briefing, nº 10

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www.briefing.pt PUB Director: Jorge Fiel n Nova série n Mensal n Ano I n N.º 10 n Junho de 2010 n 8 euros O Marketing é demasiado importante para ser deixado aos directores do dito António Pires de Lima presidente executivo da Unicer Pág. 36 14 As mulheres compram mais, pois estão mais envolvidas na gestão do lar. São elas as directoras financeiras e de compras. Na sua relação com os hóbis, os homens são muito consumistas. Quem o garante é o novo coo da Strat A bola já rola na África do Sul. Os patrocinadores estão satisfeitos. O futebol, território de paixão e emoções fortes, é óptimo para as marcas. Mas não esperem milagres. O Mundial não vai salvar o mercado publicitário em 2010 João Dionísio, coo da Strat Os homens são mais consumistas 10 Mundial da África do Sul É bom mas não esperem milagres

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briefing, nº 10

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Page 1: briefing, nº 10

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Director: Jorge Fiel n Nova série n Mensal n Ano I n N.º 10 n Junho de 2010 n 8 euros

O Marketingé demasiado

importante para ser

deixado aos directores

do dito

António Pires de Lima presidente executivo

da Unicer

Pág. 36

14As mulheres compram mais, pois estão mais envolvidas na gestão do lar. São elas as directoras financeiras e de compras. Na sua relação com os hóbis, os homens são muito consumistas. Quem o garante é o novo coo da Strat

A bola já rola na África do Sul. Os patrocinadores estão satisfeitos. O futebol, território de paixão e emoções fortes, é óptimo para as marcas. Mas não esperem milagres. O Mundial não vai salvar o mercado publicitário em 2010

João Dionísio, coo da Strat

Os homens sãomais consumistas10

Mundial da África do Sul

É bom mas nãoesperem milagres

Page 2: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.2 Junho de 2010

Conversas no Tivoli

www.briefing.ptEntrevista

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Page 3: briefing, nº 10

Junho de 2010 3O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Destaques

Naquele dia 1 de Maio de 1970, quando foi inaugurado o primeiro Pão de Açúcar em Lisboa, Solange tinha três anos e estava muito provavelmente a subir a uma goiabeira ou a trepar a um telhado em Inhambane, onde nasceu. Duas vidas diferentes que se viriam a cruzar. Quarenta anos volvidos, e após uma brilhante carreira em multinacionais anglo--saxónicas (Fima-Lever, Gillette e Coca-Cola), ela é a directora de Marketing da Auchan Portugal, que desenvolve as cadeias Jumbo e Pão de Açúcar

26 PASSEIO PÚBLICO

Duas vidas cruzadas

O marketing está cada vez mais romântico. António Pires de Lima, 48 anos, ceo da Unicer, fala em cumplicidade: “Ou as marcas conseguem criar uma relação muito forte com os consumidores, ou as pessoas optam por marcas que se baseiam no preço”. João Dionísio, 43 anos, o novo coo da Strat, pre-ga o mesmo mas usa outras palavras: “É em cima dos afectos que se cons-troem as relações a longo prazo. Preço, oportunidade, promoção, tudo isso é passageiro”. Ao fim e ao cabo, tudo se resume a saber construir histórias, bonitas e sólidas, de amor correspondido. Quem chorou ao ver Debra Winger morrer em Laços de Ternura, já desconfiava disso. Em tempos tão volúveis como estes em que vivemos, o amor, a cumplicidade e o afecto são valores refúgio em alta. Ainda mais fiáveis do que o ouro.

32 CANNES

Criatividade está imuneOs três portugueses convidados (Elisabete Vaz Mena, Eugénio Chorão e Jorge Castanheira) para julgar em Cannes, de 20 a 26 deste mês, o melhor da publicidade mundial, garantem que a criatividade portuguesa está boa e recomenda-se

EDITORIALLaços de ternura

Hoje vai-se de Lisboa ao Algarve em duas horas. Mas nem sempre foi assim. O Continente comemora o seu 25.º aniversário evocando os tempos em que a A2 era um projecto e as viagens para o Algarve uma tormentosa epopeia

MAKING OF

Continente revival28

O Benfica ganhou a Liga, o Papa Bento XVI visitou-nos e o Clube dos Criativos de Portugal entregou 332 prémios no espaço Atmosfera da Etic, em Lisboa. Uma semana e pêras - para mais tarde recordar

JET MARKETING

A 13 de Maio em Lx06

Manuel Falcão recorda o tempo em que o Pap’Açorda abriu portas, quando ainda existiam jornais no Bairro Alto. E confessa que sempre gostou mais de ir ao almoço, porque é mais sossegado, “recatado quanto baste para uma conversa de trabalho”

CONHAQUE

É melhor ao almoço44

Ao cabo de um ano em Portugal, o Surf já consolidou uma quota de 6%, mas o objectivo é conquistar 10% do mercado. A arma para o conseguir poderá muito bem ser o lançamento de um detergente com fragância Baunilha & Orquídea Negra

MARCA

Surf com baunilha08

Carvalho da Silva é mais conhecido e falado do que o patrão dos patrões. Mas os sindicatos reconhecem que têm de se adaptar aos novos media. Para se fazerem ouvir, o megafone já não chega

SINDICATOS

Carvalho superstar30

Lusa

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Page 4: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.4 Junho de 2010

www.briefing.ptQuadro de Honra

Sem grossistas de assinaturas

O relatório anual da ICCO indica que, em 2009, o mercado português de Conselho em Comunicação e Relações Públicas cresceu 8 por

cento em relação ao ano anterior. Infelizmente, tal não é verdade. Os indicadores das principais empresas do sector relevam que o

crescimento do mercado foi neutro ou, mesmo, negativo. O relatório prevê ainda que o crescimento do mesmo mercado no corrente ano

seja de 10% a 20%, uma estimativa que os primeiros cinco meses já se encarregaram de deitar para o cesto dos papéis. Mas, se os nossos governantes são “generosos” na hora da estética das contas públicas,

o que esperar de uma organização como a ICCO ou das fontes que a “informam” a partir de Portugal? Ora, é à luz do contexto negativo do ambiente económico-financeiro do nosso País que devemos relevar as iniciativas empresariais, nomeadamente

do sector das RP. E compreender melhor aqueles que ficam justamente indignados com as omissões. Rui Calafate, que teve a coragem de lançar, em ano de crise, a nova consultora Special One, chamou a atenção para o facto de os “prémios” da

revista Meios terem excluído, logo nesse ano, a categoria das Novas Agências. E referia especialmente o seu caso e o da sua concorrente NextPower, de Rodrigo Moita de Deus. Numa nota de infelicidade máxima, a directora da Meios justificou-se assim ao Diário Económico: “Nas novas agências, há um ou dois projectos, mas nada muito relevante. Pareceu-nos que avançar com

estes projectos era baixar muito a fasquia em relação aos anos anteriores”. No Briefing, como é sabido, não temos “prémios” – em parte porque não precisamos de “grossistas de assinaturas”, na certeira expressão de Calafate –, mas gostamos de elogiar o que

merece ser elogiado, como os novos desafios empresariais, de saudar os recém-chegados e de projectar imagens positivas. E não medimos a “fasquia” das empresas em função do número das “assinaturas” contratadas.

Ao mesmo tempo que apresenta o projecto Marketing Beyond, esmiuçado nesta edição por

António Pires de Lima, o partner da Deloitte surge como a “força”

do Programa Farol, esse misto de estudo sociopolítico e de

movimento cívico que tem por objectivo apresentar caminhos à

chamada sociedade civil.

Jorge Marrão

Um blogue não é tudo, pode mesmo ser quase nada, na

vida de uma empresa, mas “the eventologist”, disponível numa web perto de si, é uma excelente montra

da actividade e da maneira de ser do líder da Desafio Global Ativism.

Daí este “quadro de honra” – e também pelos prémios que recebeu

recentemente.

Pedro Rodrigues

Rui Calafate

Rodrigo Moita de Deus

Consolidar pode ser a resposta dos inteligentes a mercados difíceis.

Por isso é de saudar a iniciativa dos líderes da Fischer Portugal e da Bus Consulting de criarem a Fischer Bus,

sobretudo quando anunciam que a nova entidade estará assim mais

bem preparada para mercados mais promissores como o de Angola.

Eduardo Fischer

Pedro Diogo Vaz

Page 5: briefing, nº 10

Junho de 2010 5O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

Edição vídeo desta entrevista

em www.briefing.pt

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Olivier Martinez

BRIEFING 240x335 0,72A66833_240x335_072:Mise en page 1 31/05/10 18:21 Page 1

Page 6: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.6 Junho de 2010

www.briefing.ptJet Marketing

Tudo o que de relevante aconteceu na mágica semana 19 do calendário de 2010

Benfica, papa e criatividadeNuma semana que começou com uma vitória encarnada, teve a meio a visita do homem de bran-co e algumas medidas fiscais em tons de rosa choque, encerrámo-la a dourado com a entrega de 20 troféus de Ouro do 12.º Pré-mio do Clube de Criativos de Portugal, no espaço Atmosferas da Etic, em Lisboa. Podiam ser mais? Podiam ser outros? Sim, podem sempre, e quem compa-receu à festa pôde confirmar o elevado nível das participações, que estavam expostas. Mas os critérios dos juris determinaram que este ano fosse esse o re-sultado. Ao todo, contabilizando Pratas, Bronzes e Menções foram atribuídos 322 prémios, entre eles o Grande Prémio atribuído à Ivity pelo projecto da Coca-Cola Light; escolhidos entre as 712 inscri-ções que tivemos, ainda mais do que no ano passado.Feitas as contas aos prémios, em Publicidade, a Fischer foi eleita agência do ano. Em Marketing Relacional a distinção coube à Ogilvy One. Em Design o título de agência do ano foi entregue à Ivity, enquanto em Digital & In-teractive Media o prémio foi para a Brandia Central. Na categoria de Meios o prémio de agência do ano coube à Ogilvy & Mather. Nas categorias técnicas, a Ministé-rio dos Filmes foi eleita a melhor Produtora de Imagem, a Índigo a melhor produtora de som e a Bikini a melhor pós-produtora de imagem.Vodafone, Mars, LG e WWF foram considerados anunciantes do ano nas categorias de Publicidade, de Marketing Relacional, de Digital & Interactive e de Meios, respecti-vamente. Em Design, houve dois vencedores: Coca-Cola Portugal e Adega Mayor.

Clube de Criativos de Portugal

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Junho de 2010 7O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt EntrevistaEntrevista

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O nosso sincero obrigado a todos os que nos ajudaram a contar as melhores histórias do ano.

Page 8: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.8 Junho de 2010

www.briefing.ptMarca

Até onde poderá ir o Surf?Um ano após o seu

lançamento, a marca mantém a aposta: conquistar 10% do mercado em cinco anos. Já

vai em 6%. Novas fragrâncias, como Baunilha & Orquídea Negra, poderão surgir em

breve, num produto com mais de 50 anos de vida

“No momento do pós-lançamento de qualquer produto existe uma percentagem de consumo gerada por curiosidade e experimenta-ção. No entanto, no caso do Surf, a quota de mercado tem sido mui-to consistente, mantendo-se nos 6% ao longo dos últimos meses”. Gonçalo Bernardes, head of Brand Building Laundry da Unilever Je-rónimo Martins, justifica assim a descida dos 8% — registados no primeiro mês após o lançamento do produto — para os 6%, oito meses depois. O Surf está presente nos merca-dos europeu, asiático, africano e americano. No Reino Unido, onde a marca está há décadas e é já

Sabia que o Surf nasceu em 1952? É verdade. Foi introduzido pela Crosfields of Warrington, uma subsidiária da Lever Brothers, que, aquando do lançamento da marca, proporcionou a todos os empregados da empresa no Reino Unido a possibi-lidade de experimentarem o produto gratuitamente. Nos anos 60, Surf já era uma marca estabelecida, adaptando-se às novas formas de lavar a roupa,

nomeadamente às máquinas de lavar. Já os óleos essenciais foram uma aposta de 2007, numa altura em que estes floresciam enquanto trend. Segundo a marca, em 2009, as famílias inglesas compraram mais embalagens de Surf do que de Coca-Cola e, no mercado irlandês, este foi o detergente que mais cresceu nos últimos dez anos, aumentando a sua quota de mercado de 2% para 12%.

Vende mais do que a Coca-Cola

REINO UNIDO

uma presença “bastante madura”, tem 9% do mercado.O Surf tem vindo a ser lança-do, em média, em quatro paí-ses por ano, “alcançando taxas de crescimento muito fortes em alguns destes”. Nomeadamente no ano anterior ao lançamento em Portugal, a marca cresceu 25% na Europa, 11% na Ásia, 71% no Norte de África, 56% na Argentina e 25% no Brasil. Em Portugal, o investimento de 10 milhões de euros com o lança-mento do produto em 2009 fez do detergente “a maior aposta da Unilever Portugal na última década”, acrescenta.Baunilha & Orquídea Negra ou

Jasmim & Gardénia são algumas das fragrâncias da marca que não existem em Portugal e que, com o alargamento da gama, poderiam chegar às prateleiras dos nossos supermercados. “O perfume é o atributo mais va-lorizado pelos consumidores”, garante Gonçalo Bernardes, su-blinhando que “não existia em Portugal nenhum produto que valorizasse esta qualidade em particular”. O Surf foi lançado “com o objectivo muito especí-fico de preencher esta lacuna”, apresentando-se com três fra-grâncias. Tal como no Reino Uni-do, se os objectivos comerciais forem atingidos e o crescimento

se mantiver, a marca pretende vir também a aumentar a gama em Portugal.A última vaga de comunicação teve início em Março, assente no conceito da marca – uma ex-plosão de perfume – e marcando presença em televisão, rádio e exterior. O filme foi desenvolvido pela BBH Londres e adaptado por Paulo Garcez Palha Lisboa e pela LPM Comunicação. A campanha envolveu ainda mupis especiais 3D. Tanto a BBH Londres como a LPM Comunicação já tinham sido responsáveis pelo lançamen-to, marcado por uma acção de marketing de “guerrilha” no Cen-tro Comercial Vasco da Gama.

Page 9: briefing, nº 10

Junho de 2010 9O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt

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O novo agregador do marketing.10 Junho de 2010

www.briefing.ptEntrevista

“Há a tentativa de sobrevalorizar as mensagens racionais: preço, oportunidade, promoção. Isto é passageiro. É em cima dos afectos, do coração, que se constroem as relações a longo prazo”, afirma João Dionísio, 43 anos, licenciado em Psicologia Social, professor na Escola de Gestão do Porto e coo da Strat. “A marca em promoção só me serve naquele momento, só me satisfaz uma necessidade básica da altura. Os afectos são o motor das relações a longo prazo, os afectos são o suporte da narrativa das marcas”, acrescenta

O importante é o afectoJoão Dionísio, chief operating officer (coo) da Strat

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Briefing | Com que missão espe-cífica veio para a Strat?João Dionísio | Venho para a Strat por estar ligado ao consu-midor, ao planeamento estratégi-co, ao Marketing. A minha vinda tem a ver com a possibilidade de trazer conhecimento nesta área e de reforçar o posicionamento da Strat, em cima desse conceito de estratégia e conhecimento do consumidor.

Briefing | Quais são os objecti-vos desse reposicionamento?JD | A Strat está a passar por uma fase de reorganização para responder às solicitações do mercado. A publicidade assen-tava em cima dos media tradi-cionais ou convencional. Essa realidade mudou com a Inter-net, as redes sociais e a nova forma como os consumidores abordam as marcas.

Briefing | Estratégia e criativida-de só funcionam em conjunto?JD | Uma agência de publicidade tem de assentar basicamente em três coisas: acompanhamento dos clientes, planeamento de estra-tégia conhecedor da realidade e das tendências dos consumido-res, e criativos capazes de pegar nessa informação e transformá-la em algo diferenciador, que marque uma posição.

Cristina ArvelosJornalista

Page 11: briefing, nº 10

Junho de 2010 11O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

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“Os consumidores de hoje querem participar e valorizam cada vez mais a possibilidade de ter canais abertos

onde deixam as suas opiniões, que

influenciam as marcas”

“Quando se conseguir resolver a dependência dos óculos, acontece

o boom do 3D. As pessoas estão

disponíveis para ver, mas estão menos

disponíveis se, para verem, tiverem de usar

um intermediário”

Briefing | Já atingiu esses objec-tivos?JD | Isto é como a vida. Os objec-tivos podem ser diários. Todos nós ao acordar, traçamos um plano diário. Eu comecei por conhecer a estrutura. Depois, centrei-me em comunicação interna: partilha de re-ferenciais e valores, para que quan-do o posicionamento passasse para o exterior já traduzisse a visão interna e de forma convincente.

Briefing | Fizeram uma plástica?JD | Não foi bem uma plástica, mas foi uma drenagem linfática. É claro que o objectivo da Strat é também ampliar o leque de clien-tes, ter mais presença e brilho no mercado. Mas antes há que dar aos clientes uma oferta mais abrangente e especializada.

Briefing | A crise influencia efec-tivamente?JD | Condiciona. Mas há outros factores. Nos últimos anos, as pessoas aprenderam a comprar sozinhas, em livre serviço, a estar mais atentas ao que as marcas lhes oferecem. Estão mais preparadas para negociar, exigir que a comu-nicação seja eficaz, impactante e estimulante. Os consumidores são também veiculadores de imagem, através das redes sociais e não só.

Briefing | O Facebook tem mes-mo representatividade?JD | O Facebook é o elemen-to mais visível da actuação dos consumidores. Mas todos os pro-gramas que as empresas desen-volvem na gestão das relações com os clientes têm tido maior relevância. Os consumidores de hoje querem participar e valorizam cada vez mais a possibilidade de ter canais abertos onde deixam as suas opiniões, que influenciam as marcas.

Briefing | As emoções ainda são a base da publicidade?JD | Qualquer tipo de discurso tem de ter sempre uma compo-nente emocional e uma racional. O que varia ao longo do tempo é a percentagem de cada uma das mensagens. Neste momento há

a tentativa de sobrevalorizar as mensagens racionais, visíveis nos pontos de venda: as mensagens preço, oportunidade, promoção. Isto é passageiro. É em cima dos afectos, do coração, que se cons-troem as relações a longo prazo.

Briefing | Como com a papa Ce-relac…JD | No caso da papa Cerelac há ainda outra dimensão. A mar-ca tenta ao longo dos tempos descobrir pontos de ligação para construir uma história com os con-sumidores. Este é o segredo. Não nos lembramos do que comemos na terça- feira, mas lembramo-nos do que comemos no dia do nos-so casamento, quer tenha corrido bem ou mal. Lembramo-nos de tudo o que é importante para nós. A bebida que consumia em estu-dante tem mais probabilidades de ficar para o resto da minha vida, pois acompanhou um momento relevante. A marca em promoção só me serve naquele momento, só me satisfaz uma necessidade básica da altura. Os afectos são o motor das relações a longo prazo, os afectos são o suporte da narra-tiva das marcas.

Briefing | Os slogans ainda são importantes? E têm mais im-portância se forem polémicos, como o “Bosch é bom” do O’Neil?JD | Hoje, vivemos mais no mundo da imagem do que no da palavra. Mas é sempre tempo dos slogans, pois as pessoas apreendem men-sagens directas, curtas e simples. Os tempos mudaram, mas o cé-rebro das pessoas não mudou. Continuam a existir pessoas que processam melhor a informação visual e outras a informação da palavra.

Briefing | Está para breve o boom da publicidade a 3D?JD | Quando se conseguir resolver a dependência dos óculos, acon-tece o boom do 3D. As pessoas estão disponíveis para ver, mas estão menos disponíveis se, para verem, tiverem de usar um inter-mediário. É um bocado como o

sucesso do telemóvel. O telemó-vel é o 3D do telefone, porque ti-rou o fio ao telefone. Sem o fio, as pessoas puderam passar a levar o telefone. Os sucessos aconte-cem quando se simplifica a vida às pessoas.

Briefing | Como quer ver a Strat no final do ano?JD | Fidelização dos clientes e au-mento de número dos clientes. Es-tes são os objectivos. Este é o mo-mento para se fazer isso. A seguir a uma crise, há convulsão e des-conforto. Quando há desconforto, há sempre mudança. Portanto, a mudança é agora. Seria um erro ficar parado. Nos momentos de convulsão, as pessoas estão mais disponíveis para apreenderem no-vos modelos, pois estão instáveis e precisam de rever paradigmas.

Briefing | As grandes campa-nhas publicitárias são apostas do passado?JD | A nível da publicidade tradi-cional, trabalhamos apenas com marcas portuguesas. Na experiên-cia que temos com clientes nacio-nais, eles tentam manter as suas estratégias adaptadas à realidade. Caso dos CTT que fez uma grande campanha de reposicionamento.

Briefing | Numa família, são os mais novos que têm o poder de decisão da compra?JD | Depende do produto. O po-der pode ser repartido. Se for para comprar presunto Pata Negra é o pai; se for para comprar cereais do pequeno-almoço é o jovem; se for para comprar as papinhas também é o menino, embora a mãe possa, neste caso, influenciar. Os influen-ciadores do processo de compra podem ainda ser um amigo que sabe muito de tecnologias, nos ca-sos de telemóveis e automóveis.

Briefing | E na aquisição do que não é essencial?JD | Depende também do produ-to. Um exemplo: a mãe tem uns lábios a precisar de um batom. E, em vez de comprar um hidratante, compra um mais caro com gloss. Essa decisão é dela.

Page 12: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.12 Junho de 2010

www.briefing.ptEntrevista

Nasceu em casa, na Rua dos Poços Negros, em Lisboa. Prati-cou andebol durante 13 anos, hoje vai ao ginásio uma vez por semana. Tirou um curso de culinária, mas é mais por obrigação que passa tempo na cozinha. Pintar e desenhar são os seus maiores prazeres. Os seus dois filhos - de 13 e quatro anos - despertaram-lhe ainda o talento de fazer brinquedos em madei-ra. Comprou brocas, martelos e escopos e faz carrinhos, aviões e naves espaciais – os seus brinquedos de hoje. O da sua in-fância foi um Action Man, que nunca fez sucesso junto dos seus descendentes. Conclui com ironia e sempre acelerado (diz 120 palavras por minuto, já contou): “O meu filho mais velho gostava de brincar com Barbies e fazer roupinhas, o mais novo só quer saber de carros. O meu Action Man mantém-se meu”.

Os filhos não ligam ao Action Man dele

PERFIL“As mulheres compram mais, pois estão mais envolvidas na gestão

do lar. São elas as directoras financeiras e de compras. Não há nada que diga que são mais consumistas. Na relação com os hóbis, os homens são muito consumistas. Todos os homens adoram

consumir “brinquedos”. Compram a game box, subscrevem a Sport TV. Acho que não podemos

trabalhar em cima de clichés”

“Tenho andado a vida inteira a aplicar o que aprendi na faculdade: olhar em profundidade

para as coisas e pessoas”

Briefing | Até sabe de batons com gloss…JD | Sei. Já tive de trabalhar ba-tons. É um bom exemplo, onde a paixão supera a razão. Efecti-vamente, as consumidoras pre-cisam de ter os lábios hidrata-dos. O gloss é o “plus” em cima da realidade.

Briefing | A mulher é mais con-sumidora do que o homem?JD | Não concordo. As mulheres compram mais, pois estão mais envolvidas na gestão do lar. São elas as directoras financeiras e de compras. Não há nada que diga que são mais consumistas. Na relação com os hóbis, os ho-mens são muito consumistas. Todos os homens adoram con-sumir “brinquedos”. Compram a game box, subscrevem a Sport TV. Acho que não podemos tra-balhar em cima de clichés.

Briefing | A publicidade sobre-valoriza sempre o produto?JD | Nenhuma marca, nenhuma empresa performa acima das suas expectativas. Mas se apre-sentar um tarifário de telemóvel em cima da racionalidade, sem lojas, telemóveis, caixas boni-tas, publicidade, esse tarifário está condenado ao fracasso. As pessoas que compram, além do tarifário e do telemóvel, querem uma caixa bonita, publicidade, uma loja onde possam resolver os problemas. Se essa expecta-tiva não corresponde totalmen-te, o consumidor penaliza. Mas a expectativa da publicidade tem de ser um bocadinho maior do que a realidade. A realidade é para o cinema.

Briefing | Sente o peso da cri-se no dia-a-dia?JD | Claro, a mais não ser pela expectativa das pessoas. Em 2009 a crise ainda era uma imagem, actualmente vive-se a concretização dessa crise. Isso traduz-se no consumo e nos cri-térios que se adoptam. Vai toda a gente para o Algarve de férias, mas repartindo a casa com o cunhado, fazendo as refeições

em casa. Toda a gente está a fa-zer uma décalage dos seus pra-zeres. O marisco que se comia é substituído por chouriço assado e por aí…

Briefing | E a margem para er-rar…JD | Todos estes valores podem ter o erro por detrás. A ideia é que o erro seja um fenómeno interno, já seja eficácia e ac-ção quando chega aos clientes. Erra-se sempre no processo criativo e de gestão. Mas erra-se nos bastidores. Isto é como uma grande orquestra sinfónica. Ensaia até à exaustão, para que o espectador fique maravilhado por as notas estarem todas cer-tinhas.

Briefing | É licenciado em Psi-cologia Social, com especia-lização em Terapia Familiar. Esta formação tem ajudado?JD | Tenho andado a vida in-teira a aplicar o que aprendi na faculdade: olhar em profundi-dade para as coisas e pesso-as. As pessoas são a mais-valia das empresas. Os negócios são pessoas. Qualquer processo de venda tem a ver com vender

ideias a pessoas e quem tem as ideias são as pessoas. As pes-soas são o tema claramente.

Briefing | Como aterrou na pu-blicidade?JD | Nunca fiz outra coisa. Logo no estágio fiz um estudo sobre psicologia do consumidor. Pos-so ainda explicar de uma manei-ra mais simples. Aos 24 anos, quando um tipo acaba um curso de Psicologia vocacionado para terapia familiar, a primeira coisa que descobre é que não está preparado para fazer terapia fa-miliar. Nem sequer tinha família! É mais fácil ser sério e seguir a paixão pela comunicação, estu-dar e aprender o consumo, por estarem mais próximos.

Briefing | Optou por uma pai-xão?JD | Claro que sim. O mundo das marcas está impregnado de va-lores, sonhos, expectativas. Um filme publicitário tem de contar uma história em 20 segundos. Esse desafio é fantástico. Na publicidade estão todas as re-gras mais interessantes daquilo que é dado aos seres humanos: a capacidade de comunicar.

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Page 13: briefing, nº 10

Junho de 2010 13O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

Edição vídeo desta entrevista

em www.briefing.pt

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Page 14: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.14 Junho de 2010

www.briefing.pt

O futebol é, cada vez mais, um in-vestimento a tempo inteiro, o que leva a que os grandes eventos desportivos, como o Mundial de Futebol da África do Sul, não in-flacionem os resultados finais do ano publicitário. No entanto, é in-contestável a sua importância para as marcas associadas ao desporto rei, quer estas sejam patrocinado-ras oficiais quer não.O presidente da Omnicom Media Group, Luís Mergulhão, explica que tanto o Mundial como o Europeu de Futebol, que se revezam a cada dois anos, não têm “feito a diferença” no balanço final dos anos publicitários. Isto porque, “as estrelas são os jo-gadores e os treinadores e não ape-nas os clubes e as competições em si” e, consequentemente, “pouca diferença se sente nos investimen-tos publicitários ligados ao futebol, entre os anos pares e ímpares”.

Território de emoções fortes e muita

paixão, o futebol é óptimo para as marcas. Quem lá

mete dinheiro não se queixa. Muito

antes pelo contrário. Mas mais vale tirar o

cavalinho da chuva se está à espera

que o Mundial da África do Sul seja

a alavanca de uma recuperação do nosso anémico

mercado publicitário

Mundial não faz a diferença, mas...

376milhões de euros foi o retorno somado dos principais patrocinadores

e parceiros do Euro 2004, tendo em conta a exposição

que cada marca teve em imprensa, rádio e

televisão, de acordo com os cálculos da Marktest.

A marca com maior retorno foi a Coca-Cola (52 milhões de euros),

seguida da McDonald’s, que somou mais tempo na televisão (90 horas)

O Mundial de Futebol terá sobretu-do “impacto adicional nas marcas que são patrocinadoras da selec-ção nacional”, mas “não irá para além disso”, comenta Manuela Botelho. Para a secretária geral da Associação Portuguesa de Anun-ciantes (APAN), o evento não será responsável pelo “inflacionamento” dos resultados finais dos investi-mentos em publicidade em 2010. Adidas, Coca-Cola, Hyundai, Visa, Sony e a Emirates são os parceiros oficiais da FIFA, aos quais se jun-tam, entre outros patrocinadores, a Castrol, Budweiser, McDonald’s e a Continental. Pedro Dionísio, di-rector do mestrado executivo de Marketing e Gestão do Desporto do INDEG-ISCTE, realça que, além destes patrocinadores “sobressa-em também as marcas que apro-veitam o interesse da prova para apresentarem spots relacionados

com o futebol, exemplos disso são a Nike e a Pepsi”.O mesmo sucede ao nível nacional com marcas que, apesar de não serem patrocinadoras oficiais, be-neficiam do ambiente através de campanhas de apoio à Selecção. O Mundial da Alemanha, em 2006, comprovou isso mesmo. Durante os meses que antecederam a com-petição, foram lançadas cerca de 300 campanhas televisivas na Ale-manha com o tema “futebol”. Na maior parte dos casos as marcas não eram patrocinadoras do even-to. O tempo televisivo ocupado por estas campanhas terá gerado um retorno de cerca de cinco mil mi-lhões de euros. BES, Coca-Cola, Galp, Modelo, Nike, Sagres, Samsung, TMN e Hertz são os patrocinadores ofi-ciais da Selecção Portuguesa de Futebol em 2010.

Nik

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Futebol

Cláudia KöverJornalista

[email protected]

Page 15: briefing, nº 10

Junho de 2010 15O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt

“As estrelas são os jogadores e os treinadores e não

apenas os clubes e as competições em si. Por isso pouca diferença se sente nos investimentos publicitários ligados ao

futebol, entre os anos pares e ímpares”

Luís MergulhãoCEO do Omnicom Media Group

“O Mundial terá sobretudo impacto

adicional nas marcas patrocinadoras da

Selecção Nacional. Mas não irá para além disso.

Não vai inflacionar os resultados finais da

publicidade em 2010”

Manuela BotelhoSecretária-geral da APAN

“Um Mundial em Portugal criaria, à semelhança

do Euro 2004, outro estado de entusiasmo entre os portugueses, contagiados também

pelos fãs de outros países. Seria uma boa oportunidade para as

marcas portuguesas que apostam na exportação”

Pedro DionísioDirector do mestrado de Marketing e

Gestão do Desporto do INDEG-ISCTE

“Organizar o Mundial 2018 favoreceria muito

o sector publicitário em geral e, em especial,

as marcas associadas ao futebol. Um evento destes implica sempre

uma mobilização colectiva que, tal como

aconteceu no Euro 2004, seria benéfica para as

empresas”

Onofre CostaPorta-voz da Federação Portuguesa

de Futebol

“O BES e o Modelo têm-se des-tacado pelas suas acções com os Black Eyed Peas e o Mega Pi-quenique, tendo em conta que a activação de massas neste tipo de eventos é fundamental. Mas ainda é cedo para opiniões defi-nitivas”, comenta Pedro Dionísio. A emoção que se gera em tor-no deste tipo de eventos deve ser aproveitada, especialmente “o antes” e “o durante”, porque “o depois” só interessa à equipa vencedora. Utilizar os jogado-res em anúncios entusiasma o público, mas, desde a época de Scolari, que a própria ideia da Se-lecção ganhou um fulgor nunca antes conseguido, que vai além destas personalidades do mundo do futebol. Os lucros no Mundial de Futebol 2010 deverão rondar os 14 a 18 milhões de euros para cada um dos patrocinadores da Selecção, totalizando cerca de 100 milhões. E qual seria o ganho se o Mun-dial 2018 fosse jogado em terras ibéricas? Segundo um estudo do Instituto Superior de Economia

e Gestão (ISEG), encomenda-do pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), “dinamizaria o mercado publicitário” e seria “al-tamente vantajoso para o País”. No entanto, tal como os seis pa-trocinadores nacionais do Mun-dial de Futebol 2006,e tendo em conta as regras da FIFA para os national sponsors, as acções de marketing destas marcas não po-derão exceder a barreira geográ-fica do host country. Onofre Costa, porta-voz da FPF, subscreve os benefícios da pro-va em território nacional: “Apesar das restrições compreensivel-mente impostas pela FIFA na de-fesa dos seus próprios parceiros comerciais, não há dúvidas de que a organização, ainda que conjunta, favoreceria em muito o sector publicitário em geral e em especial para as marcas as-sociadas ao futebol. Um evento desta dimensão implica sempre uma mobilização colectiva e di-nâmica do sector empresarial, que seria muito beneficiado, tal como se verificou no Euro 2004”.

“Um Mundial em Portugal criaria, à semelhança do Euro 2004, ou-tro estado de entusiasmo entre os portugueses, contagiados tam-bém pelos fãs de outros países”, afirma Pedro Dionísio . O professor de Marketing acha que seria uma boa oportunida-de para as marcas portuguesas que apostam na exportação, mas nota que “infelizmente há um claro défice de marcas nacionais com implantação internacional abrangente”. “Não se trata apenas de uma questão de orçamento, mas também de coerência face aos públicos-alvos, por isso, a única possibilidade para as marcas por-tuguesas é serem parceiras locais ou patrocinadores locais”, acres-centa.Tendo em conta a exposição que cada marca teve em imprensa, rá-dio e televisão, a Marktest divul-gou que, o retorno somado dos principais patrocinadores e par-ceiros do Euro 2004, foi de cerca de 376 milhões de euros. As mar-cas internacionais ficaram clara-

mente no topo da lista. A marca com maior retorno foi a Coca-Cola, com cerca de 52 milhões de euros, seguida pela McDonald’s, que foi a marca a somar mais tempo na televisão, cerca de 90 horas no total. A TMN e a Galp Energia ficaram nos 31 e 17 mi-lhões de euros, respectivamente.Pedro Dionísio explica que estes resultados acontecem “porque as marcas portuguesas apenas patrocinam a Selecção” e “assim têm menor exposição televisiva, nomeadamente nos jogos”. No entanto, não há “nenhuma razão para haver diferenças entre os benefícios para as marcas por-tuguesas e as internacionais, es-pecialmente se se tiver em conta apenas os meios nacionais”.No que diz respeito a valores, no-meadamente à possibilidade de o retorno para as marcas ser ou não superior ao do conseguido em 2004, o professor acha que “tudo dependerá da carreira da Selec-ção Nacional e da capacidade de aproveitamento por parte das marcas”.

Futebol

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O novo agregador do marketing.16 Junho de 2010

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Porta-voz Modelo

A marca que alimenta a paixão

Disponíveis para renovar contrato

Foi em 1994, no Mundial dos EUA, que a McDonald’s se tornou, pela primeira vez, Patrocinadora e Restaurante Oficial da “FIFA World Cup”, mas há mais de 25 anos que está associada ao futebol. Durante o Euro 2004, a McDonald’s foi a segunda marca com maior retorno (48 milhões de euros), segundo a Marktest, numa competição que António Filipe, director de Marketing e Comunicação, nota que foi “muito marcante pela proximidade e pelo envolvimento emocional com os portugueses”. Desde 2002, promove a iniciativa “Acompanhantes de Futebol McDonald´s”, que este ano dá novamente

Patrocinadora da equipa das Quinas desde 1993, a Sagres lançou, no âmbito do Euro 2004, a maior camisola da Selecção do mundo, para que todos os adeptos pudessem deixar as suas mensagens de “boa sorte”. Quatro anos mais tarde, no Euro 2008, as ruas da Suíça receberam uma acção de street football que contou com a presença de Luís Figo. Este ano, o jogador participa também na promoção “Entra em Estágio”, que dá a possibilidade aos consumidores de jogarem com este e outro craque português (Pauleta) na África do Sul. Este passatempo permitiu ainda aos vencedores assistirem ao jogo

“Cada país adapta o conceito de modo a

melhor traduzir os seus hábitos e cultura”

“O conceito da Portugalidade é um elo

de ligação entre a marca e o futebol”

António FilipeDirector de Marketig e Comunicação

da McDonald’s

Glauco FerreiraBeer Marketing Manager da Sagres

a oportunidade a uma criança portuguesa de entrar em campo, no Portugal-Brasil, com um jogador da Selecção Nacional. “Alimenta a Paixão” é o conceito europeu da campanha da marca que pretende assim ser “o restaurante oficial do Mundial”. No entanto, “cada país adapta o conceito de modo a melhor traduzir a sua realidade, hábitos e cultura”, nomeadamente, o spot televisivo que marca presença nas televisões nacionais, que foi “integralmente produzido em Portugal”. O rosto escolhido foi o de Simão Sabrosa e a agência criativa a TBWA Lisboa.

Um piquenique mobilizadorO apoio do Modelo à Selecção teve início em 2007 e, em 2008, reuniu cinco gerações de futebolistas para representar a sua campanha de apoio ao Euro 2008, “Força de Campeões”. Eusébio, Chalana, Paulo Futre, Rui Costa e Cristiano Ronaldo foram os seleccionados. Este ano, reuniu mais de 100 mil portugueses no Mega Piquenique Modelo, que se despediram da equipa das Quinas no Parque Eduardo VII, antes da viagem para a África do Sul, num evento que beneficiou de seis horas de transmissão em directo pela RTP, SIC e TVI. Ainda no âmbito do Mundial de Futebol

“O futebol é mobilizador de massas e o contacto

com as famílias faz parte do ADN da nossa marca”

2010, o Modelo quis também “manter o seu constante envolvimento com as comunidades locais”, segundo fonte oficial da empresa. De facto, “o contacto directo com as famílias faz parte do ADN da marca” e isso é transmitido nas acções Modelo, num evento que, por si, é “naturalmente motivador e mobilizador de massas”. Um Mundial de Futebol a decorrer em Portugal e Espanha possibilitaria uma “maior visibilidade e exposição nacional e internacional”, o que, consequentemente, “incentivaria ainda mais o motor criativo”, ainda segundo fonte oficial da empresa.

inaugural da Selecção no Mundial. A Sagres lançou ainda uma campanha na qual desafia todos os adeptos a mostrarem o que estariam dispostos a fazer pela Selecção Nacional através de vídeos. Os vencedores deste passatempo assistem a jogos e têm a oportunidade de participar em spots publicitários da Sagres. Glauco Ferreira, beer marketing manager da marca, explica que o conceito da “Portugalidade” é um dos elos fundamentais na ligação entre a marca e o futebol, sendo este também um dos valores principais da Sagres”. A marca está agora “totalmente disponível para renovar o contrato”.

Futebol

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Junho de 2010 17O novo agregador do marketing.

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A comida usada como trunfoA primeira imagem da associação ao futebol da Coca-Cola data de 1917. A ligação formal à FIFA seria com o patrocínio ao Mundial de Futebol em 1978, mas já fazia publicidade nos estádios desde 1950. Foi a marca com mais retorno financeiro no Euro 2004 (cerca de 52 milhões de euros, segundo a Marktest) e na sua associação à Selecção Nacional, durante o Mundial da Alemanha rendeu 12,6 milhões de euros (dados Memorandum). Ao nível global, iniciou no ano passado a campanha de comunicação para o Mundial da Àfrica do Sul, destacando-se a adaptação da música “Wavin Flag - Coca-Cola celebration mix”, de Knaan, como hino oficial deste patrocínio. Por sua vez, organizou um tour do troféu da FIFA, levando-o a 94 cidades em 84 países, onde foi visto por meio milhão de fãs. Em Portugal, segue a linha, as directrizes gerais e o conceito da “celebração”, no entanto “a sua implementação e acções locais são totalmente desenvolvidas

“Adaptámos a campanha global à

nossa realidade, com os nossos jogadores,

as nossas celebrações em campo, as nossas

cores”

Filipe BoninaDirector de Marketing

da Coca-Cola Portugal

por Portugal para Portugal”. “Como em Portugal a comida é uma forma de celebração, sugerimos receitas de cozinha especiais para os dias de jogo, de acordo com os países que vão jogar, que são divulgados nos hipermercados e no nosso site”, explica Filipe Bonina, director de Marketing da Coca-Cola. Em cerca de 300 bares e cafés seleccionados, está a oferecer kits de comemoração a todos os que assistam aos jogos. “Optámos por adaptar a campanha global à realidade portuguesa, com os nossos jogadores, as nossas celebrações em campo, as nossas cores”, acrescenta Filipe Bonina. Ao nível local, além do anúncio global, que conta com Roger Milla, há também um spot relacionado com as activações locais: desde a promoção com a oferta de 21 viagens e bilhetes duplos para o Portugal-Brasil, de oito copos coleccionáveis, cachecóis de apoio à selecção, bolas de futebol e 110 mil garrafas de Coca-Cola.

O feeling mantém-se para 2018Patrocinador da Selecção desde 2002, o BES foi o primeiro a incluir Cristiano Ronaldo numa campanha publicitária (2004). Foi ainda a marca que mais lucrou no Mundial de 2006: 17,95 milhões de euros de retorno (dados Memoradum), entre Maio e Junho, cerca de seis vezes mais do que três milhões de euros, calculados pela Mediaedge, valores de tabela. Para relacionar BES, Selecção e adeptos, o banco lançou em 2008 o Cartão de Sócio da Selecção. “Sempre vimos no apoio ao futebol e à Selecção uma forma de aprofundar a nossa relação com clientes, e potenciais clientes ao marcar presença em momentos de grande emoção”, comenta Eduardo Gonçalves, da direcção do Departamento de Comunicação do BES. Nuno Gomes, Liedson e Bruno Alves são as caras da campanha “o BES tem um feeling”, lançada em Janeiro deste ano e que tem como elemento central a música “I Gotta Feeling” dos Black Eyed Peas, que

“Marcar presença em momentos de grande emoção é uma forma

de aprofundar a nossa relação com clientes e

potenciais clientes”

Eduardo GonçalvesDepartamento de Comunicação

do BES

funciona como o hino da nossa Selecção no Mundial da África do Sul. O BES garantiu uma parceria exclusiva com a Universal Music Portugal, detentora dos direitos da música, e promoveu diversas iniciativas no âmbito deste feeling, inclusive um concerto exclusivo com a banda no Estádio Nacional. A campanha, que seria a terceira ao nível ibérico, abriu uma nova fase com o lançamento dos anúncios de Cristiano Ronaldo e a participação do seleccionador Carlos Queiroz, no spot do banco. Quanto à possibilidade de um Mundial de Futebol em terras lusitanas, Eduardo Gonçalves refere que este teria a “capacidade de gerar um impacto económico interessante para o contexto que vivemos, nomeadamente devido ao fluxo de turistas e adeptos que proporciona”. “Independentemente de tal suceder ou não, o BES irá manter o apoio à Selecção em 2018”, garante. No total, o banco investiu 900 mil euros anuais, desde a renovação do contrato em 2006.

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O novo agregador do marketing.20 Junho de 2010

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Bernardo RodoManaging director OMG Digital/Fuse

pessoas como nós, que fazem coisas extraordinárias; exploramos a nossa identidade, a história dos jogadores é a nossa história; as emoções tornam-se colectivas, a tensão é partilhada, o orgulho é de todos. Se tudo isto é verdade quando apoiamos um clube, mais evidente se torna no caso das selecções nacionais. E quase todos investem. Os patrocinadores internacionais para activar localmente o investimento global; os patrocinadores locais explorando a identidade nacional, os jogadores, a selecção ou até criando eventos e animações próprias. As marcas desportivas porque é a sua oportunidade de comunicarem no contexto do produto, as restantes marcas porque querem aproveitar o mood. Mas não são apenas as marcas que criam conteúdos ou campanhas específicas, também os Media desenvolvem inúmeros produtos associados ao futebol, uns e outros com um único objectivo: capitalizar o entusiasmo dos adeptos. Por isso somos envolvidos em passatempos, oferta de bilhetes, sessões de autógrafos, perfis de Facebook, algumas marcas oferecem produto se Portugal ganhar, outras levam adeptos aos estádios, cada uma buscando a sua quota-parte da atenção num crescendo colectivo que antecede cada jogo. A criatividade continua a ter um papel fundamental na criação

de mecânicas diferenciadoras, mas igualmente fundamental é a relevância da mensagem e a execução das ideias criativas. Todos os anos, duas ou três marcas assumem a liderança da comunicação. Por outro lado, ainda assistimos no terreno a boas ideias que ficam aquém da expectativa, porque não foram pensadas à medida do orçamento ou porque não anteciparam o ruído da concorrência. As agências de meios e criativas têm a dupla função de assegurar inovação de conteúdos e formatos e integração da comunicação, sobretudo num contexto de mundial em que cada anunciante procura uma oportunidade adequada à sua marca.

O desporto e a música são possivelmente os melhores exemplos de territórios que as marcas exploram para se aproximarem do consumidor, procurando criar uma atmosfera de partilha onde se confunde o que é produto e o que é entretenimento. Todos conhecemos os factos: as audiências fragmentadas por múltiplos canais, da televisão ao online; o consumidor cada vez mais exigente; as ideias que se desgastam cada vez mais depressa, obrigando as marcas a tirarem melhor partido da proximidade com o público. No caso da música, aquilo a que assistimos hoje são grandes festivais transformados em brand playgrounds, com os artistas quase relegados para segundo plano face à oferta de entretenimento das marcas no local.Ainda que a presença nos novos meios digitais seja cada vez mais consistente e regular, os meios tradicionais continuam a ser um importante veículo de mediatização da acção live, potenciando o investimento através de contactos broadcast. Este trabalho tem sido bem conseguido, talvez por isso se registem mais participantes ano após ano, quem sabe para verem o que perderam no ano anterior. No caso do futebol, as marcas também procuram explorar o território de afinidade com o consumidor, mas com um maior aproveitamento de emoções e de valores universais. No futebol apoiamos heróis,

O desporto e a música são territórios que as marcas exploram para se aproximarem do consumidor, procurando criar uma atmosfera de partilha onde se confunde produto e entretenimento

Criar mecânicas diferenciadoras

No futebol apoiamos heróis, pessoas como nós que fazem coisas

extraordinárias; exploramos a nossa identidade, a história

dos jogadores é a nossa história; as

emoções tornam-se colectivas, a tensão é partilhada, o orgulho é de todos. Se tudo

isto é verdade quando apoiamos um clube,

mais evidente se torna no caso das selecções

nacionais

Empresa Líder de Mercado de PublicidadeExterior, grande formatos, com sede namargem sul, pretende seleccionar parasua equipa:

- Assistente Departamento Comercial- Consultor Comercial

Resposta com Currículo Vitae detalhado,acompanhado de carta de motivação, parao endereço electrónico:

[email protected]

Futebol

PU

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Junho de 2010 21O novo agregador do marketing.

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Nuno RibeiroDirector-geral MindGames

Seara e Yingli Solar.Há muitos mais intervenientes envolvidos, e temos desde já as marcas oficiais das selecções, que activam localmente o patrocínio, muitas vezes de forma agressiva e ainda as marcas dos jogadores, que usam e abusam da imagem dos mesmos durante todo o ano enchendo páginas de jornais, ecrãs de televisão e até mesmo prédios e fachadas inteiras com enormes outdoors. Rapidamente foram apresentados três tipos diferentes de patrocínio — competição, selecção e jogadores—, pelo que se fizemos o somatório e juntarmos aos 15 oficiais da competição as 32 selecções e os 736 jogadores envolvidos, podemos começar a compreender a salada de marcas que representa um evento deste tipo.A pergunta que impera é “Como ser eficaz e sobressair?” Explicarei mais à frente, pois ainda não referi outro tipo de sponsoring, ainda mais agressivo e “selvagem” - os não-oficiais. Estes, são a milícia dos patrocínios, sem contribuir para a FIFA, selecções ou jogadores, comunicam na sua estratégia de marca o Mundial de Futebol, com imagens, vídeos, acções ou passatempos. E mesmo com a legislação e regras apertadas, desde o início do ano, a FIFA já foi obrigada a reportar um total de 127 casos de abuso, sendo que grandes marcas como a Pepsi ou a Puma estão entre as mesmas. Relembro que patrocinar jogadores como Lionel Messi ou Samuel Eto´o

apertadas regras obrigam as marcas a serem ORIGINAIS, e um excelente exemplo disso mesmo deu-nos a Adidas na forma como impôs o seu branding, através de três riscas nos ombros e mangas de todas as suas selecções. Vamos então a bons exemplos internacionais, mas para isso temos de perceber o objectivo das marcas. Se querem impactar o público, vamos apontar a Carlsberg que conquistou os estádios do Mundo todo com os chapéus coloridos com as cores das equipas envolvidas e a passar branding da marca. Simples, barato e eficaz. Se por um lado o objectivo é focar tudo num jogador, vamos apontar a relação entre a Red Bull e Edgar Davids, que transformou o jogador no ícone mundial do street football, usa-o em toda a sua publicidade e transformou-o no júri nos concursos em mais de 50 países. Se o objectivo é passar um pouco do seu core business, juntar o país numa causa e dar que falar, temos a Dolce&Gabbana como excelente exemplo nos seus já habituais ensaios com jogadores italianos em roupa interior. Se queremos media awareness, anúncios que se espalham de forma gratuita por milhares de amadores nas redes sociais e tempo de antena em televisão, impossível não apontar o novo comercial da Nike – Write the future. E no futuro, no final da competição, cá estaremos na MindGames para avaliar qual foi de facto o Campeão do Mundo desta categoria.

De quatro em quatro anos, algumas das maiores marcas mundiais unem-se em esforços para patrocinarem os eventos de Verão, o Europeu de Futebol e os Jogos Olímpicos. De quatro em quatro anos, as marcas de elite mundial patrocinam o maior evento desportivo do nosso planeta, o Mundial FIFA de Futebol.Mas o que é verdadeiramente patrocinar? Qual deverá ser o envolvimento das marcas nesse tipo de competições? É certamente muito mais do que contribuir com fundos ou serviços para um determinado projecto, como nos ensina a Língua Portuguesa. Por isso, antes de abordar directamente como é que as marcas o fazem actualmente, importa perceber o que um patrocínio representa. Antes de mais, é uma questão de posicionamento, ambição e diferenciação. Depois, representa também uma questão de atitude, supremacia e uma enorme oportunidade “comunicar” com cerca de 33 mil milhões de espectadores oriundos de 200 países diferentes em todos os cantos do Mundo. E, finalmente patrocinar é também passar a marca, a identidade, produtos, serviços e valores. O Campeonato Mundial de Futebol NÃO vive dos sponsors fixos e históricos da FIFA — Adidas, Coca-Cola, Emirates Airline, Hyundai / Kia, Sony e Visa —, muito menos dos oficiais da competição que neste Mundial de 2010 serão Budweiser, Castrol, Continental, McDonald’s, MTN, Mahindra,

Patrocinar é também passar a marca, a identidade, produtos, serviços e valores. É uma enorme oportunidade de comunicar com cerca de 33 mil milhões de espectadores oriundos de 200 países diferentes em todos os cantos do Mundo

Quem vence o Mundial das Marcas?

Mesmo com a legislação e regras apertadas, desde o

início do ano, a FIFA já foi obrigada a reportar um total de 127 casos

de abuso, sendo que grandes marcas como a Pepsi ou a

Puma estão entre as mesmas. Relembro que

patrocinar jogadores como Lionel Messi ou Samuel Eto´o não é o

mesmo que patrocinar o Mundial de Futebol,

apesar de os jogadores estarem envolvidos nessas competições

não é o mesmo que patrocinar o Mundial de Futebol, apesar de os jogadores estarem envolvidos nessas competições.Importa também explicar o acordo de “ditadura comercial” que a organização de Joseph Blatter obriga os países, estádios e equipas a assinar. A FIFA não permite patrocínios nas camisolas das selecções. Não por qualquer razão patriótica mas porque nos seus jogos oficiais só os patrocinadores oficiais da competição podem aparecer. Até os estádios com naming rights são obrigados a serem rebaptizados. Tudo com um objectivo financeiro. Estas

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O novo agregador do marketing.22 Junho de 2010

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Miguel SimõesCountry Manager, Leo Burnett

determinante, ao colocar as marcas a liderar a cultura das pessoas e não apenas a reflecti-la. Porque acreditamos que as marcas que lideram culturalmente têm a capacidade de provocar as pessoas no sentido de as surpreender, conquistar os seus corações e mentes, fazendo-as rir e pensar, criando uma verdadeira relação e assim vender mais e de forma duradoura.Mas como? É simples. É preciso ter boas ideias. Por ser tão simples parece gasto, mas a ideia manda em tudo. A ideia é que manda em todos os departamentos da agência e cada vez mais nos clientes. É ela, a ideia, que faz com que uma pessoa opte por uma marca de detergentes. É a ideia que move o dedo indicador na direcção de um determinado botão do comando da televisão. A ideia tem um poder enorme no dia-a-dia de uma empresa de comunicação. Ela move as máquinas, as pessoas, os clientes, os meios. Ela move tudo. É a ideia que põe em movimento a engrenagem de qualquer agência de comunicação e, cada vez mais, clientes no mundo.Quando ela não aparece, todos têm que esperar. Quando ela aparece, todos podem ir para casa mais cedo. É a ideia que escolhe o meio, e nunca o contrário. E, quando a ideia é boa, as montras esvaziam-se, os clientes ficam mais felizes, as pessoas criam uma empatia com a marca anunciada, o mercado todo movimenta-se. É aqui que as marcas conquistam fãs e não apenas clientes.Estamos no epicentro do

arranque de um evento enorme à escala global, com milhões de fãs, com um potencial enorme de alavancar os resultados de uma marca. Mas a única forma de tirar máximo partido de um investimento num patrocínio destes é fundamentá-lo numa boa ideia.O patrocínio ou envolvimento de uma marca num evento deve ser planeado como um meio para gerar ainda mais a visibilidade para a ideia. Essa sim, tem o potencial de atrair as pessoas e gerar interesse, curiosidade e envolvimento com a marca.Todos, cliente e agência, têm que investir mais tempo a pensar na estratégia e na ideia criativa que a marca vai gerar para conquistar fãs.Fãs, não apenas consumidores ou clientes. Porque quando um consumidor “veste a camisola de uma marca”, aí o sucesso é certo. Porque é ele, o fã, que nos faz trabalhar cada vez mais para o surpreender e é claro: dar-lhe ainda mais motivos para torcer por uma marca e cada um dos seus produtos. É fácil conquistar fãs? Não. Dá trabalho. Mas é um trabalho bom. Até porque, se fosse fácil, a nossa profissão não teria graça.

As marcas devem ser cada vez mais ambiciosas e procurar ser mais criativas, porque, mais do que conquistar clientes, é preciso conquistar fãs. Trabalhar para conseguir apenas clientes, nos tempos que correm, é muito limitado, é pensar apenas no momento. Sim, porque estes clientes de hoje compram, mas amanhã já não. Compram porque os preços são mais baixos, por exemplo. Ou porque na compra de uma camisa ganham um par de meias. Isto pode até funcionar hoje, amanhã talvez. Mas aposto que o mesmo par de meias não vai funcionar a médio e longo prazo.Pensemos no exemplo do futebol. Porque é que ele gera tantos fãs? Porque é que as marcas se querem associar a um evento como o Mundial? Quanto maior, mais marcas se querem associar. A resposta é simples: o futebol tem muitos fãs. Porquê? Porque faz parte da cultura das pessoas de todos os países.Então, como é que uma marca consegue gerar os mesmos fãs? Bastará apanhar boleia do patrocínio por si só? É o mais comum! Acreditamos que as marcas que influenciam a cultura, estas sim, geram fãs. Os maiores fãs. Aqueles que criam a comunidade no Facebook, aqueles que quando não encontram o seu produto favorito reclamam, ligam e voltam a reclamar. As marcas têm de elevar a fasquia e utilizar estes eventos, como um gerador de fãs para si próprias. É precisamente aqui que a criatividade tem um papel

As marcas devem ser cada vez mais ambiciosas e procurar ser mais criativas, porque, mais do que conquistar clientes, é preciso conquistar fãs

Os fãs são o melhor do futebol

Quando a ideia não aparece, todos têm

que esperar. Quando ela aparece, todos podem ir para casa mais cedo. É a ideia

que escolhe o meio, e nunca o contrário. E, quando a ideia é boa, as montras esvaziam--se, os clientes ficam

mais felizes, as pessoas criam uma

empatia com a marca anunciada, o mercado todo movimenta-se.

É aqui que as marcas conquistam fãs e não

apenas clientes

Futebol

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Junho de 2010 23O novo agregador do marketing.

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O novo agregador do marketing.24 Junho de 2010

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Rui Gomes da SilvaSócio fundador da LegalWorks

Os grandes eventos desportivos, como o próximo Mundial de Futebol na África do Sul, levam atrás das multidões e do olhar atento de biliões de telespectadores, o especial interesse das multinacionais por uma oportunidade de promoção das suas marcas a uma escala que não se compara com nenhuma outra campanha tradicional.E é assim que se definem os “official…”, quer lhe chamemos partners, sponsors, supporters, etc, consoante as categorias a que correspondem diferentes privilégios de co-branding, espaços e formas de anunciar, bem como, naturalmente, diferentes sponsor fees.Certo é, também, que tais eventos internacionais representam igualmente uma oportunidade para todos os “non-official” beneficiarem dos chamados efeitos indirectos do investimento que não é deles (ou potenciarem o investimento próprio): estímulo ao crescimento económico, promoção do turismo, criação de emprego, etc; sempre apregoados na apologia dos grandes projectos como o novo aeroporto, o TGV, ou até os dos estádios que construímos para o Euro 2004.Até aqui tudo bem. Mas quando pensamos no desenvolvimento de campanhas, de concursos, de promoções, e nos demais instrumentos – que a prodigiosa imaginação humana desafia não ter limites – de associação de marcas ou de alguns dos seus sinais distintivos protegidos, reconhecemos que há uma zona nebulosa entre o que é tão-só o legítimo benefício dos efeitos indirectos do evento e o

Há uma zona nebulosa entre o legítimo benefício dos efeitos indirectos de um grande evento, como o Mundial de Futebol, e o que é aproveitamento ilícito de marca alheia. E é nessa fronteira que o Direito é mais preciso, para distinguir as práticas comerciais legítimas das várias formas de abuso de marca

O Direito contra a emboscadaA FIFA já fez saber que não tolera formas de ambush marketing no

Mundial de 2010. Assim, exigiu (e conseguiu)

que a companhia aérea sul-africana Kulula retirasse o anúncio

por esta utilizado com o texto “Unofficial National Carrier of

the You-Know-What”, combinado com

imagens de estádios

que é um verdadeiro e flagrante aproveitamento ilícito de marca alheia através de um co-branding não autorizado.E é nessa fronteira – do vulgarmente designado ambush marketing: campanhas desenvolvidas em torno de um evento, ao qual se associa, ou insinua, uma marca ou produto, mas sem pagar qualquer verba de patrocínio – que o Direito é mais preciso, para distinguir as práticas comerciais que são legítimas (incluindo o que se enquadra no fair use) das várias formas de abuso de marca, desde as mais tradicionais imitações do logótipo ou das cores, até às mais modernas técnicas da Web, como o cybersquatting (ocupação de um domínio da Internet com a intenção de o vender ou, por outra forma, lucrar com o goodwill de uma marca alheia) ou o typosquatting (aproveitamento de erros tipográficos na introdução de um domínio).No futebol, a própria FIFA já fez saber que não tolera formas de ambush marketing no Mundial de 2010. Assim, exigiu (e conseguiu) que a companhia aérea sul-africana Kulula retirasse o anúncio por esta utilizado com o texto “Unofficial National Carrier of the You-Know-What”, combinado com imagens de estádios.Na legislação sul-africana (Merchandise Marks Act, section 15A), o Ministro do Comércio e Indústria tem o poder para classificar grandes eventos desportivos como “protected event”, como aconteceu neste Mundial, com o objectivo de prevenir práticas de ambush marketing e de concorrência

desleal por parte de agentes económicos que não são patrocinadores oficiais do evento.E foi com base neste dispositivo legal que, com sucesso, a FIFA ganhou também o processo, levado ao High Court de Pretória, contra Eastwoods Tavern, um sports bar situado perto do estádio Loftus Versfeld, acusando-o de utilização ilícita de marca e concorrência desleal, por ter colocado um letreiro no telhado a dizer “World Cup 2010”.Os grandes eventos desportivos – com destaque para o futebol e os jogos olímpicos – têm sido, de facto, o território privilegiado para o ambush marketing. Mas, tais práticas não são exclusivas dos eventos desportivos, estendendo-se aos grandes eventos culturais e musicais, onde até em Portugal as temos visto, no contexto da nossa experiência profissional de assessoria jurídica à organização de eventos deste tipo, como o “Rock in Rio” (desde o seu primeiro evento, em Lisboa, até hoje), ou as “7 Maravilhas” (que também assessorámos).Nesta matéria, como noutras de fronteira entre o que é permitido e proibido fazer, a tendência é para ir sofisticando as técnicas e as protecções numa competição sem fim à vista, enquanto ao Direito e aos Tribunais cabe ir fazendo a triagem do que seja abusivo, já esteja a “pisar a linha” para o lado menos ético da concorrência, com a única certeza de que as práticas de ambush marketing continuarão a gerar controvérsia sobre os limites da protecção da propriedade intelectual e sobre a licitude de certas práticas concorrenciais.

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Junho de 2010 25O novo agregador do marketing.

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Page 26: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.26 Junho de 2010

www.briefing.ptPasseio Público

Solange Farinha nasceu em Inhambane. Estudou entre Chókwè, Abrantes, Almancil e Lisboa, onde se licenciou em Gestão na Católica. Durante o curso, nas férias, fez três voltas a Portugal em Bicicleta como Relações Públicas da Sicasal. Esteve na Fima-Lever, Gillette e Coca-Cola, até deitar âncora na Auchan, onde é directora de Marketing do Jumbo, que está a comemorar 40 anos de actividade em Portugal

Ela não sabe o que estava exac-tamente a fazer naquele preciso momento em que a 1 de Maio de 1970, na Avenida Estados Uni-dos da América, em Lisboa, dois Valentins – o comendador Diniz, beirão que aos 16 anos emigrara para o Brasil onde fizera fortuna, e Xavier Pintado, o liberal secre-tário de Estado do Comércio do Governo Marcelo Caetano – cor-tavam a fita, inaugurando com solenidade e circunstância, o primeiro supermercado Pão de Açúcar em Portugal, com três mil metros quadrados de área construída em tempo recorde (120 dias!), a que seis meses depois se juntaria uma segunda loja em Alcântara.

Uma nómada entusiasmada

“Fomos os primeiros a introduzir o código de

barras e o self--scanning. E temos muito orgulho em privilegiar o que é

português – o leite e o arroz que vendemos é todo de produção

nacional”, afirma Solange, acrescentando

que, depois de lidar com todas as cadeias

da distribuição, era pelo Jumbo que sentia maior

empatia

Em 1970, Solange tinha três anos e vivia na costa do Índico, em Inhambane, pequena cidade costeira, 500 km a norte de Lou-renço Marques, onde nasceu, sendo o primeiro dos três frutos do matrimónio entre uma por-tuguesa e um comerciante mo-çambicano, que se conheceram e casaram por correspondência naqueles tempos em que nem os mais ousados seguidores de Júlio Verne sonhavam sequer com a Internet.“Devia estar a subir a uma mangueira ou a uma goiabeira. Ou então a trepar a um telha-do qualquer”, responde Solange quando lhe perguntamos o que poderia estar a fazer nesse 1.º de

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Junho de 2010 27O novo agregador do marketing.

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Maio (data que ainda demoraria quatro anos até ser feriado), que ficou marcado na história da dis-tribuição moderna em Portugal.A directora de Marketing do gru-po Jumbo/Pão de Açúcar (que está a comemorar os 40 anos de actividade em Portugal, inicia-da com inauguração do super-mercado da Av. Estados Unidos da América) nunca parou muito tempo quieta no mesmo lugar.Aos seis anos, entrou para a primária em Vila Trigo de Mo-rais, uma cidade da província de Gaza, bacia do Limpopo, que a Frelimo mudou o nome para Chókwè, no ano em que ela dei-xou Moçambique, onde apenas voltou há quatro anos, de férias e já mulher bem sucedida na vida.“Vim para Portugal porque que-ria aprender e não estar a ensinar aos professores”, diz, explican-do por que é escolheu estudar no Colégio Nossa Senhora de Fátima, em Abrantes, quando os pais (ambos envolvidos na Freli-mo, mas que uns anos depois se juntariam a ela) lhe perguntaram se queria vir ou ficar.Em Abrantes, onde moravam uns tios e ela viu pela primeira vez um supermercado, foi uma aluna boa e aplicada. Logo aos 12 anos decidiu estudar Gestão, após um devaneio inicial em que sonhou ser hospedeira, atraída pela perspectiva das viagens e falar muitas línguas.Como o pai foi trabalhar para a direcção financeira da Quinta do Lago, continuou nómada. A meio do secundário foi estudar para Almancil, onde viveu até entrar em Gestão na Católica e vir viver para Lisboa. Gostou do curso, que por ser muito finan-ceiro a estruturou muito, mas cedo percebeu que não queria ir trabalhar para um banco – por isso ficou satisfeita quando lhe apareceu a oportunidade de ir trabalhar para a Fima-Le-ver, onde esteve dois anos nas vendas, ganhando experiên-cia com produtos tão variados como azeites (Gallo) ou marga-rinas (Linea). “Era uma miúda

a lidar com milhões”, recorda. Acabou o curso em 1990, numa época boa em que Portugal crescia e os finalistas de Ges-tão ainda escolhiam para onde queriam ir trabalhar. Por isso ainda conseguiu tirar três meses de férias antes de se tornar ir-remediavelmente adulta e ter o seu primeiro emprego a sério – durante a faculdade aproveitara as férias grandes para ganhar uns dinheiros enquanto conhe-cia o país, fazendo três Voltas a Portugal em Bicicleta como Relações Públicas da Sicasal (era uma daquelas meninas bem jeitosas que posavam para a fo-tografia no final das etapas ao lado do vencedor e do camisola amarela).A Fima-Lever foi a primeira eta-pa de uma carreira feita em mul-tinacionais. A segunda, e até agora mais longa (14 anos), foi na Gillette, onde esteve expa-triada em Madrid e S.Paulo e tratou não só dos produtos de higiene masculina que celebri-zaram a marca, mas de outras coisas, como as míticas pilhas Duracell e as canetas Parker. Foi por causa do filho, então com quatro anos, que trocou a direcção ibérica da Duracell, em Madrid, pelo lugar de di-rectora de Trade Marketing da Coca-Cola em Lisboa. “A seguir a Madrid, tinha duas hipóteses, Genève ou Boston. Ia passar 80% do tempo a viajar, sem possibilidade de acompa-nhar a educação do meu filho. E nunca mais voltaria a Portugal”, explica, acrescentando que de-sistiu de continuar a fazer carrei-ra internacional no momento em que decidiu engravidar.Demorou-se apenas dois anos na Coca Cola. Despiu a cami-sola da mais célebre bebida do Mundo quando Eduardo Igrejas e Américo Ribeiro (presidente e director geral da Auchan Por-tugal) a desafiaram para diri-gir o alargamento da gama de produtos de marca própria do Jumbo/Pão de Açúcar, área em que o grupo tinha sido pioneiro, ao começar a comercializar, no

Solange, 43 anos, trabalha em Alcântara e vive em Carcave-los, mas faz as compras nos Jumbos de Cascais ou Alfragide. É fã do Jumbo online mas por dever do ofício sente que deve frequentar as lojas com alguma regularidade. Também visita as da concorrência, mas só em missão de espionagem; não tem por hábito deixar lá ficar um cêntimo que seja, o que até se compreende pois, tal como a esmagadora maioria dos 9 300 trabalhadores da Auchan Portugal, é accionista da Associação Familiar Mulliez (a holding do grupo Auchan). Claro que isso ajuda ao entusiasmo com que conta que o Pão de Açúcar das Amoreiras é a loja europeia de todo o grupo (384 hipermercados e 717 supermercados, em doze países) que mais vendas faz por metro quadrado – e que são do Jumbo três dos dez postos de combustíveis que mais vendem em Portugal, sendo que um deles, o de Almada, é o primeiro.

Amoreiras é recordista de vendas

AMOR À CAMISOLA

longínquo ano de 1984, massas, azeite e arroz de marca branca.Solange passou da indústria para o lado do comprador - e de multinacionais de matriz anglo--saxónica para uma de origem francesa com uma cultura dife-rente. “Quem gere o negócio da Auchan em Portugal são portu-gueses”. “Sempre achei que seria engra-çado trabalhar na distribuição. E depois de lidar com todas as cadeias, era pelo Jumbo que sentia maior empatia. Identifi-cava-me com os valores de ver-dade e lealdade das pessoas da Auchan com quem negociava”, afirma Solange, que ainda este-ve na direcção de compras de grande consumo antes de che-gar ao Marketing.Vestiu a camisola do grupo de que não pára de enumerar as proezas. “Fomos os primeiros a introduzir o código de barras e o self-scanning. E temos muito orgulho em privilegiar o que é português – o leite e o arroz que vendemos é todo de produção nacional”, afirma a directora de Marketing do Jumbo, um grupo que tem como missão “aumen-tar o poder de compra e a quali-dade de vida dos clientes”.

Passeio Público

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O novo agregador do marketing.28 Junho de 2010

www.briefing.ptMaking Of

Continente comemora 25.º aniversário evocando os tempos em que a A2 era um projecto e as viagens para o Algarve uma tormentosa epopeia

E o Algarve aqui tão perto

Hoje vai-se de Lisboa ao Algarve em duas horas, mas nem sempre foi assim. O Continente regressou aos anos 80, década em que abriu os primeiros hipermercados no nosso país, para reviver o passado e as longas filas de carros que assombravam a ida e o regresso de férias dos portugueses. No entanto, e porque estas viagens também se faziam acompanhar de muitas boas memórias, a cadeia da Sonae promove a oferta de 25 mil pacotes de férias em Portimão. A campanha do 25.º aniversário do Continente partiu do conceito “Festa na Loja”, em que, ao celebrar com a marca, o cliente recebe presentes. A Euro RSCG foi a agência escolhida para desenvolver a campanha multi-meios que marca presença em televisão, rádio, imprensa, online, exterior e loja. Já a Indin-go deu música ao spot que foi filmado em Portimão na Praia da Rocha e em Alcácer do Sal.

Ir para o Algarve era caro e trabalhoso: as filas de trânsito tinham quilómetros, havia muitas malas e malinhas, imenso calor e passavam-se horas até se chegar ao destino

A ponte de Alcácer do Sal foi encerrada para se poder simular uma fila de carros estilo dos anos 80. Doze modelos de época desfilaram num dos mais míticos pontos de travessia para o Algarve.

As filmagens decorreram também na Praia da Rocha: quatro bailarinos, dez cheerleaders, dez músicos e 125 figurantes marcaram presença num dia de incrível calor, com uma decoração on-set que inclui cerca de 2 mil balões.

Foi simulado um “look Avenida de Roma” em Alcácer do Sal. Resultado? Muitas caras curiosas observaram os técnicos e figurantes.

A Praia da Rocha foi escolhida como destino da promoção pela sua vasta oferta de apartamentos. O vídeo, tal como o dia, acabam em festa, ao som de Michael Bublé e remetendo para o vídeo original da música “I just haven´t met you yet”.

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Junho de 2010 29O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

Edição vídeo desta entrevista

em www.briefing.pt

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O novo agregador do marketing.30 Junho de 2010

www.briefing.ptSindicatos

“Muitas vezes os jornalistas limitam-se a recorrer a um estereótipo da sua própria

concepção de sindicalismo”

Maria da Conceição CerdeiraProfessora Associada do ISCSP

“Quando o Primeiro-ministro apresenta na televisão uma iniciativa aos trabalhadores,

não podemos responder com a distribuição de folhetos, senão

nunca mais lá chegamos”

Ulisses GarridoMembro da Comissão Executiva da CGTP

“A comunicação sindical tem a fama de ser cinzenta por

causa da complexidade dos assuntos veiculados. É nossa responsabilidade simplificar a informação, sem desvirtuar o seu sentido real e relevância”

Lúcia MacauDepartamento de Comunicação da UGT

Os sindicatos reconhecem que

têm de se adaptar aos novos media,

mas queixam-se da falta de dinheiro e da ignorância das

redacções. Apesar disso, Carvalho da

Silva, líder da CGTP, é o parceiro social mais presente na

Comunicação Social. E João Proença, o seu

homólogo da UGT, tem mais notoriedade que o patrão dos patrões

O orçamento é ainda “demasiado curto”, queixa-se Ulisses Garrido, da Comissão Executiva da Confedera-ção Geral dos Trabalhadores Portu-gueses – Intersindical Nacional (CG-TP-IN), que defende a necessidade da comunicação sindical se centrar

O megafone já não chega

menos na distribuição “mão a mão”, para passar a recorrer de forma in-tensiva e eficaz aos mass media e aos meios online. Os sindicatos têm de acompanhar a mudança dos estilos de vida, da or-ganização do trabalho e das empre-

sas, para conseguirem recorrer ao sound byte televisivo com a mesma expressão das entidades patronais e do Governo. “Quando o Primeiro-ministro apresenta na televisão uma iniciativa aos trabalhadores, não po-demos responder com a distribui-

ção de folhetos, senão nunca mais lá chegamos”, comenta. Seria, por isso, importante ter “jornalistas que nos questionassem com pertinência e com saber”.Os meios de comunicação têm uma cultura dominante nas redacções,

Lusa

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Junho de 2010 31O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Sindicatos

“De evitar são os textos muito explicadinhos mas

que ninguém lê ou os discursos monocórdicos,

cheios de chavões… Isso não atrai, afasta, ainda que seja muito

politicamente correcto”

Mário NogueiraSecretário-geral da FENPROF

“geralmente ignorante dos sindica-tos e dos temas das relações labo-rais do ponto de vista de especiali-dade”, sobretudo as gerações mais novas, chegando mesmo a existir um “preconceito anti-sindical”, acrescenta o sindicalista. Maria da Conceição Cerdeira, pro-fessora associada do Instituto Su-perior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) concorda, afirmando que “muitas vezes os jornalistas limitam-se a recorrer a um estereótipo da sua própria concepção de sindicalismo”. A “comunicação cinzenta” com que a sociedade identifica a infor-mação veiculada pelo mundo sin-dical prende-se muitas vezes com a “complexidade dos assuntos vei-culados”, explica Lúcia Macau, do

Briefing | Um dirigente sindical tem de ter um espírito de lide-rança natural?Mário Nogueira | Não há qual-quer espírito de liderança natural, artificial ou sobrenatural. O que tem de haver é um colectivo de grande qualidade que trabalhe, que dê ideias, que seja criativo e combativo. Havendo, basta saber coordenar e organizar o trabalho.

Briefing | Como motiva as pes-soas à participação activa?MN | Aqui não há segredos. Para que os professores se sintam mo-tivados a participar é preciso que acreditem no que é proposto, no que se defende. Para isso, é neces-sário que as propostas que temos correspondam aos seus anseios, o que também só se torna possível se as construirmos no terreno, ouvindo os que representamos, percebendo as suas expectativas e desejos. De-pois é transformar tudo isso em pro-postas. É trabalhoso mas motivador.

Briefing | O que se deve evitar na comunicação dos sindica-tos? O que é que a torna mais eficiente?MN | Eu penso que a forma como trabalhamos permite estabelecer boas vias de comunicação. Temos publicações próprias, revistas, cartazes, usamos muito a internet (o nosso site tem uma média de 8.000 visitas diárias), a comuni-cação electrónica com listas que contêm milhares de endereços, as mensagens de telemóvel que são lidas por todos, um discurso que procuramos que seja atracti-vo e, para a comunicação social, interessante. A evitar, claro, são os textos muito explicadinhos mas que ninguém lê ou os discursos monocórdicos, chatos, cheios de chavões… Isso não atrai, afasta, ainda que seja tudo muito politica-mente correcto.

Briefing | Como comunica com outros sindicatos? O que distin-

gue essa comunicação da que é feita para os trabalhadores? MN | Entre sindicatos, aí os docu-mentos têm de ser mais elaborados e os textos completos. Mas, sobre-tudo, gosto de estabelecer uma comunicação directa, em reuniões em que discutimos, debatemos, falamos alto, interrompemo-nos, decidimos e organizamos. São ní-veis diferentes. Por obrigação do trabalho, os dirigentes sindicais têm de ler, conhecer as propostas do Governo, ter espírito politica-mente crítico para que o debate se oriente para a desmontagem e a construção de alternativas. No trabalho com os colegas, nas escolas, muitas vezes há neces-sidade de esclarecer, explicar as propostas e o seu alcance, o que é natural. Se não compreendermos que os graus de informação são di-versos e, em cada espaço, como devemos comunicar, podemos não estar a fazer o trabalho necessário e adequado.

Departamento de Comunicação da União Geral de Trabalhadores (UGT), acrescentando ser da responsabi-lidade dos sindicatos “simplificar a informação, sem desvirtuar o seu sentido real e a sua relevância”. O barómetro do Observatório Por-tuguês de Boas Práticas Laborais (OPBPL) – que refere o secretário--geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, como o dirigente mais citado nos meios de Comunicação Social (à frente de João Proença, da UGT, e de van Zeller, o antigo presidente da CIP) – indica acima de tudo uma necessidade de comunicação cres-cente e mais acentuada do que a das confederações patronais.Para Ulisses Garrido, a mediatiza-ção do secretário-geral da CGTP

deve-se à conjugação das suas ca-pacidades pessoais com as mensa-gens da organização e a capacidade desta estar presente no dia-a-dia e nas agendas. Internamente os sin-dicatos comunicam para os seus associados e trabalhadores e, ao nível externo, para os media e para a opinião pública no geral. Há cer-ca de duzentos centros de decisão, que são relativamente autónomos ao nível comunicacional e na distri-buição do seu orçamento para estas mesmas áreas, o que impede que se saiba verdadeiramente “quanto se gasta”, afirma Ulisses Garrido. Lúcia Macau caracteriza o dia-a-dia com os traços da normalidade de qualquer Departamento de Comu-nicação: leitura da imprensa diária,

elaboração de uma revista de im-prensa para os vários departamen-tos, contacto directo com jornalis-tas na resposta a pedidos por eles solicitados e partilha de informação com os diferentes sindicatos filiados na Central.Já Ulisses Garrido sublinha ainda a existência de meios próprios, como designers gráficos, fotógrafos e res-ponsáveis pela actualização de con-teúdos online. No entanto, também se recorre a colaboradores externos. Enquanto os tempos de antena são de produção própria, a sua realiza-ção é feita em outsourcing, também como alguns cartazes encomenda-dos a agências de publicidade. No entanto, os sindicatos não trabalham com agências de comunicação.

“Professores têm de acreditar”Mário Nogueira, secretário-geral da Federação de Professores (FENPROF)

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32 Junho de 2010 O novo agregador do marketing.

Fátima SousaJornalista

Continua a haver uma apetência pelo

anúncio de imprensa, até porque para trás ficaram as guerras

entre a publicidade e o meio editorial. Há uma maior abertura: as capas falsas eram

impensáveis – a primeira gerou um

verdadeiro escândalo - e hoje estão a caminho de se tornarem banais

flat@

Não há crise na criatividadeDantes os criativos tinham

o trabalho muito facilitado - afinal, televisão, imprensa,

rádio e outdoor eram os únicos canais. Hoje, a

publicidade é qualquer forma impactante de chegar às

pessoas, pode ser o local e até o momento. Mas não há

razão para alarme, porque os três portugueses convidados

para julgar em Cannes o melhor da publicidade mundial

garantem que a criatividade portuguesa está boa e

recomenda-se

Criatividade nacional está bem e recomenda-se. As palavras são de Elisabete Vaz Mena, directora criativa executiva do Grey Group Portugal, mas poderiam pertencer a qualquer um dos outros dois por-tugueses convidados a integrar os júris que, em Cannes, vão avaliar o melhor da publicidade mundial. É que Eugénio Chorão, CEO da Euro RSCG Design & Arquitectura, e Jor-ge Castanheira, managing director da Wunderman Portugal, partilham este olhar mais do que positivo so-bre a criatividade nacional. Há mui-to talento na publicidade (leia-se comunicação) made in Portugal. Elisabete conhece bem a tensão de estar em Cannes. Afinal, já viu a sua criatividade premiada neste, como noutros certames internacionais. Mas é a primeira vez que assume o papel de jurado. Sabe que os festi-vais são o principal parâmetro, mas ainda assim considera redutor ava-liar a capacidade criativa de uma agência apenas em função dos fes-tivais. Acha que o saldo da criatividade nacional é muito positivo, tendo em conta que a produção é muito infe-rior à de outros países e que os or-

çamentos e os timings também an-dam muito aquém. Já antes da crise assim era, agora – e não é só por cá – muitas marcas cortam no investi-mento em publicidade. O mercado é pequeno e a crise encolhe-o ainda mais…Já os desafios não são menores, antes pelo contrário: antes, diz Eli-sabete Vaz Mena, os criativos ti-nham o trabalho muito facilitado – afinal, televisão, imprensa, rádio e outdoor eram os únicos canais. Hoje, a publicidade “é qualquer for-ma impactante de chegar às pes-soas, pode ser o local e até o mo-mento”. As campanhas eram mais formatadas, hoje são mais ricas. Porque o essencial é a ideia, até a própria ideia do meio… Em Cannes vai avaliar a criatividade aplicada à imprensa. Que em 2009 deu três leões de prata às campa-nhas criadas para a Honda pela Fis-cher Portugal (Opera Singer, Bagpi-per e Priest). E sobre o futuro da imprensa muito se tem dito e escrito. Vaticina-se o fim do suporte físico e a prevalência de suportes virtuais, mas Elisabete Vaz Mena acredita que a eficácia de um anúncio de imprensa existirá

sempre desde que a comunicação seja boa: “Os meios podem morrer ou ser substituídos, mas se a co-municação não for impactante não importa. A culpa não é do meio, é do conteúdo”. Na sua opinião, con-tinua a haver uma apetência pelo anúncio de imprensa, até porque para trás ficaram os tempos de uma quase guerra entre a publicidade e o meio editorial. Há uma maior abertura: as capas falsas eram im-pensáveis – a primeira gerou um verdadeiro escândalo - e hoje estão a caminho de se tornarem banais. Também a televisão como suporte enfrenta problemas. Porque houve abusos, saturação. E porque há mais concorrência: mais canais de sinal aberto, muitos mais por cabo, generalistas e especializados, sem falar na Internet. Também aqui se fala na diminuição do impacto dos anúncios, mas a directora criativa do Grey Group Portugal prefere pensar ao contrário: “E se deixasse de haver publicidade na televisão, as marcas não se ressentiriam ain-da mais?”.As marcas são como as pessoas. É nisto que acredita Eugénio Cho-rão, o ceo da Euro RSCG Design

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www.briefing.pt Entrevista

Edição vídeo desta entrevista

em www.briefing.pt

Junho de 2010 33O novo agregador do marketing.

flat@

“As marcas são como as pessoas. Têm um físico,

um carácter, uma personalidade, um estilo.

E também envelhecem. Há que adaptá-las à época”

Eugénio Chorãoceo da Euro RSCG Design & Arquitectura

e jurado nos Design Lions

“Quer o marketing directo, quer o relacional rejeitam a propagação unívoca da

mensagem, valorando a capacidade de manter um

diálogo relevante e contínuo”

Jorge CastanheiraManaging director da Wunderman Portugal

e jurado nos Direct Lions

“Os meios podem morrer ou ser substituídos, mas se a

comunicação não for impactante não importa. A culpa não é do

meio, é do conteúdo”

Elisabete Vaz MenaDirectora criativa executiva do Grey Group

Portugal e jurado nos Press Lions

& Arquitectura, que no 57.º Festival de Cannes levará o ponto de vista português ao júri dos Design Lions. É uma categoria que está a dar os primeiros passos, com os prémios a serem atribuídos apenas pela ter-ceira vez. Não é por ser nova que é menos importante e muito menos será por isso que o design nacional não es-tará bem representado: “Portugal tem muito talento para mostrar. A qualidade do design feito no nosso país é uma referência em termos in-ternacionais, o nosso trabalho está a par de qualquer outro”.Eugénio Chorão vê com bons olhos a abertura de Cannes a novas ca-tegorias como aquela em que será jurado: afinal, o mercado alterou-se muito nos últimos anos e a comu-nicação também. Diz, a propósito, que a organização de Cannes “che-gou e bem à conclusão de que o design tem um papel relevante na sociedade”. E uma das aplicações mais signifi-cativas é na mudança de identida-de corporativa de uma empresa: mudar a imagem mexe com toda a instituição, é um momento decisivo. Radical até.

Na RSCG, aliás, comparam-se as marcas às pessoas, entendendo que as marcas também têm um físico, um carácter, uma personali-dade, um estilo. E também envelhe-cem. Há que adaptá-las à época. E serão provavelmente mudanças de identidade corporativa que estarão sobre a mesa quando o júri dos De-sign Lions se reunir. Pela primeira vez, um português estará sentado a essa mesa, o que Eugénio Chorão atribui ao facto de o design nacio-nal ter dado nas vistas em 2009: um leão de prata, para a Leo Burnett Lisboa pela campanha Store + cria-da para a Cruz Vermelha Portugue-sa, e um de bronze, também para a Leo, pela campanha All against each other (Amnistia Internacional).Também Jorge Castanheira, mana-ging director da Wunderman Por-tugal, se congratula por Cannes ter aberto as portas às novas discipli-nas da comunicação publicitária, como aquela em que será jurado – o marketing directo e relacional. São domínios já com um historial sólido noutros festivais internacio-nais, como os norte-americanos Ecco Awards, mas que pecavam por ausência no certame que reú-

ne, na cidade balnear francesa, os melhores criativos e as melhores criações. “Vê-se nas próprias con-ferências que há uma visão cada vez mais integrada e que os moti-vos de discussão têm pouco a ver com a essência da publicidade e mais com os novos desafios”.Em Portugal estas novas ferramen-tas têm progredido lentamente. O foco de expansão europeu é o Reino Unido mas a génese é o mer-cado norte-americano, por via da necessidade que indústrias como a banca e a automóvel sentiram de fragmentar a comunicação, de criar momentos de comunicação com o consumidor mais explanados no tempo. Jorge Castanheira está convicto de que são ferramentas cada vez mais relevantes e legítimas à luz da dimensão digital do mundo, assen-tando num princípio “muito claro” - o diálogo. Quer o marketing directo, quer o relacional rejeita a propaga-ção unívoca da mensagem, valo-rando a capacidade de manter um diálogo relevante e contínuo. É um diálogo alimentado pela capacidade de angariar e trabalhar informação acerca do consumidor - e de, a par-

tir daí, falar com ele quando ele está disponível para falar com a marca, mas também manter canais abertos para que o consumidor possa falar com a marca quando deseja. O diá-logo é a mais-valia desta forma de comunicar. Será essa capacidade que o júri dos Direct Lions irá avaliar. Jorge Castanheira conta contribuir com a sua visão, que acredita ser diferente dadas a dimensão e as característi-cas do mercado português. Como jurado, espera proporcionar aos de-mais um conhecimento mais rico e qualificado das propostas nacionais a concurso. De certa forma, sente a obrigação de as defender.De Cannes, o marketing directo e relacional português já trouxe-ram leões: o ano passado, dois de prata para a Leo Burnett Lisboa e a campanha Store + (CVP). Tam-bém já ganhou ouro nos Ecco. Está “perfeitamente” ao nível dos outros países, com um grau de exigência à dimensão do mundo. E pelo co-nhecimento que tem dos festivais nacionais entretanto decorridos, Jorge Castanheira espera encon-trar ideias originais, trabalhos mui-to bons.

Os três jurados portuguesesCANNES

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www.briefing.pt

34 Junho de 2010 O novo agregador do marketing.

flat@

tem já um histórico de relação com o festival. O grande desafio coloca-se com as novas categorias - Design, Direct, Promo e Activation, Eventos. Um dos meus grandes objectivos como representante é precisamente atrair estas indústrias e os seus cria-tivos para Cannes. Durante muitos anos, o festival foi conotado exclu-sivamente com publicidade e foram sendo criados prémios alternativos para as disciplinas que não se sen-tiam representadas. Actualmente, o festival é mais alargado mas sinto que em Portugal ainda há um défi-ce de conhecimento sobre as novas categorias. Daí que nos Young Lions (na selecção nacional) tenha sido criada uma categoria de design.

Briefing | A publicidade tradicional está a perder terreno?VP | A publicidade nos meios tradi-

Briefing | Este é o primeiro festival de Cannes que tem a MOP como representante em Portugal. Como é que se deu esse encontro?Vasco Perestrelo | A minha rela-ção com Cannes vem de há mui-tos anos. Primeiro como cliente, por ter o pelouro do Marketing nas empresas cuja administração inte-grei, a última das quais a então PT Multimédia, hoje ZON. Depois estive quatro anos na Euro RSCG e passei a ir a Cannes como actor do sector. A representação foi uma questão de oportunidade. Não havia represen-tante em Portugal e o festival sempre me interessou muito.

Briefing | Ainda é preciso promo-ver Cannes?VP | O sector da publicidade tradicio-nal, que inclui as categorias mais an-tigas de Filme, Imprensa e Outdoor,

Vasco Perestrelo, ceo da MOP

Cannes é como os Óscares“Cannes está para a

publicidade como os Óscares estão para o

cinema. É o ícone mundial da publicidade. Podem

inscrever-se maus trabalhos, mas uma coisa é certa:

todo o trabalho bom está lá”, garante Vasco Perestrelo, ceo da MOP (Multimedia

Outdoors), representante em Portugal do festival, cuja 57.ª

edição se realiza de 20 a 26 deste mês.

Entrevista

cionais ainda tem uma grande quota de mercado, mas tem vindo a dimi-nuir, e cada vez há mais mercado para as novas áreas. Tanto que as agências de design e eventos têm proliferado e, nas grandes empresas, estas áreas de negócio têm regista-do as maiores taxas de crescimento. Há indústria há, o que não acontecia era a ligação a Cannes. E o nosso trabalho é despertar a atenção, pro-mover esse conhecimento. Também por isso criámos nos Young Lions a categoria de Marketing, para anun-ciantes. Procurámos recriar Cannes dos dias de hoje.

Briefing | Cannes mudou muito?VP | Há 20 anos era um festival ex-clusivo para directores criativos mas agora inclui uma exposição de Ma-rketing que é talvez do mais rico que há no mundo e com uma vertente

pedagógica fortíssima, com confe-rências e workshops de grande qua-lidade. Se eu fosse director-geral de uma empresa, não teria dúvidas de que Cannes seria o melhor espaço de formação para os meus colabo-radores.

Briefing | A MOP indicou três jura-dos. Porquê estes criativos?VP | O processo é relativamente idêntico para todos os países. O número de jurados é definido com base num critério de alguma pro-porcionalidade entre o volume de inscrições e o número de prémios. No entanto, cada representante na-cional tem espaço para fazer uma pré-selecção de três nomes para cada categoria em que pode indicar jurados. E o festival depois escolhe um deles. Os critérios que usámos foram os mesmos, naturalmente

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Junho de 2010 35O novo agregador do marketing.

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Promover os jovens talentos é um dos objectivos da MOP como repre-sentante nacional de Cannes em consonância, aliás, com a filosofia do próprio festival.A 26 de Maio foram conhecidos os criativos portugueses com menos de 28 anos que estarão em Cannes:

Pedro Hefs e Steve Colmar (Leo Burnett) venceram na categoria de Imprensa;Juan Christman e Lincoln Junior (Leo) na de Outdoor;Juan Christman e Frederico Bosch (Leo) na de Cyber;Francisco Pedreira e Tânia Costa (JWT) foram os vencedores em Fil-me;Tiago Nascimento (Brandia Central) venceu a categoria de Design;Joana Mafalda Santos (Lattitude) e Inês Delgado Pedro (Arena Me-dia) destacaram-se em Media;Tiago Talone e Bruno Rio (Unicer) foram primeiros na categoria de Ma-rketing;Rita Melo e Rita Leon Bernando (Lisboa aD School) irão frequentar a Academia Roger Hatchuel.A competição nacional dos Young Lions teve este ano a particularidade de a mesma dupla, Pedro Hefs e Steve Colmar (da Leo Burnett), ter vencido duas categorias - Imprensa e Filme. Dita o regulamento que, nesse caso, terá de haver uma escolha e os dois jovens criativos opta-ram por representar Portugal na categoria de Imprensa. Assim sendo, a dupla que havia conquistado o segundo lugar em Filme - Francisco Pedreira e Tânia Costa (JWT) - ganhou lugar em Cannes.

Tuga Beach Se por acaso estiver a pensar passar por Cannes na semana 25, terá toda a vantagem em inscrever-se pre-viamente no site da Impression Portugal (empresa especializada na impressão de publicidade outdoor e de ponto de venda) para ter acesso à Tuga Beach e poder, pela manhã, tomar um café Delta acompanhado por um pastel de nata, ou, à tardinha, beber um fino Super Bock com tremoços, enquanto relaxa com os olhos pousa-dos nas águas azuis e repousantes do Mediterrâneo

A lista dos portugueses sub28SANGUE NOVO

O Festival de Cannes é uma espécie de quatro em um. É:Olimpíadas da publicidade, porque se disputam os troféus mais cobiçados do sector, os Leões, em 11 categorias introduzidas su-cessivamente desde a primeira edição: Filme (1954, então desig-nada TV), Imprensa e Outdoor (1992), Cyber (1998), Media (1999), Direct (2002), Rádio e Titanium (2005), Promo (2006), Design (2008) e PR (2009);Davos da publicidade, porque se reúnem, em média, 10 mil pro-fissionais de todo o mundo, num encontro de alto nível em que se estabelecem o status e as tendências do sector, em que se tecem e consolidam redes de parceiros, clientes e indústrias e em que se descobrem novos talentos;Harvard da publicidade, porque se visionam os melhores trabalhos, porque se multiplicam seminários e workshops “com os pensadores mais inovadores da indústria da comunicação global” (incluindo os portugueses Catarina Bastos, managing director da Screenvision, e Manuel Faria, ceo da Indigo, gurus da indústria publicitária como Martin Sorrell e Maurice Lévy, realizadores como Ridley Scott e Wim Wenders); Futuro da publicidade, porque dá espaço ao sangue novo com o programa Young Lions e a Academia Roger Hatchuel.

Olimpíadas, Harvard, Davos e o Futuro …

QUATRO EM UM

espelhando e valorizando a realida-de portuguesa. Escolhemos nomes com reconhecimento do meio, que cruzámos com pessoas que temos como referência. Foi como que uma validação, após o que foi tomada a decisão.

Briefing | Esse sentido patriótico do festival faz recair muita respon-sabilidade sobre os jurados…VP | É muito importante ser jurado em Cannes, porque o festival tem uma filosofia muito patriótica. Ser jurado é uma oportunidade de de-fender o trabalho do respectivo país. E é também, na minha opinião, um prémio de carreira. Os júris reúnem a elite criativa mundial. Estamos a falar dos directores criativos das maiores agências do mundo, o best in class. E a qualidade do júri pode ser deter-minante para os prémios que se ga-nham. Para Portugal, que é um pe-queno país, é ainda mais importante a defesa dos trabalhos portugueses a concurso.

Briefing | Os melhores profissio-nais nos júris, os melhores tra-balhos a concurso… Cannes é a excelência?VP | Cannes está para a publicidade como os Óscares estão para o cine-ma. É o ícone mundial da publicida-de. Podem inscrever-se maus traba-lhos, mas uma coisa é certa: todo o trabalho bom está em Cannes.

Briefing | Em ano de crise, quais são as expectativas? VP | Com a crise, a criatividade ga-nha ainda mais peso, porque ajuda a sair da norma. É mais difícil ser criativo quando há menos investi-mento, mas também se torna mais interessante. Não estou a fazer a apologia de que não é preciso di-nheiro, mas a lógica de um criativo

é única. O valor está na massa cin-zenta, nas ideias. Em termos mé-dios e globais, uma boa ideia tem uma maior probabilidade de passar se for ajudada com investimentos, mas, no limite dos limites, o que se procura é uma boa ideia.

Briefing | Os criativos portugue-ses têm boas ideias?VP | Sempre ouvi dizer que, em termos proporcionais, Portugal tem uma taxa de sucesso bastante elevada, mas só como represen-tante do festival tive essa noção exacta. Na primeira reunião, isso foi taxativo. Há um grande respei-to por Portugal como um país com grande potencial criativo.

Briefing | 2009 foi um ano de su-cesso para as agências portu-guesas…VP | Foi. E embora se possa dizer que o sucesso não foi de Portugal mas da Leo Burnett (vencedora da maioria dos Leões), a verdade é que foi um salto muito grande - uma subida de patamar. De certe-za que o sucesso da Leo inspirou outras agências e vai servir de lo-comotiva à criatividade nacional.

Briefing | Que expectativas leva para Cannes?VP | Há um pequeno decréscimo de trabalhos inscritos, mas não te-nho dúvidas de que a criatividade vai ser excelente, haverá prémios criativos de múltipla performan-ce, muitos exemplos de sucesso que tirarão partido da dispersão de meios e da dispersão do con-sumidor. Em termos portugueses gostaria imenso que conseguís-semos ter tantos Leões como o ano passado. Seria uma vitória es-trondosa. Seria passar para outro campeonato.

Page 36: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.36 Junho de 2010

www.briefing.ptEntrevista

te-se que a principal é a green obsession. Isso é inquestionável?APL | Estamos a ser confrontados com um desafio muito grande que é a escassez de recursos, que nos obriga a termos sempre presente a questão da sustentabilidade.

Briefing | Esta obsessão pode ser prejudicial para o desempenho das empresas? APL | Pelo contrário. A prova dis-so é que a sustentabilidade tem sido uma das nossas prioridades e permitiu-nos uma melhoria nos indi-cadores de gestão. Na produção de um litro de cerveja melhorámos o ní-

“Ou as marcas conseguem criar uma relação forte com os consumidores ou as pessoas optam simplesmente por marcas que se baseiam no preço ou marcas de distribuição. Ou se é muito bom, ou se acaba a produzir para terceiros”, afirma António Pires de Lima, que acrescenta: “As marcas podem atingir um valor extraordinário se conseguirem criar uma relação de cumplicidade com o consumidor, o que implica tratá-lo pelo nome, conhecê-lo”

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lud

o

Jorge FielJornalista

[email protected]

e vendas, de empresas de oito sec-tores de actividade.

Briefing | Depois de ler o estudo da Deloitte, se eu tivesse um filho na fase de escolha de curso, não descansaria enquanto ele não es-colhesse Marketing. O futuro vai resumir-se ao Marketing? António Pires de Lima | Essa é a vi-são que os directores de Marketing têm. Não acredito que a realidade venha a ser exactamente como an-tevê o estudo.

Briefing | O estudo aponta para que os responsáveis pelo Ma-

“Ou somos muito bonsou produzimos para terceiros”

António Pires de Lima, presidente executivo da Unicer

António Pires de Lima, ceo da Uni-cer, presidiu ao Steering Comittee que orientou os trabalhos do estu-do Marketing Beyond/Os frutos do Marketing no futuro, levado a cabo pela Deloitte. Perceber, do ponto de vista das empresas, as princi-pais opções da sociedade, quais os novos valores, hábitos de consu-mo e comportamentos do futuro é o objectivo deste trabalho que tem como horizonte temporal a década 10/20. O essencial desta entrevista tem como pano de fundo este es-tudo, que resulta de um inquérito a administradores e directores de primeira linha, ligados ao Marketing

rketing sejam promovidos e pas-sem a ter um lugar na adminis-tração, que depois do ceo e do cfo passa a existir o cmo (chief marketing officer). Não partilha deste ponto de vista?APL | O Marketing está a deixar de ser uma função para passar a ser o negócio, por isso é cada vez mais uma responsabilidade da adminis-tração. O Marketing é demasiado importante para ser delegado no director de Marketing. O CEO tem de assumir essa responsabilidade.

Briefing | Na análise das tendên-cias sociais do consumo, salien-

Page 37: briefing, nº 10

Junho de 2010 37O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

vel do consumo de água, de energia e a emissão de dióxido de carbono. Temos hoje indicadores de gestão substancialmente melhores do que há uns cinco anos, comparáveis com as melhores práticas interna-cionais.

Briefing | Não é mais possível gerir sem preocupações ambien-tais?APL | Uma empresa não pode ter sucesso se na sua relação com os consumidores não estiver implícito um comportamento social respon-sável, o que implica estimar e cuidar do ambiente.

Briefing | As redes sociais são um fenómeno que cresce exponen-cialmente. Não fica impressiona-do com o facto de Portugal ser o terceiro país com maior penetra-ção das redes sociais? APL | Sim. Creio que este é um tema que, claramente, veio para ficar. Há cada vez mais casos interessantes de sucesso comercial, empresarial e político com origem nas redes so-ciais.

Briefing | Qual dos factores vai ser mais decisivo? A obsessão verde ou as redes sociais? APL | Não sei. Os dois temas são muito importantes. Os impactos negativos de uma má gestão am-biental podem ser avassaladores. Veja-se o que se está a passar com a BP, que, apesar de ter uma gestão nova, altamente credível, que esta-va a fazer um trabalho espectacular, perdeu 40% do valor de mercado no último mês. Os mercados são muito sensíveis aos problemas am-bientais, mas o efeito só se sente por razões negativas – quando as empresas metem a “pata na poça” ou demonstram incapacidade para resolver um assunto que é impor-tante para as pessoas. Quando as empresas, como a Unicer, cumprem sistematicamente a sua actividade com boas práticas ambientais, não é claro que haja uma valorização ex-traordinária desse comportamento.

Briefing | Sente que as empresas ainda não se estão a aproveitar, no Marketing de serviços e pro-

>>>

“Já não chega comunicar coisas

genéricas em grandes meios de Comunicação Social, com mensagens standard para milhões de pessoas. A adesão

à marca tem de ser feita com intensidade,

commitment e cumplicidade. As marcas têm de

despertar paixão”

dutos, o potencial máximo das redes sociais?APL | Ainda estamos a tactear nes-te novo território. Não deixa de ser verdade que a utilização da internet está a constituir-se como um ele-mento fundamental para a marca Super Bock criar uma relação de intimidade com os consumidores. Este é um tema muito importante e caro aos marketeers. As marcas po-dem atingir um valor extraordinário se conseguirem criar uma relação de cumplicidade com o consumi-dor, o que implica tratá-los pelo nome, conhecê-lo. A tendência está aí. Em muitos casos, ainda estamos à procura e a fazer experiências com muita paciência e fé, para sa-bermos qual o melhor caminho para explorarmos o potencial da tecno-logia.

Briefing | Tratar o consumidor como único vai ser decisivo? APL | Vai. Já não chega comuni-car coisas genéricas em grandes meios de Comunicação Social, com mensagens standard para milhões de pessoas. A adesão à marca tem de ser feita com intensidade, commitment e com cumplicidade. As marcas têm de despertar paixão.

Briefing | Isso vai implicar inovar na distribuição e o estabelecer canais próprios? APL | Hoje começamos a ver em-presas que criam um produto de enorme sucesso, sobrepondo-se aos tradicionais canais de distri-buição. É o caso da Nespresso da Nestlé. Não vemos Nespresso nos super e nos hipermercados. Isto é, tem um produto com lojas emblema escolhidas a dedo e, depois, uma relação estabelecida com os con-sumidores, que privilegia o contac-to directo, seja por telefone ou por Internet. Há já exemplos de novos produtos de grande sucesso que estão a utilizar a Internet para esta-belecer uma relação directa com os consumidores sem intermediários.

Briefing | O que estão a fazer nes-se sentido na Unicer? APL | Na Unicer não estamos a ir por aí, mas reconhecemos que é possível estabelecer uma relação,

“O Marketing está a deixar de ser uma

função para passar a ser o negócio, por isso é cada vez mais uma responsabilidade da

administração. O Marketing é

demasiado importante para ser delegado no

director de Marketing”

nomeadamente, com grupos de consumidores – os que gostam de música, os que amam o futebol – que passam por uma relação que pode ser potenciada através da internet. A Super Bock, por exem-plo, tem um desafio grande nesta década, que é ganhar o território da paixão pelo futebol, onde está apenas há dois anos - em 82 anos de história, 80 foram passados ao lado do futebol. Nesta plataforma estamos a tentar criar, através da in-ternet, um conjunto de valores e de adesões que permitam chegar aos super adeptos. Cada empresa anda à procura do seu caminho, mas penso que é inquestionável que a internet e as novas tecnologias vão ter um papel absolutamente deter-minante na criação desta relação de intimidade, de cumplicidade e de paixão entre as marcas e os consu-midores.

Briefing | O estudo diz que o foco está no produto mas vai passar a estar na rentabilidade do consu-midor. Qual é o preço do litro da Super Bock? APL | Depende dos produtos, pode ser 1, 08, 1,50, 2,00 ou 2,50 euros.

Briefing | A diferenciação dos pre-ços vai-se acentuar? APL | É um caminho que se vai fa-zendo e que passa por segmentar, segmentar e segmentar. Acima de tudo, temos é de fugir precisamen-te à questão que estava a levantar. Quanto é que vale por litro o meu produto? Isso não existe. O que existe é você estar num meio de um concerto com uma temperatura de 40º C a curtir imenso a música com os amigos e apetecer-lhe de-sesperadamente uma Super Bock. Quanto paga por esse um momento de prazer? Paga dois, três ou qua-tro euros e não lhe parece caro. Há outras ocasiões em que vemos pes-soas que querem comprar uma gar-rafa de litro para partilharem numa refeição com a família. Estamos a falar de um produto que não é muito diferente, mas que em alguns casos o litro pode ser vendido por 1,5 eu-ros e noutros casos uma unidade de consumo de 20, 25 ou 30 cl pode ser vendida por dois ou três euros.

Page 38: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.38 Junho de 2010

www.briefing.ptEntrevista

Temos de ter a capacidade de criar modelos de negócio e de valor que vão ao encontro das necessidades das pessoas e daquilo que valorizam.

Briefing | Até onde é possível ir na segmentação? APL | As maiores mudanças têm a ver com a profundidade a que se vai chegar na segmentação do merca-do. A tendência durante esta década é valorizar mais modelos de seg-mentação comportamentais e psi-cológicos. Deste modo, os modelos demográficos, geográficos e de ren-dimento vão ser menos valorizados.

Briefing | O critério do rendimento deixa de ser relevante? APL | O critério do rendimento é im-portante, mas não é o único. Num concerto de rock vemos pessoas com rendimentos completamente diferentes, mas com sentimentos que as aproximam em termos de vivência colectiva. É simples seg-mentar o mercado em função de dados geográficos, etários, ou de rendimento. É muito mais elabora-do, sofisticado - e exige técnicas de compreensão muito mais profundas -, uma marca procurar segmentar mercado e estabelecer laços de afecto com grupos de consumido-res em função das suas preferên-cias, comportamentos e estilos de vida. Mas a tendência é essa.

Briefing | No estudo, o futuro do Marketing é pintado em tons cor-de-rosa: os departamentos vão ter mais gente, mais orçamento e mais peso nas decisões das em-presas. Acha que vai ser mesmo assim?APL | Os marketers estão dema-siado convencidos da sua própria função e, por isso, acham que o director de Marketing vai ser uma figura cada vez mais importante e que os seus departamentos de Marketing vão ser cada vez mais vastos e gastar cada vez mais di-nheiro. Penso que não vai ser nada assim. O nível de exigência em mer-cados maduros – e a Europa não me parece que vá crescer muito - sobre o retorno do investimento já é muito grande, pelo que o desafio para as organizações de hoje é fazer mais e

melhor com menos. Isto está a co-meçar a tocar no Marketing. Já não é aceitável dizer “eu sei que metade do meu investimento no Marketing é desperdício. Só não sei qual é a metade que se desperdiça”.

Briefing | O que responderia se o seu director de Marketing lhe dis-sesse isso?APL | Qualquer director de Marke-ting que disser isso, com um ar bla-sé, numa reunião da Unicer, tem o emprego em risco. É muito impor-tante que cada euro investido em Marketing seja medido em termos de retorno. Esta tendência está a chegar ao Marketing. Temos de me-dir a eficácia do que fazemos, seja por critérios de quota de mercado, satisfação dos clientes ou retorno financeiro.

Briefing | Agora fala-se muito de uma nova frugalidade, de mu-danças profundas nos hábitos de consumo, de um novo normal, mas isso não é contemplado no trabalho. Não lhe parece que o estudo passa ao lado da palavra crise?APL | Estou de acordo consigo. Há um par de questões que não estão presentes neste estudo, talvez por ter sido feito numa perspectiva muito local. Dá-me a sensação que as pes-soas que respondem estão a pensar em Portugal e para nós esta crise não é muito diferente da que esta-mos a viver nos últimos dez anos.

Briefing | O que acha que esta crise vai mudar nos hábitos de consumo? APL | Ou as marcas conseguem criar uma relação forte com os con-sumidores ou as pessoas optam simplesmente por marcas que se baseiam no preço ou marcas de distribuição. Nesta matéria o mundo vai ser mais bipolar. Ou compro uma marca muito boa, mesmo que custe o dobro porque há uma relação de mais-valia e de cumplicidade que o justifica, ou simplesmente não com-pro nenhuma marca. Ou se é muito bom, ou se acaba a produzir para terceiros. É um mundo complicado, mas isso é cada vez mais evidente. A crise veio acelerar este processo.

>>>

“Quanto é que vale por litro o meu produto?

Isso não existe. O que existe é você estar num

meio de um concerto com uma temperatura

de 40º C a curtir imenso a música com os

amigos e apetecer-lhe desesperadamente uma Super Bock.

Quanto paga por esse momento de prazer?

Paga dois, três ou quatro euros e não lhe

parece caro”

“As maiores mudanças têm a ver com a

profundidade a que se vai chegar na segmentação. A tendência vai ser

valorizar mais modelos de segmentação comportamentais

e psicológicos, em detrimento

dos demográficos, geográficos e de

rendimento”

48 anos. Fez a Primária e o Secundário no Colégio S. João de Brito, onde foi colega e fez amizade com Paulo Portas. Licenciado em Economia na Católica. Esteve na Procter & Gamble, Scottex, Tetra Pak e Compal/Nutrinvest. Casado, tem cinco filhas. É sportinguista e dirigente do CDS/PP. Joga golfe (handicap 15)

Page 39: briefing, nº 10

Junho de 2010 39O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

Edição vídeo desta entrevista

em www.briefing.pt

manchetes nos jornais atenua-ram-se muito. As empresas per-cebem que têm de ter um com-portamento mais responsável, que assegure a sustentabilidade das suas contas de exploração, a sustentabilidade dos postos de trabalho que podem manter, uma maior atenção à gestão daquilo que gera cash nas empresas e da relação com os clientes. Es-tas crises são muito desagradá-veis, mas obrigam as empresas a tornarem-se mais competitivas e mais eficientes. Isso aconteceu na Unicer entre 2006 e 2008 e tem sido uma das razões pelas quais temos passado por esta crise de uma forma bastante sólida.

Briefing | E qual está a ser o im-pacto nas organizações?APL | Há uma tendência para a cen-tralização não abordada no estudo, talvez devido ao wishful thinking das pessoas consultadas. Anda tudo à procura de todas as eficiências possíveis e isso acelera o movi-mento de centralização das organi-zações, por oposição às empresas que funcionavam num registo de grande autonomia e independên-cia relativamente às casas mães. Penso que esta tendência é clara e cada vez mais tenho convivido com exemplos de multinacionais, muito orientadas para a inovação e para o Marketing, que hoje estão a centra-lizar estas funções nas suas casas

mães e a retirá-las dos mercados locais. Deste modo, o papel que é destinado às empresas locais é o de excelente executante daquilo que é definido a nível central. Graças a Deus, trabalho na Unicer, e como se trata de uma empresa maiorita-riamente portuguesa conseguimos escapar a esta tendência.

Briefing | 2010 está a ser muito duro nas bebidas?APL | 2009 e este princípio de 2010 têm sido muito duros do ponto de vista do consumo. Os mercados de bebidas que acom-panhamos mais de perto não estão a crescer ou decrescem. No ano passado, o mercado da

cerveja caiu 3%. Nos quatro pri-meiros meses deste ano terá ca-ído entre 4% a 5%, uma queda muito influenciada pelo facto do clima não ter ajudado. Atendendo às dificuldades enormes que ou-tros sectores estão a sentir e às consequências, por vezes, avas-saladoras que esta crise está a ter, diria que, apesar de tudo, o mercado das bebidas - e das cer-vejas em particular - tem mostra-do uma certa resistência à crise. Tem estimulado comportamentos mais responsáveis por parte das empresas que nele participam. Aquelas lamentáveis guerras pro-mocionais e de preços que exis-tiam neste mercado e que faziam

Domingos Soares de Oliveiracfo do Benfica SAD

José Veríssimo professor de Marketing e

Estratégia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)

José Carlos Pinto Coelho presidente da Confederação

do Turismo Português

Carlos Galamba de Oliveiraconsultor de publicidade

da DRAFTFCB

Joaquim Goescomissão executiva do BES

Luís Mesquita Diasex-presidente do conselho

de administração da Unilever-Jerónimo Martins

Jorge Magalhães Correiapresidente da Fidelidade Mundial

e Império Bonança

Jorge Marrão partner da Deloitte

Luís Paixão Martinsadministrador

da LPM Comunicação

Pedro Leitãopartner da Deloitte

Marcos Baptistaadministrador e cco dos CTT

Pedro Norton de Matosvice-presidente da Impresa

STEERING COMITTEE

O projecto Marketing Beyond foi supervisionado por um painel de personalidades do Marketing português, das empresas à academia, dos consultores aos media

Page 40: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.40 Junho de 2010

www.briefing.pt

Manuela BotelhoSecretária-geral da APAN

Publicidade

Portugal tem sabido dar resposta

A Europa continua a ter o que provar no que diz respeito às regras da publicidade e do Marketing dirigido às crianças. Especificamente o sector alimentar tem assistido a um conjunto de tentativas de aplicação de novas regras e recomendações que apontam para a contenção dos conteúdos e para uma redução equilibrada da comunicação destes produtos. Em alguns países, essas tentativas têm mesmo conseguido impor-se.Por sua vez, a Europa tem demonstrado uma capacidade de resposta bastante razoável da parte da indústria alimentar, que tem trabalhado proactivamente para conseguir antecipar-se aos novos critérios estabelecidos para a publicidade a alimentos e bebidas para menores de 12 anos. O próprio UE Pledge, uma iniciativa voluntária da indústria, é a concretização dessa mesma vontade, de responder positivamente e de garantir a defesa de todas as partes: dos anunciantes e dos consumidores. As mais recentes recomendações da OMS, adoptadas pela Assembleia Mundial de Saúde (AMS), reforçam a importância de uma postura responsável por parte dos Estados Membros, ou seja, incentiva a implementação de políticas que permitam reduzir o impacto do marketing de alimentos com perfis nutricionais desadequados aos recomendados junto das crianças. Está, portanto, em causa, a comunicação de marketing dos alimentos com elevado teor de sal, gordura e açúcar dirigidos ao público infantil. Neste contexto, as recomendações da OMS aos diversos Estados-Membros assentam numa lógica

A OMS recomenda aos Estados para que implementem políticas que permitam reduzir o impacto do Marketing dirigido ao público infantil de alimentos com elevado teor de sal, gordura e açúcar

A Europa tem demonstrado uma

capacidade de resposta bastante

razoável da parte da indústria alimentar, que tem trabalhado proactivamente para conseguir antecipar-

se aos novos critérios estabelecidos para a

publicidade a alimentos e bebidas para menores

de 12 anos

de aconselhamento prévio, no sentido de estimular os governos nacionais a definirem medidas claras de prevenção que podem passar por políticas de regulação, co-regulação ou de auto-regulação sólidas.Nesta circunstância importa, por isso, reforçar o panorama nacional e os passos que têm sido dados em Portugal nesta matéria, e que nos posicionam como um sector que tem sabido dar resposta aos desafios que lhe têm sido colocados. Iniciativas como a adopção de compromissos da indústria alimentar sobre alimentação, actividade física e saúde – que engloba um conjunto de políticas em matéria de reformulação nutricional, informação ao consumidor e publicidade e marketing dirigido a menores de 12 anos, estabelecidos no Pledge Português, subscrito por 26 empresas – colocam o nosso país num patamar de grande responsabilidade. Adicionalmente, e no que diz respeito à comunicação comercial de alimentos e bebidas dirigida a crianças, o novo Código de Auto-Regulação em Matéria de Comunicação Comercial de Alimentos e Bebidas dirigida a Crianças do ICAP, que entrou em vigor no passado dia 3 de Maio, deixa claro o papel activo da auto-regulação do sector, do qual a APAN se orgulha. Continuaremos a acompanhar atentamente as movimentações no contexto internacional, alertando e aconselhando os nossos associados perante todos os desafios que nos são colocados, defendendo o modelo de eficácia que a auto-regulação representa.

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Page 42: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.42 Junho de 2010

MArtiM AViLLEz FigUEirEDO, ex-director do jornal I, acaba de ser contratado para integrar a Direcção de Novos Negócios, que a Impresa Publishing se prepara para activar a partir de 8 de Junho. Segundo explica em comunicado a empresa, “no seguimento de uma estratégia de diversificação das suas receitas, a Impresa Publishing cria, a 8 de Junho, uma direcção de novos negócios, dando resposta a uma cada vez maior sofisticação na abordagem de propostas de comunicação para os anunciantes das marcas da área de imprensa do Grupo Impresa”.

Um estudo realizado em Maio pela GfK Metris junto da população portuguesa mostra que 74% dos inquiridos conhece ou já ouviu falar em Festivais de Verão. No entanto, apenas 23% já participaram em algum destes eventos. Se analisarmos regionalmente, a percentagem de participação aumenta para 36% no caso dos lisboetas. “Este facto estará com certeza associado à maior existência de festivais na capital portuguesa”, considera a GfK, adiantando que a presença em festivais, apesar de cada vez mais transversal a idades e sexo, é ainda dominante nos mais novos (18 a 24 anos com uma taxa de participação de 43%) e nos homens (28%).Com 64% do total de referências, a Super Bock lidera o ranking das marcas mais associadas a Festivais de Verão, sendo recordada principalmente por homens, inquiridos dos 18 aos 24 anos e residentes no Grande Porto. A Sagres, 2.ª marca de níveis de associação a festivais, é recordada por 35% dos

Super Bock é marcados festivais de Verão

inquiridos, principalmente residentes na Grande Lisboa. De seguida, destaca-se a Optimus (27%), principalmente no Porto, a TMN (24%), em Lisboa, e a Vodafone (28%). “Destaque positivo para a Vodafone, uma vez que das 3 operadoras móveis é a única que não tem nenhum festival com a sua designação (Vodafone) mas que ainda assim é a 5.ª marca no ranking global, capitalizando assim o seu patrocínio ao Rock in Rio”, sublinha a GfK. O Millennium bcp é a associação seguinte mais forte (com um total de 13%), muito provavelmente pela sua aposta e forte presença no Rock in Rio.Em termos de impacto, a presença das marcas é considerada muito positiva (7,9 em média) em particular por quem já participou em festivais (8,5 em média). São as marcas Vodafone (9,1) seguida da Optimus (8,8) as que são consideradas de maior impacto. Ainda assim, e apesar do impacto ser mais positivo na Vodafone e na Optimus,

a Super Bock, seguida da TMN e da Sagres, são as marcas que os inquiridos acham que mais têm beneficiado com a sua associação a festivais de Verão.

Ficha técnica:O Universo deste estudo é constituído pelos indivíduos com mais de 18 anos, residentes em Portugal Continental. Foi reunida uma amostra de 1.016 inquiridos, representati-va do universo em análise, na qual os res-pondentes foram seleccionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variáveis Sexo, Idade, Região e Habitat/Dimensão dos agregados popula-cionais.

Inquérito Briefing/GfK

Super Bock Super Rock

Paredes de Coura

Sudoeste TMN

Optimus Alive

Rock in Rio 96%

76%

67%

58%

53%

Que festivais conhece?

Ricardo Braga não veio ensinar

Ricardo Braga, sócio e direc-tor criativo da Duda Portugal, considera-se mal citado numa frase das declarações que prestou ao Briefing, `so-bre o momento do mercado publicitário, publicadas na página 14, da edição de Maio, num trabalho intitula-do : “Prognósticos? Só no final…”. O que Ricardo acha sobre a atitude da Duda ao desembarcar no nosso país deve ser resumido na se-guinte frase: “Acredito que hoje em dia, qualquer um neste meio já entendeu que nenhum de nós veio para cá querendo saber tudo. Estamos aqui também para aprender”. A maneira como expressamos esta ideia (“Já se percebeu que viemos para aprender e não com uma atitude de apenas ensinar”) é classificada pela Duda Por-tugal como “atrevida” e “não honesta”. Assim sendo, só nos resta pedir desculpa.

Sara Guerreiro assume a direcção da YoungNetwork no PortoA consultora regressa assim à multinacional portuguesa após cinco anos, para assumir o “leme” da mais recente aposta da empresa. Formada em Marketing, Sara Guerreiro iniciou a sua carreira na área da comunicação em 1999, com um percurso sustentado e diversificado, desempenhou funções na área de projectos de responsabilidade empresarial da IBM, passando mais tarde pelo Grupo YoungNetwork e por outras empresas do sector como a Big OM e a Global Press.

Marcelo de volta à TVI

O comentador, que deixou a estação há cinco anos, ocupa agora o espaço televisivo nas noites de domingo, no seguimento do Jornal Nacional com Júlio Magalhães.

Page 43: briefing, nº 10

Junho de 2010 43O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt

Manuel Faria e Catarina Bastos, oradores em Cannes

O seminário da Screen Advertising World Association (SAWA), no Cannes Lions 2010, vai contar com a participação de Manuel Faria, CEO da Indigo, e Catarina Bastos, directora-geral da Screenvision. Os oradores vão estar no festival para falar sobre a utilização do novo sistema de som 7.1. e das “Vodafone Sound Experiences”. “The Cinema Medium - Connecting Technology, The Audience And The Advertiser” é o tema seminário.

Zon mantém liderança na TV por cabo

A Zon manteve, no primeiro trimestre deste ano, a maior quota de assinantes de televisão por cabo com 62,5 por cento, tendo contudo perdido 1,9 pontos percentuais, face ao período anterior, para a concorrente Meo, que aumenta a sua quota de mercado para quase 25 por cento. A Cabovisão surge em terceiro lugar, com cerca de 10 por cento de quota. No total, o número de assinantes de televisão por assinatura cresceu no primeiro trimestre para cerca de 2,6 milhões, o que representa mais 69 mil assinantes que no trimestre de Outubro a Dezembro e mais 277 mil que nos primeiros três meses do ano passado.

Anúncio Nike lidera top 10 dos virais mais vistos do mundo

Apesar de não se tratar de um patrocinador oficial do Mundial de Futebol, o spot televisivo “Escreve o Futuro” quebrou o recorde viral, com mais de 7,8 milhões de espectadores. Segundo o ranking da Visible Measures, a marca bate assim o seu próprio recorde, dado que o anterior campeão do viral era também um anúncio da Nike. O spot “Earl and Tiger”, lançado no início deste ano, tinha conseguido 6,3 milhões de espectadores.

Sim, a Publicidade é, por vezes, enganadora. Sim, há quem exagere na Comunicação Publicitária. Ora, alguém acredita que, com o mero preço de uma assinatura do Briefing, alguém possa ganhar um Tesouro? Em nossa defesa, temos o velho provérbio chinês que explica que, para matar a fome, melhor do que dar um peixe é ensinar a pescar. Pois, não nos limitamos a oferecer-lhe um Tesouro. Fazemos mais. Oferecemos-lhe a maneira de caçar o Tesouro. Nós e o Grupo Leya. Por uma vez, acredite na Publicidade.

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Page 44: briefing, nº 10

O novo agregador do marketing.44 Junho de 2010

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Manuel FalcãoDirector-geral da Nova Expressão

Conhaque

Despesas de representação

No tempo em que o Pap’Açorda abriu portas, ainda existiam jornais no Bairro Alto. Corria o ano de 1981 e uma banda britânica, os Fun Boy Three, fazia furor com uma canção que é muito adequada à época que vivemos e ao presente estado da nação: The Lunatics Have Taken Over The Asylum. Pois por essa altura Fernando Fernandes e José Miranda meteram mãos à obra de transformar um antigo estabelecimento comercial num restaurante que rapidamente ganhou fama e que havia de ser um local bem frequentado por empresários, jornalistas, políticos, artistas e todos os que queriam, nessa época, uma amostra da nova animação que nascia num Bairro Alto, muito pela mão dos dois donos do restaurante e de Manuel Reis - os três construíram o triângulo mágico que começou a mudar Lisboa – Manuel Reis no Frágil e na Loja da Atalaia e Fernando Fernandes e José Miranda no Pap’Açorda. Um dos trunfos do Pap’Açorda, que se tem mantido ao longo dos anos, é a utilização de uma base da cozinha tradicional portuguesa, óptima qualidade dos ingredientes e uma confecção cuidada. Depois, a decoração do sítio e o próprio espaço físico ajudam. A presença constante de pelo menos um dos donos, a atenção posta no acompanhamento do serviço mostra um cuidado com os detalhes que tem garantido um nível de qualidade constante ao longo dos quase 30 anos que a

casa já tem.O balcão de entrada, longo, para ficar a beber um aperitivo, enquanto se espera pela mesa ou que chegue alguém, é uma das imagens de marca da casa.

Os factosEu, por acaso, sempre gostei mais de ir ao Pap’Açorda ao almoço que ao jantar. Ao almoço é mais sossegado, recatado quanto baste para uma conversa de trabalho. Eu pessoalmente gosto de ficar logo na sala de entrada, ao fundo, numa das mesas do lado esquerdo, perto da parede. É um bom sítio para ver quem está e quem entra — e é sempre uma observação interessante. Mário Soares, cliente habitual do restaurante, costuma ficar na mesa que existe num

recanto do lado direito. Algumas das conversas de preparação de “O Independente” foram lá feitas e, depois do jornal iniciar publicação, era habitual que a direcção se juntasse lá à sexta-feira, num almoço, para analisar a edição e falar do número seguinte — enfim, recordações do final da década de 80.Ao jantar, o Pap’Açorda é um excelente local para levar convidados estrangeiros que queiram conhecer a comida portuguesa e sentir alguma da animação lisboeta.Falando de coisas mais substanciais, a minha entrada preferida é a salada verde com caranguejos de casca mole. No prato principal existem sempre dúvidas – entre os fabulosos

Pap’AçordaRua da Atalaia, 67Bairro Alto, LisboaTelef. 213 464 811

Um bom exemplo dos novos caminhos

BANDA SONORA

Carlos Bica é um dos músicos de jazz portugueses com uma mais sólida carreira internacional e com uma dezena de discos editados em nome próprio. Contrabaixista, tem um estilo heterodoxo, marcante, dominado por uma grande marcação rítmica e uma subtileza de arranjos. O seu disco mais recente, “Carlos Bica+Matéria Prima” foi gravado em três concertos, na Culturgest, na Casa da Música e no Museu do Oriente, todos em 2008, e é um bom exemplo dos novos caminhos que Carlos Bica procura na sua música. Aqui ele é acompanhado por Matthias Schriefl no trompete, flugelhorn e melódica, por João Paulo no piano, keyboards e acordeão, por

Mário Delgado na guitarra eléctrica e João Lobo, na bateria e percussão. É um grupo de músicos de eleição e o resultado destas três sessões de gravações ao vivo é absolutamente fora de série. A maioria dos temas é da autoria do próprio Carlos Bica, à excepção de uma composição de João Paulo e de outra de Marc Ribot e de uma deliciosa versão de «Paris, Texas», de Ry Cooder.

Eu sempre gostei mais de ir ao almoçopastéis de massa tenra com feijão verde, a morcela da beira com grelos ou as costeletas de borrego panadas. Na área dos peixes vale a pena pensar nos filetes de sardinha panados (deliciosos, uma raridade) com arroz de coentros, os linguadinhos fritos com açorda, os jaquinzinhos, também com açorda, ou a garoupa com alcaparras. Nas sobremesas é muito difícil fugir à tentação da mousse de chocolate (um dos emblemas da casa) ou, numa versão mais light, à queijadinha de requeijão, que fica muito bem a acompanhar o café.

Os custosNo Pap’Açorda convém mesmo fazer reserva, sobretudo ao jantar — e é bom que saiba que há duas possibilidades — ou ir cedo, pelas oito da noite, ou querer um jantar mais tardio, pelas dez. Saiba também que existe uma zona de fumadores. Os custos variam muito com a extensão da refeição e os acompanhamentos líquidos. Entre os 30 e 60 euros (mais, se os vinhos forem especiais) consegue ter uma experiência leve ou um belo repasto.

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Junho de 2010 45O novo agregador do marketing.

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Para brilhar nesta estação, a FURLA apresenta-lhe a colecção “Flash” com malas feitas totalmente de borracha.

Para quem gosta de fugir ao tradicional, o modelo BX39 desta colecção FURLA é totalmente resistente e “implacável”.

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Românticas, Sonho&Spa e Família – vão oferecer-lhe momentos únicos de romantismo, diversão, relaxamento e descoberta em locais de sonho, sempre na melhor companhia.

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país com todos os seus encantos e recantos.

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O novo agregador do marketing.46 Junho de 2010

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Director-geralJoão David Nunes

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DirectorJorge Fiel

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Editor onlineAntónio Barradinhas

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Directora de MarketingMaria Luís

Telf. 925 606 [email protected]

Heaven, I’m in heaven, and my heart beat so that I can hardly speak. Foi assim, ao “som” de Irving Berlin, que Henrique Monteiro anunciou à comunidade twitter o seu fim-de-semana no Aquapura. Escreveu o director do Expresso: “Devo dizer que estou no Aquapura Douro Hotel a usar o voucher que ganhei no @leitao2010. Sítio magnifico, hotel excelente, tempo soberbo. Por isso agradeço aos organizadores do @leitao2010 e à minha sorte este fds magnifico pós-Siberia. Estava mesmo a precisar. Got the message? Porreiro, pá!!!! O Vale Abraão - de livro de Agustina a hotel. E eu aqui no dolce fare niente”. As twitadas foram convenientemente ilustradas com fotos recolhidas pelo próprio, como esta que o Agregado escolheu.

GCI vence “prémios” da Meios. A consultora de José Manuel Costa voltou a ser a grande vencedora dos “prémios” deste ano. Isto porque, em 8 anos de edição dos mesmos, a GCI continua a ser a única consultora de comunicação que conseguiu arrecadar o “prémio” de consultora de comunicação. Nos restantes 7 anos, o “prémio” ficou em casa.

Grossistas de assinaturas. Rui Calafate esboçou, no seu blogue, uma crítica muito ponderada ao mecanismo que envolve a atribuição dos “prémios” da Meios. Vale a pena registar: “Porque uma coisa são as nomeações, que são válidas pois devem ter critérios da redacção, outra a FARSA que constitui dois ou três maduros decidirem os prémios por comprarem mais assinaturas dentro dos seus interesses do momento. No meu entender, é brincar com quem trabalha. Assim, naturalmente fica sempre a pergunta, porque é que ganham? Por mérito ou porque investem umas massas naquilo?”. Esta metodologia foi baptizada pelo líder da Special One de “prémios dos grossistas de assinaturas”.

Grossista, eu? “E não se pense que é uma nomeação directa: há um dossier de actividade anual que é entregue à M&P a partir do qual a redacção da Meios faz as suas avaliações e nomeações, independentemente do mediatismo desse ano”, escreveu Salvador da Cunha. Portanto, para o presidente da Lift, o que conta não são as assinaturas. São os dossiês. E os “sentimentos de estima, admiração, respeito e confiança”. Melhor dito: são os dossiês cheios de estima, admiração, respeito e confiança. Como é que os concorrentes ainda não se lembraram desta, hein?

Anunciantes com iniciativa? Quais são as empresas a que se refere, indirectamente, Luís Mergulhão no artigo que fez publicar no Diário Económico acerca da eventual constituição de uma central de compra de Publicidade? O Agregado apurou que esta união de interesses de Anunciantes tem origem nas companhias que estiveram na génese de uma antiga “Aliança”, isto é, Unilever e Jerónimo Martins, aos quais se terão juntado o BCP, Unicer, e Compal Sumol.

Casa de ferreiro. O que pensar de uma consultora que apresenta um estudo sobre a reputação das cotadas no PSI 20 semanas depois de ter contactado algumas delas para lhes oferecer serviços? Com a agravante de podermos encontrar nas “pior classificadas” companhias que rejeitaram a oferta. É caso para dizer que, em contextos deste tipo, a reputação está off.

Pedro Bidarra deu tampa. À Etv, o canal de TV do Económico que transmite no 200 da ZON. Analisou o convite, pensou que iria gastar algum tempo (escasso) com o frente-a-frente para o qual estava convidado, terá ouvido Wengorovius preocupado com os negócios da BBDO e, no fim do dia, disse que não. Não é que nós tínhamos fé no programa…

Quem quer a RTP? A direcção de Pedro Passos Coelho vai anunciar no programa de governo que tenciona privatizar a RTP, empresa que assegura o serviço público de TV e Rádio. A confirmar-se, será o fim da principal intervenção do Estado na Comunicação Social portuguesa. A ideia é abrir a plataforma de TV a um dos grupos de media portuguesas. Candidato visto com bons olhos: Cofina.

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