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BHAGAVAD-GITA com comentários Versão russa por Dr. Vladimir Antonov Traduzido ao português por Irene Pastana Batista 2016

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Page 1: BHAGAVAD-GITA com comentários · do, Ele criou uma visão de um exercito inumerável O guardavam, e os inimigos se retiraram. 8 profundidade de sua sabedoria e pela amplitude dos

BHAGAVAD-GITA com comentários

Versão russa por Dr. Vladimir Antonov

Traduzido ao português por Irene Pastana Batista

2016

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Este livro apresenta uma nova e competente

tradução do Bhagavad-Gita, uma antiga e monu-mental obra hindu da literatura espiritual.

O texto está acompanhado com os comentá-rios daquele que não simplesmente leu e estudou o Bhagavad-Gita, senão que cumpriu os mandatos contidos neste.

Este livro pode ser útil para todos aqueles que buscam a Perfeição espiritual.

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Índice PREFÁCIO ...................................................... 6

GLOSSÁRIO DE TERMOS SÂNSCRITOS ...................... 9

BHAGAVAD-GITA .......................................... 12

CONVERSAÇÃO 1. DESESPERO DE ARJUNA .............. 12

CONVERSAÇÃO 2. SAMKHYA YOGA ....................... 18

CONVERSAÇÃO 3. KARMA YOGA .......................... 27

CONVERSAÇÃO 4. YOGA DA SABEDORIA ................. 33

CONVERSAÇÃO 5. YOGA DO DESAPEGO ................. 39

CONVERSAÇÃO 6. YOGA DO AUTODOMÍNIO ............. 44

CONVERSAÇÃO 7. YOGA DO CONHECIMENTO PROFUNDO

.............................................................. 50

CONVERSAÇÃO 8. INDESTRUTÍVEL E ETERNO BRAHMAN

.............................................................. 54

CONVERSAÇÃO 9. CONHECIMENTO RÉGIO E MISTÉRIO

RÉGIO ...................................................... 59

CONVERSAÇÃO 10. MANIFESTAÇÃO DE PODER ......... 63

CONVERSAÇÃO 11. CONTEMPLAÇÃO DA FORMA

UNIVERSAL ................................................. 69

CONVERSAÇÃO 12. BHAKTI YOGA ........................ 77

CONVERSAÇÃO 13. O “CAMPO” E O “CONHECEDOR DO

CAMPO” ..................................................... 80

CONVERSAÇÃO 14. LIBERTAÇÃO DAS TRÊS GUNAS .... 85

CONVERSAÇÃO 15. CONHECIMENTO DO ESPIRITO

SUPREMO .................................................. 88

CONVERSAÇÃO 16. DISCERNIMENTO DO DIVINO E DO

DEMONÍACO ................................................ 91

CONVERSAÇÃO 17. DIVISÃO TRIPLA DA FÉ ............ 94

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CONVERSAÇÃO 18. LIBERTAÇÃO ATRAVÉS DA RENUNCIA

.............................................................. 98

COMENTÁRIOS PARA O BHAGAVAD-GITA ...... 109

ASPECTO ONTOLÓGICO DOS ENSINAMENTOS DE

KRISHNA ................................................. 109

ASPECTO ÉTICO DOS ENSINAMENTOS DE KRISHNA .. 117

Atitude do homem para com outras pessoas, para com todos os seres, e para com o meio ambiente inteiro .................................... 118

Atitude para com o Criador ...................... 119

Atitude para com o próprio Caminho à Perfeição .............................................. 120

Luta contra as emoções grosseiras negativas e ânsias terrenas .......................................... 120

Luta contra os falsos apegos ........................ 122

Luta contra as manifestações do “eu” inferior contra o egoísmo, o egocentrismo e a ambição ............................................................... 122

Desenvolvimento das qualidades positivas em um mesmo ..................................................... 124

Serviço à Deus ........................................... 125

ASPECTO PSICOENERGÉTICO DO APERFEIÇOAMENTO 125

Preparação do corpo ............................... 126

Exercícios preparatórios com a energia do corpo ................................................... 127

Subjugação da mente ............................. 127

Como Krishna descreve o Atman e a maneira de conhecê-lo ........................................ 129

Descrição do Brahman e como alcançar o Nirvana nEle ......................................... 131

“Fortalecimento da consciência” ............... 134

Descrição de Ishvara............................... 135

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Conhecimento do Absoluto ...................... 137

APÊNDICE: AS CITAÇÕES DO MAHABHARATA 138

AS CITAÇÕES MAIS IMPORTANTES DO LIVRO SOBRE AS

ESPOSAS (LIVRO 11 DO MAHABHARATA) ............ 138

AS CITAÇÕES MAIS IMPORTANTES DE UDYOGAPARVA

(LIVRO 5 DO MAHABHARATA) ......................... 139

BIBLIOGRAFÍA ............................................ 142

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Prefácio

O Bhagavad-Gita (o Canto do Senhor se o traduzirmos do sânscrito) é a parte mais impor-tante do Mahabharata, uma epopeia antiga da Ín-dia que descreve certos acontecimentos que tive-ram lugar entre 5 e 7 mil anos atrás.

O Bhagavad-Gita é uma grande obra filosófi-ca que desempenhou o mesmo papel na história da Índia que o Novo Testamento nos países da cultura europeia. Ambos os livros proclamam po-derosamente o princípio do Amor-Bhakti como a base do autodesenvolvimento espiritual do ho-mem. O Bhagavad-Gita também nos apresenta uma concepção integral sobre os problemas fun-damentais da filosofia, tais como que é o homem, que é Deus, em que consiste o significado da vida humana e quais são os princípios de sua evolução.

O personagem principal do Bhagavad-Gita é Krishna, um rajá indiano e um Avatar, quer dizer, a encarnação de uma Parte do Criador, Quem, através de Krishna, transmitiu às pessoas os pre-ceitos espirituais maiores.

As verdades filosóficas se expõem no Bhaga-vad-Gita na forma de um dialogo entre Krishna e Seu amigo Arjuna antes de uma batalha.

Arjuna estava preparando-se para esta du-rante muito tempo. Não obstante, ao encontrar-se de frente com os guerreiros do exercito inimigo, reconheceu neles a seus próprios parentes e anti-gos amigos, de modo que, influenciado por

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Krishna, começou a duvidar sobre seu direito a participar daquela batalha e compartilhou suas duvidas com Ele.

Krishna o respondeu dizendo-lhe: Olha, quantas pessoas se reuniram aqui para dar suas vidas por ti, e a batalha já é, na verdade inevitá-vel!1 Como podes tu, quem trouxe estas pessoas para morrer, abandoná-las no último momento? És um guerreiro profissional e tomaste as armas, assim que luta pela causa justa? E compreende que a vida de cada um de nós no corpo é só um lapso da verdadeira vida! O homem não é um corpo e não more com a morte de seu corpo. Nes-te sentido, nada pode matar e nada pode ser as-sassinado!

Arjuna, intrigado pelas palavras de Krishna, O fez mais perguntas. De Suas respostas resulta que, claro, um não pode recorrer o Caminho até a Perfeição mediante assassinatos, mas mediante o amor, o qual pode ser desenvolvido primeiro até os aspectos “manifestados” de Deus-Absoluto e logo até o Criador Mesmo.

As respostas de Krishna formam a essência do Bhagavad-Gita, um dos maiores livros pela

1 Antes disto Krishna pessoalmente havia dirigido

as negociações de paz com a outra parte propondo-lhes devolver aquilo que não lhes pertencia sem der-ramamento de sangue. Porém, eles se negaram. E mais, tentaram matar ao mensageiro Krishna. Contu-do, Ele criou uma visão de um exercito inumerável O guardavam, e os inimigos se retiraram.

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profundidade de sua sabedoria e pela amplitude dos problemas fundamentais cobertos.

Existem diversas traduções do Bhagavad-Gita para russo. Entre estas, a tradução de A. Kamenskaya e I. Mantsiarly [9] transmite da me-lhor maneira o aspecto meditativo das declara-ções de Krishna. Porém, cabe mencionar que mui-tos pensamentos do texto foram traduzidos pela metade.

A tradução de V.S. Sementsov [10] é um in-tento bem sucedido de reproduzir a estrutura poética do Bhagavad-Gita sânscrito.

O texto de fato, foi como uma canção, mas pela exatitude da tradução declinou em alguns casos.

A tradução feita pela “Sociedade para a Consciência de Krishna” tem a vantagem de estar acompanhada pelo texto em sânscrito (incluindo a transliteração) Mas o conteúdo está muito detur-pado.

A tradução redatada por B.L. [12] Smirnov pretende ser, segundo a intenção dos tradutores, muito exata, usando, ao mesmo tempo, uma lin-guagem tipo “seca”. De todo modo, nesta tradu-ção, assim como nas outras mencionadas, muitas declarações importantes de Krishna foram incom-preendidas pelos tradutores e, portanto, traduzi-das incorretamente. Os erros típicos desta classe são, por exemplo, a interpretação da palavra “Atman” como “o menor dos menores” no lugar de “o mais sutil, dos mais sutis” ou a tradução a palavra “buddhi” como “a mente suprema”, “o

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pensamento puro” e assim, em vez de “a consci-ência”. Só aqueles tradutores que alcançaram os escalões mais altos do yoga poderiam evitar este tipo de erros.

Aqui lhes apresentamos uma nova edição do Bhagavad-Gita.

Glossário de termos sânscritos

Atman é a essência do homem ou, em outras palavras, aquela parte de seu organismo multidi-mensional que se encontra na dimensão espacial mais alta e que deve ser conhecida (ver mais de-talhes em [6]).

Brahman é o Espírito Santo. Buddhi yoga é o sistema dos métodos para o

desenvolvimento da consciência posterior ao raja yoga.

Varnas são as escalas evolutivas do desen-volvimento do homem que correspondem a seu papel social: sudras são servos; vaishias são co-merciantes, campesinos ou artesãos; xátrias são chefes ou guerreiros; brâmanes, no significado original desta palavra, são aqueles que alcança-ram o estado de Brahman. Na Índia e em alguns outros países, o pertencimento à um ou outro varna era herdado por nascimento, o que foi im-pugnado por muitos pensadores e negado por Deus (ver mais adiante no texto).

Gunas é a terminologia que designa, primeiro que nada, certa combinação de qualidades das almas humanas. Existem três gunas: tamas é a

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estupidez, a ignorância, rajas é a energia, o cará-ter apaixonado e sattva é a harmonia e a pureza. Cada pessoa, evoluindo, deve ascender por estas gunas-escalas e depois ir mais a frente2. Para isto é necessário adquirir primeiro as qualidades pró-prias da guna rajas e logo da guna sattva.

Guru é um mestre espiritual. Dharma é a lei objetiva da vida, a predesti-

nação e o caminho do homem. Indriyas são os “tentáculos” que “estiramos”

até os objetos de percepção e reflexão mediante nossos órgãos dos sentidos, assim como mediante a mente e o buddhi.

Ishvara é Deus Pai, o Criador, Alá, Tao (no significado taoísta desta palavra), a Consciência Primordial, Adi-Buda.

Yoga é o equivalente sânscrito da palavra la-tina religião, a que significa: conexão com Deus, métodos para a aproximação com Ele ou União de uma pessoa com Deus. Podemos falar do yoga como a) do Caminho e dos métodos do desenvol-vimento religioso e b) do estado de União com Deus (neste caso, esta palavra se escreve com maiúscula).

Maya é a Ilusão Divina ou, em outras pala-vras, o mundo material que nos parece indepen-dente, autônomo, existente por si mesmo.

Manas é a mente. Mahatma é o Gran Atman, é dizer, uma pes-

soa que tem uma consciência altamente desen-

2 Mais adiante no texto podem encontrar detalhes

adicionais a respeito.

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volvida, uma pessoa evolutivamente madura e sábia.

Muni é um sábio. Paramatman é o Único e Supremo Atman Di-

vino, os mesmo que Ishvara. Prakriti é a matéria cósmica (no sentido ge-

ral). Purusha é o espírito cósmico (no sentido ge-

ral). Rajá é o governante, o rei. Rishi é um sábio.

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Bhagavad-Gita

Conversação 1. Desespero de Arjuna

Dhritarashtra disse: 1:1 No campo de Dharma, no sagrado campo

dos Kuru, meus filhos e os filhos de Pandu se reu-niram ansiando brigar. Que estão fazendo meus filhos3 e que estão fazendo os filhos de Pandu, oh Sanjaya4?

Sanjaya contestou: 1:2 Vendo as hostes de Pandavas alinhando-

se rajá Duriodhana se aproximou de seu guru Drona e lhe disse:

1:3 Olhe, ó mestre, que exército tão podero-so dos filhos de Pandureuniu o filho de Drupada, teu discípulo sábio!

1:4 Aqui estão os lutadores e os arqueiros magníficos, iguais a Bhina e a Arjuna na batalha. São Yuyudhana, Virata e Drupada, quem maneja um carro grande de guerra,

3 Dhritarashtra y Pandu são os cabeças das famí-

lias beligerantes, os Kauravas e os Pandavas. Arjuna pertence à familia dos Pandavas.

4 Sanjaya é o clarividente que narra ao cego Dhri-tarashtra o que sucede no campo de batalha. A clari-vidência foi dada a ele por Vyasa.

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1:5 Dhrishtaketu, Chekitana, o rajá Valente Kashi Purujit, Kuntibhoja e Shaivya, touros entre os homens,

1:6 o poderoso Yudhamaniu, o intrépido Ut-tamoja, o filho de Saubhadra, e os filhos de Dru-pada, todos em grandes carros de guerra.

1:7 Conheça também a nossos chefes, os lí-deres de meu exército, ó, o melhor das duas ve-zes nascidos5. Seus nomes são:

1:8 tu mesmo, ó Senhor, os vitoriosos Brishma, Karna e

Kripa, também Ashbatthama, Vikarna e o fi-lho de Somadatta,

1:9 assim como muitos outros heróis dispos-tos a dar suas vidas por mim e armados de uma maneira variada. Todos são guerreiros experi-mentados,

1:10. Parecem-me insuficientes nossas forças, ainda que estejam encabeçadas por Bhishma, e me parecem suficientes suas forças, ainda que es-tejam encabeçadas por Bhima.

1:11. Que todos os que estão de pé nas filas de seus exércitos, e vocês, chefes, protejam a Bhishma.

1:12. Para animar a Duriodhana, e maior dos Kurus, o glorioso Bhishma, soprou seu búzio que soava como rugido de leão.

1:3. Em seguida, como resposta, começaram a trovar os búzios e as baterias, os tambores e os cornos, e produziu-se um terrível estrondo.

5 Os representantes dos varnas mais altos.

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1:14. Então, estando de pé em seu grande carro de guerra, levado por cavalos brancos, Madhava 6 e Pandava 7 , começaram a assoprar seus búzios divinos.

1:15. Hrishikesha 8 soprou o Panchajania e Dhananjaya soprou o Devadatta9, enquanto que o temível por suas façanhas. Vrikodara soprou o Manipuhpaka!

1:17. O grande arqueiro Kashiaya, e o pode-roso guerreiro Shikhandi, em seu carro de guerra, os invencíveis Dhristadiumna, Virata e Satiaki,

1:18. Drupada e seus filhos, o poderosamen-te armado filho de Saubhadra, todos sopraram seus búzios, ó senhor da Terra!

1:19. Este terrível rugido comoveu os cora-ções dos filhos de Dhritarashtra, enchendo o céu e a terra de trovões.

1:20. Então, vendo aos filhos de Dhritaras-htra preparando-se para a batalha, Pandava, cujo casco tinha a imagem de um mono, subiu seu ar-co

1:21. e disse o seguinte dirigindo-se a Hris-hikesha, o Senhor da Terra:

1:22. Entre dois exércitos está meu carro de guerra, ó Inquietável. Eu vejo aqui aos guerreiros reunidos para a batalha, guerreiros com quem devo lutar neste combate duro;

6 Este e outros nomes são epítetos d Krishna. 7 Este e outros nomes são epítetos de Arjuna. 8 Este e outros nomes são epítetos d Krishna. 9 Os epítetos das conchas de batalha dos guerrei-

ros nomeados.

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1:23. Eu vejo aqui aos que anseiam agradar ao filho astuto de Dhritarashtra.

Sanjaya disse: 1:24. Ao ouvir aquelas palavras de Arjuna, ó

Bharata, Hrishkesha deteve seus magnifico carro de guerra entre os dois exércitos.

1:25. E, apontando a Bhishma, a Drona e a todos os outros governadores da terra, disse: Ó Partha, olha a estes Kurus reunidos!

1:26. Então Partha veio ao país, aos avós, aos gurus, aos tios, aos primos, aos filhos, aos netos, aos amigos,

1:27. Aos sogros e aos antigos companheiros, uns frente a outros, levados as hostes inimigas. Observando a todos estes parentes alinhando-se Arjuna, apoderado de uma comiseração profunda, disse com dor:

1:28. Ó Krishna! Vendo a meus parentes ali-nhando-se para o combate e desejosos de brigar,

1:29. Minhas pernas fraquejam, minha gar-ganta se resseca, meu corpo treme, meus pelos se põem de ponta.

1:30. Gandiva10 cai de minhas mãos, toda mina pele arde, não posso estar de pé e mina ca-beça dá voltas!

1:31. Vejo os presságios funestos, ó Keshava, e no presente nenhum bem desta guerra fratricida!

1:32. Não desejo a vitória, ó Krishna, nem o reino, nem os prazeres. De que nos servem o rei-no, ó Govinda, os prazeres mundanos ou a vida mesma,

10 O arco de Arjuna.

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1:33. Se aqueles para quem desejamos o reino, a felicidade e os prazeres estão aqui, pron-tos para o combate, havendo renunciado a sua vida e a sua riqueza,

1:34. Mestres, país, filhos, avós, tios, sogros, netos, cunhados e outros parentes?

1:35. Não quero assassiná-los a pesar de que por ele eu mesmo possa ser assassinado, ó Mad-husudana! Não quero fazê-lo nem sequer sem isto me desse o poder sobre os três mundos11! E como decidir-se a fazê-lo pelo poder terreno?

1:36. Que satisfação para nós pode dar a matança de estes filhos de Dhritarashtra, ó Ja-nardana? Cometermos um grande pecado assas-sinando a estes rebeldes.

1:37. Não devemos assassinar aos filhos de Dhritarashtra, nossos parentes! Havendo assassi-nado a nossos parentes, como poderemos ser fe-lizes ó Madhava?

1:38. Se suas mentes, ofuscadas pela cobiça, não veem o mal em destruir os fundamentos fa-miliares e não vem o crime a inimizade entre os amigos,

1:39. Por que nós, quem vemos o mal em tal destruição, não compreendemos e não rejeitamos a este pecado ó Janardana?

1:40. Com a destruição da família, suas tra-dições perpetuam perecem e com sua destruição, a arbitrariedade se apodera de toda a família;

11 Os três mundos são a dimensão espacial do Cri-

ador, a do Brahman e o mundo da matéria.

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1:41. Com o predomínio da arbitrariedade, ó Krishna, as mulheres da família se depravam e da depravação das mulheres surge a mistura dos varnas.

1:42. Tal mistura assegura o inferno para os assassinos da família e para a família mesmo, porque seus antepassados perdem suas forças pela falta das oferendas de arroz e agua.

1:43. O pecado destes assassinos, que cau-saram a mistura dos varnas, destrói os costumes familiares e os de casta.

1:44. E os que destruíram os costumes fami-liares permanecem para sempre no inferno, ó Ja-nardana. Assim ouvimos.

1:45. Ai! Pelo desejo de possuir o reino, es-tamos dispostos a cometer um grande pecado: estamos dispostos a matar nossos próprios paren-tes rebeldes!

1:46. Se eu, desarmado e sem opor resistên-cia, for assassinado no combate pelos filhos ar-mados de Dhritarashtra, será mais fácil para mim.

Sanjaya disse: 1:47. Ao dizer isto no campo de batalha, Ar-

juna, cheio de pesar, se deixou cair no assento de seu carro de guerra e botou seu arco e flechas.

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a primeira conver-sação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Desespero de Arjuna.

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Conversação 2. Samkhya yoga

Sanjaya disse: 2:1. A ele, sobrecarregado pelo pesar, com

os olhos cheios de lágrimas, sumido no desespero, Madhsudana o disse:

2:2. De onde viste e como se apoderou de ti no momento de perigo este desespero que fecha as portas do paraíso e que é tão vergonhosa e in-digna de um ario, ó Arjuna?

2.3. Não ceda a fraqueza, ó Partha! Sacuda a covardia depreciável, recobra o ânimo, ó Paranta-pa!

Arjuna disse: 2:4. Ó Madhusudana! Como vou a lançar lhes

as flechas a Bhishma e Drona, àqueles que mere-cem um respeito profundo, ó Conquistador dos inimigos?

2:5. Em verdade, é melhor alimentar-se da esmola, como um pobre, que assassinar a estes grandes gurus! Havendo assassinado a estes ve-neráveis gurus, comerei o alimento manchado com seu sangue!

2:6. E não sei que seria melhor para nós: ser vencidos ou vencer àqueles que estão contra nós, os filhos de Dhritarashtrea, com a morte de quem, nós mesmos perderemos a vontade de viver!

2:7. Com o coração atravessado pela tristeza e com a mente ofuscada, eu não vejo mais meu dever. Rogo-te que me digas certamente que é melhor! Sou Teu discípulo e Te rogo! Ensina-me!

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2:8. Não espero que a angústia ardente que queimou meus sentimentos seja apagada pelo al-cance do poder superior na Terra ou ainda pelo domínio sobre os deuses!

Sanjaya disse: 2:9. Havendo pronunciado aquelas palavras

dirigidas a Hrishikesha, Gudakesha, o destruidor dos inimigos, anunciou: “Não vou lutar”, e se ca-lou.

2:10. Permanecendo de pé entre os dois exércitos, Hrishkesha, dirigiu-se com um sorriso ao desesperado Arjuna e lhe disse:

2:11. Estás afligindo-se por aquele pelo que não há que afligir-se, ainda disse palavras de sa-bedoria. Mas os sábios não se afligem nem pelos vivos nem pelos mortos!

2:12. Pois em verdade, não houve tempo no que Eu ou tu ou estes soberanos da terra não ha-víamos existido e, certamente, tampouco deixa-remos de existir no futuro.

2:13. Assim como aquele que vive no corpo passa a infância, o amadurecimento e a velhice, da mesma maneira este deixa de ser seu corpo e passa a outro. Uma pessoa forte não se entristece por ele.

2:14. O contato com a matéria, ó Kaunteya, dá calor ou frio, prazer ou dor. Estas sensações são transitórias, chegam e se vão. Suporta-as com coragem, ó Bharata!

2:15. Quem não sofre a causa destas, ó o melhor dos homens, e permanece uniforme e

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inalterável ante a felicidade e ante a desgraça é capaz de alcançar a Imortalidade.

2:16. Hás de saber que o transitório, o pere-cível não tem uma verdadeira existência e, pelo contrario, o eterno, o imperecível não tem inexis-tência. Os que penetraram na essência das coisas e veem a verdade discernem tudo isto.

2:17. Recorda também que nada pode des-truir Àquele Que satura o universo inteiro e nunca será possível levá-lo à morte! Este, o Eterno e Imperecível, não está sobre o domínio de nada.

2:18. Só os corpos de um ser encarnado são perecíveis, mas este ser é eterno, indestrutível. Assim que luta, ó Bharata!

2:19. Quem pensa que pode assassinar e quem pensa que pode ser assassinado, ambos se equivocam! O homem não pode assassinar nem pode ser assassinado!

2:20. Nem aparece nem desaparece; uma vez que obtém a existência não deixa de ser. Sendo uma alma imortal, não perece quando as-sassinam seu corpo!

2:21. Quem sabe que o homem é uma alma indestrutível, eterna e imortal, como pode assas-sinar, ó Partha, ou ser assassinado?

2:22. Assim como o homem deixa sua roupa velha e põe uma nova, da mesma maneira deixa seu corpo desgastado e se veste com um novo.

2:23. As armas não o cortam, o fogo não o queima, a agua não o molha, o vento não o seca.

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2:24. Pois é impossível cortar, queimas, mo-lhar o secar àquele que não é suscetível de ser cortado, queimado, molhado ou seco.

2:25. O chamam não manifestado, sem for-ma, imperecível.

Sabendo isto, não deves afligir-te! 2:26. Ainda sim o considerarás como aquele

que nasce e more perpetuamente, mesmo assim, ó poderosamente armado, não deverias afligir-te!

2:27. Em verdade, a morte é inevitável para quem nasceu e o nascimento é inevitável para quem morreu! Não lamentes o inevitável!

2:28. Os seres não são manifestados antes de sua manifestação material, nem tampouco são manifestados depois desta, senão que só no meio são manifestados, ó Bharata! Por que te afliges então?

2:29. Uns consideram a alma como um mila-gre, outros falam desta como de um milagre e também existem aqueles que, havendo chegado a saber sobre a alma, não podem compreender o que isto significa.

2:30. Um ser encarnado nunca pode ser as-sassinado, ó Bharata! Por isso não te aflijas por nenhuma criatura assassinada!

2:31. Considerando teu próprio dharma, não deves vacilar, oh Arjuna! Verdadeiramente, para um xátria não há nada mais desejado que uma guerra justa!

2:32. Felizes são, oh Bharata, aqueles xátrias que podem participar em tal batalha! Esta é como as portas abertas do Céu!

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2:33. Mas se tu não entras agora na batalha justa, negando assim teu dharma e honra, então assumirás o pecado.

2:34. Todos os viventes saberão sobre tua eterna desonra. E para um glorioso a desonra é pior que a morte!

2:35. Os grandes caudilhos nos carros de guerra pensarão que o medo te fez fugir do cam-po de batalha. E tu, tão altamente respeitado por eles, será depreciado.

2:36. Teus inimigos dirão muitas palavras in-dignas questionando tua valentia. Que pode ser mais doloroso?

2:37. Sendo assassinado, irás ao paraíso, havendo triunfado, desfrutarás da Terra! Assim que te levanta, ó Kaunteya, e prepara-te para combate!

2:38. Reconhecendo como iguais a alegria e a aflição o êxito e o fracasso, a vitória e a derrota, entra na batalha! Assim evita-las o pecado!

2:39. Declarei para ti os ensinamentos de samkhya sobre a consciência. Agora escuta como se pode conhecer isto mediante o buddhi yoga12. Ó Partha, o buddhi yogga é o meio com a ajuda do qual poderás romper as cadeias dharma!

2:40. No caminho deste yoga, no há perdidas. Inclusive um pequeno avanço ali salvo de um grande perigo.

2:41. A vontade de uma pessoa decidida se dirige a esse propósito! Do contrario, os impulsos

12 O sistema dos métodos para o desenvolvimento

da consciencia que conduz à união com o Criador.

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do indeciso se ramificam infinitamente, ó alegria de Kuru!

2:42. Floridas são as palavras das pessoas não sábias que seguem os Vedas13 ao pé da letra, ó Partha; elas dizem, ”além disto, não há nada14!”

2:43. Suas mentes estão cheias de desejos, sua meta mais alta é o paraíso, sua preocupação é uma boa reencarnação, todas suas ações e ritu-ais estão realizadas unicamente para conseguir prazer e poder.

2:44. Para aqueles que estão apegados aos prazeres e ao poder, que estão ligados com isto, a vontade decidida, dirigida firmemente até o Sa-madhi, é inacessível!

2:45. Os Vedas ensinam sobre as três gunas! Eleva-te sobre estas, ó Arijuna! Seja libre da dua-lidade15 e permanecem constantemente em har-monia, indiferente as posses terrenas e arraigado no Atman!

2:46. Para aquele que conheceu ao Brahman, os Vedas são tão úteis como um estanque peque-no em uma área inundada!

2:47. Considera só o trabalho que fazer e não as recompensas que receberás por havê-lo feito! Que não seja teu impulso obter as recom-

13 Os Vedas são os livros antigos que determina-

vam a cosmovisão pagã dos hinús antes da vinda de Krishna.

14 É dizer, além do que é declarado nos Vedas. 15 A orientação feita a verdadeira e falsa meta ao

mesmo tempo.

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pensas de tua atividade! Mas tampouco te entre-gues à inatividade!

2:48. Renunciando o apego à recompensa por teu trabalho, faz-te igualmente equilibrado tanto durante os êxitos como durante os fracas-sos, ó Dhananjaya! O yoga se caracteriza pelo equilíbrio!

2:49. Rechaçando incessantemente a ativi-dade desnecessária com a ajuda do buddhi yoga, ó Dhananjaya, aprende a controlar-te como uma consciência. Miseráveis são aqueles que atuam só a causa da recompensa por sua atividade!

2:50. Quem se entrega por completo ao tra-balho com a consciência não obtém mais as con-sequências kármicas boas ou más de sua ativida-de! Assim que te entregas ao yoga! O yoga é a arte da atividade!

2:51. Os sábios que se dedicaram ao traba-lho com a consciência se liberam da lei do karma e da necessidade de se encarnar de novo, obten-do a liberação total do sofrimento!

2:52. Quando tu — como consciência — te li-bertas das redes da ilusão, serás indiferente ao que tenhas ouvido e ao que ouvirás16.

2:53. Quando deixas de ser encantado pelos Vedas e te estabeleças na tranquilidade do Sa-madhi, então alcançarás o Yoga.

Arjuna disse: 2:54. Qual é o indício da pessoa que tem

acalmado seus pensamentos e que estabeleceu

16 É dizer, teu próprio conhecimento será completo.

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no Samadhi, ó Keshava? Como fala? Como cami-nha e se senta?

O Senhor Krishna disse: 2:55. Quando uma pessoa renunciou a todos

os desejos sensuais, ó Partha, e havendo pene-trado profundamente no Atman, encontrou ali a satisfação, então se denomina firme na sabedoria.

2:56. Aquele cuja mente é tranquila em meio às aflições, quem é imperturbável em meio aos prazeres, o medo e a ira, quem é firme nisto, se chama muni.

2:57. Quem não está apegado a nada terreno, quem o encontrar-se com algo agradável ou de-sagradável, não se regozija nem o detesta, se es-tabeleceu no conhecimento verdadeiro.

2:58. Quando esta pessoa desprende suas indriyas dos objetos terrenos, como uma tartaru-ga que esconde suas patas e sua cabeça, então foi alcançada a compreensão verdadeira.

2:59. Aquele que se pôs no caminho do de-sapego se libera dos objetos dos sentidos, mas não do gosto por estes! Contudo, até o gosto por estes desaparece naquele que conheceu o Su-premo!

2:60. Ó Kaunteya! Os indriyas agitados ar-rastam até a mente de uma pessoa perspicaz que tenta controlá-los.

2:61. Depois de domar todos seus indriyas, que esta pessoa entre em harmonia propondo-se como a Meta Mais Alta o alcançar-me a Mim! Pois só aquele que sabe controlar suas indriyas possui a compreensão verdadeira!

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2:62. Se um regressa mentalmente aos obje-tos terrenos, então inevitavelmente se regenera o apego a estes. Do apego nasce o desejo de tê-los, e da impossibilidade de satisfazer tais desejos surge a ira.

2:63. A ira causa a deformação total da per-cepção, e tal deformação causa a perda da me-mória17. A perda da memória causa a perda da energia da consciência. Perdendo a energia da consciência, um se degrada.

2:64. Não obstante, quem dominou suas in-driyas, rejeitado as ânsias e a aversão e se dedi-cou ao Atman obtém a pureza interior!

2:65. Ao obter a pureza, se põe fim ao sofri-mento e a consciência se fortalece muito rápido18.

2:66. Não pode possuir uma consciência de-senvolvida aquele que está desordenado. Não há para tal pessoa nem felicidade nem paz. E sem estas por acaso será possível experimentar o êx-tase?

2:67. A mente daquele que cede ante a pres-são de suas paixões está arrastada como um bar-co pela tormenta!

2:68. Por isso, ó poderosamente armado, aquele cujos indriyas estão completamente sepa-rados dos objetos terrenos tem a compreensão verdadeira!

17 A memoria de seus próprios alcances anteriores. 18 É dizer, sua “cristalização” tem lugar, ou em ou-

tras palavras, o processo do crescimento da consciên-cia.

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2:69. O que é uma noite para todos, para um sábio é o tempo de estar desperto e, pelo contra-rio o resto está desperto, chega a noite para um muni perspicaz19.

2:70. Se um não se excita pelos desejos sen-suais, da mesma maneira com o oceano não se agita pelos rios que desembocam nele, então ob-tenha a tranquilidade. Pelo contrario, quem tenta satisfazer seus desejos não a alcança.

2:71. Só aquele que rejeitou seus desejos até tal grado e caminha adiante sendo livre das paixões, da cobiça e do ego obtém tranquilidade!

2:72. Assim é o estado de Brahman, ó Partha! Quem o tiver alcançado não se engana. E quem o alcança, ainda que seja em sua última hora, ob-tém o Nirvana do Brahman.

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a segunda conver-sação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Samkhya yoga.

Conversação 3. Karma yoga

Arjuna disse: 3:1. Se Tu afirmas que o caminho do conhe-

cimento está muito por cima do caminho da ação,

19 Não há de entendê-lo no sentido literal, mas sim

alegóricamente.

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ó Jardana, por que então me induzes a uma ação tão horrorosa?

3:2. Com palavras incompreensíveis estás perturbando meu entendimento! Revela-me cla-ramente como posso alcançar o êxtase!

O Senhor Krishna disse: 3:3. Como o disse antes, ó puro, existem du-

as possibilidades para o desenvolvimento: o yoga da reflexão e o yoga da ação correta.

3:4. Um não alcança a liberação das cadeias do destino rejeitando a ação a ação. Só rejeitando, não ascende até a Perfeição.

3:6. Nada pode, nem sequer por um momen-to, permanecer verdadedeiramente inativo, posto que as propriedades da prakriti obriguem a todos a atuar!

3:7. Mas aquele que aprendeu a controlar suas indriyas e realiza o karma yoga livremente é digno de admiração!

3:8. Assim que realizada as ações virtuosas, pois a atividade é melhor que a inatividade! Per-manecendo inativo, nem sequer é possível manter o próprio corpo!

3:9. As pessoas mundanas se escravizam pe-la atividade sem esta não se realiza como um sa-crifício. 20 Realiza tuas ações como oferendas a Deus, permanecendo livre dos apegos ao terreno, ó Kaunteya!

20 Em outras palavras, as ações devem se realizar

não para um mesmo, e sim para Deus, como atos de participação em Sua Evolução.

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3:10. Deus criou a humanidade junto com a lei do espírito de sacrifício. Ao fazê-lo, disse: “Flo-resçam através do espirito de sacrifício! Que isto não seja o que vocês desejam!

3:11. Com seu espirito de sacrifício satisfa-çam ao Divino, e então o divino os satisfará à vo-cês! Atuando por Sua causa alcançarão o bem su-perior,

3:12. Já que o divino, sendo satisfeito com seus espirito de sacrifício, lhes enviará todo o ne-cessário na vida!”. Na verdade, quem não res-ponde com presentes aos presentes recebidos é um ladrão!

3:13. Os virtuosos que se alimentam do que ficou de suas oferendas para Deus se liberam dos pecados. Em troca, aqueles que se preocupa so-mente com sua própria comida se alimentam do pecado!

3:14. Graças à comida, os corpos dos seres crescem. De a chuva aparece a comida, e a chuva aparece como consequência do espirito de sacrifí-cio21. O espirito de sacrifício é a realização das ações corretas.

3:15. Hás de saber que o Brahman realiza o cumprimento dos destinos. O Brahman representa ao Primordial e sendo Único, sempre apoia o espi-rito de sacrifício nas pessoas!

3:16. Quem na Terra não segue esta lei do espirito de sacrifício quem, devido a isto, tem

21 É dizer, como resultado da conduta correta das

pessoas.

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uma vida cheia de pecado e vive somente para os prazeres sensuais vive em vão, ó Partha!

3:17. Somente quem encontrou a alegria e a satisfação em Atman e está feliz somente ali é li-vre dos deveres terrenos.

3:18. Esta pessoa não está obrigada a fazer ou não fazer algo neste mundo e em nenhuma criatura busca o amparo para alcançar seu propó-sito.

3:19. Por isso cumpre permanentemente com teus deveres sem esperar recompensa algu-ma! Pois, em verdade, realizando ações desta maneira, alcançarás o Supremo!

3:20. Em verdade, Janaka e outros alcança-ram a Perfeição através de tal atividade! Atua as-sim e tu também, acordando-te da integridade do Absoluto!

3:21. E o que a melhor pessoa faz, os demais fazem: a gente segue seu exemplo.

3:22. Ó Partha, não há nada nos três mun-dos que eu deva fazer o que não havia alcançado! Ainda assim estou atuando constantemente.

3:23. Pois se eu no estivera atuando sempre, as pessoas por todas as partes haviam começado a seguir Meu exemplo!

3:24. O mundo havia sido destruído se Eu houvesse deixado de atuar! Haveria sido Eu a causa da mescla dos varnas e da destruição dos povos.

3:25. Uma pessoa não sábia atua por inte-resse, ó Bharata! Em troca, o sábio atua sem in-teresse, para o bem dos demais!

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3:26. O sábio não deve perturbar às pessoas não sábias apegadas a atividade mundana! Porém deve tratar de harmonizar cada atividade delas Comigo!

3:27. Todas as ações dimanam das três gu-nas mas o homem, deixando-se seduzir pelo amor próprio, crê: “Eu sou o que atua!”

3:28. Em troca, quem conhece a essência da distribuição das ações segundo as gunas, ó pode-roso, e recorda que “as gunas giram nas gunas” se libera do apego a atividade mundana.

3:29. As pessoas enganadas pelas gunas es-tão atadas aos assuntos destas gunas. Aqueles cuja compreensão é ainda tão incompleta e aos preguiçosos, o sábio não os perturba.

3:30. Deixe-me o controle sobre todas as ações, submerja-se no Atman sendo livre da cobi-ça e o egoísmo, encontrei a tranquilidade e em seguida luta, ó Arjuna!

3:31. Aquelas pessoas que seguem Meus En-sinamentos firmemente e que estão cheias de de-voção e livres da inveja não serão encadeadas por suas ações jamais!

3:32. Do contrario, aqueles dementes que estão desprovidos da compreensão e que não se-guem Meus Ensinamentos blasfemando-os estão condenados!

3:33. As pessoas razoáveis tratam de viver em harmonia com o mundo de prakriti. Todos os seres encarnados formam parte desta! Para que então se opor à prakriti?

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3:34. A atração e a aversão aos objetos (ter-renos) dependem da distribuição dos indriyas. Não sucumbas nem à uma nem à outra! Na ver-dade, estes são obstáculos no Caminho!

3:35. O cumprimento de teus próprios deve-res, ainda que sejam simples, é melhor e o cum-primentos dos deveres alheios, ainda que sejam os mais elevados. É melhor terminar encarnação cumprindo teu próprio dharma! O dharma alheio está cheio de perigo!

Arjuna disse: 3:36 Mas o que é que empurra o homem pa-

ra o pecado e contra sua vontade, ó Varshneya? Verdadeiramente, é como se existisse uma força misteriosa que o empurrara!

O Senhor Krishna disse: 3:37. É a paixão sexual, é a ira. Ambas são

engendro da guna rajas, a guna insaciável, peca-minosa. Estuda-as, estuda as inimigas maiores do homem na Terra!

3:38. Como uma chama oculta pelo fumo, como um espelho coberto de pó, como um em-brião envolto no âmnio, da mesma maneira tudo no mundo está envolto nas paixões humanas!

3:39. A sabedoria também está oculta por seu inimigo eterno: o desejo do mundano insaciá-vel como uma chama!

3:40. O buddhi e os indriyas, incluindo a mente, são seu âmbito. Através destes, encobrin-do a sabedoria, o desejo delude ao que habita no corpo.

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3:41. Por conseguinte, aprendendo a contro-lar tuas indriyasa, ó o melhor dos /bharatas, re-freia exatamente esta fonte do pecado, o qual é o inimigo do conhecimento e o destruidor da sabe-doria!

3:42. Diz-se que o controle sobre os indriyas o magnífico!

Os indryas mais altos são os indriyas da mente. Mas a consciência desenvolvida está muito acima da mente. E muito mais acima da consciên-cia (humana individual) desenvolvida por Ele!

3:43. Havendo compreendido que Ele é mui-to acima da consciência (humana) desenvolvida e havendo-te estabelecido no Atman, mata, ó pode-roso, a este inimigo que se apresenta abaixo na forma do desejo, dificilmente superável, dos bens terrenos.

Assim em gloriosos Upanishads do bendito Bhaavad-Gira, a ciência sobre o Eterno, Escritura do yoga, está anunciada a terceira conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Karma Yoga.

Conversação 4. Yoga da sabedoria

O Senhor Krishna disse: 4:1. Este yoga eterno Eu o revele a Vivasvan;

Vivasvan o transmitiu a Manu; e Manu o transmi-tiu a Ikshvaku.

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4:2. De esta maneira os reis-sábios aprende-ram o um do outro, mas com o passar do tempo o yoga na Terra decaiu, ó Parantapa.

4:3. Este mesmo yoga antigo Eu te revelei agora, porque és fiel a Mim e és Meu amigo. No yoga o mistério mais alto se abre!

Arjuna disse: 4:4. Vivasvan havia nascido antes de Ti. As-

sim como devo compreender que Tu lhe revelaste primeiro os Ensinamentos?

O Senhor Krishna disse: 4:5. Tu e Eu tivemos muitos nascimentos no

passado, ó Arjuna. Eu conheço todos estes, mas tu não conhecer os teus, ó Parantapa!

4:6. Ainda que sou o Atman eterno e impere-cível e ainda que sou Ishvara, dentro da prakriti que depende de Mim, Eu Me manifesto através de Minha maya.

4:7. Quando a retidão (na Terra) decai, ó Bharata, e a injustiça começa a reinar, Eu Me ma-nifesto22.

4:8. Para salvar aos bons, derrotar aqueles que fazem o mal e restaurar o dharma, Eu Me manifesto assim século após século.

4:9. Quem realmente conheceu a essência de Minhas Aparições milagrosas, deixando seu corpo, não se encarna de novo, quem que se una Comi-go, ó Arjuna!

4:10. Havendo-se libertado dos apegos falsos, do medi, e da ira e havendo conhecido Minha

22 Em um corpo como um Avatar.

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Existência, muitos, purificados no Fogo da Sabe-doria, obtém o Grande Amor por Mim.

4:11. Assim como as pessoas marcham a Mim, da mesma maneira Eu as recebo. Pois os caminhos pelos quais elas vêm desde todos os la-dos são Meus caminhos, ó Partha!

4:12. Aqueles que buscam o êxito em suas atividades terrenas adoram aos “deuses”. Eles podem obter o êxito rapidamente no mundo da matéria graças a tais ações.

4:13. De acordo com as gunas e as variantes das atividades das pessoas, Eu criei os quatro varnas. Hás de saber que Eu sou Seu criador, ainda que não atuo e permaneço sem me envol-ver nestas!

4:14. As ações não Me afetam, a recompensa por cumpri-las não Me seduz. Quem Me conhece assim não se complica nas consequências kármi-cas de sua atividade!

4:15. Os sábios que alcançaram a Libertação realizavam suas ações levando isto em conta. Re-aliza-as tu também seguindo o exemplo de teus predecessores!

4:16. “O que é a ação e o que é a não ação?”, até mesmo as pessoas razoáveis se confundem nisto. Explicarei-te para que possas libertar-te do erro.

4:17. É essencial compreender que há ações necessárias, ações desnecessárias e a não ação! Deverás orientar-se bem neste assunto!

4:18. Quem vê a não ação na atividade e a ação na inatividade é verdadeiramente consciente,

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e mesmo permanecendo envolvido nas atividades entre outras pessoas, permanece livre.

4:19. Os conhecedores dizem que as ações daquele cuja iniciativa estão libres de ânsias ter-renas e da busca da ganancia pessoal são purifi-cadas pelo fogo da consciência desenvolvida.

4:20. Havendo-se perdido o afinco por obter a ganancia pessoal, permanecendo sempre satis-feita, sem buscar o apoio em nenhum ser humano, tal pessoa permanece na não ação, ainda que atua constantemente.

4:21. Sem desejar a ganancia pessoa, ha-vendo suspendido seus pensamentos ao Atman, havendo renunciado às sensações tais como: “Es-te é meu!”, cumprindo seu dharma, tal pessoa não mancha seu destino.

4:22. Porque está satisfeita com o que lhe chega e é libre da dualidade, porque não tem in-veja e é desapegado durante o êxito e o fracasso, suas ações não a estorvam nem ainda quando as realiza.

4:23. Aquele que, havendo perdido os ape-gos ao material, alcançou a libertação das paixões terrenas, quem tem os pensamentos arraigados na sabedoria e quem realiza as ações só como oferendas sacrificiais a Deus, todas suas ações se unem com a harmonia do Absoluto inteiro.

4:24. A Vida do Brahman é sacrificial. O Brahman é um Sacrifício que chega tendo uma Aparência Chamejante. É possível conhecer ao Brahman só com Sua ajuda; ao fazê-lo, o devoto se submerge no Samadhi.

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4:25. Alguns yoguis creem que adorando aos “deuses”, eles fazem seus sacrifícios. Outros, em troca, realizam seu serviço sacrificial sendo o Fo-go Bramânico.

4:26. Existem também aqueles que sacrifi-cam seu ouvido e outros órgãos dos sentidos para refrear-se23, ou sacrificam o som e os demais ob-jetos dos sentidos que excitam os indriyas.

4:27. Outros queimam no Fogo do Atman to-da a atividade desnecessária dos indriyas e as energias que entram em seus corpos tratando de obter sabedoria.

4:28. Outros sacrificam seus bens ou fazem sacrifício através do ascetismo, através dos rituais religiosos, através da diligência nas ciências o u na obtenção do conhecimento ou através da ob-servância de votos austeros.

4:29. Outros entregam a energia que sai de seus corpos à que entra ou a que entra, à que sai. Outros, fazendo o pranayama, movem as energi-as que entram e saem.

4:30. Todos eles, ainda que sejam em apa-rência diferentes, entendem a essência do espirito de sacrifício e purificam seus destinos durantes tais atividades.

4:31. Os que se alimentam do néctar das so-bras que que ficaram de suas oferendas se apro-ximam da Morada do Brahman. Este mundo não é para aquele que não sacrifica, e quanto menos

23 É dizer, os desconectam de uma ou outra manei-

ra tratando de entregar-se à meditação completamen-te.

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para esta pessoa é tal o êxtase no outro mundo, ó o melhor dos Kurus!

4:32. As oferendas ao Brahman são numero-sas e diversas!

Hás de saber que todas estas nascem da ação! Depois de conhecer isto, serás livre!

4:33. Realizar um sacrifício com a própria sabedoria24 e melhor que qualquer sacrifício exte-rior, o destruidor dos inimigos! Todas as ações do sábio, o Partha, chegar a ser perfeitas!

4:34. Obtém, pois, a sabedoria através da devoção, a investigação e o serviço! Os sábios e clarividentes que penetraram na essência das coi-sas que te iniciaram nisto.

4:35. Ao conhecera-lo, já não te perturbaras tanto, o Pandeava, porque veras a todos os seres encarnados no mundo de maya desde o mundo do Atman.

4:36. Ainda que fosse o maior pecador de to-dos, poderia cruzar o abismo do sofrimento na barca da sabedoria!

4:37. Da mesma maneira como o fogo con-verte a lenha em cinzas, o fogo da sabedoria queima completamente todas as ações falsas!

4:38. No mundo não existe um melhor purifi-cador que a sabedoria! Através desta, aquele que e hábil no yoga encontra no tempo devido a Ilu-minação no Atman!

24 É dizer, realizar o serviço desinteressado a ou-

tras pessoas com o próprio conhecimento e experiên-cia se, estar apegado à ação.

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4:39. Quem esta cheio de fé obtém a sabe-doria. Quem aprende a controlar suas indriyas a obtém também. Depois de obtê-la, eles chegam rapidamente aos mundos superiores.

4:40. Pelo contrario, os ignorantes, os des-providos de fé e os vacilantes caminham ate a perdição! Para aqueles que duvidam não existe nem este mundo, nem o outro, nem a felicidade!

4:41. Quem como o yoga renunciou as ações falsas e com a sabedoria partiu suas duvidas, quem se estabeleceu no Atman não pode ser en-cadeado pelas ações, o Dhananjaya!

4:42. Por isso, cortando com a espada da sa-bedoria do Atman, qualquer duvida nascida da ig-norância, permanece no yoga, o Bharata!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o eterno, a Escri-tura do yoga, esta anunciada a quarta conversa-ção entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Yoga da sabedoria.

Conversação 5. Yoga do desapego

Arjuna disse: 5:1. Tu exaltas o sanniasa25, o Krishna, as-

sim como o yoga! Qual destes dois e preferível? Diga-me definitivamente!

25 O sanniasa é o mesmo que o monacato e implica

um estilo de vida desapegado do mundano em harmo-nia com Deus, um a um com Ele.

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O Senhor Krishna disse: 5:2. O sanniasa e o karma yoga te levaram

ao bem superior. Mas, em verdade, o karma yoga e preferível!

5:3. Conhece como o verdadeiro sanniasin aquele que não odeia a nada e não deseja o terno! Livre da dualidade, o poderosamente armado, tal pessoa se desfaz das cadeias com facilidade!

5:4. Também as crianças, e não os sábios, falam do samkhya e do yoga como de duas coisas diferentes. Mas quem é diligente pelo menos em um destes alcança os frutos de ambos!

5:5. O nível de avance alcançado pelos se-guidores de samkhya também e alcançado pelos yoguis. Tem razão aquele que vê que o samkhya e o yoga são um em essência!

5:6. Contudo, sim o yoga, o poderosamente armado, e realmente difícil alcançar o sanniasa! Em troca, o sábio dirigido pelo yoga alcança ao Brahman rapidamente!

5:7. Quem e persistente no yoga, quem através disto abriu para si o caminho ao Atman e se estabeleceu nEste, que conquistou suas indri-yas e conheceu a unidade dos Atmanes de todos os seres, ainda atuando, não caem na agitação.

5:8. “Eu não realizo ações desnecessárias!” isto e o que deve saber aquele que alcançou a harmonia e conheceu a verdade. Vendo, ouvindo, olhando, tocando, comendo, movendo-se, dor-mindo, respirando,

5:9. Falando, dando, recebendo, abrindo e fechando os olhos, esta pessoa deve ser conscien-

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te de que tudo isto são somente os indriyas que se movem entre os objetos.

5:10. Quem dedica suas ações ao Brahman realizando-as sem apego nunca será manchado com o pecado da mesma maneira sem apego nunca será manchado com o pecado, da mesma maneira como as folhas de lótus não se molham com a agua!

5:11. Havendo renunciado aos apegos ( as ações no mundo da matéria e a seus frutos), um yogui atua com o corpo, com a consciência e com os indriyas, incluindo os da mente, para o conhe-cimento de seu Atman.

5:12. Quem e equilibrado e renunciou a bus-car as recompensas por sua atividade obtém a paz perfeita. Pelo contrario, o desequilibrado, mo-vido por seus desejos terrenos e apegado a re-compensa, esta encadeado!

5:13. Havendo renunciado com sua razão as ações desnecessários, aquele que habita no corpo permanece tranquilamente nesta cidade de nove portas sem atuar e sem forcar nada a atuar.

5:14. Nem a atitude segundo a qual um con-sidera aos objetos como sua propriedade, nem a atividade desnecessária das pessoas, nem o ape-go aos frutos desta são criadas pelo Senhor do mundo, senão pela vida que se desenvolve na matéria.

5:15. O Senhor não é responsável pelos atos das pessoas, sejam estes bons ou maus. Esta sa-bedoria permanece envolta na ignorância nos er-ros das pessoas.

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5:16. Não obstante, para aquele que destruiu a ignorância com o conhecimento do Atman, esta sabedoria, brilhando como o Sol, revela o Supre-mo!

5:17. Aquele que se conheceu como um bu-ddhi, que se identificou com o Atman, que confia somente no Senhor e que encontra o refugio só nEle, caminha ate a Liberação sendo purificado pela sabedoria salvadora!

5:18. O sábio olha igualmente a um brahmán, adornado com o saber e a humildade, a um ele-fante, a uma vaca, a um cachorro e incluindo aquele que come um cachorro.

5:19. Aqui na Terra o nascimento e a norte são conquistados por aquela pessoa cuja mente esta acalmada! O Brahman está limpo de pecado e permanece na tranquilidade. Por isso quem também permanece em tranquilidade chegam a conhecer ao Brahman!

5:20. Sendo uma consciência acalmada e cla-ra, aquele que conheceu ao Brahman e se estabe-leceu nEste não se regozija recebendo o agradá-vel nem se aflige recebendo o desagradável.

5:21. Quem não está apegado a satisfação de seus sentidos com o exterior e se deleita no Atman, ao alcançar a Unidade com o Brahman, saboreia o Êxtase eterno.

5:22. As alegrias que surgem do contato com os objetos materiais são, em verdade o coração do sofrimento, posto que temo um começo e um fim, o Kaunteya! Não és nestes aonde o sábio en-contra a alegria!

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5:23. Quem pode aqui na Terra, antes de sua liberação do corpo, resistir as ânsias terrenas e a ira foi alcançado a harmonia e uma pessoa feliz!

5:24. Quem esta feliz em seu interior, quem se alegra não do exterior e quem se ilumina (com o amor) desde dentro e capaz de conhecer a es-sência do Brahman e o Nirvana no Brahman!

5:25. Aqueles rishis que se limparam dos ví-cios26, que se libertaram da dualidade, que co-nheceram ao Atman e que se dedicaram ao bem de todos recebem o Nirvana no Brahman.

5:26. Aqueles que estão livres das ânsias ter-renas e da ira, que estão ocupados com a prática espiritual, que aprenderam a controlar a mente e que conhecer ao Atman obtém o Nirvana no Brahman.

5:27. Separando suas indriyas do terreno, di-rigindo toda sua visão ate o profundo27, prestando atenção a energia que entra e sai28,

5:28. Controlando suas indriyas, sua mente e a consciência, tendo como propósito a meta de alcance a Liberação, renunciando as ânsias terre-nas, o medo e a ira, um alcança a Liberdade com-pleta.

5:29. Que Me conheceu como o Grande Is-hvara, o Benfeitor de cada ser vivo Que se alegra

26 O defeitos éticos, qualidades negativas 27 Na profundidade do espaço multidimensional. 28 Trata-se de não permitir gastar mal a energía do

organismo.

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do espirito de sacrifício e das façanhas espirituais, obtém a satisfação completa!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, esta anunciada a quinta conversa-ção entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Yoga do desapego.

Conversação 6. Yoga do autodomínio

O Senhor Krishna disse: 6:1. Não és um verdadeiro sanniasin nem um

yogui aquele que vive sem o fogo e sem os deve-res, senão aquele que cumpre ativamente seu de-ver sem esperar a ganho pessoal proveniente dis-to.

6:2. Hás de saber, o Pandava, que aquilo que se chama o sanniasa e o yoga! Não pode conver-ter-se em um yogui aquele que não renunciou aos desejos terrenos!

6:3. Para uma pessoa razoável que se esfor-ça para alcançar o Yoga, a ação e o meio. Para aquele que alcançou o Yoga a não ação e o meio.

6:4. Quem alcançou o Yoga e renunciou aos desejos terrenos não está apegado nem os obje-tos nem a atividade mundana.

6:5. Quem com a ajuda do Atman um abra seu próprio Atman! E que nunca rebaixe o Atman de novo! Pode-se ter amizade com o Atman e se pode ter inimizade com o Atman.

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6:6. Quem esta conhecendo ao Atman e seu amigo! Em troca, quem se opõe ao Atman segue sendo Seu inimigo!

6:7. Quem conheceu ao Atman alcança a tranquilidade completa, porque encontra o refugio na Consciência Divina29. Quando (seu corpo) está no frio ou no calor, em situações de alegria ou de pesar, na honra ou na desonra.

6:8 Aquele que, acalmado pela sabedoria e o conhecimento do Atman, permanece inalterado, que dominou suas indryias e para quem um tor-rão, uma pedra e o ouro são o mesmo, se o cha-ma um verdadeiro yogui.

6:9. Aquele que e uma consciência desenvol-vida e que e espiritualmente avançado, e benévo-lo com os amigos e os inimigos, com os indiferen-tes, os estranhos, os invejosos, os parentes, os piedosos e os viciosos.

6:10. Que um yogui se concentre constante-mente no Atman permanecendo retirado, atento e livre dos sonhos do sentimento de ter posses!

6:11. Havendo colocado num lugar limpo um assento firme para o trabalho com o Atman, nem muito alto nem muito baixo, coberto de uma tela similar a pele de cervo e da erva kusha,

6:12. Havendo concentrado sua mente em um só objeto e havendo dominado suas indriyas, permanecendo tranquilamente em um só lugar, que se exercite no yoga deleitando-se no Atman!

6:13. Mantendo o tronco, o colo e a cabeça eretos e sem movimento, inclinando sua vista

29 No Paramatman.

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desfocada a ponta do nariz, sem dispersar sua atenção,

6:14. Havendo-se estabelecido no Atman, sendo intrépido e firme no brahmacharia30, ha-vendo refreado sua mente e dirigido seus pensa-mentos ate Mim, que o yogui procure alcançar-me como sua Ultima Meta!

6:15. Um yogui que se uniu com o Atman e que controla sua mente entra no Nirvana Mais Al-to aonde permanece em Mim.

6:16. Na verdade, o yoga não e para aqueles que comem em demasiado ou não comem absolu-tamente, nem para aqueles que dormem demasi-ado ou velam demasiadamente, o Arjuna!

6:17. O yoga elimina todo o sofrimento da-quele que estabeleceu a moderação na comida, no descanso, no trabalho e também na alternação entre dormir e estar desperto.

6:18. Quando o yogui, como uma consciência refinada e libre de todos os desejos se concentra somente no Atman, sobre tal praticante dizem: “esta em harmonia!”.

6:19. O yogui que conquistou sua mente e permanece na unidade com o Atman retorna simi-lar a uma lamparina em um lugar sem vento, cuja chama não trepida.

6:20. Quando a mente, acalmada com os exercícios do yoga, se volta silenciosa, quando o

30 A brahmacharia significa “o estilo de vida do

Brahman”, a vida em um estado de “encantamento pelo Brahman”, o que implica nao involucrar-se nas ilusoes do mundo material.

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yogui se deleita no Atman contemplando o Atman com o Atman,

6:21. Quando encontra aquele Êxtase subli-me que e acessível somente para uma consciência desenvolvida e que esta fora do alcance ordinário dos indriyas, o yogui já não se separa da Verdade,

6:22. Havendo alcançado isto, já não pode imaginar algo superior e, permanecendo neste es-tado, já não se comoverá nem ainda pela maior das aflições,

6:23. Precisamente tal desconexão da aflição deve chamar-se o Yoga. E ha de entregar-se a es-te Yoga firmemente e sem vacilar!

6:24. Havendo renunciado aos desejos vãos resolutamente e havendo vencido todos os indri-yas,

6:25. Acalmando a consciência gradualmente, que o yogui estude sua própria Essência — o At-man — sem dirigir seus pensamentos ate nada mais!

6:26. Por mais que a mente inquieta e in-constante se distraía, refreia-a todo o tempo e di-rija-a ate o Atman!

6:27. A felicidade mais alta espera ao yogui cuja mente se tranquilizou e cujas paixões se acalmaram quando tal yogui se voltou impecável e semelhante ao Brahman!

6:28. Quem se harmonizou e se libertou dos vícios experimenta facilmente ilimitado do contato com o Brahman!

6:29. Quem se estabeleceu no Yoga vê que o Atman esta em cada ser e que todos os seres es-

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tão no Atman; por todas partes toda pessoa vê um só.

6:30. Aquele que Me vê por todas partes e que vê tudo em Mim, eu nunca o abandonarei, e esta pessoa nunca Me abandonara!

6:31. Quem, havendo-se estabelecido em tal Unidade, Me adora, Àquele Que está em tudo, vi-ve em Mim qualquer que seja sua ocupação.

6:31. Quem vê as manifestações do Atman em tudo e quem através disto conheceu a igual-dade de tudo, do agradável e do desagradável, e considerado como um yogui perfeito, o Arjuna!

Arjuna disse: 6:33. Para este Yoga que se alcança através

do equilíbrio interno, eu devido a inquietude de mina mente, não vejo em mim um fundamento firme, o Madhusudana.

6:34. Pois a mente e, em verdade inquieta, o Krishna! E tempestuosa, obstinada, dura de deter! Penso que e tão difícil detê-la como ao vento!

O Senhor Krishna disse: 6:35. Sem duvida, o poderosamente armado,

a mente e inquieta e é duro refreia-la. Contudo e possível conquista-la como exercício constante e a impassibilidade.

6:36. O Yoga e difícil de alcançar para aquele que não conheceu seu Atman, mas quem O co-nheceu vai ao Yoga pelo caminho correto. Assim opinei Eu.

Arjuna disse: 6:37. Quem não renunciou ao terreno, mas

tem fé, quem não conquistou sua mente e se

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desprendeu do yoga, qual caminho seguirá entoa, o Krishna?

6:38. Acaso tal pessoa instável que perdeu ambos os caminhos e se separou do caminho ao Brahman será destruída como uma nuvem despe-daçada, o Poderoso?

6:39. Dissipa definitivamente, o Krishna, to-das as minhas duvidas! Só Tu poderás fazê-lo!

O Senhor Krishna disse: 6:40. O Partha, nem aqui nem no mundo fu-

turo existirá a destruição de tal pessoa! Nunca aquele que desejava atuar de uma maneira virtu-osa entrara no caminho da aflição, o Meu querido!

6:41. Havendo chegado aos mundos dos vir-tuosos e permanecendo ali por anos inumeráveis, aquele que se separou do yoga logo nasce de no-vo em uma família pura e bendita,

6:42. O incluso pode nascer em uma família de yoguis sábios, ainda que tal nascimento e mui-to difícil de alcançar.

6:43. Tal pessoa nasce outra vez sendo uma consciência desenvolvida em seu corpo anterior e de novo se põe no Caminho ate a Perfeição, a Alegria dos Kurus!

6:44. Os méritos de sua vida passada a le-vam poderosamente adiante. Pois quem tratou de alcançar o conhecimento do Yoga já superou o ní-vel da pratica religiosa ritual!

6:45. E aquele yogui que se esforça incansa-velmente, que se liberou dos vícios e que foi a Perfeição durante muitas encarnações chega a Meta Suprema!

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6:46. Um yogui e superior aos ascetas, aos sábios e a um homem de ação. Por isso converte-te em um yogui, o Arjuna!

6:47. E entre todos os yoguis, Eu prefiro aquele que vive em Mim, permanecendo conecta-do Comigo através do Atman, e também aquele que Me serve inacessivelmente!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, esta anunciada a sexta conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Yoga do autodomínio.

Conversação 7. Yoga do conhecimento profundo

O Senhor Krishna disse: 7:1. O Partha! Escuta sobre como podes che-

gar ao conhecimento definitivo de Mim dirigindo tua mente ate Mim e praticando o yoga sob Minha direção.

7:2. Revelo-te o conhecimento e a sabedoria em toda sua plenitude. Ao conhecê-los, já não fi-ca nada mais por conhecer para ri.

7:3. Entre milhares de pessoas, apenas um procura alcançar a Perfeição. E entre aqueles que procuram só uns poucos chegam a conhecer Mi-nha Essência.

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7:4. A terra, a agua, o fogo, o ar, o akasha31, a mente, a consciência e também o “eu” individu-al, tudo isto e o que existe no mundo de Meu prakriti. São oito no total.

7:5. Esta e Minha natureza inferior. Conheça também Minha natureza superior, Que e o Ele-mento da Vida por meio do Qual o mundo inteiro esta sustentado.

7:6. Esta e o coração32 de tudo o que existe. Sou a Fonte do universo (manifestado) e este de-saparece em Mim!

7:7. Não ha nada superior a Mim! Tudo esta encaixado em Mim como as pero-

las nos fios! 7:8. Sou o sabor da agua, o Kaunteya! Sou o

brilho da Lua e a luz do sol! Sou o Pranava33. O Conhecimento Universal, a Voz Cósmica e o hu-manitarismo nas pessoas!

7:9. Sou o aroma puro da terra e o calor do fogo! Sou a vida de tudo o que existe e a façanha dos praticantes espirituais!

7:10. Trata de conhecer em Mim a Essência Primordial de todos os seres, o Partha! Sou a Consciência de todos que tenham desenvolvido a consciência! Sou o esplendor de todo o belo!

31 A substancia e a energía que se encontram no

espaco cósmico em um estado difuso. O akasha cons-titui o “material de construcao” para criar a materia e as almas.

32 Yoni. 33 O Fluxo da Consciencia do Brahman, no qual o

praticante do buddhi yoga pode submergir-se.

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7:11. Sou a forca das pessoas fortes que abandonaram seus apegos e paixão sexual! Sou também aquela força sexual34, presente em todos os seres, que não contradiz o dharma, o senhor dos Bharatas!

7:12. Ha de saber que o sattva, os rajase os tamas surgem de Mim. Mas compreenda que não estou neles, mas que eles estão em Mim!

7:13. O mundo inteiro, enganado pelas pro-priedades das três gunas, não Me conhecem, não conheçam Aquele Que e o Imperecível e Que mo-ra fora destas gunas!

7:14. Em verdade, e difícil superar Minha maya formada pelas gunas! Só aqueles que se aproximam de Mim podem transcendê-la.

7:15. Quem faz o mal — os ignorantes, os piores entre os homens — não chegam a Mim, já que a maya nos priva da sabedoria, e eles se en-tregam a natureza dos demônios.

7:16. Existem quatro tipos de virtuosos que confiam em Mim, o Arjuna: quem anseia escapar do sofrimento, quem tem sede de conhecimento, os que buscam alcances pessoais e os sábios.

7:17. Superior a todos e um sábio equilibra-do e absolutamente fiel a Mim. Na verdade sou querido pelo sábio, e o sábio e querido por Mim.

7:18. Todos eles são dignos! Mas ao sábio Eu lhe considero como igual a Mim! Pois se unindo com seu Atman, o sábio chega a conhecer-me, sua Meta Suprema!

34 Kama

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7:19. Depois de muitos nascimentos, o sábio chega a Mim. “Vasudeva35 e Tudo!”, diz aquele que obteve as qualidades excepcionais de Mahat-ma.

7:20. Aqueles cuja sabedoria se dispersa com os desejos se dirigem aos “deuses”, recorrendo aos rituais externos que correspondem com a sua própria natureza.

7:21. Eu fortaleço a fé de cada um daqueles que rendem culto com fé firme, qualquer que seja a imagem que usem.

7:22. Cheios de fé, eles oram e recebem da-quela fonte. Contudo, a ordem de dar o que se deseja vem de Mim.

7:23. Na verdade, o fruto obtido pelos insen-satos e efémero, pois quem rende culto aos “deu-ses” vão a estes “deuses”! Em troca, os que Me amam a Mim, vem a Mim!

7:24. Os insensatos Me consideram a Mim, ao Não Manifestado, como aquele que se manifes-tou36 , sem conhecer Minha Existência ilimitada, eterna e suprema.

7:25. Nem todos chegam a conhecer-me. Aquele Que esta oculta em Sua maya criativa. O mundo errado não Me conhece, Aquele Que e Eterno e sem nascimento!

7:26. Eu conheço as Criações passadas, pre-sentes e futuras, o Arjuna, mas ninguém Me co-nhece aqui!

35 Ishvara. 36 Isto e, como aquele que alcançou a encarnação.

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7:27. Devido ao errante na dualidade, o qual provém da atração e aversão (aos objetos mun-danos), todos os seres que nascem (de novo) pe-regrinam na ignorância completa, o Bharata!

7:28. Ainda assim, as pessoas virtuosas que se desgarraram de seus vícios se libertaram desta dualidade e se dirigem resolutamente a Mim!

7:29. Buscando o refugio em Mim, elas pro-curam libertar-se do nascimento e da norte e chegam ao conhecimento do Brahman, a realiza-ção completa do Atman e a compreensão dos princípios segundo os quais se formam os desti-nos.

7:30. E aqueles que chegam a conhecer-me como a Existência Superior e como o Deus Su-premo Que aceita todos os sacrifícios, Eu os rece-bo no momento de sua saída do corpo!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavade-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, esta anunciada a sétima conversa-ção entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Yoga do conhecimento profundo.

Conversação 8. Indestrutível e Eterno Brahman

Arjuna disse: 8:1. Que e o que se chama Brahman e que o

que se chama Atman? Que e a ação, o alma su-prema? Que e o material e que e o Divino?

8:2. Que e o sacrifício e como este ha de consumar-se por uma pessoa encarnada? Além do

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mais, como o Madhusudana, aquele que conheceu o Atman Te conhece a Ti no momento de sua morte?

O Senhor Krishna disse: 8:3. Indestrutível e Superior e o Brahman. A

essência (do homem) e o Atman. O que assegura a vida dos seres encarnados se chama a ação.

8:4. O conhecimento sobre o material esta relacionado com Minha natureza transitória, en-quanto que o conhecimento sobre o Divino, com o purusha, O conhecimento sobre o Sacrifício Mais Alto está relacionado Comigo no corpo, o melhor das pessoas encarnadas!

8:5. E quem, quitando-se seu corpo, Me per-cebe somente a Mim, no momento da morte, sem duvida, entra em minha Existência!

8:6. Qualquer que seja o estado habitual de um ao final de sua existência no corpo, esta pes-soa se deixa permanecer37 neste estado, o Kaun-teya!

8:7. Para tanto, pensa em Mim todas as ho-ras e luta! Dirigindo-te ate Mim com a mente e consciência, entraras em Mim infalivelmente!

8:8. Acalmado pelo yoga, sem distrair-se em nada mais, permanecendo na reflexão constante sobre o Altíssimo, um alcança ao Espirito Divino Superior!

8:9. Quem sabe tudo sobre o Senhor Omni-presente e Eterno do mundo, sobre Aquele Que e mais sutil do mais sutil, Que e o Fundamento de

37 Isto deve ser entendido à luz do conhecimento

sobre a natureza multidimensional do universo.

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tudo, Que não tem forma e Que brilha como o Sol detrás da escuridão,

8:10. Quem, no momento da partida, não desvia sua mente nem amor permanecendo no Yoga38, e quem abre o passo para a energia39 en-tre sobrancelhas alcança ao Espirito Divino Supe-rior!

8:11. Este Caminho, chamado pelos conhe-cedores o Caminho ate o Imperecível, Caminho pelo qual os praticantes espirituais avançam me-diante o autodomínio e a liberação das paixões, Caminho pelo qual os brahmacharis marcham, es-te Caminho te explicarei brevemente.

8:12. Havendo fechado todas as portas do corpo40, havendo colocado a mente no coração, havendo dirigido o Atman ate o Supremo e ha-vendo-se estabelecido firmemente no Yoga,

8:13. Cantando o mantra do Brahmam AUM41 e percebendo-me Mim, qualquer um, deixando seu corpo, alcança a Meta Suprema.

38 Na União com Ishvara (ou o Criador). 39 As energías do Atman. Ver a explicação ao verso

8:12. (Caso contrario, esta declaração não terá senti-do). Para mais explicações ver [2].

40 Órgãos dos sentidos 41 Se pronuncia como AOUM; assim soa o Pranava

(nos tons agudos e ternos),o qual é o fluxo da Consci-ência Brahmanica.

Se pronuncia como AOUM: assim soa o Pranava (nos tons agudos e contralto), e qual e o fluxo da Consciencia Brahmanica.

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8:14. Aquele yogui equilibrado que pensa constantemente somente em Mim, sem ter ne-nhum outro pensamento, o Partha, Me alcança fa-cilmente!

8:15. Ao chegar a Mim, tais Mahatmas nunca voltam a nascer nas moradas perecíveis da aflição. Eles alcançam a Perfeição Mais Alta.

8:16. Quem mora nos mundos antes do mundo do Brahman42 se encarnam de novo, o Ar-juna! Em troca, aqueles que Me alcançaram não têm que nascer!

8:17. Quem sabe do Dia do Brahman, em qual dura mil yugas43, e de Sua Noite, a qual ter-mina depois de mil yugas, conhece o Dia e a Noite.

8:18. Tudo o manifestado emana do não ma-nifestado ao começar o Dia, e quando a Noite cai, todo o manifestado se dissolve no que se chama não manifestado.

8:19. Ao cair a Noite, toda a multidão dos se-res nascidos desaparece. Ao chegar o Dia, os se-res, segundo a Ordem Mais Alta, aparecem nova-mente.

8:20. Mas também existe outro Não Manifes-tado Que esta muito por cima do não manifestado

42 Trata-se das dimensoes espaciais. A dimensao

mais alta e a Morada de Ishvara. 43 A medida do tempo que se usa nos Vedas. O Dia

e a Noite do Brahman constitutem o ciclo das pulsa-coes cósmicas, o qual consiste na criacao do mundo material, seu desenvolvimento subsequente, o “fim do mundo” e Pralaya.

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e Que também continua existindo quando todo o manifestado desaparece.

8:21. Este Não Manifestado se chama o Per-feitíssimo e conhecido como a Ultima Meta! Quem o alcançou já não volta. Este e O que reside em Minha Morada Suprema.

8:22. Esta Consciência Superior, o Partha, dentro da Qual permanece tudo o que existe e A Qual satura ao mundo inteiro, se alcança median-te a fidelidade inquebrantável somente a Ela!

8:23. Agora te direi o melhor dos Bharatas, sobre como e o tempo no qual os yoguis que nun-ca regressam deixam seus corpos e também co-mo e o tempo no qual os yoguis que tem que re-gressar morrem!

8:24. Morrendo com o fogo, durante a luz do dia, na Lu acrescente, no transcurso dos seis me-ses do caminho nortenho do sol, os yoguis que conhecem ao Brahman vão ao Brahman.

8:25. Morrendo no fumo, durante a noite, na Lua minguante, no transcurso dos seis meses do caminho ao sul do Sol, os yoguis, obtendo a luz lunar, regressam.

8:26. A luz e a escuridão são dois caminhos que existem eternamente. Pelo primeiro caminha aquele que já não regressa pelo segundo, aquele que tem que regressar.

8:27. Depois de conhecer estes dois cami-nhos, que um yogui não se extravie. Assim que se firmou no yoga, o Arjuna!

8:28. O estudo dos Vedas ou a realização dos sacrifícios, das façanhas ascéticas e das boas

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obras dão seus frutos. Mas um yogui que possui o conhecimento verdadeiro se eleva por acima de tudo isto e alcança a Morada Suprema!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, esta anunciada a oitava conversa-ção entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Indestrutível e Eterno Brahman.

Conversação 9. Conhecimento Régio e Mistério Régio

O Senhor Krishna disse: 9:1. A ti, que não és invejoso, te revelo um

grande mistério, te revelo a sabedoria depois de conhecer a qual te libertarás das cadeias da exis-tência material.

9:2. E a ciência régia, o mistério régio, o pu-rificador mais alto. Conhecida através da experi-ência direta, a medida que a retidão cresce, se põe facilmente em pratica e dá frutos imperecí-veis.

9:3. Aqueles que negam este conhecimento não Me alcançam e voltam as trilhas desde mun-do da morte.

9:4. Eu — em minha forma não manifestada — impregno ao mundo inteiro. Todos os seres têm raízes em Mim, mas Eu não tenho nenhuma raiz neles.

9:5. Ainda assim nem todos os seres estão em Mim! Olha Meu Yoga Divino! Sustentando a

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todos os seres, sem ter nenhuma raiz neles, Mi-nha Essência constitui a força que os mantém.

9:6. Assim como um vento forte que sopra por todas as partes permanece no espaço, assim mesmo tudo permanece em Mim. Trata de enten-dê-lo.

9:7. Ao finalizar um Kalpa, o Kaunteya, todos os seres são absorvidos por Meu prakriti. Ao inici-ar um novo Kalpa44, Eu os produzo outra vez.

9:8. Entrando em Meu prakriti, Eu creio outra vez a todos os seres; a eles que carecem de po-der, Eu os crio com Meu Poder.

9:9. E estas ações que Me ligam, a Meu, Que sou Aquele Que reside na impassibilidade e não tem apego às ações!

9:10. Sob a Minha vigilância, a prakriti en-gendra o que move e o que não. Devido a isto, ó Kaunteya, esta manifestação cósmica funciona.

9:11. Os insensatos Me menosprezam quan-do Me encontram em forma humana corpórea, pois não conhecem Minha Suprema Essência Divi-na!

9:12. São desviados na fé, nos atos e no co-nhecimento! Estão em uma rua sem saída, demo-níacos, entregues à mentira!

9:13. Em troca, os Mahatmas, ó Partha, ha-vendo saído de Meu maya divino, Me servem per-severantemente conhecendo-me como a Fonte Inesgotável das Criações!

44 Trata-se dos corpos de todos os seres.

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9:14. Alguns de eles, sempre me glorificando e tendo o desejo ardente de me alcançar, sim-plesmente me adoram com o amor.

9:15. Outros, realizando o sacrifício da sabe-doria, Me adoram como o Um e Multiforme, Que está por todas as partes.

9:16. Sou o espírito de sacrifício! Sou o sacri-fício. Sou também a manteiga, o fogo e a oferen-da!

9:17. Sou o Pai do universo, a Mãe, o Supor-te, o Criador, o Conhecedor Íntegro, o Purificador, o mantra AUM! SouRig, Sama e Láyur Vedas!

9:18. Sou a Meta, o amado, o Senhor, o Tes-tigo, a Morada, o Refúgio, o Amante, o Princípio, o Fim, o Fundamento, o Tesouro, a Fonte Inesgotá-vel!

9:19. Sou Aquele que dá calor! Sou Aquele Que detém ou envia a chuva! Sou a Imortalidade e também a morte! Sou o Manifestado e o Não Manifestado, ó Arjuna!

9:20. Quem conhece os três Vedas, tomam o soma45, são livres do pecado, Me adoram com as ações sacrificiais e Me pedem revelar-lhes o cami-nho ao paraíso, depois de alcançar o mundo dos “deuses”, desfrutam de seus “banquetes divinos”.

9:21. Havendo desfrutado este imenso Mun-do Celestial e havendo esgotado seus méritos, eles voltam ao mundo dos mortais. Assim, se-guindo aos três Vedas e entregando-se aos dese-jos terrenos, eles obtém o perecível.

45 Uma bebida ritual.

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9:22. Em troca, àqueles que confiam somen-te em Mim, com fé firme e devoção, sem pensar em algo mais, Eu lhes concedo Meu Amparo!

9:23. Mesmo aqueles que são fiéis aos “deu-ses” e lhes adoram com fé absoluta Me adoram a Mim ao mesmo tempo, ó Kanteya, ainda que de uma maneira equivocada!

9:24. Todos os sacrifícios são recebidos por Mim, porque Eu sou o Senhor! Ainda assim, tais pessoas não conhecem Minha Essência e por isso se separam da verdade.

9:25. Quem adora aos “deuses” vão aos “deuses”! quem adora aos antepassados vão aos antepassados! Quem adora aos espíritos da natu-reza vão a estes espíritos! E quem se consagra a Mim se dirige à Mim!

9:26. Se alguém Me oferece com amor, mesmo que seja uma folha, uma flor, uma fruta ou a água, Eu o aceito como uma oferenda amo-rosa de uma pessoa pura no Atman!

9:27. Qualquer coisa que faças, qualquer coi-sa que comas, qualquer coisa que sacrifiques, qualquer façanha que executes, ó Kaunteya, faça-o como uma oferenda para Mim!

9:28. Assim te libertarás das cadeias das ações que produzem os frutos kármicos bons ou maus! E havendo te unido com o Atman através do sanniasa e o yoga, obterás a Libertação em Mim!

9:29. Sou imparcial com todos os seres. Não existe para Mim um odioso ou um querido. Não obstante e verdadeiramente, aqueles que confiam

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em Mim com amor estão em Mim, e Eu estou com eles!

9:30. Ainda se o maior “pecador” Me adore com todo o seu coração, deve também conside-rar-se como um virtuoso, porque já decidiu virtu-osamente!

9:31. Tal pessoa se converterá rápido em um executor do dharma e obterá a paz eterna. Não duvides, aquele que Me ama jamais perecerá!

9:32. Todos aqueles que buscam refugio em Mim, ó Partha, incluindo quem nasceu de pais maus, todos- as mulheres, os vaishias e os shudras — entram no Caminho Mais Alto!

9:33. Quanto mais isto é verdade no caso dos brâmanes virtuosos e os rajas sábios, cheios de amor! Tu também, permanecendo neste mun-do sem alegria, confia em Mim!

9:34 Dirija a tua mente até Mim, ama-me, sacrifica para Mim, venera-me! Se te propuser al-cançar-me como a Meta Mais Alta, chegarás a Mim finalmente sendo absorvido pelo Atman!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a nona conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Conhecimento régio e Mistério Régio.

Conversação 10. Manifestação de Poder

O Senhor Krishna disse:

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10:1. Ó poderosamente armado, escuta de novo Minhas recomendações mais altas para teu bem, Meu querido!

10:3. Nem a multidão dos “deuses”, nem a multidão dos grandes sábios conhecem Minha ori-gem, já que sou o progenitor de todos os “deu-ses” e de todos os grandes sábios!

10:3. Quem entre os mortais pode conhecer a Mim, Àquele Que não tem nascimento nem princípio e é o Grande Senhor do universo, em verdade, se liberta de todas as cadeias de seu destino!

10:5. A compaixão, a equanimidade, a satis-fação, a aspiração espiritual, a generosidade, a fama e a infâmia: toda esta diversidade de esta-dos dos seres é criada por Mim.

10:6. Os sete grandes sábios e os quatro Manus anteriores a eles também surgiram de Mi-nha natureza e por Meu pensamento, e deles se originou a população inteira.

10:7. Quem conheceu Minha Grandeza e Mi-nha Yoga, em verdade, está submergido muito profundamente no yoga! Não cabem duvidas disto!

10:8. Sou a Fonte de tudo e tudo se desen-volve a partir de Mim! Havendo estendido isto, os sábios Me adoram em um extasias profundo!

10:9. Depois de dirigir seus pensamentos até Mim e consagrar-me suas vidas, iluminando-se o um ao outro e conversando constantemente sobre Mim, eles estão contentes e alegres!

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10:10 À eles- sempre cheios de amor- Eu lhes concedo o buddhi yoga por meio do qual eles Me alcançam.

10:11. Ajudando-lhes, eu dissipo a escuridão da ignorância de seus Atmans com o resplendor do conhecimento.

Arjuna disse: 10:12. Tu és o Deus Supremo, a Morada Su-

prema, a Pureza Perfeita, a Alma Universal, o Primordial, nosso Senhor Eterno!

10:13. Assim Te proclamaram todos os sá-bios, o sábio divino Narada, os sábios Asita, De-vala e Vyasa! Agora Tu também me revelas o mesmo.

10:14. Eu creio na autenticidade de tudo o que me estás dizendo! Tuas Manifestações, ó Bendito Senhor, não são compreensíveis nem pa-ra os deuses nem para os demônios!

10:15. Só Tu Te conheces como o Atman dos Atmanes, como a alma suprema, como a Origem de todas as criaturas, como o Senhor de tudo o que existe, como o Governador dos deuses e o Amo do universo!

10:16. Digna-te a falar-me, sem ocultar nada, sobre Tua Glória Divina na qual permaneces im-pregnando todos os mundos!

10:17. Como posso conhecer-te, ó Yogui, por meio da constante reflexão? Com quais imagens devo pensar em Ti, ó Senhor Krishna?

10:18. Fala-me novamente com detalhes so-bre Teu Yoga e Tua Gloria! Jamais me sacio de escutar Tuas palavras vivificantes!

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O Senhor Krishna disse: 10:19. Que seja segundo teu desejo! Te fa-

larei sobre Minha Glória Divina, mas somente do mais importante, já que não há fim para Minhas Manifestações.

10:20. Ó vencedor dos inimigos! Sou o At-man que reside nos corações de todos os seres. Sou o principio, o meio e o fim de todas as criatu-ras.

10:21. Entre os adityas, sou Vishnu. Entre os corpos celestes, sou o Sol radiante. Entre os ven-tos, sou o Senhor dos ventos. Entre os outros corpos celestes, sou a Lua.

10:22. Entre os Vedas, sou o Sama Veda. Entre os “deuses”, sou o Rei dos “deuses”. Entre os indriyas, sou a mente. Sou a Força Vivicante nos seres.

10:23. Entre os rudras, sou o Shankara46 . Sou o Senhor do Divino e do demoníaco. Entre os vasus, sou o fogo. Entre as montanhas, sou Meru.

10:24. Conhece-me, ó Partha, como a Cabe-ça de todos os sacerdotes Brihaspati. Entre os caudilhos, sou Skanda. Entre os depósitos de agua, sou o oceano.

10:25. Entre os grandes rishis, sou Brigu. Entre as palavras, sou AUM. Entre as oferendas, sou o cantar dos mantras. Entre o imóvel, sou o Himalaya.

46 Nestas alegorías são mencionados os persoagens

da mitología antiga hindu. A explicação está no último verso deste capítulo.

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10:26. Entre as árvores, sou o ashvattha. Entre os gandharvas, sou Chitraratha. Entre os perfeitos, sou o sábio Kapila.

10:27. Entre os cavalos, conhece-me como Uchchaishrava nascido do néctar. Entre os elefan-tes régios, sou airavata. Entre as pessoas, sou o Rei.

10:28. Entre as armas, sou o raio. Entre as vacas, sou o kamadhuka. Entre quem engendra, sou Kandarpa. Emre as serpentes, sou Vasuki.

10:29. Entre os nagas, sou Ananta. Entre os habitantes do mar, sou Varuna. Entre os antepas-sados, sou Aryama. Entre os juízes, sou Yama.

10:30. Entre os daityas, sou Prahlada. Entre as medidas, sou o tempo. Entre os animais selva-gens, sou o leão. Entre as aves sou Garuda.

10:31. Entre os elementos purificadores, sou o vento. Entre os guerreiros, sou Rama. Entre os peixes, sou Makara. Entre os rios, sou o Ganges.

10:32. Para as criações, sou o princípio, o meio e o fim, ó Arjuna. Entre as ciências, sou a ciência sobre o Atman Divino. Também sou a fala dos eloquentes.

10:33. Entre as letras, sou a “A”. Também sou a dualidade nas combinações de as letras. Sou o tempo eterno. Sou o Criador Omnipresente.

10:34. Sou a morte que se leva tudo e a ori-gem de tudo o que virá. Entre as qualidades fe-mininas, sou a originalidade, a beleza, a fala ele-gante, a memória, a estabilidade e o perdão.

10:35. Entre os hinos, sou o brihatsaman. Entre as formas métricas em poesia, sou o gayatri.

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Entre os meses, sou o magashirsha. Entre as es-tações, sou a primeira florescente.

10:36. Estou nos jogos dos astutos e no es-plendor das coisas mais esplêndidas. Sou a vitória. Sou a resolução. Sou a verdade da pessoa verda-deira.

10:37. Entre os descendentes de Vrishni, sou Vasudeva. Entre os Pandavas, sou Dhananjaya. Entre os munis, sou Vyasa. Entre os cantores, sou Ushana.

10:38. Sou o centro dos governadores. Sou a ética para aqueles que buscam a vitória. Sou o silêncio do mistério. Sou o conhecimento dos co-nhecedores.

10:39. Sou a Essência de tudo o que existe, ó Arjuna! Não há nada móvel ou imóvel que possa existir em Mim!

10:40. Não há limites para Meu Poder Divino, ó conquistador dos inimigos! Tudo o que te anun-ciei são somente alguns exemplos de Minha Gloria Divina!

10:41. Hás de saber que todo o poderoso, verdadeiro, belo e firme é somente uma parte di-minuta de Minha Magnificência!

10:42. Por outra parte, para que saber todos estes detalhes, ó Arjuna? Havendo vivificado ao universo inteiro com uma parte de Mim, eu per-maneço!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a décima conversa-ção entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

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Manifestação de Poder.

Conversação 11. Contemplação da Forma Universal

Arjuna disse: 11:1. Revelaste-me o Maior Mistério do At-

man Divino por compaixão e com isto minha igno-rância se desvaneceu.

11:2. Escutei de Ti sobre a origem e desapa-recimento de todos os seres, ó Olhos de Lotus! Também escutei sobre Tua Grandeza Imperecível!

11:3. Assim como tu Te descreves, ó Grande Senhor, anseio contemplar-te, contemplar Tua Forma Divina, ó Espírito Supremo!

11:4. Se pensas que sou digno de vê-la, ó Senhor, mostra-me Tua Essência Eterna, ó Rei do Yoga!

O Senhor Krishna disse: 11:5 Contempla, ó Partha, Minha Forma, de

centos de caras, de mil aspectos, Divina, multico-lor e multiforme!

11:6. Contempla aos adiytas, aos vasos, aos rudras, aos asvins e aos maruts! Contempla os milagres inumeráveis, ó Bharata!

11:7. Contempla em Meu Ser, ó Gudakesha, o universo inteiro -móvel e imóvel- com tudo o que desejas ver!

11:8. Ainda assim, na verdade, não podes contemplar-me com esses olhos! Te dou os olhos divinos! Olha, Meu Yoga Régio!

Sanjaya disse:

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11:9. Havendo dito isto, o Grande Senhor do Yoga manifestou a Arjuna Sua forma Universal,

11:10. Com inumeráveis olhos e bocas, com infinidade de fenômenos milagrosos e incontáveis adornos e armas divinos,

11:11. Ataviada com vestidos e colares divi-nos, coberta de azeites aromáticos divinos, com rostos dirigidos até todas as direções, completa-mente maravilhosa, ardente e infinita!

11:12. E se o brilho de mil sóis se incendias-sem simultaneamente no céu, tal resplendor po-deria parecer-se à Glória desta Grande Alma!

11:13. Nela Arjuna veio ao universo inteiro dividido em muitos mundos, mas unido no Corpo da Deidade Superior.

11:14. Então ele, maravilhado e estremecido, inclinou sua cabeça ante a Deidade e, havendo juntado suas mãos adiante do peito, começou a falar.

Arjuna disse: 11:15. Em Ti, ó Deus, eu vejo aos “deuses”,

a todas as classes de seres, ao Senhor-Brahman sentado em uma ásana de lótus, a todos os rishis e as serpentes celestiais maravilhosas47!

11:16. Vejo-te por todas partes com Teus inumeráveis braços, ventres, bocas e olhos! Ilimi-tadas são Tuas manifestações! Meus olhos não podem captar nem o princípio, nem o meio, nem o fim de Tua Gloria, Ó Senhor Infinito e Ilimitado!

47 Aqui e mais adiante, Arjuna não ve a realidade,

senão somente as imagens que Krishna lhe mostra.

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11:17. “Veio Teu Resplendor, Tua Luz omni-presente e infinita com discos, coroas e cetros” És similar a uma chama que bilha como um sol des-lumbrante e emanas os fluxos de Teus raios tão difíceis de contemplar!

11:18. És mais que todos meus pensamentos, ó Senhor Imperecível! És a Meta Suprema, o Fun-damento do universo, o Guardião Imortal do dharma eterno e a Alma Eterna! Assim é como minha mente pensa em Ti!

11:19. És sem princípio, sem meio e sem fim! És ilimitado em Teu Poder! Teus braços são incon-táveis! Teus olhos são como os Sóis e as Luas! Quando vejo Teu rosto, Este flameja como o fogo sacrificial e ilumina os mundos com Tua Glória!

11:20. Tu somente completa os Céus e a Terra e tudo o que se estende visivelmente entre estes! O mundo tripartite treme ante Ti, ó Pode-roso e ante teu Rosto comovedor!

11:21. As multidões dos “deuses” se entre-gam a Ti juntando suas mãos com temor piedoso! Todos Te invocam! Os sábios e os siddhas Te lou-vavam e compõem os cânticos que soam enchen-do o mundo!

11:22. Os rudras, os adityas, os vasos, os sadhyas, os visvas, os asvins, os maruts, os ante-passados, os gandharvas, os asuras, os yakshas e os “deuses”: todos te contemplam com admiração!

11:23. Depois de ver Tua Forma poderosa com inumeráveis olhos e bocas, com fileiras de temíveis dentes, com um peito amplo e com in-

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contáveis braços e pés, todos os mundos, assim como eu, começamos a tremer!

11:24. Como um arco-íris no céu, Tu brilhas desprendendo uma luz deslumbrante, com as bo-cas amplamente abertas e os olhos ardentes e gi-gantes! Tu penetras meu Atman! Ao te ver, minha força sede esgota e minha paz desaparece!

11:25. Nas temíveis mandíbulas abertas, as fileiras de Teus numerosos dentes se assemelham a espadas ardentes e fulgurantes. Vendo o desco-nhecido por mim, de onde posso me esconder desta Tua aparência! Tem piedade, ó Senhor, Re-fugio dos mundos!

11:26. Os filhos de Dhritarastra junto a nu-merosos governantes dos diferentes países da Terra, Brishma, Drona e Karna, assim como os heróis valentes de ambos exércitos,

11:27. Todos se dirigem até Tuas bocas as abertas aonde as fileiras dos espantosos dentes fulguram! Estes dentes trituram, como poderosas moelas de moinho, a todos os guerreiros atraca-dos entre eles, convertendo-os em cinzas.

11:28. Assim como as águas dos rios correm impetuosa e ruidosamente até o grande oceano, da mesma maneira estes guerreiros poderosos, os governantes da Terra, se dirigem até Tuas arden-tes bocas abertas!

11:29. Assim como uma traça acelera sem conter seu voo até uma chama para morrer nesta, da mesma maneira eles se dirigem até as temí-veis bocas para desaparecer nestas e encontrar ali sua morte!

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11:30. Devorando tudo em todas as direções, a chama de Tuas incontáveis línguas reduz todos a cinzas! Este espaço está cheio de teu Resplen-dor! O mundo está chamando no fogo de Teus raios que penetram tudo, ó Senhor!

11:31. Revela-me Tua Essência! Teu aspecto aterra tanto! Me prostro diante de Ti! Tem miseri-córdia, ó Poderoso Senhor, Rogo-lhe! Eu anseio conhecer o que está oculto em Ti! Por outro lado, Tua aparência atual me aterroriza!

O Senhor Krishna disse: 11:32. Sou o tempo que traz o desespero ao

mundo e que aniquila a todas as pessoas manifes-tando sua lei na Terra. Nenhum dos guerreiros que se forma aqui para a batalha escapará a mor-te! Só tu sobreviverás!

11:33. Assim que te levanta e alcança tua glória! Vende aos inimigos e desfruta do poder de teu reino!

Por Minha Vontade eles já estão derrotados! Tu deves dar unicamente a aparência externa e derrubara-los com tua mão.

11:34. Drona, Brishma, Jayadratha, Karna e todos os outros guerreiros que estão aqui já estão condenados a morrer! Assim que luta sem medo, ó Arjuna, e a vitória será tua neste campo de ba-talha!

Sanjaya disse: 11:35. Depois de ouvir aquelas palavras pro-

nunciadas pelo Senhor Arjuna, tremendo, pros-trando-se e tartamudeando de medo, se dirigiu de novo a Krishna com as seguintes palavras:

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11:36. Louvando nas canções e hinos, os mundos exultam vendo Tua Grandeza, ó Hrishi-kesha! As multidões dos santos se prostram dian-te de Ti e os demônios fogem de medo!

11:37. E como não venerar ao Grande Atman Que é superior ao Brahman! Ó Infinito! O Senhor de todos os virtuosos! O Protetor de todos os mundos! Eterno! És a Existência e a Inexistência, e também Aquele Que está mais além destas!

11:38. Entre os deuses nada é superior a Ti! O Primordial! O Refugio Supremo de tudo o que vive! O universo inteiro está impregnado Contigo! Ó Conhecível! Ó Omnisciente! Dentro de Tua Forma todo o universo está contido!

11:39. És o Deus do vento, o Deus da vida, o Deus da morte, o Deus do fogo e o Deus da água! És a Lua, o Pai e o Progenitor de todos os seres! Mil vezes glória a Ti! Gloria e Gloria! E outra vez Gloria interminável a Ti!

11:40. Todos se prostram em Tua Presença! Gloria a Ti de todos os lados! Não há limites para Teu Poder nem medidas para Tua Potestade! Tu tens tudo, porque Tu mesmo és Tudo!

11:41. E sim, eu, considerando-te meu ami-go, por falta de reflexão exclamava: “Ó Krishna! Ó meu amigo!”, o fazia sem conhecer Tua Gran-deza, entregando-me descuidadamente aos im-pulsos de meu coração!

11:42. E se eu, descansando, brincando, jo-gando, comendo e me divertindo, não mostrava o devido respeito a Ti, permanecendo somente Con-

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tigo ou com outros amigos, te rogo que perdoe meu pecado, ó Imensurável!

11:43. O Pai dos mundos e de todo o móvel e imóvel!

O Guru mais honorável e glorioso! Não existe nada comparável Contigo. Quem Te supera? Quem m todos os mundos pode rivalizar com Tua Gloria?

11:44. Com veneração me prostro ante Ti e Te imploro que tenhas paciência comigo! Sê um Pai para mim! Sê um Amigo!

Como um amante paciente com sua amada, seja assim de paciente comigo!

11:45. Eu vi Tua Gloria que jamais havia sido vista antes por alguém! Do medo e da alegria treme o meu peito. Te imploro que Tomes Tua aparência anterior! Tem misericórdia, ó Senhor dos deuses e Refúgio dos mundos!

11:46. Eu anseio ver-te como antes, com Tua coroa reluzente e o cetro majestoso em Tua mão! Mostra-me Tua forma conhecida e estimada por mim! Esconde esta aparência Tua que tem cente-nas de mãos e é insuportável para os mortais!

O Senhor Krishna disse: 11:47. Arjuna! Por Minha Graça conheceste

Minha forma suprema e eterna que se revela so-mente no Yoga e na União com o Atman. Das pessoas ao teu redor, ninguém jamais a viu.

11:48. Nem os atos de piedade, nem o co-nhecimento dos Vedas, nem as oferendas, nem as façanhas dos ascetas, nem a profundidade do co-

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nhecimento, nada pode descobrir Minha forma se-creta, a que tu viste.

11:49. Acalme tua perturbação e terror! Não temas por haver visto Minha Forma espantosa! Esqueça teu medo! Alegra teu espírito! Olhe Mi-nha aparência conhecida por ti!

Sajaya disse: 11:50. Havendo dito aquelas palavras,

Krishna tomou Sua aparência usual e consolou ao estremecido Arjuna. O Grande tomou de novo Seu aspecto manso.

Arjuna disse: 11:51. Vendo novamente Tua aparência hu-

mana e mansa, me sinto melhor e meu estado normal volta.

O Senhor Krisha disse: 11:52. Esta Forma Minha que conheceu é

muito difícil de ver. Na verdade, inclusive os “deuses” anseiam alcança-lo!

11:53. Ninguém pode Me ver assim como tu Me viste, ainda que conheça todos os Vedas, haja realizado as façanhas ascéticas e tenha dado es-molas e oferendas.

11:54. Somente o amor pode contemplar-me assim, ó Arjuna! Somente o amor pode contem-plar-me em Minha mais profunda Essência e unir-se Comigo!

11:55. Quem faz tudo (somente) para Mim, para quem sou a Meta Suprema, quem Me ama e quem está libre dos apegos e não tenha inimizade chega a Mim, ó Pandava!

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Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a décima primeira conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Contemplação da Forma Universal.

Conversação 12. Bhakti yoga

Arjuna disse: 12:1 quem tem mais êxito no yoga: aquele

que está cheio de amor a Ti ou aquele que confia no Incognoscível, Não Manifestado?

O Senhor Krishna disse: 12.2. Aqueles que, ao dirigir suas à mim,

mantém constantemente uma aspiração devota a Mim têm mais êxito no yoga.

12:3. Aqueles que confiam no Indestrutível, Não Manifestado, Omnipresente, Incognoscível, Imutável, Incomovível, Eterno,

12:4 que conquistaram suas indriyas, que tem uma atitude igualmente tranquila a todos e que se alegram do bem dos demais chegam a Mim.

12:5. Contudo, o avanço daqueles cujos pen-samentos estão dirigidos até o não Manifestado é mais lento e difícil e é mais duto para eles pro-gredir.

12:6. Em troca, aqueles que renunciaram a maya por mina causa e que se concentraram em Mim entregando-se por completo ao Yoga, ó Partha,

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12:7. Eu os faço ascender rapidamente sobre o oceano dos nascimentos e as mortes, porque eles permanecem como almas em Mim!

12:8. Dirige teus pensamentos a Mim, sub-merge-te como uma consciência em Mim e então, na verdade, viverás em Mim!

12:9. Contudo, se não fores capaz de con-centrar teu pensamento firmemente em Mim, tra-ta de alcançar-Me com os exercícios do yoga, ó Dhananjaya!

12:10. Se tampouco fores capaz de fazer constantemente os exercícios do yoga, então te dedica a servir-me realizando somente aquelas ações que são necessárias para Mim, e atingirás a Perfeição!

12:11. Se tampouco fores capaz de fazer isto, então se dirija à união Comigo renunciando a ga-nancia pessoal de tua atividade! Restrinja-te des-ta maneira!

12:12. O conhecimento é mais importante que os exercícios. A meditação é mais importante que o conhecimento. Não obstante, renunciar à ganancia pessoal é mais importante que a medi-tação, já que depois de tal renuncia chega a paz!

12:13. Quem não sente inimizade para com nenhum ser vivo, quem é amistosos e compassivo, quem não tem apegos ternos nem egoísmo, quem é equilibrado em meio da alegria e a aflição, quem perdoa tudo

12:14 e sempre está satisfeito está satisfeito, quem procura alcançar a União comigo conhecen-do resultante mente o Atman e dedicando a men-

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te e a consciência a Mim, tal amado discípulo é querido por Mim!

12:15. Quem não faz sofrer as pessoas nem tampouco sofre a cauda delas, quem está livre de ansiedade, arrebatamento, nojo e medo é querido por Mim!

12:16. Quem não exige nada dos demais, quem tem conhecimento, quem é puro, desape-gado e desinteressado, quem rejeitou todas as iniciativas48 e Me ama é querido por Mim!

12:17. Quem não se apaixona nem odeia, quem não se aflige nem tem cobiça, quem se ele-vou sobre o bem e o mal está cheio de amor é querido por Mim!

12:18. Quem tem a mesma atitude para com um amigo como para com um inimigo, quem é inalterável na glória como na desonra, no calor como no frio, no meio da alegria ou a aflição, quem está livre dos apegos terrenos,

12:19. Quem recebe igualmente elogios e in-júrias, quem é lacónico, satisfeito com tudo o que sucede, não está apegado à casa, firme em suas decisões e cheio de amor é querido por Mim!

12:20. Na verdade, todos aqueles que parti-lham esta vida dando sabedoria, que estão cheios de fé e para quem Eu sou a Meta suprema são queridos por Mim sobre tudo!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-

48 As iniciativas não espirituais e também as inicia-

tivas que provém “de si mesmo”.

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tura do yoga, está anunciada a décima segunda conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Bhakti yoga.

Conversação 13. O “campo” e o “Conhecedor do cam-

po”

Arjuna disse: 13:1 Sobre a prakriti e o purusha, sobre o

“campo” e o “Conhecedor do campo”, sobre a sa-bedoria e sobre tudo o que é necessário conhecer, gostaria de escutar de Ti, ó Keshava!

O Senhor Krishna disse: 13.2. Este corpo, ó Kaunteya, se chama o

“campo”, Àquele que o conhece, os sábios o cha-mam o “Conhecedor do campo”.

13.3. Conhece-me como o “Conhecedor do campo” em todos os “campos”. O verdadeiro co-nhecimento do “campo” e também do “Conhece-dor do campo” é o que eu chamo a sabedoria, ó Bharata!

13:4. Que é este “campo”, qual é sua natu-reza, como ela muda, de onde vem e também que é Ele e qual é Seu Poder, escuta brevemente de Mim.

13.5. De diferentes maneiras os sábios can-taram isto em diversos hinos e palavras pressagi-osas dos Brahmasutras cheios de inteligência.

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13:6 O conhecimento dos grandes elemen-tos49 , dos “eus” individuais, da mente, do não Manifestado, dos onze indriyas e dos cinco pastos dos indriyas,

13:7. A humildade, a honestidade, a manse-dumbre, o perdão absoluto, a simplicidade, o ser-viço ao mestre, a pureza, a firmeza, o autodomí-nio,

13:8. A atitude desapegada em relação aos objetos terrenos, a ausência do egoísmo, a pene-tração na essência do sofrimento, do mal dos no-vos nascimentos, da velhice e da enfermidade,

13:9 e não ter apegos terrenos, é permane-cer livre da escravidão importa pelos filhos, a es-posa, a casa, o equilíbrio constante no meio dos acontecimentos desejados e indesejados,

13:10. O amor inquebrantável e puro a Mim, a ânsia incondicional de desfazer-se da comunica-ção vã com as pessoas, a autossuficiência50,

13:11. a constância na busca espiritual e o anseio de conhecer a verdadeira sabedoria; tudo isto se reconhece como verdadeiro, o resto é a ignorância!

13:12. Revelo-te o que deve ser conhecido e o que, depois de ser conhecido, conduz à Imorta-lidade: isto é o Brahman supremo Que não tem princípio e Que está mais além dos limites da existência e inexistência (dos seres).

49 A terra, a agua, o fogo, o ar e o akasha. 50 Com respeito a outras pessoas.

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13:13. Suas mãos, pés, olhos, cabeças e bo-cas estão por todas as partes. É omnisciente e mora no mundo abraçando tudo.

13:14 Possui todas as sensações, mas não tem os órgãos dos sentidos! Não tem nenhum apego, mas sustenta a todos os seres! É livre das três gunas, mas as usa!

13:15. Está fora e dentro de todos os seres! Permanece em tranquilidade, mas ao mesmo tempo é ativo! É tão sutil que não é atrapalha-lo! Está sempre perto, mas ao mesmo tempo está no afastamento inexpressável! Assim é O imperecível!

13:16. Não está dividido entre os seres, mas ao mesmo tempo existe separadamente em cada um deles. Ele se conhece como o Ajudante de to-dos e abraça a todos Consigo Mesmo guiando-os em seu desenvolvimento.

13:17. Sobre Ele, sobre a Luz de todas as lu-zes, se diz que esta fora dos limites da escuridão. É a Sabedoria, a Meta de toda sabedoria, que se conhece por meio da sabedoria que reside nos co-rações de todos!

13:18. Assim são, em poucas palavras, o “campo”, a sabedoria e o objeto da sabedoria. Havendo-os conhecido, o discípulo fiel a Mim compreende minha Essência.

13:19. Hás de saber que o purusha e a prakriti igualmente não tem princípio. Também hás de saber que a ascensão pelas gunas sucede graças a existência na prakriti.

13:20. A prakriti é considerada como a fonte de causas e efeitos, ainda que o purusha é res-

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ponsável de que sabores o agradável e o desa-gradável.

13:21. Permanecendo na prakriti, o purusha encarnado se une inevitavelmente com as gunas provenientes da prakriti. O apego a certa guna é a causa da encarnação do purusha em boas ou más condições.

13:22. Aquele Que observa, apoia e recebe tudo, Que é o Senhor altíssimo e também o At-man Divino se chama o Espírito Supremo neste corpo.

13:23. Quem conheceu o purusha, a prakriti e as três gunas desta maneira já não está sujeito aos novos nascimentos sejam quais sejam as condições nas que se encontram!

13:24. Meditando dentro do Atman, alguns conhecem ao Atman desde o Atman. Outros (co-nhecem ao Atman) mediante o samkhya yoga. Outros (se aproximam disto) mediante o karma yoga.

13:25. Também estão aqueles que não sa-bem sobre tudo isto, mas, ao escutá-lo dos de-mais, rendem culto sinceramente e assim saem dos limites do caminho da morte iniciando-se no que escutaram!

13:26. Í, o melhor dos Bharatas! Hás de sa-ber que todo o existente — imóvel e móvel — se origina da interação entre o “campo” e o “Conhe-cedor do campo”!

13:27. Quem vê ao Senhor Supremo como o Imperecível no perecível e como Aquele Que per-

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manece por igual em todos os seres vê verdadei-ramente!

13:28. Quem fez vê a Ishvara por todas as partes já não pode desviar-se do verdadeiro ca-minho!

13:29. Quem vê que todas as ações se reali-zam somente na prakriti, ainda que o Atman fique em tranquilidade, vê em verdade!

13:30. Quando tal pessoa chega a conhecer que a existência multiforme dos seres radica no Um e procede dEle, então alcança ao Brahman.

13:31. O Atman Divino, eterno e não enca-deado pela prakriti, ainda que resida nos corpos não atua e não é influenciado por nada, ó Kaun-teya!

13:32. Como o vazio omnipresente não se mescla com nada devido a sua sutileza, da mes-ma maneira o Atman Que reside nos corpos não se mescla com nada.

13:33. Portanto, como o Sol ilumina a terra, o Senhor do “campo” ilumina o “campo” inteiro, ó Bharata!

13:34. Quem vê com olhos de sabedoria esta diferença entre o “campo” e o “Conhecedor do campo” e conhece o processo de liberação dos in-driyas da prakriti se esta aproximando da Meta Suprema!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a décima terceira conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

O “campo” e o “Conhecedor do campo”.

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Conversação 14. Libertação das três gunas

O Senhor Krishna disse: 14:1. Agora te explicarei aquele conhecimen-

to superior através do qual todos os sábios alcan-çaram a Perfeição Mais Alta.

14:2. Quem encontrou o refugio nesta sabe-doria e se iniciou em Minha Natureza já não nasce, nem sequer no novo ciclo do desenvolvimento do universo, nem perece ao final do ciclo atual.

14:3. Para Mim o seno é o Grande Brahman. Nele Eu implanto a semente e dali nascem todos os seres, ó Bharata.

14:4. Qualquer que seja o seno de onde nas-cem os mortais, ó Kaunteya, o Brahman é seu Seno Superior e Eu sou o Pai Que os procria.

14:5. Sattva, rajas e tamas são as gunas que se originam devido à interação com a prakriti. Es-tas atam firmemente ao corpo, ao morador imor-tal do corpo, ó poderosamente armado!

14:6. Entre estas gunas, o sattva, graças a sua pureza imaculada, sã e clara, ata com a afli-ção pela alegria, com os caçoes da comunicação (com pessoas similares) e também com os laços do conhecimento (sobre as coisas pouco impor-tantes na vida) ó impecável!

14:7. Hás de saber que o rajas — o princípio da paixão — é a fonte de apego a vida terrena e da sede desta, o que encadeia, ó Kaunteuya, àquele que mora no corpo como o anseio de atuar!

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14:8. Tamas, nascido da ignorância, engana aos que moram em corpos atando-lhes com a ne-gligência, o descuido e a perenidade, ó impecável!

14:9. O sattva ata ao êxtase, o rajas ata às ações e o tamas, na verdade, destrói a sabedoria e ata ao descuido.

14:10. As vezes a guna sattva vence a rajas e tamas. As vezes o rajas prevalece, então sati-vas e tamas são derrotados, e também sucede que o tamas começa a reinar derrotando a rajas e satttva.

14:11. Quando a luz da sabedoria emana de cada poro do corpo, podemos estar seguros de que o sattva cresce em tal pessoa.

14:12. A cobiça, a ansiedade, o anseio de atuar, a inquietude, as paixões terrenas: todas estas qualidades nascem devido ao aumento de rajas.

14:13 A estupidez, a perecidade, o descuido e a ignorância nascem devido ao aumento de ta-mas.

14:14 Se o sattva prevalece em uma pessoa no momento da morte, tal pessoa entra nos mun-dos puros dos possuidores do conhecimento mais alto.

14:15. Se os rajas prevalece nasce entre aqueles que estão apegados à atividade (no mun-do da matéria). Morrendo no estado de tamas, nascerá de novo entre os ignorantes.

14:16. O fruto da ação virtuosa é harmonioso e puro! Em troca, o fruto da paixão é o sofrimento!

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E o fruto da ignorância é o vagabundo na escuri-dão!

14:17. A sabedoria nasce do sattva, a cobiça, dos rajas, o descuido e a insensatez, do tamas.

14:18. Quem permanece no sattva profes-sam espiritualmente, os rajásicos ficam em um nível médio, e os tamásicos se degradam sendo impregnados das piores qualidades.

14:19. Quando um compreende que a única razão para atuar são as três gunas e quando che-ga a conhecer Aquele Que é superior a estas, en-tra em Minha Essência.

14:20. Quando o morador do corpo se libera das três gunas, conectadas com o mundo da ma-téria, se liberta dos nascimentos, as mortes, a ve-lhice, o sofrimento e saborear a imortalidade!

Arjuna disse: 14:21. Como reconhecer àquele que se liber-

tou das três gunas, ó Senhor? Como é sua condu-ta e como atuou para alcançar esta liberação?

O Senhor Krishna disse: 14:22. Ó Pandava, quem não teme à alegria,

nem à atividade nem aos erros, mas tampouco busca estes quando se vão,

14:23. Quem não se estremece pelas mani-festações das gunas dizendo: “ As gunas atu-am...” e permanece a um lado sem involucrar-se,

14:24. Quem é equilibrado nas situações de felicidade e de aflição, quem é seguro de si, para quem um torrão, uma pedra e o outro são iguais, quem é imutável ante o agradável e o desagradá-vel, no meio dos elogios e reprovações,

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14:25. Igual na honra e na desonra, com um amigo e um inimigo, quem renunciou a buscar a prosperidade no mundo material, se libertou das três gunas.

14:26. E aquele que, havendo-se libertado das três gunas, Me serve com um amor inque-brantável merece ser o Brahman.

14:27. E o Brahman, imperecível e imortal, se cimenta em Mim! Sou o Fundamento do dhar-ma eterno e a Morada da felicidade final!

Assim nos gloriosos Upanishad do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a decima quarta conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Libertação das três gunas.

Conversação 15. Conhecimento do Espirito Supremo

O Senhor Krishna disse: 15:1. Se disse que existe um árvore imortal,

ashvattha, cujas raízes crescem havia acima, a copa está abaixo51 e suas folhas são as palavras de gratidão e amor. Quem o conhece é um conhe-cedor dos Vedas.

15:2. Suas ramas, nutridas pelas três gunas, se estendem até acima e até embaixo e terminam nos objetos dos indriyas. Suas raízes são as ca-deias do karma no mundo das pessoas.

51 Com esta imagen descreve-se uma das medita-

ções do buddhi yoga.

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15:3. Olhando desde o mundo da matéria, não é possível compreender nem sua forma, nem seu propósito, nem seu destino, nem incluir aque-le no que se apoia. Quando esta árvore bem ar-raigado se corta com uma poderosa espada de li-bertação dos apegos,

15:4 Só então se abre a via da qual não se regressa. Ali há que unir-se com o Espirito Pri-mordial Que deu origem a todo.

15:5 Quem se libertou do orgulho e da igno-rância, venceram o mal dos apegos, compreende-ram a natureza do Eterno, refrearam a paixão se-xual e se libertaram dos pares dos opostos, co-nhecidos como o regozijo e o sofrimento, mar-cham com segurança pelo Caminho firme.

15:6. Nem o Sol nem a Lua nem o fogo bri-lham ali. Depois de entrar neste lugar, já não re-gressam. Esta é Minha Morada Suprema!

15:7. A partícula de Mim, que se converteu em uma alma no mundo dos seres encarnados co-loca ao seu redor, na natureza material, suas in-driyas, entre os quais os indriyas da mente são os sextos.

15:8. A alma obtém um corpo e quando o deixa, Ishvara a toma e a leva, como o vento leva a fragrância das flores.

15:9. Com ouvido, vista, tato, gosto e olfato e também com a mente, a alma percebe os obje-tos dos sentidos desde seu corpo.

15:10. Os ignorantes não vem a alma nem quando vem, nem quando se vão, nem quando permanece deleitando-se sendo cultivada pelas

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gunas. Ainda assim, aqueles que tem os olhos da sabedoria a vem!

15:11. Os yoguis que tem uma aspiração correta conhecem não somente a alma, mas tam-bém o Atman neles mesmos, Em troca, os insen-satos não encontram o Atman.

15:12. Hás de saber que o esplendor que emana do Sol, é qual ilumina o espaço, que está na Lua e no fogo, vem a Mim!

15:13. Havendo penetrado na terra, Eu sus-tento a todos os seres com Minha Força Vital, Eu nutro todas as plantes convertendo-me para elas no sumo delicioso.

15:14 Convertendo-me no Fogo da Vida, eu habito nos corpos dos animais e, unindo-me com as energias que entram e saem, transformo os quatro tipos de comida em seus corpos.

15:15. Eu permaneço nos corações de todos! De Mim vem o conhecimento, a memória e o ou-vido! Sou O Que deve ser conhecido nos Vedas! Sou, na verdade, o Possuidor do conhecimento completo! Sou também o Criador da Vedanta.

15:16. Existem dois tipos de purusha no mundo: o impecável e o propenso na cometer er-ros, Todas as criaturas são propensas a erros, mesmo que o Purusga Mais Alto é impecável.

15:17. Porém, existe também o Purusha Su-premo, chamado o Atman Divino52, superior a to-dos os seres e ao Purusha Mais Alto. Este Purusha Supremo, Que impregna tudo Consigo Mesmo e sustenta os três mundos, é o Grande Ishvara!

52 Paramatman.

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15:18. Dado que eu estou muito acima do perecíveis e até mesmo para o imperecível, sou chamado no mundo e nos Vedas o Espírito Su-premo!

15:19. Quem, sem cair no erro, Me conhece como o Espírito Supremo conhece tudo e Me ado-ra com seu ser inteiro!

15:20. Assim, o Ensinamento mais secreto foi exposto por Mim, ó impecável! Aquele que, sendo uma consciência desenvolvida, compreende este Ensinamento se volta mais exitoso em seus esforços, ó Bharata!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a decima quinta conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Conhecimento do Espirito Supremo.

Conversação 16. Discernimento do Divino

e do demoníaco

16:1. A intrepidez, a pureza da vida, a dili-gência no yoga de sabedoria, a generosidade, o autodomínio, o espirito de sacrifício, o estudo das Escrituras Sagradas, a prática espiritual, a simpli-cidade,

16:2. A não violência, a veracidade, a ausên-cia da irascibilidade, o desapego, o espirito de paz, a ausência de astucia, a compaixão pelos seres

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vivos, a ausência de cobiça, a suavidade, a mo-déstia, a ausência de agitação,

16:3. A valentia, o perdão absoluto, o vigor, a sinceridade, a ausência de inveja e orgulho: são as qualidades que une em si mesmo aquele que possui a natureza Divina.

16:4. A falsidade, a arrogância, o orgulho, a irascibilidade, a grosseria e a ignorância perten-cem àquele que possui qualidades demoníacas.

16:5. As qualidades Divinas levam à Libera-ção, enquanto que as demoníacas, a escravidão. Não te aflijas! Hás nascido para a sorte Divina, ó Pandava!

16:6. Os seres neste mundo se manifestam de duas maneiras: como o Divino e como o de-moníaco. Sobre o Divino já escutou. Agora escuta, ó Partha sobre a manifestação demoníaca!

16:7. As pessoas demoníacas não conhecem o poder verdadeiro, nem a abstinência, nem a pu-reza, nem sequer a probidade. Não há verdade nelas.

16:8. Elas dizem: “O mundo é sem verdade, sem significado, sem Ishvara e não apareceu para o Grande Propósito, senão meramente devido a paixão sexual!”

16:9. As pessoas de tais crenças, que nega-ram o Atman e quem são uma consciências pou-cos desenvolvidas, se convertem em malfeitores e destruidores do mundo perecível!

16:10. Entregando-se a desejos terrenos in-saciáveis que chegam a perdição, orgulhosos, ar-rogantes e seguros de que é tudo o que há,

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16:11. Abandonam-se às elucubrações perni-ciosas sem fim e tendo como a meta mais alta sa-tisfazer seus desejos, eles pensam: “Somente isto que há!”

16:12. Atados por centenas de cadeias de expectativas e entregando-se à luxuria e a ira, eles aumentam suas riquezas com meios injustos para satisfazer os prazeres sensuais.

16:13. “Hoje ele alcançou este propósito e amanhã alcançarei o outro! Esta riqueza já é mi-nha e a outra será minha no futuro!

16:14. Assassinei um inimigo e assassinarei outros! Sou o senhor! Sou aquele que desfruta! Alcancei a perfeição, o poder e a felicidade!

16:15. Sou rico e nobre! Quem pode compa-rar-se a mim? Darei oferendas e esmolas e des-frutarei!”, assim se enganam os ignorantes.

16:16. Perdidos em muitos pensamentos, en-rolados na rede das mentiras e entregues a satis-fação de suas paixões terrenas, eles caem em um inferno dos ímpios.

16:17. Presumidos, teimosos, cheios de or-gulho e embriagados com a riqueza, eles realizam sacrifícios hipócritas opostos ao espirito e as Es-crituras.

16:18. Entregues ao egoísmo, violência, ar-rogância, luxuria e nojo, eles Me 53 odeiam nos corpos de outros seres.

16:19. A estas pessoas cheias de ódio, mal e crueldade, Eu sempre as ponho em condições

53 Meu Atman.

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desfavoráveis e demoníacas em seus próximos nascimentos.

16:20. Caindo ne3stas condições, cobrindo-se de ignorância vida após vida, sem buscar-me, eles descem até o mesmo fundo do inferno.

16:21. Tres são as portas do inferno de onde um perece: a paixão sexual, a ira e a cobiça. Por isso ha de renunciar a estas três!

16:22. Quem se libertou destas três portas das trevas faz seu próprio bem, ó Kaunteya, e al-cança a Meta Suprema!

16:23. Em troca, aquele que , havendo re-nunciado às Escrituras Sagradas, segue a seus próprios anseios não alcança nem a Perfeição, nem a felicidade, nem a Meta Suprema!

16:24. Por isso, que as Escrituras Sagradas saem para ti as instruções sobre o que deve haver e o que não! Havendo conhecido o que mandam as Escrituras Sagradas, deves coordenas tuas ações neste mundo com elas!

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a decima sexta con-versação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Discernimento do Divino e do demoníaco.

Conversação 17. Divisão tripla da fé

Arjuna disse: 17:1. Qual é o estado daqueles que estão

cheios de fé, mas ignoram as regras prescritas

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pelas Escrituras Sagradas? Estão no estado de sattva, rajas ou tamas?

O Senhor Krishna disse: 17:2. A fé de uma pessoa encarnada pode

ser de três tipos: sattvica, rajasica e tamásica. Escuta sobre os três!

17:3. A fé de cada um corresponde a sua es-sência. O homem corresponde sua fé. Assim como é sua fé, assim é o homem.

17:4. As pessoas sáttvicas confiam no Divi-no, as rajasicas, nos seres de natureza demonía-ca54, e as tamásicas, nos mortos e nos espíritos inferiores.

17:5. Hás de saber que quem realizam as fa-çanhas ascéticas severas não prescritas pelas Es-crituras Sagradas a causa do narcisismo e com orgulho, quem, ao mesmo tempo, são dominados pela paixão sexual, os apegos e a violência,

17:6. Insensatos que torturam os elementos que compõem seus corpos, assim como a Mim dentro destes, são os que tomam as decisões demoníacas!

17:7. Também a comida, agradável para ca-da um, pode ser de três, assim como o sacrifício, as façanhas ascéticas e as oferendas. Escuta de Mim sobre a diferença destes!

17:8, A alimentação que aumenta a longevi-dade, a força, a saúde, a jovialidade e a serenida-de de animo e que é suculenta, aceitosa, nutritiva e saborosa é estimada pelos sattvicos.

54 Yakshas y rakshasas.

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17:9. Os apaixonados anseiam a comida amarga, azeda, salgada, demasiado picante, exci-tante, seca e ardente, quer dizer, a comida que causa a dor, o sofrimento e a enfermidade.

17:10. Deteriorada, insípida, malcheirosa, apodrecida, feita de desejos e suja é comida es-timada pelos tamásicos.

17:11. O sacrifício realizado sem nenhum pensamento sobre a recompensa, de acordo com as Escrituras Sagradas e com a certeza absoluta de que é um dever, é um sacrifício sattvico.

17:12. O sacrifício realizado com a expectati-va da recompensa e para saciar a si mesmo é um sacrifício que provem de rajas!

17:13. O sacrifício que contradiz aos precei-tos religiosos, realizados sem o desejo de alimen-tar aos necessitados, sem as palavras sagradas, sem generosidade e sem fé, é um sacrifício tamá-sico.

17:14. A homenagem rendida ao Divino, aos brâmanes, aos maestros e aos sábios, a pureza, a simplicidade, a temperança e a violência (ao cor-po) constituem ao ascetismo do corpo.

17:15. A fala que não causa desgosto e que é verídica, agradável e proveitosa, assim como a repetição dos textos sagrados, constitui o asce-tismo da fala.

17:16. A claridade do pensamento, a humil-dade, o laconismo, o controle dos pensamentos a atitude amigável para com todos e a naturalidade da vida constituem o ascetismo da mente.

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17:17. Quando este ascetismo triplo é reali-zado pelas pessoas equilibradas que estão cheias de uma fé profunda e que não tem nenhum pen-samento sobre a recompensa, é considerado co-mo sáttvico.

17:18. O ascetismo que se realiza para con-seguir o respeito, a honra ou a fala, assim como aquele que se realiza com orgulho, é rajásico, ins-tável e precário por sua natureza.

17:19. O ascetismo realizado sob a influencia da ignorância, com a tortura de um mesmo ou com o proposito de destruir ao outro, é tamásico por sua natureza.

17:20. O presente que se dá sem nenhum pensamento sobre a devolução, com a sensação de que é um dever, no momento e no lugar ade-quados, a uma pessoa digna, é considerado como sattvico.

17:21. O que se dá com a expectativa da de-volução ou da recompensa ou com pena, é um presente rajásico.

17:22. Um presente dado em um lugar inde-vido, em um momento indevido, a pessoas indig-nas, com falta de respeito ou com desprezo, é um presente tamásico.

17:23. “AUM — TAT — SAT” é a denominação tripla do Brahman nos Vedas, a que também se usava no tempo antigo durante os sacrifícios.

17:24. Por conseguinte, os conhecedores do Brahman começam a realizar suas ações sacrifici-ais e atos de refreamento de si mesmos com a

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palavra “AUM”, como é prescrito pelas Escrituras Sagradas.

17:25. Quando aqueles que buscam a Libera-ção fazem diversas doações sem nenhum pensa-mento sobre a recompensa, quando realizam os atos purificadores de refreamento de si mesmos e também quando são presentes sattvicos, o fazem com a palavra “TAT”.

17:26. A palavra “SAT” se usa para designar a realidade verdadeira, o bem e as ações virtuo-sas, ó Partha.

17:27. A palavra “SAT” também se pronuncia constantemente ao praticar o espirito de sacrifício, o refreamento de uma mesmo e a caridade. As ações destinadas a estes mesmos propósitos também se denominam com a palavra “SAT”.

17:28. Em troca, o que se realiza sem fé, já será um sacrifício, a doação de uma esmola, uma façanha ou outra coisa, é “ASAT”, é dizer “NADA” tanto aqui como depois da morte.

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a decima sétima conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Divisão tripla da fé.

Conversação 18. Libertação através da renuncia

Arjuna disse:

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18:1. Eu quis escutar, ó Poderosos, sobre a essência do estilo de vida de renuncia e sobre a renuncia!

O Senhor Krisha disse: 18:2. O abandono da atividade ocasionada

pelos desejos pessoais, os sábios o chamam vida de renuncia55. A atividade sem o apego e a ga-nancia pessoal se chama renuncia.

18:3. “A ação, como um mal, deve ser aban-donada!”, dizem alguns pensadores religiosos. “O espirito de sacrifício, a caridade e os atos de re-freamento de um mesmo não devem ser abando-nados!”, dizem outros.

18:4. Escuta Minhas conclusões sobre a re-núncia, ó Bharata! “A renúncia pode ser de três tipos, ó tigre entre os homens”

18:5. O espirito de sacrifício, a caridade e os atos de refreamento de um mesmo não devem ser abandonados, senão, pelo contrario, pratica-dos, Estes purificam a uma pessoa razoável.

18:6. Contudo, estas ações devem realizar-se sem nenhum apego à atividade mesma e sem nenhum pensamento sobre a recompensa, ó Partha!

18:7. Em verdade, não se deve renunciar às ações prescritas! Tal renuncia proveniente da ig-norância, é considerada tamásica!

18:8. Quem renuncia à ação devido ao medo ante o sofrimento físico, dizendo: “Me dói!” leva a cabo uma renuncia rajásica que não lhe dará ne-nhum fruto.

55 Sanniasa.

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18:9. Quem realizada a ação necessária, di-zendo: “Ha de fazê-lo!”, renunciando ao mesmo tempo o apego à ação mesma e ao interesse, leva ao cabo uma renuncia sattvida, ó Arjuna.

18:10. O renunciante cheio de harmonia e pureza, razoável e livre de duvidas não tem aver-são para com uma ação desagradável nem tam-pouco tem apego a uma ação agradável.

18:11. Em verdade, uma pessoa encarnada não pode renunciar às ações completamente! Só quem renuncia à ganância pessoal renúncia real-mente!

18:12. Para uma pessoa que não renunciou, os frutos de uma ação podem ser bons, maus e intermediários. Mas para um sanniasin não há fru-tos!

18:13. Escuta de Mim, ó poderosamente ar-mado, sobre as cinco causas de quais dimana qualquer ação, tal como estas se descrevem no samkhya:

18:14. As circunstancias, a pessoa mesma, os outros seres, diversos campos de energia e a Vontade Divina, cinco no total.

18:15. Qualquer ação que uma pessoa reali-ze com seu corpo, palavra ou pensamento — seja esta justa ou injusta — sempre é ocasionada por estas cinco causas.

18:16. Por isso quem se considera a si mes-mo como a única causa da ação não vê devido a sua falta de razoamento!

18:17. Em troca, quem é livre de tal egocen-trismo e é uma consciência livre, incluindo lutan-

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do neste mundo, em verdade não mata e não se liga com isto!

18:18. O mesmo processo de conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor são as três causas que induzem à ação. O impulso, a ação e o fazedor são os três componentes de uma ação.

18:19. Em términos das gunas, o conheci-mento a ação e o fazedor também podem ser de três tipos. Escuta de Mim sobre isto!

18:20. O conhecimento que vê ao Ser Unido e Indestrutível em todos os seres, o Ser não divi-de no separado, é sattvico!

18:21. Pelo contrário, o conhecimento que considera aos diversos seres multiformes como separados vem de rajas!

18:22. E o conhecimento em cuja base está o desejo de apegar-se a cada coisa separada como se esta fosse tudo, o conhecimento irracional e estreito que não capta o real, se denomina tamá-sico!

18:23. A ação devida, realizada desapaixo-nadamente, sem nenhum desejo de recompensa e sem apego a esta ação, se denomina sattvica.

18:24. Em troca, a ação se realiza sob pres-são do desejo de realiza-la, com narcisismo ou com um grande esforço se denomina rajasica.

18:25. Uma ação realizada sob a influência do erro, sem a consideração das possíveis conse-quências negativas, paga destruir ou danificar o que é grosseira, se denomina tamásica.

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18:26. Um fabricante livre do apego à ação e do narcisismo, cheio de segurança e resolução, imutável no melo dos êxitos e fracassos, se de-nomina sattvico.

18:27. Um fabricante agitado, desejoso dos frutos de suas ações, cobiçoso, invejoso, egoísta, desonesto, exposto ao regozijo e à aflição, se de-nomina rajásico.

18:28. Um fabricante arrogante, grosseiro, maligno, teimoso, malicioso, negligente, pérfido, obtuso, lento, sombrio e medroso, se denomina tamásico.

18:29. A distinção entre os níveis de desen-volvimento da consciência e da aspiração também é tripla segundo as três gunas. Escuta sobre isto, ó Dhananjaya!

18:30. Quem discerne o que merece atenção e o que não, o que deve se fazer e o que não, o que há de precaver-se e do que não, o que cons-titui a liberdade e o que constitui a escravidão, é uma consciência desenvolvida e permanece no sattva.

18:31. Quem não distingue o caminho cor-reto do equivocado nem o que há de fazer do que não, é uma consciência pouco desenvolvida e permanece nos rajas.

18:32. Quem está coberto de ignorância, to-ma o caminho equivocado pelo correto e marcha na direção errônea, é uma consciência tamásica, ó Partha!

18:33. Aquela aspiração que é inquebrantá-vel, que o permite a um controlar a mente, as

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energias e os indriyas e também estar permanen-temente no Yoga, é sattvica.

18:34. Pelo contrário, se um dirige sua aspi-ração até o verdadeiro caminho e, ao mesmo tempo, até a paixão sexual e até a ganancia nos assuntos, ó Arjuna, então, a consequência dos apegos e o interesse, tem uma aspiração rajásica.

18:35. Aquela aspiração que não libera à pessoa irracional da perecidade, do medo, da dor, da tristeza e do caráter sombrio é tamásica, ó Partha!

18:36. Agora escuta sobre a natureza tripla da alegria, ó o melhor dos Bharatas, aquela que trai a felicidade e alivia o sofrimento!

18:37. A alegria que a princípio é similar a um veneno, mas que depois se converte em um néctar é considerada sattvica e nascida do conhe-cimento exato do Atman.

18:38. Alegria que surge da união dos indri-yas com os objetos terrenos, que ao princípio é similar a um néctar, mas que depois se converte em um veneno, se chama rajásica.

18:39. A alegria que é ilusória desde o prin-cipio até o fim, que surgiu da rejeição do Atman, a base do descuido e a preza, é tamásica.

18:40. Não há nenhum ser na Terra — ainda entre os “deuses” — que está livre das três gunas nascidas no mundo da prakriti!

18:41. As obrigações dos brâmanes, dos xátrias, dos vaishias e dos shudras estão distribu-ídas segundo as gunas e de acordo com sua pró-pria natureza, ó conquistador dos inimigos!

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18:42. A claridade, o autodomínio, a pratica espiritual, a honestidade, o perdão absoluto, a sensibilidade, a sabedoria, o uso do próprio co-nhecimento (para o bem dos demais), o conheci-mento sobre o Divino: tal é o dever de um brah-man, nascido de sua própria natureza.

18:43. A valentia, a magnificência, a firmeza, a rapidez, a incapacidade de fugir do campo de batalha, a generosidade, o caráter do governante: real é o dever de um xátria, nascido de sua pró-pria natureza.

18:44. A agricultura, o gado e o comércio são as obrigações de uma vaishia, nascidas de sua própria natureza. Tudo o que está relacionado com o serviço é o dever de um shudra, nascido de sua própria natureza.

18:45. O homem avança até a Perfeição cumprindo seu próprio dever com diligencia, Es-cuta sobre chega a Perfeição aquele que cumpre seus dever diligentemente!

18:46. Expressando, através de cumprir seus dever, a adoração Àquele Que impregna tudo e pela Vontade de Quem todos os seres se originam, o homem alcança a Perfeição!

18:47. É melhor cumprir as próprias obriga-ções, ainda que sejam insignificante, que cumprir as obrigações de outro, ainda que sejam elevadas! Cumprindo as obrigações que demandam de sua própria natureza, o homem não comete um peca-do com isto.

18:48, O destino inato, ainda quando conte-nha o desagradável, não deve abandonar-se! Em

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verdade, todas as iniciativas arraigadas estão co-bertas de erros, como o fogo está coberto de hu-mo, ó Kaunteya!

18:49. Aquele que, como uma consciência, é livre e omnipresente, que conheceu o Atman e que morreu para os desejos terrenos, alcança a Perfeição Superior e a liberação de todas as tra-vas de seu destino através do caminho de renun-cia.

18:50. Escuta de Mim, em poucas palavras, sobre como chega ao Brahman, ao estado mais alto de Sabedoria, aquele que está em processo de alcançar a Perfeição, ó Kaunteya!

18:51. Aquele que é uma consciência com-pletamente purificada, que se superou mediante a firmeza, que se separou de todo o exterior, que se desapegou da paixão e da hostilidade.

18:52. Que vive retirado56, que é abstinente, que dominou sua fala, corpo e mente que perma-nece todo o tempo na meditação e impassibilida-de,

18:53. Que renunciou ao egoísmo, a violên-cia, a arrogância, a paixão sexual, o nojo, a cobi-ça e que está cheio de paz e desinteresse, merece converter-se em Brahman.

18:54. Havendo alcançado a Eternidade na União com o Brahman, tal praticante se enche de Amor mais alto a Mim!

18:55. Mediante o amor esta pessoa Me está conhecendo em Minha Essência, Quem sou e co-

56 É dizer, autosuficiente, sem aspiração à comuni-

cação vã.

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mo sou na realidade. Havendo-me conhecido des-ta maneira, em Minha Essência Mais Profunda, se submerge em Minha Existência!

18:56. Tal praticante cumpre todos os deve-res (que o correspondem), mas confia em Mim e, com Minha ajuda, alcança a Morada Eterna e In-destrutível!

18:57. Renunciando mentalmente a todas as ações pessoais, havendo-te unido Comigo com a consciência e percebendo-me com teu Refugio, pensa em Mim constantemente!

18:58. Pensando em Mim, superarás com Mi-nha ajuda todos os obstáculos! Porém, se não de-sejas viver assim devido ao amor próprio, perde-rás tudo!

18:59. Se te havendo entregado ao egoísmo, dizes: “Eu não quero lutar!” tal decisão tua será vã, já que a prakriri te forçará!

18:60. Oh Kaunteya! Ligado por teu próprio karma criado por tua própria natureza farás, con-tra tua vontade, aquele que por tua decisão errô-nea não queres fazer!

18:61. Ishvara mora nos corações de todos os seres, ó Arjuna, e faz, com o poder de Sua maya, a todos os seres girar continuamente como a roda de um oleiro!

18:62. Busca o refugio nele com todo teu ser! Por Sua Graça alcançarás a Paz suprema e a Mo-rada Imperecível!

18:63. Assim te revelei a sabedoria mais se-creta que o secreto mesmo! Reflete nesta desde

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todos os pontos de vista e depois proceda como desejes!

18:64. Escuta de Mim novamente Minha pa-lavra Suprema e mais íntima: És amado por Mim e por isso recebe de Mim este bem!

18:65. Sempre pensa em Mim, ama-me, sa-crifica-te por Mim, busca o refugio somente em Mim e chegarás a Mim! Amo-te e confio em ti.

18:66. Depois de abandonar todos os outros caminhos, vem somente a Mim para a Salvação! Não te aflijas! Libertar-te-ei de todas as tuas ca-deias!

18:67. Nunca converses sobre isto com aquele que não é propenso à façanha e quem não está cheio de amor! Tampouco contes àqueles que não querem ouvir ou aqueles que falam mal de Mim!

18:68. Quem revele esta Verdade Suprema entre as pessoas que Me amam, manifestando (assim) seu devoto amor por Mim, chegará a Mim indubitavelmente!

18:69. E não haverá ninguém entre as pes-soas que realize um serviço mais valioso que o de tal devoto! E não haverá ninguém na Terra mais querido por Mim que esta pessoa!

18:70. Quem estuda nossa conversação sa-grada aprenderá a adorar-me com o sacrifício da sabedoria! Assim é Meu pensamento.

18:71. Se alguém, cheio de fé, simplesmente e4scuta esta conversação com reverência, tam-bém está libertando-se do mal e alcançará os mundos puros dos justos!

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18:72. Escutaste tudo isto com muita aten-ção? Está eliminado teu erro nascido da ignorân-cia, ó Partha?

Arjuna disse: 18:73. Meu erro se desvaneceu! Por Tua

Graça alcancei o conhecimento! Sou8 firme! Mi-nhas duvidas deixei! Farei segundo Tuas palavras!

Sanjaya disse: 18:74. Eu estudei, com o estremecimento da

alma, esta conversação maravilhosa entre Vasu-deva e o generoso Partha!

18:75. Pela graça de Vyasa, ouvi deste yoga secreto e superior do Senhor do yoga, o próprio Ishvara Que falou diante de meus olhos!

18:76. Ó rajá! Recordando uma e outra vez esta conversação sagrada entre Keshava e Arjuna, eu me maravilho cada vez mais!

18:77. Recordando mais e mais esta Imagem maravilhosa de Krishna, eu me regozijo uma e outra vez!

18:78. Por toda parte que está Krisha, o Se-nhor do yoga, e por toda parte que está o guer-reiro Partha, ali seguramente estarão o bem estar, a vitoria e a felicidade! Desta maneira penso eu.

Assim nos gloriosos Upanishads do bendito Bhagavad-Gita, a ciência sobre o Eterno, a Escri-tura do yoga, está anunciada a decima oitava conversação entre Sri Krishna e Arjuna chamada:

Liberação através da renuncia. Assim termina o Bhagavad-Gita.

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Comentários para o Bhagavad-Gita

Os Ensinamentos de Krishna, expostos no Bhagavad-Gita, assim como todos os outros Ensi-namentos de Deus, podem dividir-se em três componentes: o componente ontológico, o com-ponente ético e o componente psicoenergético (quer dizer, aquele que esta relacionado com o desenvolvimento do ser humano no marco do raja e buddhi yoga).

Isto corresponde aos três componentes do desenvolvimento espiritual: o componente inte-lectual, o componente ético e o componente psi-coenergético.

Examinaremos cada uma destas seções sepa-radamente.

Aspecto ontológico dos Ensinamentos de Krishna

Desde o ponto de vista ontológico, o Bhaga-vad-Gita nos dá as respostas completas as per-guntas essenciais da filosofia, tais como.

a) que é Deus, b) que é o homem, c) em que consiste o significado da vida de

cada um de nós e como devemos viver na Terra.

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No Bhagavad-Gita, Deus é examinado nos seguintes aspectos: Ishvara-Criador, o Absoluto, o Brahman e o Avatar.

A Ishvara se chama em outros idiomas como o Pai Celestial, Deus Pai, Geová, Alá, Tao, a Cons-ciência Primordial, etc. E como Svarog na história antiga dos escravos. Ele é também o Mestre Su-premo e a Meta de cada um de nós.

O segundo aspecto da palavra Deus é o Ab-soluto ou o Todo, quer dizer, o Criador consubs-tancial com Sua Criação multidimensional.

A Evolução do Absoluto se desenvolve em ci-clos que chamam Manvantaras, Um Manvantara consiste de Kalpa (“o Dia do Brahman”) e Pralaya (“a Noite do Brahman”). Cada Kalpa começa com a “criação do mundo” e termina com o “fim do mundo”. O significado de tal periodicidade consis-te na formação de novas condições para que a Evolução da Consciência universal (ou, em outras palavras, a Evolução do Absoluto) continue.

O terceiro aspecto de Deus é o Brahman, ou o que é o mesmo que o Espírito Santo. Com este termino se denominam conjuntamente a todas as Individualidades Divinas Que saem da Morada do Criador com o fim de ajudar as pessoas encarna-das.

Outra manifestação de Deus na Terra é o Avatar (Messias ou Cristo em outros idiomas), que quer dizer, um Homem-Deus encarnado em um corpo humano e unido, como Consciência com o Criador. O Avatar — desde Seu nível Divino —

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também ajuda às pessoas a encontrar o Caminho até Ishvara.

Krishna, Quem os presenteou o Bhagavad-Gita, Jesus o Cristo, Babaji, Sathya Sai e muitos Outros na história de nosso planeta são exemplos concretos dos Avatares.

O homem não é um corpo. O corpo é somen-te seu recipiente temporal. O homem é a consci-ência, a energia capaz de perceber-se a si mesma. O tamanho da consciência pode variar considera-velmente entre diferentes pessoas desde um ta-manho “rudimentar” até um tamanho cósmico. Isto depende dos fatores: da idade psicogenética (é dizer, a idade da alma) e da intensidade dos esforços realizados no Caminho espiritual.

Sobre a relação entre o corpo do homem e o homem mesmo, Krishna diz o seguinte:

2:18. Só os corpos de um ser encarnado são perecíveis, mas este ser é eterno, indestrutível. (...)

2:22. Assim como o homem deixa sua roupa velha e põe a nova, da mesma maneira deixa seu corpo desgastado e se veste com um novo.

O homem é a etapa final no desenvolvimento evolutivo do purusha encarnado: plantas — ani-mais — homem — Deus. Sua tarefa é tratar de alcançar a Perfeição Divina. Neste Caminho o ho-mem passa através de certas etapas ou escalões.

Um dos esquemas de tal ascensão é a descri-ção da evolução segundo as gunas. Assim existem três gunas:

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A primeira é o tamas: a escuridão, a ignorân-cia, a torpeza e a grosseria.

A segunda é o rajas: a paixão, a busca inten-sa do próprio lugar na vida, a lutas pelos ideais e assim sucessivamente.

A terceira é o sattva: a pureza e a harmonia. Contudo, como dizia Krishna, é necessário

avançar mais saindo dos limites do sattva e diri-gindo-se até a União com o Criador. Isto requer novos esforços, uma nova luta consigo mesmo. É importante recordar isto, já que o sattva pode converter-se em uma armadilha. É assim porque o sattva cativo com o êxtase que um experimenta nesta etapa e propõe deixar de manter os esfor-ços espirituais. O sattva garante o paraíso, mas é necessário ir mais além e fazer muito mais con-verter-se no Brahman, alcançando o Nirvana nEle, e logo unir-se com Ishvara.

Por outra parte, não é possível evitar a guna sattva no Caminho até o Criador, já que para unir-se com Ele, deve-se assimilar as qualidades proprias desta guna.

Tampouco é possível evitar a guna rajas, já que ali se desenvolve qualidades tais como ener-gia, dinamismo, aspiração, fortaleza e outras.

O segundo esquema do avance evolutivo do homem, dado por Krishna, é a escala dos varnas. (Cabe mencionar que estas e muitas outras esca-las se complementam muito bem entre si e sua aplicação combinada a si mesmo e a outra pessoa dá uma imagem mais completa)

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Segunda a escala dos varnas, o homem que se encontra no primeiro escalão se chama shudra. É, todavia demasiado jovem em sua psicogêneses e sabe fazer muito pouco. Portanto, sua tarefa é aprender das pessoas evolutivamente maduras ajudando-as em seu trabalho.

Os vaishias se encontram no segundo escalão. São comerciantes, artesãos e agricultores. A per-manência neste varna implica que a pessoa já te-nha um intelecto o suficientemente desenvolvido como para começar uma atividade criativa em-presarial. Pois para pode montar o próprio nego-cio, independente se necessita um intelecto de-senvolvido. Através da atividade mencionada, os representantes deste varna se aperfeiçoam.

O seguinte varna é dos chatrias. São as pes-soas que avançaram ainda mais em seu desen-volvimento intelectual e em sua energia. São os dirigentes que possuem a amplitude da mente e o poder pessoal, quer dizer, o poder da consciência. A proposito, um pode começar a se preparar para este escalão desde a tenra juventude desenvol-vendo o poder pessoal e a energia. O trabalho fí-sico, diversos tipos de esportes e danças dinâmi-cas com música rítmica contribuíram para isto. Se alguém o faz evitando os estados emocionais grosseiros e lembrando-se de Deus e da necessi-dade de observar as normas éticas conhecidas, então isto formará um potencial importante para realizar um aperfeiçoamento espiritual frutífero nos anos maduros. Naquele tempo alguém deverá renunciar a competitividade e ao caráter passional

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e, pelo contrário, aprender a tranquilidade, a harmonia, a ternura e a sabedoria. Mas que tudo isto se baseie no grande poder pessoa, quer dizer, na potencia energética da consciência e do inte-lecto.

O varna superior é o dos brâmanes ou líderes espirituais.

Na Índia e em alguns outros países, perten-cia a um ou outro varna se herdava. Assim suce-deu historicamente. Por esta razão, desde cedo, nem todas as pessoas que se consideram repre-sentantes do varna superior, realmente tem al-cances espirituais altos.

Reproduzo as palavras de Krishna a respeito de como escolher para si os métodos adequados do trabalho espiritual sobre si mesmo, quer dizer, aqueles que correspondem realmente à etapa atual da psicogêneses e da ontogêneses:

12:8. Dirige teus pensamentos até Mim, submerge-te como uma consciência em Mim e en-tão, na verdade, viverás em Mim!

12:9: Porém, se não és capaz de concentrar teu pensamento firmemente em Mim, trata de al-cançar-me como os exercícios do yoga, ó Dhana-nhaya!

12:10. Se tampouco és capaz de fazer cons-tantemente os exercícios do yoga, então te dedica a servir-me realizando somente aquelas ações que são necessárias para Mim, e alcançarás a Per-feição!

12:11. Se tampouco és capaz de fazer isto, então dirija-te até a União Comigo renunciando à

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garantia pessoal de tua atividade! Refreia-te des-ta maneira!

A atividade que está privada do componente egoísta e que serve para a Evolução (ou, em ou-tas palavras, o serviço espiritual) é o karma yoga.

Também cabe destacar que Krishna dava muita importância ao aperfeiçoamento intelectual das pessoas no Caminho Espiritual.

O destaco especialmente porque existem al-gumas seitas religiosas que negam a importância do desenvolvimento intelectual e inclusive propa-gam a ideia de eliminar a educação tradicional das crianças.

Krishna, em troca, exaltava a Sabedoria: 4:33. Realizar um sacrifício com a própria

sabedoria é melhor que qualquer sacrifício exteri-or! (...) Todas as ações do sábio (...) chegam a ser perfeitas!

4:34. Obtém pois, a sabedoria através da devoção, a investigação e o serviço! (...)

4:37. Da mesma maneira com o fogo conver-te a lenha em cinza, o fogo da sabedoria queima completamente todas as ações falsas!

4:38. No mundo não existe um melhor purifi-cador que a sabedoria! Através desta, aquele que é hábil no yoga fará no tempo devido a Ilumina-ção ano Atman!

4:39. Quem está cheio de fé obtém a sabe-doria. Quem aprende a controlar suas indryias a obtém também. Depois de obtê-la, eles chegam rapidamente aos mundos superiores.

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7:16. Existem quatro tipos de virtuosos que confiam em Mim, ó Arjuna: os que anseiam esca-par do sofrimento, os que tem sede de conheci-mento, os que buscam alcances pessoais e os sá-bios.

(Das ultimas palavras de Krishna se despren-de que, primeiro, praticamente cada pessoa ativa e não demoníaca, quer dizer, aquela que não cul-tiva os defeitos grosseiros, é considerada por ele como virtuosa. Segundo, os representantes dos três primeiros grupos não são sábios ainda, já que os sábios pertencem a um grupo superior, Nem sequer anseiam escapar do sofrimento, nem somente tem sede de conhecimento, nem buscam alcances pessoais na etapa de rajas são sábios ainda)

7:17. Superior a todos é um sábio equilibra-do e absolutamente fiel a Mim. Na verdade, sou querido pelo sábio, e o sábio é querido por Mim!

8:28. O estudo dos Vedas ou a realização dos sacrifícios, das façanhas céticas e das boas obras dão seus frutos! Mas um yogui que possui o co-nhecimento verdadeiro se eleva por cima de tudo isto e alcança a Morada Suprema!

Quem pode ser chamado sábio? Aquele que tem o conhecimento sobre o mais importante: so-bre Deus, sobre o homem e sobre o Caminho do homem até Deus? Isto é a base, o fundamento da Sabedoria, mas não é a Sabedoria. É simplesmen-te a possessão do conhecimento, a erudição. Em troca, a Sabedoria é todo o mencionado mais a

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faculdade de operar com o conhecimento obtendo, a faculdade de criar intelectualmente.

Como desenvolver isto? O primeiro e mais sensível método é a educação nos estabelecimen-tos educativos tradicionais: escolas, colégios, ins-titutos, etc. Isto treina e desenvolve a atividade mental. A partir disto, a pessoa pode adquirir ha-bilidades e profissões adicionais (e quanto mais obtenha, melhor), comunicar-se com diferentes pessoas, com Deus e fazer muitas outras coisas. Também é importante dominar completamente as funções do grijastha (amo de casa). Através de servir a outras pessoas e cuidar delas — primeiro no marco de uma família ordinária e logo na “fa-mília” dos próprios discípulos espirituais — se forma a Sabedoria em um.

Em troca, às pessoas pouco desenvolvidas in-telectualmente, o Criador não as deixas entrar nEle, já que não necessita delas dentro de Si.

Aspecto ético dos Ensinamentos de Krishna

A ética inclui três componentes: a) a atitude do homem para com outras pes-

soas, para com todos os seres e para com o meio ambiente inteiro,

b) a atitude para com Deus, c) a atitude para com o próprio Caminho até

a Perfeição

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Permita-me citar as declarações de Krishna sobre cada uma destas seções dos ensinamentos éticos.

Atitude do homem para com outras pessoas, para com todos os seres, e para com o meio ambiente inteiro

Krishna propõe considerar a tudo o que exis-te no universo como a Manifestação de Deus no Aspecto do Absoluto Amar a Deus no Aspecto do Absoluto implica amar a Sua Criação como uma parte inalienável dEle.

7:8. Sou o sabor da água (...)! Sou o brilho da Lua e a luz do Sol! Sou o Pranava, o Conheci-mento Universal, a Voz Cósmica e o humanitaris-mo nas pessoas!

7:9. Sou o aroma ouro da terra e o calor do fogo! Sou a vida de tudo o que existe e a façanha dos praticantes espirituais!

7:10. (...) Sou a Consciência de todos que desenvolveram a consciência! Sou o esplendor de todo o belo!

7:11. Sou a força das pessoas fortes que abandonaram seus apegos e paixão sexual! Sou também aquela força sexual, presente em todos os seres, que não contradiz ao dharma (...)!

7:12. Hás de saber que o sattva, o rajas e o tamas emanam de Mim. Mas compreenda que não estou nestes, mas que estes estão em Mim!

12:15. Quem não faz sofrer as pessoas (...) é querido por Mim!

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16:2-3. (...) a compaixão para com os seres vivos (...) (é própria de) aquele que possui a na-tureza Divina.

17:15. A fala que não causa desgosto (...) (constitui) o ascetismo da fala.

17:16. (...)a atitude amigável para com to-dos (...) (constitui) o ascetismo da mente.

6:9. Aquele que é uma consciência desenvol-vida e que é espiritualmente avançado, é benévo-lo com os amigos e os inimigos, com os indiferen-tes, os estranhos, os invejosos, os parentes, os piedosos e os viciosos.

Atitude para com o Criador

11:54. (...) Somente o amor pode contem-plar-me a Minha mais profunda Essência e unir-se Comigo!

13:10-11. O amor inquebrantável e puro a Mim (...) se reconhece como verdadeiro (...)!

9:27. Qualquer coisa que faças, qualquer coi-sa que comas, qualquer coisa que sacrifiques ou dês, qualquer façanha que executes, (...) faça-o como uma oferenda para Mim!

12:14 (...) quem procura alcançar a União Caminho, conhecendo resolutamente o Atman e dedicando a mente e a consciência a Mim, tal amado discípulo é querido por Mim!

12:20. Na verdade, todos (...) para os que Eu sou a Meta Suprema são queridos por Mim, sobretudo)

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Atitude para com o próprio Caminho à Perfeição

Deus nos propõe considerar nossas vidas como a oportunidade de nos aproximarmos da Perfeição através dos incessantes esforços para a transformação de nós mesmos e também através do amor- serviço às pessoas. Vejamos as declara-ções pertinentes de Krishna:

Luta contra as emoções grosseiras negativas e ânsias terrenas

12:13. Quem não sente inimizade para com nenhum ser vivo, quem é amistoso e compassivo, (...) equilibrado no meio da alegria e a aflição, quem perdoa tudo

12:14. E sempre está satisfeito, (...) tal amado discípulo é querido por Mim!

12:15. Quem não faz sofrer às pessoas (...), quem está livre de ansiedade, arrebatamento, no-jo e medo é querido por Mim!

12:17. Quem não (...) odeia, quem não se aflige (...) é querido por Mim!

5:23. Quem pode aqui na Terra, antes de sua libertação do corpo, resistir às ânsias terrenas e à ira já alcançou a harmonia e é uma pessoa feliz!

16:21. Três são as portas do inferno de onde um perece: a paixão sexual, a ira e a cobiça. Por isso há de renunciar a estas três!

16:22. Quem se há libertado destas três por-tas da escuridão faz seu próprio bem (...) e alcan-ça a Meta Suprema!

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18:27. Um fabricante agitado, desejoso dos frutos de suas ações, ambicioso, invejoso, egoísta, desonesto, exposto ao regozijo e à aflição, se de-nomina rajásico.

18:28. Um fabricante arrogante, grosseiro, maligno, teimoso, (...) sombrio (...), se denomina tamásico.

A propósito, a sexualidade, assim como todas as outras qualidades do homem, pode ser dife-renciada segundo as gunas. Em outras palavras, os representantes de cada guna possuem a se-xualidade própria desta guna. Este conhecimento constitui um motivo para a autoanalise e o auto aperfeiçoamento, assim como um fundamento que permite compreender melhor aos demais. Somente a sexualidade sattvica merece ser esti-mulada.

Diz-se muito a respeito do sattva em todo o texto do Bhagavad-Gita. É a harmonia, a quietude da mente, o refinamento da consciência, a facul-dade de controlar as próprias emoções (o que im-plica também a rejeição das manifestações emo-cionais grosseiras), a predominância do estado de amor sutil e alegre, a eliminação do egocentrismo e da violência. Desde o ponto de vista metodoló-gico, é importante destacar que o sattva se obtém somente a condição de ter um corpo são e limpo das inclusões energéticas grosseiras. Também é necessário, entre outras coisas, excluir comple-tamente da nutrição os pratos feitos de carne ou peixe. O sattva pode ser sólido somente na pes-soa que cobriu a etapa de xátria, que já desen-

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volveu a energia, o poder pessoal e um intelecto forte e que adquiriu o conhecimento profundo so-bre tudo que é mais importante.

Luta contra os falsos apegos

12:18-18. Quem (...) está livre dos apegos terrenos (...) é querido por Mim1

13:8-11. A atitude desapegada para com os objetos terrenos, (...) o não ter apegos terrenos, (...) tudo isto se reconhece como verdadeiro (...)!

2:62. Se um regressa mentalmente aos obje-tos terrenos, então inevitavelmente se regenera ao apego a isto. Do apego nasce o desejo de tê-los, e da impossibilidade de satisfazer tais desejos surge a ira.

16:1-3. (...) a generosidade, (...) a ausência de cobiça (...) são as qualidades que une em si mesmo aquele que possui a natureza Divina.

18:49. Aquele que, como uma consciência, é livre e omnipresente, que conheceu o Atman e que morreu para os desejos terrenos, alcança a Perfeição superior e a libertação de todas as tra-vas de seu destino através do caminho de renún-cia!

Luta contra as manifestações do “eu” inferior contra o egoísmo, o egocentrismo e a ambição

12:13. (...) quem não tem apegos terrenos nem egoísmo. Quem é equilibrado no meio da alegria e da aflição, quem perdoa tudo

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12:16. Quem não exige nada dos demais (...) é querido por Mim!

13:7-11. A humildade, (...) a sensibilidade, (...) ausência do egoísmo, (...) tudo isto se reco-nhece como verdadeiro (...)!

16:4. (...) a arrogância, o orgulho (...) per-tencem àquele que possui qualidades demoníacas.

12:18. Quem tem a mesma atitude para com um amigo como para um inimigo, quem é inalte-rável na glória como na desonra, no calor como no frio, no meio da alegria ou da aflição, quem está livre dos apegos terrenos,

12:19. Quem recebe igualmente elogios e críticas, quem é lacônico, satisfeito como tudo o que sucede, não está apegado à casa, firme em suas decisões e cheio de amor é querido por Mim!

O problema da luta contra os falsos apegos, o egoísmo e o egocentrismo pode ser totalmente resultado através de:

— formar a orientação espiritual correta (ou, em outras palavras, a aspiração total ao Criador)

— aprender a controlar os próprios indryias e — eliminar o “eu” inferior no estado de Niro-

dhi através da meditação “reprocidade total”. Se alguém faz esta meditação dentro o Espírito Santo, alcança o estado de Nirvana no Brahman; se a faz no eon do Criador, alcança a União com Ele.

Enquanto ao controle dos indryias, é um componente do trabalho psicoenergético e pode ser alcançado somente por aqueles que aprende-ram — no marco do raja yoga — os métodos do traslado da consciência de um chakra ao outro,

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que desenvolveram os três dantianes e depois — na etapa de buddhu yoga — a aperfeiçoaram suas duas “bolhas de percepção”.

Desenvolvimento das qualidades positivas em um mesmo

12:19. (...) quem é (...) firme em suas deci-sões e cheio de amor é querido por Mim!

2:14. O contato com a matéria (...) dá calor ou frio, prazer ou dor. Estas sensações são transi-tórias, chegam e se vão. Suporta-as com coragem (...)!

2:15. Quem não sofre a causa destas (...) e permanece equânime e inalterável ante a felicida-de e ante a desgraça é capaz de alcançar a Imor-talidade.

4:33. Realizar um sacrifício com a própria sabedoria é melhor que qualquer sacrifício exteri-or (...)! Todas as ações do sábio (...) chegam a ser perfeitas!

4:34. Obtém, pois a sabedoria através da devoção, a investigação e o serviço! Os sábios e clarividentes que penetraram com a essência das coisas que te iniciaram nisto.

4:38. No mundo não existe um melhor purifi-cador que a sabedoria! Através desta, aquele que é hábil no yoga fará no tempo devido a Ilumina-ção no Atman!

4:39. Quem está cheio de fé obtém a sabe-doria. Quem aprende a controlar suas indryias a obtém também. Depois de obtê-la, eles chegam rapidamente aos mundos superiores.

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11:54. Somente o amor pode completar-me assim (...)! Somente o amor pode completar-me em Mim mais profunda a Essência e unir-se Co-migo!

Serviço à Deus

14:26. E aquele que, havendo-se libertado das três gunas, Me serve com um amor inque-brantável merece ser o Brahman.

5:25. Aqueles rishis (...) que se dedicaram ao bem de todos recebem o Nirvana no Brahman.

Aspecto psicoenergético do aperfeiçoamento

O componente psicoenergético do yoga, tal como o exposto Krishna, inclui as seguintes eta-pas:

1. Preparação do corpo 2. Exercícios preparatórios com a energia do

corpo 3. Conhecimento do Atman através de: a) regulação da esfera emocional com ênfase

no desenvolvimento do coração espiritual b) rejeição aos falsos apegos, c) formar e manter a aspiração correta, d) controle sobre a atividade dos indryias, e) prática meditativa para refinar a consciên-

cia, para aprender a transferi-la e acumular o po-der pessoal,

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f) conhecimento prático da natureza multidi-mensional do Absoluto e do Brahman,

g) subsequente “consolidação da consciência”, quer dizer, seu crescimento quantitativo.

4. Conhecimento de Ishvara e a União com Ele.

5. União com o Absoluto.

Preparação do corpo

Krishna não deixou técnicas especiais para a preparação do corpo, mas deu recomendações gerais:

17:5. Hás de saber que os que realizam as façanhas ascéticas severas (...) a causa do narci-sismo e com orgulho, (...)

17:6. Insensatos que torturam os elementos que compõem seus corpos, (...) são os que to-mam as decisões demoníacas!

6:16. Na verdade, o yoga não é para aqueles que comem demasiado ou não comem absoluta-mente, nem para aqueles que dormem demasiado ou velam em demasia (...)!

6:17. O yoga elimina todo o sofrimento da-quele que estabeleceu a moderação na comida, no descanso, no trabalho e também na alternação entre dormir e estar acordado,

17:8. A alimentação que aumenta a longevi-dade, a força, a saúde, a jovialidade e a serenida-de e ânimo e que é suculenta, acetosa, nutritiva e saborosa é estimada pelos sáttvicos.

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Exercícios preparatórios com a energia do corpo

É impossível começar a trabalhar com o At-man imediatamente. Os treinamentos especiais devem preceder a tal trabalho.

Krishna faliu desta etapa preparatória muito brevemente:

12:9. Ainda sim, se não és capaz de concen-trar teu pensamento firmemente em Mim, trata de alcançar-me com os exercícios de yoga (...)! (Quer dizer, se trata da aplicação dos métodos de raja yoga, descritos em detalhe no nosso livro [6]).

Subjugação da mente

O Bhagavad-Gita diz sobre isto o seguinte: Arjuna disse: 6:33. Para este Yoga que se alcança através

do equilíbrio interno, eu, devido a inquietude de minha mente, não vejo em mim um fundamento firme (...).

6:34. Pois a mente é ,na verdade inquieta (...)! É tempestuosa, obstinada, dura de deter! Penso que é tão difícil detê-la como ao vento!

O Senhor Krishna disse: 6:35. Sem dúvida, (...) a mente é inquieta e

é duro freá-la. Ainda assim é possível conquistá-la com o exercício constante e a impassibilidade.

6:36. O Yoga é difícil de alcançar para aquele que não conheceu seu Atman, mas quem O co-

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nheceu vai ao Yoga57 pelo caminho correto. Assim opino Eu.

Na prática esotérica, o problema do controle sobre a mente se resolve com facilidade mediante os métodos do raja yoga e logo com os do buddhi yoga. Para isto é necessário aprender a mudar-se como consciência ao chakra anahata. Ao alcançá-lo, os pensamentos predominantes se destroem, a mente agitada se acalma e seus indriyas se sepa-ram do terreno.

No sucessivo, na etapa do buddhi yoga, este problema se resolve ainda mais radicalmente, já que o adepto aprende a transformar as estruturas altamente desenvolvidas das “burbujas de per-cepção” alta e baixa aos mundos sutis”, longe dos limites de seu corpo.

Contudo, não se deve pensar que tal adepto perde sua capacidade intelectual em algum grau. Fora das meditações, esta pessoa pensa nos as-pectos terrenos da existência inclusive mais ade-quadamente. Durante as meditações seu intelecto tampouco, “se apaga”, mas que simplesmente se desprende por completo do terreno e se concentra no espiritual, no Divino.

O praticante poderá resolver este problema em um grau, ainda que maior se alcança unir-se como consciência com o Brahman e logo com Is-hvara através das técnicas meditativas especiais.

57 Neste caso “Yoga” está escrito com maíscula

porque significa a União com Ishvara, o que constitui nossa Meta final.

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Neste caso seu intelecto também se unirá com o Intelecto de Deus.

É conhecido que algumas seitas insalubres usam práticas adequadas para controlar a mente. Por exemplo, os “confinamentos” prolongados de por si, quer dizer, sem a ajuda dos métodos eso-téricos especiais, não dão resultados positivos e os adeptos simplesmente perdem seu tempo nes-te caso. O uso das substâncias psicotrópicas, que também tem conhecidos efeitos desfavoráveis so-bre tal saúde física e psíquica, tampouco serve de muito para cumprir essa tarefa. O único caminho correto para aprender a controlar a mente é a prática ativa dos métodos de raja e buddhi yoga em um estado adequado e claro da consciência.

Como Krishna descreve o Atman e a maneira de conhecê-lo

8:3. (...) A essência ) do homem) é o Atman. 6:7. Quem conheceu ao Atman alcança a

tranquilidade completa porque encontra o refugio na Consciência Divina quando (seu corpo) está no frio ou no calor, em situações de alegria ou de pe-sar, na honra ou na desonra.

6:10. Que um yogui se concentre constante-mente no Atman (...)!

6:18. Quando o yogui, como uma consciência refinada e livre de todos os desejos, se converta somente no Atman, sobre tal praticante se diz: “Está em harmonia!”

5:17. Aquele que conheceu como um buddhi, que se identificou com o Atman, que confia co-

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mente no Senhor e que encontra o refúgio so-mente nEle, caminha até a Libertação sendo puri-ficado pela sabedoria salvadora!

15:11. Os yoguis que tem uma aspiração correta conhecem não somente a alma, mas tam-bém o Atman neles mesmos. Do contrário, os in-sensatos não encontram o Atman.

2:58. Quando (...) o yogui desprende seus indryias dos objetos terrenos, como uma tartaru-ga que esconde suas patas e sua cabeça, então já alcançou a compreensão verdadeira.

13:22. Aquele Que observa, apoia e recebe tudo, Que é o Senhor Altíssimo e também o At-man divino se chama o Espírito Supremo neste corpo.

13:29. Quem vê que todas as ações se reali-zam somente na prakriti, enquanto que o Atman fica em tranquilidade, vê em verdade.

13:31. O Atman Divino, eterno e não enca-deado pela prakriri, ainda que reside nos corpos, não atua e não é influenciado por nada (...)!

13:32. Como o vazio omnipresente não se mistura com nada devido a sua sutileza, da mes-ma maneira o Atman Que reside nos corpos não se mistura com nada.

6:32. Quem vê as manifestações do Atman em todo e quem através disto conheceu a igual-dade de tudo, do agradável e do desagradável, é considerado com um yogui perfeito (...)!

9:34. Até Mim dirija a tua mente, ama-me, sacrifica-te por Mim, venera-me. Se te propões

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como a Meta Mais Alta alcançar-me, chegarás a Mim finalmente sendo absorvido pelo Atman!

A respeito do que foi dito anteriormente, é pertinente destacar a importância do trabalho pa-ra o desenvolvimento do coração espiritual, sem o qual é impossível obter os alcances espirituais mais altos. Pois é dentro deste coração desenvol-vido de onde o praticante pode encontrar seu At-man e depois conhecer o Paramatman ou Ishvara (o Criador).

Krishna disse sobre o seguinte: 10:20. (...) Sou o Atman que reside nos co-

rações de todos os seres (...) 15:15. Eu permaneço nos corações de todos!

(...) 18:61. Ishvara mora nos corações de todos

os seres (...)! Podem encontrar informação sobre como

“abrir” e logo desenvolver o coração espiritual em todos nosso livros e filmes cuja lista está apresen-tada ao final deste livro.

Descrição do Brahman e como alcançar o Nirvana nEle

13:12. Revelo-te o que deve ser conhecido e o que, depois de haver sido conhecido, conduz à Imortalidade: isto é o Brahman Supremo Que não tem princípio e que está mais além dos limites da existência e inexistência (dos seres).

13:13. Suas mãos, pés, olhos, cabeças e bo-cas estão por todas as partes. É omnisciente e mora no mundo abraçando tudo.

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13:14. Possui todas as sensações, mas não tem órgãos dos sentidos! Não tem nenhum apego, mas sustenta a todos os seres! És livre das três gunas, mas as usa!

13:15. Está fora e dentro de todos os seres! Permanece em tranquilidade, mas ao mesmo tempo é ativo! És tão sutil que não é possível atrapalhá-lo. Está sempre perto, mas ao mesmo tempo está em uma lonjura inexpressável! Assim é Ele, imperecível!

13:16. Não está dividido entre os seres, mas ao mesmo tempo existe separadamente em cada um deles. Ele se conhece como o Ajudante de to-dos e abraça a todos Consigo Mesmo dirigindo-lhes em seu desenvolvimento.

13:17. Sobre ele, sobre a Luz de todas as lu-zes, se diz que está fora dos limites da escuridão. É a Sabedoria, a Meta de toda sabedoria, que se conhece por meio da sabedoria que reside nos co-rações de todos!

14:26. E aquele que, havendo-se libertado das três gunas, Me serve com um amor inque-brantável merece ser o Brahman.

18:50. Escuta de Mim, em poucas palavras, sobre como chega ao Brahman, ao estado mais alto de Sabedoria, aquele que está em processo de alcançar a Perfeição (...)!

5:24. Quem está feliz em seu interior, quem se alegra, mas não do exterior, e quem se ilumina (com o amor) desde dentro é capaz de conhecer a essência do Brahman e o Nirvana no Brahman!

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5:25. Aqueles rishis que se limparam dos ví-cios, que se libertaram da dualidade, que conhe-ceram ao Atman e que se dedicaram ao bem de todos recebem o Nirvana no Brahman.

5:26. Aqueles que estão livres das ânsias ter-renas e da ira, que estão ocupados com a prática espiritual, que aprenderam a controlar a mente e que conheceram ao Atman obtém o Nirvana no Brahman.

6:27. A felicidade mais alta espera ao yogui (...) quando tal yogui se voltou impecável e se-melhante ao Brahman!

6:28. Quem se harmonizou e se libertou dos vícios experimenta facilmente o Êxtase ilimitado do contato com o Brahman!

18:51. Aquele que é uma consciência com-pletamente purificada, que se superou mediante a firmeza, que se apartou de todo o exterior, que se despojou da paixão e a hostilidade,

18:52. Que vive retirado, que é abstinente, que dominou sua fala, corpo e mente, que per-manece todo o tempo na meditação e impassibili-dade,

18:53. Que renunciou ao egoísmo, à violên-cia, à arrogância, a paixão sexual, ao nojo à cobi-ça e que está cheio de paz e desinteresse, merece converter-se em Brahman.

5:20. Sendo uma consciência calma e clara, aquele que conheceu ao Brahman e se estabele-ceu nEste não se regozija recebendo o agradável nem se aflige recebendo o desagradável.

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5:21. Quem não está apegado à satisfação de seus sentidos com o exterior e se deleita no Atman, ao alcançar a Unidade com o Brahman, saboreia o Êxtase eterno.

18:54. Havendo alcançado a Eternidade na União com o Brahman, tal praticante se enche do Amor mais alto a Mim!

“Fortalecimento da consciência”

A medida que o praticante avança por todos os escalões do buddhi yoga, ele ou ela cresce quantitativamente como consciência, ou em ou-tras palavras, tem lugar o “fortalecimento da consciência”, sua “cristalização”:

2:64. (...) quem dominou suas indryias, re-

jeitou as ânsias e a aversão e se dedicou ao At-man, obtém a pureza interior!

2:65. Ao obter esta pureza, se põe fim ao so-frimento e a consciência se fortalece rapidamente.

Porém, é possível perder este alcance: 2:67. A mente daquele que cede ante a pres-

são de suas paixões é arrastada com um barco pela tormenta!

2:63. A ira causa a deformação total da per-cepção, e tal deformação causa a perda da me-mória (dos próprios alcances anteriores). A perda da memória causa a perda da energia da consci-ência. Perdendo a energia da consciência, ela se degrada.

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Descrição de Ishvara

10:8 Sou a Fonte de tudo e tudo se desen-volve a partir de Mim. Havendo entendido isto, os sábios M adoram em um êxtase profundo!

10:9 Depois de dirigir seus pensamentos até Mim e consagrar-me suas vidas, iluminando-se o um ao outro e conversando constantemente sobre Mim, eles estão contentes e alegres!

10:10. A eles — sempre cheios de amor — Eu lhes concedo o buddhi yoga por meio do qual eles Me alcançam.

10:42 (...) Havendo vivificado ao universo in-teiro com uma parte de Mim, Eu permaneço!

10:40. Não há limites para Meu Poder Divino (...)! (...)

11:47. (...) Minha Forma suprema e eterna (...) se revela somente no Yoga e na União com o Atman. (...)

7:7. Não há nada superior a Mim! (...) 15:18. (...) estou muito acima do perecível e

incluso no imperecível (...)! 9:4. Eu — em Minha forma não manifestada

— impregno ao mundo inteiro. Todos os seres têm raízes sem Mim (...).

8:9. Quem sabe tudo sobre o Senhor Omni-presente e Eterno do mundo sobre Aquele Que é mais sutil do mais sutil, Que é o Fundamento de tudo, Que não tem forma e Que brilha como o Sol detrás da escuridão,

8:14. (...) (tal) yogui equilibrado que pensa constantemente somente em Mim, sem ter ne-

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nhum outro pensamento (...) Me alcança facil-mente.

11:54. (...) somente o amor pode contem-plar-me em Mim mais profunda Essência e unir-se Comigo!

11:55. Quem faz tudo somente para Mim, para quem sou a Meta Suprema, quem Me ama que quem está livre dos apegos e não tem inimi-zade chega a Mim (...)!

12:8. Dirige teus pensamentos até Mim, submerge-te como uma consciência em Mim e en-tão, na verdade viverás em Mim!

14:27. E o Brahman, imperecível e imortal, se cimenta em Mim! Sou o Fundamento do dhar-ma eterno e a Morada da felicidade final!

18:46. Expressando, através de cumprir seu dever. A adoração Àquele Que impregna tudo e pela Vontade de Quem todos os seres se originam, o homem alcança a Perfeição!

18:55. Mediante o amor esta pessoa Me está conhecendo em Minha Essência, Quem sou e co-mo sou na realidade! Havendo me conhecido des-ta maneira, em Minha Essência Mais Profunda, se submerge Minha Existência!

18:65. Sempre pensa em Mim, ama-me sa-crifica-te por Mim, busca o refugio somente e Mim e chegarás a Mim! (...)

6:15. Um yogui que se uniu com o Atman e que controla sua mente entra no Nirvana Mais al-to de onde permanece em Mim.

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Conhecimento do Absoluto

Um dos Aspectos de Deus, como o temos discutido anteriormente, é o Absoluto, o Criador consubstancial com Sua Criação. Na prática, o co-nhecimento meditativo e a União com o Criador e com o Absoluto sucedem quase simultaneamente.

Sobre o conhecimento do Absoluto, Krishna diz que o seguinte:

7:19. Depois de muitos nascimentos, o sábio chega a Mim.” Vasudeva é Tudo!”, diz aquele que obteve suas qualidades excepcionais de Mahatma.

18:20. O conhecimento que vê ao Ser Unido e Indestrutível em todos os seres, o Ser não divi-dido no separado é sattivico!

11:13. (...) Arjuna viu o universo inteiro divi-do em muitos mundos, mas unido no Corpo da Deidade Superior.

6:30. Aquele que Me vê por todas as partes que vê tudo em Mim, Eu nunca o abandonarei, e esta pessoa nunca Me abandonará!

6:31. Quem, havendo –se estabelecido em tal Unidade, Me adora, Àquele Que está em tudo, vive em Mim qualquer que seja sua ocupação.

A união com o Brahman, com o Criador e com o Absoluto se alcança mediante os métodos meditativos especiais que lhe permitem ao prati-camente passar ao estado de “não eu” através do mecanismo de “reprocidade total”. Ao alcançá-lo, o egocentrismo se substitui pelo Teocentrismo não só mentalmente, mas também meditativa-mente.

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A proposito, o vetor de atenção dentro do Absoluto está dirigido desde o Criador até a Cria-ção.

7:4. A terra, a água, o fogo, o ar, o akasha, a mente, a consciência e também o “eu” individual, tudo isto é o que existe no mundo de Meu prakriti. São oito no total.

7:5 Esta é Minha natureza inferior. Conhece também Minha natureza superior, Que é o Ele-mento da Vida por meio do Qual se sustenta o mundo inteiro.

7:6. Esta natureza superior é o seno de tudo o que existe. Sou a Fonte do universo (manifesta-do) e este desaparece em Mim!

A Meta final de cada um de nós na União com Ele. Dediquemos nossas vidas a isto!

Apêndice: As citações do Mahabharata

As citações mais importantes do Livro sobre as esposas (Livro 11 do

Mahabharata)58

(...) Ainda se alguém se aflige até a morte, não trocará nada (com isto). O remédio para a aflição é não pensar nesta. A aflição cresce pelo

58 [11].

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contato com o indesejável e pela separação do agradável.

Somente as pessoas irracionais são consumi-das pelas aflições.

A aflição se destrói com o conhecimento. Aquele que dominou suas indryias, que não

se excita pela paixão sexual, a avidez e o nojo, que está satisfeito (com as coisas terrenas que tem) e que é verídico, chega à tranquilidade (in-comovível). Aquele que aprendeu (entre outras coisas) a controlar sua mente rompe o grande cír-culo dos sofrimentos.

As citações mais importantes de Udyogaparva (Livro 5 do Mahabhara-

ta)59

O não causar mal com violência é a regra mais importante que leva a felicidade.

Quem quer alcançar o bem estar deve evitar seis vícios: a sonolência, a indolência, o medo, o nojo, a perecidade a postergação dos assuntos para mais tarde.

Aquele que nunca é arrogante, que jamais fala com menosprezo sobre os demais ainda no arranque de seu atrevimento e que , inclusive ha-vendo perdido o autocontrole, nunca disse pala-vras grosseiras, geralmente é amado por todos.

59 [8].

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Assim como as estrelas estão expostas à in-fluência dos planetas, assim mesmo o mundo in-terior (do homem) é influenciado por (suas) in-dryias quando estes, desenfreados, se dirigem até os objetos materiais.

Os tolos ofendem aos sábios com críticas re-provadoras injustas e maldizeres. Ainda assim, aquele que fala mal de alguém assume sobre si o pecado. Pelo contrario, o sábio, perdoando as ofensas, se libera dos pecados.

São tolos (...) aqueles que tratam de ensinar a quem é impossível ensinar(também o são os que) (...) falam com aquele que lhes escuta com desconfiança (...).

O causar dano com violência é a força das pessoas ímpias; o perdão, a troca, é a força dos virtuosos.

O que é repugnante para uns, não de sê-lo ao outro. Em breve, esta é a justiça.

Há de vencer o desgosto com o perdão; ao ímpio há de conquistá-lo com a bondade; ao ava-rento ha que educá-lo com a generosidade; e a mentira há que vencê-la com a verdade.

Nunca se deve realizar ações virtuosas sob a influência da paixão, o medo e a ambição (...).

A ânsia para conseguir o prazer primeiro ca-tiva a pessoa e logo causa a paixão e a raiva em seu interior.

Eu reconheço como brahman àquele que é capaz de conhecer e explicar (a Verdade) aos demais, quem, havendo resultado seus próprios problemas, explica os problemas dos outros.

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(...) Aquele que permanece na Verdade e que conheceu ao Brahman é considerado como brah-man.

Não é possível conhecer ao Brahman com pressa60. O conhecimento sobre O Não Manifesta-do eu o chamo eterno, e este conhecimento é ob-tido por aqueles que guardam o voto do aprendi-zado (...). O corpo é criado por dois: o pai e a mãe (...). Mas o (verdadeiro) nascimento (...) li-bera da velhice e dá a Imortalidade. O discípulo (...) deve aspirar com diligência aos ensinamentos. Que jamais se orgulha ou se enraivece!

Mediante seus atos (no mundo material), as pessoas alcançam somente os mundos limitados, Em troca, aquele que está conhecendo ao Brah-man alcança tudo com isto. E não há outro cami-nho até a salvação definitiva!

O Refugio Celestial mais importante não se encontra na superfície da Terra, nem no espaço aéreo, nem no oceano. Não está nas estrelas nem no relâmpago. Sua forma não se vê nas nuvens, nem o vento, nem entre os “deuses”, nem na lua, nem no sol. Não se descobre nos hinos, nem nos provérbios sacrificiais, nem nos conjuros, nem nos cantos puros. Não se vê nas melodias (...) e nem sequer nos grandes votos (...).

Está mais além da escuridão (...). É a mais sutil dos mais sutis, mas também é

grande, maior que as montanhas. É o Fundamento Inquebrável, a Imortalidade

(...), a Essência Eterna (do universo).

60 Ver O Evangelho de Felipe.

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É a Luz Brilhante, a Gloria Suprema (...). Isto, o Divino e Eterno, pode ser contempla-

do pelos yoguis. Deste se origina o Brahman e graças a Este,

o Brahman cresce. Nada pode vê-lo com os olhos (do corpo).

Não obstante, aquele que chega a conhecê-lo com a aspiração cognoscitiva, com a mente e com o coração, se volta Imortal.

Sou o Pai, a Mãe e também o Filho! Sou a Essência de tudo que foi, é e será! (...) Eu, O mais Sutil dos mais sutis, o Benévolo,

estou desperto em todos os seres.

Bibliografía

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