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Sumários de Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça Secções Cíveis Boletim anual – 2016 Assessoria Cível 1 BOLETIM ANUAL DE 2016 SECÇÕES CÍVEIS Miguel Raposo Nuno Coelho José Maria Gonçalves Cláudia Cartaxo Regina Leal

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  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2016 Assessoria Cvel

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    BOLETIM ANUAL DE 2016

    SECES CVEIS

    Miguel Raposo Nuno Coelho

    Jos Maria Gonalves Cludia Cartaxo

    Regina Leal

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    Janeiro Julgamento Matria de facto nus Poderes da Relao Impugnao da matria de facto nus de alegao Rejeio de recurso Reapreciao da prova Recurso de apelao Prova pericial I - A reapreciao da matria de facto por parte da Relao tem de ter a mesma amplitude que o

    julgamento de 1. instncia pois s assim poder ficar plenamente assegurado o duplo grau de jurisdio.

    II - Para que o segundo grau reaprecie a prova, no basta a alegao por banda dos recorrentes em sede de recurso de apelao que houve erro manifesto de julgamento e por deficincia na apreciao da matria de facto devendo ser indicados quais os pontos de facto que, no seu entender, mereciam resposta diversa, bem como quais os elementos de prova que, no seu entendimento, levariam alterao daquela mesma resposta.

    III - Embora no tenham sido apontadas, especificamente, as passagens precisas dos depoimentos em que se funda por referncia ao assinalado na acta, indicando o incio e termo da gravao de cada depoimento, como se prev no n. 2 do art. 640. do NCPC (2013), dever-se- ter como cumprida aquela exigncia legal quando a parte indica o depoimento, identifica a pessoa que o prestou e assinala os pontos de facto que se pretendem ver reapreciados, entendendo-se que s a omisso dos aludidos elementos conduz rejeio da impugnao da matria de facto em sede recursiva.

    IV - A concluso recursiva que o segundo grau tomou como integrante do preceituado no art. 640., n. 1, als. a) e b) do NCPC, por forma a permitir-lhe uma nova anlise da factualidade em causa atravs da audio da gravao da prova produzida em julgamento, era especfica: tratava-se dos relatrios periciais e das declaraes dos peritos, o que habilitaria a segunda instncia a efectuar uma qualquer reapreciao factual dentro dos parmetros objectivados por aquele normativo, como foi feito.

    05-01-2016 Revista n. 36/09.6TBLMG.C1.S1 - 6. Seco Ana Paula Boularot (Relatora) * Pinto de Almeida Jlio Gomes Desero de recurso Rejeio de recurso Despacho do relator Reclamao para a conferncia Tendo o recurso sido julgado deserto por despacho do relator que se mantm intocado, fica

    inviabilizada a reclamao para a conferncia do despacho que, anteriormente, havia rejeitado o recurso.

    05-01-2016 Incidente n. 77/04.0TBPCV-C.P1.S1 - 6. Seco Joo Camilo (Relator) Fonseca Ramos

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    Fernandes do Vale (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Advogado em causa prpria Renncia ao mandato Prazo de interposio do recurso Notificao Extemporaneidade Acto intil Ato intil I - Tendo o ru assumido, inicialmente, a qualidade de advogado em causa prpria e no tendo,

    ulteriormente e apesar de ter constitudo mandatrio, suspendido ou excludo a sua auto-representao, deve considerar-se que esteve representado por si e por aqueloutro advogado, motivo pelo qual a posterior renncia ao mandato por este ltimo em nada influi no decurso do prazo de interposio de recurso.

    II - Posto que a pretensa irregularidade da notificao da renncia ao mandato tambm implicaria a extemporaneidade da interposio de recurso, torna-se intil aferir da conformidade legal da mesma.

    05-01-2016 Revista n. 3210/13.7TBVNG.P1.S1 - 6. Seco Joo Camilo (Relator) Fonseca Ramos Fernandes do Vale (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Reforma da deciso Pressupostos I - A reforma da sentena apenas admitida a ttulo excecional, precavendo-se somente as

    hipteses de erro na determinao da norma aplicvel, na qualificao jurdica dos factos ou de existncia, nos autos, de documento ou de outro meio de prova plena que, por si s, implique deciso diversa da que foi tomada.

    II - A discordncia da requerente relativamente ao decidido no constitui fundamento de reforma, mas apenas de recurso.

    05-01-2016 Revista n. 186/14.7TBAMR.G1.S1 - 6. Seco Joo Camilo (Relator) Fonseca Ramos Fernandes do Vale (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Renncia ao mandato Notificao Prazo Suspenso da instncia Constituio obrigatria de advogado Direito de defesa I - A notificao ao mandante da renncia ao mandato forense no determina a suspenso da

    instncia (cfr. art. 269. do NCPC (2013)), depreendendo-se at da al. a) do n. 3 do art. 47. que tal apenas ocorre na hiptese a prevista.

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    II - A constituio voluntria de advogado distingue-se do patrocnio obrigatrio por assentar numa relao fiduciria, a qual implica que o mandatrio no pode simplesmente desvincular-se de zelar pelos interesses do mandante ao ser notificada a sua renncia.

    III - Atribuindo a lei ao mandante o prazo de 20 dias para constituir novo advogado aps a notificao da renncia, deve considerar-se que o mandatrio renunciante continua vinculado ao patrocnio at aquele se excutir, assegurando-se assim que o mandante no ser prejudicado pela renncia mas tambm que no ser beneficiado em virtude de tal ocorrncia (o que se poderia verificar caso a mesma determinasse a suspenso dos termos da causa), salvaguardando-se os seus direitos de defesa e de acesso aos tribunais.

    05-01-2016 Revista n. 1063/07.3TJPRT.P1.S1 - 6. Seco Jlio Gomes (Relator) Jos Ranho Nuno Cameira Compensao de crditos Crdito ilquido Execuo de sentena Oposio execuo Facto extintivo Caso julgado I - A compensao legal de crditos uma forma de extino das obrigaes que assenta na

    reciprocidade de crditos e dbitos e que exige uma declarao unilateral de vontade. II - A iliquidez do crdito no obvia compensao. Todavia, imperioso que quem pretende

    fundar a oposio execuo de sentena na compensao com crdito ilquido fornea ao tribunal os elementos que permitam a este realizar a liquidao, de modo a proceder ao acerto de contas que subjaz compensao, no sendo vivel que se adie sine die a execuo espera dessa tarefa.

    III - A limitao dos fundamentos da oposio aos factos extintivos ocorridos em momento posterior audincia de discusso e julgamento assenta na ideia de salvaguarda do caso julgado, visando-se assim garantir que aqueles que ocorreram em momento anterior quele so tempestivamente invocados.

    05-01-2016 Revista n. 8676/12.0TBVNG-A.P1.S1 - 6. Seco Jlio Gomes (Relator) Jos Ranho Nuno Cameira Nulidade de acrdo Omisso de pronncia O emprego de argumentao diversa daquela que usada pelas partes (e que pode acarretar que no

    sejam relevantes os elementos por elas trazidos) no implica que se haja incorrido em omisso de pronncia.

    05-01-2016 Incidente n. 1898/13.8TYLSB.S1 - 6. Seco Jlio Gomes (Relator) Jos Ranho Nuno Cameira

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    Admissibilidade de recurso Recurso de apelao Alada Sucumbncia Inconstitucionalidade Deciso final Administrador de insolvncia Remunerao Oposio de julgados Uniformizao de jurisprudncia I - Salvo em certos domnios, a CRP no consagra o direito a um duplo grau de jurisdio, no

    sendo, em conformidade, inconstitucionais as restries que se fundem no valor da alada e da sucumbncia. A interpretao errada da lei por um tribunal de 1. instncia no conduz imediatamente recorribilidade da deciso.

    II - Tendo a retribuio do administrador de insolvncia sido fixada no despacho que encerrou a insolvncia e tendo, ulteriormente, se limitado a responder a um requerimento, desenvolvendo a argumentao antes apresentada, no se pode considerar que estejamos perante deciso proferida aps a deciso final para efeitos de admissibilidade do recurso de apelao (al. g) do n. 2 do art. 644. do NCPC (2013)).

    III - A deciso pela qual se considera que o administrador de insolvncia no tem jus segunda prestao da sua retribuio impassvel de ser confundida com uma sano i.e. a reaco a um comportamento incorrecto e censurvel , sendo, pois, inadmissvel qualquer analogia com a previso da al. e) daquele preceito.

    IV - Tendo o acrdo recorrido se limitado a rejeitar o recurso de apelao, inexiste oposio entre aquele e os arestos que professaram entendimento contrrio quele que foi adoptado em 1. instncia, sendo certo que o interesse na uniformizao de jurisprudncia no legitima que se ignorem as regras sobre a alada e sucumbncia.

    05-01-2016 Revista n. 126/14.3T2ASL.E1.S1 - 6. Seco Jlio Gomes (Relator) Jos Ranho Nuno Cameira Clusula penal Reduo nus de alegao nus da prova Pedido I - Impende sobre o devedor o nus de alegar e provar os factos que evidenciam a desproporo

    entre a clusula penal e os danos sofridos pelo credor com o incumprimento, sendo que o uso da faculdade prevista no n. 1 do art. 812. do CC depende de pedido, expresso ou implcito, nesse sentido.

    II - Limitando-se a r a pugnar pela improcedncia da aco, invivel concluir que impetrou a reduo da pena, tanto mais que esta pressupe, no limite, o reconhecimento da procedncia parcial do pedido formulado pela autora e que, apesar de aludir quele preceito, no articulou tal alegao com qualquer facto material que evidenciasse o cariz manifestamente excessivo da pena.

    III - A previso dos arts. 810. e 811. do CC no aplicvel s clusulas penais estritamente compulsrias.

    IV - Tendo a Relao omitido que a autora reduzira voluntariamente a clusula penal e limitado a essa importncia o pedido, incorre na nulidade prevista na al. e) do n. 1 do art. 615. do

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    NCPC (2013) o acrdo que condenou a recorrente no pagamento do valor integral nela previsto, havendo que, nos termos do n. 1 do art. 684. do NCPC, fazer coincidir a deciso com o pedido.

    05-01-2016 Revista n. 1037/12.2TBFAR.E1.S1 - 6. Seco Nuno Cameira (Relator) Salreta Pereira Joo Camilo Processo Especial de Revitalizao (PER) Aces para cobrana de dvidas Suspenso de aces Extino de aces Interpretao da lei Processo especial de revitalizao Cobrana de dvidas Extino da instncia Suspenso da instncia Aco declarativa Ao declarativa Aco executiva Ao executiva A expresso aces para cobrana de dvidas que consta do art. 17.-E, n. 1, do CIRE, deve ser

    interpretada no sentido de que abrange quer as aces executivas quer as aces declarativas que tenham por finalidade obter a condenao do devedor numa prestao pecuniria.

    05-01-2016 Revista n. 172724/12.6YIPRT.L1.S1 - 6. Seco Nuno Cameira (Relator) * Salreta Pereira Joo Camilo Contrato de abertura de crdito Abertura de crdito em conta corrente Contrato sinalagmtico Interpretao da declarao negocial Sentido normal da declarao Livrana em branco Aval Avalista Matria de direito Poderes do Supremo Tribunal de Justia I - A interpretao do negcio jurdico de acordo com os critrios fixados nos arts. 236. e 238.,

    ambos do CC, constitui matria de direito e sujeita, por isso, ao controle do STJ sempre que no tenha sido possvel s instncias apurar a vontade real dos contraentes.

    II - Se, da interpretao conjugada das clusulas de um contrato de abertura de crdito em conta corrente resultar, segundo o critrio do art. 236., n. 1, do CC, que apenas a sociedade de que o recorrido foi scio gerente assumiu as obrigaes dela decorrentes, o banco fica impedido de o executar com base em tal contrato, ainda que aquele tenha avalizado uma livrana em branco e subscrito o respectivo pacto de preenchimento para assegurar o cumprimento das obrigaes contratuais da sociedade creditada.

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    05-01-2016 Revista n. 146/13.5TCFUN-A.L1.S1 - 6. Seco Nuno Cameira (Relator) Salreta Pereira Joo Camilo Condenao em custas Princpio da causalidade Taxa de justia Alegaes de recurso I - Em matria da responsabilidade por custas em sede de recurso, o princpio da causalidade impe

    que as mesmas sejam suportadas pela parte vencida, ainda que esta no tenha alegado (n. 1 do art. 527. do NCPC (2013)).

    II - O pagamento da taxa de justia est conexionado com o impulso processual, sendo irrelevante o critrio do vencimento. Assim, se o vencido no contra-alegar no tem que pagar a respectiva taxa de justia, mas nada obsta a que seja condenado nas custas.

    05-01-2016 Incidente n. 784/03.4TBMTR-AR.C1.S1 - 6. Seco Pinto de Almeida (Relator) Jlio Gomes Nuno Cameira Coisa defeituosa Nexo de causalidade Ilicitude Compra e venda Incapacidade permanente absoluta Equidade Dano biolgico I - Tendo sido posto venda um produto defeituoso o produto, pela sua composio, era perigoso

    e a sua comercializao no foi acompanhada de adequada informao sobre os riscos inerentes ao seu uso e tendo a lesada feito uma utilizao normal e previsvel do mesmo, procedendo em conformidade com as instrues que constavam do rtulo, lcito presumir que houve nexo causal entre o defeito do produto e o sinistro que ocorreu com a sua utilizao.

    II - Constituindo a comercializao desse produto defeituoso, nessas circunstncias, um facto ilcito, que foi causa da ocorrncia do referido sinistro, e no tendo a lesada contribudo para a verificao deste, nem para tal se tendo provado a concorrncia de outras causas, sempre deveria concluir-se pela existncia de causalidade adequada entre o aludido facto e o dano sofrido.

    III - Tendo resultado do acidente uma situao de incapacidade absoluta para o trabalho habitual, deve, no juzo equitativo, ponderar-se o grau de aptido que resta lesada para desempenhar uma profisso que no a habitual, concilivel com a natureza e gravidade das leses geradoras das incapacidades e no meio socioeconmico em que vive.

    IV - A indemnizao, para alm da perda futura de rendimento, derivada da diminuio da capacidade de ganho que afecta a lesada, deve ressarcir o dano biolgico, isto , o dano pela ofensa integridade fsica e psquica desta.

    05-01-2016 Revista n. 2790/08.3TVLSB.L1.S1 - 6. Seco Pinto de Almeida (Relator) *

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    Jlio Gomes Jos Ranho Responsabilidade civil do Estado Funo jurisdicional Responsabilidade extracontratual Direito indemnizao Priso preventiva I - O n. 1 do art. 225. do CPP reconhece o direito indemnizao se a privao da liberdade for

    ilegal, se dever a erro grosseiro do juiz na apreciao dos pressupostos de facto ou se se comprovar que o arguido no foi o agente do crime, sendo este o nico caso de responsabilidade extracontratual civil do Estado pelo desempenho de funes jurisdicionais assente na prtica de acto lcito.

    II - O art. 22. da CRP no abrange a responsabilidade extracontratual civil do Estado por actos lcitos.

    III - O direito positivo nacional no contempla o direito do arguido a ser indemnizado pelos danos sofridos em consequncia da imposio da priso preventiva quando este acaba por ser absolvido em obedincia ao princpio in dubio pro reo.

    05-01-2016 Revista n. 1740/12.7TBPVZ.P1.S1 - 6. Seco Salreta Pereira (Relator) Joo Camilo Fonseca Ramos (vencido) Privao do uso de veculo Direito indemnizao Proprietrio Dano Aluguer de automvel sem condutor Seguradora I - Para que um proprietrio do veculo sofra um dano com a privao do seu uso no

    indispensvel que aquele seja por si por usado habitualmente. II - Demonstrando-se que o autor suportou o custo do aluguer de um veculo automvel que

    utilizado profissionalmente por outrem em substituio da viatura acidentada, justifica-se que a seguradora do automvel que causou o sinistro seja compelida a ressarci-lo dos montantes que despendeu e despender.

    05-01-2016 Revista n. 166/14.2TVPRT.P1.S1 - 6. Seco Salreta Pereira (Relator) Joo Camilo Fonseca Ramos Nulidade de acrdo Excesso de pronncia Omisso de pronncia Expropriao por utilidade pblica Avaliao Alvar Alegaes de recurso Contra-alegaes

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    Acto intil Ato intil Caso julgado I - Tendo a apelante, nas alegaes da apelao, suscitado a questo da abrangncia do alvar de

    loteamento, no incorreu o acrdo recorrido em nulidade por excesso de pronncia ao determinar a realizao de nova avaliao que tivesse em conta essa circunstncia, o que at poderia ser feito oficiosamente (art. 662., n. 2, al. b), do NCPC (2013)).

    II - A circunstncia de no terem sido delimitados os termos e condicionantes processuais da nova avaliao no implica a prtica de atos inteis, pois os rbitros e os peritos no tm como funo determinar se h lugar a indemnizao mas apenas pronunciar-se sobre o valor dos bens expropriados e propor, atendendo aos critrios legais, o montante indemnizatrio devido pela expropriao por utilidade pblica.

    III - Tendo em conta o alcance da determinao referida em I, s poder existir violao do caso julgado quando, aps a realizao da nova avaliao a mencionada, for proferida nova deciso que verse sobre o direito indemnizao ou sobre os critrios legais.

    IV - Em sede recursria, o tribunal superior apenas tem que se pronunciar sobre questes (e no sobre argumentos) colocadas pelo recorrente nas suas alegaes de recurso, pelo que no incorre em omisso de pronncia se no tiver em conta a argumentao desenvolvida pelo recorrido nas contra-alegaes.

    05-01-2016 Revista n. 658/09.5TBAMD.L1.S1 - 6. Seco Silva Salazar (Relator) Nuno Cameira Salreta Pereira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Recurso para uniformizao de jurisprudncia Admissibilidade de recurso Despacho do relator Oposio de julgados Fundo de Garantia Automvel Prescrio I - O Pleno das Seces Cveis do STJ tem competncia para se pronunciar, em reapreciao da

    deciso do relator, sobre a questo da verificao dos requisitos legais de que depende a uniformizao de jurisprudncia, enunciados no art. 688. do NCPC (2013).

    II - A oposio de acrdos sobre a mesma questo fundamental de direito, pressuposto primeiro da uniformizao de jurisprudncia, traduz-se na prolao de decises contrrias que, sobre situaes de facto nuclearmente idnticas, aplicaram ou interpretaram as mesmas normas jurdicas, determinantes na resoluo da questo.

    III - No ocorre oposio entre o acrdo fundamento, que decidiu aproveitar ao FGA a prescrio invocada pelos responsveis civis e declarada por deciso transitada e o acrdo recorrido, que decidiu no poder o FGA invocar a prescrio do direito relativamente aos responsveis civis, por no ser terceiro, em consequncia do que no aprecia a prescrio e o aproveitamento da mesma ao recorrente.

    12-01-2016 Recurso para Uniformizao de Jurisprudncia n. 7697/10.1TBMAI.P1.S1-A Alves Velho (Relator) Pires da Rosa Bettencourt de Faria Salreta Pereira Joo Bernardo

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    Joo Camilo Paulo S Maria dos Prazeres Beleza Oliveira Vasconcelos Fonseca Ramos Garcia Calejo Helder Roque Salazar Casanova Lopes do Rego Orlando Afonso Tvora Victor Gregrio de Jesus Fernandes do Vale Fernando Bento Martins de Sousa Gabriel Catarino Joo Trindade Tavares de Paiva Silva Gonalves Abrantes Geraldes Ana Paula Boularot Maria Clara Sottomayor Pinto de Almeida Fernanda Isabel Pereira Manuel Tom Gomes Jlio Gomes Maria da Graa Trigo Nuno Cameira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Recurso de revista Admissibilidade de recurso Dupla conforme Fundamentao essencialmente diferente Matria de direito Impugnao da matria de facto Irregularidade processual I - No admitida revista do acrdo da Relao que confirme, sem voto de vencido e sem

    fundamentao essencialmente diferente, a deciso proferida na 1. instncia, salvo nos casos previstos no art. 672. do CPC (art. 671., n. 3, do CPC).

    II - Se em ambos os arestos se considerou como fundamentao jurdica das respetivas decises a inverificao de qualquer ilcito pr-contratual, contratual ou extracontratual por parte dos rus, ao que a Relao aditou que tambm no era caso de preenchimento da denominada eficcia externa das obrigaes, nem de ocorrncia de enriquecimento sem causa, esta diferenciao no tem a idoneidade para se subsumir ao conceito legal de fundamentao essencialmente diferente, referido em I.

    III - Reportando-se a fundamentao jurdica, a diferena essencial no se verifica s porque a Relao alterou a deciso proferida sobre a matria de facto na 1. instncia.

    IV - Igualmente no consubstancia fundamentao essencialmente diferente a eventual prtica de irregularidade processual por parte da Relao, traduzida no indevido conhecimento da impugnao da matria de facto, deduzida pelos apelados, sem que haja prvio juzo de procedncia da apelao.

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    Revista n. 1279/08.5TBCBR.C1.S2 - 6. Seco Fernandes do Vale (Relator) Ana Paula Boularot Pinto de Almeida (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Direito de propriedade Direito indemnizao Expropriao por utilidade pblica Princpio da intangibilidade da obra pblica Via de facto I - A consagrao e respeito pelo direito de propriedade privada correspondem a uma trave mestra

    e, verdadeiramente, estruturante do nosso sistema jurdico. II - Embora tal direito no goze de proteo constitucional em termos absolutos, o mesmo est

    garantido como um direito de no ser arbitrariamente privado da propriedade e de ser indemnizado no caso de desapropriao.

    III - O pagamento da justa indemnizao devida por expropriao por utilidade pblica comporta duas dimenses importantes: (i) - uma ideia tendencial de contemporaneidade, pois, embora no sendo exigvel o pagamento prvio, tambm no existe discricionariedade quanto ao adiamento do pagamento da indemnizao; (ii) - justia de indemnizao quanto ao ressarcimento dos prejuzos suportados pelo expropriado, o que pressupe a fixao do valor dos bens ou direitos expropriados.

    IV - A via de facto aquela que se caracteriza no pela prtica de um ato expropriativo a que faltam algum ou alguns requisitos legais de validade, mas por um ataque grosseiro propriedade por meio de factos materiais onde no se pode encontrar nada que corresponda ao conceito de expropriao.

    V - Contra a via de facto dispe o particular por ela afetado, quer dos meios de defesa da propriedade e posse previstos no CC, quer dos meios de proteo jurisdicional oferecidos pela legislao processual administrativa, uma vez que a via de facto coloca a Administrao Pblica numa posio idntica do simples particular, ficando aquela privada da posio de supremacia em que se encontraria no ato expropriatrio.

    VI - Estando inviabilizada a restituio ao titular do respetivo direito de propriedade de imvel ocupado por via de facto pela Administrao Pblica, na prevalncia (art. 335., n. 2, do CC) do colidente interesse pblico e em homenagem ao princpio da intangibilidade da obra pblica, no poder o formulado pedido de pagamento de indemnizao quele titular deixar de ser considerado como verdadeiro sucedneo do pedido de restituio em que se decompe a ao de reivindicao.

    VII - Esta, sem prejuzo dos direitos adquiridos por usucapio, no prescreve pelo decurso do tempo.

    19-01-2016 Revista n. 6385/08.3TBALM.L2.S1 - 6. Seco Fernandes do Vale (Relator) * Ana Paula Boularot Pinto de Almeida (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Testamento Vontade do testador Incapacidade acidental Anulabilidade nus da prova Documento autntico Fora probatria plena

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    I - A incapacidade acidental, a que se refere o art. 2199. do CC, afectando a vontade do testador,

    constitui vcio volitivo que determina a anulabilidade do acto; o normativo quer proteger o testador, o seu acto de vontade unilateral, ao passo que o art. 257. do CC, que tambm versa sobre a incapacidade acidental, mas em actos contratuais e tem o seu campo de aplicao nos negcios jurdicos bilaterais, visa proteger, sobretudo, o declaratrio, desde logo, exigindo como requisito de anulabilidade da declarao que o facto determinante da incapacitao acidental de entender o sentido da declarao de vontade seja notrio, ou conhecido do declaratrio.

    II - No art. 2199. do CC, prescinde-se dos requisitos notoriedade ou cognoscibilidade do vcio que afecta a vontade do declarante, desde logo, por se tratar de um acto unilateral, um negcio jurdico no recipiendo, que no carece de aceitao para produzir os seus efeitos.

    III - O estado de incapacidade acidental do testador deve existir no momento da feitura do testamento, incumbindo ao interessado na invalidade o nus da prova dos factos reveladores de incapacidade acidental art. 342., n. 1, do CC.

    IV - A incapacidade para entender e querer, no momento da feitura do testamento, no tem necessariamente de estar afirmada por uma sentena que declare a interdio do testador, o que pressupe um estado continuado, permanente, de incapacidade volitiva; essa incapacidade pode ser meramente ocasional, transitria, desde que seja contempornea da declarao volitiva plasmada no testamento.

    V - A fora probatria plena dos documentos autnticos circunscreve-se s percepes neles afirmadas pela autoridade ou oficial pblico documentador, j no sinceridade, genuinidade ou verdade das declaraes dos intervenientes, ou a factos que no possam por ele ser comprovados cientificamente; o facto de no constar numa escritura pblica, suporte de um testamento, que a testadora estava acidentalmente incapaz de entender ou querer, no impede que essa prova se faa ulteriormente.

    19-01-2016 Revista n. 893/05.5TBPCV.C1.S1 - 6. Seco Fonseca Ramos (Relator) * Fernandes do Vale Ana Paula Boularot Caso julgado Eficcia Terceiro Direito de propriedade I - O caso julgado material abrange o segmento decisrio e a deciso das questes preliminares que

    sejam seu antecedente lgico indispensvel, no sendo de excluir o recurso parte motivadora para alcanar e fixar o verdadeiro contedo da mesma deciso.

    II - A excepo do caso julgado visa evitar que o rgo jurisdicional, duplicando as decises sobre idntico objecto processual, contrarie na deciso posterior o sentido da deciso anterior.

    III - A excepo de caso julgado no se confunde com autoridade do caso julgado: com a primeira, visa-se o efeito negativo da inadmissibilidade da segunda aco, um obstculo a nova deciso de mrito; com a segunda, o efeito positivo de impor a primeira deciso segunda deciso de mrito.

    IV - A sentena proferida numa aco em que estejam em discusso direitos absolutos e subjectivamente vinculantes (como o caso dos direitos reais, entre os quais, o direito de propriedade) no expande a sua eficcia para alm dos sujeitos intervenientes no processo, no podendo vincular e abranger todos quanto excluso de domnio (sobre a coisa), mas to s aqueles entre quem a sentena atribuiu e delimitou a excluso da turbao do direito perturbado.

    19-01-2016

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    Revista n. 126/12.8TBPTL.G1.S1 - 1. Seco Gabriel Catarino (Relator) Maria Clara Sottomayor Sebastio Pvoas Contrato de mtuo Pagamento em prestaes Falta de pagamento Perda do benefcio do prazo Interpelao admonitria Mora do devedor Incumprimento definitivo Fiana I - O mtuo tpico um contrato mediante o qual uma das partes, o mutuante, com ou sem

    retribuio, renuncia temporariamente disponibilidade de uma certa quantia de dinheiro ou ao equivalente a certa coisa fungvel, pela cedncia a outrem, o muturio, podendo este retirar delas um aproveitamento (art. 1142. do CC).

    II - Acordado entre as partes que o montante mutuado seria pago num nmero determinado de prestaes 360 prestaes mensais, constantes e sucessivas de capital e juros tem-se por correcto qualificar a natureza da obrigao contrada, pelos muturios, como uma prestao fraccionada (cfr. art. 781. do CC).

    III - No obstante o estabelecimento do prazo a favor do devedor (art. 779. do CC), o credor pode exigir o cumprimento imediato da obrigao (primeira parte do art. 780. do CC), ocorrendo alguma das seguintes condies: (i) o devedor tornar-se insolvente, ainda que a insolvncia no tenha sido judicialmente declarada; (ii) se, por causa imputvel ao devedor, diminurem as garantias de crdito; ou (iii) no forem prestadas as garantias prometidas.

    IV - A falta de pagamento de uma ou mais prestaes no constitui, ipso facto e de forma imediata e automtica, o credor na posio de agente resolutivo do contrato de mtuo (oneroso), dado que a no restituio de uma prestao (parcela do capital mutuado) devida, no constitui falta que induza a justificao de um incumprimento definitivo.

    V - A referida falta de pagamento apenas confere ao credor o direito de exigir o pagamento das prestaes restantes, que se venceriam em momento posterior, mediante interpelao do devedor para cumprir o total da obrigao (art. 781. do CC), sendo que s a partir desta manifestao de vontade o devedor se constitui em mora relativamente s prestaes ainda em dvida, sendo alcanvel uma situao de incumprimento definitivo, nos termos do art. 808. do CC.

    V - O incumprimento por parte do devedor principal da prestao a que ficou adstrito compele ou conculca o fiador a realizar a prestao em falta, nos precisos termos em que essa obrigao deveria ter sido prestada, independentemente da qualidade, ou qualificao jurdico-legal, em que o devedor principal contraiu ou assumiu a dvida principal.

    VI - Se, porm, o devedor principal no paga uma ou mais prestaes, como resulta do regime da perda do benefcio do prazo, o fiador apenas o dever acompanhar no pagamento global se for interpelado pelo credor para proceder ao pagamento da totalidade da dvida liquidada, no produzindo esse efeito a notificao com cominao ao pagamento da quantia em dvida, por fora do vencimento antecipado das prestaes.

    19-01-2016 Revista n. 1453/12.0TBGDM-B.P1.S1 - 1. Seco Gabriel Catarino (Relator) Maria Clara Sottomayor Sebastio Pvoas Nulidade de acrdo Omisso de pronncia

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    Irregularidade processual Oposio execuo Ttulo executivo Cheque Quirgrafo Confisso de dvida Alterao da causa de pedir Mora do credor Factura Fatura Quitao Ampliao do mbito do recurso Questo nova Poderes do Supremo Tribunal de Justia Impugnao da matria de facto Recurso para o Supremo Tribunal de Justia Inadmissibilidade I - O acrdo nulo, por omisso de pronncia, quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre

    questes que devesse apreciar (art. 615., n. 1, al. d), primeira parte, do CPC, aplicvel por fora dos arts. 666. e 685. do mesmo Cdigo).

    II - Este vcio traduz-se no incumprimento ou desrespeito, por parte do julgador, do dever prescrito no art. 608., n. 2, do CPC, segundo o qual o juiz deve resolver todas as questes que as partes tenham submetido sua apreciao exceptuadas aquelas cuja deciso esteja prejudicada pela soluo dada a outras.

    III - No se enquadra neste vcio a falta de pronncia sobre o efeito do recurso interposto, que constitui mera irregularidade processual, sanvel, mediante invocao pelo interessado no prazo geral de dez dias, nos termos dos arts. 199., n. 1, 149., n. 1, e 197., n. 1, do CPC.

    IV - Nada impedia que o tribunal recorrido conclusse pela condio de quirgrafos dos cheques oferecidos execuo, se os factos constitutivos da relao causal subjacente respectiva emisso resultam do prprio ttulo ou foram articulados pelo exequente no respectivo requerimento executivo, revelando plenamente a verdadeira causa petendi da execuo e propiciando ao executado efectiva e plena possibilidade de sobre tal matria exercer o contraditrio, como o fez no articulado de oposio execuo.

    V - No obstante ser o requerimento executivo a sede prpria para o exequente fazer a invocao da causa de pedir, e no a contestao oposio execuo, a alterao da causa de pedir possvel na oposio execuo por acordo das partes ou confisso feita pelo ru, de acordo com o estabelecido nos arts. 264. e 265. do CPC.

    VI - Aceites e assentes a relao comercial entre a exequente e a executada, os fornecimentos e servios prestados por aquela, bem como as respectivas datas, no se mostra violado o disposto no art. 360. do CC ao considerar-se que houve igualmente uma confisso da dvida de capital pela executada.

    VII - Se a emisso de factura apenas representa o cumprimento de uma obrigao fiscal e no foi alegada/provada a existncia de acordo celebrado com a exequente no sentido do pagamento dos bens e servios ser feito mediante ou contra a apresentao da respectiva factura e apenas no momento dessa apresentao, no pode considerar-se que a eventual omisso dessa conduta configure hiptese de mora do credor (cfr. art. 813. do CC).

    VIII - Exigindo o direito quitao a simultaneidade das prestaes, no assiste executada o direito de recusar o pagamento, invocando que a exequente no deu quitao de pagamentos anteriores, podendo sempre, ao invs, exigir a quitao depois do cumprimento, nos termos do art. 787., n. 2, do CC.

    IX - No serve de fundamento ampliao do objecto do recurso a alegao de factos novos e em flagrante contradio com a posio vertida no requerimento de oposio execuo.

    X - O STJ, como tribunal de revista que , s conhece, em princpio, de matria de direito, limitando-se a aplicar definitivamente o regime jurdico que julgue adequado aos factos

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    materiais fixados pelo tribunal recorrido (art. 682., n. 1, do CPC), da que o eventual erro na apreciao das provas e na fixao da matria de facto pelo tribunal recorrido s possa ser objecto do recurso de revista quando haja ofensa de uma disposio expressa de lei que exija certa espcie de prova para a existncia do facto ou que fixe a fora de determinado meio de prova (art. 674., n. 3, do CPC).

    XI - No pode o STJ alterar os factos dados por assentes se a recorrente no impugnou a deciso proferida sobre a matria de facto, sendo irrecorrveis as decises da Relao previstas no art. 662., n. 1, e n. 2, do CPC (n. 4 do mesmo normativo).

    19-01-2016 Revista n. 871/07.0TCSNT-A.L1.S1 - 1. Seco Gregrio Silva Jesus (Relator) Martins de Sousa Gabriel Catarino Recurso de revista Revista excepcional Revista excecional Admissibilidade de recurso Valor da causa I - A admissibilidade, a ttulo excecional, da revista-regra tem por base uma situao de falta de

    dupla conforme, em que dispensado o pressuposto genrico do valor da alada do tribunal, quando o fundamento da sua admissibilidade seja a contradio entre acrdos das Relaes, nos termos do art. 629., n.os 1, e 2, al. d), do CPC, atendendo ressalva e do qual no caiba recurso ordinrio por motivo estranho alada do tribunal.

    II - Por seu turno, a admissibilidade do recurso de revista excecional tem subjacente a situao em que o acrdo da Relao confirme, sem voto de vencido e sem fundamentao essencialmente diferente, a deciso proferida na 1. instncia, isto , a dupla conforme, por fora do disposto nos arts. 672., e 671., n. 3, que reclama a verificao prvia do pressuposto genrico do valor da alada do tribunal, quando o fundamento da sua admissibilidade seja a contradio entre acrdos das Relaes e do STJ, em conformidade com o estipulado pelo art. 672., n. 1, al. c), todos do CPC, e visto inexistir qualquer ressalva quanto ao motivo estranho alada do tribunal.

    III - No deve ser admitido o recurso de revista excecional se falta o pressuposto genrico do valor da alada do tribunal.

    19-01-2016 Revista n. 717/10.1TBVRL.G1-A.S1 - 1. Seco Helder Roque (Relator) Gregrio Silva Jesus Martins de Sousa (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Sociedade comercial Lucros Scio Terceiro Garantia das obrigaes Garantia real Hipoteca I - O justificado interesse prprio da sociedade garante h-de revelar como fio condutor o intuito

    do lucro das sociedades comerciais, a sua rentabilidade, que se traduz no objetivo final comum a todos os interesses societrios em jogo, pressupondo que a finalidade dos representantes da

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    sociedade, ao prestarem garantias a terceiro, tenha sido a de satisfazer certo interesse econmico da sociedade garante, e no a de proporcionar uma vantagem ao credor ou ao devedor.

    II - O conceito de justificado interesse prprio no se preenche quando so prestadas garantias para satisfazer interesses extra-sociais dos scios, como acontece quando a sociedade prestou uma garantia, no montante global de Esc. 790 000 000$00, juros moratrios e demais encargos, relativamente a um emprstimo contrado por uma entidade terceira ao banco ru, sob a forma de facilidade em conta corrente, no montante de Esc. 300 000 000$00, sem que, em troca, tenha recebido qualquer correspondncia econmica ao valor da prestao oferecida.

    III - Tendo a autora invocado que a prestao da hipoteca, em garantia de dvidas de uma outra sociedade, foi contrria ao fim daquela sociedade autora, por no existir justificado interesse prprio da mesma na prestao dessa garantia, por se tratar de um negcio gratuito, embora invocando um facto impeditivo da validade do negcio, complementar da respetiva norma constitutiva, deve o mesmo, por si ser demonstrado, tal como o facto constitutivo da declarao de nulidade da procurao para a constituio da hipoteca, ou seja, a prestao de garantias reais a dvidas de outras entidades.

    IV - A prestao de garantias reais ou pessoais, tambm, admitida, sem interesse prprio, mas, to-s, no caso de sociedades em relao de domnio ou de grupo, porquanto, nesta hiptese, ocorre uma presuno iuris et de iure, de lucro, pelo menos, do lucro previsto, potencial, ainda que no de lucro real.

    V - O que se considera contrrio ao fim da sociedade consiste na prestao de garantias (gratuitas) reais ou pessoais, a dvidas de outras entidades, pois que quando a prestao da garantia seja remunerada, pelo devedor, pelo credor ou por outrem, tratando-se de prestao de garantias onerosas, que tm subjacente um presumvel justificado interesse prprio, j no existe um ato contrrio ao fim lucrativo pressuposto pela sociedade, uma vez que se mostra suportado por um justificado interesse prprio da sociedade, no sendo necessrio que o terceiro soubesse ou no devesse ignorar que esse justificado interesse prprio no existia.

    19-01-2016 Revista n. 215/13.1TVLSB.L1.S1 - 1. Seco Helder Roque (Relator) * Gregrio Silva Jesus Martins de Sousa (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Nulidade de acrdo Falta de fundamentao Poderes da Relao Matria de facto Reapreciao da prova Contrato de depsito Contrato de armazenagem Preo Litigncia de m f I - O acrdo nulo quando no especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a

    deciso (art. 615., n. 1, al. b), do CPC). II - Trata-se de uma especificao do dever geral de fundamentao das decises judiciais, previsto

    no art. 154. do CPC. III - A referida nulidade s se verifica, porm, no caso de falta absoluta de fundamentao, sendo a

    insuficincia ou mediocridade da motivao espcie diferente. IV - A reapreciao da deciso da matria de facto pela Relao, usando de livre apreciao dos

    meios de prova produzidos, s no sindicvel pelo STJ se a Relao tiver agido dentro dos poderes que a lei lhe confere em matria de facto (art. 662. do CPC).

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    V - Se a apreenso do sentido de deciso no ficou impossibilitada ou dificultada, substancialmente, com o carcter sucinto da fundamentao, no se verifica a nulidade referida em I.

    VI - A circunstncia de a mercadoria, objeto do contrato de depsito celebrado entre a recorrente e a recorrida, se encontrar apreendida ordem das autoridades aduaneiras ou do tribunal, no se podendo afirmar que estivesse na sua disponibilidade, no impede que recaia sobre a primeira a obrigao do pagamento do preo do respetivo depsito, nos termos dos arts. 1186., 1158. e 1199., al. a), do CC, presumindo-se este oneroso por se tratar de ato da autora integrado na sua profisso.

    VII - No se tendo provado que a r celebrou o referido contrato de armazenagem ou depsito (ou mesmo um contrato de trnsito, como alegado) em nome de outrem, nomeadamente da interveniente, mantm-se a obrigao da recorrente pelo pagamento do preo da armazenagem.

    VIII - Na improcedncia do recurso no se revela manifesto abuso da faculdade de recorrer, inexistindo litigncia de m f, por parte da recorrente.

    19-01-2016 Revista n. 425910/10.8YIPRT.P1.S1 - 6. Seco Joo Camilo (Relator) Fonseca Ramos Fernandes do Vale (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Acidente de viao Incapacidade permanente parcial Incapacidade para o trabalho Danos no patrimoniais Clculo da indemnizao I - A despeito da IPP fixada ao sinistrado por acidente de viao ter sido de 49% (e de 61, 77% no

    foro laboral), a concluso que se impe a de que na prtica est afetado de uma incapacidade total para o trabalho (incapacidade de 100%) se se encontra impossibilitado de continuar a exercer a sua profisso e se no possui aptido para desenvolver qualquer outra.

    II - Sendo embora a vida o bem supremo, no h qualquer razo jurdica, tica, filosfica ou lgica para entender que o quantum indemnizatrio pela perda do direito vida deva ser sempre superior ao quantum devido por outro qualquer dano no patrimonial e, como assim, errado estabelecer como bitola apodtica para a indemnizao do dano no patrimonial em geral a indemnizao que tem sido praticada em caso de morte.

    III - justa e adequada reparao do dano no patrimonial a indemnizao de 100 000 ao sinistrado por acidente de viao que sofreu leses que implicaram mais de 17 intervenes cirrgicas, internamentos sucessivos (o primeiro por 7 meses e vrios por 1 ou 2 meses), que sofreu dano esttico relevante, que ficou com necessidade da ajuda de canadianas para as deslocaes, que ficou com um encurtamento de uma perna, que ficou psicolgica e psiquiatricamente afetado de forma grave face s dores sentidas, alterao da sua vida nas vertentes profissional, social, pessoal e familiar, receio de amputao da perna, perda da esperana de voltar a andar normalmente (malefcios estes que lhe determinaram ao nvel das sequelas psiquitricas uma incapacidade permanente parcial de 12 pontos), que sofreu por quase trs anos de ITT, que ficou afetado de uma IPP de 49 pontos, sendo as sequelas, em termos de rebate profissional impeditivas do exerccio da sua atividade profissional habitual, bem assim como de qualquer outra dentro da sua rea de preparao tcnico-profissional e sem capacidade futura de reconverso, que ficou necessitado do auxlio de 3. pessoa para algumas atividades do seu dia-a-dia, para o resto da sua vida, que ficou afetado de anquilose a nvel do joelho esquerdo, anquilose no tornozelo em flexo plantar, ausncia de extenso e everso ativas no p esquerdo.

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    19-01-2016 Revista n. 3265/08.6TJVNF.G1.S1 - 6. Seco Jos Ranho (Relator) * Nuno Cameira Salreta Pereira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Custas Tributao Equidade Princpio da proporcionalidade I - Se os autores decaram nos dois pedidos formulados em sede de reconveno declarao do

    direito de reteno e restituio do valor das benfeitorias , no possuindo a primeira pretenso um valor concreto que permita um juzo exato acerca da proporcionalidade do inerente decaimento arts. 527., n. 2, e 607., n. 6, do CPC a repartio de custas deve ser feita segundo a equidade ou a razoabilidade.

    II - Considera-se justo e adequado, em termos de tributao do decaimento relativo ao reconhecimento do direito de reteno, a proporo de 8%, a desfavor dos autores.

    19-01-2016 Revista n. 480/11.9TBMCN.P1.S1 - 6. Seco Jos Ranho (Relator) Nuno Cameira Salreta Pereira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Recurso de revista Admissibilidade de recurso Inadmissibilidade Dupla conforme Arguio de nulidades I - A admissibilidade do recurso normal de revista deve aferir-se mediante o confronto de cada um

    dos diversos segmentos decisrios que integram a parte conclusiva. II - Se, quanto ao segmento decisrio impugnado em sede de revista no caso, o mrito dos

    embargos existe uma situao de dupla conformidade de decises, absolutamente irrelevante para a questo da admissibilidade do recurso a divergncia verificada quanto a outro segmento decisrio no caso, referente a repartio de custas.

    III - A admissibilidade de qualquer recurso prvia possibilidade de nele se poder arguir nulidades.

    19-01-2016 Revista n. 1368/11.9TBVNO.E1.S1 - 6. Seco Jos Ranho (Relator) Nuno Cameira Salreta Pereira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Oposio de julgados Insolvncia Recurso para o Supremo Tribunal de Justia

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    I - O que revela uma divergncia decisria acerca da mesma questo fundamental de direito a interpretao e aplicao de um mesmo conjunto normativo de forma antagnica a situaes jurdico-fticas idnticas.

    II - No h oposio de julgados, fundamento de recurso de revista, nos termos do art. 14. do CIRE, se o acrdo recorrido tratou do ajuizamento das consequncias jurdicas da falta de resposta a uma impugnao lista de credores que no reconhecera o crdito de um credor; e o acrdo fundamento da questo de aferir das consequncias da falta de impugnao da lista de crditos quanto qualificao (como garantido) de parte do crdito de certo credor que no impugnara a lista, sendo irrelevante a circunstncia de as prescries normativas atriburem num caso e noutro, com similitude entre si, certo efeito cominatrio falta de impugnao.

    19-01-2016 Revista n. 650/12.2TBCLD-L.S1 - 6. Seco Jos Ranho (Relator) Nuno Cameira Salreta Pereira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Acidente de viao Atropelamento Peo Ultrapassagem Concorrncia de culpas Culpa do lesado I - O critrio legal de apreciao da culpa, na responsabilidade civil extracontratual, aprecia-se de

    acordo com os parmetros fixados no art. 487., n. 2, do CC, abstrato e afere-se, nas circunstncias do caso, pela diligncia de uma pessoa cuidadosa, atenta e prudente, que, na circulao rodoviria, cumpre as regras de trnsito, bem como os deveres gerais de cuidado, evitando condutas que possam pr em perigo a integridade ou a vida dos demais.

    II - Concorrem, culposamente, para o atropelamento o lesado e o condutor do motociclo, na proporo de 70% e 30%, respetivamente, se o primeiro criou a situao de risco ao deixar o seu automvel parado na hemi-faixa direita, ocupando parte da via e ao no atravessar na passadeira existente a 43 metros do local; e o segundo, apesar de ter verificado que atrs de si e na hemi-faixa esquerda no seguia nenhum veculo, efetuou, em local prximo de uma escola primria, uma manobra de ultrapassagem, suscetvel de causar embarao ao trnsito e de aumentar os perigos de acidente, deste modo violando um dever objetivo de cuidado, sendo-lhe possvel, tendo em conta o espao lateral na via e a velocidade moderada ou baixa a que seguia, desviar-se o peo para a hemi-faixa esquerda ou fazer a manobra o mais possvel encostado direita para que fosse menos perigosa, o que teria evitado o acidente, dada a idade do peo (nascido em 1930) e a circunstncia de este circular devagar.

    III - Considerando o espao que o condutor do motociclo tinha para fazer a manobra de ultrapassagem o mais encostado possvel direita ou para se desviar esquerda, a perda de controlo do veculo ao avistar o peo a iniciar a travessia apenas lhe pode ser imputada por impercia ou desateno na conduo, que contribuiu, em termos causais, para o acidente.

    19-01-2016 Revista n. 2965/07.2TBFIG.C1.S1 - 1. Seco Maria Clara Sottomayor (Relatora) Sebastio Pvoas Alves Velho (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Inventrio Licitao

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    Composio de quinho Tornas I - A lei estabelece o direito do licitante em excesso de escolher entre as verbas licitadas as

    necessrias para preencher a sua quota, cabendo ao credor delas requerer, em abstracto, a composio do seu quinho que se concretizar com bens licitados em excesso apenas e na medida do possvel at ao limite da sua quota.

    II - O direito de escolha concedido pelo art. 1377. do NCPC (2013) no fica subordinado pela necessidade de garantir uma rigorosa igualao de quinhes.

    III - Com esta disposio legal conciliam-se os interesses de uns e outros permitindo que o licitante escolha com a forma que a prpria licitao lhe garantia, mas com o limite da medida do seu quinho ou com escasso excesso dele.

    IV - Nos termos do n. 4 da citada disposio legal em caso de desacordo dos interessados, o direito de escolha do licitante em conflito com igual direito dos credores de tornas constitui questo a decidir pelo juiz com vista ao maior equilbrio na composio dos lotes, sendo legtimo concluir desta previso normativa que o legislador pretendeu em primeira linha uma correco consensual da licitao excessiva no legitimando, por um lado, um verdadeiro e efectivo direito de escolha por parte do interessado no licitante (em algumas situaes configurvel com um verdadeiro desapossamento), nem, por outro lado, conferindo ao licitante um direito absoluto e inaltervel aos bens licitados.

    19-01-2016 Revista n. 74/03.2TBVMS.G1.S1 - 1. Seco Mrio Mendes (Relator) * Sebastio Pvoas Alves Velho Reforma da deciso Nulidade de acrdo Omisso de pronncia Reapreciao da prova Poderes do Supremo Tribunal de Justia Compensao de crditos I - O acrdo reclamado no padece da nulidade de omisso de pronncia, a que se refere o art.

    615., n. 1, al. d), do CPC, visto o colectivo se ter limitado, no quadro das competncias que a lei confere ao STJ, a aplicar definitivamente o regime jurdico que entendeu adequado face aos factos materiais fixados no tribunal recorrido que no foram objecto de alterao, reduo, ampliao ou de juzos de facto.

    II - Deve ser indeferido o pedido de reforma de acrdo do STJ se, neste, no se detecta nulidade resultante de inobservncia de qualquer meio de prova plena que impusesse deciso diversa.

    III - No tendo sido produzida prova da existncia e exigibilidade do crdito reclamado na aco, ficou prejudicada a questo da verificao ou no dos requisitos para a compensao de crditos, questo que nem sequer foi colocada em momento anterior, nomeadamente na fase dos articulados.

    19-01-2016 Incidente n. 137413/09.8YIPRT.P1.S1 - 1. Seco Mrio Mendes (Relator) Sebastio Pvoas Alves Velho Reforma da deciso Condenao em custas

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    Trnsito em julgado Rejeio A deciso proferida no mbito de reforma de deciso de condenao em custas torna definitiva a

    soluo da questo que, deste modo, transitando em julgado, impede a sua reapreciao, sendo de rejeitar novo pedido de reforma da deciso quanto a custas.

    19-01-2016 Revista n. 565/05.0TBTVR.E1.S1 - 1. Seco Martins de Sousa (Relator) Gabriel Catarino Maria Clara Sottomayor Recurso de agravo na segunda instncia Admissibilidade de recurso Requisitos Nulidade de acrdo Omisso de pronncia Inventrio Partilha da herana Doao Colao Bens comuns do casal I - Nos termos do disposto nos arts. 721., n. 1, e 754., n. 1, do CPC, na verso anterior reforma

    de 2007, apenas haveria recurso de agravo para o Supremo das decises da 2. instncia que versassem sobre a relao processual: (i) se se tratasse de deciso final que tivesse posto termo ao processo; (ii) se o acrdo da Relao no tivesse sido proferido sobre deciso da 1. instncia (duplo grau de jurisdio); (iii) se o agravante invocasse e demonstrasse a existncia de oposio entre a deciso recorrida e precedente jurisprudncia das Relaes ou do prprio Supremo; e (iv) se o agravo se fundar nas excepes a que alude o art. 754., n. 3.

    II - de rejeitar a vertente recursiva respeitante ao agravo referido em I, se nenhum dos requisitos se verificava data da interposio, nem mesmo presente data, que, no fora a extino da denominao de agravo nesta espcie de recurso, todas as demais exigncias de admissibilidade se mantiveram (arts. 7., n. 1, da Lei n. 41/2013, de 26-06, e 671., n. 2, als. a) e b), do NCPC.

    III - No nulo, por omisso de pronncia (art. 615., n. 1, al. d), do CPC), o acrdo recorrido que fez constar que a apelada no apresentou contra-alegaes por manifesto lapso informtico, a justificar, quando muito, uma mera rectificao, certo ter apreciado e feito referncia directa ao objecto da contra-alegao.

    IV - No tendo sido feita conferncia de bem doado, deve a esta proceder-se, atravs do instituto da colao, apurando-se a forma de fazer a sua imputao ou avaliar-se da necessidade da sua reduo arts. 2104. e 2113. do CC.

    V - Tratando-se de bens comuns do casal, doados pelos dois cnjuges, nos termos do art. 2117., n. 2, do CC, a conferncia ter de fazer-se por metade do respectivo valor por morte de cada um deles.

    19-01-2016 Revista n. 11360/05.7TBMAI.P1.S1 - 1. Seco Martins de Sousa (Relator) Gabriel Catarino Maria Clara Sottomayor Rectificao

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    Retificao Condenao em custas Deve ser rectificado o aresto que omitiu a deciso relativa s custas do recurso rectificao que

    qualquer das partes tem autorizao normativa para requerer (arts. 685. e 666., do CPC) mediante condenao, em conferncia, da parte vencida no recurso, que a responsvel pelas custas (art. 527., n.os 1, e, 2, do CPC).

    19-01-2016 Revista n. 123/07.5TBMIR.C1.S3 - 1. Seco Martins de Sousa (Relator) Gabriel Catarino Maria Clara Sottomayor Aclarao Nulidade de acrdo Ambiguidade Obscuridade Valor da causa Lei aplicvel Insolvncia Aco declarativa Ao declarativa Massa insolvente I - O CPC aprovado pela Lei n. 41/2013, de 26-06, em vigor desde 01-09-2013, eliminou o

    incidente de aclarao da deciso. II - fundamento de nulidade de acrdo a ambiguidade ou obscuridade que torne a deciso

    ininteligvel (arts. 615., n. 1, al. c), 685. e 666., todos do CPC). III - A nulidade referida em II no se confunde com erro de julgamento. IV - A regra de indicao do valor da causa a que se refere o art. 15. do CIRE aplicvel ao

    processo de insolvncia ou a incidente deste regulado no CIRE e no, como pretende a recorrente, aco sumria proposta contra determinada massa insolvente, qual se aplica a norma contida no art. 306. do CPC.

    19-01-2016 Revista n. 1851/10.3T2AVR-D.P1.S1 - 6. Seco Nuno Cameira (Relator) Salreta Pereira Joo Camilo Arrendamento para fins no habitacionais Trespasse Incumprimento Resoluo do negcio Interpretao da declarao negocial Litisconsrcio necessrio I - Sendo caso de interpretao da declarao negocial, importar distinguir as situaes em que

    esta interpretao resultou directamente da prova produzida nas instncias matria de facto; daqueloutras em que decorreu com recurso teoria da impresso do declaratrio normal, ao abrigo do disposto no art. 236., n. 1, do CC, ou em violao de outras normas cogentes, relativas interpretao dos contratos, como as limitaes decorrentes do art. 238. do CC matria de direito.

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    II - Se do acrdo recorrido no decorre divergncia de declarao negocial e de vontade das partes quanto ao contrato de trespasse celebrado, est-se perante estrita matria de facto que dispensa indagaes do "sentido virtual ou hipottico que o homem padro atribuiria a tais declaraes, de acordo com os arts. 236. e 238. do CC.

    III - No tendo os rus comunicado ao senhorio o trespasse que celebraram, no prazo estabelecido na lei, incumpriram o acordado quanto ao trespasse e deram causa resoluo do contrato de arrendamento.

    IV - No tendo havido cedncia da posio dos autores a favor de um terceiro ou sequer provado que este tivesse um interesse no negcio ou tenha ficado lesado com a resoluo do contrato de arrendamento, a interveno deste terceiro na aco no necessria para que a deciso a proferir produza o seu efeito til normal, inexistindo preterio de litisconsrcio necessrio.

    19-01-2016 Revista n. 4589/10.8TCLRS.L1.S1 - 1. Seco Paulo S (Relator) Garcia Calejo Helder Roque Recurso de revista Dupla conforme Inadmissibilidade inadmissvel recurso de revista, havendo situao de dupla conforme, nos termos do art. 671., n.

    3, do CPC. 19-01-2016 Revista n. 22950/12.1T2SNT.L1-A.S1 - 1. Seco Paulo S (Relator) Garcia Calejo Helder Roque Caso julgado Posto abastecedor de combustveis I - A autoridade do caso julgado que no supe a trplice identidade prevista no art. 581. do CPC

    opera do seguinte modo: no que respeita a elementos e questes comuns, a primeira deciso impe-se como pressuposto indiscutvel da segunda aco, no podendo esta contrariar o que ali foi decidido.

    II - Afigurando-se que o contrato celebrado entre as partes configura uma promessa de doao de imveis instalados em posto de abastecimento de combustvel , no mbito da qual ficou acordada a diviso da correspondente contrapartida, no tendo sido celebrada a escritura de doao prometida, a referida contrapartida passou a carecer de justificao, sendo fundamento de enriquecimento sem causa dos rus (art. 479., n. 2, do CC), concluso que no viola o caso julgado formado pela deciso proferida em anterior aco, onde se explicitou o contrato de revenda com fidelizao, celebrado entre a autora e a R, como causa do recebimento de uma contrapartida em numerrio paga por esta autora, que autores e rus aceitaram dividir, limitando-se os autores a ser portadores e distribuidores da quantia.

    19-01-2016 Revista n. 3817/11.7TBMAI.P1.S1 - 6. Seco Pinto de Almeida (Relator) Jlio Gomes Jos Ranho

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    Impugnao da matria de facto Requisitos Gravao da prova Poderes da Relao Rejeio de recurso I - O Supremo tem, reiteradamente, entendido que a impugnao da deciso de facto no se destina

    a que a Relao proceda a uma apreciao sistemtica e global de toda a prova produzida em audincia, incidindo sobre pontos determinados da matria de facto, que o recorrente sempre ter o nus de apontar claramente e fundamentar.

    II - Recai, assim, sobre o recorrente um especial nus de alegao, quer quanto delimitao do objecto do recurso, quer no que respeita respectiva fundamentao, sob pena de rejeio imediata do recurso na parte afectada art. 640., n. 1, e n. 2, al. a), do CPC.

    III - No que, em concreto, respeita ao requisito previsto no n. 2, al. a), do art. 640., do CPC indicao exacta das passagens da gravao em que se funda a impugnao , apesar da letra do preceito, justifica-se alguma maleabilidade na aplicao da cominao referida em II, em funo das especificidades do caso, com relevo, nomeadamente, para a extenso dos depoimentos e das matrias em discusso.

    IV - Neste requisito est apenas em causa a localizao na gravao das partes dos depoimentos que o recorrente entende relevantes para a impugnao e se no existe especial dificuldade em tal localizao, pela sua gravidade, a sano de rejeio do recurso ser claramente desproporcionada.

    V - Ao cumprimento do nus de alegao referido em II e III basta a identificao dos pontos da matria de facto que considera mal julgados; a indicao dos depoimentos das testemunhas que, em seu entender, impunham deciso diversa sobre esses pontos de facto; a indicao do incio de cada um desses depoimentos, com transcrio parcial dos mesmos, apreciao e valorao; bem como indicao da deciso que deveria ter sido proferida sobre os pontos de facto impugnados.

    19-01-2016 Revista n. 409/12.7TCGMR.G1.S1 - 6. Seco Pinto de Almeida (Relator) Jlio Gomes Jos Ranho Consumidor Defesa do consumidor Defeitos Coisa imvel Prazo de caducidade Denncia Transposio de Directiva Transposio de Diretiva I - O DL n. 67/2003, de 08-04, posteriormente alterado pelo DL n. 84/2008, de 21-05, transps,

    para o direito interno, a Directiva Comunitria 1999/44/CE, de 25 de Maio de 1999, e limitou-se a consagrar a denncia prvia da no conformidade, de acordo com o art. 5., n. 2, desta, que prev que os Estados-Membros podem determinar que, para usufruir dos seus direitos, o consumidor deve informar o vendedor da falta de conformidade num prazo de dois meses a contar da data em que esta tenha sido detectada.

    II - A Directiva prev, e o diploma interno que a transps respeitou, a sujeio dos direitos do consumidor a prazos de caducidade (no de prescrio), fixando para esse efeito uma durao mnima.

    III - A denncia da falta de conformidade do bem deve ser feita pelo consumidor que quem conhece as caractersticas do objecto comprado e o que lhe foi assegurado pelo vendedor ,

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    no valendo como tal a eventual notificao feita por terceiro uma edilidade para que o vendedor do bem procedesse s necessrias reparaes.

    IV - Se o bem foi entregue em 21-09-2005 e aco proposta mais de cinco anos decorridos sobre esta data, sem que o autor houvesse denunciado os defeitos aos rus, verifica-se o decurso do prazo de caducidade dos direitos que pretende fazer valer, a que no obstou a dissoluo da sociedade construtora e vendedora do prdio em 17-12-2006, muito antes da deteco dos defeitos, em Novembro de 2009, no impedindo que o autor exercesse os seus direitos contra os respetivos scios, como veio a fazer com a propositura da aco.

    19-01-2016 Revista n. 4890/10.0TBPTM.E2.S1 - 6. Seco Salreta Pereira (Relator) Joo Camilo Fonseca Ramos Impugnao da matria de facto Rejeio de recurso Gravao da prova I - A impugnao da deciso sobre a matria de facto impe ao recorrente que, nos termos do n. 1

    do artigo 640. do Cdigo de Processo Civil especifique os pontos concretos que considera incorrectamente julgados (a); os concretos meios probatrios constantes do processo, ou de registo ou gravao nele realizado, que impunham deciso sobre os pontos da matria de facto impugnada diversa da recorrida (b); a deciso que no seu entender deve ser proferida sobre as questes de facto impugnadas (c).

    II - Os recursos no se destinam, exactamente, a um completo/novo julgamento global da causa mas, em regra, apenas a uma reapreciao do julgado para corrigir eventuais erros da deliberao posta em crise.

    III - O que for encontrado em sede de reapreciao da matria de facto limita-se aos juzos probatrios parcelares sobre cada um dos factos pertinentes, alegados ou adquiridos no decurso do processo, em coerncia com os respectivos fundamentos, tudo sem olvidar os poderes oficiosos elencados no artigo 662. do diploma adjectivo.

    IV - Aps a apreciao da prova produzida e da que, eventualmente, renovou ou produziu ex novo o Tribunal de recurso forma a sua prpria convico deliberando em conformidade.

    V - A falta da indicao exacta e precisa do segmento da gravao em que se funda o recurso, nos termos da alnea a) do n. 2 do artigo 640. do CPC no implica, s por si a rejeio do pedido de impugnao sobre a deciso da matria de facto, desde que o recorrente se reporte fixao electrnica/digital e transcreva os excertos que entenda relevantes de forma a permitir a reanlise dos factos e o contraditrio.

    VI - A assim no se entender, cair-se-ia num excesso de formalismo e rigor que a dogmtica processual, hoje mais agilizada e clere, pretende evitar.

    19-01-2016 Revista n. 3316/10.4TBLRA.C1.S1 - 1. Seco Sebastio Pvoas (Relator) * Alves Velho Paulo S Contrato-promessa de compra e venda Incumprimento definitivo Presuno de culpa nus da prova I - Contrato-promessa a conveno pela qual algum se obriga a celebrar certo contrato,

    designado no mesmo dispositivo como contrato prometido (art. 410., n. 1, do CC).

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    II - O incumprimento do contrato a que o art. 442., n. 2, do CC, alude, refere-se ao incumprimento definitivo, justificativo da resoluo do contrato, e no a simples mora, convertvel no referido incumprimento, nomeadamente, pelos dois meios indicados no art. 808., n. 1, do CC.

    III - No tendo o promitente-vendedor, recorrente, ilidido a presuno de culpa do incumprimento contratual (art. 799., n. 1, do CC), traduzido na no comparncia, por si ou por meio de procurador ou advogado, no local da celebrao da escritura e hora aprazada apesar de demonstrado que estes se encontravam no edifcio , daqui resultando dvida quanto ao desencontro, deve decidir-se esta contra si (art. 414. do CPC), concluindo ser-lhe imputvel o incumprimento do contrato-promessa.

    19-01-2016 Revista n. 5797/04.6TVLSB.L1.S1 - 6. Seco Silva Salazar (Relator) Nuno Cameira Salreta Pereira (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Dupla conforme Fundamentao essencialmente diferente Matria de facto Meios de prova Fora probatria plena Contrato-promessa Sinal Incumprimento I - A dupla conformidade pressupe a confirmao da deciso e, no mnimo, a ausncia de

    fundamentao essencialmente divergente. II - No h fundamentao essencialmente divergente entre as decises da 1. instncia e da

    Relao nas quais se decidiu que existia impossibilidade de cumprimento do contrato-promessa, no imputvel a qualquer das partes, determinativa da restituio do sinal em singelo, embora na primeira tal concluso tenha resultado do facto de se ter considerado provado que o contrato prometido no tinha sido celebrado por o promitente-comprador no ter conseguido obter o financiamento bancrio destinado ao pagamento do preo e na segunda, perante a impugnao desse facto, se ter chegado a essa concluso atravs da apreciao de um meio de prova (declarao confessria) com fora probatria plena.

    21-01-2016 Revista n. 179/12.9TBLRA.C1.S1 - 2. Seco Fernando Bento (Relator) Joo Trindade Tavares de Paiva Admissibilidade de recurso Oposio de julgados Alegaes de recurso Reclamao para a conferncia nus de alegao I - na alegao de recurso e no na reclamao que, eventualmente, venha a ser deduzida contra a

    sua rejeio que deve ser invocada e demonstrada a oposio de julgados quando esta constitui pressuposto da admissibilidade daquele.

    II - Limitando-se a reclamante a requerer que sobre o despacho do relator que confirmou a deciso de no admisso do recurso recaia deciso colegial, sem explicitar a ilegalidade daquele e sem

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    combater a interpretao que nele se fez dos preceitos legais aplicveis ao caso, no h razes para alterar o referido despacho.

    21-01-2016 Revista n. 2224/13.1TYLSB-A.S1 - 2. Seco Fernando Bento (Relator) Joo Trindade Tavares de Paiva Contrato de seguro Recibo de quitao Clusula contratual geral Obrigao de indemnizar Renncia Dever de comunicao Dever de informao Excluso de clusula Nulidade Danos patrimoniais Danos no patrimoniais Terceiro Lesado Dano biolgico Lucro cessante Danos futuros I - A quitao a prova do cumprimento da obrigao que, sendo pecuniria, se opera pelo

    pagamento (art. 787., n. 1, do CC). II - Tratando-se de uma obrigao de indemnizao (i.e., de uma obrigao de eliminar certos

    danos concretos, integradores de uma categoria genrica e vasta de dano), a quitao deve especificar quais os danos concretos indemnizados com a prestao efectuada.

    III - A declarao de quitao passada por terceiro lesado na qual o mesmo se considera completamente ressarcido de todos os danos patrimoniais e no patrimoniais, sofridos em consequncia de um sinistro, dando assim plena quitao seguradora equiparada a clusula contratual geral j que, apesar de no integrar o contrato de seguro, tem com ele uma ligao funcional, ao que acresce a circunstncia de ser unilateralmente predisposta pela seguradora, limitando-se a outra parte a assin-la, sem a poder discutir.

    IV - Em consequncia, pretendendo a seguradora aproveitar-se da quitao total e exonerar-se da obrigao de indemnizar outros danos patrimoniais e no patrimoniais diversos dos expressamente mencionados nos recibos de quitao parcial, dever alegar e provar os pressupostos de validade de tal declarao por si previamente redigida, designadamente que os seus termos foram antecipadamente comunicados ao lesado e que este foi informado e esclarecido das respectivas implicaes exoneratrias, sob pena de a mesma se ter por excluda (arts. 1., n. 3, 5., n.os 1 e 3, 6., e 8., als. a) e b), do DL n. 446/85, de 25-10).

    V - A declarao de quitao assinada num momento em que ainda no estava definida a real extenso dos danos resultantes das leses (por a consolidao mdico-legal apenas ter ocorrido em data posterior) nula por envolver renncia antecipada indemnizao por danos que s seriam conhecidos posteriormente renncia abdicativa (art. 809. do CC).

    VI - Independentemente de resultar (ou no) da incapacidade que afectou o lesado uma perda de rendimentos (lucros cessantes), o dano biolgico, como dano a se, tem sido perspectivado pela jurisprudncia como dano patrimonial.

    21-01-2016 Revista n. 5386/13.4TBVNG.P1.S1 - 2. Seco Fernando Bento (Relator)

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    Joo Trindade Tavares de Paiva Direito real de habitao peridica Contrato-promessa Eficcia real Dao em cumprimento Eficcia externa das obrigaes Contrato a favor de terceiro Boa f Culpa in contrahendo Terceiro I - Ao invs do que sucede no contrato de alienao ou onerao de coisa determinada que tem

    eficcia real, o contrato-promessa, em regra, apenas goza de eficcia obrigacional, restrita s partes contratantes, criando para os promitentes uma obrigao de vir a contratar que se traduz numa mera prestao de facto.

    II - S assim no ser se for atribuda promessa eficcia real, caso em que a mesma produzir efeitos em relao a terceiros, prevalecendo sobre todos os direitos que, no futuro, se constituam em relao ao bem prometido alienar, desde que, para tanto, se verifiquem os requisitos previstos no art. 413. do CC.

    III - Em consequncia, tendo sido celebrado um contrato-promessa, sem eficcia real, que teve por objecto a compra e venda de um direito real de habitao peridica a constituir sobre um determinado prdio e tendo o promitente-comprador, posteriormente, dado em cumprimento esse mesmo prdio a um terceiro, aquela promessa seria, em princpio, inoponvel a este.

    IV - Todavia, tendo esse terceiro, aquando da celebrao da dao em cumprimento, conhecimento da referida promessa e tendo-se comprometido, atravs de clusulas que, ao abrigo da autonomia da vontade, foram insertas na escritura de dao, a desenvolver os melhores esforos no sentido de negociar com os promitentes-compradores das fraces autnomas do referido prdio de forma a obter a extino dos respectivos contratos dos direitos reais de habitao peridica e a negociar nas melhores condies a posio contratual decorrente das promessas unilaterais de compra respeitantes aos referidos direitos, tais clusulas tm de ser entendidas como tendo eficcia de proteco para terceiros sob pena de ficarem esvaziadas de contedo.

    V - Nada tendo feito o terceiro, adquirente do prdio, no sentido de salvaguardar os interesses e direitos do mencionado promitente-comprador, deve o mesmo ser responsabilizado perante este por esse incumprimento j que, ao ter assim procedido, violou os referidos deveres acessrios que, na base das exigncias de boa f, sobre si recaam.

    21-01-2016 Revista n. 2429/07.4TBSTB.L1.S1 - 2. Seco Joo Trindade (Relator) Tavares de Paiva Abrantes Geraldes (vencido) Ampliao do mbito do recurso Objecto do recurso Objeto do recurso Nulidade de acrdo Omisso de pronncia Fundamentos de facto Fundamentos de direito Vencimento Parte vencida

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    I - A falta de conhecimento do pedido, causa de pedir ou excepo cujo conhecimento no esteja

    prejudicado pelo conhecimento de outra questo constitui nulidade, j no a constituindo a omisso de considerar linhas de fundamentao jurdica, diferentes da sentena, que as partes tenham invocado arts. 608., n. 2, e 615. do NCPC (2013).

    II - Sendo a deciso favorvel parte vencedora, mas no tendo sido acolhidos todos ou alguns dos fundamentos de facto ou de direito invocados e tendo a parte vencida recorrido, restar quela, com vista a acautelar a hiptese de as questes suscitadas pelo recorrente virem a ser acolhidas pelo tribunal ad quem, pedir, em sede de contra-alegaes e a ttulo subsidirio, a ampliao do objecto do recurso art. 636. do NCPC.

    21-01-2016 Incidente n. 766/14.0TVLSB.L1.S1 - 2. Seco Joo Trindade (Relator) Tavares de Paiva Abrantes Geraldes Responsabilidade extracontratual Acidente de viao Danos no patrimoniais Dano biolgico Clculo da indemnizao Equidade Princpio da igualdade I - O juzo de equidade das instncias, essencial determinao do montante indemnizatrio por

    danos no patrimoniais, assente numa ponderao, prudencial e casustica, das circunstncias do caso e no na aplicao de critrios normativos deve ser mantido sempre que situando-se o julgador dentro da margem de discricionariedade que lhe consentida se no revele colidente com os critrios jurisprudenciais que, numa perspectiva actualstica, generalizadamente vm sendo adoptados, em termos de poder pr em causa a segurana na aplicao do direito e o princpio da igualdade.

    II - No desproporcionada gravidade objectiva e subjectiva das leses sofridas por lesado em acidente de viao o montante de 50 000, atribudo como compensao dos danos no patrimoniais, num caso caracterizado pela existncia em lesado jovem, de 27 anos de idade, de mltiplos traumatismos (traumatismo na bacia, traumatismo torxico, com hemotrax, traumatismo crnio-enceflico grave, com hemorragia subaracnoideia e contuso cortico-frontal, esquerda, traumatismo abdominal, fratura do condilo occipital esquerdo, fratura do acetbulo direito e desernevao do citico popliteu externo direito), envolvendo sequelas relevantes ao nvel psicolgico e de comportamento, produzindo as leses internamento durante 83 dias, quantum doloris de 5 pontos em 7 e dano esttico de 2 pontos em 7; ficando com um deficit funcional permanente da integridade fsico-psquica, fixvel em 16 pontos, e com repercusso nas actividades desportivas e de lazer, fixvel em grau 2 em 7, envolvendo ainda claudicao na marcha e rigidez da anca direita; implicando limitaes da marcha, corrida, e todas as actividades fsicas que envolvam os membros inferiores e determinando alterao relevante no padro de vida pessoal do lesado, que coxeia e inseguro, fsica e psiquicamente, triste, deprimido e com limitao na capacidade de iniciativa; sofrendo incmodos, angstias e perturbaes resultantes das leses que teve, dos tratamentos e intervenes cirrgicas a que foi sujeito; ter de suportar at ao fim dos seus dias os sofrimentos e incmodos irreversivelmente decorrentes das limitaes com que ficou.

    III - O dano biolgico, perspectivado como diminuio somtico-psquica e funcional do lesado, com substancial e notria repercusso na vida pessoal e profissional de quem o sofre, sempre ressarcvel, como dano autnomo, independentemente do seu especfico e concreto enquadramento nas categorias normativas do dano patrimonial ou do dano no patrimonial.

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    IV - A indemnizao a arbitrar pelo dano biolgico, consubstanciado em relevante limitao ou dfice funcional sofrido pelo lesado, perspectivado na ptica de uma capitis deminutio na vertente profissional, dever compens-lo, apesar de no imediatamente reflectida em perdas salariais imediatas ou na privao de uma especfica capacidade profissional, quer da relevante e substancial restrio s possibilidades de obteno, mudana ou reconverso de emprego e do leque de oportunidades profissionais sua disposio, quer da acrescida penosidade e esforo no exerccio da sua actividade profissional corrente, de modo a compensar as deficincias funcionais que constituem sequela das leses sofridas no se revelando desproporcionado ao quadro atrs definido, em lesado que no logrou obter emprego estvel aps o acidente, o montante de 32 500, fixado na sentena proferida em 1. instncia.

    21-01-2016 Revista n. 1021/11.3TBABT.E1.S1 - 7. Seco Lopes do Rego (Relator) * Orlando Afonso Tvora Victor Responsabilidade extracontratual Acidente de viao Atropelamento Danos no patrimoniais Danos patrimoniais Danos futuros Clculo da indemnizao Equidade Princpio da igualdade Princpio da proporcionalidade Perda da capacidade de ganho Incapacidade permanente absoluta Incapacidade permanente parcial Tributao Dano emergente Recurso de revista Recurso subordinado Sucumbncia Dupla conforme I - No colide com os padres jurisprudenciais correntes, nem com os princpios da igualdade e da

    proporcionalidade, o juzo de equidade das instncias que fixou a indemnizao pelos danos no patrimoniais no valor de 25 000, valorando a gravidade objectiva e a repercusso subjectiva no sinistrado das leses sofridas (pela demora na recuperao destas e pela sua repercusso fortemente negativa no padro de vida e na autonomia pessoal da lesada, que teve de permanecer acamada e imobilizada por perodos temporais significativos, envolvendo ainda um reflexo incapacitante no desprezvel para as plenas potencialidades da vida pessoal de lesado jovem) ponderando ainda que o atropelamento sofrido se deveu a culpa grave e exclusiva do condutor/segurado.

    II - ao rendimento lquido (e no ilquido) do lesado que deve recorrer-se para determinar a indemnizao por danos patrimoniais futuros, como corolrio da teoria da diferena, no podendo, em termos indemnizatrios, conferir-se relevncia a hipotticos ganhos salariais que nomeadamente por via da ocorrncia de reteno na fonte nunca teriam sido percebidos na totalidade pelo lesado s assim no sendo se este demonstrasse que o valor indemnizatrio que ir receber seria objecto de encargos tributrios correspondentes aos que incidiriam sobre os valores salariais em causa.

    III - No pode confundir-se o dfice funcional de integridade fsico psquica, referente afectao definitiva da integridade fsica e/ou psquica da pessoa, com repercusso nas actividades da

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    vida diria, incluindo as familiares e sociais, e sendo independente das actividades profissionais, correspondendo ao dano que vinha sendo tradicionalmente designado por incapacidade permanente geral com a incapacidade permanente parcial para o trabalho, implicando esta uma perda efectiva de capacidades profissionais, geradora de uma diminuio de rendimentos salariais futuros impondo-se claramente tal distino num caso em que, perante a matria de facto fixada pelas instncias, o referido dfice funcional de 4 pontos da lesada no se repercute no exerccio da sua actividade profissional habitual, nem sequer envolvendo esforos suplementares.

    IV - Neste caso, no constitui via metodolgica adequada para calcular o dano patrimonial futuro a aplicao das tabelas financeiras correntes, visando constituir um capital substitutivo da capacidade laboral perdida ao longo de toda a vida activa da lesada: sendo o dano a ressarcir decorrente da perda de oportunidades profissionais da lesada que viu frustrada uma colocao profissional praticamente certa, totalmente inviabilizada pelo perodo prolongado de recuperao das leses sofridas, a indemnizao a arbitrar deve implicar o pagamento das remuneraes lquidas que previsivelmente lhe seriam devidas no mbito dessa actividade que se frustrou implicando um juzo de prognose sobre o tempo provvel de durao dessa oportunidade laboral perdida e a fixao de um prazo razovel para a lesada se voltar a inserir no mercado laboral.

    V - O regime previsto pelo n. 5 do art. 633. do NCPC (2013) para a eventualidade de ser interposto recurso principal e de se questionar a possibilidade de recurso subordinado, por falta de sucumbncia suficiente em funo do qual, sendo admissvel revista principal, admissvel a revista subordinada deve ter-se por aplicvel, ainda que quanto a matria especificamente controvertida no recurso subordinado haja dupla conforme.

    VI - A despesa clnica, de montante razovel, destinada a possibilitar uma avaliao do grau de dfice funcional do lesado por mdico da sua confiana, de modo a efectivar o direito a obter informao imparcial e aprofundada sobre as sequelas provveis das leses sofridas, representa ainda uma consequncia adequada do sinistro a incluir, por isso, no mbito da responsabilidade da seguradora.

    21-01-2016 Revista n. 76/12.8T2AND.P1.S1 - 7. Seco Lopes do Rego (Relator) * Orlando Afonso Tvora Victor Acidente de trabalho Acidente in itinere Deslocao em servio Incapacidade Penso Direito de regresso Sub-rogao Caixa Geral de Aposentaes Administrao Pblica Acesso ao direito Princpio do contraditrio I - A qualificao do acidente sofrido por determinado agente administrativo como sendo em

    servio, feita unilateralmente pela entidade empregadora, rege de pleno no plano das relaes internas entre o funcionrio sinistrado e as entidades pblicas envolvidas legalmente no ressarcimento dos danos por aquele sofridos, previstos na legislao que rege a matria dos acidentes em servio.

    II - Porm, no plano das relaes externas, referentes ao direito de regresso invocado pela CGA sobre o terceiro causador do acidente em servio, no pode considerar-se que o demandado em via de regresso esteja privado da faculdade de discutir os factos e o direito subjacentes

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    qualificao do acidente, j que a mesma se configura como realidade constitutiva do direito de regresso contra ele invocado afrontando os princpios fundamentais do acesso ao direito e do contraditrio qualquer entendimento que amarrando-o inapelavelmente valorao feita por acto administrativo da entidade empregadora o privasse do direito de discutir judicialmente a fisionomia e a natureza do acidente, na medida em que disso depende a prpria existncia do direito de regresso contra si invocado.

    III - No pode configurar-se como acidente em servio in itinere aquele em que o evento danoso ocorre, no aquando da realizao do trajecto que normalmente conduziria o lesado ao respectivo local de trabalho, mas quando este optou por imobilizar e estacionar a sua viatura, utilizando-a como mero local de permanncia ou descanso na via pblica, ficando no seu interior, acompanhado de familiar, por vicissitudes que nenhuma conexo tinham com a realizao do percurso ou viagem automvel que necessitava de realizar para retornar ao posto de trabalho.

    21-01-2016 Revista n. 5177/12.0TBMTS.P1.S1 - 7. Seco Lopes do Rego (Relator) * Orlando Afonso Tvora Victor Dupla conforme Revista excepcional Revista excecional Requisitos Admissibilidade de recurso Rejeio de recurso Despacho de aperfeioamento A invocao dos requisitos de que depende a admissibilidade da revista excepcional tem de ser

    feita na respectiva alegao de recurso, sob pena de rejeio, no sendo, pois, admissvel a formulao de qualquer convite converso de uma revista interposta como normal em revista excepcional.

    21-01-2016 Revista n. 12626/13.8T2SNT.L1-A.S1 - 7. Seco Lopes do Rego (Relator) Orlando Afonso Tvora Victor Impugnao da matria de facto nus de alegao Alegaes de recurso Concluses Rejeio de recurso I - no corpo das alegaes que se devem indicar as razes de discordncia do julgado e explicitar

    os fundamentos pelos quais a deciso deve ser anulada ou alterada; j as concluses so um mero resumo desses fundamentos de discordncia, devendo emergir e ser lgica decorrncia do que se exps no corpo alegatrio, mais exaustivo e fundamentado.

    II - Tendo a apelante indicado, no corpo das suas alegaes, os pontos da matria de facto que entendeu incorretamente julgados e os fundamentos pelos quais a deciso devia ser alterada e tendo, nas concluses, expressado, ainda que mais sinteticamente, o que pretendia ver alterado, no pode deixar de se entender que o sentido da alterao dos pontos daquela matria no podia ser seno o invocado no corpo das alegaes.

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    III - Pelo que, da referncia feita nas concluses, conjugada com as especificaes feitas nas alegaes, se tem de concluir que a recorrente cumpriu o nus a que estava obrigada, previsto no art. 640., n. 1, do NCPC (2013).

    21-01-2016 Revista n. 145/11.1TCFUN.L1.S1 - 2. Seco Oliveira Vasconcelos (Relator) Fernando Bento Joo Trindade (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Dupla conforme Fundamentao essencialmente diferente Recurso de revista Admissibilidade de recurso Nulidade de acrdo I - de equiparar situao de dupla conforme, impeditiva da admissibilidade do recurso de

    revista, aquela em que a Relao profere uma deciso que, embora no seja rigorosamente coincidente com a da 1. instncia, se revela mais favorvel parte que recorre.

    II - As nulidades de um acrdo s podem ser apreciadas pelo tribunal ad quem se e quando o recurso em que elas devam ser integradas for admissvel.

    21-01-2016 Revista n. 986/12.2TBCBR.C1.S1 - 2. Seco Oliveira Vasconcelos (Relator) Fernando Bento Joo Trindade (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) CTT Pessoa colectiva Pessoa coletiva Carta registada Responsabilidade extracontratual Ilicitude H que distinguir o registo simples de uma carta dirigida a um titular de um apartado que

    implica que a carta deve to s ser depositada no dito apartado do registo pessoal que implica a entrega da carta depositada no apartado ao prprio destinatrio e do registo em mo que implica to s a entrega da carta depositada no apartado a uma pessoa autorizada a receber a carta.

    21-01-2016 Revista n. 4316/12.5TBLRA.C1.S1 - 2. Seco Oliveira Vasconcelos (Relator) * Fernando Bento Joo Trindade (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico) Responsabilidade extracontratual Acidente de viao Recurso de revista Admissibilidade de recurso Sucumbncia

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    Competncia do Supremo Tribunal de Justia Clculo da indemnizao Equidade Concorrncia de culpas Dano biolgico Danos futuros Danos patrimoniais Danos no patrimoniais Dano esttico Incapacidade I - A sucumbncia aferida pela d