bicit3 novembro & dezembro 2015

68
QUE TIPO DE MUNDO DESEJAMOS TRANSMITIR ÀQUELES QUE VÊM DEPOIS DE NÓS? biCIT boletim informativo da Cáritas da Ilha Terceira N OVEMBRO / DEZEMBRO 2015 E DIÇÃO 3 . SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL A AÇÃO DA CIT PROJETO TRAD(E)-IN HORTA BIOLÓGICA DA ARCIT ECOLOGIA INTEGRAL DIRETOR REGIONAL DA SOLIDARIEDADE SOCIAL FALA DOS DESAFIOS FUTUROS NOS AÇORES

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Boletim Informativo da Cáritas da Ilha Terceira n.º3 (novembro e dezembro de 2015)

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Page 1: biCIT3 novembro & dezembro 2015

QUE TIPO DE MUNDO DESEJAMOS

TRANSMITIR ÀQUELES QUE VÊM

DEPOIS DE NÓS?

biCIT boletim informativo da Cáritas da Ilha Terceira

NO

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20

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O 3

.

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

A AÇÃO DA CIT

PROJETO TRAD(E)-IN

HORTA BIOLÓGICA DA ARCIT

ECOLOGIA INTEGRAL

DIRETOR REGIONAL DA SOLIDARIEDADE SOCIAL FALA

DOS DESAFIOS FUTUROS NOS AÇORES

Page 2: biCIT3 novembro & dezembro 2015

IMAGEM DA CAPA: pavel ahmed (CC BY 2.0)

ENTIDADE FINANCIADORA:

08 32 60

EDIÇÃO 3 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2015

02

08 SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

História da agricultura Biológica nos Açores, visão da Cári-

tas sobre a sustentabilidade e intervenção social, Projeto

Trad(e)-In, horta da Arcit são alguns dos temas abordados

nesta edição especial sobre sustentabilidade e intervenção

social

32 UMA DÉCADA DE EXISTÊNCIA DO CDIJ

Ana Pimentel, a Coordenadora Pedagógica da UFCIT/CDIJ

leva-nos numa visita guiado pelos 10 anos de existência

do Centro de Desenvolvimento e inclusão Juvenil

34 PAPEL DA MEDIAÇÃO NO CDIJ

Apresentamos aqui a visão de alguns dos mediadores do

CDIJ sobre o seu Papel

60 SOLIDARIEDADE NOS AÇORES

Dr. Federico Sousa apresenta a visão da Direção Regional

da Solidariedade social sobre a solidariedade nos Açores

e quais os desafios futuros

Page 3: biCIT3 novembro & dezembro 2015

Nuno Lopes Coordenador da Unidade de Planeamento, Qualidade e Comunicação da CIT

03

E ditorial A questão “Que tipo de mundo desejamos transmitir

àqueles que vêm depois de nós?”, proferida pelo Papa

Francisco na encíclica 'Laudato si', serve de mote a

esta edição 3 do biCIT. Apesar de este ter solicitado

para que os 150 líderes mundiais que participaram em

Paris na Cimeira do Clima (COP21) focassem os seus

esforços em "atenuar o impacto das alterações climáti-

cas, combater a pobreza e favorecer a dignidade hu-

mana", não parece ter surgido no documento final des-

ta cimeira qualquer referência à alteração na produção

agrícola atual industrializada, que causa 3 triliões de

dólares por ano em danos ambientais. Tentamos aqui

divulgar de que forma a Cáritas da Ilha Terceira

conjuga a Intervenção Social com a Sustentabilidade

ambiental, nomeadamente através da aposta na

agricultura biológica. Nesta edição evocamos a comemo-

ração dos dez anos de existência do Centro de De-

senvolvimento e Inclusão Juvenil da Cáritas da Ilha

Terceira e a visão sobre o papel da mediação na in-

tervenção realizada por esta valência. Terminamos

com o Dr. Federico Furtado Sousa, Diretor Regional da

Solidariedade Social, a apresentar a sua visão sobre a

solidariedade nos Açores e os desafios futuros.

Page 4: biCIT3 novembro & dezembro 2015

04

Campanha 10 Milhões de Estrelas Arrancou no passado dia 28 de novembro a Campanha 10 Milhões de Estrelas - Um Gesto pela Paz, na Ilha Terceira, com uma celebra-ção eucarística, na Igreja Matriz da Praia da Vitória, seguida de um momento de convívio e animação no Lar D. Pedro V.

Esta campanha consiste em propor à comunidade que, na noite de Natal, acenda uma vela como gesto pela busca da paz, justiça e soli-dariedade. Este é um gesto rico em simbolismo, quer pela nature-za da luz, como sinal de

NOTICIAS esperança para a constru-ção de um mundo onde o bem e a felicidade sejam apanágio de todos, quer pe-la comunhão de conceitos, gerada em torno de um ide-al nobre e significativo. A venda das respetivas ve-las será feita nas diversas paróquias da Ilha, sendo que também poderão ser adquiri-das junto da Cáritas Dioce-sana, no Lar D. Pedro V, no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira e num qui-osque montado para a oca-sião na Rua da Esperança em A.H. Aproveitamos para agradecer a todos os que comparece-ram neste evento, ao Lar D. Pedro V, por nos ter recebi-do, e ao Grupo de Jovens Nossa Senhora do Guadalu-pe, bem como ao Sr. Ricar-do Ávila pela bela animação proporcionada.

A ARCIT participou, no

passado dia 14 de no-

vembro, na campanha

SOS Cagarro.

Foi uma noite dedicada

a uma causa, onde o

dever cívico e o respei-

to pela natureza foram

as palavras de ordem.

Foram momentos de

aprendizagem, mas tam-

bém de convívio e par-

tilha.

Felizmente não tivemos

de intervir, uma vez

que a maioria destes

animais já seguiu o

seu rumo. Ficaram os

conhecimentos e a von-

tade de repetir!

ARCIT participa na Campanha S.O.S.

Cagarro

Page 5: biCIT3 novembro & dezembro 2015

Cáritas recebe o novo Bispo Coadjuntor de Angra No passado dia 07 de de-zembro, a Cáritas da Ilha Terceira deu as boas-vindas ao novo Bispo Co-adjutor de Angra do Hero-ísmo, D. João Lavrador. Tendo ficado a confeção do lanche ao cuidado dos nossos alunos das turmas de Pastelaria e Doçaria Tradicional Açoriana, e Transformação Frutícola.

05

A Cáritas dos Açores está a promover as "Jornadas Pastoral Social", com o objetivo de motivar a comu-nidade cristã para a organi-zação da ação social na paróquia. O Projeto + PRÓXIMO con-tinua a ser um projeto de formação destinado a todas

Jornadas Pastoral Social são social, conduziu a que se tornasse determi-nante a construção de uma ação social mais próxima, a qual apela ao envolvimento de todas e de cada uma das comu-nidades cristãs e, conse-quentemente, ao rejuve-nescimento da Pastoral Social. “O amor ao próximo, ra-dicado no amor de Deus, é um dever, antes de mais, para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesi-al inteira.” (Deus caritas est, 20)

as paróquias da Diocese dos Açores. Agora, em for-mato de jornadas, irá percorrer as cin-co zonas pastorais da Ilha Terceira. A emergência de uma reali-dade social, caraterizada por um aumento de situa-ções de pobreza e exclu-

Page 6: biCIT3 novembro & dezembro 2015

06

MENSASAGEM DE NATAL

“Carta ao Menino Jesus”

ANABELA BORBA PRESIDENTE DA CÁRITAS DA ILHA TERCEIRA

uerido Menino

Jesus...

Neste tempo de

Natal que se aproxima,

vêem-me à memória pala-

vras da minha avó, que

me dizia muitas vezes,

sem que percebesse bem

o alcance do que dizia,

“vivemos num cantinho do

céu”. Então Menino Jesus,

o que desejo em primeiro

lugar é agradecer-te por

tantas pessoas que podem

viver assim, como “num

cantinho do céu”, livres,

amadas, em segurança,

com acesso a condições

de bem-estar, onde é fácil

fazer festa neste tempo de

Natal, em que as famílias

se reúnem, trocam presen-

tes e estão felizes.

Mas infelizmente tu sabes

que a grande maioria da

humanidade não vive as-

sim, neste mundo tão de-

sigual, onde poucos têm

muito, mas milhões não

têm nada. Neste mundo em

guerra, com tantas pessoas

irmãs nossas: sem casa,

sem teto, sem lugar, apete-

ce-me usar as palavras da

minha avó, e pedir-te “um

cantinho do céu”, onde as

pessoas vivam amadas, em

casas cheias de luz, enfei-

tadas com bonitas flores,

quentinhas e confortáveis,

em aldeias ou cidades on-

de as pessoas estão a tra-

balhar, onde existe comida,

acesso à educação, e saú-

de, onde as ruas estão

limpas, sem bombas, nem

atiradores furtuitos, sem ca-

sas destruídas, numa pala-

vra em PAZ.

Tu, que conheces bem o

que é nascer sem lugar,

sem condições, sem confor-

to, mas com todo o acon-

chego do amor de uma

Q

(…) neste mundo tão desigual, onde poucos

têm muito, mas milhões não têm nada (…)

Page 7: biCIT3 novembro & dezembro 2015

07

mãe e de uma família, in-

funde o Teu amor no cora-

ção dos líderes mundiais, e

no de todos os homens,

para que cada um acolha

o outro, e permita que to-

do o homem possa viver

com dignidade e em segu-

rança.

É urgente que olhes para

este mundo em desagrega-

ção, onde toda a gente

suspeita do vizinho, o ódio

cresce entre irmãos, só

porque são de cor, ideolo-

gia ou fé diferente, onde

não há lugar para muitos.

Faz com que a Tua men-

sagem, que sempre foi de

amor, toque no coração de

cada Homem.

Embora não goste da pres-

sa, das correrias sempre

associadas ao que dizem

ser o Teu tempo, o tempo

do Natal, continuo fã das

luzes, dos enfeites, das can-

ções de Natal, da festa; é

que a Tua presença entre

nós é motivo de festa. De

certo, ficas triste, quando

nós não vivemos este tempo

de Natal, como Tu desejari-

as; que fiquemos pela azáfa-

ma das compras, pelos sa-

cos com embrulhos, pelas

luzes que encandeiam, mas

não iluminam.

O Teu tempo, que não é

meramente este tempo de

Natal, mas o ontem, o hoje

e o amanhã, é o tempo da

Luz que vem do Alto, que

ilumina o Mundo, que ilumi-

na cada Homem, para a

construção de um Mundo

melhor, mais justo, mais soli-

dário. O Teu tempo é tempo

de esperança, da certeza

que Contigo, o nosso tempo,

pode ser melhor, com paz,

justiça, vida e verdade.

Que o Teu tempo seja pa-

ra cada Homem, “um canti-

nho do céu”, aqui na terra.

A Cáritas da Ilha Terceira

deseja um Santo e Feliz

Natal a todos os seus

utentes, colaboradores, vo-

luntários, parceiros, financia-

dores e a quem nos acom-

panha nas nossas ações

de âmbito social. Que jun-

tos, continuemos a nossa

caminhada de estar “mais

próximo do próximo”

(…) faz com que a Tua mensagem, que foi

sempre de amor, toque no coração de cada

Homem (…)

Page 8: biCIT3 novembro & dezembro 2015

08

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

Cimeira do Clima sem

referência à

alteração na produ-

ção Agrícola Adaptado da publicação original do

facebook da SATIVA

resolução que saiu da 21ª Cimeira do Clima em Paris, não faz qualquer referên-

cia à necessidade de alterar a produção agrícola, apesar dos apelos no movimento da agricultura biológica que apela-va ao fim das práticas agríco-las industriais de elevadas emissões de CO2. Segundo a

página do facebook da SA-TIVA, «a agricultura indus-trializada causa 3 triliões de dólares por ano em danos ambientais». «Produzir o alimento que comemos do campo à me-sa contribui para cerca de metade de todas as emis-sões de gases de efeito estufa induzidas pelo ho-mem. Quando se trata de gases de efeito estufa (GEE), o sector agrícola é o segundo contribuinte a seguir ao sector da ener-gia». Mas apesar disso, este facto não foi tido em conta no acordo final doa COP21. «O IFOAM apela a um acordo sobre o clima que reconheça a importância do setor da terra e do início de um processo de desen-volvimento de princípios claros e transparentes para garantir que a tomada de ações sobre as alterações

climáticas estão em confor-midade com as considera-ções sociais e ecológicos. "A agricultura industrial é uma das principais causas da mudança climática, e os habituais agro-negócios não são uma opção", afir-ma André Leu, presidente da IFOAM. "Apenas uma transição para a agroecolo-gia e agricultura biológica pode levar a cortes profun-dos nas emissões na pro-dução de alimentos". Estamos já a produzir o suficiente para alimentar o mundo ainda que um terço dos alimentos não chegue à mesa. Metade dos pe-quenos agricultores que cultivam a maior parte da produção agrícola mundial estão entre a população que tem fome. Como An-dre Leu, destaca "A menos que os agricultores adiram às tecnologias agroecológi-cas, os desafios colocados

A

Page 9: biCIT3 novembro & dezembro 2015

09

locais para produzir alimen-tos são adquiridas para serem usadas em projetos de compensação de carbo-no, a consequência será colocar mais 600 milhões de pessoas em risco de fome em 2080". Não podemos perder de vista o facto de que a mudança climática está a causar danos para aqueles que cultivam os nossos alimentos. Os agricultores devem ter capacidade para se livrarem da pobreza e da fome, alimentar as crescentes populações lo-cais e globais e mitigar o aquecimento global através de baixa emissão e práti-cas e sistemas agrícolas de alto sequestro. Ao contrário de agricultura química que agrava a mu-dança climática, as práticas de cultivo biológico usam fatores de produção que levam a menos emissões de GEE e são benéficas para os solos. Os agricul-tores biológicos trabalham com técnicas como a rota-ção de culturas que fixam mais carbono no solo. É nesta base que as medi-das de mitigação deverão ser enraizadas - redução das emissões e fixação de carbono no solo, sem comprometer a segurança alimentar.»

pelas alterações climáticas e os impactos sobre a produção de alimentos se-rão devastadores, levando milhões para a pobreza." Agricultura e ações de mi-tigação relacionadas com a floresta devem, assim, con-tribuir para a segurança alimentar e combater ativi-dades com as maiores emissões, tais como o uso de fertilizantes em particu-lar nos países mais emis-sores. Medidas de mitigação ba-seadas no solo não devem ser consideradas uma solu-ção rápida para as altera-ções climáticas, porque uti-lizam a compensação de carbono em vez da elimi-nação gradual dos combus-tíveis fósseis. Gábor Fi-geczky, Gestor do IFOAM adverte que "Se, em nome da luta contra as altera-ções climáticas, as terras utilizadas pelos agricultores

(…) Estamos já a

produzir o suficiente

para alimentar o

mundo ainda que

um terço dos ali-

mentos não chegue

à mesa (…)

foto: CC BY 2.0 - US Department of Agriculture

Page 10: biCIT3 novembro & dezembro 2015

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

Agricultura Bioló-gica Produção e consumo

CÉSAR MEDEIROS ENG.º AGRICULA

10

os Açores, tal

como em Portu-

gal continental e

na Europa, a área de pro-

dução inscrita nos operado-

res de controlo e certifica-

ção tem aumentado consi-

deravelmente. A agricultura

biológica nos Açores come-

çou a dar os primeiros

passos em 1990 e muito

trabalho teve que ser feito

por várias pessoas, entida-

des e instituições de ensi-

no- Universidade dos Aço-

res. Sendo, porém, legítimo

questionar se foi o sufici-

ente? Se foi o percurso

ideal? Bem, foi o possível.

Atualmente o modo de

produção biológico (MPB)

está mais próximo do con-

ceito original. Revisitando,

“A Agricultura Biológica é

N

Page 11: biCIT3 novembro & dezembro 2015

um modo de produção que

visa produzir alimentos e

fibras têxteis de elevada

qualidade, saudáveis, ao

mesmo tempo que promo-

ve práticas sustentáveis e

de impacto positivo no

ecossistema agrícola. As-

sim, através do uso ade-

quado de métodos preven-

tivos e culturais, tais como

as rotações, os adubos

verdes, a compostagem, as

consociações e a instala-

ção de sebes vivas, entre

outros, fomenta a melhoria

da fertilidade do solo e a

biodiversidade” Agrobio.

A produção em Agricultura

Biológica assume-se cada

vez mais como uma opor-

tunidade para a Agricultura

Açoriana. Pois produz pro-

dutos diferenciados, com

um valor acrescentado, que

têm registado um aumento

na procura por parte do

consumidor. Neste momen-

to, arrisco a afirmar que a

procura excede a oferta

local de produtos hortíco-

las, frutícolas e de origem

animal (ovos).

De entre as muitas enunci-

adas razões para o consu-

mo de alimentos, destacam

-se o benefício sobre a

saúde, as razões ambien-

tais, e o incentivo à pro-

11

dução regional e nacional

de qualidade.

Sabor: em solos regenera-

dos e fertilizados com ma-

téria orgânica, as plantas

crescem saudáveis e de-

senvolvem o seu verdadei-

ro aroma, a sua cor e

sabor autênticos, permitindo

-nos redescobrir o verda-

(…) em solos regenerados e fertilizados com ma-

téria orgânica, as plantas crescem saudáveis e

desenvolvem o seu verdadeiro aroma (…)

Page 12: biCIT3 novembro & dezembro 2015

deiro gosto dos alimentos.

Solo fértil: O solo é a ba-

se de toda a cadeia ali-

mentar e a principal preo-

cupação da Agricultura Bio-

lógica. Toda a prática agrí-

cola deve ter como objetivo

conservar e melhorar a fer-

tilidade do solo, aumentan-

do o seu teor de matéria

orgânica

12

orgânica.

Certificação: Os produtores

biológicos seguem um ca-

derno de normas, verificado

por organismos de controlo

e certificação, segundo a

legislação europeia de Agri-

cultura Biológica.

Dignidade do agricultor: A

Agricultura Biológica permite

revitalizar os meios rurais e

restituir ao agricultor a dig-

nidade e reconhecimento

que lhe são merecidos,

pelo seu papel de guar-

dião da paisagem, dos

ecossistemas agrícolas e

primeiro garante da saúde

humana.

Emprego: A Agricultura bio-

lógica cria oportunidades

de emprego permanente e

gratificante devido às práti-

cas ecológicas e à dimen-

Page 13: biCIT3 novembro & dezembro 2015

13

são das explorações agríco-

las, adaptadas à escala hu-

mana.

Futuro: Os produtores bioló-

gicos são audaciosos inova-

dores que combinam os co-

nhecimentos mais modernos

com as práticas e saberes

tradicionais, dispensando o

uso de todos os produtos

poluentes do ecossistema.

(Jean-Claude Rodet - funda-

dor da Agrobio).

É sobre os últimos dois

pontos que a Cáritas da

Ilha Terceira através do

projeto Terra Nostra – Ca-

pacitações com Raízes, cu-

jos mentores Francisco Si-

mões e Rui Drumonde er-

gueram e criaram condições,

com todo o apoio da Dire-

ção da Cáritas – Anabela

Borba, proporcionando forma-

ção a dois grupos de jo-

vens em situação de risco

em agricultura biológica. A

formação permitiu aos jo-

vens adquirir competências

técnicas, alicerçadas em

competências individuais e

sociais.

Hoje ser um operador de

agricultura biológica com

formação é fundamental e

faz a diferença na hora

de vestir a camisola e de-

sempenhar as suas fun-

ções. A sensibilidade do

operador, aliado ao conhe-

cimento, o respeito pelo

ambiente, pelos recursos

naturais e biodiversidade

são imprescindíveis para de-

sempenhar as funções de

forma adequada.

(…) A agricultura Biológica cria oportunidades

de emprego permanentemente e gratificantes

devido às práticas ecológicas e à dimensão

das explorações agrícolas, adaptadas à escala

humana (…)

Page 14: biCIT3 novembro & dezembro 2015

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

“A Nossa Casa Comum”

LIVRAMENTO CARVALHAL DIREÇÃO DA CÁRITAS DA ILHA TERCEIRA

ntrámos no sé-

culo XXI e as

grandes transfor-

mações, quer sociais, quer

relacionadas com a conser-

vação do ambiente, toma-

ram, em algumas franjas

das comunidades, um rumo

gravoso que atinge, com

violência, uma enorme ca-

mada da população.

É então urgente tomarmos

consciência que tal consta-

tação exige de cada indivi-

duo e dos grupos, uma

postura proactiva conducen-

te a práticas cada vez

mais próximas da realida-

de, mobilizadoras de ação

e inovação, nas questões

de cidadania. É preciso

cuidar do ser humano e

da natureza que o suporta.

A Igreja, na defesa dos

princípios que perfilha,

sempre esteve atenta a

tudo o que diga respeito

a condições da dignidade

humana e sua relação

com o meio ambiente. As

chamadas de atenção nes-

E tes domínios foram uma

constante, ao longo dos

tempos. Na atualidade, a

intervenção sistemática da

Igreja continua.

E, se dúvidas houvesse,

escute-se o Papa Francisco,

que desde o início do seu

pontificado, tem abordado,

com veemência, estes te-

mas nas homílias, encontros

com jornalistas e em diver-

sos documentos. Além de

advertir quanto ao volume

desmedido que a pobreza

atingiu no mundo, tem dado

especial atenção às ques-

tões relacionadas com a

preservação do ambiente e

reforçado a ideia da res-

ponsabilidade do homem

perante a criação. É ainda

apontada pelo Santo Padre

como nefasta, a «cultura do

descarte». Na Encíclica

«LAUDATO SI», faz referên-

cia constante à necessidade

de olharmos o Mundo como

a «nossa casa comum».

Estas problemáticas, como

se sabe, são muito abran-14

Page 15: biCIT3 novembro & dezembro 2015

gentes e só mediante um

processo educacional ence-

tado o mais cedo possível

nas crianças e jovens, po-

der-se-á ganhar alguma efi-

cácia. A Cáritas da Ilha

Terceira, desde há muito,

assumiu e optou decidida-

mente por essa via, desen-

volvendo uma larga gama

de atividades com jovens,

numa perspetiva de promo-

ver a interiorização de prin-

cípios que venham a norte-

ar procedimentos, em prol

do bem comum.

Perante a constatação dos

factos, na Cáritas da Ilha

Terceira (CIT), reflete-se,

discute-se e procura-se res-

ponder adequadamente à

situação de jovens da co-

munidade, de modo a que

estes consigam encontrar

um rumo definido, quer ao

nível académico, quer com-

portamental, rumo esse que

lhes venha a dar suporte

para a estruturação neces-

sária à construção de um

futuro, conducente a uma

realização pessoal efetiva,

com hipótese de garantias

de segurança e dignidade.

Para que isso aconteça e

sabendo que o trabalho é,

sem dúvida, uma instância

privilegiada de inserção so-

cial, que surge e interfere

de modo decisivo, nas pro-

duções da subjetividade e

na elaboração dos paradig-

mas de comportamento, pro-

cura-se que essa vertente

seja instaurada, tentando

15

criar assim condições mode-

ladoras de trajetórias de

vida consistentes.

A título de reflexão, consi-

derem-se as transformações

que vêm ocorrendo no

mundo laboral - ausência

do emprego estável, aumen-

to do desemprego, precari-

zação e novas formas de

trabalho flexível – fatores

que afetam toda a popula-

ção, marcando de forma

Page 16: biCIT3 novembro & dezembro 2015

16

indelével os jovens. A Cá-

ritas da Ilha Terceira in-

veste então, com muito

esforço, neste domínio,

concluindo ser urgente in-

ventariar alguns modelos e

formas de ação que ve-

nham a colmatar esses

danos.

Sob esta visão, comente-se

que, tanto a vertente do

indivíduo como elemento

integrante da comunidade

em que se insere, como

as marcas da sua subjeti-

vidade, são compreendidas

e aceites como produção

histórica resultante de uma

relação dialética com a re-

alidade objetiva dos gru-

pos, dos espaços e das

épocas.

Neste esforço de adequa-

ção ao mundo atual, pro-

cura-se imprimir aos pro-

cessos, proximidade, dina-

mismo, organização e ino-

vação, tendo sempre como

referência prioritária aqueles

que mais necessitam, tanto

no âmbito da situação

económica, como no res-

peitante às vertentes de

natureza psíquica ou profis-

sional.

Então, nesta perspetiva de

promoção dos jovens, têm

sido formuladas propostas

e concebidas iniciativas

que ajudam na construção

de percursos de vida, de

acordo com modelos e

configurações assumidos

pelas novas formas de tra-

balho. Como exemplo, te-

mos a concretização de

alguns projetos onde se

aplicam técnicas inovadoras

e se fomenta a interioriza-

ção de competências e

saberes que serão fatores

decisivos no incremento de

modelos de formação inte-

gral – refira-se o «TERRA

NOSTRA» e «TRAD(E)-IN»,

entre outros.

Na implementação destes

(…) procura-se impri-

mir aos processos,

proximidade, dina-

mismo, organização

e inovação, tendo

sempre como refe-

rência prioritária

aqueles que mais

necessitam (…)

Page 17: biCIT3 novembro & dezembro 2015

programas, enveredou-se

pela introdução de ativida-

des tradicionais – pastela-

ria, doçaria regional e hor-

ticultura. Na vertente da

produção agrícola, seguem-

se práticas da agricultura

biológica com a fuga ao

uso de produtos químicos.

Outra componente destas

atividades tem a ver com

as situações de desperdí-

cio, pelo que se processa

a introdução sistemática de

compostagem e reciclagem

de residios, embora, isto

tudo ainda a um nível

bastante elementar, apenas

e quase só, na fase de

sensibilização para futuras

realizações que permitam a

sustentabilidade.

Na vertente da formação

humana dos jovens, procu-

ra-se integrar, além de as-

petos individuais – gostos,

habilidades, preferências …

- os de natureza académi-

ca e profissional, que lhes

forneçam mecanismos e

competências para a inser-

ção futura no mundo do

trabalho. Em simultâneo,

são também cultivados os

princípios relativos à pre-

servação do ambiente e

conservação da saúde, a

que os pensadores do

nosso século tanto apelam.

Para responder a exigên-

cias da sociedade, no pre-

sente, fomenta-se também,

nos empreendimentos reali-

zados sob a alçada da

Cáritas, o espírito de coo-

peração e interajuda, quer

no respeitante aos desem-

penhos do dia a dia, quer

no formular de parcerias,

com outras forças vivas da

comunidade, respondendo

assim a outro apelo feito

por Sua Santidade o Papa

Francisco, que é a

«cultura da solidariedade e

do encontro».

Para reforçar tudo o que

atrás foi abordado e de-

17

(…) são também culti-

vados os princípios

relativos à preserva-

ção do ambiente e

conservação da saú-

de, a que os pensado-

res do nosso século

tanto apelam. (…)

Page 18: biCIT3 novembro & dezembro 2015

18

monstrar que as tentativas

da Cáritas da Ilha Tercei-

ra, iniciam modelos ade-

quados às exigências do

momento presente, refira-se

mais uma mensagem de

Sua Santidade o Papa

Francisco:

«O urgente desafio de

proteger a nossa casa co-

mum inclui a preocupação

de unir toda a família hu-

mana na busca de um

desenvolvimento sustentável

e integral… »

Tem merecido especial

atenção, nas propostas e

atividades da Cáritas as

situações resultantes de

transformações sociais e

da crise económica que se

registou na Região e se

tem prolongado, deixando

marcas indeléveis, em toda

a população, mas especial-

mente notórias na juventu-

de.

Perante a constatação des-

te resultado, a Cáritas da

Ilha Terceira tem procurado

implementar e desenvolver

atividades, de acordo com

o seu lema de ação

«Sempre mais Próximo do

Próximo», as diretrizes do

seu Plano Estratégico,

sempre tendo em conta o

que atrás foi referido –

consequências da relação

dos indivíduos com o meio

e a modalidades e exigên-

cias que daí resultam.

O Santo Papa João XXIII

apelou aos cristãos e to-

das as pessoas de boa

vontade que «…à vista da

deterioração do ambiente,

quero dirigir-me a cada

pessoa que habita neste

planeta» e ainda «… pre-

tendo especialmente entrar

em diálogo com todos

acerca da nossa casa co-

mum.»; o Beato Papa

Paulo VI referiu-se à pro-

blemática ecológica apre-

sentando-a como uma crise

que é «consequência dra-

mática» da atividade des-

controlada do ser humano

e falou da possibilidade

duma «catástrofe ecológica

sob o efeito da explosão

da civilização industrial»;

São João Paulo, debruçou-

se com interesse, sobre

este tema e advertiu que

o ser humano parece «não

dar-se conta de outros de

outros significados do seu

ambiente natural, para

além daqueles que servem

para fins de um uso ou

consumo imediatos»

Page 19: biCIT3 novembro & dezembro 2015

19

Excertos da encíclica “LAUDATO SI’” do Papa Francisco:

“Não quero prosseguir esta encíclica sem invocar um modelo belo e motivador. Tomei o seu nome por guia e inspiração, no momento da minha eleição para Bispo de Roma. Acho que Francisco é o exem-plo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e au-tenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na soci-edade e a paz interior.” “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família hu-mana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mu-dar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados sectores da atividade hu-mana, estão a trabalhar para garantir a proteção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambi-ente e nos sofrimentos dos excluídos.” “Existem formas de poluição que afetam diariamente as pessoas. A exposição aos poluentes atmosféricos produz uma vasta gama de efeitos sobre a saúde, particularmente dos mais pobres, e provocam mi-lhões de mortes prematuras. Adoecem, por exemplo, por causa da inalação de elevadas quantidades de fumo produzido pelos combustíveis utilizados para cozinhar ou aquecer-se. A isto vem juntar-se a polui-ção que afeta a todos, causada pelo transporte, pelos fumos da indústria, pelas descargas de substân-cias que contribuem para a acidificação do solo e da água, pelos fertilizantes, inseticidas, fungicidas, pesticidas e agrotóxicos em geral. Na realidade a tecnologia, que, ligada à finança, pretende ser a única solução dos proble-mas, é incapaz de ver o mistério das múltiplas relações que existem entre as coisas e, por isso, às vezes resolve um problema criando outros.” “Entretanto não basta pensar nas diferentes espécies apenas como eventuais «recursos» exploráveis, es-quecendo que possuem um valor em si mesmas. Anualmente, desaparecem milhares de espécies vege-tais e animais, que já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razões que têm a ver com alguma atividade humana. (…) Por exemplo, muitos pássaros e insetos, que desaparecem por causa dos agrotóxicos criados pela tecnolo-gia, são úteis para a própria agricultura, e o seu desaparecimento deverá ser compensado por outra intervenção tecnológica que possivelmente trará novos efeitos nocivos. São louváveis e, às vezes, admiráveis os esforços de cientistas e técnicos que procuram dar solução aos problemas criados pelo ser humano. Mas, con-templando o mundo, damo-nos conta de que este nível de intervenção humana, muitas vezes ao serviço da finança e do consumismo, faz com que esta terra onde vivemos se torne realmente menos rica e bela, cada vez mais limitada e cinzenta, enquanto ao mesmo tempo o desenvolvimento da tecnologia e das ofertas de consumo continua a avançar sem limites. Assim, parece que nos iludimos de poder substituir uma beleza insuprível e irrecuperável por outra criada por nós.

Page 20: biCIT3 novembro & dezembro 2015

20

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

“Ecologia Inte-gral”

ROSA PIRES COORDENADORA DO PROJETO + PRÓXIMO CARITAS DOS AÇORES

ão é minha pre-

tensão escrever

um tratado teoló-

gico ou um estudo de in-

vestigação exaustivo sobre

a Encíclica do Papa, gos-

tava porém de partilhar em

simples palavras o que

consegui reter ao ler

“Laudato si”. Logo à parti-

da e de tanto ouvir falar

na mesma, pensei que o

Papa iria pedir para plan-

tarmos árvores, poupar

água e respeitar as criatu-

ras…. Fiquei surpreendida

quando deparo com um

dos documentos mais cora-

josos dos últimos tempos.

Trata do problema da eco-

logia sim, mas dando uma

nova visão, propõe uma

nova ecologia: a “Ecologia

Integral”. A Encíclica pro-

põe um grande desafio pa-

ra toda a humanidade,

crentes e não crentes, que

inclui claramente as dimen-

sões humanas e soci-

ais” (137). Este na verda-

de sempre foi e sempre

será o cerne da luta eco-

lógica da Igreja. O centro

deve ser o humano e o

meio ambiente deve ser

entendido como um contex-

to da realidade, seja ele

natural ou produzido pelas

mãos do homem.

No 1º capítulo o Papa

Francisco faz um retrato

do que está a acontecer

à “Nossa Casa comum”.

Alerta para as transforma-

ções que se sucedem a

um ritmo acelerado e mui-

tas delas contribuem para

a deterioração do mundo

em que vivemos. As cau-

sas têm a sua origem na

poluição que não param

de aumentar e se verifica

a vários níveis.

A destruição da natureza e

toda a atividade que con-

tamina as águas, o solo e

o ar é um crime contra

natura, contra nós mesmos

e um pecado contra Deus,

o Papa chama a esses

N

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

“Ecologia Inte-gral”

ROSA PIRES COORDENADORA DO PROJETO + PRÓXIMO CARITAS DOS AÇORES

Page 21: biCIT3 novembro & dezembro 2015

pecados “pecados contra a

Criação” (8) e convida-nos

a reconhecer e a mudar

dando-nos o

exemplo de

São Francisco

de Assis “que

vivia numa

harmonia total

com Deus,

com os ou-

tros, com a natureza e

consigo mesmo” (9). Tra-

tando todas as criaturas

pelo nome de irmãs. O

Papa usa a analogia do

enamoramento entre duas

pessoas para descrever o

encantamento de Francisco

de Assis pela natureza.

(11). É esse encantamento

que nós devemos conquistar

como sendo um fio condu-

tor que nos leva ao amor

a Deus e por consequên-

cia a todas as

criaturas.

A poluição está

também a con-

tribuir para a

perda da biodiversidade

pois desaparecem anual-

“ (…) A Encíclica propõe um grande desafio para

toda a humanidade, crentes e não crentes, que

inclui claramente as dimensões humanas e soci-

ais (…) ”

21

Imagem: Korean Culture and Information Service (CC BY-SA 2.0 )

Page 22: biCIT3 novembro & dezembro 2015

bre os princípios da Doutri-

na Social da Igreja, debru-

ça-se sobre dois destes

princípios fundamentais:

Princípio do bem comum e

o princípio do destino uni-

versal dos bens. Esta análi-

se não nos pode passar

ao lado, como crentes. Te-

mos a responsabilidade e o

dever de olharmos à nossa

volta e ver os nossos ir-

mãos que mais sofrem seja

qual for o tipo de sofrimen-

to. Este olhar acontece em

muitas pessoas individual-

mente mas também em

muitas instituição que se

dedicam aos mais fragiliza-

dos e desamparados, é o

caso da Cáritas que entre

outras tem como missão “

Mais próximo do Próximo”.

É bom sentir que todos os

apelos que o Papa nos faz

ao longo da Encíclica estão

realçados no dia a dia da

Cáritas da Ilha Terceira que

procura fazer uma simbiose

perfeita entre a Ecologia

Humana e Ambiental” da

à bondade, à fé, à hones-

tidade; chegou o momento

de reconhecer que esta

alegre superficialidade de

pouco nos serviu” (229).

Só através do amor, garan-

te o Papa Francisco, é

mesmo possível “construir

um mundo melhor”.

O Papa além de alertar

para os problemas da

“Nossa Casa” consegue dar

pistas e sugestões para

mudarmos e arrumarmos a

casa, podemos encontrar

essas diretrizes no último

capítulo. Francisco apela

para um diálogo honesto

capaz de estruturar proces-

sos de decisão transparen-

tes, e recorda que nenhum

projeto pode ser eficaz se

não for animado por uma

consciência formada e res-

ponsável, sugerindo pistas

capazes de garantir um

crescimento nesse sentido,

a nível educativo, espiritual,

eclesial, político e teológico.

A Encíclica faz uma análise

muito profunda e bela so-22

mente milhares de espé-

cies vegetais e animais.

Todos estes fenómenos

acarretam a deterioração

da qualidade da vida hu-

mana e a degradação so-

cial. Os que mais sofrem

com estas agressões ambi-

entais são as pessoas

mais pobres. Outro proble-

ma é o consumismo exa-

cerbado dos países ricos

leva ao desperdício de ali-

mentos que faltam à mesa

dos pobres. Boa parte dos

problemas do mundo, ga-

rante o Papa, seriam re-

solvidos se houvesse mais

“amor civil e políti-

co” (231). “É necessário

voltar a sentir que precisa-

mos uns dos outros, que

temos uma responsabilidade

para com os outros e pa-

ra com o mundo, que va-

le a pena sermos bons e

honestos. Vivemos já muito

tempo na degradação mo-

ral, baldando-nos à ética,

Page 23: biCIT3 novembro & dezembro 2015

23

qual resulta a “Ecologia Inte-

gral”. É bom sentir a entre-

ga incondicionalmente às

pessoas que nos procuram

para uma ajuda, seja ela

material ou mesmo espiritual.

É bom olhar os jovens que

procuram algum sentido para

a vida nos projetos que a

Cáritas da Ilha Terceira tem

para lhes oferecer, dando-

lhes ferramentas para um

futuro mais sustentado e

mais risonho.

É bom olhar as crianças do

jardim de Infância e da

“Animação de Rua” e saber

que estamos a transmitir os

valores e princípios humanos

que os tornará em Homens

e Mulheres capazes de res-

peitar “ A Nossa Casa Co-

mum”.

Gostava de terminar deixan-

do uma frase do Papa

Francisco proferida na missa

de abertura da 20ª Assem-

bleia Geral da Cáritas Inter-

nacional: “Quem vive a mis-

são da Cáritas não é um

simples agente, mas uma

(…) olharmos à nossa

volta e ver os nossos

irmãos que mais so-

frem seja qual for o ti-

po de sofrimento (…)

testemunha de Cristo. Uma

pessoa que busca Cristo e

se deixa buscar por Ele;

uma pessoa que ama com

o espírito de Cristo, o espí-

rito da gratuidade, e do

dom.”

Excertos da encíclica “LAUDATO SI’” do Papa Francisco: “Embora não disponhamos de provas definitivas acerca do dano que poderiam causar os cereais transgénicos aos seres humanos e apesar de, nalgumas regiões, a sua utilização ter produzido um crescimento económico que contribuiu para resolver determinados problemas, há dificuldades importantes que não devem ser minimizadas. Em muitos lugares, na sequência da introdução destas culturas, constata-se uma concentração de terras produtivas nas mãos de poucos, de-vido ao «progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, em consequência da perda das terras cultivadas, se viram obrigados a retirar-se da produção direta». Os mais frágeis deles tornam-se trabalhadores precários, e muitos assalariados agrícolas acabam por emigrar para miseráveis aglomerados das cidades. A expansão destas culturas destrói a complexa trama dos ecossiste-mas, diminui a diversidade na produção e afeta o presente ou o futuro das economias regionais. Em vários países, nota-se uma tendência para o desenvolvimento de oligopólios na produção de sementes e outros produtos necessários para o cultivo, e a de-pendência agrava-se quando se pensa na produção de sementes estéreis que acabam por obrigar os agricultores a comprá-las às empresas produtoras” “Nas condições atuais da sociedade mundial, onde há tantas de-sigualdades e são cada vez mais numerosas as pessoas descar-tadas, privadas dos direitos humanos fundamentais, o princípio do bem comum torna-se imediatamente, como consequência lógica e inevitável, um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres. ...”

Page 24: biCIT3 novembro & dezembro 2015

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

Projeto

TRAD(E)-In

os últimos anos, a

Cáritas da Ilha Ter-

ceira através do

Centro de Desenvolvimento e

Inclusão Juvenil, evidenciou

uma maior preocupação com a

formação e a inclusão no

mercado de trabalho de jovens

em situação de maior vulnera-

bilidade social. O acesso ao

mercado de trabalho não é

um processo simples e fácil,

e requer uma capacidade

de persistência, mas tam-

bém incita ao desenvolvi-

mento de competências pa-

ra a empregabilidade.

Nesta perspetiva, a Cáritas

da Ilha Terceira submeteu

uma candidatura ao Progra-

ma Cidadania Ativa da

Fundação Calouste Gulben-

kian, na modalidade D

Apoio à Empregabilidade e

Inclusão de Jovens. O pro-

jeto está centrado no con-24

N celho de Angra do Heroís-

mo e tem como fio condu-

tor a revitalização/

transformação de atividades

tradicionais identificadas em

diagnóstico como áreas

com potencial económico.

Desta linha central deriva-

ram 3 componentes organi-

zadas por faixas etárias/

necessidades dos jovens.

No que se refere à com-

ponente um, pretende-se o

desenvolvimento de itinerá-

Page 25: biCIT3 novembro & dezembro 2015

rios vocacionais para jovens

entre os 14 e os 18 anos.

A intervenção está centrada

em grupo/turma através da

conceção/ implementação/

avaliação/disseminação de

um itinerário formativo voca-

cional centrado em ativida-

des tradicionais. Conta com

acompanhamento individual

dos alunos por parte de

mentores, com uma periodi-

cidade quinzenal, sendo

adequado a cada jovem e

às suas necessidades, bem

como uma articulação próxi-

ma com os diretores de tur-

ma e os restantes professo-

res, e não esquece a impor-

tância que a família possui

no processo formativo dos

25

(…) tem como fio condutor a

revitalização/ transformação

de atividades tradicionais (…)

filhos. São aplicadas sessões

de orientação vocacional e

de competências pessoais e

sociais que permitirão a in-

clusão dos alunos em 2 ex-

periências profissionais em

Page 26: biCIT3 novembro & dezembro 2015

26

contexto de trabalho.

Na execução dos objetivos

desta componente contamos

com a colaboração da Es-

cola Básica e Secundária

Tomás de Borba e a Esco-

la Secundária Jerónimo e

Emiliano de Andrade, com

intervenção com uma turma

(…) formação (...) em Pastelaria e Do-

çaria Tradicional Açoriana, embala-

mento de produtos hortícolas e produ-

ção de Compotas (…)

Page 27: biCIT3 novembro & dezembro 2015

27

Oportunidade Profissionalizan-

te em cada escola, e com

o trabalho essencial e fulcral

de 3 mediadores do Centro

de Desenvolvimento e Inclu-

são Juvenil da Cáritas da

Ilha Terceira, que são a

Dra. Ana Pimentel, a Dra.

Joana Esteves e o Dr. Mi-

guel Capote.

Na componente dois, preten-

de-se apoiar jovens dos 18

aos 25 anos de idade na

formação/reconversão de

competências nas atividades

tradicionais de interesse por

via de ações de acompa-

nhamento individual numa

lógica de reorientação voca-

cional, numa perspetiva de

carreira, através da mentoria

e formação em unidades de

curta duração, nomeadamente

em Pastelaria e Doçaria Tra-

dicional Açoriana, embala-

mento de produtos hortícolas

e produção de compotas.

Atualmente estão em forma-

ção cerca de 45 jovens que

desenvolvem a formação

com formadores experientes

e conceituados na ilha Ter-

ceira para estas áreas e

que contam com um exce-

lente trabalho de mentoria

e acompanhamento individual

de uma técnica afeta ao

projeto, a Dra. Ana Margari-

da Meneses.

Esta componente tem o

apoio essencial do parceiro

(…) 45 jovens que

desenvolvem for-

mação (…)

Page 28: biCIT3 novembro & dezembro 2015

do projeto, a Fundação de

Ensino Profissional da Praia

da Vitória com os seus for-

madores na aplicação teóri-

ca e prática das unidades

de formação de curta dura-

ção.

Na componente três do

28

projeto prende-se com o

apoio ao empreendedorismo

nas atividades tradicionais

através do autoemprego

(com ações de sensibiliza-

ção/formação/consultadoria/

acompanhamento para a

criação do próprio empre-

go), mas também no apoio

à auto-organização de pro-

dutores através da criação

(…) tem o apoio es-sencial do parceiro do projeto, a Fun-dação de Ensino Profissional da Praia da Vitória (…)

Page 29: biCIT3 novembro & dezembro 2015

(…) financiado pela Noruega, Islândia e Liechtenstein (…)

de uma estrutura de supor-

te à atividade económica

de jovens com maior grau

de vulnerabilidade social nu-

ma perspetiva de negócio

social ou empresa social

de inserção .

Este projeto assenta numa

metodologia que engloba

inovação na formação na

perspetiva de reconversão e

formação de competências

nas áreas económicas de

interesse na abordagem in-

dividualizada que potencie a

empregabilidade do jovem.

A componente de mentoria,

é essencial neste projeto,

face às vulnerabilidades do

público-alvo ao nível da

motivação e da definição

de metas e objetivos a

curto e médio prazo. A cri-

ação do autoemprego e do

empreendedorismo são privi-

legiados em detrimento do

negócio social de emprego

e para isto, o empodera-

mento dos jovens é uma

estratégia fulcral.

O desenvolvimento das ativi-

dades deste projeto só tem

sido possível, devido ao em-

penho, entrega e dedicação

dos seus técnicos nas suas

diferentes componentes, mas

também dos beneficiários,

que de um modo global, es-

tão envolvidos na dinâmica e

nos objetivos aqui apresenta-

dos, o que nos faz acreditar

que os indicadores e as me-

tas propostas serão alcança-

das .

TRAD(E)-IN é um Projeto de

intervenção social, financiado

pela Noruega, Islândia e Lie-

chtenstein através das EEA

Grants do Programa Cidada-

nia Ativa da Fundação Ca-

louste Gulbenkian, promovido

pela Cáritas da Ilha Terceira

em parceria com a Fundação

de Ensino Profissional da

Praia da Vitória e com uma

unidade de facilitadores onde

se incluem a Câmara Munici-

pal de Angra do Heroísmo,

Direção Regional do Emprego

e Qualificação Profissional,

Direção Regional da Solidari-

edade e Segurança Social,

Escola Básica e Secundária

Tomás de Borba e Escola

Secundária Jerónimo e Emi-

liano de Andrade .

29

Page 30: biCIT3 novembro & dezembro 2015

30

SUSTENTABILIDADE & INTERVENÇÃO SOCIAL

Horta

Biológica da ARCIT

FÁVIO BETENCOURT ANIMADOR DE RUA & COORDENADOR DA ARCIT

m outubro de

2011, uma visita

à empresa Bio-

Fontinhas configurou-se co-

mo o pontapé de saída

para a criação de uma

horta na Animação de Rua.

Direcionado aos utentes

desta valência da Cáritas

da Ilha Terceira, o projeto

previu, numa fase inicial, a

aquisição de conhecimentos

em agricultura biológica,

através da deslocação dos

jovens a uma exploração

desta natureza e de pes-

quisas efetuadas pelos pró-

prios, com a orientação

dos técnicos da valência.

Todo processo foi acompa-

nhado por um técnico agrí-

cola que auxiliou na insta-

lação da horta e que deu

as diretrizes para o desen-

volvimento do projeto. Sen-

tiu-se, desde logo, um

grande interesse e motiva-

ção por parte das crianças

e jovens. O poder conhe-

cer, acompanhar e ter par-

E ticipação ativa no ciclo da

alimentação, desde a se-

mente até ao prato, fez

passar à prática uma teoria

difusa, frágil e pouco fun-

damentada que traziam an-

tes deste projeto, e que no

seu decurso foi ganhando

força e raízes.

A terra é preparada, as

sementeiras criteriosamente

escolhidas.

Dividida a horta em parce-

las, cada grupo compete

saudavelmente por uma co-

lheita melhor.

Cada planta que desponta

é alvo de medição e regis-

to, escrito e fotográfico, pe-

riódico no chamado Diário

de Campo. Consultando es-

te registo poder-se-á perce-

ber a evolução das plantas,

quem as plantou, regou,

tratou e colheu. Para estes

jovens é uma nova visão

sobre a agricultura, e sobre

as suas próprias capacida-

des e competências .

A compostagem é um dos

Page 31: biCIT3 novembro & dezembro 2015

31

pilares onde assenta a

agricultura biológica. Por

isso foi utilizado um Guia

de Compostagem que ori-

entou a construção e boa

utilização de um compostor,

que viria a “alimentar” toda

a horta .

As pesquisas recorrentes

levam à consolidação de

conhecimentos e à constru-

ção de mais ferramentas.

No que diz respeito às

plantas aromáticas foi cria-

do um guia próprio, onde

constam algumas plantas, os

seus benefícios, a sua fun-

ção no âmbito da agricultu-

ra biológica e cuidados que

necessitam.

Em 2014, firmou-se uma

parceria com outro projeto

da Cáritas da Ilha Terceira,

o “(En)formar Aprender”, tor-

nando-se esta horta biológi-

ca no palco para uma das

oficinas ministradas por esta

iniciativa, promovendo a in-

teração com outras pessoas,

outras realidades e outros

saberes.

As plantas foram crescendo,

os jovens também.

Cada vez que se colhem,

cozinham-se os legumes e

conhecimentos adquiridos na

nossa horta. E serve-se à

mesa experiências que leva-

rão, com certeza, a hábitos

de vida mais saudáveis e

sustentáveis.

Page 32: biCIT3 novembro & dezembro 2015

há que reconhecer as mu-

danças que o tempo trouxe

(além de algumas rugas e

os primeiros cabelos bran-

cos). A equipa aumentou,

em tamanho, diversidade e

qualidade. As instalações

foram sempre melhorando,

em prol do bem-estar dos

nossos jovens, mas também

da própria equipa. Os com-

putadores são de ponta.

Quanto ao público-alvo, para

além da intervenção que

temos vindo a desenvolver

desde a génese do CDIJ,

com jovens fora do contex-

to escolar, nos últimos 3

anos arriscámos mais um

pouco e fomos nós técnicos

a sair da nossa zona de

conforto e a voltar para a

escola (admito que desde o

meu 12º ano que não tinha

voltado a cruzar os portões

do Liceu…). Em 2012-2013,

a parceria já estabelecida

com a Escola Tomás de

Borba assume novos contor-

nos e começa a ser a es-

oi precisamente

há 10 anos

que teve início,

para mim (e para a Cári-

tas, na verdade) esta ca-

minhada no trabalho com

jovens. Nessa altura, em

2005, erámos nós uma

pequena equipa, numa pe-

quena sala, com escassos

recursos, mas com enorme

empenho, dedicação e for-

te convicção de que esta

era uma área de enorme

importância em ser traba-

lhada. Refiro-me ao traba-

lho com jovens em aban-

dono escolar, sem escola-

ridade obrigatória e sem

qualificações para acesso

ao mercado de trabalho.

O trabalho era feito sobre-

tudo numa sala na Rua

do Barcelos, os computa-

dores (doados) mal funcio-

navam, salas de atendi-

mento não havia, desloca-

ções, se necessárias, fei-

tas no meu saudoso Mi-

cra… Chegados a 2015, 32

F

CDIJ—CENTRO DE DESENVOL-

VIMENTO E INCLUSÃO JUVENIL

Uma Década de Existência

ANA PIIMENTEL COORD. PEDAGÓGICA & MEDIADORA

Page 33: biCIT3 novembro & dezembro 2015

cola a receber-nos. Em 2014-2015,

partimos também para a Escola

Jerónimo Emiliano de Andrade.

Neste tempo, em conjunto com

toda a comunidade escolar destas

nossas entidades parceiras

(conselhos executivos, professores,

pessoal não docente), temos vindo

então a trilhar um novo rumo no

trabalho com jovens em situação

de absentismo e/ou insucesso es-

colares. Este investimento passa

(…) nos últimos 3 anos arriscámos

mais um pouco e fomos nós técnicos

a sair da nossa zona de conforto e a

voltar para a escola (…)

33

Page 34: biCIT3 novembro & dezembro 2015

piercings são os mes-

mos… a motivação para a

escola já não é bem a

mesma, pois vem agrava-

da por um grande desâ-

nimo face ao futuro. A

enorme falta de perspeti-

vas de emprego agrava a

desmotivação quanto ao

percurso académico, exa-

cerbando a visão deste

enquanto “desperdício de

tempo”.

Enquanto profissional, te-

mos nós o dever de

olhar para este negativis-

mo e encará-lo como

34

por dois grandes focos: ori-

entação vocacional, com vis-

ta à descoberta de áreas

de interesse para inserção

em experiências de formação

em contexto de trabalho; e

trabalho individual, com espe-

cial enfoque no domínio mo-

tivacional. Pensando numa

comparação entre estes jo-

vens de agora com os pri-

meiros grupos do extinto

programa Itineris… as idades

são as mesmas, as reten-

ções são as mesmas, os

mais um desafio a trilhar

na senda de novos su-

cessos. Se é certo que,

para eles e para nós, o

caminho por vezes se

afigura como tortuoso,

também é verdade que

não podemos, nem deve-

mos, deixar de lembrar

todos aqueles casos e

aqueles momentos surpre-

endentes, verdadeiros mi-

lagres, olhando à origem

e às dificuldades ultra-

passadas. Venham mais

dez anos!

Page 35: biCIT3 novembro & dezembro 2015

35

ou mediadora nu-

ma turma do

programa Oportu-

nidades, com equivalência

ao 9º ano, na escola EBS

Tomás de Borba. Enquanto

mediadora o meu papel

consiste em ajudar os alu-

nos a atingir o seu objetivo

de terminar o 9º ano, mas

também que adquiram com-

petências e estratégias, quer

pessoais, quer profissionais,

que os permitam encarar o

futuro com mais sucesso

escolar.

Para isso tenho diferentes

momentos de trabalho com

os jovens. Num primeiro

momento, tenho oportunidade

de trabalhar com os jovens

em grupo, em contexto de

sala de aula, onde é apli-

cado um programa de Ori-

entação Vocacional. Este

programa tem como objetivo

promover a autodescoberta

dos jovens, explorar os

seus interesses, as suas

S aptidões e valores profissio-

nais. Na minha perspetiva

esta é uma intervenção de

grande relevância para es-

tes jovens, uma vez que a

temática da orientação vo-

cacional é pouco explorada

no 9º ano, especialmente

junto destes jovens. Com

este programa os jovens

trabalham competências pes-

soais e sociais como a co-

municação e o relaciona-

mento interpessoal, tendo

oportunidade de refletir so-

bre as suas características

pessoais e a sua aplicabili-

dade e adequabilidade ao

contexto de trabalho. Tudo

isto é completado com du-

as pequenas experiências

de formação em contexto

real de trabalho, em áreas

definidas pelos próprios jo-

vens. Desta forma, estes

têm oportunidade de experi-

enciar as suas áreas de

eleição, vivendo situações

próprias do dia a dia do

O PAPEL DA MEDIAÇÃO NO CDIJ

Escola

Tomás de Bor-ba

JOANA ESTEVES MEDIADORA

Page 36: biCIT3 novembro & dezembro 2015

comportamentos negativos.

Esta estratégia poderá criar

situações de ativação emo-

cional que após enquadra-

das e exploradas em con-

texto seguro permitem ge-

rar a mudança. Esta inter-

venção diverge da tradicio-

nal intervenção escolar, à

trabalho, desconstruindo mi-

tos profissionais e adquirin-

do estratégias fundamentais

ao sucesso profissional.

Acredito que esta oportuni-

dade, sendo pouco usual

junto de alunos que fre-

quentam o 9º ano, é fun-

damental para jovens com

um percurso de insucesso

escolar que através destas

experiências podem não só

ganhar novas competências

como aumentar as suas

crenças de autoeficácia e

melhorar a sua autoestima

ao descobrirem as suas

competências e capacidades.

A comunicação e o relacio-

namento interpessoal é algo

tão intrínseco ao ser huma-

no que nos pode levar a

questionar a necessidade de

explorar tais competências

em sala de aula. No entan-

to, na minha perspetiva,

tem tanto de intuitivo como

36

Outra componente desta

intervenção consiste em

atendimentos individuais,

onde a estratégia é mais

focada e adaptada às sin-

gularidades de cada jovem.

Este pretende ser um es-

paço seguro, onde através

da abordagem da entrevis-

de desafiante e de inova-

dor. A metodologia de tra-

balho utilizada assenta es-

sencialmente em dinâmicas

de grupo em que são re-

plicadas situações do quoti-

diano potencialmente desen-

cadeadoras de emoções/

qual os jovens se encon-

tram formatados. Na se-

quência disto encontro um

desafio… Como motivar os

jovens a sair da sua zona

de conforto e diminuir a

sua resistência a novas

experiências ?

Page 37: biCIT3 novembro & dezembro 2015

37

ar a relação com os jo-

vens e as suas expectati-

vas e necessidades com

as exigências e característi-

cas do meio escolar, ge-

rindo simultaneamente a

relação com os restantes

professores e encarregados

de educação.

É uma intervenção que

vejo como muito completa,

com a qual me identifico

e acredito ser fundamental

aos jovens.

(…) nova dimensão

que trazemos à es-

cola, que normal-

mente aplica uma

estratégia mais

pensada em grupo

e pouco individuali-

zadas (…)

ta motivacional trabalha-se

a motivação escolar e es-

tratégias que ajudem estes

jovens a ultrapassar os

seus obstáculos à conclu-

são do 9º ano. Esta foi

também uma estratégia no-

va para mim onde novos

desafios surgiram. Percebi

que a relação com os jo-

vens é uma das principais

ferramentas e que merece

grande investimento da mi-

nha parte. Esta é também

uma nova dimensão que

trazemos à escola, que

normalmente aplica uma

estratégia mais pensada

em grupo e pouco indivi-

dualizada.

Tendo a oportunidade de

trabalhar em contexto esco-

lar o objetivo é prevenir

casos graves de abandono

escolar ou de experiências

extremamente negativas as-

sociadas à escola. No en-

tanto aqui surge a impor-

tância de conseguir concili-

Page 38: biCIT3 novembro & dezembro 2015

38

Vocacional; por outro, e

também muito importante, o

conceito de “mentoring”,

sendo traduzido para portu-

guês, como sendo a

“mentoria”, em que é feito

um acompanhamento indivi-

dual de cada aluno, como

uma estratégia de promoção

do desenvolvimento juvenil.

Os jovens alvos de inter-

venção têm em média entre

os 16-18 anos de idade,

sendo que estes estão inte-

grados num programa intitu-

lado como “Oportunidade”,

neste caso, “Oportunidade

Profissionalizante”, tendo ca-

da um deles já um número

significativo de retenções

escolares.

Numa primeira fase, na mi-

nha opinião, o principal fo-

co da minha intervenção e

dos restantes intervenientes,

prendeu-se/prende-se na

busca de soluções e no

foco das potencialidades.

Pois, analisando o histórico

minha “aventura”

na Cáritas inici-

ou-se a 16 de

Dezembro de 2014. Já

tinha conhecimento que

iria iniciar a minha primei-

ra experiência de trabalho

em contexto escolar, sen-

do na Escola Secundária

Jerónimo Emiliano de An-

drade. Fiquei feliz. Lembro-

me da troca de correio

eletrónico e da minha en-

trevista. Tal como no es-

tágio curricular integrado

na matriz do curso, esta-

ria novamente no contexto

escolar, apesar de ser

uma intervenção diferente.

No ano letivo anterior, e

no presente ano letivo, a

minha intervenção baseia-

se em duas linhas meto-

dológicas orientadoras: se

por um lado, foi/é traba-

lhado na componente leti-

va um programa de Com-

petências Sociais e Pesso-

ais, alinhado à Orientação

A

O PAPEL DA MEDIAÇÃO NO CDIJ

Escola

Jerónimo

Emiliano de Andrade

MIGUEL CAPOTE MEDIADOR

Page 39: biCIT3 novembro & dezembro 2015

39

(…) o principal foco da minha interven-

ção (…) prende-se na busca de solu-

ções e no foco das potencialidades (…)

destes alunos, vemos as mais

diversas vulnerabilidades identifi-

cadas. Entre elas é de desta-

car o absentismo escolar; insu-

cesso e abandono escolar;

comportamentos desviantes; vio-

lência em meio escolar; famí-

lias com problemas; entre mui-

tos outros. Assim sendo, coube-

me questionar: o que posso

fazer para melhorar o contexto

de vida destes jovens? O que

significa a escola para eles?

Serão tais as vulnerabilidades,

Page 40: biCIT3 novembro & dezembro 2015

40

que os impossibilitam de

alcançar o sucesso esco-

lar? Obviamente que, sen-

do o meu primeiro ano de

trabalho, os resultados nun-

ca poderiam ser no imedi-

ato. Nunca poderiam ser

visíveis num espaço de

tempo tão curto. Não po-

deria pedir a cada um

destes jovens que incutis-

sem os meus conselhos.

Comprovei e aprendi que,

(…) aprendi que,

muitas vezes, o

“nosso tempo”,

não é o “tempo

deles” (…)

muitas vezes, o “nosso

tempo”, não é o “tempo

deles”. Que o ritmo difere

de jovem para jovem, que

são eles que têm o poder

de decisão, seja a escolha

saudável ou não.

A conquista dos jovens

requer tempo. É mais um

elemento desconhecido que

entra no seu “meio”, e por

vezes essa aceitação tem

o seu espaço de tempo.

Nessa perspetiva, penso

que a disponibilidade em

Page 41: biCIT3 novembro & dezembro 2015

vez mais a intervenção de-

ve passar pela escola.

Uma vez que esta deixou

se ser apenas um palco

de socialização escolar,

mas que entra todo um

conjunto de atores em que

tornam este contexto cada

vez mais complexo.

Apesar dos tempos de cri-

se de valores que vivemos

na sociedade hodierna, en-

contrando os jovens cada

vez mais desanimados e

sem perspetiva de futuro,

não tenho dúvidas que so-

mos capazes de deixar as

coisas um pouco melhores

do que quando exploradas

pela primeira vez.

41

se também noutros eixos

presentes na vida diária

de cada um deles. Para

que esta equipa tivesse/

tenha sucesso, e da minha

primeira experiência ao lon-

go do ano letivo

2014/2015, foi necessário

um conjunto de conceitos

bem patentes em toda a

relação. Sendo de salien-

tar: escuta ativa; empatia;

e, por fim, a assertividade.

Foi e é assim, que muitas

vezes se quebra a resis-

tência do jovem. Foi/É

com estes três eixos, que

em largo espetro, os jo-

vens promovem ações con-

cretas rumo à mudança,

fazendo com que estas

ações se tornem repetitivas

ao longo do tempo. Algo

que muitas das vezes não

acontece, pois notam-se

algumas recaídas ao longo

de toda a intervenção.

Neste momento, e após

término do primeiro ano de

trabalho, penso que cada

realizar as aulas de Edu-

cação Física com os jo-

vens foi uma forma de

eles visualizarem, que tal

como eles, os técnicos

não são perfeitos, e que

sobretudo, também erram .

Encarei também a mentoria

como sendo um “campo

de futebol.” Neste caso,

não uma equipa contra a

outra, mas uma equipa

conjunta. Nesta equipa (eu

com o jovem), havia/há

uma conquista de pontos

em direção a algumas me-

tas definidas (término do

nono ano letivo com su-

cesso) e outras que se

vão definindo. Não esque-

cendo também, que por

vezes, haviam mutações.

Neste “jogo”, houve/há

sempre uma transmissão

de experiências, conheci-

mentos e de medos. Estes

três conceitos, melhoraram/

melhoram a cooperação e

a motivação, quer fosse

no eixo escolar, quer fos-

Page 42: biCIT3 novembro & dezembro 2015

42

á cerca de 6

meses atrás

iniciei um novo

desafio profissional, media-

ção com jovens inseridos

em contexto formativo. A

experiência era pouca,

mas a vontade de agar-

rar novos conhecimentos

e de me adaptar a no-

vos contextos profissionais

era muita.

Ao ser-me apresentado o

projeto TRAD(E)–IN

(Tradição e Inovação para

a Empregabilidade), desde

logo me cativou pelo fio

condutor, bem como a

sua forma de atuação

junto dos jovens que se

encontravam numa situa-

ção de desocupação e

de desemprego.

No desenvolvimento do

contacto com os jovens

sinalizados pelos diversos

facilitadores do projeto

TRAD(E)-IN, fiquei bastan-

te surpreendida pela

quantidade de jovens que

H nas idades compreendidas

entre os 18 e os 25

anos se encontravam nu-

ma situação de desocupa-

ção, de desemprego e

principalmente de descren-

ça num futuro. Importa

referir que muitos deles

sem nenhum projeto, quer

a nível formativo, quer no

âmbito profissional.

Ao levar a cabo as en-

trevistas individuais aos

jovens interessados em

ser admitidos na compo-

nente formativa, foi fácil

constatar que cada jovem

entrevistado conseguiu

enumerar os diversos fra-

cassos, episódios negati-

vos, experiências e expec-

tativas falhadas, jovens

que vivem alguns deles

sem um projeto individual

e sem ter consciência de

qualquer tipo de potencia-

lidade enquanto ser Hu-

mano.

Foi nesse momento que

tive consciência da dimen-

O PAPEL DA MEDIAÇÃO NO CDIJ

Projeto

TRAD(E)-IN

MARGARIDA MENESES MEDIADORA

Page 43: biCIT3 novembro & dezembro 2015

43

são do desafio da mediação: ad-

mitir jovens para formação, acom-

panhá-los, motivá-los, trabalhar indi-

vidualmente potencialidades, desen-

volver estratégias e ferramentas

para resolução de problemas, quer

emocionais, quer pessoais. O pro-

cesso de mediação de jovens é

complexo, mas não deixa de ser

muito recompensador quando verifi-

camos que a nossa intervenção

pode, e muitas das vezes faz a

diferença.

(…) Foi nesse momento que

tive consciência da dimensão

do desafio da mediação (…)

Page 44: biCIT3 novembro & dezembro 2015

44

onde são trabalhadas

questões como: a motiva-

ção; potencialidades indivi-

duais; resolução de proble-

mas, quer emocionais, quer

profissionais; e principal-

mente ser um espaço/

tempo onde o jovem se

sinta acompanhado e ori-

entado.

No entanto, quando exis-

tem situações com maior

complexidade é solicitado,

com autorização e vontade

do jovem, apoio psicológico

por parte da equipa técni-

ca da Cáritas, o que aca-

ba por ser um aliado no

acompanhamento do jovem.

Até ao momento, e após

No âmbito do TRAD(E)-IN, a

mediação desenvolvida com os

jovens é compreendida em

dois níveis: Grupo (turma) e

Individual.

No contexto Grupo (turma) é

realizado um acompanhamento

próximo das Unidades de For-

mação de Curta Duração

(UFCD), trabalhando aspetos

como: a entreajuda; resolução

de conflitos; coesão de grupo;

e trabalho de equipa; desen-

volvendo pequenos projetos no

âmbito da formação ao longo

do processo formativo. A nível

individual é centrado no con-

texto de atendimento individual

alguns meses em que a

componente formativa do

TRAD(E)-IN se encontra em

funcionamento, com 48 jovens

admitidos em formação nas

UFCD´S de Pastelaria e Do-

çaria Tradicional Açoriana;

Transformação Frutícola e Pre-

paração de Produtos em mo-

do de Agricultura Biológica

para Embalamento, o balanço

é positivo.

Sem margem de dúvida que

é um trabalho complexo e

desafiador, atendendo que aju-

damos a crescer jovens emo-

cional e formativamente.

No entanto, chegar ao final

do dia e constatar nas dife-

rentes áreas de formação jo-

vens motivados, ocupados, in-

seridos, participativos, produzin-

do algo e com iniciativas fu-

turas é sem margem de dúvi-

da o melhor resultado que

poderíamos ter. É melhor que

qualquer número estatístico ou

percentagem.

Page 45: biCIT3 novembro & dezembro 2015

45

Entrevistador: Andreia, o que

é que te levou a integrar o

projeto “Trad(e)-In”?

Entrevistado: Eu estava ins-

crita no Centro de Emprego.

Estava a ser subsidiada e fui

chamada para ter esta forma-

ção de ocupação. Eu já esta-

va desempregada há seis me-

ses, sim, há seis meses que

eu estava desempregada

quando fui chamada. Tive

uma licença… estive grávida…

estive de licença de materni-

dade e depois fui chamada

ao Centro de Emprego para

me inscrever. Estava… portan-

to… Maio, Junho… estava de-

sempregada há três meses.

Estava inscrita no Centro de

Emprego. Fui chamada para

este projeto… Fomos a uma

entrevista. E depois tivemos

uma entrevista individual… de-

pois fomos selecionados. À

partida, eu não tinha escolhi-

do a transformação frutícola.

Tinha escolhido o embalamen-

TESTEMUNHO DE FORMANDOS

ANDREIA BORBA TRANSFORMAÇÃO

FRUTÍCULA

Page 46: biCIT3 novembro & dezembro 2015

46

própria formação, que pas-

saste para a transformação

frutícola, mas depois perce-

beste que realmente vimos

que tinhas algum potencial

nessa área. Tens algum

especto negativo que tu

queiras referir?

Entrevistado: Não…

Entrevistador: Tens gos-

bom… Comecei a trabalhar

com ele…

Entrevistador: Está a ser

então uma experiência po-

sitiva?

Entrevistado: Sim, está a

ser uma experiência muito

positiva! E… vai ser, acho,

muito relevante para o

nosso futuro, vai ser muito

to, porque achava que ti-

nha mais potencial para

arranjar um trabalho. Por-

que aqui há mais fábricas

onde a gente possa traba-

lhar… e transformação frutí-

cola, só abrindo uma em-

presa, ou coisa que se

calhar tem mais saída…

Mas depois fui chamada

para vir para esse curso…

Entrevistador: E tens

gostado?

Entrevistado: E tenho

adorado a formação. Supe-

rou as minhas expectati-

vas… Por completo! Gostei

da parte teórica, e come-

çamos na parte prática.

Estou a gostar muito. Co-

meçou há pouco tempo,

mas estou a gostar muito

da parte prática. Os forma-

dores foram, principalmente

o formador da parte práti-

ca, muito bons e agora

estou a conhecer o Chefe

Paulo… está a ser muito

(…) tenho adorado a formação.

Superou as minhas espectativas (…)

bom, porque para o nosso

currículo nada é de mais

para os meios que a gen-

te está agora. Tudo conta

para um futuro melhor…

Ah… E no futuro espero

que conte bastante essa

formação e penso que vai

ser muito positivo.

Entrevistador: Ok! Conse-

gues indicar algum especto

negativo? O positivo… Os

positivos já enumeraste um

bocadinho, não é?! A

do de estar cá então, não

é?

Entrevistado: Tenho gos-

tado muito de estar cá…

tenho.

Entrevistador: (risos) Ok.

O que é que tu pretendes

fazer a nível profissional?

Portanto, o que é que

perspetivas?

Entrevistado: Perspetivas

que eu tenha em termos

profissionais… gostava de

arranjar um trabalho… Anh…

Page 47: biCIT3 novembro & dezembro 2015

47

Gostava de aplicar a minha

formação que estou a de-

senvolver aqui…

Entrevistador: Portanto,

gostas do contexto de cozi-

nha…

Entrevistado: Gosto… Gos-

to bastante do contexto de

cozinha. Gostava de no fu-

turo poder aplicar a forma-

ção que a gente está a

tirar.

Entrevistador: O que é

tu achas que este projeto

pode ajudar? Este projeto,

portanto… Achas que tem

potencial para te acompa-

nhar no futuro, vermos aqui

várias possibilidades para ti,

depois sentes isso?

Entrevistado: Sim, sinto.

Sinto que é um bom poten-

cial para a gente ter um

futuro melhor!

Entrevistador: Ok…

Entrevistado: Sem dúvida…

Entrevistador: Sentes-te as-

sim acompanhada com pro-

ximidade…

Entrevistado: Sim, sim…

Entrevistador: Diz-me ou-

tra coisa, quais são as tuas

expectativas para o futuro?

O que é que tu desejavas?

Entrevistado: … Desejava

muito arranjar um trabalho,

mas um trabalho fixo!

Entrevistador: Ok… (risos)

Entrevistado: Gostava muito…

não andar naquela coisa…

Entrevistador: E qual

eram as áreas que tu gos-

tavas?

Entrevistado: Eu gosto da

parte de cozinha! Gosto. E

também gostava de arran-

jar um trabalho na área

da minha experiência.

Entrevistador: Atendimento

ao público, não é?

Entrevistado: Eu gosto

muito de conhecer pessoas

e de lidar com elas. Gos-

to muito. Eu gostava de

arranjar um trabalho nestas

áreas…

Entrevistador: Nestas

áreas, não é?

Entrevistado: É…

Page 48: biCIT3 novembro & dezembro 2015

Entrevistador: Jocelino, o

que é que te levou a inte-

grar o projeto “Trad(e)-In”?

Entrevistado: Bom, na altu-

ra eu estava… e estou de-

sempregado. Inscrevi-me no

Centro de Emprego à espera

que aparecesse alguma coisa

que pudesse fazer, algum tra-

balho, algum emprego, e na

altura… já estava lá inscrito

há três meses mais ou me-

nos, e nunca me apareceu

nada. Houve um dia em que

fomos chamados para ir ao

Centro de Emprego, e tive

uma entrevista sobre três cur-

sos que iam abrir, de um

projeto da Unidade de Forma-

ção de Curta Duração, e

apareceu lá três projetos: Do-

çaria e Pastelaria Tradicional,

um de embalamento, e apare-

ceu outro que eu agora já

não me lembro qual é…

Entrevistador: Transformação

frutícola… as compotas!

Entrevistado: Compotas e

licores! Exatamente! E eu co-

48

TESTEMUNHO DE FORMANDOS

JOCELINO SOUSA

PASTELARIA E DOÇARIA TRADICIONAL AÇORIANA

Page 49: biCIT3 novembro & dezembro 2015

mecei a ver nos três cursos

qual era aquele que pudesse

servir para mim, e eu fui pa-

ra Pastelaria e Doçaria… não

sei… Por acaso gosto de co-

zinha, e é mais ou menos

parecido… está bem que é

doces em vez de comida, é

comida da mesma maneira,

mas é doces (risos). E eu

gostei da ideia, e dei o meu

nome. Vim fazer a entrevista

com a esperança de ficar, e

por acaso tive essa sorte e

fiquei aqui no curso.

Entrevistador: Ok! Como é

que está a correr a tua ex-

periência? Para já, quais são

os aspetos positivos que enu-

meras, e também os aspetos

negativos? Como é que tem

sido estar aqui? Já cá estás

há dois meses… Como é que

fazes esse balanço? Como é

que tem sido?

Entrevistado: Bom, para já

a experiência… eu guardo pa-

ra mim uma experiência posi-

tiva. Aquilo que já aprende-

mos até hoje. Primeiro, tive-

ces.

Entrevistador: E tens

gostado da forma como

nós trabalhamos aqui com

os jovens? Pois é diferente

da escola…

Entrevistado: Começando

pela professora… que foi a

que começou com a gente

e a que teve sempre dis-

mos vários módulos… Já

passámos, já fizemos três

módulos, e os dois primei-

ros foram sobre higiene e

segurança na cozinha, na

restauração. E já começá-

mos nas aulas práticas. A

minha experiência até ago-

ra, acho que é muito po-

sitiva, tenho um balanço

(…) fui para Pastelaria e Doçaria… não

sei… Por acaso gosto de cozinha (…)

muito positivo… Gostei de

aprender as normas de

higiene e segurança que

não sabia até hoje… Sabia

algumas coisas, mas outras

não, e agora vejo as coi-

sas na cozinha, tanto em

casa como na escola de

uma forma diferente. Já

levo alguns aspetos, já

uso algumas coisas. E as-

petos positivos e negati-

vos… Bom, aspetos positi-

vos eu queria dizer todos,

o que já aprendi a fazer,

várias receitas, vários do-

ponível para arranjar as

coisas, e para a gente vir

e não faltar, e deu

apoio... A seguir, os pro-

fessores que tivemos, tam-

bém gostei dos três até

agora. Gostei de qualquer

um deles… cada um à sua

maneira. Mas os três bons

professores. Os funcionários

também… fazem parte, e

todos muito bem. Gosto

de todos também. Aspetos

positivos são estes… e é o

49

Page 50: biCIT3 novembro & dezembro 2015

50

que aprendi, e as coisas. As-

petos negativos que possa ti-

rar, talvez os outros colegas

que tiveram na minha turma,

que não quiseram… que não

sei, por motivos pessoais, ou

não pessoais, não sei… Que

faltaram, e que já perderam

um módulo, e que já perde-

ram o curso, acho que são

os aspetos negativos que tiro

disso!

Entrevistador: O que é que

pretendes fazer a nível profis-

sional? No que é que achas

que o projeto “Trad(e)-In” te

pode ajudar no futuro?

Entrevistado: Bom, se eu

dissesse que a nível profissio-

nal, antes pensava poder se-

guir uma carreira, talvez na

pastelaria, eu estava a mentir.

Pois não estava. A nível pro-

fissional, talvez pudesse virar

para outra coisa! Mas agora,

com esse projeto… pode mu-

dar completamente! Não sei…

por acaso não pensava que

fosse gostar tanto e estou

a gostar… e acho que a

nível profissional, de repen-

te com alguma ajuda, ou

depois dando nomes, e a

pessoa ter que ir procu-

rar… trabalho não vem até

à pessoa, a pessoa é que

tem que procurar. Posso a

nível profissional vir a tra-

balhar numa padaria, numa

(…) saio daqui com um curso. Tenho um

curso e vou sair… acho que com boa nota (…)

cadinho desde que chegaste

aqui?

Entrevistado: Bom, para já,

vou sair daqui com um cur-

so, o que antes não tinha,

nem sequer acabei a escola-

ridade obrigatória que era o

nono ano, só tirei o oitavo,

e não tinha curso nenhum.

Agora já saio daqui com um

pastelaria, para um lugar

que trabalhe mais assim

com pão e massas, e do-

ces, não sei… Acho que

esse projeto me pode aju-

dar muito.

Entrevistador: Ok! E

quais são as tuas expecta-

tivas para o teu futuro?

Tu tens 20 anos, o que é

que perspetivas agora para

quando terminares a

UFCD? Portanto, o curso

de Pastelaria e Doçaria

Tradicional Açoriana, o que

é que perspetivas para o

teu futuro? Mudou um bo-

curso. Tenho um curso e

vou sair… acho que com

boa nota. E não sei, ex-

pectativas… acho que posso

esperar. Posso ter mais

probabilidades de arranjar

um emprego, ou mesmo

numa outra área que não

seja a minha. Mesmo…

não sei. Acho que agora

é muito melhor para mim

ter um curso, que antes

não tinha e já tendo algu-

ma experiência. Acho que

para o futuro, devido a

esse curso que está aqui,

posso melhorar.

Page 51: biCIT3 novembro & dezembro 2015

51

Entrevistador: Carlos, o que é

que te levou a integrar no pro-

jeto “Trad(e)-In”?

Entrevistado: Foi porque eu

não tinha trabalho e inscrevi-me

no fundo de desemprego. E eles

deram-me oportunidade de estar

aqui na Cáritas. E estou a gos-

tar disto… e é isso.

Entrevistador: Ok. Como é que

está a ser a tua experiência?

Ou seja, vocês também começa-

ram há pouco tempo as aulas.

Mas o que é que tu tens acha-

do de diferente? O que é que

te tem motivado para vires para

as aulas? Quais os aspetos posi-

tivos e os negativos?

Entrevistado: Eu estou… a mi-

nha experiência tem sido boa…

os ambientes aqui são diferentes

das escolas, os professores aqui

ajudam mais os alunos, e… estou

a gostar disso. E tenho aprendi-

do coisas novas… Gosto desta

área.

Entrevistador: Quais os aspetos

que achas negativos? Sobressaiu

algum?

TESTEMUNHO DE FORMANDOS

CARLOS PEDRO

PREPARAÇÃO DE PRODUTOS EM MODO DE AGRICULTURA BIOLÓGICA –

EMBALAMENTO

Page 52: biCIT3 novembro & dezembro 2015

52

da escola?

Entrevistado: Há oitos

anos. Mas tem sido posi-

tivo. Tenho um professor

que é muito simpático e

“porreiro”… e é isso.

Entrevistador: Ok. Diz-

me uma coisa, o que é

que tu pretendes fazer a

nível profissional? Esco-

lheste esta área. A tua

escolha foi também a

ver para o teu futuro?

Entrevistado: Não, não…

Entrevistador: Não?

Entrevistado: Eu só acho

um bocadinho estranho por-

que há muito tempo que

não estou na escola.

Entrevistador: Ok!

Entrevistado: Mas está a

ser positivo…

Entrevistador: Como é

que tem sido voltar? Há

quanto tempo estavas fora

Entrevistado: Sim, sim…

Entrevistador: Já tinhas tra-

balhado? Se não…

Entrevistado: Eu gostava

de ser Guarda Prisional.

Mas eu já tenho experiência

nesse curso dos embalamen-

tos, porque eu já trabalhei

numa floricultura e eles lá

fazem isso. Portanto, se eu

não conseguir…

Entrevistador: Gostavas?

Entrevistado: Sim, gostava.

Page 53: biCIT3 novembro & dezembro 2015

53

não é?

Entrevistado: Pois, o pro-

fessor também fala daque-

les projetos, que vai criar

um projeto. Se der… Se

der bom resultado…

Entrevistador: Ok!

Entrevistado: Mas que

nós temos de trabalhar,

temos de nos esforçar, ha-

tuas expectativas para o

teu futuro?

Entrevistado: É seguir…

Entrevistador: O que é

que desejas para o teu

futuro?

Entrevistado: O que é

que eu desejo para o meu

futuro? É ter um futuro

bom…

Se eu não conseguir ir

para Guarda Prisional… vou

seguir este caminho.

Entrevistador: Em que é

que tu achas que este

projeto, a formação que

estás a receber, pode-te

ajudar para o teu futuro?

Entrevistado: Pode ajudar

em muita coisa… prepara-

(…) Se eu não conseguir ir para Guarda Prisional…

vou seguir este caminho (..)

Entrevistador: Ok. Mas

queres concluir essa forma-

ção?

Entrevistado: Claro, claro…

Entrevistador: E depois?

Entrevistado: Depois, que-

ria ver se arranjava um

trabalho. Nem que fosse

aqui nas Cáritas. Se eles…

se eles tivessem. Se eles

não tivessem… havia de se

ver.

Entrevistador: O Professor

também fala de projetos,

ver disciplina… e é só isso

que eu tenho a dizer!

Entrevistador: Então tens

gostado de estar por aqui?

Entrevistado: Tenho, te-

nho…

Entrevistador: Ok, Carlos.

ração, não é? Faço coisas

que se calhar nunca fiz

no trabalho… Higiene e se-

gurança… lá na floricultura

nós não fazíamos isso.

Entrevistador: Vocês es-

tão a dar esse módulo,

não é?

Entrevistado: É, é…

Entrevistador: Ok…

Entrevistado: E acho que

é só isso…

Entrevistador: Ok! Diz-me

uma coisa, qual são as

Page 54: biCIT3 novembro & dezembro 2015

Doutor Carlos Farinha Ro-

drigues iniciou os trabalhos

com uma apresentação as-

sente no tema “Erradicar a

Pobreza, Reduzir Desigual-

dades e Promover a Coe-

são Social: o caminho pa-

ra uma sociedade mais

humanizada e justa”, com

a moderação do Dr. Antó-

nio Bento Fraga Barcelos,

Provedor da Santa Casa

da Misericórdia de Angra

do Heroísmo.

De seguida, o Diretor Re-

gional da Solidariedade So-

cial, Frederico Furtado Sou-

sa, expôs sobre o tema

“A Solidariedade na Região

Autónoma dos Açores e

os Desafios Futuros”, tendo

ficado a moderação ao

cuidado do Cónego Doutor

Hélder Manuel S. Mendes,

Vigário Geral da Diocese.

Após o almoço, foram re-

tomados os trabalhos com

uma apresentação realizada

pelo Professor Doutor Car-

los Laranjo Medeiros que

Cáritas dos

Açores promo-

veu, nos dias

15 e 16 de outubro, o

Seminário Humanizar a So-

ciedade: O papel das

IPSS no processo de hu-

manização da sociedade,

no Pequeno Auditório do

Centro Cultural e de Con-

gressos de Angra do Hero-

ísmo, na Ilha Terceira, o

qual se inseriu na Semana

Pelo Combate à Pobreza e

à Exclusão Social.

Neste evento estiveram

presentes alguns dos maio-

res especialistas a nível

nacional, a par de confe-

rencistas da região que

abordaram o tema de dife-

rentes perspetivas, e que,

certamente, enriqueceram

os objetivos, métodos e

estratégias concertadas de

intervenção social.

No dia 15, após a Sessão

de Abertura, o Professor

A

54

abordou o tema “As Instituições

de Solidariedade Social, o De-

senvolvimento Local e a Inclu-

são Social”. A moderação foi

entregue ao Dr. Paulo Dias

Almeida, Presidente da Direção

da União Regional das IPSS.

Page 55: biCIT3 novembro & dezembro 2015

ências mencionadas pela

plateia. Este foi um momen-

to de grande dinamismo,

pois foi possível assistir a

uma consistente troca de

ideias e experiências com o

objetivo de perceber as

causas e as soluções para

o insucesso escolar. Desta

Mesa fizeram parte o Dr.

Leandro Viriato, Presidente

do executivo da E.S. To-

más de Borba, o Dr. Mário

Rodrigues, Presidente do

executivo da E.S. Jerónimo

Emiliano de Andrade, a

Dra. Andreia Jaqueta, Re-

presentante dos Empresários

para a Inclusão Social, o

Dr. Marcelo Formosinho, Co-

ordenador processual e me-

todológico do Projeto EPIS

nos Açores, e, por último,

o Doutor Francisco Simões,

Investigador do Centro de

Investigação e Intervenção

Social – ISCTE-IUL. Tendo

ficado o precioso trabalho

de moderação a cargo do

do Seminário, houve espaço

à apresentação do livro

“Humanizar a Sociedade”,

pelo Cónego Doutor Hélder

Miranda Alexandre, Reitor

do Seminário Episcopal de

Angra.

O dia 16 iniciou-se com o

tema “Empreendedorismo e

Desenvolvimento Local”,

apresentado pelo Doutor Rui

Duarte Gonçalves Luís, com

a moderação da Dra. Isabel

Berbereia, atual Responsável

pela Agência para a Qualifi-

cação, Emprego e Trabalho

de Angra do Heroísmo.

Seguidamente, houve lugar

a uma Mesa Redonda, on-

de se discutiu sobre o te-

ma “As escolas e as IPSS:

que relação no combate ao

insucesso e abandono esco-

lar?”. Aqui, para além de

termos ficado a conhecer o

ponto de vista de especia-

listas experientes no terreno,

tivemos a possibilidade de

ouvi-los quando confrontados

com as opiniões e experi-

55

A tarde prosseguiu com a

introdução e apresentação do

editorial Cáritas, através das

palavras do Prof. Eugénio da

Fonseca, Presidente da Dire-

ção da Cáritas Portuguesa.

Para terminar o primeiro dia

Page 56: biCIT3 novembro & dezembro 2015

ções ficou a cargo do Pro-

fessor Doutor Alfredo Silvei-

ra de Borba, Diretor do

Departamento de Ciências

Agrárias da Universidade

dos Açores.

Para terminar o Seminário,

e antecedendo à Sessão de

Encerramento, a Dra. Ana

Dr. Nuno Costa Neves, Jor-

nalista da RTP Açores.

Após pausa para almoço, o

trabalho retomou com a

apresentação de um caso

prático, pela Dra.

Diana Sebastião Costa, inti-

tulado “Intervenção Social

em Contexto Escolar”. De

seguida, a Professora Douto-

ra Teresa Seabra de Almei-

da proferiu sobre o tema

“Desigualdades Sociais em

Contexto Escolar”. A modera-

ção destas duas apresenta-56

Page 57: biCIT3 novembro & dezembro 2015

Combate à Pobreza e à Ex-

clusão Social, decorreu o

Seminário Humanizar a Soci-

edade, um espaço de gran-

de importância para o deba-

te das questões sociais, ten-

do como um dos objetivos o

reforço da rede entre as

Instituições, o Governo, as

Escolas e a Sociedade, com

vista a encontrar soluções

para os problemas da po-

breza e exclusão social que

existem na Região.

Cristina Macedo Pereira, da

Santa Casa da Misericórdia

de Angra do Heroísmo,

apresentou o livro

“Gerontologia, Gerontagogia”.

Assim, em vésperas do

Dia Internacional para a

Erradicação da Pobreza, e

inserido na Semana pelo 57

Page 58: biCIT3 novembro & dezembro 2015

CARAS DA CARITAS

Cátia Araújo & Ana Ponte Técnicas Administrativas

Diana Mendes Animadora Sociocultural

58

Page 59: biCIT3 novembro & dezembro 2015

Manuela Rocha (Micas) Técnica Administrativa

Melanie Petiz & Filipa Carvalhinho Mediadoras & Psicólogas

59

Renata Borges & Marcelo Gusmão Operadores Agrícolas

Rui Drumonde Coordenador do CDIJ-CIT

Gestor da Formação

Page 60: biCIT3 novembro & dezembro 2015

60

VOZES DE INCLUSÃO

A SOLIDARIEDADE NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E OS DESAFIOS

FREDERICO FURTADO SOUSA

Diretor Regional da Solidariedade Social

[email protected]

capacidade de interpelar a sociedade, de questionar paradigmas, de inquietar sistemas estabelecidos é, paralelamente à competência na intervenção, um fator relevante no processo de construção de

uma sociedade mais justa, mais coesa e mais hu-manizada.

A

RESUMO

A desumanização da sociedade já tem contornos, embora mais ténues, na nossa sociedade. O antídoto para este mal encontra-se no exercício ativo de cidadania de cada um de nós. Da sol idariedade. Das Organizações. Das Inst i tuições. Passa igualmente pela ação determinada do poder pol í t ico, nas causas públ icas. No dia a dia das dif iculdades humanas encontramos, invaria-velmente, as Inst i tu ições Part iculares de Solidariedade Socia l e as Organizações Não-Governamentais, dando respostas no terreno, junto de quem delas precisa. Paralelamente, impõem-se outras respostas. As do poder pú-bl ico; dos departamentos do governo que tutelam a área so-cial ; dos serviços da Administração Públ ica Regional que ge-rem os dinheiros públ icos com vista a garantir as respostas necessárias. A preocupação na criação de soluções adequadas a cada si-tuação, específ icas para cada real idade, não massif icadas, tem de ser uma constante no trabalho a desenvolver nas áreas da infância e juventude, da deficiência, da tercei ra idade e famíl ia e comunidade. Refi ra-se, que a consecução de todas estas iniciat ivas só é possível devido ao trabalho das Inst i tuições Part iculares de Solidariedade Social envolvidas e da boa art iculação estabele-cida entre os seus técnicos e os colaboradores da Secretar ia Regional da Solidariedade Social . A Direção Regional da Solidariedade Social contará assim, como sempre tem contado, com a colaboração da Cári tas en-quanto parceiro priv i legiado nesta matér ia.

Page 61: biCIT3 novembro & dezembro 2015

61

O tema que subjaz aos trabalhos do Seminário é cada vez mais oportuno e urgente. A humanização da socie-dade é uma prioridade. Tem de ser a prioridade. Como já tem sido referido, temos assistido ao ruir dos ismos. E depois da derrocada colossal do socialismo soviético, materializada na derrocada do muro de Ber-lim, assistimos ao colapso do capitalismo já designado de selvagem, à construção de novos muros - agora de arame farpado – cimentando fronteiras com preconcei-tos, com medos, com desinformação. O êxodo de África e do Médio Oriente para a Europa, os novos contornos da velha realidade da imigração aliados ao envelhecimento, à pobreza e desemprego crescentes numa velha Europa muitas vezes desunida, forçarão a criação de novos desenhos sociais, de no-vas respostas a velhos problemas ciclicamente recicla-dos. A visão poética do conceito de aldeia global desvane-ceu-se rapidamente perante o óbvio aproveitamento dos recursos humanos e matérias prima dos países subde-senvolvidos e em desenvolvimento, por parte do mundo dito desenvolvido. O velho axioma que assegura que riqueza gera rique-za nem sempre se sustenta perante os casos flagran-tes em que a riqueza gera pobreza, por conta dos princípios da tal economia capitalista selvagem. O de-senvolvimento sustentável é posto em causa. O egoís-mo ecológico é recompensado. O fomento do consumis-mo é chocante. O consumerismo é combatido com to-das as armas do marketing e da publicidade. Em su-ma, o consumo responsável que promova escolhas mais racionais promotoras de maior qualidade de vida antagoniza-se com a necessidade de produção em lar-ga escala e de lucros avantajados. Por causa do cres-cimento económico. Por causa das balanças comerciais. Por causa dos défices. Assim se tem descurado a humanidade. Assim se tem descurado a “nossa casa comum” como chamou o Pa-pa Francisco ao nosso grande habitat que é o plane-ta. O Pontífice, na Encíclica Laudate Si, quando se refere à desigualdade planetária, diz: “O ambiente hu-mano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. De facto, a deterioração do meio ambiente e da sociedade

(…) o consumo

responsável que

promova esco-

lhas mais racio-

nais promotoras

de maior quali-

dade de vida an-

tagoniza-se com

a necessidade

de produção em

larga escala e de

lucros avantaja-

dos (…)

Page 62: biCIT3 novembro & dezembro 2015

62

afetam de modo especial os mais frágeis do planeta: «Tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres”. Continua o Papa naquela Encíclica: “Nos tempos mo-dernos, verificou-se um notável excesso antropocêntrico, que hoje, com outra roupagem, continua a minar toda a referência a algo de comum e qualquer tentativa de reforçar os laços sociais. Por isso, chegou a hora de prestar novamente atenção à realidade com os limites que a mesma impõe e que, por sua vez, constituem a possibil idade dum desenvolvimento humano e social mais saudável e fecundo. (…) Além disso, o crescimen-to económico tende a gerar automatismos e a homoge-neizar, a fim de simplificar os processos e reduzir os custos. Por isso, é necessária uma ecologia económi-ca, capaz de induzir a considerar a realidade de for-ma mais ampla”. Fim de citação. A Região Autónoma dos Açores, por força do seu dis-tanciamento geográfico e da pequenez do seu territó-rio, parecem salvaguardados de algumas nuances deste cenário. Mas não tenhamos ilusões. Há sempre a ou-tra face duma mesma realidade. E as vicissitudes dos sistemas macro extravasam para os contextos micro. A desumanização da sociedade já tem contornos, em-bora mais ténues, na nossa sociedade. O antídoto pa-ra este mal encontra-se no exercício ativo de cidada-nia de cada um de nós. Da solidariedade. Das Orga-nizações. Das Instituições. Passa igualmente pela ação determinada do poder político, nas causas públicas. A palavra Cáritas que esta Instituição tão bem adotou, tem origem no latim significando caridade, amor. Sendo a caridade o dom de fazer o bem, de ajudar o próxi-mo desinteressadamente, é esta a génese desta insti-tuição. Solidariedade, conceito adotado para o nome do depar-tamento da Administração Pública que aqui represento, traduz um ato de bondade para com os outros ou um sentimento de união e de parti lha de objetivos, de co-operação mútua entre pessoas. Já a Solidariedade So-cial pressupõe a ideia de que os indivíduos se sintam

VOZES DE INCLUSÃO

A SOLIDARIEDADE NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E OS

DESAFIOS FUTUROS - Frederico Furtado Sousa

(…) é necessária

uma ecologia

económica, ca-

paz de induzir a

considerar a rea-

lidade de forma

mais ampla (…)

VOZES DE INCLUSÃO

A SOLIDARIEDADE NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E OS

DESAFIOS FUTUROS - Frederico Furtado Sousa

Page 63: biCIT3 novembro & dezembro 2015

63

elementos integrantes de uma mesma comunidade, logo interdependentes. Tem origem no termo obliga-tio in solidum, que no direito romano expressava a obrigação comunitária, ou seja, as responsabilidades que o indivíduo tinha em relação a uma coletivida-de à qual pertencia e de cuja manutenção se be-neficiava. Podemos assim concluir que, no âmbito das nossas causas e dos nossos objetivos, temos as questões mais relevantes em comum. A importância do outro, leia-se, da comunidade, o propósito de participar no processo de valorização e de maior dignificação de todos os seus indivíduos. Como articular, então, os valores comuns de duas faces opostas – a pública e a privada – convergin-do numa ação conjunta de promoção da qualidade de vida dos açorianos e das açorianas? “Vemos, ouvimos e lemos” e, efetivamente, nunca poderemos ignorar que na linha da frente das emergências sociais encontramos sempre o voluntari-ado e as instituições. O voluntariado pontual, movi-do pelos valores da solidariedade, que acorre de forma individual, disponibil izando a sua ajuda; o vo-luntariado organizado, canalizado através das institui-ções de solidariedade social e organizações não-governamentais; mas todos movidos, sempre, pela capacidade máxima da dádiva. No dia a dia das dificuldades humanas também en-contramos, invariavelmente, as Instituições Particula-res de Solidariedade Social e as Organizações Não-Governamentais, dando respostas no terreno, junto de quem delas precisa. São estas as respostas mais rápidas, genuínas e nobres da sociedade. Paralelamente, impõem-se outras respostas. As do poder público; dos departamentos do governo que tutelam a área social; dos serviços da Administra-ção Pública Regional que gerem os dinheiros públi-cos com vista a garantir as respostas necessárias. Cabe assim ao Estado definir prioridades assentes em estudos, diagnósticos e análises da realidade social. Cabe igualmente assegurar a consecução dessas respostas financiando a sua concretização com verbas públicas afetas ao setor. Cabe-lhe, tam-bém, definir mecanismos de regularização e fiscali-zação da ação nesta área por outras entidades, no

(…) nunca podere-

mos ignorar que

na linha da fren-

te das emergên-

cias sociais en-

contramos sem-

pre o voluntaria-

do e as institui-

ções (…)

Page 64: biCIT3 novembro & dezembro 2015

64

sentido de garantir a qualidade das respostas presta-das e de salvaguardar os interesses das pessoas abrangidas pelas mesmas. Por fim, embora com igual importância, cabe-lhe promover, apoiar e valorizar as múltiplas respostas asseguradas pelas Instituições Parti-culares de Solidariedade Social e pelas Organizações não-governamentais que vão de encontro às prioridades estabelecidas. A Direção Regional de Solidariedade Social tem pois competência nestas matérias, abrangendo as áreas da solidariedade social, da igualdade de oportunidades e do voluntariado. O trabalho que tem sido desenvolvido, no âmbito das prioridades definidas e das estratégias delineadas, pas-sa por uma avaliação das respostas existentes, dando prioridade máxima às respostas direcionadas para as pessoas idosas; pela consolidação e criação de res-postas para cada um dos setores. A preocupação na criação de soluções adequadas a cada situação, específicas para cada realidade, não massificadas, tem de ser uma constante no trabalho a desenvolver nas áreas da Infância e juventude, defici-ência, terceira idade e família e comunidade. Temos portanto as instituições de acolhimento para cri-anças e jovens. Temos as creches, os jardins -de-infância, os centros de atividade de tempo livres. Te-mos os centros de atividade ocupacionais, os lares re-sidências para pessoas com deficiência. Temos as ca-sas abrigo e os centros de acolhimento para vítimas de violência doméstica. Temos os centros de dia, de noite, de convívio, serviços de apoio domicil iário e os designados lares para a terceira idade. Tudo isso é necessário, infelizmente, vezes demais. Mas vão-se criando respostas mais específicas que lhes são complementares. Como o Programa Impacto, que assegura acompanhamento individualizado a crian-ças vítimas de contexto familiar de violência doméstica. Ou o Programa Conecta, que faz acompanhamento a adolescentes em situação de conflito familiar. Ou o Programa Contigo, quer na vertente de apoio à vítima, quer no percurso reeducacional do agressor. Ou no re-equacionamento das respostas do Serviço de Apoio Domicil iário prestado a pessoas idosas ou dependentes.

(…) criação de so-

luções adequa-

das a cada situa-

ção, específicas

para cada reali-

dade, não massi-

ficadas (…)

VOZES DE INCLUSÃO

A SOLIDARIEDADE NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E OS

DESAFIOS FUTUROS - Frederico Furtado Sousa

Page 65: biCIT3 novembro & dezembro 2015

65

E na planificação de apoio e formação para os cui-dadores formais desta população, assim como o apoio aos cuidadores informais, através de informa-ção e acompanhamento. Há também um forte investimento na área da igual-dade de oportunidades, com especial enfoque na problemática da violência doméstica. Esta prioridade consubstancia-se no II Plano Regional de Prevenção e Combate à Violência Doméstica e de Género com um período de vigência – 2014-2018. Este Plano engloba quatro áreas estratégicas, abar-cando a informação e sensibil ização da comunidade; a formação e qualificação de profissionais; a prote-ção às vítimas e a intervenção junto dos agresso-res e ainda o conhecimento e a monitorização da realidade. No âmbito do mesmo pretende-se traba-lhar a violência doméstica de uma forma abrangen-te, direcionada para todos os grupos particularmente vulneráveis, a saber: pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoas imigrantes, comunidade LGBT. A problemática dos abusos sexuais sobre crianças e jovens é uma matéria que tem merecido reflexão por parte de uma equipa técnica específica e que irá desenvolver o trabalho planificado, a breve tre-cho. Há cada vez mais necessidade de se criar estraté-gias que contribuam para o fomento de políticas e atitudes sociais comuns e de fácil acesso a todos, para que haja uma efetiva integração na sociedade de todos os cidadãos. As estratégias que aqui se fala nunca são suficien-tes, por isso, estamos hoje aqui presentes para tentar também encontrar ainda mais medidas que sejam promissoras e capazes de irem cumprindo com aquilo que é a igualdade entre todos no aces-so e nas escolhas. Reforço que o papel desempenhado pela Secretaria Regional da Solidariedade Social em conjunto com as Instituições Particulares de Solidariedade Social tem sido fundamental na criação dessas estratégias e medidas nas mais variadas áreas de atuação, co-mo sejam: - A Solidariedade Social; - A Emergência Social; - A Habitação; - A Segurança Social; - As Políticas de igualdade de género, igualdade

(…) áreas estraté-

gicas, abarcando

a informação e

sensibilização da

comunidade; a

formação e qua-

lificação de pro-

fissionais; a pro-

teção às vítimas

e a intervenção

junto dos agres-

sores e ainda o

conhecimento e

a monitorização

da realidade. (…)

Page 66: biCIT3 novembro & dezembro 2015

66

perante o trabalho e combate às discriminações; - O Voluntariado; Entre outras. O desafio também passa por criar atividades económi-cas sustentáveis, geridas na base da cooperação entre os trabalhadores e trabalhadoras, numa perspetiva de desenvolvimento local e de construção de outras rela-ções sociais, emancipadoras e equitativas. Tem assim, a economia social, uma visão mais multidimensional, que vai para além do económico, e integra fortemente a educação, a cultura, a ação política para a transfor-mação social. Não é de mais relembrar que a economia social vem se apresentando, nos últimos anos, como uma inovado-ra forma de resposta a favor da inclusão social. Com-preende uma diversidade de práticas económicas e so-ciais organizadas sob a forma de cooperativas, associ-ações e instituições, que realizam atividades de produ-ção de bens, prestação de serviços e consumo solidá-rio. O que interessa acima de tudo é trabalharmos em conjunto, de forma concertada, para que se criem tra-jetos cada vez mais capazes de responder às necessi-dades que vem sendo diagnosticadas na nossa Região, numa lógica de potenciar a igualdade entre todos e para todos. É esta relação estreita entre os diversos atores soci-ais, entre as diferentes entidades com capacidade de intervenção, que assegurará um futuro solidário para a nossa sociedade; privilegiando as políticas de proximi-dade, o trabalho no terreno, as respostas específicas a cada contexto, o desenvolvimento local e sustentável com vista a uma coesão social mais efetiva e a um desenvolvimento mais harmonioso. A Direção Regional da Solidariedade Social contará as-sim, como sempre tem contado, com a colaboração da Cáritas enquanto parceiro privilegiado nesta matéria. A capacidade de visão dos seus dirigentes, o caráter inovador do seu trabalho, a dinâmica que imprime às

VOZES DE INCLUSÃO

A SOLIDARIEDADE NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E OS

DESAFIOS FUTUROS - Frederico Furtado Sousa

(…) criar ativida-

des económicas

sustentáveis, ge-

ridas na base da

cooperação en-

tre os trabalha-

dores e trabalha-

doras (…)

Page 67: biCIT3 novembro & dezembro 2015

67

suas iniciativas, o empenho na mobilização de re-cursos diversificados, a competência do seu quadro técnico, são fatores que garantem a qualidade da sua intervenção. Contribui pois, à sua escala, para um desenvolvimento mais justo e para uma comuni-dade mais humanizada.

(…) A Direção Re-

gional da Solida-

riedade Social

contará assim,

como sempre tem

contado, com a

colaboração da

Cáritas enquanto

parceiro privilegi-

ado (…)

Apresentação realizada no âmbito do Seminário “Humanizar a Sociedade“

Page 68: biCIT3 novembro & dezembro 2015

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