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    Sonho que se sonha s

    sonho que se sonha s

    mas sonho que se sonha

    junto

    realidade

    .

    ...

    ...

    . . .

    * Da cano Preldio, Raul Seixas, 1973, d'aprs Yoko Ono.

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    Uma grande ressaca

    Viver neste planeta no to agradvel quanto poderia ser. bvio que alguma coisano deu certo na espaonave Terra, mas o qu? Talvez um equvoco fundamental quandoa natureza (ou quem quer que tenha sido) resolveu pr em prtica a idia "Ser Humano".Ora. Por que deveria esse animal andar sobre duas pernas e comear a pensar? Mas,enfim, quanto a isso no hmuita escolha - temos que aprender a lidar com esse erro danatureza, isto , ns mesmos. Erros existem para aprendermos com eles.

    Em tempos pr-histricos o negcio no parecia to mau. Durante o Paleoltico,cinqenta mil anos atrs, ramos muito poucos. Havia comida abundante (caa evegetais), e sobreviver exigia sum tempinho de trabalho com esforos modestos. Catarrazes, castanhas ou amoras (no esquecer cogumelos) e matar (ou melhor, pegar naarapuca) coelhos, cangurus, peixes, pssaros ou gamos levava duas a trs horas por dia.Repartamos a carne e os vegetais com os outros e passvamos o resto do tempodormindo, sonhando, tomando banho de mar e de cachoeira, fazendo amor ou contando

    histrias. Alguns de ns comearam a pintar as paredes das cavernas, a esculpir ossos etroncos, a inventar novas armadilhas e canes.

    Perambulvamos pelos campos em bandos de vinte e cinco, mais ou menos, com ummnimo de bagagem e pertences. Preferamos climas suaves, como o da frica, e nohavia civilizao para expulsar a gente em direo aos desertos, tundras e montanhas. 0Paleoltico deve ter sido mesmo um bom negcio, a se acreditar nos recentes achadosantropolgicos. por isso que ficamos nele por milhares de anos - um perodo longo efeliz, comparado com os dois sculos do atual pesadelo industrial.

    Aalgum comeou a brincar com plantas e sementes e inventou a agricultura. Pareciauma boa idia: no tnhamos mais que andar procurando vegetais. Mas a vida ficou maiscomplicada e trabalhosa. ramos obrigados a ficar no mesmo lugar por vrios meses, aguardar sementes para o plantio seguinte, a planejar e executar o trabalho nos campos . E

    ainda precisvamos defender as roas dos nossos primos nmades, caadores e coletoresque insistiam em que tudo pertencia a todo mundo.

    Comearam os conflitos entre fazendeiros, caadores e pastores. Foi preciso explicaraos outros que havamos trabalhado para acumular nossas provises, e eles nem tinhamuma palavra para trabalho.

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    0 planejamento, a reserva de comida, a defesa, as cercas, a necessidade de organizaoe autodisciplina abriram caminho para organismos sociais especializados como igrejas,

    comandos, exrcitos. Criamos religies com rituais de fertilidade para nos manterconvictos da nossa nova escolha de vida. A tentao de voltar liberdade de caadores ecoletores deve ter sido uma ameaa constante; e, fosse com patriarcado ou matriarcado,

    estvamos a caminho da instituio, famlia e propriedade. Com o crescimento das antigas civilizaes na Mesopotmia, ndia, China e Egito, oequilbrio entre os humanos e os recursos naturais estava definitivamente arruinado.Programou-se a o futuro enguio da espaonave. Organismos, centralizadoresdesenvolveram sua prpria dinmica; tornamo-nos vtimas da nossa criao. Em vez deduas horas por dia, trabalhvamos dez ou mais nos campos ou nas construes dosfaras e csares. Morramos nas guerras deles, ramos deportados como escravosquando eles resolviam, e quem tentasse voltar liberdade anterior era torturado,mutilado, morto.

    Com o incio da industrializao as coisas no melhoraram. Para esmagar as rebeliesna lavoura e a crescente independncia dos artesos nas cidades, introduziu-se o sistemade fbricas. Em vez de capatazes e chicotes, usavam mquinas. Elas comandavam nossoritmo de ao, punindo automaticamente com acidentes, mantendo-nos sob controle emvastos galpes. Mais uma vez progresso significava trabalho e mais trabalho, emcondies ainda mais assassinas. A sociedade inteira, em todo o planeta, estava voltadapara uma enorme Mquina do Trabalho. E essa Mquina do Trabalho era ao mesmotempo uma Mquina da Guerra para qualquer um - de dentro ou de fora - que ousasse seopor. A guerra se tornou industrial, como o trabalho; alis, paz e trabalho nunca foramcompatveis. No se pode aceitar a destruio pelo trabalho e evitar que a mesmamquina mate os outros; no se pode recusar a prpria liberdade sem ameaar aliberdade alheia. A Guerra se tornou to absoluta quanto o Trabalho.

    A nova Mquina do Trabalho criou grandes Iluses sobre um futuro melhor. Afinal, seo presente era to miservel, o futuro spodia ser melhor. Atmesmo as organizaesde trabalhadores se convenceram de que a industrializao estabeleceria bases para umasociedade mais livre, com mais tempo disponvel, mais prazeres. Utopistas, socialistas ecomunistas acreditaram na indstria. Marx pensou que com essa ajuda os humanos

    poderiam caar, fazer poesia, gozar a vida novamente. (Pra que tanta volta?) Lenin eStalin, Castro e Mao e todos os outros pediram Mais Sacrifcio para construir a novasociedade. Mas mesmo o socialismo no passava de um novo truque da Mquina doTrabalho, estendendo seu poder s reas onde o capital privado no chegaria. Mquinado Trabalho no importa ser manejada por multinacionais ou por burocracias de Estado,seu objetivo sempre o mesmo: roubar nosso tempo para produzir ao.

    A Mquina do Trabalho e da Guerra arruinou definitivamente nossa espaonave e seu

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    futuro natural: os mveis (selvas, bosques, lagos, mares) esto em farrapos; nossosamiguinhos (baleias, tartarugas, tigres, guias) foram exterminados ou ameaados; o ar(fumaa, chuva cida, resduos industriais) fedorento e perdeu todo o sentido deequilbrio; as reservas (combustveis fsseis, carvo, metais) vo se esgotando; e estempreparo (holocausto nuclear) a completa autodestruio. No somos capazes nem de

    alimentar todos os passageiros desta nave avariada. Ficamos to nervosos e irritveis queestamos prontos para os piores tipos de guerra: nacionalistas, raciais ou religiosas. Paramuitos de ns, o holocausto nuclear no mais uma ameaa, mas a bem-vinda libertaodo medo, do tdio, da opresso e da escravido.

    Trs mil anos de civilizao e duzentos de acelerado progresso industrial deixaram agente com uma enorme ressaca. A tal da economia se tornou um objetivo em si mesma,

    e estquase nos engolindo. Este hotel aterroriza seus hspedes. Mesmo a gente sendohspede e hoteleiro ao mesmo tempo.

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    A m

    quina planet

    ria do trabalho

    O nome do monstro que deixamos crescer e que mantm nosso planeta em suas garras: Mquina Planetria do Trabalho. Se queremos que a nossa espaonave volte a ser umlugar agradvel, temos que desmantelar essa Mquina, consertar os estragos e fazercertos acordos bsicos para um novo comeo. Ento, nossa primeira pergunta deve ser:como faz a Mquina Planetria do Trabalho para nos controlar? Como organizada?

    Quais so seus mecanismos e como podem ser destrudos? A Mquina planetria: come na frica, digere na sia e caga na Europa. planejadae regida por companhias internacionais, sistemas bancrios, circuitos de combustvel,produtos no-manufaturados e outros bens. Existem montes de iluses quanto a naes,Estados, blocos, Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Mundos mas estas so ssubdivises menores, partes da mesma maquinaria. Claro que diferentes engrenagensexercem presses, tenses e frices entre si. A Mquina feita de suas prpriascontradies: operrios/capital; capital privado/capital do Estado(capitalismo/socialismo); desenvolvimento/subdesenvolvimento; misria/desperdcio;

    guerra/paz; mulheres/homens, etc. A Mquina no uma estrutura homognea; ela usasuas contradies internas para expandir seu controle e sofisticar seus instrumentos.Diferente dos sistemas fascistas ou teocrticos, ou como no 1984 de Orwell, a Mquinado Trabalho permite um nvel "sadio" de resistncia, inquietao, provocao e revolta.Ela digere sindicatos, partidos radicais, movimentos de protesto, manifestaes emudanas democrticas de regime. Se a democracia no funciona, ela usa a ditadura. Sea sua legitimidade entra em crise, ela tem prises, tortura e campos de concentrao dereserva. Nenhuma dessas modalidades essencial para entender a funo da Mquina.

    O princpio que governa todas as atividades da Mquina a economia. Mas o que economia? uma troca impessoal e indireta de tempo de vida cristalizado. Vocgastaseu tempo para produzir uma pea que usada por algum que vocno conhece paramontar uma bugiganga que comprada por outro desconhecido para fins que vocignora. O circuito dessa sucata de vida regulado de acordo com o tempo de trabalhoque foi investido no material bruto, na sua manufatura e em voc. A medida o dinheiro.Os que produzem e trocam no tm controle sobre seu produto comum, ento podeacontecer que trabalhadores revoltados sejam mortos exatamente com os revlveres que

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    ajudaram a produzir. Cada pea de comrcio uma arma contra ns, cada supermercadoum arsenal, toda fbrica um campo de batalha. Este o mecanismo da Mquina doTrabalho: retalhar a sociedade em indivduos isolados, chantage-los separadamentecom salrios ou violncia, usar seu tempo de trabalho de acordo com os planos.Economia quer dizer: expanso do controle da Mquina sobre suas partes, tornando

    essas partes cada vez mais dependentes da prpria Mquina. Todos somos partes da Mquina Planetria do Trabalho ns somos a Mquina.Representamos a Mquina uns contra os outros. Desenvolvidos ou no, assalariados ouno, autnomos ou empregados, servimos proposta dela. Onde no h indstria,"produzimos" trabalhadores virtuais e exportamos para zonas industriais. A fricaproduziu escravos para as Amricas, a Turquia produz trabalhadores para a Alemanha, oPaquisto para o Kuwait, Ghana para a Nigria, o Marrocos para a Frana, o Mxicopara os Estados Unidos. reas virgens podem ser usadas como cenrio para os negciostursticos internacionais: ndios em suas reservas, polinsios, balis, aborgenes. Os que

    tentam sair da Mquina preenchem as funes de pitorescos marginais (hippies, yogues,etc.). Enquanto a Mquina existir, estaremos dentro dela. Ela destruiu ou mutilou quasetodas as sociedades tradicionais ou as levou a desmoralizantes situaes defensivas. Sevoctenta se retirar para um vale deserto e viver sossegadamente de uma agricultura desubsistncia, pode crer que vai ser encontrado por um coletor de impostos, umfuncionrio do planejamento ou um policial. Com seus tentculos, a Mquina podealcanar virtualmente todos os lugares deste planeta em questo de horas. Nem naspartes mais remotas do deserto de Gobi vocpode dar uma cagadinha sem ser notado.

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    Os trs elementos essenciais da

    m

    quina

    Examinando a Mquina mais de perto podemos distinguir trs funes essenciais, trscomponentes da fora de trabalho internacional e trs negcios que a Mquina nosoferece.

    As trs funes podem ser caracterizadas assim:informao: planejamento design, orientao, manejo, cincia, comunicao, poltica,produo de idias, ideologias, religies, arte, etc.; o crebro coletivo e sistemanervoso da Mquina.

    produo: criao industrial e agrcola de produtos, execuo de planos, trabalhofragmentado, circulao de energia.

    reproduo: produo e manuteno de trabalhadores tipo A, B e C atravs daproduo de crianas, educao, trabalhos domsticos, servios, entretenimento, sexo,

    recreao, cuidados mdicos, etc. Essas trs funes so igualmente essenciais para o funcionamento da Mquina. Seuma delas falha, mais cedo ou mais tarde a Mquina pra. E para realizar essas trsfunes a Mquina criou trs tipos de trabalhadores, divididos por seus nveis salariais,privilgios, educao, status social, etc.

    A Trabalhadores tcnico-intelectuais pra pases (ocidentais) industrialmenteavanados: muito qualificados, na maioria brancos, homens e bem pagos. Um bomexemplo: engenheiros de computao.

    B Trabalhadores industriais e empregados em reas no muito desindustrializadas,nos pases em desenvolvimento e pases socialistas: pouco ou muito mal pagos,homens ou mulheres, com amplas qualificaes. Por exemplo, montadores deautomveis, montadoras de aparelhos eletrnicos (mulheres).

    C Trabalhadores flutuantes, oscilando entre pequenos perodos de plantio e colheitanos campos, prestadores de servios, donas-de-casa, desempregados, criminosos,pivetes, todos sem rendimentos regulares. Na maioria mulheres e no-brancos dos

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    cortios metropolitanos ou do Terceiro Mundo, essas pessoas freqentemente vivemno limite da inanio.

    Todos estes tipos de trabalhadores esto presentes em todas as partes do mundo, sque em diferentes propores. Mas possvel distinguir trs zonas com uma proporotipicamente alta dos respectivos tipos:

    Trabalhadores A em pases (ocidentais) industrialmente adiantados, nos EstadosUnidos, Europa, Japo.

    Trabalhadores B em pases socialistas ou em vias de industrializao: UnioSovitica, Polnia, Taiwan, etc.

    Trabalhadores C no Terceiro Mundo, em reas agrcolas ou subdesenvolvidas, nafrica, sia e Amrica do Sul, e em chiqueiros urbanos do mundo inteiro.

    Os trs Mundos esto presentes em toda parte. Na cidade de Nova York existembairros que podem ser considerados parte do Terceiro Mundo. No Brasil existem

    importantes reas industriais. Em pases socialistas existem representantes perfeitos dotipo A. Mas ainda assim resta uma acentuada diferena entre os Estados Unidos e aBolvia, entre a Sucia e o Laos, e por aafora.

    O poder da Mquina, seu mecanismo de controle, baseado no estmulo luta entreos diferentes tipos de trabalhadores. Altos salrios e privilgios so garantidos noporque a Mquina prefira determinado tipo de trabalhador, mas porque a estratificaosocial usada para a manuteno do sistema como um todo. Os trs tipos detrabalhadores aprendem a ter medo uns dos outros. So divididos por preconceitos,

    racismo, cimes, ideologias polticas, interesses econmicos. Os trabalhadores A e Btm medo de perder seu alto padro de vida, seus carros, suas casas, seus empregos. Aomesmo tempo, eles se queixam constantemente de stress e ansiedade, e invejam os

    comparativamente ociosos Trabalhadores C. Estes, em troca, sonham com bens de

    consumo, empregos estveis e o que eles vem como uma vida fcil. E todas essasdivises so exploradas de vrios modos pela Mquina.

    A Mquina nem precisa mais de uma classe dominante especial para manter seupoder. Capitalistas privados, burgueses, aristocratas, todos os chefes so meros excessos,sem nenhuma influncia decisiva na execuo material do poder. A Mquina podeprosseguir sem capitalistas e proprietrios, a exemplo dos pases socialistas e dasempresas estatais do Ocidente. Esses relativamente raros tubares no so o problemareal. Os verdadeiros rgos opressores da Mquina so todos controlados pelos prpriostrabalhadores: guardas, soldados, burocratas. Somos sempre postos em confronto com

    metamorfoses convenientes da nossa prpria espcie.

    A Mquina Planetria do Trabalho um mecanismo que consiste de pessoas postasumas contra as outras; todos ns garantimos seu funcionamento. Ento, uma questo

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    urgente a seguinte: por que a gente topa? Por que a gente aceita viver um tipo de vidade que obviamente no gosta? Quais so as vantagens que nos fazem suportar o nossodescontentamento?

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    Trs negcios em crise

    As contradies que fazem a Mquina andar so tambm contradies internas paratodo trabalhador so as nossas contradies. claro que a Mquina sabe que a gente

    no gosta dessa vida, e que no adianta simplesmente oprimir nossos desejos. Se ela se baseasse somente em represso, a produtividade cairia e subiriam os custos desuperviso. Foi por isso que a escravido acabou. Na realidade, metade de ns aceita o negcio da Mquina e a outra metade estrevoltada contra ela.

    E a Mquina tem, sem dvida, algo a oferecer. A gente dparte das nossas vidas, masno tudo. Em troca, ela duma certa quantidade de produtos, mas no tanto quanto agente queria nem exatamente o que a gente queria. Todo tipo de trabalhador tem o seu

    prprio negcio, e todo trabalhador faz o seu pequeno extra, dependendo dasparticularidades do emprego e da situao especfica. Como todo mundo acha que est

    melhor do que algum (sempre tem algum que estpior), todo mundo se agarra ao seunegcio, desconfiando das mudanas. Assim a inrcia interior da Mquina a protegecontra reformas e revolues.

    A insatisfao e a disposio para mudar semergem se o negcio se mostrar muitodesigual. A crise atual, que visvel principalmente no plano econmico, se deve ao fatode que todos os negcios que a Mquina tem para oferecer se tornaram inaceitveis.Trabalhadores A, B e C tm protestado recentemente, cada um sua maneira, contra

    http://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/2.htm
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    seus respectivos negcios. No apenas os pobres, mas tambm os ricos estoinsatisfeitos. A Mquina est finalmente perdendo a perspectiva. O mecanismo dediviso interna e repulsa mtua estentrando em colapso. A repulsa estse voltandocontra a prpria Mquina.

    .

    Neg

    cio A: decep

    o na sociedade de

    consumo

    Em que consiste o Negcio A? Fils, bons estreos, surf, Chivas Regal, Tai-Chi,Europa, Nouvelle Cuisinne, cocana, esqui, discos exclusivos, Alfa Romeos. Seresta amelhor oferta da Mquina?

    Mas e aquelas manhs, indo para o trabalho? Aquela sbita sensao de angstia,desgosto, desespero? A gente tenta no encarar aquele estranho vazio, mas emmomentos desocupados entre o trabalho e o consumo, enquanto a gente espera, dparaentender que o tempo simplesmente no nosso. A Mquina tem medo desses

    momentos. Ns tambm. Por isso somos mantidos o tempo todo sob tenso, ocupados,olhando ladiante para alguma coisa. A esperana em si mesma nos conserva na linha.De manh pensamos na tarde, durante a semana sonhamos com o fim de semana,suportamos a vida de cada dia pensando nas frias que vamos tirar dela. Nesse sentidoestamos imunizados contra a realidade, entorpecidos quanto perda das nossas energias.

    No que o Negcio A tenha se tornado traioeiro (ou melhor, eficazmente traioeiro)porque a variedade ou quantidade de bens de consumo esteja faltando. A produo em

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    massa nivelou a qualidade desses bens, e a fascinao pelas novidades desapareceudefinitivamente. A carne ficou meio sem gosto, os vegetais crescem aguados, o leite foi

    transformado num simples lquido branco industrializado. A TV um tdio mortal,dirigir no dmais prazer, a vizinhana ou povoada, ruidosa e insegura, ou deserta einsegura. Ao mesmo tempo, as coisas realmente boas, como a natureza, tradies,

    relaes sociais, identidades culturais, ambientes urbanos intactos, so destrudas.Apesar do fluxo imenso de consumo, a qualidade de vida despenca. Nossa vida foipadronizada, racionalizada, despersonalizada. Eles descobrem e nos roubam cada

    segundo livre, cada metro quadrado vazio. E oferecem a alguns de ns frias rpidas emlugares exticos a milhares de quilmetros de distncia, mas no dia-a-dia nosso espaode manobra vai ficando menor, cada vez menor.

    Tambm para os Trabalhadores A, trabalho continua sendo trabalho: perda de energia,stress, tenso nervosa, lceras, ataques do corao, prazos, competio histrica,alcoolismo, hierarquia controladora e opressiva. No hbens de consumo que possam

    preencher os buracos gerados pelo trabalho. Passividade, isolamento, inrcia, vazio: issono se cura com aparelhos eletrnicos no apartamento, viagens frenticas, sesses derelaxamento e meditao, cursos de criatividade, trepadas rpidas, poder das pirmidesou drogas. O Negcio A veneno; sua vingana vem como depresso, cncer, alergias,vcios, problemas mentais e suicdio. Debaixo da maquiagem perfeita, atrs da fachadade sociedade afluente, sexistem novas formas de misria humana.

    Muitos desses "privilegiados" Trabalhadores A fogem para o campo, se refugiam em

    seitas, tentam iludir a Mquina com magia, hipnose, herona, religies orientais ououtras iluses de poder secreto. Tentam desesperadamente repor alguma estrutura, algumsentido em suas vidas. Mas cedo ou tarde a Mquina agarra seus fugitivos e transformaexatamente as formas de rebelio em um novo impulso para seu prpriodesenvolvimento. "Sentido" vira logo senso comercial.

    Naturalmente, o Negcio A no significa apenas misria. Os Trabalhadores A tm semdvida alguns privilgios inegveis. Seu grupo tem acesso a todos os bens, todas asinformaes, todos os planos e possibilidades criativas da Mquina. Os Trabalhadores Atm a chance de usar esse poder para eles mesmos, e atcontra os objetivos da Mquina.Mas se eles agem apenas como Trabalhadores A, sua rebelio sempre parcial e

    defensiva. A Mquina aprende rpido. Resistncia setorial sempre significa derrota.

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    Negcio B: frustrao no socialismo

    O Negcio B o clssico tringulo indstria-trabalhador-Estado. Os aspectos positivosdesse negcio (do ponto de vista dos trabalhadores) so empregos garantidos, rendagarantida, seguro social. Podemos chamar esse negcio de socialismo porque eleacontece em sua forma mais pura nos pases socialistas ou comunistas. Mas o Negcio Btambm existe em muitas verses diferentes em pases de capitalismo privado (Sucia,

    Inglaterra, Frana e atmesmo Estados Unidos). No centro do Negcio B est o Estado. Comparada com a ditadura annima domercado e do dinheiro, a centralizao do Estado aparentemente oferece mais seguranapara ns. Parece representar a sociedade (isto , ns) e os interesses comuns, e atravsdessa mediao muitos Trabalhadores B consideram-se seus prprios patres. Uma vezque o Estado assume funes essenciais em toda parte (penses, servios de sade,seguro social, polcia), ele parece ser indispensvel, e qualquer ataque contra ele soacomo suicdio. Mas o Estado somente uma outra face da Mquina, no a sua abolio.Assim como o mercado, ele constri seu anonimato atravs de massificao eisolamento, mas nesse caso so o Partido (ou os partidos), a burocracia, o aparatoadministrativo, que preenchem a vaga. (Nesse contexto, no estamos falando sobredemocracia ou ditadura. Um Estado socialista poderia, de fato, ser perfeitamente

    democrtico. No hnenhuma razo intrnseca para que o socialismo, mesmo na UnioSovitica, no venha a se tornar democrtico um dia. Entretanto, a formao do Estadoem si mesma sempre significa ditadura; tudo depende do quo democraticamente suaorganizao seja legitimada.)

    Encaramos o Estado ("nosso" estado) como indivduos sem poder providos de"garantias" que so sfolhas de papel e no estabelecem nenhuma forma de controlesocial direto. Estamos ss, e nossa dependncia da burocracia-de-estado s umaexpresso da nossa fraqueza real. Em perodos de crise, alguns bons amigos so muitomais importantes que os nossos cartes de seguro social ou a nossa caderneta depoupana. O Estado significa falsa segurana.

    Nos pases socialistas, onde o Negcio B existe em sua forma mais pura, permanece omesmo sistema de coao via salrios e via trabalho que existe no Ocidente. Todosns continuamos trabalhando para os mesmos objetivos econmicos. Algo como um

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    estilo de vida socialista, pelo qual pode fazer sentido aceitar alguns sacrifcios, ainda noemergiu por a; nada parecido com isso estnem mesmo planejado. Os pases socialistasainda usam os mesmos sistemas de motivao dos ocidentais: sociedade industrialmoderna, sociedade de consumo ocidentalizada, carros, aparelhos de TV, apartamentos

    individuais, famlias nucleares, chals de vero, discos, Coca-Cola, jeans sofisticados,

    etc. Como o nvel de produtividade desses pases permanece relativamente baixo, essesobjetivos sso atingidos parcialmente. O Negcio B particularmente frustrante, jque prope sonhos de consumo que estlonge de poder realizar.

    Mas claro que socialismo no quer dizer somente frustrao. Tem vantagens reais.Sua produtividade baixa porque os trabalhadores exercem um nvel relativamente altode controle sobre o ritmo de trabalho, as condies e o padro de qualidade. Jque nohrisco de desemprego e a demisso difcil, os Trabalhadores B vo levando a coisacom uma certa facilidade. As fbricas so superlotadas, todo dia acontece algumasabotagem, so comuns as faltas para ir s compras, o alcoolismo, o mercado negro e

    outros negcios ilegais. Os trabalhadores do Negcio B tambm so oficialmenteestimulados a irem mais devagar, jque no hbens de consumo em profuso, logo nohpor que trabalhar duro. Assim o crculo da baixa produtividade se fecha. A misriadesse sistema visvel numa profunda desmoralizao, numa mistura de alcoolismo comtdio, feudos familiares e carreirismo puxa-saquista.

    Como os pases socialistas se tornam cada vez mais integrados no mercado mundial, abaixa produtividade leva a conseqncias catastrficas; pases do Negcio B sconseguem vender seus produtos por preos abaixo do mercado, e assim osTrabalhadores B acabam sendo explorados em colnias industriais de salrios nfimos.Seus poucos produtos valiosos vo direto para o Ocidente; sua contnua falta no prpriopas uma razo adicional para a raiva e a frustrao dos Trabalhadores B.

    Os recentes acontecimentos na Polnia mostraram que mais e mais Trabalhadores Besto recusando o negcio socialista. Compreensivelmente, existem grandes ilusessobre a sociedade de consumo e sobre a possibilidade de conquist-la atravs daeconomia de Estado. (Lech Walesa, por exemplo, ficou fascinado pelo modelo japons.)Muita gente, nos pases socialistas (por exemplo, Alemanha Oriental), comeou aperceber que uma sociedade de consumo de alta produtividade sum outro tipo de

    misria, e no escapatria. Tanto as iluses ocidentais quanto as socialistas esto beirado colapso. A escolha verdadeira no entre capitalismo e socialismo ambas asalternativas so oferecidas pela nica e mesma Mquina. Seria necessria uma novasolidariedade, no para construir uma sociedade industrial melhor e chegar afluentefamlia consumista universal-socialista, mas para estabelecer relaes diretas de trocasmateriais entre fazendeiros e habitantes das cidades, para ficar livres da grande indstriae do Estado. Os Trabalhadores B, sozinhos, no conseguiro isso.

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    Negcio C: desenvolvimento da misria

    Antes da Mquina do Trabalho industrial colonizar o atual Terceiro Mundo, existiapobreza. Pobreza: quer dizer que as pessoas possuam poucos bens materiais e notinham dinheiro, embora tivessem ainda o suficiente para comer e todo o resto

    necessrio quela forma de vida. O Poder, originalmente, era software. No eradeterminado por coisas e quantidades, mas por formas: mitos, festivais, contos de fadas,

    maneiras, erotismo, linguagem, msica, dana, teatro, etc. (Tambm evidente que amaneira como os prazeres materiais so percebidos determinada por concepes etradies culturais.) A Mquina do Trabalho destruiu a maioria dos aspectos de poderdessa pobreza, e deixou misria em seu lugar.

    Quando a economia do dinheiro atinge a pobreza, o resultado o desenvolvimento damisria, ou talvez s desenvolvimento. O desenvolvimento pode ser colonialista,independente (manejado por elites nativas ou burocracias), socialista (capitalismo

    estatal), capitalista privado, ou uma mistura de todos. O resultado, entretanto, sempre omesmo: esgotamento das fontes locais de comida (monoculturas em vez de agricultura

    de subsistncia), chantagem no mercado mundial (condies comerciais, falhas deprodutividade, emprstimos), explorao, represso, guerras civis entre panelinhasdominantes, ditaduras militares, interveno dos superpoderes, dependncia, tortura,massacres, deportao, desaparecimentos, fome.

    O elemento central do Negcio C a violncia direta. A Mquina do Trabalhodesdobra seus mecanismos de controle abertamente e sem inibies. As panelinhasdominantes tm a tarefa de construir Estados centralizados que funcionem, e por essarazo todas as tendncias ou movimentos tribais, tradicionalistas, autonomistas,revisionistas e reacionrios devem ser esmagados. Os limites territoriais freqentementeabsurdos que eles herdaram dos poderes coloniais tm que ser transformados em Estadosnacionais modernos. A Mquina Planetria do Trabalho no pode fazer nada sem partesbem definidas, normalizadas e estabilizadas. Esse o sentido dos "ajustamentos" atuaisno Terceiro Mundo, e para esse objetivo milhes devem morrer ou ser deportados.

    A independncia nacional no trouxe o fim da misria e da explorao. Apenas ajustouo velho sistema colonial s novas exigncias da Mquina do Trabalho. O colonialismono era eficiente o bastante. A Mquina precisava de mscaras nacionais, promessas de

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    progresso e modernizao para obter o consentimento temporrio dos Trabalhadores C.A despeito da boa vontade subjetiva de muitas elites (por exemplo Nkrumah, Nyerere,

    etc.), o desenvolvimento apenas preparou terreno para um novo ataque da Mquina doTrabalho, desmoralizando e desiludindo as Massas C.

    Para os Trabalhadores C, a famlia estno centro do negcio, eventualmente o cl, avila ou a tribo. Trabalhadores C no podem contar com a economia do dinheiro, jque otrabalho assalariado raro e mal pago. O Estado no capaz de dar qualquer garantiasocial. Ento a famlia a nica forma de conseguir um mnimo de segurana social.Porm, a prpria famlia tem um carter ambguo: dsegurana entre os altos e baixos,mas ao mesmo tempo tambm outro instrumento de represso e dependncia. Isso verdadeiro para os Trabalhadores C do mundo inteiro, mesmo em pases industrializados(especialmente para as mulheres). A Mquina do Trabalho destri tradies familiares, eao mesmo tempo as explora. A famlia exerce um monte de trabalho gratuito(especialmente as mulheres); a famlia produz mo-de-obra barata para empregos

    instveis. A famlia o local de trabalho do Trabalho C.

    Os Trabalhadores C dos pases em desenvolvimento se encontram numa situaoirritante: so instados a abandonar o velho (famlia, aldeia), mas o novo ainda no lhespode dar meios suficientes de sobrevivncia. Ento a gente vem para as cidades e temque viver em cortios. Ouvimos falar em novidades de consumo, mas no conseguimosganhar o bastante para comprar. Simultaneamente nossas aldeias e lavouras decaem, e se

    tornam manipuladas, corrompidas e usadas pela casta dominante. Pelo menos o NegcioC tem a vantagem de uma relativa folga no cotidiano, e poucas responsabilidades novas;

    no estamos amarrados a empregos ou ao Estado, no somos chantageados comgarantias a longo prazo (penses, etc.), podemos aproveitar as oportunidades a qualquerhora. Nesse sentido, ainda temos algumas das liberdades que sobraram dos velhos

    caadores/coletores. As mudanas ficam mais fceis, e a possibilidade de voltar paracasa na aldeia (ou no que sobrou dela) uma segurana real que os trabalhadores A e Bno tm. Essa liberdade bsica ao mesmo tempo um peso, jque cada dia traz umdesafio inteiramente novo, a vida nunca estsegura, a comida incerta, os riscos sosempre altos. Quadrilhas de bandidos, panelinhas polticas, oportunistas exploram essasituao e recrutam facilmente pivetes, traficantes e outros marginais.

    Apesar da interminvel propaganda comercial e desenvolvimentista, mais e maisTrabalhadores C esto percebendo que a proposta da sociedade de consumo vai sersempre uma fada morgana, na melhor hiptese uma recompensa spara os melhores dezpor cento dos que prestam servios Mquina. Os modelos capitalista e socialistafalharam, e a aldeia jno uma alternativa prtica. Jque sexiste essa escolha entrediferentes estilos de misria, no resta sada para os Trabalhadores C. Por outro lado,eles tm as melhores chances de uma nova vida baseada na auto-suficincia, jque asestruturas industriais e estatais esto se tornando muito fracas, e muitos problemas

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    (como energia, habitao e a t comida) so obviamente mais fceis de resolverlocalmente do que em reas metropolitanas. Mas se os Trabalhadores C, como umaclasse, resolverem voltar s suas aldeias antes que a Mquina Planetria do Trabalhotenha sido desmantelada tambm nos outros lugares, vo ser duplamente enganados. Asoluo global, ou no funciona.

    .

    O fim da Realpolitik

    Misria no Terceiro Mundo, frustrao nos pases socialistas, decepo no Ocidente:as principais dinmicas da Mquina esto reciprocamente descontentes e na base de dosmales, o menor. O que podemos fazer? Polticos reformistas propem remendar aMquina, tentando torn-la mais humana e agradvel atravs de seus prpriosmecanismos. O realismo poltico nos diz para avanar passo a passo. Assim, supe-seque a atual revoluo microeletrnica possa nos fornecer meios para reformas. A misriadeve ser transformada em mobilizao, a frustrao em ativismo, e o desapontamentopode ser a base de uma mudana de conscincia. Algumas das propostas reformistassoam muito bem: semana de vinte horas de trabalho, distribuio igualitria de trabalhopara todos, salrio mnimo garantido ou imposto de renda negativo, eliminao dodesemprego, uso do tempo livre em atividades autnomas nas cidades ou arredores,autoajuda mtua, autogesto descentralizada em empresas e bairros, a criao de umsetor autnomo com microempresas de baixa produtividade, investimento emtecnologias mdias e leves (tambm para o Terceiro Mundo), a reduo do trficoprivado, a preservao das energias no-renovveis, nada de energia nuclear,investimento na energia solar, sistemas de transporte coletivo, menos protena animal nasnossas dietas, mais auto-suficincia para o Terceiro Mundo, reciclagem de matrias-

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    primas, desarmamento global, etc. Essas propostas so razoveis, at realizveis, ecertamente no extravagantes. Elas formam mais ou menos o programa oficial ou secretodos movimentos alternativo-socialistas-verde-pacifistas da Europa ocidental, dos

    Estados Unidos e outros pases. Se a maioria dessas propostas fosse realizada, a Mquinado Trabalho seria bem mais suportvel. Mas mesmo esses programas radicais de reforma

    so apenas um novo ajustamento Mquina e no o seu fim. Enquanto a prpriaMquina (o setor duro, heteronmico) existir, autogesto e autonomia servem apenascomo um tipo de rea de recreio para o descanso de trabalhadores esgotados. E quempode garantir que voc no vai ficar to arrasado numa semana de vinte horas detrabalho quanto numa de quarenta? Enquanto esse monstro no for para o espao, vaicontinuar nos devorando.

    Tem mais, o sistema poltico feito para bloquear propostas assim, ou converterreformas em um novo impulso para desenvolver ainda mais a Mquina. A melhorilustrao para esse fato so a poltica eleitoral e os partidos reformistas. Assim que a

    esquerda sobe ao poder (duma olhada na Frana, na Grcia, na Espanha, na Bolvia,etc.), fica entalada na selva de realidades e necessidades econmicas e no tem escolhaseno reforar precisamente os programas de austeridade que combateu quando a direitadominava. Em vez de Giscard, Miterrand quem manda a polcia contra os grevistas.Em vez de Reagan Mondale que faz campanha contra os dficits oramentrios. Ossocialistas sempre gostaram de uma boa polcia. A recuperao da economia (isto , aMquina do Trabalho) a base de toda poltica nacional; as reformas sempre tm queprovar que encorajam investimentos, criam empregos, aumentam a produtividade, etc.

    Quanto mais os novos movimentos entram na Realpolitik (como os Verdes na

    Alemanha), mais eles caem na lgica da economia saudvel, ou ento desaparecem.Alm de destruir iluses, aumentar a resignao e desenvolver uma apatia gera, a polticareformista no leva a nada. A Mquina do Trabalho planetria. Todas as suas partes sointerligadas. Qualquer poltica reformista nacional spiora a competio internacional,

    jogando os trabalhadores de um pas contra os do outro, aperfeioando o controle sobretodos.

    exatamente essa experincia com a Realpolitik e os reformistas que levou mais emais eleitores a manter polticos neoconservadores como Reagan, Thatcher e Kohl. Osrepresentantes mais cnicos da lgica econmica so preferidos em relao aosremendeiros de esquerda. A autoconfiana da Mquina est vacilante. Ningum maisousa acreditar plenamente em seu futuro, mas todo mundo se agarra a ela. O medo de

    experimentar superou a crena em promessas demaggicas. De qualquer modo, pra quereformar um sistema furado? Por que no tentar gozar os ltimos e poucos aspectospositivos dos velhos negcios pessoais ou nacionais com a Mquina? Por que no elegerpolticos positivos, confiantes e conservadores? Aqueles que no se metem a prometersolues para problemas como o desemprego, a fome, a poluio, as corridas

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    armamentistas nucleares. Eles no so eleitos para isso, mas para representar acontinuidade. Para a recuperao, basta um pouco de calma, estabilidade e retricapositiva: a segurana de embolsar lucros em cima dos investimentos atuais. Nessascondies, qualquer recuperao vai ser muito mais terrvel do que a crise. Ningum temque acreditar realmente em Reagan ou Kohl, deve apenas continuar sorrindo com eles,

    esquecendo preocupaes e dvidas. A Mquina do Trabalho, numa situao como esta,suporta dvidas muito mal, e com os regimes neoconservadores vocpelo menos podeficar sozinho ata prxima recuperao ou catstrofe. Alm de agitao, mau humor eremorso, a esquerda no tem nada mais a oferecer. A Realpolitik dificilmente ainda seriarealista, jque a realidade estagora em ponto de mutao.

    .

    Tudo ou nada

    A Mquina Planetria do Trabalho onipresente; no pode ser desativada porpolticos. Pronto. Sera Mquina nosso destino, atmorrermos de cncer ou de doenacardaca aos 65 ou 71? Tersido esta a Nossa Vida? A gente imaginou ela assim? Ser a resignao irnica nossa nica sada, escondendo de ns mesmos nossa decepo

    pelos poucos anos de correria que nos deixaram? Talvez esteja tudo bem, e ns queestamos dramatizando demais?

    No vamos nos iludir. Mesmo mobilizando todo o nosso esprito de sacrifcio, toda anossa coragem, no vamos conseguir nada. A Mquina perfeitamente equipada contrakamikazes polticos, como a Faco Exrcito Vermelho, as Brigadas Vermelhas, osMontoneros e outros jdemonstraram. Ela pode coexistir com a resistncia armada e attransformar essa energia num motor para sua prpria perfeio. Nossa atitude no umproblema moral, nem para ns e muito menos para a Mquina.

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    Quer a gente se mate, quer a gente se venda aos nossos negcios especiais, encontreuma abertura ou um refgio, ganhe na loteria ou jogue coquetis Molotov, junte-se aosSparts ou ao Bhagwan, cutuque os ouvidos, tenha acessos de raiva ou ataques de delrio:estamos acabados. Esta realidade no nos oferece nada. Oportunismo no compensa.Carreiras so maus riscos; causam cncer, lceras, psicoses, casamentos. Saltar fora

    significa auto-explorar-se nos guetos, mendigar nas esquinas de ruas imundas, esmagarpiolhos entre as pedras do jardim da comunidade. A lucidez se tornou cansativa. A

    estupidez chateia.

    Seria lgico perguntar a ns mesmos coisas assim: Como eu realmente gostaria deviver? Em que tipo de sociedade (ou no-sociedade) eu me sentiria mais confortvel? Oque realmente quero fazer comigo? Sem pensar no aspecto prtico, quais so meusverdadeiros desejos e expectativas? E vamos tentar imaginar tudo isso no num futuroremoto (os reformistas sempre gostam de falar sobre a prxima gerao), mas durante asnossas vidas, quando ainda estamos em boa forma, vamos dizer durante os prximos

    cinco anos...

    Sonhos, vises ideais, utopias, aspiraes, alternativas: no sero somente novasiluses a nos seduzir novamente para participarmos do esquema do "progresso"? No asconhecemos desde o neoltico, ou do sculo 17, da fico cientfica e da fantasia literriade hoje? Vamos sucumbir de novo ao charme da Histria? No o Futuro o primeiropensamento da Mquina? Serque a nica sada escolher entre o sonho da prpriaMquina e a recusa de qualquer atividade?

    Tem um tipo de desejo que, onde quer que surja, censurado cientfica moral e

    politicamente. A realidade dominante tenta aniquil-lo. Esse desejo o sonho de umasegunda realidade.

    Os reformistas nos dizem que mesquinho e egosta seguir apenas os prpriosdesejos. Precisamos lutar pelo futuro das nossas crianas. Precisamos renunciar aoprazer (aquele carro, frias, ar condicionado, TV) e trabalhar duro para que as crianastenham uma vida melhor. Essa uma lgica muito curiosa. No foram exatamente arenncia e o sacrifcio da gerao dos nossos pais, e seu trabalho duro nos anos 50 e 60,que trouxeram essa baguna em que a gente est hoje? Ns j somos essas crianas,aquelas para quem houve tanto trabalho e sofrimento. Por ns, nossos pais fizeram (ou

    morreram em) duas guerras mundiais, incontveis outras "menores", inumerveis crisese falncias grandes ou pequenas. Nossos pais construram bombas nucleares para ns.Dificilmente foram egostas: fizeram o que lhes disseram para fazer. Construram comrenncia e sacrifcio, e tudo isso apenas resultou em mais renncia, mais sacrifcio.Nossos pais, em seu tempo, superaram seu prprio egosmo, e acham problemticorespeitar o nosso.

    Outros moralistas polticos poderiam objetar que dificilmente estaramos autorizados a

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    sonhar com utopias enquanto milhes morrem de fome, outros so torturados,desaparecem, so deportados e massacrados. difcil fazer valer os direito humanosmais mnimos. Enquanto a criana mimada da sociedade de consumo faz listas dedesejos outras nem sabem escrever, ou no tem nem tempo para pensar em desejos.Mais, olhe um pouquinho em volta: conheceu algum morto por herona, alguns irmos

    ou irms em asilos, um suicdio ou dois na famlia? Qual das misrias mais grave? Dpara medir? Mesmo se no tivesse misria, seriam nossos desejos menos reais sporqueos outros esto piores, ou porque poderamos nos imaginar piores? precisamentequando a gente age spara prevenir o pior, ou porque outros esto pior, que a gente tornaessa misria possvel, permite que ela acontea. Nesse sentido somos sempre forados areagir s iniciativas da Mquina. H sempre um escndalo ultrajante, uma incrvelimpertinncia, uma provocao que no pode ser deixada sem resposta. E assim nossossetenta anos vo-se embora e os anos dos outros tambm. A Mquina no se importade nos manter ocupados com isso. uma boa maneira de evitar que fiquemos

    conscientes desses desejos imorais. Se comessemos a agir por conta prpria, asimhaveria problemas. Enquanto apenas (re)agirmos na base das diferenas morais, seremosto impotentes quanto rodas dentadas, simplesmente molculas explodindo na usina dodesenvolvimento. E como jestamos fracos, a Mquina acaba conseguindo mais poderpara nos explorar.

    Moralismo uma arma da Mquina, realismo outra. A Mquina criou nossarealidade atual, nos treinou para ver segundo ela v. Desde Descartes e Newton, elaprogramou nossos pensamentos, assim como a realidade. Estender deu padro sim/noao mundo inteiro e ao nosso esprito. Acreditamos nessa realidade, talvez por hbito.

    Mas enquanto aceitarmos a realidade da Mquina, seremos suas vtimas. A Mquina usasua cultura digital para pulverizar nossos sonhos, pressentimento e idias. Sonhos eutopias so esterilizados em novelas, filmes, msica comercial. Mas essa realidade estem crise; a cada dia hmais rachas, e a alternativa sim/no nada menos que a ameaaapocalptica. A realidade definitiva da Mquina sua auto destruio.

    Nossarealidade, a Segunda realidade, a dos velhos e novos sonhos, no pode ser presana trama do sim/no. Recusa ao mesmo tempo o apocalipse e o status quo. Apocalipseou evangelho, fim do mundo ou utopia, tudo ou nada: este o nico tipo de opo que arealidade atual oferece. Podemos escolher facilmente entre esta realidade e a Segunda

    realidade. Meias atitudes, tipo esperana, confiana ou pacincia, so ridculas eenganadoras, pura auto-seduo. No hesperana. Temos que escolherj.

    O Nada se tornou uma realstica possibilidade, mais absoluta do que os velhos niilistasousaram sonhar. Nesse aspecto, os mritos da Mquina precisam ser reconhecidos.Finalmente, chegamos ao Nada! No temos que sobreviver! O Nada se tornou umaalternativa realstica com sua prpria filosofia (Cioran, Schopenhauer, Budismo,Glucksmann), sua moda (preta, desconfortvel), msica, estilo de casa, pintura, etc.

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    Apocalpticos, niilistas, pessimistas e misantropos tm todos bons argumentos para suasatitudes. Afinal, se voctransforma a vida, a natureza ou a humanidade em valores, sexistem riscos totalitrios, biocracia ou ecofascismo. Voc sacrifica a liberdade parasobreviver; novas ideologias de renncia emergem e contaminam todos os sonhos edesejos. Os pessimistas so os nicos realmente libre, felizes e generosos. O mundo

    nunca sersuportvel de novo sem a possibilidade de sua autodestruio, assim como avida do indivduo um peso sem a possibilidade do suicdio. O Nada estade prova.

    Por outro lado, Tudo tambm muito sedutor. Claro que muito menos provvel doque o Nada, mal definido, parcamente pensado. ridculo, megalomanaco, pretensioso.

    NADATalvez esteja aspra tornar o Nada mais atraente.

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    bolo'bolo

    bolobolo parte da (minha) segunda realidade. estritamente subjetivo, j que arealidade dos sonhos nunca pode ser objetiva. Serbolobolo tudo ou nada? ambos enenhum. uma viagem Segunda realidade, como Yapfaz, Kwendolm, Takmas, e Ul-So. Ltem muito espao para sonhos. bolobolo uma dessas irrealsticas, amorais eegosticas manobras de divergncia na batalha contra o pior.

    bolobolo tambm uma modesta proposta para a nova arrumao da espaonave apso desaparecimento da Mquina. Embora tenha comeado como mera coleo de desejos,muitas consideraes quanto concretizao deles foram se acumulando em volta.bolobolo pode ser realizado no mundo inteiro em cinco anos, se comearmos agora.Garante uma aterrissagem macia na Segunda realidade. Ningum vai morrer mais cedonem passar mais fome e frio do que agora durante o perodo de transio. O risco muito pequeno.

    claro que hoje em dia no faltam conceitos gerais sobre um civilizao ps-industrial. Cresce rapidamente a literatura ecolgica ou alternativista, seja sobre aerupo da era de Aquarius, mudana de paradigmas, ecotopia, novas redes decomunicao, rizomas, estruturas descentralizadas, sociedades pacifistas, a novapobreza, crculos pequenos ou terceiras ondas. Conspiraes supostamente pacifistasesto acontecendo, e a nova sociedade jestnascendo em comunidades seitas, aespopulares, empresas alternativas, associaes de moradores. Em todas essas publicaese experincias hum monte de idias boas e viveis, prontas para serem apropriadas eincorporadas ao bolobolo. Mas muitos desses futuros (ou futurveis, como dizem os

    franceses: futuribles) so pouco apetitosos: cheiram a renncia, moralismo, novas lutas,repensares penosos, modstia e autolimitao. Claro que existem limites, mas por quelimitar o prazer e a aventura? Por que a maioria dos alternativos fala somente sobre

    novas responsabilidades e quase nunca sobre novas possibilidades?

    Um dos slogans dos alternativos : Pense globalmente, aja localmente. Por que nopensar e agir globalmente e localmente? Existem muitos conceitos e idias novos, masestfaltando uma proposta prtica global (e local), um tipo de linguagem em comum.

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    Tem que haver alguns acordos em questes bsicas para no cairmos na prximaarmadilha da Mquina. Nesse sentido, a modstia e a (acadmica) prudncia sovirtudes que podem nos desarmar. Por que sermos modestos diante da ameaa de umacatstrofe?

    bolobolo pode no ser a proposta melhor ou mais detalhada ou naturalmentedefinitiva para a nova arrumao da nossa espaonave. Mas no to ruim, e muitagente achou aceitvel. Sou a favor de tentar primeiro e ver o que acontece depois...

    .

    Substru o

    Caso quisssemos tentar bolobolo, a prxima questo seria: como fazer issoacontecer? No serapenas mais uma proposta Realpolitika? Na verdade, bolobolo nopode ser realizado com a poltica; houtro canal, uma srie de outros canais para chegarl.

    Se a gente negocia com a Mquina, o primeiro problema obviamente negativo: deque forma paralisar e eliminar o controle da Mquina (isto , a prpria Mquina) demodo que bolobolo possa se desenvolver sem ser destrudo logo de sada? Vamos

    chamar esse aspecto da nossa estratgia de desconstruo, ou subverso. A MquinaPlanetria do Trabalho tem que ser desmantelada cuidadosamente, porque noqueremos parecer com ela. No vamos nos esquecer de que somos partes da Mquina, deque ela a gente. Queremos destruir a Mquina, no a ns mesmos. S queremosdestruir nossas funes na Mquina. Subverso quer dizer mudar as relaes entre ns(os trs tipos de trabalhadores) e as que temos com a Mquina (que v todos ostrabalhadores como um sistema integrado). subverso mas no ataque (agresso), j

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    que ainda estamos todos dentro da Mquina e temos que bloque-la de l. A Mquinanunca vai se confrontar conosco como com um inimigo externo. Nunca vai haver frente

    de batalha, quartis, fileiras, uniformes.

    Subverso somente, entretanto, sempre dar em fracasso, embora com sua ajudapudssemos paralisar algum setor da Mquina, destruir alguma de suas capacidades;afinal, a Mquina sersempre capaz de reconquistar e dominar de novo. Por isso, todoespao obtido inicialmente pela subverso tem que ser preenchido por ns com algonovo construtivo. No podemos ter esperanas de primeiro eliminar a Mquina e depois numa zona vazia instalar bolobolo; estaramos sempre chegando tarde demais.Elementos provisrios de bolobolo, sementes de sua estrutura, devem ocupar todas asbrechinhas livres, reas abandonadas, bases conquistadas, e prefigurar os novosrelacionamentos. Construo deve combinar com subverso num s processo:substruo (ou "consverso", se vocpreferir). A construo nunca seria um pretextopara renunciar subverso. Subverso sozinha d somente em fogo de palha, dados

    histricos e heris, mas no deixa resultados concretos. Construo e subverso,isoladamente, so meras formas de acordo tcito ou colaborao escancarada com aMquina.

    .

    Dysco

    Lidando primeiro com a subverso, fica claro que todo tipo de trabalho, qualquer um

    que sirva Mquina em qualquer parte do mundo, tem seu potencial especfico parasubverter. Existem formas diferentes de danificar a Mquina, e nem todos dispem dasmesmas possibilidades. Um menu para a subverso planetria poderia ser mais ou menos assim:

    a) Dysinformao: sabotagem (de hardware ou programas), roubo de horas/mquina(para jogos ou assuntos particulares), desenhos ou planejamentos defeituosos,

    indiscries (exemplo: Ellsberg e o escndalo Watergate), deseres (cientistas, oficiais),

    http://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htmhttp://correcotia.com/bolobolo/10.htm
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    recusa de selees (por parte de professores), orientaes erradas, traies, desviosideolgicos, informaes falsas aos superiores, etc. Os efeitos podem ser imediatos ou alongo prazo segundos ou anos.

    b) Dysproduo: no participao, baixa qualidade, artesanato, sabotagem, greves,licenas mdicas, decises de grupo, demonstraes nas fbricas, mobilidade, ocupaes(por exemplo, os recentes confrontos dos trabalhadores poloneses). Os efeitos sogeralmente a mdio prazo semanas ou meses.

    c) Dysrupo: agitaes, bloqueio de ruas, aes violentas, fuga, divrcio, conflitosdomsticos, saques, tecnologia de guerra, armamentos, invases de terras, incndios (porexemplo So Paulo, Miami, Soweto, El Salvador). Os efeitos aqui so curtssimos horas ou dias.

    claro, todos esses atos tambm tm efeitos a longo prazo; estamos falando apenassobre seu impacto direto como forma de atividade. Qualquer um desses tipos de

    subverso pode danificar a Mquina, pode atmesmo paralis-la temporariamente. Mascada um deles pode ser neutralizado pelas duas outras formas seu impacto diferenteconforme o tempo e o espao. Dysinformao no adianta se no for usada na produoou circulao fsica de bens e servios; de outra forma, torna-se um simples jogointelectual e sdestri a si mesma. Greves sempre podem ser dispersadas se ningum,atravs de aes dysruptivas, impedir a interveno da polcia. A dysrupo cessarapidamente assim que a Mquina arranja suprimentos no setor de produo. A Mquinasabe que sempre haversubverso contra ela, e que o negcio entre ela e os diferentestipos de trabalhadores sempre vai ter que ser barganhado e batalhado de novo. Ela

    simplesmente tenta enfraquecer os ataques dos trs setores de modo que eles no possamapoiar um ao outro e multiplicar-se, tornando-se uma espcie de contramquina.Trabalhadores que acabam de vencer uma greve (dysproduo) ficam bravos comdemonstraes de desempregados que bloqueiam a rua impedindo o acesso fbrica atempo. Uma firma vai falncia e os trabalhadores se queixam dos diretores eengenheiros. Mas e se tiver sido um substrutivo engenheiro que fez de propsito um maudesenho, ou um diretor que queria sabotar a firma? Os trabalhadores ainda perdem seus

    empregos, participam de demonstraes de desempregados, finalmente se envolvem emagitaes e comcios... atque os trabalhadores-policiais cheguem e faam seu servio.

    A Mquina transforma os ataques isolados de diferentes setores em movimentos lentos,porque nada mais instrutivo do que as derrotas, nada mais perigoso do que longosperodos de calma (neste caso, a Mquina perde a capacidade de dizer o que estacontecendo dentro dos seus prprios rgos). A Mquina no pode existir sem um certonvel de doena e dysfuno. Lutas parciais se tornam o melhor meio de controle umaespcie de termmetro de febres suprindo-a de imaginao e dinamismo. Se fornecessrio, a Mquina pode at mesmo provocar ataques, s para testar seusinstrumentos de controle.

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    Dysinformao, dysproduo e dysrupo tm que se encontrar a nvel de massas afim de produzir uma situao crtica para a Mquina. Essa conjuntura mortal spoderiaacontecer pela superao das diferenas entre as trs funes e os trs tipos detrabalhadores. Deve emergir um tipo de comunicao que no seja adequado ao desenhoda Mquina: dyscomunicao. O nome do jogo final contra a Mquina , pois, ABC-

    dysco. Onde podem se desenvolver esses ns ABC-dysco? Dificilmente no local de trabalho,no supermercado, no lar, ou seja, onde os trabalhadores se encontram funcionando para

    a Mquina. Uma fbrica uma diviso organizada com preciso, e coisas tipo sindicatosapenas espelham essa diviso, no a superam. No trabalho, interesses diferentes soparticularmente acentuados: salrios, posies, hierarquias, privilgios, ttulos, tudo issoergue barreiras. Nas fbricas e escritrios os trabalhadores so isolados uns dos outros, onvel de rudo (fsico, semntico, cultural) alto, as tarefas so absorventes. ABC-dyscotambm no se daria melhor no centro econmico da Mquina.

    Mas existem reas da vida para a Mquina, as mais marginais que so propciaspara dysco. A Mquina no racionalizou e digitou tudo: freqentemente, na verdade, lheescapam as religies, experincias msticas, linguagens, culturas nativas, natureza,sexualidade, desejo, todos os tipos de melancolia, fixaes neurticas ou a pura fantasia.A vida como um todo ainda consegue escorregar do padro bsico da Mquina.Naturalmente, a Mquina est consciente h muito tempo da sua insuficincia nessasreas, e tentou encontrar funes econmicas para elas. A religio pode virar um bomnegcio, a natureza pode ser explorada por esportes e turismo, o amor ao lar podedegenerar em pretexto ideolgico para indstrias de armamentos, a sexualidade pode sercomercializada, etc. Basicamente, no h necessidade ou desejo que no possam sercomercializados, mas como mercadoria claro que eles ficam diminudos ou mutilados,e os verdadeiros desejos e necessidades se transportam para outra coisa. Certas

    necessidades so particularmente inadequadas para produo em massa: acima de todas,as experincias autnticas, pessoais. Aa mercantilizao se dapenas parcialmente, emais e mais pessoas se tornam conscientes do resto. O sucesso dos movimentos

    ambientais, dos movimentos pacifistas, dos movimentos tnicos ou regionalistas, decertas formas de nova religiosidade (igrejas progressistas ou pacifistas), das subculturas

    homossexuais, provavelmente se deve a essa insuficincia. Onde quer que sejamencontradas ou criadas identidades fora da lgica da Mquina, aexiste um nABC.Intelectuais, vendedores, homens e mulheres se encontram em manifestaes contra aguerra. Homossexuais se aproximam sem pensar em suas identidades profissionais.

    Navajos, bascos ou armnios lutam juntos; um tipo de novo nacionalismo ouregionalismo supera as barreiras de educao ou trabalho. A Madona Negra deCzestochowa contribuiu para unir igualmente fazendeiros, intelectuais e trabalhadores

    poloneses. No acidental que nos ltimos tempos os movimentos tenham ganho certa

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    fora graas a esse tipo de aliana. Seu poder substrutivo baseado na multiplicao dosencontros ABC possveis em suas estruturas. Uma das primeiras reaes da Mquinasempre foi jogar os elementos desses encontros uns contra os outros, restabelecendo o

    velho mecanismo de repulsa mtua.

    Os movimentos mencionados at aqui s produziram ABC-dyscos superficiais eefmeros. Na maioria dos casos, os diferentes tipos apenas se tocaram em poucasocasies e deslizaram rumo s divises cotidianas, como antes. Criaram mais mitologiasdo que realidades. Para existir por mais tempo e exercer influncia substancial, elesdeveriam tambm ser capazes de assumir tarefas cotidianas fora da Mquina, teriam queincluir tambm o lado construtivo da substruo. Precisariam organizar a ajuda mtua,sem intercmbio de dinheiro, no que se refere a servios e funes concretas devizinhana. Nesse contexto seriam antecipao dos bolos, dos acordos de permuta, desuprimentos alimentares independentes, etc. Ideologias (ou religies) no sosuficientemente fortes para superar barreiras como renda, educao, posio. Os tipos

    ABC deve comprometer-se no cotidiano. Certos nveis de auto-suficincia, deindependncia do Estado e da economia, devem ser atingidos para estabilizar essesdysco-ns. Voc no pode trabalhar quarenta horas por semana e ainda ter tempo eenergia para iniciativas de bairro. Os ns ABC no podem ser apenas decoraesculturais, tm que ser capazes de compensar ao menos uma pequena frao da entrada dedinheiro, para que se tenha algum tempo livre. Como esses ns ABC vo parecer, isso sse saber na prtica. Podem ser associaes de moradores, conspiraes alimentares,intercmbios entre artesos e fazendeiros, comunidades de rua, bases comunais, clubes,trocas de servios, cooperativas de energia, banhos comunitrios, transporte

    compartilhado, etc. Todos os tipos de pontos de encontro juntando os trs tipos detrabalhadores em torno de interesses comuns so possveis ABC-dyscos.

    A totalidade desses ns ABC desintegra a Mquina, produzindo novas conjunturassubversivas, alimentando toda sorte de movimentos invisveis. Diversidade,invisibilidade, flexibilidade, ausncia de nomes, bandeiras ou rtulos, recusa de orgulhoou honra, o cuidado de evitar comportamentos polticos e tentaes de"representatividade" podem proteger esses ns dos olhos e das mos da Mquina.Informaes, experincias e instrumentos prticos podem ser partilhados assim. Os nsABC-dysco podem ser laboratrios para novas, intrigantes e surpreendentes formas deao, podem usar todas as trs funes e respectivas dysfunes da Mquina. Mesmo ocrebro da Mquina no tem acesso a esse poder de informao, j que deve manterdividido o pensamento sobre si mesmo (o princpio da ciso entre responsabilidade ecompetncia). Os ns ABC-dysco no so um partido, nem mesmo um tipo demovimento, coalizo ou organizao abrangente; so apenas eles mesmos, o somatriode seus efeitos individuais. Podem se encontrar em eventuais movimentos de massa,

    testar sua fora e a reao da Mquina, e desaparecer de novo na vida cotidiana. Eles

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    combinam suas foras quando se encontram em tarefas prticas. No so um movimentoanti-Mquina, mas so o contedo e a base material para a destruio dela.

    Devido sua consciente no-organizao, os ns ABC so sempre capazes de criarsurpresas. A surpresa vital (j que ficamos em desvantagem bsica quandoenfrentamos a Mquina) para impedir uma recuperao rpida, pois sempre poderamosser chantageados pelas constantes ameaas de morte ou suicdio vindas da MquinaPlanetria. No se vai negar que a guerra poder ser necessria como meio de subversoem certas circunstncias (principalmente quando a Mquina jestocupada em matar).Quanto mais ns, tramas e tecidos ABC houver, mais os instintos de morte da Mquinasero despertados. Mas jseria parte da nossa derrota termos que encarar a Mquinacom herosmo, prontos para o sacrifcio. De alguma forma, vamos ter que aceitar achantagem da Mquina. Onde ela comece a matar, temos que bater em retirada. Nodevemos assust-la; ela tem que morrer quando menos espera. Soa derrotista, mas umadas lies que aprendemos no Chile, na Polnia, em Granada. Quando o nvel da luta

    envolve a polcia ou os militares, estamos a ponto de perder. Ou, se vencermos, serojustamente nossas partes policiais ou militares que tero vencido, no ns; e acabaremosnuma daquelas manjadas ditaduras "revolucionrias". Quando a Mquina comea amatar cruamente, obvio que nscometemos um erro. No podemos esquecer nunca deque ns tambm somos quem atira. Nunca estamos enfrentando o inimigo, ns somos oinimigo. Esse fato no tem nada a ver com as ideologias de no-violncia; as ideologiasmais violentas freqentemente evitam matar. Nem, entretanto, o caso de colocarmosflorzinhas nos botes dos uniformes, ou de sairmos do caminho para ser gentis com apolcia. Eles no se deixam iludir por simbolismos embusteiros, argumentos ou

    ideologias eles so como ns. Mais: talvez o guarda tenha alguns bons vizinhos, talvezo general seja gay, talvez o soldado da linha de tiro tenha ouvido a irmdele falar dealgum n-dysco-ABC. Quando houver dyscos suficientes, a segurana da Mquinaestarto furada quanto uma peneira. Teremos que ser cuidadosos, prticos, discretos.

    Quando a Mquina mata, que no existem dyscos ABC suficientes. Muitas partes deseu organismo ainda esto com boa sade, e ela esttentando se salvar com cirurgiapreventiva. A Mquina no vai morrer devido a ataques frontais, mas podermorrer decncer-ABC, tomando conscincia disso quando for tarde demais para operar. Estas soapenas as regras do jogo; os que no as respeitam fazem bem em sair (deixemos quesejam heris).

    Substruo como estratgia (geral) uma forma de meditao prtica. Pode serrepresentada pelo seguinte yantra, combinando substruo (o aspecto do movimento)com bolo (a futura comunidade bsica):

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    .

    Trico

    A Mquina do Trabalho tem um carter planetrio, portanto uma estratgiabolobolo de sucesso tem que ser planetria desde o comeo. Ns-dysco locais, regionais ou mesmo nacionais nunca sero suficientes para paralisar a Mquina comoum todo. Ocidente, Oriente e Sul precisam comear simultaneamente a subverter suas respectivas funes dentro da Mquina e criar novas e construtivas antecipaes. O que verdadeiro para os trs tipos de trabalhadores a nvel micro tambm verdadeiro para as trs partes do mundo em nvel macro. So necessrios ns-dysco-planetrios. Devehaver tricomunicao entre os ns-dysco: trico, o truque trico-planetrio. Trico dysco

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    entre ns ABC em cada uma das trs maiores partes do mundo: os pases industrializados do Ocidente, os pases socialistas, os pases subdesenvolvidos. Um n-trico o encontro de trs ns ABC locais a nvel internacional.

    Antecipaes dos bolos podem ser feitas fora dos governos, longe de organizaesinternacionais ou grupos de ajuda ao desenvolvimento. O contato deve funcionar

    diretamente entre vizinhos, durante atividades cotidianas de todos os tipos. Pode haver

    um trico entre a Praa de So Marcos, no East Village de Nova York, o no7 da Nordeste,em Gdansk, Polnia, e a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro; ou ento Zurich-Stauffacher, Novosibirsk Bloco A-23 e Fuma, Ilhas Fiji. Esses ns-trico podem terorigem em conhecimentos pessoais acidentais (viagens de turismo, etc.). Apodem sermultiplicados pela atividade de tricos jexistentes. O uso prtico do n-trico (e devehaver um) pode ser bem trivial no comeo: a troca de bens necessrios (remdios,discos, temperos, roupas, equipamentos), feita sem dinheiro, ou pelo menos to barataquanto possvel. bvio que as condies para a troca de bens esto longe de seremiguais entre as trs partes do mundo: num trico, o parceiro do Terceiro Mundo vaiprecisar de um monte de matria-prima para enfrentar a explorao do mercadomundial. Comunidades do Terceiro Mundo tambm vo precisar de muito material paraa construo de uma infra-estrutura bsica (torneiras, telefones, geradores). De todaforma, isso no significa que um trico seja apenas um tipo de ajuda ao desenvolvimento.Os parceiros estaro criando um projeto comum, o contato serpessoa-a-pessoa, a ajudaser adaptada a necessidades reais e baseada em relaes pessoais. Mesmo nessascondies, a troca no sernecessariamente unilateral. Trabalhadores A num n-dyscodaro um monte de bens de consumo (porque tm muitos), mas obtero muito mais embens culturais e espirituais; vo aprender sobre estilo de vida em lugares tradicionais,sobre ambientes naturais, sobre mitologia, outras formas de relaes humanas. Como jdissemos, mesmo os mais miserveis Negcios C oferecem algumas vantagens; em vezde ameaarmos nossos A-eus com as desvantagens dos outros negcios, vamos permutaros elementos que ainda so fortes e valiosos.

    Os ns-trico permitem aos ns-dysco-ABC desmascarar as iluses mtuas sobre seusnegcios e apoiar a cessao do jogo-de-dividir da Mquina. Dyscos ocidentais voaprender sobre o cotidiano socialista, livrando-se tanto dos vituprios anticomunistasquanto da propaganda socialista. Os parceiros do Oriente vo se descobrir desistindo desuas fantasias impossveis sobre o Ocidente Dourado, e ao mesmo tempo ficaro maisaptos a se imunizar contra a doutrinao oficial em seus prprios pases. Os dyscos doTerceiro Mundo vo se proteger das ideologias desenvolvimentistas, demagogiassocialistas e chantagem-via-misria. E isso no vai ser impingido como um processoeducativo, mas ser uma conseqncia natural da tricomunicao. Um n-dysco doOcidente pode ajudar o parceiro do bloco sovitico a conseguir seu estreo japons(necessidades so necessidades, at mesmo aquelas criadas pela estratgia de

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    propaganda da Mquina). No processo de trico-expanso, de trocas pessoais e decrescentes estruturas de bolobolo, os desejos autnticos vo acabar predominando.Danas e lendas do Daom sero mais interessantes que shows de TV, canesfolclricas da Rssia soaro melhor que os jingles da Pepsi, etc.

    A substruo de todo o planeta desde o comeo um pr-requisito para o sucesso daestratgia que leva a bolobolo. Se bolobolo fica sendo s o charme de um pas ouregio, estperdido; vai se tornar apenas mais um impulso para o desenvolvimento. Nabase da tricomunicao, essas relaes planetrias sero responsveis pela desintegraode naes-estados e blocos polticos. Como os ns-dysco, os ns-trico vo formar umarede substrutiva que paralisara Mquina do Trabalho. Dos tricos surgiro acordos detrocas (fenos), hospitalidade geral (sila), novas regies culturalmente definidas (sumi) eum ponto de encontro planetrio (asadala). A rede trico tambm terque trancar pordentro as mquinas de guerra dos pases independentes, provando assim ser o verdadeiromovimento de paz simplesmente porque seu interesse prioritrio no a paz, mas

    porque tm um bom projeto em comum.

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    Cronograma provis rio

    Se tudo correr bem, bolobolo pode estar realizado no fim de 1987. Ns mesmossomos responsveis pelos atrasos. O roteiro seguinte pode ser til para julgar nosso

    progresso:

    1984 - Panfletos de bolobolo, selos, posters e marcas esto espalhados pelo mundo nas

    principais lnguas. Ns-dysco-ABC se desenvolvem em muitas vizinhanas, cidades eregies, so feitos contratos de auto-suficincia. Surgem os primeiros trico-ns. Algunsdyscos se transformam em pioneiros bolos experimentais. Em alguns bairros pessoas

    estudam a utilidade prdios e espaos para os bolos, centros de troca e coisas assim, efazem outros planos provisrios. Mais e mais ruas so bloqueadas ao trnsito deautomveis. A Mquina poltica passa em toda parte por crises de legitimidade, e temproblemas para manter o controlo. rgos do Estado cumprem suas funes repressivasdesatentos e relaxados.

    1985 - Existem redes dysco e trico, cumprindo tarefas cada vez mais prticas e

    cotidianas: ajuda mtua para comida, ajuda planetria, a criao de relaes de trocaentre fazendeiros e dyscos rurais. Em algumas regies pequenas a Mquina perde suainfluncia e reas bolobolo independentes crescem despercebidas. Os aparatos doEstado sofrem ataques substrutivos.

    1986 - Regies maiores se tornam independentes, entre outras, no Oregon, Tadjiquisto,Saxnia, Gales, Sua, Austrlia, Gana, Bocaina, Gois, Nessas reas a agricultura modelada pela auto-suficincia, constroem-se estruturas de bolobolo, o intercmbioplanetrio se fortalece. At o fim do ano existe um mosaico planetrio de regies ecidades autnomas (vudo), bolos independentes, sucatas da Mquina, de Estadosamputados e de bases militares. Estouram desordens generalizadas. A Mquina tentaesmagar os bolos militarmente, mas as tropas se amotinam. Os dois Superpoderes

    desistem do seu joguinho de blocos e se unem na EERU (Estados Estveis e RepblicasUnidas). A EERU constri uma nova e descontaminada base industrial, Monomat, nasia interior.

    1987 - Os sistemas internacionais de transportes e comunicao entram em colapso.Duzentas regies autnomas promovem sua primeira conveno planetria (asadala)

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    em Beirute. Elas concordam em restabelecer o sistema de comunicaes em novas bases.A EERU fica limitada a Monomat, e o resto do mundo sai fora do seu controle. No

    outono haverauto-suficincia por toda parte e sistemas planetrios de ajuda mtua ememergncias. A fome e o Estado so abolidos. Ato final do ano os trabalhadores deMonomat desertam e escapam para a zona bolo. A EERU desaparece sem dissoluo

    formal e sem ter queimado a sua bandeira vermelha e branca com a estrela azul.1988 - bolobolo

    2345

    2346 - bolobolo perde sua fora medida que "os brancos" (um tipo de epidemiacultural) se espalham e substituem todos os outros tipos de bolos. bolobolo cai numa era

    de caos e contemplao.

    2764 - Incio de Yuvuo. Todos os registros da pr-histria (at2763) foram perdidos.Tawhuac pe outro disquete no drive.

    A edio original de bolobolo, sua, de 1983.

    ibu

    De fato, sexiste mesmo o ibu , e mais nada. Mas o ibu irresponsvel, paradoxal,perverso. Sexiste um nico ibu e ele se comporta como se fossem quatro bilhes ou

    mais. O ibu tambm sabe que inventou sozinho o mundo e a realidade, mas acredita firmemente que essas alucinaes so reais. Poderia Ter sonhado uma realidade agradvel, sem problemas, mas insistiu em imaginar um mundo miservel, embrutecido

    e contraditrio.

    Sonhou uma realidade na qual constantemente atormentado por conflitos,catstrofes, crises. Fica dividido entre o xtase e o tdio, o entusiasmo e a decepo, aserenidade e a euforia. Tem um corpo que requer 2.000 calorias por dia, que fica

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    cansado, resfriado, doente; e expele esse corpo a cada setenta anos, mais ou menos um

    monte de complicaes desnecessrias.

    O mundo externo do ibu tambm um pesadelo contnuo. Perigos enervantes omantm entre o herosmo e o medo. No entanto, ele poderia encerrar esse dramahorroroso suicidando-se e desaparecendo para sempre. Jque sexistem um nico ibu eo universo que ele criou para si mesmo, no tem que se preocupar com dependentes quesobrevivem, amigos chorosos, contas a pagar, etc. Sua morte seria completamente sem

    conseqncias. Natureza, humanidade, histria, espao, lgica, tudo desaparece com ele.A barra pesada do ibu completamente voluntria, e no entanto ele diz que no passa deuma pea do jogo. Para que mentir tanto assim?

    Aparentemente, o ibu estapaixonado por seu tortuoso pesadelo masoquista. Ele atprotegeu cientificamente esse pesadelo contra o nada: define o sonho como irreal, assim

    o pesadelo se torna o sonho da irrealidade de sonhar.

    O ibu se trancou na armadilha da realidade. Leis naturais, lgica, matemtica, fatos cientficos e responsabilidades sociais formamas paredes dessa armadilha. Enquanto o ibu insiste em sonhar sua prpria impotncia, opoder vem de instncias superiores s quais ele deve obedecer: Deus, Vida, Estado,Moral, Progresso, Bem-Estar, Futuro, Produtividade. Com base nessas pretenses eleinventa o sentido da vida, que, claro, nunca pode alcanar. Sente-se constantementeculpado, e se mantm numa tenso infeliz na qual esquece de si mesmo e de seu podersobre o mundo.

    Para se impedir de reconhecer a si mesmo e descobrir o carter onrico da suarealidade, o ibu inventou "outros". Imagina que esses seres artificiais so iguais a ele.Como num teatro do absurdo, mantm relaes com eles, amando ou odiando, atpedindo conselhos ou explanaes filosficas. Assim escapam de sua prpriaconscincia, delegando-a aos outros para se ver livre dela. Ele concretiza os outros ibusorganizando-os em instituies: casais, famlias, clubes, tribos, naes, humanidade.Inventa a sociedade para si mesmo, e a sujeita s suas regras. O pesadelo perfeito.

    O ibu sva si mesmo se houver brechas acidentais em seu mundo de sonho. Mas emvez de terminar essa perversa existncia ele tem pena de si, morre permanecendo vivo.

    Esse suicdio reprimido deslocado para fora, para a realidade, e volta para o ibu naforma de apocalipse coletivo (holocausto nuclear, catstrofe ecolgica). Fraco demaispara se matar, o ibu quer que a realidade faa isso por ele.

    O ibu gosta de ser torturado, ento imagina utopias maravilhosas, parasos, mundosharmnicos que, evidentemente, nunca podem ser alcanados. Sservem para fixar opesadelo, dando ao ibu esperanas natimortas e instigando-o a todos os tipos deiniciativas polticas e econmicas, agitaes, revolues e sacrifcios. O ibu sempre

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    morde a isca dos desejos e iluses. No compreende a razo. Esquece que todos osmundos, todas as realidades, todos os sonhos e sua prpria existncia so infinitamentechatos e cansativos, e que a nica soluo consiste em retirar-se imediatamente para oconfortvel nada.

    bolo

    O ibu ainda estpor a, recusando o nada, esperando por um pesadelo novo, melhor.Ainda est sozinho, mas acredita que pode superar sua solido atravs de alguns acordos com os outros quatro bilhes de ibus. Estaro lfora? Nunca se pode saber...

    Ento, junto com 300 a 500 ibus, ele forma um bolo. O bolo seu acordo bsico com

    outros ibus, um contexto direto, pessoal, para viver, produzir, morrer.2

    O bolo substitui o velho negcio chamado dinheiro. Dentro e em volta do bolo os ibus

    podem conseguir suas 2.000 calorias dirias, espao para viver, cuidados mdicos asbases da sobrevivncia. E muito mais ainda.

    O ibu nasce num bolo, passa sua infncia l, tratado quando fica doente, aprendecertas coisas, faz um coisinha ou outra, abraado e consolado quando esttriste, tomaconta de outros ibus, anda toa por a, desaparece. Nenhum ibu pode ser expulso de umbolo. Mas sempre livre para sair e voltar. O bolo o lar do ibu na nossa espaonave.

    O ibu no obrigado a juntar-se a um bolo. Ele pode ficar inteiramente s, formar

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    pequenos grupos, fechar acordos especiais com os bolos. Se a maioria dos ibus se une

    em bolos, a economia monetria morre e no volta nunca mais. A auto-suficincia quasecompleta do bolo garante sua independncia. Os bolos so o cerne de um forma nova,pessoal e direta de trocas sociais. Sem bolos, a economia monetria tem que voltar, e oibu estarsozinho de novo com seu trabalho, com seu dinheiro, dependendo de penses,

    do Estado, da polcia. A auto-suficincia do bolo se baseia em dois elementos: construes e equipamentospara morar e trabalhar (sibi), e um pedao de terra para produzir a maior parte de seusalimentos. A base agrcola pode consistir tambm de pastos, montanhas, reas de caa epesca, bosques de palmeiras, culturas de algas, reas de coleta, etc., conforme ascondies geogrficas. O bolo amplamente auto-suficiente no que se refere aosuprimento dirio de comida. Pode reparar e manter suas construes e ferramentassozinho. Para garantir a hospitalidade (sila), deve ser capaz de alimentar mais 30 a 50

    hspedes ou viajantes com sus prprios recursos.

    Auto-suficincia no necessariamente isolamento ou autolimitao. Os bolos podemfazer acordos e servios (verfeno). Essa cooperao bi ou multilateral, no planejadapor uma organizao central; inteiramente voluntria. O prprio bolo pode escolherseu grau de autarquia ou independncia, de acordo com sua identidade cultural (nima).

    O tamanho e o nmero de habitantes dos bolos podem ser a grosso modo idnticos emtodas as partes do mundo. Suas funes bsicas e obrigaes (sila) so as mesmas emqualquer lugar. Mas seu territrio, arquitetura, organizao, cultura e outras formas ouvalores (se que existem) podem ser mltiplos. Nenhum bolo igual ao outro, assim

    como dois ibus no so iguais. Cada ibu e cada bolo tm sua prpria identidade. Ebolobolo no um sistema, mas uma colcha de retalhos de microssistemas.

    bolos no tm que ser construdos em espaos vazios. Aproveitam as estruturas que jexistem. Em cidades maiores um bolo pode consistir de um ou dois prdios, de umbairro pequeno ou de um complexo de prdios vizinhos. Vocstem que construir arcosde ligao e passarelas, usando os andares trreos como espaos comunais, abrindopassagens em certas paredes, etc. Assim, uma tpica vizinhana antiga pode sertransformada num bolo como este:

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    Moradias maiores e mais altas podem ser usadas como bolos verticais. No campo, um

    bolo corresponde a uma pequena aldeia, a um grupo de casas de fazenda, a um vale

    povoado. Um bolo no precisa ser unificado arquitetonicamente. No Pacfico Sul umbolo uma ilha de coral, ou mesmo um grupo de atis menores. No deserto, o bolo podenem ter localizao precisa; ele a prpria rota dos nmades que o integram (talvez osmembros deste bolo sse encontrem todos uma ou duas vezes por ano). Em rios oulagos, bolos podem ser formados por barcos. Podem existir bolos em antigas fbricas,palcios, adegas, navios de guerra, monastrios, sob os terminais da ponte Rio-Niteri,em museus, zoolgicos, praias, campings, pavilhes, penitencirias, shopping centers,no Maracane no Maracanzinho, na Ilha Grande, no Ibirapuera. Os bolos vo construirseus ninhos em toda parte, e as nicas regras gerais so seu tamanho e suas funes.Algumas formas possveis de bolos:

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    sila

    Do ponto de vista do ibu, a funo do bolo assegurar sua sobrevivncia, tornar suavida desfrutvel, dar a ele um lar ou hospitalidade quando estiver viajando. O acordoentre o conjunto de bolos (bolobolo) e um ibu avulso chamado sila . Como o ibu no

    tem dinheiro (nem emprego!), nem obrigao alguma de viver num bolo, todos os

    bolos tm que garantir hospitalidade a qualquer ibu que chegar. Todo bolo virtualmente um hotel, qualquer ibu um virtual hspede no-pagante. (Somos todos hspedes deste planeta, de qualquer modo.)

    Dinheiro um acordo social cujo cumprimento forado via polcia, justia, prises,hospitais psiquitricos. No natural. Assim que essas instituies entram em colapsoou disfuno, o dinheiro perde o seu valor ningum consegue agarrar o ladro, e quem

    no rouba louco.4

    Como o acordo do dinheiro funciona mal, e estquase arruinando o planeta e seus

    habitantes, h interesse em substitu-lo por um novo arranjo, sila, as regras dahospitalidade.5

    sila oferec