brasil de fato rj - 032

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 | ano 11 | edição 32 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato Milícias dominam 45% das favelas Pesquisa da Fiocruz/Iesp revela que 474 favelas no Rio são controladas por milicianos Reprodução 247 Pablo Vergara CID BENJAMIN “AI-5 foi a luz verde para a tortura” Quarenta e cinco anos depois, jornalista comenta o Ato Institucional nº 5 instaurado pela ditadura civil-militar entrevista | pág. 5 cidades | pág. 3 Reforma agrária no Largo da Carioca Feira do MST reuniu produtores de todo o estado Papa é a celebridade do ano Eleito pela revista Time, papa Francisco ataca culto ao dinheiro cidades | pág. 6 mundo | pág. 9 Pablo Vergara Tania Rego/Abr xxxxxx cidades | pág. 7 As enchentes dessa quarta-feira (11) afetaram várias partes do Rio, em especial bairros da zona norte. Também houve desabamentos e problemas com o metrô e trens. Nem as principais vias da cidade escaparam de alagamentos. Para engenheiro sanitarista, cidade olímpica segue despreparada para o verão. Somos um Rio que vive o caos Somos um Rio que vive o caos Pablo Vergara

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Page 1: Brasil de Fato RJ - 032

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 | ano 11 | edição 32 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato

Milícias dominam 45%das favelasPesquisa da Fiocruz/Iesp revela que 474 favelas no Riosão controladas por milicianos

Reprodução 247

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raCID BENJAMIN“AI-5 foi a luz verdepara a tortura”Quarenta e cinco anos depois, jornalista comenta o Ato Institucional nº 5 instaurado pela ditadura civil-militar

entrevista | pág. 5cidades | pág. 3

Reforma agráriano Largo da CariocaFeira do MST reuniu produtoresde todo o estado

Papa é a celebridade do anoEleito pela revista Time, papa Franciscoataca culto ao dinheiro

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As enchentes dessa quarta-feira (11) afetaram várias partes do Rio, em especial bairros da zona norte.Também houve desabamentos e problemas com o metrô e trens. Nem as principais vias da cidade escaparamde alagamentos. Para engenheiro sanitarista, cidade olímpica segue despreparada para o verão.

Somos um Rioquevive ocaos

Somos um Rioquevive ocaos

Pablo Vergara

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 201302 | opinião

editorial | Brasil

A COmuNidAdE inter-nacional acompanhou aten-tamente o ritual fúnebre deNelson mandela. O líder ne-gro é um símbolo da lutapolítica contra o apartheid,regime de segregação racialque vigorou na África do Sulentre 1948 e 1994.

“Estou feliz e, ao mesmotempo, profundamente tristeem poder voltar a Soweto. Oque me entristece é ver quevocês continuam sofrendosob o sistema desumano doapartheid”, disse mandela, de-pois de quase 28 anos preso,em sua primeira frase no reen-contro com seu povo em 1990.

O legado de mandela foiconstruído ao longo de umamilitância dedicada a servirao povo sulafricano. Ele ex-

pressa a luta dos povos porjustiça social, atualiza e dig-nifica a luta contra o precon-ceito racial. isto parece óbvio,mas é justamente o que a mí - dia conservadora tenta omi-

tir. mandela, na perspectivadas elites, seria um consensoentre as classes sociais.

Ou seja, a mídia conser-vadora resume o legado demandela enquanto ativista

da luta pela liberdade. massabemos que mandela foium personagem fundamen-tal no processo de descolo-nização da África. Enfrentouo imperialismo britânico, so-freu o preconceito racial e arepressão da então primeiraministra da inglaterra mar-gareth atcher. Escondemque mandela era um aliadofiel de Cuba e Fidel Castro.

muitos atacam o legadodo líder sulafricano afirman-do que ele patrocinou o neo-liberalismo na África do Sul.Esses setores esquecem quemandela chegou à presidên-cia em 1994 no auge do avan-ço do neoliberalismo e nummomento em que as expe-riências socialistas tinhamacabado. Com certeza, não

se deram conta de que se tra-tava de uma nova correlaçãode forças naquele momentode ofensiva do capital. man-dela foi obrigado a pactuaracordos com a elite brancano campo da economia.

Ou seja, a correlação deforças obrigou mandela e seupartido, o Congresso Na cionalAfricano, a fazer concessõesno campo da economia paragarantir o fim do apartheid.Certamente o legado de man-dela proporcionará forçaspara que as futuras geraçõessulafricanas completem a ta-refa de seu líder negro e avan-cem mais no campo da lutapor justiça social. A simbo-logia de mandela contagiaráa luta dos povos pela trans-formação social.

• Ed

Para anunciar:

Redação Rio:[email protected]

• Ed

O muNdO comemorouna última terça-feira, 10 dedezembro, os 65 anos da de-claração universal dos di-reitos Humanos, proclamadopela Assembleia Geral dasNações unidas.

Em tese, como determinaa declaração, os direitos hu-manos são direitos inerentesa todos os seres humanos,in dependentemente de raça,sexo, nacionalidade, etnia,idioma, religião ou qualqueroutra condição.

mas uma pergunta que

não quer calar: até que pontoas disposições contidas nadeclaração, ou pelo menosparte delas, estão sendo cum -pridas integralmente pelasnações que assinaram o do-cumento? Até que ponto al-guns países que se dizem de-fensores dos direitos huma-nos conseguem de fato juntar

teoria e prática?Com a existência de pri-

sões como a de Guantána -mo, em território cubanoocu pado pelos Estados uni-dos, onde mofam centenasde presos acusados de terro-rismo sem direito de defesa,ou inúmeras denúncias so-bre violações dos direitos

humanos em outros pontosdo planeta, torna-se difícillembrar da declaração uni-versal dos direitos Huma-nos sem mostrar as constan-tes violações.

No Brasil, fica tambémdifícil silenciar sobre taisfatos: nas delegacias poli-ciais, os presos, em sua maio -ria negros, são violentadosem seus direitos e nos pre-sídios onde seres humanosvivem em condições sub-humanas.

No Rio de Janeiro, a vio-

lência policial passou a seruma marca registrada, e como apoio de determinados ór-gãos de imprensa conserva-dores, não apenas nas áreaspobres da cidade como nasmanifestações popularesocorridas este ano.

Por estas e outras, cabetambém a pergunta: seráque a declaração universaldos direitos Humanos nãopassa de um peça de retó-rica, sobretudo para os go-vernantes responsáveis pelaviolência institucional?

Mandela, um legado de lutas

CONSELHO EDITORIAL RIO DE JANEIRO: Ana Penido, Antonio Neiva, Aurélio Fernandes,Joaquín Piñero, Mario Augusto Jakobiskind, Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti ADMINISTRAÇÃO:Carla Guindani e Valdinei Siqueira DISTRIBUIÇÃO: Kleybson Andrade DIAGRAMAÇÃO: Stefano FigaloEDITOR-CHEFE: Nilton Viana (MTb 28.466) EDITORA REGIONAL: Vivian Virissimo (MTb 13.344) REPÓRTERES: Gilka Resende, Bruno Porpetta, Bepe Damasco COLUNA SINDICAL: Claudia SantiagoESTAGIÁRIA: Mariane Matos FOTÓGRAFO: Pablo Vergara ILUSTRADOR: Latuff

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente emtodo o país e agora com edições regionais em SãoPaulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Queremoscontribuir no debate de ideias e na análise dos fatosdo ponto de vista da necessidade de mudançassociais em nosso país e no nosso estado.(21) 4062 7105

No Rio de Janeiro, a violência policialpassou a ser uma marca registrada,

não apenas nas áreas mais pobres da cidade______________________________________“

editorial | Rio de Janeiro

Uma questão de direitos humanos

Page 3: Brasil de Fato RJ - 032

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 cidades | 03

Júlia da Silva, de 50 anos,ainda se lembra o que seufilho vestia da última vez queo viu: camiseta e bermuda.Calçava sandálias. Foi emum final de tarde, há cincoanos. O corpo seria encon-trado 10 dias depois, todoamarrado e já em decompo-sição. Foi jogado em um cór-rego, 10 quilômetros distantede onde o jovem morava. Naépoca, a favela desse rapaznegro, morto aos 21 anos,era uma entre as 170 domi-nadas por milícias. Hoje, deacordo com a pesquisa "Saú-de urbana – Homicídios noEntorno das Favelas do Rio”,esse número chega a 474, oque representa um aumentode quase 65%.

Segundo o estudo, realiza -

do pelo instituto de Comu-nicação e informação Cien-tífica e Tecnológica (icict),da Fiocruz, em conjunto como instituto de Estudos Sociaise Políticos (iesp), da uerj, es-ses grupos paramilitares di-tam regras em 45% das 1001favelas localizadas no muni-cípio. isso significa um domí -nio maior que o do tráfico, quecontrola 37% delas, e das uni-dades de Polícia Pacificadora(uPPs), que estão em 18%.

Além disso, o pesquisadorda Fiocruz Christovam Bar-cellos, que assina o estudocom a antropóloga Alba Za-luar, explica que as milíciasnão estão apenas interessa-das nas favelas, querendocontrolar uma área maior eprovendo mercados comode transporte, gato net e água.“A milícia tem a estratégiade coibir a circulação de ar-mas. mas ela também usa

táticas horrorosas de amea-ças e tortura. Chega pertodos moradores de outra ma-neira, se metendo em ques-tões pessoais. isso é muitograve”, completa.

Foi o que, provavelmente,aconteceu com o filho de Jú-lia, cujo crime segue impune.“uns dizem que os milicianosmataram por causa de umenvolvimento dele com uma

moça. Outros porque ele foinum baile funk em outra fa-vela. É que a milícia proibia.Não importa, não era motivopara tirarem a vida do meufilho”, desabafa.

O Rio registra em torno de3 mil homicídios a cada ano,revela a pesquisa com basenos dados do ministério daSaúde. A zona norte é a quemais concentra essas mortes.O resultado mostra, ainda,que a maior parte dos crimesocorre fora das favelas.

“Acontecem mais em umcinturão de 100 metros no

entorno delas. O número dehomicídios nessas áreas che-ga a ser três vezes maior doque o do interior das comuni -dades ou de áreas mais longes”,garante Barcellos, que des-contrói a ideia de que a vio-lência está diretamente ligadaà pobreza.

Questionado sobre os reaismotivos, o pesquisador elen-cou alguns: há mais incursõesda polícia e conflitos entre fac-ções rivais nesses limites; ocor-

rem atividades proibidas nasfavelas, como roubos; e são “lo -cais de demonstração de poderde todos os grupos armados:tráfico, polícia e milícia”.

Segundo Barcellos, o nú-mero de registros de assassi-natos tem diminuído nas zonassul e oeste. “A expansão dasmilícias acontece da zona oestepara a zona norte. E a de uPPs,da zona sul para essa região.A zona norte é a que mais con-centra disputas”, pontua. (GR)

Milícias dominam quase metadedas favelas cariocas

Gilka Resendedo Rio de Janeiro (RJ)

EXPANSÃO Em cinco anos, controle de áreas por esses criminosos cresceu em 65%

Milícias dominam 474 favelas no Rio

“A milícia transforma oseu domínio territorial,que é armado, militar eviolento, em domínio elei-toral. Essa máfia acaba ele-gendo muita gente”, afirmamarcelo Freixo (Psol), quepresidiu a CPi das milíciasem 2008. A investigaçãoresultou no indiciamentode 250 pessoas, entre elas

deputados, vereadores epoliciais.

“As milícias, talvez, nãoestejam no centro dasatenções da política de se-gurança porque se espa-lham para as zonas nortee oeste. Estão fora da áreade uma cidade negócio,preparada para os megae-ventos e onde a cidadaniae a dignidade têm cep”,afirmou Freixo ao comen-tar a pesquisa. (GR)

Poder das milíciascria domínio eleitoral,diz deputado

Violência urbana segueem direção à zona norte

do Rio de Janeiro (RJ)

do Rio de Janeiro (RJ)

CRIME No Rio, região é a que mais concentra assassinatosFreixo critica política estadual de segurança

Reprodução 247

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Em frente ao Hotel Fasano,na Avenida Vieira Souto emipanema, coletivos de favelasmontaram um piquenique efizeram um verdadeiro “Fa-rofaço” no último domingo (8).“Pode chegar que aqui temfrango, maionese, arroz e ame lhor farofa com ovo”, anun-ciava Baiana, uma das mani-festantes, moradora do Com-plexo do Alemão. A atividadefoi organizada para questionara revista aos ônibus vindos dazona norte, medida adotadapela Polícia militar (Pm), apósarrastões que ocorreram nomês passado.

O ato reuniu moradores dediversas partes do subúrbiodo Rio: Penha, manguinhos,maré, Complexo do Alemão,Vila Cruzeiro, além de Padremiguel e Niterói. “A gente tra-balha muito durante a semanae no dia do nosso lazer somosconsiderados suspeitos empotencial. isso nos deixa muitoofendidos”, comentou ainãde medeiros, do coletivo Ocu-pa Alemão. “Estamos aquicontra essa imposição da po-lícia que decidiu que todosdeveriam ser revistados. Rei-vindicamos nosso direito à ci-dade, de estar na praia, tantoem Ramos quanto em ipane-ma”, completou.

A advogada Luísa mara-nhão, do instituto de defesados direitos Humanos (iddH),que acompanhava os mani-festantes, destacou que o po-liciamento no Rio se concen-tra em algumas áreas e deixaoutras regiões descobertas.“Éum excesso de policiamentoapenas na zona sul, numa áreado Leme ao Leblon. Por issoque parte da população vem

protestando”, afirmou a advo-gada. Segunda ela, do pontode vista dos direitos humanos,a revista aos usuários de ôni-bus é extremamente abusiva.“Não há fundamento para essamedida. A Constituição prevêuma série de garantias em re-lação ao nosso direito de ir evir”, afirmou

durante a caminhada, osmanifestantes cantavam edançavam ao som de marchi-nhas de carnaval. A concen-tração do protesto aconteceuna praça General Osório, pon-to final das linhas 484, 485 e455, vindos da zona norte.“Esse é um ato dos moradoresdo subúrbio e da baixada que

não aceitam o preconceitoque está sendo praticado con-tra as favelas. Quem quiserpode colar”, afirmou o mora-dor de manguinhos FransérgioGoulart, que faz parte do Fó-rum Social de manguinhos.

Ao chegarem a praia, osmanifestantes encontraram600 policiais que faziam a vi-gilância da orla na OperaçãoVerão 2014, da Secretaria deOrdem Pública (Seop) da pre-feitura. Os organizadores doato afirmaram que pretendemorganizar mais edições do “Fa-rofaço” durante o verão.

PROTESTO Moradores criticam revistas aos ônibus vindos da zona norte

Vivian Virissimodo Rio de Janeiro (RJ)

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 201304 | cidades

FATOS EM FOCO

Reajuste da tarifaO prefeito EduardoPaes (PmdB) infor-mou no início da se-mana que o reajuste datarifa de ônibus deveser anunciada aindaeste ano. “Vamos fazeras contas e divulgar ovalor nos próximos 15ou 20 dias”, disse Paes.O aumento já deve en-trar em vigor em janei-ro de 2014.

Campus FideiO Campus Fidei, emGuaratiba, não podeser transformado emum bairro popular.Essa é a posição doinstituto de Arquitetosdo Brasil (iAB). Se-gundo a entidade, nãoé possível construiredificações no terrenosem obras de infraes-trutura. mesmo com oalagamento que invia-bilizou a realização daJornada mundial daJuventude (JmJ) no lo-cal, a prefeitura tinhaa intenção de transfor-mar o terreno em umbairro para as classespopulares.

Espaço de MemóriaNa próxima sexta-feira(13), o Coletivo memó-ria, Verdade e Justiçavai lançar uma campa-nha pela transforma-ção do prédio do ex-dOPS/RJ em Espaçode memória da Resis-tência. O ato vai ocor-rer no Centro Culturalda Justiça Federal, Av.Rio Braco, 241, Centro.Na ocasião, ex-presospolíticos entregarão re-presentações ao Pro-curador da Repúblicano Rio de Janeiro Anto-nio Cabral.

Em protesto, suburbanosfazem "Farofaço" em Ipanema

“Organizadores do atoafirmaram que preten-dem organizar maisedições do “Farofaço”durante o verão________________

Farofaço reuniu moradores de diversos bairros do subúrbio

Marchinhas de carnaval animavam protesto

Léo Lima

Léo Lima

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 entrevista | 5

Na próxima sexta-feira (13),completam-se 45 anos de umdos capítulos mais sombriosda recente história do país:a edição do Ato institucionalnúmero 5, o Ai-5, que vigoroupor uma década durante aditadura militar. Para analisaro instrumento que deu am-plos poderes aos militares,o Brasil de Fato entrevistouo jornalista Cid Benjamin,autor do livro "Gracias a lavida: memórias de um mili-tante". Cid lutou contra a di-tadura e foi barbaramentetorturado enquanto estevepreso em 1970.

Brasil de Fato - No livro, vo - cê fala que o AI-5 tornou arepressão escancarada. On -de você estava e como erao contexto da época quandoesse ato passou a vigorar?

Cid Benjamin – O Ai-5 foieditado em dezembro de1968. O endurecimento daditadura era um processo quejá se previa. Em um dadomomento foi votado na Câ-mara o pedido que a ditaduratinha feito para que houvesselicença para processar o de-putado márcio moreira Alves.Ele tinha feito um discursobobo, perto do 7 de setembro,conclamando as mocinhas anão dançarem com os cade-tes, por conta da ditaduramilitar. Como a Câmara nãodeu licença para que o de-putado fosse processado, issofoi tomado como pretextopara a edição do Ai-5 que jávinha sendo preparado eaconteceria de qualquer for-ma. Eu estava na rua, semi-

clandestino, ainda não tinhacomeçado a fazer ações ar-madas. Nossas primeirasações foram em fevereiro doano seguinte, mas já estavafazendo treinamento com ar-mas quando houve a confir-mação do Ai-5. Não foi sur-presa, era algo que já vinhase delineando, já era esperadoesse fechamento maior daditadura. mas os termos nãoeram conhecidos.

O que mudou com o AI-5?diferentemente dos quatroatos anteriores, ele não tinhaprazo para acabar. Os outros

duravam 30, 60 dias, etc. Elespermitiam uma série de me-didas como a censura à im-prensa, cassação de manda-tos, demissão de funcionáriospúblicos... Já o Ai-5 ampliouo leque de arbitrariedades.Ele permitiu uma limpa noJudiciário, que até então es-tava sendo poupado, e proi-biu a concessão de habeascorpus para acusados de cri-mes políticos. isso significava,na verdade, a luz verde paraa tortura. Porque a pessoaera presa e ficava incomuni-cável na mão dos carcereirospelo tempo que eles quises-sem. Quando fui preso, porexemplo, em abril de 1970, aminha prisão só foi legalizada20 dias depois. Eu poderiater morrido e desaparecidonesse período inicial de tor-turas e não havia nenhumregistro oficial. Esse contextopermaneceu até o último diado governo Geisel, 31 de se-tembro de 1978.

O que o AI-5 revela sobrego vernos militares?Ele instrumentalizou a dita-dura para o ápice do autori-tarismo. Ele deu todos os po-deres. Nada poderia ser con-testado. Como o Judiciário,a imprensa e o Congresso es-tavam cada vez mais castra-dos, o clima de medo se ins-tituiu de forma muito grande.Qualquer denúncia de umvizinho, de um professor oude um aluno poderia levar aprisão do denunciado comas consequências mais va-riadas. Garantias legais foraminteiramente suprimidas.Quando entrei pela primeiravez na principal sala de tor-turas do doi-Codi no Rio, ha-viam dois cartazes rústicos,feitos a mão com os dizeres:“Aqui advogado só entra pre-so” e “Aqui é o lugar que filhochora e a mãe não vê”. As tor-turas que já aconteciam ga-nharam outro patamar. O Ai-5 significou, entre outras coi-

sas, o sinal verde para que atortura se transformasse emuma política de Estado.

Quarenta e cinco anos depoisqual é a herança do AI-5 pa -ra a sociedade brasileira?É a pior possível. Regimesautoritários tendem a em-brutecer o país. Em todos ossentidos, não só no plano in-telectual, como no plano dasrelações sociais e políticas.Estou convencido de que senão tivesse havido o Ai-5 e,portanto, a tortura não tivessesido uma política de Estadodesenvolvida tão amplamen-te, casos como do pedreiroAmarildo não aconteceriamtanto no país.

Você acha que a tendênciaé que a Comissão da Ver-dade seja encerrada semter acesso aos arquivos daditadura?Acho um risco grave. masmesmo assim se pode avan-çar muito. Embora o avançosubstancial fosse com o aces-so a esses arquivos. Falta dis-posição para criar um baru-lho com as Forças Armadas.Afinal, a presidência da Re-pública é a comandante dasForças Armadas. Não vejo apresidenta peitando os mili-tares e exigindo esses arqui-vos dando um soco na mesa.

CID BENJAMIN“AI-5 foi luz verde para a tortura”DITADURA Quarenta e cinco anos depois, jornalista descreve o contexto e analisa as consequências do AI-5

Vivian Virissimodo Rio de Janeiro (RJ)

Pablo Vergara

Para Cid, regimes autoritários tendem a embrutecer os países

“Se não tivesse havidoo Ai-5 casos como odo pedreiro Amarildonão aconteceriamtanto no país_________________

AI-5 O AI-5 dava poderes extraordinários aomilitares e suspendia várias garantias legais.

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 20136 | cidades

Agricultores dos assenta-mentos do Rio de Janeiro rea-lizaram a “4a Feira Estadualda Reforma Agrária CíceroGuedes” no Largo da Carioca,durante esta semana. A feiratrouxe uma grande diversi-dade de produtos saudáveis,além de uma programaçãorecheada de oficinas e ativi-dades culturais.

Organizada pelo movimen-to dos Trabalhadores RuraisSem Terra (mST), a feira vemse consolidando, nos últimosanos, como um importantemomento de divulgação daprodução camponesa, assimcomo um espaço essencial dediálogo com a sociedade so-bre a importância da refor-ma agrária.

A feira deste ano recebeuo nome do militante do mST,Cí cero Guedes. Em um mistode alegria e tristeza, os organi -zadores da feira prestaramuma homenagem a um dos

gran des idealizadores doevento, assassinado no iníciodeste ano.

Em um esforço no fortale-cimento da relação entre cam-po e a cidade, o evento trazpara a paisagem urbana aquestão da necessidade dereestruturação do modelo deprodução agrícola no país. “As

famílias trazem dos assenta-mentos a experiência concretade que é possível os trabalha-dores, com o acesso a terra,produzir alimentos saudáveis,baratos e com maior qualida-de”, afirma marina dos Santos,da direção estadual do mST.

O agricultor Carlão, do as-sentamento Roseli Nunes, par-ticipa pela terceiro ano tra-zendo produtos fitoterápicos,ervas, artesanato, jiló e banana.“A reforma agrária não é ape-

nas para quem está na roça esim para quem está na cidadetambém”, disse Carlão.

Para Barbara Pina, que es-tava passando pela primeiravez na feira, o evento deveriaacontecer todo mês e não ape-nas uma vez por ano. “É le galter um lugar onde você real-mente sabe como a comida foifeita do princípio ao fim, nãosó na questão dos agrotóxicos,mas também da ética no tra-balho, no fato de que eles pro-põe um outro modelo produ-tivo”, acrescentou Barbara.

A já tradicional feira envol-veu mais de 100 camponesese produtos de todo o estado epaís. durante a feira, tambémsão promovidos debates so-bre soberania alimentar, tran-sição agroecológica, agroin-dustrialização e cooperativas.Com o aumento da ediçãodeste ano, a pretensão é quea partir de 2014 aconteçamduas por ano.

Alimentação saudável é a marca da Feira da Reforma AgráriaCAMPO Organizada pelo MST, feira reuniu produtores de todo o estado

Mariane Matosdo Rio de Janeiro (RJ)

SINDICAL

Assembleiada Zona OesteOs profissionais daeducação nas escolasmunicipais da ZonaOeste fazem assem-bleia no sábado (14),às 14h, no cassinoBangu (Rua Fonseca,534). Em fevereiroserá realizada a pri-meira assembleiaconjunta de 2014 dasredes municipais eestaduais do Rio deJaneiro.

Acidentes de trabalhoNos últimos seis me-ses, houve mais mor-tes no Setor Elétricodo que nos últimos20 anos. isso descon-siderando os terceiri-zados. A denúncia foifeita pelo ColetivoNacional dos Eletrici-tários à direção doSistema Eletrobrás.Os trabalhadores cul-pam o descumpri-mento da Norma Re-gulamentadora nº 10pelos acidentes.

Mulheres na Constru-ção CivilO Sindicato dos Tra-balhadores da Cons-trução Civil está par-ticipando de ativida-des e promovendocursos sobre as con-dições de trabalhodas mulheres no se-tor. "Enfrenta-se pre-conceito. Chegam adizer para a mulherdesistir, que trabalhono canteiro é coisa dehomem", destacamárcia Cristina San-tos da Silva, que estáà frente do departa-mento Feminino doSintraconst-Rio.

A partir de 2014, movimento planeja realizar duas edições da feira por ano

Feira envolveu mais de 100 camponeses

“A reforma agrárianão é apenaspara quem está naroça e sim para quem está na cidadetambém_________________

Pablo Vergara

Pablo Vergara

Page 7: Brasil de Fato RJ - 032

Nesta quarta-feira (11), anotícia apareceu nas janelasde alguns, invadiu as casasde outros e impediu grandeparte da população de cir-cular pela cidade. Tambémhouve desabamentos e pro-blemas com o metrô e trens.Nem as principais vias es-caparam de alagamentos. Asenchentes afetaram váriaspartes do Rio, em especialbairros da zona norte.

As fortes chuvas anuncia-ram a cidade olímpica seguedespreparada para o verão.Essa é a avaliação do enge-nheiro sanitarista José StelSoares, diretor do Sindicatodos Engenheiros do Rio deJaneiro (Senge-RJ). Ele ex-plica que a drenagem fazparte de um “quarteto clás-sico do saneamento”, se so-mando às políticas de águapotável, esgoto e lixo.

“É certo que também de-pende de papai do céu, sevai cair chuva forte ou fraca.Ainda que se erre nos cál-

culos, se o sistema tem boamanutenção, pode até en-cher, mas esvazia rápido. Senão tem, acontece essa tra-

gédia”, expõe.O instituto Nacional de

meteorologia (inmet) prevêque as chuvas devem con-

tinuar até sábado (14). A pre-cipitação deve superar os 60milímetros, limite máximopara cada 24 horas.

Manguinhos não se chama assim por acaso

A família de Regina Célia,de 46 anos, ficou em casacom águas pelas canelas. Elaperdeu o sofá novo, que di-vidiu em sete vezes e nemacabou de pagar. Agora, elateme a proliferação de doen-ças. Ela explica que as cheiasaumentaram após a remoçãode casas por conta do Pro-grama de Aceleração de Cres-cimento (PAC).

“Não tiraram os entulhos.Então acumula poças e dámuito mosquito. No ano pas-sado, meu marido ficou ruimde dengue. E os ratos? Sóhoje, aqui em casa, eu vi cincovivos e dois afogados”, relata.

Stel Soares lembra que afavela é uma antiga área demangue e que, na obra cita-da, preferiu-se elevar umalinha férrea a construir umsistema de drenagem. “Hádinheiro para reformar o ma-racanã e derrubar a Perime-tral, mas não há para resolveros problemas das tubula-ções”, questiona.

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 cidades | 7

Rio vive caos e deve seguir com chuvasIMPACTO Engenheiro critica governo por não priorizar “quarteto clássico” do saneamento

Gilka Resendedo Rio de Janeiro (RJ)

Wanderson Cruz

Pablo Vergara

Constantes alagamentos são registrados na Avenida dos Democráticos, em Manguinhos

Wanderson Cruz Pablo Vergara

Thiago Lara

Na Baixada desalojados chegam a 4 mil As cidades de NovaIguaçu, Queimados eJaperi são as maisafetadas. “A Baixada nãotem esse nome à toa. E láos três principais riosestão totalmenteassoreados”, aponta oengenheiro Stel Soares.

Page 8: Brasil de Fato RJ - 032

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 20138 | brasil

A Justiça Federal em SãoPaulo remeteu para o Supre-mo Tribunal Federal (STF)o inquérito sobre o esquemade fraudes em licitações nosistema de trens e metrô deSão Paulo. O envio dos autosocorre após a menção de no-mes de autoridades que têmforo privilegiado. São apu-rados os crimes de corrup-ção, evasão de divisas e la-vagem de dinheiro. As in-vestigações apontam que asempresas que concorriam

nas licitações do transportepúblico paulista combina-vam os preços, formando umcartel para elevar os valorescobrados, com a anuênciade agentes públicos.

Em novembro, atendendosolicitação da Polícia Federal(PF), a Justiça Federal deter-minou o bloqueio de cercade R$ 60 milhões em bensde suspeitos de participaremdo esquema, como forma degarantir o ressarcimento dosvalores desviados. Foram afe-tadas pela decisão três pes-soas jurídicas e cinco pessoasfísicas, incluindo três ex-di-retores da Companhia Pau-

lista de Trens metropolitanos(CPTm). A solicitação foi feitaapós a PF após tomar co-

nhecimento que autoridadessuíças, que também investi-gam as suspeitas de corrup-

ção, encaminharam um pe-dido de cooperação interna-cional ao Brasil.

O cartel é investigado pelaOperação Linha Cruzada,feita pelo Cade em conjun-to com a Polícia Federal. Ainvestigação teve início apartir de um acordo deleniência da empresa Sie-mens com o conselho, quepermitiu que a empresa de-nunciasse as ilegalidades.documentos e cópias de e-mails trocados entre fun-cionários da Siemens estãosendo analisados pelo Cadee pela Justiça. (Agência Brasil)

Inquérito sobre cartel do Metrô de São Paulo é enviado ao STF

Daniel Mellode São Paulo (SP)

INVESTIGAÇÃO São apurados os crimes de corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro

Investigações apontam que agentes públicos sabiam de cartel

A ministra da Secretaria dedireitos Humanos da Presi-dência da República, mariado Rosário, defendeu nestaquarta-feira (11) a votação,pelo Senado, da PEC do Tra-balho Escravo, que tramitano Congresso há 15 anos. “Sãoquase 15 anos de tramitaçãoe não há nada demais nessaemenda constitucional, ne-nhum aspecto que vai feriras garantias individuais oude direito a propriedade”, falouem debate no lançamento deum livro em comemoraçãoaos dez anos da ComissãoNacional Para a Erradicaçãodo Trabalho Escravo (Cona-trae), no Fórum mundial dedireitos Humanos.

"Não demos um passo se-

quer no âmbito do trabalhoescravo sem mobilização,sem denuncia. isso para nósé um trabalho que precisaestar nas mãos da sociedadecivil”, completou a ministra.mesmo assim, para maria doRosário, os dez anos do Co-natrae devem ser comemo-rados. “Estamos mais orga-nizados e mais fortes no com-

bate ao trabalho escravo”, dis-se a ministra. “Com a dimen-são do enfrentamento ao tra-balho escravo nós permiti-mos um encontro permanen-te no que há de mais perversoe mais atrasado como o pré-capitalismo, que é a convi-vência com a Era Feudal”,disse a ministra. (Agência Brasil)

Por moradia digna,sem-teto que marcharamem direção à prefeitura deSão Paulo nesta quarta-feira (11). Cerca de 3 milpessoas de acordo com aPolícia militar, participa-ram do protesto por mo-radias populares, que co-meçou no vão-livre domuseu de Arte de São Pau-lo na Avenida Paulista.

O movimento dos Tra-balhadores Sem Teto(mTST) estima que dezmil pessoas de 12 ocupa-ções das zonas sul e norteda cidade participaram damarcha por moradia dig-na e Contra os despejos."A prefeitura não tem aten-dido as ocupações em si-tuação de despejo, não

tem apresentado alterna-tiva habitacional e conge-lou o bolsa-aluguel [nãoestão sendo incluídos no-vos beneficiários]", expli-cou Guilherme Boulos, in-tegrante do mTST.

A dona de casa Fran-cisca Alves dos Santos, 55anos participa do movi-mento para tentar se livrardo aluguel de R$ 600 queconsome mais da metadedo salário familiar de R$1 mil. "Sempre falta paraoutras coisas que são im-portantes também: ali-mentação, roupa", relatou.Situação parecida é vividapela garçonete Rosália daSilva, 35 anos. "Pago R$350 de aluguel, mas receboR$ 800", disse. Ela parti-cipa da ocupação Faixa deGaza, no bairro Paraiso-pólis. (Agência Brasil)

Três mil marcham por moradia digna em SP

Maria do Rosário cobra aprovaçãoda PEC do Trabalho Escravo

de Brasília

Camila Macielde São Paulo (SP)

SENADO Ministra participou do Fórum Mundial de Direitos Humanos

Para ministra, trabalho escravo é o que há de mais perverso e atrasado

Reprodução

José Cruz/Abr

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 mundo | 9

O presidente de Cuba,Raúl Castro, foi ovacionadonesta terça-feira (10) ao che-gar ao estádio FNB de So-weto (Johanesburgo) para as-sistir à cerimônia religiosaofi cial em memória do ex-presidente sulafricano Nel-son mandela. Logo em se-guida, o presidente dos Esta -dos unidos, Barack Obama,subiu ao palco e cumpri-mentou o líder cubano.

"Vamos dar as boas-vindasao presidente de Cuba, Raúl

Castro", disse o apresentadordo ato ao microfone, ao que

seguiu um forte aplauso dosmilhares de pessoas que lo-

tam o campo. Raúl, cujo ir-mão, Fidel, foi grande amigode mandela, foi um dos lí-deres internacionais convi-dados a discursar durante acerimônia, assim como a pre -sidente dilma Rousseff, en-tre outros.

Cerca de 100 chefes de Es-tado e de governo participa-ram da cerimônia religiosaem memória de mandela,que morreu na quinta-feirapassada aos 95 anos em suacasa em Johanesburgo.

O aperto de mão entreRaúl e Obama foi notícia nosprincipais portais ao redor

do mundo. desde 1962, osEuA impõem um duro em-bargo político e econômicocontra a ilha caribenha, quedesde 1959 possui um go-verno socialista.

A última vez que dirigentesdos dois países se cumpri-mentaram foi em 2000, quan-do Bill Clinton e Fidel Castroparticiparam da Cúpula domilênio da ONu em NovaYork. Eles conversaram poralguns minutos, fato que, naocasião, interrompeu quatrodécadas de poucas relaçõesentre mandatários de Cubae EuA. (Opera Mundi)

Raúl Castro e Obama se cumprimentamno funeral de Nelson Mandela

de São Paulo (SP)

HISTÓRIA Aperto de mão foi notícia nos principais portais ao redor do mundo

Barack Obama cumprimenta Raul Castro em Joanesburgo

Primeiro pontífice lationa-mericano, o papa Franciscofoi eleito a figura do ano de2013 pela revista estaduni-dense Time. Ao justificar a es-colha, a publicação enfatizaque, "com foco na compaixão",o líder da igreja Católica re-presenta uma “nova voz daconsciência”.

de acordo com a Time, “ra-ramente um novo ator da cenamundial captou tanto e tãorapidamente a atenção dosmais novos e dos mais velhos,dos crentes e dos céticos”. Res-saltando a humildade do pon-tífice, a editora executiva darevista, Nancy Gibbs, disseque, em menos de um ano, opapa Francisco "fez algo no-

tável: não mudou as palavras,mas mudou a música”.

A editora enfatizou que eleataca “a idolatria do dinheiro”e propõe alterações concretas:ordena uma investigação àsfinanças internas do Vaticano,recusa viver no palácio, op-

tando por um “hotel poupado”,substitui “o mercedes papalpor um Ford Focus usado”,deixa de lado os sapatos ver-melhos e a cruz dourada emvolta do pescoço.(Agências Lusa e Telam)Por 16 votos a favor e 13

contra, o Senado uruguaioaprovou a chamada Lei damaconha. A partir destaquarta-feira (11), o peque-no país sul-americano seráo primeiro do mundo a le-galizar e regulamentar aprodução, venda e o con-sumo da maconha.

No uruguai, o consumode maconha (ou de qual-quer outra droga) não éconsiderado crime há 40anos, mas era proibidocomprar e vender os pro-dutos. A nova lei pretendeacabar com essa contradi-

ção e buscar uma alterna-tiva à guerra contra as dro-gas. Estima-se que 28 miluruguaios (5% da popula-ção entre 15 e 65 anos) fu-mam um cigarro de ma-conha por dia.

Comparado com outrospaíses, é um mercado pe-queno - mas move uS$ 40milhões ao ano e tem cres-cido, apesar das políticasde combate ao narcotráfi-co. O presidente do uru-guai, Jose “Pepe” mujica,quer que o Estado reguleo comércio e uso dessadroga – a quarta mais con-sumida no país, depois debebidas alcoolicas, cigarrose remédios psiquiátricos.(Agência Brasil)

Uruguai aprova Lei da Maconha

Papa Francisco é eleito apersonalidade do ano

Thais Araujode Brasília

Monica Yanakiewde montevideu (uruguai)

RELIGIÃO Para revista Time, papa representa uma “nova voz da consciência”LEGALIZAÇÃO Nova lei busca umaalternativa à guerra contra as drogas

Reprodução

Papa ataca idolatria do dinheiro

Tania Rego/Abr

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 201310 | cultura

O subúrbio acolheu debraços abertos aqueles quetrilharam, no último sá-bado (7), vindos de todasas partes da cidade e atéde outras cidades do Brasile do mundo, o trajeto doTrem do Samba.

O festival de grandes pro-porções, em que se transfor-mou a festa do dia Nacionaldo Samba (2 de dezembro),parecia promover uma es-pécie de reconciliação entreos bairros do Rio.

Cinco trens lotados saíramda Central do Brasil com des-tino a Oswaldo Cruz, comrodas de samba em cada va-gão. O bairro, povoado emgrande parte, no início doséculo passado, por aquelesque foram removidos à forçapelas reformas sanitaristas,foi o palco para esse encontroque o samba mais uma vez

foi capaz de promover."O Trem do Samba repre-

senta o recriar de uma ce-lebração, de uma memóriade resistência da músicabrasileira", afirma marqui-nhos Oswaldo Cruz, o sam-bista que, em 1991, refez a

viagem de trem que deu ori-gem ao festival.

A releitura da viagem quePaulo da Portela fazia, noinício do século passado,para fugir da repressão aosamba, ganhou contornosde festa popular.

"A mesma polícia que an-tes perseguia o samba, hojeabre alas pra ele passar. Osamba nunca foi de arrua-ça, como dizia Carlos Ca-chaça. Era a alegria do povona praça Onze, uma mani-festação da cultura popular,

sincera, honesta", ressaltamonarco, da Velha Guardada Portela, escola de sambaque surgiu entre OswaldoCruz e madureira.

Sambista representante deoutra escola de samba da re-gião - a império Serrano -,Aluízio machado tambémdestacou o caráter democrá-tico do evento. "Hoje o sambapode dizer que tem uma festademocrática, que todo mun-do acompanha junto, semdistinção", pontua.

No evento, shows simul-tâneos faziam com que o pú-blico estimado em mais de60 mil pessoas, somente na-quele dia, pudesse aproveitaras mais de 50 atrações mu-sicais. Na comparação bemhumorada com outros festi-vais de música que aconte-cem na cidade, o 'Rock inRio do samba' não deixou adesejar nos quesitos evoluçãoe harmonia, e mostrou, comdesenvoltura, o jeito brasi-leiro de festejar.

músico que tem sua tra-jetória relacionada à das es-colas de samba de OswaldoCruz e madureira, Paulinhoda Viola foi uma das atraçõesdo Trem do Samba. Seushow, no palco João da Gente,um dos sete montados, en-cerrou o festival que já acon-tecia desde a segunda-feira.

Paulinho da Viola desta-

cou a iniciativa de come-morar o dia do Samba comuma grande festa. "durantemuito tempo era uma dataconhecida. Algumas pessoasse reuniam em suas escolas,mas não havia um eventoaberto, maior, que levassea data para um númeromaior de pessoas", afirmou,celebrando o que chamoude a grande estrela do even-to: o samba.

Para o cantor e compositor,

a manifestação cultural temforça própria e consegue le-var o nome do Brasil para omundo. "Ao longo do tempo,muitos já disseram que aca-baria, que não fazia sentido.mas o samba já foi para omundo. Visitar, por exemplo,o Japão e ver que há escolasde samba com pessoas de látocando, mostra que essacoisa do povo da gente temuma força que ninguém con-trola", enaltece. (GA)

Os trilhos que levam ao sambaENCONTRO Proposta do Trem do Samba foi recriar memória de resistência da música brasileira

Gabriel Araujodo Rio de Janeiro (RJ)

do Rio de Janeiro (RJ)

FESTA Show do sambista encerrou festival no palco João da Gente

Branka Freitas

Festa popular é considerada a Rock in Rio do Samba

Paulinho da Viola: “Ninguém controlaa força que o samba tem”

Eduardo Figueiredo/Divulgação Trem do Samba

Escolas de Oswaldo Cruz e Madureira influenciaram Paulinho

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 cultura | 11

COSMOCARTASBaseado no livro “Lygia Clark/ Hélio Oiticica: Cartas 1964-1974”, o espetáculo“Cosmoscartas” narra a história de ícones do neoconcretismo brasileiro. Trazendo a trocade experiências entre Lygia e Hélio, a peça é dirigida por Renato Linhares. Angústia,desejo e arte são incorporados pelos atores Álama Facó e Cristina Flores. Entrada franca,com distribuição de ingressos 1 hora antes. Em cartaz até 8 de janeiro. de quinta-feira asábado, às 19h. Centro municipal de Artes Hélio Oiticica – Centro.

O resultado de quase 20anos de trabalho do antro-pólogo e fotógrafo miltonGuran pode ser visto até 19de janeiro no Centro CulturalCorreios. A exposição Filhosda Terra apresenta 50 foto-grafias em preto e branco,que retratam 16 diferentesetnias indígenas, da Ama-zônia ao Sul do país: Yano-mami, makuxi, marubo, ma-tis, Kayapó, Kamayurá, Kui-kuiro, Yawalapiti, Arara, Xa-

vante, Guarani, Kaingang,Pankararu, Jaminawa, ma-chineri e Suyá.

Na mostra, os povos indí-genas são apresentadoscomo representantes de umacultura rica, que faz parte doque é ser brasileiro, e nãocomo seres exóticos. “No Bra-sil, se falam mais de duzentaslínguas indígenas. Cada umacorresponde a uma culturadiferente, a uma forma es-pecial de se viver neste pla-neta. Algumas delas estãorepresentadas aqui, atravésde observações, mensagens,testemunhos”, destaca milton

Guran, que também assinaa curadoria da exposição.

Antropólogo com douto-rado na França, mestre emcomunicação social pela uni-versidade de Brasília, Gurané atualmente professor dauniversidade Federal Flu-minense (uFF). Foi fotógrafodo museu do Índio e, entreoutras atividades, coordenaa FotoRio, bienal de fotogra-fia, idealizada por ele e quepromove exposições de fo-tografia em diversos espaçosculturais do Rio de Janeiro.

A mostra Filhos da Terrafica aberta de terça-feira a

domingo, das 12h às 19h,com entrada franca. O CentroCultural Correios fica na Rua

Visconde de itaboraí, 20, nocentro da cidade. (Agência Brasil)

Paulo Virgiliodo Rio de Janeiro (RJ)

Filhos da Terra: exposição retrata16 etnias indígenasFOTOGRAFIA Imagens foram registradas pelo fotógrafo Milton Guran

AGENDA

Mostra Filhos da Terra expõe 50 imagens em preto e branco

TROPICÁLIAdepois da campanha“um som pro multi-bloco”, o multiblocoTropicália convidapara a sua estreia. O repertório do pré-car-naval contará comcanções de Caetano,Tom Zé, mutantes,dentre outros. Entradafranca. domingo (15),das 14h às 19h. Av. in-fante dom Henrique – Aterro do Flamengo.

MÚSICA NO CAPANEMAEm comemoração aos 35 anos do espaço “Sala Funarte”,o projeto “música no Capanema” percorre a diversidadeda música brasileira. Jazz, mPB, samba, hip hop e osmais variados estilos estão presentes na programação.Quinta-feira (12) tem davi moraes e Banda e sexta-feira(13) tem Bondesom. Entrada franca. Sempre às 18h30.Rua da imprensa, 16 – Carioca.

SERESTA AO AR LIVREO Bistrô imperator será palco da comemoração dos 28 anos do projeto “Serestaao Ar Livre”. Além de cortejar o melhor da mPB, o evento contará com aparticipação especial da Banda Alma de Vinil. Entrada franca. domingo (15), das17h às 19h. imaculada Bistrô imperator, Centro Cultural João Nogueira – méier.

Vida de Clarice Lispector será apresentada na Penha e na Maré

COMO NASCEM AS ESTRELAS O espetáculo baseado na obra “Como Nasceram as Estrelas” de Clarice Lispector chega ao Rio. mesclando teatro e música, amontagem revive a prosa e a poesia de uma das maioresescritoras brasileiras. Entrada Franca. Sexta-feira (13), sábado(14) e domingo (15) na Arena dicró – Penha e sábado (21) emHebert Vianna – maré.

Divulgação

Milton Guran

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 201312 | variedades

Áries(21/3 a 20/4)

Câncer(21/6 a 22/7)

Libra(23/9 a 22/10)

Capricórnio(22/12 a 20/1)

Touro(21/4 a 20/5)

Leão(23/7 a 22/8)

Escorpião(23/10 a 21/11)

Aquário(21/1 a 19/2)

Gêmeos(21/5 a 20/6)

Virgem(23/8 a 22/9)

Sagitário(22/11 a 21/12)

Peixes(20/2 a 20/3)

Semana tensa e impaciente. Probablidade a aci-dentes gerados pela impulsividade agressiva erebeldia. Pode passar uma imagem de “ditador”ou alguém intolerante e inflexível. Pratique acompreensão e saiba ouvir com paciência.

Sensibilidade à flor da pele. Pode passar por altose baixos emocionais num piscar de olhos. Cui-dado para isso não afetar a saúde física e mental.Por outro lado, há alta capacidade de regenera-ção, com rápida recuperação.

A energia física está combinada com harmonia,beleza e sensualidade. Isso reflete no dia a dia,com necessidade de movimento (dança emfoco), contato físico e gera magnetismo pessoal,principalmente nos relacionamentos amorosos.

Otimismo, gosto por mudanças e aprendizados.Boa sorte também nos negócios, com possibili-dade de conquistar posição ou resultados alme-jados há tempos e que tenha trabalhado muitopara construir. É hora de receber os louros.

Um pouco de instabilidade emocional, que nodecorrer da semana será amenizada. Poder deatração, sensualidade e flertes com diferentestipos de pessoas. Aproveite a fase para com-preender suas motivações emocionais e sexuais.

Mente rápida e perspicaz, e intuição e sensibili-dade afiadas! Use-as para sanar possíveis proble-mas profissionais, que podem aparecer estasemana. Seu semblante estará aberto, positivo econfiante. A saúde está em alta!

Os sentimentos se manifestam tranquila, porémintensamente. Há excesso de energia física, quegera irritações e conflitos. Então, procure equilí-brio com exercícios, atividades dinâmicas e, prin-cipalmente, divertidas.

Necessidade de mudanças drásticas, descartar oque não serve mais em todas as áreas (material,pensamentos, sentimentos, convívio social).Apenas não faça isso violenta ou impetuosa-mente, e isso refletirá beneficamente.

O campo intelectual continua ativo! Ideias ex-cêntricas, revolucionárias e originais são desta-ques. Sua aparência é alegre, jovial, comunicativae leve. Aproveite para fazer contatos e conhecerpessoas com a mesma energia!

Intelecto brilhante como sempre! Porém, a vidaprofissional passa por obstáculos, como a possi-bilidade de perda de um bom trabalho e difama-ções nesta área. Utilize a inteligência e destrezapara sair disso sem grandes problemas.

Necessidade de transformações, podendo haverviolenta quebra de crenças, tabus e filosofias,dando espaço para novas possibilidades e refor-mas neste aspecto. Poderá se envolver em via-gens, conhecer novos povos e culturas.

Sua saúde física dependerá da sua capacidadede prestar atenção aos sinais que o corpo lhemanda. Isso também tem relação com a saúdeemocional. Portanto, não separe uma da outra eexcercite os bons pensamentos e ações.

HORÓSCOPO 06 a 12 de dezembro de 2013 Keka Campos, astróloga | [email protected]

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Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 opinião | 13

NA EdiçãO dO ESTADÃO de 7 de dezembro, quemprocurou uma chamada de capa sobre o enterro dopresidente João Goulart, se deparou com todo tipode assunto, exceto sobre a missa e os funerais comhonras oficiais de Chefe de Estado, realizados na vés-pera, em São Borja.

Qualquer assunto serviu ao jornal para omitir na suaprimeira página a mais importante notícia daquela se-mana sobre o estadista assassinado pela Operação Con-dor, em seu exílio na Argentina.

Na capa do jornal, o leitor encontraria até mesmo achamada de um artigo com o título “Fezes inocentamhumanos – descobriu-se por meio de fezes fossilizadas,que não foram os homens que exterminaram o cabritoMyotragus balearicus das ilhas Baleáricas”. (sic)

Somente na página 4, no alto, uma pequena foto, umpequeno título e três linhas: “Novo Sepultamento –restos mortais de Jango são enterrados com honras. Pág.A9”. E na A9, apenas meia página sobre o assunto.

mas, essa edição do Estadão não diz apenas do Es-tadão – esse jornal é como um espelho veneziano domais puro cristal, da classe e do ethos dos grandesoligopólios de comunicação no Brasil, cujos pro-prietários e responsáveis já deveriam estar há anosna Papuda, sem gozar de qualquer direito especial.Aliás, diferentemente do caso dos réus do PT ali reco-lhidos, a Teoria do domínio do Fato (Hans Welzer-1939) adequa-se como uma luva aos crimes cometidospela gran de mídia comercial brasileira na preparaçãodo golpe, na sua execução e na sustentação do regimeque se instalou no pós-1964.

Ou seja, se há uma coisa de que não podemos nosqueixar da grande mídia comercial em nosso país, é dasua imutável coerência: tanto na qualidade do jornalismoque pratica, quanto da baderna social que promove.Lembram-se das marchas com deus e a família pela li-berdade, promovidas antes e imediatamente após ogolpe? A lista é grande e infindável. O Estadãopromoveue participou de todas essas arruaças que visavam quebrara ordem constitucional do país – o que acabou aconte-cendo em 31 de março de 64.

A grande maioria das demais mídias não ficou atrás. AEmpresa Folha da Manhã daria passos mais ousados:entregaria – a partir de 1969 – seu título Folha da Tardeao Esquadrão da morte, e emprestaria seus veículos paratransporte de presos para os aparelhos de torturas, oupara a ‘desova’ dos seus cadáveres. Sim, uma imprensasempre livre para fazer os desmandos que bem entender.

Alipio Freireé jornalista e escritor

Alipio Freire

As fezes de sempre

Beto Almeida

Mandela e CubamESmO NA mORTE de

um gigante como o revolu-cionário Nelson mandela, oimperialismo não deixa deexibir sua baixeza ao buscarmanipular a imagem destelíder para mostrá-lo comoum conciliador.

A revista Veja, que temcomo acionistas empresáriossulafricanos apoiadores doapartheid, o apresenta como“o guerreiro da paz”. Seria osegundo sequestro de man-dela, depois de 27 anos deprisão: o da sua imagem. Elefoi um dirigente comunistaque apoiou a luta armadacontra o regime racista da

África do Sul e a revoluçãono mundo.

É obrigatório lembrar aposição de mandela sobreCuba. Logo após Angola terconquistado sua indepen-dência, em 1975, foi alvo deagressão militar da Áfricado Sul com o apoio dos Es-tados unidos (EuA) e ingla-terra. Na ocasião, o presi-dente de Angola, AgostinhoNeto, solicitou diretamentea Fidel Castro o apoio militarde Cuba.

imediatamente se organi-zou uma operação de ajudamilitar com 400 mil cubanos,homens e mulheres, que lu-

taram ao longo de um déca-da e derrotaram as tropasracistas. A batalha decisivafoi a de Cuito Cuanavale.mandela a declara: “a Batalhade Cuito Cuanavale foi o co-meço do fim do apartheid.Nós devemos a destruiçãodo apartheid a Cuba!”

Hoje, Cuba – que foi o úni-co país a se levantar em ar-mas em defesa de Angola econtra o apartheid – continuaa compartilhar internacio-nalmente médicos, profes-sores, vacinas e exemplos.

Beto Almeidaé jornalista

Se há uma coisa de que não podemos nos queixar da grande mídia comercial em nosso país,

é da sua imutável coerência___________________________________“

Vito Giannotti

Show de racismo da políciaNA SEmANA retrasada

acon teceram mais dois fatosgraves de racismo. A FiFA ve-tou o casal negro, Lázaro Ra-mos e Camila Pitanga, que aGlobo tinha apresentadopara o evento da escolha daschaves dos jogos da COPA de2014. Na mesma semana, apolícia de Vitória/ES deumais um show de racismo. Ofato que aconteceu na capitaldo Espírito Santo foi divul-gado pelas redes sociais eprovocou o repúdio de mui -ta gente. Simples. No dia 30de novembro, no SHOPPiNGViTÓRiA, diVERSOS JOVENSNEGROS E POBRES FORAmHumiLHAdOS POR POLi-

CiAiS. Eles foram colocadossentados sem camisa com acabeça baixa e as mãos cru-zadas sobre a nuca. igual aoque a polícia faz todo dia, noBrasil intei ro, com jovenspobres, negros, favelados.Com jovens filhos de papai,mauricinhos ou patricinhasque moram no Leblon ou naPraia do Canto, em Vitória, apolícia não age assim. Todosestes jovens foram revista-dos, humilhados e expostoscomo se fossem animais.

É sempre assim com ne-gros pobres e favelados. E apopulação “de bem” que es-tava no shopping? Não semexeu. Não protestou. Achou

bom ou, no mínimo, normal.E por que eles foram tratadosassim? Porque no Brasil te-mos uma longa tradição ra-cista, que aparece a toda hora.A luta para acabar com essatriste herança vai longe! Epi-sódios como esses nos lem-bram a cada dia que, diferen -te do que afirmou Ali Kamel,Sim, EXiSTE RACiS mO NOBRASiL. Não há racismo, masnegro ou negra, nas novelas eprogramas de humor da TV,quase só aparecem em posi-ção inferiorizada, ridícula oucomo bandido.

Vito Giannottié escritor

“Jovens foram revistados,humilhados e expostoscomo se fossem animais____________________

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O substituto do ex-ministromárcio Fortes, que pediu de-missão da presidência da Au-toridade Pública Olímpica(APO) em agosto, general Fer-nando Azevedo Silva, garantiuque será cumprida a exigênciado Comitê Olímpico interna-cional (COi) de divulgar a ma-triz de responsabilidades dosJogos Olímpicos do Rio, do-cumento que estabelece asobrigações de cada um dosenvolvidos com os Jogos.

Como isso só vai acontecerem 2014, também o orçamen-to dos Jogos só será tornadopúblico no ano que vem.

“Atualmente, essa é a minhaprincipal missão. Antes de as-sumir a APO, já tinha solici-tado ao Senado essa agiliza-ção. montamos uma força-tarefa para isso. Não queroprometer uma data e nãocumprir. mas os três entes degoverno estão focados nisso”,disse o general.

O documento havia sidocobrado pelo Tribunal de Con-tas da união (TCu), em acór-dão publicado no dia 25 desetembro, do qual constava adata de 4 de novembro comoprazo limite para a divulga-ção. Fernando Silva, porém,entende que esse prazo podeser prorrogado.

O presidente da APO infor-ma que trabalha com o orça-

mento apontado pelo dossiêda candidatura, algo em tornode R$ 28 bilhões. O fato é queo anúncio do orçamento já foiadiado algumas vezes. A pre-

visão inicial era o primeiro se-mestre deste ano. depois, ficoupara o fim de 2013 e, agora,para 2014. (Com informaçõesdo Lancenet)

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 201314 | esporte

FATOS EM FOCO

Boicoteameaça Jogosde InvernoSegundo notícia di-vulgada pelo jornalalemão der Spiegel, opresidente da Alema-nha, Joaquim Gauck,manifestou publica-mente sua decisão deboicotar os JogosOlímpicos de inverno,a serem realizados nacidade Sochi, na Rús-sia, em fevereiro. Aatitude seria um pro-testo contra as viola-ções de direitos hu-manos pelo governorusso. Gauck é a pri-meira personalidadeimportante do cená-rio político interna-cional a boicotar osJogos. Quem tambémpode aderir ao boico-te é a Geórgia, vizinhageográfica da Rússia.

Andrade noSão João daBarraEstá praticamenteacertada a contrata-ção do treinador An-drade, campeão bra-sileiro pelo Flamengo,em 2009, pelo SãoJoão da Barra. A equi-pe do interior do esta-do do Rio de Janeirodisputará a Série B doCampeonato Esta-dual, em 2014, noqual estreia no dia 8de fevereiro enfren-tando o Barra mansa.“Gostei do que me foiapresentado e já co-nheço o clube pelasboas campanhas queapresenta .Há o meuinteresse em desen-volver o projeto doclube e levá-lo à SérieA, pois sei que há es-trutura para se pensaralto e buscar o aces-so”, disse Andrade.

DOCUMENTO Responsabilidades dos envolvidos serão definidas

Orçamento dos Jogos Olímpicos só sai em 2014

José Cruz/Abr

General Fernando Azevedo Silva trabalha com orçamento de R$28 bilhões

As seleções brasileiras mas-culina e feminina de vôlei jásabem as equipes que enfren-tarão na edição de 2014 daLiga mundial e do Grand Prix,respectivamente. Ao divulgaros confrontos, a Federação in-ternacional de Voleibol (FiVB)registrou uma novidade: nopróximo ano, essas competi-ções terão 28 países represen-tados em cada uma, um nú-mero recorde .

A líder do ranking da FiVB,a seleção dirigida pelo técnicoBernardinho, caiu no GrupoA, na companhia de itália, Po-

lônia e irã. Serão três rodadasduplas fora e três em casa. Ocampeonato tem início mar-

cado para o mês de maio. Emjulho, sai o campeão. O Brasil,que já conquistou a Liga mun-

dial nove vezes, tentará o de-cacampeonato.

Já o time feminino enfren-tará, no Grand Prix, em agosto,China, itália e República do-minicana Essa fase será dis-putada na itália. Na segundarodada, a equipe do treinadorJosé Roberto Guimarães jogaráem casa contra Estados uni-dos, Coréia do Sul e Rússia.Na sequência, o Brasil vai àTailândia encarar as donas dacasa, os Estados unidos e aRepública dominicana. As seisseleções que mais pontuaremfazem a final, em local aindanão definido. A seleção femi-nina também lutará pelo dé-cimo título. (BD)

Vôlei: definidos adversários daLiga Mundial e do Grand PrixRECORDE Número de competidores é o maior de todas as edições

do Rio de Janeiro (RJ)

Bepe Damascodo Rio de Janeiro (RJ)

Reprodução CBV

Brasil já conquistou Liga Mundial nove vezes

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Pelo Ranking Olímpico de2013, divulgado pela Associa-ção Nacional das Federaçõesde Atletismo, na categoriaadulta, os 52 atletas brasileirosTOP 50 destacaram-se em 27provas individuais ao ar livre.No Top 30, o Brasil emplacou28 nomes (15 homens e 13mulheres).

O revezamento femininosegue em grande fase. Esteano, obteve o melhor resul-tado brasileiro na modalidade,com o quarto lugar conquis-tado no Campeonato mundialde moscou, na Rússia, emagosto, com o tempo de 42s29.Essa marca deu o novo recor-de sulamericano para a equipeformada por Evelyn Santos,Ana Claudia Lemos, Franciela

Krasuki e Rosângela Santos.Outros bons resultados en-

tre as mulheres foram a 5ª po-sição de Keila Costa no saltotriplo e o 6º lugar de Fabiana

murer no salto comvara. Já no masculi-no, iago Braz ob-teve a 5ª colocaçãono salto com vara eAugusto dutra, a 7ª.mauro Vinícius“duda” da Silva al-cançou o 6º lugar nosalto em distância,mesma colocação deCarlos Chinin, nodecatlo.

Vale registrar queo brasileiro melhorcolocado, na catego-ria masculina, ia-go Braz, disputousua primeira tempo-rada como adulto,depois de se sagrar

campeão juvenil no mundialde Barcelona, em 2012, e con-quistar a medalha de prata,nos Jogos da Juventude deCingapura, em 2010.

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 2013 esporte | 15

opinião | Bruno Porpetta

Dane-se o Brasileirão!Em 13 de dezembro, a

célebre frase de JarbasPassarinho “Às favas, Sr.Presidente, com os escrú-pulos de consciência!”completa 45 anos. E fezescola, sem dúvida.

O que se viu no jogoentre Atlético-PR e Vasco,em Joinville, foi daquelascenas que deveriam nosfazer sentir vergonha denós mesmos e do pontoa que chegamos.

Esta cultura violenta jános é habitual e induzi -da pelo Estado, vide o pa -pel que as Polícias mili-tares cumprem no Brasil.Polícia que não estavapre zsente no estádio na-quele momento e quenão pode se tornar sinô-nimo de solução.

de qualquer forma,diante da barbárie da vio-lência e do festival de con-veniências que se sucedeuali, o que menos impor-tava era o campeonato.

Os jogadores, em tem-pos de Bom Senso FC,eram os únicos no camporealmente chocados comtudo aquilo.

Por um lado, o Atléti-co-PR queria continuar ojogo, sob o risco de perderos pontos e a vaga na Li-bertadores. Por outro, oVasco queria os pontossem jogar bola, para assimfugir do rebaixamento.

E tinha a TV que, coin-cidentemente, ganhou dois“shows do intervalo”. Ascontas dos anúncios salti-tavam ao som de barras deferro batendo nas cabeças.O show não podia parar.

A farra das organizadasé, em grande parte, ban-cada por dirigentes. dian-te disso, o “tapetão” queo Vasco propõe se tornaainda mais mesquinho.

O Gigante não podepassar recibo de anão.

porpetta.blogspot.com

Bepe Damascodo Rio de Janeiro (RJ)

Atletismo: Brasil tem 52 atletas no Top 50AVANÇO Melhor resultado foi no revezamento feminino

Já estão definidas pela FiFAas premiações para a Copado mundo. Se comparadocom a última Copa, na Áfricado Sul, o montante a ser ra-teado aumentou 37%, in-cluindo premiações, segurodos jogadores, prêmio aosclubes por convocação e pre-paração para a Copa. O total

é de R$ 1,3 bilhão (uS$ 576milhões), dos quais R$ 83 mi-lhões ficarão com o campeão.

Os gastos com seguro dejogadores chegarão a R$ 237milhões. Em relação às pre-miações, todas as seleçõesque disputam o torneio serãocontempladas. Os valores se-rão proporcionais às coloca-ções. Caberá ao vice-cam-peão R$ 59 milhões, ao ter-ceiro R$ 52 milhões e ao

quarto R$ 47 milhões.daí para baixo, a FiFAoptou por criar blocosde colocação.

Assim, do quinto aooitavo colocado, R$ 33milhões para cada; donono ao 16º, 21 mi-lhões; e do 17º ao32º, R$ 19 milhões.Ca da seleção receberá aindaR$ 3,6 milhões pa ra cobrirgastos com a preparação.

Já a compensação pa ra osclubes que tiverem jogado-res convocados será de R$

166 milhões, divididos deacordo com o número deconvocados. (BD)

Wagner Carmo/CBAT

Atleta Ana Claudia Lemos

Antonio Cruz/Abr

Cada seleção receberá R$ 3,6 milhões para cobrir gastos com a preparação

Campeão mundial receberá R$ 83 milhões da FifaAUMENTO Valor das premiações subiu 37%

do Rio de Janeiro (RJ)

Page 16: Brasil de Fato RJ - 032

A CBF apontou irregulari-dades ao Superior Tribunal deJustiça desportiva (STJd) naescalação de dois jogadoresna última rodada do Campeo-nato Brasileiro. André Santos,do Flamengo, e Héverton, daPortuguesa, estariam suspen-sos nos jogos contra o Cruzeiroe o Grêmio, respectivamente.

O procurador Paulo Schmittacatou a denúncia e os clubesdevem ser julgados na segun-da-feira (16). Em caso de con-denação, ambos perderão qua-tro pontos cada e, nesta situa-

ção, o Fluminense está livredo rebaixamento.

Já o Vasco quer os pontos dapartida com o Atlético-PR, ondeperdeu por 5 a 1, em Joinville,alegando que o Furacão nãogarantiu condições de seguran-ça para que ocorresse o jogo.

Se o julgamento for favorá-vel, pode se salvar caso o Fla-mengo também seja punido.

André Santos foi expulsona final da Copa do Brasil,contra o Atlético-PR, não jo-gando a partida seguinte con-tra o Vitória, pelo Brasileiro.Até então, o julgamento dojogador do Flamengo aindanão havia ocorrido.

Segundo o artigo 171 doCBJd, André Santos poderiaser punido em outra compe-tição nacional, visto que a Copado Brasil havia acabado.

No caso da Lusa, o meiaHéverton foi expulso contra o

Bahia, pela 36ª rodada e cum-priu suspensão automática.Após condenado, deveria cum-prir outro jogo de suspensão,mas a Lusa alega não ter sidoinformada por seu advogado,Osvaldo Sestário.

Segundo Arílson Alves,dono de uma empresa queprestou serviços de segurançano jogo entre Atlético-PR eVasco, em Joinville, a brigacomeçou após a exibição decamisas do Furacão por tor-cedores vascaínos.

"O pessoal do Vasco pegouas camisas fora do estádio. Nahora do jogo, mostraram elascomo um troféu e a briga co-meçou" disse.

Alves também falou sobrea estrutura para separar as

torcidas: "Se tivesse uma gradeforte, talvez não tivesse acon-tecido. mas só tinha uma gra-dezinha e uma corda".

William Batista, de 19 anos,ainda está internado em Join-ville. de acordo com tomo-grafia realizada nesta quarta-feira (11), a fratura no crâniopermanece, mas ele não correrisco de morte.

O Vasco pede a anulaçãoda partida, além dos três pon-tos, alegando falta de segu-rança no estádio e o tempomáximo de paralisação, ex-cedido em 11 minutos peloárbitro. (BP)

Rio de Janeiro, 12 a 18 de dezembro de 201316 | esporte

PUNIÇÃO Fla e Lusa serão julgados; Flu e Vascopodem se salvar

Camisas motivaram brigaem JoinvilleBARBÁRIE Camisas do Atlético-PR viraram“troféus” para vascaínos

da Redação

Não foi desta vez que a PontePreta conquistou um título ex-pressivo. O time não suportoua pressão da torcida argentinaem La Fortaleza e foi derrotadopor 2 a 0 pelo Lanús.

Os argentinos pressionaramdesde o início e logo aos 24minutos abriram o placar.Após falha de magal, o ata-

cante Blanco fez jogada peladireita e cruzou para Ayala,livre de marcação, empurrarpara o gol.

Ainda no primeiro tempo, aos48, em jogada de escanteio doLanús, o goleiro Roberto rebatecabeçada de Santiago Silva paraBlanco ampliar o marcador.

No segundo tempo, a entra-da de Ferrugem melhorou otime da Ponte, mas foi insufi-ciente para uma reação. (BP)

Lanús vence e Botafogoestá na LibertadoresSULAMERICANA Argentinos conquistam o títuloe ajudam o time carioca

da Redação

• MANO MENEZES é onovo treinador do Co-rinthians. Seu nome jáera especulado no clubepaulista desde o pedidode demissão do treinadorno Flamengo.

• O CRUZEIRO, um diadepois de manifestar in-teresse no atacante Fred,do Fluminense, desistiuda contratação. A multarescisória de 40 milhõesde reais foi o motivo ale-gado pelo clube mineiro.

• OSVALDO DE OLIVEI-RA treinará o Santos em2014. O nome de PauloAutuori é o preferido peladiretoria do Botafogo.

• O VASCO confia no fa-tor “político” para anularo jogo contra o Atlético-PR. A advogada do clube,Luciana Lopes, é filha dopresidente da FERJ, Ru-bens Lopes.

• A BRIGA entre atleti-canos paranaenses e vas-caínos será julgada peloSTJd nesta sexta-feira(13). Ambos os times po-dem perder até 20 man-dos de campo, além demulta de R$ 100 mil.

• NEYMAR fez três nagoleada do Barcelona(ESP) sobre o Celtic(ESC) por 6 a 1, no CampNou. Até então, ele eracriticado pela imprensaespanhola por não mar-car na Liga dos Cam-peões.

• O FLAMENGO emitiunota afirmando estartranquilo quanto ao jul-gamento no STJd. Se-gundo o comunicado, asações na justiça são “umdesserviço ao futebol euma afronta ao torcedorbrasileiro”.

TOQUES CURTOS

Bruno Porpettado Rio de Janeiro (RJ)

Flu aguarda decisão do STJD para manter-se na primeira divisão

Argentina | La Fortaleza | 12/12 | 21h50

FICHA TÉCNICA

Lanús Ponte Preta

2 X 0

Fora de campo, Brasileirão não termina Paulo Brito