boletim do kaos #2

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Pág.04 Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita MAIO/2009 SUA DOSE MENSAL DE (R) EVOLUÇÃO Lança livro no Itaú Cultural Pág.09 Ele fala sobre Cidade de Deus, quadrinhos e seu sucesso na França. É COM É COM É COM É COM É COMVOCÊS OCÊS OCÊS OCÊS OCÊS, ESCRI ESCRI ESCRI ESCRI ESCRITORES! ORES! ORES! ORES! ORES! A LITERATURA FICOU DE FORA DA PÁG.14 Herman Hesse LEI R LEI R LEI R LEI R LEI ROUANET? ANET? ANET? ANET? ANET? Continua a luta por uma editora pública! LIMA BARRETO à CIRIACO Pág.06 Pág.10 tudo de interresante antes que o mundo acabe! LANÇAMENTOS MÁRCIO BATISTA PÁG.08 PIVETIM SOCIEDADE DO CÓDIGO DE BARRAS PÁG. 09 ONG QUE REPRESENTA PÁG.10 A PONTE PÁG. 11 ELIANE BRUM GUIA PÁG. 12 MÚSICA TEXTO E BOLETIM PÁG. 14 PÁG.07 PÁG.15 PÁG.08 cult cult cult cult cultur ur ur ur urahiphop ahiphop ahiphop ahiphop ahiphop.uol.c .uol.c .uol.c .uol.c .uol.com.br/bolet om.br/bolet om.br/bolet om.br/bolet om.br/boletimdok imdok imdok imdok imdokaos aos aos aos aos AFR AFR AFR AFR AFRO-X O-X O-X O-X O-X Grandes nomes da Litera-Rua Foto: José Diniz

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Boletim do Kaos #2

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Page 1: Boletim do Kaos #2

Pág.04

Distribuição GratuitaDistribuição GratuitaDistribuição GratuitaDistribuição GratuitaDistribuição GratuitaMAIO/2009SUA DOSE MENSAL DE (R) EVOLUÇÃO

Lança livro noItaú Cultural

Pág.09

Ele fala sobreCidade de Deus,quadrinhos eseu sucesso naFrança.

É COM É COM É COM É COM É COM VVVVVOCÊSOCÊSOCÊSOCÊSOCÊS,,,,, ESCRI ESCRI ESCRI ESCRI ESCRITTTTTORES!ORES!ORES!ORES!ORES!A LITERATURA FICOU DE FORA DA

PÁG.14

Herman HesseLEI RLEI RLEI RLEI RLEI ROOOOOUUUUUANET?ANET?ANET?ANET?ANET?

Continua a lutapor uma editorapública! LIMA BARRETO

à CIRIACO

Pág.06Pág.10

tudo de interresante antes que o mundo acabe!

LANÇAMENTOS

MÁRCIOBATISTAPÁG.08PIVETIMSOCIEDADEDO CÓDIGODE BARRASPÁG. 09ONG QUEREPRESENTAPÁG.10A PONTEPÁG. 11ELIANEBRUMGUIAPÁG. 12MÚSICATEXTOE BOLETIMPÁG. 14

PÁG.07

PÁG.15PÁG.08

cultcultcultcultculturururururahiphopahiphopahiphopahiphopahiphop.uol.c.uol.c.uol.c.uol.c.uol.com.br/boletom.br/boletom.br/boletom.br/boletom.br/boletimdokimdokimdokimdokimdokaosaosaosaosaos

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Grandes nomes da Litera-Rua

Foto

: José D

iniz

Page 2: Boletim do Kaos #2
Page 3: Boletim do Kaos #2

Alexandre DeMaio é editor depublicações dehip-hop pelaeditora Escala eMinuano,colaborador daRevista Raça edo site CatracaLivre, além defazer história emquadrinhos [email protected]

Alessandro Buzo,é autor devários livros,blogueiro nato eapresentador doquadro“Buzão - CircularPeriférico”, naTV Cultura [email protected]

Salve amigos! Que repercussãoincrível teve o primeiro número do Boletim doKaos, um jornal que veio para ficar e informara galera. A aceitação foi 100% positiva na nossaluta por estimular a literatura e mostrar tudoque acontece na cena da Litera-Rua.

Para que isso se concretizasse, emabril, fomos para a fase prática do nossoprojeto, colocar o Boletim nas ruas.Distribuímos em vários estados (entre elesRJ, BA e DF), mas em São Paulo nossa correriafoi forte, promovemos 3 lançamentos, oprimeiro na DGT Filmes, no Bexiga, depois naregião central, na ONG Ação Educativa e porúltimo no extremo da zona sul na Cooperifa,e assim fomos traficando conhecimento einformação.

Para firmar nossos pontos dedistribuição e divulgar a cena da literaturaperiférica caímos na estrada, fomos ao Sarau Eloda Corrente, em Pirituba, estivemos no eventoImagens Periféricas, no Jd. Peri, e na Favela doSem Teto, viajamos até Brasília para o show do

rapper GOG, e em São Paulo fomos à casado Seu Jorge. Em Diadema e Campinasmarcamos presença nas sedes doconhecimento de rua, a Casa do Hip-Hop.

Acompanhando tudo o queaconteceu no mês de abril,

estivemos em vários eventos

como a comemoração de dois anos do siteJornalirismo, e os dois anos do Sarau do RAP.No Capão Redondo presenciamos olançamento do Estúdio 1 Da Sul. Em nossaluta pela literatura estivemos na AssembléiaLegislativa de São Paulo para saber comoanda o projeto de lei da editora pública.Passamos pela favela do Cannão, do eternoSabotage, e trombamos com Almir Guineto eThaíde, no Manos e Minas, que também,como todos os outros lugares, levaram algunsexemplares do Boletim do Kaos.

A baixada Santista, o show do Dex-ter, e a peça do Marcelino Freire com Ferréze Sérgio Vaz, prestigiamos e distribuímos ojornal além do recente lançamento do livrodo rapper Afro-X, no Itaú Cultural. Via correiomandamos milhares de exemplares paramilitantes, líderes comunitários epersonalidades espalhadas por algunsestados brasileiros, por meio da versãoonline hospedada no UOL chegamos amuitos outros lugares e ainda levamos umconteúdo extra com a entrevista na integrado ativista Carlos Moore. E o melhor, tudoisso é de graça, CATRACA LIVRE como diriamnossos parceiros.

E a corrente só se fortalece comchegada do número 2 às ruas, nessa ediçãocontinuam os agradecimentos aos nossosfiéis parceiros que tornam esse projetoviável; Itaú Cultural, DGT (Toni, Falcão e Gag),1 Da Sul (Ferréz e Mauricio), Ação Educativa,Site Catraca Livre, Gilberto Dimenstein, siteCultura hip hop e UOL.

A gente é ponte que atravessa qualquer rio.Boletim do Kaos um jornal sem fronteiras.

www.marildafoto.blogger.com.br

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Texto: Alessandro Buzo

arcelino Freire é um escritor porreta, lançando pela Editora Record e com o livro “Contos Negreiros”,vencedor do “Prêmio Jabuti” (contos), o pernambucano não se fecha no circuito intelectual, prefereser diferente.

Tem um blog bastante conhecido (www.eraodito.blogspot.com) e anda com uns caras da literaturaperiférica, marginal, se diz sim, um deles. Assim é Marcelino, presente nos saraus das quebradas esempre promovendo alguma atividade, seja a “Balada Literária”, peça de teatro ou outras mil e umainquietações, vamos saber mais nessa entrevista exclusiva para o Boletim do Kaos, onde ele aindafala sobre as polêmica na mudança da Lei Rouanet e sua obra mais recente "RASIF - Mar que Arrebenta".

Nos fale de cada um de seus livros?MF: Êita danado! Vou ter de fazer um resumo aperreado. Assim:o primeiro, publicado por uma editora, foi o livro de contos "Angude Sangue". Saiu pela Ateliê Editorial, no ano 2000. Lá, contosque retratam de alguma forma o meu choque-susto com a cidadede São Paulo. Eu, vindo do Recife, para cá. Antes, em 1998,vieram os aforismos desaforados do "eraOdito", que eu publiqueide forma independente. Uma recriação de alguns ditospopulares. Anarquismos na língua, sei lá. Esse livro teve suasegunda edição lançada pela Ateliê, em 2002. Aí em 2003, foi avez dos contos homoeróticos do "BaléRalé" (idem pela Ateliê).Em 2005, soltei o verbo com um livro "abolicionista", digamos[risos]. "Contos Negreiros", o primeiro pela Editora Record. Agorahá pouco, em 2008, lancei os contos-cirandas do "RASIF - Marque Arrebenta". Ufa! Acho que foi isso... Ah! Faltou falar do meulivro de contos "acRústico", esse que fiz por conta própria noano de 1995. Toda vez que o encontro em um sebo, compro.Para esconder, para ninguém conhecer essa minha primeira obra.Uma merda!

Desde quando você vive em São Paulo e por que optoupor essa metrópole?MF: Eu vivo-sobrevivo-sobremorro em São Paulo desde 1991.Vim a convite de um amigo. Nem imaginava que eu fosse pararpor aqui. Eu já estava cansado da beleza, da contemplação. Eusou um cara que, se você me der um suco de maracujá, ficamoseu e o suco de maracujá ali, prostrados, vendo o pôr-do-sol, opôr-da-lua, entende? Eu precisava de uma cidade que meacordasse. Sempre digo: Recife, Salvador, Natal são cidadesque amanhecem. São Paulo acorda. Eu precisava dessa injeção,dessa poluição de ânimo que São Paulo nos dá.

O que você tem a dizer sobre a Lei Rouanet nãocontemplar a literatura ?MF: É sempre assim: a literatura fica de fora. E a gente vaicolocando a literatura para dentro, empurrando as portas. Somosmesmo fora-da-lei, desde muito tempo. O negócio é sacar asarmas que temos. Lembro que, quando nos juntamos, noMovimento Literatura Urgente, fomos conseguindo algumascoisas: bolsas de criação, verbas outras... Mas, no fundo, nofundo, o escritor é bicho bundão. Acomodado, enfim, assado.Façamos a exceção, como temos feito, soltando o verbo. Opessoal da Lei Rouanet há de se arrepender. É hora, mais umavez, de fechar o cerco, para valer. Aguardem só!

Miniconto, você fez um projeto desseformato via celular. Como foi a repercussãoe por que miniconto?MF: Em 2004, eu criei e organizei para a AteliêEditorial a antologia "Os Cem Menores ContosBrasileiros do Século". Cem escritoresescrevendo contos de até 50 letras. Eu falei"letras", hein? Não "palavras". Pois bem: depoisdisso, vários livros surgiram esmiuçando essemicrogênero. E aí sempre me convidam para algumprojeto quando o assunto é "microconto". O SESC,no ano passado, quis que eu fizesse a curadoriade um especial em que autores mandavam aosleitores microcontos pelo celular. Foi divertido.Falo sempre isto: onde a literatura puder estar,que ela esteja. Em todos os meios e orifícios.

Você promove o evento "Balada Literária",fale mais sobre ele.MF: Eu não paro quieto. Bate um cansaço àsvezes, um aperreio no juízo por causa de tantacoisa em que me meto. Uma vez ouvi o SérgioVaz falar que ele, até na hora de dormir, sonhacom estripulias literárias. E quando acorda cai emcampo. Ave nossa! Eu sou igualzinho. Com a"Balada Literária" foi assim. Eu queria muitoorganizar um evento que acontecesse no bairroboêmio da Vila Madalena, onde moro há dez anos.E aí eu junto, durante quatro dias, quase umacentena de escritores, nacionais e internacionais,em debates, festas, sambas. E é tudo gratuito.Enquanto alguns fazem eventos com um milhão,eu costumo dizer que faço com "humilhação".Vou pedindo apoio, socorro a vários escritoresamigos. Sobretudo, tenho sempre o apoio daLivraria da Vila, da Biblioteca Alceu Amoroso Lima,da Mercearia São Pedro, o boteco em que enchoa cara, etc.

Você ganhou o Prêmio Jabuti por "ContosNegreiros", como vê a importância desseprêmio na sua carreira?MF:Acho que "editorialmente" é importante. Bomque tenham dado um “Jabuti” para um livro que

“Façamos a exceção,como temos feito,

soltando o verbo. Opessoal da Lei Rouanethá de se arrepender. Éhora, mais uma vez, de

fechar o cerco, paravaler. Aguardem só!”

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Uma dasgravuras do livro"RASIF" feita porMANU MALTEZ

não teve "rabo preso" para ser feito. Não negoa importância do prêmio, mas eu não possome sentir um “Jabuti”, entende? Vejo muitagente que ganha o cágado e começa a arrotargrosso. Como pode? Eu tenho de lembrar quesou um escritor contemporâneo,desconhecido, num tempo em que pouco selê. Num tempo em que temos internet, orkut,YouTube, etc. e tal. Vá eu achar que a lutaestá ganha e me acomodar à sombra da fama.Que fama? Continuo escrevendo e agitandoe correndo trecho. Não vou ganhar avagarosidade do jabuti. Ele que acorde paraJesus [risos].

Você levou o Ferréz e o Sérgio Vaz aoteatro, de onde vem essa inquietaçãocultural?MF: Então... É o que eu falo: escritor em redomasó serve para peidar. Eu não gosto desta coisade me encastelar. Na hora de escrever, estoueu lá, sozinho, pulando os parágrafos com osmeus demônios. Depois de um conto pronto,eu vou fazer o quê? Vou me engavetar? Não. Aliteratura pede essa atitude, essa inquietação,esse além-pós-livro. O meu mais recenteprojeto foi o "Autores em Cena", cuja segundaedição aconteceu agora em abril. Um diretorde teatro é convidado para dirigir um autorem vez de um ator. Convidei o Mário Pazini,do grupo Clariô, de Taboão da Serra, e eledirigiu Ferréz e Sérgio Vaz. E o resultado foiimpressionante: o teatro estava lotado até ascucurutas. O Ferréz e o Vaz mostraram, porexemplo, que têm um talento nato para acomédia. Hilário e inesquecível!

"RASIF - Mar que Arrebenta", nos fale deseu mais recente livro?MF: Este é um livro-testamento. Falo desaudade, de línguas antigas, falo do Recife,de Sertânia, falo de um mundo à beira docolapso. Eu queria fazer um livro de final dostempos. Que o leitor pegasse o "RASIF" nasmãos e o livro queimasse. O leitor pegasse ofim do mundo nas mãos, entende? Mas creio,no entanto e apesar de tudo, que esse meulivro de contos carrega uma certa esperança,uma certa "fraternidade". Há um conto

chamado "Júnior" em que um pai de famílialeva um travesti para tomar um café damanhã com ele, enquanto a mulher docara dorme na parte de cima do sobrado.É um conto de tolerância, de poesia, deencontro de almas, sei lá. Vale explicarque "RASIF" é o nome do Recife em árabe. "Marque Arrebenta" é o significado da palavra"Pernambuco" em tupi-guarani. Em resumo etraduzindo: esse livro se chama "Recife -Pernambuco". Foi lá, neste não-lugar, queescolhi para habitar meus personagens.

Você é muito próximo da cena literária daperiferia, o que pode nos dizer sobre essaliteratura feita às margens?MF: Eu sou muito próximo porque sou periférico idem.Porque gosto da palavra que é cantada-embolada-escrita na periferia. Porque me reconheço na raiva, naluta, na batalha... Porque me considero irmão dapulsação do Ferréz, Sacolinha, Sérgio Vaz, Buzo, Binho,Alan da Rosa... Porque temos a mesma vontade de soltaros cachorros do peito. Porque trabalhamos com operiférico do periférico - que é a literatura. Porque nãonos acomodamos. Porque o Olimpo é sujo. Porque eufaço uma literatura que vem para desconcertar,desdizer... Porque acho que a literatura feita do outrolado (entenda-se nas academias e coisas outras) é boçale chata. Porque toda vez que vou ao Sarau do Binho, aoSarau da Cooperifa, e mais recentemente ao Sarau naBrasa, saio de lá fortalecido, irmanado. Sinto-me menosdesacompanhado...

Um livro.MF: O primeiro livro que li foi "Estrela da Vida Inteira",de Manuel Bandeira. Por causa dessa leitura eu quis serescritor, quis ser doente, tuberculoso igual Bandeira.Outro livro importantíssimo para essa minha vontadefoi o "São Bernardo", de Graciliano Ramos.

Um autor.MF: Graciliano Ramos. Mas põe mais alguns nomes aí:Campos de Carvalho, João Antônio, Julio Cortázar...

Um filme.MF: "Laranja Mecânica". Mudou a minha vida esse filmede Stanley Kubrick. Um filme brasileiro, põe aí: "O Pagadorde Promessas", de Humberto Mauro.

Uma música.MF: "Asa Branca". Para lembrar, aqui, do meu pai e de LuizGonzaga.

O que pensa sobre o hip hop?MF: Tudo o que eu queria ver, um dia. Um conto meu cantado-embolado-hip hopado. Acho fantástico, cordelizado essemovimento-atitude. Na veia, no sangue...

O melhor e o pior lugar do mundo?MF: Dentro da gente fica este lugar, o melhor e o pior ali,convivendo...

Como define sua literatura?MF: Teimosa. E ainda: vingativa. Eu escrevo porque eu querome vingar. De um amor que foi embora, de um governo, de umpaís. Ah! E minha literatura, apesar disto, é bem-humorada. Étragicômica, digamos.

Salve aos leitoresdo "Boletim doKaos".MF: Adorei o nome:"Boletim do Kaos".Daqui, deixo o meuabraço. Só o amorconstrói o Kaos. Evamos em frente.Que atrás não vemninguém. Parabénsaí à rapaziada.

“Acho que "editorialmente" éimportante. Bom que tenham dado um

Jabuti para um livro que não teve "rabopreso" para ser feito. Não nego a

importância do prêmio, mas eu nãoposso me sentir um Jabuti, entende?”

A peça com direção deMarcelino Freire e no

palco com Sérgio Vaz eFerréz lotou o ItaúCultural e arrancou

aplausos de pé daplatéia.

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Por: Alessandro Buzo

Fotos: Marilda Borges

omos até Brasília (DF), no dia28 de março, acompanhar

um show da série de lançamentosdo primeiro DVD do Poeta deBrasília. São mais de 20 anos decarreira e 10 discos gravados.Isso trouxe ao GOG uma legiãode fãs em todo o Brasil.

Lembro que uma vez de passagem porBrasília demos um super rolê pelacidade, passando pela famosa PonteJK, que ele denúncia/canta comLenine e que custou mais de 170milhões de reais. Passamos tambémpor sua casa, onde conheci sua

família.

Nesse dia, ele me disse “O diferencialda minha carreira e ter viajado pelo

Brasil, conhecido vários estados, e não ficar preso a umasó realidade.” Captei a mensagem e coloquei isso como metapra mim. Viajar pelo Brasil e espalhar a Litera-Rua, a minhamensagem. Assim já conheci 9 estados além de SP. Mas voltemosao GOG e nossa ida atual a convite dele.

GOG é uma exceção. É difícil um artista que tenha tantosshows agendados assim, mas ele e sua equipe que conta comvários profissionais pensam em todos os detalhes até a hora desubir ao palco onde tudo isso é corado com o som da bandaMPB Black.

Mano, que celebração! O show foi histórico pra mim, pra aMarilda e pra todo mundo que estava lá no Samambaia, na casaSama Park Show, no coração da periferia do Distrito Federal.Pois é, descobri que Brasília é muito mais que o Plano Piloto,Congresso Nacional, Esplanada dos Ministérios.

Outra coisa que chamou a atenção é que em cada um dosshows ele trouxe convidados, como Gerson King Combo, LadyZú, e outros, e não só músicos, trouxe também convidados daimprensa alternativa, como o Site Portal Rap Nacional que

transmitiu o show “ao vivo” pela internet e agora levou nossa equipe.

Mas ineditismo pouco é bobagem. GOG acaba de ser “convocado” pelo Ministroda Cultura, Juca Ferreira, para ocupar uma cadeira no Conselho Nacional de PolíticaCultural – CNPC, que discute toda a elaboração, recursos e aplicação das políticas públicasna área da cultura brasileira. Um grande orgulho para a periferia, para o Rap e para a LiteraturaMarginal. O Poeta do RAP é um dos 3 contratados por “notório saber” para orientar o GovernoFederal em sua atuação, aumentando assim o respeito, e é claro, a atuação do nossomovimento nas políticas culturais.

GOG é mesmo um “Diferente” como diria o Preto Ghóez em seu livro “Sociedade doCódigo de Barras”, além de seguir por toda sua carreira musical com o estilo “A Rima Denuncia”,é esse justamente o título de seu primeiro livro, que transcreve várias de suas músicas e serálançado em breve pela Global Editora dentro da Coleção Literatura Periférica.

Mas GOG não é um estreiante na Litera-Rua, ele já participou da coletânea: PelasPeriferias do Brasil (Org. Buzo em 2007) e no VOL II (em 2008) teve sua música “O AmorVenceu a Guerra” quadrinizada pelo artista Alexandre de Maio. Mas o rapper sempre estevepróximo da cena literária, e quando vem a São Paulo é presença certa no Sarau da Cooperifa,para dar um abraço no “Cachorro Sérgio Vaz” e assim se manter junto dos poetas e escritores.

Durante o show que acompanhamos, pude ver que GOG anda muito entre familia,sua esposa participa ativamente de tudo, seu filho engrossa a turma dos fãs e isso se estende

ao camarim, por exemplo, onde podia se encontrar agua, suco, lanche,frutas e nenhum tipo de bebida alcoólica, muito menos droga. “Não dápra ter bebida, como vou falar de algo, dar ideia pro público,pro nosso povo, se eu e minha banda estivéssemos bebendo nocamarim? Isso não cabe aqui.” Revela.

O autor do clássico “Brasil com P” mantém um site bastanteatualizado (www.gograpnacional.com.br) onde além dedisponibilizar agenda, fotos e outras informações, faz venda de seusprodutos (CD’s, DVD’s e camisetas), tudo acompanhado de perto porele. Há anos mantém o Selo “Só Balanço” a primeira gravadoraindependente do rap brasileiro, outro pioneirismo, e ele também mantémsua loja no centro de Brasília, um dos novos pontos de distribuição donosso jornal.

Sua última passagem por São Paulo foi em março passado, noshow do rapper Dexter, onde atuou com grande destaque, falando muitobem sobre a situação atual, em que muitos dizem que o rap acabou“Pois é, tem louco que acredita nisso. Vou convidar pra colarnum dos “Favela Toma Conta” pra terem uma noção real dobaguio”. Falou durante a apresentação se referindo ao evento realizadopor mim, no Itaim Paulista.

Além de Lenine (na música da ponte JK), em seu último CD GOGteve grandes participações como Maria Rita e Paulo Diniz. Mostrandoque sua musicalidade vai além da periferia, além do RAP, com isso seudom de compositor só vem ganhando respeito e admiração dos grandesnomes da música brasileira. Abaixo um bate bola com o GOG, exclusivopara o Boletim do Kaos. Confira.

BK: GOG, de onde vem o “Poeta do RAP”?

GOG: Foi o Macari, grande produtor nacional, que me batizou. Eu atégosto, mas é muita responsabilidade, ainda mais hoje, com a literaturatrazendo tanta poesia de qualidade.

BK: Nos fale do seu primeiro DVD, Cartão Postal Bomba!

GOG: É um trabalho independente, gravado em Brasília, com produçãolocal, que contou com grandes participações e que eu tenho muitoorgulho de ter lançado. A repercussão está sendo ótima e muita coisaestá acontecendo.

BK: E essa nova fase, trabalhando no Ministério da Cultura, oque muda?

GOG: Sou um dos Conselheiros do Conselho Nacional de Política Cultural(CNPC). Fui convidado pelo Ministro Juca Ferreira, não é um cargo políticopartidário, mas sim uma representatividade da Sociedade Civil e não éremunerado.

Ele me convidou pela minha atuação dentro das comunidades, pelaproximidade que tenho com o MinC, seja discutindo projetos, prêmiosou fazendo avaliações.

Se fosse um cargo político a única possibilidade de eu aceitar seria sefosse por um apelo da população. Através da CPI da Favela. Como citeinão é político partidário, embora tenha um caráter de apoio ao que vemsendo desenvolvido pelo Governo Federal no que diz respeito à cultura..

Boletim do Kaos.

GOG: Eu só tenho a agradecer e parabenizar pelo lançamento de maisum meio de comunicação democrático no nosso cenário. Aos parceirose parceiras... É só chegar!

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Pela derrubada ao veto do governador!Na segunda metade do mês de abril

fomos até a Assembléia Legislativa com duasmissões, divulgar o lançamento do jornalBoletim do Kaos mostrando que a literaturamarginal, de periferia é um movimentoorganizado e que tem um veículo decomunicação que dá voz as suas questões.A outra era entrevistar o Deputado EstadualProf. Carlos Gianazzi, do PSOL, sobre oprojeto de lei que cria uma editora públicapara viabilizar a produção cultural de quemnão conta com o poder econômico.

O jornal foi deixado na AssembléiaLegislativa, que se tornou mais um ponto dedistribuição, e a TV Câmarapontuou o surgimento dapublicação.

Sobre o projeto de lei quevisa criar um editora pública,Gianazzi esclareceu que o projetoteve todas as etapas cumpridas efoi aprovado em Assembléia, “Nósformulamos um projeto juntocom o movimento organizado,junto com o pessoal da Cooperifa e dohip hop. Tem muita gente produzindoliteratura de alta qualidade, mas não temespaço nas grandes editoras e não temcondições financeiras de viabilizar suaobras literárias. O objetivo dessaeditora é favorecer esse segmento cul-tural muito forte e muito importanteque está crescendo em todo o estadoe em todo o país. O projeto já foiaprovado na Assembléia Legislativa, jáfoi aprovado em toda as comissões, foiaprovado no plenário, porém ogovernador José Serra o vetou. Então,

o próximo passo é que o projeto volte àAssembléia Legislativa e nós temos que colocá-lo numa outra votação de derrubada de veto. Nósvamos derrubar o veto dele. Aí vira leiindependente da vontade do governador”, finalizao Deputado criador do projeto.

Serra usou o argumento de que não poderiaexistir uma editora só para periferia, mas Gianazzi re-

bate “Os outros segmentos já são favorecidopelo poder econômico. Tem lei de incentivo àcultura, tem programas, mas esses programassão viciados. Eles só favorecem os pequenosgrupos, as pessoas que produzem indivi-

dualmente, são leis que acabamfinanciando sempre os mesmos, osgrandes grupos, os grandesescritores. Queremos canalizar orecurso público para a cultura popu-lar, a cultura que está em todacidade”.

Para que esse projeto vire lei também

depende da pressão popular “Quandotiver a próxima votação vamos

chamar todos os poetas, escritores, o pessoaldo hip hop, o pessoal que está produzindo”,convoca o Deputado. Essa nova sessão ainda não temdata certa, mas com certeza se cada um cobrar seurepresentante podemos conquistar muitas coisas. Oestado tem a obrigação de viabilizar a produção decultura, porque esse é um direito que está naConstituição. E para que isso aconteça a sociedadeprecisa se organizar e agir.

Uma das formas de pressionar os 94deputados é ligando ou mandando e-mails para osparlamentares cobrando a atitude dos seusrepresentantes.

(www.al.sp.gov.br)

Por: Alexandre De Maio

Fotos: Marilda Borgeswww.marildafoto.blogger.com.br

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FERREZ.BLOGSPOT.COM

escritor Hermann Hesse nasceu em Calw(Alemanha), em 2 de julho de 1877. Nascido noseio de uma família religiosa, filho de paismissionários protestantes (pietistas, como é típicoda Suábia) que tinham pregado o cristianismo naÍndia. Estudou no seminário de Maulbronn, masnão seguiu a carreira de pastor como era a

vontade de seus pais. Tendo recusado a religião, aindaadolescente, rompeu com a família e emigrou para a Suíça,em 1912, trabalhando como livreiro e operário. Acumulaentão, sólida cultura autodidata e resolve dedicar-se àliteratura. Travou contato com a espiritualidade orientala partir de uma viagem à Índia em 1911, e com apsicanálise por meio de um discípulo de Carl Gustav Jung,

árcio Batista, 43 anos, professorde educação física e poeta.Morador da periferia sul de São

Paulo, poeta ministra aulas em duasescolas da rede pública. Mas, desde

2000, quando fez parte da concepção do Sarauda Cooperifa, sua vida mudou.

Amigo de infância de Sérgio Vaz, o pro-fessor se tornou poeta e passou a ser um dosbraços fortes da Cooperativa Cultural da Periferia.Sempre presente, Márcio é um de seus alicerces,foi lá que seu lado poeta fluiu de vez, antesescrevia pra ele mesmo, agora declama para cercade 300 a 400 pessoas que invadem toda asquartas-feiras o Bar do Zé Batidão.

Essas poesias que declama, foramreunidas em seu livro de estréia “Meninos doBrasil” (Independente – 88 páginas), na orelha dolivro ele revela “Minha poesia nasce porinfluência dos 30 anos de amizade com SérgioVaz – nas suas palavras: “Consciência eAtitude”.

Foi assim que o poeta de rimas precisasnão parou mais, no filme “Povo Lindo, PovoInteligente”, de Maurício Falcão e Sérgio Gagliardi,ele diz que a cada quarta-feira faz uma preparaçãofísica e mental para a noite ajudar a cuidar domovimento do qual acredita e vive.

Antes de seu livro, participou da coletânealiterária “Rastilho de Pólvora” (2004) e do CD depoesias “Sarau da Cooperifa” (2005).

Como professor Márcio é bem atuante“Ser professor na periferia de São Paulo éinterferir na comunidade, deixar registrado navida de cada criança a sua imagem, suaideia, é somar calor dos dias de verãoe derreter o gelo no inverno, écurtir todo tesão da adoles-cência, depois quem sabe um diaencontrar com eles e ver nabolinha do olho ele te dizer: valeuprofessor”, espera Márcio.

Com certeza, depois do seucontato com a poesia o professor seviu poeta “Para mim a poesia estána veia, pulsa o dia todo, alimentaas idéias e se alimenta delas, irrigaa alma, sangra. A vida não temgraça se não tem poesia” revelauma das atrações fixa da Cooperifa,“A Cooperifa é a comunhão

em decorrência de uma crise emocionalcausada pela eclosão da Primeira GuerraMundial. Posteriormente estas duasinfluências seriam decisivas para odesenvolvimento da obra de Hesse.

Procurou construir sua própriafilosofia, a partir de sua revolta pessoal(Peter Camenzind, 1904) e de suainterpretação pessoal das correntesfilosóficas do Oriente (Sidarta), e emespecial em “O Lobo da Estepe” (1927),que é também uma crítica contra omilitarismo e o revanchismo vigente nasua terra natal depois da Primeira GuerraMundial. Esta postura corajosa o fezbastante popular na Alemanha do pós-guerra, depois da desnazificação.

Em 1946, ganhou o PrêmioGoethe e, passados alguns meses, oPrêmio Nobel de Literatura.

Os livros de Hesse sãofacilmente encontrados em sebos, etem o preço bem em conta, destaquepara Demian e Sidarta que são os maisconhecidos, mas embaixo eu colocouma bibliografia completa, menos oprimeiro de poesia que é totalmenteimpossível de se achar.

Curiosidade: um dos únicosautógrafos no mundo, que Hesse deudurante a entrega do prêmio Nobelencontra-se na periferia da Zona Sul deSão Paulo.

A bibliografia completa doescritor você encontra no blog doescritor Ferréz.

Ficou curioso? Boa leitura.

Por Alessandro BuzoFoto: Alexandre De Maio

das artes e das ideias nacomunidade, um caldeirão emplena ebulição, a inovação dacultura popular, é ventaniamovimentando as pessoas, acidade, fazendo valer ser daquebrada, estar distante docentro, mas existir e resistir ,pra tornar o seu pedaço dechão num mundo melhor”.

Com sua simplicidade esua poesia profunda Márcio falasobre o Boletim do Kaos“Alessandro Buzo e Alexandrede Maio, o Boletim do Kaos eraa parada que faltava, agora émão e contramão, ideias vão,ideias vêm, sem breque, semcensura, sem limites, já énotícia no Brasil, valeu demais”.

Para quem não conhece,aqui vai um trecho da sua obra:

/Quem me negapalavra, nego./Não terá outrachance de ega./Vou zumbir palavraspelo mundo de versosnegros todo mundofalará.

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PIVETIMA publicação de Délcio Teobaldo é um romance de estréia

do autor, lançado pela Editora SM (176 páginas), já saiu premiado,em 2008 (antes mesmo do seu lançamento em Maio/2009) faturouo Prêmio Barco a Vapor. Pivetim é uma ficção sobre o universo dasruas, mas bem que podia ser realidade, o autor fez pesquisa em 3capitais do país, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além daBolívia. Talvez por isso tanto realismo, existem milharesde "Pivetim" espalhados pelas grandes cidades, nãopodemos fechar os olhos para essa verdade.

A SOCIEDADE DO CÓDIGO DE BARRASO MUNDO DOS MESMOS (300 PÁGS)

O livro de estreia, de Preto Ghóez, saiu pela Editora Estação Hip Hop. A obraera o primeiro volume de uma trilogia, mais um fatídico acidente de carro vitimou oautor que era um dos maiores militantes do hip hop brasileiro, integrante do grupo derap "ClãNordestino", de São Luiz do Maranhão, e idealizador do Movimento Hip HopOrganizado Brasileiro (MHHOB).

Seu livro impressiona, ele descreve uma sociedade, muito parecida comnossa, onde num futuro próximo, os “Diferentes” planejam uma revolução e se vêemnuma guerra política sem precedentes contra “Os Mesmos”. Infelizmentenão deu tempo do autor preparar os outros dois livros da trilogia, queseriam "Transeuntes" e "Os Diferentes". Ghóez nasceu 1971, sua lutae sua palavra chegou a ser ouvida em países como França, Espanha e Itália,além de vários estados brasileiros, mas a sua obra o eternizou. Nela Ghóezmostra como vivemos na Sociedade do Códigos de Barras, e fica apergunta você é um Transeunte, um Diferente ou continua sendo umd’Os Mesmos?

EX-157A HISTÓRIA QUE MÍDIA DESCONHECE

Conhecido pelo sucesso que seu grupo fez aindacumprindo pena na Penitenciária do Carandiru, e o seucasamento com a famosa cantora Simony, o rapper Afro-X investe na literatura e dá o passo definitivo à suareabilitação.

Em sua primeira incursão pelos livros, Cristian contasua trajetória, desde sua entrada para mundo do crime,sua passagem pelo sistema penitenciário até seucasamento, sucesso e o fim do grupo.

O livro foi lançado no Itaú Cultural no mesmo dia em que secomemorava o dia internacional do livro e o fim da sua pena de 14

anos de condenação.A mesa de debate contava com o jornalista do Estadão, Bruno Paes Manso,

a jornalista e advogada Diva Ferreira e o promotor Ariel de Castro Alves, advogadomembro do movimento nacional dos Direitos humanos e presidente da FundaçãoCriança, em São Bernardo, todos falando sobre os motivos que levam os jovens a violência.

Por lá também estavam seus filhos, seus familiares, e pessoas do movimento hiphop. O prefácio do livro é assinado pelo jornalista Caco Barcellos. Além do livro, Afro-Xtambém cantou musica do seu álbum solo que deve vir em breve.

O livro é daqueles que você não quer parar de ler, a veracidade das palavras dequem só viveu a situação pode ter, é o grande atrativo.

Cristian de Souza Augusto mostra no relato em primeira pessoa, que ao contrário detodas as estatísticas, aprendeu que o crime não constrói mostra que o ser humano pode serecuperar, só precisa de uma chance.

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Ação Educativa representa.A Ong Ação Educativa, estabelecida em São

Paulo, na região central (Rua General Jardim, 660) éuma ONG que representa.

Apóia várias atividades e projetos, promoveoutros, além de todo mês colocar nas ruas 10 milexemplares da “Agenda da Periferia”, que há maisde um ano tirou os eventos das quebradas (samba,hip hop, literatura) do anonimato e passou a divulgá-los, dando maior visibilidade.

A Ação Educativa é muito mais do que isso,nas suas dependências vários autores periféricos

Ele morou na rua, venceu por meio da música e do cinema, econquistou o mundo. Na entrevista a seguir Seu Jorge fala sobreCidade de Deus, quadrinhos e seu sucesso na França.Texto: Alexandre De Maio - Entrevista: Alessandro Buzo e Alexandre De Maio

Sua história é de sobrevivência e superação,talvez seja esse o ingrediente que junto com seu talentoo torne hoje uma das vozes mais fortes, tanto no cinemaquanto na música e com fãs por todo o mundo.

Seu Jorge morou durante 7 anos na rua depois defugir de uma chacina que vitimou seu irmão, “Morei umtempo bastante longo. De 90 até 97 e foi até afundação do Farofa (Farofa Carioca sua primeirabanda). Eu perdi meu irmão numa chacina nacomunidade onde eu morava, em Belford Roxo,morreu muita gente inocente, trabalhador, aquelenegócio que a gente que é de quebrada conhece. Aíeu não tinha clima pra viver ali, passando todo diana frente do bar onde meu irmão morreu, o garotoque foi comprar pão de tarde e foi surpreendidopor um monte de homens armados”, relembra comtristeza.

Mas com o grupo Farofa Carioca, Seu Jorgeconseguiu visibilidade e começou sua carreira na música,“A gente não tinha experiência, mas a gente intuíaque era um grupo que podia crescer bastante. Porém,as necessidades eram muito maiores do que apaciência” e depois do primeiro disco o grupo se desfeze Seu Jorge se lançou em carreira solo. Apesar deconquistar algum sucesso no Brasil, foi na França que omúsico conseguiu grande destaque.

Seu sucesso foi embalado pelo seu personagemMané Galinha, em Cidade de Deus, Seu Jorge que mantémuma carreira paralela promissora no cinema passando namão de grande diretores, recentemente acabou de filmarum longa chamado “Casa de Areia”, “Quando você fazum filme, na hora de editar vira um outra história.No filme “Casa de Areia” teve cenas que não seenquadravam, que deixaram de existir, pois nãofaziam mais sentido na história. No caso de Cidadede Deus acho o que o Fernando Meirelles, gênio,craque do futebol arte, foi genial deixando um jovemeditor, que inclusive sentou na cadeira do Oscarconcorrendo. É notável que tem proposta estética,mas o grande sucesso do filme é pelo seu ponto devista. A moral da história, não é do personagemMané Galinha, ou de outro, mas sim a história daprópria Cidade de Deus. Tudo acontece pra dizerque um cara que quer ser do bem, quer ser fotógrafo,em toda sua vida, todo mundo que ele conheciasucumbiu e só ele resistiu”

Voltando à história da França, Seu Jorge aproveitouo sucesso no cinema e a convite do dono do restauranteFavela Chic, em 2000 foi pela primeira vez ao país. Orestaurante de uma porta só no centro da França começoua bombar e seu dono, que também é DJ começou a fazerfestas bem maiores. Entre umas apresentações e outrasSeu Jorge ficava cada vez mais conhecido na Europa “Eureconheço que tive mais mercado na França duranteum período, do que aqui.”

Por Alessandro Buzo

Na volta das primeiras apresentações na FrançaSeu Jorge foi para Los Angeles no estúdio do produtorMario Caldato e fez uma demo com 3 músicas, mas já noBrasil não encontrou nenhuma gravadora que seinteressasse pelo seu trabalho solo. A única que seinteressou e começou a produzir o disco faliu antes doseu lançamento deixando o carioca, literalmente, na mãocom a Tape do disco Samba Esporte Fino.

Diante das dificuldades, Seu Jorge aceitou aproposta do seu amigo francês que achava que elepoderia fazer um disco “...mais Cult, menos popu-lar, menos brasileiro, mais universal, olhando oBrasil pela França. Olhando a expectativa quepúblico Francês tem da música brasileira. Um discomais minimalista só voz e violão, eu resolvi aceitare fiz. Aí veio o disco porra! Não é que o cara sabiada coisa? Juntando o sucesso do disco que chegoua vender mais de 80 mil cópias, um famoso cantorda França chamado Mathieu Chedid, famosérrimo,patrimônio da França, me chamou para abrir seusshows, sempre para 30, 40 mil pessoas. Ele faziauma apresentação minha e na época todo mundotinha visto Cidade de Deus, foi uma comoção emeu disco vendeu muito”, relembra.

Mas depois do sucesso fora do país Seu Jorgevoltou para morar em São Paulo, preparou um disco parao Brasil, outro para o exterior e confessa que asinfluências do Farofa Carioca voltaram nesse trabalho,onde a música “Burguesinha” já é sucesso nacional, “OFarofa deixou influências nesse trabalho, AméricaBrasil, que é um disco que fiz quando voltei doexterior para o Brasil. Para buscar tocar aqui, secomunicar melhor com público daqui. Eu tavafazendo música mais pra fora do que aqui pradentro e eu pensei, isso não está certo.”

ALEXANDRE: QUAL É O MELHOR O PIOR DA FRANÇA?O pior é esse momento de falta de emprego, faltatolerância, falta de atitude de liderança no mundo. E omelhor da França é seu interesse pela cultura, pareceque é o povo que entende primeiro as coisas, depois osoutros vão entender. Se você realmente tem valor, proFrancês não importa se é branco ou se é preto.BUZO: QUAL É O MELHOR E PIOR DO RIO DE JANEIRO?O melhor e sua topografia, a descontração do povo dosubúrbio, a garra e o humor do carioca, que é refinado. Ea pior coisa é o apartheid social, a indiferença que existeno mesmo lugar e o protecionismo de uma corporaçãomuito forte que é TV Globo imprimindo um padrão e o Riode janeiro acaba se tornando um cidade Projaquiana,sem falar mal da globo, porque não tem nada a ver, maisé uma instituição muito forte no nosso pais. E elesimprimem um padrão de sucesso que o estado inteironão tem condição de acompanhar. Mas eu estou longedo Rio há muito tempo, eu nasci e reconheço que émuito difícil crescer e ascender em alguma coisa, porisso escolhi São Paulo para crescer.

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lançaram seus livros, alguns com apoio financeiro daONG, como a coleção “Pelas Periferias do Brasil”,que eu coordeno, assim como o evento “Suburbanono Centro”, onde fazemos em parceria, tem o “Saraudo Rap”, que é feito pelo poeta Sérgio Vaz e muitomais, fique ligado.

A ONG está comemorando 15 anos, em 2009. AAgenda da Periferia completa dois anos agora em maio.www.acaoeducativa.org -www.agendadaperiferia.org.br

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Fazer a ponte é fazer a ligação entre diferentes culturasFazer a ponte é fazer a ligação entre diferentes culturasFazer a ponte é fazer a ligação entre diferentes culturasFazer a ponte é fazer a ligação entre diferentes culturasFazer a ponte é fazer a ligação entre diferentes culturas

ALEXANDRE: VOCÊ DISSE QUELIA MUITO QUADRINHOS?Eu li muitos quadrinhos, mas naépoca não era consi-derado umaliteratura de qualidade. E acreditoque isso seja um preconceito.Até porque você traz quadrinhos(1.000 Fita) que são comple-tamente informativos, mos-tram oestilo do gueto.ALEXANDRE: QUAIS ERAM SEUSPREFERIDOS?X-Men, eu gostava do Homem-Aranha pelo seu humor e o Hulkpor entrar na pilha. Eraengraçadíssimo. Mas o que eununca esqueci foi Saga GuerrasSecretas onde levavam todospara um Planeta Neutro, ondemorreu até herói nessa parada.ALEXANDRE: RECENTEMENTEMATARAM O CAPITÃOAMÉRICA...Mais já tava na hora, né? Outropersonagem que eu amo é oNamor, o cara tem 400 anos e lutapra defender o mar, ele anteviaesse problema de hoje.ALEXANDRE: VOCÊ FEZCINEMA, MÚSICA, LEUQUADRINHOS, JÁ PENSOU EMESCREVER UM ROTEIRO, UMTEXTO, UM LIVRO?Eu estou escrevendo umabiografia de uma mulher que euinventei (risos). Eu inventei ummulher, mas é uma personagemque canta tem um disco e temuma história muito difícil, aindata só na cabeça.ALEXANDRE: QUAL O MELHORFILME NACIONAL QUE VOCÊ VIUNOS ÚLTIMOS TEMPOS?Ópaió que tem um fim muito legal,é muito interessante. Aquelamulher que é evangélica e recorreaos santos. O sincretismo.O Tropa de Elite tem grandesatores e sobre tudo o WagnerMoura e a comédia da corrupçãopolicial, aquela corrupçãopequena. Aquilo é pra rir muito echorar também, porque é nossagrana que vai.BUZO: HOJE VOCÊ ESTÁ EMVÁRIOS FILMES, COMO ÉALCANÇAR ESSE STATUS DEGRANDE ATOR ALÉM DE SERUM GRANDE MÚSICO?Eu não sei se tenho esse statusde grande ator, mas fico muitofeliz de ser convidado. Eu possomorrer, mas Cidade de Deus vaificar pra sempre. Eu acho umprivilegio ter participado disso,independe de meu trabalho tersido bom. Cidade de Deus tambémfala de coisa que eu queria falar etalvez nunca tivesse aoportunidade. Ele foi um filme queme captalizou para fazer outrosfilmes, depois com Bill Murray,Keith Branch, entre muitos outrosgrande nomes do cinema.

BUZO: QUAL O GRANDE PROJETO PARA2009?É o DVD com documentário sobre otrabalhador brasileiro.ALEXANDRE: VOCÊ FALOU QUE ESCOLHEUSÃO PAULO PRA CRESCER, O QUE VOCÊGOSTA NA CIDADE?Eu gosto do foco que a cidade tem, aqui temo trânsito absurdo, mas todo mundo tem quesaber que muita coisa rola graças à São Paulo,eu acredito que a capital do Brasil tinha queser aqui. O melhor de São Paulo é opaulistano, a quebrada aqui é diferente, eunão vivo na quebrada, mas aqui na quebradanão tem funk falando da pélvis, da bunda,para criança de 3 anos.ALEXANDRE: PIOR QUE JÁ ESTÁ TENDOAQUI TAMBÉM...Espero que as quebradas resistam...ALEXANDRE: FALANDO EM QUEBRADA, OQUE VOCÊ GOSTA NO RAP NACIONAL?RECENTEMENTE UMA MÚSICA UA COM OMANO BROWN VAZOU NA INTERNET.

O Brasil presente no cinema e literatura deÁfrica e PortugalPor Juliana Penha - Correspondente de Lisboa

Diversas produções brasileiras, seja na música, cinema ouliteratura, são utilizadas como referência em Portugal e emÁfrica.

O Festival de Cinema Africano “African Screens - NovosCinemas de África”, organizado pela Africa.Cont durante quatrofinais de semana, mostrou o que vem sendo produzido nocinema africano contemporâneo. Filmes de Guiné Bissau, GuinéKonakry, Angola, Cabo Verde, República Democrática doCongo, Camarões, Senegal, Marrocos, Gana, Mauritânia,Chade, além do fenômeno cinematográfico que ocorre naNigéria com a indústria Noolywood, que apresenta ofortalecimento um cinema africano feito por africanos e tambémfilmes do Brasil. O filme “O Leão das Sete Cabeças”, de umdos mais respeitados cineastas brasileiros, Glauber Rocha, foiexibido na seção “Cinema Africano, Pós-Colonialismo eEstratégias Estéticas de Representação” e “Macunaíma”de Joaquim Pedro de Andrade, na seção “Negritude”.

Na 6ª edição do Indie Lisboa, Festival Internacional de CinemaIndependente de Lisboa, dois documentários brasileiros fizeramparte da programação. “O homem que engarrafava nuvens”de Lírio Ferreira, um documentário que conta a história do baiãoe do criador da lei de direito de autor no Brasil, HumbertoTeixeira, companheiro de estrada de Luíz Gonzaga fez parte daseção “Indie Music” de filmes ligados a temáticas musicais.

E o filme de Kleber Mendonça Filho, “Crítico”, que integrou aseção “Director´s Cut” do festival onde o diretor mostra suapesquisa com 70 críticos e realizadores do Brasil, EUA e Europa,que falam sobre a crítica de cinema. Ficou de fora do festival umdocumentário sobre o funk carioca “Favela On Blast”, deLeandro HBL e Wesley Pentz, que mostra a essência do funkcarioca, os morros do Rio de Janeiro e seus principaisprotagonistas são entrevistados, entre eles Mr. Catra, DJ Malboro,MC Gallo, MC Preto, Deyse Tigrona.

Esse ano o Brasil é o país “convidado de honra” na 79ª Feira doLivro de Lisboa e conta com uma praça para suas ações dedivulgação, administrado pelo Ministério da Cultura. Estãopresentes o escritor Marcelino Freire, o poeta Carlos Nejare o jornalista Laurentino Gomes. A feira acontece até o dia17 de maio.

Para quem quer conhecer um pouco da diversidade cultural queexiste em Portugal, principalmente em Lisboa, mas que osveículos de comunicação oficiais não mostram, pode ouvir noprograma Migrasons, da rádio Zero, uma iniciativa daSolidariedade Imigrante, um programa apresentado por pessoasde várias origens, culturas e países que abordam temáticas daatualidade e questões importantes ligadas a imigração, política,sociedade, direitos humanos e igualdade, tendo como base ainterculturalidade. Para mais informações e ouvir o programaacesse www.migrasons.blogspot.com

Pra mim o Brown é o topo da cadeia alimentar.Cobram muito dele. Acho que a galera podiaaliviar, ele já mostrou o compromisso. Orap no Brasil, na figura do ManoBrown, que todos amam, é hoje oBrasil inteligente, o Brasil elo-quente, o Brasil dos senhores dasociedade dominante, que informa,que imprime o padrão. É claro queessa sociedade tem um respeitoabsurdo pelo Brown e pelo poetaque ele é. Eles entendem que o Brown éum ator vestindo aquele personagem, elenão é aquilo que ele canta, ele é uma pessoaque sorri, ele é uma pessoa que acredita navida, que tem um ponto de vista bacana pravida, acho que a única coisa que o Browninsiste e vai morrer insistindo, é que tenhamais recursos pro povo preto, que tenhamais recursos pro povo da quebrada, quetenha mais coisas lá, e que lá seja legaltambém. Não que seja só legal no Jardins ouno Morumbi. Ele não está interessado emcolar no Jardins, mas o Jardins hoje o admira,o respeita, ele entende a dialética e ficadoido pra viabilizar.

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O dia em que Tião ameaçou a moralidade do sistema financeiro

SARAU DO BINHOSegundas - Campo Limpo - SP21h. Rua Avelino Lemos Jr., 60Entrada franca. (11) 5844-6521

SARAU ELO DA CORRENTEQuintas - Pirituba - SP20h. Rua Jurubim, 788 -AEntrada franca. (11) 3906- 0348www.elo-dacorrente.blogspot.com

SARAU COOPERIFAQuartas - Chácara Santana - SPRua Bartolomeu dos Santos, 797Entrada franca - 20h.(11) 5891-7403.

Meu amigo Tião Nicomedes é sem-teto. Anos atrás ele instalava umanúncio luminoso no centro de São Paulo, quando escorregou edespencou lá de cima. Ao acordar, estava só. Amigos, patrão, mulher,todos tinham sumido para não prestar contas do acidente de trabalho.Não eram maus, apenas sem caráter. Estatelado no meio-fio, Tiãodescobriu-se só. E tão no chão que até para se matar de desespero erapreciso primeiro ascender alguns degraus.

Naquela hora, Tião, periférico do centro, percebeu que havia algoque nem a queda conseguira tirar dele. Para arrancar a literatura do

seu peito, só arrancando junto uns pedaços de carne, umas estrias de nervos,uma meleca sanguinolenta que ninguém queria botar a mão. Tião começouentão a escrever furiosamente e galgou todas as escadarias que quis. Hojefaz da escrita – e de uma alma temerariamente esperançosa – sua aventurano mundo.

A biografia em dois parágrafos de Tião Nicomedes é para queconheçam o homem, para que então possam alcançar a história. Algunsmeses atrás, Tião tornou-se uma ameaça para o sistema financeiro nacional.Era domingo e, quando acordou, ainda não tinha a menor idéia que a origemde seus recursos estava sob investigação. Depois de alguns dramas deconsciência, inocente, livre e solto convenceu-se bem rápido que mereciaesbanjar em prol de seu estômago tão cheio de vazios existenciais nasemana que passou. Resolveu “tirar a barriga da miséria” num quilo docentrão. “Mas tava sem um puto no bolso”, conta. “Então mandei ver no cartão”.

Desde abril de 2008, Tião recebe de um admirador de seu trabalholiterário uma pequena ajuda de custo, no valor de R$ 150, para que consigase dedicar a um projeto cultural sem literalmente morrer de fome. A doaçãodesembarca numa conta-poupança até o dia 10 de cada mês. E é com partedela que Tião contava pagar o banquete dominical.

De barriga esticada, rosto redondo de bem-aventurança calórica,ele se dirigiu ao caixa do restaurante com a certeza de que tinha um saldode R$ 112 no banco. Tascou o cartão na mão do dono, sentindo-se bacana,para pagar a conta de R$ 11,80. Nada. “Operação não concluída”. A malditamáquina parecia um papagaio repetindo o mais terrível dos palavrões.

O dono do restaurante tentou três vezes. A máquina não temsentimentos, mas sempre opta pelo constrangimento. Continuou ignorandoser a única fonte de renda de Tião. Por uma sorte bem rara, o comercianteera uma figura bonachona, já tinha visto Tião vagando pelas redondezas.“Está fora do ar”, aliviou. “Você volta e paga depois”.

E lá se foi Tião rumo ao caixa eletrônico mais próximo, noAnhangabaú, já com o feijão dando voltas. Conferiu o saldo: R$ 112. Optoupor sacar só $ 20 para pagar o restaurante e ficar com algum no bolso. Tudocerto. Digitou a senha e... A tela escureceu. Sobre fundo preto, as letrasgrandes, vermelhas, anunciavam que Tião fora expulso da turma dos com-banco: “cartão inválido”.

Tião redigitou, re-re-digitou, falou com jeitinho, rezou. Nada. Misériaabsoluta até a abertura da agência na segunda-feira pela manhã. Tião agoraqueria tirar todo o dinheiro bem rápido antes que as máquinas engolissem o

que restou de sua dignidade financeira. Mas, ao chegar àagência, descobriu que a gerente queria saber quem eraTião Nicomedes. As máquinas, todas elas, obedeciam asordens humanas. Tião estava sob suspeita. Como assim?Ele tinha aberto a conta direitinho, ficava sem comer paranão raspar o fundo, tinha CPF e RG, estava limpo. Tião eraum sem-teto, mas um sem-teto cidadão. Desconfiado, ofuncionário exigiu toda a papelada de novo. E exigiu umpouco mais: ele precisava apresentar um “comprovantede residência”. Sim, aquele montante de R$ 150, pingandotodo mês na conta dele, só podia esconder algumailicitude.

E agora Tião precisava achar um comprovante de residência para nãoofender o banco. Pegou um metrô e partiu em busca do dono de uma pensão ondecostumava se hospedar quando tinha verba. Despejou seu drama. O moço sabiaque Tião era gente direita, não fazia fuzarca quando alugava um quartinho, era atémeio celebridade por ali. Não é todo dia que um escritor se hospeda numa daspensões familiares do centro, afinal. Escreveu então uma declaração de própriopunho. Despachou junto a conta da Eletropaulo, para garantir a idoneidade.

Tião voltou faceiro ao banco ostentando sua itinerante residência fixa. Ofuncionário até fez um hum-hum afirmativo, mas em seguida desferiu a bombacluster: exigiu um holerite. Como assim? Ele era sem-teto, não tinha carteira-assinada, mas não roubava, não matava, ultimamente nem pedia. Ele só escrevia.Seu crime, se havia um, era (mal) ganhar a vida escrevendo.

Tião lembrou do contrato caseiro pelo qual o doador se comprometia adepositar uma ajuda de custo mensal para a produção de um livro. Desdobrou opapel, ansioso diante do olhar profissional do moço. Foi obrigado a explicar emdetalhes quem era ele, sua intimidade, suas vicissitudes e, finalmente, seu projetocultural – até então secreto – ao funcionário do banco.

Doação de dinheiro para comer enquanto escreve um livro? Muitosuspeito. O funcionário fez uma série de huns-huns, copiou tudo no fax, pediulicença e desapareceu nos fundos da agência. Lá, um ser insondável, a gerente,ouviu tudo da boca do subordinado e deu o veredicto.

Depois de algum tempo, em que Tião suou e ganhou um gosto estranhona boca, o moço emergiu lá de dentro. “Ela” tinha aceitado suas explicaçõesdocumentadas. Estavam satisfeitos. Podia seguir seu caminho. Magnânimos, elespermitiram que Tião continuasse sendo seu cliente feliz. Desejaram até “boa sortecom o livro”.

Tião tinha mais uma vez o direito de usar seu próprio dinheiro. Foi um grandedia para o escritor de rua. Mas foi maior ainda para o sistema financeiro nacional.Eles finalmente descobriam ali que o problema da corrupção no Brasil não se deveaos milhões mal explicados de banqueiros como Daniel Dantas ou a castelosconstruídos com desvios de dinheiro público por gente de Brasília. O problema eraTião e seus suspeitíssimos R$ 150 mensais. Sempre preocupados com a moralizaçãodo país, tomaram suas providências com muita agilidade: Tião Nicomedes teve deexplicar tudinho. Confessou até que pretendia escrever um livro.

Dá muito orgulho desse país. - Por Eliane Brum - Revista Época

SARAU NA BRASATerças - Brasilândia - SP20h. - Entrada franca.(11) 3922-8593brasasarau.blogspot.com

09/05 – PAVIO DA CULTURAEste sarau já virou tradição em Suzano.Todo segundo sábado do mês,escritores, poetas, músicos,dançarinos, cineastas,cordelistas, repentistas e capoeiristasse reúnem para apresentarem um poucoda sua arte.Local: Centro Cultural de SuzanoRua Benjamin Constant, 682 - CentroSuzano - SP - 20h - GratuitoInformações: (11) 4747-418

12/05 - Lançamento do Livro "Pivetim"de Délcio Teobaldo.Mesa de debate com Délcio Teobaldo,Alessandro Buzo (escritor) e oGilberto Dimenstein (jornalista)

15/05 – Fogueira, Literatura e PipocaProjeto que tem o objetivo de incendiar odebate e pipocar as idéias. Numa rodaenvolta da fogueira, onde osparticipantes discutem sobre literaturaalém do sarau que encerra a atividade.Tema do mês: Realismo fantásticoLocal: Centro Cultural Boa VistaRua Katsutosh Naito, 957 - Boa VistaSuzano - SP - 19 h. GratuitoInformações: (11) 4749-7556

17/05 - 18° Favela Toma ContaLocal: Céu Veredas no Itaim Paulista.Shows com: Realidade Cruel, Criolo Doido,Wesley Noog, Alerta Vermelho ePeriafricania. Entrada: Grátís

29/05 10º Suburbano no CentroApresentação: Alessandro Buzo.Pcket Shows: Ilícito e DJ Tano, VersãoPopular, Frann "Tribunal MC´s" (solo),Atitude Suspeita e Conexão Perifé[email protected]ção Educativa - Rua General Jardim, 660(Metrô Sta Cecilia) - Inf: (11) 2569-9151

Maiores informações e muito maisopções acesse nossos parceiros einforme-se no site da AçãoEducativa que tem uma agendasobre os vários eventos no mêswww.acaoeducativa.org.br/agendadaperiferia

No site Catraca Livre você tem umaagenda que tem eventos, cursos,cinema, teatro, exposições,palestras e encontroswww.catracalivre.com.br

Quem quiser divulgar seu evento na próximaedição entre em contato pelo [email protected]

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Foto:Divulgação

Por Alexandre De Maio

Versão Popular na 105 FMO grupo está sempre envolvidos noseventos da Cooperifa e agora otalentos dos manos também vai poderser oruvido na rádio.Formado por Cocão, COHAB São Luis,DJ Zeca, Jardim Jangadeiro, Preto Will,Jardim Letícia, Kelly e Leandrorepresentando o Grajaú o grupo é carada zona sul.Os manos prepram o CD que contarácom participações de Ségio Vaz eoutros nomes.Quem quiser ouvir pode acessarwww.buscamp3.com.br/versaopopular

m ano no ar com o quadro “Buzão –Circular Periférico”, no programaManos e Minas, da TV Cultura, nosproporcionou um verdadeiro tourpelo lado B da cidade. Assim como

nos velhos LP’s, muitas vezes o lado B éo melhor, porém menos conhecido.

Ao lado da cidade que aparece diariamentenos jornais, novelas e filmes, existe outra,paralela, com enorme potencial criativo eprodutivo. Estima-se que haja em São Pauloalgo em torno de 2 milhões de pessoasvivendo em favelas.

Se somarmos a elas outro tanto demoradores das muitas periferiasdesprovidas de melhorias urbanaselementares, teremos umapopulação que formaria a segundamaior cidade brasileira. Depois deSão Paulo, a São Paulo periférica efavelada.

É gente que não acaba mais, quecria sua própria identidade culturalnum movimento que foi gestado nasúltimas décadas e que agoraextrapola as fronteiras da periferia e atingea sociedade em cheio. Quem quiser verá,ao seu lado, a força criativa dessemovimento.

Como e por que esse movimento nasceu eprogrediu são perguntas que foram sendorespondidas aos poucos durante nosso rolêpelas quebradas com o circular periférico.A ausência do poder público e a mistura dementes criativas com diferentes referênciasculturais, fermentou uma verdadeira bombacriativa e produtiva que misturacompromisso social com necessidade deexpressão manifestada em saraus de poesia,rodas de samba, circuitos de grafite, rap,oficinas de tudo quanto é coisa.

Wesley Nóog leva seu para o Zahi.Na antiga casa de shows Blen Blen, hojeZahi, Wésley Nóog é o trovador emenestrel da Cooperifa e arrebentou emtrês noites memoráveis.No mês de abril, Wesley e bandaquebraram tudo nas quinta-feiras queficaram mais quentes ao som dolançamento do seu CD Mameluco AfroBrasileiro.Para baixar o álbum acessewww.mudacultural.com.br

Haja fôlego pra acompanhar o ritmo de gente que estápermanentemente propondo ações culturais. Num momentoessas ações surpreenderam pela ousadia social e política, mashoje se destacam pela qualidade artística, estética e cultural.Acabou o tempo em que a periferia chamava a atenção porestar realizando ações sociais consistentes.

Hoje o que se nota é a vanguarda estética. O maior sopro dearte, a verdadeira fronteira estilística está na favela. O críticode arte, de cinema, o produtor musical, o editor e o marchandque estiver antenado com o momento cultural brasileiro vai,obrigatoriamente, percorrer as vielas da favela do Canão, deParaisópolis, do Parque Bristol. Vai conhecer grafites de Caieiras

e do Jardim Leme, vai ouvir o somdo Jardim Brasil e ler o que seescreve em Pirituba ou em Suzano.Será um habituê do sarau daCooperifa. Esses são osendereços da arte nessa cidade.Junto com inúmeros outrosrecantos na periferia e nasfavelas, é onde a vanguarda aindaousa livre das duas grandesâncoras que imobilizam aprodução cultural tradicional: oMercado e a Academia.

Livre das interesseiras amarras domercado que jamais admite a ousadia e percursos ainda nãocomprovados e livre das ortodoxas imposições da academiaque se apóia em fórmulas obsoletas pra corroborar suas açõestímidas, a produção cultural da periferia já é a vanguarda artísticado Brasil. Já está aí, não é uma promessa pro ano que vem, algoa acontecer. Já está aí pra quem quiser ver, ouvir, ler, dançar. Oque surpreende mesmo é que tem gente que ainda não vê... Ounão quer ver.

Mais que um veículo de comunicação, oJornal Boletim do Kaos é uma ideia.

A ideia de que juntos podemos alcançar oque não conseguiríamos individualmente. É osonho de que a literatura seja mais presente navida da pessoas, que a cultura de qualidadeindependente do poder econômico seja acessívelpara todos.

E no mês de abril, pra colocarmos essaideia na rua, além de toda nossa correria, fizemos 3lançamentos oficiais.

O primerio foi na Ação educativa ainda nodia 27 de março no "Dia do Graffiti" junto comevento Suburbano no Centro, que contou comexposição de vários artistas e com show de váriosgrupo de rap.

Depois veio o coquetel de lançamentocom os nossos parceiros da produtora DGT queacreditou nesse projeto desde o começo. Umanoite bela de sexta-feira histórica para a Litera-Rua!

Juntamos os amigos, escriotres, poetas,ativistas e apoiadores para comemorara essemomento. O nascimento de uma ideia. A noite aindacontou com a Banda Quebra Gelo que animou apresença dos amigos e amigas como RobertaFelinto representando o Itaú Cultural, Sérgio Vazcom a esposa Sônia, Jairo (Periafricania), MárcioBatista, Tubarão, Jonilson Montalvão com esposa e

bebê, Eduardo B.Boy, galera doSarau da Brasa, Du_Bod, Lourdesda Luz (MSS) além do rapper CrioloDoido e vários amantes da culturaurbana. O evento contou comcobertura de Marilda Borgesautora das fotos.

Assim seguiu nossa trilhadivulgando cultura, literatura,dando voz para quem não temespaço.

O último, porém essenciallançamento foi na Cooperifa, a casada literatura periférica, por maisuma noite a celebramos noextremo da zona sul.

Mais que um jornal,lançamos um ideia. Boletim do Kaos!

Sérgio Gag é diretor do quadro Buzão - Circular Periféricona TV Cultura e sócio da Produtora DGT.

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Selva de PedraPor Alessandro Buzo

Ando sozinho no meio da multidão.Grito, mas não sou ouvido.Ouço, mas queria não ouvir.A cidade de pedra dói, destrói.Tento ser otimista.Mas o pessimismo me persegue.

Melhor seria se fosse só mais um.Melhor seria se a pinga bastasse.Melhor seria se droga curasse.Se a ponte quebrasse, melhor seria.

Uma selva de pedra.Onde não temos tempo pra nada.Onde o dinheiro nunca dá.E neste lugar cinza, tento ver cor.

Quero poesia.Quero livro.Quero cinema.Quero Teatro.Quero o show.Quero o mar.Mas o que tenho é o silêncio.E olha que nem é dos inocentes.O silêncio aqui é da elite.Do governo.Da policia.O silêncio da cidade também dói.

Ao pobre, remediado está.Pegue seu emprego.Seu salário.E se dê por satisfeito.Tanta gente queria estar em seu lugar.Ter o que você tem.Pegue seu carro e fique calado.

Mesmo que o trânsito parar.Que o sino não tocar.Que o padre não dizer amém.Que o custo de vida subir.Agradeça e se cale.

Na TV as notícias causam arrepio.Pedofilia, CPI, mensalão.Castelo pra cá, verba pra viagem acolá.Mas o seu tá garantido,Seu emprego e seu piso salarial.Vai reclamar do que?Podia ser pior, desemprego.Cê num vê TV, crise mundial.

Quem vai dizer o contrário?Quem vai reclamar do salário?Você ainda reclama, você tem tudo.Emprego, chefe, patrão, salário.

Agora mesmo um cara trocoulatinhas por um tostão.Agora mesmo a polícia prendeumais um ladrão.Manutenção do Datena na televisão.Mais um que vai pro camburão.Renova o contrato do Datena,chama o cara de bom.Ele fala pelo povão.Grita pela gente na televisão.Acaba o programa e sai com seu carrão.Restaurante bom, luxo, fama.Amanhã mais um ninguém vai em cana.Novos gritos: - Mostra a cara dele na tela.Renova o contrato do Datena.

Queria mandar tudo pra puta que pariu.Mas vacilei e me mandaram primeiro.Queria bater,mas vacilei e fui eu que apanhei.Queria sentir o mar,mas me jogaram um balde de água fria.Queria ouvir do meu chefe bom dia.Mas o metrô atrasou e ouvi boa tarde.Queria ser corajoso, mas sou covarde.

Você já viu pobre vegetariano.Não tem, porque pobrecomendo já tá no lucro.Queria ir pra Miami, mas peguei o metrôpra Corinthians-Itaquera.18h na Praça da Sê, o de menos é ir de pé.Entrou, agradeça.

Antes que o mundo se acabe.Quero uma casa na Cohab.Quero olhar pra cima e ver uma laje.

Mais um com pressa.Com fome.Com dor.Mais um que não virou Dr.No máximo vira estatística.Sem teto, sem terra, sem sonhos.

Mas se quer ser feliz.Relaxa e goza.Todo ano tem BBB.Futebol nunca para, acaba o paulistão.Logo vem o Brasileirão.

Escrevi isso, mas queria falar de amor.Escrevi isso, mas queria dormir e sonhar.Porque minha caneta sangra.Cada gota de tinta éuma gota do meu sangue.E quando ele secar será tarde,eu vou morrer.Mesmo sabendo disso, não consigo parar.

Melhor seria ignorar.Pegar meu carro e ir pra praia.Não tenho carro.

Pego minha caneta e escrevo.Com pressa, com raiva.Quem vai ler deve saberCada gota de tinta é uma gota de sangue.E quando secar, acabar a última gota.Eu vou morrer.

Quem vai lembrar de mim depois de dez anos?Será que minha ex-mulher?Pelo menos meu filho?Ou paro agora de escrever, relaxo e gozo.Toco um foda-se e digo “Tô nem ai”.Mas não, continuo escrevendo, continuo sangrando.Até a morte, ou até existir pelo menos, justiça social.Brasil, essa é a sua cara.

Viva o Maluf, o Lalau.Viva a Daslu, o castelo do deputado.CV, PCC, a contra indicação.Põe a Rota na rua, será a solução?

Um desvia milhões, com uma caneta.O outro por bem menos,Puxa 10 no cadeião lotado.Monte de pobre amontoado.Sorte do Datena, que lucra com isso.E a gente bebe cachaça, até no aniversário de Cristo.

Eu um pessimista?Terrorista?Sou apenas um diferente.Que escreve e sangra.

www.buzo.com.br

É COM VOCÊS, ESCRITORES

Não sei se todos estão acompanhando. Uma nova lei, que substitui a Rouanet(mas não acaba com ela, ao contrário do que os barões da cultura dizem) vai serenviada ao Congresso Nacional. Para votação. A pressão contrária vai ser brutal.Por quê? Há muita grana envolvida na parada. E os barões da cultura e as grandesempresas não querem perder a mamata de fazer marketing privado com dinheiropúblico.

A nova lei propõe a incrementação do Fundo Nacional de Cultura. Em minha opinião,é um mecanismo que vai favorecer os independentes. E os barões da cultura nãoquerem isso. O texto da nova lei está disponível para consulta pública no site doMinistério da Cultura. Todo mundo pode opinar (de preferência, com propriedade,sabendo o que está falando).

No nosso caso, dos ESCRITORES, ainda há uma distorção. Continuam nos colocandono guarda-chuva do “Livro e Leitura”. Eu cansei de falar contra isso nas reuniõesque participei. Livro é livro, é o produto. Literatura é o que vem antes: a arteliterária. Livro é o produto industrial das editoras. Literatura pode se manifestarem outras formas: revistas, sites, CDs, CDs-rom, jornadas literárias, encontros deescritores com leitores, enfim, uma infinidade de outras coisas que não se resumemao livro.

A nova lei cria o Fundo Setorial das Artes que inclui, repare bem, teatro, circo,dança, artes visuais e música. Reparou? Literatura não está incluída aí, comoarte. Eu estou cansado de bater na mesma tecla. Estou também sem tempo (precisobatalhar minha própria sobrevivência). Mas sugiro que todos os escritores queainda têm alguma consciência façam uma coisa simples: entrem no site no Minc,sigam ao link da consulta pública da nova lei e exijam que a literatura sejaconsiderada como uma arte. Que ela saia do guarda-chuva “livro e leitura” epasse para o Fundo Setorial das Artes. Só assim, a criação literária poderá receberrecursos públicos, justos, através de editais públicos, e não sob a (má) vontadede um gerente de marketing de uma grande empresa (que nunca está interessadonum projeto literário).Depois, não adianta espernear quando barões da cultura surgirem com projetosmirabolantes. A oportunidade é agora. Se mexam. Todos os outros setores estãose mexendo. O link do Ministério da Cultura é esse aqui:www.cultura.gov.br/site/ À direta no site você vai ver de forma bem visível:Reforma da Lei Rouanet. É ali.Fonte - zonabranca.blog.uol.com.br

Inauguração do Estúdio 1 Da Sul!Os manos Ferréz e Maurício DTS acabam de inaugurar o melhor estúdio de áudio da ZonaSul, captação, áudio book, mixagem, produção musical e masterização. Tudo com ocontrole de qualidade 1 da Sul.Só podemos dizer: Parabéns mano, mais uma conquista da favela.A festa de inauguração foi muito boa, com direito a discotecagem do DJ Cia.

Boletim do Kaos no show do DexterO sábado do dia 11 de abril, foi de muito trabalho emuita satisfação para o Boletim do Kaos. Na zona nortede São Paulo, Alessandro Buzo chegava cedo paraapresentar o show do Dexter. Uma lenda do rap quevolta a se apresentar depois de oito anos.Aproveitamos o evento que reuniu mais de cinco milpessoas e levou ao palco nomes como Mano Brown,Paula Lima, Thaíde, GOG entre outros e distribuímoscentenas de exemplares do jornal Boletim do Kaos.

Mais reflexões sobre as mudanças na lei Rouanet

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www.jornalirismo.com.brPor Alessandro Buzo

Um cara tranquilo, sincero, amigo e competente no que faz.Ele é um jornalista e seu nome é Guilherme Azevedo, editor do Site Jornalirismo.Conheci quando em 2000 ele foi fazer uma matéria comigo para a Revista Caros Amigos, onde escrevia

por prazer de dar prazer aos outros que o liam, na Folha, onde “trabalhava”, era mais um lance de sustento,sobre sua sala de trabalho costumava dizer que se sentia preso: - Não tem nem janela.

Um cara que apostou num site “Com Conteúdo”, que ousadia, podia ser só mais um site.Junto dele sempre a família (pai, esposa e irmãos), eles são sua equipe.

Ligado na cena literária periférica, em seu site podemos encontrar trabalhos meus (Buzo), SérgioVaz, Jonilson Montalvão.

O time de colaboradores vai longe e tem entre eles grandes profissionais da comunicação, como ofotógrafo Marcelo Min, Brazil, Wellington Ramalhoso e uma nata da publicidade.

Misture tudo isso e tenha, no mínimo, um site verdadeiro, o Boletim do Kaos indica, acesse

fonso Henriques de Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881 - Rio de Janeiro, 1 deNovembro de 1922), foi um jornalista e um dos mais importantes escritores brasileiros.

Era filho de João Henriques de Lima Barreto (mulato nascido escravo) e de AmáliaAugusta (filha de escrava agregada da família Pereira Carvalho). O seu pai foi tipógrafo.Aprendeu a profissão no Imperial Instituto Artístico, que imprimia o famoso periódico "ASemana Ilustrada". A sua mãe foi educada com esmero, sendo professora da 1ª à 4ª séries.

Lima Barreto, mulato num Brasil que mal acabara de abolir oficialmente a escravatura,teve oportunidade de boa instrução escolar. Após a morte da mãe, passou a frequentar a escolapública de D. Teresa Pimentel do Amaral. Em seguida, passou a cursar o Liceu Popular Niteroiensem 1895, transferiu-se para a única instituição pública de ensino secundário da época, cujosestudantes eram da elite econômica. No ano de 1895, foi admitido no curso da Escola Politécnica,no Rio de Janeiro, porém foi obrigado a abandoná-lo em 1904 para assumir o sustento dosirmãos, devido à loucura que afligiu o seu pai.

Lima Barreto começou a sua colaboração na imprensa desde estudante, em 1902, noA Quinzena Alegre, depois no Tagarela, O Diabo, e na Revista da Época. Em jornais de maiorcirculação, começou em 1905, escrevendo no Correio da Manhã uma série de reportagenssobre a demolição do Morro do Castelo. Daí em diante, colaborou em vários jornais e revistasmas foi em 1909, sua estréia como escritor de ficção, publicando, em Portugal, o romanceRecordações do Escrivão Isaías Caminha. A narrativa de Lima Barreto nesse primeiro livro,pincelada com indisfarçáveis traços autobiográficos, mostra uma contundente crítica àsociedade brasileira.

Lima sofria severas críticas pelo fato de Lima fugir, conscientemente, do padrãoempolado de escrever que à época vigorava. Não à toa viu frustradas suas tentativas deingressar na Academia Brasileira de Letras.

Sua vida foi atribulada pelo alcoolismo e por internações psiquiátricas, ocorridas du-rante suas crises severas de depressão - à época era um dos sintomas pertencentes ao diagnósticode "neurastenia", constante de sua ficha médica - vindo a falecer aos 41 anos de idade.

CaracterísticasLima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo

com o nacionalismo ufanista que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados.

Também queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar omundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que,na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social.

Obras• 1905 - O Subterrâneo do Morro do Castelo• 1909 - Recordações do Escrivão Isaías Caminha• 1911 - O Homem que Sabia Javanês e outros contos• 1915 - Triste Fim de Policarpo Quaresma• 1919 - Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá• 1920 - Cemitério dos Vivos• 1920 - Histórias e Sonhos• 1923 - Os Bruzundangas• 1948 - Clara dos Anjos (póstumo)• 1952 - Outras Histórias e Contos Argelinos• 1953 - Coisas do Reino de Jambom

le é poeta, escritor e Prof. de Escola Pública, naZona Leste de São Paulo, não esconde (em seuBlog) o sentimento que passa dos alunos paraele, as vezes alegre, as vezes até dói.Seu nome é Rodrigo Ciríaco e até seu livro deestréia remete a escola, começando pelo titulo“Te Pego Lá Fora” (Edições Toró – 108

páginas). 13º titulo lançado por essa editora da periferiapara periferia.

No fim da obra se lê: - Os personagens e assituações deste livro são reais apenas no universo daficção, não se referem a pessoas e fatos concretos.

Voltemos ao professor, ele poderia apenas daraula e receber seu salário, mas criou um evento deliteratura para seus alunos, em Ermelino Matarazzo, umavez por mês leva um escritor ou poeta para discutirliteratura, o nome do projeto “Literatura (é) Possível”, porlá passou nomes como (eu) Buzo, Sérgio Vaz, Sacolinha,Marcelino Freire (Prêmio Jabuti) e outros.

Frequenta saraus como Cooperifa, Elo daCorrente e outros até no litoral.

Você percebe o poeta triste quando uma alunasua deixa de frequentar as aulas para ganhar uma misériapara ser “placa” humana de publicidade ou quando amenina de 15 anos engravida e teme ser agredida pelopai, é com o professor que eles desabafam, confiam nele.

Seu livro foi dedicado “À todas as vítimas danossa falta de educação. Aos meus alunos e alunas.Os de agora, os de ontem. Além dos seus filhosMariana e Willian e Felipe “in memorian”

Em seu Blog já comprou briga por causa de seusescritos, tipo um efeito colateral de um professor quenão quer “apenas” dar aula, visitewww.efeito-colateral.blogspot.com

Polêmico muitas vezes, em seu primeiro contodo livro “A.B.C.” ele abre assim “Deus é Brasileiro. Masquem manda é o Marcola”. (Marcola dispensaapresentações)

Escreve textos como “Bia não quer merendar”,sobre a aluna que mesmo passando fome, não come acomida da escola para não ser taxadade “merendeira”.

Seus contos são assim,verdadeiros e muitas vezes duro. Comoa vida das crianças que estudam narede pública das periferias do país emuitas vezes vai a escola mais paramerendar do que estudar.

Ah se as escolas tivessem maisprofessores como o Rodrigo Ciríaco,mas dá trabalho ser um diferente.

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