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ANA PAULA SABINO VOLTOLINI BEM-ESTAR DE FRANGOS DE CORTE Relatório de estágio curricular obrigatório apresentado ao curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, na área de Bem-estar Animal sob a orientação da professora Msc. Marúcia de Andrade Cruz e como supervisão de estágio a professora Dra. Carla Forte Maiolino Molento. Curitiba 2011

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ANA PAULA SABINO VOLTOLINI

BEM-ESTAR DE FRANGOS DE CORTE

Relatório de estágio curricular obrigatório

apresentado ao curso de Medicina Veterinária

da Universidade Tuiuti do Paraná, na área de

Bem-estar Animal sob a orientação da

professora Msc. Marúcia de Andrade Cruz e

como supervisão de estágio a professora Dra.

Carla Forte Maiolino Molento.

Curitiba

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Ana Paula Sabino Voltolini

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título

de médico veterinário por uma banca examinadora do curso de medicina veterinária da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de novembro de 2011

Medicina Veterinária

Universidade Tuiuti do Paraná

_________________________________________

Orientadora: Profª M.S.cª Marúcia de Andrade Cruz

Universidade Tuiuti do Paraná

__________________________________________

Profª M.S.c Elza Maria Galvão Ciffoni

__________________________________________

Prof Dr. José Maurício França

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Dedicatória.

Dedico aos meus pais, que junto comigo estão realizando um sonho. Também dedico

á todos os animais não humanos que já passaram ou ainda estão em minha vida,

juntamente com meus pais estes seres me ensinaram o verdadero signifcado de amor

e bondade. Dedico também á todos os profissionais das diversas áreas de

conhecimento que possuem senso ético e com suas ações são capazes de

proporcionar uma relação mais justa entre a humanidade os animais não humanos, nos

proporcianando assim a visão de um futuro melhor para todos.

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço á Deus, por toda sua criação e por ser meu símbolo de

benevolência. Agradeço á toda a minha família, especialmente á meus pais por todo o

esforço despendido para que este sonho se tornasse realidade. Agradeço á meus

mestres que me iluminaram com seu conhecimento durante toda a graduação, em

especial á Marúcia de Andrade Cruz, por me orientar e jamais me dizer não mesmo

tendo de se didvidir com seus vários compromssos, e Maria Aparecida de Alcântara,

por não medir esforços a favor dos animais e nos mostrar a maravilhosa ciência do

bem-estar animal. Agradeço á toda a equipe do LABEA pelo maravilhoso trabalho e

acolhimento durante meu estágio. Merecem também agradecimento todos os colegas

de curso que me foram próximos nos estudos, trabalhos e demais desafios da vida

acadêmica. Por fim agradeço a todos aqules que já passaram ou ainda estão em minha

vida e de uma maneira ou de outra contriburam para eu ser a pessoa que sou hoje.

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"Nós precisamos de um conceito mais novo, sábio e talvez mais místico dos animais.

Longe da natureza e vivendo através de artifícios complicados, o homem da civilização

vigia as criaturas através do vidro do seu conhecimento e vê portanto os detalhes de

uma pena, mas uma imagem geral distorcida. Nós os padronizamos por serem

incompletos, pelo seu trágico destino de terem se formado tão abaixo de nós, e nisto,

nós erramos gravemente. Pois os animais não podem ser avaliados pelo homem. Em

um mundo mais velho e mais completo que o nosso eles se movem completos e

confiantes, dotados com extensões dos sentidos que nós perdemos ou nunca

possuímos, guiando-se por vozes que nós nunca ouviremos. Eles não são irmãos, eles

não são lacaios. São outras nações. Presos conosco nesta vida e neste tempo,

prisioneiros do esplendor e trabalho da terra.

The outermost House, Henry Beston.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso foi realizado pela acadêmca Ana

Paula Sabino Voltolini baseado nas experiências vividas durante o cumprimento do

estágio final obrigatorio. O estágo foi realizado no LABEA (Laboratório de Bem-estar

Animal) que fica localizado na Universdade Federal do Paraná e está sob coordenação

da Professora Dra Carla Forte Maiolino Molento. Durante o estágio foi possível

acompanhar pesquisas e discussões acerca da ciência do bem-estar animal,

principalmente no que se relaciona ao bem-estar de animais de produção, com foco

maior em frangos de corte. Tentando abranger todas as etapas para a implantação de

melhorias no grau de bem-estar dos animais de produção, as pesquisas e discussões

aqui apresentadas, além de apresentar a ciência do bem-estar animal, também

focaram conceitos éticos e legislação pertinente aos animais. Também foram de

fundamental importância as discussões e pesquisas direcionadas ás escolhas e

preferências do consumidor, que entendemos ter papel fundamental na implantação de

melhorias para o bem-estar dos animas nas produções e estão representadas no

presente trabalho.

Palavras chave: ciência do bem-estar animal, frangos de corte, legislação sobre bem-

estar animal, consumidor de produtos de origem animal.

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ABSTRACT.

This conclusion of course work was done by the academic Ana Paula Sabino

Voltolini based on experiences during the final stage of compulsory compliance. The

stag was held at LABEA (Animal Welfare Laboratory) which is located in Universdade

Federal do Paraná and is coordinated by Professor Dr. Carla Forte Maiolino Molento.

During the stage was possible to follow research and discussion about the science of

animal welfare, especially as it relates to the welfare of farm animals, with greater focus

on broilers. Trying to cover all the steps for the implementation of improvements in the

degree of well-being of farm animals, research and discusons presented here, besides

presenting the science of animal welfare, also focused on ethical concepts and

legislation pertaining to animals. Also of fundamental importance were the discussions

and research directed choices and consumer preferences, which we have a

fundamental role in the implementation of improvements to the welfare of the animals in

production and are represented in this work.

Keywords: science of animal welfare, broiler, legislation on animal welfare, consumer of

animal products.

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LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

ABEF: Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango

CE: Comunidade Européia.

cm: centimetro.

Dra: Doutora

Eqiv: equivalentes.

IN: Instrução Normativa.

LABEA: Laboratório de bem-estar animal.

Kg: Kilo(s). kilograma

m²: metro quadrado.

MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Msc : Mestre.

nº: Número

OIE: Organização Internacional de Epizootias.

Prof.: Professor(a).

STEPS: Programa Nacional de Abate Humanitário.

ton.: tonelada.

tons. :toneladas.

WSPA: Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Socety for Protection of teh

Animals.)

SP: São Paulo.

UBA: União Brasleira de Avicultura.

UNESP: Unversidade Estadual de São Paulo.

UFPR: Universidade Federal do Paraná.

UFSM: Unversidade Federal de Santa Maria

UTP: Universdade Federal do Paraná

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 FIGURA 1.0 EXEMPLO DE ABRIGO PARA FRANGOS EM

SISTEMA SEMI-CONFINADO.

9

FIGURA 2

EXEMPLO DE FRANGO DE CORTE COM IMPOSSIBILIDADE

DE LOCOMOÇÃO.

17

FIGURA 3 PORCENTAGEM DA EXPORTAÇÃO DA CARNE DE FRANGO

BRASILEIRA NO ANO DE 2009

35

FIGURA 4 ESQUEMA DE PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR

SEGUNDO A TEORIA DA CADEIA DE MEIOS E FINS.

40

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 EQUIPE ATUAL DO LABEA, FORMAÇÃO E PROJETO ATUAL. 3

QUADRO 2 MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A AVALAÇÃO EM BEM-

ESTAR SEGUNDO O PROTOCOLO WELFARE QUALITY®

7

QUADRO 3 DADOS Á SEREM RECOLHIDOS NA PRIMEIRA ETAPA DA

AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO WELFARE QUALITY®.

7

QUADRO 4

PARTES RELEVANTES DO ANEXO I DA DIRETIVA

43/2007/CE.

29

QUADRO 5

PARTES RELEVANTES DO ANEXO III DA DIRETIVA

43/2007/CE.

31

QUADRO 6 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, E PRINCIPAIS PRODUTOS DA

AGRICULTURA COM DESTAQUE PARA AS CARNES, DOS

ÚLTIMOS ANOS E PARA OS PRÓXIMOS (2012/2013).

33

QUADRO 7 EXPORTAÇÃO DA CARNE DE FRANGO BRASILEIRA NO ANO DE 2009, RANKING POR ESTADOS.

34

QUADRO 8 CONSUMO DE PRODUTOS DA AGROINDÚSTRIA NOS

ÚLTIMOS ANOS E PARA OS PRÓXIMOS (2012/2013).

36

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SUMÁRIO.

RESUMO I

ABSTRACT II

LISTA DE SÍMBOLOS, ABREVIATURAS E SIGLAS III

LISTA DE FIGURAS IV

LSTA DE QUADROS V

LISTA DE TABELAS VI

1 INTRODUÇÃO 1

2 LOCAL DE ESTÁGIO- LABORATÓRIO DE BEM-ESTAR ANIMAL (LABEA) 2

2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA EQUIPE LABEA 3

2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 5

2.2.1 - Elaboração de questionário direcionado para o consumidor de frangos de

corte 7

2.2.2 - Aplicação do protocolo welfare quality® nas produções de frango 11

3 A CIÊNCIA DO BEM-ESTAR ANIMAL 13

4 DESAFIOS EM BEM-ESTAR ANIMAL NAS PRODUÇÕES ATUAIS 16

4.1 - CRESCIMENTO 16

4.2 - JEJUM PRÉ-ABATE 18

4.3 - CAPTURA 19

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4.4 - CARREGAMENTO 20

4.5 - TRANSPORTE 21

4.6 - TEMPO DE ESPERA 22

4.7 - ABATE 23

5 - ÈTICA E LAGISLAÇÃO. 24

6 - LEGISLAÇÃO NACIONAL E EUROPÉIA SOBRE BEM-ESTAR DE

ANIMAIS DE PRODUÇÃO

27

7 O MERCADO DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, COM FOCO EM

FRANGOS DE CORTE

33

9 BEM-ESTAR ANIMAL E CONSUMO DE PRODUTOS DE ORIGEM

ANIMAL.

38

10 CONCLUSÂO 41

11 REFERÊNCIAS 42

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1. INTRODUÇÃO

É de conhecimento de todos os profissionais que lidam com animais de

produção que o bem-estar animal é um assunto de extrema importância, e vem

ganhando pauta nos últimos anos.

Em todos os tipos de criações de animais, até mesmo dentre os animais de

companhia, existem desafios ao ser-humano para proporcionar aos animais um grau

adequado de bem-estar. Isto é lógico se observarmos que retiramos os animais de seu

ambiente natural, os privamos de uma série de comportamentos sociais inerentes à

sua espécie, mudamos sua alimentação natural e demais mudanças significativas

dependendo da finalidade da criação. No caso dos animais de produção, a questão se

torna ainda mais delicada, uma vez que garantir os interesses da espécie pode ser

mais desafiador, pois os mesmos podem se contrapir ao modelo de produção ou a

índices zootécnicos a serem alcançados. Assim como qualquer tipo de criação tem

suas particularidades, com a criação de frangos de corte não é diferente. Este é um

setor que já tem dédas de tecniicação e está extremamente produtivo, o que faz com

qualquer mudança no modelo já alcançado, tenha impacto significativo para sua

implantação.

Ao analisar o bem-estar dos animais de produção se faz necessária uma visão

holística, saindo dos limites da ciência da medicina veterinária para buscar

conhecimento nas áreas do direito, filosofia, ética ecônomia e sociologia.

O presente trabalho contém as coclusões, pesquisas e discussões vivenciadas

durante a experiência no LABEA, inerentes á aplicação de normas nas produções de

frango de corte.

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2. LOCAL DE ESTÁGIO – LABORATÓRIO DE BEM-ESTAR ANIMAL (LABEA).

O local escolhido para a realzação do estágio curricular obrigatório, foi o

Laboratório de Bem-estar Animal (LABEA), que tem sua sede no campus de ciências

agrárias da Universidade Federal do Paraná, localizado na Rua dos Funcionários 1540,

no bairro Juvevê, em Curitiba, Paraná. O Laboratório é coordenado pela Prof. Dra.

Carla Forte Maiolino Molento, e possui uma equipe de mestrandos, doutoranda e

estagiários. A estrutura do LABEA conta com uma sala de 20 metros quadrados,

equipada com 3 computadores para uso em pesquisas e elaboração de artigos, além

de a equipe ter a opção de levar seu próprio computador, onde contará com acesso

irrestrito à internet. Toda a equipe do LABEA além de poder contar com o acervo da

biblioteca da Universidade Federal do Paraná (UFPR), setor de ciências agrárias

também tem à disposição um acervo exclusivo do LABEA. O acervo do LABEA conta

com literatura nacional e internacional, na área da ciência do bem-estar animal, direitos

dos animais, ética e filosofia e na área de pesquisa e ensino. No acervo também estão

presentes protocolos e manuais práticos para a aplicação da ciência do bem-estar

animal tais como os protocolos Welfare quality® (para suínos, bovinos e aves de corte)

e os arquivos em multimídia do programa nacional de abate humanitário (STEPS)

promovido pela Sociedade Mundial de Proteção Animal ( World Society for the

Protection of Animals – WSPA). Também estão disponiveis periódicos com

publicações na área da ciência do bem-estar, economia e clínica de pequenos animais.

Além do conteúdo impresso, a equipe também pode utilizar arquivos digitais de revistas

científicas quando do acesso à internet pela UFPR (convênios com portal de conteúdo

científico). Para o desenvolvimento de pesquisas de campo inerentes aos projetos do

LABEA, a equipe também conta com a estrutura física da UFPR, que é composta de

laboratórios, hospital veterinário de pequenos e grandes animais e da fazenda (fazenda

do Cangüiri). Apesar da estrutura considerável e os excelentes trabalhos gerados pelo

LABEA, a coordenadora Prof. Dra. Carla Molento, tem a pretensão e se esforça para

ampliar o laboratório e adquirir mais material de pesquisa, o que possiblitará um maior

número de trabalhos gerados e um maior reconhecimento do LABEA.

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2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA EQUIPE.

Todos os trabalhos gerados pelo LABEA são coordenados ou co-coordenados

pela Prof Dra. Carla Molento. A equipe atual é composta de quatro mestrandos, uma

doutoranda, duas estagiárias de estágio final curricular e um bolsista. Cada membro

da equipe LABEA tem seu próprio projeto ou tarefa mas existe cooperativismo entre

os membros, agregando assim mais experiência e conhecimento à toda equipe. No

qudro 1.0 estão citados em ordem alfabética os membros atuais do LABEA, sua

formação e o principal projeto no qual estão atualmente.

QUADRO 1.0: EQUIPE ATUAL DO LABEA, FORMAÇÃO E PROJETO ATUAL.

MEMBRO FORMAÇÃO PROJETO ATUAL

Ana Paula S.

Voltolini

Medicina Veterinária (UTP). Estagiária currícular no

LABEA. Principal projeto:

Construção, validação e

aplicação de questionário com

questões de bem-estar animal

direcionado para consumidores

de frango de corte.

Bernado W. Ciências Biológicas - UFPR Mestranda em Ciências

Veterinárias – UFPR / LABEA.

Projeto de pesquisa: bem-estar

de animais de experimentação

Bruno Müller

Zootecnia - UFPR. Aluno de iniciação científica

voluntária: Estudo para

verificação da dor sobre a

expressão do potencial

genético e problemas

secundários de bem-estar

animal em frangos de corte de

alta taxa de crescimento.

Carla Molento. - Graduação em Medicina

Veterinária (UFPR ).

- Mestrado em Ciências Veterinárias

- Professora de

Comportamento e Bem-estar

Animal (UFPR – atualmente)

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(UFPR).

- Doutorado em Zootecnia (Mcgill

University).

- Coordenadora do Laboratório

de Bem-Estar Animal –

LABEA. (UFPR Atualmente).

Elaine Sans

- Graduação em Zootecnia - UFPR.

Mestranda em Ciências

Veterinárias – UFPR / LABEA.

Projeto de pesquisa: Bem-

estar de frangos de corte -

enriquecimento ambiental e

aplicação do Protocolo

Welfare quality® em sistema

industrial e alternativo (frango

de corte tipo caipira).

Janaina

Hammerschidmidt.

- Graduação em Medicina

Veterinária (UFPR).

- Especialista em Clínica Médica e

Cirúrgica de Grandes Animais

(UFPR)

Mestranda em Ciências

Veterinárias – UFPR / LABEA.

Projeto de pesquisa:

Desenvolvimento de laudo de

bem-estar animal.

Juliana Federici - Graduação em Zootecnia (UNESP

- Jaboticabal).

Mestranda em Ciências

Veterinárias – UFPR / LABEA.

Projeto de pesquisa:

Bem-estar de frangos de corte

- enriquecimento ambiental e

aplicação do Protocolo

Welfare quality® em sistema

industrial e alternativo (frango

de corte industrial).

Renata Bacila. Medicina Veterinária (UFPR). Estagiária currícular no

LABEA. Principal projeto:

Construção, validação e

aplicação de questionário com

questões de bem-estar animal

direcionado para produtores de

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frango de corte.

2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.

O estágio no LABEA, foi desenvolvido de 08/08/2011 a 07/10/2011, totalizando

400 horas. O período passado no LABEA foi em sua maioria ocupado pela realização

de pesquisas, leituras de artigos e discussões acerca da ciência do bem-estar animal.

Durante o desenvolvimento dessas atividades evidenciou-se que a ciência do bem-

estar está bem amparada por pesquisas e argumentos, apesar de de ainda haver

relutância em colocarem-na em prática.

Dentre as tarefas, também tive a oportunidade de realizar um curso on-line de

reconhecimento da dor em animais e inclusive dar sugestões para melhora-lho.

O curso foi desenvolvido durante o mestrado da Msc. Tâmara D. Borges, durante seu

mestrado no LABEA . O projeto da mestranda teve o intuito de avaliar o ensino do bem-

estar animal nas universidades brasileiras. O curso em questão é dividido em três

módulos:

1- Reconhecimento da dor, onde o aluno aprenderá quais são os sinais de dor

avaliando:

- Aparência geral: em um animal com dor, é possível observar principalmente falta de

auto-higiene, pelos e pele em condições ruins, olhar parado e depressão mental. Os

sinais foram devidamente ilustrados durante o curso, o que o deixou extremamente

didático;

- Condição corporal;

- Vocalização: durante o curso salienta-se que há diferenças entre as espécies, por

exemplo um suíno filhote não precisa de um forte estímulo doloroso para vocalizar

estridentemente, já ovinos e bovinos só vocalizam quando o estímulo realmente for

significativo;

- Atividade anormal: falta de interesse, relutância em ficar em pé, ausência de

ruminação, andar esteriotípico;

- Sinais fisiológicos: alterações na respiração, sudorese, tremores, pupilas dilatadas,

olhos exageradamente abertos;

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- Trauma evidente;

- Movimentação, locomoção: muito lenta, ou com sinais de claudicação;

O segundo módulo consiste em apresentar aos alunos do curso on-line as

principais razões de estudar a dor, a história da analgesia e algumas nomencalturas

importantes para o estudo da dor. Também foi possível aprender a como classificar a

dor de acordo com sua origem e duração. Inclusive no segundo módulo foram

mostradas as principais definições de bem-estar e suas limitações.

No terceiro e último módulo, foram discutidos a senciência e a capacidade de

sentir dor. Aprende-se as diferenças entre os conceitos de consciência, cognição e de

senciência:

Consciência: estado subjetivo de pensar ou agir.

Cognição: relacionado com processamento de informações.

Senciência: “experiência de emoções associadas com prazer e sofrimento e que são

motivadas para promover a aptidão evolutiva dos animais, não como parte de uma

estratégia bem planejada e de longo prazo para assegurar o bem-estar das futuras

gerações, mas pela simples, entretanto não menos intensa, necessidade de se sentir

bem perante si mesmo. (WEBSTER 2006, citado pela D. BORGES 2008).

Ainda no terceiro módulo, foi apresentado o “museu da senciência” com os

nomes e as principais citações de filósofos e pesquisadores que tiveram contribuições

marcantes, positivas ou não, para o reconhecimento da senciência nos animais não

humanos.

Além do curso de reconhecimento da dor, tive a oportunidade de participar de

uma aula do curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da UFPR, disciplina de

Bem-estar Animal. O tema abordado foi diagnóstico de bem-estar em granjas de aves

utilizando o protocolo Welfare Quality®. A atividade foi dividida em aula teórica e

demonstração prática, com duração de 2 e 3 horas respectivamente. Durante a aula

teórica foi apresentado os fundamentos do protocolo, uma breve demonstração de

como aplicá-lo e como funciona sua pontuação. Durante a aula prática, realizada na

fazenda Cangüiri da UFPR, acompanhando como o protocolo pode ser aplicado na

prática sendo simulada uma aplicação.

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2.2.1 Aplicação do protocolo Welfare Quality®.

Para a aplicação do protocolo, necessita-se dispor de algumas horas, pois a

mesma pode demorar de 3 a 6 horas para ser finalizada. Os materias que devem ser

providenciados antes de inicar a avaliação estão dispostos no quadro 2.0.

QUADRO 2.0: MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A AVALAÇÃO EM BEM-ESTAR

ANIMAL SEGUNDO O PROTOCOLO WELFARE QUALITY®.

1- Prancheta;

2- Ficha de avaliação;

3- Caneta para anotações;

4- Folha de material plástico na cor preta;

5- Cabo de madeira com aproximadamente 80 cm de comprimento

Fonte: aula prática sobre aplicação do protocolo Welfare Quality® nas granjas.

Na 1º etapa são recolhidos os dados da granja juntamente com o administrador

ou proprietário do estabelecimento. Os dados recolhidos junto ao administrador ou

proprietário estão presentes no quadro 3.0.

QUADRO 3.0: DADOS Á SEREM COLETADOS NA PRIMEIRA ETAPA DA

AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO WELFARE QUALITY®.

Avaliador(a):

Nome do produtor (a):

Nome da propriedade:

Endereço da propriedade:

Telefone:

Número de aves no galpão ( no momento da visita):

Número de aves inicial:

Data de alojamento:

Idade das aves no dia da visita (dias):

Incubatório:

Linhagem:

Peso médio das aves no momento da visita (registros):

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Data da visita:

Horário de início e térmno da visita:

Comprimento e largura do galpão(m²):

Tamanho da area externa (m²):

Área total disponível (m²):

Densidade de lotação:

Mortalidade:

Descartes (total e porcentagem):

Descartes (total e porcentagem):

Vendas (total e porcentagem):

Tipo de bebedouro (pendular, Nipple ou Cups):

Número de bebedouro:

Fonte: material da aula prática sobre aplicação do protocolo Welfare Quality® nas

granjas.

Depois de coletar as respostas da primeira etapa, o avaliador continuará com o

andamento da atividade logo na entrada o avaliador deve estar munido da folha

plástica na cor preta. A folha é colocada acima da altura das aves sobre uma superfície

horizontal, posicionada na entrada do galpão. No final da avaliação, a folha é retirada,

determina-se um escore de poeira de acordo com a quantidade de poeira observada

sob a folha.

Em seguida segue-se a avaliação de comportamentos qualitativos, onde serão

observadas e classificadas as atitudes das aves com adjetivos, por exemplo: ativo,

relaxado, desamparado, medo, agitado, entre outros (20 no total) disponíveis na ficha

de avaliação. O avaliador deve escolher entre um e oito pontos de observação

(dependendo do tamanho e da estrutura da fazenda) que, juntos, abrangem as

diferentes áreas do galpão. Decidir a ordem na qual será efetuada a visita a cada ponto

e esperar alguns minutos para que as aves possam ficar mais naturais mesmo com a

presença do avaliador. Em seguida segue-se a observação das aves que podem ser

vistas e, a partir daí analisa-se a qualidade expressiva da sua atividade em nível do

grupo. O tempo total de observação não deve ultrapassar os 20 minutos. Quando a

observação de todos os pontos for concluída, o avaliador deve procurar um local calmo

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e marcar as 20 descrições. Ao lado de cada adjetivo, há uma linha com as marcações

“mínimo”, á direita e “máximo”, á esquerda. Quanto mais próximo do “mínimo”, significa

que o termo avaliado está totalmente ausente em qualquer um dos animais que foram

observados. Já quanto mais próximo a marcação for feita do ”máximo”, significa que o

termo a ser avaliado é dominante em todos os animais observados.

Quando o protocolo for aplicado em granjas com sistema semi-confinado ou

extensivo, segue-se a avaliação da proporção da cobertura verde na area externa. A

cobertura pode ser a vegetação que as aves podem usar para se proteger (grama alta,

árvores) ou abrigos construídos pelo produtor como na figura 1.0 (tendas, coberturas,

redes de camuflagem elevadas). Ainda para granjas de sistema semi-confinado, deve-

se também examinar a proporção de aves na área externa. Para tanto são usados os

indcadores disponíveis na ficha de avaliação.

FIGURA 1 EXEMPLO DE ABRIGO PARA FRANGOS EM SISTEMA SEMI-

CONFINADO.

Fonte: arquivo pessoal, fazenda Santa Terezinha, Jaboticabal – SP.

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Na próxima etapa, o aplicador do protocolo fará uma avaliação do desconforto

térmico possívelmente sofrido pelas aves. Para tanto o mesmo deve fazer uma

estimativa das aves amontoadas ou ofegantes. O avaliador deve estimar a

porcentagem de 100 aves ofegantes ou amontoadas em até seis locas bem

distribuidos. O fôlego indica alta temperatura e o amontoamento indica baixa

temperatura.

Para avaliar a relação homem – animal da granja avaliada, segue-se o teste do

toque. O avaliador se aproxima de um grupo de aves e se agaichar por 10 segundos

em seguida ele conta quantas aves ele poderia tocar se seus braços estivessem

esticados, ao estimar este número o mesmo estica seu braço e conta quantas aves de

fato ele pode tocar sem que as mesmas fujam. O teste deve ser repetido por 21 vezes.

Se nenhum animal se deixar tocar após 12 tentativas, o teste deve ser finalizado na 12º

tentativa. De uma tentativa para outra, deve ocorrer um intervalo de 30 segundos.

Um fator de grande importância para o bem-estar das aves no galpão, é a

qualidade da cama. Por isso o protocolo também avalia o índice da qualidade da cama.

Em um escore de 0 a 4:

0 - completamente seca e escamosa;

1 - seca, mas não facilmente movimentada com o pé;

2 - deixa a marca do calçado e é possível formar uma bola compacta, porém ela se

desfaz;

3 - a cama gruda no calçado, sendo possível fazer uma bola compacta e ela não se

desfaz;

4 – a cama gruda no calçado, uma vez que a camada compacta seja retirada.

Este escore deve ser definido em 4 a 6 pontos diferentes do galpão, sem esquecer os

arredores dos bebedouros, que são lugares mais predispostos a escores mais altos.

Após realizar a análise da cama, segue-se uma avaliação clínica nas aves. Esta

avaliação deve se proceder em pelo menos 100 aves e durante a avaliação devem ser

observados três itens: limpeza, pododermatites e queimadura de jarrete. Os três itens

separadamente serão colocados em escores de 0 a 4, de acordo com visão do

avaliador.

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Finalmente segue-se a avaliação do escore de andadura. Cerca de 150 aves

deverão ser analisadas, em seis pontos diferentes do galpão, usando um box para a

acaptura em locais aleatórios. Para as aves mais rápidas (por exemplo, aves que são

criadas ao ar livre), pode ser necessário efetuar a captura de pequenos grupos de

aves. Cada ave é individualmente incentivada a sair do box, com o cabo de madeira

anteriormente mencionado, e tem seu escore de andadura pontuado.

Cada uma das etapas descritas não tem a necessidade de ocorrer

separadamente, cada avaliador pode realizá-las de acordo com sua conveniência, por

exemplo, proceder a avaliação clínica junto com a definição do escore de andadura.

Uma ves que a maioria das etapas exige vários pontos da granja, o avaliador pode se

organizar realizando várias avaliações em um mesmo ponto para depois partir para

outro.

2.2.2 Elaboração de questionário direcionado para o consumidor de frangos de corte.

Durante a permanência na sede do LABEA, das principais atividades foi ajudar

no aprimoramento de um questionário direcionado à consumidores de frango de corte.

Este questionário faz parte de um projeto maior envolvendo pesquisadores brasileiros e

belgas. A idéia do projeto surgiu da parceria do LABEA com a Universdade de Gent, na

Bélgica, portanto todas as conversações e melhoramentos no questionáro foram

realizadas na língua inglesa, o que deu-me a oportunidade de aprimorar os

conhecimentos no idioma. Além de questões sobre bem-estar animal o questionário

contém questões sobre análise de mercado e preferências do consumidor. Como

inspiração e referência para a elaboração das questões os pesquisadores envolvidos

utlizaram suas já existentes publicações nas áreas de escolhas de consumidores,

atitude de produtores e bem-estar animal, além de suas vastas experiências nas áreas.

Tanto no Brasil quanto na Bélgica há uma gama de pesquisadores visitando

granjas de frangos de corte, em vários sistemas de criação, para aproveitar essas

visitas surgiu a idéia de propor aos proprietários das granjas um questionário. O

questionário em questão conteria questões de bem-estar e produtividade, envolvendo

as percepções do entrevistado quanto ás fazendas do Brasil e da Bélgica. Para

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enriquecer o projeto, surgiu então a idéia de elaborar um questionário para os

consumidores de frangos de corte, que envolvesse também suas percepções quanto

aos produtos e produções tanto nas fazendas brasileiras quanto nas belgas. Um dos

primeiros desafios durante a elaboração do questionáro final foi a adaptação para a

realidade brasileira, uma vez que não possuímos oferta significatva de carne belga em

nossos postos de consumo. Já no mercado belga a carne de frango proveniente das

granjas brasileiras está presente de forma significativa. Para este dilema, optou-se

deixar as perguntas inerentes a carne de frango belga também no questionário

direcionado aos consumidores brasileiros. Como as respostas finais de todos os

respondentes, tanto belgas quanto brasileiros, serão comparadas ao final, é de suma

importância que as perguntas sejam exatamente as mesmas. O questionário

direcionado aos consumidores será aplicado via on-line, portanto antes de o

respondente iniciar o questionário, o mesmo receberá uma introdução que lhe permitira

entender os motivos do estudo e também os motivos de perguntas inerentes à carne de

frango belga estarem presentes no questionário.

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3. A CIÊNCIA DO BEM-ESTAR ANIMAL.

É de consenso geral que profissionais que lidam com animais e que estão

preocupados com o bem-estar dos mesmos, são normalmente dotados de um senso

ético intrínsico inerente somente ao indivíduo. Mesmo cabendo uma extensa discussão

filosófica e ética, o bem-estar animal deve ser lidado como ciência, e seus dados

devem ser analisados com rigor científico. Ao reconhecermos que o bem-estar animal é

uma ciência, estamos dando ás pessoas que ainda não possuem um senso ético

adequado em relação aos animais a oportunidade de reflexão e novos conhecimentos

inerentes ao tema. Se a aplicação do bem-estar animal ficasse apenas no campo ético,

provavelmente não observaríamos os avanços hoje observados. Segundo Molento, em

2007, o bem-estar animal como ciência é uma novidade, uma vez que se pode atribuir

a esta área acadêmica somente cerca de três décadas de existência.

Ainda fora do meio acadêmico ele é geralmente tratado apenas do ponto de

vista ético, com grupos que atuam em defesa dos animais (e de seus direitos)

pressionando para definição de normas legais que limitem a ação do homem no trato

com os animais. Tais movimentos têm crescido com tal força que grande parte da

legislação da União Européia (UE), envolvendo as relações entre homens e animais, foi

elaborada sob tais influências.

Bem-estar é um termo utilizado para animais sencientes, incluindo-se o ser

humano. É considerado de importância especial por muitas pessoas; porém, requer

uma definição estrita se a intenção é a sua utilização de modo efetivo e consistente.

Um conceito claramente definido de bem-estar é necessário para utilização em

medições científicas precisas, em documentos legais e em declarações e discussões

públicas. Para que o bem-estar possa ser comparado em situações diversas ou

avaliado em uma situação específica, deve ser medido de forma objetiva. Um critério

essencial para a definição de bem-estar animal útil é que a mesma deve referir-se a

característica do animal individual, e não a algo proporcionado ao animal pelo homem.

O bem-estar do animal pode melhorar como resultado de algo que lhe seja fornecido,

mas o que se lhe oferece não é, em si, bem-estar (BROOM & MOLENTO 2004).

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Quando se trata de animais de produção, tema bem-estar animal, pode ser

tratado de diversas formas, do ponto de vista legal (legislação), ética ou ciência. Ao

conhecer e respeitar a biologia dos animais que criamos, melhorando seu bem-estar,

também obtemos melhores resultados econômicos, quer aumentando a eficiência do

sistema de criação, quer obtendo produtos de melhor qualidade, ou ambos. Contudo, o

entendimento e a avaliação do bem-estar animal não são simples, exigem amplo

conhecimento sobre a espécie em questão e de suas relações com o meio. Isto

demanda uma abordagem multidisciplinar, com a integração de conceitos de diversas

áreas do conhecimento e exige também uma definição clara e inequívoca do que é

bem-estar animal (SANTANNA & PARANHOS DA COSTA 2010).

Embora existam várias propostas de conceito de bem-estar animal,

recentemente estas foram categorizadas em duas correntes: a escola do

funcionamento biológico e a escola dos sentimentos. Existe consenso acerca da

necessidade de se incorporar três questões centrais:

a) o animal é capaz de apresentar crescimento e funcionamento orgânico normais, boa

saúde e manutenção de uma adaptação adequada ao meio na vida adulta? – esfera

física do bem-estar;

b) o animal vive em um ambiente consistente com aquele no qual a espécie evoluiu e

se adaptou? – esfera comportamental;

c) o animal vive com uma sensação de satisfação mental ou, pelo menos, livre de

distresse mental? – esfera mental. (MOLENTO 2007)

Embora, estas três abordagens apresentem formulações diferentes para

justificar a preocupação com o bem-estar animal, podemos assumir que o objetivo é

único e que, por isso, deveriam ter um caráter complementar e não exclusivo. No

entanto, não é o que acontece na prática (SANTANNA & PARANHOS DA COSTA

2010).

Exemplificando o parágrafo anterior, não é incomum administradores de granjas,

julgarem que seus animais estão com um nível satisfatório de bem-estar apenas por

estarem com suas necessidades fisiológicas bem atendidas ou seja, os animais estão

livres de fome e de sede. Porém um pesquisador da área de bem-estar animal pode

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concluir que o seu grau de bem-estar não é satisfatório, avaliando por exemplo seu

grau de confinamento ou condições sanitárias.

Atualmente é relativamente simples reconhecer e corrigir problemas de bem-

estar quando a situação é critica, tornando-se mais difícil à medida que há melhoria nas

condições de bem-estar. Entretanto, não há, ainda, conhecimento suficiente que

oriente todas nossas ações para o aprimoramento do bem-estar animal. Santanna e

Paranhos da Costa em 2010, apontam então dois grandes desafios para a ciência do

bem-estar: identificar bons indicadores de estados positivos de bem-estar e encontrar

soluções para resolver problemas menos evidentes.

Paratanto, há cada vez mais profissionais e pesquisadores interessados nesta

nova e tão necessária ciência.

A maior conquista portanto do reconhecimento do bem-estar enquanto ciência,

é a organização de assuntos segundo uma ordem de prioridade a partir da perspectiva

da qualidade de vida dos animais envolvidos, que por sua vez permita a busca de

estratégias de melhoria do grau de bem-estar animal. Antes disso, os assuntos eram

trabalhados a partir de um conjunto de valores que raramente envolvia o diagnóstico e

a consideração do bem-estar animal no processo de tomada de decisão. A classe

médico-veterinária, e todos os demais profissionais como zootecnistas e biólogos, será

mais completa na medida em que noções de bem-estar animal forem agregadas à

formação profissional e à atuação nas diversas áreas. (MOLENTO 2007).

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4. DESAFIOS EM BEM-ESTAR NAS PRODUÇÕES ATUAIS.

Fisicamente, as aves sofrem por três razões principais: falhas no manuseio ou

um manuseio rude por parte dos empregados das granjas, más práticas industriais e

genética pobre. Os problemas genéticos se entrecruzam com os sistemas de emoções

básicas, ou problemas de ordem psicológica. O mau manuseio é um problema que

poderia ser resolvido no nível índividual dos empregados, mas a indústria tem práticas

não produtivas neste sentido (GRANDIN 2009). A diretiva 43/3007/CE, já prevê

treinamento para os funcionários que irão lidar com os animais.

4.1 CRESCIMENTO.

As aves chegam ás granjas com 1 dia de vida e saem da mesma com

aproximadamente 41 a 45 dias de vida. Durante a fase em que as aves ficam na

granja, para atingir o peso e tamanho ideais para o abate, as mesmas sofrem um

estresse físico intenso por conta da seleção genética atual e alta densidade. Especula-

se que os problemas de ordem emocional devem ser decorrentes, porém não há

material científico relevante neste sentido, porém Broom & Fraser, 2007 ao

comentarem sobre pontos críticos em bem-estar de galinhas poedeiras, comentam que

as aves domésticas formam forte laço com suas crias e as crias por sua vez tomam

como referência materna a primeira coisa que veem logo ao sair dos ovos. Pode-se

presumir que os frangos criados para corte sofrem uma privação de sua liberdade

comportamental logo no primeiro dia de vida, o que pode acarretar uma queda do grau

de bem-estar ao longo de sua vida de 41 a 45 das.

As raças modernas de frango de corte crescem muito rapidamente e muitas tem

sido enviadas para o abate entre cinco a sete semanas de idade, ao passo que já

atingiram o peso de 1.5 a 2.0 Kg. Um problema fundamental na produção de frango

que resulta em um pobre bem-estar é a seleção genética das aves para uma vida curta

e com alta taxa de crescimento. As aves atuais tem problemas para se locomover

normalmente e consequentemente desenvolvem desordens nos membros pélvicos.

Estas alterações são frequentemente associadas com inflamações nos joelhos, jarretes

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e ossos. Por conta destes fatores as aves experimentam dor ao se locomoverem. Esta

dor crônica causa diestresse, que é caracterizado por um estresse crônico causado por

pobreza de bem-estar na vida do animal.

O rápido crescimento dos frangos modernos não é uniforme. O músculo cresce

muito rápido, mas os ossos, particularmente os ossos dos membros pélvicos, crescem

de maneira mais lenta. Como consequência, chega-se a um ponto em que as aves não

conseguem suportar seu próprio peso (fgura 2.0). Há então o risco de o animal ser

pisoteado pelas demais aves, e também haverá contato direto do corpo da ave com o

material da cama (fezes). Este contato direto com o conteúdo de excreção das aves,

que tem elevado teor de amônia, fará com que ocorram lesões significativas no peito

da ave, o que além de ser um fator óbvio de baixo índice de bem-estar, também

compromete o produto final.

FIGURA 2.0: EXEMPLO DE FRANGO DE CORTE COM IMPOSSIBILIDADE DE

LOCOMOÇÃO.

Fonte: www.all-creatures.org/anex/chicken-broiler-04.html (acesso em 03 de outubro de 2011)

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A ascite é outra condição patológica associada ao rápido crescimento de frangos

de corte e também é uma das maiores causas de baixo grau de bem-estar e

mortalidade. Também é conhecida como síndrome da hipertensão pulmonar, e resulta

em escape de para a cavidade abdominal. Isto afeta 5% de frangos jovens e de 15 a

20% de aves maiores, podendo causar a morte ou uma grave fraqueza nas aves

resultando em condenação de carcaça (Broom & Fraser 2007).

Devido a uma insuficiente oxigenação, o ritmo cardíaco aumenta na tentativa de

suprir mais oxigênio para o metabolismo oxidativo dos tecidos em rápido

crescimento, causando uma hipertensão pulmonar. Com uma prolongada falta de

oxigênio, mecanismos de regulação do organismo da ave são acionados para manter a

homeostase. Em resposta a tal estímulo, a medula passa a produzir maior número de

hemácias, o que agrava a hipertensão pulmonar e altera os parâmetros hematológicos

(ROSÁRIO et al. 2004).

4.2 JEJUM PRÉ-ABATE

O jejum pré-abate inicia-se antes do carregamento das aves até o abate, e é

definido como o período em que a ração é retirada, sendo fornecida a estas apenas a

água. Tem a finalidade de minimizar a contaminação no abatedouro devido ao

esvaziamento do sistema digestório, e melhorar a eficiência produtiva, pois não haveria

tempo para que o alimento consumido fosse metabolizado e transformado em carne

(MENDES, 2001).

O tempo gasto no período de jejum tem sido amplamente discutido, variando

entre 8 a 12 horas, no entanto, ele é influenciado pela logística da empresa, distância

até o abatedouro e o tempo de espera na plataforma, podendo assim ter sua duração

prolongada. A ave normalmente se alimenta a cada 4 horas e consome água

posteriormente, a fim de solubilizar a ração. Entretanto, a velocidade de passagem de

alimento no intestino é influenciada pelo período de jejum, já que ele faz com que a

velocidade de passagem do alimento diminua (MENDES, 2001).

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A retirada da água com a ração é incorreto, pois a água auxilia na passagem do

alimento no sistema digestório. Para uma menor contaminação no abatedouro é

fundamental que o intestino esteja vazio, sendo necessário que o papo também esteja

vazio no momento da apanha (MENDES, 2001).

Quanto maior o tempo de jejum, maior o estresse sofrido pelas aves. Este fator

desestabiliza a sua flora intestinal, já que abre espaço para a entrada de bactérias

oportunistas, auxiliando o desenvolvimento de Salmonella sp. no ceco. Os

Lactobacillus sp. presentes no papo, controlam o pH por volta de 3,6, impedindo a

multiplicação de Salmonella sp, pois o pH ideal para desenvolvimento dela é de 6,5 a

7,5. Entretanto, com o aumento do tempo de jejum, o pH do papo aumenta,

possibilitando a proliferação de Salmonella sp. Com isso, associado à ingestão de

cama devido a longa privação de alimento, a carga bacteriana no papo se eleva e este

pode se romper no processamento,

contaminando toda a carcaça. Portanto recomenda-se que o jejum não ultrapasse mais

que 12 horas (LUDTKE et al., 2008).

4.3 CAPTURA

A captura de frangos de corte é a etapa que antecede o transporte, período em

que os frangos, quando atingem o peso de abate, são capturados por funcionários,

colocados em caixas especiais para este tipo de transporte conduzidos até o

abatedouro. Entre todas as operações pré-abate, essa é a que mais gera estresse e

injúrias físicas às aves (RUI et. al 2011).

Existem dois tipos de apanha: a mecânica ou automatizada e a manual. No

primeiro, é possível que duas pessoas carreguem por volta de 7200 frangos

por hora, no entanto, além de seu alto valor, as modificações nas instalações dos

aviários, no transporte e plataforma tornam o seu uso no Brasil algo de difícil acesso,

porém isto não impede que novas tecnologias sejam desenvolvidas com a finalidade de

melhorar este processo. A apanha manual é a forma utilizada. Nesse modo, são

formadas equipes, geralmente de 12 a 14 pessoas, a baixo custo por ave. Há três

formas de apanha manual: a apanha pelas pernas, sendo o método que mais causa

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lesão nas aves; o método de apanha pelo dorso que é o melhor aceito para os padrões

de bem-estar e é a forma mais fácil de introduzir as aves dentro da caixa; e o terceiro

método é a captura pelo pescoço, na qual as aves são pegas três em cada mão e a

grande desvantagem são os arranhões no dorso e nas coxas ao introduzir as aves nas

caixas. Este último também pode aumentar a mortalidade no transporte, pois a apanha

pelo pescoço pode provocar asfixia. (RUI et. al 2011).

Para garantir o bem-estar das aves no momento da apanha, alguns fatores

devem ser considerados. É preferível que seja realizada no período noturno, pela

temperatura mais amena, e pela menor taxa de visão e metabolismo das aves. Desta

maneira a reatividade das aves aos apanhadores ficará dminuida. Comedouros e

bebedouros devem ser retirados e erguidos para que não ocorra acidente com a equipe

de apanha.

4.4 CARREGAMENTO

A densidade das aves por caixa deve ser ajustada de acordo com o peso das

aves, condições climáticas e tamanho da caixa. Deve-se considerar que todas as aves

devem ter espaço para deitar sem ocorrer amontoamento de uma ave sobre a outra. As

caixas devem ser higienizadas e estar em bom estado de conservação, sendo

necessário que a empresa observe o seu estado de conservação, substituindo as que

estiverem danificadas, pois podem provocar lesões nas aves (RUI et. al 2011).

Sabe-se que, á medida que se aumenta o número de aves por caixa, aumenta-se a

mortalidade, entretanto, há uma redução do valor do frete.

CARVALHO (2001) e BRANCO (2004), citados por RUI et. al (2011), recomendam o

peso de 22kg por caixa carregada. A densidade deve variar conforme o peso das aves,

o horário e a estação do ano, devendo ser menor em dias mais quentes e no período

da tarde e obviamente em aves mais pesadas.

Caso a apanha não ocorra durante a noite, durante o carregamento das caixas

para dentro do caminhão, uma medida importante é evitar que as aves fiquem expostas

ao sol, pois as primeiras aves carregadas podem sofrer estresse térmico. Uma medida

preventiva é a plantação de árvores ao redor do galpão, fornecendo sombra, ou a

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colocação de sombrite sobre a carga do caminhão até o fim da apanha. O molhamento

da carga é uma alternativa para diminuir a temperatura, porém algumas condições

devem ser observadas, sendo que a temperatura deve estar elevada e a umidade

relativa deve ser inferior a 50%, evitando o procedimento em dias frios. O molhamento

deve ser uniforme em toda a carga (RUI et. al 2011).

O trabalho de captura de frango, além de ser fisicamente cansativo, é

desagradável devido às condições dentro do aviário. As luzes ficam desligadas,

obrigando a equipe a trabalhar no escuro, próximos à cama na qual o nível de poeira e

amônia pode ser muito alto. Além desses fatores, há uma grande exigência em

produtividade desses funcionários, podendo causar-lhes problemas de coluna. Por

todos esses motivos, é um trabalho de pouca motivação, já que exige o bem-estar das

aves durante a apanha e o manuseio

Deve-se avaliar a ergonomia dos trabalhadores no momento da captura e

carregamento. O trabalhador deve ser encarado como prioridade, pois seu bem-estar

repercute diretamente sobre o bem-estar das aves e a qualidade final da carcaça (RUI

et. al 2011).

4.5 TRANSPORTE

Durante o trajeto do caminhão da granja ao abatedouro, alguns estímulos podem

estressar os frangos, comprometendo o bem-estar e a qualidade da carne. Os fatores

estressantes são: estresse térmico devido à elevada temperatura e umidade, estresse

pelo frio devido à alta velocidade do veículo de transporte e umidade, estresse social,

decorrente da alta lotação nas caixas, vibração, aceleração, barulho (JORGE, 2008).

Durante o transporte, as aves são submetidas à ação direta da radiação solar,

fator agravado durante o verão. Unido a isso, ocorre a insuficiente ventilação da carga,

gerando o acúmulo de calor na ave, resultando em um maior desconforto térmico dos

animais. Para dissipar o calor, muitos frangos tentam expor uma maior área do corpo e

buscam ofegar, na tentativa de perder calor por evaporação. No entanto, com

densidade alta por caixa, ambos os mecanismos têm sua eficácia diminuída. Portanto,

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quanto maior a densidade das caixas, menor será a perda de calor sensível, sendo que

as aves que se

encontram nas extremidades da carga sofrem menos. A disponibilidade de oxigênio é

um fator importante, pois seu baixo nível pode causar asfixia nas aves, sendo preciso

que ocorra uma separação entre as fileiras de caixas que devem estar limpas, porque o

acúmulo de fezes e penas atrapalha a circulação do ar. No caminhão, as caixas devem

estar bem presas, evitando que se movimentem e que se soltem. Os motoristas são

parte vital no processo, eles precisam ser bem orientados e treinados, conhecendo os

riscos que pode sofrer a carga que estão transportando (ABREU & AVILA, 2003).

O planejamento antecipado do tempo de viagem é vital para poder adequar a

distância do aviário até o abatedouro com as condições climáticas. Longas distâncias

não podem ser associadas com períodos mais quentes do dia, pois as aves seriam

submetidas a um calor excessivo por mais tempo. As chuvas também devem ser

consideradas, pois estradas que não são pavimentadas podem ficar intransitáveis (RUI

et. al 2011).

46 TEMPO DE ESPERA NO ABATEDOURO

O tempo de espera é o período da chegada das aves no abatedouro até o seu

abate. Chegando ao frigorífico, o veículo de transporte deve ser levado ao galpão de

espera e é fundamental que seja equipado com nebulizadores, ventiladores e que evite

que a carga receba a radiação solar. No entanto, as aves podem ser abatidas logo que

chegam ao abatedouro, anulando o tempo espera no galpão, porque a carga é logo

descarregada na plataforma de abate.

O tempo de espera não deve ser superior a duas horas, porém, nem sempre é possível

cumprir esse tempo, devido ao excesso de caminhões na espera para o abate e, em

decorrência de falhas ou manutenção. No galpão de espera, as linhas de

nebulizadores devem ser alternadas com as linhas de ventilação. As primeiras devem

ser distribuídas uniformemente entre os pilares e o teto, a fim de que se consiga

climatizar todas as caixas. O reservatório de água deve estar instalado na sombra. É

fundamental que seja aferida com regularidade a temperatura e a umidade,

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principalmente no centro do caminhão. É de suma importância que a área de

desembarque seja coberta e que as caixas sejam descarregadas com cuidado,

evitando movimentos bruscos e devendo ser colocadas na esteira individualmente,

evitando estresse e lesões nas aves. As caixas devem ser abertas no momento da

pendura, procurando evitar que as aves fujam e, caso isso ocorra, elas devem ser

capturadas e penduras na nória imediatamente. As aves que chegarem mortas devem

ser retiradas das caixas e contadas, sendo lavadas juntamente com o caminhão após o

termino do desembarque (RUI et. al 2011).

4.7 ABATE

Os métodos usados em quase todos os abatedouros do mundo são muito

estressantes. As aves são desembarcadas e pendudradas pelos membros pélvicos em

argolas de metal (nórias) presas a um trilho que conduz ao atordoamento. Algumas se

retorcem, tentando escapar, o que normalmente ocasiona ferimentos. O trilho com as

nórias conduz para uma imersão em água, em que a cabeça das aves é imersa neste

local passa uma corrente elétrica que atravessa o sistema nervoso central das aves

para deixa-las inconcientes ao final do atordoamento, segue-se a sangria (GRANDIN,

2009). Desta maneira e sem falhas, é a maneira com a qual o procedimento deveria

funcionar, mas para tanto, é preciso de equipamentos e manuseios extremamente

adequados.hoje já existem soluções para cada um dos problemas relacionados ás

etapas do abate em que as aves ainda estão vivas.

Uma forma muito mais branda de abater as aves é o atordoamento por gás, que

deixa o animal inconsciente. Esta prática elimina o estresse da pendura passagem das

nórias pelo trilho. No melhor dos sistemas, as aves nem precisam ser retiradas das

gaiolas de transição (caixas de transporte). As aves saem direto do caminhão para uma

esteira rolante que as leva para uma camara de gás, onde ficam inconscientes.

Segundo Grandin em 2009, atualmente ainda existem uma grande discordância entre

os pesquisadores sobre a eficácia e as vantagens da câmara de gás, porém na opinião

da autora realmente a introdução das aves das aves subitamente em uma

concentração muito alta de CO2 causa sofrimento. A autora também afirma que certo

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desconforto poderia ser aceitável, para eliminar as etapas de pendura e corrmento da

nórias pelos trilhos. A adesão das empresas deste sistema não é significativa por conta

de ser uma tecnologia nova, ainda em fase de estudo e principalmente mais onerosa

em relação aos habituais tanques de atordoamento.

5. ÉTICA E LEGISLAÇÃO

Se a sociedade contemporânea incorporou a presença dos animais de

companhia, a história registra um tormentoso caminho de dominação e violência do

homem sobre os animais não humanos. (BERTI, 2007).

Vale ressaltar, que as leis e a teoria do direito foram feitas pelo homem para o homem,

portanto inserir os animais neste contexto demandou, e ainda demandará anos de

debate e avanços científicos. Para fins de esclarecimento, Berti (2007) ainda ressalta

que respeitar o “direito do animal” não significa tratá-lo como ser humano, significa, ao

contrário, respeitar-lhe o interesse, especialmente para evitar inaceitáveis conflitos

entre os interesses do homem e os interesses do animal. Todavia, ao assegurar

proteção e bem-estar aos animais não-humanos, a legislação quer, na verdade, regular

o comportamento do ser humano em relação ao animal.

A personalidade no direito surge como a maneira de fazer os seres humanos

existirem perante ele, segundo o que se entendia por necessitado de proteção jurídica

e de acordo com os critérios éticos do tempo histórico em que a proteção foi dada.

Assim que, em dados momentos, sua compreensão não abrangeu seres humanos

considerados escravos, pessoas com deficiência mental ou mesmo crianças, que

recebiam proteção apenas em função do direito patrimonial. Hoje há proteção a todos

os homens, ainda que suas faculdades mentais não sejam plenas, ainda que não

tenham capacidade racional ou mesmo consciência. Portanto, não é a capacidade

racional e cognitiva, ou mesmo a fala, requisito de uma personalidade jurídica, até

porque os animais possuem as duas primeiras, é o critério especista que determina tais

limitações. (CARDOSO, 2007)

Elza Cardozo Dias, em 2007, ao discorrer sobre a história da legislação a favor

dos animais aborda a visão antropocêntrica da humanidade: “Na cultura ocidental, em

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sua vertente liberal e socialista o direito natural se limitava à natureza humana. O

liberalismo e o socialismo outorgaram ao homem o título de rei da criação. E este

pensamento tomou força depois das revoluções francesas e industrial.”

A despeito dessa vaidade inerente ao homem, principalmente em relação aos

seus direitos, Tom Regam (1983), cita a filósofa inglesa Mary Midgley: “não somos

apenas um pouco parecidos com os animais, nós somos animais” .

Históricamente, somente no século XX são publicados os primeiros trabalhos

sobre o direito dos animais. Em 1914, Henri Salt publica Les droits de l’animal

considérás dans leur rapport avec le progrès social (Os direitos dos animais

consideram em seu relatório o progresso social – tradução desta autora); em 1924

André Géraud, a partir do modelo da Declaração dos Direitos do Homem de 1789,

formula uma Déclaration des droits de l’animal (Declaração dos direitos dos animais-

tradução desta autora). São as idéias de Géraud que, desenvolvidas, servem de base

para a Declaração Universal dos Direitos do Animal, proclamada pela UNESCO em

1978. Dois anos antes, a lei francesa nº 76629 reconhece ser de interesse geral a

preservação das espécies animais. (art. 1 er.). Define ainda, no art. 9., que todo animal,

sendo um ser sensível, deve ser tratado por seu tutor ou responsável em condições

compatíveis com os imperativos biológicos de sua espécie (BERTI, 2007).

Há ainda uma grande discussão sob em que local os animais devem ser

colocados no direito, se eles estão dentre as “coisas” ou se ficariam no grupo de

“pessoas”. Os animais estão em nosso planeta há muito mais tempo e em maior

número que a humanidade, uma vez que o direito trata de dar o que é de determinado

grupo à este determinado grupo, nada mais justo que inserir nas leis, inventadas pelo

homem, o grupo: animais. Para tanto houve uma reforma no Código Civil alemão em

1990 que faz constar, de forma expressa, que os animais não são coisa (inciso 90a),

sem os fazer inserir na categoria de pessoas.

Neste contexto, Berti (2007) cita João Baptista Villela: “Nem é necessário, de

resto, saber exatamente o que são os animais para reconhecer que são portadores de

dignidade e lhes garantir tratamento justo” .

Mesmo com as observações de Villela, Dias (2007), afirma que ainda há um

grande problema sobre posse responsável de animais domésticos, de maneira geral,

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seja animais de companhia, seja animais de tração urbanos e rurais, sejam animais

destinados a corte, pois é comum o abuso de direitos sobre estes animais ao

confundir-se a posse com a propriedade, sendo que, ao particular somente é permitida

a posse sobre o animal, já que todos os entes faunísticos estão em patamar de

igualdade na atual legislação.

Em relação á legislação brasileira, Dias (2007), discorre sobre a história legislativa

da proteção animal:

A Lei n. 3.688/1941 traz a tipificação como infração penal da “crueldade contra animais”,

cominando pena de prisão simples de dez dias a um mês, ou multa. Carente de regulamentação

no prazo previsto, restou com eficiência reduzida a lei n. 6.338/1979, que tratava da vivissecção de

animais, até que fosse revogada pela lei n. 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e

administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. A proteção aos

animais, definida no art. 32, visa coibir práticas de dolorosas, cruéis ou de maus tratos.

O Decreto n. 24.645/1934 determina medidas de proteção aos animais, após definir o alcance o

conceito. A Lei de Contravenções Penais (Decreto- Lei n. 3.688/1941) traz a tipificação como

infração penal da “crueldade contra animais”, cominando pena de prisão simples de dez dias a um

mês, ou multa.

O inciso 1º do art. 32 da Lei n. 9.605/1998. Em relação aos animais criados para consumo

humano, deve ser analisada a preservação de condições de não sofrimento, afastando-se

principalmente o decorrente de confinamento ou regime de engorda forçada. “Se a morte de um

animal, sem sofrimento dispensável, parece adequada para fins alimentares, o seu sofrimento inútil

merece a reprovação da sociedade e da cultura”

A proteção jurídica do animal na legislação brasileira é feita, segundo a doutrina, ora pela função

ecológica exercida pela fauna, ora pelo sentimento de piedade do homem para com os animais,

devido à capacidade de colocar-se no lugar do animal e sensibilizar-se, o que se explica pelas

semelhanças biológicas e comportamentais maiores que as encontradas entre homens e vegetais

ou minerais.

Ainda dentro dos próprios grupos de defesa animal ainda há uma grande

discussão acerca do que realmente a sociedade quer e precisa dentro do direito

animal, o conflito entre os diferentes grupos de interesses humanos é inevitável, mas

vale talvez um retrocesso ou até mesmo uma retomada de valores em relação aos

animais.

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6. LEGISLAÇÃO NACIONAL E EUROPÉIA SOBRE BEM-ESTAR DE ANIMAIS DE

PRODUÇÃO

Os principais desafios para se obter um adequado nível de bem-estar na criação

de aves, são caracterizados pelo elevado grau de confinamento e pela concentração

da produção em um número menor de unidades produtivas, com instalações

tipicamente fechadas. Em contrapartida, estes mesmos fatores contribuiram para a

evolução da atividade, tanto tecnicamente como sanitariamente, o que

consequentemente possibilitou produtividade e vantagem econômica para este modelo

de produção.

Tanto por força de questões científicas quanto pelo próprio questionamento ético

feito por alguns setores da sociedade, fora do que está na legislação, uma grande

variedade de programas tem sido criados.

Dentre os observados se destacam:

- Protocolos de avaliação do bem-estar nas produções animais, por exemplo: Welfare

Quality®;

- Códigos de bem-estar voluntários, normalmente criados por organizações da

indústria;

- Programas corporativos geralmente empregados pelo varejo ou companhias de

restaurantes;

- Programas de certificação em bem-estar adquiridos pelas indústrias voluntariamente;

- Iniciativas governamentais não previstas em lei, com parceria de ong’s. Exemplo:

STEPS (WSPA).

Porém grande parte dos avanços gerados vistos na questão do bem-estar

animal, deve-se por força da legislação. A comunidade que se destaca neste quesito, é

a comunidade européia, que são os principais agentes inovadores neste tipo de

legislação. Países como o Brasil, que exportam seus produtos a base de carne de

frango para países europeus estão se adequando aos novos padrões.

Países economicamente mais avançados, como os Estados Unidos, Canadá, Nova

Zelândia e Austrália, ainda não possuem legislações tão consolidadas para o bem-

estar dos animais como a grande maioria dos países europeus. Os movimentos para o

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bem-estar animal da União Européia têm gerado progressos legislativos consideráveis,

influenciando as discussões sobre o tema no restante do mundo, quer seja por

questões morais ou comerciais. (ALVES, 2011)

Na comunidade européia, a Suíça se destaca por possuir uma das mais antigas

e rígidas legislações de bem-estar animal que incluem como principais exemplos:

- "Swiss Federal Act on Animal Protection" de 1978;

- "Swiss Animal Protection Ordinance" de 1981.

- Em 1992 o país aboliu o uso das gaiolas para poedeiras, sendo o pioneiro.

Na União Européia, a Diretiva 88/166/EEC (COMISSÃO DA COMUNIDADE

EUROPÉIA, 1986) especificou um tamanho mínimo para as gaiolas, e a atual Diretiva

(1999/74/CE) que estabelece os padrões mínimos para o bem-estar de aves poedeiras

nos diversos sistemas de criação, pretende banir o sistema de criação em gaiolas a

partir de 2012. (ALVES, 2011)

A Directiva 58/CE do Conselho, de 20 de Julho de 1998, relativa à proteção dos

animais nas explorações pecuárias, elaborada com base na Convenção Européia

sobre a Protecção dos Animais nas Explorações de Criação, estabelece normas

mínimas de proteção dos animais nas explorações de criação, incluindo disposições

em matéria de instalações, alimentos, água e cuidados adequados às necessidades

fisiológicas e etológicas dos animais (Diretiva 43/2007/CE).

Em se tratando de frangos de corte, o relatório do Comitê Científico da Saúde e

do Bem-Estar dos Animais, de 21 de Março de 2000, fez a observação de que as raças

utilizadas atualmente por conta da alta seleção genética, tiveram sua taxa de

crescimento altamente elevada o que gerou um grau de bem-estar insatisfatório. Em

boas instalações, onde é possível manter uma boa condição climática a saúde e o

bem-estar dos animais é menos afetado por conta da alta densidade.

Por conta desses fatores, na Diretiva 43/2007/CE, foi publicado que a densidade

animal máxima em uma instalação para frangos de corte não deve exceder os 33

kg/m2, a não ser que o ambiente esteja equipado para a manutenção de temperatura e

higiene podendo então a densidade ser aumentada para o máximo de 39 kg/m2.

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Além da questão de espaço, que é um dos maiores problemas identificado nos

sistemas intensivos de produção, outros apontamentos e novas exigências são

especificadas na Diretivas.

Diretiva 43/2007 da Comunidade Européia.

Esta diretiva é aplicável para granjas com mais de 500 frangos. Além da questão

de densidade, esta diretiva prevê que os funcionários que vão estar em contato direto

com animais devem estar devidadamente treinados em bem-estar animal, treinamento

este que deve ser oferecido pela própria administração da granja.

No quadro 4.0, estão presente as partes mais relevantes do anexo I da diretiva,

que dá outras disposições.

QUADRO4.0: PARTES RELEVANTES DO ANEXO I DA DIRETIVA 43/2007/CE. ANEXO I

REQUISITOS APLICÁVEIS ÀS EXPLORAÇÕES

Para além das disposições pertinentes constantes de outros actos da legislação

comunitária, são aplicáveis os seguintes

requisitos:

Bebedouros

1. Os bebedouros devem ser colocados e mantidos de modo a minimizar os derramamentos.

Alimentação

2. Os frangos devem poder alimentar-se quer continuamente quer periodicamente e não podem ser privados de

alimentação mais de 12 horas antes do momento previsto para o abate.

Cama

3. Todos os frangos devem ter acesso em permanência a camas secas e friáveis à superfície.

Ventilação e aquecimento

4. A ventilação deve ser suficiente para evitar sobreaquecimentos, quando necessário em conjugação com

sistemas de aquecimento destinados a remover o excesso de umidade.

Ruído

5. O nível sonoro deve ser reduzido ao mínimo. Os ventiladores, os equipamentos para alimentação e os outros

tipos de máquinas devem ser construídos, instalados, accionados e mantidos de forma a causar o menor ruído

possível.

Luz

6. Todas as instalações devem dispor de iluminação com uma intensidade mínima de 20 lux durante os

períodos de iluminação, medida ao nível do olho da ave e iluminando pelo menos 80 % da superfície utilizável.

Pode ser autorizada uma redução temporária do nível de iluminação, se necessário, mediante parecer de um

veterinário.

7. Num prazo de sete dias a partir do momento em que os frangos são colocados nas instalações e até três dias

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antes do momento previsto para o abate, a iluminação deve seguir um ritmo de 24 horas e incluir períodos de

escuridão de, pelo menos, 6 horas no total com, pelo menos, um período ininterrupto de escuridão de, no

mínimo, 4 horas, excluindo os períodos de lusco-fusco.

Inspecção

8. Todos os frangos mantidos na exploração devem ser inspeccionados pelo menos duas vezes por dia. Deverá

ser dada especial atenção aos sinais que indiquem um reduzido nível de bem-estar animal e/ou de saúde

animal.

9. Os frangos gravemente feridos ou que apresentem sinais evidentes de problemas de saúde, tais como os

que apresentam dificuldades de locomoção ou ascite ou malformações graves, e que sejam susceptíveis de

estar a sofrer, devem receber tratamento adequado ou ser imediatamente eliminados. Sempre que necessário,

deverá ser chamado um veterinário.

Limpeza

10. As partes de instalações, equipamentos ou utensílios em contacto com os frangos devem ser

cuidadosamente limpas e desinfectadas sempre que se efectuar um vazio sanitário final e antes da introdução

de um novo bando na instalação. Depois de efectuado o vazio sanitário final das instalações, devem ser

removidas todas as camas e preparadas limpas.

Registos

11. O proprietário ou detentor deve manter um registo para cada instalação de uma exploração, com os

seguintes dados:

a) Número de frangos introduzidos;

b) Superfície utilizável;

c) Híbrido ou raça dos frangos, se conhecidos;

e) Número de frangos que restam no bando depois de retirados os frangos para venda ou abate.

Os registos são mantidos por um período de, pelo menos, três anos e colocados à disposição da autoridade

competente no decurso de uma inspecção ou caso esta os solicite.

Intervenções cirúrgicas

12. São proibidas todas as intervenções cirúrgicas realizadas para outros fins que não terapêuticos ou de

diagnóstico, que provoquem danos ou a perda de uma parte sensível do corpo ou uma alteração da estrutura

óssea. Todavia, o corte do bico pode ser autorizado pelos Estados-Membros quando se encontrarem esgotadas

todas as outras medidas para evitar o arranque de penas e o canibalismo. Nesses casos, só deve ser efectuado

após consulta e parecer favorável de um veterinário, e executado por pessoal qualificado em frangos de menos

de 10 dias. Os Estados-Membros podem igualmente autorizar a castração dos frangos machos. A castração só

deve ser efectuada sob supervisão veterinária por pessoal que tenha recebido formação específica.

Fonte: Diretiva 43/2007/CE.

O anexo II da diretiva prevê em que condições as instalações devem estar para

que seja permitido o aumento da densidade dos frangos.

O anexo III da diretiva instrui sobre a monitorização e o acompanhamento ao

abatedouro. No quadro 5.0 estão as principais disposições.

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QUADRO 5.0 PARTES RELEVANTES DO ANEXO III DA DIRETIVA 43/2007/CE. ANEXO III

MONITORIZAÇÃO E ACOMPANHAMENTO NO MATADOURO

1. Mortalidade

1.1. No caso de densidades animais superiores a 33 kg/m2, a documentação que acompanha o bando deve

incluir a mortalidade diária e a taxa de mortalidade diária acumulada calculada pelo proprietário ou detentor e o

híbrido ou a raça dos frangos.

1.2. Sob a supervisão do veterinário oficial, estes dados, bem como o número de frangos de carne mortos à

chegada devem ser registados, com indicação da exploração e da instalação da exploração. A plausibilidade

dos dados e a taxa de mortalidade diária acumulada devem ser verificadas tendo em conta o número de frangos

de carne abatidos e o número de frangos de carne mortos à chegada ao matadouro.

2. Inspecção post mortem

o veterinário oficial deve avaliar os resultados da inspecção post mortem para identificar outros sinais eventuais

de condições de bem-estar deficientes, tais como níveis anormais de dermatites de contacto, parasitoses,

doenças sistémicas na exploração ou na instalação da exploração de origem.

3. Comunicação dos resultados

Se a taxa de mortalidade mencionada no n. o 1 ou os resultados da inspecção post mortem mencionados no n.

o 2 indicarem condições deficientes de bem-estar animal, o veterinário oficial deve comunicar os dados ao

proprietário ou detentor dos animais e à autoridade competente. Devem ser tomadas medidas adequadas pelo

proprietário ou detentor dos animais e pela autoridade competente.

Fonte: Diretiva 43/2007/CE.

No anexo IV estão especificadas as matérias que a administração das granjas

devem fornecer aos seus funcionários quando do curso de instrução. Além de bem-

estar animal, os funcionários também deverão obter com o curso, competência em

Fisiologia animal, em particular as necessidades em termos de abeberamento e

alimentação, o comportamento animal e o conceito de estresse, aspectos práticos da

manipulação cuidadosa dos frangos, bem como da sua captura, carregamento e

transporte, cuidados de emergência a ministrar aos frangos, incluindo abate de

emergência e medidas preventivas de biossegurança.

No anexo V, são estabelecidos os critérios que devem ser avaliados quando da

utilização de densidade animal mais elevada.

No que diz respeito á legislação brasileira, já em 1934, por meio do Decreto nº 24.645

estabeleceu medidas de proteção animal. No entanto, normas mais específicas que

disciplinam o bem-estar dos animais de produção foram publicadas recentemente, por

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meio da Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000 que visa aprovar o

Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de

Animais de Açougue para estabelecer, padronizar e modernizar os métodos

humanitários de insensibilização dos animais de açougue para o abate, assim como o

manejo destes nas instalações dos estabelecimentos aprovados para esta finalidade.

Além disso, a Instrução Normativa nº 56, de 06 de novembro de 2008 (IN 56/2008),

estabelece as Recomendações de Boas Práticas de Bem-Estar para Animais de

Produção e de Interesse Econômico, abrangendo os sistemas de produção e o

transporte. A IN 56/2008 contudo não tem caráter obrigatório, sendo que a

administração das granjas tem a opção de não colocá-la em prática. Também foi criada

a Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal, com o objetivo principal de

coordenar as ações referentes a esse tema na produção animal.

Um grande avanço em questão de bem-estar observado em grandes granjas

brasileiras,é o cumprimento das normas de bem-estar da comunidade européia por

parte das mesmas, principalmente nos produtos de exportação.

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7 O MERCADO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COM FOCO EM

FRANGOS DE CORTE.

Não há dúvidas do potencial produtivo do mercado de produção de alimentos

brasileiro. Apesar de ainda haver alguns desafios a serem superados principalmente no

setor de distrbuição dos alimentos, é crescente o número de tecnologias e técnicas

introduzidas neste setor para sua maximização e garantia de qualidade. No quadro

6.0, estão presentes os últimos números revelados pelo MAPA (Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento) sob a produção de alimentos, e principais

produtos da agricultura com destaque para as carnes, dos últimos anos e para os

próximos (2012/2013).

QUADRO 6.0: PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, E PRINCIPAIS PRODUTOS DA AGRICULTURA COM DESTAQUE PARA AS CARNES, DOS ÚLTIMOS ANOS E PARA OS PRÓXIMOS (2012/2013).

Produto Unidade 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13

Milho milhões de toneladas 50.97 53.85 55.47 57.10 58.73

Soja milhões de toneladas 57.09 61.77 63.79 65.80 67.82

Trigo milhões de toneladas 5.67 5.09 5.28 5.48 5.68

Laranja milhões de toneladas 18.54 18.99 19.20 19.40 19.61

Carne de Frango

milhões ton eqiv.carcaça

11.13 11.62 12.12 12.62 13.12

Carne Bovina milhões ton eqiv.carcaça

7.83 8.02 8.21 8.40 8.59

Carne Suína milhões ton eqiv.carcaça

3.19 3.24 3.31 3.39 3.45

Cana de Açúcar milhões de toneladas

696.44

714.31

732.18

750.05

767.92

Açúcar milhões de toneladas 31.50 32.99 34.36 35.73 37.10

Etanol bilhões litros 27.67 25.56 28.16 30.75 33.90

Algodão milhões de toneladas 1.19 1.27 1.34 1.42 1.49

Arroz milhões de toneladas 12.63 12.59 12.74 12.89 13.04

Feijão milhões de toneladas 3.48 3.58 3.65 3.71 3.78

Leite bilhões de litros 30.34 31.12 31.80 32.46 33.12

Farelo de Soja milhões de toneladas 22.48 24.12 24.53 24.93 25.34

Óleo de Soja milhões de toneladas 5.69 6.24 6.41 6.58 6.75

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Batata Inglesa milhões de toneladas 3.39 3.57 3.69 3.69 3.78

Mandioca milhões de toneladas 26.42 26.80 27.14 27.48 27.82

Fumo milhões de toneladas 0.83 0.92 0.97 0.98 0.98

Papel milhões de toneladas 9.41 9.76 10.00 10.25 10.50

Celulose milhões de toneladas 12.70 13.12 13.62 14.12 14.62

Fonte: AGE/MAPA, 2010

Em relação á frangos de corte, no quadro 7.0 estão dispostos os principais

dados de exportação da carne de frango divulgados no último relatório da UBA/ABEF

(União Brasleira de Avicultura/ Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de

Frango).

QUADRO 7.0: EXPORTAÇÃO DA CARNE DE FRANGO BRASILEIRA NO ANO DE 2009, RANKING POR ESTADOS. Estados Exortação (tons.)

Santa catarina 986,257

Paraná 954,653

Rio Grande do Sul 770,180

São Paulo 272.988

GoiaS 170,101

Minas Gerais 140,754

Mato Grosso 132,312

Mato Grosso Do Sul 127,057

Distrito Federal 63,315

Sub total 3,617,618

Outros Com SIF (serviço de inspeção federal).

16.884

Total geral 3.634.503

Fonte: relatório anual UBA/ABEF 2009/2010.

Apesar dos números expressivos de exportação da carne de frango brasileira,

como mostra na figura 3.0, apenas 33% da produção brasileira de carne de frango foi

destinada á exportação no ano de 2009.

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FIGURA 3.0: PORCENTAGEM DA EXPORTAÇÃO DA CARNE DE FRANGO BRASILEIRA NO ANO DE 2009.

Fonte: relatório anual UBA/ABEF 2009/2010.

O sucesso da produção de carne de frango, deve-se ao sistema de integração.

Segundo o site da ABEF, o sistema de integração implantado nos anos 1960 viabilizou

a consolidação da produção em cadeia, harmonizando a atividade dos criadores com a

dos abatedouros. Estima-se que 90% da avicultura industrial brasileira esteja sob o

sistema integrado entre produtores e frigoríficos. Essa integração consiste em um apoio

permanente aos avicultores com o assessoramento de agrônomos, veterinários,

técnicos rurais, fornecimento de ração, medicamentos e pintos de um dia. Aos

produtores cabe criar as aves de acordo com as melhores práticas de produção e de

acordo com as mais rígidas normas de bem-estar animal, biosseguridade e sanidade.

Tais regras são monitoradas de perto pelas empresas integradoras, garantindo a

rastreabilidade do produto da granja à mesa do consumidor.

Percebe-se portanto que o setor ficou extremamente organizado e tecnificado,

como desvantagem, o sistema nem sempre pode ser justo para os integrados, que tem

pouca liberdade para a realização de mudanças ou benfeitorias, ou quando as mesmas

são solicitadas pelas integradoras os produtores nem sempre podem arcar com os

custos e acabam perdendo o contrato. Na questão de bem-estar, uma só mudança

afeta todos os integrados, por isso é um desafio implantar melhorias neste setor. Uma

vez que os números de produção e vendas são expressivos, o número de pessoas a

serem remuneradas por este trabalho também o é, portanto qualquer ameaça de

redução nos números de produção nem sempre é bem vinda. Já é comprovado por

Exportação 33%

Mercado interno.

67%

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diversos trabalhos que o aumento do grau de bem-estar é diretamente proporcional ao

aumento da qualidade do produto final, porém nem sempre a situação é encarada

deste modo pelos integradores. Os avanços observados atualmente são principalmente

causados por força de legislação e orgão reguladores, como a OIE (Organização

Internacional de Epizootias). Os números de produção de frangos de corte estão no

nível atual por conta da tecnificação da produção e principalmente por conta da seleção

genética expressiva ocorrida nas últimas décadas, o que possibilitou uma excelente

conversão alimentar, ganho de peso e crescimento rápido por parte das aves.

Em relação ao consumo da carne de frango, no quadro 8.0 estão representados

os números brasileiros de consumo neste setor e de alguns outros da agroindústria

segundo dados recém-divulgados pelo MAPA.

QUADRO 8.0: CONSUMO DE PRODUTOS DA AGROINDÚSTRIA NOS ÚLTIMOS

ANOS E PARA OS PRÓXIMOS (2012/2013).

Produto Unidade 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13

Milho milhões de toneladas 45.70 46.19 47.24 48.25 49.31

Soja milhões de toneladas 31.65 34.47 35.29 36.11 36.93

Trigo milhões de toneladas 10.81 10.97 11.15 11.33 11.51

Café milhões/sc 18.20 18.61 19.17 19.73 20.28

Carne de Frango

milhões de ton eqiv.carcaça

7.58 7.90 8.20 8.49 8.79

Carne Bovina milhões de ton eqiv.carcaça

6.17 6.31 6.44 6.57 6.71

Carne Suína milhões de ton eqiv.carcaça

2.58 2.66 2.70 2.74 2.78

Açúcar milhões de toneladas 12.10 12.57 12.64 13.08 13.17

Etanol bilhões litros 18.52 20.19 22.00 23.98 26.14

Algodão milhões de toneladas 1.00 1.02 1.04 1.06 1.07

Arroz milhões de toneladas 12.95 13.19 13.31 13.43 13.55

Feijão milhões de toneladas 3.70 3.87 3.82 3.90 3.98

Leite bilhões litros/hab. 26.58 27.33 27.93 28.52 29.11

Farelo de Soja milhões de toneladas 11.00 11.32 11.64 11.96 12.29

Óleo de Soja milhões de toneladas 4.20 4.20 4.37 4.54 4.70

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Papel milhões de toneladas 8.76 9.06 9.34 9.62 9.91

Celulose milhões de toneladas 5.98 6.24 6.41 6.59 6.77

Fonte: AGE/MAPA, 2010 O Brasil passa por um momento próspero com diminuição da pobreza e maior

acesso da população á alimentos. Um grande desafio á ser superado é o desperdício

de alimento tanta na fase industrial quanto na fase em que o produto final já está em

posse do consumidor final.

No Brasil desperdiça-se, estima- se que a perda de produtos agrícolas seja mais

de 30% nas fases de manuseio, transporte, armazenagem e comercialização. O Brasil

tem sido consagrado como um dos líderes mundiais em desperdício de comida. Entre a

colheita no campo e a mesa do consumidor, as perdas de alimentos chegam a variar

entre 20% e 60% (BIS PUC, 2010). Este fato não e relevante apenas pelo desperdício

de alimentos em si, mas também deve ser considerado o fato de que a produção

destes alimentos consomem expressivamente recursos naturais, geram resíduos e

degradam o solo, de maneira direta ou indireta. Na agropecuária, segundo a ABEF, a

produção de frangos de corte é menos prejudicial ao meio-ambiente, uma vez que é a

que menos consome água, tem menor impacto sob o solo e a que consome menos

energia elétrica. Também é uma das proteínas de origem animal mas acessíveis,

economicamente o que faz desta a mais consumida em países como o Brasil.

Apesar dos números considaráveis e a prosperidade no setor, sempre é

necessárIa a busca por maior qualificação e superação de desafios, a nível industrial

cabe oferecer maiores opções e informações aos consumidores, uma vez que em sua

maioria não conhecem o processo produtivo de seus alimentos. Produções que

preconizam o bem-estar animal e o menor impacto ambiental seriam privilegiadas caso

os consumidores fossem melhor informados sobre o processo de produção, o que

contrbuiria para a construção de um novo padrão para a maioria das produções de

alimentos. Cabe ainda uma concientização sobre o desperdicio de alimentos, tanto

para a indústria, que tem altos índices de mortalidade e condenação, problemas estes

consideravelmente minimizados com a aplicação de regras de bem-estar, quanto para

os consumidores que ainda tem uma cultura de desperdício muito difundida.

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8 - BEM-ESTAR ANIMAL E CONSUMO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL.

Além da adequação em segurança alimentar e nos três pilares convencionais da

sustentabilidade (responsabilidade social, viabilidade econômica, e menor impacto

ambiental), o bem-estar dos animais envolvidos tem sido um dos temas de

preocupação dos consumidores da carne brasileira a adequação nestes quesitos é, ou

esta por ser de fundamental importância para empresas e produtores que querem se

destacar no mercado agroindustrial.

Além de uma maior pressão maior do mercado, e dos legisladores, segundo Holanda

et. al, animais mantidos em ambientes onde o bem-estar é pobre podem resultar em

produto de qualidade inferior com baixo valor comercial.

Sabe-se que a modificação da genética natural e a ausência de bem-estar leva à

maiores índices de ocorrência de carnes PSE (pale, soft, exudative) e DFD (dark, firm,

dry), nas carnes viáveis a qualidade pode diminuir resultando em um menor tempo de

exposição da mercadoria para o consumidor .

Estes aspectos geram consequente desperdicio de alimento e conferem ao produto

menor relevância nutricional, por necessitar de maiores processos tecnológicos e

amparos para sua conservação.

Apesar de esses e outros fatores envolvidos justificarem a adequação dos

produtores, Holanda et. al ainda afirmam que exatamente o enquadramento das

produções nestes padrões é um grande desafio para a classe já habituada aos

padrões atuais.

Em relação à viabilidade técnica e econômica dos sistemas de produção nos

quais há atenção ao bem-estar animal, Gameiro (2007) afirma que ainda existem

grandes desafios. Geralmente esses sistemas de produção usam mais intensamente

alguns fatores de produção mais escassos, como maiores quantidades de recursos

naturais e de mão-de-obra. Consequentemente, tais sistemas geralmente apresentam

custos de produção mais elevados que os sistemas ditos “convencionais”, que usam

intensivamente fatores de produção mais abundantes e de alta produtividade,

geralmente o capital (máquinas, equipamentos, insumos modernos etc).

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Refletindo este fator da produção, Souza et al. (2005) ao estudarem o comportamento

do consumidor de produtos alternativos, perceberam que o preço é o maior entrave na

hora da decisão da compra a falta de selos e/ou qualquer outro dispositivo que sinalize

a origem destes produtos, também significou um prejuízo ao consumidor no processo

de decisão da compra.

No caso específico do bem-estar animal, muito mais do que a questão de preço,

os atributos subjetivos passam a ser fundamentais no processo decisório da compra.

Em linhas gerais, observa-se que em países de pouco desenvolvimento econômico, as

prioridades dos consumidores ainda estão voltadas para saciar suas necessidades

básicas, de modo que aspectos mais subjetivos como a preocupação com o meio

ambiente e com os animais, por exemplo, acabam tendo pouca expressão (Gameiro

2007).

Além das observações de Gameiro (2007) Os produtos ditos alternativos, ainda

sofrem alguns estigmas pelo seu preço elevado em relação aos produtos convecionais,

Gambelli et al. (2003) perguntam-se Why are consumers buying organic meat and

milk? (Por que há consumidores comprando carne e leite orgânicos?). Ao perguntarem

aos respondentes de um questionário o que eles achavam dos consumidores desses

produtos, os respondentes lhes deram os seguintes atributos: i) são bem informados;

ii) são éticos; iii) estão preocupados com questões de saúde; e iv) são de elevado nível

de renda. E ao perguntarem aos consumidores, os mesmos responderam que

consumiam produtos orgânicos por não estarem satisfeitos, ou não confiarem nos

produtos convecionais, consideraram os produtos convecionais de menor qualidade,

estes consumidores tinham uma atitude mais ética e ecológica na vida em geral, e

alguns estavam sim preocupados com o bem-estar das vacas envolvidas na produção

leiteira.

Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), o consumo de produtos tidos como

“organicos”, “naturais”, “verdes” e outras denominações similares em todo o mundo

aumenta 30% anualmente, movimentando cerca de US$ 26,5 bilhões, apesar de eles

serem até 50% mais caros que os alimentos não convecionais. O consumo destes

produtos no Brasil está ao redor de 1% de todo o mercado de alimentos, ou seja, há

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muito espaço para crescer. Cerca de 70% da produção orgânica vendida no Brasil é

vendida em supermercados.

Não apenas o preço e a qualidade dos alimentos mas também valores implícitos na

compra de um determinado produto são importantes para os consumidores.

Bennet et al. (2002), no estudo da propensão das pessoas a arcarem financeiramente

por questões relacionadas ao bem-estar animal, afirmam que a influência da percepção

moral das pessoas apresenta forte relação com sua propensão a pagar.

Vilas Boas et. al (2006) propôs a aplicação da teoria da cadeia de meios e fins para

avaliar a atitude dos consumidores de orgânicos, segundo a autor, a teoria parte do

pressuposto de que o comportamento do consumidor pode ser analisado levando-se

em consideração a estrutura de valores (incluindo sua dimensão cognitiva e

motivacional) que orienta a percepção, avaliação e a decisão do consumidor.

Segundo a teoria proposta por Gutman (1982), citado por Vila Boas et. al (2006), o

comportamento do consumidor pode ser dividido em níveis de conhecimento,

esquematizado na figura 4.0.

FIGURA 4.0 ESQUEMA DE PREFERENCIAS DO CONSUMIDOR SEGUNDO A TEORIA DA CADEIA DE MEIOS E FINS.

FONTE: VILAS BOAS et. al 2006.

Atributos

Abstratos

Concretos

Consequencias

funcionais

Psicosociais

Valores

Instrumentais Terminais.

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9. CONCLUSÃO

Apesar de provas e argumentos irrefutáveis da necessidade da aplicação de

normas que garantam um maior grau de bem-estar, sabe-se que as mesmas são mais

facilmente colocadas em prática por força de lei. Ao investigar a ciência do bem-estar,

principalmente inerente a animais de produção, chega-se a conclusão que a sua

aplicação deve estar baseada em três pilares: ciência, ética e legislação, com todos os

seus sub-temas. Somente pelo senso ético da comunidade científica, é que o bem-

estar animal merece seu título de ciência, somente pelo senso ético da sociedade civil

é que foi possível incorporar novas normas na legislação, normas estas baseadas em

pesquisas de rigor científico. Estes três itens, portanto, estão interligados e toda vez

que se considerar mudanças em qualquer modelo de produção animal deve-se

questionar a eficácia e necessidade dessa mudança pelo prisma de cada um dos três

pilares: ciência, ética e legislação.

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10. REFERÊNCIAS.

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