caderno de Ética na política

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Caderno de Ética na Política, da autoria de Luís Pedro Mateus.

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Page 1: Caderno de Ética na Política

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1 - INTRODUÇÃO

O código moral na política deve primar por princípios como a honestidade, a coerência, o

altruísmo, o respeito e a elevação. Deve ser cultivado um dever de servir, uma escola de

pensamento da política como prática do bem comum.

A uma organização política que se diz diferente das demais, não é demais insistir, nos tempos

que correm, na credibilização da política da única forma possível: assunção clara, em todos os

momentos, da Ética na acção política.

Para tal, além da atenção constante ao “exterior”, na denúncia e crítica veemente de casos

que desprestigiam a política, é necessário primeiro, internamente, “arrumar a casa” nesse

aspecto.

Na Juventude Popular deve haver tolerância zero com quaisquer comportamentos que

vulgarizem a actividade política.

Para se construir uma imagem credível a este nível, para a Juventude Popular se poder tornar

numa referência nesse aspecto, é imperativo que se entre num processo de reflexão e de

acção interna, por forma a garantir que atropelos éticos não são tolerados.

Aí, sim, haverá credibilidade total para a Juventude Popular se assumir como um referencial

de integridade na política.

No que à Juventude Popular diz respeito, não basta dizer-se diferente e entorpecer com a

repetição duma frase feita.

É preciso garantir que, de facto, se é diferente e lutar por isso todos os dias.

Dentro e fora da instituição.

2 - DUALISMO DE CONCEITOS

“Todo o Homem deve afirmar sincera e corajosamente o seu pensamento. A

institucionalização da mentira e do oportunismo trai a liberdade e a autodeterminação,

conduzindo o meio social e político para sucessivas rupturas violentas. O Homem político é

militante para o povo e a Humanidade, e todo o humanista deve ser um Homem político.”

Carta Personalista da Juventude, artigo 5º

A Política deve ser entendida - principalmente por nós que somos jovens e quase todos, por

condição, idealistas - como uma prática do bem comum. Esta visão aristotélica, mais idealista e

reminiscente da antiguidade clássica é posta à prova pela definição maquiavélica (e mais

actual) da Política como ciência do Poder. Ou seja, Política como ciência de obter o Poder, ou

de apenas mantê-lo.

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Ainda hoje se assiste ao choque entre estas duas versões. Prova disso mesmo é a percepção

dos cidadãos sobre a política e os políticos: trespassa por eles a imagem de que os políticos

estão mais interessados em obter cargos e poder, do que em efectivamente representar os

eleitores e lutar pelo bem estar dos mesmos. Ou seja, esta gritante desilusão instalada em

relação aos políticos e à política existe somente porque está enquadrada nesta dicotomia

(mesmo que inconsciente para as pessoas) entre os dois conceitos. Entre o idealismo, a pureza

do conceito nobre da política, e o realismo, pervertido pelo erro humano. Espera-se que o

político seja melhor, mais elevado (porque a política, ela própria, deve ser elevação) e quando

ele não o é, o mesmo cai em descrédito e com isso desacredita a política.

Na assunção de que a Política deve ser a prática de um bem comum, por consciência moral e

ética de que é mais correcto e mais nobre que assim seja, assume-se então a Política como um

desdobramento natural da Ética. Por sua parte, assume-se a Ética como a ciência das

condutas, posições adquiridas entre vícios e virtudes, entre bem e mal, remetendo-nos para o

objectivo final de garantir a possibilidade da persecução da felicidade.

Nesse seguimento da Ética como um modo de garantir a possibilidade da persecução da

felicidade individual, a Política só pode ser vista como o seu desdobramento, mas visando,

através desse garante a cada indivíduo, a possibilidade de uma felicidade abrangente. Ou seja,

o bem comum. Nesse processo, a Política então investigará a forma de governo que melhor

assegure esse fim, ou seja, a constituição do Estado e suas competências de acção ou limites

às mesmas.

3 - ALTRUÍSMO E INTEGRIDADE

“A pessoa é o indivíduo inserido e convivente em sociedade. Valoriza por isso, as

motivações sociais sobre o ânimo individualista, a solidariedade na base da ideia ou do

sentimento comum sobre o estrito prazer pessoal”

Carta Personalista da Juventude, artigo 7º

A prática do bem comum é, sem dúvida, uma das grandes provas do altruísmo inerente ao

Homem. Como tal, sendo a política a capacidade que o Homem tem de se comprometer com

os seus pares, lutando pelo melhor bem estar possível daqueles que representa, parece-nos

interessar mais explorar e cultivar essa visão em detrimento da visão do “poder pelo poder”.

Ao tomarmos consciência disso e ao assumi-lo abertamente, devemos então agir em

conformidade: quer no panorama interno da política (neste caso dentro de uma Juventude

Partidária), quer no panorama externo, no contacto com os jovens eleitores.

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“As acções dos homens são os melhores intérpretes dos seus pensamentos.”

John Locke

As nossas acções definem quem somos. Regularmente somos confrontados, vítimas das

nossas emoções, com a pior versão de nós próprios. Na política, por via de nela se investir

muito tempo pessoal e de nela se conviver com uma grande variedade de convicções

pessoais, é comum que as emoções fluam com mais facilidade e nos desviem do racionalismo

e pragmatismo necessários à intervenção política.

A educação, o respeito e a integridade, já por si valores civilizacionais em qualquer contexto,

assumem uma importância redobrada no contexto político. O político coloca-se numa posição

de escrutínio público e deve ser, tanto quanto é humanamente possível, um referencial de

credibilidade. A imagem por si projectada reflecte-se igualmente na instituição que

representa e na classe política em geral. Por esta mesma razão, o dever de responsabilidade e

contenção, se escrupulosamente cumprido, verá retribuição no respeito de colegas e

cidadãos.

Um partido político ou, neste caso, uma juventude partidária, não pode ser alheia a situações

de falta de transparência no desempenho dos cargos, comportamentos gravosos ou acções

que causem dolo à imagem da instituição. Mais importante que uma reacção pronta de nível

normativo, estabelecida em regulamentos internos, é a reacção de todos os militantes a casos

que eventualmente ocorram: deve haver uma cultura interna de repúdio imediato de

situações que ultrapassem os limites do aceitável. Quando isto não é feito, a imagem que é

transmitida para os recém-chegados é a de uma praxis permissiva com esse tipo de

ocorrências. A praxis é absorvida, banalizada, o ciclo vicia-se e repete-se.

4 - RESPEITO E COERÊNCIA

“É dever do homem respeitar e proporcionar aos demais, os direitos que reclama para si

próprio. O homem não acumula privilégios; detém e exerce direitos, e cumpre os deveres

inerentes.”

Carta Personalista da Juventude, artigo 8º

O acto de oposição política deve ser sustentado numa dinâmica de debate profícuo, em

elevação e respeito, com conteúdo ideológico. Uma oposição de ideias, de conteúdo.

Tentativas de debates sustentados em considerações e ataques pessoais mútuos e

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levantamento de suspeitas mal sustentadas, a nada levam senão a uma polarização

indesejável e a uma imagem da tal política como forma de atingir o poder, custe o que custar,

à custa de quem custar.

O acto de discordância, de oposição, é algo vital dentro da dinâmica de uma instituição

política. Mas a oposição quer-se sempre construtiva, de pendor ideológico, de projecto e de

vontade de servir mais e melhor. Não se podem compreender disputas sem diferenças

ideológicas ou de projecto marcantes, mas apenas vincadas pelos desgostos pessoais

recíprocos dos intervenientes de cada lado.

De igual forma, a maneira como se escolhe exprimir desacordos e frustrações, normais e

salutares na política, deve atender ao bom senso da forma como tal é feito e dos locais onde é

feito. Numa altura em que, por intermédio das redes sociais, se consegue chegar a muito mais

gente e muito mais depressa, a forma como se transmitem certos pensamentos deve ser

ainda mais cuidadosa. Sempre que se recorre ao ataque pessoal ou levantamento de suspeitas

em relação a terceiros, possuidores de cargos na instituição, está-se, para além de prejudicar a

imagem do visado, a prejudicar a imagem da instituição. Como tal, por arrasto, o próprio que

escolhe esta forma de combate político está, inadvertidamente, a prejudicar-se a si próprio.

Se a imagem da instituição é denegrida de forma tão banal e intangível, prejudica todos os

que dela escolheram fazer, ou continuar a fazer parte.

“Reconhece sempre que indivíduos humanos são fins, e não os uses como meios para os teus

fins.”

Immanuel Kant

A Juventude Popular, profundamente influenciada pelos valores personalistas e liberais no

que concerne os direitos e dignidade do indivíduo, desde sempre esteve na linha da frente do

combate da exploração quer do Homem pelo Estado, quer do Homem pelo Homem.

Esta postura, esta marca ideológica, do indivíduo como centro das preocupações políticas tem

ser reflectida, igualmente, no panorama interno da instituição.

Não são compatíveis com estes valores, situações em que se tratam militantes como números

ou como ovelhas a serem contadas, sempre que um acto eleitoral ocorre.

Numa juventude partidária que, juntamente com o partido, sempre criticou caciquismos, é

inadmissível que alguns actos eleitorais sejam precisamente marcados por tiques caciquistas.

Os militantes não devem ser simplesmente mobilizados e instruídos a votar em determinada

lista. Deve haver a preocupação genuína, de todas as listas, em informar e chegar ao maior

número de militantes possível. Os votos devem ser informados, em consciência, e não a

mando. Sempre que tal não acontece, é uma pequena machadada que se dá na Democracia e

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um presente delicioso para as forças que sempre a ela se opuseram.

Da mesma forma, os votos em Conselhos e Congressos devem ser votos livres, conscientes e

esclarecidos. Não é aceitável que conselheiros sejam “mandados” votar X ou Y, sendo

particularmente importante alertar que é tão desprestigiante ditar sobre a direcção do voto como

aceitar como normal esse tipo de intromissão numa decisão que é pessoal e intransmissível.

Talvez estes princípios sejam demasiado idealistas, mas se se proclama para o exterior as

diferenças da nossa jota em relação às outras, é precisamente nestes pontos que se deve

apostar seriamente em evitar parecenças. Mesmo trantando-se de prácticas generalizadas. Se

todos o fizermos, todos ganharemos.

5 - CONCLUSÃO

“Actua de forma a que o teu princípio de acção possa ser seguramente feito Lei para o

mundo inteiro.”

Immanuel Kant

A postura de todos os militantes é de primeira importância. De pouco interessa que muitos

tenham uma postura correcta quando outros insistam em não a ter. O que fica sempre na

mente das pessoas são os “casos”, as falhas.

Por todas as razões expostas, este documento pretende promover a reflexão da importância

do cumprimento da Ética na acção política de cada um. Tenta consciencializar todos nós para

o reflexo dos nossos actos, por vezes irreflectidos, na imagem da Juventude Popular, do CDS,

da política, dos políticos e, acima de tudo, de nós próprios.

O tom e a intenção deste documento nunca se quis de teor paternalista ou superior, nem o

seu autor o é ou tenta sê-lo.

No fundo, tudo o que se pretende é que todos recordemos as razões primeiras que nos trouxeram

à política, aquelas razões que deflagraram a primeira chama e o encanto inicial do nosso interesse.

Por vezes, de tal forma absorvidos na nossa dinâmica interna, esquecemo-nos do que nos trouxe

aqui.

Esquecemo-nos da visão que os jovens extra-política têm sobre a mesma e de que maneira

poderemos estar a contribuir, sem o perceber, para essa visão geralmente negativa.

Esquecemo-nos de que podemos ser sempre melhores do que o que somos.

Nunca é demais lembrarmo-nos.

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