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Apesp – 20 anos Trabalhando pela cultura na segurança Neste ano de 2006, a Associação Pró- Editoração à Segurança Pública, popularmen- te conhecida de nosso público como “APESP”, organização pioneira no apoio e incentivo à produção intelectual e ao desenvolvimento cultural no contexto institucional da seguran- ça pública estadual, está completando seus vinte anos de criação. Ao longo desses vinte anos de ativida- des somente agora é possível parar para re- fletir um pouco a respeito das realizações dessa entidade e fazer uma avaliação acerca de seu papel político-institucional e do traba- lho desenvolvido nessas duas primeiras dé- cadas, marcadas pelo idealismo, pela renún- cia e pela dedicação de seus laboriosos cola- boradores, no enfrentamento das dificuldades e vicissitudes características das organiza- ções dedicadas às atividades culturais. Desde os idos de 1985, um grupo de abnegados integrantes da Brigada Militar co- meçava a debater a idéia de fundar uma agre- miação cultural genuinamente voltada à edi- toração da produção intelectual brigadiana. Naqueles dias difíceis de um passado que já começa a se distanciar, nos quais la- butavam os pioneiros da idéia inovadora, ocorreu, paradoxalmente, uma manifestação expressa do Comando da Brigada Militar, quando instado a manifestar-se a respeito, opondo-se à idéia da criação de uma entida- de voltada à consecução de tais objetivos e cuja denominação envolvia o nome da Briga- da Militar. Esse paradoxo, entretanto, era perfeita- mente compreensível, pois estávamos viven- ciando uma época de intensos movimentos políticos que buscavam implantar a redemo- cratização do país, depois de vivido um perí- odo autoritário de Estado que já se prolonga- va por dois decênios e cujo cenário futuro era prenhe de dúvidas e temores e, como sabe- mos, as incertezas fazem com que as pesso- as e as instituições acabem agindo sempre com redobradas cautelas, por mais infunda- dos que tais temores possam parecer. Naquele momento histórico, o que trans- parecia da postura institucional é que o pen- samento corporativo levava em consideração, especialmente, a herança histórica brasilei- ra, experimentada desde a década de 1920, segundo a qual muitas organizações culturais haviam-se tornado centros de debate das ques- tões nacionais, propagando focos paralelos de poder, geradores de instabilidades sobre as quais as instituições oficiais não podiam exer- ceu um controle direto. Apesar de ver seu primeiro intento obsta- do, perseverou, o grupo originário, na concreti- zação da idéia, que prosseguiu seu desenvolvi- mento conduzido, agora, pela preocupação de não provocar qualquer forma de instabilidade nas relações da nascente organização cultural com a mais que centenária instituição pública gaúcha que representava a Brigada Militar. Foi assim que a agremiação terminou por focar sua atenção institucional sobre o fomento à produção intelectual no campo institucional da segurança pública, abrangendo, assim, uma multiplicidade de vivências e saberes específi- cos que transitam nessa área de atividade, não ficando, pois, adstrita ao campo restrito relativo aos temas de polícia militar, como era o seu in- teresse primacial. Dessa forma, o próprio pro- cesso histórico havia-se encarregado de fazer com que todos passassem a vislumbrar, num segundo momento, que estávamos, na verda- de, reduzindo nossa própria ação a um campo fragmentário daquele universo muito mais rico e abrangente da complexidade institucional al- bergada pelo setor. A partir daí, o crescimento vigoroso das atividades da Associação foi inevitável e já no ano de 1987, quando a Brigada Militar come- morava os 150 anos de sua criação a APESP participava, em parceria com a Comissão Lite- rária do Sesquicentenário da BM, sob a chan- cela de “Editorial Presença”, da co-edição de diversos títulos da “Coleção Sesquicentenário da Brigada Militar”. Esse exitoso trabalho inau- gural deveu-se ao pioneirismo, à capacidade e à visão empreendedora do então Major José Hilário Retamozo, renomado poeta brigadiano, que fora designado como Presidente daquela Comissão e, ao mesmo tempo, tinha sido eleito primeiro Presidente da APESP, já que era um dos principais idealizadores da entidade, junta- mente com o grupo que dava sustentação à idéia e trabalhava para a concretização de seus pro- jetos inovadores. Do significativo sucesso alcançado duran- te a experiência editorial vivida durante os fes- tejos do sesquicentenário, veio a transformação da Comissão Literária, de caráter temporário, em Comissão Editorial da BM, como órgão de cará- ter permanente na estrutura institucional da Mi- lícia Gaúcha, sendo mantida a parceria editorial com a APESP, da qual resultou a edição de mais de quarenta títulos, retratando os mais diversos temas de interesse profissional e de cultura ge- ral. Hoje, com inúmeras obras editadas, ou em relação às quais influenciou e colaborou decisi- vamente para que viessem a público, versando sobre temas variados, de interesse tanto das polícias e corpos de bombeiros militares, como das polícias civis, dos serviços penitenciários, de polícia técnico-científica, além de muitos títulos de cultura geral, produzidos pelos es- critores que atuam nas instituições de segu- rança, a APESP é uma organização que cres- ce e se vê divulgada amplamente na condu- ção da bandeira do ativismo cultural, em um Estado que se destaca no cenário nacional pela produção de uma pujante literatura regi- onal fomentada por inúmeras agremiações li- terárias, artísticas e culturais. Dentre as realizações mais recentes da APESP ganham destaque as Antologias de Poetas Brigadianos, tradição que está indo, neste ano, rumo à concretização de sua quin- ta edição, a par da primeira edição da Antolo- gia Poética de Policiais Civis e da Antologia de Contistas Brigadianos, em 2004, dos Prin- cípios Básicos de Atuação Operacional nos Estabelecimentos Penais, em colaboração com a Escola do Serviço Penitenciário e, ain- da, as recentes edições da Cronologia Histó- rica da Polícia Civil no RS e do livro Aspectos da Origem e Evolução da Brigada Militar, nes- te ano de 2006. Também não poderia deixar de ser feita referência ao Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano (o ABC da Segurança Pú- blica), cujas edições circulam encartadas pe- riodicamente no jornal, espalhando-se por todo o Rio Grande do Sul, divulgando as letras e os valores culturais do segmento da seguran- ça pública, já tendo sido alvo de rasgados elo- gios do público leitor, bem como de pessoas e agremiações que, entrando em contato com esse veículo, surpreenderam-se com o signi- ficativo potencial de produção intelectual e artística, aliado a um intenso ativismo cultural que floresceu entre os irmãos de ofício que atuam nas instituições do setor da segurança pública gaúcha. Por tudo o que fez, faz e continuará fa- zendo pela segurança pública do RS, nada mais justo do que almejarmos vida longa e plena de realizações à APESP, neste ano em que festeja seus florescentes vinte anos. FE- LICIDADES redobradas à instituição gaúcha que faz acontecer a cultura na segurança. 1 Major da Reserva da Brigada Militar e Secretário da APESP (Gestão 2006-2008). Pércio Brasil Álvares 1 Caderno Cultural do Jornal Correio Brigadiano Ano III - Nº 7 Dezembro 2006 Atual diretoria executiva da Apesp: acima, da esquerda para a direita, Sgt Claudio Bayerle, Cel RR Délbio Vieira. Abaixo, Sgt Luiz Velasques e Maj Res Pércio Álvares

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Comemorativo aos 20 anos da Apesp, 5jul1986/2006.

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Apesp – 20 anosTrabalhando pela cultura na segurança

O desenho acima, publicado em janeiro de1927, na edição número dez da Revista Pindo-rama, mostra o projeto do prédio do QCG daBM, cuja pedra fundamental foi lançada em 14de julho de 1927.

O engenheiro civil que apresentou o proje-to foi o doutor Theóphilo Borges de Barros, den-tro de um estilo próprio em que se “sobressae aordem dorica - de linhas fortes e equilibradas -como convém a um quartel.

O edifício contém dois torreões, que, naépoca do projeto, eram destinados à residênciado comandante da BM e do assistente do pes-soal.

Além das dependências normais de umquartel, como alojamentos e locais destinadosà guarda de armamento, equipamento e farda-mento, eram previstos locais para funcionamen-to de serralheria, carpintaria, ferraria, marcena-ria, alfaiataria, estofaria, depósito, garagens, etc.

Para a construção do novo quartel foi ne-cessária a demolição do edifício antigo ondeestava instalado o Comando-Geral da BrigadaMilitar.

O edifício ocupava uma área de dois milmetros quadrados e, pelo projeto original, aten-dia todas as exigências para o funcionamentodos serviços necessários à corporação.

Hora crepuscular de domingo – 5/3/2006 – exatamente 18h25 min, momento em que aspessoas de temperamento melancólico tornam-se mais vulneráveis, propensas a desmanchosinteriores, a íntimos enlevos.

Já instalado no ônibus do BOX n° 43 da Estação Rodoviária de Porto Alegre, passo aobservar um jovem casal na iminência de embarcar. Sentados face a face, frente à bagagemvolumosa, dispõem-se a enfrentar longa viagem (ou será que padecem a mágoa de breve forçadoafastamento?).

Natural me parecer ser, que passem despercebidos ante a multidão tumultuária e rumorosada estação, para a qual parecem devolver a mesma indiferença afetiva. Foi a crônica empatiacom a farda brigadiana que me levou a percebê-los. O soldado e a esposa - como sinalizam asalianças na mão esquerda – estão a prodigalizar, em meio àquele desvairamento coletivo,contagiante cena de ternura e beleza. Destacam-se principalmente pela distinção. Sim, porque abeleza, quando desacompanhada da distinção, roça à vulgaridade.

Ele enverga singelo, mas impecável fardamento de instrução. A relativa distância não mepermite ler o nome apenso do lado esquerdo da camisa-de-campanha, tampouco o brasão daUnidade a que pertence. Porta revólver e, no cinto, munição suplementar. Seu rosto é claro, oslábios finos, cabelos pretos, lisos. Apesar da idade, já esboça incipiente calvície na região occipital.No lado direito da camisa-de-instrução ou de combate, ostenta pequeno distintivo impresso emazul (este detalhamento excessivo justifica-se, porque não me resigno a que a ambos não cheguemos acenos de minha admiração).

A esposa tem um rosto bonito. Sorri, plena de jovialidade. Veste-se de maneira discreta,apanágio das mulheres verdadeiramente elegantes. Mantém a cabeça altiva, como num perfil dedeusa. Acabam de fazer pequeno lanche e merece sublinhar-se a observância da etiqueta, ochamado bom - tom como o faziam - incapazes de umedecerem, sequer, as pontas das unhas.Em suma, retratavam muito bem a Corporação representada.

Comovente a maneira como entretinham os olhos um no outro. Ele, como a reeditar osversos do Neruda: “Gosto de envolvê-la com meus olhos, com meus olhos que nada mais vêemquando a envolvem”... Percebível, claramente percebível, o encantamento e o diálogo carinhosoque mantinham. O distinto colega-de-farda a intervalos olhava para trás, ora à direita, ora àesquerda, num gesto reflexo de permanente vigilância. Submetia-se a esse “desconforto dacabeça mal voltada” - como na descrição pessoana -, pois à missão de proteger a sociedade, selhe adicionava (com todo o direito de adicionar, viram !?) a missão de proteger a amada.

Fato singular: a dureza da profissão que abraçou, não se mostrava inconciliável com osgestos que delicadamente, amorosamente, inexcedivelmente, tributava à esposa.

Em determinado momento ele beija o dedo indicador e vai colher microscópica partículapousada na face da esposa-namorada. Depois, beija-a suavemente, sem aquele despudor comque, hodiernamente, os moços expõem - e aviltam – suas futuras esposas na via pública.Impossível e injusto não admirá-los. Mostram-se dignos um do outro. Merecem-se. E dão,descalculadamente, uma sublime lição de amor-sentimento, de inefável bem-querer.

Ao contemplá-los (porque faculdade distinta do simples ver), incoercíveis cogitaçõesassomaram em minha mente: “Estarão de retorno da Operação Golfinho?... Parece um salva-vidas!... Uma intempestiva insensível transferência para a Capital te-los-ia obrigado a viveremem lugares distantes?”... E logo, por um desses estranhos mecanismos da memória, intuo quenão há funções grandes nem pequenas, apenas funções bem exercidas e funções mal exercidas.E que o amor, como vibração da essência divina, independe das circunstâncias de local e detempo.

Meu ônibus parte. Leva-me em “estado de graça”. Então se me redesenha, com incrívelnitidez, minha mãe em desespero, abraçada a meu pai (ex-combatente de 30 e de 32), numamadrugada brumosa e fria, enquanto calçava pressurosamente as perneiras, para coibir desordensnos focos de virulentos inimigos da sociedade.

Lembrei-me das mesmas apreensões que, mais tarde, haveria de padecer minha esposa.Hoje, decorridos apenas três dias do pôr-do-sol do último domingo, momento em que agonizavam,em todo mundo - não só nos “bentos cantos dos conventos”- as orações a Nossa Senhora, pedia ela para que jamais aqueles enamorados se quedassem vencidos. E nesta data em que secomemora o Dia Internacional da Mulher, sinto impor-se, complementarmente, a criação do Diada Mulher Brigadiana, quer a enquadrada militarmente em nossas fileiras, quer a que se tornoucativa de nossos laços afetivos. É que, o desapego à ostentação, o espírito de renúncia, a buscado amor pelo amor, a resignação a uma vida singela, constituem as mais incisivas de suasvirtudes.

Socorro-me dos jornais brigadianos, como única forma de fazer chegar a todos e a cada umde nossos soldados (quem sabe ao próprio casal-enamorado), a música daquelas fisionomiasque o tempo enrugará, mas não conseguirá silenciar.

O jovem casal

Neste ano de 2006, a Associação Pró-Editoração à Segurança Pública, popularmen-te conhecida de nosso público como “APESP”,organização pioneira no apoio e incentivo àprodução intelectual e ao desenvolvimentocultural no contexto institucional da seguran-ça pública estadual, está completando seusvinte anos de criação.

Ao longo desses vinte anos de ativida-des somente agora é possível parar para re-fletir um pouco a respeito das realizaçõesdessa entidade e fazer uma avaliação acercade seu papel político-institucional e do traba-lho desenvolvido nessas duas primeiras dé-cadas, marcadas pelo idealismo, pela renún-cia e pela dedicação de seus laboriosos cola-boradores, no enfrentamento das dificuldadese vicissitudes características das organiza-ções dedicadas às atividades culturais.

Desde os idos de 1985, um grupo deabnegados integrantes da Brigada Militar co-meçava a debater a idéia de fundar uma agre-miação cultural genuinamente voltada à edi-toração da produção intelectual brigadiana.

Naqueles dias difíceis de um passadoque já começa a se distanciar, nos quais la-butavam os pioneiros da idéia inovadora,ocorreu, paradoxalmente, uma manifestaçãoexpressa do Comando da Brigada Militar,quando instado a manifestar-se a respeito,opondo-se à idéia da criação de uma entida-de voltada à consecução de tais objetivos ecuja denominação envolvia o nome da Briga-da Militar.

Esse paradoxo, entretanto, era perfeita-mente compreensível, pois estávamos viven-ciando uma época de intensos movimentospolíticos que buscavam implantar a redemo-cratização do país, depois de vivido um perí-odo autoritário de Estado que já se prolonga-va por dois decênios e cujo cenário futuro eraprenhe de dúvidas e temores e, como sabe-mos, as incertezas fazem com que as pesso-as e as instituições acabem agindo semprecom redobradas cautelas, por mais infunda-dos que tais temores possam parecer.

Naquele momento histórico, o que trans-parecia da postura institucional é que o pen-samento corporativo levava em consideração,especialmente, a herança histórica brasilei-ra, experimentada desde a década de 1920,

segundo a qual muitas organizações culturaishaviam-se tornado centros de debate das ques-tões nacionais, propagando focos paralelos depoder, geradores de instabilidades sobre asquais as instituições oficiais não podiam exer-ceu um controle direto.

Apesar de ver seu primeiro intento obsta-do, perseverou, o grupo originário, na concreti-zação da idéia, que prosseguiu seu desenvolvi-mento conduzido, agora, pela preocupação denão provocar qualquer forma de instabilidadenas relações da nascente organização culturalcom a mais que centenária instituição públicagaúcha que representava a Brigada Militar.

Foi assim que a agremiação terminou porfocar sua atenção institucional sobre o fomentoà produção intelectual no campo institucional dasegurança pública, abrangendo, assim, umamultiplicidade de vivências e saberes específi-cos que transitam nessa área de atividade, nãoficando, pois, adstrita ao campo restrito relativoaos temas de polícia militar, como era o seu in-

teresse primacial. Dessa forma, o próprio pro-cesso histórico havia-se encarregado de fazercom que todos passassem a vislumbrar, numsegundo momento, que estávamos, na verda-de, reduzindo nossa própria ação a um campofragmentário daquele universo muito mais ricoe abrangente da complexidade institucional al-bergada pelo setor.

A partir daí, o crescimento vigoroso dasatividades da Associação foi inevitável e já noano de 1987, quando a Brigada Militar come-morava os 150 anos de sua criação a APESPparticipava, em parceria com a Comissão Lite-rária do Sesquicentenário da BM, sob a chan-cela de “Editorial Presença”, da co-edição dediversos títulos da “Coleção Sesquicentenárioda Brigada Militar”. Esse exitoso trabalho inau-gural deveu-se ao pioneirismo, à capacidade eà visão empreendedora do então Major JoséHilário Retamozo, renomado poeta brigadiano,que fora designado como Presidente daquelaComissão e, ao mesmo tempo, tinha sido eleito

primeiro Presidente da APESP, já que era umdos principais idealizadores da entidade, junta-mente com o grupo que dava sustentação à idéiae trabalhava para a concretização de seus pro-jetos inovadores.

Do significativo sucesso alcançado duran-te a experiência editorial vivida durante os fes-tejos do sesquicentenário, veio a transformaçãoda Comissão Literária, de caráter temporário, emComissão Editorial da BM, como órgão de cará-ter permanente na estrutura institucional da Mi-lícia Gaúcha, sendo mantida a parceria editorialcom a APESP, da qual resultou a edição de maisde quarenta títulos, retratando os mais diversostemas de interesse profissional e de cultura ge-ral.

Hoje, com inúmeras obras editadas, ou emrelação às quais influenciou e colaborou decisi-vamente para que viessem a público, versandosobre temas variados, de interesse tanto daspolícias e corpos de bombeiros militares, comodas polícias civis, dos serviços penitenciários,

de polícia técnico-científica, além de muitostítulos de cultura geral, produzidos pelos es-critores que atuam nas instituições de segu-rança, a APESP é uma organização que cres-ce e se vê divulgada amplamente na condu-ção da bandeira do ativismo cultural, em umEstado que se destaca no cenário nacionalpela produção de uma pujante literatura regi-onal fomentada por inúmeras agremiações li-terárias, artísticas e culturais.

Dentre as realizações mais recentes daAPESP ganham destaque as Antologias dePoetas Brigadianos, tradição que está indo,neste ano, rumo à concretização de sua quin-ta edição, a par da primeira edição da Antolo-gia Poética de Policiais Civis e da Antologiade Contistas Brigadianos, em 2004, dos Prin-cípios Básicos de Atuação Operacional nosEstabelecimentos Penais, em colaboraçãocom a Escola do Serviço Penitenciário e, ain-da, as recentes edições da Cronologia Histó-rica da Polícia Civil no RS e do livro Aspectosda Origem e Evolução da Brigada Militar, nes-te ano de 2006.

Também não poderia deixar de ser feitareferência ao Suplemento Cultural do JornalCorreio Brigadiano (o ABC da Segurança Pú-blica), cujas edições circulam encartadas pe-riodicamente no jornal, espalhando-se por todoo Rio Grande do Sul, divulgando as letras eos valores culturais do segmento da seguran-ça pública, já tendo sido alvo de rasgados elo-gios do público leitor, bem como de pessoase agremiações que, entrando em contato comesse veículo, surpreenderam-se com o signi-ficativo potencial de produção intelectual eartística, aliado a um intenso ativismo culturalque floresceu entre os irmãos de ofício queatuam nas instituições do setor da segurançapública gaúcha.

Por tudo o que fez, faz e continuará fa-zendo pela segurança pública do RS, nadamais justo do que almejarmos vida longa eplena de realizações à APESP, neste ano emque festeja seus florescentes vinte anos. FE-LICIDADES redobradas à instituição gaúchaque faz acontecer a cultura na segurança.

1 Major da Reserva da Brigada Militar eSecretário da APESP (Gestão 2006-2008).

Pércio Brasil Álvares1

A prostituta que fazia ponto na esquina daminha rua foi morta, há quatro dias, por um caboda Brigada Militar. Quem me informa são os jor-nais da manhã. Na minha idade e morando só,raros são os prazeres que ainda restam. Por-tanto devem ser usufruídos até as últimas con-seqüências. Este é um deles: esmiuçar os jor-nais do dia, especialmente a crônica policial,tarefa que inicio à hora do café e que me tomaquase o dia inteiro. Outro é polir o meu revólvercalibre vinte e dois, pois quem mora só precisaestar prevenido e uma arma, que não é cuida-da pode falhar no momento exato. Outro ainda,é ficar à janela à noite, olhando a rua, razão porque conhecia a moça de vista, já que fazia pon-to na esquina e eu podia livremente observá-la.

Diz a notícia: “A moça, de trinta e dois anos,tinha por nome Maria Amália dos Santos, masatendia pela alcunha de Bernadete. Junto aocorpo foi encontrada a bolsa que estava fecha-da, não sendo roubo, portanto, o motivo do cri-me. A bolsa continha um estojo de pintura, umlenço vermelho, um tubo de sedativo com ape-nas dois comprimidos, uma escova de cabelo,uma carteira de saúde, algumas moedas e umsantinho com dedicatória: para Bernadete, de-

vota do Padre Réus, com a minha eterna ami-zade, Leci. Segundo testemunho de um senhoridoso que estava à janela de sua casa, a vintemetros da esquina, na hora do crime, a moçaestava parada, como de hábito, quando o Cabose aproximou e disparou dois tiros pelas cos-tas, à distância. Afirma a testemunha que amoça, antes de cair, viu o criminoso e gemeu:“Me mataste, meu amor”. Ato contínuo, tomboude bruços, pondo sangue pela boca. Afirma ain-da que o Cabo, aparentemente arrependido dotresloucado gesto, correu, ajoelhou-se ao ladodela e beijou-a no rosto, dizendo: “Que foi queeu fiz!”

Segundo ainda notícias da imprensa, oCabo, de nome Anselmo, tem vinte e oito anosde idade, é casado e pai de duas meninas, man-tendo, há alguns meses, um romance com Ber-nadete, a quem conheceu numa casa noturnada cidade baixa, onde fora dar vistoria. Em de-clarações à polícia, o Cabo Anselmo afirmou quenão matou a moça; que realmente fora ao seuencontro, mas que antes de chegar perto ouviudois disparos e viu que o corpo dela rodopiavae caía. Correu e ainda ouviu suas últimas pala-vras: “Me mataram, meu amor!”, e que nessa

ocasião teria beijado o rosto da vítima e dito:“Que foi que te fizeram?”

Continua a notícia: “A arma do crime nãofoi encontrada, motivo por que não foi lavrado oflagrante. A polícia suspeita que o Cabo Ansel-mo a tenha jogado no mangue próximo, mas asbuscas resultaram infrutíferas. Ainda assim, foidecretada a prisão preventiva, devendo o CaboAnselmo aguardar na cadeia o julgamento”.

Esgotadas as notícias, passo ao meu se-gundo maior prazer: e enquanto limpo capricho-samente o meu revólver calibre vinte e dois, ficopensando na pobre moça que, pela profissão,não seria mulher de um homem só, concluindoque o Cabo deve ser realmente o assassino, jáque era o único passante na rua àquela hora,segundo a testemunha, e que o ciúme teria sidoo motivo do crime. É verdade que da janela daminha casa, por exemplo, que fica a vinte me-tros da esquina, alguém poderia ter atirado namoça, que se oferecia à noite como alvo propí-cio. Mas quem atiraria numa prostituta que sóconhecia de vista e sem motivo aparente? A nãoser, é claro, que o fizesse pelo puro e inenarrá-vel prazer de matar.

Crônica PolicialCarlos Carvalho Paulo F. M. Pacheco

Está aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarque queiram participar da que queiram participar da que queiram participar da que queiram participar da que queiram participar da V Antologia de Po-etas Brigadianos da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza-dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira [email protected].....

Em breve: Oficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eVersoVersoVersoVersoVerso, com renomados escritores. Organiza-ção do Centro Educacional ApespCentro Educacional ApespCentro Educacional ApespCentro Educacional ApespCentro Educacional Apesp. Fiquematentos!

I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. Exposição deartes plásticas, esculturas e artesanato. Co-ordenação-geral do presidente da Apesp.

Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Todo brigadiano deve ter uma.

Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,AMES, é presidida pelo Capitão Oscar BessiBessiBessiBessiBessiFilho, integrante proativo da Apesp.

O Cel RR Afonso obteve o 2º lugar noconcurso de contos realizado pela SociedadeEscritores de Blumenau em 2006. Além dele,o Sgt Bayerle foi destaque no 7º HabitasulRevelação Literária da Feira do Livro de Por-to Alegre.

O Major OrdeliOrdeliOrdeliOrdeliOrdeli Savedra Gomes, lançouo livro Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-tadotadotadotadotado que vem a ser uma obra das mais com-pletas em se tratando de trânsito brasileiro.

A DE/Apesp parabeniza seu sócio, Sol-dado Ângelo Marcelo CúrcioCúrcioCúrcioCúrcioCúrcio dos Santos, ba-ba-ba-ba-ba-charel em Direitocharel em Direitocharel em Direitocharel em Direitocharel em Direito pela Uniritter.

O Azimute congratula-se com o 3º SgtEnídioEnídioEnídioEnídioEnídio Eduardo Dias Pereira pela conclusãodo CTSP/2006, no 9º BPM.

O Caderno Cultural do JCB/Apesp esten-de os cumprimentos ao Major Julio Cezar DalPaz Consul, Consul, Consul, Consul, Consul, por ter conquistado o merecidotítulo acadêmico de Doutor em Serviço SocialDoutor em Serviço SocialDoutor em Serviço SocialDoutor em Serviço SocialDoutor em Serviço Socialpela PUCRS.

Com a assunção do Coronel João Bap-Bap-Bap-Bap-Bap-tistatistatistatistatista da Rosa Filho como Chefe do EMBMChefe do EMBMChefe do EMBMChefe do EMBMChefe do EMBM, oTenente-Coronel Jorge Luiz AgostiniAgostiniAgostiniAgostiniAgostini, MestreMestreMestreMestreMestreem Ciências Criminaisem Ciências Criminaisem Ciências Criminaisem Ciências Criminaisem Ciências Criminais, assumiu o cargo deDiretor do DE, e o Major Pedro Joel Silva Silva Silva Silva Silva daSilva, Mestre em EducaçãoMestre em EducaçãoMestre em EducaçãoMestre em EducaçãoMestre em Educação, é o novo Chefedo IPBM.

www.recantodasletras.com.br. Excelenteespaço virtual para publicação, gratuita, detextos literários e culturais. Participe!

Brigada MilitarBrigada MilitarBrigada MilitarBrigada MilitarBrigada Militar, 169 incansáveis anos delutas e glórias! Parabéns a seus integrantes,homens e mulheres, que labutam em prol dasegurança pública gaúcha!

A editora Polosteditora Polosteditora Polosteditora Polosteditora Polost publica seu livro ou tra-balho acadêmico. Condições excelentes paraservidores da Segurança PúblicaSegurança PúblicaSegurança PúblicaSegurança PúblicaSegurança Pública. Veja a rela-ção de títulos publicados: www.polost.com.br.Informações: [email protected].

Mande suas notícias e trabalhos literári-os para publicação no Caderno CulturalCaderno CulturalCaderno CulturalCaderno CulturalCaderno [email protected].

[email protected].

Caderno Cultural do Jornal Correio Brigadiano

Ano III - Nº 7Pág 4 - Dezembro 2006

Ano III - Nº 7 Dezembro 2006

Prédio do QCG

Expediente/ JCB Caderno CulturalSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano

Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Cel RR Alberto Afonso Landa CamargoMaj Res Pércio Brasil ÁlvaresSgt Cláudio Medeiros BayerleSgt Luiz Antônio Rodriguez Velasques

Diagramador: Diagramador: Diagramador: Diagramador: Diagramador: Felipe Bornes SamuelTrabalho de imagens:Trabalho de imagens:Trabalho de imagens:Trabalho de imagens:Trabalho de imagens: Vera Eledina

Atual diretoria executiva da Apesp: acima, da esquerda para a direita, Sgt Claudio Bayerle, Cel RRDélbio Vieira. Abaixo, Sgt Luiz Velasques e Maj Res Pércio Álvares

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A ausência dos diasAlberto Afonso Landa Camargo

Não há mais a suavidade dos dias...Para onde ela foi deixando a saudade

Das manhãs outonais, das tardes macias,Das noites claras e suas estrelas?

A suavidade dos diasQuem sabe se perdeu

No tempo, nas mágoas de hoje,Nos sonhos que não se realizaram.

Quem sabe ela sumiuNo olhar perdido no vento,

No saltitar incerto das folhasEspalhadas pelo chão...

È o poema mais importante de caráter re-gionalista da Argentina e também diz respeitoa nós e ao Uruguai. O poema nos diz respeitoporque fazemos parte de uma tradição culturalestreitamente interligada em função das carac-terísticas geográficas e econômicas e até dosintercâmbios sociais e políticos que nem sem-pre foram pacíficos. O poema além de circularna Argentina, também é muito importante paranós, visto que fazemos parte de uma culturaligada à figura do gaúcho.

Em 1972 comemorou-se os cem anos dolançamento da primeira parte do poema MartinFierro, simultaneamente na Argentina e no Bra-sil. Estas comemorações dão a dimensão daimportância deste poema para a literatura gau-chesca. Seu autor, José Hernandes, era umhomem sempre envolvido em conspiraçõese conflitos políticos. Pertencia à ala dosrosistas, isto é, federalistas.

Quando fez a primeira parte dopoema, pretendia fazer uma obra po-pular e de crítica ao Ministério daGuerra pelo recrutamento forçado dosgaúchos para combater nas frentes deluta contra os índios. Já a primeira e asegunda parte do poema transcenderama mera apologia política e se transforma-ram no decorrer dos anos no grande poemasobre o gaúcho e seus sofrimentos nas mãosdas autoridades e dos poderosos. Não se temcerteza se a primeira parte foi redigida em Bu-enos Aires ou em Livramento, Rio Grande dosul, num dos momentos de exílio ou de organi-zação de novas conspirações.

O autor era um homem comum que pou-co chamou a atenção durante a sua vida, oque tornou difícil precisar sua biografia. Na épo-ca em que viveu, ser autor de poemas sobre ogaúcho não era valorizado e ainda pelo fato deser vinculado ao partido do ditador Rosas, istotrazia mais restrições a sua pessoa.

Roberto Mara, em 1972, na cidade de Por-to Alegre fez uma manifestação que bem sinte-tiza o que representa o poema e seu conteúdopara o contexto latino-americano: “Cada vezque una ley es aplicada injustamente nace un

Martin Fierro, un Cruz, un Picardia... Rebeldecontra la injusticia, jamás contra el amor. Ni ven-gador de pecados viejos ni profeta de desajus-tes.”

A. A Gómes del Arroyo diz: “ Martín Fier-ro foi o inconformado. Este gaúcho andarengoé contestação secular. Decorridos cem anos –ressalvadas as diferenças de época e as pecu-liaridades ambientais - ainda se afigura viva aluta do homem telúrico, visceralmente honesto,em conflito com as estruturas dominantes. Aíreside o sintonismo universal de Martin Fierro esua contemporaneidade através de gerações.”

sua forma de governar e suas relações com otambém ex-governador Julio de Castilhos.

Como já falamos, o poema trata das vicis-situdes a que passou Martin Fierro com o re-crutamento forçado para combater aos índios.Nele, ele narra, na primeira pessoa, a maneiracomo seus superiores o trataram: o não paga-mento dos vencimentos; não recebimento defardamento; a compulsão de trabalhar gracio-samente para os superiores em suas estânciae chácaras nos períodos de paz. Narra tambéma desestruturação de sua família em conseqü-ência de seu afastamento forçado. Fala sobresua posterior deserção e os conflitos em queele matou em um baile um negro, em uma pul-peria, um gaúcho provocador e depois sua luta

com a ajuda de Cruz com uma patrulha queo queria prender. Também narra o tem-po em que ele e Cruz estiveram presospelos índios. Depois, o poema passafalar sobre a vida sofrida de seus fi-lhos abandonados e o reencontro comMartin Fierro. Por fim, trata da novaseparação, por falta de meios para vi-verem juntos. Como vemos, é a odis-séia de um gaúcho que é obrigado a

abandonar sua família e seus parcos benspara ir lutar por uma causa que não é sua.

Este poema tem uma importância funda-mental para a literatura argentina e já foi motivode vários ensaios e também serviu de ponto ini-cial para outras obras de ficção como um contode Jorge Luis Borges. Sua importância na lite-ratura argentina pode ser entendida pelo depo-imento de Jorge Luis Borges: ”Minha mãe proi-biu a leitura de Martin Fierro pois aquele livrosó servia para os desordeiros e colegiais e, alémdisso nem era sobre gaúchos de verdade. Tam-bém este, eu li às escondidas. Seus sentimen-tos se baseavam no fato de que Hernandes foraum defensor de Rosas, e portanto inimigo denossos antepassado unitários.”

Portanto, ler Martin Fierro é ler uma obraconsagrada por intelectuais brasileiros e argen-tinos e, ao mesmo tempo, ter oportunidade dealcançar uma visão diferente do gaúcho.

Verlaine Ulharuso de Vasconcellos

Martin Fierro

Jorge Luis Borges destaca, como um dosfenômenos mais singulares, a poesia gauches-ca, mas ao mesmo tempo enfatiza que a mes-ma é criação de pessoas cultas e não comoparece a primeira vista ser dos próprios gaú-chos. E esta situação também ocorre em nossoEstado, onde grande parte da produção é depessoas cultas que moram na cidade.

No Brasil, em especial no Rio Grande doSul, nós temos algo similar, embora não tenhaa divulgação e a importância da obra que esta-mos falando, que é o poema Antonio Chimangode Ramiro Barcellos. Ele é uma sátira política àpessoa do ex-governador Borges de Medeiros,

O correio da segurançaJorge Bengochea

Nestes tempos conturbadosDe críticas transformaçõesSurgiste como um idealInformar à opinião públicaE valorizar o agente policial

És um portal das letras,Veículo na figura de jornal,Onde publica a herançaProduzida pelos irmãos de ofícioTrabalhadores na segurança

Façanhas e heroísmosSolidariedade, empenho e valoresQue as glórias reconhecem

Eternizando seus atoresCom o louvor que merecem

Estandarte e vósDestes heróis da sociedadeQue escolheram como sinaPrestar serviço à comunidadeArriscando a própria vida

Andejando de forma gratuitaPara quem quiser lerFazes um trabalho espartanoQue suas páginas transmitemÓ, meu Correio Brigadiano!

Noite fria IICharles de Jesus

Noite fria de abrilOnde fico pensando se alguémJá se descobriuTambém começo a pensarSe alguém já sorriu

Em ver que outro serQue não tinha nem o que escreverPensou e agiu,Tão logo que se descobriu

Meninos de ruaMoisés Silveira de Menezes

De onde vem esses meninosmal vistos, maltrapilhos,mal amados, mal vividos,desnutridos, deserdados,destituídos, desvalidosque perambulam nas vielasdos guetos pobres,das vilas pobres?

esses meninos de ruaolhar tristonho,

andar gingadopercorrendo barulhentos,sorridentes, desvairadosas ruas do centroreduto intocávelda elite vistosa.

de onde vem esses meninosque dormitam sobre folhasdesfolhadas de jornalsobre os tetos das marquises

O sol “eu divino”A lua, meu bem.O dia sorrindo

A noite dormindoAcalento do corpo

E da alma também.

O renascer das noitadasDas noites geladas

São histórias sonhadas...

O meu corpo e tua almaAmantes no coitoFazendo neném.

Amor, barriga, hospitalcasa, creche, escolachuva, pipoca, gibi

sol, pitanga, pandorgaférias, praia, bicicleta

lanhouse, violão e guriasbarzinho, balada, casórioAmor, barriga, hospital...

Claudio Bayerle

Mein Söhne(für Felipe und Guilherme)

No ano em que a Apesp completa 20 anos, estamos apresentando, aonosso público leitor, o 7º Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano – JCB,caderno que teve sua primeira edição em fevereiro de 2003. À época, o MajorPércio Brasil Álvares, então presidente da Apesp, em seu editorial de abertura,atestou que a premissa era a valorização dos servidores da Segurança Públicaatravés da divulgação da produção intelectual, anelo este que continuamos ombre-ando, inclusive com colegas da Polícia Civil, Polícia Tecnica, Polícia de Trânsito eda Polícia Prisional.

Várias idéias e projetos pululam em nossas mentes, muitos já realizados:publicação de livros, realização de saraus, seminários, cursos, concursos, etc. Se oque nos dificulta é o fator financeiro, o que nos motiva sobremaneira é a satisfaçãodo dever cumprido. Alceu Wamosy, Alfredo Jacques, Helio Mariante, José Retamo-zo e tantos outros renomados literatos brigadianos são os baluartes da causa cultu-ral que ora defendemos alegremente.

Agradecemos aos nossos leitores, em especial aos poetas e prosadores,as diversas manifestações de apreço e felicitações recebidas em relação ao cader-no cultural. Fatos assim nos motivam cada vez mais a prosseguirmos nessa difícilmas gratificante jornada literária.

Claudio Medeiros Bayerle Presidente da Apesp

Democracia

Na esquina, a Democracia - menina-moça, menina quer crescer, ver a vida do povocom liberdade, olha espantada uma foice com ódios fundos brandida, ceifar uma vida moça...

Olha e não crê! Nessa esquina não pode a violência nunca ser a fúria que destrói aprópria democracia, a foice que vidas trunca, fere consciências e dói.

A rosa rubra de sangue brota do asfalto tão rubra que vai ficar sempre assim - eterna,viva a centelha vertendo a chama vermelha da dor que respinga em mim.

Respinga em todos - é o sangue do humilde, nobre soldado que no serviço tombou.Democracia - a menina - condena a mão assassina e a foice que o degolou.

José Hilário Ajalla Retamozo

E hoje vejo apenasIndependente do frio;Que tudo aconteceu...

Pelo simples passar deslizanteDa caneta azul anilNesta folha de papelPode ser criadaTão linda poesia.

Histórias sonhadasCamponez Frota

Joaquim Moncks

Choro por ti, minha pátria gaúcha, arrinconada na memória, ao ouvir os bordoneios deuma gutural milonga. O berro do boi e o roçar do capim santa-fé solapam o destino andarilho.

O tempo de viver anda curto e a andança não é a mesma, aquela de “correr o chinaredo”.Bebo água nas cacimbas do amor à terra e gente brasileiras. Este povaréu miúdo de escolas desaber universal canta o sofrimento da fome. O barro amassado é china rebolcada, lobuna deserenos, chuvas nos corredores. É grossa a sola dos pés e unhas crescem gretadas de pósobre elas próprias.

Estou longe das veredas, grotões de carretas e ventos conhecidos. O minuano e o pam-peiro não sopram aqui em São Paulo, o coração motriz do Brasil.

Tomo o mate-chimarrão da saudade no canto campechano de Lisandro Amaral, terrunhocantador cuja voz trouxe comigo na mala-de-garupa. A inspiração corre aos pulos nas artériase veias.

A celebrada pátria gaúcha crava bandeiras, lanças ancestrais mortiças de sal e glórias.Amarga é a saudade de ti, meu Rio Grande reiúno.

Anseio pelo sol do amanhã, nesta hora em que mastigo o pasto guardado de invernos.Guio e tanjo meus novilhos fugidos. Não há toco de vela pro Negrinho do Pastoreio. Os fetichesse cansam além das fronteiras do Rio Grande. Só a estrela boieira sabe de amores e de liber-dade.

Não há canseira nem soalheira que afogue os temores de ser. Por isso a vida é um baterde cascos. Os ideais de Pátria não se desgarram. Fogoneiam na vincha sobre a melena aovento. A tropilha das idéias possui alma e não tem preço.

Cincerros tilintam no caminho feito, repontando a tropa dos desejos de amar o que é puroe verdadeiro. E como me faz bem chorar a tua ausência! É amarga a saudade de ti, meu RioGrande de Deus.

E antigos paus-de-fogo, ancestrais fogões votivos, pigarreiam no mate-amargo a baba dasvivências.

Carta chorona do andejo sujo de terra

Livros

Cada livro é um fragmentoDe uma mente humana

EmbutidaEm minha prateleira

Está ali o pensamentoSintetizado em um trabalho gráfico

De alguém que pensou,Ao meu inteiro dispor

No livro está impressoO teu, o nosso pensamentoDo qual somos herdeiros.

Os livros estão na prateleiraParados imóveis

Pensar que dentro deles pulsa,pulsa o coração

de um serque há tanto tempo conhecemos

e a quem nem sempre damos a devida atenção

Jorge Ribacki

Ano III - Nº 7Pág 2 - Dezembro 2006 Ano III - Nº 7Pág 3 - Dezembro 2006

nos colos das meretrizesao largo das diretrizesque ignoram cicatrizesda sociedade ferida.

Não virão esses meninosdo medo do olhar armadopelo medoque deles temosfuturo em ocaso da GrandeNação.

Editorial

[email protected]@[email protected]@[email protected]

Limpei o meu porão secreto.A alma, esfomeada, alimentei.Retirei, do corpo, o pesoe, resoluta, prossegui.Discerni o coercitivo do coesoe a vida pulsou novamente,enfim, liberta do medo.

AprendizadoIara BaierleIara BaierleIara BaierleIara BaierleIara Baierle

Amor que dói

Vazio dentro do peitojá fazia tanto tempo

que o amor não batiaà porta do coração...

E, de repentevi, naquele olhar,

o amor que há muitodeixei de buscar...

E agora?Faço o quê?

Com esta dor no peito...Com este nó na garganta...

querendo perguntar ao tempo...querendo gritar ao vento...Por que ele não veio só?

Marisa BurigoMarisa BurigoMarisa BurigoMarisa BurigoMarisa Burigo

Na rua elegante, já molhada pela chuva.Solitária está a casa, embicada na esquina.Parece um veleiro que flutua,Ancorado no aconchego da marina.

As primeiras raias de solNão deixam transparecer, perdida e nua,Daqueles umbrais em arrebol,A silhueta grácil da Dama desta triste rua...

Senhora dos meus enlevos,Abandone seus segredosE apareça no portal!

Expondo, sem temer desvelos,Teu vulto dócil que atende aos apelosDos desvarios deste amor carnal!

Pércio Brasil

A mulher e a casa

A ação do amorRasga a películaE a muralha do mentirosoÉ destruída

O silêncio cria verboQue a paz sustenta

A taça cheiaDanifica o vinho

Mas a taçaEstá sempre cheiaPara aquele que não se embebesseDos venenos e dos estéreisQue matam a alma.

A ação e a taçaMarco Antônio AguiarMarco Antônio AguiarMarco Antônio AguiarMarco Antônio AguiarMarco Antônio Aguiar

JCB Cultura JCB Cultura

CIA

NO

MA

GE

NTA

AM

AR

EL

OP

RE

TO

A ausência dos diasAlberto Afonso Landa Camargo

Não há mais a suavidade dos dias...Para onde ela foi deixando a saudade

Das manhãs outonais, das tardes macias,Das noites claras e suas estrelas?

A suavidade dos diasQuem sabe se perdeu

No tempo, nas mágoas de hoje,Nos sonhos que não se realizaram.

Quem sabe ela sumiuNo olhar perdido no vento,

No saltitar incerto das folhasEspalhadas pelo chão...

È o poema mais importante de caráter re-gionalista da Argentina e também diz respeitoa nós e ao Uruguai. O poema nos diz respeitoporque fazemos parte de uma tradição culturalestreitamente interligada em função das carac-terísticas geográficas e econômicas e até dosintercâmbios sociais e políticos que nem sem-pre foram pacíficos. O poema além de circularna Argentina, também é muito importante paranós, visto que fazemos parte de uma culturaligada à figura do gaúcho.

Em 1972 comemorou-se os cem anos dolançamento da primeira parte do poema MartinFierro, simultaneamente na Argentina e no Bra-sil. Estas comemorações dão a dimensão daimportância deste poema para a literatura gau-chesca. Seu autor, José Hernandes, era umhomem sempre envolvido em conspiraçõese conflitos políticos. Pertencia à ala dosrosistas, isto é, federalistas.

Quando fez a primeira parte dopoema, pretendia fazer uma obra po-pular e de crítica ao Ministério daGuerra pelo recrutamento forçado dosgaúchos para combater nas frentes deluta contra os índios. Já a primeira e asegunda parte do poema transcenderama mera apologia política e se transforma-ram no decorrer dos anos no grande poemasobre o gaúcho e seus sofrimentos nas mãosdas autoridades e dos poderosos. Não se temcerteza se a primeira parte foi redigida em Bu-enos Aires ou em Livramento, Rio Grande dosul, num dos momentos de exílio ou de organi-zação de novas conspirações.

O autor era um homem comum que pou-co chamou a atenção durante a sua vida, oque tornou difícil precisar sua biografia. Na épo-ca em que viveu, ser autor de poemas sobre ogaúcho não era valorizado e ainda pelo fato deser vinculado ao partido do ditador Rosas, istotrazia mais restrições a sua pessoa.

Roberto Mara, em 1972, na cidade de Por-to Alegre fez uma manifestação que bem sinte-tiza o que representa o poema e seu conteúdopara o contexto latino-americano: “Cada vezque una ley es aplicada injustamente nace un

Martin Fierro, un Cruz, un Picardia... Rebeldecontra la injusticia, jamás contra el amor. Ni ven-gador de pecados viejos ni profeta de desajus-tes.”

A. A Gómes del Arroyo diz: “ Martín Fier-ro foi o inconformado. Este gaúcho andarengoé contestação secular. Decorridos cem anos –ressalvadas as diferenças de época e as pecu-liaridades ambientais - ainda se afigura viva aluta do homem telúrico, visceralmente honesto,em conflito com as estruturas dominantes. Aíreside o sintonismo universal de Martin Fierro esua contemporaneidade através de gerações.”

sua forma de governar e suas relações com otambém ex-governador Julio de Castilhos.

Como já falamos, o poema trata das vicis-situdes a que passou Martin Fierro com o re-crutamento forçado para combater aos índios.Nele, ele narra, na primeira pessoa, a maneiracomo seus superiores o trataram: o não paga-mento dos vencimentos; não recebimento defardamento; a compulsão de trabalhar gracio-samente para os superiores em suas estânciae chácaras nos períodos de paz. Narra tambéma desestruturação de sua família em conseqü-ência de seu afastamento forçado. Fala sobresua posterior deserção e os conflitos em queele matou em um baile um negro, em uma pul-peria, um gaúcho provocador e depois sua luta

com a ajuda de Cruz com uma patrulha queo queria prender. Também narra o tem-po em que ele e Cruz estiveram presospelos índios. Depois, o poema passafalar sobre a vida sofrida de seus fi-lhos abandonados e o reencontro comMartin Fierro. Por fim, trata da novaseparação, por falta de meios para vi-verem juntos. Como vemos, é a odis-séia de um gaúcho que é obrigado a

abandonar sua família e seus parcos benspara ir lutar por uma causa que não é sua.

Este poema tem uma importância funda-mental para a literatura argentina e já foi motivode vários ensaios e também serviu de ponto ini-cial para outras obras de ficção como um contode Jorge Luis Borges. Sua importância na lite-ratura argentina pode ser entendida pelo depo-imento de Jorge Luis Borges: ”Minha mãe proi-biu a leitura de Martin Fierro pois aquele livrosó servia para os desordeiros e colegiais e, alémdisso nem era sobre gaúchos de verdade. Tam-bém este, eu li às escondidas. Seus sentimen-tos se baseavam no fato de que Hernandes foraum defensor de Rosas, e portanto inimigo denossos antepassado unitários.”

Portanto, ler Martin Fierro é ler uma obraconsagrada por intelectuais brasileiros e argen-tinos e, ao mesmo tempo, ter oportunidade dealcançar uma visão diferente do gaúcho.

Verlaine Ulharuso de Vasconcellos

Martin Fierro

Jorge Luis Borges destaca, como um dosfenômenos mais singulares, a poesia gauches-ca, mas ao mesmo tempo enfatiza que a mes-ma é criação de pessoas cultas e não comoparece a primeira vista ser dos próprios gaú-chos. E esta situação também ocorre em nossoEstado, onde grande parte da produção é depessoas cultas que moram na cidade.

No Brasil, em especial no Rio Grande doSul, nós temos algo similar, embora não tenhaa divulgação e a importância da obra que esta-mos falando, que é o poema Antonio Chimangode Ramiro Barcellos. Ele é uma sátira política àpessoa do ex-governador Borges de Medeiros,

O correio da segurançaJorge Bengochea

Nestes tempos conturbadosDe críticas transformaçõesSurgiste como um idealInformar à opinião públicaE valorizar o agente policial

És um portal das letras,Veículo na figura de jornal,Onde publica a herançaProduzida pelos irmãos de ofícioTrabalhadores na segurança

Façanhas e heroísmosSolidariedade, empenho e valoresQue as glórias reconhecem

Eternizando seus atoresCom o louvor que merecem

Estandarte e vósDestes heróis da sociedadeQue escolheram como sinaPrestar serviço à comunidadeArriscando a própria vida

Andejando de forma gratuitaPara quem quiser lerFazes um trabalho espartanoQue suas páginas transmitemÓ, meu Correio Brigadiano!

Noite fria IICharles de Jesus

Noite fria de abrilOnde fico pensando se alguémJá se descobriuTambém começo a pensarSe alguém já sorriu

Em ver que outro serQue não tinha nem o que escreverPensou e agiu,Tão logo que se descobriu

Meninos de ruaMoisés Silveira de Menezes

De onde vem esses meninosmal vistos, maltrapilhos,mal amados, mal vividos,desnutridos, deserdados,destituídos, desvalidosque perambulam nas vielasdos guetos pobres,das vilas pobres?

esses meninos de ruaolhar tristonho,

andar gingadopercorrendo barulhentos,sorridentes, desvairadosas ruas do centroreduto intocávelda elite vistosa.

de onde vem esses meninosque dormitam sobre folhasdesfolhadas de jornalsobre os tetos das marquises

O sol “eu divino”A lua, meu bem.O dia sorrindo

A noite dormindoAcalento do corpo

E da alma também.

O renascer das noitadasDas noites geladas

São histórias sonhadas...

O meu corpo e tua almaAmantes no coitoFazendo neném.

Amor, barriga, hospitalcasa, creche, escolachuva, pipoca, gibi

sol, pitanga, pandorgaférias, praia, bicicleta

lanhouse, violão e guriasbarzinho, balada, casórioAmor, barriga, hospital...

Claudio Bayerle

Mein Söhne(für Felipe und Guilherme)

No ano em que a Apesp completa 20 anos, estamos apresentando, aonosso público leitor, o 7º Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano – JCB,caderno que teve sua primeira edição em fevereiro de 2003. À época, o MajorPércio Brasil Álvares, então presidente da Apesp, em seu editorial de abertura,atestou que a premissa era a valorização dos servidores da Segurança Públicaatravés da divulgação da produção intelectual, anelo este que continuamos ombre-ando, inclusive com colegas da Polícia Civil, Polícia Tecnica, Polícia de Trânsito eda Polícia Prisional.

Várias idéias e projetos pululam em nossas mentes, muitos já realizados:publicação de livros, realização de saraus, seminários, cursos, concursos, etc. Se oque nos dificulta é o fator financeiro, o que nos motiva sobremaneira é a satisfaçãodo dever cumprido. Alceu Wamosy, Alfredo Jacques, Helio Mariante, José Retamo-zo e tantos outros renomados literatos brigadianos são os baluartes da causa cultu-ral que ora defendemos alegremente.

Agradecemos aos nossos leitores, em especial aos poetas e prosadores,as diversas manifestações de apreço e felicitações recebidas em relação ao cader-no cultural. Fatos assim nos motivam cada vez mais a prosseguirmos nessa difícilmas gratificante jornada literária.

Claudio Medeiros Bayerle Presidente da Apesp

Democracia

Na esquina, a Democracia - menina-moça, menina quer crescer, ver a vida do povocom liberdade, olha espantada uma foice com ódios fundos brandida, ceifar uma vida moça...

Olha e não crê! Nessa esquina não pode a violência nunca ser a fúria que destrói aprópria democracia, a foice que vidas trunca, fere consciências e dói.

A rosa rubra de sangue brota do asfalto tão rubra que vai ficar sempre assim - eterna,viva a centelha vertendo a chama vermelha da dor que respinga em mim.

Respinga em todos - é o sangue do humilde, nobre soldado que no serviço tombou.Democracia - a menina - condena a mão assassina e a foice que o degolou.

José Hilário Ajalla Retamozo

E hoje vejo apenasIndependente do frio;Que tudo aconteceu...

Pelo simples passar deslizanteDa caneta azul anilNesta folha de papelPode ser criadaTão linda poesia.

Histórias sonhadasCamponez Frota

Joaquim Moncks

Choro por ti, minha pátria gaúcha, arrinconada na memória, ao ouvir os bordoneios deuma gutural milonga. O berro do boi e o roçar do capim santa-fé solapam o destino andarilho.

O tempo de viver anda curto e a andança não é a mesma, aquela de “correr o chinaredo”.Bebo água nas cacimbas do amor à terra e gente brasileiras. Este povaréu miúdo de escolas desaber universal canta o sofrimento da fome. O barro amassado é china rebolcada, lobuna deserenos, chuvas nos corredores. É grossa a sola dos pés e unhas crescem gretadas de pósobre elas próprias.

Estou longe das veredas, grotões de carretas e ventos conhecidos. O minuano e o pam-peiro não sopram aqui em São Paulo, o coração motriz do Brasil.

Tomo o mate-chimarrão da saudade no canto campechano de Lisandro Amaral, terrunhocantador cuja voz trouxe comigo na mala-de-garupa. A inspiração corre aos pulos nas artériase veias.

A celebrada pátria gaúcha crava bandeiras, lanças ancestrais mortiças de sal e glórias.Amarga é a saudade de ti, meu Rio Grande reiúno.

Anseio pelo sol do amanhã, nesta hora em que mastigo o pasto guardado de invernos.Guio e tanjo meus novilhos fugidos. Não há toco de vela pro Negrinho do Pastoreio. Os fetichesse cansam além das fronteiras do Rio Grande. Só a estrela boieira sabe de amores e de liber-dade.

Não há canseira nem soalheira que afogue os temores de ser. Por isso a vida é um baterde cascos. Os ideais de Pátria não se desgarram. Fogoneiam na vincha sobre a melena aovento. A tropilha das idéias possui alma e não tem preço.

Cincerros tilintam no caminho feito, repontando a tropa dos desejos de amar o que é puroe verdadeiro. E como me faz bem chorar a tua ausência! É amarga a saudade de ti, meu RioGrande de Deus.

E antigos paus-de-fogo, ancestrais fogões votivos, pigarreiam no mate-amargo a baba dasvivências.

Carta chorona do andejo sujo de terra

Livros

Cada livro é um fragmentoDe uma mente humana

EmbutidaEm minha prateleira

Está ali o pensamentoSintetizado em um trabalho gráfico

De alguém que pensou,Ao meu inteiro dispor

No livro está impressoO teu, o nosso pensamentoDo qual somos herdeiros.

Os livros estão na prateleiraParados imóveis

Pensar que dentro deles pulsa,pulsa o coração

de um serque há tanto tempo conhecemos

e a quem nem sempre damos a devida atenção

Jorge Ribacki

Ano III - Nº 7Pág 2 - Dezembro 2006 Ano III - Nº 7Pág 3 - Dezembro 2006

nos colos das meretrizesao largo das diretrizesque ignoram cicatrizesda sociedade ferida.

Não virão esses meninosdo medo do olhar armadopelo medoque deles temosfuturo em ocaso da GrandeNação.

Editorial

[email protected]@[email protected]@[email protected]

Limpei o meu porão secreto.A alma, esfomeada, alimentei.Retirei, do corpo, o pesoe, resoluta, prossegui.Discerni o coercitivo do coesoe a vida pulsou novamente,enfim, liberta do medo.

AprendizadoIara BaierleIara BaierleIara BaierleIara BaierleIara Baierle

Amor que dói

Vazio dentro do peitojá fazia tanto tempo

que o amor não batiaà porta do coração...

E, de repentevi, naquele olhar,

o amor que há muitodeixei de buscar...

E agora?Faço o quê?

Com esta dor no peito...Com este nó na garganta...

querendo perguntar ao tempo...querendo gritar ao vento...Por que ele não veio só?

Marisa BurigoMarisa BurigoMarisa BurigoMarisa BurigoMarisa Burigo

Na rua elegante, já molhada pela chuva.Solitária está a casa, embicada na esquina.Parece um veleiro que flutua,Ancorado no aconchego da marina.

As primeiras raias de solNão deixam transparecer, perdida e nua,Daqueles umbrais em arrebol,A silhueta grácil da Dama desta triste rua...

Senhora dos meus enlevos,Abandone seus segredosE apareça no portal!

Expondo, sem temer desvelos,Teu vulto dócil que atende aos apelosDos desvarios deste amor carnal!

Pércio Brasil

A mulher e a casa

A ação do amorRasga a películaE a muralha do mentirosoÉ destruída

O silêncio cria verboQue a paz sustenta

A taça cheiaDanifica o vinho

Mas a taçaEstá sempre cheiaPara aquele que não se embebesseDos venenos e dos estéreisQue matam a alma.

A ação e a taçaMarco Antônio AguiarMarco Antônio AguiarMarco Antônio AguiarMarco Antônio AguiarMarco Antônio Aguiar

JCB Cultura

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Apesp – 20 anosTrabalhando pela cultura na segurança

O desenho acima, publicado em janeiro de1927, na edição número dez da Revista Pindo-rama, mostra o projeto do prédio do QCG daBM, cuja pedra fundamental foi lançada em 14de julho de 1927.

O engenheiro civil que apresentou o proje-to foi o doutor Theóphilo Borges de Barros, den-tro de um estilo próprio em que se “sobressae aordem dorica - de linhas fortes e equilibradas -como convém a um quartel.

O edifício contém dois torreões, que, naépoca do projeto, eram destinados à residênciado comandante da BM e do assistente do pes-soal.

Além das dependências normais de umquartel, como alojamentos e locais destinadosà guarda de armamento, equipamento e farda-mento, eram previstos locais para funcionamen-to de serralheria, carpintaria, ferraria, marcena-ria, alfaiataria, estofaria, depósito, garagens, etc.

Para a construção do novo quartel foi ne-cessária a demolição do edifício antigo ondeestava instalado o Comando-Geral da BrigadaMilitar.

O edifício ocupava uma área de dois milmetros quadrados e, pelo projeto original, aten-dia todas as exigências para o funcionamentodos serviços necessários à corporação.

Hora crepuscular de domingo – 5/3/2006 – exatamente 18h25 min, momento em que aspessoas de temperamento melancólico tornam-se mais vulneráveis, propensas a desmanchosinteriores, a íntimos enlevos.

Já instalado no ônibus do BOX n° 43 da Estação Rodoviária de Porto Alegre, passo aobservar um jovem casal na iminência de embarcar. Sentados face a face, frente à bagagemvolumosa, dispõem-se a enfrentar longa viagem (ou será que padecem a mágoa de breve forçadoafastamento?).

Natural me parecer ser, que passem despercebidos ante a multidão tumultuária e rumorosada estação, para a qual parecem devolver a mesma indiferença afetiva. Foi a crônica empatiacom a farda brigadiana que me levou a percebê-los. O soldado e a esposa - como sinalizam asalianças na mão esquerda – estão a prodigalizar, em meio àquele desvairamento coletivo,contagiante cena de ternura e beleza. Destacam-se principalmente pela distinção. Sim, porque abeleza, quando desacompanhada da distinção, roça à vulgaridade.

Ele enverga singelo, mas impecável fardamento de instrução. A relativa distância não mepermite ler o nome apenso do lado esquerdo da camisa-de-campanha, tampouco o brasão daUnidade a que pertence. Porta revólver e, no cinto, munição suplementar. Seu rosto é claro, oslábios finos, cabelos pretos, lisos. Apesar da idade, já esboça incipiente calvície na região occipital.No lado direito da camisa-de-instrução ou de combate, ostenta pequeno distintivo impresso emazul (este detalhamento excessivo justifica-se, porque não me resigno a que a ambos não cheguemos acenos de minha admiração).

A esposa tem um rosto bonito. Sorri, plena de jovialidade. Veste-se de maneira discreta,apanágio das mulheres verdadeiramente elegantes. Mantém a cabeça altiva, como num perfil dedeusa. Acabam de fazer pequeno lanche e merece sublinhar-se a observância da etiqueta, ochamado bom - tom como o faziam - incapazes de umedecerem, sequer, as pontas das unhas.Em suma, retratavam muito bem a Corporação representada.

Comovente a maneira como entretinham os olhos um no outro. Ele, como a reeditar osversos do Neruda: “Gosto de envolvê-la com meus olhos, com meus olhos que nada mais vêemquando a envolvem”... Percebível, claramente percebível, o encantamento e o diálogo carinhosoque mantinham. O distinto colega-de-farda a intervalos olhava para trás, ora à direita, ora àesquerda, num gesto reflexo de permanente vigilância. Submetia-se a esse “desconforto dacabeça mal voltada” - como na descrição pessoana -, pois à missão de proteger a sociedade, selhe adicionava (com todo o direito de adicionar, viram !?) a missão de proteger a amada.

Fato singular: a dureza da profissão que abraçou, não se mostrava inconciliável com osgestos que delicadamente, amorosamente, inexcedivelmente, tributava à esposa.

Em determinado momento ele beija o dedo indicador e vai colher microscópica partículapousada na face da esposa-namorada. Depois, beija-a suavemente, sem aquele despudor comque, hodiernamente, os moços expõem - e aviltam – suas futuras esposas na via pública.Impossível e injusto não admirá-los. Mostram-se dignos um do outro. Merecem-se. E dão,descalculadamente, uma sublime lição de amor-sentimento, de inefável bem-querer.

Ao contemplá-los (porque faculdade distinta do simples ver), incoercíveis cogitaçõesassomaram em minha mente: “Estarão de retorno da Operação Golfinho?... Parece um salva-vidas!... Uma intempestiva insensível transferência para a Capital te-los-ia obrigado a viveremem lugares distantes?”... E logo, por um desses estranhos mecanismos da memória, intuo quenão há funções grandes nem pequenas, apenas funções bem exercidas e funções mal exercidas.E que o amor, como vibração da essência divina, independe das circunstâncias de local e detempo.

Meu ônibus parte. Leva-me em “estado de graça”. Então se me redesenha, com incrívelnitidez, minha mãe em desespero, abraçada a meu pai (ex-combatente de 30 e de 32), numamadrugada brumosa e fria, enquanto calçava pressurosamente as perneiras, para coibir desordensnos focos de virulentos inimigos da sociedade.

Lembrei-me das mesmas apreensões que, mais tarde, haveria de padecer minha esposa.Hoje, decorridos apenas três dias do pôr-do-sol do último domingo, momento em que agonizavam,em todo mundo - não só nos “bentos cantos dos conventos”- as orações a Nossa Senhora, pedia ela para que jamais aqueles enamorados se quedassem vencidos. E nesta data em que secomemora o Dia Internacional da Mulher, sinto impor-se, complementarmente, a criação do Diada Mulher Brigadiana, quer a enquadrada militarmente em nossas fileiras, quer a que se tornoucativa de nossos laços afetivos. É que, o desapego à ostentação, o espírito de renúncia, a buscado amor pelo amor, a resignação a uma vida singela, constituem as mais incisivas de suasvirtudes.

Socorro-me dos jornais brigadianos, como única forma de fazer chegar a todos e a cada umde nossos soldados (quem sabe ao próprio casal-enamorado), a música daquelas fisionomiasque o tempo enrugará, mas não conseguirá silenciar.

O jovem casal

Neste ano de 2006, a Associação Pró-Editoração à Segurança Pública, popularmen-te conhecida de nosso público como “APESP”,organização pioneira no apoio e incentivo àprodução intelectual e ao desenvolvimentocultural no contexto institucional da seguran-ça pública estadual, está completando seusvinte anos de criação.

Ao longo desses vinte anos de ativida-des somente agora é possível parar para re-fletir um pouco a respeito das realizaçõesdessa entidade e fazer uma avaliação acercade seu papel político-institucional e do traba-lho desenvolvido nessas duas primeiras dé-cadas, marcadas pelo idealismo, pela renún-cia e pela dedicação de seus laboriosos cola-boradores, no enfrentamento das dificuldadese vicissitudes características das organiza-ções dedicadas às atividades culturais.

Desde os idos de 1985, um grupo deabnegados integrantes da Brigada Militar co-meçava a debater a idéia de fundar uma agre-miação cultural genuinamente voltada à edi-toração da produção intelectual brigadiana.

Naqueles dias difíceis de um passadoque já começa a se distanciar, nos quais la-butavam os pioneiros da idéia inovadora,ocorreu, paradoxalmente, uma manifestaçãoexpressa do Comando da Brigada Militar,quando instado a manifestar-se a respeito,opondo-se à idéia da criação de uma entida-de voltada à consecução de tais objetivos ecuja denominação envolvia o nome da Briga-da Militar.

Esse paradoxo, entretanto, era perfeita-mente compreensível, pois estávamos viven-ciando uma época de intensos movimentospolíticos que buscavam implantar a redemo-cratização do país, depois de vivido um perí-odo autoritário de Estado que já se prolonga-va por dois decênios e cujo cenário futuro eraprenhe de dúvidas e temores e, como sabe-mos, as incertezas fazem com que as pesso-as e as instituições acabem agindo semprecom redobradas cautelas, por mais infunda-dos que tais temores possam parecer.

Naquele momento histórico, o que trans-parecia da postura institucional é que o pen-samento corporativo levava em consideração,especialmente, a herança histórica brasilei-ra, experimentada desde a década de 1920,

segundo a qual muitas organizações culturaishaviam-se tornado centros de debate das ques-tões nacionais, propagando focos paralelos depoder, geradores de instabilidades sobre asquais as instituições oficiais não podiam exer-ceu um controle direto.

Apesar de ver seu primeiro intento obsta-do, perseverou, o grupo originário, na concreti-zação da idéia, que prosseguiu seu desenvolvi-mento conduzido, agora, pela preocupação denão provocar qualquer forma de instabilidadenas relações da nascente organização culturalcom a mais que centenária instituição públicagaúcha que representava a Brigada Militar.

Foi assim que a agremiação terminou porfocar sua atenção institucional sobre o fomentoà produção intelectual no campo institucional dasegurança pública, abrangendo, assim, umamultiplicidade de vivências e saberes específi-cos que transitam nessa área de atividade, nãoficando, pois, adstrita ao campo restrito relativoaos temas de polícia militar, como era o seu in-

teresse primacial. Dessa forma, o próprio pro-cesso histórico havia-se encarregado de fazercom que todos passassem a vislumbrar, numsegundo momento, que estávamos, na verda-de, reduzindo nossa própria ação a um campofragmentário daquele universo muito mais ricoe abrangente da complexidade institucional al-bergada pelo setor.

A partir daí, o crescimento vigoroso dasatividades da Associação foi inevitável e já noano de 1987, quando a Brigada Militar come-morava os 150 anos de sua criação a APESPparticipava, em parceria com a Comissão Lite-rária do Sesquicentenário da BM, sob a chan-cela de “Editorial Presença”, da co-edição dediversos títulos da “Coleção Sesquicentenárioda Brigada Militar”. Esse exitoso trabalho inau-gural deveu-se ao pioneirismo, à capacidade eà visão empreendedora do então Major JoséHilário Retamozo, renomado poeta brigadiano,que fora designado como Presidente daquelaComissão e, ao mesmo tempo, tinha sido eleito

primeiro Presidente da APESP, já que era umdos principais idealizadores da entidade, junta-mente com o grupo que dava sustentação à idéiae trabalhava para a concretização de seus pro-jetos inovadores.

Do significativo sucesso alcançado duran-te a experiência editorial vivida durante os fes-tejos do sesquicentenário, veio a transformaçãoda Comissão Literária, de caráter temporário, emComissão Editorial da BM, como órgão de cará-ter permanente na estrutura institucional da Mi-lícia Gaúcha, sendo mantida a parceria editorialcom a APESP, da qual resultou a edição de maisde quarenta títulos, retratando os mais diversostemas de interesse profissional e de cultura ge-ral.

Hoje, com inúmeras obras editadas, ou emrelação às quais influenciou e colaborou decisi-vamente para que viessem a público, versandosobre temas variados, de interesse tanto daspolícias e corpos de bombeiros militares, comodas polícias civis, dos serviços penitenciários,

de polícia técnico-científica, além de muitostítulos de cultura geral, produzidos pelos es-critores que atuam nas instituições de segu-rança, a APESP é uma organização que cres-ce e se vê divulgada amplamente na condu-ção da bandeira do ativismo cultural, em umEstado que se destaca no cenário nacionalpela produção de uma pujante literatura regi-onal fomentada por inúmeras agremiações li-terárias, artísticas e culturais.

Dentre as realizações mais recentes daAPESP ganham destaque as Antologias dePoetas Brigadianos, tradição que está indo,neste ano, rumo à concretização de sua quin-ta edição, a par da primeira edição da Antolo-gia Poética de Policiais Civis e da Antologiade Contistas Brigadianos, em 2004, dos Prin-cípios Básicos de Atuação Operacional nosEstabelecimentos Penais, em colaboraçãocom a Escola do Serviço Penitenciário e, ain-da, as recentes edições da Cronologia Histó-rica da Polícia Civil no RS e do livro Aspectosda Origem e Evolução da Brigada Militar, nes-te ano de 2006.

Também não poderia deixar de ser feitareferência ao Suplemento Cultural do JornalCorreio Brigadiano (o ABC da Segurança Pú-blica), cujas edições circulam encartadas pe-riodicamente no jornal, espalhando-se por todoo Rio Grande do Sul, divulgando as letras eos valores culturais do segmento da seguran-ça pública, já tendo sido alvo de rasgados elo-gios do público leitor, bem como de pessoase agremiações que, entrando em contato comesse veículo, surpreenderam-se com o signi-ficativo potencial de produção intelectual eartística, aliado a um intenso ativismo culturalque floresceu entre os irmãos de ofício queatuam nas instituições do setor da segurançapública gaúcha.

Por tudo o que fez, faz e continuará fa-zendo pela segurança pública do RS, nadamais justo do que almejarmos vida longa eplena de realizações à APESP, neste ano emque festeja seus florescentes vinte anos. FE-LICIDADES redobradas à instituição gaúchaque faz acontecer a cultura na segurança.

1 Major da Reserva da Brigada Militar eSecretário da APESP (Gestão 2006-2008).

Pércio Brasil Álvares1

A prostituta que fazia ponto na esquina daminha rua foi morta, há quatro dias, por um caboda Brigada Militar. Quem me informa são os jor-nais da manhã. Na minha idade e morando só,raros são os prazeres que ainda restam. Por-tanto devem ser usufruídos até as últimas con-seqüências. Este é um deles: esmiuçar os jor-nais do dia, especialmente a crônica policial,tarefa que inicio à hora do café e que me tomaquase o dia inteiro. Outro é polir o meu revólvercalibre vinte e dois, pois quem mora só precisaestar prevenido e uma arma, que não é cuida-da pode falhar no momento exato. Outro ainda,é ficar à janela à noite, olhando a rua, razão porque conhecia a moça de vista, já que fazia pon-to na esquina e eu podia livremente observá-la.

Diz a notícia: “A moça, de trinta e dois anos,tinha por nome Maria Amália dos Santos, masatendia pela alcunha de Bernadete. Junto aocorpo foi encontrada a bolsa que estava fecha-da, não sendo roubo, portanto, o motivo do cri-me. A bolsa continha um estojo de pintura, umlenço vermelho, um tubo de sedativo com ape-nas dois comprimidos, uma escova de cabelo,uma carteira de saúde, algumas moedas e umsantinho com dedicatória: para Bernadete, de-

vota do Padre Réus, com a minha eterna ami-zade, Leci. Segundo testemunho de um senhoridoso que estava à janela de sua casa, a vintemetros da esquina, na hora do crime, a moçaestava parada, como de hábito, quando o Cabose aproximou e disparou dois tiros pelas cos-tas, à distância. Afirma a testemunha que amoça, antes de cair, viu o criminoso e gemeu:“Me mataste, meu amor”. Ato contínuo, tomboude bruços, pondo sangue pela boca. Afirma ain-da que o Cabo, aparentemente arrependido dotresloucado gesto, correu, ajoelhou-se ao ladodela e beijou-a no rosto, dizendo: “Que foi queeu fiz!”

Segundo ainda notícias da imprensa, oCabo, de nome Anselmo, tem vinte e oito anosde idade, é casado e pai de duas meninas, man-tendo, há alguns meses, um romance com Ber-nadete, a quem conheceu numa casa noturnada cidade baixa, onde fora dar vistoria. Em de-clarações à polícia, o Cabo Anselmo afirmou quenão matou a moça; que realmente fora ao seuencontro, mas que antes de chegar perto ouviudois disparos e viu que o corpo dela rodopiavae caía. Correu e ainda ouviu suas últimas pala-vras: “Me mataram, meu amor!”, e que nessa

ocasião teria beijado o rosto da vítima e dito:“Que foi que te fizeram?”

Continua a notícia: “A arma do crime nãofoi encontrada, motivo por que não foi lavrado oflagrante. A polícia suspeita que o Cabo Ansel-mo a tenha jogado no mangue próximo, mas asbuscas resultaram infrutíferas. Ainda assim, foidecretada a prisão preventiva, devendo o CaboAnselmo aguardar na cadeia o julgamento”.

Esgotadas as notícias, passo ao meu se-gundo maior prazer: e enquanto limpo capricho-samente o meu revólver calibre vinte e dois, ficopensando na pobre moça que, pela profissão,não seria mulher de um homem só, concluindoque o Cabo deve ser realmente o assassino, jáque era o único passante na rua àquela hora,segundo a testemunha, e que o ciúme teria sidoo motivo do crime. É verdade que da janela daminha casa, por exemplo, que fica a vinte me-tros da esquina, alguém poderia ter atirado namoça, que se oferecia à noite como alvo propí-cio. Mas quem atiraria numa prostituta que sóconhecia de vista e sem motivo aparente? A nãoser, é claro, que o fizesse pelo puro e inenarrá-vel prazer de matar.

Crônica PolicialCarlos Carvalho Paulo F. M. Pacheco

Está aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emEstá aberta a seleção de trabalhos emverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarverso para poetas/poetisas da Brigada Militarque queiram participar da que queiram participar da que queiram participar da que queiram participar da que queiram participar da V Antologia de Po-etas Brigadianos da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza- da Polost/Apesp. Organiza-dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira dor: Tenente João de Deus Vieira [email protected].....

Em breve: Oficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eOficinas Literárias de Prosa eVersoVersoVersoVersoVerso, com renomados escritores. Organiza-ção do Centro Educacional ApespCentro Educacional ApespCentro Educacional ApespCentro Educacional ApespCentro Educacional Apesp. Fiquematentos!

I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. I Salão do Artista Policial. Exposição deartes plásticas, esculturas e artesanato. Co-ordenação-geral do presidente da Apesp.

Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Agenda Histórica da Brigada Militar 2007.Todo brigadiano deve ter uma.

Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,Associação Montenegrina de Escritores,AMES, é presidida pelo Capitão Oscar BessiBessiBessiBessiBessiFilho, integrante proativo da Apesp.

O Cel RR Afonso obteve o 2º lugar noconcurso de contos realizado pela SociedadeEscritores de Blumenau em 2006. Além dele,o Sgt Bayerle foi destaque no 7º HabitasulRevelação Literária da Feira do Livro de Por-to Alegre.

O Major OrdeliOrdeliOrdeliOrdeliOrdeli Savedra Gomes, lançouo livro Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-Código de Trânsito Brasileiro Comen-tadotadotadotadotado que vem a ser uma obra das mais com-pletas em se tratando de trânsito brasileiro.

A DE/Apesp parabeniza seu sócio, Sol-dado Ângelo Marcelo CúrcioCúrcioCúrcioCúrcioCúrcio dos Santos, ba-ba-ba-ba-ba-charel em Direitocharel em Direitocharel em Direitocharel em Direitocharel em Direito pela Uniritter.

O Azimute congratula-se com o 3º SgtEnídioEnídioEnídioEnídioEnídio Eduardo Dias Pereira pela conclusãodo CTSP/2006, no 9º BPM.

O Caderno Cultural do JCB/Apesp esten-de os cumprimentos ao Major Julio Cezar DalPaz Consul, Consul, Consul, Consul, Consul, por ter conquistado o merecidotítulo acadêmico de Doutor em Serviço SocialDoutor em Serviço SocialDoutor em Serviço SocialDoutor em Serviço SocialDoutor em Serviço Socialpela PUCRS.

Com a assunção do Coronel João Bap-Bap-Bap-Bap-Bap-tistatistatistatistatista da Rosa Filho como Chefe do EMBMChefe do EMBMChefe do EMBMChefe do EMBMChefe do EMBM, oTenente-Coronel Jorge Luiz AgostiniAgostiniAgostiniAgostiniAgostini, MestreMestreMestreMestreMestreem Ciências Criminaisem Ciências Criminaisem Ciências Criminaisem Ciências Criminaisem Ciências Criminais, assumiu o cargo deDiretor do DE, e o Major Pedro Joel Silva Silva Silva Silva Silva daSilva, Mestre em EducaçãoMestre em EducaçãoMestre em EducaçãoMestre em EducaçãoMestre em Educação, é o novo Chefedo IPBM.

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Brigada MilitarBrigada MilitarBrigada MilitarBrigada MilitarBrigada Militar, 169 incansáveis anos delutas e glórias! Parabéns a seus integrantes,homens e mulheres, que labutam em prol dasegurança pública gaúcha!

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Caderno Cultural do Jornal Correio Brigadiano

Ano III - Nº 7Pág 4 - Dezembro 2006

Ano III - Nº 7 Dezembro 2006

Prédio do QCG

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Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Cel RR Alberto Afonso Landa CamargoMaj Res Pércio Brasil ÁlvaresSgt Cláudio Medeiros BayerleSgt Luiz Antônio Rodriguez Velasques

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Atual diretoria executiva da Apesp: acima, da esquerda para a direita, Sgt Claudio Bayerle, Cel RRDélbio Vieira. Abaixo, Sgt Luiz Velasques e Maj Res Pércio Álvares