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Este breve Contexto Histórico do Bairro do Itaim Bibi, SP é um item componente do Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do Terreno na Avenida Horácio Lafer.

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O presente texto traz um breve contexto histórico do Bairro do Itaim Bibi, município de São Paulo, trata-se de um componente do Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do Terreno na Avenida Horácio Lafer.

Este programa possui o apoio da LUYMAK INCORPORAÇÕES E PARTICIPAÇÕES – EMPRESA DE PROPÓSITOS, com colaboração do Institito do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em sua superintência de São Paulo e DPH - Departamento do Patrimônio Histórico do município de São Paulo, seu desenvolvimento se deu pela DOCUMENTO Projetos e Planejamento Ltda.

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TERRENO NA AVENIDA HORÁCIO LAFER – Bairro Itaim - Bibi, Município de São Paulo/SP

1. São Paulo e os arredores

A ocupação colonial da região que hoje representa a Grande São Paulo se deu a partir de 1560 de forma esparsa e pouco numerosa através da formação de vilas e aldeamentos jesuíticos. São exemplos desse período a Vila de São Paulo de Piratininga, formada a partir do colégio jesuítico, e os aldeamentos jesuíticos criados na região de Cara-picuíba, Embu, Barueri, Pinheiros, entre outros. Esses núcleos de povoamento formaram um cinturão ao redor da Vila de São Paulo servindo como proteção para a região. Com o tempo, essa região passou a abastecer com produtos agrícolas a vila de São Paulo e outros núcleos populacionais próximos. Muitos desses núcleos populacionais floresceram ao longo de caminhos e estradas que ligavam a vila de São Paulo ao seu entorno e a outros territórios da colônia. Por estar numa zona intermediária, os arredores de São Paulo também serviram como área de parada e pouso. Num primeiro momento, para expedições (bandeirantes) em busca de índios e metais e pedras preciosas e, posteriormente, para viajantes e mercadores que chegavam e saíam da vila de São Paulo. A partir do século XVIII, o planalto paulista, paulatinamente, deixou de gerar expedições desbravadoras, em direção ao interior da colônia, para transformar-se num ponto de convergência de tropas e tro-peiros. O fluxo de pessoas e mercadorias que passavam por esses caminhos teve um aumento significativo. Antigas trilhas indígenas, passagens em direção ao interior da colônia, e até mesmo rios e córregos, serviram de base para a implantação de uma malha intrincada de caminhos e rotas que convergiam para a zona central da vila, na região do rio Tamanduateí. No mapa a seguir podemos ver alguns desses caminhos como o Caminho para Sorocaba, o Caminho das Boiadas, o Caminho para Santo Amaro, a Estrada do Araçá, Caminho para Santos, entre outros.

Figura 2 - São Paulo e Arredores em 1850: Reconstrução histórica e tophográfica aproximada, 1937, Frederico H. Gonçalves. Arquivo Público do Estado de São Paulo

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Com isso, uma série de atividades relacionadas à circulação de pessoas e mercadorias se desenvolveram na área em questão. Na zona oeste de São Paulo (atualmente composta pelas subprefeituras da Lapa, Butantã e Pinheiros), por exemplo, melhor articulada à região de Sorocaba, Jundiaí, Itu e Campinas, surgiram feiras, pousos de tropas, hospedagens e estalagens. No final do século XVIII a zona oeste de São Paulo consolidou-se como região produtora agrícola e zona intermediária de parada e pouso, convergindo rumo à vila de São Paulo Piratininga. Durante o século XIX verificamos as primeiras iniciativas de ocupação organizada da região com a introdução de colônias de imigrantes. Na região do Jaraguá e entorno foram implantadas algumas fazendas de café, expandindo-se a lavoura cafeeira para o oeste paulista. Do mesmo modo, observou-se a introdução de pequenos engenhos e manufaturas nas localidades ao redor da cidade intensificando-se também, atividades extrativas referentes a pedreiras, fabrico de cal, caulim, etc. Dentro deste contexto de povoamento da cidade de São Paulo e seus arredores, podemos estabelecer três formas de ocupação da região: 1- A expansão de núcleos coloniais do século XVI, com ruas de traçado irregular acomodando-se aos compartimentos topográficos da paisagem, e formação de uma cultura própria (cultura caipira); 2- O surgimento de núcleos formados a partir de paradas/pousos de tropas, nos séculos XVII e XVIII; 3- O surgimento de núcleos conformados ao redor de estações de linhas férreas a partir da segunda metade do século XIX como Osasco e Nova Barueri. A formação da cidade dos barões de café, a partir de meados do século XIX até o primeiro quartel do século XX, consolida os arredores paulistanos como zona de abastecimento do núcleo urbano em crescimento acelerado. Na região Oeste se instalam, por exemplo, os japoneses (criação da Cooperativa Agrícola de Cotia, por ex.), portugueses e espanhóis à noroeste e Cantareira, levando à progressiva dilatação do cinturão caipira. Do mesmo modo, essa região de entorno passa a oferecer com intensidade cada vez maior de matérias-primas básicas para a construção, com a exploração de areia e jazidas minerais, além do fornecimento de lenha, seguido pela implantação de projetos de reflorestamento (pinus e eucalipto), gerando os “ingredientes” indispensáveis à manutenção do parque industrial em franco crescimento. Fábricas de telhas e olarias foram instaladas ao longo de todas as várzeas e em todos os trechos dos rios da cidade podiam ser vistas barcaças garimpando e transportando areia para os portos situados nas margens dos mesmos. Alguns desses portos foram estabelecidos no Itaim Bibi, sendo um deles próximo à travessa do Porto, hoje rua Luís Dias e um outro na rua do Porto, hoje Leopoldo Couto de Magalhães Jr. A região passa a atender também a outras funções com a transferência de atividades e/ou acomodação de atividades outrora presentes no núcleo urbano (hospital psiquiátrico do Juqueri, e o sanatório Bela vista no Itaim Bibi, por exemplo). Ocorre a destinação de locais favoráveis à implantação de atividades suporte à manutenção da cidade como geração de energia (usina Edgard de Sousa), captação de água (Cantareira), estabelecimento do Matadouro (Vila Mariana), implantação de malha ferroviária, utilizando as várzeas que conduzem à formação ou consolidação de núcleos populacionais (Osasco, Barueri, Perus, entre outros).

Figura 3 - Parte de uma planta da cidade de São Paulo onde podemos ver o Matadouro e a área do bairro do Itaim Bibi. 1913. Arquivo Público do Estado de São Paulo

CAMARGO, Paulo Fernando Bava. O Itaim Bibi já foi um porto. HISTÓRIA e-HISTÓRIA, 03 de maio de 2004, ISSN 1807-1783. Disponível em: http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=reportagens&ID=2#_ftn2

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A partir de inícios do século XX São Paulo passa a crescer de forma acelerada tanto em extensão como em população, dilatando-se radialmente para além de 15 quilômetros da zona central, onde permaneceu contida ao longo dos últimos 300 anos. Antigas chácaras ao redor do núcleo histórico da cidade foram loteadas e a área urbana expandiu-se continuamente. Se na última década do século XIX, de 1890 a 1900, a população da cidade havia saltado de, aproximadamente, 65 mil para 240 mil habitantes, em 1940 a cidade atingiu 1,3 milhões de habitantes. Ao longo da década de 50 São Paulo viu sua população ultrapassar a marca de 3,5 milhões de habitantes.

Prefeitura Municipal de São Paulo. História Demográfica do Município de São Paulo. Disponível em: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_de-mografico/tabelas/pop_brasil.php

Figura 4 - Expansão territorial de São Paulo, 1922. Arquivo Público do Estado de São Paulo

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Figura 5 - Expansão urbana da cidade de São Paulo.

Prefeitura Municipal de São Paulo. História Demográfica do Município de São Paulo. Disponível em: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/

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Com o contínuo crescimento da cidade foi necessário a remodelação do sistema viário. Em 1937 a cidade recebeu seu primeiro grande projeto urbanístico, o chamado Plano de Avenidas elaborado por Prestes Maia. Em sua expansão territorial rumo à periferia os principais rios, outrora importantes meio de circulação, tornaram-se empecilhos. Muitos foram retificados, como o rio Pinheiros e Tietê, outros canalizados e aterrados criando assim, novos espaços a serem ocupados.

Figura 6 - Bairro do Itaim Bibi com o Rio Pinheiros antes da retificação, 1930. Sara Brasil

Figura 7 - Bairro do Itaim Bibi com o Rio Pinheiros retificado. Planta da Cidade de São Paulo e Municípios Circunvizinhos, 1958. Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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Figura 8 – Detalhe da planta de São Paulo com o Rio Tietê e o projeto de retificação em tracejado. Planta da cidade de São Paulo. Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo, Gilberto Nogueira, 1928. Arquivo Público do Estado de São Paulo

Figura 9 - Mapa com parte do Rio Tietê já retificado. Cidade de São Paulo, 1930. Arquivo Público do Estado de São Paulo.

2. Surgimento do bairro do Itaim Bibi

O bairro do Itaim Bibi, cujos limites atuais são demarcados pela Marginal do Rio Pinheiros (oeste) e pelas Ave-nidas Cidade Jardim e Nove de Julho (norte), São Gabriel e Santo Amaro (leste), e Presidente Juscelino Kubits-chek (sul), mantêm aproximadamente os limites de quando surgiu, entre as décadas de 1910 e 1920. A extensa área onde hoje se encontra o bairro era passagem obrigatória para aqueles que se dirigiam para Santo Amaro, vindos do Centro e de Pinheiros. Muitos anos antes das grandes avenidas cortarem a região, já existiam estradas que passavam por ali como a Estrada das Boiadas e a Estrada para Santo Amaro.

Figura 10 - Distrito do Itaim Bibi, composto pelos bairros do Itaim Bibi, Vila Olímpia, Brooklin, Vila Cordeiro, Vila Olímpia e Vila Gertrudes.

Prefeitura Municipal de São Paulo. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/upload/pinheiros/arquivos/mapa_4_distrito_itaim_bibi.pdf

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O núcleo central de povoamento da região se deu a partir da região conhecida como Sítio do Itaim, no século XVIII. O local era uma propriedade rural voltada à pecuária e à plantação de produtos agrícolas. A Casa bandeirista do Itaim Bibi, atualmente, situada entre a rua Iguatemi e avenida Faria Lima foi a sede desse sítio. Apesar de extensa, grande parte dessa região era formada por várzeas que ficavam frequentemente inundadas com as cheias dos rios que passavam por ali. Entre eles podemos citar o Ribeirão Uberaba e o Uberabinha, Córrego Sapateiro, Córrego do Curtume, o Córrego das Pedras e o Córrego Verde. Todos eles desembocando no Rio Pinheiros. Na figura 11, um mapa de 1907, podemos visualizá-los. Como a região era alagadiça, o estabelecimento de moradias se deu na parte mais alta das terras.

Figura 11 – Detalhe de planta da cidade de São Paulo onde podemos visualizar rios e córregos presentes na região do Itaim Bibi: Rio Verde (tracejado em vermelho), Rio das Pedras (no centro), Ribeirão Uberaba e Rio Uberabinha. Planta da cidade de São Paulo, Graccho da Gama, 1907. Arquivo Público do Estado de São Paulo

Referências mais precisas do Sítio Itaim remontam a meados do século XIX, em 1846, quando pertenceu a Anna Joaquina Duarte Ferraz. Após sucessivos proprietários, em 1896, o sítio foi adquirido pelo general José Vieira de Couto de Magalhães compreendendo a área demarcada pelos Córregos Verde (nas proximidades do Shopping Iguatemi, a norte), a Estrada de Santo Amaro até o Córrego Uberabinha (próximo à atual Rua das Fiandeiras), e nos fundos o Rio Pinheiros. No mapa abaixo podemos visualizar a área do sítio e a indicação do seu proprietário.

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Figura 12 – Detalhe de uma planta de São Paulo, de 1921, em que aparece o nome do proprietário do Sítio do Itaim, J. Couto de Magalhães. 1921. Arquivo Público do Estado de São Paulo

Em 1907, Leopoldo Couto de Magalhães, irmão do general, comprou as terras e fixou residência no local. Com sua morte, a área foi loteada em pequenas chácaras e divididas entre seus herdeiros, ao longo da década de 1910. Entre eles temos: Galileu Galilei Couto de Magalhães, Leopoldo Couto de Magalhães Jr, conhecido como Bibi, Zulmira Machado, José Salvador e Adolfo Rodriguesa, Maria Amália de Magalhães Fleury, Antônio Carlos Couto De Magalhães. Na Planta do levantamento e divisão judicial do Sítio do Itaim, da década de 1910, podemos ver a indicação dos lotes pertencentes a cada um dos herdeiros e o nome atual das ruas. O terreno referente à casa bandeirista ficou com Leopoldo Couto de Magalhães Jr.

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Figura 13 - Planta do Levantamento e Divisão Judicial do Sítio Itahim.

LOPES, Helena de Q. F. & TOLEDO, Vera L. V. Itaim-Bibi. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1988.

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Ao contrário do que ocorreu na Aclimação e nos Jardins América e Europa onde o loteamento foi feito por companhias estrangeiras, no ltaim ele foi realizado pelos próprios proprietários que dividiram suas propriedades sem nenhum plano urbanístico. Os primeiros moradores a se instalarem na região, após seu loteamento, foram imigrantes italianos e portugueses, recém-chegados ao Brasil ou vindos de outros bairros como o Bexiga. As primeiras áreas a serem ocupadas foram as mais elevadas. As áreas próximas ao rio Pinheiros só ganharam importância após a retificação do rio. Antes disso, a ocupação dessas áreas alagadiças se prendiam às atividades exercidas por barqueiros que retiravam a areia do rio, pelos portos de areia e olarias, instaladas nas margens do rio Pinheiros, e que forneciam areia, tijolos e telhas para as construções. Na planta de 1922 podemos perceber os arruamentos do bairro e suas primeiras edificações mais distantes do rio Pinheiros. O sítio do Itaim, com sua sede no centro, ocupa grande parte das terras do bairro. Destacamos que os primeiros lotes se caracterizavam por serem retangulares, com a frente do terreno mais estreita do que seu comprimento.

Figura 14 – Detalhe da planta de São Paulo em que aparece o arruamento inicial do sítio do Itaim. 1922. Arquivo Público do Estado de São Paulo

A origem do nome, Itaim Bibi, se deu após o loteamento do bairro com finalidade de diferenciar a região do já existente Itaim-Paulista. Itaim revela ainda o passado indígena da região, significando “pedra pequena”. Bibi é uma referência ao apelido do filho do antigo proprietário da região, Leopoldo Couto de Magalhães. Vale destacar que antes do bairro ter um dos preços por metro quadrado mais caros de São Paulo ele foi ocupado por pequenos comerciantes, homens de ofício, empregados do comércio e trabalhadores braçais procurando terras baratas e um trabalho honesto. Nos últimos anos, o bairro passou por um forte processo de verticalização. Isso se deu após a canalização do Córrego do Sapateiro na década de 70, e o surgimento da então Avenida Presidente Juscelino Kubitschek. Hoje o gabarito do bairro é formado por algumas edificações remanescentes de um ou dois pavimentos e por edifícios altos, tanto residenciais como de escritórios. Abaixo, montamos uma série de mapas que evidenciam a ocupação do bairro do Itaim Bibi.

LOPES, Helena de Q. F. & TOLEDO, Vera L. V. Itaim-Bibi. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1988. CAMARGO, Paulo Fernando Bava. O Itaim Bibi já foi um porto. HISTÓRIA e-HISTÓRIA, 03 de maio de 2004, ISSN 1807-1783. Disponível em:

http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=reportagens&ID=2#_ftn2

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Figura 15 - Planta da cidade de São Paulo, Graccho da Gama, 1907. Arquivo Público do Estado de São Paulo

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Figura 16 - Plantas da cidade de São Paulo mostrando seu desenvolvimento, 1922. Arquivo Público do Estado de São Paulo

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Figura 17 - 1926. Arquivo Público do Estado de São Paulo

Figura 18 - Detalhe da planta de São Paulo com o Rio Tietê e o projeto de retificação em tracejado. Planta da cidade de São Paulo. Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo, Gilberto Nogueira, 1928. Arquivo Público do

Estado de São Paulo

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Figura 19 – Bairro do Itaim Bibi com o Sanatório Bela Vista (Casa Bandeirista) em destaque. Mapa topográfico do Município de São Paulo, 1930. Sara Brasil.

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Figura 20 - Planta da Cidade de São Paulo e Municípios Circunvizinhos, 1958. Arquivo Público do Estado de São Paulo

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3. A Casa Bandeirista

Datada de meados do século XVIII, a casa bandeirista foi sede do Sítio do Itaim, como descrevemos acima. Até a década de 1910 serviu como moradia e sede da propriedade. Entre 1918 e 1921 o local abrigou o Abrigo Santa Maria. Após ser adquirida pelo médico Brasílio Marcondes Machado, em 19222, o local abrigou no Sanatório Bela Vista. Com o fim das atividades do sanatório, no início da década de 1980, a propriedade foi vendida. Ao longo de sua trajetória, a edificação sofreu diversas modificações em seu interior e exterior para atender as necessidades que surgiram com o tempo. Algumas paredes, portas e janelas foram suprimidas, assim como novas edificações foram adicionadas ao corpo da casa. Tal foram as mudanças que na década de 1980 o aspecto da Casa bandeirista do Itaim Bibi, como a conhecemos hoje, era totalmente diferente. Mas mesmo assim, faz-se necessário destacar a importância do local como núcleo central do povoamento do bairro do Itaim Bibi desde o século XVIII. Assim como, da própria edificação que abrigou a sede do sítio até inícios do século XX e, posteriormente, o Abrigo e Sanatório e fez parte do cotidiano das pessoas que chegavam para morar na região. Devido a importância que o local assumiu, o Condephaat e o Conpresp (órgãos de defesa do patrimônio cultural do Estado de São Paulo e da cidade de São Paulo, respectivamente) decidiram pelo tombamento da casa. Anos depois de seu tombamento a edificação passou por um restauro. Após estudos criteriosos, os restauradores optaram por devolver ao prédio as supostas feições que tinha quando foi construída, no século XVIII. Por isso, suprimiram todas as modificações feitas na edificação ao longo dos anos. Na imagem abaixo podemos ver a área total do Sanatório Bela Vista. A parte destacada em preto representa a área da antiga Casa Bandeirista.

Figura 21 - Acréscimos feitos na casa bandeirista

CONDEPHAAT. Processo de Tombamento 20640-78 - Volumes 1 e 2: Sítio do Itaim. Disponível em: http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/arqueologico/sede-do-sitio-itaim Condephaat: processo 20640-78, homologado em 1982, Livro de Tombo Histórico n. 225: 62; Conpresp, década de 1990, Resolução 05/1991. SAIA, Helena. Casa Bandeirista do Itaim: proposta de restauro. Março de 1999

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Cômodos, paredes e portas foram derrubadas ou reconstruídas para que fosse possível reconstituir as antigas feições iniciais da casa. Destacamos que tudo isso aconteceu porque acredita-se que a casa do Itaim, juntamente com outras edificações, são os últimos exemplares de casas rurais paulistas construídas no período colonial. Denominadas de Casas bandeiristas, essas edificações apresentam características construtivas semelhantes como: planta baixa retangular; existência de alpendres na parte frontal da casa; uso da taipa de pilão para construção do corpo principal, e do de pau-a-pique nas divisórias internas; entre outros. Em São Paulo, além da casa do Itaim, podemos encontrar outros representantes das casas bandeiristas como: a Casa do Butantã, Casa do Tatuapé, Casa do Caxingui, Sítio do Capão, Sítio da Ressaca, entre outros.

Figura 22 - Casas Bandeiristas no Estado de São Paulo

Figura 23 - Casas bandeiristas na cidade de São Paulo MAYUMI, Lia. Taipa, canela preta e concreto: um estudo sobre a restauração de casas bandeiristas em São Paulo. São Paulo: Tese de Doutorado, FAU-USP, 2005 MAYUMI, Lia. Taipa, canela preta e concreto: um estudo sobre a restauração de casas bandeiristas em São Paulo. São Paulo: Tese de Doutorado,

FAU-USP, 2005

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Figura 24 - Fotos da Casa Bandeirista

Fotos de Nelson Kon. Disponível em: http://fotos.noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2013/04/06/conheca-o-projeto-de-restauro-da-casa-bandeirista-do-itaim-em-sao-paulo.htm#fotoNav=1

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Figura 25 - Plantas e croquis da Casa Bandeirista

SAIA, Helena. Casa Bandeirista do Itaim: proposta de restauro. Março de 1999 COLIN, Sílvio. Técnicas construtivas do período colonial. Imphic – Instituto Hhistórico. Disponível em: http://coisasdaarquitetura.wordpress.com/

A taipa de pilão é uma técnica construtiva que consiste na utilização de barro prensado na construção dos edifícios. O barro é colocado em formas de madeira, chamados taipais, e, posteriormente, é prensado com um pilão, como pode ser observado nas imagens abaixo. Após a secagem, o taipal é desmontado e deslocado para a posição vizinha e assim sucessivamente. Os taipais são estruturados por tábuas e montantes de madeira que são fixados por meio de cunhas, em baixo, e um torniquete em cima. Suas dimensões são de aproximadamente 1,0 m de altura por 3,0 a 4,0 m lateralmente, e têm a espessura final da parede, 0,6 m a 1 m. Os taipais são dispostos de modo a formar fiadas horizontais de blocos de taipa e têm as juntas verticais normalmente desencontradas. Na primeira fiada o taipal é apoiado diretamente no solo. Sobre as fundações e para as fiadas subseqüentes eram colocadas transversalmente à espessura madeiras roliças a dois terços da altura, de modo que quando da execução da próxima fiada, as agulhas ou cangalhas de baixo eram enfiadas no orifício (denominado de codo) deixado após a retirada dessa madeira que tinha permanecido dentro do bloco de taipa anterior. Nas taipas remanescentes desse período as marcas da execução são facilmente detectáveis, tanto das camadas de terra apiloadas, como dos tipos de junções dos blocos de taipa e também dos orifícios ocupados para a elevação do maciço de taipa. Esses orifícios recebem uma argamassa de terra após a retirada do taipal e antes do revestimento.

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COLIN, Sílvio. Técnicas construtivas do período colonial. Imphic – Instituto Hhistórico. Disponível em: http://coisasdaarquitetura.wordpress.com/ COLIN, Sílvio. Técnicas construtivas do período colonial. Imphic – Instituto Hhistórico. Disponível em: http://coisasdaarquitetura.wordpress.com/ http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2005-1/taipa/taipa1.htm

Figura 26 - Taipal e Pilão

Figura 27 - Demonstração da construção do alicerce e das paredes utilizando Taipa de Pilão

Figura 28 - Demonstração da Taipa de Pilão

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O pau a pique, também conhecido como taipa de mão, taipa de sopapo ou taipa de sebe, é outra técnica construtiva que consiste no entrelaçamento de madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, geralmente de bambu amarradas entre si por cipós, dando origem a um grande painel perfurado. Depois de pronto, esse painel é preenchido com barro.

Figura 29 - Demonstração de construções realizadas com Taipa de Mão também chamada de Pau a Pique

http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2003-1/ecovilas/pau_a_pique.htm

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Para conhecer um pouco mais sobre os vestígios e a história pesquisados no Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do Terreno na Avenida Horácio Lafer visite também o Museu Virtual do Programa:

Participe do Programa como Cientista Cidadão também pelo Blog:

http://documentocultural.net/horaciolafer/

http://documentoculturalhoraciolafer.ning.com/

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4. Bibliografia

CAMARGO, Paulo Fernando Bava. O Itaim Bibi já foi um porto. HISTÓRIA e-HISTÓRIA, 03 de maio de 2004, ISSN 1807-1783. Disponível em: http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=reportagens&ID=2#_ftn2COLIN, Sílvio. Técnicas construtivas do período colonial. Imphic – Instituto Hhistórico. Disponível em: http://coisasdaarquitetura.wordpress.com/

CONDEPHAAT. Processo de Tombamento 20640-78 - Volumes 1 e 2: Sítio do Itaim. Disponível em: http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/arqueologico/sede-do-sitio-itaimFotos da Casa Bandeirista do Itaim: http://fotos.noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2013/04/06/conheca-o-projeto-de-restauro-da-casa-bandeirista-do-itaim-em-sao-paulo.htm#fotoNav=1http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2003-1/ecovilas/pau_a_pique.htmhttp://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2005-1/taipa/taipa1.htmhttp://www.arquicultura.fau.usp.br/

LOPES, Helena de Q. F. & TOLEDO, Vera L. V. Itaim-Bibi. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1988.

MAYUMI, Lia. Taipa, canela preta e concreto: um estudo sobre a restauração de casas bandeiristas em São Paulo. São Paulo: Tese de Doutorado, FAU-USP, 2005

MORSE, Richard M. Formação histórica de São Paulo. São Paulo: Difel, 1970.Prefeitura Municipal de São Paulo. História Demográfica do Município de São Paulo. Disponível em: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/tabelas/pop_brasil.phpPrefeitura Municipal de São Paulo. História Demográfica do Município de São Paulo. Disponível em: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/Prefeitura Municipal de São Paulo. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/upload/pinheiros/arquivos/mapa_4_distrito_itaim_bibi.pdf

SAIA, Helena. Casa Bandeirista do Itaim: proposta de restauro. Março de 1999

ZANETTINI, Paulo Eduardo. Maloqueiros e seus palácios de barro: o cotidiano doméstico na Casa Bandeirista. São Paulo: Museu de Arqueologia e Etnografia da Universidade de São Paulo, 2005 (Tese de Doutorado)