bioética
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BioéticaTRANSCRIPT
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Professor .: Armando e-mail.: [email protected]
Biotica
Literatura:
Biotica Jos Roberto Goldim
www.bioetica.ufrgs.br
Problemas de Biotica Andrew C. Varga
Introduo Geral a Biotica Guy Durand
Biotica Stephen Holland ( enfoque filosfico)
* Marco Segre
* Volnei Garrafa
Libertao Animal Peter S inger
Contedo:
Definio Moral tica Direito Biotica
Princpios ticos
tica em pesquisa com animais
tica em Pesquisa com Ser Humano
tica e Gentica
tica em Doenas Degenerativas
AIDS
Eutansia
tica e Histologia
tica e Meio Ambiente
Filmes:
Gattaca ( tica e gentica )
Mar a dentro (eutansia)
Senhor das Armas
Homospiens 1900
http://www.bioetica.ufrgs.br/ -
Moral / tica
Moral deriva do latim mores, "relativo aos costumes". Seria importante referir,
ainda, quanto etimologia da palavra "moral", que esta se originou a partir do
intento dos romanos traduzirem a palavra grega thica.
E assim, a palavra moral no traduz por completo, a palavra grega ori ginria.
que thica possua, para os gregos, dois sentidos complementares: o primeiro
derivava de thos e significava, numa palavra, a interioridade do ato humano,
ou seja, aquilo que gera uma ao genuinamente humana e que brota a partir
de dentro do su jeito moral, ou seja, thos remete -nos para o mago do agir,
para a inteno. Por outro lado, thica significava tambm thos, remetendo -
nos para a questo dos hbitos, costumes, usos e regras, o que se materializa
na assimilao social dos valores.
Deont ologia
"cincia"), na filosofia moral contempornea, uma das teorias normativas
segundo a qual as escolhas so moralmente necessrias, proibidas ou
permitidas. Portanto inclui -se entre as teorias morais que orientam nossas
escol has sobre o que deve ser feito. O termo foi introduzido em 1834, por
Jeremy Bentham, para referir -se ao ramo da tica cujo objeto de estudo so os
fundamentos do dever e as normas morais. conheci da tambm s ob o nome
de "Teoria do Dever". um dos dois ramos principais da tica Normativa,
juntamente com a axiologia.
Introduo Geral a Biotica
conceitos, princpios e formao do comit de tica
Cdigo de tica do Bilogo CONSELHO FEDERAL DE BIOLOGIA CDIGO DE TICA DO PROFISSIONAL BILOGO Art. 1 - O presente Cdigo contm as normas ticas e princpios que devem ser seguidos pelos Bilogos no exerccio da profisso. Pargrafo nico - As disposies deste Cdigo tambm se aplicam s pessoas jurdicas e firmas individuais devidamente registradas nos Conselhos de Biologia, bem como aos ocupantes de cargos eletivos e comissionados. CAPTULO I - Dos Princpios Fundamentais Art. 2 - Toda atividade do Bilogo dever sempre consagrar respeito vida, em todas as suas formas e manifestaes e qualidade do meio ambiente. Art. 3 - O Bilogo exercer sua profisso cumprindo o disposto na legislao em vigor e na especfica de sua profisso e de acordo com o "Princpio da Precauo" (definido no Decreto Legislativo n 1, de 03/02/1994, nos Artigos 1, 2, 3 e 4), observando os preceitos da Declarao Universal dos Direitos Humanos. Art. 4 - O Bilogo ter como princpio orientador no desempenho das suas atividades o compromisso permanente com a gerao, a aplicao, a transferncia, a divulgao e o aprimoramento de seus conhecimentos e experincia profissional sobre Cincias Biolgicas, visando o desenvolvimento da
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Cincia, a defesa do bem comum, a proteo do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida em todas suas formas e manifestaes. CAPTULO II - Dos Direitos Profissionais do Bilogo Art. 5 - So direitos profissionais do Bilogo: I - Exercer suas atividades profissionais sem sofrer qualquer tipo de discriminao, restrio ou coero, por questes de religio, raa, cor, opo sexual, condio social, opinio ou de qualquer outra natureza; II - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando o empregador ou tomador de servios para o qual trabalha no oferecer condies mnimas para o exerccio profissional; III - Requerer ao Conselho Regional de sua Regio desagravo pblico, quando atingido no exerccio de sua profisso; IV - Exercer a profisso com ampla autonomia, sem renunciar liberdade profissional, obedecendo aos princpios e normas ticas, rejeitando restries ou imposies prejudiciais eficcia e correo ao trabalho e recusar a realizao de atos que, embora permitidos por lei, sejam contrrios aos ditames da sua conscincia; V - Exigir justa remunerao pela prestao de servios profissionais, segundo padres usualmente praticados no mercado e aceitos pela entidade competente da categoria. CAPITULO III - Dos Deveres Profissionais do Bilogo Art. 6 - So deveres profissionais do Bilogo: I - Cumprir e fazer cumprir este Cdigo, bem como os atos e normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais de Biologia; II - Manter-se em permanente aprimoramento tcnico e cientfico, de forma a assegurar a eficcia e qualidade do seu trabalho visando uma efetiva contribuio para o desenvolvimento da Cincia, preservao e conservao de todas as formas de vida; III - Exercer sua atividade profissional com dedicao, responsabilidade, diligncia, austeridade e seriedade, somente assumindo responsabilidades para as quais esteja capacitado, no se associando a empreendimento ou atividade que no se coadune com os princpios de tica deste Cdigo e no praticando nem permitindo a prtica de atos que comprometam a dignidade profissional; IV - Contribuir para a melhoria das condies gerais de vida, intercambiando os conhecimentos adquiridos atravs de suas pesquisas e atividades profissionais; V - Contribuir para a educao da comunidade atravs da divulgao de informaes cientificamente corretas sobre assuntos de sua especialidade, notadamente aqueles que envolvam riscos sade, vida e ao meio ambiente; VI - Responder pelos conceitos ou opinies que emitir e pelos atos que praticar, identificando-se com o respectivo nmero de registro no CRBio na assinatura de documentos elaborados no exerccio profissional, quando pertinente; VII - No ser conivente com os empreendimentos ou atividades que possam levar a riscos, efetivos ou potenciais, de prejuzos sociais, de danos sade ou ao meio ambiente, denunciando o fato, formalmente, mediante representao ao CRBio de sua regio e/ou aos rgos competentes, com discrio e fundamentao; VIII - Os Bilogos, no exerccio de suas atividades profissionais, inclusive em cargos eletivos e comissionados, devem se pautar pelos princpios da legalidade, impessoalidade, moralidade, probidade, eficincia e tica no desempenho de suas funes; IX - Apoiar as associaes profissionais e cientficas que tenham por finalidade: a) defender a dignidade e os direitos profissionais dos Bilogos; b) difundir a Biologia como cincia e como profisso; c) congregar a comunidade cientfica e atuar na poltica cientfica; d) a preservao e a conservao da biodiversidade e dos ecossistemas; e) apoiar a pesquisa e o desenvolvimento da cincia; X - Representar ao Conselho de sua Regio nos casos de exerccio ilegal da profisso e de infrao a este Cdigo, observando os procedimentos prprios; XI - No se prevalecer de cargo de direo ou chefia ou da condio de empregador para desrespeitar a dignidade de subordinado(s) ou induzir ao descumprimento deste Cdigo de tica; XII - Colaborar com os CRBios e o CFBio, atendendo suas convocaes e normas; XIII - Fornecer, quando solicitado, informaes fidedignas sobre o exerccio de suas atividades profissionais; XIV - Manter atualizado seus dados cadastrais, informando imediatamente quaisquer alteraes tais como titulao, alterao do endereo residencial e comercial, entre outras. CAPTULO IV - Das Relaes Profissionais Art. 7 - O Bilogo, como pessoa fsica ou como representante legal de pessoa jurdica prestadora de servios em Biologia recusar emprego ou tarefa em substituio a Bilogo exonerado, demitido ou afastado por ter-se negado prtica de ato lesivo integridade dos padres tcnicos e cientficos da
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Biologia ou por defender a dignidade do exerccio da profisso ou os princpios e normas deste Cdigo. Art. 8 - O Bilogo no dever prejudicar, direta ou indiretamente, a reputao ou atividade de outro Bilogo, de outros profissionais, de instituies de direito pblico ou privado. Art. 9 - O Bilogo no ser conivente com qualquer profissional em erros, omisses, faltas ticas ou delitos cometidos por estes nas suas atividades profissionais. Art. 10 - O Bilogo empenhar-se-, perante outros profissionais e em relacionamento com eles, em respeitar os princpios tcnicos, cientficos, ticos e de precauo. CAPTULO V - Das Atividades Profissionais Art. 11 - O Bilogo deve atuar com absoluta iseno, diligncia e presteza, quando emitir laudos, pareceres, realizar percias, pesquisas, consultorias, prestao de servios e outras atividades profissionais, no ultrapassando os limites de suas atribuies e de sua competncia. Art. 12 - O Bilogo no pode alterar, falsear, deturpar a interpretao, ser conivente ou permitir que sejam alterados os resultados de suas atividades profissionais ou de outro profissional que esteja no exerccio legal da profisso. Art. 13 - Caber aos Bilogos, principalmente docentes e orientadores esclarecer, informar e orientar os estudantes de Biologia incentivando-os a observarem a legislao vigente e especfica da profisso e os princpios e normas deste Cdigo de tica. Art. 14 - O Bilogo procurar contribuir para o aperfeioamento dos cursos de formao de profissionais das Cincias Biolgicas e reas afins. Art. 15 - vedado ao Bilogo qualquer ato que tenha como fim precpuo a prtica de tortura ou outras formas de procedimentos degradantes, desumanos ou cruis dirigidos quaisquer formas de vida sem objetivos claros e justificveis de melhorar os conhecimentos biolgicos, contribuindo de forma responsvel para o desenvolvimento das Cincias Biolgicas. Art. 16 - O Bilogo deve cumprir a legislao competente que regula coleta, utilizao, manejo, introduo, reproduo, intercmbio ou remessa de organismos, em sua totalidade ou em partes, ou quaisquer materiais biolgicos. Art. 17 - O Bilogo dever efetuar a avaliao e denunciar situaes danosas ou potencialmente danosas decorrentes da introduo ou retirada de espcies em ambientes naturais ou manejados. Art. 18 - O Bilogo deve se embasar no "Princpio da Precauo" nos experimentos que envolvam a manipulao com tcnicas de DNA recombinante em seres humanos, plantas, animais e microrganismos ou produtos oriundos destes. Art. 19 - O Bilogo deve ter pleno conhecimento da amplitude dos riscos potenciais que suas atividades podero exercer sobre os seres vivos e meio ambiente, procurando e implementando formas de reduzi-los e elimin-los, bem como propiciar procedimentos profilticos eficientes a serem utilizados nos danos imprevistos. Art. 20 - O Bilogo deve manter a privacidade e confidencialidade de resultados de testes genticos de paternidade, de doenas e de outros procedimentos (testes/experimentao/pesquisas) que possam implicar em prejuzos morais e sociais ao solicitante, independentemente da tcnica utilizada. Pargrafo nico: No ser observado o sigilo profissional previsto no caput deste artigo, quando os resultados indicarem riscos ou prejuzos sade humana, biodiversidade e ao meio ambiente, devendo o profissional comunicar os resultados s autoridades competentes. Art. 21 - As pesquisas que envolvam microrganismos patognicos ou no ou organismos geneticamente modificados (OGMs) devem seguir normas tcnicas de biossegurana que garantam a integridade dos pesquisadores, das demais pessoas envolvidas e do meio ambiente, tendo em vista o "Princpio da Precauo". Art. 22 - vedado ao Bilogo colaborar e realizar qualquer tipo de experimento envolvendo seres humanos com fins blicos, polticos, raciais ou eugnicos, assim como utilizar seu conhecimento para desenvolver armas biolgicas. Art . 23 - Nas pesquisas que envolvam seres humanos, o Bilogo dever incluir, quando pertinente, o Termo de Consentimento Informado, ou a apresentao de justificativa com consideraes ticas sobre o experimento.
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Art. 24 - vedado ao Bilogo o envio e recebimento de material biolgico para o exterior sem a prvia autorizao dos rgos competentes. CAPTULO VI Das Publicaes Tcnicas e Cientficas Art. 25 - O Bilogo no deve publicar em seu nome trabalho cientfico do qual no tenha participado ou atribuir -se autoria exclusiva de trabalho realizado em cooperao com outros profissionais ou sob sua orientao. Art. 26 - O Bilogo no deve apropriar-se indevidamente, no todo ou em parte, de projetos, idias, dados ou concluses, elaborados ou produzidos por grupos de pesquisa, por Bilogos ou outros profissionais, por orientandos e alunos, publicados ou ainda no publicados e divulgados. Art. 27 - O Bilogo no deve utilizar, na divulgao e publicao de seus prprios trabalhos, quaisquer informaes, ilustraes ou dados, j publicados ou no, obtidos de outros autores, sem creditar ou fornecer a devida referncia sua autoria ou sem a expressa autorizao desta. CAPTULO VII Das Disposies Gerais Art. 28 - vedado ao Bilogo valer-se de ttulo acadmico ou especialidade que no possa comprovar. Art. 29 - As dvidas na interpretao e os casos omissos deste Cdigo sero resolvidos pelo Conselho Federal de Biologia, ouvidos os Conselhos Regionais de Biologia. Pargrafo nico - Compete ao Conselho Federal de Biologia incorporar a este Cdigo as decises referidas no "caput" deste artigo. Art. 30- O presente Cdigo poder ser alterado pelo Conselho Federal de Biologia por iniciativa prpria ou mediante provocao da categoria, dos Conselhos Regionais, ou de Bilogos, luz dos novos avanos cientficos ou sociais, ouvidos os Conselhos Regionais. Art. 31 - Os infratores das disposies deste Cdigo esto sujeitos s penalidades previstas no Art. 25 da Lei 6.684, de 03 de setembro de 1979 e demais normas sem prejuzo de outras combinaes legais aplicveis. 1 - As faltas e infraes sero apuradas levando-se em considerao a natureza do ato e as circunstncias de cada caso. 2 - As penalidades previstas so as seguintes: I - advertncia; II - repreenso; III - multa equivalente a at 10(dez) vezes o valor da anuidade; IV - suspenso do exerccio profissional pelo prazo de at 3(trs) anos, ressalvada a hiptese prevista no 7 do Art. 25 da Lei n 6.684/79; V - cancelamento do registro profissional. 3 - Salvo os casos de gravidade manifesta ou reincidncia, a imposio das penalidades obedecer gradao deste artigo, observadas as normas estabelecidas pelo Conselho Federal para disciplina do processo de julgamento das infraes tico - disciplinares. 4 - Na fixao da pena sero considerados os antecedentes profissionais do infrator, o seu grau de culpa, as circunstncias atenuantes e agravantes e as conseqncias da infrao. 5 - As penas de advertncia, repreenso e multa sero comunicadas pela instncia prpria, em ofcio reservado, no se fazendo constar dos assentamentos do profissional punido, a no ser em caso de reincidncia. Art. 32 - Este Cdigo entra em vigor na data de sua publicao. Braslia, 1 de dezembro de 2001. NOEMY YAMAGUISHI TOMITA PRESIDENTE
SISNEP
A Comisso Nacional de tica em Pesquisa - CONEP - uma comisso do
Conselho Nacional de Sade - CNS, criada atravs da Resoluo 196/96, com a
funo de implementar as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos, aprovadas pelo Conselho. Tem funo consultiva,
deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de
Comits de tica em Pesquisa - CEP - organizados nas i nstituies onde as
pesquisas se realizam.
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Resoluo CNS 196/96 (CONEP)
O Conselho Nacional de Sade, no uso da competncia que lhe outorgada
pelo Decreto n 93933 de 14 de janeiro de 1987 , resolve:
Aprovar as seguintes diretrizes e normas regulame ntadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos:
I - PREMBULO
A presente Resoluo fundamenta -se nos principais documentos
internacionais que emanaram declaraes e diretrizes sobre pesquisas que
envolvem seres humanos: o Cdigo de Nuremberg (1947), a De clarao dos
Direitos do Homem (1948), a Declarao de Helsinque (1964 e suas verses
posteriores de 1975, 1983 e 1989), o Acordo Internacional sobre Direitos Civis
e Polticos (ONU,1966, aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro em 1992),
as Propostas d e Diretrizes ticas Internacionais para Pesquisas Biomdicas
Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e 1993) e as Diretrizes
Internacionais para Reviso tica de Estudos Epidemiolgicos (CIOMS, 1991).
Cumpre as disposies da Constituio da Repblica Fed erativa do Brasil de
1988 e da Legislao brasileira correlata: Cdigo de Direitos do Consumidor,
Cdigo Civil e Cdigo Penal, Estatuto da Criana e do Adolescente, Lei
Orgnica da Sade 8.080, de 19/09/90 (dispe sobre as condies de ateno
sade, a o rganizao e o funcionamento dos servios correspondentes), Lei
8.142, de 28/12/90 (participao da comunidade na gesto do Sistema nico de
Sade), Decreto 99.438, de 07/08/90 (organizao e atribuies do Conselho
Nacional de Sade), Decreto 98.830, de 1 5/01/90 (coleta por estrangeiros de
dados e materiais cientficos no Brasil), Lei 8.489, de 18/11/92, e Decreto 879,
de 22/07/93 (dispem sobre retirada de tecidos, rgos e outras partes do
corpo humano com fins humanitrios e cientficos), Lei 8.501, de 30/11/92
(utilizao de cadver), Lei 8.974, de 05/01/95 (uso das tcnicas de engenharia
gentica e liberao no meio ambiente de organismos geneticamente
modificados), Lei 9.279, de 14/05/96 (regula direitos e obrigaes relativos
propriedade industrial ), e outras.
Esta Resoluo incorpora, sob a tica do indivduo e das coletividades os
quatro referenciais bsicos da biotica: autonomia, no maleficncia,
beneficncia e justia, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que
dizem respeito comunidade cientfica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
O carter contextual das consideraes aqui desenvolvidas implica em
revises peridicas desta Resoluo, conforme necessidades nas reas
tecnocientfica e tica.
Ressalta -se, ainda, que cada rea temtica de investigao e cada
modalidade de pesquisa, alm de respeitar os princpios emanados deste
texto, deve cumprir com as exigncias setoriais e regulamentaes
especficas.
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Comisso Nacional de tica em Pesquisa - CONEP
A Comisso Nacional de tica em Pesquisa (CONEP) est diretamente ligada
ao Conselho Nacional de Sade (CNS). Ela foi criada pela Resoluo do CNS
196/96 como uma instncia colegiada, de natureza consultiva, educativa e
formuladora de diretrizes e estratgias no mbito do Co nselho. Alm disso,
independente de influncias corporativas e institucionais. Uma das suas
caractersticas a composio multi e transdiciplinar, contando com um
representante dos usurios.
A CONEP tem como principal atribuio o exame dos aspectos ti cos das
pesquisas que envolvem seres humanos. Como misso, elabora e atualiza as
diretrizes e normas para a proteo dos sujeitos de pesquisa e coordena a
rede de Comits de tica em Pesquisa das instituies.
Cabe a CONEP avaliar e a companhar os protocolo s de pesquisa em reas
temticas e speciais com o: gentica e reproduo humana; novos
equipamentos; dis positivos para a sade; novos p rocedimentos ; populao
indgena; projetos ligados biossegurana e como participao estrangeira .
A CONEP tambm se co nstitui em instncia de recursos para qualquer das
reas envolvidas.
Reviso da Resoluo CNS 196/96
Conforme deliberado pelo Conselho Nacional de Sade, a Resoluo CNS
196/96, que trata das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos e esteve em consulta publica durante 60 dias, de
12 se setembro a 10 de novembro de 2011. O Grupo de Trabalho, encarregado
pelo CNS em fazer a consolidao das propo stas recebidas para reviso da
Resoluo CNS 196/96 se reuniu em 11 de novemb ro de 2 011 e nos dias 16, 17
e 18 de m aro de 2012. Nessas reunies foi possvel analisar cerca de 70% das
propostas enviadas . A metodologia utilizada consi stiu em: 1) Organizao
do material.
2) Leitura criteriosa.
3) Aproximao das contribuie s semelhantes relativas aos artigos
contidos no texto de reviso e atualizao da Resoluo CNS 196/1996 .
4) Estabelecimento do quadr o com sntese dos comentrios.
5) Emerso de categorias/pr oposies relativas aos artigos contidos no
texto de reviso e atualizao da Resoluo CNS 196/1996 (quantidade de
sobreposies).
6) Problemas identificados/ anlise interpretativa.
7) Propostas do GT.
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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCL E
O TCLE um documento que informa e esclarece o sujeito da pesquisa de
maneira que ele possa tomar sua deciso de forma justa e sem
constrangimentos sobre a sua participao em um projeto de pesquisa. uma
proteo legal e moral do pesquisador e do pesq uisado, visto ambos estarem
assumindo responsabilidades. Deve conter, de forma didtica e bem resumida,
as informaes mais importantes do protocolo de pesquisa. Deve estar escrito
em forma de convite e em linguagem acessvel aos sujeitos daquela pesquisa.
O pesquisador deve se garantir que o sujeito da pesquisa realmente consiga
entender o que est escrito. No tente esconder possveis riscos e
desconfortos. Apresente seu projeto indicando tudo o que poder constranger
ou trazer prejuzos ao sujeito da pes quisa. No use o estilo cientfico, a no ser
que sua amostra seja composta de universitrios. Em alguns casos no h
como aplicar um TCLE, como no caso de dados arquivados, como por exemplo
pronturios, onde impossvel localizarem -se os pacientes, ou qu ando ser
usado um procedimento em que no seria tico identificar os participantes de
qualquer forma. Nestes casos, a justificativa da no aplicao do TCLE deve
um documento n ico e deve ser sempre apresentado isoladamente do projeto,
da maneira como ser entregue ao participante da pesquisa. Deve ser
entregue ao pesquisado em duas vias, que sero assinadas pelo participante e
pelo pesquisador, ficando uma com cada parte.
1a Aula de Biotica
Prof. Ncolas Lavor de Albuquerque
Introduo geral biotica: conceitos, princpios e formao de comits de
tica.
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tica, Moral e Direito
Jos Roberto Goldim
Tanto a Moral como o Direito baseiam -se em regras que visam
estabelecer uma certa previsibilidade para as aes humanas. Ambas, porm,
se diferenciam.
A Moral estabelece regras que so assumidas pela pessoa, como uma
forma de garantir o se u bem -viver. A Moral independe das fronteiras
geogrficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem,
mas utilizam este mesmo referencial moral comum.
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada
pelas fr onteiras do Estado. As leis tem uma base territorial, elas valem apenas
para aquela rea geogrfica onde uma determinada populao ou seus
delegados vivem.
A tica o estudo geral do que bom ou mau. Um dos objetivos da tica
a busca de justifi cativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito.
Ela diferente de ambos - Moral e Direito - pois no estabelece regras. Esta
reflexo sobre a ao humana que a caracteriza.
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A Evoluo da Definio de Biotica na Viso de Van Rensselaer Potter 1970 a
1998
Jos Roberto Goldim
Definio de Biotica - Potter 1970 (Biotica Ponte)
Ns temos uma grande necessidade de uma tica da terra, uma tica para a
vida selvagem, uma ti ca de populaes, uma tica do consumo, uma tica
urbana, uma tica internacional, uma tica geritrica e assim por diante...
Todas elas envolvem a biotica, (...)
Esta nova tica pode ser chamada de tica interdisciplinar, definindo
interdisciplinaridade de uma maneira especial para incluir tanto a cincia
como as humanidades, mas este termo rejeitado pois no auto -evidente.
Este foi o primeiro texto a utilizar a palavra Biotica. Este artigo, que tinha o
sugestivo ttulo de Bioethics, the science of survival apresentava o texto
adaptado do captulo I do livro Bioethics: bridge to the future, que ainda estava
no prelo, tendo sido publicado em janeiro de 1971.
O era Doutor em Bioqumica, pesquisador e professor na rea de Oncologia no
Laboratrio McA rdle da Universidade de Wisconsin/EEUU. O Prof. Potter tinha
uma grande preocupao com o problema ambiental e com a repercusso do
modelo de progresso preconizada na dcada de 1960. O seu pensamento foi
influenciado pelas idias de Aldo Leopold, que tamb m foi professor na
Universidade de Wisconsin, de Teilhard de Chardin e de Albert Schweitzer.
Esta definio evoluiu para a proposta de uma (Global Ethics ou Global
Bioethics), feita em 1988. O Prof. Potter faleceu em 07 de setembro de 2001,
aos 90 anos de idade, na cidade de Madison/EUA, cercado por sua famlia.
Potter VR. Bioethics, the science of survival. Perspectives in biology and
medicine 1970;14:127 -153.
Definio de Biotica - Potter 1988 (Biotica Global)
Biotica a combinao da biologia com conhecimentos humansticos
diversos constituindo uma cincia que estabelece um sistema de prioridades
mdicas e ambientais para a sobrevivncia aceitvel.
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O Prof. Potter elaborou esta nova verso como forma de enfatizar a sua
proposta de uma Biotica Glob al, isto , com ampla abrangncia. Este
significado foi modificado, incorretamente, por outros autores alterando -o
dentro de uma leitura desde o ponto de vista do processo de globalizao.
Potter VR. Global Bioethics. Building on the Leopold Legacy. East L ansing:
Michigan State University Press, 1988.
Definio de Biotica - Potter 1998 (Biotica Profunda)
Biotica como nova cincia tica que combina , responsabilidade e uma
competncia interdisciplinar, intercultural e que potencializa o senso de
human idade.
Potter VR. Palestra apresentada em vdeo no IV Congresso Mundial de
Biotica. Tquio/Japo: 4 a 7 de novembro de 1998. Texto publicado em O
Mundo da Sade 1998;22(6):370 -374.
O Prof. Van Rensselaer Potter Doutor em Bioqumica, pesquisador e
profe ssor na rea de Oncologia no Laboratrio McArdle da Universidade de
Wisconsin/EEUU. O Prof. Potter classifica esta definio como Biotica
Profunda. Esta denominao foi utilizada pela primeira vez pelo Prof. Peter J.
Whitehouse, da Universidade de Clevela nd/Ohio. Esta utilizao foi uma
aplicao Biotica do conceito, proposto pelo Prof. Arne Naess, de Ecologia
Profunda. O Prof. Naess, props o termo Ecologia Profunda em 1974 com o
objetivo de resgatar a importncia do aprofundamento da reflexo dos
aspe ctos ticos ligados questo ambiental.
Definio de Biotica
Biotica o estudo sistemtico das dimenses morais - incluindo viso moral,
decises, conduta e polticas - das cincias da vida e ateno sade,
utilizando uma variedade de metodologias ticas em um cenrio
interdisciplinar.
Reich WT. Encyclopedia of Bioethics. 2nd ed. New York; MacMillan, 1995:XXI.
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Princpios ticos
Jos Roberto Goldim
A utilizao de princpios como forma de reflexo uma abordagem clssica e
extremamente utilizada na Biotica.
Lei de Ouro (Golden Rule)
Uma das normas morais mais importantes que surgiram na histria da
humanidade chamada Lei de Ouro (golden rule) . Esta norma surge em
diferentes pocas e culturas, e no apenas na tradio judaico -crist, como
muitas vezes afirmado. A sua redao algumas vezes tem uma abordagem
beneficente, de fazer o bem, outras vezes no -maleficente, de evitar o mal.
Todas, cont udo, tm o mesmo objetivo: preservar a dignidade da pessoa
humana.
Confcio (551 aC - 489 aC)
"Aquilo que no desejas para ti, tambm no o faas s outras pessoas."
Rabi Hillel (60 aC - 10 dC)
"No faas aos outros o que no queres que te faam."
Rabi H illel, Sabbat 31a
Jesus Cristo (c30 dC)
"Tudo o que vocs quiserem que as pessoas faam a vocs, faam -no tambm
a elas."
Mateus 7,12 e Lucas 6,31
Princpio do Duplo Efeito
Duplo efeito um termo tcnico utilizado em tica que se refere aos dois tipo s
possveis de conseqncias produzidas por uma ao em particular,
denominadas de efeitos desejados e para -efeitos indesejveis.
Com base neste princpio, que admitida a administrao de altas doses de
medicamentos com o objetivo de minorar o sofrime nto de um paciente, mas
que podero ter como efeito indesejado a sua morte. Esta possibilidade
aceita pela Igreja Catlica desde a dcada de 1950. Outras denominaes
religiosas tambm admitem utilizar este tipo de argumentao para o
tratamento de doent es terminais.
Bioethics Thesaurus - BIOETHICSLINE. Washington: Kennedy Institute of
Ethics, 1994.
Equipolncia
Jos Roberto Goldim
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Our little lives are kept in equipoise
By opposite attractions and desires.
Longfellow
Equipolncia a traduo para o portugus da palavra inglesa Equipoise. A
sua utilizao remonta ao ano de 1658. A sua utilizao na tica da Pesquisa
foi proposta pelo filsofo Benjamin Freedman em 1987 para explicar o estado
no qual especialistas em uma determina da rea ficam indecisos entre diversos
tratamentos possveis.
A ocorrncia desta situao de indefinio que permite a realizao de
estudos clnicos aleatorizados comparativos, isto , os ensaios clnicos
randomizados com novas drogas ou procedimentos. Esta comparao s
eticamente adequada enquanto a dvida persistir. Quando houver uma
evidncia de que um dos tratamentos mais eficaz, ou de maior risco para os
participantes, o estudo deve ser interrompido devido ao fato das drogas ou
procedimentos em teste no serem mais equipolentes. a equipolncia que
pode justificar ou no a utilizao de placebo em pesquisa. Esta uma
caracterstica que se agrega aos cuidados com a privacidade dos
participantes e com a obteno do consentimento informado para determinar a
adequao tica de um projeto de pesquisa.
A Equipolncia no implica em equivalncia entre os mtodos ou
procedimentos, mas sim em um estado de incerteza, de falta de convico
para estabelecer uma escolha.
O Prof. Robert Veatch prope que haja uma outra forma de se abordar a
equipolncia, desde o ponto de vista do participante do projeto. Os estudos
comparativos aleatrios somente podero ser realizados quando h
equipolncia de mtodos, avaliada desde o ponto de vista do pesquisador, e
desde que no haja preferncia pelo uso de qualquer um dos mtodos proposto
pelo participante. Os participantes que se declararem indiferentes frente a
qualquer uma das opes que podero ser aleatorizados.
Freedman B. Equipoise and the ethics of clinica l research. N Engl J Med 1987
Jul 16;317(3):141 -5)
-
Princpio da Beneficncia
Jos Roberto Goldim
O Princpio da Beneficncia o que estabelece que devemos fazer o bem aos
outros, independentemente de desej -lo ou no. importante distinguir es tes
trs conceitos. Beneficncia fazer o bem, Benevolncia desejar o bem e
Benemerncia merecer o bem.
Muitos autores propem que o Princpio da No -Maleficncia um elemento do
Princpio da Beneficncia. Deixar de causar o mal intencional a uma p essoa j
fazer o bem para este indivduo. Alguns denominam de beneficncia positiva e
negativa.
Princpio da No -Maleficncia
Prof. Jos Roberto Goldim
O Princpio da No -Maleficncia o mais controverso de todos. Muito autores
o incluem no Princpio da Beneficncia. Justificam esta posio por acharem
que ao evitar o dano intencional o indivduo j est, na realidade, visando o
bem do outro.
Parte da controvrsia pode ser atribuda possibilidade de ocorrer uma
situao de Sl ippery Slope. Isto ocorre quando uma ao, aparentemente de
menor ou nenhuma repercusso, agravar -se progressivamente, com tendncia
a ocorrer cada vez mais, gerando malefcios no previstos inicialmente. As
citaes a seguir ilustram algumas idias a resp eito deste princpio.
Hipcrates, ao redor do ano 430 aC, props aos mdicos, no pargrafo 12 do
primeiro livro da sua obra Epidemia:
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenas; auxilie ou no prejudique o
paciente".
Esta talvez seja a citao correta da sua famosa frase: Primum non nocere.
Esta frase no consta em qualquer texto do Corpo Hipocrtico. Vale lembrar
que durante muito tempo pensou -se que todos os textos contidos nesta obra
tivessem sido escritos por Hipcrates. Atualmente, sabe -se que o c onjunto da
obra foi escrito por vrios autores em diferentes pocas.
Hippocrates. Hippocratic writings. London: Penguin, 1983:94.
O Princpio da No -Maleficncia prope a obrigao de no inflingir dano
intencional. Este princpio deriva da mxima da tica mdica "Primum non
nocere".
O Juramento Hipocrtico insere obrigaes de No -Maleficncia e
Beneficncia:
"Usarei meu poder para ajudar os doentes com o melhor de minha habilidade e
julgamento; abster -me -ei de causar danos ou de enganar a qualquer homem
com ele."
-
Beauchamp TL, Childress JF. Principles of Biomedical Ethics. 4ed. New York:
OUP, 1994:189.
Conhecimento Perigoso
Prof. Jos Roberto Goldim
A noo de que o conhecimento pode ser perigoso no nova, j foi utilizada
na prpria Bblia. Segundo o relato do Livro do Gnesis, Ado foi expulso do
paraso por ter comido a fruta da rvore do conhecimento.
Samuel Johnson (1709 -1784), em seu romance Rasselas, o Prncipe da
Abissnia, de 1759, escreveu:
A integridade sem conhecimento dbil e intil e o conhecimento sem
integridade perigoso e temvel.
Em 1963, Karl Popper, citado por Ben -David, afirmou:
A cincia e o crescimento do conhecimento esto sempre partindo de
problemas e talvez terminando em problemas - problemas de profundidade
sempre c rescente e com uma fertilidade sempre crescente para sugerir novos
problemas.
Van Rensselaer Potter, baseando -se em um artigo seu publicado em 1967,
definiu conhecimento perigoso como sendo aquele conhecimento que se
acumulou muito mais rapidamente que a s abedoria necessria para gerenci -
lo.
Isto tornou -se evidente, em 1974, quando um grupo de pesquisadores sugeriu
uma moratria nas pesquisas que envolvessem manipulao gentica. Depois
ficou decidido que o Comit Assessor para DNA recombinante (RAC), que havia
sido criado em 1974, seria o responsvel pela elaborao das diretrizes de
Asilomar para a segurana dos experimentos com DNA recombinante. Este
documento ficou pronto em 23 de junho de 1976.
A questo que envolve a manuteno ou no das amostras d e vrus de varola
tem um forte componente de conhecimento perigoso.
Outro exemplo o atual debate sobre as questes ticas. legais e sociais do
Projeto Genoma Humano.
Reconhecer um conhecimento como sendo perigoso no significa impedir, a
priori, o seu avano. Isto seria uma medida obscurantista. Em 1956 j foi dito,
conforme citado por Potter, que
conhecimento".
Desta forma, o dilogo entre a Cincia (conhecimento) com a Filosofia
(sabedoria) uma das bases para a reflexo biotica.
Potter VR. Bioethics. Bridge to the future. Englewood Cliffs: Prentice Hall,
1971:69,70,183. Ben -David J. Sociologia da
-
Cincia. So Paulo: EFGV, 1975:38. Morin E. Cincia com conscincia. Lisboa:
Europa -Amrica, sd (1983?):17.
Dever Prima Facie
Jos Roberto Goldim
Este conceito foi proposto por Sir David Ross, em 1930. Ele propunha que no
h, nem pode haver, regras sem exceo. O dever prima facie uma obrigao
que se deve cumprir, a menos que ela entre em conflito, numa situao
particular, com um outro dever de igual ou maior porte. Um dever prima facie
obrigatrio, salvo qua ndo for sobrepujado por outras obrigaes morais
simultneas. Esta proposta j havia sido utilizada pelo Tribunal Constitucional
Alemo.
Bellino denomina os deveres prima facie de deveres penltimos. Cattorini
propos que os deveres prima facie so vlido s, geralmente, de maneira
relativa. Quando ocorre um conflito entre deveres deve ser tomada a deciso
de qual deve ser tomado como prioritrio, nesta circunstncia. Cada dever
deve ser cotejado com os demais e, dentro da complexidade inerente ao
sistema, a nalisado em conjunto para evitar conflitos de aes e efeitos
indesejados.
A melhor denominao talvez seja a de deveres priorizveis, isto , que quando
comparados entre si podem ser priorizados de acordo com a circunstncias.
Segundo Ross, os deveres p rima facie podiam ser categorizados como:
1. Deveres para com os outros devido a atos prvios de voc mesmo
los benefcios que conferiram a voc)
2. Deveres para com os outros no baseados em aes prvias
forma justa)
3. Deveres para consigo mesmo
-se fsica, intelectual e moralmente para alcanar o seu pleno
potencial
Ross WD. The right and the good. Oxford: Clarendon, 1930:19 -36.
Bellino F. Fundamentos de Biotica. Bauru: EDUSC, 1997:201.
Cattorini I. I principi dell'tica biomedica. :322
O Princpio da Precauo
Jos Roberto Goldim
Na Conferncia RIO 92 foi proposto formalmente o Princpio da Precauo. A
sua definio, dada em 14 de junho de 1992, foi a seguinte:
-
O Princpio da Precauo a garantia contra os riscos potenciais que, de
acordo com o estado atual do conhecimento, no podem ser ainda
identificados. Este Princpio afirma que a ausncia da certeza cientfica
formal, a existncia de um risco de um dano s rio ou irreversvel requer a
implementao de medidas que possam prever este dano.
Dois exemplos de conhecimento perigoso podem ser dados:
o uso da talidomida;
o surgimento da engenharia gentica.
Nos anos 1980, Hans Jonas caracterizou o Princpio da Responsabilidade. Nas
suas obras este autor realizou uma grande reflexo sobre a importncia da
valorizao do conceito do risco e da necessidade da comunidade cientfica
leva -lo em conta de forma mais responsvel. Jonas achava que os pacientes e
parti cipantes de pesquisas no tinham condies de entender adequadamente
a noo de risco e os prprios riscos que lhes so propostos. Propunha que os
pesquisadores e profissionais que deveriam, alm de informar, resguardar as
pessoas de possveis situaes de riscos previsveis.
O Principio da Precauo, que havia sido proposto em 1992, foi objeto de um
seminrio, realizado na Frana no ano 2000, onde a sua aplicao foi discutida
em diversas reas, alm da sade e do ambiente, como a comunicao social
e o Direito. Este Princpio no uma nova criao, mas sim o amadurecimento
de uma idia, que como foi brevemente apresentado anteriormente, vem
acompanhando a gerao e a aplicao do conhecimento, pelo menos nos
ltimos 2400 anos. Alguns pontos de sua defi nio mereceriam ser mais bem
debatidos ou at mesmo reformulados, como, por exemplo, a caracterizao
do que certeza cientfica formal.
O Princpio da Precauo no deve ser encarado como um obstculo s
atividades assistncias e principalmente de pesq uisa. uma proposta atual e
necessria como forma de resguardar os legtimos interesses de cada pessoa
em particular e da sociedade como um todo. O Princpio da Precauo
fundamental para a abordagem de questes to atuais e importantes como a
produo de alimentos transgnicos e a clonagem de seres humanos.
Reconhecer a existncia da possibilidade da ocorrncia de danos e a
necessidade de sua avaliao com base nos conhecimentos j disponveis, o
grande desafio que est sendo feito a toda comunidade c ientfica mundial.
Institut Servier. La prvention et la protection dans la socit du risque: le
principe de prcaution. Amsterdam: Elsevier, 2001:15 -16,23 -34.
Princpio do Respeito Pessoa ou da Autonomia
Jos Roberto Goldim
-
O Princpio do Respeit o Pessoa central na Biotica. Tem algumas
caractersticas que o compe, tais como a privacidade, a veracidade e a
autonomia. Este princpio recebeu diferentes denominaes, tais como
Princpio do Respeito s Pessoas, Princpio do Consentimento ou Prin cpio da
Autonomia, de acordo com diferentes autores em diferentes pocas.
Uma das bases tericas utilizadas para o princpio da Autonomia o
pensamento de John Stuart Mill (1806 -1883). Este autor props que
sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivduo soberano.
Em 1914, o Juiz Benjamim Cardozo, na sentena do caso Schloendorff, sobre
uma cirurgia realizada com extenso superior autorizada pela paciente,
reforou essa idia. Na sua argumentao estabeleceu que:
Todo ser humano de idad e adulta e com plena conscincia, tem o direito de
decidir o que pode ser feito no seu prprio corpo.
Kant, em sua obra Fundamentos da Metafsica dos Costumes, escrita em 1785,
props o Imperativo Categrico. De acordo com esta proposta a autonomia no
i ncondicional, mas passa por um critrio de universalidade.
A autonomia da vontade a constituio da vontade, pela qual ela para si
mesma uma lei - independentemente de como forem constitudos os objetos do
querer. O princpio da autonomia , pois, no escolher de outro modo, mas sim
deste: que as mximas da escolha, no prprio querer, sejam ao mesmo tempo
includas como lei universal.
Para Emile Durkheim a Autonomia a interiorizao das normas. Jean Piaget
caracterizava "Autonomia como a capacidade de coordenao de diferentes
perspectivas sociais com o pressuposto do respeito recproco".
O Relatrio Belmont, que estabeleceu s bases para a adequao tica da
pesquisa nos Estados Unidos, denominava este princpio como Princpio do
Respeito s Pessoa s. Nesta perspectiva propunha que a autonomia incorpora,
pelo menos, duas convices ticas: a primeira que os indivduos devem ser
tratados como agentes autnomos, e a segunda, que as pessoas com
autonomia diminuda devem ser protegidas. Desta forma, div ide -se em duas
exigncias morais separadas: a exigncia do reconhecimento da autonomia e
a exigncia de proteger aqueles com autonomia reduzida.
Uma pessoa autnoma um indivduo capaz de deliberar sobre seus objetivos
pessoais e de agir na direo desta deliberao. Respeitar a autonomia
valorizar a considerao sobre as opinies e escolhas, evitando, da mesma
forma, a obstruo de suas aes, a menos que elas sejam claramente
prejudiciais para outras pessoas. Demonstrar falta de respeito para com um
ag ente autnomo desconsiderar seus julgamentos, negar ao indivduo a
liberdade de agir com base em seus julgamentos, ou omitir informaes
necessrias para que possa ser feito um julgamento, quando no h razes
convincentes para fazer isto.
-
Nem todas as pessoas tem a capacidade de se auto -determinar. Esta
capacidade matura durante a vida do indivduo, e algumas pessoas perdem
esta capacidade total ou parcialmente devido a doenas, distrbios mentais ou
circunstncias que severamente restrinjam a liberdade . O respeito para com o
imaturo e para com o incapaz pode requere sua proteo na medida que
amadurecem ou enquanto estiverem incapazes."
Beauchamp e Childress, reduziram o Princpio do Respeito Pessoa para
Autonomia. Estes autores admitem que a "autonom ia tem diferentes
significados, to diversos como auto -determinao, direito de liberdade,
privacidade, escolha individual, livre vontade, comportamento gerado pelo
prprio indivduo e ser propriamente uma pessoa".
O conceito de Autonomia adquire especificidade no contexto de cada teoria.
Virtualmente, todas as teorias concordam que duas condies so essenciais
autonomia:
o liberdade (independncia do controle de influncias) e
o ao (capacidade de ao intenci onal).
Um indivduo autnomo age livremente de acordo com um plano prprio, de
forma anloga que um governo independente administra seu territrio e
estabelece suas polticas. Uma pessoa com autonomia diminuda, de outra
parte, , pelo menos em algum aspe cto, controlada por outros ou incapaz de
deliberar ou agir com base em seus desejos e planos. Por exemplo, pessoas
institucionalizadas, tais como prisioneiros ou indivduos mentalmente
comprometidos tem autonomia reduzida. A incapacidade mental limita a
autonomia assim como a institucionalizao coercitiva dos prisioneiros,
porm estes indivduos continuam a merecer o respeito como pessoas.
O Princpio da Autonomia no pode mais ser entendido apenas como sendo a
auto -determinao de um individuo, esta apenas uma de suas vrias
possveis leituras. A incluso do outro na questo da autonomia trouxe, desde
o pensamento de Kant, uma nova perspectiva que alia a ao individual com o
componente social. Desta perspectiva que surge a responsabilidade pelo
resp eito pessoa, que talvez seja a melhor denominao para este princpio.
Beauchamp TL, Childress JF. Principles of Bioemdical Ethics. 4ed. New York:
Oxford, 1994:260.
Cardozo, Benjamin. 1914. Dissenting opinion in Schloendorff v. Society of New
York Hospi tal. 211 N.Y. 125, 105 N.E. 92.
Charlesworth M. La biotica en una sociedad liberal. Cambridge: Cambridge,
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Engelhardt HT. Fundamentos de Biotica. So Paulo: Loyola, 1998:17.
Kamii C. A criana e o nmero. Campinas: Papirus, 1985:103,108.
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Kesselring T. Jean Piaget. Petrpolis: Vozes, 1993:173 -189.
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-
The Belmont Report: Ethical Guidelines for the Protection of Human Sub jects.
Washington: DHEW Publications (OS) 78 -0012, 1978
Eugenia Prof.
Jos Roberto Goldim
Ao longo da histria da humanidade, vrios povos, tais como o s gregos, celtas,
fueginos (indgenas sul -americanos), eliminavam as pessoas deficientes, as
mal -formadas ou as muito doentes.
O termo Eugenia foi criado por Francis Galton (1822 -1911), que o definiu como:
O estudo dos agentes sob o controle social que po dem melhorar ou
empobrecer as qualidades raciais das futuras geraes seja fisica ou
mentalmente.
Galton publicou, em 1865, um livro "Hereditary Talent and Genius" onde
defende a idia de que a inteligncia predominantemente herdada e no fruto
da ao ambiental. Parte destas concluses ele obteve estudando 177
biografias, muitas de sua prpria famlia.
No seu livro, Galton propunha que "as foras cegas da seleo natural, como
agente propulsor do progresso, devem ser substituidas por uma seleo
consci ente e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo
estudo e o processo da evoluo nos tempos passados, a fim de promover o
progresso fsico e moral no futuro".
O argentino Jos Ingenieros publicou, em 1900, um texto, posteriormente
divulg ado como um livro, denominado "La simulacin en la lucha por la vida".
Neste texto incluem -se algumas consideraes eugnicas, tais como:
"Por acaso, os homens do futuro, educando seus sentimentos dentro de uma
moral que reflita os verdadeiros interesses da espcie, possam tender at uma
medicina superior, seletiva; o clculo sereno desvanecera uma falsa educao
sentimental, que contribui para a conservao dos degenerados, com srios
prejuzos para a espcie".
Em 1908, foi fundada a "Eugenics Society" e m Londres, primeira organizao a
defender estas idias de forma organizada e ostensiva. Um de seus lderes era
Leonard Darwin (1850 -1943), oitavo dos dez filhos de Charles Darwin. Ele era
militar e engenheiro. Em vrios pases europeus (Alemanha, Frana,
Dinamarca, Tchecoslovquia, Hungria, ustria, Blgica, Suia e Unio
Sovitica, dentre outros) e americanos (Estados Unidos, Brasil, Argentina,
Per) proliferaram sociedades semelhantes.
Segundo Oliveira, a Sociedade Paulista de Eugenia, foi a primeira do Brasil,
tendo sido fundada em 1918.
Na edio de 1920, Ingenieros ressaltou, em nota de rodap, que as suas
opinies haviam sido confirmadas pela rpida difuso das idias eugenistas
em diferentes partes do mundo.
-
O 1o. Congresso Brasileiro de Eugenismo foi realizado no Rio de Janeiro, em
1929. Um dos temas abordado era "O Problema Eugnico da Migrao". O
Boletim de Em maro de 1931 foi criada a Comisso Central de Eugenismo,
sendo o seu presidente Renato Kehl e o Prof. Belisrio Pena um dos membros
da d iretoria. Os objetivos desta Comisso eram os seguintes:
1. manter o interesse do estudo de questes eugenistas no pas;
2. difundir o ideal de regenerao fsica, psquica e moral do homem;
3. prestigiar e auxiliar as iniciativas cientficas ou humanitrias de carter
eugenista que sejam dignas de considerao.
Em vrios pases foram propostas polticas de "higiene ou profilaxia social",
com o intuito de impedir a procriao de pessoas portador as de doenas tidas
como hereditrias e at mesmo de eliminar os portadores de problemas fsicos
ou mentais incapacitantes.
Jimnez de Asa defendeu a idia de que as polticas alem, italiana e
espanhola nesta rea no eram eugenistas, mas sim "racismo" oriundo do
nacional -socialismo alemo. Vale lembrar que as idias alems se originaram
do trabalho do Conde de Gobineau - "Ensaio sobre a desigualdade das raas
humanas" - publicado em 1854. Antes, portanto, das idias darwinistas terem
sido divulgadas e d o termo Eugenia ter sido criado. O Conde de Gobineau
esteve no Brasil, onde coletou dados. Neste ensaio foi feita a proposta da
superioridade da "raa ariana", posteriormente levada a extremo pelos
tericos do nazismo Gnther e Rosenberg nos anos de 1920 a 1937. Outro
autor alemo, Gauch, afirmava que havia menos diferenas anatmicas e
hsitolgicas entre o homem e os animais, do que as verificadas entre um
nrdico (ariano) e as demais "raas". Isto acabou sendo objeto de legislao
em 1935, atravs das " L eis de Nuremberg", que proibiam o casamento e o
contato sexual de alemes com judeus, o casamento de pessoas com
transtornos mentais, doenas contagiosas ou hereditrias. Para casar era
preciso obter um certificado de sade. Em 1933 j haviam sido publicad as as
leis que propunham a esterilizao de pessoas com problemas hereditrios e a
castrao dos delinquentes sexuais.
Jimnez de Asa propunha que a Eugenia deveria se ocupar de trs grandes
grupos de problemas: a obteno de uma descendncia saudvel (p rofilaxia), a
consecuo de matromnios eugnicos (realizao) e a paternidade e
maternidade consciente (perfeio).
A profilaxia seria obtida atravs de aes tais como: combate s doenas
venreas, prostituio e pela caracterizao do delito de cont gio venreo.
A realizao ocorreria atravs da casais eugnicos e do reconhecimento
mdico pr -matrimonial.
A perfeio proporia meios para que fosse possvel a limitao da
natalidade, os meios anticoncepcionais, a esterilizao, o aborto e a
eutan sia.
-
Com o desenvolvimento das modernas tcnicas de diagnstico gentico, do
debate sobre os temas do aborto, da eutansia e da repercusso da epidemia
de AIDS, muitas destas idias so discutidas com base em pressupostos
eugnicos, sem que este referenci al seja explicitamente referido.
Jimnes de Asa L. Libertad para amar y derecho a morir. Buenos Aires:
Losada, 1942:25 -45.
Ingenieros J. La simulacin en la lucha por la vida. 12ed. Buenos Aires:
Schenone, 1920:166.
Oliveira R. tique et medicine au Bre sil. Villeneuve Dscq
(France):Septentrion, 1997:90 -95.
Cdigo de Nuremberg
Tribunal Internacional de Nuremberg - 1947
Trials of war criminal before the Nuremberg Military Tribunals. Control Council
Law 1949;10(2):181 -182.
1 - O consentimento voluntrio do ser humano absolutamente essencial. Isso
significa que as pessoas que sero submetidas ao experimento devem ser
legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o
livre direito de escolha sem qualquer interveno de elementos de for a,
fraude, mentira, coao, astcia ou outra forma de restrio posterior; devem
ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem uma deciso.
Esse ltimo aspecto exige que sejam explicados s pessoas a natureza, a
durao e o propsito do exp erimento; os mtodos segundo os quais ser
conduzido; as inconvenincias e os riscos esperados; os efeitos sobre a sade
ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente possam ocorrer, devido
sua participao no experimento. O dever e a responsabili dade de garantir a
qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige
um experimento ou se compromete nele. So deveres e responsabilidades
pessoais que no podem ser delegados a outrem impunemente.
2 - O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a
sociedade, que no possam ser buscados por outros mtodos de estudo, mas
no podem ser feitos de maneira casustica ou desnecessariamente.
3 - O experimento deve ser baseado em resultados de experimentao em
anima is e no conhecimento da evoluo da doena ou outros problemas em
estudo; dessa maneira, os resultados j conhecidos justificam a condio do
experimento.
4 - O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e
danos desnecessrios, que r fsicos, quer materiais.
5 - No deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razes
para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez,
quando o prprio mdico pesquisador se submeter ao experimento.
6 - O grau d e risco aceitvel deve ser limitado pela importncia do problema
que o pesquisador se prope a resolver.
-
7 - Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do
experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que
remota.
8 - O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente
qualificadas.
9 - O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer
do experimento.
10 - O pesquisador deve estar preparado para suspender os proc edimentos
experimentais em qualquer estgio, se ele tiver motivos razoveis para
acreditar que a continuao do experimento provavelmente causar dano,
invalidez ou morte para os participantes.
Comit de Biotica
a) um grupo interdisciplinar, composto por profissionais de sade e de outras
reas, assim como de representantes da comunidade, que tem por objetivo
auxiliar na reflexo de dilemas morais que surgem na ateno individual de
pacientes, prestar consultori as, ensinar, pesquisar, e sugerir normas
institucionais em assuntos que envolvam questes ticas;
b) corpo interdisciplinar de pessoas que tem por objetivo ensinar, pesquisar,
prestar consultorias e sugerir normas institucionais em assuntos ticos
(modific ado de Tealdi e Mainetti);
c) grupo multidisciplinar de profissionais de sade em uma instituio de
sade, que realiza a funo de administrar dilemas ticos que ocorram dentro
da instituio (Cranford e Dundera);
d) grupos multidisciplinares que se rene m para melhorar a qualidade tica
das decises mdicas e avaliar a moralidade de tudo que se relaciona com
uma possvel interveno na vida humana ( Maria Jlia Bertomeu);
Goldim JR, Francisconi CF. Os comits de tica hospitalar. Revista de
Medicina ATM 1 995;15(1):327 -334.
Teel K. The physician's dilemma; a doctor's view: what the law should be.
Baylor Law Review 1975;27:6 -9
Bertomeu MJ. Implicaes filosficas na reflexo, discurso e ao dos Comits
de tica. Biotica 1995; 3:21 -27.
-
2a Aul a de Biotica
Prof. Ncolas Lavor de Albuquerque
A biotica na experimentao animal I: Princpios nacionais e internacionais,
modelo experimental.
INTRODUO
Sob o ponto de vista das cincias biolgicas os animais representam um elo
importante entre as pretenses cientficas e as conquistas de fato, sob o ponto
de vista de outros um tipo de "holocausto" que no deveria existir.
Para alguns crticos, a quest o da experimentao animal tm sido abordada
como uma questo meramente tcnica, isto , a pertinncia de seus mtodos
questionada.
Para outros, a questo da experimentao animal tm sido abordada como
uma questo tica, isto , a nossa relao com os animais vista como uma
questo da moralidade.
Uma outra questo, que tm afetado nossas vidas profundamente, a cincia.
Na busca incessante pelo conhecimento, a relao com a natureza foi sendo
modificada e, em diversos momentos, o domnio do homem fo i criando novas
realidades, ampliando o universo em que se encontra e chegamos no momento
presente em que, como diz Giorgio Prodi, "A vida, pelo conhecimento, chegou
-
ao ponto de poder influenciar a si prpria enquanto mecanismo biolgico"
(Prodi, 1993: 29) .
Toda essa busca de uma narrativa que faa sentido no contexto atual do
debate da experimentao animal relevante se, de fato, acreditamos que
uma "moral vale na medida em que ela se prope a nos colocar em jogo" e no
possa ser resumida "com uma palav ra servil: imperativo" (Bataille, 1945:50).
Nesse caso, antes de se dar incio a partida, preciso levar em conta duas
proposies bsicas:
1- quanto s "regras do jogo" a questo da imparcialidade nos julgamentos
morais um elemento essencial de qualq uer sistema tico. E ento, aps uma
anlise imparcial que se verifica a aplicabilidade da biotica, ao recrutar os
melhores argumentos a fim de sustentar os comportamentos, e portanto,
considerados moralmente melhores.
2- quanto aos "jogadores" a que sto dos critrios eleitos para atribuio do
"status moral" relevante para se definir o "jogador".
nesse momento que comearemos a entender o papel das "razes" e das
"emoes", dos seres humanos e dos seres no humanos, e por isso est feito
o convit e reflexo: "Experimentao animal: razes e emoes para uma
tica".
Paixo, Rita Leal. Experimentao animal: razes e emoes para uma tica.
[Doutorado] Fundao Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Sade Pblica; 2001.
189 p.
A EXPERIMENTAO ANIMAL
1.1 O que a "experimentao animal"?
Inicialmente, o que se entende por "experimentao animal"? Entende -se por
experimentao um "procedimento levado a efeito, visando a descobrir
princpio ou efeito desconhecido, pesquisar uma hiptese ou ilu strar um
princpio ou fato conhecido." (Blakiston, s/d: 414). No caso da "experimentao
animal", refere -se a procedimentos realizados em animais. No se pretende
definir aqui o que um animal, sendo considerada uma abordagem ampla,
entendida como seres p ertencentes ao Reino Animalia, excluindo -se os
animais humanos.
Alguns grupos de proteo animal e opositores experimentao animal, no
entanto, preferem utilizar o termo "vivisseco", que tem sua origem no latim,
com a juno de "vivus" (vivo) e "sect io" (corte, seco). Logo, "vivisseco"
quer dizer "cortar um corpo vivo", enquanto o termo "disseco" refere -se a
"cortar um corpo morto".
-
Um aspecto que deve ser citado que a "experimentao animal" pode se
referir ao estudo em animais para um maior conhecimento deles prprios, e
possveis aplicaes na prpria sade e bem -estar dos animais, tal como
ocorre especialmente no campo da medicina veterinria. No entanto, de forma
mais freqente, os animais so utilizados como "modelos"(3), a fim de que se
obtenha conhecimento e possveis benefcios para a espcie humana. Esse
tipo de pesquisa biomdica que ser constantemente o foco principal das
crticas, tanto em seus aspectos morais quanto cientficos. O termo "pesquisa
biomdica", tambm pode ser uti lizado para ambas as situaes (Smith &
Boyd, 1991: 9 -10).
Princpios Gerais da Pesquisa com Animais
Prof. Jos Roberto Goldim
Biol. Marcia Mocellin Raymundo
A utilizao de animais em pesquisas deve guiar -se por alguns princpios
orientadores, tais como o da sua importncia para os seres humanos e da
justificativa da prpria experimentao cientfica neste tipo de modelo.
Os seres humanos so mais importantes que os animais, mas os animais
tambm tem importncia. Esta importncia , tambm, diferenciada entre as
espcies animais, isto , no se pode colocar em um mesmo nvel um
chimpanz e uma r.
A experimentao cientfica em animais importante. Algumas pesquisas tem
mais importncia do que outras, porm existem propostas que, por serem
inadequadas, desde o ponto de vista tico, moral ou metodolgico, devem ser
at mesmo impedidas de serem realizadas.
A possibilidade de generalizao dos conhecimentos obtidos em animais no
deve justificar todo e qualquer experimento. Nem todos os conhecimentos
ger ados em modelos animais so plenamente transponveis ao ser humano.
O conflito entre o bem dos seres humanos e o bem dos animais deve ser
evitado sempre que possvel. Ou seja, devemos buscar estabelecer estratgias
para minimizar este confronto, porm no negando a sua existncia.
A avaliao da necessidade da utilizao de animais em experimentos
cientficos pode ser realizada em dois diferentes estgios :
o pesquisador deve caracterizar que este o nico meio de estudar a
situao proposta, no have ndo possibilidade de outro mtodo alternativo
disponvel;
a caracterizao da necessidade deve demonstrar que a pesquisa
indispensvel, imperativa ou requerida.
A pesquisa considerada indispensvel quando essencial para que alguma
coisa seja feit a ou ocorra. Por exemplo, quando realmente pode contribuir para
o conhecimento bsico ou em atividades de ensino ou formao profissional.
-
A pesquisa considerada imperativa quando est associada a uma prioridade
maior, tais como as realizadas com o obje tivo de minorar o sofrimento de
pessoas com AIDS, cncer ou outras doenas graves.
A pesquisa requerida quando demandada por uma deciso legal. Neste
caso enquadram -se os testes de novas drogas e de toxicidade de substncias.
Em 1959, Russel e Burch estabeleceram os trs Rs da experimentao animal:
replace, reduce e refine .
A substituio dos animais (replace) por outros mtodos alternativos, tais
como: testes in vitro, modelos matemticos, simulaes por computador, deve
ser estimulada. O estabele cimento de alternativas de modelos no -animais
para experimentao e utilizao em testes clnicos deve atender a duas
importantes exigncias :
1. o risco de um teste no -animal, se utilizado como rotina, deve ser igual
ou inferior ao gerado pelo teste em animais, j em uso corrente,
principalmente no que se refere a taxa de resultados falsos negativos;
2. o novo procedimento deve aumentar a eficincia do teste atualmente
utilizado.
As justificativas empregadas por vrios autores para a reduo de pesquisas
cientficas em animais (reduce) envolvem questes ticas e morais; de
compaixo; de conservao ambiental; de natureza cientfica, econmica,
poltica e at mesmo as requeridas por lei . A reduo do nmero de animais
utilizados, acompanhada pelo aumento da qualidade do tratamento estatstico
dado para pequenas amostras, pode ser uma importante alternativa. As
Normas de Pesquisa em Sade (Resoluo CNS 01/88), que vigoraram no Brasil
de 1988 at outubro de 1996, estavam plenamente de acordo com es ta
proposta. Estas Normas propunham que deveriam ser utilizados um mnimo de
animais com um mximo de informaes. Nas novas Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resoluo
CNS196/96) esta colocao no foi mantida e a questo dos animais foi
omitida, exceto quanto a sua necessidade prvia a realizao de testes em
seres humanos.
O refinamento das tcnicas utilizadas (refine) tem por objetivo minimizar a dor
e o sofrimento nos experimentos em animais. Estes procediment os incluem
cuidados de analgesia e assepsia nos perodos pr, trans e ps -operatrio.
Podemos incluir tambm neste item as questes metodolgicas e estatsticas
que permitem analisar dados obtidos em amostras progressivamente menores.
Finalizando, a pesqu isa em animais deve ser realizada utilizando -se alguns
critrios normativos mnimos, como:
definir objetivos legtimos para a pesquisa em animais;
impor limites a dor e sofrimento;
garantir tratamento humanitrio;
avaliar previamente os projeto s por um Comit independente;
fiscalizar instalaes e procedimentos, e
-
garantir a responsabilizao pblica .
Goldim JR, Raymundo MM. Pesquisa em Sade e os Direitos dos Animais. 2 ed.
Porto Alegre: HCPA, 1997.
Pesquisa em Modelos Anim ais Jos
Roberto Goldim
Mrcia Mocellin Raymundo
A questo dos direitos dos animais e a sua utilizao em pesquisas vem sendo
discutida desde o sculo XVII. O filsofo Jeremy Bentham, em 1789, j
questionava:
A questo no podem eles raciocinar ?
Ou ento, podem eles falar ?
Mas, podem eles sofrer ?
Claude Bernard, em 1865, tambm se pronunciou sobre este mesmo assunto:
"Ns temos o direito de fazer experimentos animais e viviseco ? Eu penso
que temos este direito, total e absolutamente. Seria estranho se
reconhecessemos o direito de usar os animais para servios caseiros e
alimentao, mas proibir o seu uso para o ensino de uma das cincias mais
teis para a humanidade. Experimento s devem ser feitos tanto no homem
quanto nos animais. Penso que os mdicos j fazem muitos experimentos
perigosos no homem, antes de estud -los cuidadosamente nos animais. Eu no
admito que seja moralmente aceitvel testar remdios mais ou menos
perigosos ou ativos em pacientes hospitalizados, sem primeiro experiment -
los em ces. Eu provarei, a seguir, que os resultados obtidos em animais
podem ser todos conclusivos para o homem, quando ns sabemos como
experimentar adequadamente. "
A pesquisa em animais deve ter como diretrizes mnimas:
a definio de objetivos legtimos;
a imposio de limites dor e ao sofrimento;
a fiscalizao de instalaes e procedimentos;
a garantia de tratamento humanitrio, e
a responsabilizao pblica.
-
O livr o "Animal Liberation", de Peter Singer, publicado em 1975, causou uma
polmica mundial, principalmente nos relatos das condies que os animais
eram submetidos pela indstria de cosmticos e no processo de produo de
alimentos. Em consequncia disto, nos EEUU, de 1980 a 1989, os grupos de
defesa dos direitos dos animais realizaram mais de 29 aes contra
instalaes de pesquisa, roubando 2000 animais, causando um prejuzo de
mais de 7 milhes de dlares em equipamentos e interrompendo pesquisas em
andament o.
Leis e Cdigos
Graas ao bom senso e conscientizao de grande parte dos nossos
pesquisadores e professores, foram adotados alguns princpios ticos
fundamentais e imprescindveis e buscou -se obter recomendaes, no nvel
internacional, e so el as que hoje norteiam as boas prticas do bioterismo
nacional.
Mas apenas isto no suficiente. Precisamos perseguir a proteo e o
respaldo legal para podermos exercer a nossa profisso com respeito,
honestidade e decncia, sem que sejamos vtimas de qua lquer tipo de estigma,
etc. A sociedade em geral no pode agir como se o trabalho experimental com
animais no fosse de sua competncia, ou se acomodar sob declaraes que
demonstram uma posio simplista que j deveria estar totalmente superada
em nosso pas.
No Brasil, a lei 6.638/79 foi a primeira a estabelecer normas para a prtica
didtico -cientfica da vivisseco de animais. Esta Lei estipula que somente
estabelecimentos de terc eiro grau podem realizar atividades didticas com
animais, desde que no causem sofrimento aos mesmos.
O Cdigo Estadual de Proteo aos Animais, (Lei 11915/2003), de 23 de maio
de 2003, vlido no Rio Grande do Sul, mantm estas caractersticas e
acrescent a outras de mbito mais geral. Este Cdigo prope a criao de
Comisses de tica para pesquisa em animais, a exemplo das j existentes
para pesquisa em seres humanos. As Diretrizes para a utilizao de animais
em experimentos cientficos, propostas em 200 0, e utilizadas sob a forma de
auto -regulamentao pelo Hospital de Clnicas de Porto Alegre, j
contemplavam importantes questes agora transformadas em lei estadual.
Dentre elas cabem destacar as relativas ao uso de anestsicos, relaxantes
musculares e f ormas de morte para os animais.
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O Projeto de Lei 1153, de 1995, foi aprovado na Cmara dos Deputados em 25
de junho de 2003. Este projeto estabelece uma srie de normas sobre a
utilizao de animais em atividades de ensino, pesquisa e experimentao.
A u tilizao de animais em pesquisas deve guiar -se por alguns princpios
orientadores, tais como:
que os seres humanos so mais importantes que os animais, mas os
animais tambm tem importncia, diferenciada de acordo com a espcie
considerada;
que nem tudo o que tecnicamente possvel de ser realizado deve ser
permitido;
que nem todo o conhecimento gerado em pesquisas com animais
plenamente transponvel ao ser humano;
que o conflito entre o bem dos seres humanos e o bem dos animais deve
ser evi tado sempre que possvel.
Desta forma, a utilizao de animais em projetos de pesquisa deve ser uma
alternativa ao uso de seres humanos e ser indispensvel, imperativa ou
requerida.
tica e Pesquisa em Animais Silvestres Jos
Roberto Goldim
Habitualmente, quando se fala em tica e Pesquisa em Animais logo so
lembradas pesquisas realizadas em laboratrios com animais criados
especialm ente para este tipo de atividades visando a sua transposio para os
seres humanos. Os estudos em animais so considerados como uma etapa
importante para a pesquisa na rea da sade, por exemplo. Estes animais so
selecionados, criados em biotrios com tod os os cuidados de segurana
biolgica, reconhecimento de origem e linhagem, alojamento, alimentao e
cuidados ambientais. Porm outros animais tambm so objeto de pesquisa,
que so os animais silvestres. Estes animais por estarem no ambiente natural
no tem estes cuidados descritos anteriormente, mas exigem por parte dos
pesquisadores e demais pessoas envolvidas na reflexo sobre aspectos ticos
da pesquisa algumas consideraes, alm daquelas estabelecidas nas
legislaes especficas sobre captura e man ejo de animais silvestres.
Uma importante questo inicial a da pretensa relao de proximidade entre
as espcies a serem estudadas com a espcie humana. A maioria da
legislaes sobre pesquisa em animais refere -se apenas a utilizao de
animais vertebr ados. Os invertebrados ficam em uma situao de desamparo
legal. A suposta distncia evolutiva faz com que estudos e procedimentos nos
invertebrados sejam realizados sem os cuidados que habitualmente so
propostos e utilizados para as demais espcies.
-
A prpria coleta dos animais silvestres para fins de estudo tem
implicaes ticas. As coletas, para colees didticas redundantes, tambm
tem esta mesma caracterstica. O objetivo pode ser o de instrumentalizar o
aluno em buscar, coletar e pre parar adequadamente uma coleo de animais,
porm existem alternativas que permitem este aprendizado sem estas
inadequaes. Outras vezes so realizadas coletas por esgotamento, ou seja,
todos os espcimes existentes em um determinado local so coletados c om a
finalidade de demonstrar variabilidades locais ou determinar que efetivamente
era uma nova espcie que estava sendo descrita. Isto acarreta a extino
daquela espcie naquele local especfico, o que inadequado desde o ponto
de vista cientfico, tic o e ecolgico.
Algumas vezes a questo no se esgota na coleta dos animais
silvestres, mas tambm na maneira com que so manipulados visando a sua
conservao em colees. As tcnicas que visam conservar os animais da
melhor forma possvel, nem sempre so as mais adequadas, desde o ponto de
vista do sofrimento destes animais. Isto ocorre em espcies que no tem apelo
afetivo, quer seja por estarem aparentemente mais distantes da espcie
humana, como no caso dos invertebrados, ou por serem ma nejadas
habitualmente ser reconhecer o sofrimento, como no caso dos peixes.
As pesquisas com animais silvestres tem vrias outras implicaes. A
prpria presena dos pesquisadores acarreta modificaes nos hbitos,
comportamentos e habitats. Por mais dissimulada que seja a presena, ela
sempre implicar em alguma mudana ambiental. Quando ocorrem interaes
entre os pesquisadores e os animais esta situao pode se agravar, inclusive
com a possibilidade de contaminao recproca de doenas.
Outra situao a que diz respeito a captura de animais para fins de pesquisa
ou experimentao. Estes procedimentos devem ser embasados na avaliao
da gerao de conhecimento que resultar desta pesquisa, da sua
exeqibilidade e da relevncia da mesma. O s cientistas tm se utilizado de
algumas situaes peculiares para obterem material de pesquisa, como por
exemplo nos estudos sobre hbitos alimentares e de verminoses. proibido
abater animais com finalidade de obter o contedo visceral, utilizado nestas
pesquisas. Uma forma utilizada, que legalmente adequada, a obteno
deste material quando ocorre a temporada de caa. Os pesquisadores
solicitam aos caadores que permitam a utilizao das vsceras dos animais
abatidos. O argumento que os animais fo ram mortos, com autorizao para
outra finalidade, e que esto apenas coletando um material biolgico que
habitualmente e descartado. Uma importante questo tica que poderia ser
levantada a da possibilidade de uma mesma pessoa desempenhar estes dois