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ARKEOS - perspectivas em diálogo 28 Ariana Silva Braga Mapeamento dos sítios arqueológicos rupestres no estado do Tocantins

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ARKEOS - perspectivas em diálogo 28

Ariana Silva BragaMapeamento dos sítios arqueológicos rupestres

no estado do Tocantins

Introdução

Arqueologias atravessando o Atlântico, Luiz Oosterbeek

Constituição da Rede Iberoamericana de Arqueologia

Afiladores y artefactos pulidos, Carlos Rodriguez

Contributo para o estudo das indústrias macrolíticas holocénicas do Valedo Tejo: A estação arqueológica do Monte Pedregoso, Vila Nova daBarquinha, Portugal, Ana Catarina Ferreira

Breve síntese do estudo do registo sedimentar associado a contextos ar-queológicos do Alto Ribatejo, Hugo Gomes, Pierluigi Rosina, SaraCura, Luiz Oosterbeek

El arte rupestre de Guatemala: Un panorama general, Lucrecia de Batres

Revisión del sitio de Arte Rupestre Pampa Calata: nuevos reportes,Daniel Castillo Benites

Las pinturas rupestres de Cueva Pintada (Sierra de San Francisco BC,México), Ramón Viñas

Sítio do Dezenove, Itaberaba – Bahia, Brasil: QuestionamentosIniciais sobre a Possível Afiliação da Arte Rupestre Local aos GruposHorticultores Regionais, Cláudia Cunha

Mapeamento dos sítios arqueológicos rupestres no estado do Tocantins,Ariana Silva Braga

A problemática do uso dos moldes de látex no estudo da arte rupestredo Vale do Tejo, Sara Garcês, Mila Simões de Abreu, FernandoCoimbra, Luiz Oosterbeek

Arqueologia y Sociedades Complejas e Arqueologia Historica, LourdesS. Dominguez

Cambios medioambientales y procesos de poblamiento de lospoblamiento de los primeros habitantes en la sabana de Bogotá –Colombia, Diana Lorena Rodriguez Gallo

Megaliths of the SouthWest Iberian Peninsula: Contribution to aReview of the Chronologies, Viola Campanini

As Terras altas do Sul do Brasil e o Litoral de Santa Catarina, aarqueologia dos mortos e evidencias de hierarquia social,Marco Aurélio Nadal De Masi

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Cerámica decorada de la Costa Sur de Guatemala y su contexto -Periodo Clásico Tardío, Erika Gómez

Problemática en el Patrimonio Cultural de Guatemala con énfasis sobrelas sociedades complejas, Elsa Damaris

Armações baleeiras, engenhos, embarcações, igrejas, cemitérios,residências, fortalezas, e alfândegas: A Arqueologia Histórica emFlorianópolis – SC, Brasil, Fernanda Codevilla, Rossano LopesBastos, Luiz Oosterbeek

Santo Antonio dos Pretos – uma reflexão sobre a dinâmica cultural dacomunidade quilombola, Cínthia dos Santos Moreira

Archeologia, cultura e gestione dei resti materiali: uno sforzo inutile?,Maurizio Quagliuolo

Rock Art Education: Perception through experiments, Rita Anastácio,Ana Cruz, Ana Graça

Patrimônio Arqueológico e pertencimento no Distrito Federal: um di-agnóstico do contexto, André Moura

Espaços de memória e cultura em Mação – Portugal e Pelotas – Brasil,Luiz Oosterbeek, Margarida Morais, Michel Constantino Figueira

O patrimônio cultural na comunidade de Enseada de Brito – Palhoça/SC: Estudo de caso, Daniela Sophiati

A temática do Patrimônio Cultural no Projeto Político Pedagógico:Um estudo de caso na Unidade Escolar Elzair Rodrigues de Oliveira,Marian Helenn Rodrigues

A segurança laboral na arqueologia portuguesa: vantagens de uma revi-são legislativa, Andreia Lopes

Gestão e Didáctica do Património Cultural: conceitos e conflitos, IvoOosterbeek, Sílvia Marques, Rui Carvalho

Documento Material: Entre a Arqueologia e a História, Marcos CésarSantos

Condutas éticas introduzidas pela arqueologia como contribuição aoséculo 21, Rossano Lopes Bastos

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Mapeamento dos sítios arqueológicosrupestres no estado do TocantinsARIANA SILVA BRAGAEstudante do Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre (InstitutoPolitécnico de Tomar e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).

ABSTRACT: This paper addresses the mapping of rock art in the state of Tocantins Brazil,aiming to divulge the theme in a global scale.

KEY-WORDS: Rock Art, Mapping and Tocantins.

RESUMO: Este trabalho tratará do mapeamento rupestre no estado do Tocantins Brasil,com o objetivo de divulgar globalmente o tema na região delimitada.

PALAVRAS-CHAVE: Arte rupestre, Mapeamento, Tocantins.

Introdução

O presente artigo trata do resultado da pesquisa arqueológica de inicia-ção científica1 realizada durante a graduação em História2 com as atividadesparalelas de estágio no Núcleo Tocantinense de Arqueologia (NUTA).

Esta pesquisa foi estruturada em três saídas de campo sendo cadauma de cinco dias, a primeira na região norte do estado do Tocantinspara captação de informações e decalcagem da região dos municípios deFiladélfia e Babaçulândia. A segunda saída a campo foi na região sudestedo Tocantins no município de Taguatinga com a mesma finalidade. Já aterceira saída de campo também fora para o município de Taguatinga,entretanto, para prática de escavação de sítio arqueológico lito-cerâmico.

O artigo tratará do mapeamento dos sítios arqueológicos com arterupestre encontrados no território tocantinense buscando estudar com-parativamente e quantitativamente as técnicas de produção da arte ru-pestres no Tocantins.

Arte Rupestre no Tocantins

Os estudos rupestres no Tocantins começaram por volta de 1984quando uma equipe do Instituto Anchietano de Pesquisas coordenadospor Schmitz se dirigiu a região até a região, que no momento fazia partedo território goiano, registraram as informações a respeito das inscriçõesrupestres que encontraram em: Arte Rupestre no Centro do Brasil: Pin-turas e gravuras da pré-história de Goiás e oeste da Bahia. Este livro trazinformações de um abrigo com gravuras rupestres seguidas de pinturano município de Monte do Carmo e ainda cita superficialmente a pre-sença de um sítio nas imediações de Porto Nacional, na beira do Tocan-tins. O abrigo do município de Monte do Carmo descrito nesta obra

1 Obtive durante agraduação três bolsasde iniciação científicasendo a primeira e asegunda pelo ProgramaSALTFESN financiadapela VALEC e aterceira bolsa peloProgramaSALTOVIA- BR 242,financiado peloCNPq/ PIBIC.2 Universidade Federaldo Tocantins (UFT).

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apresenta-se com uma complexa ocupação humana que os autores su-põem ter sido “ocupado de 4.000 anos, provavelmente, até a poucosséculos atrás. O abrigo era usado para sepultamento dos mortos. Nocomeço e no fim eles eram deitados de costas, estendidas, em covasrasas, muitas vezes cobertas com pedras. No período do meio traziampara ali os restos descarnados de mortos que antes teriam sido sepultadosem outro lugar; os ossos aparecem ora incompletos e dispersos, ora ar-rumados em pequenos pacotes, como se tivessem sido ordenados eamarrados para transporte (...). Cobrindo a parede do abrigo, agrupadasfrouxamente em quatro painéis, encontram-se pequenas gravuras sim-ples, produzidas por raspagem e preenchidas com pigmentos de váriascores, que vão do vermelho ao preto. (...) São sulcos paralelos ou cruza-dos de várias maneiras, algumas delas lembrando pisadas de aves ou sím-bolos femininos.” (SCHMITZ et al, 1984, p. 24).

Após os estudos realizados em 1984, somente em 2003 é publicadoum novo estudo com foco em arte rupestre no Tocantins, Julia Berraem sua dissertação de mestrado estuda o complexo rupestre da Serra doLajeado, onde foram “cadastrados 33 sítios de arte rupestre dos quais 8são lajedos gravados nas águas do Rio Tocantins e um lajedo no vale doRio Lajeado. Os demais são abrigos pintados sendo que 3 não estãolocalizados na Serra do Lajeado mas em vales fluviais, um a 200 metrosdo rio Tocantins e os dois restantes próximos a córregos pertencentes àbacia do Rio Lajeado.” (BERRA, 2003, p. 1)

Destes trinta e três sítios Berra, focou os seus estudos em dezenovesítios rupestres que foram divididos em cinco núcleos.

O núcleo Água Fria, “se constitui em uma importante concentraçãode abrigos com arte rupestres situados ao longo de 9 km de numerososentalhes da Serra do Lajeado” (BERRA, 2003, p. 30) o núcleo é com-posto por sete sítios fortemente decorados por pinturas, os aspectoscrono-estilísticos revelaram que os painéis não estão “excessivamenteocupados e as sobreposições não são numerosas.” (BERRA, 2003, p.120). A cor de maior preferência na produção das inscrições deste nú-cleo foi o vermelho com várias tonalidades, os pigmentos como o pre-to, o branco e o amarelo, foram utilizados porem em quantidade me-nor. O núcleo Lajeado foi dividido em quatro sítios, que se espalhamno vale do Rio Lajeado apresentando “uma coerência estilística em tor-no de uma técnica que privilegia a bicromia de amarelo e vermelho,contornos vazados e preenchimentos que articulam espaços vazios e de-corados.” (BERRA, 2003, p. 138) os motivos de maior preferência en-contrado no núcleo são os zoomorfos. No núcleo denominado Todosos Santos, encontra-se seis sítios “com forte apelo geometrizante emuma temática que, contrariamente ao Água Fria, se interessa por pássa-ros, homens e seres híbridos” (BERRA, 2003, p. 141).

Mutamba é um núcleo composto por somente um sítio, não muitodenso em pinturas, entretanto com “um caso de sobreposição que de-corre não da falta de espaço, mas talvez da busca em formar composi-ções com o preexistente” (BERRA, 2003, p. 141), este abrigo abarcarepresentações de cestas, o que nos proporciona presumir a confecçãode cestaria na região do Lajeado. Também foram encontrados possíveistipitis nas pinturas rupestres sendo outro indicativo destas atividades.

Assim como o Mutamba o Núcleo Foz é um único sítio, compostopor “pinturas monocrômicas” (BERRA, 2003, p. 142) com ausênciaabsoluta de bicromia, as pinturas apresentam-se chapadas com grandevariedade de motivos geométricos.

Conclui-se segundo Júlia Berra, que a arte rupestre na Serra do La-jeado, possui grande individualidade, entretanto se mostra semelhante ainscrições encontradas no Piauí e em Minas Gerais.

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Estes fatos nos revelam que no Tocantins há uma grande deficiêncianos estudos rupestres, não por inabilidade dos pesquisadores precede-ram as pesquisas, mas porque foram poucos e inconstantes. Observandoa expansão territorial tocantinense não há estudos abrangentes sobre atemática, tendo em vista esta deficiência, modestamente foi realizadoeste mapeamento com informações coletadas em levantamento biblio-gráfico agregados as informações obtidas durante os estudos referentesao tema nos projetos3 realizados pelo NUTA.

3 Os projetos até omomento queregistraram sítios cominscrições rupestresforam: SALTINS,SALTMISA,SALTFENS,SALTAREIAS ESALTOVIA BR –242.

Mapa deLocalização(MORAIS,et al 2009)

Mapeamento Rupestre do Estado do Tocantins

O mapeamento rupestre do Tocantins se deu a partir da observaçãoda quantidade de sítios rupestres que haviam no Estado e em contrapartida a ausência de informações condensadas. Então optamos por ela-borar um levantamento bibliográfico a respeito destes sítios, e em segui-da fomos buscar informações com relação à localização dos mesmos.Após o encontro destes dados utilizamos o software computacional de-nominado Track Maker para disposição das coordenadas que nos dis-ponibilizou a localização dos sítios no que foi nominado Mapa Rupestredo Tocantins.

Com este mapeamento observamos uma considerável variedade téc-nica na produção destes grafismos, indo da pintura à gravura e, ainda, aassociação das duas técnicas em um mesmo sítio. Entretanto, podemosobservar uma preferência maior das gravuras sobre as pinturas na regiãodo baixo Tocantins e o inverso das características técnicas no médio ealto Tocantins, dado que revela duas características distintas das inscri-ções rupestres na região trabalhada, que futuramente poderá respondermaiores perguntas a respeito da temática com a continuidade desta pes-quisa, e o aumento do interesse científico pela área pesquisada.

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Mapa Rupestredo Tocantins

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Conclusão

Os sítios rupestres no Tocantins apresentam-se em dois grandes pó-los, um ao norte do estado, onde prevalece a técnica da gravura e aocentro-sul do estado, com a preferência técnica das pinturas. As pinturasno quadro geral do Tocantins são aproximadamente 52% da preferênciatécnica, as gravuras representam 38% e a associação de técnicas de gra-vura e pintura são apenas 9% aproximadamente. Entretanto, se dividir-mos o Estado do Tocantins ao meio, tendo em vista a capital Palmaspara esta divisão, observamos 93% de gravuras ao norte da capital e 92%de pinturas na região sul partindo da capital. Dados que nos revelamuma grande distinção das técnicas de produção dos grafismos rupestrespor determinadas áreas.

O Tocantins é um cenário pré-histórico de significativa variedadecultural e significativa importância arqueológica, tendo em vista a di-versidade das técnicas elaboradas por estes povos para excussão da arterupestre e a variedade de motivos inscritos nas rochas para além da loca-lização do estado. Entretanto, em meio a riqueza arqueológica, o Tocan-tins necessita de ações educativas, pois os sítios rupestres estão sendoapagados diariamente pela ação de vândalos que os extinguem com maisintensidade que o tempo os guarda.

Bibliografia

BERRA, Júlia Cristina de Almeida (1994). A Arte Rupestre na Serra do Lajea-do, Tocantins. 2003. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) USP. São Paulo.DANTAS, José de Azevedo. Indícios de uma Civilização Antiguíssima. JoãoPessoa: A União.PESSIS, Anne M. (1989). Método de Análise das Representações Rupestres.Caderno de Pesquisa, Série antropológica II, n. 3. Teresina, UFPI, p. 13-37,1983.PROUS, André. Arte Rupestre Brasileira: Uma Tentativa de Classificação. In:Revista de Pré-História. São Paulo, USP, v. 7, p. 9-33.SCHIMITZ, Pedro Inácio et al. (1984). Arte Rupestre no Centro do Brasil:Pinturas e gravuras da pré-história de Goiás e oeste da Bahia. São Leopoldo,UNISINOS.MORAIS, Fernando; SOUZA, Lucas B.; PONTALTI, Alexandre L. e RO-CHA, Saulo da. (2009C). Caracterização geoespeleológica de duas grutas emarenito no município de Palmas-TO. In: Anais do XXX Congresso Brasileirode Espeleologia. Montes Claros, SBE.