bioética e legislação

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1 Bioética e Legislação Bioética e Legislação José Jadilson Nunes de Macedo

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  • Jos Jadilson Nunes de Macedo

    1 Biotica e Legislao

    Biotica e Legislao Jos Jadilson Nunes de Macedo

  • Jos Jadilson Nunes de Macedo

    2 Biotica e Legislao

    Biotica e Legislao

    / Jos Jadilson Nunes de Macedo.

    Macei, 2012. 114f.; 26cm

    UAB Universidade Aberta do Brasil

    1. Biotica e Legislao I.De Macedo, Jos Jadilson Nunes.

  • Jos Jadilson Nunes de Macedo

    3 Biotica e Legislao

    SUMRIO Unidade I

    Bases Conceituais da Biotica ...................................................................................... 4 1.1 Delimitao conceitual ....................................................................................... 5 1.2. Antecedentes ...................................................................................................... 5 1.3. Breve histrico ................................................................................................... 7 1.4. Cdigo de Nuremberg ....................................................................................... 9 1.5. Declarao Universal dos Direitos Humanos .................................................. 12 1.6. Declarao de Helsinque - outubro/2000 ........................................................ 17

    Unidade II tica, Biotica e Cidadania ......................................................................................... 23

    2.1. tica e Moral ................................................................................................... 24 2.3. Principais temas da Biotica ............................................................................ 26 2.4. Onde a Biotica interfere ................................................................................. 27

    Unidade III Temas de Biotica:Relao Vida e Morte .................................................................. 29

    3.1. Reflexo sobre vida e o direito vida digna ................................................... 30 3.2. Anencefalia ...................................................................................................... 31 3.4. Eutansia .......................................................................................................... 33 3.5. Estudos de Casos ............................................................................................. 36

    Unidade IV Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica ................................................... 39

    4.1 Clonagem .......................................................................................................... 40 4.2 - Tipos de clonagem: ........................................................................................ 40 4.3. Transgnicos .................................................................................................... 43 4.4. Estudos de Casos ............................................................................................. 45

    Unidade V Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia ................................................................. 49

    5.1. Reproduo Assistida ...................................................................................... 50 5.2. Eugenia ............................................................................................................ 53 5.3. Estudos de Casos ............................................................................................. 55

    Unidade VI Legislao e Biotica .................................................................................................. 57

    1. Declarao Universal sobre Biotica e Direitos Humanos ................................. 58 2. Lei de Biossegurana .......................................................................................... 87

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................................ 114

  • Bases Conceituais da Biotica

    4 Biotica e Legislao

    Unidade I Bases Conceituais da Biotica

  • Bases Conceituais da Biotica

    5 Biotica e Legislao

    1.1 Delimitao conceitual

    O Moderno Dicionrio da Lngua Portuguesa Michaelis define biotica

    como: Conjunto de consideraes que pressupe a responsabilidade moral dos

    mdicos e bilogos em suas pesquisas tericas e na aplicao delas.

    A publicao do termo biotica no livro Bioethic: Bridge to the Future,

    feita por Van Rensselaer Potter em 1971, atribuiu a ele a introduo do termo na

    literatura cientfica.

    "Eu proponho o termo Biotica como forma de enfatizar os dois

    componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que to

    desesperadamente necessria: conhecimento biolgico e valores humanos.

    (Van Rensselaer Potter, Bioethics. Bridge to the future. 1971)

    Quem foi Potter? O Prof. Van Rensselaer Potter era Doutor em Bioqumica, pesquisador e professor na rea de Oncologia no Laboratrio McArdle da Universidade de Wisconsin. O Prof. Potter faleceu em 07 de setembro de 2001, aos 90 anos de idade, na cidade de Madison/EUA, cercado por sua famlia.

    Acesso em 01/09/11. http://www.sogab.com.br/apbioetica.htm

    Seguindo Potter, outras publicaes foram surgindo,

    firmando cada vez mais o termo biotica e os trabalhos

    relacionados tica mdica. Como exemplo h a Encyclopedia

    of Bioethics, publicada em 1978, por 285 autores coordenados

    por Warren T. Reich.

    1.2. Antecedentes

    A preocupao com a Biotica existia antes de Potter publicar seus

    estudos, como possvel verificar nos relatos do Comit de Seatlle, no artigo de

    Beecher, o caso de Barnard e Tuskegee, dentre outros. Veja, abaixo, trechos do

  • Bases Conceituais da Biotica

    6 Biotica e Legislao

    livro de Fernando Lolas, Biotica O que , como se faz, de 2001, que retrata um

    pouco desses acontecimentos.

    Um artigo da revista Life de novembro de 1962 narrava a histria do

    primeiro comit que teve a responsabilidade de decidir quem poderia fazer um

    tratamento ento novo: a hemodilise. Seu ttulo era Eles decidem quem vive e

    quem morre.

    Os mdicos, do comit de Seatlle, viro-se perante a delicada

    responsabilidade de decidir quem se salvaria e quem morreria. Uma deciso

    difcil, especialmente quando h a certeza de um tratamento eficaz.

    Henry Beecherm, professor de anestesia de Harvard, publicou um

    artigo em 1966, na revista mdica New England Journal of Medicine. Com o

    ttulo de tica e investigao clnica, mostrava que mais ou menos 12 por

    cento dos artigos mdicos publicados em 1964 numa importante revista

    empregavam procedimentos avessos tica.

    Christiaan Neethling Barnard fez o primeiro transplante de corao do

    mundo, na Cidade do Cabo, frica do Sul. Um corao, para ser transplantado,

    deve ser removido de um corpo que est num estado paradoxal de morto-vivo.

    evidente que essa tcnica lanava perguntas de difcil resposta: quando algum

    considerado morto? Esse momento determinado pela cincia, pela prtica ou

    pela Lei? Se morre o crebro, morre tambm a pessoa?

    O Estudo da Sfilis Tuskegee foi um ensaio clnico levado a cabo pelo

    Servio Pblico de Sade dos Estados Unidos em Tuskegee, Alabama, entre

    1932 e 1972, no qual 399 afro-americanos analfabetos e pobres, com sfilis, e

  • Bases Conceituais da Biotica

    7 Biotica e Legislao

    mais 201 indivduos saudveis para comparao, foram usados como cobaias na

    observao da progresso natural da sfilis sem medicamentos.

    Os voluntrios, todos negros, jamais foram informados sobre os objetivos dos

    estudos, tampouco sobre os riscos que corriam, tendo-lhes sido dito que tinham

    "mau sangue" e que se participassem receberiam tratamento mdico gratuito,

    transporte para a clnica, refeies e a cobertura das despesas de funeral.

    A denncia do caso imprensa por um membro da equipa ditou o fim do

    estudo. Como repercusso desse caso, vrios institutos de tica mdica e

    humana foram criados.

    1.3. Breve histrico

    Algumas datas e acontecimentos relacionados Biotica:

    1933-1945 Perodo nazista e 2 Guerra Mundial. Nesse perodo,

    aconteceram fatos importantes que iriam incluir progressivamente as

    instituies mdicas na formulao e realizao de polticas pblicas

    eugenistas e racistas, formuladas desde 1924 por Hitler em seu livro-

    propaganda Mein Kampf.

    1947 Cdigo de Nuremberg.

    1948 Declarao Universal dos Direitos Humanos ONU.

    1964 Declarao de Helsinki Assembleia Mdica Mundial e

    posteriores verses (1975, 1983, 1989, 1996, 1999 e 2000).

    1953 - A Estrutura do DNA descoberta e a biologia molecular abre as

    perspectivas aplicadas da engenharia gentica.

  • Bases Conceituais da Biotica

    8 Biotica e Legislao

    1960 - Comit de Seleo de Dilise de Seattle. A ideia de transferir uma

    deciso mdica de salvar vidas para um comit de leigos abalou a

    tradicional confiana na relao mdico-paciente.

    1960 - A Plula Anticoncepcional. A vida sexual e social ocidental foi

    revolucionada pelo uso generalizado da plula anticoncepcional,

    possibilitando a emergncia de uma Biotica Feminista, sobre a

    autonomia da mulher em gerir seu corpo. Seguiram-se debates sobre a

    questo do aborto.

    1966 Um artigo de Henry Beecher, publicado no New England

    Journal of Medicine denunciou inmeros casos de artigos cientficos

    publicados com inadequaes ticas.

    1967 Ocorre o Primeiro transplante de corao realizado pelo Dr.

    Christian Barnard, na frica do Sul. Emerge a questo da definio de

    morte, uma vez que necessrio que o corao ainda esteja batendo para

    ser transplantado.

    1968 - Definio de Morte Cerebral.

    1970 - Potter cria o neologismo bioethics.

    1971 Fundado o Instituto Kennedy de tica na Universidade de

    Georgetown pelo neonatologista Andr Hellegers. Trata-se do primeiro

    Centro Nacional para a Literatura de Biotica e do primeiro programa de

    ps-graduao em Biotica do mundo. Um dos colaboradores, Warren

    Reich, telogo catlico, ser editor da Enciclopdia de Biotica.

    1971 Publicao do livro Bioethics Bridge to the Future de V.R.

    Potter.

  • Bases Conceituais da Biotica

    9 Biotica e Legislao

    1932 - O caso Tuskegee, 400 negros com sfilis foram recrutados para

    participarem de uma pesquisa de histria natural da doena e foram

    deixados sem tratamento. Em 1972, a pesquisa foi interrompida aps

    denncia no The New York Times. Restaram 74 pessoas vivas sem

    tratamento.

    1974 1978 Relatrio Belmont. Apresenta os princpios ticos,

    considerados bsicos, que deveriam nortear a pesquisa biomdica com

    seres humanos: a) o princpio do respeito s pessoas; b) o princpio da

    beneficncia; c) o princpio da justia.

    1978 Publicao da Encyclopedia of Bioethics, coordenada por W.

    Reich.

    1978 - Nascimento de Louise Brown, o primeiro beb de proveta, que

    abriu novas possibilidades de tratamento mdico para casais com

    problemas de fertilidade. Novas questes ticas e legais comeam a surgir

    pela prtica generalizada da fertilizao medicamente assistida.

    1997 - Nasce a Ovelha Dolly. O primeiro mamfero clonado por

    transferncia nuclear (utilizao como matria-prima de clulas

    embrionrias ou clulas somticas. Abre-se o debate sobre a clonagem

    humana, j que a tcnica a mesma.

    2000 - O Genoma Humano. Novas possibilidades se colocam tanto no

    diagnstico das doenas genticas como na terapia gnica.

    Adaptado de: BRAZ, Marlene.

    1.4. Cdigo de Nuremberg

    Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os pases aliados reuniram-se

    em Nuremberg, na Alemanha, para decidirem o destino de oficiais nazistas,

  • Bases Conceituais da Biotica

    10 Biotica e Legislao

    julgados por seus brbaros crimes, cometidos nos campos de concentrao, em

    nome da loucura do III Reich. Nesse momento, surgiu o Cdigo de

    Nuremberg, ou oficialmente, o Tribunal Militar Internacional (TMI) que

    julgou os crimes de guerra cometidos pelos chefes da Alemanha nazista que

    feriram o direito internacional.

    Acesso em 02/09/2011. http://jeocaz.wordpress.com/2009/06/30/o-tribunal-de-nuremberg/

    Cdigo de Nuremberg Tribunal Internacional de Nuremberg - 1947

    1- O consentimento voluntrio do ser humano absolutamente essencial. Isso significa que as pessoas que sero submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer interveno de elementos de fora, fraude, mentira, coao, astcia ou outra forma de restrio posterior; devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem uma deciso. Esse ltimo aspecto exige que sejam explicados s pessoas a natureza, a durao e o propsito do experimento; os mtodos segundo os quais ser conduzido; as inconvenincias e os riscos esperados; os efeitos sobre a sade ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente possam ocorrer, devido sua participao no experimento. O dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele. So deveres e responsabilidades pessoais que no podem ser delegados a outrem impunemente.

  • Bases Conceituais da Biotica

    11 Biotica e Legislao

    2- O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que no possam ser buscados por outros mtodos de estudo, mas no podem ser feitos de maneira casustica ou desnecessariamente.

    3- O experimento deve ser baseado em resultados de experimentao em animais e no conhecimento da evoluo da doena ou outros problemas em estudo; dessa maneira, os resultados j conhecidos justificam a condio do experimento.

    4- O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos desnecessrios, quer fsicos, quer materiais.

    5- No deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razes para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o prprio mdico pesquisador se submeter ao experimento.

    6- O grau de risco aceitvel deve ser limitado pela importncia do problema que o pesquisador se prope a resolver.

    7- Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota.

    8- O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas.

    9- O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do experimento.

    10- O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em qualquer estgio, se ele tiver motivos razoveis para acreditar que a continuao do experimento provavelmente causar dano, invalidez ou morte para os participantes.

    Acesso em 02/09/2011. www.ufrgs.br/bioetica/nuremcod.htm

  • Bases Conceituais da Biotica

    12 Biotica e Legislao

    1.5. Declarao Universal dos Direitos Humanos

    DECLARAO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

    Adotada e proclamada pela Resoluo n 217 A (III) da Assembleia Geral das Naes Unidas em em 10 de dezembro de 1948. Assinada pelo Brasil na mesma data.

    Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famlia humana e de seus direitos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade, da justia e da paz no mundo,

    Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultam em atos brbaros que ultrajam a conscincia da humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crena e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspirao do homem comum,

    Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem no seja compelido, como ltimo recurso, rebelio contra a tirania e a opresso,

    Considerando essencial promover o desenvolvimento de relaes amistosas entre as naes,

    Considerando que os povos das Naes Unidas reafirmaram, na Carta, sua f nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condies de vida em uma liberdade mais ampla,

    Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperao com as Naes Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observncia desses direitos e liberdades,

    Considerando que uma compreenso comum desses direitos e liberdades da mais alta importncia para o pleno cumprimento desse compromisso,

    A Assembleia Geral proclama:

    A presente Declarao Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as naes, com o objetivo de que cada indivduo e cada rgo da sociedade, tendo sempre em mente esta Declarao, se esforcem, atravs do ensino e da educao, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoo de medidas progressivas de carter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observncia universal e efetiva, tanto entre os povos dos prprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territrios sob sua jurisdio.

  • Bases Conceituais da Biotica

    13 Biotica e Legislao

    Artigo 1

    Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So dotadas de razo e conscincia e devem agir em relao umas s outras com esprito de fraternidade.

    Artigo2

    Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo, lngua, religio, opinio poltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condio.

    No ser tampouco feita qualquer distino fundada na condio poltica, jurdica ou internacional do pas ou territrio a que pertena uma pessoa, quer se trate de um territrio independente, sob tutela, sem governo prprio, quer sujeito a qualquer outra limitao de soberania.

    Artigo 3

    Toda pessoa tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.

    Artigo 4

    Ningum ser mantido em escravido ou servido; a escravido e o trfico de escravos sero proibidos em todas as suas formas.

    Artigo 5

    Ningum ser submetido tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

    Artigo 6

    Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

    Artigo 7

    Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, igual proteo da lei. Todos tm direito igual proteo contra qualquer discriminao que viole a presente Declarao e contra qualquer incitamento a tal discriminao.

    Artigo 8

    Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remdio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituio ou pela lei.

    Artigo 9

  • Bases Conceituais da Biotica

    14 Biotica e Legislao

    Ningum ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

    Artigo 10

    Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audincia justa e pblica por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusao criminal contra ele.

    Artigo 11

    1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente at que a sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo com a lei, em julgamento pblico no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessrias sua defesa.

    2. Ningum poder ser culpado por qualquer ao ou omisso que, no momento, no constituam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco ser imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prtica, era aplicvel ao ato delituoso.

    Artigo 12

    Ningum ser sujeito a interferncias na sua vida privada, na sua famlia, no seu lar ou na sua correspondncia, nem a ataques sua honra e reputao. Toda pessoa tem direito proteo da lei contra tais interferncias ou ataques.

    Artigo13

    1. Toda pessoa tem direito liberdade de locomoo e residncia dentro das fronteiras de cada Estado.

    2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer pas, inclusive o prprio, e a este regressar.

    Artigo 14

    1. Toda pessoa, vtima de perseguio, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros pases.

    2. Este direito no pode ser invocado em caso de perseguio legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrrios aos propsitos e princpios das Naes Unidas.

    Artigo 15

    1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

    2. Ningum ser arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

    Artigo 16

  • Bases Conceituais da Biotica

    15 Biotica e Legislao

    Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrio de raa, nacionalidade ou religio, tm o direito de contrair matrimnio e fundar uma famlia. Gozam de iguais direitos em relao ao casamento, sua durao e sua dissoluo.

    1. O casamento no ser vlido seno como o livre e pleno consentimento dos nubentes.

    2. A famlia o ncleo natural e fundamental da sociedade e tem direito proteo da sociedade e do Estado.

    Artigo 17

    1. Toda pessoa tem direito propriedade, s ou em sociedade com outros.

    2. Ningum ser arbitrariamente privado de sua propriedade.

    Artigo 18

    Toda pessoa tem direito liberdade de pensamento, conscincia e religio; este direito inclui a liberdade de mudar de religio ou crena e a liberdade de manifestar essa religio ou crena, pelo ensino, pela prtica, pelo culto e pela observncia, isolada ou coletivamente, em pblico ou em particular.

    Artigo 19

    Toda pessoa tem direito liberdade de opinio e expresso; este direito inclui a liberdade de, sem interferncia, ter opinies e de procurar, receber e transmitir informaes e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

    Artigo 20

    1. Toda pessoa tem direito liberdade de reunio e associao pacficas.

    2. Ningum pode ser obrigado a fazer parte de uma associao.

    Artigo 21

    1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu pas, diretamente ou por intermdio de representantes livremente escolhidos.

    2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao servio pblico do seu pas.

    3. A vontade do povo ser a base da autoridade do governo; esta vontade ser expressa em eleies peridicas e legtimas, por sufrgio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

    Artigo 22

  • Bases Conceituais da Biotica

    16 Biotica e Legislao

    Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito segurana social e realizao, pelo esforo nacional, pela cooperao internacional de acordo com a organizao e recursos de cada Estado, dos direitos econmicos, sociais e culturais indispensveis sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

    Artigo 23

    1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, livre escolha de emprego, a condies justas e favorveis de trabalho e proteo contra o desemprego.

    2. Toda pessoa, sem qualquer distino, tem direito igual remunerao por igual trabalho.

    3. Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remunerao justa e satisfatria, que lhe assegure, assim como sua famlia, uma existncia compatvel com a dignidade humana, e a que se acrescentaro, se necessrio, outros meios de proteo social.

    4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteo de seus interesses.

    Artigo 24

    Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitao razovel das horas de trabalho e a frias peridicas remuneradas.

    Artigo 25

    1. Toda pessoa tem direito a um padro de vida capaz de assegurar a si e a sua famlia sade e bem-estar, inclusive alimentao, vesturio, habitao, cuidados mdicos e os servios sociais indispensveis, e direito segurana em caso de desemprego, doena, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistncia em circunstncias fora de seu controle.

    2. A maternidade e a infncia tm direito a cuidados e assistncia especiais. Todas as crianas, nascidas dentro ou fora de matrimnio, gozaro da mesma proteo social.

    Artigo 26

    1. Toda pessoa tem direito instruo. A instruo ser gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instruo elementar ser obrigatria. A instruo tcnico-profissional ser acessvel a todos, bem como a instruo superior, esta baseada no mrito.

    2. A instruo ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instruo promover a compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas as naes e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvar as atividades das Naes Unidas em prol da manuteno da paz.

    3. Os pais tm prioridade de direito na escolha do gnero de instruo que ser ministrada a seus filhos.

  • Bases Conceituais da Biotica

    17 Biotica e Legislao

    Artigo 27

    1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo cientfico e de seus benefcios.

    2. Toda pessoa tem direito proteo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produo cientfica, literria ou artstica da qual seja autor.

    Artigo 28

    Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declarao possam ser plenamente realizados.

    Artigo 29

    1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade possvel.

    2. No exerccio de seus direitos e liberdades, toda pessoa estar sujeita apenas s limitaes determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer s justas exigncias da moral, da ordem pblica e do bem-estar de uma sociedade democrtica.

    3. Esses direitos e liberdades no podem, em hiptese alguma, ser exercidos contrariamente aos propsitos e princpios das Naes Unidas.

    Artigo 30

    Nenhuma disposio da presente Declarao pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado destruio de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

    Acesso em 02/09/2011. http://www.direitoshumanos.usp.br

    1.6. Declarao de Helsinque - outubro/2000

    A Associao Mdica Mundial desenvolveu a Declarao de Helsinque

    como um documento de princpios ticos, para fornecer orientaes aos

    mdicos e outros participantes de pesquisas clnicas envolvendo seres humanos.

    Foi revisada nos anos de 1975; 1983; 1989 e 2000.

    Declarao de Helsinque

    Princpios ticos para Pesquisa Clnica Envolvendo Seres Humanos

  • Bases Conceituais da Biotica

    18 Biotica e Legislao

    INTRODUO

    A Associao Mdica Mundial desenvolveu a Declarao de Helsinque como uma declarao de princpios ticos para fornecer orientaes aos mdicos e outros participantes em pesquisas clnicas envolvendo seres humanos. Pesquisa clnica envolvendo seres humanos inclui pesquisa com material humano identificvel ou dados identificveis.

    dever do mdico promover e salvaguardar a sade de seus pacientes. O conhecimento e a conscincia do mdico esto direcionados para o cumprimento desse dever.

    A Declarao de Genebra da Associao Mdica Mundial compromete o mdico com as seguintes palavras, "A Sade do meu paciente ser minha primeira considerao", e o Cdigo de tica Mdica Internacional declara que, "Um mdico deve agir somente no interesse do paciente quando fornecer cuidados mdicos que talvez possam prejudicar a condio fsica e mental do paciente".

    A evoluo mdica baseada na pesquisa que se fundamenta, em parte, na experimentao envolvendo seres humanos.

    Em pesquisa clnica com seres humanos, consideraes relacionadas ao bem-estar dos seres humanos devem prevalecer sobre os interesses da cincia e sociedade.

    O objetivo principal da pesquisa clnica envolvendo seres humanos melhorar os procedimentos profilticos, diagnsticos e teraputicos e entender a etiologia e patognese da doena. At mesmo os melhores mtodos profilticos, diagnsticos e teraputicos comprovados devem ter, continuamente, sua eficcia, eficincia, acessibilidade e qualidade testadas atravs de pesquisas.

    Na prtica clnica atual e na pesquisa clnica, a maioria dos procedimentos profilticos, diagnsticos e teraputicos envolve riscos e encargos.

    Pesquisa Clnica restrita por padres ticos que promovem o respeito por todos os seres humanos e protegem sua sade e direitos. Algumas populaes de pesquisa so vulnerveis e necessitam de proteo especial. As necessidades particulares dos desavantajados economicamente e clinicamente devem ser reconhecidas. necessria ateno especial tambm para aqueles que no podem dar ou recusar o consentimento por eles mesmos, para aqueles que podem ser sujeitos a fornecer o consentimento sob coao, para aqueles que no se beneficiaro pessoalmente da pesquisa e para aqueles para os quais a pesquisa associada com precaues.

  • Bases Conceituais da Biotica

    19 Biotica e Legislao

    Os investigadores de pesquisa devem estar conscientes das exigncias ticas, legais e regulatrias sobre a pesquisa em seres humanos em seus prprios pases bem como exigncias internacionais cabveis. Nenhuma exigncia tica, legal e regulatria local, deve poder reduzir ou eliminar quaisquer das protees dos seres humanos publicadas nesta Declarao.

    I. PRINCPIOS BSICOS PARA TODA PESQUISA CLNICA

    1. dever do mdico, na pesquisa clnica, proteger a vida, sade, privacidade e dignidade do ser humano.

    2. Pesquisa Clnica envolvendo seres humanos deve estar em conformidade com os princpios cientficos geralmente aceitos e deve ser baseada no conhecimento minucioso da literatura cientfica, outras fontes de informao relevantes e em experimentao laboratorial e, quando apropriado, experimentao animal.

    3. Cuidados apropriados devem ser tomados na conduta da pesquisa que possa afetar o ambiente, e o bem-estar de animais usados para pesquisa deve ser respeitado.

    4. O desenho e a realizao de cada procedimento experimental envolvendo seres humanos devem ser claramente discutidos no protocolo experimental. Esse protocolo deve ser submetido anlise, com comentrios, orientaes, e quando apropriado, aprovao de um comit de tica mdica especialmente indicado, que deve ser independente do investigador e do patrocinador do estudo ou qualquer outro tipo de influncia indevida. Esse comit de tica independente deve estar de acordo com as regulaes e leis locais do pas no qual a pesquisa clnica ser conduzida.

    5. O comit tem o direito de monitorar estudos em andamento. O pesquisador tem a obrigao de fornecer informaes de monitorizao ao comit, especialmente qualquer evento adverso srio. O pesquisador deve tambm submeter ao comit, para reviso, informaes a respeito do financiamento, patrocinador, afiliaes institucionais, outros conflitos de interesses em potencial e incentivos aos sujeitos.

    6. Pesquisas clnicas envolvendo seres humanos somente devero ser conduzidas por indivduos cientificamente qualificados e sob a superviso de um mdico competente. A responsabilidade por paciente dever sempre ser designada a indivduo medicamente qualificado e nunca a critrio do prprio paciente, mesmo que este tenha dado seu consentimento para tal.

  • Bases Conceituais da Biotica

    20 Biotica e Legislao

    7. Todo projeto de pesquisa clnica envolvendo seres humanos deve ser precedido pela avaliao cuidadosa dos possveis riscos e encargos para o paciente e outros. Isso no impede a participao de voluntrios saudveis em pesquisa clnica. O desenho de todos os estudos deve ser publicamente disponvel.

    8. Os investigadores devem abster-se de se envolverem em estudos clnicos envolvendo seres humanos, a menos que estejam confiantes de que os riscos envolvidos foram avaliados adequadamente e podem ser gerenciados satisfatoriamente. Os investigadores devem interromper qualquer investigao se a relao risco/benefcio tornar-se desfavorvel ou se houver provas conclusivas de resultados positivos e benficos.

    9. Pesquisas clnicas envolvendo seres humanos apenas devero ser conduzidas se a importncia dos objetivos excede os riscos e encargos inerentes ao paciente. Isto de importncia especial quando os seres humanos so voluntrios saudveis.

    10. A Pesquisa clnica justificada apenas se h uma probabilidade razovel de que as populaes nas quais a pesquisa realizada se beneficiaro dos resultados da pesquisa.

    11. Os sujeitos devem ser voluntrios e participantes informados no projeto de pesquisa.

    12. O direito do paciente de resguardar sua integridade deve sempre ser respeitado. Toda precauo deve ser tomada para respeitar a privacidade do sujeito, a confidencialidade das informaes do sujeito e para minimizar o impacto do estudo na integridade fsica e mental, bem como na personalidade do paciente.

    13. Em qualquer pesquisa envolvendo seres humanos, cada paciente em potencial deve estar adequadamente informado quanto aos objetivos, mtodos, fontes de financiamento, quaisquer possveis conflitos de interesse, afiliaes institucionais do pesquisador, os benefcios antecipados e riscos em potencial do estudo e qualquer desconforto que possa estar vinculado. O sujeito dever ser informado da liberdade de se abster de participar do estudo ou de retirar seu consentimento para sua participao em qualquer momento, sem retaliao. Aps assegurar-se de que o sujeito entendeu toda a informao, o mdico dever ento obter o consentimento informado espontneo do paciente, preferencialmente, por escrito. Se o consentimento no puder ser obtido por escrito, o consentimento no escrito deve ser formalmente documentado e testemunhado.

  • Bases Conceituais da Biotica

    21 Biotica e Legislao

    14. Ao obter o consentimento informado, o investigador dever ter especial ateno em relao queles pacientes que apresentam relao de dependncia com o mdico ou possam consentir a realizao do estudo sob coao. Nesses casos, o consentimento informado dever ser obtido por investigador bem-informado no envolvido com a pesquisa e que seja totalmente independente deste relacionamento.

    15. Para sujeitos de pesquisa que forem legalmente incompetentes, incapazes fsica ou mentalmente de dar o consentimento ou menores legalmente incompetentes, o investigador dever obter o consentimento informado do representante legalmente autorizado, de acordo com a legislao apropriada. Esses grupos no devem ser includos em pesquisas a menos que esta seja necessria para promover a sade da populao representada e esta pesquisa no pode, em seu lugar, ser realizada em indivduos legalmente competentes.

    16. Quando um sujeito considerado legalmente incompetente, como uma criana menor, capaz de aprovar decises sobre a participao no estudo, o investigador deve obter esta aprovao, alm do consentimento do representante legalmente autorizado.

    17. Pesquisas com indivduos dos quais no possvel obter consentimento, incluindo consentimento por procurao ou superior, devero ser realizadas apenas se a condio fsica/mental, que impede a obteno do consentimento informado, seja uma caracterstica necessria para a populao da pesquisa. As razes especficas para envolver sujeitos de pesquisa com uma condio que os torna incapazes de fornecer o consentimento informado, devem estar declaradas no protocolo experimental, para considerao e aprovao pelo Comit de tica. O protocolo deve declarar que o consentimento para permanecer na pesquisa deve ser obtido, o mais rpido possvel, do indivduo, ou representante legalmente autorizado.

    18. Ambos autores e editores tm obrigaes ticas. Na publicao de resultados de pesquisa, o investigador obrigado a preservar a preciso dos resultados. Resultados negativos bem como positivos devem ser publicados ou, caso contrrio, devem estar disponveis para publicao. As fontes de financiamento, afiliaes institucionais e quaisquer conflitos de interesse devem ser declarados na publicao. Relatrios da experimentao que no esto de acordo com os princpios presentes nesta Declarao no devem ser aceitos para publicao.

    II. PRINCPIOS ADICIONAIS PARA PESQUISA CLNICA COMBINADA A CUIDADOS MDICO

  • Bases Conceituais da Biotica

    22 Biotica e Legislao

    1. Investigador pode associar pesquisa clnica a cuidados mdicos, apenas at o ponto em que a pesquisa justificada por seu valor profiltico, diagnstico e teraputico em potencial. Quando a pesquisa clnica combinada a cuidados mdicos, aplicam-se padres adicionais para proteo dos pacientes que so sujeitos de pesquisa.

    2. Os benefcios, riscos, encargos e eficcia de um novo mtodo devem ser testados comparativamente com os melhores mtodos atuais profilticos, diagnsticos e teraputicos existentes.

    3. Na concluso do estudo, todo paciente colocado no estudo deve ser ter o acesso assegurado aos melhores mtodos profilticos, diagnsticos e teraputicos comprovados, identificados pelo estudo.

    4. O mdico deve informar detalhadamente ao paciente quais aspectos do tratamento esto relacionados pesquisa. A recusa do paciente em participar do estudo nunca deve interferir com a relao mdico-paciente.

    5. No tratamento de um paciente, quando mtodos profilticos, diagnsticos e teraputicos comprovados no existem, ou foram ineficazes, o mdico, com o consentimento informado do paciente, deve ser livre para utilizar medidas profilticas, diagnsticas e teraputicas no comprovados ou inovadores, se no seu julgamento, esta oferea esperana de salvar vida, restabelecimento da sade e alvio do sofrimento. Quando possvel, essas medidas devem ser objeto de pesquisa, desenhada para avaliar sua segurana ou eficcia. Em todos os casos, as novas informaes devem ser registradas e, quando apropriado, publicadas. As outras diretrizes relevantes desta Declarao devem ser seguidas.

    Acesso em 03/09/2011. www.bioetica.org.br/?siteAcao=DiretrizesDeclaracoesIntegra&id=4

  • tica, Biotica e Cidadania

    23 Biotica e Legislao

    Unidade II tica, Biotica e Cidadania

  • tica, Biotica e Cidadania

    24 Biotica e Legislao

    2.1. tica e Moral

    Hoje, discute-se bastante sobre tica: tica na pesquisa, tica na sade,

    tica na poltica, tica na educao, etc. Qual a diferena entre a tica e a moral?

    O termo tica provm do grego ethos, que significava morada, lugar

    em que vivemos e passou a significar o carter; o modo de ser que uma

    pessoa ou um grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por outro lado, moral

    procede do latim mos, moris que significava costumes, mas passou a

    significar, tambm, carter ou modo de ser. Apesar dos termos tica e moral

    serem etimologicamente equivalentes, moral diferente de tica.1

    Moral um conjunto de princpios, valores e normas que regulam a

    conduta humana em suas relaes sociais em determinado momento histrico.

    O que moral em um momento pode no ser em outro. A moral imposta, por

    exemplo, pelo Cdigo Civil. A tica implica a opo individual, escolha ativa,

    requer adeso ntima da pessoa a valores, princpios e normas morais. A

    pergunta bsica da moral o que devemos fazer?, enquanto que a da tica

    por que devemos fazer?, ou seja, que argumentos corroboram e sustentam o

    que estamos aceitando como guia de conduta?.

    Portanto, o comportamento tico exige reflexo crtica diante dos

    dilemas, na qual devem ser considerados, entre outros, os sentimentos, a razo,

    os patrimnios genticos, a educao e os valores morais. Essa reflexo pode

    causar desconforto, ansiedade e angstia, visto ser um processo ativo de dentro

    para fora, e por isso que sem a autonomia, a justia e a tolerncia para ouvir

    os pontos de vista dos outros e aceitar em mudar os prprios, no existe o

    comportamento tico.

    1. A IMPORTNCIA DA BIOTICA - Marlene Boccatto - Membro do Comit de tica da Universidade So Camilo.

  • tica, Biotica e Cidadania

    25 Biotica e Legislao

    2.2 Princpios bsicos da biotica

    O Brasil possui a Resoluo n 196/1996 do Conselho Nacional de

    Sade (CNS), que regulamenta as diretrizes e normas da pesquisa envolvendo

    seres humanos. Essa Resoluo, inovadora, pioneira e consagrada no cenrio

    internacional, visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito

    comunidade cientfica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado, e incorpora, entre

    outros, os quatro princpios bsicos da Biotica:

    autonomia - consentimento livre e esclarecido dos indivduos-alvo ( fundamental que os sujeitos sejam cuidadosamente esclarecidos quanto ao

    que se est pedindo a eles, e que sejam deixados livres para decidir) e a

    proteo a grupos vulnerveis e aos legalmente incapazes. Nesse sentido, a

    pesquisa envolvendo seres humanos dever sempre trat-los em sua

    dignidade, respeit-los em sua autonomia e defend-los em sua

    vulnerabilidade;

    beneficncia - ponderao entre riscos e benefcios, tanto atuais quanto potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o mximo

    de benefcios e o mnimo de danos e riscos;

    no-maleficncia - garantia de que danos previsveis sero evitados;

    justia - relevncia social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimizao do nus para os sujeitos

    vulnerveis, o que garante a igual considerao dos interesses envolvidos, no

    perdendo o sentido de sua destinao scio-humanitria.

    Investigar esses princpios significa uma forma prtica e til de examinar as questes de biotica, mas no se pode perder de vista os seus limites. Determinadas concepes no podero ser impostas, coativamente, ao paciente, mesmo que pressuponham a ideia de igualdade. Abrigar a todos sob o manto da igualdade a essncia do princpio de justia que, aliado beneficncia e autonomia, configura

  • tica, Biotica e Cidadania

    26 Biotica e Legislao

    um mnimo tico estabelecido com a inteno de abordar os conflitos que surgem das novas descobertas no campo biomdico. (MOTA, Slvia. Da biotica ao biodireito, 1999)

    2.3. Principais temas da Biotica

    A Biotica dispe-se a realizar estudos de temas em dilogo permanente

    com todos os campos do saber. Seguem, abaixo, alguns dos principais temas de

    biotica que esto presentes na mdia, no mundo:

    Todos esses temas, em algum momento de sua vida pessoal ou

    profissional, j passaram como questionamentos, para os quais voc precisou

    tomar alguma deciso, que no deixa de ser biotica. Como, por exemplo, dizer

    em quais condies possvel fazer um aborto? Em que momento pessoas

  • tica, Biotica e Cidadania

    27 Biotica e Legislao

    doentes podem decidir a hora de morrer? certo ou errado modificar

    geneticamente os alimentos que comemos? Etc.

    possvel, atravs da educao tica, sensibilizar as pessoas sobre

    questes to polmicas relacionadas biotica? E mais ainda, possvel levar

    essa discusso para a sala de aula e para o cotidiano das famlias?

    2.4. Onde a Biotica interfere

    Acesso em /3/09/2011.

    http://cmapspublic2.ihmc.us/rid=1183755923156_623095125_5038/Bio%C3%A9tica%20v3.cmap

    O esquema de mapa conceitual acima nos mostra que a Biotica deve

    ser compreendida dentro da perspectiva da cidadania. tica e cidadania so hoje

    questo fundamental, quer na educao e na famlia, para o aperfeioamento de

  • tica, Biotica e Cidadania

    28 Biotica e Legislao

    um modo de vida. E nesse contexto que se torna necessrio explicitar a tica e,

    consequentemente, a biotica.

    Os assuntos de biotica que vm aparecendo com o avano da

    biotecnologia so muitos. Para entender melhor as nuances e conflitos dessa

    "nova rea", um bom caminho estudar alguns casos concretos em que

    aparecem tais questes. A partir do prximo captulo, sero discutidos tpicos

    polmicos da biotica e do biodireito, analisando para tais, quando possvel, a

    legislao brasileira. Tambm sero sugeridos alguns estudos de caso com o

    intuito de facilitar a compreenso e promover a reflexo biotica em questo.

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    29 Biotica e Legislao

    Unidade III Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    30 Biotica e Legislao

    No precisamos avaliar se concordamos ou no com a eutansia. A reflexo verdadeira deve acontecer antes, isto , Para que a eutansia existe?; Realmente precisamos dela? Auro Del Giglio, oncologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC

    3.1. Reflexo sobre vida e o direito vida digna

    No livro Biodireito, da autora Maria de Ftima Freire de S, Bruno

    Torquato de Oliveira Naves, juntamente com a autora, apresenta, em sntese, a

    relao entre vida e o direito vida digna da relao jurdica mdico-paciente.

    Esses relatos, listados abaixo, permitem-nos ter uma viso mais aprofundada

    das tomadas de decises, que constantemente ocorrem em casos polmicos em

    Biotica, como aqueles que envolvem o aborto e a eutansia.

    A vida deve ser considerada em todos os seus aspectos, no s no aspecto biolgico. Para tanto, cada situao real pede uma

    abordagem e o prolongamento da vida no pode identificar-se

    como prolongamento de sofrimento.

    O princpio da dignidade da pessoa humana fio condutor de todas as relaes jurdicas. a incorporao de valores, como

    liberdade e dignidade, vida e erigidos categoria de princpio,

    que, como tal, norma jurdica imperativa. Sua utilizao pode

    dirigir outras normas, auxiliando na criao, interpretao e

    aplicao destas, ou pode fazer-se de per si, diretamente e em

    carter principal (e no subsidiariamente).

    A autonomia privada compe a dignidade da vida humana e permite sua realizao.

    A relao jurdica mdico-paciente relao contratual, conformada por valores integrantes do sistema jurdico e

    expressos, principalmente, por princpios.

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    31 Biotica e Legislao

    O termo consentimento informado , em Direito, trabalhado como autonomia privada e no se restringe autodeterminao

    do paciente, pois prolonga seu poder alm do ato de vontade,

    consistindo em poder normativo e, portanto, fonte jurdica.

    Alm da ordem pblica e dos bons costumes, a autonomia privada do paciente exige que este tenha conhecimento de seu

    diagnstico, que deve, portanto, ser expresso de forma clara e

    inteligvel. Para emitir sua vontade, o paciente deve, ainda,

    possuir discernimento, devendo-se avaliar, no caso concreto, sua

    maturidade e nvel de conscincia. Por fim, a manifestao de

    vontade no pode sofrer condicionamentos externos, que

    causariam defeitos ao ato jurdico praticado, maculando-o por

    vcio do consentimento ou por vcios sociais.

    3.2. Anencefalia

    Literalmente, anencefalia significa ausncia do

    encfalo. Essa definio falha, uma vez que o encfalo

    compreende, alm do crebro, o cerebelo e o tronco

    enceflico. Os bebs anencfalos, embora no tenham

    crebro, ou boa parte dele, tm o tronco enceflico

    funcionando. Esse tronco constitudo principalmente pelo bulbo, que um

    alongamento da medula espinhal. Controla importantes funes do nosso

    organismo, entre elas: a respirao, o ritmo dos batimentos cardacos e certos

    atos reflexos (como a deglutio, o vmito, a tosse e o piscar dos olhos).

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    32 Biotica e Legislao

    Fonte: www.providaanapolis.org.br

    3.2.1 Por que um beb tem anencefalia?

    No incio da vida embrionria, na terceira ou quarta semana de

    gravidez, o sistema nervoso central no se desenvolveu adequadamente.

    Presume-se que se trata de um conjunto de reaes entre fatores do meio

    ambiente e influncias genticas. A culpa no reside, portanto, em alguma

    atitude ou falha ou negligncia dos pais.

    3.2.2 - Aborto de anencfalo

    O aborto um drama psicolgico muito forte para mulher. Muitas delas,

    depois de realizar o aborto, tentam suicdio. No caso de fetos anencfalos, alm

    do trauma de terem eliminado injustamente uma vida, tambm sofrem com a

    m formao do feto. Em suas mentes, elas deixam de ser geradoras de vida e

    passam a ser assassinas. Segundo os psiclogos, a mulher, quando aborta,

    considera ter rejeitado o filho pela sua m-formao, o que se torna motivo de

    condenao pessoal. (ABORTO E ANENCEFALIA, SOARES, Kelly Cristina B.

    da S.)

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    33 Biotica e Legislao

    3.2.3 - Haveria aborto legal no Brasil?

    A resposta a essa questo liga-se exegese do art. 128 do Cdigo Penal,

    que assim prescreve:

    No se pune o aborto praticado por mdico:

    I se no h outro meio de salvar a vida da gestante;

    II se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

    O art. 128, I e II, do Cdigo Penal est apenas autorizando o rgo

    judicante a no punir o crime configurado, por eximir da sano o mdico que

    efetuar prtica abortiva para salvar a vida da gestante ou para interromper

    gestao resultante do estupro. Tal iseno no elimina o delito, nem retira a

    ilicitude da ao danosa praticada. Suprimida est a pena, mas fica o crime.

    (DINIZ, Maria Helena, O Estado Atual do Biodireito, 2010)

    3.4. Eutansia

    O termo EUTANSIA vem do grego eu (boa)

    e thanatos (morte), podendo ser traduzido como

    boa morte ou morte apropriada.

    Entende-se como eutansia a conduta em

    que algum, deliberadamente e movido por fortes

    razes de ordem moral, causa a morte de outrem, vtima de uma doena

    incurvel em avanado estado e que est padecendo de grande sofrimento e

    dores. A eutansia seria justificada como uma forma de libertao do sofrimento

    acarretado por um longo perodo de doena.

    Diferente da eutansia, a morte assistida, tambm conhecida como

    suicdio assistido, consiste na promoo de meios para que o paciente terminal,

    por conta prpria, ponha fim a sua vida. No se trata de eutansia, pois a

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    34 Biotica e Legislao

    deciso e a execuo do ato partem do prprio paciente. Os terceiros,

    normalmente familiares e pessoas prximas, apenas colocam ao seu alcance os

    meios necessrios para que o paciente se suicide de forma digna e indolor.

    Para a morte assistida, portanto, pressupe-se que o consentimento e o

    ato executrio partam do prprio paciente, enquanto que a eutansia,

    dependendo do estado em que se encontre o paciente (ex. inconsciente h

    bastante tempo), poder ser realizada por meio do consentimento de terceiros, a

    exemplo dos familiares.

    3.4.1 - Modalidades de eutansia:

    Das muitas classificaes propostas s vrias modalidades de eutansia,

    apresentamos aquela exposta por Neukamp, em 1937, que visava estabelecer,

    em ltimo caso, a responsabilidade do agente.

    Eutansia voluntria (executada conforme a vontade do paciente).

    Eutansia involuntria (executada contra a vontade do paciente).

    Eutansia no voluntria (executada independentemente da

    manifestao de vontade do paciente).

    Novos termos, como distansia, ortotansia, mistansia, tm sido

    criados para evitar a confuso e ambiguidade que muitas vezes acontecem no

    uso da palavra eutansia. Veja as diferenas entre elas:

    Distansia: morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento. Se o

    significado de distansia for entendido como prolongar o sofrimento, ele se

    ope ao de eutansia, que utilizado para abreviar esta situao. Porm se for

    assumido o seu contedo moral, ambas convergem. Tanto a eutansia quanto a

    distansia so tidas como sendo eticamente inadequadas. (GOLDIM)

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    35 Biotica e Legislao

    Ortotansia significa morte correta, ou seja, a morte pelo seu processo

    natural. Neste caso, o doente j est em processo natural da morte e recebe uma

    contribuio do mdico para que esse estado siga seu curso natural. Somente o

    mdico pode realizar a ortotansia, e ainda no est obrigado a prolongar a vida

    do paciente contra a vontade dele e muito menos aprazar sua dor. A ortotansia

    conduta atpica frente ao Cdigo Penal, pois no causa de morte da pessoa,

    uma vez que o processo de morte j est instalado. (YOSHIKAWA, Daniela

    Parra Pedroso)

    Mistansia: tambm chamada de eutansia social. Leonard Martin

    sugeriu o termo mistansia para denominar a morte miservel, fora e antes da

    hora. Segundo esse autor, "dentro da grande categoria de mistansia quero

    focalizar trs situaes: primeiro, a grande massa de doentes e deficientes que,

    por motivos polticos, sociais e econmicos, no chegam a ser pacientes, pois

    no conseguem ingressar efetivamente no sistema de atendimento mdico;

    segundo, os doentes que conseguem ser pacientes para, em seguida, se tornar

    vtimas de erro mdico e, terceiro, os pacientes que acabam sendo vtimas de

    m-prtica por motivos econmicos, cientficos ou sociopolticos. A mistansia

    uma categoria que nos permite levar a srio o fenmeno da maldade humana".

    (GOLDIM)

    3.4.2 - A Eutansia no Brasil:

    No Brasil, o Cdigo Penal no prev nenhum tipo especfico para a

    figura da eutansia. Entende-se, todavia, que o art. 121 1 a regula, ao

    estabelecer que:

    Art. 121. Matar algum:

    Pena recluso, de 6 (seis) a 20 nos.

    1 se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, (...) o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero.

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    36 Biotica e Legislao

    Do proposto no Art. 121, correto afirmar que age impelido por motivo

    de relevante valor social e moral, o indivduo que, sob impulso de exacerbado

    sentimento de piedade, tira a vida de outro, que padece de enfermidade

    incurvel, a qual lhe causa grande sofrimento. (SOUZA, Cimon Hndrigo

    Burmann de. Biodireito, 2002).

    Ao que induz, instiga ou auxilia algum a se matar, tais condutas

    encontram-se tipificadas no art. 122, do Cdigo Penal, o qual prescreve:

    Art. 122. Induzir ou instigar algum a suicidar-se ou prestar-lhe auxlio para que o faa:

    Pena: recluso, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicdio se consuma; ou recluso, de 1 (um) a 3 (trs) anos, se da tentativa de suicdio resulta leso corporal de natureza grave.

    Em 24/03/98, o dirio Oficial da Unio fez publicar o texto que

    alteraria os dispositivos da Parte Especial do Cdigo Penal.

    Art. 121. (...)

    3 Se o autor do crime agiu por compaixo, a pedido da vtima imputvel e maior, para abreviar-lhe sofrimento fsico insuportvel, em razo de doena grave:

    Pena Recluso de trs a seis anos.

    4 No constitui crime deixar de manter a vida de algum por meio artificial, se previamente atestada por dois mdicos, a morte como iminente e inevitvel, e desde que haja consentimento do paciente, ou na impossibilidade, de ascendente, descendente, cnjuge, companheiro ou irmo.

    3.5. Estudos de Casos

    (Um bom caminho para entender melhor os conflitos de temas em

    biotica)

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    37 Biotica e Legislao

    Caso 1: Beb Anencfalo Uma paciente feminina, 23 anos de idade, no quarto ms de gravidez realiza exame

    ecogrfico e diagnosticada a presena de feto anenceflico. Ao ser informada do fato, a paciente e seu marido solicitam que seja interrompida a gravidez. Os membros do servio de ginecologia tm pareceres diferentes com relao melhor conduta a ser tomada e solicitam uma consultoria ao Comit de Biotica com os seguintes questionamentos:

    a) moralmente aceitvel indicar o aborto nestas circunstncias? b) moralmente aceitvel a alternativa de levar a gravidez a termo e eventualmente

    usar recm-nascido aps sua morte como doador de rgos? Quando o caso discutido no Comit de Biotica, seus membros apresentam

    posies contraditrias com relao a questo . Alguns defendem o direito da me em decidir com relao ao seu corpo ao mesmo tempo em que ela ser protegida de algum acidente relacionado ao processo gravidez-parto, recomendando que aborto seja realizado, enquanto que outros, baseados no princpio moral de defesa incondicional da vida, contraindicam a sua realizao . Existe uma unanimidade por parte dos membros do Comit em reprovar a alternativa de usar o recm-nascido com doador de rgos. O mdico assistente da paciente, baseado no seu sentimento do que representava os melhores interesses da paciente, decide interromper a gravidez.

    Acesso em 11/09/11 - www.ufrgs.br/bioetica/anencef.htm

    Caso 2: Caso Debbie Um residente de Ginecologia, que estava de planto em um grande hospital

    privado norte-americano, foi chamado, meia-noite, para atender a uma paciente de

    20 anos, em estgio terminal, com cncer de ovrio. A paciente no respondeu

    quimioterapia e estava recebendo apenas medidas de suporte. Ela estava

    acompanhada pela me quando o mdico chegou. H dois dias que no conseguia

    comer ou dormir. Estava com 34 kg de peso corporal e com vmitos frequentes.

    "Debbie" disse ao mdico, que no a conhecia at este momento, apenas a seguinte

    frase: "terminemos com isto". O mdico foi at a sala de enfermagem e preparou

    20mg de morfina. Voltou ao quarto e disse s duas mulheres que iria dar uma injeo

    que possibilitaria a Debbie descansar e dizer adeus. A paciente nada disse, nem sua

    me. Em 4 minutos a paciente morreu. A me se manteve erguida e pareceu aliviada. Annimo. Its over, Debbie. JAMA 1988;259(2):272.

    Acesso em 11/09/11 - www.ufrgs.br/bioetica/debie.htm

    Caso 3: Eutansia em So Paulo Na publicao "Vidas em Revista", de 08 de maro de 2004, foi publicada uma

    reportagem na qual um cirurgio, Carlos Alberto de Castro Cotti, de So Paulo,

  • Temas de Biotica:Relao Vida e Morte

    38 Biotica e Legislao

    relatou ter realizado vrias eutansias, inclusive involuntrias, em seus pacientes,

    desde 1959.

    1 Relato - 1959:

    Um paciente com ictercia, que no conseguia se

    alimentar e recebia alimentao "artificialmente". O

    paciente tinha dores e recebia morfina. "Era um absurdo

    mant-lo vivo naquelas condies", afirmou o cirurgio.

    2 Relato - 1964:

    Um paciente com metstases cerebrais, pulmonares

    e intestinais generalizadas. Quando as metstases sseas o

    atingiram a dor era "violenta".

    3 Relato - sem data especificada:

    Um paciente com carcinomatose, com bloqueio de rim. "Foi muito triste porque

    era meu amigo, tinha 52 ou 54 anos."

    4 Relato - sem data especificada:

    Uma paciente, com idade entre 65 e 68 anos, foi operada quatro vezes em dois

    anos. Na primeira vez, foi feita uma jejunostomia. No incio, ela tinha 70 kg, aps a

    quarta cirurgia, quando teve uma perfurao intestinal devido ao carcinoma, teve uma

    peritonite, j estava com apenas 25 kg. Nessa ocasio, o cirurgio da paciente solicitou

    ao mdico que relatou o fato que fizesse uma injeo de "M1" (soluo base de

    fenergan, morfina e outras substncias) na paciente. Isto foi feito na prpria

    residncia da paciente, aps ter sido comunicado aos filhos. "Eu fui buscar a

    medicao e ns dois colocamos no soro. Ficamos aguardando, conversando, porque

    ns resolvemos que deveramos estender o mais que pudssemos o sono, porque a

    paciente estava muito consciente. E foi feito." Uma das reprteres perguntou se a

    paciente sabia e havia concordado com o procedimento. A resposta foi a seguinte: "Ela

    sabia que no podia mais ser operada, mas no sabia que ia receber o "M1". Quem

    decidiu isso foi a famlia." Barbosa E, Fernandes A, Rigitano C. O dilema

    da Eutansia. Vidas em revista 08/03/2004;2(13):20-25.

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    39 Biotica e Legislao

    Unidade IV Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    40 Biotica e Legislao

    4.1 Clonagem

    De acordo com o Minidicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa 2009,

    clonagem : 1. Obteno de clones(s). 2. Introduo de material gentico de uma

    clula em outra clula que passa a possuir e a multiplicar a informao gentica

    da primeira.

    A clonagem uma forma de reproduo assexuada que existe

    naturalmente em organismos unicelulares e em plantas. Esse processo

    reprodutivo se baseia apenas em um nico patrimnio gentico. Nos animais

    ocorre naturalmente, quando surgem gmeos univitelinos. Nesse caso, ambos os

    novos indivduos gerados tm o mesmo patrimnio gentico. A gerao de um

    novo animal a partir de um outro pr-existente ocorre apenas artificialmente em

    laboratrio. Os indivduos resultantes desse processo tero as mesmas

    caractersticas genticas cromossmicas do indivduo doador, ou tambm

    denominado de original. (GOLDIM)

    4.2 - Tipos de clonagem:

    Clonagem Natural: Realizado atravs de vrios processos de

    reproduo assexuada, sendo os mais conhecidos a fragmentao, a

    partenognese, a bipartio, a gemulao, a esporulao e a multiplicao

    vegetativa.

    Clonagem Reprodutiva: Uma das tcnicas bsicas usadas por

    cientistas a Transferncia Nuclear da Clula Somtica (TNCS). Essa tcnica foi

    usada por cientistas durante muitos anos, para clonar animais atravs de clulas

    embrionrias.

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    41 Biotica e Legislao

    (ZATZ, Mayana, Clonagem e clulas-tronco, 2004)

    Clonagem Embrionria: Consiste em remover uma ou mais clulas

    de um embrio e provocar seu desenvolvimento completo, formando um novo

    embrio com a mesma carga gentica daquele que lhe deu origem.

    Clonagem Teraputica: A Clonagem Teraputica um procedimento

    cujos estgios iniciais so idnticos clonagem para fins reprodutivos mas que

    difere no fato de o blastocisto no ser introduzido no tero: utilizado em

    laboratrio para a produo de clulas a fim de produzir tecidos ou rgo para

    transplante.

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    42 Biotica e Legislao

    (ZATZ, Mayana, Clonagem e clulas-tronco, 2004)

    Mayana Zatz, em seu artigo Clonagem e clulas-tronco, apresenta que

    Ainda existe muita confuso em relao aos conceitos de clonagem

    (reprodutiva e teraputica), clulas-tronco (embrionrias e no embrionrias) e

    terapia celular, bem como isso pode afetar as nossas vidas.

    importante que as pessoas entendam que, na clonagem para fins

    teraputicos, sero gerados s tecidos, em laboratrio, sem implantao no

    tero. No se trata de clonar um feto at alguns meses dentro do tero para

    depois lhe retirar os rgos como alguns acreditam.

    A Instruo Normativa n. 8, de 9 de julho de 1997, dispe sobre a

    manipulao gentica e sobre a clonagem em seres humanos, vedando sua

    aplicao. Diz a instruo:

    A Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana CTNBio, no uso de suas atribuies legais regulamentares, resolve:

    Art. 1 Para efeito desta instruo normativa, define-se como:

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    43 Biotica e Legislao

    I Manipulao gentica em humanos o conjunto de atividades que permitem manipular o genoma humano, no todo em suas partes, isoladamente ou como parte de compartimentos artificiais ou naturais (ex. transferncia nuclear), excluindo-se os processos citados no artigo 3, inciso V, pargrafo nico, e no artigo 4 da Lei n. 8.975/95.

    II Clulas germinais clulas troncos responsveis pela formao de gametas presentes nas glndulas sexuais femininas e masculinas e seus descendentes diretos, com qualquer grau de ploidia.

    III Clulas totipotentes - clulas, embrionrias ou no, com qualquer grau de ploidia.

    4.3. Transgnicos

    Segundo o artigo 3, inciso V da Lei 11105/05, considera-se organismo

    geneticamente modificado - OGM: organismo cujo material gentico

    ADN/ARN tenha sido modificado por qualquer tcnica de engenharia gentica.

    No entanto, o mesmo artigo, em seu 1 estabelece que no se inclui na

    categoria de OGM o resultante de tcnicas que impliquem a introduo direta,

    num organismo, de material hereditrio, desde que no envolvam a utilizao

    de molculas de ADN/ARN recombinante ou OGM, inclusive fecundao in

    vitro, conjugao, transduo, transformao, induo poliploide e qualquer

    outro processo natural.

    Os inmeros riscos desconhecidos fazem com que a legislao seja

    cautelosa quanto ao trato dos OGMs. Assim, a disciplina da Lei 11105/05 probe,

    em seu art. 6, a implementao de projeto relativo OGM sem a manuteno

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    44 Biotica e Legislao

    de registro de seu acompanhamento individual. Probe, tambm, a engenharia

    gentica em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/ARN natural ou

    recombinante, realizado em desacordo com as normas previstas nesta Lei.

    Tambm, no que precisamente interessa ao objeto de estudo do presente artigo,

    a Lei 11105, no seu artigo 6, incisos V e VI, probe a destruio ou descarte no

    meio ambiente de OGM e seus derivados em desacordo com as normas

    estabelecidas pela CTNBio e pelos rgos e entidades de registro e fiscalizao,

    bem como probe a liberao no meio ambiente de OGM ou seus derivados, no

    mbito de atividades de pesquisa, sem a deciso tcnica favorvel da CTNBio e,

    nos casos de liberao comercial, sem o parecer tcnico favorvel da CTNBio, ou

    sem o licenciamento do rgo ou entidade ambiental responsvel, quando a

    CTNBio considerar a atividade como potencialmente causadora de degradao

    ambiental, ou sem a aprovao do Conselho Nacional de Biossegurana CNBS,

    quando o processo tenha sido por ele avocado.

    4.3.1 - Alimentos Transgnicos

    Pelo menos 800 milhes de pessoas passam fome no mundo, segundo o

    Programa Mundial de Alimentos das Naes Unidas. O nmero desafia os

    questionamentos sobre a importncia dos organismos geneticamente

    modificados.

    Espera-se que a engenharia gentica repita o xito agrcola obtido pela

    'Revoluo Verde', a qual aumentou a produo mundial de cereais a partir da

    dcada de 1950. Porm, o combate fome no se limita a mais comida: ele

    tambm exige melhor distribuio de renda e acesso ao alimento.

    O que pouca gente sabe que os transgnicos fazem parte da nossa

    vida desde a dcada de 1970, quando foi criada a tcnica do DNA recombinante

    e a engenharia gentica produziu um filhote comercial: insulina humana feita

    por bactrias modificadas, com menor taxa de rejeio entre os diabticos. Da

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    45 Biotica e Legislao

    medicina, a biotecnologia passou para a agricultura, onde proliferou. Segundo o

    Servio Internacional para a Aquisio de Aplicaes de Agrobiotecnologia, em

    1996 havia 1,6 milho de hectares de transgnicos em todo o mundo; em 2002,

    o nmero pulou para 58,7 milhes de hectares. (AMORIM - Revista Galileu ,

    Novembro 2003 - Nmero 148)

    4.4. Estudos de Casos

    (Um bom caminho para entender melhor os conflitos de temas em

    biotica)

    Caso 1: Hemofilia

    Uma consulente vem procurar um servio de aconselhamento gentico para

    diagnstico pr-natal. O levantamento da genealogia mostrou que seu pai

    hemoflico, o que significa que ela portadora deste gene e, portanto, um feto do sexo

    masculino ter uma probabilidade de 50% de ser afetado. Entretanto, o estudo de

    DNA da consulente e de seus pais revela uma situao de falsa paternidade. O suposto

    pai hemoflico no o seu pai biolgico. Do ponto de vista gentico, isto significa que

    a consulente no portadora do gene da hemofilia, no existindo risco para esta ou

    futuras gestaes.

    eticamente adequado revelar essa informao? A quem deve ser dado este resultado? Em no revelando, adequado submeter a paciente a procedimentos

    diagnsticos, que envolvem riscos desnecessrios ao feto? Qual o sentido de realizar o diagnstico pr-natal de hemofilia?

    Zatz M. Os dilemas ticos do mapeamento gentico. Revista USP 1995;24:20-27.

    Acesso em 11/09/11 - www.ufrgs.br/bioetica/hemofili.htm

    Caso 2: Primeiro primata transgnico ANDi

    O filhote de macaco Rhesus chamado ANDi, que a sigla de inerted DNA lida

    ao contrrio, ficou mundialmente famoso por ser o primeiro primata transgnico, isto

    , o primeiro primata a possuir um gene de uma outra espcie diferente da sua. Foi

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    46 Biotica e Legislao

    introduzido um gene de medusa, que se incorporou ao seu patrimnio gentico. ANDi

    foi produzido experimentalmente no Centro Regional de Pesquisas em Primatas do

    estado de Oregon/EUA. A divulgao do seu nascimento foi feita na revista Science,

    em janeiro de 2001. O grande impacto dessa divulgao, apesar de j serem realizadas

    pesquisas em animais transgnicos, desde 1980, quando o primeiro rato desse tipo foi

    produzido, deve-se ao fato de ser esse experimento realizado em uma espcie muito

    prxima humana.

    A finalidade de utilizar um gene de medusa foi apenas a de possibilitar a fcil

    deteco da sua incluso no patrimnio de outra espcie. Esse gene no traz qualquer

    benefcio ou prejuzo para o animal. Para que ANDi fosse gerado, foram utilizados 224

    vulos de macacos que foram infectados com o vrus, utilizado como vetor, que

    continha o gene de medusa. Desses vulos resultaram 126 embries. Foram

    implantados os 40 embries mais saudveis em 20 macacas que serviram de mes

    substitutivas. Ao final do processo, apenas 3 filhotes nasceram vivos e somente ANDi

    era portador desse gene.

    Somente a dificuldade tcnica de necessitar 224 para produzir apenas 1 filhote

    com a caracterstica transgnica desejada j leva a reflexo de que a transposio

    desse procedimento para a espcie humana tecnicamente impraticvel no momento

    atual. Porm essa quase inviabilidade tcnica no desestimula a reflexo sobre os

    aspectos morais, legais, sociais e espirituais desse tipo de procedimento.

    O Prof. Arthur Caplan, da Universidade de Pennsylvania/EUA fez uma

    excelente reflexo sobre os aspectos morais que o caso ANDi pode gerar, em especial

    sobre a questo da regulamentao de experimentos desse tipo. A sua posio, em

    resumo, a de que no atravs da regulamentao que se resolvem problemas desse

    tipo, mas sim atravs de um amplo debate social sobre as suas possveis repercusses,

    exigindo um engajamento consequente de todas as pessoas, e no simplesmente um

    acatamento ou discordncia de uma regra imposta por outros.

    Outros aspectos morais envolvidos tambm merecem reflexo.

    adequado utilizar esse volume de animais em experimentos desse tipo?

    Qual a vantagem de desenvolver tcnicas de transgenia na espcie humana?

    adequado utilizar o volume de recursos que foram alocados para esse tipo

    de experimento, quando outras pesquisas mais relevantes, desde o ponto de vista

    social, carecem de meios para serem realizadas?

    Acesso em 11/09/11 - www.ufrgs.br/bioetica/andi.htm (Jos Roberto Goldim)

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    47 Biotica e Legislao

    Caso 3: Caso Moore

    Um paciente, Sr. Moore, teve clulas de seu pncreas retiradas cirurgicamente.

    Aps o procedimento, o mdico, vinculado Universidade da Califrnia, utilizou-as

    para desenvolver uma linhagem celular com finalidade comercial.

    A Suprema Corte de Justia da Califrnia, questionada pelo Sr. Moore, deu ganho de causa Universidade da Califrnia. Os juzes afirmaram que um paciente no tem direito de propriedade sobre as suas clulas, que foram retiradas em uma cirurgia, por consider-las material biolgico descartado. Recomendaram, porm, que o mdico deveria informar seus interesses pessoais de pesquisa e econmicos, previamente, ao paciente que forneceu o material.

    Moore v. Regents of Unversity of California, 793 P.2d 479 (Cal. 1990) at 483.

    Apud: Beauchamp TL, Childress JF. Principles of Biomedical Ethics. 4ed. New York:

    OUP, 1994:147-184. Acesso em 11/09/11 - www.ufrgs.br/bioetica/moore.htm

    Caso 3: Sementes da discrdia

    Debate sobre alimentos transgnicos - ou geneticamente

    modificados - na Fundao Getlio Vargas contou com a presena do Dr.

    Jeffrey Smith, um dos maiores crticos dos transgnicos, e suscitou

    polmicas no meio acadmico

    O Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundao Getlio Vargas (GVCES)

    recebeu pesquisadores de tecnologia agrcola, produtores, representantes de

    organizaes governamentais, alm de membros da comunidade mdica e da

    sociedade civil, no seminrio internacional "Alimentos Transgnicos: Impactos na

    Sade, no Meio Ambiente e na Economia".

    Dr. Jeffrey Smith - diretor do Institute for Responsible Technology, autor dos

    livros Seeds of Deception e Genetic Roulette- abriu as discusses e mostrou dados que

    indicam que a produo e o consumo de alimentos transgnicos oferece riscos para os

    seres humanos e para o meio ambiente. "Meu papel no mundo elevar as pessoas ao

    nvel dos animais", ele afirmou, comentando um estudo realizado na Rssia, em que

    ratos se recusaram a comer tomates transgnicos e tiveram que ser alimentados a

    fora pelos pesquisadores.

    Segundo Smith, padres de teste para a produo de alimentos no so

    respeitados quando se trata das sementes modificadas: "As avaliaes atuais so

  • Temas de Biotica:Biotica e Engenharia Gentica

    48 Biotica e Legislao

    baseadas em estudos superficiais e quase sempre 'armados' pelas empresas, e os

    produtos vo para o mercado sem teste", afirmou Smith.

    A concluso apresentada pelo pesquisador foi a de que a tecnologia de

    manipulao gentica de alimentos no segura e seus efeitos na sade das pessoas e

    no meio ambiente no so previsveis.

    Marcelo Menossi fez diversos contrapontos s informaes apresentadas por

    Smith: "Minha preocupao de que essas informaes cheguem aos ouvidos do

    pblico leigo e resultem em opinies errneas".

    Menossi questionou o rigor dos experimentos cientficos apresentados pelo

    pesquisador americano: " preciso saber 'separar o joio do trigo' quando analisamos

    artigos cientficos. A pesquisa russa dos ratos, por exemplo, nunca chegou a ser

    publicada em nenhuma pesquisa cientfica, porque foram tantos equvocos que o

    estudo ficou descredibilizado [sobre o estudo comentado por Smith]. Se protelarmos a

    adoo dos transgnicos, o agricultor vai acabar adotando essas sementes na sua

    lavoura antes da regulao, como aconteceu com a soja no Brasil".

    O especialista da Unicamp tambm desacreditou das informaes a respeito dos

    cientistas que foram perseguidos por realizarem pesquisas contrrias aos

    transgnicos: "No acredito que exista tanta m-f assim, ou que algum esteja

    querendo envenenar toda a populao".

    O membro do CTNBio (rgo que recentemente aprovou a produo de milho

    BT transgnico no Brasil), Rubens Nodari, respondeu indagao de Menossi:

    "Tambm no acredito que exista m f, mas tenho certeza de que essa uma questo

    de conflito de interesses nas agncias reguladoras. E a CTNBio no diferente".

    Na sua exposio, Menossi mostrou dados indicando o aumento do uso de

    pesticidas e a possvel contaminao de lavouras no-transgnicas por causa da

    adoo de sementes modificadas em outras propriedades. Ele afirmou que, alm dos

    riscos, a lucratividade dos proprietrios que produzem transgnicos tem se mostrado

    menor do que a dos produtores de orgnicos.

    "Se os estudos no so feitos ou no so publicados, nem mesmo a comunidade

    cientfica pode opinar nas decises. Essa questo trata de uma tecnologia que envolve

    a todos ns. Como a sociedade pode participar desse processo?" Por Daniela Silva - Planeta Sustentvel

    Acesso em 11/08/2011 -

    http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_259386.shtml

  • Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

    49 Biotica e Legislao

    Unidade V Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

  • Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

    50 Biotica e Legislao

    5.1. Reproduo Assistida

    A reproduo humana tem trazido inmeros desafios reflexo

    biotica, pois uma rea na qual os esforos de desenvolvimento e aplicao de

    conhecimentos aparentemente se contradizem. A interveno mdica na

    reproduo humana assumiu um importante papel na segunda metade do

    sculo 20, com a introduo da plula anticoncepcional e das tcnicas de

    reproduo assistida. Tcnicas e procedimentos so buscados e desenvolvidos

    para impedir a reproduo, por meio da anticoncepo, para quem tem esta

    possibilidade, e por outro lado, para viabilizar a reproduo de quem tem algum

    impedimento, por meio da reproduo assistida. (GOLDIM, 2011)

    Tycho Brahe Fernandes, autor do livro A reproduo assistida em face

    da biotica e o do biodireiro, descreve os antecedentes cientficos das tcnicas de

    reproduo assistida de forma detalhada. Esse histrico trar uma base

    interessante para as reflexes diante de casos relacionados ao tema. O autor

    leciona o seguinte:

    Refere-se, que j no sculo XIV se realizava inseminao artificial em peixes, e, no sculo XV, no bicho-da-seda.

    Afirma-se que em 1332 se teria obtido a fecundao de uma gua com interferncia humana, sendo relatado que a tcnica era utilizada como artifcio de guerra, seja pela inseminao de guas dos inimigos com smen de cavalos velhos ou doentes, seja por furto do smen dos bons cavalos dos adversrios.

    (...) No sculo XVIII formam produzidas algumas experincias nesta rea, sendo que em 1767 o alemo Ludwig Jacobi trabalhava com a reproduo de peixes, enquanto o abade italiano Lazzaro Spallanzani, em 1777, logrou obter a fecundao de uma cadela por meio da inseminao artificial, nascendo, da, trs crias.

    J no sculo XIX a inseminao artificial foi aplicada em outros mamferos como guas, vacas e ovelhas, destacando-se nas pesquisas com mamferos o russo Elie Ivanoff.

    Especificamente no ser humano, as primeiras notcias histricas datam do sculo XV, quando a tcnica teria sido utilizada em D. Joana de Portugal, casada com Henrique IV de Castela, o Impotente.

  • Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

    51 Biotica e Legislao

    Posteriormente, em 1785, Thouret, decano da Faculdade de Medicina de Paris, fecundou sua mulher estril, aplicando-lhe uma injeo intravaginal de eu esperma.

    Em 1790, o ingls John Hunter obteve a gravidez de uma mulher aplicando-lhe na vagina o esperma do marido hipospdico.

    O francs Girauld, em 1838, relatou o sucesso em oito casos experimentados, um dos quais com gravidez gemelar.

    Jaime Marion Sims, no ano de 1866, obteve sucesso em experimento com a introduo do lquido seminal no canal cervical de mulher o que foi repetido em 1871 por Gigon d Angulme. (...)

    Durante a II Guerra Mundial milhares de crianas norte-americanas foram geradas com o smen de soldados que lutavam no pacfico, tendo o mesmo ocorrido com soldados ingleses durante a Guerra da Coria. Nos Estados Unidos a Suprema Corte de Nova Iorque declarou a legitimidade dessas crianas, porm, na Inglaterra a Cmara dos Comuns proibiu a inscrio, como legtima, de crianas nascidas em razo da doao de smen de doador annimo.

    (...) em 25 de julho de 1978 nasceu na Inglaterra Louise Brown, o primeiro ser humano fruto de uma reproduo in vitro, tcnica pela qual tambm foi concebida Ana Paula Caldeira que veio a nascer em 7 de outubro de 1984, tornando-se o primeiro ser humano nascido no Brasil pela mesma tcnica.

    Ainda naquele ano, Randolph W. Seed e Richard W. Seed desenvolveram tcnica que permitia a transferncia de um embrio de uma mulher para a outra.

    Para o sucesso da fertilizao in vitro foi extremamente importante o desenvolvimento da crioconservao, primeiro de esperma, depois de embries e, recentemente, de vulos, sendo que a primeira gestao com um embrio congelado foi obtida na Austrlia, no ano de 1983.

    Uma das maiores polmicas em torno das tcnicas de reproduo

    assistida est relacionada com o fato de que os embries no utilizados sobram

    nos tubos de ensaio dos laboratrios.

    Para responder a essa e a outras questes polmicas relacionadas ao

    tema, vejamos o que a legislao brasileira fala sobre as novas regras a respeito

    de fertilizao in vitro.

    No incio de 2011, o Conselho Federal de Medicina publicou a

    Resoluo 1.957, em substituio a que vigorava desde 1992, alterando

  • Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

    52 Biotica e Legislao

    algumas normas para o procedimento de fertilizao in vitro. Veja os principais

    pontos dessa resoluo:

    - As tcnicas de reproduo assistida podem ser utilizadas somente quando outras teraputicas tenham se revelado ineficazes ou consideradas inapropriadas.

    - O mtodo pode ser utilizado desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e no se incorra em risco grave de sade para a paciente ou o possvel descendente.

    - O consentimento informado ser obrigatrio a todos os pacientes submetidos s tcnicas de reproduo assistida, inclusive aos doadores. Os aspectos mdicos devem ser detalhadamente expostos, assim como os resultados obtidos. As informaes devem tambm atingir dados de carter biolgico, jurdico, tico e econmico.

    - As tcnicas de reproduo assistida no devem ser aplicadas com a inteno de selecionar o sexo ou qualquer outra caracterstica biolgica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenas ligadas ao sexo do filho que venha a nascer.

    - proibida a fecundao de ocitos (vulos) humanos com qualquer outra finalidade que no a procriao humana.

    - Mulheres com at 35 anos podem ter at dois embries implantados; mulheres com idade entre 36 e 39 anos, at trs embries; e mulheres com 40 anos ou mais, at quatro embries o nmero mximo permitido.

    - Em caso de gravidez mltipla, proibida a utilizao de procedimentos que visem reduo embrionria.

    - A doao nunca ter carter lucrativo ou comercial e os doadores no devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa (exceto por motivao mdica).

    - O descarte de material gentico fica a cargo das clnicas.

    - A procriao assistida ps-morte possvel, desde que exista consentimento por escrito do doador falecido.

    - A tcnica pode ser utilizada por qualquer pessoa, independentemente de estado civil ou orientao sexual.

    - Toda interveno sobre embries in vitro, com fins diagnsticos, no poder ter outra finalidade que no a de avaliar sua viabilidade ou detectar doenas hereditrias, sendo obrigatrio o consentimento informado do casal.

    - As doadoras temporrias do tero devem pertencer famlia da doadora gentica, num parentesco at o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos autorizao do Conselho Regional de Medicina. vedada a barriga de aluguel.

  • Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

    53 Biotica e Legislao

    Uma rea ainda bastante complexa a que envolve aspectos

    reprodutivos em unies homoafetivas. Casais homossexuais femininos podem

    solicitar que um servio de reproduo assistida possibilite a gerao de uma

    criana, em uma das parceiras utilizando smen de doador. O mdico deve

    realizar esse procedimento equiparando essa solicitao de um casal

    heterossexual? Ou deve ser dada uma abordagem totalmente diversa? Os fatores

    culturais tm impacto nessa deciso?

    5.2. Eugenia

    De acordo com o Minidicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa 2009,

    Eugenia o estudo das condies mais propcias reproduo e melhora da

    raa humana.

    A eugenia assumiu posio de destaque com base nas teorias de

    hereditariedade de Francis Galton (1822-1911), apoiadas sobre a teoria da

    evoluo elaborada por Darwin. Galton criou o termo eugenia e o definiu como:

    O estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras geraes seja fsica ou mentalmente.

    O regime nacional-socialista alemo, luz da eugenia galtoniano,

    elaborou um dispositivo normativo a que denominou Lei Esterilizadora. Alei

    nazista, fundamentada no ideal de superioridade ariana, legalizou os mtodos

    contraceptivos e as prticas abortivas impostas por Hitler aos excludos,

    promovendo, dessa maneira, o extermnio de inocentes. (CARVALHO e

    FERRAZ, Aborto eugnico uma questo biojurdica)

    Toda essa desumanidade, promovida por Hitler e seus seguidores,

    inspirados no desprezo pessoa, criando uma cincia completamente

    equivocada em que se utilizavam seres humanos como cobaias. Foi em

    consequncias do horror da Segunda Guerra Mundial que surgiu a Declarao

  • Temas de Biotica:Reproduo e Eugenia

    54 Biotica e Legislao

    dos Direitos Humanos em 1948. Esse documento est apresentado, na ntegra,

    no captulo 1, e demonstra a sua importncia no contexto histrico da Biotica.

    Com o desenvolvimento das modernas tcnicas de diagnstico gentico,

    do debate sobre os temas do aborto, da eutansia e da repercusso da epidemia

    de AIDS, muitas ideias so discutidas com base em pressupostos eugnicos, sem

    que esse referencial seja explicitamente referido. (GOLDIM,1998)

    O Doutor em Direito Privado, Eduardo de Oliveira Leite, em seu artigo

    Eugenia e biotica: os limites da cincia face dignidade humana, revela que:

    Atravs das tcnicas de diagnstico pr-natal no tero (por meio de ultra-sonografia), ou das tcnicas de diagnstico pr-implantatrio (coleta de pedaos do fgado, pele ou sangue fetal), o diagnstico pr-natal permite selecionar as crianas que vo nascer de acordo com critrios mdicos. Trata-se, sem dvida, de um objetivo eugnico, mesmo se desconsiderando a definio de Galton e que levou Jacques Testart a denunciar a eugenia que constituiria o fundamento de uma poltica de sade no ambiente da gentica.

    Diante das novas tcnicas e procedimentos, a maioria se deu conta da realidade dos riscos cientficos. A perplexidade e as inquietudes levaram cientistas e especialistas a se questionarem sobre a relao cincia, tica e sociedade, o que gerou uma variedade de normas, tanto no plano nacional quanto no internacional.

    Apesar de o assunto eugenia sempre pr em evidncia o aspecto cruel

    da manipulao gentica, seria esta talvez uma forma de eliminarmos de vez

    doenas a muito conhecidas e sem cura por serem doenas genticas. Doenas

    bacterianas podem ser tratadas com antibiticos, por exemplo, mas uma doena

    gentica no tem cura, e a nica soluo par