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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DESENHO INDUSTRIAL CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN GRÁFICO GABRIELLI FUGYAMA BOA VISTA BIBI E PIPOCA: uma narrativa infantil em aquarela TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2018

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DESENHO INDUSTRIAL

CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN GRÁFICO

GABRIELLI FUGYAMA BOA VISTA

BIBI E PIPOCA: uma narrativa infantil em aquarela

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2018

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GABRIELLI FUGYAMA BOA VISTA

BIBI E PIPOCA: uma narrativa infantil em aquarela

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial – DADIN – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Tecnólogo. Orientadora: Profa. Esp. Priscila DaiennyZimermann Nardon

CURITIBA 2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 069

BIBI E PIPOCA: UMA NARRATIVA INFANTIL EM AQUARELA

por

Gabrielli Fugyama Boa Vista – 1654594

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no dia 21 de junho de 2018 comorequisito parcial para a obtenção do título de TECNÓLOGO EM DESIGN GRÁFICO,do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico, do Departamento Acadêmicode Desenho Industrial, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A aluna foiarguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo, que apósdeliberação, consideraram o trabalho aprovado.

Banca Examinadora: Prof. Ed Marcos Sarro (Dr.)AvaliadorDADIN – UTFPR

Profa. Ivone Terezinha de Castro (MSc.)ConvidadaDADIN – UTFPR

Profa. Priscila Daienny Zimermann Nardon (Esp.)OrientadoraDADIN – UTFPR

Prof. André de Souza Lucca (Dr.)Professor Responsável pelo TCC DADIN – UTFPR

“A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso”.

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR

Ministério da EducaçãoUniversidade Tecnológica Federal do ParanáCâmpus CuritibaDiretoria de Graduação e Educação ProfissionalDepartamento Acadêmico de Desenho Industrial

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AGRADECIMENTOS

Por meio destes parágrafos, gostaria de agradecer a todos que fizeram

parte dessa fase tão importante em minha vida, incluindo amigos, familiares e

profissionais que me auxiliaram ao longo deste caminho.

Um agradecimento especial para a Professora Priscila Nardon, minha

querida orientadora, pela paciência e ensinamentos adquiridos no decorrer do

desenvolvimento deste projeto.

Agradeço, também, a Professora Ivone Castro e ao Professor Ed Marcos

Sarro pelos aconselhamentos, elogios e por me estimularem a dar continuidade a

este projeto que tanto significa para mim.

Por último, gostaria de agradecer a Fedrigoni Brasil Papéis pela atenção,

dedicação e valorização do meu projeto.

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Não te deixes destruir...

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.

Aninha e suas pedras - Cora Coralina

(CORALINA, 2001).

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RESUMO

BOA VISTA, Gabrielli Fugyama. Bibi e Pipoca: uma narrativa infantil em aquarela. Trabalho de Conclusão de Curso. Tecnologia em Design Gráfico. Departamento de Desenho Industrial. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2018. O livro, como veículo de informação, é fonte de conhecimento para todas as idades. Hoje, a prática da leitura é destinada, não só para fins didáticos, mas também para lazer e entretenimento. Como afirmam pesquisadores, a infância é o momento mais propício para estabelecer vínculos entre o indivíduo e a leitura. De tal maneira, este projeto se baseia no entendimento da literatura infantil como fator estimulante na formação de novos leitores e analisa os meios de compreensão da palavra e, principalmente, da imagem nos livros infantis. Como produto de pesquisa, foi desenvolvido um livro infantil de imagens, ilustrado e projetado pela autora.

Palavras-chave: Design. Literatura Infantil. Ilustração. Livro de Imagens.

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ABSTRACT

BOA VISTA, Gabrielli Fugyama. Final Year Research Project. Bibi and Pipoca: a children's story in watercolor. Graphic Design Technology. Department of Industrial Design. Federal University of Technology - Paraná. Curitiba, 2018.

The book, as an information vehicle, is a source of knowledge for all ages. Today, the practice of reading is intended not only for educational purposes, but also for leisure and entertainment. Researchers say childhood is the most propitious time to create links between the person and reading. In this way, this project is based on the understanding of children's literature as a stimulating factor in the formation of new readers and analyzes the means of understanding the words and, especially, the image in children's books. As a research product, a children's picture book was developed, illustrated and designed by the author.

Keywords: Design. Children's literature. Illustration. Book of Images.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – BLOCOS DE REFERÊNCIA, UTILIZADOS PARA DAR INÍCIO AO PLANEJAMENTO DO PROJETO........................................................ 14

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO CÍCLICA DO GODP............................................. 15 FIGURA 3 – A VIDA ÍNTIMA DE LAURA, DE CLARICE LISPECTOR..................... 35 FIGURA 4 – A PRINCESINHA MEDROSA, DE ODILON MORAES........................ 35 FIGURA 5 – TRANSIÇÃO DE TEMPO EXEMPLIFICADA POR MCCLOUD........... 40 FIGURA 6 – RECORTE DE CENAS UTILIZADAS POR MCCLOUD PARA

EXEMPLIFICAR A PASSAGEM DE TEMPO....................................... 41 FIGURA 7 – EXEMPLOS DE COMO A LINHA PODE OBTER SIGNIFICADO,

PRESENTES NA OBRA DE MCCLOUD............................................. 42 FIGURA 8 – EXEMPLOS DE COMO OS SÍMBOLOS AUXILIAM NO SIGNIFICADO

DA IMAGEM......................................................................................... 43 FIGURA 9 – EXEMPLOS DE SÍMBOLOS DA LINGUAGEM VISUAL..................... 44 FIGURA 10 – EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO DE MOVIMENTO................... 44 FIGURA 11 – MANCHA GRÁFICA........................................................................... 46 FIGURA 12 – CAPA DO LIVRO AMOR, DE CLARA GAVILAN................................ 51 FIGURA 13 – ILUSTRAÇÃO DE PÁGINA DUPLA DO LIVRO AMOR..................... 51 FIGURA 14 – SEQUÊNCIA DE CENAS PRESENTES NA OBRA

AMOR................................................................................................ 52 FIGURA 15 – CAPA DO LIVRO VAI E VEM, DE LAURENT CARDON................... 53 FIGURA 16 – PÁGINA DO LIVRO VAI E VEM CONTENDO UMA SEQUÊNCIA DE

CENAS............................................................................................... 54 FIGURA 17 – ILUSTRAÇÃO DO LIVRO VAI E VEM, APRESENTANDO UMA CENA

DE PERIGO....................................................................................... 54 FIGURA 18 – CAPA DO LIVRO NÃO!, DE MARTA ALTÉS...................................... 55 FIGURA 19 – ILUSTRAÇÃO DO LIVRO NÃO!, DE MARTA ALTÉS........................ 56 FIGURA 20 – RECORTE DO TEXTO APRESENTADO NO LIVRO NÃO!............... 56 FIGURA 21 – TRECHO DO ROTEIRO FINALIZADO DE BIBI&PIPOCA................ 58 FIGURA 22 – PARTE DO STORYBOARD FEITO PARA BIBI&PIPOCA................. 58 FIGURA 23 – ESTUDOS PARA CRIAÇÃO DA PERSONAGEM BIBI...................... 61 FIGURA 24 – ESTUDOS PARA CRIAÇÃO DO PERSONAGEM PIPOCA.............. 61 FIGURA 25 – VERSÕES FINAIS DE CADA PERSONAGEM.................................. 62 FIGURA 26 – ESTUDOS DE CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS...................... 62 FIGURA 27 – ESTUDOS DE APLICAÇÃO DE COR............................................... 63 FIGURA 28 – FASE I: ESBOÇO RÁPIDO DA ILUSTRAÇÃO.................................. 64 FIGURA 29 – FASE II: DETALHAMENTO DA CENA............................................... 64 FIGURA 30 – FASE III: INSERINDO CONTORNO PARA DECALQUE................... 65 FIGURA 31 – FASE IV: APLICAÇÃO DE AQUARELA............................................. 65 FIGURA 32 – FASE V: FINALIZAÇÃO COM LÁPIS DE COR................................. 65 FIGURA 33 – EXEMPLO DE ATUAÇÃO DA LINHA COMO MOVIMENTO............. 66 FIGURA 34 – EXEMPLO DE EXPRESSIVIDADE DOS PERSONAGENS.............. 66 FIGURA 35 – MEDONHO, DE ROSANA RIOS, ILUSTRADO POR JUAN

CHAVETTA........................................................................................ 67 FIGURA 36 – QUEM SOLTOU O PUM?, DE BLANDINA FRANCO, ILUSTRADO

POR JOSÉ CARLOS LOLLO............................................................. 68

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FIGURA 37 – A VACA QUE BOTOU UM OVO, DE ANDY CUTBILL, ILUSTRADO POR RUSSELL AYTO....................................................................... 68

FIGURA 38 – TÍTULO DO LIVRO DESENHADO À MÃO........................................ 69 FIGURA 39 – VERSÃO FINAL PARA CAPA DO LIVRO BIBI E PIPOCA................ 69 FIGURA 40 – ÁREA ÚTIL DE IMPRESSÃO............................................................ 72 FIGURA 41 – BASE PARA O GRID DO PROJETO................................................. 75 FIGURA 42 – GRID PARA DISTRIBUIÇÃO DAS ILUSTRAÇÕES.......................... 75 FIGURA 43 – EXEMPLO DE ILUSTRAÇÃO QUE TRANSCENDE OS LIMITES DE

GRID.................................................................................................. 76 FIGURA 44 – FONTE SCHOOLBELL REGULAR.................................................... 76

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11 1.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................................. 13 1.1.1 Objetivos Específicos....................................................................................... 13 1.2 METODOLOGIA.................................................................................................. 14 1.2.1 Planejamento.................................................................................................... 15 2 PROBLEMATIZAÇÃO........................................................................................... 19 2.1 O LEITOR BRASILEIRO..................................................................................... 19 2.2 A INFLUÊNCIA DOS MEIOS TECNOLÓGICOS NA FORMAÇÃO DE LEITORES ................................................................................................................................... 21 2.3 LENDO E INTERPRETANDO CÓDIGOS TEXTUAIS......................................... 21 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 24 3.1 LITERATURA INFANTIL...................................................................................... 24 3.1.1 A Literatura Infantil no Brasil............................................................................. 25 3.1.2 Construção de Narrativa na Literatura Infantil.................................................. 27 3.1.3 Interação Entre Linguagens Visual e Verbal.................................................... 28 3.2 IMAGEM NARRATIVA......................................................................................... 30 3.2.1 Imagem Sem Texto........................................................................................... 31 3.3 A ILUSTRAÇÃO EM LIVROS INFANTIS............................................................. 32 3.3.1 Técnica e Conteúdo......................................................................................... 34 3.4 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DA NARRATIVA.............................................. 36 3.4.1 Composição...................................................................................................... 37 3.4.2 Cor.................................................................................................................... 38 3.4.3 Ritmo................................................................................................................ 39 3.4.4 Linhas e Traços................................................................................................ 42 3.4.5 Tipografia.......................................................................................................... 45 3.5 PROJETO EDITORIAL DE LIVRO...................................................................... 46 3.5.1 Projeto Gráfico de Livro Infantil........................................................................ 47 4 DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 49 4.1 ANÁLISE DE SIMILARES................................................................................... 49 4.1.1 “Amor”, de Clara Gavilan.................................................................................. 50 4.1.2 “Vai e Vem, de Laurent Cardon........................................................................ 52 4.1.3 “Não!”, de Marta Altés....................................................................................... 54 4.1.4 Considerações Pós-Análise............................................................................. 56 4.2 DEFINIÇÃO DE TEMA E ESTRUTURA NARRATIVA......................................... 57 4.2.1 Roteiro.............................................................................................................. 58 4.2.2 Storyboard........................................................................................................ 59 4.3 CONCEPÇÃO DE PERSONAGENS................................................................... 60 4.4 DESENVOLVIMENTO DAS ILUSTRAÇÕES...................................................... 63 4.5 DESENVOLVIMENTO DE CAPA........................................................................ 67 4.6 PROJETO GRÁFICO.......................................................................................... 70 4.6.1 Formato............................................................................................................ 71 4.6.2 Escolhas de papel para capa e miolo............................................................... 73 4.6.3 Organização da página.................................................................................... 74 4.6.4 Tipografia.......................................................................................................... 76 4.6.5 Digitalização e Tratamento de Imagem............................................................ 77

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4.6.6 Acabamentos.................................................................................................... 78 CONSIDERAÇÕES................................................................................................... 80 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 82 APÊNDICES.............................................................................................................. 89

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1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos da segunda metade do século XX, como

aparelhos móveis, Internet, televisão, computador e videogames, muito presentes

atualmente, têm tornado cada vez mais precoce o contato de crianças com a

tecnologia. Essa interação pode diminuir consideravelmente a vivência da criança

com outros meios de aprendizagem.

Mesmo antes de aprender a ler, a interação da criança com livros ainda

pode existir por meio da interpretação de imagens. A infância costuma ser o período

no qual surgem os primeiros contatos com a leitura, sendo um momento bastante

importante para a formação do leitor no futuro. Entretanto, segundo Pereira, Frazão

e Santos (2012), o excesso de tecnologias na vida cotidiana tem tornado frágil a

relação entre a criança e a leitura (PEREIRA, FRAZÃO e SANTOS, 2012).

Uma pesquisa realizada em 2016 pelo INAF (Indicador de Alfabetismo

Funcional) mostrou que 27% da população brasileira analisada, entre 15 e 64 anos

de idade, representa o grupo de analfabetas funcionais, ou seja, aqueles que

conseguem efetuar tarefas básicas de localização de informações explícitas, em

calendários, tabelas simples e cartazes informativos, por exemplo, identificação de

números presentes no cotidiano, como horários, preços e telefones, reconhecem

sinais de pontuação, mas apresentam um vocabulário limitado ao do dia a dia,

incapazes de identificar unidades de informações menores, interpretar e fazer

comparações. (INAF, 2016)

Além da interpretação de palavras e números, hoje é cada vez mais

comum a interação entre códigos verbais e visuais, presentes não somente em

livros, como em outros meios de comunicação: revistas, cartazes, televisão, nas

redes sociais e aplicativos para celular. Como afirma Ramos, Panozzo e Zanolla

(2011), tais códigos de linguagem exigem um nível de interpretação do leitor para

que sejam compreendidos corretamente. No entanto, avaliações como as do PISA

(Programme for International Student Assessment, da Organização para

Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE) e do ENEM (Exame Nacional

de Ensino Médio) revelaram que o aluno brasileiro possui deficiências de leitura que

os impedem de analisar até pequenos enunciados (RAMOS, PANOZZO e

ZANOLLA, 2011).

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Considera-se que as primeiras atividades de leitura acontecem na

infância, principalmente nas salas de aula de Ensino Fundamental. Isso reforça a

importância do desenvolvimento das habilidades de leitura da criança na escola,

contribuindo não só para a formação de um leitor proficiente, como também no seu

exercício de cidadão, seja na infância ou na vida adulta, garantindo o acesso à

informação e a sua inclusão na sociedade (RAMOS, PANOZZO e ZANOLLA, 2011).

Pensando nos primeiros contatos com a leitura, este Trabalho de

Conclusão de Curso se dedica a pesquisa e a produção de um livro infantil ilustrado

com a técnica de aquarela, buscando a identificação com o universo infantil, com o

objetivo de contribuir para a adoção do hábito da leitura desde a infância.

Durante o processo de elaboração do projeto, foi utilizada como base a

metodologia proposta por Merino (2016) que orienta o designer a pensar no usuário

como o elemento mais importante na concepção de um produto ou serviço, tendo

como princípios o Design Thinking.

Para fundamentação do projeto, apresenta-se uma breve análise dos

parâmetros de leitura no Brasil atual, discorrendo sobre como a tecnologia pode

influenciar na construção do leitor. Apresenta-se, também, estudos sobre a

relevância da imagem narrativa em livros infantis, levando em consideração o uso de

tipografia, de cores e outros conceitos de ilustração para crianças.

Para entender como aplicar os conceitos de construção da imagem

narrativa, além de identificar as características de projetos gráficos editoriais em

livros infantis relacionadas na fase de fundamentação do trabalho, foram realizadas

análises de produtos similares.

A partir da coleta e organização de informações obtidas, deu-se início a

etapa de criação do projeto, com elaboração de roteiro e storyboard, concepção de

personagens e desenvolvimento das ilustrações seguindo a metodologia proposta

por Zimmermann (2012), apresentada em Nardi e Lindner (2013).

Para finalizar, foi desenvolvido um protótipo de acordo com os conceitos

definidos para o projeto, levando em consideração as características presentes em

projetos gráficos editoriais, apresentando justificativa para escolhas e relato dos

procedimentos adotados desde a idealização até a finalização do projeto.

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1.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver o projeto gráfico de um livro infantil, bem como suas

ilustrações, para crianças que ainda não sabem ler ou estão em processo de

aprendizagem da leitura.

1.1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Compreender a relevância da literatura infantil no processo de

aprendizagem da leitura na infância.

2. Relatar sobre a importância do livro impresso na formação do leitor.

3. Analisar o perfil de leitor brasileiro e identificar quais fatores podem

interferir na manutenção do hábito de leitura.

4. Identificar as relações que a criança pode estabelecer com o livro.

5. Relatar sobre a influência de pais e professores no incentivo ao hábito da

leitura.

6. Compreender conceitos de ilustração para livros infantis.

7. Descrever conceitos de projeto editorial para livros infantis.

8. Analisar projetos gráficos de livros infantis similares a partir do

levantamento de informações sobre composição da imagem narrativa e

de projeto gráfico editorial.

9. Definir conceitos gerais do projeto com base na pesquisa realizada.

10. Gerar alternativas e ideias para desenvolvimento das ilustrações do

projeto, com seleção das melhores opções.

11. Estruturar o projeto gráfico de livro infantil.

12. Organizar e executar o projeto gráfico, efetuando possíveis ajustes.

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1.2 METODOLOGIA

Como base para o processo de desenvolvimento do projeto, desde

idealização até geração de protótipo, adotou-se o método proposto por Merino

(2016) que apresenta uma metodologia definida como um Guia de Orientação para

Desenvolvimento de Projetos (GODP), tendo como princípio a ideia de se pensar no

usuário como fator norteador para tomada de decisões que auxiliam na definição e

concepção do produto ou serviço.

Seguindo esta metodologia, em um primeiro momento o designer deve

determinar qual é o produto que será desenvolvido; para quem ele se destina e; por

último, em que contexto está inserido este usuário, como o produto chegará até ele

e qual a sua finalidade, como no esquema representado abaixo (MERINO, 2016).

Figura 1 – Blocos de Referência, utilizados para dar início ao planejamento do projeto. Fonte: Merino (2016, p. 9). Inicia-se então uma tomada de ações que partem de um levantamento de

dados focado em compreender qual é o espaço desse produto no mercado, como

ele pode beneficiar o seu usuário, como ele é produzido, qual é a sua demanda e o

seu objetivo, buscando entender quais são as expectativas do usuário deste produto

e como estabelecer uma relação entre o produto final e para quem ele se destina

(MERINO, 2016).

Pela orientação de Merino (2016), as informações coletadas servirão de

partida para definir a estratégia do projeto e o seu conceito, dando inicio ao processo

de criação do produto. Essa etapa envolve a geração de alternativas preliminares,

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testes e protótipos, submetidos a uma análise para estabelecer quais são as

melhores opções de acordo com as especificações do projeto.

Figura 2 – Representação cíclica do GODP. Fonte: Merino (2016, p. 15).

1.2.1 PLANEJAMENTO

Adaptando a metodologia de Merino (2016) para o projeto, as fases do

GODP utilizadas como base para o seu planejamento partem da Etapa -1 até a

Etapa 4, sendo que as demais etapas não serão executadas por não serem viáveis

neste momento. Todavia, mesmo que a Verificação e Verificação Final não sejam

realizadas, o esperado é desenvolver o projeto da melhor maneira possível dentro

da sua proposta.

Para entender e estruturar o projeto de acordo com o GODP foram

elaborados quadros de apoio para facilitar a organização das informações e quais as

medidas tomadas para a sua concepção. Abaixo, apresentam-se dois quadros-

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resumo organizando a base do projeto e descrevendo quais etapas do GODP serão

desenvolvidas e quais os procedimentos adotados conforme os objetivos específicos

do projeto.

BLOCOS DE REFERÊNCIA

PRODUTO USUÁRIO CONTEXTO

O resultado de um projeto pode ser tangível (produto

físico) ou intangível (produto digital, serviço)

Quem irá se utilizar do produto

Meio onde acontece a interação do produto com o

usuário, onde o produto está inserido

Livro infantil

Principal usuário A criança, em seus primeiros

contatos com a leitura

Envolvidos Pais, familiares, professores e

outros responsáveis pela educação da criança

Principal

Escola

Outros Bibliotecas, livrarias, em casa,

entre outros

Quadro 1 – Blocos de Referência para planejamento do projeto.

Fonte: De autoria própria, com base em Merino (2016),

GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS (GODP)

Etapa O que será feito? Procedimento

-1

Oportunidades

Identificação de oportunidades de

mercado

Compreender a relevância da literatura infantil no processo de

aprendizagem da leitura na infância Pesquisa teórica com base

em autores

Relatar sobre a importância do livro impresso na formação do

leitor

0

Prospecção

Identificação da demanda/problemática central que norteará o

projeto

Analisar o perfil de leitor brasileiro e identificar quais fatores podem

interferir na manutenção do hábito de leitura

Pesquisa e análise de dados

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1

Levantamento de dados

Coleta de dados em diferentes fontes

Identificar as relações que a criança pode estabelecer com o

livro Pesquisa teórica com base

em autores

Relatar sobre a influência dos pais e professores no incentivo ao

hábito de leitura

Compreender conceitos de ilustração para livros infantis

Análise de conceitos de composição da imagem

narrativa apresentados por McCloud (2005)

Compreender conceitos de projeto editorial para livros infantis

Análise de conceitos com base em autores como Lins

(2003)

2

Análise de dados

Organização e análise de dados para definir as

estratégias do projeto

Analisar projetos gráficos de livros infantis similares a partir do

levantamento de informações sobre composição da imagem narrativa e de projeto gráfico

editorial

Análise de similares

3

Criação

Geração de conceitos e alternativas de projeto.

Definir conceitos gerais do projeto com base na pesquisa realizada

Desenvolvimento de roteiro e storyboard, com base na

metodologia de Zimmermann³ (2012 apud

NARDI e LINDNER, 2013)

Gerar alternativas e ideias para o desenvolvimento das ilustrações,

com seleção das melhores opções

Concepção de personagens e elaboração das

ilustrações, utilizando Zimmermann³ (2012 apud

NARDI e LINDNER, 2013)

Estruturar o projeto gráfico de livro infantil

Definição de formato, tipografia e grid (ROMANI,

2011)

Digitalização das ilustrações, efetuando ajustes de cor

Desenvolvimento de capa para o livro

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4

Execução

Testes e ajustes, com organização da

produção

Organizar e executar o projeto gráfico, efetuando possíveis

ajustes

Escolha de tipos de papel para impressão do livro

Definição de formato para impressão em offset

Testes de impressão para confecção do protótipo

Fechamento de arquivo e impressão final

Quadro 2 – Estruturação do projeto de acordo com o GODP.

Fonte: De autoria própria, com base em Merino (2016),

_____________

³ ZIMMERMANN, Anelise. A imagem nos livros de literatura infantil. Oficina realizada nos dias 17 e 19 de abril de 2012, na fundação Franklin Cascaes, como parte da Semana do Livro Infantil. Florianópolis, 2012.

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2 PROBLEMATIZAÇÃO

Mesmo com políticas públicas de incentivo à leitura, o brasileiro ainda é

um cidadão que lê pouco. Em 2015, foi constatado que 44% da população não lê e

que 30% nunca comprou um livro (RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL, 2016).

Para pesquisadores, o gosto pela leitura geralmente é adquirido durante a infância,

por isso, tais números divulgados são reflexo não só da educação nas escolas

brasileiras, como também de costumes no cotidiano.

Outro dado importante mostra que 23% dos brasileiros não gosta de ler e

muitos preferem praticar outras atividades em seu tempo livre, como assistir

televisão, escutar rádio e se distrair em redes sociais como Facebook e WhatsApp.

Neste ponto, é fácil perceber como a tecnologia tem ganhado espaço na vida do

cidadão (RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL, 2016).

A falta de hábitos de leitura no país se confirma pela pesquisa divulgada

pelo INAF (2016), na qual quase metade da população no Brasil está em um nível

básico de interpretação de informações textuais, que não exigem um grau complexo

de conhecimento para compreendê-las (INAF, 2016).

2.1 O LEITOR BRASILEIRO

Há algumas décadas, o Ministério da Educação tem desenvolvido

programas a fim de tornar o livro mais acessível dentro das escolas, tais como o

PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e o PNLD (Programa Nacional do

Livro Didático), disponibilizando acervos não só para alunos, mas também para

professores. Entretanto, mesmo com iniciativas que visam tornar o acesso a livros

mais democrático, o Brasil ainda possui um número insatisfatório de leitores.

Em 2015, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2016), do Instituto

Pró-Livro e com a colaboração do MEC, constatou em um estudo que, entre 188

milhões de brasileiros, desde crianças até adultos, 44% se declara “não leitor”. Os

resultados obtidos levaram a uma média de 2,43 livros lidos inteiros por habitante ao

ano. Um dos motivos para este resultado está no fato de 40% das crianças, entre 5

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e 10 anos de idade, gostarem de ler, mas perderem essa motivação para leitura

conforme vão ficando mais velhas, sendo que, aos 70 anos de idade, apenas 25%

das pessoas leem porque gostam dessa atividade (RETRATOS DA LEITURA NO

BRASIL, 2016).

A pesquisa ainda relatou que a maior parte das pessoas prefere assistir

televisão, usar o computador ou se distrair nas redes sociais a ler livros, jornais e

revistas em seu tempo livre. O Instituto Pró-Livro reitera que o hábito da leitura é

uma construção que vem desde a infância e, normalmente, é despertada pelo

incentivo de outras pessoas, especialmente os pais (RETRATOS DA LEITURA NO

BRASIL, 2016).

Para Rateau (2014), crianças possuem grandes chances de ter afinidade

com a leitura. Desde muito cedo elas têm a necessidade de interpretar signos para

entender o mundo. “Ler poderia ser, primeiramente, e sempre, descobrir e interpretar

o mundo! Ler em livros seria descobrir e interpretar a representação que um artista

se faz do mundo” (RATEAU, 2014, p. 26).

A infância é o período de descobertas, no qual a criança tem os primeiros

contatos com diferentes culturas e as interpreta. Quando incentivada pela família e

escola, ou mesmo por vontade própria, a criança poderá se tornar um adulto leitor e

formador de opiniões. Segundo Coelho¹ (2000, apud PEREIRA, FRAZÃO e

SANTOS, 2012), a literatura infantil tem o papel fundamental como agente construtor

da consciência de mundo das crianças e jovens.

“Uma política de formação de leitores é condição básica para que o poder

público possa atuar sobre a democratização das fontes de informação” (MEC, 2006).

O livro, como veículo de informação, entretenimento e cultura, é de extrema

importância no desenvolvimento do cidadão leitor. O contato com o livro desde a

infância colabora para o desenvolvimento do gosto pela leitura e o hábito de ler.

Com base na metodologia de Merino (2016), a função do designer neste

momento é identificar quais são as necessidades de seu público alvo e entender

como o seu produto está inserido no contexto deste usuário. Adequando esta etapa

ao projeto em questão, o designer deve trabalhar na compreensão do universo

infantil, oferecendo um produto que esteja dentro das expectativas da criança e que

seja capaz despertar seu interesse.

____________

¹ COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000.

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2.2 A INFLUÊNCIA DOS MEIOS TECNOLÓGICOS NA FORMAÇÃO DE LEITORES

Se a presença de dispositivos móveis na infância é positiva ou não, ainda

existe controvérsia. Entretanto, seu uso excessivo tem influenciado negativamente

na formação de leitores e escritores e levado ao abandono do livro. Segundo

Pereira, Frazão e Santos (2012), com a Internet e a facilidade de busca por

informações e entretenimento, as crianças acabam se tornando submissas ao

controle das redes sociais, jogos eletrônicos, TV, entre outros, se distanciando de

livros e da leitura.

O advento da Internet revolucionou a vida das pessoas. Gonçalves e

Nuernbeg (2012) afirmam que a chegada dessa nova tecnologia levou a expansão

da comunicação em massa, trazendo informação, praticidade e democratizando o

conhecimento. Entretanto, o uso exagerado dessa ferramenta pode acarretar na sua

dependência, principalmente durante a adolescência. Hoje é comum se deparar com

pessoas que não conseguem mais conviver sem a realidade virtual e que passam

horas em frente ao computador ou no celular, o que aumenta o desinteresse com

outros meios de interação, como o livro (GOLÇALVES, NUERNBERG, 2012).

A navegação na Internet deve ser inteligente, pois nem todo conteúdo

disponibilizado na rede é confiável e proveitoso (GOLÇALVES, NUERNBERG,

2012). Por isso, por mais que a Internet propicie a prática da leitura e interação por

meio da comunicação visual, a importância do livro ainda se faz presente.

Ressaltando que a leitura é essencial para a formação de bons leitores,

faz-se necessária a busca por soluções para tornar o livro interessante aos olhos,

não somente da criança, como de pais, professores e responsáveis pela sua

educação. Para isso, se reforça a presença do designer como profissional que

estabelece conexões ao pensar em um produto, entender quem é o seu usuário e

atuar no desenvolvimento de uma solução satisfatória (MERINO, 2016).

2.3 LENDO E INTERPRETANDO CÓDIGOS TEXTUAIS

Quando se fala em leitura, a primeira ideia que vem à mente, geralmente,

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é a imagem de uma pessoa lendo um livro, revista ou jornal, ou seja, identificando

palavras que, juntas, adquirem sentido e significado. Entretanto, como argumenta

Carneiro (2008), o ato de ler não se resume apenas ao texto escrito. Segundo a

pesquisadora, a leitura também se aplica a outras formas e meios, como ler uma

música ao escutá-la, ler um espetáculo de teatro ao assisti-lo, assim como se

deparar com um cartaz, videoclipe ou outdoor e também interpretá-los como texto.

Assim, a leitura vai muito além de simplesmente visualizar, ganhando significado a

partir da compreensão do leitor (CARNEIRO, 2008).

A imagem também pode ser lida, porém, quando comparada ao texto

escrito, seus significados possuem algumas diferenças. Enquanto a leitura de um

texto verbal é linear, de cima para baixo, da esquerda para direita, a imagem não

tem uma definição pré-estabelecida e, por conta disso, sua interpretação pode ter

um ou mais sentidos. Isso porque o significado não está no texto (entende-se texto

como imagem) propriamente dito, mas sim na reação do leitor após compreendê-lo.

Portanto, “texto e leitor reagem entre si, para buscar o processo da compreensão”

(CARNEIRO, 2008, p. 48).

Carneiro (2008) cita Giasson² (1993, apud CARNEIRO, 2008) para

esclarecer que a leitura se dá por um processo de correlação entre texto, leitor e

contexto:

“De um lado, está o leitor, com seu contexto e seus objetivos de leitura e, de outro, o texto, com o contexto e os objetivos do autor. Portanto, a leitura é um ato social quando compreendida no processo de comunicação entre o autor e o leitor, intermediado pelo texto. [...] O contexto corresponde aos elementos extra-texto, que podem influenciar na compreensão da leitura; são eles: o contexto psicológico do leitor, sua intenção de leitura, seu interesse e envolvimento pelo texto; o contexto social, que está associado a intervenções das pessoas que estão ao redor do leitor; e o contexto físico, que diz respeito, por exemplo, ao tempo disponível, ao ambiente e à disposição física do leitor.” (CARNEIRO, 2008, p. 48)

Ou seja, a produção de sentido a partir de uma leitura nem sempre é a

mesma, pois cada leitor possui uma bagagem cultural, afetiva, emocional e social

diferente. Nesse sentido, o “contexto” tem um papel fundamental de ligação entre a

mensagem que o produtor (autor) quer passar para o receptor (leitor). Seguindo este

raciocínio, algumas situações podem dificultar essa compreensão de sentido, como

as citadas por Carneiro (2008): se o contexto não for pertinente para o leitor naquele

____________

² GIASSON, Jocelyne. A compreensão na leitura. Lisboa: Asa, 1993.

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momento; se o texto não corresponder ao nível de habilidade do leitor ou; mesmo se

nem o contexto nem o texto forem adequados às capacidades do leitor.

Considerando que a mensagem contida em um texto, novamente

entende-se texto como algo mais amplo, que vai além das palavras, nem sempre vai

chegar ao leitor da maneira esperada e, relacionando a teoria apresentada com os

dados apontados em pesquisas recentes, compreende-se que o “contexto” no qual

se encaixa o leitor brasileiro pode interferir no processo de leitura, seja por motivos

já mencionados, como a influência de outros meios de interação, ou mesmo pela

insuficiência ou sobrecarga de informações, interferindo no entendimento de

mensagens no momento da leitura.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Merino (2016), inicialmente deve-se estabelecer qual é a

finalidade do projeto, considerando um panorama atual e definindo a problemática

central que norteará o seu desenvolvimento. Tais definições constam em Introdução

e Problematização, onde foi feito um breve relato sobre os hábitos de leitura do

brasileiro para entender a importância do livro no incentivo à formação do leitor e

afirmar a relevância da prática da leitura durante a infância. Assim, ficou decidido

que este trabalho se dedicaria a criação de um livro infantil que atendesse às

necessidades da criança em seus primeiros contatos com a leitura.

Dá-se início a fase de fundamentação para desenvolvimento do projeto,

com a proposta de entender, de modo mais aprofundado, de que maneira o livro

surge na vida da criança e qual é a sua importância. Também foram realizados

estudos para identificar a finalidade da literatura infantil nos dias atuais e quais são

os tipos de livros infantis presentes no mercado.

Já para auxiliar no processo de criação das ilustrações e geração de

protótipo, realizaram-se pesquisas para compreender melhor os elementos de

composição da imagem, assim como as características de projeto gráfico editorial

com foco na produção de livros infantis.

3.1 LITERATURA INFANTIL

O mundo está em um processo de transformação contínuo, com novas

tecnologias todos os dias. Existe um constante bombardeio de imagens, palavras,

sons e sensações que dialogam com indivíduo na sua vida diária. Todos esses

códigos visuais são interpretados pelo ser humano e possuem diferentes

significados para cada um.

Como afirma Filho (2010), para produzir literatura nos dias de hoje é

preciso entender a criança que vive em um universo multicultural. Mais do que isso,

deve-se compreender esses novos meios de linguagem do século XXI, tão

presentes na sociedade atual, para, então, conversar com a criança por meio da

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literatura infantil.

Diante de tantas informações simultâneas, cabe, principalmente, a escola

o papel de mediar a conexão entre o livro e a criança (FILHO, 2010). No entanto,

como afirma Cademartori (2010), essa função tem se tornado cada vez mais difícil

com o passar dos anos:

“[A escola] Vive atualmente a perda mais radical de seu antigo espaço de influência. Sobrevive sem condições de competir com os meios de comunicação de massa, esses, sim, geradores de valores e de modelos, que se impõem indistintamente ao amplo público, mediante informação, publicidade e entretenimento. As crianças crescem diante da televisão, brincam desde cedo com jogos eletrônicos e encontraram pela internet, instantaneamente, as informações de que precisam. [...] À disposição delas, estão muitas informações. São tantas que atordoam.” (CADEMARTORI, 2010, p. 11)

Segundo Cademartori, “promover, intermediar, comentar a literatura é

modo de oferecer aos pequenos um tipo de informação e recorte do mundo distinto

daqueles que consomem diariamente” (CADEMARTORI, 2010, p. 7). Hoje, é quase

impossível desvanecer a presença de meios eletrônicos na vida da criança. Por isso,

se tornou imprescindível a intervenção de um adulto, seja professor ou familiar, pois

a criança dificilmente encontrará o caminho até a literatura por si só.

3.1.1 A LITERATURA INFANTIL NO BRASIL

Apesar de ser amplamente conhecida como literatura infantil, este campo

de estudo pode ser chamado de “infantil” apenas no âmbito que se refere a

manifestação textual, ou seja, na maneira como o leitor se envolve com

personagens, tempo e espaço. Mesmo sendo direcionada para crianças, a literatura

infantil é estudada e produzida por adultos e, portanto, carrega valores que estão

enraizados na sociedade e que são transmitidos para a criança por meio da leitura

(CADEMARTORI, 2010).

As primeiras adaptações de textos adultos para o público infantil

apareceram brevemente no século XVIII e se caracterizavam, resumidamente, em

“vestir” temas adultos para crianças (FILHO, 2010).

No Brasil, as origens deste gênero encontram-se, sobretudo, no final do

século XIX e início do século XX. Com maiores políticas de ensino, professores

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intensificam a produção de material literário infantil com a finalidade de instruir

valores morais e sociais, assim como padrões de conduta a partir do ponto de vista

do novo governo republicano, para crianças submetidas ao processo de

escolarização e à aprendizagem da leitura (MORTATTI, 2001).

Os paradigmas vigentes na educação brasileira e na prática de leitura, até

então, eram o nacionalismo, o intelectualismo, o tradicionalismo e o moralismo

religioso. Mas, para Filho (2010), a chegada de Monteiro Lobato nesse cenário

trouxe novos rumos para a literatura infantil no Brasil. A partir da década de 1920,

com o surgimento das histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo e a expansão do

mercado editorial brasileiro, tem-se o início do processo de autonomia da literatura

infantil.

“Lobato apresenta características nunca exploradas no universo literário para crianças: apelo a teorias evolucionistas para explicar o destino da sociedade; onipresença da realidade brasileira; olhar empresarial; preocupação com problemas sociais; [...] questionamento do etnocentrismo e a religião como resultado da miséria e da ignorância.” (FILHO, 2010, p. 24-25)

Com esse novo direcionamento da produção de obras literárias infantis,

surge uma oscilação na literatura infantil brasileira entre literatura didática e literária.

Como descreve Mortatti (2001), a literatura infantil perde o caráter apenas

funcional/didático, e passa a estar ligada, também, ao lúdico e a ser entendida como

arte, sobretudo depois dos anos 1970 com o crescimento da produção de livros

infantis.

De acordo com Cademartori (2010), com a globalização de mercado no

final do século XX, a literatura infantil passou pelo que pode ser chamado de

internacionalização do gênero. Com os meios de comunicação de massa e a forte

influência da mídia, algumas obras literárias começam a ser lidas fora do ambiente

escolar, ligadas a outros meios de comunicação, como a linguagem cinematográfica

(CADEMARTORI, 2010).

Hoje, a produção literária infantil não se caracteriza apenas como um

simples recurso de ensino pedagógico, se transformando em objeto de preparação

do indivíduo para conviver em um mundo repleto de diversidades culturais, morais,

étnicas e religiosas (CADEMARTORI, 2010). Ademais, Cademartori (2010) e Filho

(2010), dois autores utilizados como referência no estudo da literatura infantil neste

projeto, concordam que a literatura infantil tem o papel fundamental na formação do

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cidadão e cabe, principalmente, à escola a função de ensinar às crianças o gosto

pela leitura.

3.1.2 CONSTRUÇÃO DE NARRATIVA NA LITERATURA INFANTIL

O que caracteriza a literatura infantil é a forma como a narrativa é

construída. Diferentemente de outros gêneros textuais, a literatura infantil leva em

consideração a faixa etária para a qual a obra se destina, pois lida com um público

que está em processo de aprendizagem. Assim, os elementos que compõem o texto

devem estar de acordo com nível de leitura previsto para a criança em determinada

idade, respeitando suas possíveis limitações (CADEMARTORI, 2010).

Não só a estrutura como os temas abordados devem estar de acordo com

as necessidades e expectativas da criança. Como afirma Filho (2010), a literatura

infantil costuma abordar assuntos discutidos na sociedade atual ou valores morais

atemporais, mas com discursos que se aproximem do universo infantil, misturando a

realidade com aquilo que a ideologia mostrou ser apropriado para a criança, como

uma espécie de “releitura do mundo”. Por conta disso, o autor da obra, chamado por

Filho (2010) de “enunciador”, tem um papel fundamental na escolha dos elementos

textuais, pois seu texto deve ser aceito tanto pelo enunciatário, que seria o possível

leitor, quanto pela sociedade, já que a maior parte dos livros que chega às mãos da

criança é selecionada por uma pessoa adulta (FILHO, 2010).

Ainda segundo Filho (2010), sob influência de valores criados pela

sociedade, a temática da literatura infantil nada mais é do que assuntos adultos com

uma “roupagem” para crianças, o que acaba por consolidar a manutenção de

pensamentos dominantes na sociedade por meio da inserção de valores morais na

aprendizagem da criança.

Para Cademartori (2010), existem diversos modos de expressão e

processos narrativos, tanto verbais quanto visuais, que podem designar uma obra de

literatura infantil. Alguns costumam apelar para o sonho e a fantasia, rompendo

barreiras com o mundo racional e outros abrem reflexões sobre temas sociais,

sexuais, culturais e políticos. Tais processos irão definir o público para o qual a

narrativa se destina.

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Caldin (2003) afirma que, na atualidade, a literatura infantil

contemporânea adotou uma função social, a de representar a realidade de

problemas sociais, políticos e econômicos, fazendo com que a criança perceba o

mundo que a cerca, mas sem deixar de proporcionar boas experiências, emoções e

despertar a curiosidade. Hoje, para produzir literatura infantil é preciso entender que

os textos estão abertos a múltiplas interpretações e questionamentos da criança em

relação ao mundo em que vive. Dessa maneira, “se a sociedade buscar a formação

de um novo homem, terá de se concentrar na infância para atingir esse objetivo”

(CALDIN, 2003), considerando que a infância costuma caracterizar o início da

formação do indivíduo como cidadão.

3.1.3 INTERAÇÃO ENTRE LINGUAGENS VERBAL E VISUAL

Nas recentes produções de literatura infantil, é comum a presença de

elementos verbais e visuais para compor a narrativa. Como analisa Azevedo (1998),

existem, basicamente, três sistemas de linguagem que constroem um livro narrativo,

sendo eles: o texto propriamente dito; as imagens, no que se refere a elementos

visuais que colaboram na contextualização da história e; o projeto gráfico, que

envolve a diagramação do texto, tipografia, disposição das imagens, escolha de tipo

e formato do papel.

Palavras e imagens costumam dividir o mesmo espaço nas páginas de

um livro e, assim, levam ao despertar de novas sensações e emoções no leitor.

Cademartori (2010) exemplifica que é possível encontrar na produção

contemporânea livros apenas com imagens; livros com imagens e palavras e; o mais

incomum, livros apenas com palavras. Cada uma dessas composições se adequa a

uma definição diferente de público alvo (CADEMARTORI, 2010).

Cademartori (2010) afirma que, hoje, o mercado brasileiro oferece livros

de boa qualidade para todas as faixas etárias. Os livros sem texto, por exemplo, são

uma opção para crianças que ainda não sabem ler, recorrendo à percepção visual

para chegar ao significado contido na imagem. A apreensão de signos visuais,

formados a partir de formas, é o meio de percepção mais espontâneo e é a partir

deles que se constroem conceitos que levam a reflexividade. Por isso, o

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entendimento da linguagem visual é uma etapa importante para o desenvolvimento

da leitura (CADEMARTORI, 1994).

Ainda assim, a maior parte dos livros infantis apresenta texto verbal e

visual, propiciando ao leitor novas experiências por meio da interação entre os dois

códigos verbais. Segundo Cademartori (2010), essa relação ainda pode ter níveis de

complexidade diferentes, podendo ser de autonomia ou de complemento; ou, ainda,

no sentido de confirmação ou contraponto, quando um código se opõe ao significado

do outro. A autora cita, como exemplo, a obra Não vou dormir, de Cristiane Gribel e

Orlando, na qual os textos verbal e visual entram em contradição criando uma

situação de ironia, onde a personagem diz que não vai dormir, mas as ilustrações

demonstram que ela mal consegue ficar de olhos abertos.

Já na literatura infantil para leitores iniciantes, observa-se, em geral, que a

ilustração atua como um elemento narrativo que enriquece o significado do texto

escrito que, normalmente, é muito breve; e há também aqueles nos quais a imagem

apenas representa uma personagem, um cenário, uma situação que já tenha sido

narrada. Como conclui Cademartori (2010), na produção atual existe uma tendência

de valorização dos dois códigos de linguagem interagindo entre si, possibilitando

diversas interpretações e sensações em cada leitor. Silva (2005) também confirma

que, hoje, a ilustração possui um papel crucial na percepção, na codificação e na

concretização de elementos explícitos e implícitos de uma narrativa, caracterizando

um sistema híbrido no qual palavras e imagens se misturam produzindo significado e

dando origem a um processo particular de comunicação, amplamente associado à

literatura para crianças.

O projeto em questão tem como finalidade o desenvolvimento de um livro

infantil composto, predominantemente, por imagens, já que se destina a crianças

que ainda não sabem ler ou estão em processo de aprendizagem da leitura. Tem-se

o objetivo de evidenciar a ilustração como um elemento narrativo tão importante

quanto o texto escrito, além de incentivar o contato, não só com a literatura, mas

também com o livro físico, mesmo quando ainda se consolidou o aprendizado da

leitura escrita. Para tal finalidade, o foco dessa pesquisa se direciona ao

entendimento da construção da imagem narrativa e à definição dos elementos de

projeto gráfico para livro infantil.

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3.2 IMAGEM NARRATIVA

As narrativas visuais surgiram muito antes do que se imagina. Para

Alarcão (2008), as representações feitas em paredes de cavernas por homens pré-

históricos, deixadas de herança para a humanidade, já eram capazes de revelar

acontecimentos daquele tempo apenas com a narrativa de imagens.

Segundo Todorov (2006), narrativa é a transição entre dois equilíbrios

semelhantes, mas que não são idênticos (começo e fim), que se dá pela passagem

por um período de instabilidade (meio).

Para Fittipaldi, “Toda imagem tem uma história para contar. Essa é a

natureza narrativa da imagem.” (FITTIPALDI, 2008, p. 103). A história surge quando

a imagem é capaz de produzir uma fabulação que, na maior parte das vezes,

provém de representações figurativas que, geralmente, facilitam o entendimento dos

acontecimentos por serem de reconhecimento imediato (FITTIPALDI, 2008).

O trabalho do ilustrador consiste em comunicar suas interpretações sobre

o texto por meio da imagem, utilizando-se do seu repertório de conhecimentos

culturais, visuais e pessoais, para compor uma estrutura que seja capaz de manter

uma ligação entre texto e imagem, sem quebrar o ritmo da leitura. Também não se

faz necessária a representação literal do que está sendo lido. Muitas vezes, a

imagem pode acrescentar elementos que complementem o texto, ajudando a

enriquecê-lo e gerando outras possibilidades de leitura (FITTIPALDI, 2008).

A imagem narrativa ainda pode exercer funções muito próximas da

linguagem verbal, são elas: função representativa, descritiva, narrativa, simbólica,

expressiva, estética e a função lúdica. Neste contexto, existem duas funções que

são mais comumente aplicadas à ilustração, a “explicativa”, muito utilizada em livros

didáticos, e a “decorativa”. Fittipaldi (2008) explica que “decorar” não se refere

somente à ornamentação, mas compreende noções de formalização e adequação

ao texto que vão muito mais além do que uma simples decoração de página,

“estabelecendo parâmetros de apreciação visual e participando ativamente de uma

leitura crítica” (FITTIPALDI, 2008, P. 115).

Como dito por Oliveira (2008A), em Pelos Jardins Boboli,

“[...] a fidelidade ao texto não está no culto ou no estilo deificado do ilustrador, mas sim na impessoalidade sincera e profissional da procura da verdade de cada palavra, de cada frase, de cada sílaba, de cada letra do

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escritor.” (OLIVEIRA, 2008A, p. 153)

Em resumo, a ilustração não tem apenas o objetivo de representar em

imagem o que está em palavras, mas sim de buscar novas percepções sobre o que

está escrito, valorizando e complementando o texto, estimulando o imaginário do

leitor ao criar narrativas. Essa é a função de uma imagem narrativa.

3.2.1 IMAGEM SEM TEXTO

No Brasil, o primeiro livro de imagens foi desenvolvido somente em 1976,

por Juarez Machado, chamado Ida e Volta. Haja vista a especificidade de trabalhos

desse gênero, tornou-se difícil atribuir-lhe uma definição. Entretanto, o que se

percebe é a associação da narrativa visual com outros meios de linguagem, além da

Literatura, como o Teatro e o Cinema (CARVALHO, 2010).

Estudos recentes sobre a interpretação de imagens demonstram que a

imagem por si só pode transmitir significado. Como observa Ribeiro (2008), por trás

da concepção da imagem existe um “discurso”, dado por uma estrutura que a

ordena, um conjunto de elementos, que a identifica e a atribui sentido.

Ribeiro (2008) cita o Renascimento e o Impressionismo para exemplificar

a relação existente entre texto e imagem. A arte renascentista se caracteriza pela

busca da perfeição da representação do mundo real, com uso de perspectiva e

técnicas que permitiam a reprodução de efeitos nos mínimos detalhes (GOMBRICH,

2012). Como afirma Ribeiro (2008), são essas as características que compõem o

“discurso” renascentista e que afirmam tais obras como pertencentes a este

movimento de arte. Artistas do Impressionismo e de outros movimentos que se

sucederam foram rompendo com o sistema de linguagem vigente e atribuindo novos

significados à imagem, buscando outros meios de expressividade.

Com o tempo, a imagem foi adquirindo diferentes significados e ganhando

espaço nos meios de comunicação. Hoje, percebe-se que a criança tem maior

facilidade para entender narrativas compostas apenas por imagens, pois desde cedo

se depara com o desafio de interpretá-las nas ruas, na televisão, em cartazes, enfim,

em tudo aquilo que lhe chamar a atenção visualmente (CASTANHA, 2008). No

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entanto, como relata Castanha (2008), após a alfabetização, o gosto pela leitura de

imagens vai perdendo espaço para a leitura de palavras. Para a ilustradora, este é

um ponto a ser levado em consideração, pois saber interpretar imagens é tão

importante quanto compreender textos.

O autor e ilustrador Rui de Oliveira também defende em sua obra a

relevância da alfabetização visual nas escolas:

“Infelizmente priorizamos para as crianças, de forma até perversa, o aprendizado da leitura das palavras como atestado de alfabetização. Seria mais conveniente se, nas escolas de ensino fundamental, a iniciação à leitura das imagens precedesse a alfabetização convencional. [...] A própria posterior alfabetização convencional seria muito mais agradável às crianças.” (OLIVEIRA, 2008, p. 29)

Oliveira (2008) sugere que a alfabetização visual deve anteceder o

aprendizado da leitura de palavras, tal como o surgimento das representações

visuais precede a invenção da escrita. Carvalho (2010) reafirma que a escrita

manifestou-se como uma maneira de representar por meio de textos o mundo

figurativo, mas, a partir do seu desenvolvimento, absorveu novos significados e se

distanciou da linguagem visual. Mesmo assim, a escrita manteve seu caráter de

recriação de imagens por meio das palavras. Portanto, se a escrita tem a linguagem

visual como seu início e fim, negar a construção de narrativas por imagens seria

como ignorar todo o processo de formação da escrita.

É importante esclarecer que, apesar de priorizar o estudo sobre a leitura

de imagens, este trabalho não desmerece nem tão pouco diminui a importância do

aprendizado da leitura escrita. Com base em autores como Oliveira (2008A),

defende-se a ideia da valorização da interpretação de imagens, optando pela

construção de uma narrativa contada por meio de ilustrações como uma possível

solução para o desenvolvimento do projeto proposto.

3.3 A ILUSTRAÇÃO EM LIVROS INFANTIS

O livro infanto-juvenil, como fonte de entretenimento, passou a ser

produzido em maior escala a partir do período da Revolução Industrial, que ocorreu

na Inglaterra, durante o século XIX (OLIVEIRA, 2008). A produção industrial levou a

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maior comercialização e divulgação do livro, assim como ao aumento da procura por

ilustradores. Nesta época, as ilustrações que acompanhavam os textos refletiam,

principalmente, os costumes e valores morais da Era Vitoriana, período bastante

conservador.

Adiante, com as novas tecnologias de impressão, que otimizaram o

processo de reprodução da imagem e, mais tarde, viabilizaram a impressão em

cores, surge a consolidação do ilustrador como profissional. Segundo Azevedo

(1993), a reprodução artesanal de livros, como era feita antes da invenção de tipos

móveis de Johannes Gutenberg, acarretava modificações na imagem que tornavam

as cópias infiéis ao original. Por isso, a possibilidade de imprimir várias vezes a

mesma imagem garantiu fidelidade a todas as reproduções e trouxe maior

reconhecimento ao trabalho do ilustrador.

Para autores como Azevedo (1993) e Oliveira (2008), a arte de ilustrar se

refere a compreender o mundo além das palavras, narrar histórias por intermédio da

imagem. Cada ilustrador e, por sua vez, cada leitor, possui uma maneira de

interpretar o que está sendo lido. A ilustração tem o papel de relacionar texto e

imagem, de revelar ao olhar o que lhe parece mais oculto. “As imagens estão muito

além de suas representações, de seus processos narrativos e descritivos – elas são

dotadas de vida e inteligência próprias” (OLIVEIRA, 2008, p. 27).

Como afirma Azevedo (1998), a ilustração é uma das várias ramificações

das artes plásticas, como o desenho, a escultura e a fotografia. Mas qual é a

diferença entre a ilustração e a pintura, por exemplo? Para Azevedo (1998), a

origem por trás da ilustração está no texto escrito, que é interpretado pelo ilustrador

e este, por sua vez, representa o que antes eram palavras, agora por imagens.

Desvincular a ilustração do texto que a estrutura é o mesmo que se desfazer do seu

propósito, afinal, a ilustração não é criada apenas para ser admirada como uma

pintura em uma exposição, mas sim para contar histórias nas páginas de um livro

por meio do olhar do ilustrador.

O ato de ilustrar, em síntese, é algo bastante subjetivo. Como Azevedo

(1998) exemplifica, se o mesmo texto fosse dado a dez ilustradores, dez ilustrações

diferentes seriam produzidas. Para ele, a ideia de que a ilustração deve sempre ser

fiel ao texto é um equívoco, pois cada profissional tem o poder de transmitir por meio

da imagem a sua interpretação do mundo.

“Em tese, palavras possibilitam várias leituras. A rigor, tantas leituras quanto

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o número de leitores. Um mesmo texto pode ser lido racionalmente por um e emocionalmente por outro. Despertará em diferentes leitores, diferentes sensações e interpretações. Isso sem falar na influência de diferentes modelos culturais.” (AZEVEDO, 1993, p.2)

Neste projeto a ilustração terá o papel fundamental de comunicar os

acontecimentos da narrativa a ser desenvolvida, levando em conta as percepções

do olhar da criança e como ela interpreta o mundo. Além disso, considerando que o

objeto final será um livro de narrativa visual, ou seja, a partir de imagens, o ponto de

partida para a elaboração das ilustrações se dará pela concepção de um roteiro, que

será apresentado adiante na fase de Desenvolvimento.

3.3.1 TÉCNICA E CONTEÚDO

Em uma breve pesquisa sobre títulos de livros infantis, é fácil concluir que

não existe um padrão, tanto de técnica, quanto de estilo de ilustração, a ser seguido.

Os trabalhos vão desde o uso de técnicas mais tradicionais, como gravura, pintura a

óleo, colagem, pastel, entre outros, até as mais modernas, como a ilustração digital.

Definir proporções, formas, cor, texturas também é algo que fica a critério de cada

ilustrador e que não possui regras, desde que se adeque a proposta de ilustração

(LINS, 2003).

Esse conjunto de técnicas e estilos leva a resultados distintos, que, além

de aumentar a variedade de livros presentes no mercado, oferece ao ilustrador um

leque de opções para trabalhar, como afirma Lins (2003). “O resultado é uma

mistura de técnicas que acrescentam dinamismo à produção e que vai dando uma

cara bastante peculiar ao livro infanto-juvenil”. (LINS, 2003, p. 51)

Observa-se, também, que a composição da imagem influencia

diretamente no significado que será transmitido ao receptor. Como descreve

Castanha,

“Pelo modo como se organizam as formas espaciais, ou seja, pela composição, o artista ou o ilustrador conduz o olhar do espectador ou leitor para aquilo que quer mostrar ou ocultar. Projeta o que pensa, decidindo onde a personagem vai ficar, se no canto da página ou no centro, na parte superior ou inferior. Cada solução para essa organização espacial vai ter um significado específico.” (CASTANHA, 2008, p.149)

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Aspectos como cor, sombra, perspectiva e traço são de extrema

importância para atribuir significado à imagem. Segundo Castanha (2008), a

composição auxilia na criação de narrativas, pode trazer suavidade ao dar respiro a

página ou densidade se for composta por muitos elementos visuais; dar maior ou

menor importância a personagens; relacionar formas e espaço, definindo, também, o

estilo do artista ou ilustrador.

Neste trabalho, a técnica adotada para a elaboração das ilustrações é a

aquarela, estilo que se destaca por sua natureza calma e suave e por sua fluidez de

cores. Em seu estudo, Bonnemasou (1995) define a aquarela como um estilo

“poético”, que se distingue de outras técnicas pela sua espiritualidade e harmonia,

relacionada com a naturalidade.

Autores como Clarice Lispector já tiveram obras ilustradas em aquarela. O

livro A vida íntima de Laura (2012) é um bom exemplo desse estilo, ilustrado por

Odilon Moraes (FIGURA 1). O ilustrador é reconhecido por seu trabalho com técnica

de aquarela e também possui livros que ele mesmo escreveu e ilustrou, como A

princesinha medrosa (2002) (FIGURA 2). Guto Lins também é outro exemplo de

autor e ilustrador que já publicou livros em aquarela, como É o bicho (1994), citado

em Lins (2003).

Figura 3 – A vida íntima de Laura, de Clarice Lispector. Fonte: ROCCO.

Figura 4 – A princesinha medrosa, de Odilon Moraes. Fonte: AMAZON

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Em sua pesquisa, Tomazzoli (2014) descreve a aquarela como uma

técnica que pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, inclusive das crianças.

Na sociedade contemporânea, onde quase todas as atividades humanas envolvem o

uso do computador e do raciocínio lógico, a aquarela adquire o papel de acalmar a

mente, distanciando-se de pensamentos maquinais:

“Acredito que a aquarela pode contribuir para a qualidade de vida das pessoas. [...] Crianças que usam o computador muito cedo são obrigadas a usar um pensamento computacional antes que seu intelecto esteja maduro para isso. A aquarela é ideal como antídoto deste tipo de pensamento maquinal porque permite improvisar, brincar, experimentar. Exige olhar atento, paciência, presença. Produz calma interior, leveza e fluidez.” (TOMAZZOLI, 2014, p. 14)

3.4 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DA NARRATIVA

Como já mencionado anteriormente, a imagem assume diferentes

significados de acordo com a sua composição. Como se certifica Azevedo (1998),

uma narrativa ilustrada certamente irá receber interferência das ilustrações na

percepção da história. A escolha das cores, técnica, referências icônicas e outros

elementos influenciam no clima proposto, estimulando o imaginário e conferindo

diferentes significados ao texto.

Para auxiliar na construção das ilustrações neste projeto, serão

analisados alguns fundamentos de composição com foco no desenvolvimento de

narrativas. Parte dessa análise terá como base a obra de McCloud (2005),

Desvendando Os Quadrinhos, que, como o próprio nome já indica, é centrada na

exploração das histórias em quadrinhos, através da metalinguagem⁴. O livro trata de

tópicos que podem ser aplicados na concepção das ilustrações, como a iconologia,

distribuição de tempo e espaço na narrativa, construção de linhas e outros conceitos

que potencializam a expressividade visual. Já no processo de elaboração das

ilustrações será utilizada a metodologia de Zimmermann (2012), apresentada por

Nardi e Lindner (2013).

____________

⁴ Segundo o Dicionário Michaelis, metalinguagem é uma “linguagem utilizada para descrever, analisar ou falar sobre uma outra linguagem, natural ou artificial, ou sobre qualquer sistema de significação; explicação de código pelo código; linguagem sobre a linguagem” (MICHAELIS, 2018).

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3.4.1 COMPOSIÇÃO

A composição é um dos fundamentos da linguagem visual que, não só

estabelece equilíbrio entre elementos, mas também cria relações harmoniosas entre

todos os aspectos que compõem uma narrativa visual. Segundo Oliveira (2008A),

uma composição bem resolvida possui uma hierarquia de elementos, criando uma

trajetória narrativa ao longo da imagem, organizando as informações.

Uma imagem monótona, com a presença de formas e pesos iguais, acaba

ficando confusa, pois não direciona o olhar, resultado de uma composição mal

solucionada. “A leitura de uma ilustração é basicamente em sequência, uma forma

atrás da outra, um dado narrativo a seguir do outro” (OLIVEIRA, 2008A, p.60).

Através da composição, o ilustrador determina níveis de importância para cada

elemento e cria uma sequência de leitura.

Para compreender melhor as mensagens veiculadas por meio da

imagem, é necessário um esforço mínimo de análise, como afirma Joly (2002).

Nesse sentido, a semiótica também é uma ferramenta que auxilia, através dos

signos, a trazer sentido à imagem. É por meio da semiótica que se entende, como

exemplifica Joly (2002), que o desenho de uma esfera luminosa em meio a um fundo

azul pode ser considerado uma representação do Sol.

Joly (2002) cita Pierce para descrever a imagem como um “signo icônico”,

constituindo uma representação visual. Apoiada à teoria de Pierce, Joly (2002)

define que, mesmo caracterizando representações, as imagens não necessitam,

obrigatoriamente, de regras de construção. Se tais imagens são compreendidas por

pessoas além das que a fabricam, constata-se que existe um mínimo de convenção

sociocultural para produzir significado, ou seja, a imagem apresenta aspectos

simbólicos que a atribuem sentido (JOLY, 2002).

Tais aspectos, também citados por McCloud (2005), só adquirem

significado quando o leitor possui uma bagagem de referências icônicas e, a partir

delas, se torna capaz de compreender o que é dito. Por conta disso, uma mesma

imagem pode conter significados diferentes ou até mesmo não ser compreendida

dependendo do contexto no qual se apresenta (MCCLOUD, 2005).

No decorrer do desenvolvimento do projeto em questão, serão abordados

outros conceitos que envolvem a semiótica, como a iconologia e o entendimento da

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imagem figurativa como linguagem universal, essenciais para a construção de

personagens e para trazer expressividade e significado às ilustrações.

3.4.2 COR

A cor é o elemento construtivo com maior capacidade de expressar

sentimentos, atingir o emocional e o evocativo. Como afirma Oliveira (2008A), a cor

só alcança sua plenitude expressiva quando relacionada com outros elementos de

uma ilustração, como luz, sombra, com as personagens ou cenário. Dessa forma, a

cor, por si só, não deve ser analisada a partir de seu significado isolado, pois ela só

adquire sentido dentro de um contexto.

Mesmo que o ilustrador tenha liberdade para criar, algumas teorias ainda

permanecem válidas. A presença de luz em uma imagem narrativa é algo muito

importante, pois pode indicar, como exemplifica Oliveira (2008A), se a narrativa

ocorre à luz diurna, noturna ou artificial. Assim como o contraste de claro e escuro,

entre cores quentes e frias ou cores complementares, entre outros aspectos básicos

de composição que devem ser de conhecimento do ilustrador.

Para trazer dramaticidade à cena, pode-se recorrer ao uso de cores

complementares. Estas podem transmitir desde tensão, quando utilizadas quase

puras (saturadas) ou com a mesma intensidade, até alegria, com o auxílio de cores

mais luminosas e quentes, como o amarelo. A cor também colabora para a

ambientação da narrativa. Dias ensolarados requerem o uso de cores quentes e

vibrantes, enquanto representar uma tarde chuvosa exige cores mais baixas,

dessaturadas (BIAZETTO, 2008).

A cor também é um elemento relevante na questão espacial de uma

imagem. Segundo Biazetto (2008), cores quentes (amarelos, vermelhos e laranjas)

apresentam características de proximidade, enquanto cores frias (azuis, violetas e

verdes), de distanciamento e profundidade, o que ajuda muito a compor diferentes

planos, dando movimento à ilustração.

Além de expressar sensações e ambientar a narrativa, a cor também

pode evidenciar a forma de objetos, como descreve o quadrinista McCloud (2005)

em seu livro. Segundo ele, as cores “objetificam” seus sujeitos, colaborando para

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que o receptor tenha maior consciência dos objetos em cena. Uma bola amarela em

um fundo azul, por exemplo, se torna muito mais nítida do que em uma composição

apenas em preto e branco.

3.4.3 RITMO

Além da cor, a presença de ritmo em uma narrativa através de imagens é

essencial. O ritmo surge quando se estabelece relações entre diferentes formas,

pequenas e grandes, retas e curvilíneas, ou mesmo entre espaços distintos, cheio

ou vazio, dentro da narrativa. Oliveira (2008A) define ritmo como

“uma variedade intencional de formas criadas pelo ilustrador para despertar o interesse do olhar e, consequentemente, da narração, uma alternância de diferentes que resultam iguais e harmônicos em sua totalidade.” (OLIVEIRA, 2008, p.57)

O ritmo vai além da ilustração, podendo estar presente em toda a

estrutura do livro, desde elementos pré-textuais até os pós-textuais. Oliveira (2008A)

diz que o ritmo deve ser entendido com uma relação de “atrito visual” entre formas e

espaços contrastantes, o que envolve ilustrações, manchas de texto, tipografia e

espaços em branco e outros aspectos gráficos do livro.

A narrativa não está presente somente no texto e na ilustração, ela

contempla todos os estímulos visuais do livro. O ritmo garante a fluidez da leitura ao

criar relações entre diferentes elementos, criando uma sequencialidade de

acontecimentos e sensações (OLIVEIRA, 2008A).

Nos quadrinhos, o ritmo da história é dado pela transição entre as cenas.

Segundo McCloud (2005), na construção de quadrinhos existe uma divisão

representada, geralmente, por retângulos, sendo que cada um deles constitui um

espaço de tempo diferente (FIGURA 3). De um quadro para quadro, a leitura exige

que o receptor conclua o que pode ter acontecido entre um momento e outro. Essa

conclusão vem de experiências pessoais e que colaboram para uma construção

única da narrativa, na qual cada leitor tem a sua.

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Figura 5 – Transição de tempo exemplificada por McCloud (2005, p. 67). Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

McCloud (2005) ressalta que existem tipos de transições diferentes, com

finalidades distintas e que também colaboram para a construção de ritmo. Algumas

delas exigem pouca conclusão por parte do leitor, como a transição “momento-a-

momento” – bastante simples, como na representação de piscar de olhos, onde, em

um primeiro momento, eles se encontram fechados e, no seguinte, estão abertos –

ou a “ação-para-ação”, muito comum nos quadrinhos e que poderia ser

exemplificada pela Figura 3. Já outros tipos de transição são mais complexos, como

a “tema-para-tema”, na qual a narrativa permanece dentro de uma mesma ideia,

mas caminha por enquadramentos, cenários ou momentos distintos, constituindo

uma contextualização que exige um grau maior de envolvimento do leitor

(MCCLOUD, 2005).

McCloud (2005) afirma que cada quadro atua como um indicador de

divisão de espaço e tempo. Nos quadrinhos, as cenas podem assumir formas e

ocupar tamanhos diferentes em uma página. Como exemplifica o quadrinista, cenas

que ocupam mais espaço podem aumentar a percepção de que o tempo passa mais

lentamente, enquanto cenas menores são lidas com mais rapidez (FIGURA 4).

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Figura 6 – Recorte de cenas utilizadas por McCloud (2005, p. 101) para exemplificar a passagem de tempo. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

As três sequências apresentadas na Figura 4 demonstram como o espaço

pode influenciar na pausa entre uma ação e outra. Como exemplifica McCloud

(2005), uma das soluções mais óbvias para prolongar a passagem de tempo seria

repetir o mesmo quadro algumas vezes. Já em um segundo momento, poderia ser

apropriado aumentar a distância entre uma cena e outra, potencializando a

sensação de silêncio com a presença do espaço em branco. Por último, outra

alternativa, como demonstrado por McCloud (2005), seria aumentar o tamanho do

segundo quadro, relacionando espaço e tempo, aumentando a sensação de maior

duração. Da mesma forma, quadros com proporções reduzidas podem induzir a

transições menores de tempo.

Tais conceitos da história em quadrinhos podem ser adaptados para a

narrativa de imagens ao imaginar que cada ilustração caracteriza um quadro

diferente. De tal maneira, a distribuição de cenas e elementos assume um papel

essencial para garantir sequencialidade e coerência na história, estabelecendo um

ritmo de leitura.

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3.4.4 LINHAS E TRAÇOS

As imagens só transmitem informação visualmente. Por conta disso, é

essencial trabalhar com elementos de composição para construir significado. Nesse

sentido, o uso de linhas e traços se tornou uma forte ferramenta de expressão,

principalmente de sentimentos e sensações e, também, para estimular os sentidos

que vão além da visão. (MCCLOUD, 2005)

Para McCloud (2005), todas as linhas que designam imagens apresentam

um potencial de expressividade. Para exemplificar essa teoria, o autor utiliza como

referência o movimento expressionista, que ocorreu entre o final do século XIX e

início do XX, no qual os artistas usavam a distorção, o exagero, a fantasia para

expressar seus estados emocionais, com uma abordagem bastante subjetiva.

Artistas como Wassily Kandinsky e Paul Klee acreditavam no poder de envolvimento

entre traço, forma e cor para transmitir o “invisível” e provocar os cinco sentidos do

expectador, ideia conhecida no meio da arte como sinestesia (MCCLOUD, 2005).

A partir dessa relação, linhas e traços podem caracterizar experiências

sensoriais diferenciadas dependendo de como se apresentam, transmitindo

delicadeza, conservadorismo, instabilidade ou, até mesmo, medo, como demonstra

o autor (FIGURA 5).

Figura 7 – Exemplos de como a linha pode obter significado, presentes na obra de McCloud (2005, p. 125). Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

Tipos de linhas e traços são a base para a construção da imagem

figurativa. Nas histórias em quadrinhos, artistas frequentemente recorrem ao uso de

ícones e cartuns para atribuir significado à imagem. Como afirma McCloud (2005),

quanto mais figurativa uma imagem, maior a sua proximidade com o leitor,

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aumentando a capacidade de concentrar a atenção em determinadas ideias.

Tal força da imagem figurativa advém, principalmente, da simbologia, que

é a essência da comunicação por meio da linguagem visual (MCCLOUD, 2005).

Como McCloud (2005) apresenta em sua obra, cartuns são concebidos por uma

junção de ícones, e estes, por sua vez, são nada mais do que símbolos que foram

incorporados à linguagem com o passar do tempo e que possuem um significado

universal. Ao empregar símbolos na imagem, é possível representar, de maneira

simples e direta, ideias, acontecimentos, sensações e fenômenos, visíveis e, até

mesmo, invisíveis, os quais, teoricamente, não poderiam ser reproduzidos em

imagens realistas (FIGURA 6).

Figura 8 – Exemplos de como os símbolos auxiliam no significado da imagem (MCCLOUD, 2005, 129). Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

Observa-se na imagem acima como a simbologia é utilizada para

evidenciar o que cada cena representa, uma jovem apaixonada, um homem que

está sentindo dor ou um rapaz que se embriagou. As linhas ainda colaboram na

reprodução de efeitos invisíveis, como no segundo quadro, onde alguém está

soprando ar pela boca, ou no terceiro exemplo dado pelo autor, que mostra algo ou

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alguém saindo de cena. Da mesma forma, tais convenções visuais também podem

ser aplicadas na expressão de emoções, como demonstrado na Figura 7.

Figura 9 – Exemplos de símbolos da linguagem visual (MCCLOUD, 2005, 131). Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

Em imagens figurativas, as linhas também são muito utilizadas para

construir a ideia de movimento no meio estático. Como descrito por McCloud (2005),

apesar de a arte sequencial ter se sustentado por muito tempo sem adquirir

movimento, à medida que o cinema começava a crescer e pintores tentavam trazer

dinamismo às suas telas, desenvolveu-se a ideia de atribuir à linha a sensação de

movimentação em uma única cena.

Abaixo, na Figura 8, encontram-se dois exemplos de produções de

quadrinhos, presentes na obra de McCloud (2005), que fazem uso da linha para

sugerir movimento e dinamismo.

Figura 10 – Exemplos de representação de movimento (MCCLOUD, 2005, 111). Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

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3.4.5 TIPOGRAFIA

A compreensão leitora é formada por uma série de processos cognitivos

que, juntos, resultam no ato de ler. É preciso identificar as palavras, reconhecer sua

semântica, para, então, construir significado a partir de memórias do leitor

(KINTSCH⁵, 1998, apud SOUZA e HÜBNER, 2015). Para a compreensão de texto, é

essencial que haja leiturabilidade, ou seja, um nível de leitura adequado às

necessidades de quem o está lendo.

O processo de leitura para crianças costuma ser bastante distinto quando

comparado ao de um adulto. Em pesquisas apresentadas por Ferreiro e Teberosky⁶

(1991, apud PACHECO, 2015), crianças entre quatro e seis anos de idade, em fase

de pré-alfabetização, só identificam como legíveis palavras que possuem três ou

mais letras. Além disso, elas podem confundir letras e números, dependendo do

contexto em que se apresentam. Também é comum que a criança tente associar a

letra a algum objeto ou ser, como “C de casa”, “G de gato”.

Tratar de uma tipografia para crianças não significa apresentar uma fonte

com características infantis. Sassoon⁷ (1993, apud PACHECO, 2015) percebeu em

seus estudos que as crianças têm preferência por tipografias sem serifa e sem

inclinação. O tamanho mais acentuado das ascendentes e descendentes também

pode auxiliar, facilitando o reconhecimento das letras.

Neste trabalho, a tipografia terá seus aspectos brevemente comentados,

pois não se apresenta como foco maior do projeto. Mesmo assim, a compreensão

das características da tipografia para crianças ainda será relevante para sua

aplicação em títulos e eventuais palavras que possam vir a fazer parte na

composição das ilustrações do trabalho.

_____________

⁵ KINTSCH, W. Comprehension: a paradigm for cognition. Cambridge University Press: Cambridge,

1998.

⁶ FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Artes Médicas. 4ª Edição.

Porto Alegre. 1991.

⁷ SASSOON, Rosemary. Computers and typography. Ed. Intellect Book. Oxford. 1993.

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3.5 PROJETO EDITORIAL DE LIVRO

Um projeto editorial de livro se caracteriza a partir de escolhas que irão

definir o que Moraes (2008) chama de “corpo” – que seria o objeto físico, com forma,

tamanho, cor, etc – e “alma”, composta pelo conteúdo, texto, imagens e, até mesmo,

possíveis sensações proporcionadas durante a leitura e que podem ser reforçadas

pelo design do livro.

Para livros de texto, um fator importante a ser estabelecido pelo designer

é o espaço que será ocupado pelos blocos de texto. Como Galbreath (2011) analisa,

a maior parte dos livros possui uma coluna de texto por página, espaço que é

chamado de mancha ou corpo do livro. Além disso, páginas duplas normalmente se

encontram espelhadas, separadas por um eixo de simetria.

Figura 11 – Mancha gráfica. A linha vermelha indica o eixo de simetria. Fonte: Da autora.

Escolher uma boa tipografia para compor a mancha da página também é

essencial, pois garante a fluidez de leitura. Para projetos gráficos em geral, Adobe

Garamond, Dolly e Scala são algumas das tipografias, citadas por Galbreath (2011),

para compor livros com grande quantidade de texto – a primeira, considerada uma

tipografia clássica, e as duas seguintes, contemporâneas, ambas com a presença de

serifas. Já tipos conhecidas como Display geralmente são utilizados em títulos, em

chamadas ou em frases com poucas palavras, para atrair atenção do olhar.

Questões como alinhamento, espacejamento, kerning, entrelinhamento, também são

citados em Lupton (2006) como fatores de extrema relevância na construção de uma

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mancha gráfica.

Como afirma Bjørnard e Lupton (2011), a capa é um elemento essencial

de marketing para o livro. “Boas capas ajudam a vender livros e torná-los

memoráveis. Elas atraem leitores a pegarem e folhearem o livro” (BJØRNARD;

LUPTON, 2011, p. 56). Segundo Galbreath (2011), pensar em público-alvo, no

assunto principal do livro e qual o conceito a ser expresso, auxilia na elaboração de

capas de livros mais interessantes para o leitor.

As especificações técnicas do livro também fazem parte do projeto

gráfico. Para a produção de um livro, seja artesanal ou industrialmente, é preciso

definir o tipo de impressão, qual será a encadernação, tipo de papel para a capa e o

miolo, entre outros fatores citados por Lupton (2011) e que serão descritos adiante

de acordo com o andamento do projeto.

3.5.1 PROJETO GRÁFICO DE LIVRO INFANTIL

Criar relações entre o texto e a maneira como este se desdobra no

decorrer da leitura deve ser o objetivo do designer por trás do projeto gráfico. Como

afirma Moraes, “[...] ler implica em estabelecer relações entre o que é contado por

meio da sequência de páginas e como é contado” (MORAES, 2008, p. 54).

Em livros infantis, percebe-se que a ilustração tem papel fundamental na

determinação do ritmo e fluidez da leitura (MORAES, 2008). A ilustração

normalmente atua como um complemento, mas que não deixa de ser tão importante

quanto, para a narrativa, que pode ter inúmeras representações, cabe ao designer

determinar qual é a proposta de leitura a ser seguida através do projeto gráfico.

Lins (2003) reafirma a importância da imagem e a ideia de que uma

história possui várias interpretações diferentes:

“O texto escrito conta uma história recheada de imagens nas linhas e nas entrelinhas. A imagem complementa e enriquece esta história, a ponto de cada parte de uma imagem poder gerar diversas histórias. O texto e a imagem juntos dão ao leitor o poder de criar na sua cabeça a única história que realmente interessa. A história dele.” (LINS, 2003, p. 31, grifo do autor)

A criança de hoje, muito ligada a meios tecnológicos, tem um contato com

informações visuais muito maior do que um adulto poderia imaginar décadas atrás

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(LINS, 2003). Consequentemente, a produção gráfica de livros infantis também foi

se modificando, buscando se adaptar ao seu público. Atualmente, é possível

encontrar livros de papel, pano, plástico, impermeáveis, para serem lidos em

diversas situações; livros com textura, som, cheiro e outros recursos que brincam

com os sentidos da criança, além dos livros com origamis e pop-ups.

Geralmente, crianças pequenas, público-alvo do projeto em questão,

interagem com o livro como se este fosse um brinquedo (LINS, 2003). Por isso,

livros para esta faixa etária costumam ser mais coloridos, com pouco texto e

ilustrativos, além de serem produzidos em um material que seja mais resistente.

Outro público-alvo a se pensar em um projeto gráfico de livro infantil, que

vai além dos pais ou responsáveis ou até mesmo das próprias crianças, é a escola.

Como foi comentado anteriormente neste trabalho, o Brasil possui uma carência de

público leitor, e essa deficiência reflete no mercado nacional de livros. Conforme

analisa Lins (2003), o custo de produção do livro no Brasil ainda é elevado, portanto,

o livro se torna um produto de elite. Com este mercado bastante restrito, as escolas

têm se tornado uma porta de acesso bastante importante para o livro.

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4 DESENVOLVIMENTO

Após realizar um estudo sobre o papel da literatura contemporânea,

compreender a importância da imagem narrativa e quais são os elementos que

auxiliam na sua leitura, inicia-se a fase de desenvolvimento do projeto, conforme as

etapas apresentadas por Merino (2016). Com base em autores citados no decorrer

da fundamentação deste trabalho, o presente tópico mostrará as escolhas tomadas

para construir as ilustrações e definir o design do livro propriamente dito.

Antes de iniciar o processo de geração de alternativas, optou-se por

realizar uma análise de três obras infantis, escolhidas pela autora, na intenção de

comparar e conhecer melhor exemplos do que é produzido no mercado de literatura

infantil atualmente. Tais análises tiveram como base os conceitos descritos em

Elementos construtivos da narrativa.

A partir da análise de similares e com embasamento em toda pesquisa

apresentada até o momento, foi possível determinar quais escolhas seriam tomadas

até a versão final do protótipo do livro. As definições que auxiliaram na orientação do

projeto serão apresentadas e justificadas conforme o relato das etapas

desenvolvidas.

4.1 ANÁLISE DE SIMILARES

A seguir apresenta-se a análise de três livros infantis com propostas

similares a deste projeto. Todo o material coletado, desde levantamento de dados,

pesquisa e análise de livros, será utilizado como base para o desenvolvimento do

projeto gráfico aqui proposto.

Como parâmetro de observação foi levado em consideração a maneira

como o livro se estrutura no que se refere a formato, tipo de papel, número de

páginas e também características de composição, como linhas, cores, tipografia,

distribuição das ilustrações no decorrer do livro, etc.

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4.1.1 “AMOR”, DE CLARA GAVILAN

Clara Gavilan é uma ilustradora brasileira, formada em design gráfico e

que se especializou em ilustração infantil pela EINA, em Barcelona. Já teve seu

trabalho publicado em livros infantis e possui grande afinidade com o uso da

aquarela. Desde 2009, a ilustradora ministra aulas de desenho e pintura (GAVILAN,

2018).

“Amor” (FIGURA 10) é um dos títulos da coleção Lu&Bilu, publicados em

2015 pela editora Quatro Cantos e que conta as aventuras de dois amigos, um

hipopótamo e um passarinho amarelo. Todos os livros da coleção, projetados e

ilustrados por Clara Gavilan, são compostos apenas por ilustrações, feitas em

aquarela, e que se intitulam “Histórias de amizade sem palavras” (GAVILAN, 2015).

O livro possui 22cm de largura por 14,5cm de altura, com miolo impresso em papel

offset 240g/m², contendo 24 páginas ao todo.

A narrativa permeia por 18 ilustrações, algumas de página dupla (FIGURA

11) e outras menores que dividem o mesmo espaço em uma página (FIGURA 12).

Nas imagens, observa-se a ausência de um plano de fundo, permanecendo na cor

branca, o que colabora para dar destaque a cada cena. A ambientação é composta

apenas por alguns elementos como folhas, grama e água. É interessante relatar,

também, que a identificação dos personagens se dá, principalmente, pela cor

apresentada por cada um deles. O uso de linhas também é bastante recorrente para

indicar movimento ou mesmo para expressar as reações dos personagens.

As ilustrações trazem o caráter de algo feito manualmente. Uma das

características da aquarela, como descreve Tomazzoli (2014), é a mancha indefinida

que se forma ao encostar o pincel com tinta no papel molhado. Como é possível

observar no livro infantil de Gavilan (2015), em vários momentos as manchas de

aquarela ultrapassam ou não preenchem totalmente os limites estabelecidos pelo

contorno das formas, feito com linhas finas, suaves e imperfeitas. Até mesmo a

escolha da tipografia aplicada no título da obra remete a algo escrito à mão pela

irregularidade no tamanho das letras, seu alinhamento e por possuir um traçado

mais irregular (FIGURA 10).

Quanto à história apresentada pelo livro, é uma narrativa bastante

singela. Lu, um hipopótamo, e Bilu, um pequeno passarinho, são amigos que fazem

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tudo na companhia um do outro, até que Bilu se afasta de Lu após conhecer outro

pássaro. Triste, Lu começa a andar solitário e, em alguns momentos, se irrita com a

presença do novo companheiro de Bilu. É então que o passarinho amarelo percebe

a tristeza de seu amigo, volta para ele e tudo parece ser como era antes.

Para compor a narrativa, a autora optou por distribuir cenas ao longo do

livro representando ações que, ligadas uma a outra, criam sentido e constituem a

história. O ritmo criado pela autora faz com que, a cada virar de página, se tenha

uma nova sequência de cenas, dando fluidez à leitura.

As expressões faciais das personagens colaboram no entendimento das

emoções representadas, assim como o uso de ícones como a forma de um coração,

para simbolizar o amor, ou o ponto de interrogação, para representar a dúvida.

Figura 12 – Capa do livro Amor, de Clara Gavilan. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

Figura 13 – Ilustração de página dupla do livro Amor. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

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Figura 14 – Sequência de cenas presentes na obra Amor. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

4.1.2 “VAI E VEM”, DE LAURENT CARDON

Assim como a obra anterior, “Vai e Vem” (FIGURA 13) também é um livro

de imagens, de autoria e ilustrado por Laurent Cardon, um francês naturalizado no

Brasil que faz livros, desenhos animados, séries e longas-metragens (CARDON,

2012).

Publicado pela Editora Gaivota, o livro conta, por meio de cenas que

apresentam ações ou situações, a história de um menino que se assusta com o vai e

vem das ondas do mar quebrando na areia da praia. No decorrer da narrativa, o

menino encontra um peixinho que o leva para novas aventuras no mar, enfrentando

animais como polvos e tubarões gigantes, para depois retornar, em segurança, à

terra firme (EDITORA GAIVOTA, 2018). Segundo a editora, a leitura compartilhada

do livro, ou seja, quando o adulto e a criança leem juntos, pode ser feita a partir dos

3 anos de idade (EDITORA GAIVOTA, 2018).

Contendo 40 páginas, no formato 27,5 x 21 cm, o livro não apresenta

especificações do tipo de papel utilizado para impressão. Na capa (FIGURA 13), as

ilustrações são coloridas e em seu miolo encontram-se monocromáticas,

apresentadas, predominantemente, em um tom de azul marinho (FIGURA 14).

Através de técnicas como aquarela e giz pastel, o ilustrador consegue trazer

bastante emoção para as cenas, principalmente para aquelas que representam

momentos de tensão e perigo (FIGURA 15). As formas são bastante irregulares, nas

quais linhas imperfeitas se misturam com o preenchimento de cor, remetendo a um

contexto bastante distinto do livro de Gavilan (2015), que possui linhas e formas

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mais suaves.

Nesta obra, além da expressão facial, a linguagem corporal do

personagem também tem sua relevância para o entendimento da narrativa.

Movimento de braços e pernas, como quando o garoto se encolhe ao aproximar das

ondas, mostrando receio, ou ao levar as mãos à cabeça, figurando desespero,

ajudam a evidenciar a emoção que o autor deseja transmitir.

Quando comparado ao livro anteriormente analisado, “Vai e Vem”

apresenta uma narrativa um pouco mais complexa, por conter uma maior quantidade

de elementos figurativos, resultando em uma relação mais intricada e que necessita

de mais experiência do leitor para a sua compreensão (CARNEIRO, 2008). Suas

ilustrações também apresentam um caráter de feito manual, entretanto são mais

rebuscadas e possuem mais detalhes, o que exige uma maior capacidade de

reconhecimento de elementos figurativos (CARNEIRO, 2008). O uso monocromático

da cor, de certa forma, acaba dificultando a identificação de objetos, pois, como

orienta McCloud (2005), a cor, quando utilizada para evidenciar a forma de objetos,

contribui para destacá-los mais facilmente ao olhar.

Figura 15 – Capa do livro Vai e Vem, de Laurent Cardon. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

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Figura 16 – Página do livro Vai e Vem contendo uma sequência de cenas. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

Figura 17 – Ilustração do livro Vai e Vem, apresentando uma cena de perigo. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

4.1.3 “NÃO!”, DE MARTA ALTÉS

“Não!” (FIGURA 16) é um livro de literatura infantil que mistura palavras e

imagens criando uma narrativa bastante divertida, na qual as ilustrações têm o papel

fundamental de trazer humor para a história. Mesmo apresentando texto, o que foge

da proposta deste trabalho, a obra ainda assim possui elementos interessantes a

serem analisados.

Publicado pela editora Brinque-Book, o livro possui 32 páginas no formato

24 x 27 cm. Trata-se de uma obra estrangeira, escrita e ilustrada por Marta Altés,

formada em design gráfico e, posteriormente, em ilustração de livros infantis

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(ALTÉS, 2011). Com bom humor e simplicidade, a autora conta, por meio de

palavras e imagens, a história de um cachorro de estimação que acha que sempre

está agradando a seus donos, mas no decorrer da leitura o leitor percebe que a

ingenuidade do animal acaba por enganá-lo de uma maneira bem humorada.

As ilustrações possuem uma paleta de cores variada, uma mistura de

cores quentes e frias que trazem vivacidade ao personagem principal em meio ao

cenário que o envolve. A presença reduzida de luz e sombra diminui a sensação de

profundidade e traz um efeito de colagem. O modo como a ilustradora conduz os

traços, irregulares e falhados, além da simplicidade na representação de

personagens e objetos, se assemelham a ingenuidade dos rabiscos de uma criança,

como mostrado na Figura 17.

Outro diferencial do livro está na tipografia. Em seus textos, a autora

mistura vários tipos de letras manuscritas, sublinha algumas palavras e ainda utiliza

elementos figurativos que interagem com o texto e transformam a leitura em uma

experiência descontraída, como pode ser observado na Figura 18.

Apesar da simplicidade na composição dos elementos, percebe-se que a

maneira como a narrativa se constrói exige um nível maior de compreensão da

leitura quando comparado aos livros analisados anteriormente. Isto porque o humor

sugerido pela autora só se revela quando se associa texto e imagem, que possuem

uma relação de contrariedade: os textos apresentam a visão do personagem

principal e as ilustrações mostram a realidade das situações, que, na verdade, não

são como o personagem as descreve.

Figura 18 – Capa do livro Não!, de Marta Altés. Fonte: Imagem do livro digitalizada pela autora.

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Figura 19 – Ilustração do livro Não!, de Marta Altés. Fonte: Imagem da obra digitalizada pela autora.

Figura 20 – Recorte do texto apresentado no livro Não!. Fonte: Imagem da obra digitalizada pela autora.

4.1.4 CONSIDERAÇÕES PÓS-ANÁLISE

Após finalizar a análise dos livros, foram pontuadas algumas

características que as três obras apresentam em comum e que serão levadas em

consideração no processo de criação do projeto.

Primeiramente, no que se refere à construção de narrativa, compreende-

se que os três títulos analisados possuem histórias muito singelas, concebidas por

interações bastante simples, que se relacionam com situações do dia a dia: as

vivências de dois amigos inseparáveis; o menino que tem medo das ondas do mar e;

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a inocência de um animal de estimação que é muito travesso. Além disso, nos três

casos a narrativa se desenvolve por meio de uma sequência de ações que vão

relacionando os acontecimentos até se dar o fechamento da história.

Outro fator muito relevante é a maneira como as ilustrações são

elaboradas. Nas três obras descritas, as ilustrações remetem a algo feito

manualmente, com imperfeições, linhas e manchas de cor irregulares, mistura de

técnicas de pintura, como aquarela e giz pastel. A presença de elementos

figurativos, envolvendo, inclusive, a personificação de animais que ganham vida e

pensamentos próprios, facilita o entendimento da narrativa, como já citado por

McCloud (2005), que descreve a imagem figurativa como um meio de comunicação

que têm maior assimilação por parte do leitor do que imagens realistas.

Assim como as ilustrações, a tipografia é outro elemento que se

apresenta como algo feito à mão. O que se nota é que em livros infantis não existe

um padrão de tipografia, letras de diferentes tipos, tamanhos e formas podem se

misturar, desde que a aplicação esteja de acordo com aquilo que é proposto.

O livro “Amor”, de Clara Gavilan, será a referência de maior relevância

para a elaboração do livro, principalmente no que diz respeito ao modo como a

narrativa é estruturada.

O que se pretende, a partir dessas análises e do embasamento teórico, é

resgatar o livro como objeto capaz de trazer experiências para a criança, buscando o

distanciamento de meios eletrônicos, tão presentes no cotidiano, através de

escolhas que fortaleçam a ligação entre o livro e o universo infantil, por meio de

ilustrações manuais ou uma tipografia que esteja dentro do ambiente escolar, uso de

cores vivas ou monocromáticas, entre outras possíveis escolhas que reavivem

momentos da vida da criança.

4.2 DEFINIÇÃO DE TEMA E ESTRUTURA NARRATIVA

Dentre as principais características do projeto, um dos primeiros pontos a

ser estabelecido se refere à história que será contada no livro. Pensando na

construção de uma narrativa simples e que se relacionasse com situações do

cotidiano, o tema foi definido a partir de vivências pessoais da autora. Depois de

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analisar ocasiões que poderiam ser abordadas, ficou decidido que a narrativa iria se

basear em experiências da autora, quando criança, com seu animal de estimação,

um cachorro.

Para organizar e estruturar a narrativa, foi gerado um roteiro, seguindo as

orientações apresentadas por Saboya (2001), e posteriormente, desenvolveu-se o

storyboard, levando em consideração qual seria a disposição das ilustrações nas

páginas do livro.

4.2.1 ROTEIRO

O Manual do Autor-Roteirista, de Saboya (2001), foi utilizado como base

para a criação do roteiro. O livro contém orientações para a elaboração de roteiros

destinados, mais especificamente, à mídia televisiva. Por conta disso, foram feitas

adaptações para priorizar a sequência de cenas, concebidas por meio de

ilustrações, e a construção da narrativa.

Apresenta-se, abaixo, um recorte do roteiro finalizado (APÊNDICE A) para

exemplificar a organização de cada cena:

Figura 21 – Trecho do roteiro finalizado de Bibi&Pipoca. Fonte: Da autora.

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No processo de caracterização do roteiro, houve certa dificuldade em

relacionar os acontecimentos em sequência, existindo a necessidade de delimitar

um número de ilustrações para cada página. Por isso, optou-se em organizar as

cenas pensando na disposição futura das ilustrações, priorizando a manutenção do

ritmo de leitura, o que também facilitaria a geração do storyboard. Assim, a partir de

um grid, apresentado adiante em Projeto Gráfico, foram concebidos tanto o roteiro

quanto o storyboard.

Quanto à sua estrutura, o roteiro foi dividido em sequências formadas por

cenas que se relacionam entre si, criando uma linha cronológica. Cada sequência

apresenta um pequeno parágrafo de texto, com uma linguagem mais informal, que

atua como a fala de um narrador da história e serve como uma contextualização dos

acontecimentos, mas que não será utilizado efetivamente no livro final. Por último, é

feito um planejamento da organização das ilustrações nas páginas e o que cada

uma delas deve representar por meio de uma breve descrição.

4.2.2 STORYBOARD

Para a elaboração das ilustrações, utilizou-se a metodologia proposta por

Zimmermann⁸ (2012, apud NARDI e LINDNER, 2013), que apresenta etapas a

serem executadas pelo ilustrador, que vão desde a concepção até a finalização das

ilustrações. De acordo com essa metodologia, após ter em mãos o roteiro, se dá

início ao storyboard, que é composto por esboços rápidos feitos a partir do texto

escrito, verificando como as ilustrações podem ser inseridas nas páginas do livro.

Com base na análise de Histórias em Quadrinhos feita por McCloud

(2005), é essencial que exista uma ligação entre uma cena e outra para que tudo

faça sentido ao final da narrativa. Nisso se dá a importância da manutenção de uma

sequencialidade de acontecimentos coerente, que se verifica na maneira como as

cenas são distribuídas. A cada virar de página surge um novo olhar, algo inesperado,

uma nova experiência, um conjunto de fatores que dão consistência ao ritmo da

_____________

⁸ ZIMMERMANN, Anelise. A imagem nos livros de literatura infantil. Oficina realizada nos dias 17 e 19 de abril de 2012, na fundação Franklin Cascaes, como parte da Semana do Livro Infantil. Florianópolis, 2012.

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história (MCCLOUD, 2005).

Tendo uma preocupação com o ritmo criado pelo andamento da narrativa,

desde a criação do roteiro (APÊNDICE A) já se pensava no tamanho das ilustrações

e em quantas páginas cada sequência iria ocupar, tomando o cuidado para não

inserir duas sequências na mesma página, o que quebraria o ritmo de leitura. Por

isso, como orientação para a elaboração do storyboard, cada sequência do roteiro

apresenta o número das páginas que serão utilizadas e a disposição das ilustrações,

de meia página, uma página ou de página dupla.

Dessa forma foi gerado um storyboard bastante simples (APÊNDICE B),

com foco maior em verificar se a distribuição das ilustrações proposta por meio do

roteiro estava de acordo com as finalidades do projeto.

Figura 22 – Parte do storyboard feito para Bibi & Pipoca. Fonte: Da autora.

4.3 CONCEPÇÃO DE PERSONAGENS

O próximo passo descrito na metodologia de Zimmermann (2012, apud

NARDI e LINDNER, 2013) é o desenvolvimento dos personagens. O método

ressalta a importância de se pensar nas características de cada personagem como

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um todo, no que cada um deles gosta de fazer, onde mora, qual sua cor favorita,

idade, entre outros aspectos pertinentes à história. Considerando que a narrativa

deste projeto partiu de experiências pessoais da autora, não houve dificuldade em

traçar a personalidade dos personagens, uma vez que se tratavam de perfis

previamente estabelecidos.

Depois de pontuar algumas das características mais relevantes de cada

um deles, foram realizados estudos de referência, testando diferentes estilos de

ilustração até se alcançar um modelo final, como se verifica nas Figuras 21 a 23. Os

estudos constam, integralmente, no APÊNDICE C.

Figura 23 – Estudos para criação da personagem Bibi. Fonte: Da autora.

Figura 24 – Estudos para criação do personagem Pipoca. Fonte: Da autora.

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Figura 25 – Versões finais de cada personagem. Fonte: Da autora.

Como observado nas versões finais dos personagens, optou-se pelo uso

de um traço mais fino e contínuo, com linhas suaves, e pela presença de formas

mais arredondadas, que deixam o desenho mais delicado (MCCLOUD, 2005).

Posteriormente, aprofundou-se o estudo sobre a construção das

personagens, analisando ângulos, proporções, movimento, expressões e outras

características físicas. Durante este processo, cada um foi analisado separadamente

e, também, como atuariam em conjunto.

Figura 26 – Estudos de construção de personagens. Fonte: Da autora.

Para finalizar esta etapa, foram realizados testes com aquarela e escolha

de paleta de cores. Como defende Tomazzoli (2014), a aquarela possui, em sua

essência, uma poética capaz de transportar o espectador para pensamentos que o

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distanciam da monotonia do cotidiano. Essa potencialidade da aquarela, somado à

sua delicadeza e riqueza de cores, tem muito a acrescentar às ilustrações, além da

afinidade da autora com essa técnica, motivos que levaram a sua escolha.

Se tratando de uma narrativa que representa, sobretudo, atos de amor e

carinho, optou-se por uma paleta de cores mais quentes, como vermelho, laranja e

amarelo, na intenção de trazer mais vivacidade a cada cena. Constam, abaixo,

breves estudos de aplicação de cor. À esquerda, uso de aquarela e contorno em

nanquim e; à direita, preenchimento em aquarela e linhas com lápis de cor (opção

escolhida). Também foram testadas aquarelas de marcas e tipos diferentes.

Figura 27 – Estudos de aplicação de cor. Fonte: Da autora.

4.4 DESENVOLVIMENTO DAS ILUSTRAÇÕES

Depois de finalizada a concepção dos personagens, deve-se pensar em

como estes irão dialogar com o cenário proposto por cada momento da narrativa,

para, então, dar início a construção das ilustrações efetivamente (ZIMMERMANN,

2012, apud NARDI e LINDNER, 2013).

Ao analisar o livro Amor, da autora e ilustradora Clara Gavilan, percebe-

se que as cenas não possuem um cenário propriamente dito, apenas alguns

elementos que auxiliam na orientação de onde se passa cada um dos

acontecimentos. Tal característica foi adotada, também, para este projeto,

propiciando um destaque exclusivo aos personagens, que se sobressaem nas

páginas do livro em meio ao fundo branco, e que acaba por simplificar, de maneira

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objetiva, o significado presente nas imagens.

Como sugere Zimmermann (2012, apud NARDI e LINDNER, 2013), após

os testes de estruturação de personagens, cenário e texto, quando houver, o ideal é

que as ilustrações sejam feitas cerca de 20 a 30% maiores do que o tamanho

pretendido ao final, para garantir qualidade de impressão. Assim, considerando que

o projeto final deve ficar no formato 14 x 21 cm, as ilustrações foram feitas um pouco

maiores, variando de acordo com a distribuição proposta no roteiro.

No processo de elaboração das ilustrações, primeiramente foram feitos

esboços mais detalhados das cenas, analisando se cada uma das imagens estaria

em conformidade com o que foi proposto e efetuando algumas modificações,

quando necessário, de posicionamento para garantir o ritmo e a coerência da

narrativa. Quando as sequências estiverem de acordo com o desejado, os esboços

são decalcados para a folha própria para receber a aquarela, finalizando com o

contorno de detalhes em lápis de cor, como demonstrado nas Figuras abaixo.

Figura 28 – Fase I: Esboço rápido da ilustração. Fonte: Da autora.

Figura 29 – Fase II: Detalhamento da cena. Fonte: Da autora.

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Figura 30 – Fase III: Inserindo contorno para decalque. Fonte: Da autora.

Figura 31 – Fase IV: Aplicação de aquarela. Fonte: Da autora.

Figura 32 – Fase V: Finalização com lápis de cor. Fonte: Da autora.

O que se pretende com o uso da aquarela é trazer leveza às ilustrações,

por meio de um suave degradê de cores que oferece um efeito de sombreamento

agradável ao olhar. Já o lápis de cor realça as cores, delimita o contorno das formas

e atua como um acabamento para a imagem que, somado à aquarela, enriquece o

trabalho do ilustrador.

Utilizando McCloud (2005) como referência para a atribuição de

significado às cenas através dos signos, houve uma preocupação com a

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representação de expressões corporais e emocionais das personagens. Para tal

finalidade, a linha assumiu o papel de conceber movimento e contribuir para o

entendimento de cada situação, como exemplificado abaixo.

Figura 33 – Exemplo de atuação da linha como movimento. Fonte: Da autora.

Figura 34 – Exemplo de expressividade dos personagens. Fonte: Da autora.

Como observado na Figura 31, a linha agrega o significado de movimento

a borboleta presente em cena. Já na Figura 32, além do movimento de braços

exercido pela personagem, a linha ajuda a ressaltar a relação de afeto que o animal

sente por sua dona.

Todas as ilustrações produzidas encontram-se integralmente no

APÊNDICE D.

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4.5 DESENVOLVIMENTO DE CAPA

Romani (2011) argumenta que a capa é um dos elementos mais

importantes do livro. Segundo Araújo (2008), uma capa bem construída deve ser

visualmente agradável aos olhos, com uma organização coerente entre elementos

de composição, e deve corresponder ao conteúdo presente no livro.

Para Lins (2003), em meio a infinitas opções de impressão, tipos de papel

e acabamentos, o trabalho do designer é encontrar quais são as melhores escolhas

para dar consistência ao projeto, lembrando que a capa tem o poder, não só de

sintetizar as ideias centrais, como também de vender o livro em si.

Primeiramente, para auxiliar no direcionamento de geração das primeiras

alternativas para a capa do livro em questão, foi realizada uma breve pesquisa

verificando, além dos livros analisados anteriormente, outros títulos recentes

presentes no mercado de livros infantis atual. Em busca de obras que se

aproximassem da proposta deste projeto, foi possível perceber que muitos livros

procuram interagir com a criança por meio de elementos que traduzem o universo

infantil, como uma tipografia mais orgânica, observada no exemplo da Figura 33, ou

ilustrações com elementos simples e traços mais soltos (Figura 34). Também há

exemplos de livros nos quais tanto a tipografia quanto a ilustração rementem a algo

mais orgânico, com traços irregulares (Figura 35).

Figura 35 – Medonho, de Rosana Rios, ilustrado por Juan Chavetta. Fonte: Jujuba (2018).

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Figura 36 – Quem soltou o Pum?, de Blandina Franco, ilustrado por José Carlos Lollo. Fonte: Companhia das Letras (2018).

Figura 37 – A vaca que botou um ovo, de Andy Cutbill, ilustrado por Russell Ayto. Fonte: Salamandra (2018).

Com base na análise de similares desenvolvida anteriormente e a partir

de uma breve pesquisa de capas de recentes produções de livros infantis, foram

geradas as primeiras alternativas de capa para o projeto, presentes no Apêndice E.

Dentre as opções, que incluem diferentes tipos de enquadramentos e variações de

relação entre imagem e tipografia, entende-se que a alternativa escolhida foi a que

melhor representa e sintetiza a narrativa do livro. Optou-se em adotar o mesmo

enquadramento em todas as ilustrações, tanto da capa quanto do miolo, a fim de

manter a proposta do livro: contar uma história por meio de cenas.

Na ilustração da capa também foram utilizados elementos que remetem

ao acontecimento mais importante da narrativa, com a presença dos personagens

principais e do ursinho de pelúcia, objeto que desencadeia o momento de tensão da

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história e também está associado ao desfecho da narrativa.

Também foram feitos alguns estudos de tipografia para o título da história

(APÊNDICE E) buscando manter a característica de linhas irregulares, não

simétricas, como se cada letra tivesse sido desenhada individualmente. A escolha de

desenvolver o título à mão tem a intenção de reforçar o conceito do projeto de

produzir um livro infantil com características manuais.

Apresenta-se abaixo a alternativa escolhida, posteriormente vetorizada

para melhor aplicação.

Figura 38 – Título do livro desenhado à mão. Fonte: Da autora.

Durante o processo de geração de alternativas para o título foi feita uma

adaptação de “Bibi & Pipoca”, para “Bibi e Pipoca”, com inclusão da letra “e”.

Ao final, depois de digitalizadas as ilustrações e efetuados os ajustes de

tratamento de imagem necessários, o formato aberto da capa do livro encontra-se

finalizado na figura abaixo.

Figura 39 – Versão final para capa do livro Bibi e Pipoca. Fonte: Da autora.

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4.6 PROJETO GRÁFICO

Dentre as etapas de desenvolvimento do projeto de design descritas por

Merino (2016), Criação (Etapa 3) e Execução (Etapa 4) são os passos que envolvem

a concretização do projeto, desde a definição de conceitos gerais do projeto e

geração de alternativas, até a elaboração de protótipos que respondam da melhor

maneira ao que foi proposto.

Juntamente com o desenvolvimento das ilustrações, as características do

projeto gráfico se encontram nas etapas de Criação e Execução, resultando na

materialização das principais ideias do projeto estabelecidas anteriormente por meio

de pesquisas e organização de informações.

Como explica Romani (2011), o projeto gráfico de livro é composto por

escolhas corretas de formato, tipografia, composição de elementos, tipo de papel e

do cálculo da quantidade de páginas. Hendel (2003) argumenta que o trabalho do

designer é descobrir como colocar um elemento ao lado do outro de modo que tudo

fique claro para o leitor.

O que se espera neste trabalho, por meio do desenvolvimento de um

projeto gráfico de livro infantil, é estimular o início de uma relação de empatia entre a

criança, nos seus primeiros contatos com a leitura, e o livro. Para tal finalidade, o

projeto recorre ao uso da imagem/ilustração como algo lúdico, capaz de atrair o

olhar da criança e propiciar novas experiências a ela.

De tal maneira, optou-se pela concepção de um livro simples, que

valorizasse a presença de ilustrações em aquarela, uma técnica que, por si só, é

bastante rica em cores, fluída, associada à delicadeza, tranquilidade e à poética

(TOMAZZOLI, 2014). Buscando, também, se distanciar da tecnologia, hoje muito

presente na vida de todos, o projeto pretende enaltecer o livro como objeto

enriquecedor, transmissor de experiências, mas passível de modificações, como

rasgos, rabiscos, sujeira, ação do tempo, entre outros. Aqui entende-se que tais

modificações fazem parte do livro enquanto objeto material e que esses possíveis

acontecimentos também agregam valor as vivências da criança com o livro.

A partir deste tópico serão descritas as escolhas que compõem este

projeto gráfico de livro infantil, apresentando justificativas e relatos de experiências e

testes realizados.

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4.6.1 FORMATO

Tendo como referência o livro de Gavilan (2015), analisado anteriormente,

o formato pré-definido utilizado como base para a elaboração do roteiro, storyboard

e das ilustrações, ficou estabelecido em 140 x 210 mm, no sentido paisagem. Este

formato permite o manuseio do livro, tanto pelas mãos da criança, quanto as de um

adulto, e também facilita a organização das ilustrações nas páginas seguindo o

sentido usual de leitura de palavras, da esquerda para direita.

Segundo Romani (2011) o formato, a capa e a embalagem do livro geram

uma expectativa no leitor. O que se costuma esperar de livros em tamanhos

menores é uma narrativa mais sutil e meiga, pois formatos menores geralmente

transmitem charme e delicadeza, ao contrário de livros maiores (ROMANI, 2011).

Visto a viabilização de um projeto impresso, é imprescindível considerar a

sua impressão em maior escala. Como orienta Castro (2018), a escolha do papel

adequado ao projeto determina não só a qualidade do impresso, como também o

custo da sua produção. Portanto, é muito importante analisar os possíveis formatos

de impressão, visando diminuir os custos de produção mediante o aproveitamento

de papel da melhor maneira possível (CASTRO, 2018).

Romani (2011) também afirma que, além da redução de custo, o

aproveitamento de papel garante um projeto mais sustentável, o que hoje é

fundamental para projetos de design.

Dentre as técnicas de impressão disponíveis no mercado, adotou-se

como parâmetro para este projeto a impressão em offset. Para este tipo de

impressão existem formatos padronizados de papel adequados ao tamanho das

impressoras deste ramo. Dentre os formatos existentes, Castro (2018) indica a

adoção do formato BB, também conhecido como 2B, nas medidas 660 x 960 mm,

como padrão para determinar a medida final do impresso.

Castro (2018) esquematiza o processo de corte de papéis e demonstra

como definir o formato final do projeto. Primeiramente, deve-se lembrar de que a

máquina de impressão normalmente necessita de uma margem mínima para

manusear o papel e apresentar marcas de registro, corte e dobra. Por conta disso, a

área útil do papel geralmente é um pouco menor do que o formato de fábrica.

Segundo Castro (2018), o ideal é reduzir 40 mm de cada uma das medidas do

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formato original, como demonstrado abaixo.

Figura 40 – Área útil de impressão. Fonte: Castro (2018).

Depois é feita uma divisão da área útil do papel a partir das medidas pré-

estabelecidas do projeto, considerando se o formato possui dobras ou não. Por

último, deve-se descontar 10 mm para marcas de impressão e mais 10 mm se

houver elementos gráficos sangrados no layout.

A tabela abaixo esquematiza o procedimento realizado, apresentado por

Castro (2018), para definir o tamanho final do projeto em questão, com base na

adoção do formato BB (660 x 960 mm) e optando pela impressão das páginas

separadas, sem cadernos.

DESCRIÇÃO PROCEDIMENTO RESULTADO

Considerar a área útil de impressão

Reduzir -40 mm de cada uma das medidas do formato padrão

Área útil 620 x 920 mm

Dividir a área útil com base nas medidas pré-definidas do projeto

620 / 4 (fechado) = 155 mm 920 / 4 (fechado) = 230 mm

Formato 155 x 230 mm

Considerar marcas de impressão Descontar - 10 mm a partir das medidas encontradas

145 x 220 mm

Considerar sangramentos Descontar - 10 mm caso exista sangramento

Formato final 135 x 21 mm

Quadro 3 – Procedimento para definir o formato final da página do livro. Fonte: De autoria própria, com base em Castro (2018).

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Dessa forma, com base nos cálculos efetuados, as medidas finais para

impressão do miolo do livro são 135 x 210 mm, com 32 páginas, 16 folhas, em cada

papel no formato BB (660 x 960 mm).

4.6.2 ESCOLHAS DE PAPEL PARA CAPA E MIOLO

Com a proposta de um projeto que valorize o ato de ilustrar e proporcione

uma experiência lúdica e descontraída para o seu futuro pequeno leitor, deu-se uma

busca por diferentes opções de papel, analisando e efetuando testes de impressão

até encontrar a alternativa que mais se adequasse a este propósito.

No intuito de conhecer e examinar tipos de papéis que fugissem das

opções mais comuns utilizadas na indústria para impressão do miolo de livros

infantis, como os papéis Offset e Couchê, e que agregassem valor a técnica de

aquarela, foi realizada uma visita a Paper Point (São Paulo, SP), showroom da

Fedrigoni Brasil Papéis, uma fabrica originalmente italiana, que possui uma série de

tipos de papéis destinados a diferentes finalidades.

Após procurar por alternativas que apresentassem textura similar ao

papel utilizado para pintura em aquarela, foram adquiridas algumas amostras para

teste. Dentre as opções, a linha de papéis Tintoretto, da Fedrigoni, foi a que mais

atendeu às características esperadas. Assim, foram feitos alguns testes de

impressão nos papéis Tintoretto Gesso 140g/m², Tintoretto Gesso 250g/m² e

Tintoretto Neve 250g/m².

Por meio dos resultados obtidos, constatou-se que o Tintoretto Neve

250g/m² é o papel que melhor se adapta ao projeto. Sua gramatura mais alta

garante que as cores não transpareçam de uma página a outra, apresentando maior

resistência, além de dispor de uma tonalidade levemente puxada para a cor creme,

o que contribui para a valorização das ilustrações do livro.

No entanto, a Linha Tintoretto, assim como outras linhas de papéis da

Fedrigoni, é produzida nas proporções 720 x 1010 mm, formato fora dos padrões

normalmente aceitos pelas impressoras em offset no Brasil. Em contato com

funcionários da Paper Point, foi afirmado que para tais finalidades o formato de

fábrica passa por um pré-corte conforme as medidas necessárias para impressão.

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Tal fator também justifica a escolha do formato padronizado BB (660 x 960 mm) para

este projeto, sendo a melhor alternativa para reduzir desperdícios de papel.

Já a escolha do papel para confecção da capa se baseou na procura por

um papel resistente, que comportasse de maneira eficiente as páginas do miolo e

que não dobrasse ou amassasse com facilidade. O que se verificou, tendo como

referência o material utilizado na produção dos livros analisados neste projeto, foi

que o papel Supremo Duo Design, na gramatura 350 g/m², um tipo de papel cartão

com alta resistência, satisfaz a finalidade do projeto e, portanto, é a opção escolhida

para a produção da capa do livro.

4.6.3 ORGANIZAÇÃO DA PÁGINA

A organização da página está diretamente associada ao formato do livro,

pois é a partir dela que o designer irá definir uma grade (grid), ou malha, que

estabelece hierarquia entre o conteúdo e ordena as informações (ROMANI, 2011).

A princípio, a grade determina a largura das margens, proporções da

mancha gráfica e a localização de elementos fixos do layout, como a numeração de

página. A definição da grade está ligada aos elementos que compõem o livro, quanto

mais complexo for o grid, maiores são as possibilidades de exploração para o

designer (ROMANI, 2011).

Todavia, Romani (2011) também constata que é possível encontrar livros

infantis que não se enquadram em nenhum grid, visto que existem situações em que

a ordem de informações é estabelecida caso a caso, com ou sem regras

estabelecidas.

Para este projeto, o grid desenvolvido é bastante simples, uma vez que as

páginas são compostas basicamente por imagens, e atua mais como uma base para

dispor os elementos, sendo flexível de acordo com a proporção das ilustrações.

Neste grid ficou definido que as margens teriam 13 mm de largura, além da

presença de uma linha base para organização das ilustrações, com 15 mm de altura

a partir da margem inferior da página, como mostrado na figura abaixo.

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Figura 41 – Base para o grid do projeto. Fonte: Da autora.

Desde a elaboração do roteiro e do storyboard foi pensado em uma

organização de cenas previamente estabelecida, utilizada como referência para a

distribuição das ilustrações e controle do número de páginas, além de assegurar a

fluidez de leitura. Como descrito no roteiro, foram pensados em três tipos de

ocupação para as ilustrações, sendo: ilustrações de meia página, de uma página ou

de página dupla. A representação a seguir exemplifica a disposição das imagens.

Figura 42 – Grid para distribuição das ilustrações. Fonte: Da autora.

Apesar das margens e dos modelos de grid para organização dos

elementos, o posicionamento das imagens pode variar de acordo com o conteúdo de

cada uma das cenas, fazendo do grid apenas um ponto de partida para acomodar as

ilustrações de maneira que uma fique conectada a outra, garantindo a fluidez da

leitura. Existem casos nos quais a ilustração ultrapassa os limites das margens e até

mesmo das páginas, como na Figura 41.

Tais eventualidades fazem parte da proposta do projeto em criar uma

narrativa mais leve e espontânea, sem submeter os limites da imagem a margens

rigorosamente estabelecidas. Exemplos de páginas desenvolvidas se encontram no

Apêndice F.

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Figura 43 – Exemplo de ilustração que transcende os limites de grid. Fonte: Da autora.

4.6.4 TIPOGRAFIA

Uma boa tipografia, que esteja de acordo com os conceitos do projeto,

também faz parte das escolhas do designer ao definir seu projeto gráfico (ROMANI,

2011). No caso específico deste trabalho, a tipografia não se apresenta como foco

principal, entretanto, sua definição também integra a concepção do livro, sendo

necessária sua aplicação em frases em algumas situações particulares.

Seguindo o conceito de utilizar uma tipografia com traços orgânicos, mais

arredondados, que são de fácil assimilação pela criança, como afirma Lourenço

(2011), e que também estivesse de acordo com a caligrafia desenvolvida para o

título do livro, optou-se pela escolha da fonte Schoolbell (FIGURA 44), uma tipografia

com caracteres infantis desenvolvida por Stuart Sandler, em 2012, com uso livre

tanto para fins pessoais quanto comerciais (LINOTYPE, 2018).

Figura 44 – Fonte Schoolbell Regular. Fonte: Linotype (2018).

A Schoolbell é uma tipografia simples, com características que se

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assemelham a escrita feita por uma criança, com linhas tremidas e orgânicas. É uma

fonte que cria contraste em relação a caligrafia desenhada para o título do projeto,

que é mais robusta e marcante.

Já para o caso de informações técnicas, também são pertinentes ao

projeto, optou-se pelo uso da Calibri Regular, uma tipografia limpa, com formas

regulares e que propicia clareza durante a leitura.

4.6.5 DIGITALIZAÇÃO E TRATAMENTO DE IMAGEM

Depois de finalizadas, todas as ilustrações passaram por processo de

digitalização para alta resolução de imagem, seguindo no formato TIFF e padrão de

cores RGB. Segundo a Adobe (2018), TIFF é um dos formatos mais versáteis para

edição de imagens, suporta tanto o padrão RGB quanto CMYK, conserva a

qualidade de resolução da imagem e mantém as camadas de edição do Adobe

Photoshop, possibilitando o salvamento de arquivos de imagem com até 4 gigabytes

de tamanho.

Durante o Curso de Tecnologia em Design Gráfico na UTFPR, dentre

muitos outros ensinamentos relacionados ao Design, foi possível aprender sobre

noções básicas de edição de imagens utilizando, principalmente, o Adobe

Photoshop, e também os procedimentos necessários para fechamento de arquivo,

procurando evitar futuros problemas no momento de impressão na gráfica.

Com todas as ilustrações em mãos, agora em formato digital, as imagens

foram submetidas a análises, testes e aos procedimentos necessários para adequá-

las ao arquivo final do protótipo destinado a impressão. Estes ajustes foram feitos no

programa Adobe Photoshop CC 2017.

Primeiramente, sabe-se que o padrão de cor compatível com impressoras

digitais, nas quais serão feitas as impressões da capa e do miolo para confecção do

protótipo, é o CMYK e não o RGB. Portanto, a primeira medida a ser tomada é a

alteração da configuração de imagem para padrão CMYK. Lembrando que no caso

da impressão offset o padrão de cores utilizado também é o mesmo (ROMANI,

2011).

Também é de conhecimento que arquivos destinados a impressão devem

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ter uma resolução mínima de 250 DPI para assegurar a qualidade de imagem.

Sendo assim, todas as imagens foram salvas em 300 DPI, resolução suficiente para

garantir uma boa qualidade.

Como existe uma grande diferença entre as cores do padrão RGB,

normalmente destinado a projetos digitais, com opções infinitas de cores, e o CMYK,

sendo este mais limitado, composto por cores “imprimíveis”, foi necessário efetuar

ajustes de cor, procurando manter a cor da imagem o mais próxima possível a das

ilustrações originais. Neste momento, as principais ferramentas do Adobe Photoshop

utilizadas foram: Níveis e Curvas, para ajustes de contraste; e Equilíbrio de Cores,

para ajustes de cor.

Depois de concluir o processo de tratamento de todas as ilustrações,

foram feitos alguns testes de impressão em papel comum e também no papel

escolhido para a finalização. Com base nos resultados obtidos, eram realizados

novos ajustes até encontrar a melhor solução para aproximar as imagens dos

originais.

Após os testes de impressão e a verificação, todas as imagens seguiram

para o Adobe InDesig CC 2017, programa que auxiliou na diagramação das páginas

do livro de acordo com o grid apresentado anteriormente. Nesta fase efetuaram-se

novos testes de impressão, agora verificando o posicionamento das ilustrações e,

eventualmente, realizando novos ajustes de cor.

A capa do livro também foi submetida ao mesmo processo de tratamento

de imagem, porém, tanto o fechamento de arquivo para a impressão quanto a

vetorização do título para o livro, originalmente desenhado à mão, foram feitos no

Adobe Illustrator, CC 2017.

4.6.6 ACABAMENTOS

O acabamento é a última fase do processo de produção gráfica, momento

no qual as escolhas do designer podem valorizar o impresso. Embora seja

executado ao final de todo o processo de produção gráfica, as definições de

acabamento do projeto devem ser consideradas durante o seu planejamento, como

afirma Romani (2011).

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A partir de uma breve análise sobre os principais tipos de acabamento

para livros infantis, com base na explicação de Romani (2011), buscando manter os

conceitos do projeto em questão, foram adotados alguns tipos de acabamento

simples para o livro, finalizando o seu planejamento.

Primeiro, tendo em vista a escolha de um papel de alta gramatura para

impressão do miolo, é preciso considerar que as páginas não podem ser divididas

em cadernos, pois o acabamento de dobra das folhas ocasionaria a quebra do

papel. Sendo assim, a opção mais cabível é a encadernação sem costuma e sem

dobras. Outra alternativa seria a encadernação mecânica, do tipo wire-o, mas

pondera-se que este tipo de acabamento não se encaixa na proposta do projeto.

Em um segundo momento, foram considerados tipos de acabamento que

poderiam trazer maior resistência ao livro, em específico, para a capa. Dessa forma,

optou-se pela escolha de uma laminação fosca, mais discreta e que oferece maior

resistência ao material (ROMANI, 2011). Para finalizar, em contraste com a

aplicação da laminação fosca, verniz U.V. localizado brilhante nas áreas do título do

livro e nas demais áreas que apresentam texto.

Sendo assim, o planejamento para a produção gráfica do livro, em

impressão offset, se resume em:

Tabela 1 – Especificações técnicas do projeto

Formato fechado

Formato aberto (capa)

Nº de páginas

Papel da capa

Papel do miolo

Impressão

Acabamento

Tipo de encadernação

Tiragem

13,5 x 21 cm

13,5 x 42,7 cm (0,7 cm para lombada)

32

Supremo Duo Design 350 g/m²

Tintoretto Neve 250 g/m²

Offset, frente e verso 4x4

Refile, laminação fosca e verniz localizado

Lombada quadrada, brochura

3.000 exemplares

Tabela 1 – Especificações técnicas de impressão para o projeto gráfico. Fonte: De autoria própria.

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CONSIDERAÇÕES

Por meio da observação das análises de parâmetros de leitura no Brasil,

é fácil perceber que existe uma carência de bons leitores que apreciem o livro como,

não só um objeto de ensino didático, mas também como lazer. Acredita-se que ler é

adquirir conhecimento, abrir a mente para absorver múltiplas culturas, aprender a

aceitar e respeitar as escolhas do outro, tudo aquilo que um cidadão brasileiro ativo

precisa estar ciente para exercer com dignidade a sua função social. Considera-se,

também, a partir de fatores apresentados na fundamentação deste projeto, que criar

uma proximidade com o livro durante o período da infância é o melhor caminho para

assegurar que essa relação se mantenha ao longo da vida.

No decorrer dos estudos sobre literatura infantil e ilustração, percebeu-se

a necessidade da valorização da imagem como veículo de linguagem não verbal,

que pode transmitir significados tanto quanto palavras. Como analisado, o ato de ler

imagens antecede a aprendizagem da leitura de palavras, mas sua importância se

perde com o passar do tempo. Assim, este projeto assumiu o objetivo de resgatar o

significado presente na imagem e incentivar a formação de novos leitores através do

desenvolvimento de uma narrativa mediada por ilustrações.

Durante o processo de estruturação e produção das ilustrações,

compreendeu-se a importância de se seguir os passos de desenvolvimento que vão,

desde a criação do roteiro, até o resultado final das imagens. Assim como a

relevância de elementos de composição, como formas, linhas e cor, para garantir

expressividade a cada cena da narrativa.

Da mesma maneira, ter um cuidado especial com as escolhas que

definem o projeto gráfico é essencial para se chegar a um resultado satisfatório, que

agregue valor ao que foi proposto pelo designer. Muito mais do que esteticamente

agradável, um projeto de design só se torna viável se apresentar conteúdo. A função

do designer é pesquisar, avaliar as possíveis alternativas e optar por aquelas que

melhor atendem às necessidades do projeto, é preciso olhar para o mundo com um

novo olhar, enxergar novas possibilidades.

Vivenciar este projeto, desde a sua idealização até o presente momento,

trata-se de uma experiência muito enriquecedora para quem, hoje, é uma pequena

designer, mas que sonha em projetar e produzir coisas que toquem o coração das

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pessoas. Mais do que ensinar, este trabalho trouxe motivação para prosseguir como

ilustradora, trouxe vontade de pesquisar, conhecer e entender as infinitas

ferramentas de produção existentes hoje, a fim de proporcionar melhores resultados

em futuros projetos.

Para aqueles que pretendem desenvolver trabalhos neste mesmo

caminho, dois conselhos. Primeiro, o planejamento de tudo que será desenvolvido é

extremamente necessário para a viabilização de um projeto consciente, sustentável

e funcional. Segundo, um bom planejamento só é alcançado quando se tem um

conhecimento mínimo das alternativas de escolha para materializar o conceito do

projeto, e só se adquire conhecimento pesquisando, conhecendo e vivenciando.

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APÊNDICE A – ROTEIRO

PROJETO

O livro infantil: o design no incentivo à formação do leitor

"BIBI&PIPOCA"

um roteiro

de

Gabrielli Fugyama Boa Vista

Gabrielli Fugyama Boa Vista

(41) 99841-9245

[email protected]

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"BIBI&PIPOCA"

"BIBI&PIPOCA"

Infantil. 23 páginas. 12 cenas

SEQ 1. pág 02/03

INT. SALA DE ESTAR - DIA

Bibi é uma menina de cinco anos de idade que sempre quis ter

um animal de estimação. Em seu aniversário de 6 anos, seus

pais fizeram uma festa para amigos e familiares. Na sala de

estar, todos cantam “Parabéns” e batem palmas. Ao canto do

cômodo, se encontram presentes de aniversário destinados à

menina.

Bibi tem os cabelos lisos e castanhos, olhos escuros, é

baixinha e desajeitada, adora usar um laço azul para enfeitar

o cabelo.

(Ilustração 1 – página dupla) Sorrindo,

Bibi canta “Parabéns” e comemora seu

aniversário soprando a vela que enfeita

o bolo disposto sobre a mesa.

______________________________________________________________

SEQ 2. pág 04

INT. SALA DE ESTAR – DIA

Como qualquer outra criança, Bibi adora receber presentes de

aniversário. Ao avistar uma grande caixa vermelha, a menina

dispara em direção a ela, ansiosa, feliz e alegre.

(Ilustração 2 – uma página) A caixa

vermelha chama a atenção de Bibi, até

então distraída, e ela vai andando em

sua direção.

______________________________________________________________

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SEQ 3. pág 05

INT. SALA DE ESTAR - DIA

Ainda na sala de estar, a menina tenta descobrir o que havia

dentro daquela caixa.

(Ilustração 3 – meia página) Curiosa,

Bibi sacode a caixa ainda fechada,

tentando adivinhar o que havia dentro

dela através do som.

(Ilustração 4 – meia página) Por fim,

Bibi começa a desfazer o embrulho,

soltando o laço que mantinha a caixa

fechada.

______________________________________________________________

SEQ 4. pág 06

INT. SALA DE ESTAR - DIA

Ao abrir a caixa, Bibi se surpreende quando um cachorro bem

pequeno, filhote, coloca a cabeça e as patinhas para fora,

abanando o rabo.

O cachorrinho tem o pelo liso e claro, não muito cumprido,

pernas curtas e orelhas caídas.

(Ilustração 5 – uma página) Bibi se

surpreende quando o animal aparece, o

cachorro olha com felicidade para ela.

______________________________________________________________

SEQ 5. pág 07

INT. SALA DE ESTAR - DIA

Muito feliz por finalmente ter ganhado o que tanto desejou,

Bibi se senta no chão, abraça o bichinho com carinho e ele,

por sua vez, abana o rabo, contente.

(Ilustração 6 – uma página) Muito

feliz, Bibi está sentada no chão e

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abraça o cachorro, este retribui o

gesto abanando o rabo.

______________________________________________________________

SEQ 6. pág 08/09

INT. CASA - DIA

Agora Bibi precisa cuidar do seu novo amiguinho! Pipoca está

sempre abanando o rabinho, pois adora brincar e se divertir,

mas também faz muita bagunça. Todos os dias, Bibi precisa

cuidar e ficar de olho nele.

Enquanto Bibi anda pra lá e pra cá, Pipoca adora morder e

puxar sua roupa para chamar sua atenção.

(Ilustração 7 – meia página)Bibi tenta

andar, mas o cachorro puxa a barra de

seu vestido, querendo brincar com a

menina. Ela fica irritada com ele.

O animalzinho gasta muita energia durante o dia, e por isso

também come bastante! Sua tigela de ração, identificada com

seu nome, sempre fica vazia em questão de segundos.

(Ilustração 8 – meia página) Sempre

agitado, o filhote come sua ração

rapidamente, como se estivesse há dias

sem se alimentar.

Ele também precisa aprender onde deve ou não fazer suas

necessidades! Sempre faz xixi e cocô no lugar errado.

(Ilustração 9 – meia página) Como se

estivesse arrependido, Pipoca se

encolhe por trás das pernas de Bibi,

sabendo que fez o que não deveria,

enquanto a menina cruza os braços,

indignada.

Mesmo com todo esse trabalho para cuidar dele, Bibi adora

brincar com o seu novo bichinho de estimação, principalmente

fazer carinho na barriguinha dele enquanto Pipoca está deitado

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no chão.

(Ilustração 10 – meia página) Bibi

ajoelhada, sorri e faz carinho na

barriga do cão que se encontra deitado

com as patas para cima.

______________________________________________________________

SEQ 7. pág 10/11/12/13

EXT. CASA - DIA

Bibi e Pipoca adoram brincar com uma bolinha vermelha! Quando

a menina a joga a bolinha para longe, o cachorrinho sempre vai

até ela e a traz de volta.

(Ilustração 11 – meia página) A menina

mostra a bolinha em sua mão para o

cachorro, que logo começa a se agitar,

a espera de que sua dona a jogue para

ele.

(Ilustração 12 – meia página) Bibi se

prepara para jogar a bola com o máximo

de força enquanto o cão pula a sua

volta.

(Ilustração 13 – uma página) Ela joga a

bolinha e, em instantes, Pipoca sai

correndo para busca-la.

(Ilustração 14 – página dupla) Após

apanhar a bolinha com a boca, Pipoca

volta satisfeito em direção a Bibi, que

o chama para vir até ela.

______________________________________________________________

SEQ 8. pág 14/15

INT. QUARTO DA BIBI - DIA

Pipoca é muito levado! Um dia, quando Bibi não estava por

perto, ele pega um de seus bichinhos de pelúcia favoritos, um

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ursinho marrom com um coração vermelho, bem vivo, grudado na

sua barriga redondinha. O animalzinho vai mordendo e mordendo

o brinquedo, deixando-o sujo e rasgado.

(Ilustração 15 – meia página) Pipoca se

depara com o bicho de pelúcia em cima

de uma das prateleiras do guarda-roupas

de Bibi.

(Ilustração 16 – meia página) Já

próximo da prateleira, o cachorro pega

o urso de pelúcia com a boca.

(Ilustração 17 – uma página) No tapete

do quarto, ele se diverte com o urso,

mordendo e rasgando o brinquedo.

______________________________________________________________

SEQ 9. pág 16/17

INT. QUARTO DA BIBI - DIA

Quando Bibi percebe o que seu animal de estimação havia

aprontado, se assusta. Pobre ursinho de pelúcia, seu coração

estava, literalmente, despedaçado!

(Ilustração 18 – meia página) Bibi se

assusta, levando as mãos ao rosto e

Pipoca se dá conta de que fez algo de

errado.

(Ilustração 19 – meia página) Ela se

irrita com o que Pipoca acabou de

fazer, lhe dando uma bronca.

(Ilustração 20 – uma página) Depois

vira as costas e sai do quarto de

cabeça baixa, triste por ter perdido

seu ursinho de pelúcia, enquanto Pipoca

a observa de longe, também

entristecido.

______________________________________________________________

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SEQ 10. pág 18/19

INT. CASA - DIA

Triste, Bibi não quer mais brincar com seu amigo, mesmo que

ele tente puxar suas roupas como sempre fez quando queria

chamar sua atenção ou mesmo quando faz suas necessidades no

lugar correto. Agora, o pote de ração do bichinho não fica

vazio tão rápido quanto antes. Pipoca ainda tenta brincar de

bolinha, mas sua dona continua desanimada e não quer jogar a

bolinha para ele.

(Ilustração 21 – meia página) Pipoca

tenta, em vão, puxar o vestido de Bibi.

A menina está de cabeça baixa, ombros

caídos.

(Ilustração 22 – meia página) O

cachorro faz suas necessidades em cima

do jornal, onde deveria, e está feliz

por isso, mas Bibi continua a olhar

para os lados, como se não prestasse

atenção.

(Ilustração 23 – meia página) A tigela

de Pipoca permanece cheia de ração

enquanto ele fica sentado de costas

para o pote, de cabeça baixa, triste.

(Ilustração 24 – meia página) Com a

bolinha na boca, Pipoca tenta novamente

chamar a atenção de sua dona, mas ela

balança a cabeça, indicando que não

quer brincar naquele momento.

______________________________________________________________

SEQ 11. pág 20/21

INT. QUARTO DE BIBI/SALA DE ESTAR - DIA

Andando pela casa de cabeça baixa, entristecido, Pipoca se

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depara com o ursinho de pelúcia rasgado e então pensa sobre o

que fez. O coração que fazia parte do ursinho havia se

descosturado e estava, agora, largado pelo chão.

Pipoca se aproxima de Bibi com o pequeno coração preso com

cautela entre seus dentes. A menina brincava com suas bonecas,

não muito animada, sentada de pernas cruzadas sobre o tapete

da sala. O animalzinho deixa o coração ao lado da menina, que

olha para ele.

(Ilustração 25 – meia página) Pipoca

está no quarto de Bibi, anda em passos

curtos e longos, cabeça baixa.

(Ilustração 16 – meia página) Ele se

aproxima do bicho de pelúcia destruído

e o observa com olhos tristes.

(Ilustração 27 – meia página) O

cachorrinho o pega com cuidado,

carregando-o entre os pequenos dentes

em direção a sala.

(Ilustração 28 – meia página) Deixa o

coração próximo à Bibi, que se

encontrava brincando com suas bonecas.

A menina não parece se divertir de

verdade.

______________________________________________________________

SEQ 12. pág 22/23

INT. SALA DE ESTAR - DIA

Finalmente Pipoca conseguiu chamar a atenção de Bibi! Ela o

olha, sorri, e logo o bichinho começa a abanar o rabinho,

alegre. Bibi o aperta em seus pequenos bracinhos, mas o

bichinho nem se importa se for quase esmagado pelo abraço,

tamanha é a sua alegria!

(Ilustração 29 – uma página) Bibi olha

para o amigo sorrindo e ele retribui,

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abanando o rabo, expressando alegria.

(Ilustração 30 – uma página) A menina

abraça o cachorro com carinho. Pipoca

está muito feliz agora.

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APÊNDICE B - STORYBOARD

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APÊNDICE C – ESTUDOS DE CONCEPÇÃO DE PERSONAGENS

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APÊNDICE D – ILUSTRAÇÕES DESENVOLVIDAS (APÓS AJUSTES DE COR)

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APÊNDICE E – ESBOÇOS PARA DESENVOLVIMENTO DA CAPA

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APÊNDICE F – EXEMPLOS DE PÁGINAS ESPELHADAS (VERSÃO FINAL)

Exemplo 1 – Páginas 2 e 3.

Exemplo 2 – Páginas 10 e 11.

Exemplo 3 – Páginas 12 e 13.

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Exemplo 4 – Páginas 14 e 15.

Exemplo 5 – Páginas 18 e 19.

Exemplo 6 – Páginas 26 e 27.

Exemplo 7 – Páginas 28 e 29.