bioética e islão

13
Bioética e Islão Maria João Tomás, PhD [email protected]

Upload: lediep

Post on 06-Jan-2017

231 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Bioética e Islão

Maria João Tomás, [email protected]

1- A religião é normativa, porque dita normas ecomportamentos.

2- A religião é reguladora porque determina, porexemplo, a contagem e a divisão do tempo: ocalendário.

3-A religião é legislativa porque fundamenta leis,como na Arábia Saudita e no Irão.

4-A literacia religiosa é fundamental no século XXI,onde se vive, trabalha e estuda, à escala global.

5-A literacia religiosa é essencial para saber quais sãoos nossos valores e aprender a conviver com osvalores dos outros.

6-A literacia religiosa é importante para saber quandoa religião está a ser utilizada para fins políticos oueconómicos.

7-Mas tal como defende Aga Khan, é necessárioincluir também os agnósticos e os ateus.

A importância da religião

Global Century, global village, comércio global,mobilidade global, turismo global, empresas globais,trabalho à escala global, networking, empresasmultinacionais, equipas multinacionais,internacionalização, exportação, erasmus, imigração,emigração, migração, refugiados, multiétnico,multicultural, interculturalidade.

Apesar de ser considerada uma evolução influenciada pelo Ocidente, começada pelos filósofosamericanos e bio cientistas Tom Beauchamp e James F. Childress, e apesar de ter estado muito tempoausente dos cuidados de saúde do código islâmico, a biomédica islâmica faz atualmente parte do códigode conduta dos médicos muçulmanos e também do seu juramento.

Em outubro de 2009 foi criado o projeto IMSE, Islamic Medical Scientific Ethic, financiado por o QatarNacional Research Fund (QNRF), membro da Qatar Foundation, juntamente com a Universidade deGeorgetown e de Washington, para produzir uma coleção abrangente derecursos sobre Bioética islâmica.

Já compilou mais 1.000 obras escritas em árabe e inglês, com fundos de $1.050.000. Incluí temas como aclonagem, aborto, células estaminais, pesquisa genética, transplante de órgãos, tratamentos defertilidade, planeamento familiar, eutanásia, pesquisa genética.

A base da bioética islâmica é o Alcorão, e a sirah, ou biografia de Muhhamad, mas há diferenças quantoao Islão sunita e ao Islão xiita.

Em 2015 havia cerca de 1,5 biliões de muçulmanos no mundo, 21% a 23% da população mundial. Cerca de 84% são sunitas e 13% xiitas. 50 países do mundo têm maioria da população muçulmana.

No Islão sunita, a bioética deve estar de acordo com a sunnah que, segundo o teólogo Fazlur Rhaman

(1979), é o conceito de comportamento.

A sunnah foi definida no século VIII, e baseada nos testemunhos de vida de Muhhamad, os haddith, que

incluem as palavras de Muhhamad, Sunnah Qawliyyah, os seus hábitos e práticas, Sunnah al Fiiliyyah, e os

seus consentimentos Sunnah Taqririyyah .

Os haddith têm de ser criteriosamente estudados. Os Shiah Sitta , os mais verdadeiros, foram elaboradas

pelos Sahaba and Tabi'iun com o objetivo de fazer incorporar melhor as práticas consuetudinárias com o

Islão, à medida que foi feita a expansão do Islão ( Asghar Ali Engineer,2001).

A bioética islâmica deve estar de acordo com a sharia, a estrutura jurídica islâmica. Existem 4 escolas de

jurisprudência sunita, ou maḏhab, Hanafi, Shafi, Hanbali e Malikii.

Adab é a ética islâmica e fiqh jurisprudência.

Os juristas podem emitir decretos ou fatwas, porque qualquer regra que não tenha sido explicitamentedescrita nos textos religiosos, ou formulada a partir dos juristas, é haram, ou ilícita.

Para perceber melhor o Alcorão deve-se fazer tafsir , ou exegese, e quem a faz é mufasireen, exegeta.Precisa de diraia, clareza de espirito e de mente, e ijtihad, interpretação independente e isenta.

Têm de ser feitas analogias com o tempo de Muhhamad, ou qiyas, e têm de obter consenso, ou ijma, deforma a conseguir segurança publica ou maslaha e passar a ser ‘urf, ou prática habitual e taqlid, deimitação coletiva.

Tem de fazer Asbāb al-nuzūl, ou seja, contextualização histórica da revelação do Alcorão, ou seja, se foiem Meca ou se foi em Medina, que no fundo é saber a sirah,. Têm de saber tawil, ou seja as mensagensimplícitas do Alcorão e é obrigatório saber árabe.

O Islão xiita valoriza o aql, ou conhecimento racional, e a ijtihad, interpretação isenta, neste caso do marja’i,

ou autoridade suprema.

Não pode ser feita por taqlid, ou seja por imitação. Questões como a fertilidade podem ser facilitadas pela

mut’a, ou seja casamento temporário.

Os xiitas rejeitam o uso de analogias, qiyas, que veem como uma maneira fácil para a penetração deinovações, ou bid'ah, e também rejeitam o consenso, ijma.

O legado escrito dos imames xiitas é também fonte de conhecimento, ou usul e de jurisprudência, al-fiqh.

Um tema recorrente na jurisprudência xiita é a lógica, mantiq, como forma de verificar se uma interpretaçãoé compatível com o Alcorão.

Os Xiitas podem ser Zahiri, Jafari, Ithna, Isma'ili e Zaidi.

Alguns movimentos mais liberais e progressistas defendem que qualquer muçulmano pode

fazer ijtihad dos textos sagrados, visto que não há no Islão uma hierarquia clerical ou

organização burocrática.

No Islão a vida humana é considerada como um dom inestimável de Deus, e por isso deve

ser respeitada e protegida.

Tirar uma vida é considerado crime, e portanto proibido, sendo que há obrigatoriedade de

salvar a vida. O Alcorão é muito claro neste aspeto, e muitos capítulos, ou suras, e

versículos, ou ayat, o referem:

5.32 . Por isso, prescrevemos (…),(…) que quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido

homicídio ou semeado a corrupção na terra, será considerado como se tivesse assassinado toda a

humanidade. Apesar dos Nossos mensageiros lhes apresentarem as evidências, a maioria deles comete

transgressões na terra.

2.258 . Não reparaste naquele que disputava com Abraão acerca de seu Senhor, por lhe haver Deus concedido o poder?

Quando Abraão lhe disse: Meu Senhor é Quem dá a vida e a morte! retrucou: Eu também dou a vida e a morte. Abraão

disse: Deus faz sair o sol do Oriente, faze-o tu sair do Ocidente. Então o incrédulo ficou confundido, porque Deus não

ilumina os iníquos.

91.8 . E lhe imprimiu o discernimento entre o que é certo e o que é errado.

45.13 . E vos submeteu tudo quanto existe nos céus e na terra, pois tudo d’Ele emana. Em verdade, nisto há sinais para os

que meditam.

16.90 . Deus ordena a justiça, a caridade, o auxílio aos parentes, e veda a obscenidade, o ilícito e a iniquidade. Ele vos

exorta a que mediteis.

17.70 . "Enobrecemos os filhos de Adão e os conduzimos pela terra e pelo mar; agraciamo-los com todo o bem, e

preferimos enormemente sobre a maior parte de tudo quanto criamos.

3.104 . E que surja de vós uma nação que recomende o bem, dite a retidão e proíba o ilícito. Esta será (uma nação) bem-

aventurada.

6.151 . Dize (ainda mais): Vinde, para que eu vos prescreva o que vosso Senhor vos vedou: Não Lhe atribuais parceiros; tratai com benevolência vossos pais; não sejais filicidas, por temor á miséria- Nós vos sustentaremos, tão bem quanto aos vossos filhos -; não vos aproximeis das obscenidades, tanto pública, como privadamente, e não mateis, senão legitimamente, o que Deus proibiu matar. Eis o que Ele vos prescreve, para que raciocineis.“

81.8 . Quando a filha, sepultada vida, for interrogada: 81.9 . Por que delito foste assassinada?

Dom da vida

23.13 . Em seguida, fizemo-lo uma gota de esperma, que inserimos em um lugar seguro.

23.14 . Então, convertemos a gota de esperma em algo que se agarra, transformamos o coágulo em feto e convertemos o feto em ossos; depois, revestimos os ossos de carne; então, o desenvolvemos em outra criatura. Bendito seja Deus, Criador por excelência.

“Each one of you is constituted in the womb of the mother for forty days, and then he becomes a clot of thick blood for a similar period, and then a piece of flesh for a similar period. Then Allah sends an angel who is ordered to write four things. He is ordered to write down his deeds, his livelihood, his (date of) death, and whether he will be blessed or wretched (in religion). Then the soul is breathed into him…” (Sahih al-Bukhari no: 3036).

22.5 . Ó humanos, se estais em dúvida sobre a ressurreição, reparai em que vos criamos do pó, depois do esperma, e logo vos convertemos em algo que se agarra e, finalmente, em feto, com forma ou amorfo, para demonstrar-vos (a Nossa onipotência); e conservamos no útero o que queremos, até um período determinado, de onde vos retiraremos, crianças para que alcanceis a puberdade. Há, entre vós, aqueles que morrem (ainda jovens) e há os que chegam à senilidade, até ao ponto de não se recordarem do que sabiam. E observai que a terra é árida; não obstante, quando (Nós) fazemos descer a água sobre ela, move-se e se impregna de fertilidade, fazendo brotar todas as classes de pares de viçosos (frutos).

40.67 . Ele foi Quem vos criou do pó, depois do sêmen, depois de algo que se agarra, então vos extraiu, crianças, das estranhas maternas, para algo alcançardes a vossa maturidade, para então chegardes à senilidade; e há aqueles, dentre vós, que morrem antes ; Ele assim procede, para que alcanceis o término prefixado, a fim de que raciocineis.

75.37 . Que logo se converteu em algo que se agarra, do qual Deus o criou, aperfeiçoando-lhes as formas.

75.38 . De qual fez dois sexos, o masculino e o feminino?

5.151 Não mateis os vossos filhos por medo da pobreza. Nós providenciaremos para vós e para eles.

31.14 . E recomendamos ao homem benevolência para com os seus pais. Sua mãe o suporta, entre dores e dores, e sua desmama é aos dois anos. (E lhe dizemos): Agradece a Mim e aos teus pais, porque retorno será a Mim.

Embrião

Bibliografia• Al-HATHERY, Shabib; "The Muslim Doctor: Duties and Responsibilities". Islamic Medical Association Conference.

Saudi Arabia, Dammam. pp. 1–21.

• ARMSTRONG, Karen- Maomé: uma biografia do profeta., São Paulo, Companhia das Letras, 2002

• ATIGHETCHI, Darius, -Islamic Bioethics: Problems and Perspectives. Springer, 2007

• CRABTREE, Vxen -Cultural Religion Versus Scholarly Religion: “Cultura Infuses Religião and is OftenIndependent and Resistant to Change;”;2013.

• ENGINEER,Asghar Ali — Origin and Development of Islam: An Essay on Its Socio-Economic Growth. South Asia Books, 1980.

Institute of Islamic Studies

— The Islamic State. Published, Vikas, 1980.

— Islam and Muslims: a critical reassessment. Printwell Publishers, 1985.

— Status of women in Islam. Ajanta Publications , 1987,

— IIslam ,Women and Gender Justice, Gyan Publishers, 2001.

— Islam in Contemporary World. Sterling Publishers, 2007.

— Islam in Post-Modern World. Hope India Publications, 2009.

• GUILLAUME, A. The Life of Muhammad — A Translation of Ishaq's Sirat Rasul Allah, Oxford University Press, Karachi, 1955.

• HAYEK, Samir, (tradução e comentários) Alcorão Sagrado, São Paulo, MarsaM Editora Jornalística, 1994.

• LINGS, Martin, Muhammad : His Life Based on the Earliest Sources, Islamic Texts Society, 1983.Muhammad - a vida do Profeta do Islam segundo as fontes mais antigas , São Paulo, Attar Ed., 2010.

• MALIK, Fazlur Rahman, Islam, University of Chicago Press, 2nd edition, 1979.-Islam and Modernity: Transformation of an Intellectual Tradition, University of Chicago

Press, 1982.-Major Themes of the Qur'an, University of Chicago Press, 2009.-Revival and Reform in Islam Oneworld Publications, 1999.-Health and Medicine in the Islamic Tradition, Crossroad Pub Co, 1987.

• MAUDUDI, Sayyid Abul, : Towards Understanding the Qur'na, The Islamic Foundation , 2006.• RAMADAN, Tariq, Western Muslims and the Future of Islam; Oxford University Press, 2004

• RODINSON, Maxime - Maomé. Lisboa, Caminho, 1992.

• SCHUON, Frithjof - Para Compreender o Islã., Rio de Janeiro: Nova Era, 2006.

• SHOMALI, Mohammad Ali, "Islamic Bioethics: A General Scheme", Journal of Medical Ethics and History ofMedicine, October 2008, 1: 1–8.

• SOARES DE AZEVEDO, Mateus - Iniciação ao Islã e Sufismo., Rio de Janeiro: Record, 2001.

• YIOSSUF, M.; M. Adamgy, Islão: história e conceitos, Lisboa, Al-Furqam, 1998 .-Pequena biografia do profeta Muhammad, , Lisboa, Al-Furqam, 2000.-A vida de Muhammad , Lisboa, Al-Furqam, 1997.

• YOUNIS, Huda, "Islamic Bioethics", O&G Magazine, Winter 2008, 10: 24–26

Bibliografia