boletim adunifesp nº02 (julho de 2009)

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Durante o mês de junho, esquen- tou na Unifesp o debate propos- to pela Reitoria e o Ministério da Educação, de transformar o Hos- pital São Paulo (HSP) em uma Fundação Estatal de Direito Pri- vado (FEDP). Logo, as entidades representativas das categorias da universidade – Adunifesp, DCE, Sintunifesp e APG – reagiram com uma campanha contrária à proposta e reafirmando a luta his- tórica por um Hospital Universi- tário 100% público. A proposta de fundação para o HSP surgiu no bojo do Projeto de Lei Complementar 92/2007, em discussão no Congresso Nacional, que cria uma nova modalidade de parceria público-privada. Tal projeto tenta implementar o mo- delo de gestão empresarial não só para os Hospitais Universitários (HUs), mas também para outras áreas, como cultura, esporte, ciên- cia e tecnologia e meio ambiente. “É uma política de desobrigação do Estado”, afirmou o presiden- te do Andes, Ciro Correia, para quem a atual crise dos HUs é re- sultado da falta de prioridade. “Os governos não mexem na parte do orçamento que afeta os interesses financeiros e depois diz que não tem dinheiro para a saúde e a área social”, criticou. O dirigente da Federação dos Trabalhadores das Universida- des (Fasubra), Bernardo Piloto, defende que a proposta inverte a lógica constitucional, que hoje dá prioridade ao setor público na saúde, e entrega os HUs nas mãos da iniciativa privada. “Os empre- sários querem gerir o HSP por to- das as suas qualidades”, discursou. Janine Teixeira, também dirigente da Fasubra, destacou que a funda- ção, apesar de levar no nome a pa- lavra estatal, é uma proposta pri- vatizante: “O projeto implementa uma administração privada, mu- dando a gestão do orçamento, dos recursos humanos e das compras, que seriam feitas sem licitação”. Segundo Janine, isto representaria um grande retrocesso no controle social e na transparência adminis- trativa, princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde. A Reitoria da Unifesp passou a defender o projeto de FEDP após reunião na qual o Ministério da Educação não teria aceitado sua proposta de federalização do HSP. “A fundação seria um avanço para o HSP, já que hoje ele é privado”, afirmou o reitor Walter Albertoni, que alega que com a proposta se- ria possível negociar com o gover- no a dívida e “encaminhar” o hos- pital para o setor público. Mesmo defendendo a FEDP como válida no caso do HSP, Albertoni decla- rou ser contrário à transformação dos demais HUs em fundações. A pronta oposição do Conselho de Entidades à fundação demons- trou unidade nas categorias. Além de realizarem debates sobre o tema, lançaram uma campanha e um manifesto contestando a pro- Mobilização geral barra fundação privada no HSP Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Paulo Seção Sindical do Andes-SN Boletim Adunifesp # 2 [31.jul.2009] www.adunifesp.org.br Representada em todos os campi, é presidida pela profa. Maria José Fernandes Adunifesp elege sua nova diretoria continua na p. 3

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Boletim Adunifesp-SSind nº02, gestão 2009-2011, publicado em 31 de julho de 2009. Jornalista responsável: Rodrigo Valente; Projeto gráfico e diagramação: D. Nikolaídis.

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Page 1: Boletim Adunifesp nº02 (julho de 2009)

Durante o mês de junho, esquen-tou na Unifesp o debate propos-to pela Reitoria e o Ministério da Educação, de transformar o Hos-pital São Paulo (HSP) em uma Fundação Estatal de Direito Pri-vado (FEDP). Logo, as entidades representativas das categorias da universidade – Adunifesp, DCE, Sintunifesp e APG – reagiram com uma campanha contrária à proposta e reafirmando a luta his-tórica por um Hospital Universi-tário 100% público.

A proposta de fundação para o HSP surgiu no bojo do Projeto de Lei Complementar 92/2007, em discussão no Congresso Nacional, que cria uma nova modalidade de parceria público-privada. Tal projeto tenta implementar o mo-delo de gestão empresarial não só para os Hospitais Universitários (HUs), mas também para outras áreas, como cultura, esporte, ciên-cia e tecnologia e meio ambiente. “É uma política de desobrigação do Estado”, afirmou o presiden-te do Andes, Ciro Correia, para quem a atual crise dos HUs é re-sultado da falta de prioridade. “Os governos não mexem na parte do orçamento que afeta os interesses

financeiros e depois diz que não tem dinheiro para a saúde e a área social”, criticou.

O dirigente da Federação dos Trabalhadores das Universida-des (Fasubra), Bernardo Piloto, defende que a proposta inverte a lógica constitucional, que hoje dá prioridade ao setor público na

saúde, e entrega os HUs nas mãos da iniciativa privada. “Os empre-sários querem gerir o HSP por to-das as suas qualidades”, discursou. Janine Teixeira, também dirigente da Fasubra, destacou que a funda-ção, apesar de levar no nome a pa-lavra estatal, é uma proposta pri-vatizante: “O projeto implementa uma administração privada, mu-

dando a gestão do orçamento, dos recursos humanos e das compras, que seriam feitas sem licitação”. Segundo Janine, isto representaria um grande retrocesso no controle social e na transparência adminis-trativa, princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde.

A Reitoria da Unifesp passou a defender o projeto de FEDP após reunião na qual o Ministério da Educação não teria aceitado sua proposta de federalização do HSP. “A fundação seria um avanço para o HSP, já que hoje ele é privado”, afirmou o reitor Walter Albertoni, que alega que com a proposta se-ria possível negociar com o gover-no a dívida e “encaminhar” o hos-pital para o setor público. Mesmo defendendo a FEDP como válida no caso do HSP, Albertoni decla-rou ser contrário à transformação dos demais HUs em fundações.

A pronta oposição do Conselho de Entidades à fundação demons-trou unidade nas categorias. Além de realizarem debates sobre o tema, lançaram uma campanha e um manifesto contestando a pro-

Mobilização geral barra fundação privada no HSP

Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Paulo Seção Sindical do Andes-SN

Boletim Adunifesp# 2 [31.jul.2009] www.adunifesp.org.br

Representada em todos os campi, é presidida pela profa. Maria José FernandesAdunifesp elege sua nova diretoria

continua na p. 3

Page 2: Boletim Adunifesp nº02 (julho de 2009)

Adunifesp SSind. - Associação dos Docentes da Universidade Federal de São PauloGestão 2009-2011: Maria José da Silva Fernandes (presidente), Soraya Smaili (vice-presidente), João Fernando Marcolan (secretário-geral), Francisco Lacaz (1º secretário), Zelita Caldeira Guedes (tesoureira geral), Raquel de Aguiar Furuie (1ª tesoureira), Eliana Rodrigues (imprensa e comunicação), Alice Teixeira Ferreira (relações sindicais, jurídicas e defesa profissional), Ieda Verreschi (política universitária) e Maria das Graças Barreto da Silva (política sociocultural). Virginia Junqueira (campus baixada santista), Vera Silveira (campus diadema), Carlos Alberto Bello e Silva (campus guarulhos)

Rua Napoleão de Barros, 841. São Paulo - SP. CEP 04024-002. Telefone/fax: (11) 5549-2501 e (11) 5572-1776E-mail: [email protected] Página na internet: www.adunifesp.org.br

Boletim AdunifespJornalista responsável: Rodrigo Valente (MTB 39616)Projeto gráfico e diagramação: D. Nikolaídis

Continuar a luta pelo HSP 100% público

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A pronta resposta do Conselho de Entidades ao projeto de Fundação Estatal de Direito Privado para o Hospital São Paulo, demonstrou que é pos-sível mobilizar a comunidade Unifesp a partir de uma agenda de defesa da universidade pública e gratuita. A Adunifesp, em conjunto com o Sintu-nifesp, DCE e APG, deixou claro para a reitoria e outros defensores da fundação, que não aceitam entregar o hospital-escola da universidade a pro-postas aventureiras e reafirmaram: é preciso conti-nuar a luta por um HSP 100% público.

O mesmo aconteceu em nível nacional, já que diversas entidades sindicais e populares enfren-taram o governo e rejeitaram mais essa privati-zação na área da saúde. Neste sentido, a marcha a Brasília do dia 17 de junho foi um marco. Mes-mo assim, o movimento social precisa continu-ar atento, já que o Projeto de Lei 92/2007 ainda não foi retirado da pauta do Congresso Nacional e representa uma grande ameaça, não só para a área da saúde, como para boa parte dos serviços públicos fundamentais.

Após essa vitória, o Conselho de Entidades deve continuar mobilizado e construir com toda a co-munidade Unifesp, inclusive com a Reitoria, uma agenda positiva para resolver os principais proble-mas da universidade. Além disso, é preciso retomar com vigor a histórica campanha pela federalização do Hospital São Paulo.

Registro sindical do Andes é reativadoUm ato solene em Brasília no dia 26 de junho marcou a reativação do registro sindical do An-des-SN. A decisão do Ministério do Trabalho é uma reparação depois da arbitrária suspensão do registro em 2003, em função de um proces-so aberto por outro sindicato de professores, e faz justiça à história da entidade nacional. O restabelecimento foi publicado no dia 5 de ju-nho no Diário Oficial e garante o Andes como legítimo representante dos docentes das insti-tuições de ensino superior público em todo o território nacional.

Um processo ainda deixa em juízo a represen-tação pela entidade dos docentes das universi-dades privadas. “Esperamos que a respeitosa e profícua interlocução estabelecida com o mi-nistério nesse processo venha a permitir nos fazer avançar na superação do problema ainda presente do direito de representarmos os docen-tes das instituições superiores do setor privado que assim o desejem”, afirmou o presidente do Andes-SN, Ciro Correia.

Momentos da cerimônia de entrega do registro sindical

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É possível classificar a atual gestão do Ministério da Educação (MEC) como um retrocesso em relação à autonomia das universidades federais brasileiras. Através de muita pressão política e do uso da “tor-neira” dos recursos públicos, o governo tem conse-guido impor o seu projeto político às universidades sem o mínimo de debate e responsabilidade com o futuro da educação superior, ou seja, do ensino, da pesquisa e da extensão.

A autonomia didático-científica e de gestão das universidades públicas foi uma conquista histó-rica do movimento de educação e de toda socie-dade, através da inclusão do Artigo 207 na Cons-tituição de 1988. Tal proposta foi aprovada para preservar a universidade de interesses alheios às suas finalidades e garantir uma educação supe-rior pública e de qualidade, elemento fundamen-tal à soberania nacional.

O açodamento como estão sendo implementados o Programa de Reestruturação e Expansão das Uni-versidades Federais (Reuni), o vestibu-lar nacional unificado através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a proposta de Fundação Estatal de Direi-to Privado para os Hospitais Universi-tários, demonstra o autoritarismo com que o MEC e o Ministro Fernando Ha-ddad vêm impondo sua política. O mais preocupante é que a maioria das institui-ções, através de seus Conselhos Univer-sitários, está aceitando tal projeto sem maiores questionamentos.

A autonomia da Unfesp ainda sofre o complicador da pressão de governos municipais. O episódio que toca especi-ficamente a nossa universidade é o pro-cesso de expansão dos campi, que muitas

Autonomia universitária sob ataqueAutonomia universitária sob ataque

vezes não cumprem os requisitos mínimos para uma educação de qualidade. A expansão, da forma como vem ocorrendo, tem tido reflexos importantes sobre a atuação dos docentes, dificultando as atividades de ensino, pesquisa e extensão, entre outros fatores, de-vido aos sérios problemas de acesso e condições de permanência para os estudantes, com falta de restau-rante, salas e equipamentos.

Preocupado em fazer política com a universidade pública, o governo federal vêm priorizando apenas a expansão de vagas no ensino e relegando a segundo plano a pesquisa e a extensão. Professores dos novos campi da Unifesp, inclusive, já tiveram negado pelo MEC pedidos para abertura de novos cursos de pós-graduação. Esperamos, sinceramente, que por trás da gestão da educação do país não estejam interesses po-líticos injustificáveis como candidaturas a cargos no executivo ou no legislativo nas próximas eleições.

Gestão Expansão com Participação Democrática da Adunifesp (Diretoria 2009/2011)

posta. As mobilizações contaram particularmente com a presença de muitos trabalhadores, categoria afetada diretamente pela proposta, já que cerca de dois mil servidores do HSP poderiam perder direitos trabalhistas e previdenciários ao serem transferidos do regime pú-blico para a CLT.

Os embates sobre o tema na Uni-fesp fizeram a Reitoria reavaliar a proposta de fundação, já que mesmo pessoas próximas à admi-nistração estariam críticas. Além disso, após muita pressão do mo-vimento de saúde e da sociedade organizada, o ministério também recuou. Em reunião com o Conse-

lho Nacional de Saúde no começo de julho, representantes do gover-no afirmaram que a proposta se-ria retirada de pauta, pelo menos momentaneamente. A decisão foi bastante comemorada. Mesmo assim, os opositores da proposta de fundação prometem continuar mobilizados.

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Parte da diretoria da Adunifesp, durante coquetel no dia da posse

flickr.com/nikolaidis

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“É com muito orgulho que assumimos a missão de dirigir a Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Paulo”, assim iniciou seu discurso de posse a professora Maria José Fernandes, presi-dente pela gestão Expansão com Participação De-mocrática, para o Biênio 2009/2011. Em sua fala na cerimônia de 9 de junho, a docente do Departa-mento de Neurologia e Neurocirurgia do curso de Medicina se comprometeu em nome da diretoria a continuar “trilhando o mesmo caminho, traba-lhando por uma Adunifesp cada vez mais organi-zada e representativa”.

Sua fala destacou a importância da Adunifesp na superação da atual crise da universidade, a partir de uma reforma democrática do estatuto; da rea-valiação do processo de expansão, com garantia de qualidade educacional; e do enfrentamento e reso-lução das irregularidades apontadas pelos órgãos públicos de controle. “Queremos construir um diálogo com a direção da Unifesp, debatendo jun-tamente com as demais entidades, uma agenda de defesa da universidade pública, gratuita e de quali-dade”, concluiu.

A professora Maria José foi precedida em seu discurso pelo presidente da Adunifesp no biênio 2007/2009, Vilmon de Freitas, que transmitiu a presidência e lembrou momentos importantes da gestão que findava. “Em episódios como a investi-gação dos cursos pagos e o uso irregular do cartão coorporativo, atuamos com seriedade e respon-sabilidade juntamente com as outras entidades”, afirmou o ex-presidente, que aproveitou a opor-tunidade para homenagear o professor Elisaldo

Adunifesp: nova gestão toma posseAdunifesp: nova gestão toma posse

Carlini, docente com uma vida inteira dedicada à Unifesp e, a partir daquela data, ex-diretor da as-sociação.

O reitor Walter Albertoni marcou presença na posse e se comprometeu com uma agenda positiva para a Unifesp em conjunto com as entidades. “Eu gosta-ria de congratular a gestão que finda e desejar uma boa gestão à professora Maria José”, discursou. A solenidade de posse contou a presença e a interven-ção de diversos docentes, chefes de departamentos, dirigentes da universidade, além de representantes de entidades – DCE, Sintunifesp e APG – e do Sin-dicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes-SN). Após a cerimônia, um almoço foi ofe-recido na sede.

Assembleia aprova contasUma assembleia geral dos docentes con-vocada pela Adunifesp aprovou a pres-tação de contas da gestão 2007/2009 da associação. O conselho fiscal da entidade já havia apresentado um parecer favorá-vel à aprovação. Além disso, a assembleia debateu a proposta de Fundação Estatal de Direito Privado para o Hospital São Paulo. Por último, foi delegada à direto-ria da Adunifesp a responsabilidade pela indicação dos delegados da universidade ao 54º Conselho Nacional dos Docentes do Andes-SN (Conad), entre 16 e 19 de julho, em Curitiba.

NotasNotasMobilização em SantosOs estudantes da Unifesp de Santos reali-zaram em maio uma grande mobilização por melhorias na assistência estudantil e nas condições de estudo no campus. Cansados de esperar o cumprimento de antigas reivindicações pela direção, cerca de 250 estudantes saíram às ruas e pro-testaram por alternativas baratas de ali-mentação, estruturação da biblioteca e do centro de informática, assistência de saúde e mudanças no projeto pedagógico. Em reunião com os estudantes, a Reitoria afirmou que “entraves burocráticos” esta-riam atrasando parte das reivindicações.

Novo vestibularA aprovação do novo vestibular para as universidades federais baseado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) repre-sentou mais um ataque do Ministério da Educação à autonomia das universidades brasileiras. O novo modelo acabou aceito à base de muita pressão política e pouco debate. Na Unifesp, o Conselho Univer-sitário aprovou em maio que 19 dos 26 cursos oferecidos terão o Enem como forma única de ingresso. Os outros cursos utilizarão parcialmente a nota do exame, porém a realização do mesmo será obri-gatória para o ingresso na universidade.

Professora Maria José Fernandes, a nova presidenteflickr.com/nikolaidis