações com outros indivíduos. A sala de aula, no contexto da EJA, parece ser um espaço interessante para a observação e análise das estratégias de polidez que entram em jogo nas interações entre os estudantes e entre estudantes e professor. No cotidiano, as ações desses sujeitos, em variados palcos de suas vidas, correspondem aos espaços da materialidade do social, do econômico e da cultura que eles representam numa interação na sala de aula.

O estudo dos fenômenos relativos à expressão das estratégias da “polidez” e ao trabalho da “face”, é ainda pouco expressivo nas pesquisas que tratam das estratégias de polidez usadas por alunos e professores da EJA. Diante disso, nasce o interesse em trabalharmos esse tema, investigando, a partir da perspectiva de Brown & Levinson, como se processa a interação entre o professor e os estudantes na sala de aula da EJA no ensino de língua portuguesa. Tendo em vista o jogo das faces positiva e negativa, buscaremos analisar como as estratégias conversacionais favorecem (ou impedem) o bom andamento das interações.

INCERTEZA E INDETERMINAÇÃO: NA FÍSICA, NA LINGUÍSTICA E NA TRADUÇÃO

Rodrigo Tadeu Gonçalves

A sessão de comunicações coordenadas se propõe a abordar o tema da

incerteza/indeterminação no tratamento de diferentes objetos teóricos, nas áreas da física, semântica, filosofia da linguagem e tradução, tendo como ponto de convergência os Estudos da Tradução. A despeito das diferenças inerentes a cada área específica, parece haver uma questão comum a todas elas, que diz respeito sobre as diferentes possibilidades de análise, tendo-se em vista a impossibilidade de uma abordagem verificável. A incerteza e a indeterminação devem ser levadas em conta como uma ampliação de possibilidades, sem qualquer conotação pejorativa, no sentido de tornar um resultado menos confiável. Longe de serem um caso especial, parecem ser a situação normal de desenvolvimento de toda pesquisa, sendo, portanto, uma questão do maior interesse. A proposta é demonstrar que a todo tempo se lida com algum tipo de indeterminação ao tentar realizar qualquer tipo de abordagem do objeto de estudo, independente da área do conhecimento.

TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO RADICAL: A TESE DA INDETERMINAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A COMUNICAÇÃO

Álvaro Kasuaki Fujihara

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Quine (1960) propõe uma situação imaginária em que um linguista de campo chega a uma tribo indígena até então desconhecida, uma situação de “tradução radical”, em que o linguista deve, a partir do zero, descrever a língua nativa. Quine procura demonstrar com esse experimento imaginário que não há um modo objetivo de determinar-se o significado atribuído pelo linguista, mesmo a uma expressão extremamente simples. Segundo o autor, o experimento aponta para uma “dificuldade de correlação ou indeterminação” – não há como ter certeza sobre a validade da interpretação proposta para uma expressão. Como aponta Davidson (1984), a questão é interessante especialmente porque é válida mesmo para a situação cotidiana de comunicação: no limite, não há como ter certeza sobre a validade de nossas interpretações. O presente trabalho pretende discutir as consequências da tese da indeterminação de Quine para a tradução e para a comunicação de modo geral, considerando em especial a questão acerca da possibilidade efetiva de comunicação, a despeito da indeterminação da interpretação.

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA E A BUSCA DA CERTEZA DO OUTRO

Camila Bozzo Moreira

Em linhas gerais, o trabalho visa traçar um paralelo entre os Estudos da Tradução e o Princípio da Indeterminação, estabelecido pelo físico alemão Werner Heisenberg, princípio este que compõe um dos conceitos base da física atômica e que, grosso modo, discorre sobre a dificuldade que se tem de rastrear com uma mesma certeza tanto a posição quanto a velocidade de um elétron devido à interferência que o observador exerce sobre o objeto a ser observado. Essa interferência, em conjunto com os diferentes pontos de observação possíveis, faria do resultado algo indeterminado, ou seja, ao invés de uma verdade têm-se várias interpretações plausíveis. Levando essa noção para a tradução, a interferência pode ser vista, por exemplo, nas diversas traduções de um mesmo texto, sejam elas de um mesmo tradutor ou não, devido às próprias particularidades que formam o tradutor enquanto indivíduo, ou ainda ou se pensarmos nas diferentes possibilidades de abordagem a um dado fenômeno: todas elas partem de um ponto de vista diferente na tentativa de definir seu objeto de estudo, no caso, a Tradução. De modo a contribuir com esse paralelo, me basearei, então, em discussões acerca de alguns conceitos atualmente centrais para a teoria da Tradução, como da noção do double bind, proposta por Jacques Derrida, que perpassará, inevitavelmente, pela noção do sujeito na Tradução, discutida por Maria Paula Frota, ao tratar a questão da invisibilidade do tradutor proposta por Lawrence Venuti.

INDETERMINAÇÃO, RELATIVISMO E TRADUÇÃO

Rodrigo Tadeu Gonçalves

Esta comunicação pretende abordar a noção de indeterminação relacionada com a de incomensurabilidade no campo da filosofia da linguagem, especialmente no que diz respeito ao relativismo linguístico, bem como suas implicações para os estudos da tradução. A ideia central é avaliar a noção de incomensurabilidade semântica em relação com a ideia de que línguas diferentes geram cosmovisões tão diferentes que, em última instância, a

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comunicação efetiva se tornaria impossível. Serão avaliadas propostas como a de Humboldt, Whorf, além de filósofos como Davidson, Quine, Kuhn e Popper.

TRADUÇÃO E REESCRITA: DIÁLOGOS NO ÂMBITO DOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO.

Rodrigo Tadeu Gonçalves

O Grupo de Estudos da Tradução (GET) vêm realizando discussões a partir de

textos teóricos sobre tradução e temas correlatos desde 2005. Em 2009, a meta do grupo é transformar estas discussões em produto acadêmico, como apresentações em evento, elaboração de artigos, etc. Neste semestre o texto posto em debate é Tradução, reescrita e manipulação da fama literária de André Lefevere, e a proposta desta comunicação é a de apresentar o estado de pesquisa dos alunos participantes do grupo, bem como de professores envolvidos com o mesmo, que colocam o discurso de Lefevere em diálogo com o discurso de tradutores, como Plauto, Terêncio e Ezra Pound, e de teóricos da tradução, como Antoine Berman e Lawrence Venuti.

REESCRITURA, MANIPULAÇÃO E RESISTÊNCIA: VENUTI, LEITOR DE LEFEVERE

Letícia França

André Lefevere tem como pressuposto de seu discurso que qualquer sistema literário está subjugado a interesses ideológicos e poetológicos de um mecenato. Isso é válido, principalmente, para as reescrituras, capazes de causar efeitos muito distintos em uma dada sociedade. A reescritura pode tanto inovar um sistema literário como reprimir e distorcer essa inovação em favor de uma cultura dominante sobre outra. Para o teórico belga, a tradução é a forma mais reconhecível de reescritura e também a mais influente devido a sua capacidade de projetar a imagem de um sistema literário em outra cultura. Venuti, leitor de Lefevere, também identifica a manipulação como forma de “adequar” um texto aos interesses de uma cultura dominante, em seu caso, a cultura anglo-americana. Ambos os pensadores propõem uma avaliação crítica do papel da tradução na construção de cânones literários e no estabelecimento da relação entre diferentes sociedades. Nesse sentido, com o presente trabalho, proponho uma investigação sobre os pontos de contato e de afastamento entre as reflexões empreendidas por Lawrence Venuti e André Lefevere, buscando compreender a que e a quem se dirigem suas críticas, as “soluções” propostas pelos teóricos e o quanto a escolha de termos de cada um revela suas ideias sobre a questão da tradução como instrumento de manipulação.

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TRADUÇÃO COMO REESCRITA DO GÊNERO CÔMICO NA ANTIGUIDADE: LEFEREVE, PLAUTO E TERÊNCIO

Rodrigo Tadeu Gonçalves

Esta comunicação pretende aplicar a discussão de André Lefevere sobre tradução como reescrita ao contexto dos inícios da literatura latina, período em que grande parte dos autores manifestamente se apropriavam de originais gregos para produzir obras em latim que manifestamente eram reescrituras dos gregos. O contexto em questão, especialmente no caso da transmissão do gêmero da Comédia Nova de autores do período helenístico grego como Menandro, Filêmon e Dífilo para o gênero da Comédia Nova latina das fabullae palliatae, foi palco de uma frutífera safra de recriações literárias que assumiram estatuto próprio, sem nunca deixar de fazer referência ao contexto grego de origem. O modelo proposto por Lefevere para explicar a manipulação do cânone literário através da reescrita parece explicar uma série de elementos peculiares encontrados no período de produção das comédias de Plauto e Terêncio, e parece apropriado para entender o que se propunha como tradução no período, bem como que resultados do ponto de vista do estabelecimento dos fundamentos da própria literatura latina no contexto sócio-cultural de Roma do período dos séculos III e II a.C.

UMA POÉTICA DA REESCRITA: ENLACES DE POUND E LEFEVERE

Guilherme Gontijo Flores

Em Tradução, reescrita e manipulação da fama literária, André Lefevere apresenta os

problemas políticos e éticos que estão envolvidos em qualquer operação tradutória, na medida em que ela recorta, indica e critica obras do passado ou de outras culturas, ao mesmo tempo em que as faz interagir dentro de um cânone perpetuamente em construção. O que pretendo apresentar é uma leitura de como o poeta norte-americano Ezra Pound desenvolve, em sua prática tradutória, soluções por meio de uma reescrita do falso, ou reescrita deslocada, que põe em cheque a função comunicativa, para lançar uma estética crítica; e de que maneira as soluções de Pound implicam uma teoria semelhante à de Lefevere.

TRADUÇÃO, RELAÇÃO E MANIPULAÇÃO: DE BERMAN A LEFEVERE

Simone Petry

André Lefevere, no texto Tradução, reescrita e manipulação da fama literária, trata a

questão da reescritura, e aponta a tradução como seu melhor exemplo, enquanto manipulação ideológica e poetológica de obras literárias com vistas a renovar o sistema literário de determinada cultura, ou a manter a forma dominante deste mesmo sistema em detrimento de qualquer tipo de inovação. Nesse sentido, a tradução surge como ferramenta

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capaz de recriação, transformação e construção de valores, partindo de critérios pré-estabelecidos por determinado sistema literário, mas, também, capaz de subverter estes mesmos critérios, ainda que sempre administrada por um sistema de mecenato. A proposta deste trabalho é a de colocar em diálogo o discurso desse teórico belga com o do teórico francês Antoine Berman, e deste modo problematizar a questão do etnocentrismo bermaniano na tradução. Ao colocar a tradução em manifesto, Berman critica a tradução etnocêntrica, por esta ser realizada sob jugo de interferências de ordem ideológicas, em prol de um ideal do fazer tradutório que seria de alcançar aquilo que ele chama de uma visada ética da tradução, na qual a relação oferecida ao Outro, ao estrangeiro, é de total abertura no nível da escrita, ou da reescrita, buscando construir, assim, um tipo de relação/tradução onde traços de apropriação com intuitos ideológicos, relacionados ao desejo do Próprio, seriam totalmente apagados.

IDENTIDADE E DESLOCAMENTO: REFLEXÃO SOBRE TRÊS AUTORES NO BRASIL

Rodrigo Vasconcelos Machado

Os conceitos de sujeito e identidade, com suas culturas e aspectos e a discussão do espaço da narrativa e suas implicações geo-políticas, sociais e criativas, serão o tema dos três estudos que pretendemos apresentar, sob uma perspectiva onde, partindo do Brasil, visto de si e sob o olhar do outro, discutem e refletem possíveis aproximações e distanciamentos. Buscaremos primeiramente a representação da cidade de Natal, descrita pelo escritor Mário de Andrade em recortes textuais e reflexões sobre a imagem da cidade, numa abordagem teórica e histórica, onde intentaremos articular também as formas de interação do escritor com a própria cidade. Refletiremos também sobre a origem brasileira de Thomas Mann, fato relevante na obra do escritor, não só pela presença constante de personagens de origem estrangeira em suas obras, como pela problematização do elemento “estrangeiro” no caminho formativo de personagens centrais na novela Tonio Kröger, exemplo de como a identidade influencia o percurso da carreira artística, ao que se soma ainda a discussão do papel do artista numa sociedade burguesa onde percebem-se mudanças significativas de valores estéticos e sociais, e de como é possível relacionar esses fatos à história de Thomas Mann e seu posicionamento quanto à sua própria origem enquanto intelectual e escritor. Para finalizar apresentaremos um estudo a partir da análise da obra Cavalinhos de Plantiplanto de José J. Veiga, buscando entender as relações e correlações entre o realismo mágico e a realidade político-ideológica na qual o autor esta inserido, tomando um referencial teórico presente nos estudos de autores como Todorov e Chiampi e buscando identificar e compreender os elementos formadores deste gênero literário na obra de José J. Veiga e no Brasil.

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REPRESENTAÇÃO DE NATAL NA OBRA O TURISTA APRENDIZ DE MÁRIO DE ANDRADE

Cristiano Mello

O presente ensaio busca acrescentar novas interpretações e refletir acerca da

representação da cidade de Natal, descrita pelo escritor Mário de Andrade. Ao abordarmos, através de recortes textuais, reflexões sobre a imagem da cidade, surgem duas questões cruciais: uma de fundamento teórico e a outra histórica, que em regra servirão para limitar esse trabalho. Durante tal empreitada intentaremos articular também as formas de interação do escritor com a própria cidade. Para tanto escolhemos trechos de maior significância para serem analisados.

A PROBLEMATIZAÇÃO IDENTITÁRIA EM TONIO KRÖGER, DE THOMAS MANN

Sibele Paulino

A origem brasileira de Thomas Mann teve grande influência na obra do escritor,

não só pela presença constante de personagens de origem estrangeira em suas obras, como pela problematização do elemento “estrangeiro” no caminho formativo de personagens centrais, tanto pela relação de consanguinidade entre elas quanto erótico-amorosa. A novela Tonio Kröger, escrita no início da carreira do escritor supracitado, é exemplo de como a identidade da personagem homônima influencia o percurso da carreira artística, ao que se soma ainda a discussão do papel do artista numa sociedade burguesa, em que se percebe mudanças significativas de valores estéticos e sociais. O presente trabalho pretende focalizar a origem italiana da mãe da personagem, com todas as significações que tal cultura ainda tem para a Literatura Alemã – o “sul” e seu exotismo para o imaginário germânico –, como geradora dos conflitos identitários gerados na formação de Kröger, bem como isso pode se relacionar à história de Thomas Mann e seu posicionamento quanto à sua própria origem enquanto intelectual e escritor.

JOSÉ J. VEIGA: A REALIDADE X O REALISMO MÁGICO.

André Ribas

Este estudo pretende, a partir da analise da obra Cavalinhos de Plantiplanto de José J. Veiga, entender as relações e correlações entre o realismo mágico e a realidade político-ideológica na qual o autor esta inserido. Para tal analise basearemos o referencial teórico presente nos estudos de autores como Todorov e Chiampi, buscando identificar e compreender os elementos formadores deste gênero literário na obra de José J. Veiga e no Brasil.

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ASPECTOS DOS CONTOS DE GUIMARÃES ROSA

Milena Ribeiro Martins

Reúnem-se nesta sessão análises de diferentes aspectos dos contos de Guimarães Rosa, especialmente daqueles publicados em Primeiras Estórias (1962): análise das personagens infantis, análise da representação do amor e do lirismo por meio da linguagem, análise comparada de um conto de Guimarães e outro de Machado de Assis e análise de aspectos formais das narrativas curtas.

AMOR E LIRISMO NAS PRIMEIRAS ESTÓRIAS DE JOÃO GUIMARÃES ROSA

Lahis Tavares Lopes Budal

Os contos do livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, estão repletos de

manifestações líricas, o que faz as "estórias" parecerem diversas vezes uma mistura de prosa e poesia. Tal mistura pode se revelar no tratamento lírico dos temas e também na linguagem poética. No conto “Sequência”, a veia poética não está apenas no tema — a aventura da vaquinha pitanga, movida pela saudade — mas também na escolha das palavras e expressões, que tornam o texto especialmente poético. Já em “Luas-de-Mel” a presença do amor perdura, mesmo sendo ameaçado pelo combate eminente de que é a causadora; neste caso a linguagem também influencia na percepção dos sentimentos que envolvem a narração. Pretendemos com este trabalho analisar, principalmente nos contos referidos, as formas de representação do amor, o lirismo e a poetização das narrativas.

REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NOS CONTOS �O ESPELHO� DE MACHADO DE ASSIS E GUIMARÃES ROSA

Christy Beatriz Najarro Guzmán

O presente trabalho é um estudo comparativo dos dois contos intitulados “O espelho”, um de Machado de Assis (publicado originalmente na Gazeta de Notícias em 1882 e depois foi incluído no livro Papéis Avulsos no mesmo ano), e o outro de Guimarães Rosa, publicado em Primeiras Estórias (1962). Ambos os contos apresentam discussões acerca do tema da identidade do ser humano. Apesar de semelhanças, como os narradores em primeira pessoa, os contos resolvem o problema de formas diferentes de acordo com a sua época. Este trabalho visa explorar os pontos em que estes dois contos se aproximam e se distanciam na tentativa de resolver uma dúvida que durante séculos preocupou o ser humano.

A INFÂNCIA EM PRIMEIRAS ESTÓRIAS

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Anna Carolina Legroski

A importância que Guimarães Rosa dá para a infância é evidente em sua obra, em que as personagens infantis desempenham papéis importantes: o Menino-Diadorim assombra Riobaldo com sua independência em Grande Sertão: Veredas; Miguilim e Dito, em Campo Geral, conduzem quase toda a narrativa; em “A terceira margem do rio”, o homem, quando menino, decide ser margem para o pai; e o Menino de “Nenhum, Nenhuma” amadurece seus sentimentos encontrando sentidos que desconhecia. Essas crianças veem mais do que os adultos à sua volta podem imaginar. De maneira geral, os personagens de Primeiras Estórias (1962) contribuem com essa abordagem diferente do mundo. Eles são tipos humanos que poderiam ser considerados desajustados ou excepcionais, mas exatamente por isso podem oferecer o que personagens adultos “normais” não poderiam: o acesso a outras camadas da realidade. Tendo em vista essa característica ímpar dos personagens de Primeiras Estórias e o lugar de destaque das crianças na obra de Guimarães Rosa, este trabalho pretende fazer uma análise do papel das crianças nos contos de Primeiras Estórias.

ASPECTOS DA TEORIA DO CONTO

Milena Ribeiro Martins

Nesta comunicação apresentaremos alguns aspectos da teoria do conto, tais como as noções de extensão, concentração, tensão, organização, tempo da leitura, dentre outros. Observaremos se as considerações teóricas sobre o conto moderno, desde Edgar Allan Poe, ainda são úteis para a análise dos contos de Guimarães Rosa, ou se são necessárias outras categorias analíticas.

UMA INTRODUÇÃO À MÚSICA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

Roosevelt Araújo da Rocha Júnior

Pretendemos apresentar rapidamente qual era a importância da música nos

contextos social e cultural da Antiguidade Clássica. Além disso, trataremos dos principais conceitos da teoria musical grega, como genos, systema e harmonia, e mostraremos o que há de comum e diferente em relação à nossa teoria musical atual. Falaremos também dos instrumentos musicais e da sua importância e presença no cotidiano do homem da Antiguidade. Por fim, apresentaremos algumas peças musicais da Antiguidade Clássica reconstituídas a partir de diferentes tipos de documentos textuais.

O aluno Marcelo BOURSCHEID falará sobre a obra Elementos de Harmonia, de Aristóxeno de Tarento. Serão enumerados e explicados os principais conceitos contidos nesse tratado, tais como harmonia, som, gênero, intervalo, sistema, dentre outros. Será feita também uma comparação entre a teoria musical de Aristóxeno e a teoria musical moderna, principalmente no que se refere às escalas musicais.

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O aluno Leonardo Teixeira de OLIVEIRA falará sobre Aristóxeno de Tarento, o mais importante teórico da música da Antiguidade Clássica. Serão abordadas informações sobre a sua biografia, sua formação pitagórica, a influência de Aristóteles na sua obra e a importância da sua teoria harmônica na história da música grega antiga.

POR UMA ABORDAGEM DINÂMICA DE FATOS FÔNICOS DO PB

Adelaide Hercília Pescatori Silva

Nesta Sessão serão expostos trabalhos conduzidos no Laboratório de Estudos Fônicos (Lefon/UFPR), que tratam de aspectos diversos do português brasileiro, concernentes ao nível fonético-fonológico da língua. Assim, há aqui estudos que tratam da realização de sons em diferentes posições na palavra – notadamente os sons de /r/ na língua – bem como de sua representação na gramática do PB. Há também estudos que tratam da aquisição de L2, buscando averiguar as estratégias que falantes nativos de PB utilizam para produzir sons de uma língua estrangeira, bem como as estratégias que falantes de uma língua estrangeira (japonês) empregam para realizar sons do português. Por fim, há também um estudo que busca investigar como indivíduos portadores de patologia de fala – em específico fissura lábio-palatina – realizam certos sons e a razão de empregarem as estratégias verificadas. Apesar de versarem sobre tópicos distintos, todos os trabalhos têm basicamente dois pontos comuns: 1) todos utilizam a fonética acústica como ferramenta metodológica para analisarem os dados colhidos através de experimentos de produção de fala; 2) todos baseiam-se num mesmo background teórico, assumindo que uma perspectiva dinâmica pode dar conta de explicar os fatos observados de maneira mais parcimoniosa do que análises tradicionais fariam. Isto porque esta perspectiva, inspirada na Fonologia Gestual, assume o gesto articulatório como primitivo de análise. Sendo uma unidade ao mesmo tempo simbólica e numérica, dotada de tempo intrínseco, o gesto torna comensuráveis fonética e fonologia, possibilitando tratar essas duas disciplinas num mesmo nível.

DESSONORIZAÇÃO TERMINAL: DADOS DE INFORMANTES PARANAENSES

Jeniffer Albuquerque

O presente trabalho, realizado em conjunto com pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas, coordenados pela profa. Dra. Márcia Zimmer, propõe uma discussão acerca do fenômeno da dessonorização terminal (doravante DT) de obstruintes no processo de aprendizagem de inglês como L2.

Desde 1987, com o trabalho de Major, a DT é objeto de pesquisa. Nesse estudo, o autor caracteriza a DT como sendo um processo que envolve a perda do traço sonoro em algumas posições finais e, ainda, que o processo ocorre em língua materna e estrangeira.

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Para Eckman (1981, 1987), que também descreve a perda do traço, o processo da DT se dá na interlíngua.

O que se observa é que ambos os autores colocam a DT de modo a estabelecer duas categorias: a presença ou não de sonorização. Em contrapartida, em trabalhos como os de Zimmer (2004), e estudos posteriores, a DT recebe outro olhar, e percebe-se a necessidade de se investigar os ambientes adjacentes à produção das obstruintes e os correlatos acústicos envolvidos na produção dos segmentos. É preciso esclarecer que esse novo olhar sobre a DT só é possível via abordagem da Fonologia Acústico-Articulatória (Albano, 2001), a partir da qual não se tem mais uma visão categórica do processo da DT, mais sim dinâmica. Para obter uma análise mais satisfatória do fenômeno da DT, foi realizado um experimento que contou com a gravação de 72 sentenças, dispostas em fichas de leitura. Os informantes gravaram cinco repetições de cada conjunto de sentenças. Já nos primeiros resultados, notou-se uma variação nos dados analisados a depender do ponto de articulação das obstruintes, bem como variações para os dados de um mesmo informante. Este trabalho apresentará os primeiros resultados obtidos através do experimento.

ABORDAGEM DINÂMICA DO ROTACISMO NO PB

Luciane Trennephol da Costa

O rotacismo, definido em linhas gerais como a “troca” de um som lateral por um

rótico, e que ocorre majoritariamente em ataques complexos no PB, constitui um fato estigmatizado da língua. Assim, por exemplo, produções como “praca”, para “placa”, são atribuídas a indivíduos de baixa escolaridade. A questão que se quer investigar neste estudo é: os róticos resultantes do rotacismo são os mesmos que os róticos realizados em grupos que os contêm de fato, como em “prato”, e.g.? A hipótese é de que os falantes podem realizar os róticos de maneira diferente, de modo a preservar pistas que diferenciem os róticos realizados em grupos contendo originalmente laterais e os róticos realizados em grupos com róticos mesmo, a exemplo do que se tem para o flapping do inglês, em que a duração da vogal precedente ao flap preserva a informação sobre a oclusiva alveolar da qual o flap resulta.

Para testar essa hipótese foi elaborado um estudo-piloto contendo palavras com grupos com lateral e grupos com tap. Essas palavras foram inseridas em sentenças-veículo e submetidas à leitura de indivíduos que, numa inspeção de outiva, realizam o rotacismo. Nesta comunicação serão expostos e discutidos os primeiros resultados encontrados, buscando relacioná-los à nossa hipótese de trabalho.

PRODUÇÃO DE FRICATIVAS POR JAPONESES APRENDIZES DE PB COMO L2

Flávio Medina

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Há basicamente duas perspectivas teóricas que tratam do processo de aprendizagem de uma língua estrangeira: o da interferência linguística, que defende a influência das regras gramaticais da língua mãe (L1) do aprendiz durante o aprendizado da L2, e o da interlíngua, que postula a existência de um modelo gramatical intermediário contendo elementos da L1 e da L2 durante o aprendizado. Neste trabalho, com base nestes modelos, realizamos previsões sobre algumas dificuldades encontradas no aprendizado do português brasileiro (PB) por parte de estudantes japoneses no nível fonológico.

Para tanto, partimos de uma análise comparativa entre características segmentais do PB e do japonês. Nossa hipótese é de que, dentre outras dificuldades, os japoneses provavelmente apresentarão problemas na produção de fricativas seguidas de /i/. Isso ocorreria por duas razões: algumas fricativas do PB não existem no japonês (a saber, /v/, /f/ e /ʒ/), enquanto outras apresentam processos de alofonia diante de /i/, no japonês, diferentes do PB (a saber, /s/ palataliza-se para /ʃ/, /h/ para /ç/ e /z/ torna-se /�/). Em seguida lançamos hipóteses de como os japoneses poderiam tentar realizar a produção das fricativas seguidas de /i/ do PB, considerando as características fonéticas da L1 (japonês) e da L2 (PB), de acordo com os conceitos de interferência e interlíngua.

Finalmente, analisamos auditivamente dados gravados em sala de aula e em um estúdio acústico de alunos japoneses para comprovar a existência de tais dificuldades. Esta primeira análise parece confirmar as hipóteses lançadas no princípio do projeto, mas uma análise acústica se faz necessária para que elas sejam mais acuradas.

PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO GESTUAL PARA O TAP NO PB

Adelaide Hercília Pescatori Silva

Felipe Clemente Gustavo Nishida

Este trabalho apresenta uma proposta de representação fonológica do tap no

português brasileiro: partindo de uma investigação acústica conduzida por Felipe Clemente para o tap em final de palavras, por Felipe Clemente, e para o tap em grupos, por Gustavo Nishida, observa-se que tanto numa como noutra posição silábica o tap se faz acompanhar por um elemento vocálico. Esse elemento, porém, exibe natureza distinta em função da posição que ocupa na palavra: quando em grupos, o elemento se assemelha à vogal nuclear da sílaba mas, quando em cada final de palavras, o elemento vocálico se assemelha a uma vogal neutra, qualquer que seja a vogal do núcleo silábico.

Assumindo que esse não é um fato meramente mecânico e que, por isso, deve ser representado na gramática da língua, propõe-se uma representação gestual para os taps, com base no argumento de que apenas um tratamento dinâmico pode prever uma representação para este tipo de fato, dado que não se trata da inserção de uma vogal qualquer, mas aparentemente da interrupção da realização da vogal nuclear para a realização do tap.

Apresenta-se, então, essa representação, muito embora seja ainda preliminar, porque a questão concernente à maneira de se tratar a sílaba, sob uma perspectiva dinâmica é ainda uma questão não resolvida pelo modelo teórico adotado.

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ABORDAGEM DINÂMICA DA PRODUÇÃO DE FISSURADOS

Rita Tonocchi

As fissuras lábio-palatinas podem trazer comprometimento para a realização dos sons da fala porque muitas delas promovem fendas nos lábios e no palato dos indivíduos. Ao tratar dessa patologia, a literatura fonoaudiológica relata, no geral, uma produção posteriorizada dos sons da fala, tal que uma oclusiva alveolar surda [t], e.g., seria realizada como oclusiva velar surda [k]. Essa realização é tratada como uma estratégia compensatória: como os indivíduos fissurados apresentam alteração no ponto em que o som seria articulado, a articulação do som seria supostamente realizada numa porção posterior do trato vocal, inalterada.

Um estudo preliminar, realizado junto a um indivíduo fissurado, revela que a realização dos sons não é exatamente como a literatura tradicionalmente descreve: investigando a produção de consoantes oclusivas, vê-se que as bilabiais não se alteram – o que, aliás, é esperado, dado que a fissura não atinge os lábios do indivíduo em questão – mas as alveolares não são deslocadas para um ponto de articulação velar, sendo aparentemente realizadas num ponto palatal. Ou seja, o indivíduo parece manter uma “distância” entre os pontos de articulação semelhante àquela que os falantes não fissurados exibem. Assim, há sobretudo semelhança entre a fala dos fissurados e dos não fissurados, no que concerne à distância entre os pontos de articulação. Os dados acústicos a serem apresentados e discutidos nesta comunicação visam a evidenciar este fato, além de chamarem a atenção para a necessidade de pensar numa análise que não trate a realização dos fissurados como a “substituição” de um som por outro, mas como um processo que busca preservar a estrutura fônica do português brasileiro.

AQUISIÇÃO DAS CATEGORIAS DE TEMPO E ASPECTO

Teresa Cristina Wachowicz

As comunicações desta seção têm como objetivo divulgar o trabalho de Iniciação Científica em andamento que se filia ao projeto de Pesquisa intitulado CONSTRUÇÃO DE BANCO DE DADOS PARA ESTUDOS EM AQUISIÇÃO DE TEMPO E ASPECTO, coordenado pela professora Teresa Cristina Wachowicz, do DLLCV, e registrado em Banco de Projetos da UFPR (Thales). No segundo semestre de 2008, foram realizados testes em crianças de 3 a 6 anos, alocadas em Centros de Educação Infantil da Prefeitura de Curitiba (CMEI) que tinham como objetivo verificar compreensão e produção de estruturas temporais específicas, renomeadas na tradição da literatura como aspecto lexical (Vendler 1967, Dowty 1979, Bertinetto 2001). Paralelamente, foram realizados os mesmos testes em adultos, como grupo de controle às conclusões sobre a aquisição em crianças. Em estudo paralelo, o projeto prevê construção de banco de dados de fala espontânea de três crianças, de 1 ano e 7 meses até 4 anos e 6 meses, agora aos 2 anos e 3 meses.

Letícia Schiavon Kolberg

Paralelamente ao trabalho de testes e levantamento quantitativo de conclusões,

desenvolve-se trabalho de registro longitudinal de aquisição espontânea de linguagem em

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três crianças da região de Curitiba, no momento na faixa de 2 anos e 4 meses. Registros preliminares desses dados mostram que as crianças iniciam sentenças com verbos télicos e morfologia perfectiva (Bertinetto 2001), como caiu, babo (acabou), na fase de 1 ano e 7 meses aproximadamente. Verbos estativos são preferidos mais tarde, na fase de 2 anos e 3 meses aproximadamente, sempre em situações referenciais: Tem papá ti (tem comida aqui). Os dados longitudinais mostram, numa primeira hipótese, que o português é uma língua que responde à Hipótese Primeira do Aspecto, questionada em Bertinetto 2001.

Aline Fatturi Rodrigues

Além disso, sob o ponto de vista da produção, as crianças preferiam estruturas adjetivais do tipo small clause (Aarts 1990) para situações com verbos estativos (estar braba), e estruturas com gerúndio (-ndo) em situações com verbos de atividade (tocar guitarra), confirmando tendência de as crianças combinarem verbos homogêneos com aspecto imperfectivo, questionada em Bertinetto 2001. Por exemplo, ao ser solicitada a dizer o que viu em uma gravura em que a Mônica (personagem do Maurício de Souza) está visivelmente brava, a criança prefere dizer uma estrutura do tipo “A Mônica braba”, ao passo que os adultos, e algumas crianças de 4 a 5 anos, preferem dizer uma sentença com auxiliar: “A Mônica tá braba”. Ao ser solicitada a dizer o que viu diante do Franjinha tocando guitarra, ambos, adultos e crianças, preferem a construção com gerúndio: “Ele tá tocando guitarra/violão”.

Bruna Martins Viana

As conclusões finais dos testes, no entanto, levaram a um leque de conclusões quantitativamente pertinentes e no mínimo interessantes. Inicialmente, sob o ponto de vista da compreensão, em se tratando de verbos lexicalmente marcados pela não-homogeneidade temporal (pintar as unhas, tropeçar) no passado perfeito, as crianças preferiam interpretar os subeventos nucleares, confirmando proposta de estrutura de eventos pressuposta no léxico verbal, de Pustejovsky 1991. Por exemplo, ao ser solicitada a indicar uma figura dentre três – a primeira mostrando as unhas não pintadas, a segunda mostrando as unhas sendo pintadas, e a última mostrando as unhas todas pintadas - , no momento em que a entrevistadora diz “A Mônica pintou as unhas”, as crianças preferem indicar a segunda figura, ao passo que os adultos, já com a categoria do tempo, preferem indicar a terceira.

Teresa Cristina Wachowicz

A hipótese inicial dos testes, realizados em crianças de 3 a 6 anos, alocadas em

Centros de Educação Infantil da Prefeitura de Curitiba (CMEI), que tinham como objetivo verificar compreensão e produção de estruturas temporais, é a de que as crianças compreendem e produzem inicialmente estruturas no passado perfeito em verbos que pressuponham mudança de estado do objeto, ou seja, verbos não-homogêneos, nomeadamente em télicos em situações referenciais (Hodgson 2003). Em outros termos, a criança adquire antes a referência concreta do perfeito dêitico e depois as estruturas temporais durativas ou abstratas, o que a literatura chama de Hipótese do Aspecto em Primeiro Lugar (Wagner 2006).

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O léxico verbal do Português Brasileiro: aspectos morfológicos

Teresa Cristina Wachowicz

Este trabalho tem como objetivo divulgar o trabalho de Iniciação Científica em andamento que se filia ao projeto de Pesquisa intitulado SINTAXE E SEMÂNTICA DO LÉXICO VERBAL EM (PORTUGUÊS BRASILEIRO) PB, coordenado pelas professoras Maria José Foltran e Teresa Cristina Wachowicz, do DLLCV, e registrado em Banco de Projetos da UFPR (Thales).

Anamaria Kaiser Saggin

A partir de busca em dados do Projeto Nurc, verificaram-se algumas tendências morfológicas do PB que se relacionam diretamente a questões aspectuais, especificamente de aspecto lexical (Vendler 1967, Dowty 1979, Bertinetto 2001): 1) Os prefixo a- e en- e sua relação com a informação aspectual de mudança de estado. Esses verbos, quando denominais, tendem a ter comportamento de accomplishments, ao passo que, quando deadjetivais, são degree achievements (Dowty 1979). 2) Os prefixos per- e trans- e sua relação com verbos durativos; 3) os sufixos –ecer e –icar e suas implicações igualmente com a mudança de estado, etc.

Adriano Scandolara

Esta comunicação pretende analisar as leituras aspectuais, temáticas e alguns processos de nominalização dos verbos levantados pelo projeto SINTAXE E SEMÂNTICA DO LÉXICO VERBAL EM (PORTUGUÊS BRASILEIRO) PB. Segundo Grimshaw 1990, as nominalizações do inglês são sensíveis à classe aspectual dos verbos dos quais os nomes derivam. Esses, por sua vez, exibem comportamentos diferentes se derivados de adjetivos ou verbos. Nosso objetivo é investigar e descrever o comportamento de algumas nominalizações a partir de deverbais e deadjetivais no PB.

Teresa Cristina Wachowicz

Uma primeira tarefa no projeto, neste ano de atividades de Iniciação Científica, de

2008-2009, é levantar dados do Projeto NURC que evidenciem estruturas sintático-semânticas dos verbos catalogados por trabalho de IC anterior. Os 3023 verbos catalogados foram fichados em suas categorias aspectuais (Vendler 1967,Tenny 1994), estruturas sintáticas, exemplos prototípicos, projeções temáticas (Cançado 2003) e especificidades morfológicas. Especificamente com relação a esse último fenômeno, pretendemos ilustrar comportamentos derivacionais prototípicos de alguns grupos de verbos. Sem pretender esboçar regularidades morfológicas paupáveis, visto que o fenômeno derivacional é tipicamente um caso anomalia linguística, explorada desde o

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gramático latino Varrão (séc. 100 a. C.), o trabalho visa apontar alguns comportamentos prototípicos, sem desqualificar os comportamentos desviantes. Além disso, o objetivo é o de ilustrar o uso dos verbos em dados extraídos do NURC, o que pretende respaldar o trabalho com a análise dos dados do PB em uso efetivo.

REALISMO MÁGICO E EXISTENCIALISMO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA NO MEADO DO SÉCULO XX

Paulo Henrique da Cruz Sandrini

A nossa sessão coordenada tratará de leituras de artigos curtos e um debate centrado em três autores fundamentais do meado do século XX na América Latina. Fontes da discussão serão as questões ligadas ao multiculturalismo, transculturação e hibridrismo presentes em dois autores do chamado “realismo mágico” latino-americano, Miguel Angel Astúrias e José Maria Arguedas, fruto de um pensamento literário atrelado às questões do continente americano em sua formação histórica e cultural. Como contraponto, teremos a obra do argentino Ernesto Sábato, cujas principais referências literárias se ligam à corrente existencialista europeia da primeira metade do século passado. Com esses três autores, pretendemos discutir os tipos de produção e representação do sujeito e da cultura latino-americanas no âmbito literário. Tendo em vista o período de produção, num recorte feito entre as décadas de 1940 e 1950, estabeleceremos um diálogo entre essas três vozes literárias numa abordagem ampla do contexto cultural da época, contudo buscando uma atualização do debate sobre a obra desses três importantes autores e sobre o contexto literário latino-americano.

O REALISMO MÁGICO ARGUEDIANO EM LOS RÍOS PROFUNDOS

João Paulo Partala

Proveniente de uma sociedade permeada por questões multiculturais, José María Arguedas, um escritor mestiço por opção, produziu uma literatura em que quéchua e espanhol se misturam desembocando em uma linguagem própria. Essa mescla linguística e cultural tem como consequência elementos que permeiam o campo da magia e da espiritualidade oriundos de uma civilização antiga, os Incas. Propomos então, analisar a obra Los ríos profundos tendo em vista os pressupostos teóricos sobre fantástico e maravilhoso de Legoff, Todorov, Chiampi e Menton, além dos pressupostos sobre multiculturalidade e heterogeneidade de Antonio Cornejo Polar, um grande estudioso da obra literária de Arguedas. Com esse estudo, buscamos ressaltar a riqueza e complexidade da obra do escritor, procurando contribuir para com a crítica literária latino-americana.

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ESTÉTICAS E POLÍTICAS DA INTERCULTURALIDADE: O DEBATE SOBRE ALGUNS TEMAS ASTURIANOS ENTRE AS VANGUARDAS E O PÓS-MODERNISMO

Emerson Pereti

Nesse trabalho é proposta uma revisão crítica da obra de Miguel Ángel Asturias a partir dos recentes debates sobre transculturação, hibridismo e heterogeneidade na América Latina. Com isso, se pretende analisar sua operatividade entre o contexto histórico das vanguardas do início do século XX e os deslocamentos geoculturais advindos da globalização e da pós-modernidade, sobretudo no que concerne ao projeto estético, político e antropológico do autor de resgate, inclusão e fusão de culturas subalternas no espaço de representabilidade da alta cultura letrada no Continente.

O TÚNEL: UMA REFLEXÃO DO EXISTENCIALISMO DENTRO DA LITERATURA

Inês Skrepetz

O objetivo desta pesquisa é analisar o conceito de existência na primeira breve e

intensa novela de Ernesto Sábato, "O Túnel", publicada em 1948. Esta obra possui características do gênero policial psicológico, e é fruto da denominada "literatura existencial". A história é protagonizada pelo personagem Juan Pablo Castel, um pintor que se debate para compreender as causas que o levaram a matar a mulher que amava, Maria Iribarne, a única que parecia constituir sua via de salvação. "O Túnel" é uma passagem pelo alucinante drama da vida interior, carregado pela filosofia existencialista, que Sábato absorveu profundamente das leituras de Sartre e Camus. Neste sentido, a obra deixa transparecer também alguns traços autobiográficos do próprio autor, Sábato, dentro da concepção do personagem Juan Pablo Castel. A análise dos diálogos entre os personagens - bem como os silêncios constituídos por eles - nos permitem compreender a afirmação de Bosi (2002), na qual o que é silenciado, no curso da conversação banal, aflora na superfície do texto ficcional. Portanto, "O Túnel" deixa de ser apenas um texto ficcional de entretenimento e passa a ser um espaço em que se retratam as paixões profundas, as neuroses e as situações de violência que levam ao crime, instigando uma inquietante reflexão sobre o que entendemos por "existência".

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COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

UMA ANÁLISE DE ERROS DE ESTUDANTES BRASILEIROS DE INGLÊS NA ACENTUAÇÃO DE PALAVRAS COM SUFIXOS

Andressa Brawerman Albini

Este trabalho investiga o padrão acentual de palavras com sufixos produzido por estudantes brasileiros de inglês, com nível avançado de proficiência. Possui o objetivo de verificar se o acento pré-proparoxítono em inglês gera maiores dificuldades que os outros padrões acentuais aos falantes nativos de português brasileiro (PB), por ser um tipo de acento raro na língua portuguesa. A produção das palavras pesquisadas é checada a partir da gravação de 20 estudantes pronunciando 100 palavras (isoladamente e contextualizadas em frases). Metade destas palavras são pré-proparoxítonas e a outra metade é formada por proparoxítonas e paroxítonas. Parte-se da hipótese de que palavras pré-proparoxítonas são frequentemente pronunciadas com acentuação incorreta por brasileiros, que possivelmente possuem uma restrição a este tipo de acentuação, por ser raro em sua língua materna. Esta hipótese é confirmada pelos resultados obtidos, pois das 1000 respostas possíveis para cada tipo de acentuação, 728 foram incorretas nas pré-proparoxítonas em frases, enquanto que nas proparoxítonas/paroxítonas apenas 117 estavam incorretas. Este bloqueio à acentuação pré-proparoxítona poderia, ainda, ser reforçado por uma possível falta de input correto e de correção durante as aulas de inglês, pois alguns professores brasileiros parecem desconhecer este padrão acentual. Pode-se perceber também uma grande influência do PB na acentuação assinalada pelos participantes. Uma parte considerável das sílabas acentuadas por eles parece derivar da acentuação primária ou secundária das palavras cognatas em PB. Uma outra possibilidade demonstrada é o uso de regras de acentuação do PB, no caso de palavras com rimas marcadas (e.g. -ize, -ate) para estes falantes.

A VISUALIZAÇÃO E O SIGNIFICADO DO ENGENHO NA OBRA DE JOSÉ LINS DO REGO

Ricardo Luiz Pedrosa Alves

Pretende-se discutir, a partir dos resultados iniciais da dissertação de mestrado, meios de se investigar as formas com que José Lins do Rego visualizou o engenho de cana-de-açúcar em seus três romances iniciais, aqueles narrados e protagonizados por Carlos de Melo. Falamos de Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933) e Bangüê (1934), onde entendemos que haja um modo peculiar aqui denominado de “íntimo” pelo qual a obra inicial de José Lins do Rego, o “menino de engenho”, aprofundou a visualização do engenho. Se não há um gênero de romance de engenho, pode-se dizer que, por outro lado, para Lins do Rego, o engenho seja “o” gênero, na medida em que é o lugar em que melhor se estabelece literariamente, para o autor, a relação telúrica do homem. Particularmente nos

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três primeiros livros, em que ocorre a exploração de uma vivência íntima do espaço social, natural e produtivo.

Observar-se-ão, portanto, as articulações entre o narrador da trilogia e a visualização, isto é, o que há de descrição nas obras, fator que lhes granjeou a alcunha de obras de molde documental ou sociológico. Partimos da suposição de que, naquelas três obras José Lins tenha introduzido uma diferença fundamental na percepção literária do engenho, que se dá, grosso modo, pela forma íntima e sensível de sua apreensão, no plano do narrador, e pela exposição descontínua e fragmentada da visualidade e da sociabilidade do engenho, no plano da construção formal. Além disso, a concepção de uma visada intimista do realismo implica também na apreensão de momentos nas obras em que avultam o narrador e as discussões da metalinguagem, essencialmente sob a ótica da narrativa oral em Menino de Engenho e, a partir de Doidinho, mas particularmente em Bangüê, das formas letradas de cultura, onde se insinua a discussão da condição do intelectual.

ENTRE IRMÃOS: REPRESENTAÇÕES DA FRATERNIDADE

Débora Soares de Araújo

Este trabalho tem como objetivo investigar as representações da fraternidade nos contos: Dois irmãos, de Otto Lara Resende, Entre irmãos, de José Jacinto Veiga e Irmãos Dagobé, de João Guimarães Rosa. A investigação, que tem como ponto de apoio o exame dos termos função paterna e função fraterna - propostos pela psicanálise, visa tratar da composição de semelhanças e diferenças que constituem a questão da identidade e da alteridade, sendo esta última vista como mediação irrecusável da fraternidade.

TESSITURA DA MEMÓRIA: AS DIMENSÕES DE ESPAÇO E TEMPO NA POESIA DE H.DOBAL

Débora Soares de Araújo

Este trabalho tem como meta realizar uma breve apresentação da obra poética de

H.Dobal (1927-2008). Poeta, contista, cronista, ensaísta e tradutor, H.Dobal produziu uma poesia de forte teor telúrico e memorialístico, mas de difícil vinculação com outras produções poéticas presentes na literatura brasileira de sua época. Como pontos norteadores deste trabalho serão apresentados poemas que evidenciam a perspectiva da memória como elemento constitutivo e fundamentado no tratamento poético dado às dimensões de espaço e tempo.

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DA HERMENÊUTICA À TRADUÇÃO: AS IDÉIAS SOBRE TRADUÇÃO DE SCHLEIERMACHER SEGUNDO OS PRESSUPOSTOS DE SUA TEORIA DA COMPREENSÃO

Evelyn G. Petersen de Barros

Visto que os atos interpretativo e compreensivo são pressupostos constitutivos do

fenômeno tradutório, o seu estudo dentro do contexto hermenêutico mostra-se particularmente instrutivo, especialmente se atentarmos ao fato de que a atividade tradutória sempre recebeu particular atenção da parte daqueles teóricos preocupados em investigar o fenômeno compreensivo. Um dos teóricos que trataram de ambos os temas é o filósofo, teólogo e tradutor Friedrich Schleiermacher, o qual tanto constitui um importante episódio na história dos estudos da tradução quanto também é considerado o fundador da Hermenêutica Moderna, cujo surgimento teve como principal efeito ampliar o entendimento acerca do ato interpretativo de modo a transformá-lo numa teoria compreensiva que questiona as próprias condições da interpretação, superando assim a dimensão prévia da hermenêutica enquanto mero “sistema de regras”. O objetivo deste trabalho consiste em estabelecer um paralelo, visando destacar suas possíveis descontinuidades e congruências, entre as ideias sobre tradução de Schleiermacher, a partir de seu texto Sobre os diferentes métodos de traduzir, e sua teoria mais ampla da compreensão expressa em seus discursos sobre a hermenêutica.

O CASO GRAMATICAL DO NOME

Alessandro Jocelito Beccari

Na metalinguagem da gramática modista do final do séc. XIII, o caso é um dos modos acidentais do nome. A teoria do caso modista se sustentou em uma análise multidisciplinar que incluía a retomada da tradição gramatical antiga, com aplicações da lógica, da física e da psicologia aristotélicas. Tais aplicações constam de transposições de modelos das referidas disciplinas para o material de pesquisa morfológica que se originara entre os gregos e romanos antigos. Nesse sentido, os modistas não só apresentaram uma abordagem múltipla para o estudo da linguagem, mas também tentaram acomodar a gramática de tradição grega aos modelos de sua teoria original. O aproveitamento desse legado intelectual milenar é, sem dúvida, um dos fatores que pode despertar maior interesse no estudo do pensamento dos modistas sobre a linguagem. Um exemplo particular e paradigmático do esforço para a formulação de uma teoria do caso na Idade Média, no contexto modista, é o trabalho do gramático Tomás de Erfurt. Sua teoria do caso comporta três critérios descritivos: 1) posicional ou sintático; 2) semântico ou de atos de fala; 3) morfológico ou paradigmático. Como resultado dessa teoria tripartite, de um ponto de vista contemporâneo, haveria uma óbvia mistura de critérios descritivos na aproximação que Tomás de Erfurt faz do caso. Todavia, ao empregar critérios posicionais e paradigmáticos, Tomás de Erfurt é capaz de, talvez pela primeira vez na história dos estudos da linguagem, distinguir entre os eixos sintagmáticos e paradigmáticos em uma análise linguística. Nesta apresentação da teoria do caso dos modistas, será demonstrado como Tomás de Erfurt e os gramáticos modistas em geral apresentaram uma teoria do caso. Serão discutidas as desvantagens e os eventuais momentos de clareza dessa teoria.

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DIDÁTICA X DIDÁTICO NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

Ana Cristina de Aguiar Bernardes

O ensino formal de língua materna é uma questão que não cessa de interrogar educadores, professores, pesquisadores, enfim, profissionais ligados à área. Com o grande programa de distribuição de livros didáticos do Governo Federal, o acesso ao material foi, em grande parte, universalizado. As avaliações desses materiais, realizadas agora há mais de dez anos, contribuíram também para que o aluno brasileiro tenha contato com livros de conteúdo mais consistente para o estudo da língua. Nossos índices de desempenho em escrita e leitura, no entanto, continuam baixos. Esta comunicação pretende discutir e contribuir com a reflexão sobre alguns aspectos teóricos que embasam a produção de materiais didáticos e a concepção de língua que lhes dá sustentação. Embora o discurso do interacionismo – em suas várias vertentes e denominações – seja algo geral nas variadas coleções e sistemas de ensino oferecidos no mercado, o que se percebe, em muitos casos, é a permanência da visão de língua como código, ferramenta, instrumento para a comunicação. Além disso, o que ainda ressoa é a visão de que a língua seria um objeto palpável, transparente, acessível à apreensão direta do aluno. Reflexo da noção de código, essa visão negligencia a opacidade do/no uso da linguagem: a subjetividade, a possibilidade de múltipla significação, a indefinição do sentido, a relação que cada sujeito tem com a língua materna que o constituiu. Sendo assim, pretende-se discutir o que significa atribuir um caráter didático ao ensino de língua materna, bem como aos materiais que dão suporte às práticas de sala de aula.

O TRABALHO DA CITAÇÃO, DA TRADUÇÃO, DA RELAÇÃO

Mauro Marcelo Berté

O presente trabalho procura elementos passíveis de aproximação entre as práticas da tradução e da citação, partindo das respectivas problematizações: 1) A noção de tradução entendida não como transporte de unidades de sentido, mas como esforço de construção de uma relação com o outro – reflexão empenhada por Mauricio Mendonça Cardozo em dois artigos intitulados Tradução e o trabalho da relação: notas para uma poética da tradução e Tradução, apropriação e o desafio ético da relação, ambos no prelo; 2) Dentre variadas acepções, a citação como elemento de acomodação, reconhecimento e integração com outros textos, ou ainda, defendida enquanto recorte e apropriação do texto citado pelo autor ou texto citante – conceitos empregados por Antoine Compagnon em O trabalho da citação.

Se todos os textos são, em alguma medida, engendrados a partir da relação com outros textos e constituídos a partir da citação – operadora trivial da intertextualidade –, reconhece-se no trabalho da citação a mesma mecânica da relação desempenhada na prática de tradução, no sentido de ambos revelarem-se um ato de apropriação do discurso do outro, ou seja, um movimento não neutro em que tomamos o outro por uma imagem que dele fazemos e que, por isso, o reconstruímos, assimilamos ao nosso próprio discurso, já

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que a ideia desse outro se forma também com parte da percepção que carregamos de nós próprios.

Em suma, não pretende-se equivaler a citação à tradução, mas evidenciar o que as aproxima, ou seja, o processo no qual e pelo qual se realizam, a relação. Citação e tradução são trabalhos que relacionam e dispõem em relação. Ambas têm uma natureza apropriadora, o que envolve princípios de manipulação e construção, tornando-as igualmente instrumento de promoção do outro, ainda que esse outro seja constituído em nossa compreensão.

O PAPEL DO LÉXICO NA COMPREENSÃO DE LEITURA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: FOCO NO PROCESSO

Soraia Cristina Blank

A crescente importância da leitura em espanhol no Brasil, resultado da centralidade

da leitura na escola e do espanhol como língua de difusão de investigação e informação, tem sido responsável por inúmeros trabalhos que propõe alternativas, principalmente para um contexto universitário, onde se concentra a grande parte desta pesquisa em nosso país, até agora, apesar de que, a partir do ano de 2006, este tipo de ensino estendeu-se também para o ensino médio. Apesar das variadas contribuições, algumas questões ainda estão sem resolver, exigindo considerações cuidadosas respeito à adequação dos modelos teóricos – que fundamentam as práticas adotadas – às necessidades e às dificuldades daqueles envolvidos em uma situação de aprendizagem de língua estrangeira – LE.

Uma dessas questões é a referente ao papel do léxico na leitura e no ensino da leitura do espanhol em um contexto de aprendizagem de língua estrangeira. Suas contribuições para a ciência têm como objetivo buscar uma melhor compreensão e caracterização dessa competência e sua relação com o processo de leitura em LE, oferecendo subsídios para uma proposta interativa de aquisição de linguagem, facilitando o trabalho dos professores de língua espanhola, que têm que desenvolver em seus alunos a competência leitora, formando, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN´s de LE e as Diretrizes Curriculares Estaduais – DCE´s, leitores críticos nos mais variados gêneros textuais.

Em alguns anos, tive a oportunidade de conviver com crianças e adolescentes que apresentavam alterações de linguagem, entre elas as dificuldades com a aprendizagem de leitura e escrita. A atividade de educadora, psicopedagoga e pesquisadora coloca desafios: compreender a natureza e a dimensão destes problemas cognitivos de modo a possibilitar um diagnóstico preciso, o planejamento e a execução de medidas efetivas de intervenção. Tem sido esta a direção que desenvolvo em meus trabalhos. Neste contexto, comecei a tentar compreender por que um grande número de alunos não consegue ter acesso pleno a tal aprendizagem, ou a maioria deles estariam sofrendo as consequências de métodos e propostas que não estão atingindo seus objetivos, ou, em outras palavras: estamos diante de deficiências do aluno ou do ensino?

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�O ESPAÇO LITERÁRIO COMO ESPAÇO DA IDENTIDADE NA OBRA ÓRFÃOS DO ELDORADO DE MILTON HATOUM�

Fernanda Boarin Boechat

Sob uma perspectiva voltada à categoria espaço, no âmbito dos Estudos Literários, observa-se no presente trabalho a configuração do espaço no romance Órfãos do Eldorado (2008), do escritor brasileiro Milton Hatoum.

Entende-se aqui a categoria espaço, em um objeto literário, como o resultado da percepção do entorno pelas personagens. O espaço presente numa obra literária é visto como a manifestação daquilo que é apreendido pelas personagens. Essa percepção se revela principalmente em interface com a alteridade, com um mundo partilhado entre as personagens. Dessa forma é possível observar esse espaço como representante de manifestações humanas, e também de identidade, revelando as problemáticas de tais relações que se estabelecem na partilha de um espaço comum. Considerando tais aspectos propõe-se um ‘espaço da identidade’.

As principais considerações que serão feitas a respeito do ‘espaço da identidade’ no romance Órfãos do Eldorado se voltam às percepções da personagem Arminto Cordovil, em especial àquelas que se desdobram a partir da relação da personagem com a Cidade Encantada – mito amazônico –, Vila Bela – mais precisamente o palácio branco, residência da família Cordovil –, Manaus, Belém e, por fim, a fazenda Boa Vida.

A DIMENSÃO CRÍTICA DA LEITURA SINTOMÁTICA VENUTIANA

Leandro Dorval Cardoso

Na elaboração de sua história da tradução, em que flagra aquilo que chama de

situação de invisibilidade do tradutor, o teórico da tradução e tradutor estadunidense Lawrence Venuti utiliza-se de um movimento de leitura pautado por um princípio de estrangeirização: em oposição a um movimento de leitura que recalca a alteridade do texto estrangeiro, e que toma a domesticidade – a fluência, a homogeneidade – da tradução como critério máximo de julgamento, o teórico desenvolve uma estratégia de leitura dita sintomática, que busca acentuar a heterogeneidade da tradução, o seu caráter descontínuo, estrangeiro. No presente trabalho, pretendemos destacar a dimensão crítica desse movimento de leitura desenvolvido por Venuti no estabelecimento de sua história da tradução. Para isso, num primeiro momento, abordaremos a reflexão venutiana sobre a tradução, para que possamos traçar a base teórica a partir da qual o autor desenvolve sua estratégia de leitura. Em seguida, discutiremos a fundamentação crítica da história da tradução desenvolvida pelo autor para, finalmente, discutirmos a leitura sintomática venutiana como um instrumento de crítica de tradução, analisando a sua aplicação e discutindo seu funcionamento.

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A PARÓDIA EM THE CRYING OF 49, DE THOMAS PYNCHON

Leonardo Lima Cavalli

Este trabalho analisa o uso da paródia em um episódio do romance The Crying of Lot

49, de Thomas Pynchon. O autor norte-americano é um dos mais importantes nomes do chamado pós-modernismo, termo que, ainda que não consensual, é bastante útil para referir-se à parte da produção artística da segunda metade do século XX. Apesar de não ser uma estratégia nova, a paródia é uma dos mais presentes e relevantes modos de construção literária no período. Segundo a formulação da teórica canadense Linda Hutcheon, a paródia, em sua concepção pós-modernista, amplia a definição tradicional do termo – geralmente associado à intenção de ridicularizar seu objeto ou determinado estilo. Neste novo modelo, a paródia é uma forma de imitação dotada de distância crítica irônica. Utilizando-se da ironia como recurso retórico, a relação inter-textual fundamenta-se nas diferenças entre modelo e cópia, de modo a não só reverenciar o clássico, mas também a promover uma discussão sobre sua relação com a nova obra.

A peça interna de The Crying of Lot 49, chamada The Courier̀ s Tragedy, é uma paródia das “tragédias de vingança”, gênero dramático muito popular na Inglaterra elisabetana. Tais tragédias. baseadas no modelo clássico de Sêneca, têm em Hamlet, de Shakespeare, seu exemplo mais elaborado. Este trabalho busca analisar como Pynchon se utiliza deste gênero do século XVII em seu romance dito pós-modernista.

�SALÒ, OU OS CENTO E VINTE DIAS DE SODOMA�: A TRANSPOSIÇÃO

DO TEXTO ERÓTICO DO MARQUÊS DE SADE PARA O FILME DE PASOLINI

Cesar Felipe Pereira Carneiro

O trabalho visa discutir a transposição do texto “Salò, ou os 120 dias de Sodoma”, do Marquês de Sade, para o filme de Píer Paolo Pasolini, sob uma perspectiva comparativa. Partindo-se do pressuposto de que a Literatura e o Cinema são duas manifestações artísticas específicas, na medida em que utilizam sistemas semióticos próprios, artifícios particulares e elementos constitutivos singulares, será possível verificar onde residem as semelhanças e as diferenças entre o texto sadeano e a obra fílmica que nele se apóia. Sade foi o grande perturbador da moral e dos “bons-costumes” da burguesia francesa que lhe foi contemporânea. Nascido em 2 de junho de 1740, portanto no chamado “Século das Luzes”, é considerado pelos estudiosos um verdadeiro rebelde, pois além de ir na contramão do comportamento vigente na época (o Antigo Regime), empenhou-se em transgredi-lo ao máximo através de sua obra literária: uma obra erótica impregnada de conceitos filosóficos e políticos que, se ao invés de refletir aquilo tudo que verdadeiramente pertencia à própria realidade do escritor, ao menos permeava sua imaginação.

O mundo ficcional criado por Sade se nos apresenta como um banquete de perversões sexuais, levadas pelas personagens às últimas consequências: torturas, aflições,

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incestos, coprofagia e urofilia, assassinatos, entre outras práticas estão presentes de forma abundante em sua obra.

A adaptação de Pasolini, por sua vez, mantém várias das características constantes do texto original. Por exemplo, a Sociedade do Crime, que se forma com fins de obter o prazer por meio de práticas cruéis (como a tortura), as leis que regem tal sociedade, o caráter ritualístico das sessões, as punições, a ambientação (castelo, haréns), entre outros aspectos, saltam aos olhos quando da ocasião da assistência do filme, muito bem realizado do ponto de vista cinematográfico, o que o inscreve como importante obra na história da sétima arte.

ESTUDO ACERCA DA OBRA INSTITUTO DE NOMINE ET PRONOMINE ET VERBO DE PRISCIANO

Luana de Conto

O modelo da gramática tradicional é derivado em grande parte da tradição de

gramática antiga, dentre cujos autores se destacam os gregos Dionísio Trácio (séc. II a.C.) e Apolônio Díscolo (séc. II), e os latinos Varrão (séc. I), Quintiliano (séc. I) e Prisciano (séc. V). Este trabalho trata em especial do livro Institutio de nomine et pronomine et verbo de Prisciano.

Esta obra, menos divulgada que as Intitutiones Grammaticae, tem caráter descritivo, pois se preocupa em esmiuçar o sistema flexional latino. Divide-se em três partes: acerca do nome; acerca do pronome e acerca do verbo. O propósito do autor é descrever a morfologia dessas classes e, para isso, ele elenca individualmente a formação de cada elemento do paradigma. Por exemplo, em relação ao sistema verbal, são catalogadas as formas de cada pessoa em cada um dos tempos verbais de cada um dos modos.

Para isso, o principal recurso do autor é buscar relações entre as formas, como no exemplo que se segue: “A segunda conjugação, na verdade, é aquela que converte o –eo da primeira pessoa em –es longo na segunda pessoa (...)”.

Emerge do texto uma noção de morfologia um pouco distinta da noção moderna a que estamos habituados. Pode-se dizer que essa noção se baseia na relação item-arranjo, no entanto está calcada na dependência entre as formas, uma vez que certa forma é obtida por operações de conversão de desinências a partir de outra forma já flexionada.

Este trabalho mostrará ainda como podemos encontrar essa característica descritiva nas gramáticas tradicionais modernas, que trazem exemplos de tabelas de flexão verbal, pronominal, adjetival etc.

Esta pesquisa é fruto do programa de Iniciação Científica 2008/2009 (UFPR/TN) e foi desenvolvida em paralelo com um projeto de tradução, que será devidamente comentado nesta apresentação.

O ESPÍRITO DE LUCRO COMO ASCETISMO EM VASTAS EMOÇÕES E PENSAMENTOS IMPERFEITOS, DE RUBEM FONSECA

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Rafael Magno de Paula Costa

A obra Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, de Rubem Fonseca, instiga o leitor a depreender através dos discursos praticado pela personagem do pastor José, irmão do protagonista, o aspecto de como o protestantismo é retratado na obra. Neste ensaio considera-se a relação de como diversos grupos de leitores, através de diferentes tipos de recepção do texto, depreendem o proselitismo religioso cristão na pós-modernidade. Entretanto, observa-se o leitor modelo como aquele capaz de compreender a estrutura interna da obra e o ponto que texto literário pretende atingir, ou seja, a crítica ao espírito de lucro praticado pela personagem do pastor José. O narrador-protagonista nos convida, além disso, à entendermos as falhas de caráter do pastor José que coloca em primeiro plano o lucro de sua igreja, e em segundo plano os valores éticos e morais de sua ascese religiosa. Resumidamente, o ensaio prende-se ao recorte temático das práticas religiosas contemporâneas relacionadas ao espírito do capitalismo, entendido como forma de ascetismo.

O PROCESSO DE APROPRIAÇAO DA LINGUAGEM ESCRITA E SUAS HIPÓTESES DE CONSTRUÇAO DO CONHECIMENTO

Christiane de Bastos Delfrate

A denominação “distúrbios de linguagem” diz respeito a comprometimentos no

curso evolutivo da aquisição da linguagem, seja ela oral ou escrita. A aprendizagem da leitura e escrita corresponde a um dos fatores básicos para a garantia do desenvolvimento escolar, uma vez que é sobre tal capacidade que se assentará o futuro desenvolvimento. A dificuldade no processo de aquisição da leitura e escrita dificulta a evolução escolar da criança, muitas vezes também causando problemas afetivos, sociais, emocionais, bloqueios e consequentemente, a frustração. Em diversos momentos, crianças são consideradas como portadoras de distúrbio de leitura e escrita, entretanto, na maioria das vezes o processo que a criança está passando é apenas um período intermediário para se chegar a leitura e escrita estruturada, convencional e principalmente funcional. A aquisição da escrita é um fenômeno muito complexo, e na realidade, ainda não muito compreendido, percebe-se isto nos fracassos da alfabetização. É necessário compreender que os “erros” manifestados pelos iniciantes na escrita são hipóteses que os pequeninos elaboram e reelaboram sobre essa representação da linguagem, orientados por mecanismos linguísticos. Assim, nem sempre crianças que são apontadas com dificuldade na aquisição da escrita pela escola, são realmente portadoras deste problema, pois isto são apenas diferenças individuais no processo de aquisição da escrita. Para se chegar à produção escrita convencional, a criança pode e deve manifestar formas variáveis de hipóteses em diferentes níveis linguísticos. O fato de os “erros” dos aprendizes da escrita, em geral, serem considerados como incapacidade, e não como atividade de elaboração e reelaboração de hipóteses permite-nos pensar que, nas avaliações realizadas pelas escolas, não se considera o processo de elaboração da escrita, ou seja, nela se elimina o próprio sujeito. A presente pesquisa trata-se de um estudo de caso de uma criança (M), inicialmente com seis anos de idade, cursando a pré-escola de uma escola particular na cidade de Palmeira, estado do Paraná. A mesma veio para clínica fonoaudiológica com queixa dos pais e da escola de dificuldade de aprendizagem. Analisou-se a evolução de seu processo de aquisição de escrita e

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aprendizagem, desde o início de seu contato com a língua escrita através de suas produções textuais, até atualmente, quando está dirigindo-se a terceira série do ensino fundamental, agora com oito anos. O objetivo deste trabalho foi analisar as produções textuais da criança e verificar sua aquisição da escrita sob uma ótica de uma linguística discursiva. Como resultado desta pesquisa pode-se observar que a criança havia criado um bloqueio para a produção textual, o que foi sendo deixado de lado no decorrer das sessões terapêuticas, e que a criança através de sua elaboração e reelaboração de seus textos foi se apropriando de maneira significativa da linguagem escrita. Conclui-se que a relação entre sujeito e linguagem é algo que se constitui e modifica continuamente, decorrente da compreensão de cada sujeito, por sua história singular de interação com a linguagem e com seus interlocutores, manifestar modos singulares de refletir e atuar sobre a linguagem. Acredita-se que as hipóteses feitas por crianças em idade de alfabetização são importantes indícios de sua entrada para a linguagem escrita, hipóteses de criar e recriar, para então chegar-se a uma escrita estruturada e funcional.

UM RETRATO DO FINNEGANS WAKE QUANDO JOVEM

Jonathas Rodrigo Bitencourt Duarte

Na presente comunicação analisarei alguns elementos composicionais de duas das obras mais importantes do século XX: o Ulysses e o Finnegans Wake, ambos de James Joyce. A ideia é procurar no Ulysses aquilo que pode ser visto, tanto no plano estilístico quanto no plano estrutural, como uma espécie de embrião do Finnegans Wake. Primeiramente, sustentarei que em momento algum as escolhas estilísticas e estruturais de Joyce guiam-se por caprichos arbitrários. Jamais, a meu ver, o autor cede a um virtuosismo barato que exalte apenas a linguagem: há sempre um rigoroso escrúpulo, tanto no Wake quanto no Ulysses, em subordinar a técnica ao conteúdo. Em seguida, explicitarei algumas das características fundamentais do Finnegans Wake. Defenderei que a obra é, acima de tudo, uma encenação literária da história passada e vindoura. Essa história é narrada sem setting definido - ela ocorre por toda parte. Tampouco há no Wake o que chamamos de personagens: Joyce prefere os arquétipos – tipos maleáveis, polivalentes, intercambiáveis. Quanto ao plano técnico, o autor do Wake aferra-se sobretudo à palavra-valise – evolução do pun de tradição shakespeareana, largamente usado no Ulysses mas que aqui é empregado with a vengeance – fazendo trocadilhos entre mais de 80 idiomas. Finalmente, passarei à análise do Ulysses. Julgo que os principais capítulos do Ulysses em que tal comparação faz sentido ocorrem durante a noite, e que isso é especialmente relevante – afinal, o Finnegans Wake é, também, a representação de um sonho. Creio que a presença de elementos finneganescos no Ulysses pode ser notada sobretudo nos capítulos “Gado do Sol” e “Circe”. Este último, aliás, tem por técnica narrativa a alucinação – aproximando-se muito, portanto, da linguagem onírica do Finnegans Wake.

CRÍTICA AO NATURALISMO EM TRÊS TEMPOS

Cassio Dandoro Castilho Ferreira

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Essa comunicação tem por objetivo analisar a crítica feita ao movimento Naturalista brasileiro do século XIX, em três momentos distintos, através da obra crítica de três estudiosos: Araripe Júnior (contemporâneo ao movimento), Lúcia Miguel Pereira (metade do século XX) e Flora Sussekind (do final do mesmo século). Através desses três críticos podemos analisar como a crítica renova-se e é capaz de repensar suas próprias ideias, e/ou se moldar através dos tempos pelos mais diversos caminhos.

RELATANDO EXPERIÊNCIAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA

Patrícia Sobczynski Gonçalves

O presente trabalho tem por objetivo relatar as experiências docentes desempenhadas em 2007 e 2008 no projeto “Redimensionando a Prática de Ensino de Língua Estrangeira Moderna”, do Programa Licenciar, que promove a integração de acadêmicos de Língua Estrangeira Moderna e alunos do Ensino Fundamental ou Médio da rede pública. A aplicação de conteúdos específicos elaborados a partir de trabalhos pedagógicos e reflexivos entre alunos-bolsistas e orientador, proporciona àqueles a inserção numa situação real de ensino em sala de aula e oferece aos alunos de escola pública a oportunidade de iniciar-se em uma língua estrangeira não integrante da atual grade curricular. Os planos de aula são elaborados pelos alunos/bolsistas obedecendo aos conteúdos e à metodologia discutidos com a professora/orientadora, antes de serem aplicados em sala de aula. De forma lúdica-pedagógica, as atividades oferecem uma introdução à língua e à cultura alvos e induzem os alunos a se expressarem oralmente em língua estrangeira, estabelecendo e incentivando a interação verbal entre eles, além da compreensão oral e escrita. Para tanto, faz-se necessário o uso, principalmente, de documentos autênticos, para qual, propostas alternativas e, consequentemente uma elaboração de material desenvolvido de acordo com uma nova metodologia são requeridos.

A INTERNET COMO POSSIBILIDADE DE EXPRESSÃO ESCRITA EM LE

Patrícia Sobczynski Gonçalves

A internet, bem como celulares, ampliaram o leque de opções para comunicar-se.

Hoje em dia é possível bater papo pelo Messenger, ou deixar recados no Orkut, comentar as fotos do Flickr, fazer novos amigos pelo Facebook, confirmar reuniões através de mensagens pelo celular, entre outros. Ao mesmo tempo, em ensino de Língua Estrangeira, muito se fala na Abordagem Comunicativa, situações reais de comunicação, autenticidade nos documentos trabalhados e uso concreto do conteúdo estudado. Assim, pretendo, nesse trabalho, expor diferentes formas de trabalhar com esses novos meios em Língua Estrangeira, mesmo não havendo computadores disponíveis em sala de aula, de forma a

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aproximar a língua-alvo do quotidiano do aluno, que poderá utilizá-la natural e imediatamente, e privilegiando, sobretudo, a compreensão e a expressão escritas.

LITERATURA E ABISMO � UMA ANÁLISE DA OBRA DE ROBERTO BOLAÑO

Maria Cláudia Gorges

O presente texto se propõe realizar uma análise de como Roberto Bolaño

compreende a literatura, por meio de um enfoque em alguns temas relevantes na sua obra. Entre eles, o sexo, a realidade o humor e o papel do escritor no mundo atual. Sendo utilizado como condutor da análise o seu livro Entre Parênteses.

DR. SEUSS, UM ILUSTRE DESCONHECIDO

Áureo Lustosa Guérios Neto

A obra de Dr. Seuss influenciou profundamente a literatura infantil de língua inglesa a

partir dos anos quarenta. Seuss escreveu mais de quarenta livros e vendeu mais trezentos milhões de cópias só nos Estados Unidos. Vários de seus livros constam na All-Time Bestselling Children’s Books (lista que contabiliza os livros infantis mais vendidos de todos os tempos): Seuss ocupa a quarta posição, assim como a nona, a décima terceira, a décima sexta, a décima sétima, a décima oitava... e assim por diante.

Seu primeiro livro And to think that I saw it on Mulbery Street foi publicado em 1937 e o último, Oh, the Places you Will go!, em 1991. Porém no Brasil o autor foi traduzido pela primeira vez somente em 2001 e, desde então, apenas cinco livros foram vertidos ao português. Consequentemente, a atenção dedicada a esse autor ainda é muito restrita e por isso proponho neste trabalho oferecer um panorama geral da obra seussiana, restringindo meu corte aos livros do selo “Classic Seuss” e descartando os chamados “Beginner Books” e “Bright and Early”. Pretendo sublinhar as características gerais das obras que fazem parte do meu corpus e evidenciar algumas características básicas do estilo do autor nesses livros.

TRADUZINDO POESIA PARA CRIANÇAS: DR. SEUSS E GREEN EGGS AND HAM

Áureo Lustosa Guérios Neto

Dr. Seuss talvez tenha sido o maior fenômeno da literatura infantil nos Estados

Unidos na segunda metade do século XX. Tendo escrito mais de quarenta livros e vendido

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mais de trezentos milhões de cópias, Seuss revolucionou a produção literária para crianças com a criação da série Beginner Books, cujo livro inaugural foi The Cat in The Hat, de 1957.

Argumentando que a principal dificuldade de leitura enfrentada pelas crianças reside em seu vocabulário restrito, Seuss decide escrever utilizando apenas palavras simples que toda criança em processo de alfabetização dominaria. Nas palavras do autor: “A diferença entre um adulto e uma criança é que a criança conhece menos palavras”.

É em 1960 que Seuss publica Green Eggs and Ham, um poema rimado e metrificado que faz uso de um vocabulário de cinquenta palavras das quais quarenta e nove são monossilábicas. Agora, o que deve fazer para verter o texto um tradutor de uma língua em que os monossílabos não são tão abundantes? E como o tradutor deve harmonizar monossílabos, rimas, metro e vocabulário simples? O presente trabalho pretende elaborar essas questões e cotejar o original com as traduções para o italiano e para o espanhol.

NO CAMINHO DE SWANN, DE MARCEL PROUST: APONTAMENTOS PARA UM ESTUDO DA MODERNIDADE PARISIENSE NA VIRADA DOS SÉCULOS XIX-XX

Paulo Rodrigo Andrade Haiduke

O trabalho busca encaminhar uma discussão acerca da literatura como fonte

histórica, mais precisamente o romance No caminho de Swann, primeiro volume da extensa obra de Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, publicada originalmente em 1913. A necessidade de considerar a importância do gênero romance no início do século XX leva a iniciar a discussão analisando a sua constituição e respectivo desenvolvimento histórico. Neste sentido, conforme Ian Watt, destaca-se o caráter eminentemente moderno do gênero, o que exige da problemática enveredar em temas como modernidade, modernização e experiência moderna. Assim, para problematizar a análise de um romance do início do século XX é preciso entender como este gênero se desenvolveu historicamente, bem como compreender a experiência moderna na qual ele se insere. Logo, é importante levar em conta a revolução urbana que, somada a segunda revolução industrial, mudaram a vida nas grandes cidades europeias ao longo do século XIX. Deve-se pensar também como este processo se choca e se relaciona com as estruturas ainda vigentes do Antigo Regime. Outro problema que segue em paralelo, mas amarrado a estas questões, é o desenvolvimento do realismo, visto ser um dos pilares do gênero romance, e que exige pensar como o mesmo modificou-se historicamente. O sentimento de perda da realidade, de dissolução do real mais imediato como sintoma moderno fin-de-siècle XIX figura no romance proustiano de forma central: o narrador é perpassado por ele, o que implica na sua crítica e redimensionamento dos limites de apreensão e representação da realidade, logo das próprias técnicas do romance.

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O DESLOCAMENTO DO CONCEITO DE FALANTE NATIVO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA LINGUÍSTICA E O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

Regina Célia Halu

No mundo atual a língua inglesa encontra-se na posição singular de contar com

mais usuários não nativos, que a tomam como língua franca ou internacional, do que com usuários nativos, os quais passam a ter questionado seu status de participantes do centro gerador de padrões de proficiência. Na linguística o questionamento da hegemonia de modelos e padrões gerados a partir do conceito de falante nativo iniciou-se há mais de 20 anos (Fergusson, 1982; Kachru, 1982), mas, como observa Jenkins (2006, p.171), “a crença no direito de propriedade do falante nativo persiste tanto entre falantes nativos como entre não nativos – professores, formadores de professores e linguistas”. Entretanto, já existe um volume de pesquisas que assume o objetivo de descrever as línguas inglesas com as quais convivemos hoje em diferentes níveis – fonológico, lexicogramático, pragmático (Seidlhofer, 2004). Quanto ao ensino da língua inglesa, debates em torno do status do professor que é falante não-nativo acabam por questionar um conceito de língua que enfatiza a abstração de um sistema estrutural que pressupõe um falante ideal em detrimento da natureza social de construção das línguas, na qual todo aprendiz, nativo ou não, é também agente (Rajagopalan, 1999). Meu objetivo nesta comunicação é refletir sobre como essas duas linhas de questionamento podem se entrelaçar e apontar possíveis efeitos na formação de professores de língua inglesa no Brasil.

ACUSATIVO E DATIVO EM PREPOSIÇÕES ALTERNANTES NO ALEMÃO

Andrea Knöpfle

Esse trabalho aponta questões na distinção entre seleção de Caso Acusativo (Acc) e Caso Dativo (Dat) que seguem preposições de configuração espacial em alemão. Essas preposições levam o nome ‘preposições alternantes’ (Wechselpräpositionen) por poderem selecionar Dat ou Acc, dependendo do sentido. Livros didáticos e gramáticas de alemão como língua estrangeira trazem a diferença de sentido com base no uso das perguntas Wo? (Onde?) e Wohin? (Para onde? ou Aonde?). A resposta para a pergunta Wo? seleciona Dat, e para Wohin?, Acc. Tal distinção, no entanto, parece apresentar certas questões de interpretação para falantes de PB. Propomos, então, uma abordagem distinta que poderia auxiliar na diferença de interpretação. Tal abordagem vai se basear, além de em critérios semânticos, na leitura aspectual da eventualidade. Para tanto, utilizaremos noções de teoria de aspecto em SMITH (1997), DOWTY (1979), ROTHSTEIN (2004) e WACHOWICZ e FOLTRAN (2007) e noções semânticas em BUSCHA E HELBIG (1994).

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A AUDÁCIA DE ANA MARIA MACHADO AO PROPOR UM OUTRO PONTO DE VISTA PARA DOM CASMURRO

Maria Aparecida Borges Leal

Dom Casmurro, de Machado de Assis, é narrado por Bentinho, em primeira pessoa; e é

de acordo com o olhar dele que o leitor tem conhecimento do enredo. Em A audácia dessa mulher, de Ana Maria Machado, o leitor acompanha – ao longo de três narrativas que se entrelaçam - o resgate do diário de Lina; intercalado a um livro de receitas que passa de mãe para filha, como uma herança da família Pádua; e assiste a uma outra versão da história conforme o ângulo de visão de Capitu. Com muita habilidade, criatividade e audácia, Ana Maria Machado apropria-se do texto de Machado de Assis, cria uma atmosfera de investigação e pesquisa, discute vários aspectos relacionados ao processo da criação de um romance e dá ao leitor o prazer de poder passear pelos bosques da ficção, usufruindo a melhor parte da experiência como leitor, conforme palavras de Umberto Eco. O presente trabalho tem como objetivo a análise do romance A audácia dessa mulher, dando ênfase aos diálogos intertextuais com Dom Casmurro. Na primeira parte, será feita uma breve reflexão a respeito do que a teoria literária entende por intertextualidade; em seguida, alguns dos diálogos intertextuais serão explicitados, apontando para os recursos narrativos dos quais se serve o autor; por último, a ênfase recairá sobre a importância do leitor - e da sua bagagem de leitura - no estabelecimento desses diálogos intertextuais.

�NOVAS CARTAS CHILENAS�: UMA ANÁLISE

Anna Carolina Legroski

José Paulo Paes, “poeta de ribeirãozinho estrada de ferro araraquarense”, é um poeta difícil de encaixar em uma geração. Pela data da publicação de seu primeiro livro, ele pertenceria à última geração moderna, mas ele mesmo reconhecia não pertencer a ela. Sua poesia é modernista, concreta, abstrata, dialética. Em sua obra podemos encontrar sonetos, epigramas, madrigais em sua maioria recheados de referências a outros poetas, a outros acontecimentos históricos e sociais. Paes foi, no mínimo, um poeta completo, dono de uma graça leve e de um humor sagaz.

É através do livro Novas Cartas Chilenas, de 1954, que o poeta marca presença na vanguarda das décadas de 50/60, movimento marcado pelo retorno da preocupação modernista de 22 quanto à poesia e a cultura nacionais. Neste livro, o poeta trabalha com alguns momentos chave da história brasileira, desde o “descobrimento” até a Revolta Tenentista, investigando seus significados políticos e sociais sob um olhar notadamente esquerdista. A reconstrução da história sob essa nova luz é feita pelo ponto de vista do oprimido: do índio, do negro escravo, do povo que está sempre à margem das grandes decisões. A história do Brasil é relida e expandida não de forma ufanista, mas de forma fortemente marcada pela ironia e pelo tom de denúncia, aproximando-se da Poesia Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, poeta com o qual Paes sempre manteve forte diálogo.

Este trabalho propõe a análise de algumas poesias do livro Novas Cartas Chilenas, de modo a ilustrar a participação do poeta na vanguarda de 50/60, sua visão da história brasileira e sua genialidade com o tratamento da palavra.

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DANDO MURRO EM PONTA DE FACA: SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA NOS DITADOS POPULARES

Marina Chiara Legroski

Esse trabalho destina-se a propor uma interface entre a semântica e a pragmática abordando um fenômeno não muito estudado dentro da língua: os ditados populares. Uma vez que não podem ser tratados composicionalmente (ou seja, seu significado não é uma soma dos significados das partes) e, portanto, não podem ser tratados por uma semântica de modelos, por exemplo, mas por outro lado não são definidos contextualmente (ou seja, o significado tem alguma estabilidade), propomos uma interface. A proposta que apresentamos é que uma dos tratamentos possíveis se daria via metáfora, principalmente porque podemos “manipular” o sentido dessas expressões (por exemplo, podemos dizer “Foi uma boiada inteira pro brejo”, “Não foi bem um sapo que eu engoli, foi um brejo”, mas o efeito não é o mesmo se dissermos “A vaca foi para o pântano” ou “Engoli uma sapa”) e essa manipulação, ao que parece, se dá por uma ligação com o sentido metafórico dessas palavras. Partindo, então, para um viés metafórico, temos o texto de Carl Vogel, intitulado “Dynamic Semantics for Metaphor”, que apresenta uma proposta de tratamento formal – dento da semântica – para a metáfora, ainda que com a perspectiva de incluir o contexto – o que é tradicionalmente legado da pragmática. Enfim, a ideia é apresentar como esse fenômeno pode contribuir para iluminar um pouco mais a fronteira da semântica e da pragmática e propor soluções para um tratamento do significado dessas expressões.

A POÉTICA DE JULIA DE BURGOS

Francinne de Oliveira Lima

A história de Porto Rico é marcada pela luta para se tornar um país totalmente

independente, somente em meados do século XX houve o estabelecimento de eleições democráticas, e a ilha se tornou Estado Livre Associado aos Estados Unidos.

Essa busca pela independência é marcada, entre outros, pelo movimento artístico, que tenta manter a tradição e a cultura como forma de preservar a identidade do povo porto-riquenho. Como resultado, as obras dos artistas deste país são marcadas pelo tom de denuncia e critica e pela procura de uma voz coletiva.

No entanto, um dos grandes nomes da poesia porto-riquenha, Julia de Burgos apresenta uma poesia voltada para si mesma, como um reflexo da sua problemática pessoal. Porém, como não poderia deixar de ser, apresenta traços comuns aos seus contemporâneos, como a busca constante do ser e seu destino, a presença constante da morte (tanto física como espiritual), o aspecto formal (grande importância ao conteúdo e linguagem agressiva).

Uma característica da sua poética, que resulta em sua singularidade, é a forma como, através de metáforas e simbolismos retribuídos a elementos da natureza (principalmente a água), ela projeta a sensibilidade feminina.

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Infelizmente não há materiais que abordem de maneira concreta a obra desta escritora, por isso a dificuldade em realizar este trabalho baseando-se em datas e referencias. O principal objetivo aqui é destacar a poética e a sensibilidade dessa autora através da analise de alguns de seus poemas, nos quais a temática apresentada se relaciona com a vida da poetisa. Para isso, é apresentada a biografia de Burgos, bem como o contexto sócio-cultural em que se insere (fundamentais para o desenvolvimento de sua obra). Tais informações, posteriormente, serão contextualizadas em algumas de suas poesias, revelando de forma prática o que penso ser a questão principal da sua poética.

A ESCRITA CHINESA E SUA POESIA

Melina Arins Lopes

A escrita poética chinesa: uma breve exposição sobre como funciona o sistema de escrita da língua chinesa, de que maneira isso reflete e influencia no pensamento e na expressão artística e cultural chinesa, quais os diferentes recursos poéticos que essa escrita proporciona, o que enfim caracteriza a poesia chinesa. Referências a poetas e artigos relacionados.

A RELAÇÃO ENTRE ARGUMENTATIVIDADE, GÊNEROS TEXTUAIS E ANÁFORAS NOMINAIS INDIRETAS

Daniela Zimmermann Machado

O presente trabalho traz como tema um dos aspectos explorados na minha

dissertação de mestrado: a argumentação inerente a todos os textos, pressuposto pela teoria de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) sobre a retórica argumentativa. Neste trabalho, pretendo expor a relação entre argumentatividade, gêneros textuais e anáforas nominais indiretas (AIs) e, para isso, analiso as AIs presentes em textos caracterizados pelo gênero, que tenho chamado, “redação de vestibular” argumentativo. A conclusão geral da pesquisa de mestrado é de que as anáforas indiretas intervêm na constituição dos gêneros, e, neste estudo, tento mostrar de que forma essa intervenção se efetiva no gênero “redação de vestibular” argumentativo. Um aspecto central encontrado em nossos dados, no que se refere ao gênero argumentativo, é o argumento do tipo quase-lógico, proposto pela teoria de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), esse tipo de argumento aproxima-se muito da relação meronímica do tipo todo-parte, e é muito similar ao processo de referenciação de relação anafórica indireta. A presença do argumento do tipo quase-lógico auxilia na construção da argumentação do autor do texto na medida em que retoma e mantém a temática do texto, construindo o sentido pretendido pelo autor. Pretendo, com o resultado da pesquisa, discutir sobre a relação entre AI e gênero textual e, paralelamente a isto, observar a construção da argumentatividade no texto, atentando-se sempre à forma como a AI se relaciona com o gênero e com argumentatividade. Este trabalho é fundamentado a

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partir da noção da retórica argumentativa de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), Reboul (2004) e da noção de Marcuschi e Koch (2002) sobre a referenciação textual.

ESPINGARDAS E MÚSICA CLÁSSICA: ARES DE REVOLUÇÃO E OS LIMITES DA AMBIÇÃO

Angela Maziero

Ao longo do Livro Espingardas e Música Clássica, de Alexandre Pinheiro Torres, o

tema da revolução é constante e podemos encontra-lo de duas formas: explicita, quando se refere à guerra da colônia, neste caso a indiana, pela libertação, e implicitamente se observarmos as mudanças marcantes que estão acontecendo na sociedade portuguesa. Proponho-me a analisar a mudança de concepção da sociedade tendo como ponto de vista a libertação da mulher para pensar e agir por si própria e a condição em que ela se encontra perante o sexo oposto e a própria sociedade. Para esta análise procuro evidenciar os conflitos entre gerações presente ao longo do texto. Além disso, analisar as restrições que a ambição das mulheres sofre devido à classe social em que pertencem, levando em consideração que quanto mais alta a classe mais privilégios se tem e menores serão as limitações.

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA E A BUSCA DA CERTEZA DO OUTRO

Camila Bozzo Moreira

Em linhas gerais, o trabalho visa traçar um paralelo entre os Estudos da Tradução e o Princípio da Indeterminação, estabelecido pelo físico alemão Werner Heisenberg, princípio este que compõe um dos conceitos base da física atômica e que, grosso modo, discorre sobre a dificuldade que se tem de rastrear com uma mesma certeza tanto a posição quanto a velocidade de um elétron devido à interferência que o observador exerce sobre o objeto a ser observado. Essa interferência, em conjunto com os diferentes pontos de observação possíveis, faria do resultado algo indeterminado, ou seja, ao invés de uma verdade têm-se várias interpretações plausíveis. Levando essa noção para a tradução, a interferência pode ser vista, por exemplo, nas diversas traduções de um mesmo texto, sejam elas de um mesmo tradutor ou não, devido às próprias particularidades que formam o tradutor enquanto indivíduo, ou ainda ou se pensarmos nas diferentes possibilidades de abordagem a um dado fenômeno: todas elas partem de um ponto de vista diferente na tentativa de definir seu objeto de estudo, no caso, a Tradução. De modo a contribuir com esse paralelo, me basearei, então, em discussões acerca de alguns conceitos atualmente centrais para a teoria da Tradução, como da noção do double bind, proposta por Jacques Derrida, que perpassará, inevitavelmente, pela noção do sujeito na Tradução, discutida por Maria Paula Frota, ao tratar a questão da invisibilidade do tradutor proposta por Lawrence Venuti.

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O USO DA TRADUÇÃO EM SALA DE AULA: UMA INVESTIGAÇÃO DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DESSA PRÁTICA

Genevive de Oliveira Moreira

Este projeto tem por objetivo investigar o uso da tradução nas aulas de língua estrangeira, mais precisamente nas aulas de língua alemã. Por que esta prática é, muitas vezes, condenada no ensino de língua? Ou quando não, é aceitável apenas de uma maneira dita mais tradicional de compreender a tradução? Os profissionais de ensino refletem sobre o que realmente é a tradução antes aplicá-la em sala de aula, ou partem do senso comum e propagam conceitos equivocados aos seus alunos?

Por acreditar que a prática da tradução não somente enriquece o aprendizado de uma língua estrangeira, desenvolvendo no aprendiz diferentes habilidades, mas também por ter ciência de que essa prática está presente em nossas vidas, na relação com os outros, nos diálogos que se estabelecem, na construção do conhecimento, é que defendo que a prática da tradução no ensino de língua estrangeira, se bem direcionada, auxilia não somente na aquisição da uma nova língua, mas também na ruptura de preconceitos.

A IMPORTÂNCIA DO (RE)CONHECIMENTO DOS GÊNEROS E DOS TIPOS TEXTUAIS

Rafael Munhoz

Como parte de uma pesquisa realizada sobre a importância dos gêneros textuais nas aulas de língua portuguesa, essa comunicação aborda o desconhecimento do profissional da educação em relação às especificidades dos gêneros e dos tipos textuais. Segundo Marcuschi (2007), os gêneros desempenham um papel importante de ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia, apresentando-se em formas de ação social em qualquer situação comunicativa. Diante dessa perspectiva, neste trabalho será destacado o papel do(a) professor(a) na formação de leitores/produtores. Para que haja um trabalho de qualidade é fundamental que o(a) professor(a) saiba primeiramente distinguir e diferenciar os tipos dos gêneros textuais, bem como compreender a relação existente entre eles. A fim de avaliar o nível de conhecimento dos futuros profissionais responsáveis pela formação de novos leitores/produtores, realizou-se um diagnóstico dos conhecimentos que os(as) professores(as) possuem acerca do que sejam gêneros textuais e do que sejam tipos textuais. Os primeiros resultados apontam o desconhecimento por parte de um número expressivo de educadores tanto das questões conceituais como das possibilidades de trabalho com gêneros em sala de aula. A partir desses dados, evidencia-se a necessidade de os(as) professores(as) reconhecerem para posteriormente aplicarem um trabalho efetivo

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com os gêneros em sala de aula, uma vez que o desconhecimento do professor gera o desconhecimento do aluno.

UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE ANGELES MASTRETTA: UM ESTUDO DE CASO

Joyce Luciane Correia Muzi

Como corpus para este trabalho, estamos propondo um estudo de uma obra escrita por uma mulher: Mujeres de ojos grandes de Angeles Mastretta, é um livro de contos que nos apresenta a vida de uma série de mulheres que foram educadas para o casamento e a servir a marido e filhos.

Angeles Mastretta, escritora mexicana, utiliza a língua para escrever sobre o mundo e os elementos que o compõem – entre eles, as mulheres. E ainda sem querer ser voz engajada, tem características que a fazem uma grande representante do discurso feminino do final do século passado.

Partindo da concepção de língua e literatura e da Análise do Discurso de linha francesa, faremos uma tentativa de aproximação entre os campos de conhecimento: literatura e linguística. Nos aproximaremos da questão da mulher que é algo que vem reunindo uma gama de aspectos, entre eles, o discurso literário. Os exemplos que temos na literatura mundial, é de mulheres que escreveram assinando um pseudônimo, justamente por saberem que seriam subjugadas ao tentar fazer-se sujeito social e histórico através do discurso. A mulher tomou posse deste território e fez da língua instrumento para a manifestação do sujeito, que segundo Maingueneau apud Leite (2004, p. 21) “...contesta esse (...) poder e se assume enquanto sujeito de pleno direito”.

Os objetivos deste trabalho serão verificar quais são as estratégias de enunciação que a autora utiliza para prender o leitor, apresentar estas estratégias (A, B, C e D) como fundamentais para compreender a obra.

A ABORDAGEM DOS GÊNEROS TEXTUAIS NOS PLANOS DE AULA

Juliane Nadal

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), os gêneros textuais devem ser trabalhados nos três eixos: oralidade, leitura e escrita, a fim de garantir a formação de leitores-produtores. Cabe ao professor “usar e abusar” da variedade de textos como objeto de ensino para a construção do conhecimento, “quer como objeto de leitura, quer como produto da atividade discente” (GERALDI, 1997, p.97). Entendemos que o trabalho com gêneros seja interessante na medida em que eles possam ser “instrumentos de adaptação e participação na vida social e comunicativa" (MARCUSCHI, 2008, p.221). As Diretrizes Curriculares Estaduais (1990) direcionam seus objetivos para o uso da reflexão

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sobre a língua em variadas situações de comunicação: a produção e a leitura de diferentes gêneros textuais, os quais possibilitam que os alunos ampliem suas capacidades de uso da linguagem em diversas situações de interação, aprofundando os recursos linguísticos que já conhecem ou utilizando apropriações de novos recursos. Seguindo a perspectiva linguística de alguns estudiosos e pesquisadores, a presente comunicação irá enfatizar a importância de um trabalho efetivo com os gêneros textuais no sentido de contribuir para a constituição do aluno reflexivo. Nessa primeira etapa da pesquisa observou-se a abordagem dos gêneros textuais em planejamentos realizados por professores do ensino fundamental. Como instrumento de análise, alguns planos de aula, cuja proposta de trabalho era a diversidade de textos, foram analisados. A partir dessas análises, fundamentadas na linguística textual, pode-se constatar a necessidade de uma abordagem adequada dos gêneros textuais para a formação do leitor-produtor.

APROXIMAÇÕES INTERCULTURAIS ENTRE OS ROMANCES O SEMINARISTA E UNTERM RAD

Catarina Portinho Nauiack

O presente trabalho resulta de uma pesquisa que investigou as possibilidades de aproximação pedagógica-intercultural entre obras literárias brasileiras e alemãs. Para tanto, levanta as representações literárias da escola, mais especificamente de internatos e de seminários, nos romances de formação destes universos culturais no período 1880-1950. Além disso, investiga a caracterização do contexto sócio-cultural e educacional no qual estas obras estão inseridas. Para o desenvolvimento da pesquisa selecionamos dois romances: O Seminarista, de Bernardo Guimarães e Unterm Rad, de Hermann Hesse. Para tal exercício, seguimos a concepção bakhtiniana de gêneros discursivos; elementos de construção composicional, estilo e unidade temática. Ilustrativamente, podemos listar alguns temas que permitem aproximações de viés pedagógico-cultural presentes nos romances, tais como: a saída da casa paterna, a religiosidade como anuladora do sujeito; a imposição religiosa dos pais; o patriarcalismo e as concepções pedagógicas. Constatamos que a partir dos temas selecionados a aproximação pedagógica-intercultural entre os romances é viável.

PROJETO DE TRADUÇÃO: THOMAS BERNHARD

Sirlene Nair Neubauer

A obra do escritor austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), marcada por um alto grau de autorreflexão e consciência crítica com relação às possibilidades e impossibilidades da linguagem, contribui criticamente para a questão da percepção, construção e significação da realidade. Os elementos centrais para tal são a repetição e o monólogo. Nos contos Die Mütze e Der Wetterfleck há a tentativa de abarcar a realidade através da escrita que, marcada

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pela repetição, acaba sublinhando a diferença entre fatos e linguagem, numa espécie de infinita aproximação da verdade e da realidade. Além disso, os monólogos das figuras de Bernhard revelam uma recusa da possibilidade de uma comunicação adequada. A forma monológica da linguagem é considerada o movimento básico da escrita de Bernhard.

A proposta do projeto é a de apresentar a tradução dos contos Die Mütze e Der Weterflek , publicados no livro Erzählungen, de 1979. Enquanto projeto, as traduções serão acompanhadas por uma espécie de ensaio introdutório, que trata da recepção e obra de Bernhard, o que compreende, por exemplo, levantar as questões que envolvem o autor, o que o torna quem é, como e porque é estudado, qual é o seu peso dentro da literatura de língua alemã e para além dela, bem como apontar para as características e temas da obra.

DESVENDANDO OUTRAS FACETAS DO GRAMÁTICO ANDRÉS BELLO

Daniel Nodari

O venezuelano Andrés Bello considerado um dos maiores humanistas da América Latina, se dedicou a Literatura, a Educação, a Filologia, Filosofia e ao Direito. Escreveu a Gramática de la Lengua Castellana em 1847, desde uma perspectiva renovadora dos conceitos linguísticos. Em 1851 se tornou membro da Real Academia Española. Esta comunicação tem o objetivo de analisar a obra Principios de Derecho Internacional escrita por Bello, em meados do século XIX. Por tanto, o início desta pesquisa é a trajetória desse intelectual, desde a sua formação, até sua estadia no Chile.

Também se faz necessário situar Bello em seu tempo, fazendo uma apreciação do contexto em que se encontra o autor. A conjuntura é essencial para entendermos a produção, não apenas da obra que será analisada, como de todo o trabalho desse autor. Esse contexto é marcado pelas independências dos países americanos perante a Espanha, e também pelo período posterior que foi de grande instabilidade política e de formação das novas nações. Diante disso, utilizaremos como base teórica para esse estudo, as considerações do historiador argentino José Carlos Chiaramonte a respeito do conceito de nação na América Hispânica. Desta forma, poderemos entender a importância desse intelectual dentro da conjuntura em que vive e a sua produção voltada para a consolidação das nações que estavam surgindo na primeira metade do século XIX na América.

TRADUÇÃO E RELAÇÃO: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A NOÇÃO DE RELAÇÃO BERMANIANA A LUZ DO CONCEITO DERRIDIANO DE HOSPITALIDADE

Simone Christina Petry

O presente trabalho propõe uma reflexão sobre o fazer tradutório. Essa reflexão tem início com a apresentação de uma noção de tradução que é constitutiva da visada ética da

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tradução articulada pelo teórico Antoine Berman, para quem a essência dessa prática é ser relação com o Outro. Em seguida, propõe-se uma problematização da noção de relação através do diálogo desta com o conceito Derridiano de hospitalidade. Por fim, essa problematização se apresenta como uma problematização do próprio fazer tradutório, tendo em vista a discussão de uma noção de tradução como relação.

A LITERATURA ENGAJADA NA POESIA DE FERREIRA GULLAR

Erion Marcos do Prado

Pretendo resumir algumas das teorias que definem e norteiam a produção literária

chamada de Literatura Engajada, baseando-me, para tanto, nas figuras de Jean-Paul Sartre e Roland Barthes, e observar a ocorrência das características deste tipo de produção artística na poesia de Ferreira Gullar.

GRÉCIA ANTIGA: INTERESSES LINGUÍSTICOS

Joseane Prezotto

A proposta é apresentar ao público um panorama da Filosofia Grega Antiga com o

intuito de apontar possíveis tópicos de pesquisa interessantes para a História da Lingüística. As questões serão abordadas cronologicamente conforme tenham sido tratadas ou suscitadas pelas diferentes correntes filosóficas. Temas caros à antiguidade, outros nem tanto, cujo estudo poderia contribuir para a compreensão do desenvolvimento de ideias linguísticas, serão apresentados considerando o modo como foram sugeridos por pensadores e textos representativos de períodos distintos. Formar-se-á um esboço do pensamento grego sobre a linguagem em que se evidenciam justamente as lacunas.

TCHEKHOV E CONTO MODERNO

Thiago Bittencourt de Queiroz

O objetivo desse trabalho é apresentar um pequeno panorama sobre a produção

contística do escritor russo Anton Pávlovitch Tchekhov e sua importância para o conto moderno. A partir do estudo de alguns contos, como “Gricha”, “A dama do cachorrinho”, “Kachtanka”, “O acontecimento”, “Vanka” e outros; buscará demonstrar de que maneira os princípios poéticos subjacentes nos contos de Tchekhov subvertem a estrutura do conto como vinha sendo proposto até então, e cria elementos inovadores que repercutiram em toda uma vertente do conto no século XX.

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CONVERSA ENTRE ALBERTO CAEIRO E PAULO HENRIQUES BRITTO

Gabriel Dória Rachwal Alberto Caiero e Paulo Henriques Britto são dois poetas que se colocam, cada um a

sua maneira, como intérpretes do mundo. Ambos tem uma relação com esse mundo que passa longe de qualquer mistificação: não há espaço para a solenidade do mistério na relação desses poetas com o mundo. Quanto à visão de cada um deles dessa relação do sujeito com o mundo noto que o livro Tarde de Britto, por exemplo, dá a impressão de ser um livro de “poemas de tese” que revelam essa visão, ao passo que Caeiro figura como um mestre que sabe como agir/viver no mundo e discursa sobre isso. O trabalho que aqui se apresenta mostra, através da leitura de alguns poemas, como se dá a rejeição do mistério em cada um dos poetas em nome de um certo materialismo desmistificador que interpreta o mundo e seu funcionamento. Britto com uma ironia demolidora que não poupa assunto algum e Caeiro com a segurança de quem se diz estar, apenas, encontrando e seguindo o caminho “natural”.

A LITERATURA DE JOÃO PAULO CUENCA: UMA QUESTÃO PÓS-MODERNA

Daniel Falkemback Ribeiro

Este trabalho visa apresentar aspectos da pós-modernidade na obra do jovem

escritor carioca João Paulo Cuenca, autor dos romances Corpo Presente (2003) e O Dia Mastroianni (2007) e cronista do jornal O Globo. Alguns téoricos de áreas como a teoria literária, a filosofia e a sociologia serão a base para a argumentação da comunicação proposta. O objetivo é fazer com que o trabalho desse autor brasileiro contemporâneo comece a ser mais estudado pelos acadêmicos de Letras, ideia apoiada pelo próprio escritor. Desta vez, por opção do proponente, essa rápida visita ao seu trabalho será restrita somente à problemática da alteridade inserida no contexto da obra de Cuenca. Nesse contexto, a identidade e as relações interpessoais se mostram como o foco da abordagem realizada, que trabalha com narrativas de personagens cujas vidas parecem não se encaixarem em nenhum espaço ou tempo em especial. Por consequência, haverá uma aproximação dessa questão identitária com uma análise do espaço urbano construído pelo autor sob uma peculiar perspectiva presente em sua obra e na de outros contemporâneos.

BRINQUEDOS DE LER: PEQUENA REFLEXÃO SOBRE A POESIA DE JOSÉ PAULO PAES

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Vanessa Carneiro Rodrigues

Este trabalho se propõe a discutir as reflexões de José Paulo Paes a respeito do

fazer poético e a infância, exemplificando seu artigo Além do humúnculo com alguns poemas que fazem parte de sua obra voltada ao público infantil.

ESPECIFICIDADES MORFOLÓGICAS DOS VERBOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Anamaria Kaiser Saggin co-autoria:Teresa C. Wachowicz

Este trabalho tem como objetivo divulgar o trabalho de Iniciação Científica em

andamento que se filia ao projeto de Pesquisa intitulado SINTAXE E SEMÂNTICA DO LÉXICO VERBAL EM (PORTUGUÊS BRASILEIRO) PB, coordenado pelas professoras Maria José Foltran e Teresa Cristina Wachowicz, do DLLCV, e registrado em Banco de Projetos da UFPR (Thales). Os dados aqui analisados e o trabalho de IC em questão estão sendo coordenados pela última citada. Nossa tarefa no projeto é levantar dados do Projeto NURC (Norma Urbana Oral Culta) que evidenciem estruturas sintático-semânticas dos verbos catalogados por trabalho de IC anterior. Os 3023 verbos catalogados foram fichados em suas categorias aspectuais (Vendler 1967, Tenny 1994), estruturas sintáticas, exemplos prototípicos, projeções temáticas (Cançado 2003) e especificidades morfológicas. Particularmente com relação a esse último fenômeno, pretendemos ilustrar comportamentos derivacionais prototípicos de alguns grupos de verbos. Por exemplo: 1) os prefixo a- e en- e sua relação com a informação aspectual de mudança de estado; 2) os prefixos per- e trans- e sua relação com verbos durativos; 3) os sufixos –ecer e –icar e suas implicações igualmente com a mudança de estado, etc. Sem pretender esboçar regularidades morfológicas palpáveis, visto que o fenômeno derivacional é tipicamente um caso anomalia linguística, explorada desde o gramático latino Varrão (séc. 100 a. C.), o trabalho visa apontar alguns comportamentos prototípicos, sem desqualificar os comportamentos desviantes. Além disso, o objetivo é o de ilustrar o uso dos verbos em dados extraídos do NURC, o que pretende respaldar o trabalho com a análise dos dados do PB em uso efetivo.

A SÁTIRA NO SATÍRICON: VÍCIO, MORAL E ESTÉTICA EM PETRÔNIO

Adriano Scandolara

Desde o seu título, o Satíricon de Petrônio parece sugerir a sua inserção numa

tradição satírica – e, de fato, vários personagens e situações que o romance explora são típicos do gênero. Entretanto, fatores estilísticos e de construção destes personagens, da narrativa e da ambientação indicam uma complexidade da elaboração do texto que vai além

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da função satírica de se contar uma história com o intuito moralizante de ilustrar e ridicularizar vícios. Essa complexidade, aliada à relativização dos discursos de julgamento moral e estético presentes no romance, impede uma categorização mais rígida sobre o gênero do Satíricon. Questões como que tipo de crítica ele faz à sociedade romana, que tipo de moral ele pretende ensinar, se o romance está de alguma forma ligada à doutrina epicurista, e que tipo de relação ele estabelece com a sua tradição literária são questões levantadas pela crítica e que desafiam uma resposta definitiva. Este trabalho pretende abordar assuntos sobre este tema a partir da leitura da fortuna crítica acerca da obra, além de estabelecer uma comparação com outras obras também reconhecidas como de cunho satírico/moralizante como as saturae de seus contemporâneos Horácio e Juvenal, bem como os posteriores Apuleio e Luciano, e o seu legado para a era cristã.

O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO LITORAL DO PARANÁ: DESAFIO DISCENTE E DOCENTE

David José de Andrade Silva

O ensino e a aprendizagem de Língua Inglesa é tema recorrente no mundo das Letras, em especial na Linguística Aplicada. Contudo, ainda existem espaços e modalidades de aprendizado que são pouco abordados, mesmo sendo um campo abundante de temáticas para a pesquisa, como o universo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), cujas características docente e discente não somente os diferenciam da Educação Básica, mas também carregam uma gama significativa de obstáculos e perspectivas peculiares. O presente trabalho visa promover o debate sobre o ensino de Língua Inglesa na EJA através de reflexões oriundas de experiências empíricas de sala de aula no contexto escolar público

QUESTÃO DA ÉTICA NA TRADUÇÃO: UMA ANÁLISE DAS REFLEXÕES TEÓRICAS DE FRANZ ROSENZWEIG

Natasha Silva

O presente trabalho dará atenção à questão da ética na tradução a partir das reflexões teóricas do filósofo alemão Franz Rosenzweig presentes em correspondências motivadas por sua prática da tradução da Bíblia, em parceria com Martin Buber. Nesses escritos, Rosenzweig transparece sua filosofia ouvinte e histórica e argumenta por uma tradução não isenta de preocupações políticas, linguísticas, religiosas. Portanto, ao equacionar constantemente essas dimensões acaba por sinalizar justificativas e motivações de uma tradução pautada por uma ética, muito embora ele não tenha como proposta apresentar um projeto nesse sentido. O emprego da metáfora 'Revelação' do judaísmo clássico em suas reflexões teóricas servirá de ponto de partida deste projeto para discutir a questão aqui relevada.

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A CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO DA SOCIEDADE PÓS-MODERNA EM CALVIN & HOBBES

Eliézer Martins da Silva

O escopo deste estudo, abordado sob a ótica dos Estudos Culturais, é lançar um

olhar descritivo-analítico sobre as comic strips desenvolvidas pelo cartunista Bill Watterson,Calvin & Hobbes, especificamente aquelas arquitetadas como um ponto suscitador de reflexão sobre o consumo.

Comic Strip com tom humorístico e expondo criança como protagonista não é difícil de se encontrar, para isto, basta colocar o fenômeno americano Peanuts e o brasileiro Turma da Mônica sob a luz da memória. No entanto, sendo os quadrinhos originalmente uma manifestação cultural de massas, e no caso de uma tira diária, muitas vezes objetivando nada mais que o puro e simples entretenimento, e não, por exemplo, o difícil prazer de uma reflexão critico-social, como se estruturaria e qual seria o alcance de uma crítica ao consumo, sendo essa emitida por um produto, que do ponto de vista da tradição cultural, nada mais é do que uma das características dos muitos prazeres culturalmente irrelevantes cultivados pela sociedade pós-moderna?

O objetivo desse estudo é a análise da configuração de tais críticas, as quais se estruturam na mente de um personagem infantil, veiculadas em um meio de comunicação de massa, e que paradoxalmente alcançam o atemporal e universal. Trata-se de um estudo feito da perspectiva dos Estudos Culturais e da ótica crítica marxista. Uma discussão que se inicia com a relação quadrinhos-Literatura, sociedade pós-moderna, e se encerra com as análises propriamente ditas.

UMA ANÁLISE DE EXPRESSÕES ESTATIVAS EM PORTUGUÊS

Orlando Alcantara Soares

Uma análise de expressões estativas, verbais e adjetivais, em Português-Brasileiro (dialeto-padrão) a partir de raízes acategoriais dotadas de traços semânticos elementares.

O trabalho mostra como (a) verbos intransitivos (o repolho azedou; o menino alegrou-se), (b) verbos transitivos (Maria azedou o repolho; Maria alegrou o menino) e (c) adjetivos (repolho azedo; menino alegre) são derivados sintaticamente a partir de raízes estativas e adquirem sua estrutura argumental.

Também analisa-se a impossibilidade de derivação de estruturas verbais como o menino felizou e Maria felizou o menino, embora ocorra a derivação bem-sucedida da estrutura adjetival, menino feliz.

As análises mostram as correlações estruturais entre as estruturas verbais e adjetivais estativas e as estruturas verbais inergativas, inacusativas e incoativas.

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UMA PROPOSTA DE MODELO COMPUTACIONAL

Orlando Alcantara Soares

Uma proposta de modelo computacional para derivação sintática de constituintes

linguísticos, a partir de raízes acategoriais (não especificadas como raízes nominais, verbais ou adjetivais) e de traços semânticos elementares contidos nas raízes.

O trabalho formaliza os conceitos e núcleo e de projeção, mostrando que os processos de visibilidade de constituintes (caso, concordância, adjacência e incorporação) ocorrem em bases puramente configuracionais sobre expressões sintaticamente derivadas. É feita uma análise detalhada dos dois tipos de projeção que compõem uma derivação sintática: (a) a projeção de núcleos funcionais (como tense e aspect, e também os categorizadores lexicais formadores de verbos, nomes e adjetivos); e (b) a projeção dos núcleos responsáveis pela inserção de constituintes lexicais (como as preposições e os núcleos que inserem os complementos de raízes).

QUADRINHO DE ESTÓRIA, DE JOÃO GUIMARÃES ROSA:OUTROS GRAUS E MODOS DE LER

Assionara Medeiros de Souza

O trabalho propõe uma leitura do texto “Quadrinho de estória”, constante do livro Tutaméia, de João Guimarães Rosa, à luz da Estética da Recepção. Pretendemos aqui discutir modos e graus da apreensão de textos literários a partir dos conceitos estabelecidos por Wolfgang Iser com relação à teoria do efeito. A experiência vivenciada pela personagem protagonista do texto ficcional (encarcerado que, de sua cela, faz a seleção dos elementos que chegam ao seu campo de visão e com eles constrói sua relação com o mundo) desdobra-se na relação vivida pelo leitor diante do texto. O que se coloca em questão é a prática da leitura e uma apreensão da pedagogia do ato de ler implícita no texto de João Guimarães Rosa.

REFLEXÕES SOBRE A ABORDAGEM DA GASTRONOMIA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ELE (ESPAÑOL LENGUA EXTRANJERA)

Eric Trezze Junior

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“Podemos encontrar nosso mundo em um prato de comida(...)todos os ingredientes do nosso passado e presente podem ser identificados e lidos em nossas receitas ou no prato do dia: identidades, nosso relacionamentos com outras espécies, nosso status na sociedade, e mesmo o lugar de nosso sociedade no mundo” ( Fernandéz-Armesto, 2004)

Sabe-se que para a aquisição de uma segunda língua, vários são os fatores relevantes: a gramática, a fonética, a produção escrita, a oralidade, aspectos culturais e outros. Em especial, essa comunicação trata do fator cultural adotado nos livros didáticos de ELE. A gastronomia, quase sempre esquecida, nesses materiais, é o foco principal do trabalho. Pretende-se : 1) Analisar o tratamento desse tema nos livros didáticos de ELE. 2) Apresentar novos conhecimentos e curiosidades sobre o vasto mundo gastronômico latino-americano e sua aplicação em sala.(Azcoytia, Céspedes) 3 ) Refletir sobre a o entrelaçamento das diversas semióticas: gastronomia com a literatura, música e outros. (Barthes,1971)

Relevâncias da comunicação: 1) Proporciona novos conhecimentos aos professores de ELE sobre a gastronomia latino-americana de forma que possam usá-los em suas aulas. 2) Motiva os alunos ao aprendizado da língua alvo.

A MÁSCARA PROSAICA EM HOTEL ATLÂNTICO

Diego Gomes do Valle

Este trabalho é uma abordagem do romance Hotel Atlântico (2004), de João Gilberto

Noll, tendo em vista a relação de seu narrador com o mundo. Esta relação foi por nós aproximada à relação de um ator encenando com o mundo dos outros. Estes vínculos são colocados à luz do que Mikhail Bakhtin diz sobre certos encontros com o Outro. Simultaneamente, vinculamos essa “atuação”, juntamente com diversas imagens prosaicas, a um apelo por um retorno à praça pública, evocado sempre que possível pelo narrador. Como resultados dessa análise, citamos uma constante descentralização dos motivos ditos “sérios”, “nobres” que se apresentam ao narrador. Também podemos citar que o narrador concebe a sexualidade de forma totalmente desidealizada, não há grandes diferenças entre os sujeitos, o que há é um interesse em comum: o gozo. Tal como na já evocada praça pública, onde tudo se mistura em uma infinita abertura e movimento.

AVERROES TRADUZIDO PELO AMOR

Diego Gomes do Valle

O presente trabalho tem como intento articular as ditas “teorias do Amor” com os

estudos da Tradução. Nesse intuito de romper com a tradição e também com o senso comum, que colocam a tradução como trabalho de segunda importância diante do texto

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original, utilizamos esse viés interdisciplinar como reconhecimento de que onde há sujeitos envolvidos, não um sistema adequado para analisar-los, mas muitos questionamentos a se fazer. Buscamos encontrar uma síntese entre o tradutor criativo e o tradutor literal, ao encarar a tradução enquanto uma relação entre sujeitos. Dessa forma, o pretenso entendimento pleno do outro é descartado, o que há é uma relação possível, ideal ou não. Como exemplo literário dessa abordagem, utilizamos o conto “La busca de Averroes”, de Jorge Luis Borges, para localizar ficcionalmente nossa posição diante dessa problemática.

AS IMAGENS CARNAVALESCAS EM O ANÃO, DE FIALHO D�ALMEIDA

Diego Gomes do Valle

O intento desse trabalho é uma interpretação do conto O Anão, do autor português

Fialho d’Almeida, dando importância maior à sua relação explícita com a cultura popular. As imagens tipicamente carnavalescas, evocadas no conto, se tornam objetos de nosso estudo, haja vista que tomamos como aporte teórico o pensador russo Mikhail Bakhtin. Munidos com tais teorias sobre o carnaval e suas manifestações na literatura, podemos discutir a evolução dessas imagens que estão enraizadas no folclore popular antigo e que agora têm a sua expressão renovada em um cronotopo totalmente diferenciado. O modo como o autor introduziu tais imagens no conto também será tema de discussão, pois a sua originalidade reside justamente aí, em como ele orquestra temas populares e sérios, dentro de uma época com predomínio burguês. São essas e outras contribuições que pretendemos dar a esse autor, ainda hoje, pouco estudado.

UM DRAMA PROSAICO EM HARMADA

Diego Gomes do Valle

O presente estudo tem como intento demonstrar que o sujeito que Noll coloca em ação, no romance Harmada, possui pelo menos duas características que merecem discussão: primeiramente, concebe o mundo de forma essencialmente prosaica (desprovida de qualquer auto-afirmação); depois, utiliza a condição de ex-ator como “máscara” na relação com o outro, ou seja, ao viver encenando concebe o mundo de maneira alheia, relativiza a verdade presente nos diálogos, dentro ou fora de sua consciência. Para comprovar e fomentar mais discussões, evocamos o referencial teórico de Mikhail Bakhtin, que explicita em diversos pontos de seus escritos uma admiração e uma necessidade da sabedoria prosaica ao analisar o gênero romanesco. Como resultados dessa análise, citamos a desidealização patente de qualquer relação existente no romance, seja entre personagens, seja do narrador com o mundo. Também podemos comentar um constante rebaixamento das instituições que se apresentam ao narrador. Representadas discursivamente elas têm suas bases sólidas implodidas. Implodidas também são as categorias clássicas de estabilidade romanesca: o tempo e o espaço, essas categorias são evocadas quando convém ao narrador relatar determinada ação, mas não possuem qualquer linearidade. Trata-se de

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mais um rebaixamento, entre muitos nesse romance, em prol de uma cosmovisão prosaica existente em Noll.

OS CONCEITOS DE �SEMELHANÇA� E �DIFERENÇA� NA OBRA DE LINGUA LATINA DE VARRÃO

Giovanna Mazzaro Valenza

Neste trabalho, pretendo apresentar a tradução inédita de alguns parágrafos do livro X da obra DE LINGVA LATINA de Marco Terêncio Varrão. Neste livro, o autor apresenta sua teoria revolucionária sobre a declinatio e se propõe a explicar quatro questões linguísticas: o que são palavras ‘semelhantes’ e ‘diferentes’ na língua latina; a relação sistemática existente naquilo que os gregos chamam de lógos; o que significa relação por proporção (pro portione) e o que é o uso na língua. Tratarei, neste momento, da discussão sobre a primeira questão, utilizando como fonte de consulta os estudos de TAYLOR (1996) sobre o livro X.

ASPECTOS CONTROVERSOS DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Luciane Rolim de Moura Vilain

Apresentação de um breve histórico do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

– 1990, vigente desde 1º de janeiro de 2009, e análise de aspectos controversos, a exemplo do item 6º da Base XV (“salvo algumas exceções já consagradas pelo uso”; rol taxativo ou meramente exemplificativo?) e outros casos que envolvem subjetividade e a consequente dificuldade de generalização das regras. Conclusões acerca da resolução (ou não) dos impasses pela Academia Brasileira de Letras, por meio do exame da 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado em 19 de março de 2009, e da respectiva Nota Explicativa.

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ÍNDICE DE AUTORES

ALBINI, Andressa Brawerman: 50

ALBUQUERQUE, Jeniffer: 42

ALVAREZ, Mariela Bermúdez: 23

ARAÚJO, Débora Soares de: 51, 51

ARRUDA, Mariana Paula Muñoz: 32

BARROS, Evelyn G. Petersen de: 52

BECCARA, Alessandro Jocelito: 52

BERNARDES, Ana Cristina de: 53

BERTÉ, Mauro Marcelo: 53

BERWIG, Carla Anéte: 33

BLANK, Soraia Cristina: 54

BOECHAT, Fernanda Boarin: 55

BOGANIKA, Luciane: 22

BOURSCHEID, Marcelo: 41

BUDAL, Lahis Tavares Lopes: 22, 40

BUENO, Luís: 9

BUENO, Raquel Illescas: 16, 18

BUENO, Rodrigo Bueno 30, 34, 35, 36, 37

CARDOSO, Isabella Tardin: 9

CARDOSO, Leandro Dorval: 55

CARNEIRO, Cesar Felipe Pereira: 56

CARNIEL, Fagner: 11

CAVALLI, Leonardo Lima: 56

CHEREM, Lúcia 21

CLEMENTE, Felipe: 44

COELHO, Maria Josele Bucco: 13, 23

CONTO, Luana de: 57

COSTA, Luciane Trennephol da:43

COSTA, Rafael Magno de Paula: 58

DELFRATE, Christiane de Bastos: 58

DELLA CRUZ, Gisele Thiel: 28

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DIAS, Luzia Schalkoski: 33

DONEDA, Luciana Cabral: 19

DUARTE, Jonathas Rodrigo Bitencourt: 59

DÜCK, Jackeline Peters: 16

FÁVERO, Elizanete: 26

FERNANDES, Sueli de Fátima: 11, 11, 12, 25

FERREIRA, Cassio Dandoro Castilho: 59

FERREIRA, Ernandes Gomes: 17

FILIETAZ, Marta Rejane Proença: 11

FLORES, Guilherme Gontijo: 37

FONSECA, Solange Gomes da: 33

FRANÇA, Letícia: 36

FUJIHARA, Álvaro Kasuaki: 34

GALINDO, Caetano Waldrigues: 13

GEBRA, Fernando de Moraes: 17

GIL, Fernando Cerisara: 28

GODÓI, Elena: 30, 32

GONÇALVES, Patrícia Sobczynski: 60, 60

GORGES, Maria Cláudia: 61

GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu: 30

GUÉRIOS NETO, Áureo Lustosa: 61, 61

GUZMÁN, Christy Beatriz Najarro: 23, 40

HALU, Regina Célia: 63

JASINSKI, Isabel: 13

JESUS, Jefferson Diego de: 26

KAVISKI, Ewerton de Sá: 29

KNÖPFLE, Andrea: 63

KOLBERG, Letícia Schiavon: 45

LEAL, Maria Aparecida Borges: 64

LEBEL, Jean-Guy: 9

LEGROSKI, Anna Carolina: 22, 41, 64,

LEGROSKI, Marina Chiara: 65

LIMA, Francinne de Oliveira: 65

LOPES, Melina Arins: 66

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LOPES, Rafaela Piekarski Hoebel: 27

MACHADO, Daniela Zimmermann: 66

MACHADO, Rodrigo Vasconcelos: 38

MAESTRI, Rita de Cássia: 11

MARTINS, Milena Ribeiro: 40, 41

MAZIERO, Angela: 67

MEDINA, Flávio: 43

MELLO, Cristiano: 39

MENDES, Karla Renata: 20

MONTANHER, Heloir: 26

MORALES, Lívia: 24

MOREIRA, Camila Bozzo: 35, 67

MOREIRA, Genevive de Oliveira: 68

MUNHOZ, Rafael: 68

MUZI, Joyce Luciane Correia: 69

NADAL, Juliane: 69

NAUIACK, Catarina Portinho: 70

NEUBAUER, Sirlene Nair: 70

NEVES, Maria Helena de Moura: 10

NISHIDA, Gustavo: 44

NODARI, Daniel: 71

OLIVEIRA, Leonardo Teixeira de: 42

PADILHA, Solange Viaro: 18

PARTALA, João Paulo: 14, 33, 48

PAULINO, Sibele: 39

PEDROSA, Ricardo Luiz: 19, 28, 50

PERETI, Emerson: 14, 49

PETRY, Simone Christina: 37, 71

PIERIN, Bruno: 27

PRADO, Erion Marcos do: 72

PREZOTTO, Joseane: 72

QUEIROZ, Thiago Bittencourt de: 29, 72

RACHWAL, Gabriel Dória: 73

RIBAS, André: 39

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Cadernos da Semana de LetrasAno 2009 Volume I- Resumos

84

RIBEIRO, Daniel Falkemback: 73

ROCHA JUNIOR, Roosevelt Araujo da: 41

RODRIGUES, Aline Fatturi: 46

RODRIGUES, Daiane Pereira: 24

RODRIGUES, Vanessa Carneiro: 74

SAGGIN, Anamaria Kaiser: 47, 74

SANDRINI, Paulo Henrique da Cruz: 14, 48, 62

SANTOS, Sebastião Lourenço dos: 31

SCANDOLARA, Adriano: 47, 74

SEGALA, Rimar Romano: 12

SILVA, Adelaide Hercília Pescatori: 42, 44

SILVA, David José de Andrade: 75

SILVA, Eliézer Martins da: 76

SILVA, Geisa Fabíola Mueller: 29

SILVA, Miguel Angel Rodriguez: 25

SILVA, Natasha: 75

SKREPETZ, Inês: 15, 49

SOARES, Orlando Alcantara: 76, 77

SOETHE, Paulo Astor: 13

SOUZA, Assionara Medeiros de: 77

SOUZA, Saulo Xavier de: 12

STROPARO, Sandra M.: 13

SUGUIMATI, Luíza: 31

TEZZA, Cristóvão: 13

THIMOTEO, Saulo Gomes: 20

TONOCCHI, Rita: 45

TREZZE JUNIOR, Eric: 77

VALENZA, Giovanna Mazzaro: 80

VALLE, Diego Gomes do: 78, 78, 79, 79

VELENTE, Fátima: 11

VIANA, Bruna Martins: 46

VILAIN, Luciane Rolim de Moura: 80

WACHOWICZ, Teresa Cristina: 45, 46, 47, 47, 74

WINCK, Otto Leopoldo: 21