bioma mata atlântica.2015

8
 BIOMA MATA ATLÂNTICA 27/05/2015 Fundação Divulga Novos Dados Sobre a Situação da Mata Atlântica  A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divu lgam hoje, Dia Naciona l da Mata Atlântica, os novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, no período de 2013 a 2014.  A iniciativa tem o patrocínio de B radesco Cartões e execu ção técnica da empresa de geotecnolog ia Arcplan. O estudo aponta desmatamento de 18.267 hectares (ha), ou 183 Km², de remanescentes florestais nos 17 Estados da Mata Atlântica no período de 2013 a 2014, o que equivale a 18 mil campos de futebol, c onstituindo , porém, uma queda de 24% em relação ao período anterior (2012-2013), que registrou 23.948 ha.  Acesse os dados comple tos no servidor de map as http://mapas.sosma.org.br  .  Acesse o relatório técnico : https://www.sosma.org.br/link/atlas_2013-2014_Mata_Atlantica_relatorio_tecnico_2015.pdf  

Upload: ricardo-ogusku

Post on 01-Nov-2015

69 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • BIOMA MATA ATLNTICA

    27/05/2015

    Fundao Divulga Novos Dados Sobre a Situao da Mata Atlntica

    A Fundao SOS Mata Atlntica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgam hoje, Dia Nacional da Mata Atlntica, os novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlntica, no perodo de 2013 a 2014. A iniciativa tem o patrocnio de Bradesco Cartes e execuo tcnica da empresa de geotecnologia Arcplan.

    O estudo aponta desmatamento de 18.267 hectares (ha), ou 183 Km, de remanescentes florestais nos 17 Estados da Mata Atlntica no perodo de 2013 a 2014, o que equivale a 18 mil campos de futebol, constituindo, porm, uma queda de 24% em relao ao perodo anterior (2012-2013), que registrou 23.948 ha. Acesse os dados completos no servidor de mapas http://mapas.sosma.org.br . Acesse o relatrio tcnico: https://www.sosma.org.br/link/atlas_2013-2014_Mata_Atlantica_relatorio_tecnico_2015.pdf

  • Faa download de imagens das reas monitoradas em: https://www.sosma.org.br/download/atlas/. (Crditos: SOS Mata Atlntica/ INPE)

    Piau lidera desmatamento Expanso do cultivo de gros responsvel pela supresso de vegetao nativa em grandes reas do estado

    Piau foi o estado campeo de desmatamento no ano, com 5.626 ha. Um nico municpio piauiense, Eliseu Martins, foi responsvel por 23% do total dos desflorestamentos observados no perodo, com 4.287 ha.

    o segundo ano consecutivo que o Atlas observa padro de desmatamento nos municpios ao sul do Piau, onde se concentra a produo de gros. No perodo anterior, entre 2012 e 2013, foram desmatados 6.633 ha em municpios da mesma regio, com destaque para Manoel Emdio (3.164 ha) e Alvorada do Gurguia (2.460 ha).

    Para Marcia Hirota, diretora-executiva da Fundao SOS Mata Atlntica e coordenadora do Atlas pela organizao, esses dados so importantes para reforar o debate sobre a proteo da Mata Atlntica no Piau. Essa uma importante regio de fronteira agrcola e uma rea de transio entre a Mata Atlntica, o Cerrado e a Caatinga, o que acende discusses sobre seu grau de proteo. No entanto, so reas includas no Mapa de Aplicao da Lei da Mata Atlntica (Lei n 11.428/06), que protege seus ecossistemas associados e deve ser cumprida.

    No oeste da Bahia est o segundo municpio com maior registro de desmatamento no perodo Baianpolis, com 1.522 ha. O motivo semelhante aos dos desmatamentos observados no Piau: fronteira agrcola e expanso de produo de gros em reas de transio de Mata Atlntica e Cerrado. Com 4.672 ha desmatados, a Bahia foi o terceiro Estado que mais desmatou o bioma entre 2013 e 2014.

    Sabemos que a expanso agrcola um importante ativo econmico para o Brasil, mas no podemos continuar a conviver com um modelo de desenvolvimento s custas da floresta nativa e de um Patrimnio Nacional. Por isto entraremos com solicitaes de moratrias de desmatamento nesses dois Estados, a exemplo do que ocorreu em Minas Gerais. Nossa sociedade no aceita mais o desmatamento como o preo a pagar pela gerao de riqueza, afirma Mario Mantovani, diretor de Polticas Pblicas da Fundao SOS Mata Atlntica.

    Apesar da posio de segundo Estado que mais desmatou a floresta entre 2013 e 2014, com 5.608 ha, Minas Gerais reduziu em 34% o desmatamento se comparado ao perodo anterior. Esta a segunda queda consecutiva na taxa de desmatamento em Minas, que no ano anterior j havia reduzido em 22%.

    O recuo resultado de moratria que desde junho de 2013 impede a concesso de licenas e autorizaes para supresso de vegetao nativa no bioma. A ao foi autorizada pelo Governo de Minas Gerais, aps solicitao da Fundao SOS Mata Atlntica e do Ministrio Pblico Estadual. Ranking dos Estados A tabela a seguir indica os desflorestamentos, em hectares, somente das florestas nativas (sem contar outras classes, como vegetao de mangue e restinga), observados no perodo 2013-2014, com comparativo e variao em relao ao perodo anterior (2012-2013):

    Obs.: na ltima coluna, em azul, Estados que reduziram o desmatamento. Em vermelho, indicao de aumento comparado com o perodo anterior.

  • Estados que merecem ateno

    Paran, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, que em outras edies do Atlas j lideraram o ranking dos maiores desmatadores da Mata Atlntica, apresentaram melhores resultados no atual levantamento, mas ainda merecem ateno.

    Paran, quarto do ranking deste ano, perdeu 921 ha de florestas nativas no perodo 2013-2014, queda de 57% em relao ao ano anterior, quando foram desmatados 2.126 ha. Os principais focos de desmate aconteceram na regio centro-sul e tambm na divisa com Santa Catarina, quinto lugar no ranking, com 692 ha de reas desmatadas.

    J Mato Grosso do Sul, importante produtor agrcola, ficou em stimo lugar, com 527 ha desmatados.

    A caminho do desmatamento zero Dos 17 Estados da Mata Atlntica, nove apresentaram desmatamentos menores do que 100 ha, o equivalente a 1 km2. So eles: So Paulo (61 ha), Rio Grande do Sul (40 ha), Pernambuco (32 ha), Gois (25 ha), Esprito Santo (20 ha), Alagoas (14 ha), Rio de Janeiro (12 ha), Sergipe (10 ha) e Paraba (6 ha).

    Com tais ndices, esses Estados aproximam-se da meta do desmatamento zero no bioma e abrem oportunidades para outra discusso: a necessidade de se recuperar as reas j desmatadas.

    Este objetivo foi abordado recentemente, em 13 de maio, no primeiro Encontro dos Secretrios de Meio Ambiente dos Estados da Mata Atlntica. A reunio indita, realizada no Palcio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro, integrou as atividades do Viva a Mata 2015 e contou com a presena de oito secretrios e mais seis representantes de secretarias de meio ambiente e rgos ambientais no dilogo para o alinhamento de propostas e estratgias para a conservao e recuperao da Mata Atlntica.

    Compareceram os Secretrios de Meio Ambiente dos Estados do Cear, Artur Bruno; do Rio de Janeiro, Andr Crrea; do Esprito Santo, Rodrigo Judice; do Rio Grande do Sul, Ana Maria Pellini; do Piau, Luis Henrique Carvalho; de So Paulo, Patricia Iglecias Lemos; de Alagoas, Claudio Alexandre Ayres da Costa; e do Paran, Ricardo Jos Soavinski. Os Estados da Bahia, Sergipe, Minas Gerais, Paraba, Pernambuco e Rio Grande do Norte enviaram representantes.

    O encontro foi o ponto de partida para a elaborao de uma carta conjunta, intitulada Uma nova histria para a Mata Atlntica, que ir consolidar o compromisso das autoridades em ampliar a cobertura florestal nativa e perseguir a meta de zerar o desmatamento ilegal no bioma at 2018.

    Os 12,5% da Mata Atlntica que restam de p, com suas paisagens e beleza cnica, so um patrimnio natural com potencial turstico invejvel. Prestam ainda diversos servios ambientais, como a conservao das guas que abastecem as nossas cidades e a estabilidade dos solos, to essenciais agropecuria. Preservar o que restou e restaurar o que se perdeu precisa ser uma agenda estratgica para o pas, ressalta Marcia Hirota.

    Mangue e Restinga

    No perodo de 2013 a 2014 no foi identificada, pela escala adotada, supresso da vegetao de mangue. Na Mata Atlntica as reas de manguezais correspondem a 231.051 ha.

    Bahia (62.638 ha), Paran (33.403 ha), So Paulo (25.891 ha) e Sergipe (22.959 ha) so os Estados que possuem as maiores extenses de mangue.

    J a supresso de vegetao de restinga foi de 309 ha. O maior desmatamento ocorreu no Cear, com 193 ha, seguido do Piau (47 ha), Paraba (29 ha), So Paulo (28 ha), Bahia (6 ha) e Paran (6 ha).

    A vegetao de restinga na Mata Atlntica equivale a 641.284 ha. So Paulo possui a maior extenso (206.698 ha), seguido do Paran (99.876 ha) e Santa Catarina (76.016 ha).

    Histrico do desmatamento

    Confira o total de desflorestamento na Mata Atlntica identificados pelo estudo em cada perodo (em hectares):

    Desmatamento Observado Total Desmatado (ha) Intervalo (anos) Taxa anual (ha)

    Perodo de 2013 a 2014 18.267 1 18.267

    Perodo de 2012 a 2013 23.948 1 23.948

    Perodo de 2011 a 2012 21.977 1 21.977

    Perodo de 2010 a 2011 14.090 1 14.090

    Perodo de 2008 a 2010 30.366 2 15.183

    Perodo de 2005 a 2008 102.938 3 34.313

    Perodo de 2000 a 2005 174.828 5 34.966

  • Perodo de 1995 a 2000 445.952 5 89.190

    Perodo de 1990 a 1995 500.317 5 100.063

    Perodo de 1985 a 1990 536.480 5 107.296

    Abaixo, grfico do histrico do desmatamento desde 1985:

    Segundo Flvio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador tcnico do estudo pelo INPE, nesta oportunidade foram utilizadas imagens do sensor OLI do satlite Landsat 8, as quais apresentam caractersticas tcnicas similares daquelas utilizadas na gerao das verses anteriores deste Atlas. Essa similaridade garante a comparao entre dados gerados em edies passadas do Atlas, que foram geradas fundamentalmente pela anlise de imagens do sensor TM/Landsat 5. Mapa da rea da Aplicao da Lei no 11.428

    Desde sua quinta edio, de 2005-2008, o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlntica considera os limites do bioma Mata Atlntica tendo como base o Mapa da rea da Aplicao da Lei n 11.428, de 2006. A utilizao dos novos limites para os biomas brasileiros implicou na mudana da rea total, da rea de cada Estado, do total de municpios e da porcentagem de Mata Atlntica e de remanescentes em cada uma destas localidades. A Mata Atlntica est distribuda ao longo da costa atlntica do pas, atingindo reas da Argentina e do Paraguai nas regies Sudeste e Sul. De acordo com o Mapa da rea de Aplicao da Lei n 11.428, a Mata Atlntica abrangia originalmente 1.309.736 km2 no territrio brasileiro. Seus limites originais contemplavam reas em 17 Estados: PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS.

    Nessa extensa rea, vivem atualmente mais de 72% da populao brasileira.

    https://www.sosma.org.br/103045/fundacao-divulga-novos-dados-sobre-situacao-da-mata-atlantica/

    Mico leo dourado ferramenta para preservar a biodiversidade do So Joo Dbora Motta O mico leo dourado (Leontopithecus rosalia) um smbolo da luta pela preservao das espcies brasileiras ameaadas de extino. No norte fluminense, um projeto aposta na preservao do pequeno primata de pelos alaranjados e cauda longa como instrumento para conservar outras espcies que vivem na rea de Proteo Ambiental da bacia do rio So Joo e para promover o desenvolvimento sustentvel local. Essa bacia hidrogrfica abriga quase toda a populao de micos lees dourados que ainda existem na natureza e tambm a principal fonte de abastecimento de gua de importantes municpios da Regio dos Lagos, como Cabo Frio e Arraial do Cabo.

    De acordo com o coordenador do estudo e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Carlos Ramon Ruiz-Miranda, o mico leo dourado considerado uma espcie bandei-ra para a conservao da Mata Atlntica, vegetao predominante na bacia hidrogrfica do rio So Joo e de inigualvel biodiversidade. Ao protegermos o mico leo dourado, estaremos favorecendo todas as ou-tras espcies da regio. Isso porque ele rene caractersticas ecolgi-cas de espcies de vrios grupos, entre elas alimentao diversificada, com insetos, frutas e pequenos vertebrados, e necessidade de diversos habitats para viver, como encostas e baixadas, explica.

    Andressa Sales Coelho

    Mico leo dourado: termmetro de preservao ambiental

    da biodiversidade da bacia hidrogrfica do rio So Joo

  • Criado em 1983, o projeto utiliza uma abordagem ecossistmica, isto , leva em conta a preservao global da terra, da gua, da flora e da fauna. A proposta consolidar a paisagem florestal, aumentando o nmero de reas protegidas e a conectividade entre elas, para tornar vivel a existncia das populaes de micos lees dourados e de inmeras outras espcies. Estamos usando o mico como ferramenta para olhar essa paisagem, o que envolve anlises demogrficas e pesquisas genticas com os animais, estratgias de reflorestamento especialmente das matas ciliares, para preservar o rio , educao ambiental comunitria e criao de corredores ecolgicos, aponta o bilogo.

    Os micos esto atualmente distribudos em uma paisagem muito fragmentada da Mata Atlntica o segundo ecossistema florestal mais ameaado do planeta. As populaes esto espalhadas por duas reservas biolgicas do Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio), a da Unio e a Poo das Antas, e em 28 reservas particulares ou fazendas, todas localizadas na bacia do rio So Joo a regio uma rea de Proteo Ambiental (APA) federal chamada de So Joo/Mico Leo Dourado. Eles formam uma metapopulao de cerca de 1.600 micos para 13 mil hectares. Os animais no vivem todos juntos em uma comunidade. como se habitassem em diferentes bairros, separados entre si e de diferentes tamanhos. No estudo demogrfico, temos uma estimativa da populao de cada bairro. O conjunto das populaes desses bairros chamado de metapopulao, explica.

    Da a importncia do manejo da metapopulao pelos cientistas. Boa parte das populaes de micos lees dourados foi reintroduzida na natureza pelos pesquisadores, especialmente na dcada de 1990 (originalmente eram de cativeiro e, aos poucos, foram cruzando com os poucos micos selvagens que habitavam a regio). Outros animais foram translocados (viviam isolados em determinada rea e foram removidos para outra, com o objetivo de evitar a extino). Carlos destaca que nenhuma populao tem capacidade de viver a longo prazo se for manejada individualmente, pois populaes pequenas e isoladas so vulnerveis extino. O futuro do mico leo dourado depende da preservao das florestas numa paisagem interconectada, que permita manejar os micos e o habitat dentro de um modelo de metapopulao, assinala o bilogo, ressalvando que necessrio avaliar o DNA dos animais antes de decidir pela translocao, para evitar uma baixa variabilidade gentica.

    Bacia hidrogrfica do rio So Joo: local abriga quase todos os

    micos lees dourados da natureza e importante fonte de gua para

    a Regio dos Lagos

    Os estudos de gentica so realizados na prpria Uenf, pela ps-doutoranda Adriana Daudt Grativol, e a modelagem de viabilidade gentica feita em conjunto com colaboradores do National Zoo e University of Maryland. Utilizamos a tcnica de PHVA (Anlise de Viabilidade de Populaes e Habitat), diz Carlos.

    Os micos lees dourados evitam caminhar em reas desmatadas, como os pastos. Para estimular a conexo entre eles nesses locais, o projeto coordenado at recentemente por Ana Maria Godoy e Rosan Fernandez, da AMLD tem criado corredores ecolgicos. Eles funcionam como pontes de vegetao replantada por cima do pasto de propriedades rurais particulares, que ligam duas florestas. Para o replantio, utilizamos de 40 a 50 espcies de mudas e a participao dos proprietrios rurais tem sido chave para a conservao do mico e recuperao das florestas, conta Carlos, destacando a viabilidade econmica dos corredores, alm da ecolgica. Pode ser interessante para que esses corredores tenham produtividade, ento estamos experimentando, entre as espcies escolhidas para o replantio, o eucalipto.

    Para Ruiz-Miranda, as principais ameaas ao mico leo dourado hoje so o desmatamento, a introduo de saguis de tufo branco e de tufo preto e a caa. A dinmica das populaes dos saguis tambm alvo de estudo no projeto, a cargo do doutorando em Ecologia e Recursos Naturais da Uenf Marcio Morais, que modela estratgias para o manejo desses invasores. J a doutoranda Daniela Sampaio estuda o processo de caa na regio. O desmatamento na APA hoje raro, de porte pequeno, e est fiscalizado pela ICMBio, pondera.

    A meta at 2025 fazer com que os micos lees dourados cheguem a um nmero mnimo de dois mil para 25 mil hectares de florestas protegidas e interconectadas. Quando comeamos o projeto, s existiam 300 micos lees dourados na bacia hidrogrfica do rio So Joo. Hoje, temos cinco vezes mais micos e muito mais rea verde, avalia. At recentemente, ele era criticamente ameaado de extino, estando entre os dez primatas mais ameaados do mundo. Hoje, diminumos uma categoria. Agora no mais uma ameaa de extino crtica, s de extino, completa.

    O projeto, que recebeu apoio da FAPERJ por meio do edital Pensa Rio, resultado de uma colaborao entre a Uenf, a Associa-o Mico Leo Dourado (AMLD), a rea de Proteo Ambiental da bacia do rio So Joo, a Reserva Biolgica Unio, a Reserva Biolgica Poo das Antas, o Ministrio do Meio Ambiente, a Petrobras e pesquisadores de diversas instituies estrangeiras, como o Smithsonian Institution/National Zoological Park, University of Maryland e o Great Ape Trust of Iowa, todos dos Estados Unidos.

    http://www.faperj.br/?id=1649.2.6

    Divulgao

    Carlos Ruiz-Miranda: "Futuro dos micos lees dourados

    depende da preservao de florestas interconectadas"

  • A Mata Atlntica e os corredores biolgicos Em 1500, a Mata Atlntica cobria mais de 1,3 milho de km2, ou cerca de 17% do pas. Atualmente, apenas 7,2% da rea desse bioma apresenta suas caracteres-ticas originais, segundo a Fundao SOS Mata Atlntica.

    A nossa histria est intimamente ligada Mata Atlntica, onde, em 17 Estados, gera-se quase 80% do PIB e vivem 70% da populao. Apesar da devastao acentuada, o bioma ainda abriga uma parcela significativa da diversidade biolgica do planeta. Somando-se mamferos, aves, rpteis e anfbios que vivem ali, chega-mos a mais de 1.800 espcies - quase 7% de todas as espcies desses grupos j identificadas no planeta.

    Estudos do grupo ambientalista Conservation International indicam que a Mata Atlntica o segundo bioma florestal mais ameaado de extino. E pior, as poucas matas da regio encontram-se altamente fragmentadas, em pequenas "ilhas" de floresta, cercadas por pastagens, agricultura e outras atividades, correndo srio risco de desaparecerem.

    Para compatibilizar as atividades humanas e o meio natural na regio, a soluo pode ser a formao de corredores de biodiversidade ou ecolgicos. Esses corredores consistem em extensas reas geogrficas, onde atividades como a agropecuria e florestas produtivas assim como cidades e infra-estrutura convivem com o meio natural. Num corredor coexistem fazendas, estradas, florestas nativas e muitas outras estruturas.

    As reas protegidas para benefcio de toda a sociedade - como os parques nacionais - possuem limitaes acentuadas quanto a sua utilizao econmica. Em alguns casos a restrio total, como nas reservas biolgicas.

    Mas, na Mata Atlntica, somente os parques e reservas no so suficientes para manter a biodiversidade. Para se ter uma noo, um casal de onas, vivendo em harmonia, alimentando-se e reproduzindo-se, necessita de uma rea de 50 mil hectares. No entanto, a maioria dos parques na Mata Atlntica no passa de alguns poucos milhares de hectares. Como ento manter as onas e demais representantes da biodiversidade da Mata Atlntica em equilbrio?

    Quando se constitui um corredor, fragmentos entre 500 e 2 mil hectares so interconectados a outros maiores, eventualmente at a um parque ou reserva pblica. Desta forma, os fragmentos passam a ter um significado muito maior para a conservao da natureza do que quando eram somente ilhas de mata. No caso das onas, por exemplo, os corredores permitiriam que os animais se locomovessem de um lugar para o outro sem colocar suas vidas em risco com invases a fazendas. E o mais interessante que as interligaes entre os fragmentos podem ser feitas com atividades econmicas, como, por exemplo, rvores frutferas.

    Entender o conceito de corredor ecolgico apenas no suficiente. A sociedade precisa se empenhar e ordenar suas ferramentas (capital, leis, incentivos, cincia) para o incio da construo de corredores de biodiversidade nas reas ameaadas de degradao no Brasil. Quem sabe assim nossos filhos e netos podero desfrutar de alguns prazeres, belezas e at mesmo ativos encontrados h 500 anos.

    *Os artigos desta seo no representam necessariamente a opinio da revista

    Arquivo pessoal

    Andr Loubet Guimares, engenheiro agrnomo, diretor-executivo do recm-criado Instituto BioAtlntica, grupo voltado para a conservao da natureza, a partir da unio da Conservation International do Brasil, da Aracruz Celulose, da Petrobras, da DuPont do Brasil e da Veracel Celulose

    "Somente os parques e reservas no so suficientes para manter a biodiversidade"

    http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT596688-1726,00.html

  • Sexta, 24 de julho de 2015

    Reflorestamento da Mata Atlntica: no existem mudas suficientes para recuperar a floresta. Entrevista especial com Jaeder Lopes Vieira Existem vrios fragmentos da Mata Atlntica isolados uns dos outros e esse isolamento pode levar a floresta extino, adverte o

    engenheiro agrnomo.

    Os desafios para recuperar 85% da Mata Atlntica, percentual que j foi degradado ao longo

    dos anos, so enormes, a comear pelas dificuldades tcnicas, visto que hoje no existem um-

    das suficientes para fazer a recuperao da Mata Atlntica. Mesmo se tivssemos dinheiro, h

    um limite em relao quantidade de viveiros suficientes para a empreitada que temos pela fren-

    te, informa Jaeder Lopes Vieira, na entrevista a seguir, concedida IHU On-Line por telefone.

    Vieira explica que a regenerao da Mata Atlntica no depende somente do plantio de novas

    mudas de rvores, mas necessrio recuperar a biodiversidade de modo geral. A floresta no

    s rvore; a floresta que s tem rvore no floresta. Floresta tem toda uma biodiversidade de

    animais e de plantas interagindo com o ambiente, ou seja, em intensa interao com o solo e

    com a atmosfera, reciclando nutrientes e fazendo com que esses nutrientes se convertam ora em

    matria orgnica, ora em matria inorgnica. Ento, a floresta muito mais do que a vegetao

    em si e que as rvores propriamente ditas; existem outros elementos no arbustivos que fazem

    parte da floresta e que so fundamentais para manuteno dela, esclarece.

    Entre os investimentos possveis para reflorestar a Mata Atlntica, o engenheiro agrnomo frisa

    a necessidade de pr em prtica as determinaes do Cdigo Florestal, a exemplo do

    pagamento aos produtores rurais para reflorestarem as reas degradadas. Em primeiro lugar

    precisamos de uma poltica pblica de incentivo aos proprietrios rurais, ou seja, preciso retirar

    do papel o pagamento dos servios ambientais, porque a recuperao dessas reas ir gerar

    benefcios aos homens.

    Segundo ele, tambm fundamental preservar os outros biomas brasileiros, como a Caatinga e

    o Cerrado, e investir na recuperao das reas j degradadas pela agricultura e pela agropecuria ao invs de abrir novas reas para plantio.

    Contudo, infelizmente, pontua, ao invs de ocupar uma rea da Mata Atlntica que j est degradada, as pessoas seguem para novas

    fronteiras que tm floresta, onde o solo ainda tem uma matria orgnica frtil. A as pessoas retiram a floresta, implantam uma produo

    agrcola que, inclusive, na Amaznia no passa de trs ciclos (trs anos).

    Jaeder Lopes Vieira graduado em Engenharia Agrnoma pela Universidade Federal de Lavras e em Biologia pelo Centro Universitrio

    Geraldo Di Biase UGB. Atualmente engenheiro agrnomo do Instituto Terra, uma associao civil, sem fins lucrativos, que promove a

    recuperao da Mata Atlntica no Vale do Rio Doce h 16 anos.

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line - Qual a situao da Mata Atlntica hoje no Brasil? Que percentual dela

    ainda est preservado?

    Jaeder Lopes Vieira - O percentual preservado gira em torno de 8,5% do remanescente, mas o

    problema que esse remanescente est isolado, ou seja, existem vrios fragmentos da Mata

    Atlntica isolados uns dos outros e esse isolamento pode levar a floresta extino.

    A degradao da floresta leva degradao de vrios servios ambientais que essa floresta

    proporciona ao homem, ou que naturalmente proporcionaria se estivesse preservada. Por

    exemplo, a limpeza dos rios, que hoje necessria, seria feita se houvesse mais reas de

    florestas preservadas prximo aos rios, mas muitos servios ambientais esto deixando de ser

    realizados por conta de estarmos ocupando essas reas.

    IHU On-Line - Em que regies do pas ainda h maior concentrao de Mata Atlntica?

    Jaeder Lopes Vieira - A Mata Atlntica vai do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte e

    os fragmentos continuam espalhados nessas regies, em alguns lugares mais e em outro

    menos. Mas o importante tentarmos conectar esses fragmentos; esse o nosso grande

    desafio para o futuro. J temos vrias iniciativas, e o Cdigo Florestal vem ao encontro de

    buscar essa soluo, mas falta, na prtica, realizarmos mais aes para recuperar as florestas.

    IHU On-Line - Quais so os desafios em torno de regenerar a Mata Atlntica? O que

    significa refazer a biodiversidade da floresta?

    Jaeder Lopes Vieira - Na verdade existem iniciativas de governo e de organizaes no governamentais, como a doInstituto Terra, e h

    iniciativas tambm do setor privado, tanto de empresas quanto de pessoas. Quando pensamos na extenso da Mata Atlntica e imaginamos

    que tem mais de 85% de rea a recuperar, percebemos que o desafio enorme, ou seja, no h s um desafio tcnico, mas tambm um desafio

    financeiro e de mobilizao da sociedade, porque grande parte dessas reas est nas mos de proprietrios rurais. Esses proprietrios rurais,

    no passado, foram incentivados a retirar a mata, e hoje temos que pensar que a sociedade tem de ajud-los a recuperar a Mata Atlntica,

    porque os custos da recuperao no so baixos. Evidentemente, h vrias tcnicas que podem ser aplicadas, as quais podem diminuir ou

    aumentar o custo do reflorestamento, mas, de toda sorte, pelo tamanho da rea, os recursos no so baixos.

    Ento, em primeiro lugar precisamos de uma poltica pblica de incentivo aos proprietrios rurais, ou seja, preciso retirar do papel

    o pagamento dos servios ambientais, porque a recuperao dessas reas ir gerar benefcios aos homens. Por isso, os proprietrios rurais

    deveriam receber um valor para recuperar e conservar essas reas. Assim, o primeiro desafio no aumentar o desmatamento, ou seja,

    preservar os fragmentos que a esto; o segundo remunerar o produtor para que ele possa fazer a recuperao das outras reas que no

    foram reflorestadas.

    Foto: brasilescola.com.br

    Imagem: estudopratico.com.br

  • H um desafio tambm tcnico no sentido de que hoje, por exemplo, ns no temos nem mudas suficientes para fazer a recuperao da Mata

    Atlntica. Mesmo se tivssemos dinheiro, h um limite em relao quantidade de viveiros suficientes para empreitada que temos pela frente.

    Depois, precisamos mapear essas reas que precisam ser reflorestadas e proteg-las dos fatores de degradao. A maior parte desses

    fragmentos, que seriam possveis de se regenerar naturalmente, no est se regenerando por causa pisoteio do gado e pela entrada de fogo;

    esses so dois fatores importantes que temos de combater.

    IHU On-Line Em que consiste refazer a biodiversidade? O senhor sempre insiste

    que no basta plantar rvores. Pode nos explicar melhor em que consiste essa

    concepo?

    Jaeder Lopes Vieira - A floresta no s rvore; a floresta que s tem rvore no

    floresta. Floresta tem toda uma biodiversidade de animais e de plantas interagindo com o

    ambiente, ou seja, em intensa interao com o solo e com a atmosfera, reciclando nutrientes e fazendo com que esses nutrientes se convertam

    ora em matria orgnica, ora em matria inorgnica. Ento, a floresta muito mais do que a vegetao em si e que as rvores propriamente

    ditas; existem outros elementos no arbustivos que fazem parte da floresta e que so fundamentais para manuteno dela.

    Mas lgico que, num primeiro momento, quem faz essa converso da matria inorgnica em matria orgnica so os vegetais; eles so os

    nicos capazes de fazer isso, atravs da fotossntese. Por isso, o primeiro passo aumentar aproteo da mata para o solo, ou seja, quando se

    tem rvores, se consegue, atravs dessas rvores, diminuir a primeira degradao da gota da chuva direta no solo, arrastando esse solo para os

    cursos dgua e, com isso, possvel diminuir o assoreamento dos cursos dgua. Desse modo, preciso aumentar a cobertura vegetal para

    proteger o solo e, evidentemente, devemos ter a maior diversidade de vegetao possvel, porque isso permite a entrada da fauna na floresta.

    Ou seja, ns temos que realmente fazer reflorestamento visando uma maior diversidade possvel para que a fauna possa ter alimento suficiente

    ao longo de todo o ano. Plantar fundamental, mas preciso plantar visando um aumento da diversidade da vegetao.

    IHU On-Line - Diversas empresas de celulose mantm projetos florestais. possvel chamar essas plantaes de florestas? Como o

    senhor v esse debate entre as florestas plantadas com espcies nativas e exticas?

    Jaeder Lopes Vieira Creio que toda a iniciativa importante. Acredito que a monocultura de qualquer coisa que seja, impactante,

    independente de ser pinus, eucalipto, seringueira, inclusive. As empresas de celulose, hoje, tm uma responsabilidade socioambiental muito

    grande, at porque elas trabalham com commodities. Assim, h a preocupao hoje de no levar o plantio de eucalipto at, por exemplo, as

    nascentes e at os cursos dgua. Para eles fundamental, inclusive, a preservao dos fragmentos de floresta. H uma preocupao muito

    grande de preservar os fragmentos e no entrar nas reas que so mais sensveis ambientalmente, que so as reas que o Cdigo

    Florestalidentifica como passveis de conservao.

    IHU On-Line - Como feita, no Brasil, a reestruturao ecolgica de reas florestais degradadas? O pas tem uma preocupao em

    restaurar essas terras? Existe alguma poltica pblica nesse sentido?

    Jaeder Lopes Vieira Existe um instrumento no Cdigo Florestal, que o Pagamento por Servios Ambientais PSA. Conheo duas

    iniciativas nesse sentido: uma em Vitria, no Esprito Santo, do governo do estado, e outra dogoverno de Minas Gerais. Nesses casos, o

    estado paga por floresta em p florestas e fragmentos j existentes e tambm pela restaurao e converso de reas no florestais em

    reas florestais, com floresta de Mata Atlntica. Trata-se de uma iniciativa de pagar o produtor para que ele possa converter essas reas ou

    ento para mant-las em p.

    Evidentemente que esse valor nunca ser maior do que o custo de oportunidade que o produtor tem na produo dele, mas essas so reas

    que, segundo o Cdigo Florestal, deveriam estar em conservao. Assim, essas so iniciativas que incentivam o produtor a converter essas

    reas. Essas duas iniciativas so leis estaduais que tm gerado um resultado positivo. Creio que deveria ser ampliado para o governo federal

    tambm e at para os municpios.

    IHU On-Line - Alguns ambientalistas chamam ateno para a degradao do cerrado,

    da caatinga, alertando para o fato de que essas reas podem chegar a uma situao

    de degradao igual a da Mata Atlntica no futuro. O senhor identifica alguma relao

    entre a degradao do cerrado, caatinga e outros biomas com a degradao da Mata

    Atlntica?

    Jaeder Lopes Vieira Sim. Quando vemos essas aberturas de novas reas, no vemos sentido nisso, porque h reas na Mata Atlntica com

    produtividade muito baixa. A rea de pecuria, por exemplo, baixssima, com nmero de 0,6 cabeas de gado por hectare, porque o ambiente

    foi to degradado que ele j no d respostas produtivas. Ento, ao invs de abrir novas reas, preciso recuperar essas reas que j esto

    abertas e desflorestadas. Infelizmente, ao invs de ocupar uma rea da Mata Atlntica que j est degradada, as pessoas seguem para novas

    fronteiras que tm floresta, onde o solo ainda tem uma matria orgnica frtil. A as pessoas retiram a floresta, implantam uma produo

    agrcola que, inclusive, na Amaznia no passa de trs ciclos (trs anos).

    Por conta dessa baixa produtividade nas reas desflorestadas, o agronegcio est buscando novas fronteiras. Entretanto, possvel

    recuperar essas reas tranquilamente, pois j existem tecnologias da Embrapa e de outros rgos de pesquisa, as quais viabilizam a

    recuperao dessas reas degradadas para produo.

    IHU On-Line - E existem relaes entre a crise hdrica e a degradao da Mata Atlntica?

    Jaeder Lopes Vieira Essa relao direta; no tenho nenhuma dvida disso. O que mantm os rios perenes? So as nascentes; se elas

    forem perenes, os rios sero perenes. Se protegermos as matas ciliares e no deixarmos o arrasto do material ir para dentro do rio, evitamos

    que o rio se torne assoreado e ele ser perene tambm. Ento, a relao direta, e o caminho para solucionar a crise hdrica comear a

    recuperar e conservar as nascentes. Este o caminho que temos que trilhar o mais rpido possvel.

    IHU On-Line - Quais as aes do Instituto Terra para reflorestar a Mata Atlntica?

    Jaeder Lopes Vieira Ns temos duas grandes linhas de trabalho: uma a restaurao de reas degradadas e a nossa fazenda funciona

    como laboratrio e como sede da nossa organizao , e a outra a recuperao de nascentes fora da fazenda. Atingimos o nmero de mil

    nascentes e temos um projeto ambicioso para o Vale do Rio Doce, que um Vale com uma superfcie do tamanho de Portugal, de 85.000 km.

    Estimamos que haja 375 mil nascentes no Vale do Rio Doce, que est localizado entre os estados de Minas Gerais e Esprito Santo, e ns

    estamos apresentando sociedade um projeto para recuperar essas 375 mil nascentes ao longo dos prximos 30 anos.

    Por Patrcia Fachin http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/544939-reflorestamento-da-mata-atlantica-nao-existem-mudas-suficientes-para-recuperar-a-floresta-entrevista-especial-com-jaeder-lopes-vieira

    "O caminho para solucionar a crise

    hdrica comear a recuperar e

    conservar as nascentes"

    "Plantar fundamental, mas preciso

    plantar visando um aumento da

    diversidade da vegetao"