caderno de formacao_o veneno está na mesa

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    CAderno DE FORMAO N 1

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    SUMRIO

    Prefcio ................5

    Apresentao ................11

    O crculo vicioso dos venenos agrcolas................ 15

    Mercado de agrotxicos no Brasil ................19

    Glifosato: Todo veneno deveria ser proibido ................ 25

    Agronegcio causa estrago na sade do trabalhador ................ 29

    Evoluo do consumo de agrotxicos no Brasil 2003-2007.......... 43

    Programa de Anlise de Resduos de

    Agrotxicos em Alimentos Para .......... 47

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    Prefcio

    Em 1962, a norte-americana Rachel Carson publicou um livro degrande repercusso,A primavera silenciosa, em inglsSilent Spring. Elamostrava que o DDT, pesticida inicialmente produzido para lutar contraa malria, matava no somente as pragas, mas todo tipo de insetos e depssaros e penetrava na cadeia alimentar e no corpo dos animais e sereshumanos. As consequncias eram dramticas para o meio ambiente e a

    sade humana, tanto que o DDT foi progressivamente banido. Se o livrode Rachel Carson e suas repercusses foraram as indstrias produtorasde pesticidas a se defender e demonstrar a ausncia de nocividade dosseus produtos, elas no se deram por vencidas.

    O Desastre de Bhopal, ocorrido em 3 de dezembro de 1984, naregio de Bhopal, ndia, quando uma fbrica da empresa UnionCarbide deixou vazar 27 toneladas do gs mortal isocianato de metila,

    paradigmtico. Meio milho de pessoas foi exposta ao gs; delas ato momento 25 mil j morreram e 100 mil pessoas so doentes crnicospelos efeitos desse desastre. A Union Carbide e sua proprietria, a DowChemical, continuam negando a responsabilidade pela intoxicao ese negam a limpar a fbrica.

    Os pesticidas causam ou podem causar a contaminao da gua,do solo e do ar, de plantas e animais, e das pessoas. s vezes, os seusefeitos sobre as pessoas so imediatos. Lembro a fumigao area que

    atingiu a cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Situada numarea de cultivo de soja, foi pulverizada por agrotxicos em 2006, por-que um pequeno avio de asperso jogou qumicos demais e de formaimprudente. No demorou para que pessoas comeassem a aparecercom sintomas de contaminao, s vezes graves. Mas geralmente asconsequncias demoram em se fazer sentir, o que torna difcil apontaro culpado.

    O fato que estamos vivendo num mundo impregnado e saturado deprodutos qumicos, em particular de agrotxicos, e que isso raramente

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    aparece como uma preocupao da sociedade. Quando um trabalhadorrural atingido, se diz que no usou os equipamentos de proteo,que no seguiu as normas de uso, ou que fez mau uso do produto,colocando doses exageradas ou aplicando fora do momento previsto.

    Isso acontece, verdade, mas acus-los inverter a responsabilidade:empresas produtoras e vendedoras e poder pblico devem fornecer oacesso informao qualificada, no somente colar bulas nos frascos enos gales. O problema que as indstrias no tm nenhum interesseem informar, no s o trabalhador, mas tambm o vizinho da fbrica eo consumidor dos alimentos sobre os reais perigos dos seus produtos. Emais, elas no querem saber desses perigos potenciais, que poderiam

    colocar em risco seus lucros. No promovem pesquisas independentese chegam mesmo a atacar e desmoralizar pesquisas que questionamseus produtos.

    O que levou a essa situao? Aponto aqui trs fatores interligados: omodelo de agricultura, a confiana desmedida no progresso tecnolgicoe o domnio das grandes empresas.

    O modelo de agricultura dominante oriundo do que seconvencionou chamar de Revoluo Verde, implementada a partir dasegunda metade do sculo XX para incrementar a agricultura nos pasesditos ento subdesenvolvidos. A Revoluo Verde est calcada no usocombinado de variedades (sementes e matrizes) de alto rendimento,de adubos e produtos fitossanitrios (os agrotxicos) e na irrigaointensiva. Ela facilitou o crescimento da grande propriedade e, comela, o uso de maquinrio pesado. Com ela, efetivamente, aumentouenormemente a produo de alimentos, embora a fome continue, j

    que a alimentao se tornou uma mercadoria inacessvel para muitos.Nota-se que os agrotxicos fazem parte de um pacote. Se quisermosquestion-los, preciso questionar o pacote inteiro.

    A Revoluo Verde suscitou o entusiasmo dos pesquisadores que seempenharam para que a produo alimentar subisse, apoiada em mui-tas inovaes tecnolgicas. Ela no nasceu de um dia para o outro; tema sua origem no processo de industrializao do mundo ocidental que

    se desenvolveu desde o incio do sculo XIX. As cincias conheceramum enorme progresso e as aplicaes das suas descobertas se multipli-

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    caram. As duas guerras mundiais tiveram seu papel nisso, com o usode gases mortferos desenvolvidos pelas indstrias qumicas e do DDT,para evitar que os soldados fossem vtimas da malria. Os cientistasque criaram o DDT achavam que estavam dando uma grande contri-

    buio humanidade. A sua confiana na cincia e na tecnologia eratotal. Hoje tambm h cientistas e tcnicos que acreditam sem restrioque as sementes transgnicas so a melhor soluo. Eles ignoram oprincpio de precauo, que reza que certas aes humanas podemter consequncias graves para o futuro e em lugares distantes do localonde esto sendo efetivadas. Agrotxicos podem prejudicar a sadede um ser humano que ainda no nasceu, porque sua me foi con-

    taminada. Zonas costeiras veem diminuir a vida marinha, porque umrio que desgua no mar carregou restos de agrotxicos que vieram decentenas de quilmetros de distncia.

    Essa busca permanente da cincia por novas descobertas e novasaplicaes para elas (o que foi nomeado tecnocincia) encontrou umterreno propcio ao seu desenvolvimento na agroindstria. Para esta,inovao significa novos produtos e mais lucros. A ETC Group, a ONGmais atuante na temtica das novas tecnologias, em comunicado de2008 sobre as grandes corporaes, menciona as palavras do presi-dente de Crop Science de Syngenta, John Atkin: A resistncia [das pra-gas aos agrotxicos] um fenmeno globalmente sadio, porque nosobriga a inovar.

    Segundo a ETC Group, trinta anos atrs, havia dezenas de fabri-cantes de pesticidas enquanto hoje dez fabricantes realizam cerca de90% das vendas de produtos qumicos no mundo. A concluso que ela

    tira da muito instrutiva:Assim como a biotecnologia, as novas tecnologias no necessitamprovar a sua utilidade social ou sua superioridade tcnica para serlucrativas. S tm que expulsar a concorrncia e forar o Estado aabrir mo do controle. Uma vez o mercado monopolizado, os verda-

    deiros resultados da tecnologia no tm mais a menor importncia.

    E poderamos acrescentar: os verdadeiros efeitos dos agrotxicosno tm importncia.

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    As presses exercidas com sucesso sobre a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) para aumentar o valor de resduo deagrotxicos na soja Roundup Ready; o sucesso em manter o uso depesticidas extremamente perigosos, como o endosulfan, proibido h

    mais de 20 anos na Unio Europia e em vrios pases e somente agoraproibido no Brasil; e, num outro registro, a maneira como a CNTBiotoma as suas decises sobre a liberao de sementes transgnicas; ea desqualificao e a criminalizao de pesquisadores independentesso exemplos do poder do que poderamos chamar de discurso nico,uma das maneiras pelas quais se manifesta a hegemonia do capital.

    Isso no seria possvel sem uma combinao de interesses que

    junta as grandes corporaes, os principais meios de comunicaoe a grande maioria dos executivos e legisladores. Ao seu servio,os economistas, que mostram que o agronegcio exportador, e atecnocincia j mencionada, a salvao do pas. Esse conjunto faz oque eles identificam como sendo a opinio pblica acreditar que amodernidade, o desenvolvimento do pas e a erradicao da misriapassam por esse modelo de agricultura. Em retorno, empresas, partidose polticos e meios de comunicao se apiam nessa opinio pblicaque formaram para impor seus interesses como se fossem os interessesde todos. O crculo vicioso se fecha. As outras falas so silenciadas epassam a no exisitir.

    esse o bloco de poder que deve ser minado. Minado, noderrubado, pois na atual correlao de foras, h um longo caminhode transio a percorrer. O complexo do agronegcio baseadotecnicamente no modelo da Revoluo Verde. Do ponto de vista

    econmico e poltico, pea importante do capitalismo globalizado;cultural e ideologicamente, orientado pela crena cega no poderquase absoluto das cincias e tecnologias de inventar o futuro. No hlugar para a busca da igualdade e para o cuidado real da natureza,para a sade e para a qualidade de vida no complexo agroindustrial.

    Frente a ele, quais so as tarefas? O estudo dos agrotxicos, a in-formao, a denncia e o combate direto, sem dvida. Mas isso no

    suficiente. A agricultura ecolgica, a economia solidria, estratgiaslocais/regionais de produo e de consumo, por atacarem o mode-

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    lo capitalista em um dos seus pilares de sustentao (o agronegcio),tornam-se tarefa poltica essencial. Este livro quer nos colocar em mo-

    vimento, nos armar para o bom combate, nos colocar em campanhano s contra este modelo agrrio, mas a favor de outro desenvolvi-

    mento, minando por dentro o capitalismo que desumaniza o mundoe desnatura o planeta. a Via Campesina assumindo o seu papel deprotagonismo na construo do futuro.

    Jean Pierre LeroyAssessor da Fase e membro

    da Rede Brasileira de Justia Ambiental

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    Apresentao

    O Brasil foi, pelo segundo ano consecutivo, o primeiro colocado noranking mundial do consumo de agrotxicos. Mais de um milho detoneladas (o equivalente a mais de 1 bilho de litros) de venenos foramjogadas nas lavouras em 2009, de acordo com dados do SindicatoNacional da Indstria de Produtos para a Defesa Agrcola.

    Com a aplicao exagerada de produtos qumicos nas lavouras do

    pas, o uso de agrotxicos est deixando de ser uma questo relacio-nada especificamente produo agrcola e se transforma em um pro-blema de sade pblica e de preservao da natureza.

    O consumo de agrotxicos cresce de forma correspondente ao avan-o do agronegcio, um modelo de produo que concentra a terra eutiliza quantidades crescentes de venenos para garantir a produo emescala industrial.

    Desta forma, o uso excessivo dos agrotxicos est diretamente rela-cionado com atual poltica agrcola do pas, que foi adotada a partirda dcada de 1960. Com a chamada Revoluo Verde, que representouuma mudana tecnolgica e qumica no modo de produo agrcola,o campo passou por uma modernizao que impulsionou o aumentoda produo, mas de forma extremamente dependente do uso dos pa-cotes agroqumicos adubos, sementes melhoradas e venenos.

    Segundo a Associao Brasileira da Indstria Qumica (Abiquim),na ltima safra foram vendidos ao redor de 7 bilhes de dlares emagrotxicos. Todo este mercado se concentra nas mos de apenas seisgrandes empresas transnacionais, que controlam cerca de 80% domercado dos venenos. So elas: Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont,Dow AgroSciences e Basf.

    Nesse quadro, os agrotxicos j ocupam o quarto lugar no rankingde intoxicaes. Ficam atrs apenas dos medicamentos, acidentes com

    animais peonhentos e produtos de limpeza. Essas frmulas podemcausar esterilidade masculina, formao de cataratas, mutagenicidade,

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    reaes alrgicas, distrbios neurolgicos, respiratrios, cardacos epulmonares, distrbios nos sistemas imunolgico e endcrino, ou seja,na produo de hormnios, e desenvolvimento de cncer, entre outrosagravos sade.

    Diante dessa triste realidade, mais de 30 entidades da sociedade civilbrasileira movimentos sociais, entidades ambientalistas e de estudantes,organizaes ligadas rea da sade e grupos de pesquisadores lanaram a Campanha Permanente Contra os Agrotxicos e Pela Vida.

    A Campanha pretende abrir um debate com a populao sobre a faltade fiscalizao no uso, consumo e venda de agrotxicos, ademais dissosobre a contaminao dos solos e das guas, bem como denunciar os

    impactos dos venenos na sade dos trabalhadores, das comunidadesrurais e dos consumidores nas cidades.

    Para alm de denunciar as mazelas causadas pelas empresas e pelouso de agrotxicos, preciso construir formas de restringir o uso de ve-nenos e de impedir a sua expanso, propondo projetos de lei, portariase iniciativas legais e jurdicas.

    Outro campo de atuao da campanha o anncio da possibilidade

    de construo de um modelo agrcola diferente, baseado na agriculturacamponesa e agroecolgica. Temos estudos e experincias quecomprovam que essa forma de produzir vivel, produz em quantidadee em qualidade suficientes para abastecer o campo e a cidade. Entopropomos avanar na construo destas experincias, que so anica sada para romper com esse modelo imposto que por sua vezconcentra riquezas, expulsa a populao do campo e produz pobreza eenvenenamento. Produzir alimentos saudveis com base em princpios

    agroecolgicos, em pequenas propriedades, com respeito natureza eaos trabalhadores a nica forma de acabar com a fome e de garantirqualidade de vida para as atuais e futuras geraes.

    Os textos desta cartilha trazem ao nosso conhecimento um conjuntode dados, resultados de pesquisas e algumas entrevistas com pesquisa-dores que apontam de forma consistente a problemtica em torno dosagrotxicos. Sendo assim, esta nossa primeira cartilha de formao,

    voltada para preparar e subsidiar a militncia social com elementosque nos possibilitem fazer o dilogo com a sociedade, denunciando

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    todas as mazelas geradas pelos agrotxicos e pelo modelo agrcolaque os adota.

    Esperamos que tenham todos e todas um bom estudo e que estacartilha seja de fato um instrumento na luta contra os agrotxicos e

    pela vida.

    CLEBER A. R. FOLGADOSecretaria Operativa da Campanha Permanente

    Contra os Agrotxicos e Pela Vida

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    O Crculo Vicioso dosVenenos Agrcolas

    Frei Srgio Antnio Grgen

    O agronegcio representa a mais nova fase da modernizaoconservadora do latifndio brasileiro, reforando todas as perversidadesde suas fases anteriores: trabalho degradante, concentrao de terrae renda, destruio ambiental, enormes monocultivos dominando

    territrios inteiros, xodo rural e misria nas cidades prximas ao seuentorno. Alm destas mazelas que nos perseguem desde o regime dassesmarias e da escravido, novas se lhe acrescentam em sua fase atual:dependncia do capital financeiro drenando lucros imensos da terra paraos bancos, dependncia gentica das sementes hbridas e transgnicascontroladas pelas multinacionais, mecanizao pesada e agressiva aosolo e ao meio ambiente, padronizao produtiva empobrecendo a

    dieta alimentar da populao, alta dependncia de insumos derivadosde petrleo e a dependncia qumica dos agrovenenos.

    Chamados equivocadamente de defensivos agrcolas, de agrot-xicos e at de remdios para as plantas, os venenos agrcolas trans-formaram-se numa das piores facetas do agronegcio brasileiro. Istoporque suas consequncias afetam toda a populao: os que traba-lham e os que comem. E como ele se torna dominante e hegemnicono fornecimento de insumos e no direcionamento da comercializaoda produo, arrasta grande parte dos pequenos agricultores para oseu modelo tecnolgico de produo, embora em menor escala de de-pendncia.

    O Brasil se tornou, por dois anos seguidos (2008 e 2009), campeomundial de consumo de agrovenenos. um campeonato sem nenhumaglria. Somos a agricultura mais envenenada do mundo. So mais decinco quilos de venenos por habitante/ano. a dependncia qumica

    do agronegcio. E esta dependncia qumica virou um crculo vicioso.

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    Somos um pas tropical com uma variante subtropical no sul. Nos-sos biomas so altamente diversificados quanto s formas de vida. Anatureza criou aqui uma enorme biodiversidade graas s variedades desolo, climas, umidade e regime de chuvas. Mas o modelo de agricultu-

    ra que copiamos aqui veio de pases frios, com baixa biodiversidade(Europa e Estados Unidos). Os extensos monocultivos criam uma natu-reza artificial em ambientes antes diversificados. Esta homogeneizaotraz desequilbrios ambientais que geram uma proliferao descontro-lada de insetos, fungos e plantas que concorrem com os monocultivos,reduzindo a produtividade. A frmula aplicar venenos para combateras chamadas pragas. Estas, por sua vez, adquirem resistncia aos

    venenos e se multiplicam apesar deles. A soluo apresentada aplicardoses mais fortes e novos venenos, ditos mais eficazes. Neste crculovicioso, vieram as plantas transgnicas, resistentes a venenos herbici-das de amplo espectro ou com o inseticida inserido na prpria clulada planta, atingindo os insetos-alvo e no alvo, ao se alimentaremda mesma. A propaganda dizia que com os transgnicos diminuiria oconsumo de venenos. Aumentou. Hoje h inmeras plantas e insetosresistentes aos venenos aplicados nas plantas transgnicas. Qual a so-

    luo? Doses mais fortes, maior nmeros de aplicaes e novos vene-nos. Este o crculo vicioso da dependncia qumica do agronegcio:quanto mais veneno usa, mais veneno precisa usar.

    Este crculo vicioso dependente de verdadeiros coquetis de agrove-nenos j pressiona custos e encarece a produo. E a indstria qumicaagradece. Quanto maior o consumo de veneno mais os seus lucros vopara a estratosfera. Quem perde o povo: comida envenenada, guas

    contaminadas (tanto guas de superfcie quanto guas subterrneas),ar poludo de resduos qumicos, montanhas de embalagens com des-tino inadequado, solos contaminados com resduos qumicos persis-tentes, pessoas adoentadas. E seres humanos com doses cavalares de

    venenos agrcolas na pele, no estmago, no sangue, no fgado. Asprincipais vtimas so os pequenos agricultores, os trabalhadores ruraisdo agronegcio e os consumidores pobres. O cncer j uma epide-mia entre agricultores e trabalhadores rurais. Doenas de pele, doresde cabea constantes e depresso tambm so comuns. A indstria

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    qumica se esbalda. As indstrias que fabricam venenos so as mesmasque fabricam medicamentos, e o lucro delas redobra. Dane-se o serhumano. O capitalismo o regime do lucro, no das pessoas. Os con-sumidores ricos, porm, tm informaes e dinheiro para procurar as

    gndolas de produtos orgnicos nos supermercados. Eles sabem criarosis para proteg-los dos desertos que criam ao seu redor.

    O diagnstico mdico e o sistema pblico de sade continuam ce-gos a esta triste realidade. Argumentam que no h outra sada: ouproduzimos com venenos ou passamos fome. J h uma cultura do ve-neno. Em regies do Brasil j so de trs a quatro geraes de agricul-tores que s sabem produzir com venenos. Criou-se uma dependncia

    cultural. H tambm uma dependncia tcnica do veneno. Os rgospblicos de pesquisa e extenso pouco fizeram para pesquisar e divul-gar tcnicas e concepes de sistemas agroecolgicos de produo.E muito fizeram, com dinheiro pblico, para generalizar o modelo deagricultura dependente da indstria qumica.

    Alternativas existem. Elas exigem esforo conjunto e tempo. Planosde mdio e longo prazo. Associar pesquisa e educao com polticasagrcolas e participao popular. O tempo e a conscincia vo impor abusca de alternativas. Elas esto ao alcance da mo. necessrio iniciarimediatamente a transio, que ser longa, do agronegcio qumico-dependente para a agricultura camponesa agroecolgica, diversifica-da, solos restaurados, meio ambiente equilibrado, insumos orgnicos,mecanizao leve e adequada, agroindstrias descentralizadas etc.

    A reforma agrria e a valorizao do trabalho humano no campovoltam com a fora de uma exigncia de toda a sociedade que quer

    alimentos saudveis e natureza preservada.

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    MERCADO DE AGROTXICOS NO BRASIL

    Segundo dados da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria(Anvisa), em 2009, o Brasil contava com 2.195 marcas de agrotxicosregistradas, relacionadas a 434 tipos de agrotxicos. Nesse ano, foram

    vendidas 789.974 toneladas, o que representou um valor de 6,8 bilhesde dlares.

    As dez principais empresas responsveis pela comercializao dequase 80% desses produtos foram: Syngenta (14,0%), Milenia (11,3%),

    Monsanto (11,1%), Nufarm (8,3%), Dow (7,5%), Bayer (7,1%), Basf(6,0%), Nortox (4,7%), Atanor (4,6%) e DuPont (4,2%).

    Para o perodo de 2000 a 2009, so apresentadas no grfico 1 astaxas de crescimento das vendas de agrotxicos no Brasil e no mundo,com base no ano 2000. Pode-se verificar que o crescimento das ven-das no Brasil foi maior que no mundo, assumindo valores superiores a100% a partir de 2007. Em 2008, o Brasil assumiu a posio de maior

    consumidor de agrotxicos do mundo, posio antes ocupada pelosEstados Unidos.

    Grfico 1. Taxas de crescimento das vendas de agrotxicos no Brasil e no mun-do, com base no ano 2000.

    Fonte: Anvisa.

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    REAVALIAO DE AGROTXICOS A reavaliao de agrotxicos pela Agncia Nacional de

    Vigilncia Sanitria (Anvisa) se apia no decreto n 4.074,de 4 de janeiro de 2002. De acordo com o artigo 2, item VI,

    desse documento, cabe aos ministrios da Agricultura, Pecuriae Abastecimento, da Sade e do Meio Ambiente, no mbito desuas respectivas reas de competncia: promover a reavaliaode registro de agrotxicos, seus componentes e afins quandosurgirem indcios da ocorrncia de riscos que desaconselhem ouso de produtos registrados ou quando o pas for alertado nessesentido por organizaes internacionais responsveis pela sade,

    alimentao ou meio ambiente das quais o Brasil seja membrointegrante ou signatrio de acordos.

    Em 2008, uma srie de decises judiciais impediu a Anvisade realizar a reavaliao de 14 ingredientes ativos, utilizadosem mais de 200 agrotxicos. O quadro 1 apresenta essesingredientes ativos, indicando pases onde esto proibidos,problemas relacionados a eles e a situao atual no pas. Aparalisao da reavaliao contribuiu para o Brasil continuar aproduzir e importar agrotxicos proibidos em diversos pases domundo, e passar de segundo para primeiro maior consumidor deagrotxicos do mundo.

    Aps moo de apoio do Conselho Nacional de Sade, amploapoio da sociedade civil organizada e recursos por parte da

    Advocacia Geral da Unio, a Anvisa conseguiu reverter as decisesjudiciais. Da lista de 2008, quatro produtos j foram proibidos

    pela Anvisa: cihexatina (RDC n 34, de 10 de junho de 2009),endossulfam (RDC n 28, de 9 de agosto de 2010), tricloform(RDC n 37, de 16 de agosto de 2010) e metamidofs (RDC n 1,de 14 de janeiro de 2011). O fosmete teve a sua classificao detoxicidade alterada para classe I extremamente txico e recebeurestries de uso, com a excluso da modalidade de aplicaocostal e manual (RDC n 36, de 16 de agosto de 2010).

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    Quadro 1. Ingredientes ativos colocados em reavaliao pela Anvisa em2008, pases onde esto proibidos e problemas relacionados a eles.

    Fonte: Anvisa.

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    EFEITOS DOS AGROTXICOS SOBRE A SADE

    Os efeitos dos agrotxicos sobre a sade podem ser classificados

    como:

    efeitos agudos: aqueles mais visveis e que aparecem durante

    ou aps o contato da pessoa com o produto e apresentam ca-ractersticas bem marcantes;efeitos crnicos: que podem aparecer semanas, meses, anos, ouat mesmo geraes aps o perodo de uso e/ou contato com

    o produto.

    Os casos de intoxicao por agrotxicos registrados pelo Sistema

    Nacional de Informaes Txico-Farmacolgicas (Sinitox) so em sua

    grande maioria decorrentes de exposio aguda a esses produtos.O grfico 2 apresenta casos de intoxicao humana por agrotxicos

    de uso agrcola registrados pelo Sinitox no perodo de 2004 a 2008,

    distribudos por faixa etria. Verifica-se que adultos com idade entre 20

    e 49 anos respondem por 60% dos casos.

    Grfico 2. Casos registrados de intoxicao humana por agrotxicos de

    uso agrcola distribudos por faixa etria. Brasil, 2004 a 2008.

    Fonte: MS/Fiocruz/Icict/Sinitox.

    O grfico 3 apresenta casos de intoxicao humana por agrotxicosde uso agrcola registrados pelo Sinitox no perodo de 2004 a 2008,

    distribudos por sexo. Verifica-se maior concentrao de casos em pes-soas do sexo masculino (63%).

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    Grfico 3. Casos registrados de intoxicao humana por agrotxicos deuso agrcola distribudos por sexo. Brasil, 2004 a 2008.

    Fonte: MS/Fiocruz/Icict/Sinitox.

    O grfico 4 apresenta casos de intoxicao humana por agrotxicosde uso agrcola registrados pelo Sinitox no perodo de 2004 a 2008,distribudos por circunstncia. As principais circunstncias envolvidasnesses casos foram tentativa de suicdio (44%), ocupacional (24%) eacidente individual (22%).

    O grfico 5 apresenta bitos decorrentes de intoxicao humana poragrotxicos de uso agrcola registrados pelo Sinitox no perodo de 2004a 2008, distribudos por faixa etria. Os bitos relacionados a adultoscom idades variando de 20 a 49 anos representam 62% do total.

    Os agrotxicos de uso agrcola apresentam a maior letalidade emcomparao com os demais agentes txicos considerados pelo Sinitox,3,0%, ou seja, so os que mais fazem vtimas fatais.

    O chumbinho, agrotxico de uso agrcola desviado clandestinamen-te para as grandes cidades para ser usado como raticida, representaum grave problema de sade pblica. Esto registrados vrios casosacidentais com crianas envolvendo esse produto, bem como tentativasde suicdio entre jovens.

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    Grfico 4. Casos registrados de intoxicao humana por agrotxicos deuso agrcola distribudos por circunstncia. Brasil, 2004 a 2008.

    Fonte: MS/Fiocruz/Icict/Sinitox.

    Grfico 5. bitos decorrentes de intoxicao humana por agrotxicosde uso agrcola distribudos por faixa etria. Brasil, 2004 a 2008.

    Fonte: MS/Fiocruz/Icict/Sinitox.

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    Glifosato: todo venenodeveria ser proibido.Entrevista especial do IHU Instituto Humanitas

    Unisinos, com Rubens Nodari

    Na verdade, todo veneno deveria ser proibido.

    Compostos que so desenvolvidos para matar

    no fazem parte da tica da vida,

    opina o agrnomo.

    Um dos herbicidas que mais tem causado danos ao meio ambiente e

    tambm para o ser humano o glifosato. Ele uma molcula qumicasintetizada, desenvolvido para matar qualquer tipo de planta, princi-palmente perenes. o ingrediente principal do Roundup, herbicida daMonsanto. Assim, muitas plantas culturais geneticamente modificadasso simplesmente alteraes genticas para resistir ao glifosato. Emrelao sade humana, ele mimetiza certos hormnios. Por exemplo,ele pode entrar no cordo umbilical durante a gestao e afetar o de-

    senvolvimento do beb. Alm disso, ele considerado um desruptorendcrino, ou seja, ele vai acionar genes errados, no momento errado,no rgo errado. Ento, ele altera a situao de controle dos genes,relatou o agrnomo Rubens Nodari durante a entrevista que concedeuao IHU On-Line, por telefone.

    Nodari explicou o que o glifosato e como ele age para que possamatar, de forma no seletiva, as plantas, o uso e o efeito desse her-

    bicida, e, ainda, contou como esse veneno age quando os humanos eoutros seres vivos entram em contato com ele. Alguns organismos noso afetados pelo glifosato. Se se aplica muito glifosato, por exemplo,na gua, alguns organismos vo ser beneficiados, e outros no, poisele no se degrada to rapidamente. Assim, se altera por completo adiversidade biolgica que existe nesse ambiente, afirmou.

    Rubens Onofre Nodari graduado em agronomia pela Universidadede Passo Fundo e mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do

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    Rio Grande do Sul. Realizou o doutorado na University of Californiaat Davis. Atualmente, professor na Universidade Federal de SantaCatarina.

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line O que o glifosato?Rubens Nodari O glifosato uma molcula qumica que foi sinte-tizada e que tem a capacidade de produzir um caminho alternativopara as plantas que recebem esse produto. E esse caminho alternativoacaba sufocando a planta quando ocorre, portanto, a interrupo da

    produo de trs aminocidos. Com isso, as protenas que so forma-das so defeituosas, e as plantas acabam morrendo porque no conse-guem sintetizar as protenas adequadas.

    IHU On-Line Qual o uso que dado a este qumico?Rubens Nodari O destino do glifosato para matar plantas que noso desejveis num certo espao.

    IHU On-Line Qual a composio do Roundup e por que ele considerado um dos agrotxicos mais prejudiciais?Rubens Nodari O glifosato uma molcula que causa diferentestipos de problemas para a sade humana e tambm para o meio am-biente. Em relao sade humana, ele mimetiza certos hormnios.Por exemplo, ele pode entrar no cordo umbilical durante a gestaoe afetar o desenvolvimento do beb. Alm disso, ele considerado

    um desruptor endcrino, ou seja, ele vai acionar genes errados, nomomento errado, no rgo errado. Ento, ele altera a situao de con-trole dos genes. O glifosato tambm causa, por exemplo, diminuioda produo de espermas, conforme vimos em experimentos feitos emratos, ou produz espermas anormais. No caso do sistema endcrino,ele pode, por exemplo, inibir algumas enzimas. Ele vai alterar os hor-mnios que entram na regulao da expresso gnica.Geralmente, ele atua na regulao de genes e na expresso de certas

    substncias. Existem relatos bastante significativos de ocorrncias queassociam o cncer a pessoas que aplicam o glifosato. Um agricultor,

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    por exemplo, no aparenta de imediato que vai adoecer, ter um cncer,pois o glifosato age dessa forma com exposies repetidas.

    A maioria dos agrotxicos vai envenenando aos poucos as pessoas eo meio ambiente. s vezes, no so coisas perceptveis. Obviamente,

    quando algum submetido a uma grande exposio ao glifosato,sente em seguida irritao nos olhos, na pele, algum sintoma no est-mago. Quando as doses so pequenas, impossvel perceber que seest sendo intoxicado aos poucos.No meio ambiente, ele considerado mortal a alguns anfbios e rp-teis. Ele tambm favorece algumas bactrias de solo e prejudica outras.Ele altera a dinmica da vida, da biota do solo.

    IHU On-Line bastante difundido, especialmente pela in-dstria, que o glifosato menos prejudicial que outrosherbicidas. A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria(Anvisa) o classifica como Classe IV (faixa verde). Como osenhor v essa questo?Rubens Nodari Na verdade, a classificao da Anvisa muito anti-ga, e, luz dos novos resultados, o entendimento que existe diferen-

    te. Hoje, se fosse feita a reavaliao dos resultados do glifosato com osdados que foram obtidos a partir de 2005, talvez a Anvisa mudasse declassificao toxicolgica.

    IHU On-Line Como o senhor analisa a pesquisa feita na Ar-gentina que envolve o glifosato?Rubens Nodari A Argentina tem feito alguns estudos, inclusive

    associando o glifosato a consequncias nos anfbios, sobre o usodesse agrotxico. H um estudo no qual se percebeu que o glifosatoinibe o desenvolvimento de embries. O glifosato e outros produtosacabam afetando alguns sistemas do corpo humano, principalmente ocrebro, que deixam as pessoas com maior ansiedade. E isso que fazcom que as pessoas tomem decises consideradas insensatas. Assim, oque se especula, por enquanto, que as pessoas tm sua capacidadefsica limitada.

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    IHU On-Line Quando o glifosato contamina o solo ou umrio, o que acontece?Rubens Nodari Alguns organismos no so afetados pelo glifosato.Se se aplica muito glifosato, por exemplo, na gua, alguns organismos

    vo ser beneficiados, e outros no, pois ele no se degrada to rapida-mente. Assim, se altera por completo a diversidade biolgica que existenesse ambiente. Em relao gua, h menos estudos, mas, de qual-quer maneira, j existem relatos de mortalidade de certos organismosque ali vivem. Quando a fonte de glifosato aplicada repetidamente,o impacto muito maior nessas comunidades aquticas. J existemmuitos dados sobre mortalidade de certas espcies de anfbios e rpteis

    em funo da aplicao do glifosato.

    IHU On-Line Acredita que deve se proibir o glifosato?Rubens Nodari Na verdade, todo veneno deveria ser proibido.Compostos que so desenvolvidos para matar no fazem parte da ti-ca da vida. Quem defende a vida no pode ser favorvel ao uso desustncias que a comprometem. Ento, a humanidade s deveria usarem casos extremos esse tipo de produto, e no de forma corriquei-

    ra como hoje usado. Existem outras formas de fazer agricultura emque no precisamos usar venenos. Temos sistemas agroecolgicos queso perfeitamente passveis de serem utilizados para produzir alimen-tos, fibras, leos etc., sem necessidade de usar agrotxico. Ento, umproduto como esse deveria ser, naturalmente, proibido em funo dosdanos e dos impactos que ele causa tanto na sade humana quanto aomeio ambiente.

    A impresso que tenho que ns deveramos recomendar aos agrno-mos que evitem fazer o receiturio desses produtos. E aos agricultoresque tomem cuidado e no usem produtos como esse em larga escalaporque os primeiros prejudicados sero os prprios agricultores.

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    Agronegcio causa estrago na sade dotrabalhadorEntrevista com Raquel Maria Rigotto

    Considerada uma das principais pesquisadoras das consequncias oca-

    sionadas pelo agronegcio no Pas, a mdica e doutora em sociolo-

    gia Raquel Maria Rigotto, da Universidade Federal do Cear (UFC),

    em entrevista exclusiva ao JORNAL DE FATO, faz uma dura crtica ao

    modelo de produo agrcola adotado pelos grandes empresrios no

    Brasil, destacando a chapada do Apodi, que engloba o Rio Grande doNorte e Cear, e chama a ateno para os graves problemas na sade

    pblica causados pelos agrotxicos usados nos cultivos nestas regies.

    O Brasil vem sendo o campeo mundial de consumo de agrotxicos

    desde 2008.

    Raquel Maria Rigotto esteve no dia 29 de maro ministrando palestra

    para os agricultores no municpio de Apodi, tratando exatamente sobreos estudos que realiza na chapada do Apodi (territrio cearense). Se-

    gundo a professora, o Governo Federal destinou mais de 100 bilhes

    para o agronegcio e apenas 16 bilhes para a agricultura familiar. O

    que, segundo a pesquisadora, revela uma distoro perigosa do Go-

    verno Federal quanto poltica de governo tanto de sade pblica

    quanto de desenvolvimento regional.

    Para a pesquisadora, o modelo de monocultura praticado em demasia

    no Pas altamente prejudicial, pois fora o uso de agrotxicos e con-

    tribui para o surgimento de pragas. Um exemplo de monocultura a

    serra do Mel, que tem mais de 30 mil hectares de pomares de cajueiro.

    Raquel Maria Rigotto destaca que o modelo do agronegcio praticado

    no Brasil no brasileiro e s interessa financeiramente aos grandes

    grupos estrangeiros e indstria qumica.

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    DE FATO - De 2008 a 2009, ficou comprovado que o Brasil erao maior consumidor de agrotxicos do mundo, pela suaextenso territorial e sua vocao para a agriculturairrigada. possvel produzir com menos agrotxico, me-lhorar este quadro?Raquel Maria Rigotto - Esta pergunta muito inteligente, Cezar Alves.O Brasil vem sendo o campeo mundial de consumo de agrotxicosdesde 2008, num cenrio que insere toda a Amrica Latina, pelo papelque foi destinado a nosso continente pelos atores que conduzem areestruturao produtiva no plano mundial. Trata-se do papel de produzircommodities, especialmente agrcolas e agropecurias, alm da cadeia

    minrioferroao. Estamos aqui voltando, neste momento, s nossasriquezas de solo, ar, gua, fora de trabalho humano, biodiversidadepara produzir commodities para o mercado internacional: a soja, acana-etanol, o eucalipto-celulose e, aqui em nossa regio, as frutas, ocamaro, incluindo a tambm a carne de boi na Amaznia. Tem maiscabea de boi do que habitantes no Mato Grosso, por exemplo. Almdisso, h a questo do modelo escolhido para esta produo.

    DE FATO - Que modelo este?Raquel Maria Rigotto - Temos a o modelo da monocultura, que co-mea destruindo a biodiversidade, desmatando, tirando o que tem de

    vegetao. Ento todo o equilbrio do ecossistema, que garante a suasade, se rompe. Desmatam o cerrado, a caatinga, a Floresta Ama-znica ou a Mata Atlntica, e instalam ali 3 mil, 4 mil hectares de ummonocultivo, e esta uma condio indutora do surgimento de pragas.

    Neste ambiente artificial, no h condies de resistir como aconteciaquando a biodiversidade estava preservada. Alm disso, um modeloque chamamos de qumico-dependente, ou seja, um modelo viciadoem agroqumicos.

    DE FATO - Por qu?Raquel Maria Rigotto - Porque, nestas condies, ele precisa dosagrotxicos, ele precisa de fertilizante qumico em grandes quantida-des. Assim que os atores hoje deste modelo de desenvolvimento docampo so no s aquele latifundirio, dono da terra, mas tambm a

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    indstria qumica, o capital financeiro, a cincia e tecnologia, o aparatojurdico institucional e at mesmo o poltico-legislativo. Temos uma ban-cada ruralista no Congresso Nacional para defender este modelo. Ento este conjunto de elementos que levou o Brasil a esta triste condio,

    que a partir de 2008 at 2010 somos campees internacionais de consu-mo de agrotxicos: quase cinco quilos de veneno por habitante/ano.

    DE FATO - Existe algum trabalho sendo feito pela comu-nidade cientfica para reduzir o agrotxico usado pelosgrandes e tambm pelos pequenos produtores?Raquel Maria Rigotto - A comunidade cientfica tem pelo menos duas

    posies em relao a isto. Ns temos instituies de pesquisa, comoa Embrapa e universidades tambm, que esto gerando conhecimentopara facilitar e ampliar este modelo do agronegcio. No caso daEmbrapa h a estimativa de que 95% dos recursos financeiros e humanosestariam voltados para isto e apenas 5% estariam voltados para a outra

    vertente, que seria o investimento no resgate dos saberes popularese tradicionais dos camponeses, somando-os com os conhecimentosecolgicos atuais, para o avano daquilo que chamamos da transio

    agroecolgica, para caminhar rumo a um outro modelo de produo nocampo, no s em relao ao uso dos agrotxicos. No se trata apenasde substituir o veneno qumico por veneno biolgico, mas de organizara produo voltada para o acesso equitativo aos bens naturais comoa terra, a gua e a prpria biodiversidade. O acesso ao conhecimentosobre a terra, a produo, aos recursos pblicos de financiamentos,que um tema muito crucial hoje...

    DE FATO - Inclusive, o governo Lula destinou muitos recur-sos para os grandes produtores e pouco para a agricul-tura familiar. Qual a sua opinio em relao a isto?Raquel Maria Rigotto - Os dados dos ltimos dois anos, por exemplo,mostram que R$ 100 bilhes foram investidos para financiar o agrone-gcio enquanto cerca de R$ 16 bilhes foram voltados para fortalecerpolticas ligadas agricultura familiar. Em 2007 e 2008, a Unio gas-

    tou quase R$ 1,5 bilho com a securitizao das dvidas agrcolas. Em2009, foram utilizados outros R$ 842 milhes. So dimenses de recur-

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    sos pblicos distribudos com extrema desigualdade, especialmente sea gente levar em considerao que 70% do alimento que chega mesado brasileiro vm da agricultura familiar.

    DE FATO - Existe um percentual j calculado de quanto porcento de produtos produzidos com agrotxicos so con-sumidos pelo brasileiro?Raquel Maria Rigotto Sim. O Ministrio da Sade, atravs da Agn-cia Nacional de Vigilncia Sanitria, a Anvisa, tem um programa cujasigla PARA (Programa de Anlises de Resduos de Agrotxicos em

    Alimentos). Eles coletam amostras de diversos alimentos nos super-

    mercados e analisam os resduos de agrotxicos presentes neles. Para2010, por exemplo, foram monitorados 20 frutas, legumes e verduras,e foram encontrados 29% de resultados insatisfatrios, sendo que 23%apresentavam princpios ativos inadequados para aquele cultivo. umasituao crtica, que retrata muitas dificuldades do pequeno agricultorno Brasil.

    DE FATO - Por qu?Raquel Maria Rigotto - Porque isto reflete uma situao de algum

    que enfrentou uma praga no seu cultivo; que, com medo de perder suaproduo, procurou o balco de uma loja que vende veneno porque

    no tem acesso a uma assistncia tcnica qualificada enquanto poltica

    pblica; comprou o veneno que o vendedor indicou porque no passapor um receiturio agronmico. A legislao sobre o receiturio agro-

    nmico no tem sido cumprida. Ento voc tem a dinheiro e compra

    o veneno que voc quiser. No precisa de mais nada. Se voc quisercomprar 100 quilos de classificao toxicolgica 1, que extremamen-te txico (com 3 gramas dele voc mata um adulto de 70 quilos), voc

    compra e no h dificuldade nenhuma. Ento a o pequeno agricultor

    comprou o que vendedor indicou para ele, usou no seu cultivo, con-

    taminou o alimento e isto vai atingir o consumidor, contaminou a elemesmo e a sua famlia, contaminou o solo e a gua. Quem ganhou

    com isto? S a indstria qumica e a loja de veneno. E esta uma situ-ao que ainda est acontecendo no nosso Pas.

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    DE FATO - E a Legislao? O que ela prev quanto ao uso deagrotxico?Raquel Maria Rigotto - A legislao federal sobre agrotxico data de

    1989, regulamentada por um decreto de 2004. E ela fruto do con-

    texto de mobilizao da Assembleia Nacional Constituinte, com toda a

    efervescncia do Pas no perodo ps-ditadura. E a legislao atribuiu

    aos ministrios da Agricultura, Meio Ambiente e da Sade o controle

    desta situao dos agrotxicos e, de forma anloga, aos rgos esta-

    duais de agricultura, meio ambiente e sade. Ento ns temos uma

    legislao com aspectos positivos, mas que no tem sido respeitada em

    vrias dimenses. Mas ela se baseia no que chamamos de paradigma

    do uso seguro, ou seja, a suposio de que, garantidas algumas regrase limites, voc poderia usar os agrotxicos que so biocidas, feitos

    para matar , voc poderia utiliz-los com segurana. Estas condies

    que esto descritas na legislao infelizmente no tm sido cumpridas,

    e o prprio Censo Agropecurio de 2006 mostra isto. Uma delas o

    receiturio agronmico: preciso uma receita de um agrnomo, onde

    estaria discriminado o nome da propriedade e localizao, o nome do

    proprietrio, o cultivo, o diagnstico da praga, o princpio ativo indi-cado para trat-la, a dose, a segunda opo de tratamento caso seja

    necessrio, os cuidados que ele tem que ter durante a aplicao, o n-

    mero de aplicaes, o perodo e os equipamentos... Tudo isto deveria

    vir no receiturio agronmico. S que isto praticamente no existe.

    DE FATO - O que a sua pesquisa constatou?

    Raquel Maria Rigotto - Ns entrevistamos todos os proprietrios delojas na regio da pesquisa. O que eles nos disseram? Que tem um

    agrnomo sim, e que uma vez por ms ele passa na loja e assina todas

    as receitas daquilo que j foi vendido. Ou seja, ele sequer viu o agri-

    cultor. Este um exemplo de que a legislao no cumprida. Outro

    exemplo que no temos no Cear nenhum laboratrio pblico em

    condies de analisar a gua de um rio para dizer se ali tem veneno

    ou no, se est contaminado ou no. E esta uma das atribuies do

    rgo estadual de meio ambiente.

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    DE FATO - E no Rio Grande do Norte?Raquel Maria Rigotto -Aqui no Rio Grande do Norte, nas universida-des e centros tecnolgicos, temos conhecimento de estudos realizadospor sria pesquisadora. Mas, enquanto laboratrios com capacidade de

    atender a toda a demanda de monitoramento, vigilncia e fiscalizao,acredito que a situao seja semelhante do Cear.Isto para mostrarque as condies para o uso seguro no esto sendo respeitadas.

    DE FATO - Qual a ligao dos produtores do Cear com osprodutores do RN? O que est acontecendo l pode estaracontecendo aqui?

    Raquel Maria Rigotto - Olha, quando ns iniciamos a pesquisa, vie-mos aqui para conhecer, identificar quais so as empresas, os culti-

    vos, se j havia estudos. Descobrimos que todas as embalagens deagrotxicos l do Cear vm para Mossor. Aqui existe uma unidadede processamento de embalagens como exige a legislao. No Cearns no temos. Ento ns estamos exportando resduos txicos para

    vocs, daqui do Rio Grande do Norte. Mas depois a gente no pros-seguiu num estudo aqui nesta regio, porque nosso objetivo junto aoCNPq e ao Ministrio da Sade era estudar o Cear. Mas observamosque existe uma forte semelhana porque a chapada do Apodi umaunidade territorial nica, que est dividida pela fronteira geopoltica.Mas na prtica um mesmo territrio. No Rio Grande do Norte, commais antecedncia, as mesmas empresas com os mesmos cultivos defrutas para exportao. No Cear isto comea a partir do ano 2000 eaqui no RN este trabalho comeou bem antes e por isto a gente veio

    no comeo exatamente para aprender com a experincia de vocs. Fo-mos convidados a estar hoje no Seminrio Impacto do Agronegcio/

    Agrotxicos na Sade, no Trabalho e no Ambiente, organizado peloSindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi, CPT-RN, ASA-Potiguar,CUT etc., em parceria com o Ncleo Tramas-UFC e o Grupo de Pes-quisa Marcos Tericos Metodolgicos Reorientadores da Educao e doTrabalho em Sade da Uern. O objetivo foi socializar alguns resultadosda nossa pesquisa quanto aos impactos do agronegcio para a sade,o trabalho e o ambiente em comunidades rurais do Baixo Jaguaribe noCear. Ficamos animados hoje com a presena do Cerest regional e

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    da Vigilncia de Mossor; do PSF e da Secretria de Sade de Apodi;da Renap; do bispo dom Mariano, da Ufersa etc. no seminrio. Osmovimentos sociais, trabalhadores rurais e entidades da regio estoatentos ao problema dos agrotxicos, que poder ser agravado com

    a instalao do Permetro Irrigado Apodi, pelo Dnocs, possibilitando aexpanso do agronegcio na regio, a exemplo do que j ocorreu emBarana e Au, como evidenciaram as comunidades presentes. Hoje osagricultores familiares de Apodi mostraram que desenvolvem ativida-des agroecolgicas como a apicultura, entre outras, e demonstraramque no querem e no precisam do agronegcio, mas de incentivosna agricultura familiar. A contribuio de pesquisadores e professores

    universitrios do RN amplia as possibilidades de informao adequadados trabalhadores e moradores, que um direito.

    DE FATO - Qual cultivo preocupa mais os pesquisadores?Raquel Maria Rigotto - Os cultivos em monocultura em grande esca-la, ou seja, o agronegcio.

    DE FATO - A Serra do Mel foi projetada e instalada na dca-

    da de 70 e l plantados quase 2,5 milhes de ps de cajuei-ro em 30 hectares. Hoje deve haver 4 milhes. Isto umexemplo a no ser seguido?Raquel Maria Rigotto - Sim. um exemplo de monocultura muitointensa e que certamente preocupa. No Cear a gente acompanhoumelo, abacaxi e banana.

    DE FATO - Considerando a forma de produo, estes trspreocupam muito?Raquel Maria Rigotto - Preocupam muito, especialmente do pontode vista da sade e do meio ambiente, tanto dos trabalhadores comodas famlias que vivem na regio. Cada um com sua especificidade.O melo, por exemplo, so mais de 30 princpios ativos diferentes de

    veneno utilizado para controlar as pragas. Na banana, as pragas soem menor nmero. Mas existe um problema muito srio, que so os

    organofosforados usados para matar uma praga chamada moleque,que causa a broca do rizoma. E tem o problema da pulverizao area

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    para combater um fungo que causa a doena chamada sigatoka ama-rela a negra no chegou por aqui.

    DE FATO - E o que os empresrios fazem numa regio como

    a Chapada do Apodi, que tem semelhana em quantidadeplantada com o Vale do Au, para conter estas pragas?Raquel Maria Rigotto - Na chapada do Apodi so 2.950 hectares de

    cultivo de banana; em 10 anos, com uma mdia de 6 a 8 pulverizaes

    por ano, eles j despejaram 4.425.000 litros de calda txica sobre a

    chapada do Apodi, onde esto muitas comunidades.

    DE FATO - Com tanto veneno jogado sobre estas proprieda-des cultivadas e inmeras comunidades, quais as consequ-ncias para a sade humana em curto e em longo prazo?Raquel Maria Rigotto - Ns temos um primeiro comprometimento

    importante que da segurana alimentar das famlias camponesas, namedida em que a terra est sendo concentrada, em que os campone-

    ses esto perdendo terra, esto virando empregados do agronegcio,

    eles j no produzem mais seu milho, feijo, macaxeira. Eles j tmque comprar isso. O que eles produzem no agronegcio eles no tmcoragem de comer, pois eles vm quantidade de veneno que aquele

    produto tem. Ento tem um comprometimento da segurana alimentar

    das famlias camponesas. Existe outro grupo importante de impactosobre a sade que diz respeito ao processo de migrao e de alterao

    do modo de vida. Por exemplo, o cultivo do melo, que vocs tm aqui

    na regio do Rio Grande do Norte tambm, ele um cultivo sazonal.

    Ele s feito na poca do ano que no chove, ou seja, no segundosemestre. No nosso caso l no Cear, de repente a empresa abre a

    contratao de 4 mil homens, que vm de Mossor, da Paraba, do

    Piau, do sul do Cear para atender a esta demanda de emprego por

    um perodo de 4, 5 ou 6 meses. Homens que vm sem as suas fam-lias. Atrs deles vem a rede da prostituio. No distrito de Lagoinha,

    em Quixer (CE), aqui vizinho do RN, existe uma elevao enorme no

    ndice de gravidez na adolescncia. Trs vezes mais do que o Ministrioda Sade tem encontrado em mdia no Brasil. As doenas sexualmente

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    transmissveis, inclusive a Aids, aumentando muito. As drogas ilcitas e

    as lcitas tambm aumentaram muito, e a violncia domstica, a vio-

    lncia contra a mulher, que as famlias todas ficam desestruturadas

    com este processo. Outro ponto o sofrimento psicolgico que advm

    disto, a depresso, a tristeza, o suicdio.

    DE FATO - E no que diz respeito somente aos agrotxicos?Raquel Maria Rigotto - Ns temos dois grandes grupos de impactos

    dos agrotxicos sobre a sade: o primeiro so as intoxicaes agudas,

    que acontecem logo aps exposies a concentraes significativas de

    agrotxicos por um perodo curto uma experincia que vrios traba-

    lhadores que participaram hoje (quarta-feira, 29 de maro) conoscodo seminrio j tiveram. No nosso estudo epidemiolgico no Cear,

    que teve uma amostra de 545 trabalhadores examinados, 32,1% deles

    tinham relatos de episdios de intoxicao aguda em algum momento

    de sua vida. aquele caso que o cidado pulveriza e comea a sentir

    tonteiras, nuseas, vmitos, dor de cabea, tontura, irritao de olhos,

    garganta, pele, fraqueza, tremores etc.

    DE FATO - O Equipamento de Proteo Individual, o EPI, pre-visto na Legislao, no evita estes tipos de reaes?Raquel Maria Rigotto - A gente no pode, Cezar, considerar queo EPI seja medida de proteo eficaz e suficiente. A prpria legisla-o trabalhista coloca que o equipamento de proteo individual deveser utilizado enquanto se implantam as medidas de proteo coletiva,ou em carter complementar s medidas preventivas para controlartotalmente o risco, ou em carter emergencial, quando acontece um

    vazamento, se coloca uma mscara e vai fechar este vazamento. Masbasear a preveno no equipamento de proteo individual um errotcnico e legal, muito frequente e comum. A maioria dos profissionaisde sade acredita ainda neste mito do EPI, infelizmente o sensocomum cultivado pela prpria indstria fabricante de EPI. Mas existem

    vrias teses provando o contrrio. Por exemplo, um macaco, que faz

    parte do equipamento de proteo individual, este se encharca de ve-neno durante o dia porque se estava pulverizando com o pulverizador

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    nas costas e vazou. Se no dia seguinte o trabalhador veste novamente

    este macaco e comea a suar dentro dele, ele funciona como uma

    compressa de veneno sobre a pele, j que o veneno absorvido tam-

    bm pela pele, alm da via respiratria e da digestiva. Ento o EPI no

    resolve, e s vezes pode ampliar o risco.

    DE FATO - E tem tambm os efeitos crnicos dos agrotxi-cos nas pessoas?Raquel Maria Rigotto - A temos um amplo leque de efeitos e quanto

    mais se estuda mais se descobre. Ento o primeiro grupo que sempre

    nos preocupa muito so os cnceres e hoje no h dvidas de que a

    questo ambiental responsvel por 30% a 70% dos cnceres. E nstemos vrios cnceres que so diretamente relacionados aos agrotxi-

    cos. Como, por exemplo, a leucemia mielide aguda, os linfomas no

    Hodgkin. Agora, so doenas que vo aparecer 5, 10 e at 20 anos de-

    pois da exposio. Ento, nem sempre a ponte feita para descobrir a

    origem do cncer aquele tempo em que se trabalhava com agrotxico

    ou se morava perto de uma fazenda de produo agrcola.

    DE FATO - E quanto aos nascimentos de crianas com proble-mas de formao no tero?Raquel Maria Rigotto - Neste ponto, temos as malformaes cong-

    nitas que podem ser causadas tambm por agrotxicos. Bastante dis-

    cutida hoje, por exemplo, a chamada criptorquidia, que quando o

    beb do sexo masculino nasce com os testculos ainda na cavidade ab-

    dominal. Eles no descem para a bolsa escrotal. Isto tem ligao com oagrotxico e tem sido cada vez mais frequente em reas de exposio

    a agrotxicos. A infertilidade masculina tambm tem ligao com os

    agrotxicos: eles alteram o nmero de espermatozides, a mobilidade

    deles, a porcentagem de espermatozides anormais. Ns temos distr-

    bios endcrinos causados pelos agrotxicos, j que eles so capazes de

    imitar o comportamento dos hormnios sexuais. Eles entram no corpo,

    enganam as nossas clulas receptoras dos hormnios, como se fos-

    sem hormnios masculinos ou femininos, e isto contribui para a puber-

    dade precoce das meninas, por exemplo, entre outras alteraes.

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    DE FATO - E problemas hepticos so frequentes?Raquel Maria Rigotto - Na nossa pesquisa no Cear, entre os traba-lhadores da monocultura do abacaxi, 53% deles estavam com altera-o nas provas de funo heptica, ou seja, o fgado funcionando mal.

    O fgado funciona como um laboratrio qumico no corpo, e muitosobrecarregado pelos venenos. Tivemos inclusive o caso de um traba-lhador jovem e sadio, desta mesma empresa, que adoeceu em agostode 2008 e em novembro faleceu com uma doena heptica txica,depois de trabalhar por 3 anos de meio no almoxarifado qumico.

    DE FATO - E o parto prematuro e o nascimento com baixo

    peso, que tm acontecido com muita frequncia nesta re-gio, tambm tm ligaes com exposies aos agrotxicosdos pais, no caso da me?Raquel Maria Rigotto - Tem sim. O parto prematuro, o nascimentocom baixo peso e o aborto tambm so relacionados aos agrotxicos,mas claro que existem outras causas. preciso que o profissional desade esteja alerta quanto a isto, para que sejam feitas perguntas arespeito do trabalho e do ambiente em que aquela pessoa vive, exata-

    mente para poder fazer estas pontes e no s fazer o tratamento ade-quado, como tambm dar visibilidade ao problema e tomar as medidaspreventivas necessrias.

    DE FATO - Mossor tem 260 mil habitantes e polariza ou-tras 40 cidades. Tem uma nica maternidade, onde sofeitos 600 partos/ms, sendo 30 prematuros. S temos

    3 leitos de UTI neonatal e nenhum leito de UTI peditri-ca Isto considerando os hospitais pblicos e privados.Isto agrava o problema?Raquel Maria Rigotto - Este problema fica agravado quando noh leitos de UTI peditrica disponveis para oferecer cuidados a estascrianas. Meu Deus!

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    DE FATO - Existe estudo que mostre alguma relaodo desenvolvimento intelectual das crianas com oagrotxico?Raquel Maria Rigotto - Bem lembrado. As pesquisas esto demons-

    trando as dificuldades de aprendizado das crianas na escola, a hipe-ratividade, a falta de concentrao, o comprometimento da memria,que esto relacionadas a alguns tipos de agrotxicos.

    DE FATO - Obviamente tudo isto gera uma demanda de servi-os novos na rede de sade pblica. O SUS est preparadopara este tipo de atendimento?

    Raquel Maria Rigotto - Ento, desde o processo da Reforma Sanit-ria, quando o Sistema nico de Sade (SUS) foi construdo, tambm ocampo da sade do trabalhador se fortaleceu no SUS. Teve um papelimportante no modelo que seria adotado a partir de ento. De formaque a gente tem uma legislao de sade do trabalhador no SUS e umconjunto de atribuies muito rico, com aes desde o Programa Sadeda Famlia, responsvel pela ateno bsica, os Centros de Refernciaem Sade do Trabalhador (Cerest), a Vigilncia em Sade, que tambm

    tem um papel importantssimo nisto, a CIST, que a Comisso Inter-setorial de Sade do Trabalhador, que deve fazer parte dos conselhosmunicipais e estaduais de Sade. Tambm no campo da sade ambien-tal esta poltica vem sendo construda. Ns tivemos em 2009 a primeiraConferncia Nacional de Sade Ambiental para tratar destes assuntos.Porque o SUS precisa identificar e dar resposta s novas necessidadesde sade das populaes expostas a estes contextos de risco. No se

    pode prosseguir cegamente no tradicional pacote de programas de hi-pertenso, diabetes, hansenase, tuberculose, sem se dar conta de queo territrio est passando por profundos processos de transformao.

    DE FATO - Doutora, realmente existem muitos mecanismosprevistos no SUS que beneficiam o trabalhador rural,mas na prtica...Raquel Maria Rigotto - Infelizmente, h uma enorme distncia entreaquilo que est previsto que o SUS faa e aquilo que ele vem conseguindofazer na maioria dos locais do Pas, com honrosas e homenageadas

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    excees. Temos a uma dificuldade muito grande. Os Centros deReferncia em Sade do Trabalhador ainda no conseguiram estabelecerum dilogo direto e profundo com os movimentos dos trabalhadores,sindicatos, trabalhadores do campo, informais; no conseguiram ouvir

    estes trabalhadores, saber quais so os dramas que esto vivendoe o que eles precisam que o SUS faa em termos de preveno, de

    vigilncia, de informao, de acessos aos seus direitos, de garantiasmesmo a sade. Ento ainda temos muita coisa para crescer, inclusivena articulao entre as aes e polticas de sade do trabalhador e asde sade ambiental, que ainda esto muito separadas. Isto artificial,porque na realidade so os processos de produo e consumo que

    delineiam o perfil sade-doena dos grupos populacionais.

    DE FATO - O seu trabalho de pesquisa junto aos trabalha-dores do agronegcio pode terminar por contribuir comum aprimoramento do SUS para atender o trabalhadorrural?Raquel Maria Rigotto - Eu espero que nosso trabalho de pesquisapossa ajudar o SUS a se encontrar no meio de tantos problemas que

    existem a pedindo a abordagem dele na sade do trabalhador e nasade ambiental. Por exemplo, o Cerest poderia integrar a questoambiental, e passar a ser Ceresta, no?

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    Evoluo do consumo de agrotxicos noBrasil - 2003-2007Resumo com base em dados publicados pela Associao Nacional dasEmpresas de Defensivos Agrcolas (Andef), organizados pelo diretor executivoda Andef agrnomo Jos Otvio Mentem, em outubro de 2008.

    Situao atual dos agentes que atuam na produo, venda e consumo de ve-nenos agrcolas no Brasil 2008.

    Empresas registradas 105

    Fbricas existentes 71

    Fabricantes de prod. tcnicos 33

    N estaes experimentais 10

    Investimentos (US$ milhes) 128

    Pesq. e desenv. 78

    Fbricas 40

    Socioambientais 10

    Produtos tcnicos registrados 673

    Por equivalncia 52

    Produtos registrados 1.278Ingredientes ativos 475 monografias

    rea agrcola 413

    Produtos em comercializao 537

    Canais de distribuio 7.500

    Cooperativas 1.500

    Revendas 6.000

    Tcnicos que atuam em canais de distribuio 35.000

    Propriedades rurais 5.000.000

    Usurios de defensivos agrcolas 25.000.000 pes-soas envolvidas nointerior

    Total de empregados pelas empresas 8.559

    Engenheiros agrnomos 2.208

    Tcnicos agrcolas 353

    Setores que realizam a revenda dos 7.500 (%)

    Revendas 51,2% 3.750

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    Direta/consumidor final 28,4% 2.250

    Cooperativas 20,4% 1.500

    Condies de vendas

    vista 6.7%

    Crdito rural 9,7%

    Crdito em carteira/208 dias 83,6%

    Inadimplncia 10,9%

    Dvidas dos agricultores de 2004 a 2006 R$ 2,1 milhes

    Exportao 2007 US$ 350 milhes

    Importao 2007 US$ 2,1 milhes

    Vendas totais, no Brasil, por tipo de veneno agrcola 2006 e 2007.

    Tipos de venenosVendas em US$ 000 Var %

    2006 2007

    Herbicidas 1.674,3 2.304,0 37,6%

    Fungicidas 917,4 1.264,4 37,8%

    Inseticidas 129,0 1.537,4 36,2%

    Acaricidas 70,4 92,1 30,8%

    Outros 128,8 174,0 35,1%

    TOTAL 3.919,9 5.371,9 37%

    Crescimento anual do consumo de venenos agrcolas por tipo no Brasil 1999 a 2007.

    Total 4,67%Herbicidas 5,25%

    Inseticidas 4,92%Fungicidas 2,34% Acaricidas 1,33%Outros* 5,85%

    *Outros: antibrotantes, reguladores de crescimento, leo mineral e espalhante adesivo.Fonte: Dados obtidos junto ao Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para Defesa Agrcola(Sindag). Ajustamento por anlise de regresso.

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    Crescimento anual do consumo de venenos agrcolas por estado 1999 a 2007.

    Mato Grosso 5,42%Paran 5,12%Rio Grande do Sul 5,08%

    So Paulo 4,93%Gois 4,38%Minas Gerais 3,40%

    Fonte: Dados obtidos junto ao Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para Defesa Agrcola

    (Sindag). Ajustamento por anlise de regresso.

    Vendas totais de venenos agrcolas por tipo, no Brasil 2003-2007 (em milho de US$).

    Classes 2003 2004 2005 2006 2007

    Herbicidas 1.523,7 1.830,7 1.735,8 1.674,3 2.304,1

    Fungicidas 713,5 1.388,2 1.089,5 917,4 1.264,4

    Inseticidas 725,2 1.066,6 1.180,7 1.128,9 1.537,4

    Acaricidas 80,0 78,0 82,8 70,4 92,1

    Outros* 93,8 131,5 155,0 128,8 174,0

    TOTAL 3.136,3 4.494,9 4.234,7 3.919,8 5.372,0

    *Outros: antibrotantes, reguladores de crescimento, leo mineral e espalhante adesivo.Fonte: Elaborado a partir de dados do Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para Defesa

    Agrcola (Sindag) diversos anos.

    Consumo de venenos segue crescendoOs dados publicados em jornais posteriores a este estudo revelam que na safra de 2007-2008 foram vendidos no Brasil 6,8 bilhes de dlares em venenos, e que na safra 2008-2009 foram vendidos 7,125 bilhes de dlares, transformando nosso pas no maior con-sumidor mundial de venenos.Esse valor representou a aplicao de 734 milhes de toneladas de venenos jogados nanossa agricultura. Eles afetam o solo, a gua, os alimentos produzidos e o ar, pois muitosso secantes que evaporam, vo para atmosfera e depois retornam com as chuvas.

    Participao percentual no uso total de venenos agrcolas, por produto, no Brasil 2003-2007.

    Cultura 2003 2004 2005 2006 2007

    Soja 41,6 45% 44% 40,9% 43%

    Milho 13,9% 12,5% 2,1% 1,7% 13,6%

    Citros 9,2% 8,1% 8,2% 10,4% 8,7%

    Cana-de- acar 7,5% 7,2% 7,1% 9,6% 9,4%

    Algodo 6,5% 7,0% 6,3% 7% 6,5%

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    Caf 3,4% 3,3% 3,6% 3,9% 2,7%

    Trigo 2,3% 3,0% 2,2% 1,9% 1,6%

    Bata inglesa 2,2% 1,9% 1,9% 2,0% 1,4%

    Arroz irrigado 2,1% 1,9% 1,7% 1,5% 1,8%Feijo 2% 1,9% 1,6% 1,7% 1,8%

    Outras culturas 9,3% 8,2% 11,1% 9,4% 9,3%

    Fonte: Elaborado a partir de dados do Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para Defesa Agr-cola (Sindag) de diversos anos.

    Desafios estratgicos para a indstria de defensivos

    agrcolas para o perodo 2008 a 2009

    1. Agilizar processo de registro de novos produtos2. Priorizar registros de produtos novos

    Exigncia pases importadoresProduo integrada

    Minor CROPS3. Aprimorar regulamentao

    Harmonizao Mapa-Anvisa-Ibama

    Transparncia4. Esclarecer para a sociedade que alimentos convencionais do agro-negcio so mais saudveis5. Agilizar a liberao de produtos importados6. Reduo da carga tributria (ICMS/Marinha Mercante)7. Estmulo da produo agrcola

    CrditoSeguroPreos

    8. Aprimorar assistncia tcnica e extenso rural/uso correto e seguroAplicador/exposioResduosImpacto ambiental

    Fonte: Relatrio da Andef.

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    Programa de Anlise de Resduos deAgrotxicos em Alimentos PARA

    Nota tcnica para a divulgao dos resultados do Para de 2008

    Braslia, 15 de abril de 2009

    Introduo

    O Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em Alimentos(PARA) foi iniciado em 2001 pela Anvisa, com o objetivo de preveniragravos sade da populao pela exposio aos agrotxicos atravsdos alimentos, implantando assim, em nvel nacional, um servio paramonitorar continuamente os nveis de resduos de agrotxicos nosalimentos que chegam mesa do consumidor e adotar medidas decontrole. Este programa uma ao do Sistema Nacional de VigilnciaSanitria, coordenado pela Anvisa em conjunto com os rgos de

    vigilncia sanitria de 25 estados participantes e o Distrito Federal, querealizam os procedimentos de coleta dos alimentos nos supermercadospara anlise nos laboratrios.

    Em 2008, o programa monitorou 17 culturas: abacaxi, alface, arroz,banana, batata, cebola, cenoura, feijo, laranja, ma, mamo, man-ga, morango, pimento, repolho, tomate e uva. Os resultados dessasanlises esto descritos no quadro 2.

    O Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria SNVS

    De acordo com o art. 1 da lei n 9.782, de 26 de janeiro de 1999:

    O Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria compreende o conjunto

    de aes definido pelo 1 do art. 6 e pelos arts. 15 a 18 da lei

    n 8.080, de 19 de setembro de 1990, executado por instituies da

    Administrao Pblica direta e indireta da Unio, dos estados, do

    Distrito Federal e dos municpios que exeram atividades de regulao,

    normatizao, controle e fiscalizao na rea de vigilncia sanitria.

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    Fazem parte desse sistema o Ministrio da Sade, a Agncia Nacionalde Vigilncia Sanitria (Anvisa), o Conselho Nacional de Sade (CNS),o Conselho Nacional de Secretrios Estaduais de Sade (Conass), oConselho Nacional de Secretrios Municipais de Sade (Conasems),

    os Centros de Vigilncia Sanitria estaduais, do Distrito Federal e dosmunicpios (Visas), os Laboratrios Centrais de Sade Pblica (Lacens),a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e os Conselhos Estaduais, Distritale Municipais de Sade, em relao s aes de vigilncia sanitria.

    O sistema de registro de agrotxicos no Brasil

    A Lei de Agrotxicos e Afins n 7.802, de 11 de julho de 1989,estabelece que os agrotxicos somente podem ser utilizados no passe forem registrados em rgo federal competente, de acordo com asdiretrizes e exigncias dos rgos responsveis pelos setores da sade,do meio ambiente e da agricultura.

    Neste sentido, o decreto n 4.074, de 4 de janeiro de 2002, queregulamentou a lei, estabelece as competncias para os trs rgosenvolvidos no registro de agrotxicos: Ministrio da Sade (MS), Minis-

    trio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) e Ministrio doMeio Ambiente, atravs do Ibama. O Ministrio da Sade, por meio daAnvisa, o responsvel, dentre outras competncias, pela avaliaoe classificao toxicolgica de agrotxicos, e, junto com o Mapa, nombito de suas respectivas reas de competncia, pelo monitoramentodos resduos de agrotxicos e afins em produtos de origem vegetal. A

    Anvisa tambm deve estabelecer o limite mximo de resduos (LMR) eo intervalo de segurana de cada ingrediente ativo de agrotxico para

    cada cultura agrcola.De acordo com o art. 2, inciso VI do decreto n 4.074/2002,cabe ainda aos trs Ministrios, no mbito de suas respectivas reasde competncia, promover a reavaliao de registro de agrotxicos,seus componentes e afins quando surgirem indcios da ocorrnciade riscos que indiquem a necessidade de uma nova anlise de suascondies de uso, que desaconselhem o uso dos produtos registrados,ou, ainda, quando o pas for alertado nesse sentido, por organizaes

    internacionais responsveis pela sade, alimentao ou meio ambientedas quais o Brasil seja membro integrante ou signatrio de acordos.

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    Considerando o acima exposto, bem como o banimento ou restriesde utilizao de diversos ingredientes ativos no cenrio internacional, a

    Anvisa realizou, no perodo de 2002 a 2006, a reavaliao toxicolgicade diversos ingredientes ativos (IAs) de agrotxicos, resultando em res-

    tries ou cancelamentos no registro devido aos seus efeitos crnicos sade por meio da exposio diettica e ocupacional. Os ingredientesativos benomil, heptacloro, monocrotofs, lindano e pentaclorofenolforam proibidos, enquanto os IAs captana, folpete, carbendazim, clor-pirifs, metamidofs, entre outros, sofreram restries de uso. Infor-maes mais detalhadas sobre as reavaliaes realizadas pela Anvisapodem ser obtidas no endereo eletrnico http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/reavaliacao/index.htm.

    O trabalho de reavaliao em 2008 foi marcado por longa batalhajudicial contra liminares favorveis s empresas, impeditivas da reava-liao. Ao final desse ano, a Anvisa derrubou as liminares e manteveo direito de dar continuidade ao seu trabalho. Esto previstas para oano de 2009 as reavaliaes dos seguintes ingredientes ativos: glifosato,abamectina, lactofem, triclorfom, parationa metlica, metamidofs, fos-mete, carbofurano, forato, endossulfam, paraquate e tiram (RDC n 10,de 22 de fevereiro de 2008).

    A cihexatina foi reavaliada em 2008. No entanto, em funo de umadeciso judicial, a deciso final no pde ser publicada, sendo que aAnvisa conseguiu revogao da liminar em 17 de fevereiro de 2009.

    O acefato tambm foi reavaliado em 2008, mas uma das empresasdetentoras do registro impetrou mandato de segurana, e o desfechoda ao foi a manuteno da segurana em favor da empresa.

    O Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em

    Alimentos (PARA)

    O Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em Alimentos(Para) foi iniciado em 2001 pela Anvisa, com o objetivo de avaliar con-tinuamente os nveis de resduos de agrotxicos nos alimentos in naturaque chegam mesa do consumidor, fortalecendo a capacidade do go-

    verno em atender segurana alimentar, evitando possveis agravos sade da populao.

    A Anvisa coordena o programa em conjunto com as coordenaesde Vigilncia Sanitria dos estados da Federao envolvidos no Para,

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    os quais vm realizando os procedimentos de coleta dos alimentos nossupermercados para posterior envio aos laboratrios. No ano de 2008,os seguintes estados realizaram coletas de amostras seguindo o planode amostragem estabelecido pelo programa: Acre, Bahia, Esprito Santo,

    Gois, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Par, Paran, Pernambuco,Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, Tocantinse Distrito Federal. Nesse mesmo ano foram tomadas aes paraampliao do programa, tendo sido treinados nos procedimentos deamostragem os seguintes estados a serem integrados no Para no anode 2009: Amap, Amazonas, Cear, Maranho, Mato Grosso, Paraba,Piau, Rio Grande do Norte, Rondnia, Roraima. O estado de So Pauloest regressando ao Para no ano de 2009, onde realizar amostra

    fiscal de alimentos coletados nos supermercados e encaminhados aoInstituto Adolfo Lutz para verificao da conformidade dos alimentoscomercializados.

    Em 2008, o programa monitorou 17 culturas: abacaxi, alface, ar-roz, banana, batata, cebola, cenoura, feijo, laranja, ma, mamo,manga, morango, pimento, repolho, tomate e uva. A escolha destasculturas baseou-se nos dados de consumo obtidos pelo IBGE e na dis-ponibilidade destes alimentos no comrcio das diferentes unidades da

    Federao.As anlises dessas amostras foram realizadas pelos seguintes la-boratrios: Instituto Octvio Magalhes (IOM/Funed/MG), LaboratrioCentral do Paran (Lacen/PR) e pelo Instituto Tecnolgico de Pernam-buco (Itep).

    Metodologia de amostragem e analtica

    A opo por coletar os alimentos nos supermercados tem o obje-tivo de monitorar se os limites mximos de resduos de agrotxicosestabelecidos pela Anvisa esto sendo respeitados pelos produtores dealimentos. Dessa forma, as anlises realizadas servem como orienta-o ao setor produtivo na adoo de boas prticas agrcolas (BPAs),sempre que houver evidncias do no cumprimento das mesmas. OPara tambm um sinalizador para que sejam tomadas aes regio-

    nais, sejam elas de natureza fiscal, educativa ou informativa, de acordocom as condies de cada estado. O detalhamento dessas aes est

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    disponvel no relatrio do Para, no endereo http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/residuos/index.htm.

    A metodologia utilizada subsidia dados sobre a real exposio

    diettica da populao. Estes dados ajudam a tornar mais realistasas avaliaes de risco diettico, realizadas pela Anvisa, em relao presena de agrotxicos nos alimentos. O mtodo de coleta semelhante quele empregado nos Estados Unidos e em alguns pasesda Europa, o qual segue o plano de amostragem preestabelecidode acordo com a metodologia preconizada pelo manual do Codex

    Alimentarius Submission and Evaluation of Pesticide Residues Data for

    the Estimation of Maximum Residue Levels in Food and Feed (2002).

    O manual orienta que a coleta seja feita no ltimo ponto antes doconsumo. Alm disso, a coleta das amostras nos supermercados retrataa realidade do alimento que chega mesa do consumidor no Brasil,evitando-se assim o erro da amostragem em produtores previamenteselecionados por apresentarem condies de serem monitorados devidoao maior controle de qualidade no sistema produtivo.

    Desde 2001, o mtodo analtico empregado pelos laboratrios do

    programa o multirresduos. Trata-se do mais difundido e reconhecidomtodo para monitoramento de resduos de agrotxicos em alimentos.Pases como Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Canad e Austrliautilizam este mtodo em seus programas de monitoramento.

    Resultados

    O quadro 1 mostra os resultados insatisfatrios entre 2002 e 2008.

    Os resultados insatisfatrios referem-se quelas amostras que apre-sentaram ingredientes ativos de agrotxicos acima do limite mximode resduos (LMR) permitido ou resduos de IAs no autorizados paradeterminada cultura.

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    Quadro 1. Resultados insatisfatrios (%)*.

    Cultura 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Alface 8,64 6,67 14 46,65 28,68 40 19,8

    Banana 6,53 2,22 3,54 3,65 N 4,32 1,03

    Batata 22,2 8,65 1,79 0 0 1,36 2

    Cenoura 0 0 19,54 11,3 N 9,93 30,29

    Laranja 1,41 0 4,91 4,7 0 6,04 14,85

    Mamo 19,5 37,56 2,5 0 N 17,21 17,31

    Ma 4,04 3,67 4,96 3,07 5,33 2,9 3,92

    Morango 46,03 54,55 39,07 N 37,68 43,62 36,05

    Tomate 26,1 0 7,36 4,38 2,01 44,72 18,27

    Abacaxi 9,47

    Arroz 4,41

    Cebola 2,91

    Feijo 2,92

    Manga 0,99

    Pimento 64,36

    Repolho 8,82

    Uva 32,67

    N: anlises no realizadas.

    * Os resultados referem-se aos estados: AC, BA, DF, ES, GO, MG, MS, PA, PE, PR, RJ, RS,

    SC, SE, TO.

    ** O grupo qumico ditiocarbamato no foi analisado na cultura da alface em 2008.

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    Quadro 2. Dados consolidados do Para 2008.

    NA: no autorizado para a cultura; > LMR: acima do limite mximo de resduo.

    Discusso dos resultados por cultura

    Abacaxi

    Das 95 amostras analisadas de abacaxi, 9,47% (9 amostras) apre-sentaram resultados insatisfatrios em seu primeiro ano de monitora-mento, demonstrando que h necessidade de combater a utilizao deagrotxicos no autorizados para esta cultura, pois todas as irregula-

    ridades observadas referem-se a ingredientes ativos no autorizadospara utilizao na produo de abacaxi. Os IAs encontrados so os

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    seguintes: ditiocarbamatos (em 4 amostras), cipermetrina (3), acefato(1), que pertencem classe dos inseticidas. Destaca-se ainda a presen-a do ometoato (1), pois o uso deste IA no autorizado no Brasil paranenhuma cultura.

    Existem diversos produtos registrados para o controle de pragas edoenas no abacaxi. Por este motivo, considera-se alto o ndice de irre-gularidades observadas.

    AlfaceNo ano de 2008, foram analisadas 101 amostras da cultura de al-

    face. Deste total, 19,80% (20 amostras) foram consideradas insatisfat-rias, em decorrncia, exclusivamente, do uso de agrotxicos no auto-

    rizados para a cultura. Nas 20 amostras irregulares, foram constatadas25 ocorrncias de resduos, ou seja, algumas amostras apresentaramresduos de mais de um ingrediente ativo. Os ingredientes ativos de-tectados nessas amostras foram: carbendazim (em 9 amostras), me-tamidofs (5), clorpirifs (4), tebuconazol (2), carbaril (1), metomil (1),deltametrina (1), dimetoato (1), fempropatrina (1) e acefato (1).

    No ano de 2007, o percentual de irregularidades em alface foi de40%, devido ao uso, tambm exclusivamente, de ingredientes ativosno autorizados para a cultura (ditiocarbamatos, metamidofs, acefatoe clorpirifs). Dentre as 54 amostras irregulares, 94,4% (51 amostras)apresentaram resduos de ditiocarbamatos, ou seja, houve um usoindiscriminado deste grupo de agrotxicos na cultura. importanteressaltar que, neste ano de 2008, os ingredientes ativos do grupoqumico dos ditiocarbamatos no foram analisados devido a problemaslaboratoriais; portanto, no possvel fazer um comparativo entre osresultados de 2007 e 2008.

    ArrozForam analisadas 136 amostras de arroz, sendo que 4,41% (6

    amostras) foram consideradas insatisfatrias. Todos os ingredientes ati-vos detectados nestas amostras no so autorizados para esta cultura(metamidofs, flutriafol, ciproconazol e miclobutanil). Em funo disto,embora relativamente baixo, o percentual de resultados insatisfatriosindica uma necessidade de utilizao das boas prticas agrcolas (BPAs)

    visando ofertar ao consumidor um produto com nveis seguros de re-

    sduos, j que a cultura apresenta uma ampla grade de agrotxicosautorizados com as mais diferentes indicaes de uso.

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    Banana

    Foram analisadas 97 amostras de banana, sendo que uma delasapresentou-se insatisfatria (1,03%), com a deteco do fungicida fe-narimol, no autorizado para esta cultura. O baixo ndice de resultados

    insatisfatrios e a ausncia de amostras com resduos acima do LMRindicam que os produtores, em sua maioria, esto respeitando as boasprticas agrcolas (BPAs) recomendadas em bula, permitindo assim queos nveis de resduos estejam dentro dos limites de segurana estabe-lecidos pela Anvisa.

    Podemos ainda destacar que no monitoramento desta cultura noano de 2007, foram detectados procloraz e lambda-cialotrina, agro-txicos no autorizados para a cultura, o que no ocorreu no ano de

    2008.

    Batata

    Em 2008, foram analisadas 100 amostras de batata. Destas, 2%(2 amostras) foram consideradas insatisfatrias, tanto pela presenade agrotxicos acima do LMR (acefato em uma amostra) quanto pelapresena de resduos de agrotxicos no autorizados para esta cultura(endossulfam em uma amostra).

    Apesar desta cultura receber uma grande quantidade/variedade deagrotxicos em decorrncia de sua alta suscetibilidade a diferentes pra-gas, observa-se que os resultados tm apresentado uma pequena va-riao na ocorrncia de irregularidades nos ltimos anos. Em 2007, porexemplo, nas duas nicas amostras irregulares, detectaram-se resduosde endossulfam. Cabe ressaltar que a deteco de resduos desse IA considerada grave, pois, alm da reincidncia, este ingrediente ativopossui uso restrito no pas, sendo atualmente registrado apenas para

    as culturas de algodo, cacau, caf, cana-de-acar e soja.

    CebolaEsta cultura foi includa no programa em 2008. Das 103 amostras

    analisadas, 2,91% (3 amostras) foram consideradas insatisfatrias, emdecorrncia, exclusivamente, do uso de acefato, agrotxico no autori-zado para esta cultura. Considerando o fato de a cultura da cebola sercomumente plantada por pequenos e mdios produtores, ressalta-se a

    baixa ocorrncia de irregularidades, que pode ser atribuda adoodas boas prticas agrcolas no seu sistema produtivo.

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    CenouraDas 102 amostras de cenoura analisadas em 2008, 30,39% (31 amos-

    tras) apresentaram irregularidades, todas elas referentes a resduos deagrotxicos no autorizados para uso na cultura (metamidofs em 22;

    acefato em 15; clorpirifs em 10; profenofs em 3 e dimetoato em umamostra). Nas 31 amostras irregulares, foram constatadas 51 ocorrnciasde resduos, ou seja, mais de um ingrediente ativo foi constatado em al-gumas amostras.

    Embora em menor porcentagem (9,93% das amostras analisadas), re-sultado anlogo foi observado em 2007, com 16 ocorrncias de resduosde ingredientes ativos, invariavelmente, no autorizados para uso no cul-tivo da cenoura. O aumento observado em 2008 decorre principalmente

    da intensificao no uso dos ingredientes ativos acefato e clorpirifs, assimcomo da deteco de metamidofs em vrias amostras. importante res-saltar ainda que, apesar do metamidofs ser um metablito do acefato, oque impossibilita determinar sua origem (uso de acefato ou de metamido-fs), ambos so ingredientes ativos no autorizados para a cultura.

    Feijo

    O feijo comeou a ser monitorado tambm no ano de 2008, e fo-

    ram analisadas 137 amostras, das quais 2,92% (4 amostras) apresen-taram resduos de agrotxicos no autorizados para a cultura (diuromem duas e ciproconazol em uma amostra) ou acima do LMR (meta-midofs em uma amostra). Destaca-se, nestes resultados, a presenado IA diurom, um herbicida no autorizado para uso na cultura, queprovavelmente est sendo utilizado incorretamente como dessecanteou para antecipar a colheita.

    LaranjaForam analisadas 101 amostras de laranja. Verificou-se que 14,85%(15) destas amostras estavam insatisfatrias, tanto pela presena de re-sduos de agrotxicos acima do LMR (triazofs em uma amostra) quantopela presena de resduos de agrotxicos no autorizados para a cul-tura (cipermetrina em 9 amostras; procloraz em 3; profenofs em 2;endossulfam em 1; esfenvalerato em 1; e parationa-metlica em 1).

    A maioria dos resultados insatisfatrios resulta do uso de agrot-

    xicos no permitidos para esta cultura. Este fato condenvel, poisexpe tanto os produtores quanto os consumidores a agrotxicos e re-

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    sduos de agrotxicos que no foram avaliados do ponto de vista dasade pela Anvisa.

    Ma

    Na cultura da ma, seguindo a tendncia dos anos anteriores, osresultados do Para indicaram, em 102 amostras analisadas, uma por-centagem de irregularidades de 3,92% (4 amostras). Estes resultadospodem ser explicados pelo fato de a produo da ma estar inseridaem uma cadeia produtiva organizada, voltada essencialmente para aexportao, na qual as BPAs so, em geral, adotadas. Os ingredientesativos irregulares encontrados na cultura da ma foram os inseticidasdiclorvs (2 amostras) e triazofs (1), no autorizados para essa cultura,

    e metidationa (1), com resultado acima do LMR.

    Mamo

    O Brasil o maior produtor mundial e um importante exportador demamo. Alm disso, o consumo interno bastante alto, pois se tratade um fruto muito popular no pas. O percentual de irregularidades dasanlises de resduos na cultura do mamo foi de 17,31% (18 amostras)das 104 amostras analisadas.

    Esta cultura apresentou uma grande variedade de IAs no autorizados:dimetoato (em 4 amostras), ciflutrina (2), acetamiprido (1), acefato (1), me-tamidofs (1), endossulfam (1), metidationa (1) e epoxiconazol (1). Tam-bm apresentou amostras com a presena de resduos acima do LMR de:carbendazim (4), clorotalonil (2), famoxadona (2) e trifloxistrobina (1).

    Esse nmero de irregularidades, tambm verificado no ano de 2007(17,21%), considerado elevado.

    MangaEsta cultura foi includa no programa no ano de 2008 e foram anali-sadas 101 amostras. Destas, apenas 0,99% (uma amostra) foi conside-rada insatisfatria devido deteco do ingrediente ativo metidationa,que no tem o uso autorizado para a cultura. Este resultado permiteinferir que a produo de manga, de um modo geral, est seguindo asBPAs, o que de certa forma esperado, pelo fato de esta cultura serprioritariamente destinada ao mercado internacional, o qual exigente

    e possui regras rgidas para o adequado manejo da lavoura em todasas etapas do sistema produtivo.

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    MorangoNo ano de 2008, foram analisadas 86 amostras, sendo que 36,05%

    (31 amostras) foram consideradas insatisfatrias. Foram detectados re-sduos dos seguintes ingredientes ativos no autorizados para a cultu-

    ra: endossulfam (em 10 amostras), captana (8), clorfenapir (8), meta-midofs (5), acefato (3) clorotalonil (2), deltametrina (2), clorpirifs (2),folpete (2), procloraz (2) e tetradifona (1). Os resduos acima do LMRforam: ditiocarbamatos (2), fempropatrina (1) e tebuconazol (1). Nas31 amostras irregulares, foram constatadas 49 ocorrncias de resdu-os, ou seja, algumas amostras apresentaram resduos de mais de umingrediente ativo.

    Pelos resultados encontrados possvel observar que a utilizao de

    agrotxicos na cultura do morango muito intensa, com ampla utiliza-o de ingredientes ativos no autorizados. O percentual de irregulari-dades em 2007 foi de 43,62% contra 36,05% no ano de 2008. Apesarda reduo, esta porcentagem de irregularidade ainda consideradaalta.

    Pimento

    No primeiro ano de monitoramento, das 101 amostras de pimen-

    to analisadas, 64,36% apresentaram irregularidades (65 amostras).Nestas, foram identi