brasil de fato rj - 144

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Pela democracia, 10 mil ocupam o centro do Rio RIO DE JANEIRO Stefano Figalo / Brasil de Fato Stefano Figalo / Brasil de Fato Stefano Figalo / Brasil de Fato Ano 3 | edição 144 17 a 20 de dezembro de 2015 distribuição gratuita Facebook Cidades | pág.7 Esportes | pág. 16 Cerca de 10 mil pessoas se reuniram nesta quarta-feira (16) na Cinelândia para exigir a cassa- ção de Eduardo Cunha e denunciar a tentativa de golpe contra a presidenta Dilma Rousseff . Cidades | pág. 5 Jogadores do Bom Senso Futebol Clube se manifestaram em frente à sede da entidade. O procurador-geral Rodrigo Janot pediu o afastamento do presidente da Câmara. Janot quer Cunha fora do Congresso Esportistas protestam contra CBF Brasil | pág. 9 Nova cara da região portuária Praça Mauá é uma das novidades dessa região do Rio de Janeiro Lula Marques

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Pela democracia, 10 mil ocupam o centro do Rio

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Stefano Figalo / Brasil de Fato

Stefano Figalo / Brasil de Fato

Ano 3 | edição 144

17 a 20 de dezembro de 2015 distribuição gratuita

Facebook

Cidades | pág.7

Esportes | pág. 16

Cerca de 10 mil pessoas se reuniram nesta quarta-feira (16) na Cinelândia para exigir a cassa-ção de Eduardo Cunha e denunciar a tentativa de golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

Cidades | pág. 5

Jogadores do Bom Senso Futebol Clube se manifestaram em frente à sede da entidade.

O procurador-geral Rodrigo Janot pediu o afastamento do presidente da Câmara.

Janot quer Cunha fora do Congresso

Esportistas protestam contra CBF

Brasil | pág. 9

Nova cara da região portuária

Praça Mauá é uma das novidades dessa região

do Rio de Janeiro

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Page 2: Brasil de Fato RJ - 144

EDITORIAL

Quinta-feira, 17 de dezembro, Rio de Janeiro, Brasil

º C | F29Parcialmente

nublado

PREVISÃO DO TEMPO

EXPEDIENTE

Desde 1º de maio de 2013

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. O Brasil de Fato RJ circula todas as segundas e quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

CONSELHO EDITORIAL:Alexania Rossato,Antonio Neiva (in memoriam), Joaquín Piñero, Kleybson Andra-de, Mario Augusto Jakobskind, Nicolle Berti, Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam)

EDIÇÃO:Vivian Virissimo (MTb 13.344)

SUB-EDIÇÃO:André Vieira e Fania Rodrigues

REPORTAGEM:Bruno Porpetta e Pedro Rafael Vilela

REVISÃO: Sheila Jacob

COLUNA SINDICAL: Claudia Santiago

FOTÓGRAFO: Stefano Figalo

ESTAGIÁRIO: Victor Ohana

ADMINISTRAÇÃO: Carla Guindani

DISTRIBUIÇÃO: Kleybson Andrade

DIAGRAMAÇÃO: Juliana Braga Leonardo Daher

TIRAGEM MENSAL: 200 mil exemplares

(21) 4062 [email protected]

O povo brasileiro vai continuar fa-zendo sua parte para que a demo-cracia seja respei-tada, gritando com todas as letras que não vai ter golpe

O ano de 2015 foi inten-so. Desde os primeiros me-ses, tanto os setores da direita quanto a classe trabalhado-ra saíram em defesa de seus interesses, cada lado usan-do as ferramentas que tem. Nessa disputa, chamada luta de classes, fica evidente que o povo trabalhador continua em desvantagem.

Recentemente, o processo de impeachment da presidenta Dilma foi apresentado formal-mente ao Congresso Nacional, com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), co-mo principal articulador.

Essa cartada foi um ataque direto e sem escrúpulos à de-mocracia brasileira, que é frá-gil, mas foi conquistada atra-vés de sangue e suor de mui-tos homens e mulheres.

Defender o impeachment ago-

Só a luta é capaz de mudar a vida

à classe trabalhadora, sobretu-do a capacidade de se organi-zar coletivamente e se manifes-tar, estão sendo bem utilizadas. Nunca antes na história des-te país houve tantas mobiliza-

ções. Sindicatos, movimentos, mulheres e estudantes secun-daristas deram um show em todo o Brasil e mostraram que só a luta é capaz de mudar a vi-

ra é encurtar o caminho da re-tirada dos direitos da classe tra-balhadora. É uma afronta à so-berania do voto e à legalidade. É uma forma de agilizar a pri-vatização da Petrobrás e entre-gar o petróleo brasileiro de vez para as empresas estrangeiras.

CONCILIAÇÃOApesar das políticas sociais e das conquistas que setores po-pulares tiveram nos últimos anos, o governo Dilma se afas-tou do povo e caiu nas garras da elite golpista, a mesma que defende Cunha, o impeach-ment e a volta do neoliberalis-mo. O governo PT foi engolido por sua política frágil de con-ciliação de classes. Basta ver a aliança com o PMDB, que vi-rou piada depois da carta ima-tura do vice Michel Temer.

As ferramentas que restaram

da. Nesse sentido, em defesa da democracia e contra o impea-chment de Dilma, um ato uni-tário foi realizado pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Me-do nesta quarta-feira (16) em todas as capitais.

ATOSO povo brasileiro vai continu-ar fazendo sua parte para que a democracia seja respeitada, gritando com todas as letras que não vai ter golpe. É Eduar-do Cunha quem tem que sair. E está na hora da presidenta Dilma ficar mais esperta, por-que só o povo é capaz de tirá-la desta encruzilhada. É a vez de retomar o programa eleito em 2014, continuar as mudanças que favoreçam o povo e apon-tar para as transformações sé-rias e estruturais que o sistema político brasileiro necessita.

Caro leitor e cara leitora, Informamos a todos que a partir do dia 21 de dezembro estaremos em

recesso, retornaremos com as atividades normalmente a partir de 11/01/2016. DESEJAMOS A TODOS UM FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO!

2 | Opinião Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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PH de Noronha

Anto

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CTB comemora 8 anos

A Central dos Trabalha-dores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) comemorou oito anos nos dias 11 e 12 de dezembro, no Sindspre-v-RJ, localizado no bairro da Lapa. Durante o evento, a central de trabalhadores também lançou seu Plane-jamento Estratégico e Situ-acional em parceria com o Centro de Estudos Sindi-cais e do Trabalho (CES).

SINDICALpor Claudia Santiago

Divulgação

Divulgação

Parlamento da Suíça quer punir Vale O desastre ambiental de Ma-

riana (MG) motivou um parla-mento regional da Suíça a pedir a punição da Vale, dona da Sa-marco, responsável pelas bar-ragens que se romperam. A Va-le, que tem operações na Suí-ça, pode perder alguns incenti-vos fiscais. O Parlamento da região de Vaud, na Suíça, apro-vou uma resolução para impe-dir que a mineradora possa de-duzir de seus impostos as repa-rações que terá de pagar pelo acidente no Brasil.

O deputado ecologista Ra-phaël Mahaim explicou que a

A cantora Pitty mandou bem ao pedir mais respei-to às mulheres durante um show, no último fim de se-mana. “Cantada não é elo-gio”, destacou a roqueira.

A Polícia Federal de Goiânia mandou mal es-sa semana ao permitir que o carro da corporação fos-se usado como propaganda política durante manifesta-ção pelo impeachment.

mandoumal

mandoubem

CARVANAL Já foi dada a largada para o Carnaval 2016. O público lota os ensaios dos blocos de ruas e as escolas de samba começaram os ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí.

FRASE DA SEMANA

disse Mano Brown, vocalista da banda Racionais, durante o festival Cidadania nas Ruas, em São Paulo.

Aumento salarial

O setor de negociações coletivas do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (SENGE-RJ) fecha o ano de 2015 com balanço positivo, conside-rando o difícil quadro po-lítico e econômico do pa-ís. O acordo firmado com a Ampla incluiu reajuste su-perior à inflação, chegando aos 10,45%. As negociações com a Eletrobras e as em-presas de engenharia ga-rantiram reajustes condi-zentes com o IPCA. O mes-mo ocorreu com a CET-Rio.

Vale envia para a Suíça seus lu-cros obtidos no exterior. “Não podemos permitir que ela possa otimizar seu cálculo fis-cal deduzindo as multas”, dis-se. Outra deputada do mesmo bloco político também argu-

Div

ulga

ção

“Vivemos um momento político conturbadíssimo dominado por pensamentos individualistas”,

mentou a favor da punição fi-nanceira. “A catástrofe é resul-tado de uma negligência da empresa e não podemos sim-plesmente aceitar isso”, disse Claire Richard.

Geral | 3Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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Fania Rodriguesdo Rio de Janeiro (RJ)

4 | Brasil

Milhares de pessoas saí-ram às ruas em dezenas de ci-dades brasileiras para protes-tar contra a tentativa de impe-achment da presidenta Dilma Rousseff (PT), pedindo a cas-sação do presidente da Câ-mara dos Deputados, Eduar-do Cunha (PMDB-RJ), e por mudanças na política econô-mica do governo federal.

A manifestação ocorreu um dia depois da Polícia Fe-deral cumprir um mandado de busca e apreensão na casa de Cunha, em mais uma eta-pa da Operação Lava Jato. O ato foi organizado pelas cen-trais sindicais e movimen-tos populares que pertencem à Frente Brasil Popular e à Frente Povo Sem Medo.

Milhares ocupam as ruas das principais capitais brasileiras contra o impeachmentOs manifestantes também marcharam contra Cunha e por uma mudança na economia

Em Alagoas, cer-ca de seis mil pessoas marcharam pela ma-nhã no centro da cida-de de Maceió. O ato se somou ao Dia Nacio-nal de Mobilização.

15 mil pessoas saíram às ruas para denunciar a ofen-siva conservadora dos seto-res de direita. A marcha per-correu as principais aveni-das da cidade. Em seus car-tazes e faixas os baianos pe-diram a retomada de uma política econômica que res-peite as conquistas da clas-se trabalhadora.

Mais de mil indígenas, provenientes de todas as regiões do país, ocuparam a cúpula do Con-gresso Nacional na manhã desta quarta-feira (16). Eles reivindicaram seus direitos e denuncia-ram as manobras de Cunha e da bancada ruralista 

Na cidade de São Paulo, cerca de 100 mil pessoas ocuparam a Av. Paulista nessa quarta-feira. Os manifestantes se reuniram em frente ao Masp, desde as 16h até as 20h. “Nós não precisamos de pato inflável na manifestação, nós enchemos a Paulista de povo”, afirmou Guilherme Boulos, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

BRASÍLIA (DF) CURITIBA (PR)

SÃO PAULO (SP)

BELO HORIZONTE (MG)

MACEIÓ (AL)SALVADOR (BA)

Dois mil manifestantes se concentraram no cen-tro da cidade, em fren-te às escadarias da Uni-versidade Federal do Pa-raná (UFPR). Participaram do ato contra o impeach-ment os movimentos po-pulares, centrais sindicais, organizações estudantis e da juventude e coletivos de mulheres. Todos eles fa-zem parte do Fórum 29 de Abril, espaço de unidade da esquerda no Paraná.

Na capital de Minas Gerais, aproximadamente 20 mil pessoas se concentraram na praça Afonso Arinos, símbolo da resistência contra a ditadura militar. Os presentes pediram a saída de Eduardo Cunha, o fim das tentativas de golpe contra o mandato da presidenta Dilma e uma nova política econômica, sem ajuste fiscal.

Foto

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ato

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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André Vieirado Rio de Janeiro (RJ)

Só posso exercer plenamente a mi-nha profissão den-tro de um estado democrático de direito. Estou aqui para fazer valer a democracia”,

Osmar Prado, ator

Brasil de Fato

Em Brasília, o cerco está fe-chando para o deputado fe-deral Eduardo Cunha (PM-DB-RJ). Enquanto isso, no Rio de Janeiro, sua cidade na-tal, cerca de 10 mil pessoas se reuniram nesta quarta-feira (16) na Praça da Cinelândia para exigir a cassação de seu mandato e denunciar a ten-tativa de golpe contra a pre-sidenta Dilma Rousseff. Entre as pautas, a manifestação cri-ticou ainda a política econô-mica do governo federal.

Antes de se juntar à concen-tração, que esperava na Cine-lândia, uma marcha liderada pela juventude deixou a As-sembleia Legislativa (Alerj) e seguiu em passeata pelas ruas do centro. No caminho, uma parada em frente ao escritório de Cunha, na rua Nilo Peça-nha, 50, para repudiar o par-lamentar. “Ai, ai, ai, empurra o Cunha que ele cai”, cantavam os jovens em ritmo de mar-chinha de carnaval.

“O momento que a gente vi-ve é tão delicado que ficar as-sistindo a televisão de casa, e não sair pra fazer luta, não muda nada. Não podemos perder o que conquistamos até aqui. Estamos aqui hoje também contra o ajuste fiscal, que é aplicado pelo governo federal. Queremos uma nova política econômica”, contou o estudante Andrey Nicolas, de 23 anos, integrante do Levan-

Contra golpe, milhares protestam na CinelândiaAto foi organizado pela Frente Brasil Popular e outros movimentos

te Popular da Juventude. Enquanto milhares protes-

tavam na Cinelândia, muitos também estavam ali para tra-balhar. O cearense Manuel Pe-reira, de 56 anos, vendia mi-lho cozido para os manifes-tantes. Questionado sobre o que achava de toda a mani-festação, ele lembrou do pro-cesso de transformação vivi-do em sua terra. “Antes do Lu-la assumir, os pobres da minha cidade não tinham condições de ter acesso a nada. Melho-rou muita coisa no Ceará. Sou analfabeto, mas eu e minha fa-mília votamos na Dilma e que-remos que ela continue”.

ARTISTAS COMPARECEMEntres os muitos que passa-ram pela Cinelândia, artistas fizeram questão de compare-cer ao protesto. “Antes de ser artista, sou um cidadão com-prometido com a história do meu país. Como diz o poe-

ta, todo artista tem que ir on-de o povo está. Só posso exer-cer plenamente a minha pro-fissão dentro de um estado democrático de direito. Estou aqui para fazer valer a demo-cracia”, defendeu o ator Os-mar Prado, de 68 anos.

Outra atriz que também marcou presença na ativida-de foi Cristina Pereira, de 66 anos, que completou a fala de seu colega de profissão. “Se depender da gente, esse gol-pe não vai acontecer. Estamos aqui em apoio à presidenta Dilma e em defesa do proces-so democrático”, afirmou.

MULHERES CONTRA O GOLPEMilitante da Liga Brasileira de Lésbicas, Virgínia Figueire-do, de 56 anos, lembrou que, além de autorizar a abertu-ra de processo de impeach-ment contra Dilma, Eduardo Cunha também é responsável pela criação de projetos que ferem direitos dos cidadãos,

como o Projeto de Lei 5069, que, se aprovado, dificultará o procedimento de aborto para mulheres vítimas de estupro.

“As grandes vítimas disso tu-do são as mulheres trans, as lésbicas, as negras, as mulhe-res em geral. Estamos nas ruas não só pela continuidade da democracia, mas queremos também que o Cunha saia e tudo aquilo que ele represen-ta”, criticou Virgínia.

AVALIAÇÃOPara o presidente da Cen-tral Única dos Trabalhado-res (CUT) do Rio, Marcelo Rodrigues, foi positiva a ati-vidade para barrar o impea-chment contra Dilma. “Mui-ta gente veio pra cantar, de-clamar, falar do seu jeito que não vai ter golpe. Esse é um ato que está aconte-cendo em todo o país. Se es-se golpe for adiante, os tra-balhadores vão fazer greve. Vamos parar o Brasil para derrotar esse golpe”.

Artistas , intelectuais e moviemntos populares lotaram a praça

Fotos: Stefano Figalo/Brasil de Fato

Estudante Andrey Nicolas

Osmar Prado protesta contra golpe

Cidades | 5Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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Vanessa Ramosdo Rio de Janeiro (RJ)

6 | Cidades

Em apenas um ano e dez meses de existência, as-sentados listaram aproximadamente 60 variedades de produção agrícola

Desde novembro, 54 famí-lias do Assentamento Osval-do de Oliveira, em Macaé (RJ), vivem apreensivas. Elas estão sob ameaça de despejo após ação de reintegração de posse movida pelo empresário José Antônio Barbosa Lemos. Ele é sócio-proprietário da rádio Campos Difusora, localizada em Campos dos Goytacazes, norte do Rio de Janeiro.

A propriedade pertencia ao empresário e soma a 1.650 hectares, o equivalente a 16,5 km². É um pouco menor que o município de Nilópolis, na Baixada Fluminense do Rio, que corresponde a 19,157 km².

A reintegração foi concedi-da a partir de decisão do Tribu-nal Regional Federal (TRF), sob alegação de que o juiz da 1ª Va-ra Federal deveria ter aprecia-do primeiro a ação civil públi-ca, promovida pelo Ministério Público Federal (MPF).

A ação do MPF visa garantir um “modelo de assentamen-to diferenciado” na região e que resguarde o meio ambien-te. Mas, contraditoriamente, o laudo emitido por técnicos do MPF contesta a desapropria-ção da Fazenda Bom Jardim, realizada para fins de Reforma Agrária, em 2014.

Segundo Fernanda Vieira, da assessoria jurídica do MST, “o mais grave é que o laudo nega a possibilidade de permanên-cia das famílias, ignora a poten-cialidade ambiental de um mo-delo agoecológico e aponta pa-ra a manutenção da ocupação territorial a partir de um único proprietário privado”, afirma.

AGROECOLOGIAEm apenas um ano e dez me-ses de existência, numa área

Primeiro assentamento agroecológico do RJ sofre ameaça de despejoLaudo ameaça 54 famílias do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, em Macaé

que corresponde a 3% ape-nas da extensão de terras que constitui o Osvaldo de Olivei-ra, assentados listaram apro-ximadamente 60 variedades de produção agrícola, dentre elas: aipim, milho e abóbora.

Os produtos são comerciali-zados nas feiras da região, nas universidades (UFF - Rio das Ostras e UFRJ - Macaé), além das atividades que os assenta-dos têm junto à prefeitura, em que fazem entrega direta a um

grupo de consumidores das regiões de Macaé, Rio das Os-tras e Búzios.

“Assim que a gente come-çou a colher alguma coi-sa, precisamente três me-ses depois de estar na área, nós já começamos a partici-par das feiras com a produ-ção que as famílias retira-vam ao redor das barracas. A maioria das famílias, hoje, já vive da sua própria produ-ção”, contou Diego Fraga, do

Setor de Produção do MST e Dirigente Estadual.

QUALIDADE DE VIDADe acordo com relatório de acompanhamento da área, ela-borado por professores de dife-rentes especialidades da Uni-versidade Federal Fluminen-se (UFF) – Polo Rio das Ostras, a qualidade de vida dos assen-tados deu um salto imenso, se comparada com o período em que estavam acampados na re-

Com medo do despejo, famílias se revezam em acampamento

improvisado na frente do assentamento

gião, em 2012. Segundo informações di-

vulgadas no relatório, doen-ças comuns em idosos e crian-ças foram combatidas apenas com mudanças no cotidiano das famílias e, principalmen-te, por causa das novas rela-ções de cultivo da terra. “O lau-do do MPF não trata da saúde das famílias que vivem no As-sentamento. Parece que não tem gente na região”, observou Diego Fraga.

QUESTÕES AMBIENTAISO laudo emitido pelo MPF po-de ser considerado antiam-biental porque se trata de fazer reintegração de posse da fa-

zenda ao empresário Barbosa Lemos, que praticava pecuária extensiva em Áreas de Prote-ção Permanente (APPs).

Atualmente, famílias se re-vezam em acampamento im-provisado na frente do assen-tamento, com medo de que o despejo seja feito a qualquer momento, a qualquer hora.

Divulgação

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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André Vieirado Rio de Janeiro (RJ)

Fotos: Stefano Figalo/Brasil de Fato

O “Porto Maravilha” foi feito através de parcerias público-privadas e está marcado também pela remoção forçada de diversas comunidades

Às margens da Baía de Gua-nabara, um local certamente guarda a história dos últimos cem anos do Brasil. Na Prai-nha, espaço de lazer para ba-nhistas na época em que a Baía ainda era banhável, em 1910 foi inaugurada a Praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro. Desde setembro de 2015, a praça ga-nhou uma nova cara, com no-vos museus e com uma bela vista das águas da Guanabara.

Ali também fica o porto que recebe todos os dias turistas que chegam em grandes cru-zeiros vindos de diversas par-tes do Brasil e do mundo. Visi-tando o Rio pela primeira vez, a moradora de Cuiabá Linda Nascimento, de 35 anos, não escondia a ansiedade na porta do local onde chegam as em-barcações. Sua sobrinha mais velha, que desde junho traba-

Zona portuária se transformaPraça Mauá foi reinaugurada em setembro e abriga dois museus

lha como tripulante em um cruzeiro, iria chegar naquele dia ao Rio. “Vim para ver a [mi-nha sobrinha] Priscila, mas es-tou aproveitando para conhe-cer a cidade”, contou.

Sobre a Praça Mauá, a ma-to-grossense contou que era uma das praças mais bonitas

que já tinha visto em sua vida. “Estávamos comentando co-mo é bonito este lugar, os pré-dios antigos, os museus di-ferentes e uma vista linda da Baía de Guanabara”, relatou Linda, acompanhada de du-as outras sobrinhas.

ARTEMoradora da Gamboa, Leu-za Carvalho, de 52 anos, é uma das artesãs que trabalham na Praça Mauá. Ela acompanhou de perto o processo de trans-formação do espaço. “Aqui nós conseguimos vender muito bem. Eu trabalho na zona por-tuária com muito carinho, por-que aqui é o meu lugar”. A feira, que inclui também a venda de

REMOÇÃOA transformação da Praça Mauá não é isolada. Ela es-tá dentro de um projeto cha-mado “Porto Maravilha”, que pretende modificar toda a zo-na portuária. A pesquisado-ra Mariana Werneck, do Ob-servatório das Metrópoles da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que esse processo, feito através de par-cerias público-privadas, es-tá marcado também pela re-moção forçada de diversas comunidades no entorno das obras. Somente nas ocupa-ções acompanhadas pelo Ob-servatório, cerca de 500 famí-lias foram removidas.

Sobre a praça, ela lembrou as antigas atividades no lugar. “Existia uma feira de antigui-dades, que era bem popular, com camelôs que com certeza não vão voltar à Praça Mauá. A ocupação e o sentido da pra-ça mudam. O padrão de urba-nização do local não compor-ta, aos olhos da Prefeitura, esse público que ela tanto comba-te, que são os camelôs, ambu-lantes, dentre outros”, criticou a pesquisadora.

Desde setembro

deste ano, a Praça Mauá

ganhou uma nova

cara

Transformação da Praça Mauá se insere no projeto “Porto Maravilha”

comidas típicas do Brasil, fun-ciona de sexta a domingo.

Dois novos museus com-põem o cenário da Praça Mauá. O Museu de Arte do Rio (MAR) foi inaugurado em março de 2013 e funciona de terça a do-mingo, das 10h às 17h. A entra-da custa R$ 8, mas às terças-fei-ras é gratuita. Outro é o Museu do Amanhã, que será inaugu-rado no sábado (19).

Cidades | 7Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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8 | Mundo

Ao menos 17 mulheres foram eleitas no último do-mingo (13) na Arábia Saudi-ta, segundo a agência de no-tícias Reuters. Até o momen-to, a agência oficial Sau-di Press Agency confirma a eleição de quatro mulhe-res. É a primeira vez em que mulheres ocuparão cargos públicos após eleições na Arábia Saudita.

Dentre as eleitas, estão Salma bint Hizab al-Oteibi, que ocupará um cargo no distrito de Madrika, na re-gião de Meca, que é a cida-de mais sagrada para o Islã, e Hanouf bint Mufreh bin Ayad al-Hazimi, eleita para a região de al-Jawf, no nor-te do país. (Opera Mundi)

EM FOCO

Divulgação

Arnaud Bouissou

Divulgação

ACORDOLíderes mundiais comemoraram a aprovação do texto final da Conferência Mundial do Clima (COP21) sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa. Após 13 dias de debates, 195 países chegaram, pela primeira vez na história, a um acordo global sobre o clima.

“Depois de 12 anos e meio, nós estamos aqui olhando to-dos os argentinos nos olhos. Só peço a Deus uma coisa, que quem nos sucede pela força da vontade popular, daqui a qua-tro anos, possa estar aqui [pres-tando contas do seu governo], também olhando nos olhos”.

Esta foi uma das declarações de Cristina Fernández de Kir-chner na semana passada em seu último discurso como pre-sidenta da Argentina. Ela falou para uma multidão de cerca de meio milhão de pessoas, que se

Presidenta Cristina reúne multidão na Argentina

aglomeraram nos arredores da Casa Rosada, sede do governo, em Buenos Aires. A cerimônia contou com a presença do pre-sidente boliviano, Evo Morales.

Para o analista político ar-gentino Juan Manuel Karg, em entrevista à Adital, a prin-cipal conquista do governo de Cristina se deu no âmbi-to social, ao forçar uma dis-tribuição mais equitativa da renda nacional, beneficiada por anos de altos preços das commodities no mercado in-ternacional. (Adital)

Front National

Os resultados do segundo turno das eleições regionais na França, realizadas no últi-mo domingo (13), mostraram que o partido ultraconserva-dor de Marine Le Pen, a Frente Nacional (FN), perdeu a vota-ção. Os resultados consolida-dos mostraram que os Repu-blicanos, do ex-presidente Ni-colás Sarkozy, e seus aliados foram os mais votados.

Mesmo em Nord-Pas-de-Calais Picardie e Provence-Al-pes-Cote d’Azur, locais onde

havia obtido seus melhores re-sultados, a FN perdeu para os candidatos centristas do parti-do Republicano.

Os resultados consolidados indicaram que os Republica-nos e seus aliados foram elei-tos em sete regiões, com 39,7% dos votos; os Socialistas e par-tidos de esquerda foram elei-tos em cinco regiões, obten-do 31,9% dos votos; e a Fren-te Nacional, que não foi eleita para nenhuma região, obteve 28,4% dos votos. (ABr)

Extrema direita é derrotada na França

Distribuição de renda foi a marca do governo

Marine Le Pen comanda a extrema direita francesa

Mulheres votam pela primeira vez na Arábia Saudita

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

Page 9: Brasil de Fato RJ - 144

Lula Marques

Lula Marques

O Supremo Tribunal Fe-deral (STF) começou a julgar nesta quarta-feira (16) uma ação apresentada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que questionava a tramitação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Congresso Nacional.

Relator do caso, o ministro Luiz Edson Fachin rejeitou os principais pedidos do PCdoB e validou a eleição da chapa oposicionista para a comis-são especial da Câmara que analisará o impeachment. O partido questionava o fato de a eleição ter sido realizada por meio de voto secreto. Para Fa-chin, o voto secreto não ge-

Ministro do STF mantém comissão do impeachmentDecisão de Edson Fachin também deixou claro que Senado não poderá impedir afastamento de Dilma caso os deputados aprovem pedido na Câmara

Pedro Rafael Vilelade Brasília (DF)

Da Redação

rou prejuízos à defesa da pre-sidenta da República.

O ministro também res-saltou que a eleição compos-ta por chapas é uma prerro-gativa da Câmara e não po-deria sofrer interferência judi-

cial. Ao todo, a Comissão se-rá composta por 65 membros, dos quais 39 já foram indica-dos após eleição, todos eles declaradamente favoráveis ao impeachment. A comissão deverá produzir um relatório

SENADOCaso o processo de impeach-ment seja aprovado por dois terços da Câmara, cabe ao Se-nado instaurar o processo sem possibilidade de rejeição, sus-tentou Edson Fachin. Se isso ocorrer, a presidenta é afasta-da por até seis meses (180 dias), enquanto o Senado faz o jul-gamento final do pedido, que também deverá ser aprovado por dois terços dos membros da Casa. Após o voto do mi-nistro Fachin, a sessão do STF

foi paralisada e será reto-mada nesta quinta-feira (17). Ainda votarão os ministros Lu-ís Roberto Barroso, Teori Za-vascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Ricar-do Lewandowski. Assim que o julgamento for concluído, a Câmara poderá iniciar os trabalhos da comissão especial.

*Com informações da Agência Brasil.

Minutos após o STF come-çar a julgar a ação que defi-nirá tramitação do impeach-ment, nesta quarta-feira (16), o procurador-geral da Repú-blica, Rodrigo Janot, apresen-tou ao Supremo um pedido de afastamento cautelar de Edu-ardo Cunha (PMDB-RJ) do cargo de deputado federal e de presidente da Câmara. Ja-

Janot pede afastamento de Cunha not alega em seu pedido uma série de fatos que comprova-riam que “Eduardo Cunha usa seu mandato de deputado e o cargo de presidente da Câ-mara para constranger e in-timidar parlamentares, réus colaboradores, advogados e agentes públicos, com o ob-jetivo de embaraçar e retardar investigações contra si”.

Os documentos apreendi-dos nas buscas realizadas nas residências e escritórios ofi-

ciais de Cunha, nesta ter-ça-feira (15), reforçam pro-vas que a PGR já havia reuni-do contra o deputado. A Pro-curadoria cita ainda as in-vestigações em curso con-tra Cunha, em que ele é acu-sado de corrupção, lavagem de dinheiro e manutenção de valores não-declarados em contas na Suíça. O pedi-do de afastamento de Cunha deverá ser analisado pelos 11 ministros do tribunal.  

A sessão do STF foi paralisada e será retomada nesta quinta-feira (17)

que será submetido ao plená-rio da Câmara. Para aprovar o impeachment, são necessá-rios 342 votos favoráveis (dois terços do total de deputados).

Fachin negou obrigatorie-dade de defesa prévia antes da abertura do processo. De acordo com o ministro, ca-be apenas ao presidente da Câmara tomar a decisão e a presidenta da República terá oportunidade de defesa du-rante os trabalhos da comis-são especial.

Fachin ouve depoimentos de advogados durante a

sessão do STF

Janot quer ver Cunha fora do Congresso Nacional

Brasil | 9Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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SEMPRE VI NOVELA | Joaquim VelaAGENDA DA SEMANA

O quê: Oficina de confecção de joias a partir do reaproveitamento de materiais da natureza, como sementes, casca de coco, conchas, capim, madeira etc.Onde: Sesc Nova Iguaçu – Rua Dom Adriano Hipólito, 10 – Moquetá.Quando: Até 31/12, de 13h às 17h.Quanto: 0800

O quê: Trio Beach Combers se apresenta com guitarra, baixo e bateria, surfando sem medo na onda instrumental no estilo garagem dos anos 60.Onde: Sesc Madureira – Rua Ewbanck da Câmara, 90.Quando: Sábado (19), às 20h.Quanto: R$ 8 (R$ 4 meia entrada)

O quê: Neste mês, a Arena Dicró realiza cineclubes especiais somente com filmes infantis pela manhã e filmes adolescentes durante a tarde.Onde: Arena Carioca Dicró – Parque Ary Barroso, Penha.Quando: Sábado (19) e domingo (20), 10h30 e 14h.Quanto: 0800

O quê: Cantora e percussionista Júlia Vargas canta ao vivo com Chico Chico, como é conhecido o jovem cantor e compositor Francisco Eller, filho da artista Cássia Eller.Onde: Praça Paulo de Frontim, Nilópolis.Quando: Sexta-feira (18), às 19h30.Quanto: 0800

Júlia Vargas e Chico Chico

Espaço Jogo

Cinema na Arena

Oficina de biojoias

A noite começa no Sesc

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SUGESTÕES:[email protected]

Momento para dançar

O quê: Um encontro para dançar. Momento de lazer através da dança e diversos ritmos para socialização e bem-estar. Nesta edição, o tema é samba.Onde: Sesc Engenho de Dentro – Av. Amaro Cavalcanti, 1661, Engenho de Dentro.Quando: Quinta (17), 17h30.Quanto: 0800

O quê: Sesc abre espaço de lazer com jogos tradicionais e eletrônicos, jogos de mesa, jogos gigantes, torneios e oficinas para todas as idades.Onde: Sesc Tijuca – Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca.Quando: Sábados e domingos, de 9h às 17h. Até 27/12.Quanto: 0800

10 | Cultura

Quem será o Pai da facção em A Regra do Jogo? Será alguém com uma vida pregressa criminosa?

Divulgação

Em A Regra do Jogo, a fac-ção criminosa que rouba, mata, sequestra e assedia parece ter perdido sua pri-meira batalha com a polí-cia. Recentemente, o delega-do Faustini (Ricardo Perei-ra) descobriu, após denún-cia de Juliano (Cauã Rey-mond), a sede da organiza-ção criminosa. Um dos líde-res, Tio (Jackson Antunes), foi preso e vários documen-tos, com dados comprome-tedores sobre os bandidos, foram apreendidos.

Rapidamente, o Pai da fac-ção convocou uma reunião e comunicou que o bastão de Tio seria passado para Zé Maria (Tony Ramos). O pai de Juliano é agora quem estabelece as regras do jo-go. Orlando (Eduardo Mos-covis) e Romero (Alexan-dre Nero) ficaram bem en-ciumados com a decisão do chefe da facção. Isso porque todos eles querem o poder.

FACÇÕESNo Brasil da vida real, são conhecidas e temidas as fac-ções paulistana PCC (Pri-meiro Comando da Capital) e a carioca Comando Ver-melho, além de suas parcei-ras em outros estados.

Qual será a regra do jogo?

derado o chefe do Coman-do Vermelho na cidade do Rio, rouba e trafica des-de os 20 anos. Mas, e em A Regra do Jogo? Quem será o Pai da facção? Será alguém com uma vida pregressa criminosa? Ou alguém aci-ma de qualquer suspeita? Já ouvi que pode ser Adisabe-ba (Susana Vieira) ou Gib-son (José de Abreu), perso-nagens até o momento vis-tos como do bem.

Curioso mesmo é pensar nas características do chefe máximo. Marcola, aponta-do como o líder do PCC, co-meçou a vida bandida des-de a infância e passou gran-de parte de sua existência na cadeia. Mesmo preso, se-gue comandando a orga-nização criminosa. Já Fer-nandinho Beira-Mar, consi-

Zé Maria (Tony Ramos), pai de

Juliano (Cauã Reymond),

passou a estabelecer as regras do jogo

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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Luara Colpa*

12 | Opinião

Estou a parir meu filho preto. Na maca, onde a enfermeira impaciente empurra minha barriga, me livro da dor pensando em seu futuro:

De uniforme e banho tomado, ele desce a ladeira.

– Cuidado ao atravessar a rua! (Ele olha pra trás e sorri)

– Não esquece a merendeira, hein, filho? – Tá mãe!!

– Esteja bem vestido (para não te confundirem… com ladrão).

– Não erga a cabeça pro polícia.

Vou franzindo a testa e abaixo o tom de voz:

– Ande com carteira de trabalho no bolso e apresente-a sempre que abordado.

– Se quiser ter o cabelo colorido, será confundido com bandido. Se quiser homenagear seus ancestrais e fazer dreads e penteados, será chamado de vagabundo.

– Você poderá apanhar na cara. – Por que mãe? – Porque sim, não revide.

– Você sofrerá revistas vexatórias todas as semanas da sua vida. Porque sim.

– Você será chamado de macaco, “esse preto”, “de cor”.

– Não ande em grupos para não ser confundido com arrastão.

– Estude filho, vão falar que as cotas te salvaram, que é incapaz. Não dê ouvidos a eles.

– Se você se esforçar muito no trabalho, será chamado de “moreninho até que é esforçado” e mesmo que te explorem e expurguem, e que seu salário seja menor que o de todos… Usarão seu exemplo, pra justificar a meritocracia canalha que nos imputam.

– Em qualquer furto na empresa você é o suspeito, filho. Sim.

– Você será mal visto o resto da sua vida na família da sua namorada branca. Porque sim também...

Sua mãe vai sofrer violência obstétrica no hospital. Porque é preta. Você vai nascer na contramão da vida. Porque alguma igreja um dia disse que não tínhamos alma.

Podia ser meu filho: os jovens mortos por policiais no Rio

na nossa quebrada, para nos lembrar que desde “o fim” da escravidão, não sabem o que fazer para tampar nossa existência.

Vão te dizer que mesmo em estado de sítio, você tem direito de ir e vir no seu país (que seus ascendentes construíram lajota por lajota. Paralelepípedo por paralelepípedo).

Mas você será executado à luz do dia, filho. Na porta de casa. E eu vou lavar seu sangue.

Você será metralhado com 50 tiros. Você e seus amigos pretos. Porque sim. Porque fazem parte da parcela da população que tem que ter regras para estar vivo. Que é achincalhado desde o nascimento.

Nos exterminarão todos os dias, todos os dias “um crime isolado”.

Mas você será executado à luz do dia, filho. Na porta de casa. E eu vou lavar seu sangue. Você será metralhado com 50 tiros. Você e seus amigos pretos. Porque sim

Que nossa cultura era inferior e mediram nossos dentes e nossas canelas. E nos deram um terço pra tentarmos nos redimir de termos nascido nessa cor.

Quando acharam oportuno, vestiram nossos turbantes e se apropriaram da nossa capoeira. Quando não nos queriam mais, nos forjaram “livres” na Lei do Sexagenário. E então fomos expulsos da escravidão para a escravidão real.

Aqui estamos. Somos a história dos centros urbanos, filho. Fomos expulsos do modelo de cidade e do convívio entre pessoas. Nunca fomos pessoas.

Da periferia para periferia seguimos, expurgados.

Não nos perguntaram onde construímos nossa vida, nossa raiz. Somos sem estória. A cada despejo, fomos para a região metropolitana em que nos colocavam. Em cada plano de habitação que meia dúzia de engomados brancos escreveram, fomos encaixotados nos predinhos de 40m². Bem longe. Longe dos olhos dos gringos.

Taparam nossas casas com tapumes para a Copa do Mundo. Botaram camburão

E jogarão a culpa no policial noiado, no indivíduo sob pressão, na legítima defesa. A sociedade não reconhecerá que são todos cúmplices da sua morte.

Eles estão certos, agem em “legítima defesa”. Te avisei para não sair sem a carteira de trabalho filho. Aliás, nem deu tempo de mostrar, né? Te avisei pra não encarar o polícia… Também não precisou. É, não deu tempo.

Vamos entrar pra estatística, filho.

Eles só têm a televisão. Só tem a visão longínqua e deturpada do que somos. Eles desligarão a TV quando incomodar. Eles não sabem de mim, nem de você.

Só mais uma mulher sozinha parindo sob violência.

Só mais um preto metralhado. O Deus branco que nos perdoe, somos sem alma.

*Luara Colpa é advogada e militante, 28 anos.

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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Pavê de banana caramelizada

BOA E BARATA

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Ingredientes• 10 bananas nanicas

• 1 xícara (chá) de açúcar

• 1 envelope de gelatina em pó sem sabor

• 3 colheres (sopa) de água

• 1 lata de leite condensado

• 1 lata de creme de leite

• 2 pacotes de biscoito sabor banana com canela

• 1 xícara (chá) de leite

• Canela a gosto para polvilhar

Modo de preparo Corte as bananas em rodelas.

Em uma frigideira antiaderente, derreta o açúcar e deixe no fogo até começar a dourar. Desligue o fogo e caramelize as rodelas de bana-na. Retire-as com um garfo e colo-que-as sobre uma superfície unta-da com manteiga. Hidrate a gelati-na na água e dissolva em banho--maria ou no microondas. No li-quidificador, bata a gelatina, o leite condensado e o creme de leite. Em taças individuais, intercale cama-das de biscoitos umedecidos no leite, camadas de creme e banana. Leve para gelar e, na hora de ser-vir, polvilhe canela.

Tempo de preparo45 minutos

Rendimento10 porções

Gostaria de saber se toda mulher que tem incontinência urinária tem que fazer cirurgia para resolver esse problema.

Maria das Dores, 46 anos, serviços gerais.

Dúvidas sobre saúde? Encaminhe e-mail para [email protected] / [email protected]

AMIGA DA SAÚDE

Querida Maria, a inconti-nência urinária é um pro-blema que afeta muitas mu-lheres e isso acaba por limi-tar a sua vida social, pois quando vai piorando, elas acabam deixando de sair de casa para evitar cons-trangimentos. Na maioria dos casos, a incontinência é provocada pelo enfraque-cimento da parede da va-gina, fazendo com que ela não mais consiga sustentar a bexiga (é a famosa queda de bexiga). Esse enfraque-cimento normalmente é devido aos partos. O pro-blema tende a piorar com o

avanço da idade, por isso, quanto antes tentar resol-vê-lo, melhor. O tratamen-to adequado vai depender do grau de queda da bexiga. Muitos casos podem ser re-solvidos somente com fisio-terapia de períneo, que tra-balha os músculos da re-gião genital, retomando a sustentação da bexiga. Po-rém, casos mais graves po-dem precisar de cirurgia de correção. Procure uma ava-liação na unidade de saúde mais próxima de sua casa.

Sofia Barbosa Coren MG 159621-Enf

Variedades | 13Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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14 | Variedades

Terá segurança e confiança em si próprio. A parte emocional também vai ajudá-lo a superar desafios.

Período de crescimento interior, mas também de grandes desafios. Pode se sentir bastante dividido.

Você pode ficar mais introvertida, mas a nível profissional este período será produtivo em contatos.

Período marcado por altos e baixos. A vida familiar pode ser uma grande ajuda durante esta fase.

Tempo de recordações passadas, o que vai fazer com que se sinta dividido em relação a decisões tomadas.

Época de forte movimentação a nível profissional e emocional. Poderá experimentar coisas novas.

Vai viver momentos de grande equilíbrio. Sua compreensão com os outros fará toda a diferença.

Sua agilidade vai auxiliar a ultrapassar todos os obstáculos. Período propício para notícias positivas.

A palavra chave é a paciência. Embora as coisas estejam num bom caminho, precisará tomar decisões.

Alguns assuntos financeiros podem ter agora a resolução tão esperada. Sua liderança será evidenciada.

Esteja atento a tudo o que o rodeia. Fale apenas a respeito de coisas boas, comente o bem e realize ações nobres.

Mês de missão, pois estará numa fase em que terá de aconselhar quem procura. Não se precipite.

FASES DA LUA

Cheia 25/12

Minguante 2/1

Nova 9/1

Crescente 18/12

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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Não há ninguém no futebolque aceite uma redução drástica de salários por amor a um clube

TOQUES CURTOS | Bruno Porpetta

Siga o dinheiro

Roberto Castro/ME Vito

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Na última semana, o Co-mitê Popular da Copa e das Olimpíadas, organização formada por ativistas dos movimentos sociais, asso-ciações de comunidades atingidas pelos Jogos e nú-cleos de pesquisa das uni-versidades públicas do Rio de Janeiro, divulgou seu quarto dossiê sobre os Jo-gos Olímpicos do Rio 2016.

O levantamento feito pe-lo Comitê aponta que já fo-ram removidas 4.120 famí-lias de suas casas em nome do megaevento, além do risco de mais 2.486 remo-ções ligadas, direta ou in-diretamente, aos Jogos. Se-gundo o relatório, os Jogos Olímpicos no Rio já que-braram seu primeiro recor-de, o de violações aos direi-tos humanos.

BINÓCULO

Certa vez, alguém disse que quando se quer pegar um sujeito por algum cri-me e o cara está ensaboa-do, sempre escapando, siga o dinheiro. Onde ele estiver, estará a marca do sujeito.

Em outro âmbito, sem que nenhum crime precise ser cometido, o mundo do fute-bol opera na mesma lógica.

Não há ninguém no fute-bol que aceite, hoje em dia, uma redução drástica de sa-lários por algum sentimento de amor por um clube. Fo-ram raros os casos ao longo da história recente, mas is-so, se não acabou, está mui-to perto disso.

Mano Menezes fazia um bom trabalho no Cruzeiro, tinha contrato, mas optou por ganhar muito na China. A segurança financeira fa-lou mais alto que o “proje-to”, que os treinadores tanto reivindicam.

William Arão foi anuncia-do como novo reforço do Flamengo, após uma boa temporada pelo Botafogo, de onde sai através de limi-nar na justiça do trabalho.

Tanto em um caso, como no outro, é possível com-preender as razões de am-bos, que passam longe de qualquer sentimentalismo.

A situação de Mano era

bastante tranquila no Cru-zeiro. Imagine se, no ano que vem, o Cruzeiro enga-ta uma sequência de sete ou oito derrotas. Acabou a “era” Mano Menezes.

Ou ele parte para outro ano sabático, ou sai em bus-ca de outro emprego para repetir a dança das cadeiras em outro clube.

Quanto a Arão, é sabido que o Flamengo anda me-

Quando uma seleção alcan-ça o maior título existente em sua modalidade, o caminho mais provável é que o espor-te se desenvolva, amplie o nú-mero de times e praticantes em suas competições. Não foi o que ocorreu no handebol femi-nino brasileiro.

Após o título mundial em 2013, a liga nacional de han-debol teve menos times em disputa. As principais jogado-ras da seleção atuam todas em

Handebol brasileiro regrediu após título em 2013Depois da conquista do Mundial Feminino de 2013, liga nacional teve menos times

O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016 ganhou mais uma dor de cabeça para conseguir entregar os eventos no prazo e em perfeito funcionamento.

A empresa Aggreko, que já forneceu geradores de ener-

Geradora de energia sai de licitação para 2016Empresa Aggreko, com expertise em grandes eventos, desistiu da licitação

gia para nove Olimpíadas e seis Copas do Mundo, desis-tiu de participar da licitação para os Jogos do Rio. A avalia-ção é que nenhuma outra em-presa no Brasil possui estrutu-ra suficiente para gerar ener-gia para eventos deste porte.

O mais provável que acon-

Goleira Babi nem voltou com a delegação. Ela atua na Dinarmaca

Fernando Frazão/Agência Brasil

teça é que, mesmo que a Ag-greko não participe da licita-ção, os geradores de energia sejam alugados pela empresa para a contratada, o que deve tornar a prestação do servi-ço mais cara para os já com-balidos cofres da organização dos Jogos. (BP)

Olimpíada da exclusão

lhor das pernas, em termos de grana, do que o Botafo-go. Isso “incentivado” por cotas de TV indecentemen-te maiores. O Flamengo ga-nhará mais que o dobro do Botafogo a partir de 2016.

Onde Arão se sentirá mais “seguro”? Parece óbvia a res-posta, mesmo que a pen-dência na justiça ainda pos-sa dar sinal de vida.

Se você quer saber onde pode parar qualquer joga-dor, siga o dinheiro.

Willian Arão é apenas mais um que não se move apenas por amor à camisa

competições europeias e as mais jovens estão tomando o mesmo caminho.

O técnico da seleção, Mor-ten Soubak, antes do Mundial na Dinamarca, da qual a sele-ção foi eliminada pela Romê-nia no último final de sema-na, já havia alertado sobre es-ta situação. O time era prati-camente o mesmo de 2013, mais velho e com desfalques por lesão, além da falta de op-ções no banco. (BP)

Esportes | 15Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015

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16 | Esportes

#OcupaCBF protesta, mas entidade consuma golpe

Kobe quer se despedir dos Jogos no Rio O astro do basquete esta-

dunidense Kobe Bryant, que anunciou sua aposentado-ria ao final da temporada re-gular da NBA, revelou ou-tro desejo seu para 2016. Ele quer se despedir dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

O Bom Senso FC organizou uma manifestação em frente à sede da CBF na terça-feira (15), chamada de #OcupaCBF, pe-dindo mudanças urgentes na entidade, com novas eleições e critérios mais democráticos.

Hoje, para se candidatar à presidência da entidade, é pre-ciso ter a chancela de oito fede-rações estaduais e cinco clubes, pelo menos. Como cada fede-ração ou clube pode apenas chancelar uma única candida-tura, são possíveis, no máximo, três candidaturas por pleito.

Estiveram presentes na ma-nifestação grandes ídolos do nosso futebol, como Raí, Djal-minha, Alex, Sorín e Afonsi-nho. Também estavam lá o treinador Paulo Autuori e os jornalistas Juca Kfouri e Lúcio de Castro, além de torcedores de diversos clubes.

O protesto ocorreu na véspe-ra da data marcada para a elei-ção do novo vice-presidente da entidade, que substituirá José Maria Marin, preso nos EUA. A escolha do presidente da fede-ração paraense, o Coronel Nu-nes, para a vaga estava impedi-da por uma liminar na justiça.

No entanto, a CBF conseguiu

Protesto do Bom Senso FC, em frente à CBF, não conseguiu impedir eleição

Bruno Porpettado Rio de Janeiro (RJ)

Rafael Ribeiro/CBF

Stefano Figalo/Brasil de Fato

Divulgação

Raí leu o “Manifesto por uma nova CBF”, ao lado de Paulo Autuori

Bryant conquistou duas medalhas de ouro olímpicas, em Pequim 2008 e Londres 2012. Também esteve pre-sente em um dos resultados mais inesperados da história dos Jogos, quando os profis-sionais de basquete dos EUA

cassar a liminar e realizar a vo-tação nesta quarta-feira (16). Com isso, Nunes passa a ser o vice-presidente mais velho da entidade e o primeiro na linha sucessória de Del Nero, caso este peça renúncia ao cargo.

A escolha de Nunes impede que Delfim Peixoto, presidente da federação catarinense, desa-

feto de Del Nero e defensor da criação da liga de clubes, assu-ma o comando da entidade.

Por enquanto, o presidente Marco Polo Del Nero, investi-gado pela justiça dos EUA, es-tá apenas licenciado do cargo, o que possibilitou que ele indi-casse o interino, que é o depu-tado Marcus Vicente (PP-ES).

não ganharam o ouro em Ate-nas 2004, que ficou com a Es-panha, de Pau Gasol.

Segundo a USA Basketball, que organiza a seleção do pa-ís, a chance de Kobe vir ao Rio é muito grande, pois ele é “quase uma unanimidade”. (BP)

Após a improvável classi-ficação do Guangzhou Ever-grande (CHN) sobre o Amé-rica (MEX), com vitória por 2 a 1, nesta quinta-feira (17) o time chinês terá um desafio muito mais difícil. A equipe disputa a semifinal do Mun-dial de Clubes contra o todo poderoso Barcelona.

Felipão, treinador do Guangzhou, afirmou em coletiva que, em caso de vitória sobre o Barça, es-ta será a maior conquista de sua carreira. O treina-dor também minimizou a ausência do craque brasi-leiro Neymar, lesionado.

Segundo o treinador bra-sileiro, o Barcelona possui “25 Neymares”, o que torna a missão de sua equipe quase impossível. No entanto, ele garante criar dificuldades para a equipe de Messi, Suá-rez e Iniesta.

Neymar teve uma lesão muscular durante um trei-namento para a partida contra o Deportivo La Co-ruña, pelo Campeonato Es-panhol. Existe uma peque-na possibilidade dele jogar uma possível final contra o River Plate (ARG), que ven-ceu o Sanfrecce Hiroshima (JAP) por 1 a 0. (BP)

Felipão tenta milagre contra o Barcelona

Felipão conta com Robinho, Elkeson, Paulinho e Ricardo Goulart para vencer

Rio de Janeiro, 17 a 20 de dezembro de 2015