tirar alimentação do nosso quintal e levar para a mesa, sabendo que é tudo limpinho e sem veneno,...

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A agricultora Sara Maria Constâncio e o Agricultor Edvan Medeiros estão juntos há 18 anos. Moram no Assentamento São Domingos, em Cubati. Dessa união nasceram três filhos, uma menina (Kethillem) e dois meninos (Manuel Victor e Caio Yoham). O casal se conheceu em João Pessoa, no município do Conde (cidade de Sara). Edvan, que é de Cubati, trabalhava em uma granja tomando conta de cabras quando começou a se aproximar e a conhecer Sara. A família passou por muitas dificuldades, antes de chegar ao assentamento, mas todas foram vencidas como muita união, determinação e perseverança. Os agricultores chegaram ao assentamento São Domingos, em 2002, no fim do ano, entraram na RB (Cadastro Geral do Incra) e começaram a trabalhar na terra em 2003. Receberam 19 hectares, no local tinha três casas fora da agrovila e eles escolheram por reformar uma das casas, ao invés de construir, recebendo assim o recurso conveniado do Incra com a Caixa Econômica para reforma. Foi um longo processo para estruturarem a propriedade, fizeram vários empréstimos, acessaram vários apoios para conseguirem inclusive a cisterna de água de beber. Só tiveram condições de se mudar em definitivo para o lote em 2006, quando foi liberado o Pronaf para os assentados. Sara, relembra que quando não tinham cisterna, juntavam água num buraco e que depois que receberam o reservatório, tudo começo a mudar “agora tinha água de beber e para uso no trabalho, nós usávamos dos açudes e do poço”. Hoje, a família já conseguiu melhorar seu sistema, construíram dois tanques de anel, um de 1000l e outro de 800l, dos quais armazenam em média, de 280l a 300l por dia. Sara explica que depende muito, como estão fazendo economia de água e lavando a louça apenas do final do dia, esse volume tem diminuído um pouco. Conservam com água servida: Pimentão, tomate, cebolinha, alface, jerimum, berinjela, pepino, maracujá (semente da paixão da mãe de Sara, que produz de 2 a 3 meses, depois de semeada), quiabo, beterraba, couve, repolho, couve flor, salsinha, mamão, acerola, seriguela, coco, pimenta, amora, oliveira, morango, etc. Além dessas, também estão as medicinais: Malva rosa, penicilina, anador, dipirona, acônito, flor de sabugo, alecrim, arruda, hortelã grande e pequena, erva cidreira, erva doce, endro, jambur, mastruz, saião, coentro do pará (semente da paixão) erva babosa, sete ervas, insulina, amora, romã, alcachofra, mil folha e urtiga branca. A família também tem um Banco de Sementes Familiar e guardam sementes de: algodão branco, salsinha, sorgo branco, feijão natal, macassa, milho, feijão azul, feijão branco, mamona, coentro, jerimum de leite, jerimum caboclo, melancia, quiabo, mamão, graviola, pimentão, alface roxo, feijão gordo (semente que recebeu do seu tio, Geraldo, já falecido) e melancia gigante. Os sonhos para o futuro são muitos, veem os filhos crescerem cada dia mais saudáveis, por isso Sara reforça que “tirar a alimentação do nosso quintal e levar para a mesa, sabendo que tudo é limpinho e sem veneno, não tem preço”. Continuar produzindo e comercializando produtos e ter meios de permanecer na terra. Manejo da Água para Produção de Alimentos Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Saudáveis no Quintal de Sara e Edvan Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1867 Cubati Novembro/2014 Realização Apoio

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Tirar alimentação do nosso quintal e levar para a mesa, sabendo que é tudo limpinho e sem veneno, não tem preço

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Page 1: Tirar alimentação do nosso quintal e levar para a mesa, sabendo que é tudo limpinho e sem veneno, nã

A agricultora Sara Maria Constâncio e o Agricultor Edvan Medeiros estão juntos há 18 anos. Moram no Assentamento São Domingos, em Cubati. Dessa união nasceram três filhos, uma menina (Kethillem) e dois meninos (Manuel Victor e Caio Yoham). O casal se conheceu em João Pessoa, no município do Conde (cidade de Sara). Edvan, que é de Cubati, trabalhava em uma granja tomando conta de cabras quando começou a se aproximar e a conhecer Sara.

A família passou por muitas dificuldades, antes de chegar ao assentamento, mas todas foram vencidas como muita união, determinação e perseverança. Os agricultores chegaram ao assentamento São Domingos, em 2002, no fim do ano, entraram na RB (Cadastro Geral do Incra) e começaram a trabalhar na terra em 2003. Receberam 19 hectares, no local tinha três casas fora da agrovila e eles escolheram por reformar uma das casas, ao invés de construir, recebendo assim o recurso conveniado do Incra com a Caixa Econômica para reforma.

Foi um longo processo para estruturarem a propriedade, fizeram vários empréstimos, acessaram vários apoios para conseguirem inclusive a cisterna de água de beber. Só tiveram condições de se mudar em definitivo para o lote em 2006, quando foi liberado o Pronaf para os assentados. Sara, relembra que quando não tinham cisterna, juntavam água num buraco e que depois que receberam o reservatório, tudo começo a mudar “agora tinha água de beber e para uso no trabalho, nós usávamos dos açudes e do poço”.

Hoje, a família já conseguiu melhorar seu sistema, construíram dois tanques de anel, um de 1000l e outro de 800l, dos quais armazenam em média, de 280l a 300l por dia. Sara explica que depende muito, como estão fazendo economia de água e lavando a louça apenas do final do dia, esse volume tem diminuído um pouco. Conservam com água servida: Pimentão, tomate, cebolinha, alface, jer imum, ber in je la , pepino, maracujá (semente da paixão da mãe de Sara, que produz de 2 a 3 meses, depois de semeada), quiabo, beterraba, couve, repolho, couve flor, salsinha, mamão, acerola, seriguela, coco, pimenta, amora, oliveira, morango, etc. Além dessas, também estão as medicinais: Malva rosa, penicilina, anador, dipirona, acônito, flor de sabugo, alecrim, arruda, hortelã grande e pequena, erva cidreira, erva doce, endro, jambur, mastruz, saião, coentro do pará (semente da paixão) erva babosa, sete ervas, insulina, amora, romã, alcachofra, mil folha e urtiga branca.

A família também tem um Banco de Sementes Familiar e guardam sementes de: algodão branco, salsinha, sorgo branco, feijão natal, macassa, milho, feijão azul, feijão branco, mamona, coentro, jerimum de leite, jerimum caboclo, melancia, quiabo, mamão, graviola, pimentão, alface roxo, feijão gordo (semente que recebeu do seu tio, Geraldo, já falecido) e melancia gigante. Os sonhos para o futuro são muitos, veem os filhos crescerem cada dia mais saudáveis, por isso Sara reforça que “tirar a alimentação do nosso quintal e levar para a mesa, sabendo que tudo é limpinho e sem veneno, não tem preço”. Continuar produzindo e comercializando produtos e ter meios de permanecer na terra.

Manejo da Água para Produção de Alimentos

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Saudáveis no Quintal de Sara e Edvan

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1867

Cubati

Novembro/2014

Realização Apoio

Page 2: Tirar alimentação do nosso quintal e levar para a mesa, sabendo que é tudo limpinho e sem veneno, nã

O acesso a terra também foi fundamental para que Sara passasse a valorizar a agricultura como uma atividade de subsistência “Eu vim me apaixonar pela agricultura por vê o carinho do meu sogro e de Edvan com a terra. Ter a terra foi presente de Deus, de lá prá cá a gente não passou mais por dificuldades”.

Nessa época, Sara enfrentou a perda de seu pai e ficou vários meses com depressão. Em seguida, ela que já tinha dois filhos (Kethillin e Victor) engravidou do terceiro, em outubro (2009) e teve muitos problemas de saúde. Isso a deixou longe do trabalho por alguns dias. Mesmo assim ainda conseguiram lucrar bastante em de 2010.

Em 2011 as chuvas foram poucas, no final do ano começaram a conhecer o trabalho do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar. Sara, conheceu agricultoras que lhe falaram sobre o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e sobre as Cisternas-Calçadão e ela ficou atenta para participar das reuniões na comunidade e ter acesso.

Acesso ao Mercado - No começo de 2012, ela fez o cadastro do PAA, tudo isso antes de se envolver na dinâmica do Coletivo. Mesmo contra a vontade de Edvan, a agricultora começou a produzir. Como o ano foi de pouca chuva e quase não armazenaram água, Sara passou a usar a água do poço aguando uma vez por dia as hortaliças que era para dar conta da demanda do PAA. Edvan diz que achava tudo uma loucura, mas ela foi muito perseverante.

No mesmo ano (2012) ela foi participando das reuniões do Coletivo em Coalhada, foi então que teve um intercambio em Solânea onde conheceu a fossa (vaportranspiração) e o quintal de Dona Irene, o que chamou sua atenção para produção no quintal de sua casa.

Ela conta que no inicio cultivava as hortaliças na área coletiva, nas vazantes, só que quando secou tudo começaram a usar a água do poço e transferiram a horta para o quintal. Plantou 20 pés de tomate e pimentão, que se adaptaram a água do poço, mas a alface e o coentro se atrasaram no crescimento.

Depois de algum tempo usando a água do poço, Sara conta que estava assistindo a um programa de TV, quando viu a experiência da água servida, o uso da brita, carvão e cinza para filtrar o sabão, isso lhe chamou a atenção e ela passou a experimentar na água salobra, mas a cinza não deixava a água passar, então tiraram e passaram a usar só carvão e a brita.

Pegavam um tambor de 230l, colocavam uma torneira na parte de baixo e colocavam a água do poço por cima, e assim foram aguando o quintal. Através dessa estratégia de experimentação conseguiram dar conta do PAA e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Mesmo com o longo período de estiagem em 2012, conseguiram tirar com o PAA e PNAE, na primeira parcela, R$ 560, que serviu para saldar dividas. E a cada parcela o valor aumentava, chegando a R$ 1.600 de abril até dezembro de 2012. Com esse dinheiro conseguiu comprar um armário para cozinha, computador, cafeteira, batedeira.

Durante esse período Edvan cuidava das 21 cabeças de reis, sendo 5 matrizes leiteiras, o leite e os bolos eram vendidos no PAA, chegaram a arrecadar R$ 2.500 por mês com a venda dos produtos. Nesta época, Sara estava envolvida nos trabalhos da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), o que lhe motivava a continuar lutando. Em 2013, receberam o Barreiro Trincheira, mesmo estando na dinâmica do Coletivo participaram de todos os momentos de formação, fizeram cadastro pra poder receber a tecnologia.

Depois do Barreiro Trincheira (800 mil litros), Edvan diz que seu trabalho diminuiu, já que a distância é de 3 km da sua casa para a área do lote, e ele fazia esse percurso, todos os dias, para dar água aos animais. “O acesso água melhorou muito depois que recebemos o reservatório, por que o gado pasta e bebe lá mesmo”.

Hoje (2014), mesmo nesse longo período de estiagem, não deixaram de lucrar em casa e no lote, “temos sementes boas (resistentes). Mesmo sem chuva lucraram 4 sacos de feijão seco, venderam mais de 1. 700 kg de feijão verde e uns 300 kg de maxixe.

Atualmente, trabalham em meia hectare, das 50 hectares da área coletiva e no lote da família trabalham mais 7 hectares. Fornecem Alimentos produzidos no quintal, usando a estratégia da água servida, para a Bodega e para Feira da Agricultura Familiar (hortaliças, bolos, biscoitos e manteiga). Sara também diz que fornece bolos para três mercadinhos em Cubati.

Edvan disse que tem duas vacas no rebanho que estão produzindo 15l de leite, usados nos bolos, biscoitos, doces e manteiga e o excedente é vendido para o Programa do Leite da Paraíba, são repassados 10l em dias alternados. Atualmente, a renda da família está em torno de 800 reais por mês.

Água Servida – Para manter o quintal sempre produzindo, mesmo no longo período de estiagem entre 2013 e 2014, a família faz o aproveitamento da água servida. A partir da diminuição da água do poço, conta o casal, Sara começou a aparar a água da pia da louça com um balde e colocar nas plantas, depois, Edvan vendo o trabalho e o esforço da mulher, pegou dois cochos (tinas) um de 100l e outro de 200l, suspendeu o primeiro, colocou brita, carvão e areia para filtrar os resíduos e furou por baixo. A água passava para a outra tina de 200l, de onde Sara pegava com um regador e saia aguando as plantas, menos a alface e o coentro.

Articulação Semiárido Brasileiro – ParaíbaBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas