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para Jovens Manual de Bioética para Jovens Associação de Defesa e Apoio da Vida

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Este Manual destina-se a jovens de qualquer idade que não se conformam com o mais fácil nem com o que todos dizem, que querem manter o encantamento, alargar horizontes, superar obstáculos e descobrir o valor e a dignidade de cada ser humano.

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  • para JovensManual de Biotica

    para Jovens

    Associao de Defesa e Apoio da Vida

  • Manual de Bioticapara Jovens

    Associao de Defesa e Apoio da Vida

  • ue h de mais ntimo vida que a prpria vida, a histria dos nossos primeiros momentos e dos nossos ltimos instantes? Por vezes, aocontemplarmos a maravilha que somos, arrebata-nos uma vertigem. Esta vida, que recebemos, podemos transmiti-la. Poder imenso. E,depois, esta vida um dia passar. A nossa e a daqueles que amamos. ltima iluso ou nica e verdadeira manh? Transmissores de vida,eis a uma aventura altura dos nossos sonhos.

    Mas como no nos enganarmos? At que ponto se pode ir no controlo da vida que comea ou acaba? A cincia ,verdadeiramente, a rvore do conhecimento do bem e do mal. Toda a nossa responsabilidade consiste em tentarcolher os frutos bons e no trincar os frutos maus, nem oferec-los aos nossos descendentes.

    Eis o desafio do Manual de Biotica para Jovens: desmontar as palavras para perspectivar de novo a realidade dos factos biolgicos e as suasimplicaes ticas. O que queremos dizer, por exemplo, quando se sugere a uma mulher uma reduo embrionria ou um diagnstico pr-implantao? Com uma abordagem cientfica e factual, o Manual de Biotica para Jovens prope pistas de reflexo.

    Alguns ficaro talvez surpreendidos ao descobrirem o peso da nossa responsabilidade, enquanto homens e mulheres, perante a transmissoda vida. H uma coisa que me parece muito importante precisar: o que cada um descobrir deve ajud-lo a julgar os actos. Em contrapartida,nunca devemos julgar as pessoas que no fizeram as mesmas escolhas. Compete-nos antes esclarec-las e ajud-las.

    O Manual tambm um meio para corrigir um ensino, por vezes desvirtuado nos manuais escolares. O estudo dessas obras mostra queapresentam quantitativamente poucos erros. Mas um s, grave, pode ser suficiente para orientar ou antes desorientar toda a reflexotica. Ora, ns encontrmos dois erros importantes. O primeiro um erro de perspectiva: a procriao ensinada quase exclusivamenteatravs do prisma redutor do seu controlo, desumanizando os momentos mais ntimos da vida humana. O segundo um erro cientfico: agravidez apresentada como se apenas tivesse incio com a nidao no tero, isto , ao stimo dia.

    Estas pginas convidam, portanto, a ter uma atitude de prudncia e firmeza, mantendo o rumo e firmando o leme. Ouve-se insistentementedizer que as prticas descritas neste Manual devem ser todas permitidas pela lei, desde que sejam tecnicamente possveis. Procurem resistira estas ideias estreitas, na aparncia liberais, mas, na realidade, totalitrias, pois conduzem arbitrariedade dos mais fortes.

    Ouve-se tambm falar de escolha. Mas de que se trata? O que significa ter o poder de vida e de morte sobre algum, s porque a lei opermite? O que legal no necessariamente justo. E as leis injustas no so leis.

    Que futuro nos promete uma sociedade em que o modelo feminino pretende construir a sua identidade matando o prprio filho e em que amorte programada dos mais velhos e dos mais vulnerveis apresentada como o cmulo da compaixo?

    Porque a vida bela e urgente redescobrir em ns e nos outros um olhar de encantamento, torna-se necessrio remover os obstculosque nos limitam a viso.

    INTRODUO

    Q

  • Se estas pginas contriburem para isso, aprofundando osvossos conhecimentos ou, melhor ainda, ajudando-vos adescobrir a vossa prpria misso, elas tero atingidoplenamente o seu objectivo.

    Esta verso revista e aumentada do Manual de Bioticapara Jovens no me leva a alterar sequer uma vrgula daintroduo primeira verso, dado que o alicerce ticofixado em 2006 aere perennius (mais slido do que obronze, como no verso de Horcio) Em contrapartida, atransgresso tica expandiu-se desde ento, tanto naprtica como no direito, verificando-se que a ltima lei debiotica votada em 2011 (em Frana) no teve, como decostume, outra consequncia seno a de ratificar osdesvios! (Em Portugal temos assistido tambm aprovao de legislao por exemplo, em matria deaborto em relao qual vlida esta crtica).

    Razo superlativa para persistir com este Manualactualizado, ao qual desejo que venha a conhecer osucesso da edio precedente, j com uma tiragem de230 000 exemplares (em Frana) e que at do estrangeironos solicitada.

    Boa leitura!

    JEAN-MARIE LE MNPRSIDENT DE LA FONDATION JRME LEJEUNE

    * Breve nota edio portuguesa: os responsveis pela edio fran-cesa permitiram a substituio da legislao nos quadros especfi-cos constantes da obra. J nas perguntas e respostas, procedeu-se,em regra, traduo da verso francesa, tendo-se acrescentado,sempre que possvel, dados sobre a situao portuguesa.

    NDICE

    1 / Histria do pequeno ser humano

    2 / O abortamento

    3 / O diagnstico pr-natal

    4 / A procriao medicamente assistida

    5 / O diagnstico pr-implantao

    6 / Investigao com embries

    7 / Eutansia/Ddiva de rgos

    4

    10

    20

    28

    38

    44

    54

    Em cada captuloencontram-se as rubricas:

    O que ...? Os mtodos A legislao Perguntas... Reflexes ticas Testemunhos

    Em determinados captulos,uma rubrica especfica dresposta aos ensinamentosde alguns manuais escolares.

  • PG.4

    A histria do ser humanocomea com a

    fecundao

    O zigoto recebe a informaoe a vida do espermatozidevivo do pai e do ovcito vivoda me.

    O embrio comea adividir-se, manifestan-do assim uma nova vida.

    >Embriono 1 estdio dedesenvolvimento

    ou zigoto2 clulas

    O zigoto o primeiro estdio do embrio. Nele seencontram reunidos os 23 cromossomas da me e os 23cromossomas do pai. O seu tamanho de 0,15mm.

    Uma nova vida humana comea nomomento em que toda a informaotransportada pelo espermatozidedo pai se junta que fornecidapelo ovcito da me. Na realidade,desde a fecundao estamosperante um novo ser que comea asua existncia.O patrimnio gentico nico de cadapessoa, portanto tambm o seusexo, fica determinado a partirdeste momento. No se trata de umser humano terico, mas do primei-ro estdio de desenvolvimentodaquele que, mais tarde, h-de cha-mar-se Teresa ou Simo.

    1/Histria do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.5

    O embrio unicelular (zigoto) divide-se em 2, 3, 4, 8 clulas Estas clulascomunicam entre si, quimicamente,mostrando que esto organizadas. Dozigoto ao feto, tudo ocorre de um modoorganizado. O processo contnuo.

    2 dias 3 dias 4 dias5 a 7 dias4 clulas 8 clulas 10 a 30 clulas

    Mrula

    BlastocistoNidao no tero materno

    O embrio um organismo, um ser vivo. O embrio humano um ser vivo com um patrimnio gentico humano., sem dvida, um ser humano.

    2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.6

    A gravidez o estado da mulher, da fecundao ao parto. (Definio dos dicionrios)O termo de uma gravidez calcula-se de duas maneiras: em meses de desenvolvimento do embrio, contados a partir do dia da fecundao; em semanas de amenorreira (SA, semanas sem menstruao), contadas a partir do 1 dia do ltimo ciclo menstrual.

    Quando o ciclo da mulher de 28 dias, a ovulao ocorre no 14 dia do ciclo.Quando uma mulher deduz que est grvida pelo atraso da menstruao, o beb j tem pelo menos14 dias.Aos 21 dias o seu corao vai comear a bater.

    1 ms

    O corao do beb j bate.Ouve-se e v-se na ecografia.21 dia

    s 7 semanas(17-22 mm)

    s 8 semanas(35 mm)

    s 11 semanas(6 cm - 20 gr)

    O feto s 5 semanas(3-5 mm)

    1 dia

    Zigoto

    2 ms

    Formam-se os membros.Distinguem-se os dedos, aboca, o nariz, as orelhas, osolhos e at as plpebras.

    3 ms

    J mexe as mos e osps. O seu sexo podereconhecer-se.A partir da 8 semana, o

    embrio passa a chamar-sefeto. O crebro e os outrosrgos j esto individualiza-dos.

    1/Histria do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.7

    4 ms

    O beb chucha no polegar,engole lquido amnitico.As mos estocompletamente formadas.

    A me apercebe-se dosmovimentos do beb.

    6 ms

    O beb mexe-se muito.Comea a reagir aos sonsexteriores.

    8 ms

    Assume a posioque, em princpio,manter at ao parto.

    s 20 semanas(30 cm - 650 gr)s 16 semanas

    (20 cm - 250 gr)

    J mexe as mos e osps. O seu sexo podereconhecer-se.

    s 24 semanas(37 cm - 1000 gr)

    5 ms

    O pequeno filhodo homem um homem

    em pequeno.Jrme Lejeune

    O EMBRIO HUMANO!

    2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.8

    O embrio no apenas um amontoadode clulas?

    Alguns falam de amontoado poroposio a organismo. Ora, desdeo incio, o embrio um ser vivo,organizado de modo a desenvolver-se por si prprio de forma contnua.O local de penetrao do esperma-tozide no ovcito orienta, desdelogo e a partir do ovo, a posiofutura do embrio (cabea, ps).Desde a fecundao que o embriod origem a uma cadeia de activi-dades (expresso do cdigo genti-co, sntese de protenas), com vistaao seu desenvolvimento. Produzhormonas que interrompem ociclo menstrual da me, comea apreparar os seus seios para a futu-ra amamentao, etc. O embriono , portanto, um mero amon-toado de clulas.

    O embrio um serhumano desde afecundao?

    Sim, porque um homem e umamulher s podem conceber umpequeno ser humano. Sim, vistoque o patrimnio genticonico de cada pessoa fica defi-nido nesse preciso momento.Se o ser humano no comeana fecundao, ento nocomea nunca, pois de onde lheviria uma nova informao? Aexpresso beb-proveta mos-tra que isto reconhecido.

    Reconhecer o embriocomo um ser humano, uma questo de opinio?

    Aceitar que a fecundao marcao incio de um novo ser humanono uma questo de gosto oude opinio, reconhecer umarealidade biolgica. Todas asevidncias cientficas vo nessesentido e nada prova ocontrrio. Ningum duvidardisto sinceramente.

    O embrio em perguntas

    O embrio um serhumano, mas seruma pessoa?

    J se cruzou com seres huma-nos que no fossem pessoas?Os nicos homens na histriaque no foram consideradoscomo pessoas eram escravos.Se alguns seres humanos noso pessoas, em que sociedadeestamos ns?

    1/Histria do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.9

    O que que faz comque um embrio sejaum ser humano?

    No graas s suasqualidades, s suascapacidades ou aos seusdesempenhos que um ser humano. -o unicamente emvirtude da sua natureza.Ele pertence espcie humana, famlia dos homens, de todosos homens e mulheres, talcomo cada um de ns. ,portanto, um ser humano.

    O embrio ou fetosentem dor?

    Hoje sabe-se que o feto sentedor, desde o segundo trimestreda gravidez, e at mesmo antes(Assises Fond. Prem. Up, juin2010)

    O embrio est completa-mente dependente dame. Ser ele um serhumano por inteiro?Como qualquer ser vivo, oembrio tem necessidade deum ambiente adequado para sedesenvolver.Na realidade, somos todosdependentes (de alimentao,de oxignio), em todos os est-dios da vida humana. Qual dens resistiria nu no Antrctico?Mas, nem por isso, somos maisou menos humanos. A depen-dncia, por mais profunda queseja, em nada altera a nossanatureza. O facto de se abrigar ede se alimentar no corpo dame no faz da criana in uteroum elemento do corpo materno.Distingue-se dele em todas assuas clulas.

    Se o embrio no temforma humana, serverdadeiramente umser humano?No somente pela aparnciaque se reconhece um serhumano. Alis, o mesmo indiv-duo apresenta ao longo da vidadiferentes aparncias: embrio,beb, criana, adulto e velho. Oembrio tem a aparncia huma-na da sua idade. Todos pass-mos por essas formas embrio-nrias em que tudo j estavainscrito, at a cor dos nossosolhos!

    Contrariamente ao que se pode ler em certosmanuais escolares, a gravidez no comea quando oembrio se aloja na parede do tero (nidao), massim na fecundao (mesmo que a mulher no se dconta disso seno depois da nidao). A vida do novoser humano comea desde a fecundao.

    2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.10

    O que o abortamento?O abortamento (na lei, aborto) a morte prematura do embrio ou do feto, nodecurso do seu desenvolvimento.

    Fala-se de aborto espontneo desde que se trate de uma morte no provocada.Fala-se de aborto provocado quando se pe, voluntariamente, fim vida doembrio ou do feto.

    Na lei, as palavras interrupo da gravidez substituem por vezes a palavraaborto. A expresso interrupo da gravidez mascara a realidade,ocultando a morte da principal interessada, a criana.

    Podem distinguir-se: a interrupo voluntria da gravidez (IVG) por opo da mulher; a interrupo voluntria da gravidez por motivos mdicos: perigo para a vidaou para a sade da me; a interrupo voluntria da gravidez por forte probabilidade do feto sofrerde doena ou malformao grave e incurvel; a interrupo voluntria da gravidez por esta ter resultado de um crimesexual, por exemplo violao.

    No mundo inteiro, em cada ano, provocam-se cerca de 50.000.000 abortos.Em Portugal, de acordo com os nmeros da Direco-Geral de Sade, no quadroda Lei 16/2007, s no ano de 2008, foram provocados 18.607 abortamentos; noano seguinte (2009) o nmero de abortos provocados foi ainda maior, 19.848; em2010, o nmero subiu para 20.137; em 2011, voltou a aumentar para 20.290. Entre2007 e 2011 realizaram-se mais de oitenta e cinco mil abortos. Mais de oitenta ecinco mil crianas nicas e insubstituveis deixaram de nascer.

    Aviso ao leitor:Este captulo pode ferir certas sensibilidades.

    Sendo o aborto uma realidade violenta, evoc-lo, mesmodiscretamente, pode ser sentido como uma agresso. Noentanto, necessrio falar dele para compreender o que estem jogo. Tentmos apresentar sem disfarce esta realidade,decidindo, ao mesmo tempo, no mostrar fetos abortados.

    2/O abortamento1 / Histria do pequeno ser humano 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.11

    O que o abortamento? Mtodos abortivosAbortopor raspagem

    Destruio do embrio comuma cureta e extraco dosseus fragmentos e daplacenta que ficam no tero.

    Aborto poraspirao

    Aspirao do feto, des-membrando-o. o mtodoutilizado com algumafrequncia nas IVG.

    Aborto por injeco

    Injeco de cloreto de potssio no coraodo feto. Este mtodo causa a morte do feto eprovoca um parto muito prematuro.

    Injeco de uma soluo hipertnica nolquido amnitico, que mata o feto empoucas horas. 24h mais tarde, a me d luz um nado-morto. Este tipo de aborto utilizado pelas interrupes voluntrias dagravidez at aos 9 meses.

    Aborto pornascimento parcial

    O mtodo demasiado terrvelpara ser aqui descrito. Estatcnica permite at colherclulas nervosas vivas do feto.

    Plula abortiva que torna amucosa uterina imprpriapara a sobrevivncia doembrio j implantado.Provoca um aborto.

    Plula RU 486

    Segundo o momento do ciclo feminino emque tomada, ora impede a fecundao etem efeito contraceptivo, ora, como algunspensam, impede a nidao do embrio jconcebido e tem assim um efeito abortivo.

    Plula do dia seguinte ou con-tracepo de urgncia

    O dispositivo intra-uterino e a plula dodia seguinte podem provocar abortosquando impedem a nidao do embrio.

    Dispositivointra-uterino (DIU)

    Dispositivo colocado nacavidade uterina, para impediras gravidezes. Tem um efeitocontraceptivo na medida emque um obstculo mecnico equmico para os esperma-tozides e pode impedi-los(embora nem sempre) dealcanar o ovcito. Possuitambm um efeito abortivoprecoce quando um esperma-tozide consegue, mesmoassim, atingir o ovcito efecund-lo: nesse caso,impede o embrio de seimplantar no tero e condena-o a morrer (altera a cavidadedo tero impedindo a nidaodo embrio).

    1 / Histria do pequeno ser humano 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • 10 semanasInterrupo

    por opo da mulher

    ZIGOTO 1 MS2 MS 3 MS

    4 MS5 MS

    At ao incio dotrabalho de parto, seestivermos perante:a) Indicao tera-putica em sentidoestrito (v. na legislao o

    art. 142/1/a do Cdigo Penal);

    b) fetos inviveis

    9 MS

    3 - 5 mm35 mm

    20 cm - 250 gr30 cm 650 gr

    6 cm - 20 gr

    PG.12

    Prazos para o abortamento em Portugal

    12 semanasIndicao

    teraputica,nos termos referi-dos na legislao:

    art. 142./1/b

    16 semanasEm caso de

    crime sexual(ex.: violao)

    24 semanasindicao embrioptica

    ou fetoptica(com excepo dosfetos inviveis)

    2/O abortamento1 / Histria do pequeno ser humano 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.13

    Legislao

    A Constituio da Repblica Portuguesa reconhece que a vida humana inviolvel (art. 24./1), mas tem vindo a assistir-se a umenfraquecimento da tutela da vida intra-uterina. Em matria de aborto,o legislador afirma o direito objeco de conscincia dos profissionaisde sade.

    Legislao em vigor Artigo 3. da Declarao Universal dos Direitos do Homem, de 1948:Todo o indivduo tem direito vida.

    Artigo 2./1 da Conveno Europeia para a Proteco dos Direitosdo Homem e das Liberdades Fundamentais (mais conhecida porConveno Europeia dos Direitos do Homem), de 1950: O direito dequalquer pessoa vida protegido pela lei.

    Cdigo PenalEm 1984, foi aprovada a Lei n. 6/84, de 11 de Maio, que alterou o CdigoPenal, permitindo a realizao do aborto (interrupo voluntria dagravidez) quando se verificassem as seguintes indicaes: teraputica(sade, fsica ou psquica, da me), embrioptica ou fetoptica (problemasgraves e incurveis da sade do feto) e criminolgica (na altura, cobrindoapenas a hiptese de gravidez resultante de violao).

    Actualmente, na sequncia das alteraes introduzidas pela Lei n.16/2007, de 17 de Abril (Excluso da Ilicitude nos Casos de InterrupoVoluntria da Gravidez), o artigo 142. do Cdigo Penal passou a dispor oseguinte: 1. No punvel a interrupo da gravidez efectuada por mdico,ou sob a sua direco, em estabelecimento de sade oficial ou oficialmentereconhecido e com o consentimento da mulher grvida, quando:

    a) Constituir o nico meio de remover perigo de morte ou de grave eirreversvel leso para o corpo ou para a sade fsica ou psquica damulher grvida;

    b) Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave eduradoura leso para o corpo ou para a sade fsica ou psquica da mulhergrvida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez;

    c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro vir a sofrer, deforma incurvel, de grave doena ou malformao congnita, e forrealizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, excepcionando-se assituaes de fetos inviveis, caso em que a interrupo poder serpraticada a todo o tempo;

    d) A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade eautodeterminao sexual e a interrupo for realizada nas primeiras 16semanas;

    e) For realizada, por opo da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.

    1 / Histria do pequeno ser humano 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.14

    O aborto em perguntasGravidez e solido:como ultrapassar a situao?

    Uma mulher grvida, sobretudo se est sozinha,pode angustiar-se e sentir que os acontecimen-tos a ultrapassam. Tem necessidade de ser ouvi-da, ajudada e, por vezes, socorrida materialmen-te. Se a IVG lhe pode parecer a soluo menosm, ela tem o direito de saber que muitasmulheres, depois, lamentam dolorosamente asua IVG e lamentam no ter feito a escolha davida e do amor desta criana. Ela deve saber que,para se libertar do medo e da solido, podeencontrar pessoas que esto disponveis para aescutar, a ajudar e a acompanhar.

    O abortamento tem consequn-cias psicolgicas na mulher?

    Observa-se em muitas mulheres que abortaramum estado depressivo e outras perturbaes:culpabilidade, perda da auto-estima, depresso,intenes suicidas, ansiedade, insnias,irritabilidade, perturbaes sexuais, pesadelosem que o seu beb a odeia, a chama Aaceitao do aborto nem sempre foi feita. Estasconsequncias, que podem aparecer logo oumais tarde, so hoje bem conhecidas eidentificadas como sndrome ps-aborto.Estes sintomas amplificam-se sempre que estamulher encontra uma grvida, v um beb numcarrinho, passa perto de uma maternidade oupensa no aniversrio do seu filhoA sndrome ps-aborto no se limita a atingira me. Pode tambm afectar as pessoas que lheso prximas: o pai, os irmos e irmsExistem no mundo mulheres que comeam adar o seu testemunho: Se eu tivesse sabido

    www.silentnomoreawareness.org

    Abortamento: uma mulherpode pedir ajuda?

    Uma mulher que equaciona fazer um aborta-mento tem necessidade de ser escutada.Depois de um abortamento, uma mulherdeve pedir ajuda, porque pode encontrar-senuma grande solido e ter um sentimento deculpabilidade. necessrio que ela possaconstruir o seu futuro, aceitando incluir neleeste acontecimento.

    Para pedir ajuda, antes e depois de um aborto, existe um portal na Webwww.federacao-vida.com.pt Dr. Ana Barquinha 91 735 46 02www.rachelsvineyard.org [email protected] Grvida 21 386 20 20 808 20 11 39 [email protected] Famlias [email protected] ADAV Coimbra [email protected]

    As mulheres em dificuldades podem encontrar ajuda junto de psiclogos ou de associaesespecializadas no acolhimento e na escuta.

    2/O abortamento1 / Histria do pequeno ser humano 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • PG.15

    Lgislation

    Em Frana, provocam-se mais de 220.000abortos por ano e j se contabilizam mais de8 milhes de abortos desde 1975. Foramimpedidas de nascer 8 milhes de crianasnicas, insubstituveis (sobre o casoportugus, vide os nmeros indicadosanteriormente, pg. 10).

    Os nmeros do abortamento em Frana sofceis de fixar: 1, 2, 3, 4:1 abortamento por cada 2 mulheres;1 abortamento por cada 3 nascimentos;1 abortamento por cada 4 crianas concebidas;1 IVG por cada 2 nascimentos em mulherescom menos de 25 anos.

    O abortamento em Frana Nmero fceis de fixarSer que existe direitoao aborto?

    Com dois meses de idade, eumeo, da cabea ponta dasndegas, trs centmetros.Com um microscpio, podemver-se as minhas impressesdigitais!

    Em Frana, em 1975, o legislador quis fazerpreceder as disposies relativas ao aborto doseguinte princpio de ordem pblica (isto , quese impe a todos) e convencional (isto , inscri-to tambm na Conveno Europeia dos Direitosdo Homem): o direito ao respeito do ser huma-no desde o incio da sua vida. Este direito vida conferido a todo o ser humano. A lei Veil, queabriu as portas ao aborto no caso francs, veiointroduzir derrogaes e excepes ao referidoprincpio. Em Portugal, a partir de 2007, aoadmitir-se o chamado aborto a pedido, isto ,por simples opo da mulher, independente-mente da existncia de qualquer indicao (porexemplo, violao), procedeu-se a uma mudan-a qualitativa do sistema. Assim, nas primeiras10 semanas de gravidez, a vida intra-uterinaficou desprotegida e sujeita arbitrariedade damulher. Estabeleceu-se ainda que o abortoseria integralmente pago pelo Estado, mesmono caso de prtica reiterada.

    1 / Histria do pequeno ser humano 3 / O diagnstico pr-natal 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

  • O aborto uma libertaoda mulher?

    PG.16

    O aborto foi reivindicado por feministas como odireito da mulher a dispor do seu corpo.Porm, biologicamente, o filho no uma partedo corpo da me: um outro corpo que no delase abriga. A me no pode, portanto, dispor delelivremente.

    Alm disso, o abortamento um atentado prpria natureza da mulher, em que se inscreveo ser me. O imenso sofrimento da esterilidademostra bem como a maternidade constitutivada identidade feminina.

    Da que o direito de matar o prprio filho nopossa ser fonte de liberdade nem de realizaopessoal.

    Reflexes ticasMulher/criana:amigo/inimigo?

    E no caso de violao?

    Por que que o direito da mulher a eliminar oseu filho dever ser mais forte do que o direitoda criana vida? O filho pode ser consideradocomo um agressor injusto? Mesmo que estateoria tenha sido, infelizmente, desenvolvidapor alguns filsofos, o filho sempre inocente.O prprio smbolo do amor e da paz - os laosque unem a me ao seu beb - posto emcausa por uma lei que autoriza o aborto.

    Pode compreender-se que a mulher nodeseje o fruto de uma violao. A me tem deser muito bem acompanhada depois de um taltraumatismo, mas matar a criana no anulao drama. juntar um drama a outro drama. Ocriminoso deve ser punido, mas por que quea criana inocente dever, ela, sofrer a penade morte que o criminoso no sofre? Nikita Vishneveckiy

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  • E o pai?O abortamento:pode falar-se de escolha?

    PG.17

    Os problemas materiais...

    Abortamento ou adopo?

    Em certos casos de aflio extrema, podeacontecer que uma me no consiga educar oseu filho. Pode ento confiar o seu beb a paisadoptivos. Contrariamente ao abortamentoem que a criana perde tudo, a adopo ofere-ce-lhe uma alternativa: perde a me, masconserva a vida e encontra novos pais.Muitospais esto predispostos a acolher uma crianapor adopo.

    Uma sociedadeque mata os seus filhos

    perde ao mesmo tempo a suaalma e a sua esperana.

    Jrme Lejeune

    de uma mulher so razo suficiente paraabortar, em comparao com o valor da vida deum filho? A melhor maneira de ajudar umamulher em dificuldades no ajud-la a eliminaruma vida, mas ajud-la a resolver as suasdificuldades. Se a me no tem possibilidadespara educar o filho, a adopo poder ser sempreum recurso para ele.

    Abortando o meu filho, eu escolho a mortepara ele, como se eu tivesse legitimidade,enquanto ser humano, para matar um dosmeus semelhantes. A lei que me concede estedireito parece tornar esta escolha possvel. E,no entanto, cometo um acto de morte. Apesarde tal no ser sancionado pela justia portu-guesa, a minha conscincia lembra-me esteprincpio fundador: no matars. O que legal no forosamente moral.

    No raro que as jovens grvidas se sintamobrigadas a abortar, porque o pai no querassumir a responsabilidade daquele filho.

    Por vezes sucede o contrrio: as mulheresabortam contra a vontade do pai. Nesse caso,para proteger o seu filho, o pai no pode opor-se vontade da me. Mas no ser ele filhodos dois? Ele carne da carne de cada umdeles, na procriao.

    Um jovem pai de 22 anos contou-nos queesteve quase a atirar-se da janela, ao saberque a namorada tinha abortado o filho deambos.

    A lei (a francesa, mas tambm a portuguesa)ignora o pai.

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  • A contracepo previne oabortamento?

    A mentalidade contraceptiva (recusa da crian-a) conduz a aceitar mais facilmente o aborta-mento como uma soluo para o problema deuma gravidez no desejada.O Inpes1 faz notar que uma gravidez no pre-vista cada vez menos bem aceite e que60% das gravidezes no desejadas terminamem abortamento, contra os 40% de h algunsanos.O Ined2 constata igualmente que a propensopara recorrer ao abortamento em caso de gra-videz no prevista se acentuou medida quemelhorou o controlo da natalidade.

    1 - Les Franais et la contraception, Institut national deprvention et d'ducation pour la sant (Inpes), 5 juin 2007.

    2 - La loi Neuwirth quarante ans aprs : une rvolution ina-cheve?, Etude de l'INED : Population et Socits, N439,27 novembre 2007.

    Diz-se muitas vezes que a contracepo oremdio mais eficaz contra o aborto. Ser ver-dade?No assim, e por 3 razes:Todas as plulas contraceptivas produzemuma percentagem de abortamentos precoces;A mentalidade contraceptiva (recusa da crian-a) conduz a aceitar mais facilmente o aborta-mento em caso de gravidez no desejada;A contracepo favorece relaes sexuaiscom parceiros mltiplos, no quadro de rela-es instveis, o que multiplica de facto asocasies de gravidezes no assumidas.As estatsticas confirmam que o aumento dacontracepo no diminui o nmero de abortos.A Frana tem uma das taxas de contracepodas mais elevadas da Europa e continua a reali-zar 220.000 abortos por ano.

    Todas as plulas contraceptivas provocamtambm certa percentagem de abortos preco-ces. Com efeito, as plulas clssicas (combina-das ou estroprogestativas) agem como contra-ceptivos quando bloqueiam a ovulao e modi-ficam o muco cervical para ser hostil aosespermatozides.Mas quando um destes mecanismos no suficiente (1 vez em 10 a ovulao no blo-queada), actua um terceiro efeito: a modifica-o da mucosa uterina para impedir a nidaodo embrio. Existe ento um efeito abortivo,visto que o embrio morre. As plulas micro-doseadas e os contraceptivos progestativos[mini-plula, plula do dia seguinte (contra-cepo de urgncia), injeces contraceptivase implantes de contraceptivos subcutneos]tm idntico efeito, mas de modo muito maisforte. Neste caso, produz-se o abortamentosem que a mulher tenha conscincia disso.

    PG.18

    Abortamento e contracepoMentalidadecontraceptiva e IVG

    Plula contraceptiva eabortamento

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  • PG.19

    Testemunho de uma meTinha eu, ento, 22 anos. Mantinha uma relao com um estudante daminha escola havia trs anos. Numa noite em que me tinha esquecido daplula, colocmos um preservativo que, infelizmente, se rompeu. Duassemanas depois, toda a minha vida se desequilibrou: estava grvida Apartir da, a solido que senti e a presso do pai da criana para que abor-tasse foram imensas: ele no queria esta criana. Confrontmo-nos vio-lentamente durante seis dias, depois cedi, demasiado sozinha, sem cora-gem suficiente e sem apoio da minha famlia. Ao acordar no havia nadamais: o mundo estava vazio. Dez dias mais tarde, vivi dois dias de hemor-ragias.

    Desde h vinte anos que, na data do aniversrio, revivo a angstia e a soli-do desse momento e sinto horrveis dores de barriga. Em cada nasci-mento dos meus filhos, vivo meses de depresso e tenho pesadelos terr-veis: mato o meu beb com as minhas prprias mos. Hoje, com 40 anos,nem um s dia passa sem que eu pense naquela criana e na parte demim mesma que eu matei ao abortar.

    Ema

    O aborto e a paz

    Se aceitamos que se matem os mais fracos nasnossas prprias famlias, como podemos pediraos povos inimigos que se no matem uns aosoutros?

    O aborto restabelece o direito do mais forte.Aceitar o aborto contrrio paz.

    Eu sinto que o maior destruidor da paz, nomundo de hoje, o abortamento, porque umaguerra declarada contra a criana, a morte purae simples da criana inocente, a eliminao dacriana pela prpria me. Se ns aceitamos quea me tenha o direito de matar o seu prpriofilho, como poderemos dizer aos outros para seno matarem entre si?

    Madre Teresa

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  • PG.20

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    O que o diagnstico pr-natal?Chama-se diagnstico pr-natal ou DPN ao conjunto dosexames realizados para a deteco precoce de doenas oude malformaes do feto no tero materno. Esta prticafoi regulamentada pela primeira vez, em Portugal, em1997.

    O diagnstico pr-natal inscreve-se na lgica da vigilnciadesejvel das gravidezes o mais cedo possvel, porque til para prever certas anomalias da criana acessveis aum tratamento precoce.

    No entanto, hoje o DPN ultrapassa a poltica de protecoda sade da me e da criana, porque serve, na maiorparte das vezes, para detectar anomalias como atrissomia 21, cujo diagnstico conduz quase sempre a umadeciso de abortar.

    Operao in utero, tendo Samuel, com espinha bfida,21 semanas. Hoje, Samuel tem 10 anos.

  • PG.22

    Os mtodos de diagnstico pr-natal

    A ecografia

    o principal exame de diagnstico pr-natal. Permite ver obeb atravs de imagens obtidas com base em ultra--sons. Este exame habitualmente realizado trs vezes aolongo de cada gravidez, s 12, 21 e 33 semanas deamenorreia. este exame que utilizado para medir, entreoutros aspectos, a espessura da nuca, que pode estar alteradana trissomia 21(1).

    Amniocentese e coriocentese

    A amniocentese realiza-se desde o final do terceiro msde amenorreia. Consiste na colheita de clulas fetaispresentes no lquido amnitico, com o fim de determinaro caritipo do filho (representao do conjunto de cro-mossomas). Este exame delicado provoca acidentalmen-te a morte do feto em mais de 1% dos casos. A coriocen-tese (ou bipsia do trofoblasto), colhendo um pequenofragmento de placenta, permite determinar o caritiponum momento mais precoce da gravidez, no 1 trimes-tre. O risco de morte fetal de 1 a 2%.

    A trissomia 21 alvo de um rastreio generalizado.

    Rastreio/Diagnstico: O rastreio uma anlise que permite calcular o risco de umamulher grvida ter um feto portador de trissomia 21. Um diagnstico ento proposto smulheres em risco. O diagnstico consiste na anlise de cromossomas do feto a partir deuma colheita invasiva (amniocentese ou coriocentese). (Atelier de lAgence de biomde-cine dcembre 2010)

    Como avaliar o risco de trissomia 21?O rastreio de trissomia 21 baseada na idade da mulher, nas dosagens de marcadoresbioqumicos (marcadores sricos) e no grau de translucncia (espessura) da nuca dofeto obtida atravs de ecografia. Em Frana, desde 23 de Junho de 2009, estas medidasforam reagrupadas e efectuam-se no 1 trimestre (rastreio combinado e precoce).Estes testes so propostos a todas as grvidas e podem ser realizados em 48h.

    Esto em estudo outros testes de rastreio pr-natal da trissomia 21. Uma simplesanlise de sangue da me poder ser suficiente para diagnosticar a doena.

    Com este diagnstico simplificado vai-se banalizar cada vez mais a deteco destadoena e chegar quase erradicao dos fetos atingidos pela trissomia 21.

    1/ Anomalia cromossmica devida presena de 3 e no 2 cromossomas 21.

    1 / Histria do pequeno ser humano 2 / O abortamento 4 / A procriao medicamente assistida 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos3/O diagnstico pr-natal

  • PG.23

    Legislao

    Legislao em vigor Aborto (Interrupo voluntria da gravidez) Art. 142 do Cdigo Penal

    1. No punvel a interrupo da gravidez efectuada por mdico, ousob a sua direco, em estabelecimento de sade oficial ouoficialmente reconhecido e com o consentimento da mulher grvida,quando:

    c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro vir a sofrer,de forma incurvel, de grave doena ou malformao congnita, e forrealizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, excepcionando-seas situaes de fetos inviveis, caso em que a interrupo poder serpraticada a todo o tempo.

    Diagnstico Pr-Natal (DPN) Lei n. 12/2005, de 26 de Janeiro

    Artigo 10/5, Consideram-se testes pr-natais todos aquelesexecutados antes ou durante uma gravidez, com a finalidade deobteno de informao gentica sobre o embrio ou o feto,considerando-se assim como caso particular destes o diagnsticopr-implantatrio.

    Despacho n. 5411/1997, de 6 de Agosto

    2.1 Populao em risco: para efeitos de DPN, so consideradasgrvidas de risco, quando se verifica uma das seguintes situaes:

    a) Idade superior a 35 anos;

    b) Filho anterior portador de cromossomopatia;

    c) Progenitor portador de comossomopatia equilibrada;

    d) Suspeita ecogrfica de anomalia congnita fetal;

    e) Alterao de valores de marcadores serolgicos maternos;

    f) Risco elevado de recorrncia de doena gentica nocromossmica;

    g) Risco elevado de efeito teratognico (infeccioso, medicamentosoou outro).

    Um caso de jurisprudnciaRecentemente, o Tribunal da Relao do Porto (Acrdo de 1 Maro de2012, Processo 9434/06) decidiu: no nos parece, assim, que possadefender-se um direito a indemnizao por violao de um direito ainexistir ou a no nascer, sem consagrao legal. De acordo com adoutrina dominante, pedir essa reparao [seria] pedir ao Direito queconsiderasse a morte prefervel vida deficiente, o que de todoimpossvel, por contrariedade aos pilares de um sistema jurdico civi-lizado, devendo favorecer-se sempre a vida sobre a no existncia.

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  • PG.24

    As tcnicas de DPNso ms?

    As tcnicas de DPN no so, em si mes-mas, nem boas nem ms, tudo depende douso que delas se fizer. So boas se servempara detectar doenas que podem ser logotratadas, ou se ajudam os pais a organi-zar-se para acolher uma criana doente.So nefastas se utilizadas para seleccio-nar os bebs antes do nascimento.

    Pode falar-sede eugenismo?

    Em Frana frequente falar-se de euge-nismo a propsito do DPN, visto que, seassociado a uma deteco macia, fre-quentemente conduz a um abortamento.Isto particularmente verdadeiro para ascrianas com trissomia 21, que so alvo deaborto em 96% dos casos.Acontece que determinada medicina, coma cumplicidade da lei, passou progressiva-mente da proteco da sade eliminaode certos seres humanos por causa do seupatrimnio gentico.Esta deriva lembra os mtodos criminososde certas pocas relativamente a indiv-duos deficientes mentais.

    O diagnstico pr-natal em perguntas

    O rastreio de trissomia 21 obrigatrio?

    Em Frana, desde 2011, os mdicos soobrigados a informar sobre o rastreio datrissomia 21 (quanto legislao portu-guesa sobre o DPN, vide pg. 23).Os pais no so obrigados a aceit-la, tmo direito a recusar a anlise de sanguedos marcadores sricos, assim como aamniocentese e a bipsia do trofoblasto.

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  • PG.25

    Quem juiz do valor deuma vida?

    Cada famlia deve estar preparada para aco-lher uma criana, mesmo doente. O choque danotcia mais duro para aqueles que nuncapensaram nisso e que no decidiram, no seucorao, acolher o dom desta criana.

    Este preconceito condena as pessoas defi-cientes a provar que so felizes para terem odireito de viver. Ningum pode medir o graude felicidade dos outros. So muitos os tes-temunhos de pessoas, com uma deficinciagrave, que exprimiram a sua felicidade deviver. Um estudo1 sistemtico, que envolveuum grande nmero de pessoas deficientes,mostrou claramente que estas no se sen-tiam mais infelizes, apesar do seu estado, doque a mdia da populao.

    1 - Les personnes handicapees face au diagnosticprenatal. Eliminer avant la naissance ou accompagner,Danile Moyse (CNRS - Centre National de la RechercheScientifique/EHESS-cole de hautes tudes en sciencessociales) e Nicole Diederiche (INSERM - Institut Nationalde la Sant et de la Recherche Mdicale), Ed. Ers, 2011.

    Decidir um aborto por razes de doena oude malformao significa fazer um julga-mento sobre o valor da vida de um serhumano: entender que este feto, porque portador de uma doena grave, deveria serimpedido de nascer, pressupor que a suavida tem menos valor que a minha. Podemosperguntar-nos se, muitas vezes, no pormera convenincia que os que nos rodeiamconsideram que a vida desta criana notem valor.

    Reflexes ticasAbortar porque o meufilho deficiente noser feliz?

    E se eu estivesse esperade um filho deficiente?

    O DPN da trissomia 21 tornoumortal uma doena que o noera. Em Frana, 96% dosfetos doentes detectados soeliminados por aborto

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  • A compaixo relativamente aos pais um sen-timento que toda a gente, e em particular todoo mdico, deve ter. Mas como poder pensar-se que se aliviaria o sofrimento de um serhumano matando outro ser humano? neces-srio fazer tudo para suprimir a doena, semeliminar o doente, porque a medicina o dio doena e o amor ao doente (Prof. Lejeune).A perda de uma criana sempre um drama,ainda que seja por abortamento.

    Muitos pais sofrem devido ao olhar acusadorsobre o seu filho e sobre si prprios: Quise-ram esta criana? No peam sociedade quese encarregue dela! Todos os anos, emFrana, um oramento enorme - pelo menos100 milhes de euros (2003) - consa-grado ao diagnstico pr-natal da tris-somia 21. Fala-se oficialmente detaxas de insucesso para qualificar osbebs portadores de trissomia 21que no foram detectados. Porm,sublinhe-se que em relao a estadoena no existe nenhuma polti-ca de investigao teraputica. Anossa sociedade torna-se cadavez mais intolerante perante adeficincia, e o mito da crianaperfeita avana...

    Um mdico foi condenado a indemnizar unspais por erro de diagnstico in utero, relativoao filho profundamente deficiente, NicolasPerruche. O acrdo do Tribunal de Cassa-

    o (Cour de cassation), em 2000, conde-nou uma segunda vez o mdico, obri-gando-o a indemnizar Nicolas Perru-che pelo prejuzo de estar vivo! Eleno tinha sido abortado porque omdico no detectara a sua defi-cincia antes do nascimento...Felizmente, a lei anti-Perruche,votada em 2002, ps fim a esta tris-te jurisprudncia. Hoje ningumpode valer-se do facto de ternascido deficiente para obter

    quaisquer contrapartidas.Em Portugal, no h uma lei como areferida, embora a questo seja dis-cutida e objecto de algumas decisesjudiciais (vide um caso na pg. 23).

    PG.26

    Reflexes ticas

    Eu no souuma anomaliacromossmica,

    chamo-me Virginie.Virginie, portadorade trissomia 21

    Existe a fobia dadeficincia?

    Um mal-estarsocial?

    O sofrimentodos pais

    * STOP ao racismo cromossmico!Contra a fobia da deficincia.

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  • PG.27

    TestemunhoA me de Elonore diz:

    Desde o nascimento de Elonore h 24 anos, perguntaram-me muitasvezes: Mas porqu? No sabias que ias ter uma criana trissmica? Note fizeram uma amniocentese? No incio, eu respondia No, nosabia. Depois acrescentei: No sabia e ainda bem. Se o tivesse sabidodurante a gravidez, ter-me-ia certamente assustado e cometido o maiorerro da minha vida.H 24 anos eu nada sabia da trissomia; somente algumas ideias pr-concebidas, na maior parte monstruosas, fonte de angstia, de vergonhae antipatia. Teria provavelmente preferido interromper a gravidez. Umavez passado o choque do anncio da deficincia, Elonore fez com que serevelasse em ns, seus pais, uma fora e uma capacidade de tolernciaque desconhecamos totalmente. Hoje, sabemos quanto Elonore nosenriqueceu com a sua diferena, quanto ela nos d pela sua alegriaradiosa e quanto ela feliz por viver. Hoje, avaliamos a extenso da nossaignorncia de h 24 anos e mais do que nunca exclamamos: Que sortepor no termos sabido que este ser desconhecido, que eu transportavaem mim, era portador de trissomia 21.

    Maryse Laloux, 2009www.lesamisdeleonore.com

    Elonore Laloux, portadora de trissomia 21, a porta-vozde um colectivo de defesa das pessoas com trissomia.

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  • PG.28

    1 / Histria do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnstico pr-natal 5 / O diagnstico pr-implantao 6 / Investigao com embries 7 / Eutansia/Ddiva de orgos

    O que a PMA?Chama-se usualmente Procriao Medicamente Assistida(PMA) ao conjunto de tcnicas que permitem a procriao forado processo natural.

    A PMA utiliza os gmetas: espermatozides do homem eovcitos da mulher.

    H principalmente duas tcnicas: a inseminao artificial; a fecundao in vitro com transferncia embrionria (FIV).

    Micro-injeco de um espermatozidenum ovcito com recurso a uma micro-pipeta.