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BOLETIM Número 20 Julho 2019 EDITORIAL Neste número Editorial - As alterações da legislação Laboral. Fausto Leite - Assembleia Geral da APJD de 30/3/2019 - notícia, órgãos sociais eleitos e moções aprovadas - Caso Cristina Tavares: Vitória da Coragem, Dignidade e Justiça! - Candidatura à Ordem dos Advogados - Obituário de Ruben de Carvalho - Obituário de António Manuel Hespanha - Homenagem a Roland Weyl - Declaração da AIJD/IADL - Antologia - Site da APJD e redes sociais - Ficha técnica e Estatuto Editorial Já se previa que as recentes eleições para o par- lamento europeu viessem a saldar-se por uma elevada taxa de abstenção (que foi, no nosso país, superior a 70%). Isso não resulta de circunstâncias meramente ocasionais, mas antes de um sentimento popular generalizado de não aceitação e mesmo rejeição do chamado “projecto europeu”, tal como tem sido apresentado e com as políticas que o enfor- mam. Efectivamente, não nos sentimos propriamente “cidadãos” de uma entidade transnacional chamada Europa, nem confiamos nos benefícios que dela possam eventualmente advir. A nossa identidade colectiva é com o país que conhecemos desde o berço, e quantos que aqui partilham as mesmas contingências, e projectos diversificados de futuro; não com entidades geo-estratégicas al- heias, impostas sem arrimo numa vontade popu- lar democraticamente expressa – e que implicam, na sua génese e objectivos, uma dissolução pro- gressiva das realidades nacionais e estaduais (tais como as conhecemos e temos vivido). A incorpo- ração na União Europeia, nos moldes actuais, sig- nifica para Portugal e demais países “periféricos” uma redução evidente de competências próprias, provocando inevitavelmente um sentimento gen- eralizado de perda de soberania. E tanto mais quanto se verifica que as políticas europeias traduzem fundamentalmente os interesses domi- nantes dos grandes países e dos grandes grupos

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  • BOLETIMNúmero 20J u l h o 2019

    E D I T O R I A L

    Neste númeroEditorial- As alterações da legislação Laboral. Fausto Leite- Assembleia Geral da APJD de 30/3/2019 - notícia, órgãos sociais eleitos e moções aprovadas- Caso Cristina Tavares: Vitória da Coragem, Dignidade e Justiça! - Candidatura à Ordem dos Advogados- Obituário de Ruben de Carvalho- Obituário de António Manuel Hespanha- Homenagem a Roland Weyl- Declaração da AIJD/IADL- Antologia- Site da APJD e redes sociais- Ficha técnica e Estatuto Editorial

    Já se previa que as recentes eleições para o par-lamento europeu viessem a saldar-se por umaelevada taxa de abstenção (que foi, no nossopaís, superior a 70%).Isso não resulta de circunstâncias meramenteocasionais, mas antes de um sentimento populargeneralizado de não aceitação e mesmo rejeiçãodo chamado “projecto europeu”, tal como temsido apresentado e com as políticas que o enfor-mam.

    Efectivamente, não nos sentimos propriamente“cidadãos” de uma entidade transnacionalchamada Europa, nem confiamos nos benefíciosque dela possam eventualmente advir. A nossaidentidade colectiva é com o país que conhecemos

    desde o berço, e quantos que aqui partilham asmesmas contingências, e projectos diversificadosde futuro; não com entidades geo-estratégicas al-heias, impostas sem arrimo numa vontade popu-lar democraticamente expressa – e que implicam,na sua génese e objectivos, uma dissolução pro-gressiva das realidades nacionais e estaduais (taiscomo as conhecemos e temos vivido). A incorpo-ração na União Europeia, nos moldes actuais, sig-nifica para Portugal e demais países “periféricos”uma redução evidente de competências próprias,provocando inevitavelmente um sentimento gen-eralizado de perda de soberania. E tanto maisquanto se verifica que as políticas europeiastraduzem fundamentalmente os interesses domi-nantes dos grandes países e dos grandes grupos

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    financeiros multinacionais – não as contingênciase interesses próprios das classes trabalhadoras eda população em geral. Como dissemos no edito-rial do último número do Boletim, existe hojeuma consciência generalizada do domínio exer-cido pelas grandes potências sobre os países maisdébeis da sua periferia, e contradições daí resul-tantes; da persistência de profundas desigual-dades entre esses países, agravadas pela derivaneo-liberal das forças políticas dominantes (in-cluindo a social-democracia europeia); do papelcimeiro das centrais financeiras e os chamadosmercados, que mandam nos governos e nos países,sem qualquer legitimação democrática.

    A Europa é a casa alargada dos ricos e poderosos– não uma Europa dos povos; como ficou bem ex-plicitado no texto de António Avelãs Nunes pub-licado no anterior número do Boletim daAPJD.(bem como no livro do mesmo professorcatedrático, “Os caminhos da social-democraciaeuropeia”, publicado já no corrente ano); onde oautor esclarece que a política europeísta, “assentenos dogmas neoliberais que informam a Europade Maastricht e do Tratado Orçamental (afinal, a“Europa” criada pelo Tratado de Roma), vemsacrificando objectivos políticos importantes parao bem-estar presente e futuro dos portugueses,acentuando a nossa dependência externa, pondoem risco a nossa soberania, isto é, a capacidade dedecidir autonomamente os caminhos do nosso de-senvolvimento. Portugal perdeu o controle de sec-tores estratégicos fundamentais que hojepertencem ao grande capital estrangeiro (no es-trangeiro têm a sede os centros de decisão e parao estrangeiro vai umaboa parte da riquezaproduzida nesses sec-tores): banca e seguros,produção e distribuiçãode energia (electrici-dade, gás, petróleo);telecomunicações; cor-reios; aeroportos; trans-porte aéreo. Um país

    nestas condições não pode ser um país sober-ano”(1).

    Noutro registo discursivo, o malogrado AntónioManuel Hespanha (que prematuramente há diasnos deixou) reconhecia que “no contexto da EU,o défice democrático do direito e da justiça comu-nitários tornou-se cada vez mais manifesto, aomesmo tempo que ganhava progressivamentepeso o direito judicial do pouco democrático Tri-bunal de Justiça”; e que foram as políticas neo-liberais que, “por ocasião da crise das dívidassoberanas de 2010, caíram sobre alguns países eos obrigaram a adoptar políticas que tendiam ademolir conquistas sociais e a enfraquecer o dire-ito estabelecido pelos respectivos órgãos represen-tativos”(2).Toda esta realidade, vivida e sentida peloscidadãos comuns (os “de baixo”, não a plutocra-cia europeia) não concita obviamente grandesconvergências cívicas (sequer no âmbito da sim-ples deposição de votos nas urnas).

    Por outro lado, interrogamo-nos legitimamentesobre a eficácia e justeza dessas instâncias supra-nacionais para a defesa dos direitos humanos emgeral e no atendimento das posições e reivindi-cações concretas das pessoas – por se afigurar queé dentro das fronteiras do estado nacional, eatravés das suas estruturas constitucionais, quemais e melhor se podem ver protegidos os direitose liberdades fundamentais dos povos.Sem prejuízo de poder continuar a configurar-se“a construção de um projecto alternativo de in-tegração – cooperação na Europa”, como diz o

    deputado europeu JoãoFerreira em texto publi-cado também no últimonúmero deste Boletim(3) – o que implica, noentanto, diversos pres-supostos, ali claramenteenunciados; apontandopara outro pacto eu-ropeu; e em que uma

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    questão essencial é “aadmissão de uma plu-ralidade de caminhos,de acordo com a von-tade soberana de cadapovo – o que não invi-abiliza a existência deinstituições próprias,mas que certamenteobriga a uma organiza-ção, funcionamento,composição e represen-tatividade diferentes (.. .)”. Uma outra Eu-ropa, portanto – dostrabalhadores e dospovos.Entretanto, os portugueses estão já convocadospara nova participação eleitoral, no próximo odia 6 de Outubro, agora para designação dos dep-utados à Assembleia da República num próximomandato.E, como sabemos, as eleições são precedidas deum período de campanha eleitoral, regido pelosprincípios da liberdade de propaganda e igual-dade de oportunidades e de tratamento das diver-sas candidaturas (artigo 113º, nº3 da CRP) – que,na prática, já começou, pois os partidos políticose coligações estão já a apresentar os seus progra-mas eleitorais e a divulgá-los perante a opiniãopública.É o tempo de novo balanço sobre a política geraldo país; funcionamento da administração públicaem geral; cumprimento das tarefas fundamentaisdo Estado (em que se destacam o bem-estar e aqualidade de vida do povo e a efectivação dos seusdireitos económicos, sociais, culturais e ambien-tais); enfim, todas as principais questões que secolocam aos portugueses, e que estes gostarão dever devidamente equacionados, para fundamentodas suas escolhas.Entre essas principais questões, que são ou

    devem ser pressuposto e incentivo da partici-pação democrática dos cidadãos, permitimo-nossalientar as seguintes:

    a) Antes de mais, a necessária ponderação sobreo sentido geral da representação que se pretendever assegurada no parlamento: um sentido de pro-gresso social (com a promoção do bem-estar e aqualidade de vida do povo e a igualdade real entreos portugueses, como se diz na alínea d) do artigo9º da CRP), ou de regressão social (com intensifi-cação das desigualdades, exploração dos trabal-hadores, supressão de direitos e garantias);

    b) O que implica a devida identificação daspolíticas necessárias (i.e., das medidas concretasque se impõem para melhoria das condições devida do povo português); e dos protagonistas que,nessa representação parlamentar, melhor possaminterpretar e defender os legítimos interesses e di-reitos da população em geral, particularmente dasclasses trabalhadoras;

    c) E pressupõe também, inevitavelmente, aavaliação das políticas de reposição, defesa e con-quista de direitos verificadas nos últimos três anos(que apenas foram possíveis com a força das lutasde massas, e os acordos estabelecidos entre o PS eas forças políticas à sua esquerda).

    d) Teremos de ponderar, por conseguinte: I- se

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    queremos, ou não, a continuação e fortalecimentodessas políticas de reposição e conquista de dire-itos sociais; II- se queremos avançar, ou andarpara trás; III- se estamos ao lado do povo, ou dosinteresses do grande capital; IV- se nos identifi-camos, ou não, com o Estado de direitodemocrático, “visando a realização da democra-cia económica, social e cultural e o aprofunda-mento da democracia participativa” (artigo 2º daCRP) – e, por isso mesmo, com a protecção e for-talecimento dos serviços públicos fundamentais,em termos que assegurem devidamente a realiza-ção das tarefas constitucionais do Estado, e a re-spectiva defesa contra os ataques dos sectoreseconómicos e políticos mais reaccionários, bemcomo dos populismos aventureiros e corporativis-mos ilegítimos (que todos pretendem capturar esubverter a “construção de uma sociedade livre,justa e solidária”); V- se somos por um país ver-dadeiramente independente, ou pela submissãoàs ordens e interesses da NATO e da actual UniãoEuropeia; VI- por fim, se o PS pode ficar sozinhoa tratar dessas matérias. Tudo isto, e muito mais,está em causa no próximo dia 6 de Outubro – tor-nando-se necessário identificar devidamente osentido geral do nosso voto; bem como as forças

    políticas que pelo seu empenhamento, credibili-dade e coerência política mais o mereçam.Deixemos pelo caminho os falsos pagadores depromessas (4)

    Notas:

    (1) António Avelãs Nunes, “A social-democracia eu-ropeia e a fidelidade ao “culto europeísta”, in “Bole-tim da APJD”, nº19, Maio de 2019, pág.11.

    (2) António Manuel Hespanha, “O direitodemocrático numa era pós-estatal. A questão políticadas fontes de direito”, 2018, págs.10 e 11.(3) João Ferreira, “Outra Europa, uma Europa dostrabalhadores e dos povos”, in “Boletim da APJD”,nº19, Maio de 2019, pág.22.(4) No seu último livro (“Un fin del mundo. Consti-tución y democracia en el cambio de época”, Edito-rial Trotta, Madrid, 2019, pág.112), Juan-RamónCapella fala na “vexata quaestio” da responsabili-dade política nos sistemas políticos actuais: “oseleitos são praticamente irresponsáveis pelas decisõesque adoptam. São responsáveis, obviamente, peranteo Código Penal, como toda a gente, e além dissopodem não ser reeleitos. Mas isso é ter muita poucaresponsabilidade pelos próprios actos políticos (. . .)”;estamos perante “um sistema débil de exigência deresponsabilidades”. Juan-Ramón Capella é cate-drático emérito de Filosofia do Direito, Moral ePolítica – Universidade de Barcelona.

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    A excessiva precarização das relações laboraistem afectado, gravemente, a saúde e a vida fami-liar e social dos trabalhadores portugueses, emparticular, dos jovens, ao arrepio do direito cons-titucional da segurança no emprego.

    É verdade que, ultimamente, têm sido aprovadasalgumas propostas positivas, as quais, se foremaplicadas, contribuirão para diminuir o númerode trabalhadores precários e mitigar a injustiçalaboral.

    Assim, a redução do limite máximo dos contra-tos de trabalho a termo certo de três para doisanos, bem como do tempo das renovações, quenão poderá exceder o período inicial, contribuirá,seguramente, para a diminuição desta contrata-ção.

    Igualmente, a diminuição da duração dos con-tratos de trabalho a termo incerto de seis paraquatro anos, tal como a limitação da contrataçãoa termo para postos de trabalho permanentes aosdesempregados de longa duração ou no inicio de

    laboração das empresas ou estabelecimentos, ape-nas, como menos 250 trabalhadores, também be-neficiarão o emprego.

    Cumpre, também, relevar a importância da re-vogação do iníquo “banco de horas individual”,embora protelada para 2020, assim como do au-mento de horas anuais de formação de 35 para 40e da acumulação incondicional dos respectivoscréditos no caso do seu incumprimento.

    Porém, o proposto alargamento do actual pe-ríodo experimental de 90 para 180 dias, nos con-tratos de trabalho sem termo dos trabalhadoresà procura do primeiro emprego e desempregadosde longa duração aumentaria, seguramente, aprecariedade dos trabalhadores mais desprotegi-dos. Outrossim, a generalização dos contratos demuito curta duração, actualmente limitados à ac-tividade sazonal agrícola e a eventos turísticos,bem como o seu aumento de 15 para 35 dias, cria-riam maior insegurança no emprego.

    Estas alterações contrariam o propósito de re-

    As Alterações da Legislação Laboral

    Fausto Leite*

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    duzir a segmentação laboral, sobretudo, nasmicro e pequenas empresas, propiciando o traba-lho informal que já abrange muitos milhares detrabalhadores.

    Também, se afigura contraditória a proposta demanutenção do banco de horas grupal, agravadapela diminuição do quorum de 75% para 60% dostrabalhadores da equipa, secção ou unidade eco-nómica para o aprovar.

    Após a reconhecida recuperação da economia,impõe-se repor os acréscimos da retribuição dotrabalho suplementar, reduzidos a metade, ascompensações dos despedimentos colectivos, porextinção do posto de trabalho ou inadaptação, re-duzidas de um mês para 12 dias de retribuição porano de antiguidade, bem como o aumento do pe-ríodo de férias até 25 dias, revogados pela Leinº23/2012, de 25 de Junho.

    Urge, também, limitar os abusos do trabalhonocturno e por turnos, que causam stress, gravesdoenças e acidentes, com os inerentes custos eco-nómicos e sociais. Nos casos em que se justificamesses trabalhos penosos, deve ser limitado o pe-

    ríodo de trabalho semanal, aumentado o períodode férias e antecipada a idade da reforma.

    É, também, imperioso o combate à pobreza e àdesigualdade, mediante o aumento justo dos sa-lários.

    Finalmente, deve ser garantido o direito de des-ligar dispositivos digitais fora do horário de tra-balho, que decorre do direito constitucional aorepouso e aos lazeres consignado no artigo 59º,nº1, alínea d) da Constituição da República.

    Não basta proclamar o princípio da adaptaçãodo trabalho à pessoa e os direitos à saúde, à orga-nização do trabalho em condições dignificantes eà conciliação do trabalho com a vida familiar epessoal, consagrados na Constituição e no Códigodo Trabalho. É essencial reforçar a fiscalização doseu cumprimento e criminalizar as suas reiteradasviolações, para assegurar o trabalho digno a todosos portugueses.

    *Advogado especialista em Direito do Trabalho

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    No dia 30 de Março de 2019 reuniu na Faculdadede Direito da Universidade de Lisboa a Assem-bleia Geral da APJD, presidida pelo ConselheiroGuilherme Fonseca, com a seguinte ordem de tra-balhos:

    1. Apreciação e votação das contas e relatório deactividades da Associação referentes ao exercíciode 2018; 2. Proceder à eleição da Mesa da AssembleiaGeral, Direcção e Conselho Fiscal para o biénio2019/2021;3. Discussão e aprovação do Plano de Activida-des e Orçamento para 2019;4. Informação sobre algumas actividades já pro-gramadas e em curso:a) Boletim da APJD;b) Acções e colóquios temáticos a realizar em2019;c) Congresso da Asso-ciação Internacional deJuristas Democratas arealizar de 18 a 22 de Se-tembro de 2019 – suapreparação no plano na-cional.

    A assembleia teve aparticipação de 61 asso-ciados – 22 dos quais es-tiveram presentes, e 39fizeram-se representarpor procuração.

    No ponto 1 da ordem detrabalhos, a AssembleiaGeral aprovou, por una-

    nimidade e aclamação, o relatório e contas apre-sentados pela Direcção, relativos ao exercício de2018, no seguimento de uma intervenção da Pres-idente da Direcção, Madalena Santos, que pro-cedeu à descrição pormenorizada dos trabalhosrealizados no referido exercício (na sequência doque fora já desenvolvido nos anos anteriores).

    No ponto 2 da ordem de trabalhos, a Presidenteda Direcção apresentou uma proposta de lista deassociados para integrarem os corpos sociais daassociação no biénio 2019-2020, referindo que seprocurou um equilíbrio entre colegas com difer-entes experiências e idades, uma diversificação darepresentatividade geográfica e das várias profis-sões jurídicas. A referida lista, que se publicaneste Boletim, foi aprovada por unanimidade eaclamação.

    No ponto 3 da ordemde trabalhos a Presi-dente da Direcção ap-resentou o plano deactividades e orça-mento para 2019 – deque se destacam osseguintes pontos: a)Necessidade de incre-mentar o trabalho de-senvolvido paraformalização dos nú-cleos regionais da asso-ciação e aresponsabilização dosassociados em cada umdos locais pelo desen-volvimento e divul-

    Assembleia Geral da APJD (30/3/2019)

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    gação das actividades da associação, designada-mente no que respeita à colaboração no Boletim,e bem assim quanto à respectiva divulgação pelasredes de contactos pessoais e profissionais; b) Ne-cessidade de manter devidamente actualizado osite da associação; c) Preparação da participaçãoportuguesa no XIX Congresso da AIJD, entãoprevista para o mês de Setembro, em Argel; in-cluindo a participação de dois elementos da nossaassociação em duas das comissões de trabalhodaquela assembleia internacional de juristas.

    O plano de actividades para 2019 foi aprovadopor unanimidade e aclamação, incluindo as sug-estões e alterações apresentadas durante o períodode discussão do referido documento.

    Finalmente, a Assembleia Geral aprovou diver-sas moções que são publicadas no presentenúmero do Boletim.

    Pela relevância dos assuntos tratados; partici-pação de um número muito significativo de asso-ciados, democraticamente interessados nodesenvolvimento dos objectivos da instituição; vi-

    vacidade dos debates; perspectivas de trabalhoenunciados; esta Assembleia Geral constituiu ummarco muito importante na vida da APJD, asse-gurando o prosseguimento dos respectivos com-promissos, no plano interno e no âmbitointernacional, no decorrer do ano em curso (o que,obviamente, pressupõe também a participaçãoempenhada de todos os associados nos trabalhosa desenvolver).

    Órgãos Sociais para o Biénio 2019/2021(Eleitos na Assembleia Geral de 30/03/2019)

    Mesa da Assembleia GeralPresidente: Guilherme da Fonseca (Juiz-Conselheiro Jubilado, Lisboa)Secretário: João Ferreira (Advogado, Porto)Secretário: Mário Cunha (Advogado, Faro)Secretária suplente: Alcinda Silva (Advogada, Porto)

    Conselho FiscalPresidente: Luís Corceiro (Advogado, Lisboa)Vogal: Helena Casqueiro (Advogada, Lisboa)Vogal: Sofia Costa (Advogada, Aveiro)Suplentes: António Negrão (Advogado, Lisboa); Vanda Cristina dos Santos Silva(Jurista, Coimbra)

    DirecçãoPresidente: Madalena Santos (Jurista, Docente Universitária, Lisboa)Vice-Presidente: Isabel Baptista (Juíza, Madeira)Tesoureira: Dulce Reis (Advogada, Barreiro)Vogal: José António Alexandre (Jurista, Palmela)Vogal: Joel Moriano (Advogado, Lisboa)Vogal: André Marçalo (Docente Universitário, Lisboa)Vogal: Carlos Alberto Fernandes (Jurista,Lisboa)Vogal: Paula Cristina Fernandes (Jurista, Lisboa)Suplentes: José Manuel Rosa Dionísio Guerreiro(Jurista,Tribunal Contas, Lisboa);Hugo Dionísio (Advogado, Lisboa)

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    Moção sobre a Palestina

    Juristas Portugueses, reunidos em AssembleiaGeral da Associação Portuguesa de Juristas De-mocratas (APJD), em 30 de Março de 2019 naFaculdade de Direito de Universidade de Lisboa:- Afirmam-se cientes de dezenas de Resoluções doConselho de Segurança da ONU desde 1967 quetêm vindo sistematicamente a condenar a políticade Colonatos que o Estado de Israel continua aprosseguir.- Reconhecem que uma tal política, não estandoprevista em qualquer pacto, convénio, lei na-cional ou internacional constitui um flagranteacto de ocupação da terra palestiniana, violandofrontalmente os normativos da legislação inter-nacional e o princípio democrático de pacíficaconvivência entre nações.- Lamentam e condenam a decorrência destapolítica, que tem culminado com sucessivasagressões à soberania do território palestino, si-multaneamente despersonalizando e atentandocontra a dignidade do seu povo.- Condenam os factos violentos a que tem vindoa dar origem, como a violenta escalada de bom-bardeamentos em 11 de Novembro de 2018 nabloqueada Faixa de Gaza, massacres de popu-lações, e tantas outras acções desumanas violen-tas, onde a política do colonato é apresentadapelo Estado de Israel como um gesto de legitimi-

    dade civil de apropriação.- Defendem que a solução deste conflito exige: i)uma imediata cessação da política decolonatos e o fim da ocupação em territóriopalestino; ii) que no contexto de um ordenamentoregional se reconheça a solução de dois Estados;iii) que o controlo armamentista a Israel seja in-staurado pelas Nações Unidas, com garantia denão agressão ao Estado da Palestina; iv) que aconciliação Fatah/Hamas seja alcançada, assimreforçando a unidade nacional palestina e, v) sealcance a via de renúncia de violência entre osdois Estados.

    - Manifestam a sua confiança em como só ospovos palestiniano e israelita, poriniciativa própria e no escrupuloso respeito do Di-reito Internacional, alcançarão a brevetrecho a tão necessária paz, tranquilidade sociale mútua prosperidade a que têm direito.

    Moções aprovadas (por unanimidade e aclamação)

    Moção sobre a condenação de 18 advogados na TurquiaConsiderando que:1 - No passado dia 20 de Março no Tribunal Cen-tral Criminal (Heavy Penal Court) de Silivri (Is-tambul-Turquia) foram condenados 18advogados da Associação de Juristas Progressis-tas, membro da Associação Internacional de Ju-

    ristas Democratas, entre os quais o seu Presi-dente, a penas de prisão que vão dos 2 anos a 18de anos de prisão, totalizando no seu conjunto159 anos, um mês e trinta dias. 2 - Advogados de vários países estiveram comoobservadores nos julgamentos, entre os quais rep-

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    resentantes da Associação Internacional de Ju-ristas Democratas, Associação Europeia de Juris-tas Democratas, Associação Europeia de Juristaspela Democracia e pelos Direitos Humanos, Ad-vogados por Advogados, Defesa sem Fronteiras -Advogados Solidários, Ordens Profissionais daBélgica, França e Noruega, Juristas DemocratasItalianos Associação Italiana de AdvogadosCriminais e National Legal Team Italy, e afir-maram após a leitura da sentença que: «Nestemomento estamos convictos que este julgamentoé completamente nulo e de nenhum efeito. Prote-stando contra as pesadas penas de prisão insisti-mos na imediata libertação de todos os acusados,a ser alcançada por todos os meios judiciais elegais possíveis. Expressamos a nossa soli-dariedade a todos os acusados em nome da lutacomum pela justiça e princípio da legalidade».3 - Os observadores concluíram que os acusadoseram, na verdade, perseguidos criminalmente porapenas exercerem a sua profissão de acordo comas leis turcas, europeias e normas internacionais,o que constitui uma clara violação do princípiodas Nações Unidas que proíbe a intimidação dosadvogados e a identificação com os seus clientes.A sentença tem, na verdade, fundamentos políti-cos e o seu objectivo é impedir os advogados deexercerem os seus deveres profissionais. 4 - Concluíram ainda que este julgamento violoudiversos princípios legais, incluindo a inde-pendência do poder judicial (em 14 de Setembro

    de 2018, 17 dos advogados foram libertados daprisão , para serem novamente presos um dia de-pois, após a substituição do juiz de julgamento),bem como o direito a um julgamento justo (asprovas para as acusações incluíam documentosde origem duvidosa e testemunhas secretas quenão puderam ser inquiridas pela defesa). De assi-nalar que em 10 de Setembro de 2018, os advoga-dos acusados foram espancados pela políciadentro do próprio tribunal e aí algemados.

    A Assembleia Geral da Associação Portuguesa deJuristas Democratas (APJD), reunida no dia 30de Março de 2019, na Faculdade de Direito de Lis-boa delibera:1 - Exigir a imediata e incondicional libertaçãodos 18 advogados.2 - O respeito integral dos Princípios Básicos Rel-ativos à Função dos Advogados, em particular oartº16º que dispõe que «Os Governos devem asse-gurar que os advogados (a) possam desempenhartodas as suas funções profissionais sem intimi-dações, obstáculos, coacção ou interferência in-devida (...)» e o artº18º que estabelece que «Osadvogados não serão identificados com os seusclientes nem com as causas dos seus clientes, emconsequência do exercício das suas funções.»3 - O respeito integral pelo artº6º da ConvençãoEuropeia dos Direitos Humanos e do artº14º doPacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos(direito a um julgamento equitativo e justo).

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    Juristas Portugueses, reunidos em AssembleiaGeral da Associação Portuguesa de Juristas De-mocratas (APJD), em 30/03/2019, na Faculdadede Direito da Universidade de Lisboa:- Constatando a evolução dos acontecimentos naRepública Bolivariana de Venezuela, com aameaça de gerar uma situação que pode descam-bar para uma perigosa situação de guerra;- Entendendo que qualquer solução para estasituação tem de ser procurada no âmbito da Con-stituição desse país, com o imperioso respeitopelos normativos da Legislação Internacional; - Registando lamentavelmente, que a ingerênciaestrangeira, como a dos Estados Unidos deAmérica e da Colômbia, no quadro institucionale governativo interno da República Bolivarianade Venezuela, não só contribui marcadamentepara a instabilidade político-social na AméricaLatina, como viola frontalmente os princípiosbásicos da convivência democrática e respeitopela soberania de cada país;- Reafirmando que é na base da Carta das NaçõesUnidas e do Direito Internacional que devem serresolvidos quaisquer conflitos e diferendos;- Atendendo que a solução bélica ou de sanções

    económicas, não constituem meios civilizadospara a resolução de diferendos entre Nações, ape-nas contribuem para a desgraça e miséria hu-manas;- Manifestam a sua solidariedade ao Povo deVenezuela confiados de que saberá, através dassuas instituições democráticas constitucional-mente vigentes, alcançar uma solução rápida paraultrapassar os seus problemas internos e alcançara tão desejada paz e prosperidade de que é mere-cedor.

    Moção sobre a República Bolivariana da Venezuela

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    No passado dia 26 de Junho a Corticeira Fer-nando Couto - Cortiças, depois de um longo pro-cesso de luta, aceitou a reintegração imediata datrabalhadora Cristina Tavares. Em baixo repro-duzimos a nota de imprensa da Federação Portu-guesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica eVidro.

    A APJD na sua Assembleia Geral de 30/03/2019aprovou, por unanimidade e aclamação, umamoção de solidariedade com esta trabalhadora,«condenando todas as práticas de negação, des-respeito dos direitos dos trabalhadores» e compro-meteu-se a denunciar esta situação e outrasidênticas e ainda a realizar uma iniciativa emtorno deste caso. Assim, no dia 6 de Maio, aAPJD promoveu uma acção sobre o AssédioMoral no Local de Trabalho - O Caso Particularda operária Cristina Tavares». O debate foi mo-derado pelo Dr.António Colaço, juiz conselheirojubilado do STJ e membro da APJD. �A mesacontou com a participação do Prof. Dr. JoãoZenha Martins (UNL), do Dr. Filipe Soares Pe-

    reira (advogado), de Cristina Tavares e de Armé-nio Carlos (Secretário-Geral da CGTP-IN). O de-bate que se seguiu às intervenções dos membrosda mesa contou com os contributos de Pedro Rita(advogado), Manuel Leal (STRUP), AntónioLima Coelho (ANS), Hugo Dionísio (CGTP), Con-ceição Ximenes (APMJ), Madalena Santos(APJD) e Alírio Martins (SOCN).

    A APJD esteve também na organização e apoiouo espectáculo de solidariedade com a Cristina Ta-vares realizado no dia 31 de Maio no Auditórioda Tuna Musical Mozelense (Mozelos), apresen-tado por Cândido Mota, e com a participação dosartistas Ana Lains, Canto DAqui, Helder Mouti-nho, Janita Salomé, Rogério Charraz, Samuel eTim e mensagens solidárias em vídeo de Capicua,Jorge Palma, Vitorino e Sérgio Godinho.

    No novo site da APJD [https://juristasdemoc-ratas.org/] encontra-se disponível uma cronologiadeste caso, bem como diversos artigos da im-prensa.

    Caso Cristina Tavares: Vitória da Coragem, Dignidade e Justiça!

    «Nota de Imprensa da Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro - Cristina: Vitória da Coragem e da Dignidade!

    A operária corticeira Cristina Tavares é reinte-grada na empresa a partir de 1 de Julho de 2019depois de ter sido despedida, ilicitamente, porduas vezes!No mesmo dia em que deveria decorrer a pri-meira sessão de impugnação judicial do segundodespedimento, a empresa recuou em toda a linhae aceitou a reintegração imediata, face à firmezademonstrada pela trabalhadora que recusoutodas as propostas de acordo pecuniário que lheforam feitas e assumiu sempre que o seu objectivoera a reintegração.

    A situação laboral da Cristina tinha tudo parapassar despercebida.Operária corticeira, algures num empresa emPaços de Brandão. Despedida em Janeiro de 2017por suposta extinção do posto de trabalho, apósa utilização do direito de assistência à família.O despedimento foi impugnado e, quase dois anosdepois, o Tribunal concluiu que tinha sido ilícito.Foi reintegrada na empresa. Como «castigo», atri-buíram-lhe funções humilhantes, improdutivas enão constantes nos conteúdos funcionais da suacategoria profissional, para a levar ao desgaste fí-

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    sico e emocional, facilitadores de umarescisão por «mútuo» acordo.Mas a trabalhadora não saiu. Ficou.E não ficou sozinha. O Sindicato quesempre esteve ao seu lado e o apoio so-lidário da CGTP-IN, da FEVICCOM,da União e de muitas outras estruturassindicais, em Setembro de 2018, trou-xeram a primeira concentração para aporta da fábrica para trazer cá parafora a situação que se vivia lá dentro.A Autoridade para as Condições de

    Trabalho (ACT) viu-se obrigada, pelainsistência sindical, a intervir no ter-reno. Mas sem resultados à vista. Novaconcentração, desta vez, àporta da ACT. Foi aplicada aprimeira coima à empresa -mais de 31 mil euros, por as-sédio moral.Passados poucos dias, em Ja-neiro de 2019, o segundo des-pedimento de Cristina - por«difamação» - segundo a em-presa. Mas a ACT confirmou,através dos relatórios efec-tuados, que a Cristina tinharazão nas denúncias que fez.A empresa, inconformada,recorreu para Tribunal paracontestar a primeira coima.Mas veio uma segunda rela-tiva às condições de segu-rança e saúde. E ainda umaterceira coima. Num total de quase 50 mil eurosque a empresa terá de pagar.O Sindicato avançou com uma queixa-crime con-tra os administradores da empresa.E a ACT avançou com outra queixa-crime.

    Ambas continuam a correr no Ministério Público.A solidariedade alargou-se para além dos activis-tas sindicais e dos trabalhadores. Vieram as men-sagens solidárias das actrizes. E depois os

    cantores juntaram a suavoz solidária num espectá-culo que ficará para sem-pre na nossa memóriacolectiva. E muitos anóni-mos não pararam de trans-mitir o seu apoio.A solidariedade alastrou atodo o país. A comunica-ção social divulgou, acom-panhou e deu visibilidadeao problema. O patronatoficou incomodado e foi for-çado a recuar.Há mais situações idênti-cas à da Cristina, que dei-xou de ser um caso, para setornar numa causa.E um exemplo que con-

    firma que sempre existirão mulheres e homenscom coragem e dignidade para enfrentarem de ca-beça erguida a discriminação, a humilhação, apressão, os despedimentos ilegais e o assédio notrabalho.São exemplos assim que reforçam a razão de serdos Sindicatos, dos princípios, dos valores e doprojecto de sociedade que a CGTP-IN defende econstrói na sua luta de todos os dias.»

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    Com pedido de divulgação, recebemos dos ser-viços de Candidatura da Dra. Ana Luísa Lou-renço a Bastonária e ao Conselho Geral da Ordemdos Advogados as linhas programáticas, com olema “Ordem na Ordem, Justiça na Justiça, Ad-vogar em defesa dos Direitos das Pessoas” e quepublicamos em anexo.A Dra. Ana Luísa Lourenço tem escritório emAlcochete, Comarca do Montijo; exerce em prá-

    tica individual; e enca-beça uma Candidaturaapoiada por um grupode advogados (entre osquais diversos associa-dos da APJD), empe-nhados numa mudançana Ordem, na dignifica-ção da Advocacia, nadefesa da liberdade e

    dos direitos das pessoas.Esta lista conta como primeiros signatários osseguintes advogados:

    Alberto Peliz (Coimbra), Albino Magalhães(Amadora), Alvarino Barata (Coimbra), Ana RitaGaspar (Santarém), António Danado (Montemor-o-Novo ), Berta Charréu (Benavente), CássioMartins Leitão (Santarém), Cláudia Camolas (Se-túbal), Dantas Ferreira (Porto), Dulce Reis (Bar-reiro ), Emanuel Pamplona (Lisboa), FernandoFontinha (Lisboa), Francisco Modesto Monteiro(Glória do Ribatejo), João Carlos Gralheiro (SãoPedro do Sul), João Duarte (Viana do Castelo),João Fernandes Ferreira (Santo Tirso), João Ma-deira Lopes (Santarém), José Amaro (Aveiro),José Manuel Carvalho (Lisboa), José Martins As-censão (Lisboa), Levy Baptista (Lisboa),Lopesde Almeida (Lisboa), Luís Corceiro (Lisboa), LuísMiguel Franco (Montijo), Mário Rodrigo Cunha

    (Faro), Miriam Pires Boieiro (Montijo), PauloSilva (Almada/Seixal), Pedro Azedo Varino(Póvoa de Sto.Adrião), Romão Araújo (Arcos deValdevez), Rosário Feio (Vila Franca de Xira),Rui Abrantes (Espinho), Rui Miguel Mortal (Al-cochete), Rui Saraiva (Aveiro), Sandra Isabel Es-teves (Lisboa), Victor Tomás (Évora).

    Candidatura à Ordem dos Advogados

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    No dia 10 de Junho de 2019 faleceu em Lisboa-Ruben de Carvalho, com 74 anos. Daqui endere-çamos as nossas mais sinceras condolências à suacompanheira Madalena Santos, Presidente daAPJD e Directora do nosso Boletim.

    Ruben de Carvalho foiuma personalidade invul-gar no mundo da Culturae de Cidadania, que dei-xou à sociedade portu-guesa um contributo degrande relevo no conheci-mento da música, na suadimensão artística, cultu-ral e social, no plano na-cional e internacional, dassuas raízes populares à suadimensão erudita; e queigualmente se destacou no seu envolvimento cí-vico e político em torno das grandes lutas sociaise dos objectivos da emancipação humana.

    Desde muito jovem teve intervenção activa naluta antifascista iniciando a sua actividade cívicae política ainda enquanto jovem estudante liceal.Aderiu ao Partido Comunista Português em 1970,tendo sido membro deste até à sua morte. Foimembro das «comissões juvenis de apoio» à can-didatura do General Humberto Delgado (1958),e activista da Oposição Democrática. A sua activaparticipação cívica e política levou a perseguiçõesconstantes, por parte da polícia do regime fascista– PIDE – e às prisões fascistas de Caxias e do Al-jube. Foi preso em 1961, 1962, 1963, 1964 e1965/1966 e de novo em 7 de Abril de 1974.

    Após o 25 de Abril de 1974, foi da Direcção Na-cional do MDP/CDE em 1974, e chefe de gabinete

    do Ministro sem Pasta, Prof.Francisco Pereira deMoura, no I Governo Provisório.Foi deputado na Assembleia da República, eleitopelo círculo de Setúbal, nas eleições de 1995, ve-reador da Câmara Municipal de Setúbal, eleito

    pela CDU, em Dezembro de1997 e vereador na CâmaraMunicipal de Lisboa, eleitopela CDU, entre 2005 e2013. Foi responsável naCML pelo Roteiro do Anti-fascismo.

    Foi jornalista tendo cola-borado com inúmeras publi-cações tais como repórter eredactor de O Século, VidaMundial, Seara Nova, Notí-cias da Amadora, O Diário,

    Diário de Lisboa, Século Ilustrado, Contraste, JL,O Militante, Politika, História, A Capital, Ex-presso, Diário de Notícias. Foi chefe de Redacçãodo «Avante!», órgão central do PCP, entre 1974 e1995. Foi comentador da SIC Notícias. Dirigiuentre 1986 e 1990 a rádio local Telefonia de Lisboana qual produziu e realizou diversos programas.Foi membro do Conselho de Opinião da RTP em2002. Produzia, desde 2009, o programa «Cróni-cas da Idade Mídia» e participou no programa«Os Radicais Livres» na Antena 1.

    Era membro do Executivo da Comissão Nacio-nal da Festa do «Avante!» desde a 1ª edição, em1976, tendo assumido uma intervenção destacadana sua programação cultural, em particular naconcepção e organização dos seus espectáculosmusicais.Foi membro da Comissão Executiva das Festasde Lisboa e da Comissão Municipal de Preparação

    Ruben de Carvalho(1944 – 2019)

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    de LISBOA 94 - Capital Europeia da Cultura, Co-missário para as áreas de Música Popular e Edi-ções de LISBOA 94 e Director artístico nomeadopela Câmara Municipal de Lisboa do Festival dasMúsicas e Portos (1999). Membro do Conselho Di-rectivo do Centro Cultural de Belém.Produziu diversos discos e espectáculos, nomea-damente «Uma certa maneira de cantar», «A In-ternacional», «Pete Seeger em Lisboa», «25Canções de Abril», «Lisboa Cidade Abril», «Car-valhesa», «Grândolas», entre outrosEscreveu os livros «Dossier Carlucci-CIA», «Fes-tas de Lisboa», «As Músicas do Fado», «Seis Can-ções da Guerra de Espanha», «Um Século deFado», «Histórias do Fado», organizou o livro

    póstumo «As Palavras das Cantigas» de José Car-los Ary dos Santos e prefaciou diversas obras, no-meadamente «Nenhum Homem é Estrangeiro»de Joseph North.

    Em 24 de Maio de 1995 foi agraciado pelo Presi-dente da República com o grau de comendador daOrdem do D.Infante D.Henrique; em 2014 rece-beu o prémio Pró-Autor atribuído pela SociedadePortuguesa de Autores.

    Ao longo de toda a sua vida, Ruben de Carvalhoparticipou nas grandes lutas pela liberdade e a de-mocracia, deixando-nos uma obra e exemplo damaior relevância cultural e política.

    Site da APJD e Redes Sociais

    O novo site da APJD completamente remodelado, com uma atractiva e funcional apresentação gráfica,

    permite a todos os sócios e não sócios uma acompanhamento da actividadeda Associação, com notícias, o acesso a todos os Boletins já editados,

    entre outras funcionalidades. Disponibiliza ainda informação sobre a actividadeda Associação Internacional de Juristas Democratas (AIJD-IADL).

    Qualquer pessoa poderá proceder ao seu registo no site passando a receber automaticamente

    as diversas informações. Convidamos, pois, todos a consultar o nosso novo site:

    https://juristasdemocratas.org/apjd/

    A APJD encontra-se também presente nas Redes Sociais,com os seguintes endereços:

    Facebook: https://pt-pt.facebook.com/juristasdemocratas/Instagram: https://www.instagram.com/juristasdemocratas/

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    É com pesar que a APJD noticia o falecimentodo Doutor António Manuel Hespanha, aos 74anos, vítima de doença oncológica, no passado dia1 de Julho, em Lisboa. Sendo dos académicos por-tugueses de maior projecção internacional, a suaobra e as réplicas do seu ensino sobreviver-lhe-ão,garantindo a eterna vivacidade das suas palavrase a contínua aprendizagem de novos e velhos ju-ristas e historiadores, bem além das duas costasatlânticas.

    Nascido em Coimbra (1945), aí se licenciou emDireito (1967) e principiou a carreira de docenteuniversitário. Rumou depois a Lisboa, tendo-sedoutorado em História e Política InstitucionalEuropeia (1987), e levado a cabo uma intensavida académica, especialmente na Europa e naAmérica do Sul. Conquanto já Professor catedrá-tico jubilado da Faculdade de Direito da Univer-sidade Nova de Lisboa, essa vida não conheceraainda pausa, não cessando de pesquisar, escrevere leccionar. Com mais de trinta livros e centena emeia de artigos científicos publicados, demons-trou um labor intelectual frutuosíssimo e de re-sultado enciclopédico, multiplicando-se asedições, traduções e reelaborações das suas obras.Tendo começado por estudar o séc.XVII, acaboujá a teorizar os caminhos possíveis da juridicidadea devir, transpondo com facilidade a ponte entrea História e a Teoria do Direito, revolucionandoambas as áreas. Distinguindo-se primeiramentepelo estudo dos mecanismos oficiais dos poderespolítico e jurídico, como por exemplo em «Histó-ria das Instituições. Épocas medieval e moderna»(1982), «As Vésperas do Leviathan. Instituiçõese poder político em Portugal – séc. XVII» (1994)e «Cultura Jurídica Europeia. Síntese de Um Mi-lénio» (1996), veio já em 2019 a reconfigurar aprópria análise historiográfica no seu «Filhos daTerra. Identidades mestiças nos confins da expan-

    são portuguesa»,focando-se noque estava nosinterstícios dasmalhas do «im-pério formal». Ese o seu «O calei-doscópio do di-reito. O direito ea justiça nos diase no mundo dehoje» (2007;2009, 2.ª ed.) setornara de ime-diato uma das obras mais fascinantes do pensa-mento jurídico português recente, ojus-historiador vinha entretanto a cogitar o Fu-turo aberto às questões axiais do quid jus e doquid juris, designadamente sobre «O direito de-mocrático numa era pós-estatal. A questão polí-tica das fontes do direito» (2018) e o «PluralismoJurídico e Direito Democrático. Prospetivas doDireito no Século XXI» (2013; 2019, 4.ªed.). Emsuma, mostrando continuamente como os gran-des pensadores reúnem um saber holístico.

    António Hespanha reflectiu ainda no seu traba-lho de jus-historiador pouco convencional as suasconvicções sobre a cidadania e a Política. Semprealinhado à Esquerda, militou inclusive no PartidoComunista Português até 1988, não tendo cessadode intervir na esfera pública do país, reconhecidocomo o egrégio intelectual que se afirmou e con-victo na soberania popular em Democracia. Oselogios fúnebres que tem colhido das mais dife-rentes franjas e interlocutores, entre amigos, ca-maradas, colegas e antigos alunos, são por sua vezespelho de uma vera vida activa que marcou ge-rações – e a garantia que continuará a inspirarmuitas mais.

    António Manuel Hespanha(1945-2019)

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    No dia 19 de Março de 2019, a Ordem dos Ad-vogados de Paris homenageou o seu decano Maî-tre Roland Weyl, pelos seus 100 anos de vida e 80de inscrição no Barreau como Advogado.A cerimónia teve lugar no Palais de Justice, emParis, com a presença da Bastonária Marie –Aimée Peyron, e bem assim de antigos Bastoná-rios e muitos outros Colegas e Amigos do home-nageado, de diversas partes do mundo – entre osquais, a Presidente da APJD, Madalena Santos,que também discursou nessa ocasião.Na sua intervenção, a Bastonária Marie-AiméePeyron referiu-se aos trabalhos e combates em-preendidos por Roland Weyl ao longo de toda asua vida – salientando, designadamente: a) o en-volvimento, como advogado, na defesa de mili-tantes políticos e sindicais; b) contribuição paraa redacção da Carta das Nações Unidas; c) mem-bro fundador do Movimento da Paz francês; d)primeiro Vice-Presidente da Associação Interna-cional de Juristas Democratas; e) militante doPartido Comunista Francês, do qual é membrodesde 1947; f) Chefe de Redacção, de 1953 a 1991,da “Revue de Droit Contemporain”; g) autor devários livros sobre o direito e os direitos. (“Infati-gable militant des droits de l’ Homme. Votre fou-gue n’a pas pali. Votre voix s’ élève dès qu’il estportée atteinte à leur intégrité (. . .). Cette robe,Qui mieux que vous mérite de la porter ?” – dodiscurso da Bastonária).Publica-se neste número do Boletim a saudaçãoda APJD a Roland Weyl; e o discurso do próprio,proferido na sessão do dia 19 de Março último noPalais de Justice de Paris.

    Saudação da APJD

    Caro Roland Weyl, combatente pela Liberdade!

    A Associação Portuguesa de Juristas Democra-tas (APJD), que tem a honra de inclui-lo entre osseus mais eminentes Colegas e Amigos, associa-sepor esta forma às homenagens que lhe estão a serprestadas pelos seus dois aniversários (o dos 100anos de vida, e 80 de exercício da actividade pro-fissional de advogado) – querendo aqui assinalare celebrar o conteúdo dessa longa existência: umaluta persistente pela democracia e os direitos hu-manos.

    Maître Weyl distinguiu-se sempre como cidadãopoliticamente interventivo; fundador e dirigenteda Associação Internacional de Juristas Demo-cratas; defensor, na barra dos tribunais e em ou-tros fóruns, de tantas pessoas e instituiçõessedentas de justiça; autor de uma vasta e multi-facetada bibliografia, de temas jurídicos e sociais;investigador e cultor do direito, do “bon droit”(consoante diz num dos seus últimos livros, “il ya du bon droit et du mauvais droit”; e “obtenir laproclamation d’ un bon droit est donc un combat,et aussi qu’ il ne reste pas sur le papier mais soitapliqué”); enfim, um cidadão de rija têmpera, ju-rista visceralmente comprometido com os ideaisemancipatórios, escritor consagrado – «un grandmaître à penser (et à agir)».

    Não podemos esquecer o apoio de Maître Weylaos presos e exilados políticos portugueses, nostempos ominosos do salazarismo – designada-mente, a sua presença em Portugal no ano de1962 para assistir ao julgamento do dirigente co-

    Homenagem a Roland Weyl

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    munista Octávio Pato, no tribunalplenário de Lisboa, e o relatóriosobre tal situação apresentado na“Conférence des pays d’ EuropeOccidental pour l’ amnistie auxemprisonnés et exilés politiquesportugais” realizada em Paris nosdias 15 e 16 de Dezembro de 1962,relatório esse em que Maître Weylprocedeu a uma descrição rigorosadas incidências ocorridas no refe-rido julgamento, no qual – se-gundo as suas próprias palavras – os advogadosde defesa “ne sont pas libres de plaider, ils n’ ontaucun moyen et en réalité ils on été en ma pré-sence, à quatre reprises, menacés eux-mêmes d’être incarcerés”.

    Sabemos pois, Maître Weyl, que este seu tempolongo nunca foi, e não o é também agora, o tempode combates “no papel”, mas antes o tempo deuma razão prática consistente, imbuída do desíg-nio profundo e concertado de transformar omundo (este universo tão carregado de imperfei-

    ções e injustiças sociais).E por tudo isso, por essavida de luta tão persistentee valerosa, felicitamo-nospor poder incluí-lo entre osnossos melhores e mais es-clarecidos camaradas.Aceite o protesto da nossaprofunda amizade e solida-riedade – e de como conta-mos poder revê-lobrevemente em Lisboa (estacidade que Maître Weyl tão

    bem conhece, onde esteve por várias vezes – querem 1962, pelo compromisso já acima relatado;quer em eventos da AIJD e APJ.; quer, poucotempo após o 25 de Abril de 1974, então acompa-nhado de sua Esposa, Maître Monique Weyl, paraauscultar o signo tão prometedor e empolgante daRevolução dos Cravos).

    Paris, 19 de Março de 2019

    Madalena Marques dos Santos(Presidente da APJD)

    Discurso de Roland Weyl

    Madame le Bâtonnier,Mesdames et Messieurs les Bâtonniers et anciensBâtonniers,Mesdames et Messieurs les magistrats,Mes chers confrères,Mesdames et Messieurs les élus et représentantset représentantes de toutes structures quim'ont fait l'honneur et l'amitié de venir ici ce soir,Chers amis (avec mention particulière pour ceuxet celles qui ont fait le voyage depuis leslieux les plus proches et les plus lointains, répon-dant il est vrai à une invitation dictée parmes sentiments à leur égard),

    Vraiment, je ne méritais pas cela.En effet, je me sens en devoir de d'abord retirer àcette longévité son apparente exceptionnalité.Quand j'ai prêté serment, en réalité le 12 juillet1939, côte à côte avec mon camarade defaculté qui allait être plus tard le Bâtonnier Fran-cis Mollet-Vieville, il n'y avait pas depréalable de formation professionnelle avec ce quia été depuis le CAPA, et après 3 ans delicence, on devenait avocat, avec seulement uneobligation de stage chez un ancien. Il étaitdonc plus facile qu'aujourd'hui d'être avocat à 20ans et donc de l'être depuis 80.Mon père était avocat depuis 1908, et il avait tenu

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    à ce que ma formation univer-sitaire soitcomplétée d'une formationpratique.A l'époque, les avocats diri-geaient le procès et plaidaientmais la procédure était assu-rée parle corps spécial des avoués, etil m'avait donc placé pendantmes études dans un emploi declerc chez l'un d'eux.Il aimait dire que j'allais êtrela 4è génération de robe, cequi me permet de dire quemes deuxenfants devenus avocats ensont la 5è.En effet, son père était ce magistrat qui au-jourd'hui est le Président du Tribunal d'Instanceetportait alors le beau nom de «juge de paix» et sonpropre père était huissier de justice, maisle père de l'huissier, donc mon arrière-arrière-grand-père, était serrurier, et voilà donc pourquoisi je célèbre aujourd'hui ces 80 ans d'exercice, c'estparce que le père de monarrière-grand-père était serrurier.Le 12 juillet 1939 est aussi lourd d'une autre sig-nification; je prêtais serment et mettais marobe mais pour ne la porter que 6 ans plus tard,parce que mon père, sentant la guerre venir,avait tenu à ce que je prête serment avant de par-tir en vacances.Nous n'étions alors que 3000 à Paris, dont beau-coup n'exerçaient pas, si bien que nous étionsenviron 800 à nous connaître. Les rendez-vous sedonnaient devant la statue de Berryer, dansla salle des Pas Perdus, appelée ainsi pour les lon-gues parlottes en attendant son tour deplaider. Nous nous connaissions et nous considé-rions comme les membres d'une grandefamille judiciaire.

    C'est pourquoi tant de noms se sont pressés auportillon de ma mémoire. Mais je n'ai pasouvert le portillon car c'eut été offensant pour lesabsents et aussi pour le sacro-saint principede l'égalité sous la robe.Quant au fait d'être doyen, avec ces 80 ans d'exer-cice, il apparait que j'ai gagné de l'être d'unbeaucoup plus grand nombre.Il y a un an ou deux, j'avais dû saisir notre com-mission déontologique et la présidente m'avaitdit «je vous souhaite de le rester longtemps », àquoi j'avais répondu : « certes, parcequ'après il n'y aura plus de doyen»La longévité de ces 80 ans s'explique par le faitqu'on ne se débarrasse pas facilement de lamauvaise herbe. Or je me flatte d'en être une.D'abord, enseigné d'un idéal de justice, je la vou-lais jusqu'au bout, donc pas seulementjudiciaire mais aussi sociale. Et puis, l'année dema naissance, 1919, a été celle de lafondation de l'internationale communiste, et sur-tout ma mère m'a fait naitre un 18 mars,anniversaire de la commune de Paris.Alors c'est tout naturellement qu'à l'expériencesuccessive du Front populaire et de laLibération, je suis devenu communiste.Je l'ai aussitôt payé: il y avait au barreau de Paris

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    pour les jeunes avocats un concoursd'éloquence, appelé concours de la Conférence, oùon passait trois tours éliminatoires devantun jury de 12 prédécesseurs qui élisaient leurs suc-cesseurs pour le jury de l'année suivante.Et on pouvait concourir 3 années de suite. Parceque j'étais communiste, j'ai été 2 fois 13è, etcomme en cas de départ en cours d'année d'un des12 le 13è venait prendre sa place, la 3èannée j'ai été classé 14è pour en éviter le risque.Mais je ne m'en plains pas, car le 28 janvier 1949,dans une des galeries du Palais, il y avaitun groupe de 4 ou 5 jeunes avocats parmi lesquelsl'une d'eux tempêtait contre le scandalequ'était mon élimination. J'ai ainsi fait sa con-naissance et 6 semaines plus tard Monique etmoi étions mariés pour 60 ans de bonheur inéga-lable et de combats communs sans lesquels jen'aurais pas fait le millième de ce que j'ai fait, etqui s'est continué avec les deux avocats quenous avons aussi faits ensemble, et se poursuit au-jourd'hui avec eux et le renfort d'EliseTaulet sous le label de WTA-AVOCATS, et avecnos jeunes confrères avec lesquels nouspartageons les mêmes locaux.Mais pour le contenu de ces 80 années, mon enga-gement communiste a été déterminant.D'abord l'influence de Marcel Willard, défenseurde Dimitrov au procès de Leipzig en 1934,puis commissaire à la justice à la libération, au-teur du livre «la Défense accuse», théorisantune défense non agressive ni de rupture mais ac-cusatoire avec l'ambition de gagner, et dontmon livre «une robe pour un combat» essaie d'êtreune suite. Et puis l'entrainement par l'avocatcommuniste Joe Nordmann à ses cotés dans lesprocè politiques mais aussi dans les combats decitoyenneté, car il avait fondé et animé sous l'oc-cupation le Mouvement National Judiciaire, sousle couvert duquel il organisait en 1946 dans unesalle de la Cour de Cassation l'assemblée fonda-trice de la toujours bien vivante Association in-ternationale des Juristes Démocrates.Car la justice et le droit ne doivent pas être des

    domaines confisqués par les juristes, dont ledevoir est de se mettre au service de leur défenseet de leur promotion citoyennes.C'est plus vrai que jamais de nos jours quand desréformes menacent et déjà atteignent lesvaleurs judiciaires que sont le principe du contra-dictoire, de la proximité, de la publicité et dela déontologie.Et le Droit aussi est un combat citoyen à condi-tion de ne pas le voir comme un instrumentd'autorité mais d'organisation.Grâce à Initiadroit, j'en ai fait une expérienceinoubliable avec des écoliers de CM1 et CM2,de 8 à 10 ans.Je me proposais de leur expliquer que l'heure del'école, le partage d'un gâteau, sont du droit.Mais quand je les ai vus, j'ai choisi de faire de l'in-teractif. Et quand j'en viens à leur expliquerle rôle du juge, l'un d'eux m'interpelle: «mais si lejuge se trompe, qui corrige le juge?»Ce combat se mène dans tous les domaines et enconcertation avec de nombreuses structuresAvec l'association Droit Solidarité, je m'efforce desusciter des réflexions inter-associativessur le droit dans l'éducation, sur le Droit au loge-ment et contre les expulsions locatives, pourl'application judiciaire des Pactes des NationsUnies sur les Droits de l'Homme, et deconstituer pour le prochain congrès de l'AIJD àAlger en septembre prochain la délégation laplus représentative possible.C'est dire combien ce 80è ne peut être qu'uneétape et qu'il va falloir avoir encore beaucoupde temps devant soi.Mais pour cela je peux compter non seulement auplan professionnel sur la structure dont jeme maintiens l'un des éléments, mais plus géné-ralement sur les soins d'environnement affectif ettutélaire de Danièle, l’aînée de notre progéniture,de France, Frédéric, de leursconjoints, Marie Pierre, Jean-Michel, et de messept petits-enfants, et aussi surl'encouragement que vous me donnez ce soir parvotre présence et vos témoignages.

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    tipo, sem limitação de fronteiras, seja oralmente,por escrito ou em forma impressa, artística ouqualquer outro meio à sua escolha. A AIJD subli-nha que quaisquer restrições a estes direitosdevem ser justificadas por serem «necessárias»para proteger a segurança nacional, a ordem pú-blica, a saúde pública e a moral (artº19º, nº3). OPacto proíbe igualmente, no seu artº2º, a discri-minação com base em diversos factores e nomea-damente as diferenças de opinião política ououtras, a origem nacional e social, entre outras.

    A AIJD está consciente de que a Alemanha ra-tificou o PIDCP mas colocou reservas na sua ra-tificação que lhe dão o direito de interpretar osartºs 19º e 2º deste Pacto de acordo com o artº16ºda Convenção Europeia dos Direitos Humanos,que exime os estrangeiros das disposições dosartºs 10º e 14º (que correspondem aos referidosartºs 19 e 2º do PIDCP). Esta reserva aparente-mente permite à Alemanha restringir a liberdadede expressão dos estrangeiros e discriminá-los emfunção da sua opinião política ou outra, ou da suaorigem nacional ou social.A AIJD rejeita estas reservas por serem contrá-rias aos fins e objectivos dos artºs 2º e 19º doPIDCP, e declara afirmativamente que tais reser-vas destroem o direito às pessoas de não discrimi-nação com base na nacionalidade ou origemsocial. O Comité dos Direitos Humanos que inter-preta o PIDCP também confirmou que essas re-servas não são permitidas pela Convenção deViena sobre o Direito dos Tratados, no seu artº19,nº3 (recomendação 24, parágrafo 6, do Comité dosDireitos Humanos).A AIJD acrescenta que as interdições políticasforam largamente utilizadas na África do Sul du-

    A AIJD, organização não governamental fun-dada em 1946 com estatuto consultivo junto daECOSOC, opõe-se energicamente contra a impo-sição do Governo alemão de «interdição política»de Khaled Barakat, activista e escritor palestino,residente na Alemanha. Esta interdição foi im-posta em 22 de Junho de 2019.

    A AIJD foi informada que os fundamentos in-dicados para a interdição política são as opiniõesde Khaled Barakat e o seu apoio aberto à auto-determinação da Palestina. A AIJD não tem ne-nhuma ilusão sobre a origem desta interdição.Reflecte uma preocupante tendência do Estadode Israel para pressionar Governos como a Ale-manha para isolar e calar os críticos de Israel ten-tando equiparar críticas ao Estado de Israel ouao seu Governo com anti-semitismo. A AIJD re-jeita totalmente esta equiparação e chama aatenção para que muitas pessoas que falam con-tra as violações israelistas dos direitos humanose do direito humanitário internacional, e que deuma forma se opõem ao sionismo, pertencem àcomunidade judaica. Protestar contra a a opres-são dos Palestinos e defender a autodeterminaçãoda Palestina não é anti-semitismo, nem apologiado ódio nacional, racial ou religioso.

    A AIJD encara esta «interdição política» comouma restrição inadmissível e ilegal dos direitos detodas as pessoas à liberdade de opinião e expres-são, uma violação do artº19º do Pacto Interna-cional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP)que estipula que qualquer pessoa tem direito adefender opiniões em interferência, direito à liber-dade de expressão, que inclui o direito a procurar,receber e difundir informações e ideias de todo o

    Declaração da Associação Internacional de Juristas Democratas (AIJD) sobre a interdição política de Khaled Barakat na Alemanha

    (17/07/2019)

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    rante o regime do apartheid para sufo-car a oposição ao apartheid. As interdi-ções políticas foram impostas em largaescala, fazendo parte das acções queforam amplamente condenadas pelasNações Unidas. A AIJD opõe-se à utili-zação destas interdições como forma derestringir a liberdade de pensamento,expressão e consciência pelos activistasanti-apartheid. Na altura a África doSul não era uma democracia e impedia a maioriada sua população africana de votar em eleições.A utilização destas interdições políticas eram ten-tativas desesperadas do Governo sul-africanopara protelar a sua transformação num estadodemocrático. A Alemanha já é um estado demo-

    crático. Não há nenhuma necessidade políticapara que os estrangeiros sofram restrições nas sualiberdades de expressão e pensamento.Assim, a APJD apela publicamente às entidadesoficiais alemãs para que anulem a interdição po-lítica a Khaled Barakat.

    Antologia(De um livro de Ernst Bloch *)

    El pobre sabe hasta hoy que se halla en una posición incómoda, y no sólo por lo que se refiereal dinero. Quien va mal vestido hará bien en no ponerse en el caminho del policía. El ojo de laley se encuentra en el rostro de la clase dominante. Nadie débil que busca su derecho tiene laprobabilidad de conquistarlo en lucha contra otra parte adinerada; ésta emplea el mejor abo-gado. El dinero afina los sentidos, agudiza la mente, y el Derecho no es más que agudeza.También los demás roces com la ley los experimenta casi exclusivamente el pobre. Al serviciode los pobres están los agentes ejecutivos, las cárceles, mientras que los señores de buena posi-ción se les ahorra, en la mayoria de los casos, una situación juridicamente desagradable. Al pe-quño ladrón se le cuelga, al grande se le deseja escapar; sobre esta verdada popular estánconstruidos de sempre los edifícios de los tribunales. Menos probabilidades tiene todavia de es-capar un porta-voz de las clases oprimidas si es acusado politicamente. Con él se estatuye unejemplo, y para mayor seguridade en el llamado terreno jurídico; porque éste há sido dis-puesto por la classe dominante y se halla lleno de trampas bien previstas. La desconfianza delpueblo respecto a los tribunales es, por eso, tan vieja como estos mismos. Un proverbio campe-sino dice, desde luego, que el Derecho encuentra su servidor. Pero outro proverbio fija la épocaen que esto tendrá lugar: cuando la vaca valga un ochavo. Y aqui se moestra con bastante pre-cisión el motivo de por qué el pobre tiene poco que esperar del juez y mucho que temer; deljuez que custodia el arca del dinero. Cuanto más amenazada se ve ésta, tanto más se doblegael Derecho en la dirección querida; y el Derecho se deja doblegar. Casi sempre há escuchadolos deseos de los señores, y millares de veces, en una guerra silenciosa, há hecho que estos de-seos se impongan.

    * Ernst Bloch (1885-1977), “Derecho natural y dignidade humana”, trad.esp., Editorial Dykinson, Madrid, 2011, págs. 318 a 319.

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