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Rosyane Rodrigues O ano começou com boas notícias vindas do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). A turma de técnico-administrati- vos da Universidade Federal do Pará que iniciou o curso de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmi- do (PPGDSTU) realizou jornada de defesas com 19 dissertações. Os trabalhos, em sua maioria, têm a própria UFPA como objeto de estudo. Os hospitais universitários, os campi do interior, o sistema de in- formação, o programa de qualificação de servidores foram alguns dos temas escolhidos por esses alunos dispostos a problematizar suas tarefas cotidianas. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o professor Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior, vice-coordenador do PPGDSTU, fala sobre os resultados alcançados pela primeira turma e faz planos para publicar coletânea com os resultados das pesquisas. “Isso poderá estimular outros servi- dores a também dar continuidade a sua formação”, avalia o professor. 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 Boas notícias chegam do NAEA Ano começa com 19 novos mestres entre o corpo de técnico-administrativos Entrevista Pesquisa do ICB recebe patente ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 103 • AbRIL, 2012 Pomar de manga é utilizado para analisar microclima O Núcleo de Pesquisa, em Cuiarana, localidade do município de Salinó- polis, está situado entre uma pequena área urbana em expansão (agrovila) e um ecosssitema costeiro de mangue- zal. Pág. 4 Meteorologia No sítio experimental, foram instalados pluviômetro e sensores de temperatura P esquisadores do Laboratório de Biologia Molecular, do Institu- to de Ciências Biológicas da UFPA, identificam sequência de DNA da mandioca. A descoberta irá promover o melhoramento genético da espécie e, consequentemente, haverá plantas mais resis- tentes a doenças e com maior valor nutricional. O Projeto, coordenado pela professora Cláudia Regina Batista de Souza, em parceria com a Embrapa, recebeu patente internacional da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). Pág. 3 Economia Direito Pedras são beneficiadas fora do Estado Produção de gemas e joias ganha força Pág. 9 Estudo analisa políticas para grupos LGBT Pág. 8 O professor Alberto Teixeira da Silva antecipa discussões da reunião Rio+20. Pág. 2 Opinião Entrevista Erick Pedreira fala sobre a necessidade de construirmos uma universidade solidária, ética e sustentável . Pág. 2 Saint-Clair Júnior festeja resultados das dissertações dos servidores no PPGDSTU. Pág. 12 Coluna da Reitoria Agência Cidadã atende Terceiro Setor Projeto da Faculdade de Comunicação da UFPA desenvolve projetos de comunicação institucional para empreen- dimentos da economia solidária. Entre os clientes, estão os produtores rurais de Campo Limpo Págs. 6 e 7 Extensão Na APROCAMP, o desafio foi informar de forma criativa para incentivar o consumo de produtos orgânicos Alimentação Memória Cardápio saudável e saboroso Restaurantes populares de Belém restruturam cardápios após avaliação de pesquisadores da Faculdade de Nutrição. Pág. 10 Da Batista Campos ao Guamá Crônica da professora Jane Felipe Beltrão relembra histórias do bangalô que abrigou a Faculdade de Odontologia. Pág. 11 ACERVO DO PESQUISADOR MARA TAVARES FOTOS KAROL KHALED ALEXANDRE MORAES Beira do Rio – As defesas que ocorreram no início do ano são resultados da primeira "sa- fra" da turma de servidores? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Essa turma foi selecionada em 2009 com esta intenção: a Universidade poder capacitar os seus técnicos com o nosso Programa. Foram 21 trabalhos, cujas temáticas estavam – direta ou indiretamente – voltadas para a Universidade. Dezenove já defenderam e dois alunos, ampa- rados pelo regimento, pediram prorrogação do prazo. Beira do Rio – No Programa, há uma reserva de vagas ou se trata de uma turma especial para servidores? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Existem programas que reservam vagas para funcionários (professores e técnicos). No NAEA, a turma era específica para os técnicos, com uma reserva de vagas para atender a demanda social, ou seja, pessoas que não tinham vínculo com a Universidade. É um pouco diferente, pois é uma ação voltada diretamente para atender uma demanda específica da UFPA. Beira do Rio – A seleção é anual e tem um pro- cesso seletivo diferenciado? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Essas turmas não são regulares. A primeira seleção foi em 2009, com um resultado positivo e interessante. Em 2011, tivemos mais uma turma com 11 servidores, que devem concluir o curso em julho de 2013. As etapas do processo seletivo são as mesmas aplicadas às turmas regulares e envolvem apresentação do projeto, prova escrita, prova de língua estrangeira e entrevista. A diferença está no tratamento das temáticas das pesquisas que serão desenvolvidas. Em turmas abertas, as temáticas dizem respeito a qualquer assunto da região que toque o desenvol- vimento sustentável. No caso dos servidores, é exi- gido que eles proponham uma temática relacionada à Universidade. Nós também temos o cuidado de ofertar disciplinas optativas que venham atender demandas específicas desses alunos. Mas o processo seletivo e o programa são os mesmos: o aluno sairá daqui mestre em Planejamento e Desenvolvimen- to, porém a sua pesquisa vai discutir uma questão institucional. Beira do Rio – Nos últimos anos, a criação de vagas para servidores nos programas de pós- graduação da Instituição tem sido incentivada. O senhor acha que essa qualificação terá um impacto positivo para a Universidade? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Sem dúvida. Já tive essa experiência no Programa de Pós-Graduação de Geografia, quando alguns servi- dores foram aprovados no mestrado e voltaram mais capacitados e qualificados. No caso do PPGDSTU, o aluno discute questões que são mais gerais – como a Amazônia, por exemplo – e isso é interessante, porque o papel da Universidade tem tudo a ver com a região. De certa maneira, o aluno amplia a sua visão sobre aquela tarefa mais cotidiana e começa a pensá-la mais associada ao papel da Universidade com a pesquisa, o ensino e a extensão. É interessante perceber que mui- tos alunos estavam, há algum tempo, sem atividades de formação continuada e tiveram dificuldades no início. Mas os trabalhos finais apresentaram resultados muito interessantes, não apenas do ponto de vista quantitati- vo, mas também do qualitativo. Esse foi um aspecto muito comentado tanto pelos examinadores quanto pelos professores-orientadores. Nossa ideia é publicar esses trabalhos na forma de coletânea para que esses resultados possam voltar para a sociedade. Beira do Rio – Nesses primeiros trabalhos, é possível perceber que a própria UFPA tem sido objeto de estudo. Essas pesquisas terão algum encaminhamento além das prateleiras das bi- bliotecas? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – As dissertações têm muito a ver com aquelas ati- vidades que o servidor está desenvolvendo na Universidade, então, quando estava pesquisando, ele já estava contribuindo com o setor ou com a unidade onde ele trabalha. Acho que todos tiveram essa preocupação. Nós tivemos trabalhos sobre o Hospital Barros Barreto, sobre a UFOPA, sobre outros campi. Então, o primeiro encaminhamen- to é este: ele irá voltar ao seu local de trabalho pronto para conceber e analisar o que estava fa- zendo com maior propriedade. Nossa intenção é socializar esses resultados, porque, muitas vezes, são experiências de um setor que podem ajudar outra unidade. O segundo momento é este: tornar público para proporcionar o debate. Beira do Rio – Esses resultados podem ser o ponto de partida para ações estratégicas na UFPA? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Sim, pois os trabalhos trazem proposições, sugestões e analisam problemas que fazem parte do dia a dia da Universidade. É importante sistematizar esses dados, porque, a partir daí, teremos um perfil de vários seto- res da UFPA e das suas frentes de ação. Será possível pensar políticas e diretrizes que ajudem a melhorar o desempenho institucional. Beira do Rio – De maneira prática, como sen- tiremos os resultados em curto, médio e longo prazos? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Em curto prazo, o servidor volta para a sua Unidade, começa a pensar e a sugerir ações a partir da sua pesquisa. Em médio prazo, teremos a repercussão dos bons trabalhos que foram realizados. Uma das intenções da coletânea, inclusive, é esta: estimular que outros servidores também queiram continuar a formação deles. Em longo prazo, será possível melhorar a performance da Universidade em função de trabalhos realizados sobre ela. É um processo de autoavaliação. A comunidade acadêmica vai poder refletir sobre os resultados dessas pesquisas, repensar práticas e propor ou desenvolver estudos comparati- vos. É uma perspectiva promissora.

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Beira do Rio edição 103

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Page 1: Beira 103

Rosyane Rodrigues

O ano começou com boas notícias vindas do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). A turma de técnico-administrati-

vos da Universidade Federal do Pará que iniciou o curso de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmi-do (PPGDSTU) realizou jornada de defesas com 19 dissertações. Os trabalhos, em sua maioria, têm a própria UFPA como objeto de estudo. Os hospitais universitários, os campi do interior, o sistema de in-formação, o programa de qualificação de servidores foram alguns dos temas escolhidos por esses alunos dispostos a problematizar suas tarefas cotidianas.

Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o professor Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior, vice-coordenador do PPGDSTU, fala sobre os resultados alcançados pela primeira turma e faz planos para publicar coletânea com os resultados das pesquisas. “Isso poderá estimular outros servi-dores a também dar continuidade a sua formação”, avalia o professor.

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012

Boas notícias chegam do NAEAAno começa com 19 novos mestres entre o corpo de técnico-administrativos

Entrevista

Pesquisa do ICB recebe patente

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94

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 103 • AbRIL, 2012

Pomar de manga é utilizado para analisar microclima

O Núcleo de Pesquisa, em Cuiarana, localidade do município de Salinó-polis, está situado entre uma pequena

área urbana em expansão (agrovila) e um ecosssitema costeiro de mangue-zal. Pág. 4

Meteorologia

No sítio experimental, foram instalados pluviômetro e sensores de temperatura

Pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular, do Institu-to de Ciências Biológicas da UFPA, identificam sequência de DNA da mandioca. A descoberta irá promover o melhoramento

genético da espécie e, consequentemente, haverá plantas mais resis-

tentes a doenças e com maior valor nutricional. O Projeto, coordenado pela professora Cláudia Regina Batista de Souza, em parceria com a Embrapa, recebeu patente internacional da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). Pág. 3

Economia

Direito

Pedras são beneficiadas fora do Estado

Produção de gemas e joias ganha força

Pág. 9

Estudo analisa políticas para grupos LGBT

Pág. 8

O professor Alberto Teixeira da Silva antecipa discussões da

reunião Rio+20. Pág. 2

Opinião

Entrevista

Erick Pedreira fala sobre a necessidade de construirmos uma universidade solidária, ética e sustentável . Pág. 2

Saint-Clair Júnior festeja resultados das dissertações dos

servidores no PPGDSTU. Pág. 12

Coluna da Reitoria

Agência Cidadã atende Terceiro Setor Projeto da Faculdade de Comunicação da UFPA desenvolve projetos de comunicação institucional para empreen-dimentos da economia solidária. Entre os clientes, estão os produtores rurais de Campo Limpo Págs. 6 e 7

Extensão

Na APROCAMP, o desafio foi informar de forma criativa para incentivar o consumo de produtos orgânicos

Alimentação

Memória

Cardápio saudável e saboroso Restaurantes populares de Belém restruturam cardápios após avaliação de pesquisadores da Faculdade de Nutrição. Pág. 10

Da Batista Campos ao Guamá Crônica da professora Jane Felipe Beltrão relembra histórias do bangalô que abrigou a Faculdade de Odontologia. Pág. 11

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Beira do Rio – As defesas que ocorreram no início do ano são resultados da primeira "sa-fra" da turma de servidores?Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Essa turma foi selecionada em 2009 com esta intenção: a Universidade poder capacitar os seus técnicos com o nosso Programa. Foram 21 trabalhos, cujas temáticas estavam – direta ou indiretamente – voltadas para a Universidade. Dezenove já defenderam e dois alunos, ampa-rados pelo regimento, pediram prorrogação do prazo.

Beira do Rio – No Programa, há uma reserva de vagas ou se trata de uma turma especial para servidores? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Existem programas que reservam vagas para funcionários (professores e técnicos). No NAEA, a turma era específica para os técnicos, com uma reserva de vagas para atender a demanda social, ou seja, pessoas que não tinham vínculo com a Universidade. É um pouco diferente, pois é uma ação voltada diretamente para atender uma demanda específica da UFPA.

Beira do Rio – A seleção é anual e tem um pro-cesso seletivo diferenciado?Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Essas turmas não são regulares. A primeira seleção foi em 2009, com um resultado positivo e interessante. Em 2011, tivemos mais uma turma com 11 servidores, que devem concluir o curso em julho de 2013. As etapas do processo seletivo são as mesmas aplicadas às turmas regulares e envolvem apresentação do projeto, prova escrita, prova de língua estrangeira e entrevista. A diferença está no tratamento das temáticas das pesquisas que serão desenvolvidas. Em turmas abertas, as temáticas dizem respeito a qualquer assunto da região que toque o desenvol-vimento sustentável. No caso dos servidores, é exi-gido que eles proponham uma temática relacionada à Universidade. Nós também temos o cuidado de ofertar disciplinas optativas que venham atender demandas específicas desses alunos. Mas o processo seletivo e o programa são os mesmos: o aluno sairá daqui mestre em Planejamento e Desenvolvimen-to, porém a sua pesquisa vai discutir uma questão institucional.

Beira do Rio – Nos últimos anos, a criação de vagas para servidores nos programas de pós-graduação da Instituição tem sido incentivada. O senhor acha que essa qualificação terá um impacto positivo para a Universidade?Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Sem dúvida. Já tive essa experiência no Programa de Pós-Graduação de Geografia, quando alguns servi-dores foram aprovados no mestrado e voltaram mais capacitados e qualificados. No caso do PPGDSTU, o aluno discute questões que são mais gerais – como a Amazônia, por exemplo – e isso é interessante, porque o papel da Universidade tem tudo a ver com a região. De certa maneira, o aluno amplia a sua visão sobre aquela tarefa mais cotidiana e começa a pensá-la mais associada ao papel da Universidade com a pesquisa, o ensino e a extensão. É interessante perceber que mui-tos alunos estavam, há algum tempo, sem atividades de formação continuada e tiveram dificuldades no início. Mas os trabalhos finais apresentaram resultados muito interessantes, não apenas do ponto de vista quantitati-vo, mas também do qualitativo. Esse foi um aspecto muito comentado tanto pelos examinadores quanto pelos professores-orientadores. Nossa ideia é publicar esses trabalhos na forma de coletânea para que esses resultados possam voltar para a sociedade.

Beira do Rio – Nesses primeiros trabalhos, é possível perceber que a própria UFPA tem sido objeto de estudo. Essas pesquisas terão algum encaminhamento além das prateleiras das bi-bliotecas? Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – As dissertações têm muito a ver com aquelas ati-vidades que o servidor está desenvolvendo na Universidade, então, quando estava pesquisando, ele já estava contribuindo com o setor ou com a unidade onde ele trabalha. Acho que todos tiveram essa preocupação. Nós tivemos trabalhos sobre o Hospital Barros Barreto, sobre a UFOPA, sobre outros campi. Então, o primeiro encaminhamen-to é este: ele irá voltar ao seu local de trabalho pronto para conceber e analisar o que estava fa-zendo com maior propriedade. Nossa intenção é socializar esses resultados, porque, muitas vezes, são experiências de um setor que podem ajudar outra unidade. O segundo momento é este: tornar público para proporcionar o debate.

Beira do Rio – Esses resultados podem ser o ponto de partida para ações estratégicas na UFPA?Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Sim, pois os trabalhos trazem proposições, sugestões e analisam problemas que fazem parte do dia a dia da Universidade. É importante sistematizar esses dados, porque, a partir daí, teremos um perfil de vários seto-res da UFPA e das suas frentes de ação. Será possível pensar políticas e diretrizes que ajudem a melhorar o desempenho institucional.

Beira do Rio – De maneira prática, como sen-tiremos os resultados em curto, médio e longo prazos?Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Em curto prazo, o servidor volta para a sua Unidade, começa a pensar e a sugerir ações a partir da sua pesquisa. Em médio prazo, teremos a repercussão dos bons trabalhos que foram realizados. Uma das intenções da coletânea, inclusive, é esta: estimular que outros servidores também queiram continuar a formação deles. Em longo prazo, será possível melhorar a performance da Universidade em função de trabalhos realizados sobre ela. É um processo de autoavaliação. A comunidade acadêmica vai poder refletir sobre os resultados dessas pesquisas, repensar práticas e propor ou desenvolver estudos comparati-vos. É uma perspectiva promissora.

Page 2: Beira 103

Coluna da REITORIA

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 – 11

Da Batista Campos ao GuamáConheça a história que teve início no bangalô da Padre Eutíquio

Ao pensarmos a Universidade Federal do Pará como “lo-cus estratégico” de indução,

fertilização e materialização das principais transformações sociais que ocorrem na Amazônia, de modo especial no Estado do Pará, estamos diante da necessidade de reflexão e consolidação de modelos de desen-volvimento que englobem as mais diversas áreas do saber, contribuin-do, desta maneira, com a missão da Instituição: “Produzir, socializar e transformar o conhecimento na Amazônia para a formação de cidadãos capazes de promover a construção de uma sociedade sustentável”.

Fundamentada na ideia de uma universidade comprometida com os valores e os comportamen-tos do amazônida, são inúmeros os desafios a serem estudados, algumas vezes, implementados em sua rotina institucional e, fi-nalmente, entregues à sociedade contribuindo para a redução e a erradicação das mazelas sociais,

tais quais: adoção de uma política de transição para a economia ver-de, de baixo carbono; estudo dos impactos das mudanças climáticas globais; incentivo constante ao uso de modernas tecnologias, processos de inovação contínuos, conserva-ção da biodiversidade, regulação de recursos genéticos, hídricos e da biomassa; implementação de políticas estruturantes com foco na eficiência energética, prudência ecológica, adoção de um modelo de gestão pública focada nas questões ambientais e, por fim, definição de políticas claras e exequíveis para o combate das principais desigualda-des sociais na Amazônia. A “nova” Universidade não pode se furtar de caminhar nesta direção!

O processo de ordenamento e ocupação dos espaços universitários deve ser capaz de sensibilizar os diversos atores institucionais para a importância de um olhar perma-nentemente focado na cultura da responsabilidade socioambiental, em que a intenção se concretize em

políticas universitárias voltadas à redução do desperdício de recursos naturais, à ampliação e conservação de áreas verdes, ao alargamento da política de coleta seletiva do lixo, além da promoção de hábitos sau-dáveis, que ampliem os cuidados com o bem público. Desta forma, estaremos caminhando comprome-tidos com a construção de modelos de sustentabilidade institucional.

Um dos grandes desafios de todos que fazem parte da UFPA consiste em sedimentar uma nova cultura a partir do estímulo de atitu-des e novas práticas que garantam a implementação e a disseminação do modelo de sustentabilidade socio-ambiental, como parte do cotidiano institucional, fruto de um trabalho de educação contínua, da inserção dessa temática no currículo dos cur-sos de graduação da Instituição, va-lorizando a atuação transdisciplinar e o desenvolvimento de programas e projetos de educação ambiental que contemplem a realidade da região, contribuindo para formar cidadãos

com capacidade crítica e priorizan-do um olhar reflexivo nas questões ambientais.

Uma série de ações pautando a questão da sustentabilidade já está em curso no âmbito da UFPA. Podemos referenciar o processo de coleta seletiva no Campus Univer-sitário, as ações desenvolvidas nos Bosques Camilo Viana e Benito Calzavara, os canteiros de obras sustentáveis, a utilização de papel reciclado em unidades acadêmicas. Isso propicia um cenário favorável de conscientização cidadã.

O atual contexto indica a necessidade de a UFPA se prepa-rar, cada vez mais, para lidar com o amanhã, não somente atentando aos preceitos de seu plano de de-senvolvimento, como sendo uma Instituição que valoriza sua “gente”, seu maior patrimônio; mas também alimentando os valores de solida-riedade, ética, sustentabilidade e justiça social tão importantes para a construção de uma Amazônia so-cioambientalmente segura.

Por uma Universidade solidária, ética e sustentável

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-8036

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Vinte anos após a emblemática reunião da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-

mento – a ECO-92, o Rio de Janeiro volta a ser palco de grandes debates da política mundial. De 15 a 22 de junho de 2012, está programada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentá-vel – RIO+20, que buscará refletir questões-chave para a superação de problemas e impasses vitais da humanidade. Os eixos principais das discussões estarão centrados na emergência de uma economia verde com inclusão social (erradicação da pobreza) e nos desafios da governan-ça global para o desenvolvimento sustentável, num contexto de baixas emissões de gases do efeito estufa (GEE) e de aproveitamento de fontes renováveis.

Crises multifacetadas do ca-pitalismo impõem necessidade de reformas profundas de governos e instituições sociais, cobrando polí-ticas modernizantes para construir uma sociedade sustentável, fundada na educação de qualidade, eficiência energética, inovações tecnológicas,

gestão política responsável e mi-tigação das desigualdades sociais. Para além da questão ambiental, a RIO+20 deve propor modelos de desenvolvimento e arranjos de governança pautados pela susten-tabilidade, nos diversos níveis e esferas. Torna-se inevitável um balanço crítico das últimas duas décadas passadas, considerando a perda progressiva de biodiversidade, a gigantesca produção de resíduos, além das consequências nocivas do aquecimento global.

Assimetrias intra e inter-re-gionais, além dos impactos do padrão de crescimento econômico excludente que têm prevalecido na Pan-Amazônia, tornam singular a participação de universidades, insti-tutos de pesquisa, redes epistêmicas e instituições subnacionais (Estados e municípios) na construção de ci-dades e territórios sustentáveis nos Trópicos Úmidos. A Pan-Amazônia possui um papel estratégico no ciclo do carbono planetário, sendo considerada uma das regiões mais vulneráveis do ponto de vista das influências das mudanças climáticas.

O fenômeno da savanização (substi-tuição da floresta por cerrado) pode acontecer ao longo do século XXI, constituindo grande ameaça para as populações tradicionais e ribeirinhas, sobretudo nos segmentos mais sensí-veis que dependem diretamente dos corredores hídricos e da biomassa.

Estudo do Instituto do Ho-mem e Meio Ambiente da Amazônia mostra que ainda são drásticas as condições sociais, econômicas e ambientais nos países amazônicos. Cerca de a metade da população desses países encontra-se abaixo da linha da pobreza, escondendo graves problemas, como a informalidade, o trabalho infantil e o trabalho forçado. A Amazônia precisa de um choque de políticas públicas, maximizando potencialidades endógenas, como o ecoturismo, a produção mineral verticalizada e a regulação de ser-viços ambientais estratégicos. O aproveitamento criativo e inteligente dos ecossistemas regionais depende de investimentos substanciais em pesquisa e qualificação de recursos humanos, o qual oriente uma in-serção competitiva no contexto da

economia global.A lógica do desmatamento

e da exaustão dos bens ecológicos prevalece, porque remunera, no curto prazo, os setores ligados à cadeia de exploração ilegal e clandestina, a qual mantém a Amazônia como um grande garimpo de ocupação indiscriminada. A transição dos paradigmas passaria por uma arqui-tetura de cooperação transnacional, constituída por múltiplos atores (Estados nacionais, empresas pri-vadas, terceiro setor e indivíduos), compondo cadeias produtivas com ampla valoração da diversidade bio-lógica e cultural. Como anfitriã do evento e player global, o Brasil deve ter posição de liderança nas grandes agendas produzidas pela RIO+20, ainda que sob o crivo das críticas geradas pela insensatez da UHE Belo Monte e a eventual aprovação do retrógrado ‘novo Código Florestal’, como está sendo, hoje, desenhado pelo Congresso Nacional.

Alberto Teixeira da Silva - doutor em Ciências Sociais, professor do IFCH e assessor da Reitoria.

RIO+20: Economia Verde e Governança na Pan-Amazônia

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Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Flávio Meireles/Igor de Souza/Mayara Albuquerque/Paulo Henrique Gadelha/Pedro Fernandes/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE); Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães/ Rosime-ri Miranda Freitas; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Jane Felipe Beltrão

Vou falar de um tempo em que os profissionais da Odontologia não eram muitos. Na entrada de suas casas, cuidadosas placas em metal

indicavam o nome do profissional e a condição “den-tista”, mais tarde, “cirurgião dentista”. Quase todos eram egressos do Casarão da Batista Campos. Eram duas casas geminadas, de estilo que, em Belém, se chamava bangalô, talvez pelo assobradado e pelos pátios refrescantes nesse rincão tropical.

Uma das casas pertencia à UFPA e a outra era de particulares. Localizada pela Travessa Padre Euthiquio, em frente à Praça Batista Campos. Creio que, com o tempo e as necessidades, a Faculdade foi ganhando terreno à sua direita, local onde foi construí-do um dos auditórios mais frequentados da cidade nos anos 60 e 70 do século passado. Do que me lembro, o espaço, guardadas as devidas proporções, parecia a sala do Cinema Olímpia, inclusive, pelas poltronas confortáveis, nas quais podíamos nos afundar para ver um bom “filme de arte”, destes que não são vistos nos circuitos comerciais. O Casarão e o auditório faziam história no bairro.

Às proximidades, pela Travessa Mundurucus, o Colégio Santa Maria de Belém, das dominicanas – agora, transformado em escola pública estadual – à época, era uma escola feminina, que não sobreviveu à política da ordem religiosa. Mais adiante, um pequeno externato de professoras tradicionais na cidade e a Mercearia do Américo, na esquina da Travessa dos Tamoios, os quais cederam lugar aos muitos edifícios que, hoje, circundam a Batista Campos e usufruem dela.

Em frente, na esquina, um colégio leigo - o Abrahan Levy – hoje, um dos espaços ocupado pelo Ministério Público do Estado – na ocasião, capitanea-do pela Dra. Alice Antunes, a única mulher que dirigiu a cidade por ter sido, um dia, vereadora e presidente da Câmara Municipal de Belém. Na sequência, o Co-légio Santa Rosa, das irmãs Sant’Anna, àquela altura, uma escola feminina, que, não por acaso, faz 80 anos.

Ainda pela Tamoios, o Grupo Escolar José Veríssimo, transformado, hoje, em escola pública estadual.

Viajando, conduzida pela imaginação, penso que a animação era grande considerando o número de estudantes e, logicamente, em grau superior estavam os moços da Faculdade de Odontologia, moços, sim, as mulheres contavam em pequeno número. Eram outros os tempos! A vida era agitada e alegre até as proximidades do Golpe Militar, quando, em 1º de abril, pela Serzedelo Corrêa, estava a bem posicionada unidade da 8ª Região Militar, local que, no momento, abriga um edifício para moradia de militares.

Nos tempos de calmaria, a diversão dos moços era “dobrar” os muitos vigias dos estabelecimentos de ensino para namorar na Praça, que ainda não era o paraíso da “geração saúde”, as caminhadas eram um ir e vir de jovens que ainda não frequentavam lan houses e se deixavam ficar em intermináveis conversas pelos bancos da Praça.

Às vezes, os encontros eram marcados nas assembleias, reuniões e sessões de filmes no acon-chegante auditório da Odontologia. Não lembro se o espaço tinha um nome específico. O auditório era movimentado, pois não se pagavam taxas e emolu-mentos para utilizá-lo, como bem soa a uma instituição pública. E as sessões de cinema também não eram pagas, promovidas que eram pelo Cine Clube.

Uma das assembleias marcantes do período da Ditadura foi o encontro de estudantes latino-americanos, SLARDES, que, na sessão de abertura, aquela que Isidoro Alves, em depoimento inscrito na obra 1964 – Relatos Subversivos – Os estudantes e o Golpe Militar, chama de “a noite dos lenços brancos”. Noite em que os jovens que compartilhavam ideias de transformação social e compunham a diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE) se deram conta de que o Golpe vinha para deixar marcas indeléveis.

Os discursos e o clima de confraternização peculiar a aberturas foram interrompidos por um grupo de rapazes (estudantes e não estudantes) para, como se dizia, “empastelar” a reunião e auxiliar os agentes da repressão com o conflito instaurado no

interior da Faculdade. Evidentemente, a identificação dos informantes da direita eram os lenços brancos atados ao pescoço para evitar o “pau” que a polícia desceria sobre os estudantes que se encontravam no auditório.

Não é difícil adivinhar os transtornos produ-zidos, inclusive, porque muitas eram as delegações estrangeiras que deveriam, pós evento, voltar aos seus países. Durante anos, pensei o que tinha ocorri-do no lugar de tantos encontros prazerosos. Relatos dos protagonistas, eu só li muito mais tarde, ao ser lançado o 1964.

A Faculdade não era conhecida apenas por seu auditório de muitas histórias. Lá, funcionou um dos mais antigos serviços de extensão da Universidade Federal do Pará, a Clínica de Odontologia, que ins-pirou inúmeros outros serviços (escritórios modelo, núcleos de assistência, entre outros) na Federal. O serviço atendia as pessoas vulnerabilizadas, que não conseguiam, por seus próprios meios, atendimento nas clínicas particulares.

Lembro-me dos comentários elogiosos feitos aos futuros odontólogos, em face do esmero com que “se treinavam” e ofereciam serviços à comunidade, quando alguém (em geral, frequentador das clínicas particulares) insinuava serem os serviços “feitos por acadêmicos”, ao que o usuário redarguia, “eles são bons e os professores estão lá para supervisionar, eles explicam e sempre perguntam sobre os cuidados, não é uma ‘coisa qualquer’, pois, depois, eles vão ‘montar consultório’”.

Refletindo sobre o dito pelas internas do colé-gio em que estudava, usuárias dos serviços, creio ser essa a melhor avaliação de um estudante. E, ao ver as pessoas, usuárias dos serviços executados no Campus da Saúde, penso que “se há usuários, há serviço” e o serviço, talvez, não faça 95 anos como a Odonto, mas anda perto de ser um “respeitável senhor” muito conhecido pela comunidade.

Jane Felipe Beltrão - Antropóloga, docente do IFHC e pesquisadora do CNPq.

Erick Pedreira - Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento [email protected]

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10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 – 3

Laboratório identifica DNA da mandiocaPesquisa pode gerar vegetais mais resistentes e com alto valor nutricional

É possível reunir saúde e sabor? Nutricionistas promovem adequação dos cardápios de restaurantes populares

BiotecnologiaAlimentação

Ao final de setembro do ano passado, a descoberta do Laborató-rio de Biologia Molecular da UFPA recebeu patente internacional da Organização Mundial de Proprie-dade Intelectual (OMPI), entidade internacional de Direito Internacio-nal Público, com sede em Genebra (Suíça), integrante do Sistema das Nações Unidas. Isso significa que a sequência de DNA descoberta está protegida e só poderá ser utilizada em futuras pesquisas e experimen-tos por meio da autorização da UFPA e da Embrapa.

A obtenção desta patente representa um grande avanço para todos nós, pois significa desenvol-vimento científico e tecnológico para o Brasil, em especial, para o Estado do Pará e a região amazô-nica. Isso conta, também, para as instituições envolvidas, a UFPA e a Embrapa, e para a produção cientí-fica dos professores, pesquisadores e alunos que estiveram envolvidos diretamente com a descoberta, afirma a professora.

Além da professora Cláudia de Souza, participaram da desco-

berta os pesquisadores Francisco Aragão e Luiz Carvalho, da Em-brapa, as discentes Edith Cibelle Moreira, Soelange Nascimento e Carinne Monteiro, do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFPA. Além disso, a participação da professora Maria Brasil Silva, do Setor de Propriedade Intelectual da UFPA, e da pesquisadora da Embrapa Simone Tsuneda foi essencial na elaboração e submissão do pedido de patenteamento.

Entre as próximas ativida-

des da equipe de pesquisadores, está a de decidir em quais países a descoberta deverá ser protegida, o que se espera que aconteça em 145 países. Além disso, a equi-pe de pesquisadores de Brasília realiza, atualmente, os experi-mentos iniciais de transformação da sequência descoberta para produzir plantas mais nutritivas e resistentes a pragas e insetos, dedicando-se aos estudos em cam-po para acompanhar o crescimento da mandioca, o que dispensa, no mínimo, dois anos.

À esquerda, a professora Cláudia de Souza com a equipe do Laboratório de Biologia Molecular da UFPA

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Tacacá, tucupi, maniçoba, tapioca, tiquira e a famosa farinha. O que esses produtos

bastante apreciados têm em comum? Simples: todos utilizam ou provêm da mandioca (Manihot esculenta Crantz), espécie comestível, típica da América do Sul, a qual se mantém como uma das mais importantes fon-tes de alimentos tropicais para mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo as raízes da planta a parte mais usada.

Porém, na Amazônia, é co-mum a mandioca ser atacada por fungos que causam uma doença caracterizada pela podridão mole da raiz. Mas, a partir de uma descoberta originada no Laboratório de Biologia Molecular, do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA (ICB), isso pode mudar. Denominada Sequência de DNA contendo a região promotora e os elementos regulatórios do gene Mec1, com expressão na raiz da mandioca, para uso em programas de melhoramento genético, a descoberta diz respeito à capacidade de direcio-nar a expressão de genes de interesse, de maneira localizada, nas raízes de plantas melhoradas geneticamente por meio da Biotecnologia.

A descoberta surgiu no âm-bito de um projeto de pesquisa do ICB, iniciado em 2004, chamado Isolamento e Caracterização de Sequências Promotoras de Raiz de Mandioca, coordenado pela professo-ra Cláudia Regina Batista de Souza. Financiado pela Secretaria Execu-tiva de Ciência, Tecnologia e Meio

Ambiente (Sectam), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Saúde, o Projeto tinha como principal contribuição a bio-fortificação da mandioca para gerar plantas mais nutritivas, voltadas ao consumo e à saúde da população.

A descoberta se deu quando a

professora Cláudia de Souza, em seu doutorado realizado na Universida-de de Brasília (UnB) e na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), identificou a proteína Pt2L4, rica em ácido glutâmico e pre-sente somente na raiz da mandioca.

De volta à UFPA, a profes-sora e a sua equipe de pesquisa se

dedicaram ao isolamento do material genético da mandioca, utilizando as técnicas da Biologia Molecular para determinar a sequência de bases que compõe a região promotora do gene Mec1. Este gene codifica a proteína Pt2L4 e foi utilizado na pesquisa de-vido a sua alta expressão nas raízes da mandioca.

Estudos foram realizados em parceria com a Embrapa �Na genética, um gene corres-

ponde a uma sequência de DNA que irá conferir uma característica de interesse, sendo que, nos genes, há uma região chamada de promotora, a qual indica a sequência a ser lida e a direção da transcrição para que a característica de interesse possa ser expressa em maior quantidade. Essa expressão pode ser definida em diferentes partes da planta: no fruto, na raiz ou na folha, por exemplo. No caso da descoberta do ICB, a região

promotora do gene Mec1 direciona a expressão, preferencialmente, para a raiz da mandioca.

Os trabalhos de isolamento da sequência promotora e de caracteri-zação molecular foram realizados no Laboratório de Biologia Molecular da UFPA, enquanto os experimentos de transformação genética foram conduzidos em colaboração com a Embrapa, uma vez que tal parte da metodologia da pesquisa ainda não se encontra disponível em Belém.

Depois de aproximados seis anos de pesquisa, a funcionali-dade da sequência promotora foi confirmada por experimentos de transformação genética de plantas, podendo ser usada no melhoramento da mandioca ou de outras culturas de interesse, como na obtenção de plantas com resistência a doenças e maior valor nutricional, contri-buindo para o desenvolvimento da agricultura e a melhoria da saúde humana e animal.

A aplicação efetiva da desco-berta se destina ao melhoramento genético vegetal. Isso pode aconte-cer tanto na mandioca, ao aumentar sua resistência contra doenças e pragas e seu valor nutricional, pois é uma espécie que apresenta muito amido e pouca proteína e vitamina, quanto em outras espécies vegetais, como a cenoura ou qualquer outra que se queira melhorar genetica-mente a parte da raiz, ressalta a professora Cláudia de Souza.

Descoberta está protegida por patente internacional �KA

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Além da avaliação dos cardá-pios, o grupo desenvolve outras ativida-des, como treinamento sobre higiene e manipulação dos alimentos, segurança no trabalho, qualidade de vida, entre outros temas. O trabalho ainda prevê a avaliação da aceitabilidade dos cardá-pios de duas maneiras: checklist com os clientes e avaliação por meio do cálculo do índice de resto ingestão. "Montamos um protocolo de pesquisa com pergun-tas sobre os cardápios servidos e, ao final do trabalho, entregamos para os gerentes dos restaurantes uma planilha indicando quais foram os cardápios mais aceitos e quais foram os rejeitados pelos usuários," explica a coordenadora do Projeto.

Na análise do resto ingestão, todos os alimentos produzidos no dia são pesados, e o que foi retornado na bandeja dos clientes é quantificado. "Assim, constatamos o quanto de alimento foi para o lixo e podemos chegar à conclusão de quais cardápios precisam modificar o seu modo de preparo. Aqueles que mantêm um alto índice de rejeição tendem a ser retira-dos do planejamento", afirma Xaene Mendonça .

Resultados – Em quatro anos de im-plementação, o Projeto já apresentou grandes resultados. Na primeira fase, constatou-se que os dois restaurantes apresentaram seus cardápios adequados

quanto às calorias, aos lipídios, às fi-bras, ao ferro, ao cálcio e às vitaminas A e C. Entretanto os valores das proteínas, do sódio e de NDpCal apresentaram-se acima do recomendado. Os percentu-ais de carboidratos ficaram abaixo no Restaurante ‘Desembargador Paulo Frota’ e adequados no ‘Restaurante Prato Popular’.

Após a última análise, realizada em 2011, grande parte desses proble-mas já estava corrigida. Os cardápios apresentaram inadequação apenas no que se refere às calorias e ao teor de sódio. De acordo com a professora, "os Restaurantes são receptivos em relação às analises e tentam atender às recomendações. Os clientes também

se sentem mais seguros em saber que a UFPA está supervisionando e cola-borando com a melhoria dos serviços oferecidos".

A coordenadora, entretanto, faz uma crítica, "o Programa tem como objetivo apoiar a implantação e a mo-dernização de restaurantes públicos populares, mas faltam governantes in-teressados na ampliação desses espaços seja em nível municipal, seja em nível estadual. O ideal seria um restaurante popular por bairro, principalmente os mais carentes, como Guamá e Terra Firme, onde está localizada boa parte da população em risco nutricional. Resta esperar a conscientização dos adminis-tradores públicos", conclui.

Refeições devem garantir os nutrientes necesários e reduzir riscos à saúde

Mayara Albuquerque

Os restaurantes populares têm como princípios fundamen-tais a produção e a distribui-

ção de refeições saudáveis, com alto valor nutricional, a preços acessíveis, para pessoas em situação de insegu-rança alimentar. Mas será que isso está sendo respeitado em nossa cida-de? Com o objetivo de diagnosticar e acompanhar as atividades desses estabelecimentos, a Universidade Federal do Pará, por intermédio do Instituto de Ciências da Saúde, rea-liza o Projeto "Educação alimentar e nutricional em restaurantes populares da cidade de Belém-PA", coordenado pela professora Xaene Mendonça, da Faculdade de Nutrição.

O Projeto, iniciado em 2008, tem como objetivo avaliar os cardá-pios nos restaurantes populares da cidade e propor mudanças, de acordo com as recomendações da Orga-nização Mundial da Saúde (OMS) e do Programa de Alimentação do Trabalhador, além de promover a capacitação dos funcionários.

Uma alimentação saudável preserva o valor nutritivo e os aspec-tos sensoriais dos alimentos e também deve prevenir o aparecimento de do-enças. Segundo o Projeto, acumulam-se evidências de que as características qualitativas da dieta são importantes

na definição do estado de saúde, em particular no que se refere às doen-ças crônicas da idade adulta. Neste sentido, a América Latina mudou de uma alta prevalência de baixo peso e da falta de crescimento para um cenário marcado pela obesidade, hoje, problema de saúde pública, que

acompanha doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e câncer. Entre as crianças, observa-se a deficiência de micronutrientes, destacando-se o ferro, a vitamina A e o cálcio.

"As sociedades urbanas têm incorporado o sedentarismo ao con-sumo de alimentos ricos em gordura

e açúcar, e pobres em fibras e micro-nutrientes. É fundamental estimular a produção e o consumo de alimentos saudáveis, como legumes, verduras e frutas, levando em consideração os aspectos comportamentais relaciona-dos às práticas alimentares", sugere a professora.

De acordo com o IbGE, cresce consumo alimentar fora de casa �A professora alerta para o nú-

mero crescente de refeições realizadas fora do domicílio. De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em média, a população brasileira gasta 24% das despesas alimentares em consumo fora de casa e a falta de uma política pública de segurança alimentar faz com que a parcela mais pobre da população não consiga se alimentar adequadamente.

Xaene Mendonça explica que o "Programa Restaurante Popular" está integrado à rede de ações e programas do Fome Zero, política de inclusão

social estabelecida em 2003, com o objetivo de oferecer alimentação de qualidade a quem precise se alimen-tar fora de casa, prioritariamente aos extratos sociais mais vulneráveis. "O bom funcionamento deste Programa é papel do Ministério do Desenvol-vimento Social e Combate à Fome (MDSCF). Espera-se, com ele, criar uma rede de proteção alimentar em áreas de grande circulação de pessoas. As refeições devem ser variadas, de forma que mantenham o equilíbrio entre os nutrientes necessários e redu-zam os riscos à saúde", avalia.

Entretanto, em nossa cidade, isso não estava funcionando de forma

adequada. "Belém conta com dois restaurantes populares: o Restaurante ‘Desembargador Paulo Frota’ e o Restaurante ‘Prato Popular’. Consta-tamos que os cardápios servidos não estavam nutricionalmente adequados e, a partir daí, começamos a trabalhar com a gerência de cada local", explica a professora.

"Primeiro, temos acesso aos car-dápios que foram planejados; depois, realizamos o cálculo nutricional," diz a bolsista do Projeto, Liliane Ramos. As refeições são coletadas de acordo com as porções que são servidas para cada usuário. "É preciso conhecer a qualidade e a quantidade do alimento

cru e cozido para, depois, calcular a composição nutricional de cada cardá-pio, o que é feito com o auxílio de um software e de tabelas de composição dos alimentos. Se for necessária a investigação de um nutriente em es-pecial, fazemos isso no laboratório de análise de alimentos", explica a profes-sora. Por esses métodos, o grupo avalia a adequação dos cardápios, em relação à quantidade dos macronutrientes (proteínas, lipídios e glicídios), o valor energético (calorias), as fibras, o sódio, o cálcio, o ferro, as vitaminas A e C e o NDpCal (percentual fornecido pela proteína líquida em relação ao valor calórico total do cardápio).

Após ação do Projeto, restaurantes reestruturaram cardápios �

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4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012

Manga é utilizada para analisar microclima Em Cuiarana, núcleo de pesquisa foi instalado no interior do pomar

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 – 9

Incubadora investe em tecnologia socialProjeto fortalece cadeia produtiva de gemas e joias no sudeste do Pará

EconomiaMeteorologia

Nos garimpos da região, as pedras preciosas são exportadas em seu estado bruto. Proposta que une Design e Turismo deve mudar essa realidade.

Em campo, os alunos têm a chance de usar equipamentos próprios da Meteorologia. Ademais, a aplica-ção da teoria no sítio experimental promove a formação técnica integral e desenvolve o olhar crítico do aluno sobre as questões ambientais.

"Queremos que os alunos parti-cipem da instalação do instrumento, da coleta de dados (leitura dos sensores),

das análises e da produção de resulta-dos. Queremos que eles usem os dados obtidos para escrever trabalhos seguin-do os padrões exigidos por congressos e revistas científicas", esclarece José de Paulo Rocha.

A proposta para 2012 é integrar a Pesquisa às escolas da rede pública e privada da localidade. "Terminamos de instrumentar a torre recentemente e

iremos coletar os dados por mais dois anos. O passo seguinte é integrar ações de extensão ao Projeto. Em Cuiarana, há escolas de ensino fundamental e essa é uma ótima idade para aprender, pois a mente está em formação. Que-remos levar os alunos dessas escolas para conhecerem o sítio de pesquisa. ‘Por que pesquisar?’, ‘Qual a utilidade da pesquisa?’, são questões que eles

poderão fazer", esclarece o professor. O objetivo é promover a intera-

ção da UFPA e de outras instituições de pesquisa com a comunidade local. Está prevista a criação de uma infra-estrutura com alojamentos e sala de aula no sítio experimental. Um espaço de ensino poderia ser utilizado pelos alunos da UFPA, em atividades com a população local.

Equipamentos instalados no alto da torre conseguem medir radiação solar, vento e temperatura. Em campo, alunos fazem a coleta de dados

Pedro Fernandes

Desmatamentos, queimadas, ocupação desordenada do espaço, uso indevido do solo e

uso de técnicas agrícolas inadequadas estão, hoje, entre as principais causas do desequilíbrio dos agrossistemas amazônicos. As ações humanas modi-ficam radicalmente a dinâmica da natu-reza. As mudanças ambientais afetam diretamente as atividades agrícolas, já que estas dependem de solo e clima apropriados para se desenvolverem.

Mas, afinal, é possível au-mentar a produção sem agredir o meio ambiente? Sim, para isso, as práticas inadequadas precisam ser substituídas por modelos sustentá-veis de plantio, cultivo e colheita. O primeiro passo é ampliar e atualizar os conhecimentos sobre os proces-sos climáticos, físicos, biológicos, químicos, entre outros, que regulam os agrossistemas amazônicos. Daí, a relevância de estudos microcli-matológicos integrados com outras pesquisas científicas.

Diante disso, professores do curso de Meteorologia da Universi-dade Federal do Pará (UFPA) desen-volveram a Pesquisa "Implantação de Sítio Experimental Multidisciplinar em Agrossistema na Localidade de Cuiarana – Município de Salinópolis, região nordeste do Estado do Pará", a qual integra o Projeto "Rede de Mudanças Climáticas e Ambientais do Pará: uma perspectiva de estudos integrados", vinculado à Faculdade de Meteorologia (FAMET) e ao Pro-grama de Pós-Graduação em Ciências

Ambientais (PPGCA) da UFPA.O sítio experimental é um nú-

cleo de pesquisa e ensino instalado no interior de um pomar de manga- -rosa, situado entre uma pequena área urbana em expansão (agrovila) e um ecossistema costeiro de man-guezal. A área foi doada à UFPA e à Universidade Rural da Amazônia (UFRA) pela família do senhor Mo-desto Rodrigues, após a sua morte, atendendo ao desejo de que, no local, fosse instalado um laboratório de pesquisa.

Agrossistemas multifatoriais �O sítio experimental dá supor-

te às atividades de campo do curso de Meteorologia, permite análises das características microclimáticas desse agrossistema e ajuda a entender como a cultura de manga reage ao clima local e como este é influenciado por ela. A partir das informações obtidas, busca-se melhorar a produção e au-mentar o rendimento econômico.

Além disso, por conta do seu aspecto interdisciplinar, a pesquisa busca integrar cursos de graduação e pós-graduação da UFPA, da capital e de outros campi, bem como de outras instituições de ensino superior. Nesse sentido, a Pesquisa avalia os aspectos biológicos, morfológicos, fisiológi-cos, entre outros, relativos à planta-ção de mangueiras e às características físicas e químicas do solo.

"Os fenômenos que envolvem o agrossistema de mangueira são multifatoriais. Vamos supor que haja uma seca nessa região. O que pode

contribuir para isso? Só a manga, só o capim, só o mangue? Todos os processos podem contribuir para o fenômeno e o nosso estudo integrado leva isso em consideração. Na análi-se, há a visão do meteorologista, do físico, do químico, do agrônomo, do estatístico, entre outros. A nossa ideia forma um contexto completo e mais elaborado, foi por isso que pensamos no aspecto interdisciplinar. Afinal, pouco se pode fazer apenas com o ponto de vista da Meteorologia", explica o coordenador da Pesquisa, professor José de Paulo Rocha da Costa.

Entre os eixos temáticos abor-dados, destacam-se a Micrometeoro-logia, estudo das variáveis climáticas (temperatura, vento e umidade) do ambiente; a Agrometeorologia, estu-do do ciclo de produção e desenvolvi-mento da mangueira; e a Hidrologia, estudo do balanço de água e energia do solo local.

Sensores e variáveis climáticas �O principal equipamento insta-

lado neste agrossistema de mangueiras é uma torre metálica de 20 metros de altura, chamada de "micrometeoroló-gica". Ela está equipada com sensores para medir, de forma contínua, as va-riáveis climáticas do ambiente. Entre elas, radiação solar, vento, tempera-tura, chuva e umidade do ar. Visando à abrangência dos estudos, também foram instalados, no sítio de pesquisa, sensores para medir a temperatura e a umidade no interior do solo.

A torre micrometeorológica está instrumentada em dois níveis. A dois metros acima do solo, estão instalados os sensores de temperatura e umidade do ar e do vento (direção e velocidade). No topo da torre, além dos sensores de vento, temperatura e umidade do ar, há o pluviômetro (sensor de chuva), o saldo radiômetro (mede o saldo de radiação, ou seja, o balanço entre a radiação direta do sol, a da atmosfera e aquela refletida pela cobertura vegetal,

que é utilizada nos processos físicos que se desenvolvem no agrossistema) e o piranômetro (mede a radiação glo-bal – direta e difusa - sobre o dossel do pomar).

"A torre microclimatológica é um ponto de medida das variáveis climáticas ao longo de um período, semana, mês ou ano. A partir dos ins-trumentos colocados na base e no topo da torre, nós temos uma noção de como é a variação do vento, da temperatura e da umidade do ar. Por intermédio deles, podemos medir, indiretamente, a variação do fluxo de energia ou de calor no ambiente", explica José de Paulo Rocha.

Desde 2010, atividades de cam-po da disciplina Micrometeorologia estão sendo desenvolvidas no sítio experimental e os resultados são apre-sentados em seminários. As práticas de 2010 e 2011 resultaram em dois Trabalhos de Conclusão de Curso e diversos artigos científicos.

Próximo passo: promover integração com a comunidade �

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Segundo Alex dos Santos, em grande parte dos municípios da região sudeste, a maioria das pedras preciosas é exportadas em estado bruto, agregan-do valor fora da região e do Estado. Ele afirma que já existe uma produção con-siderável de joias e produtos artesanais, como as bijuterias e as biojoias, porém não há registros de investimento para que os produtos gerados pelas ourive-sarias sejam divulgados em proporções maiores tanto para o público externo quanto para o local.

"Os profissionais não contam com um ponto único de vendas, que

atraia os turistas e a população local, também não há um momento e espaço exclusivos para divulgação desses produtos, aumentando a competitivi-dade entre os produtores e dificultando a visibilidade dos produtos gerados", conclui.

A bolsista do Projeto e gradu-anda em Turismo, pela Universidade Federal do Pará, Ariani Rodrigues, afirma que, empiricamente, já existe um turismo gemológico. "Existe um público que vai para a região por causa das gemas e das joias. Apresentamos propostas para organizar feiras ao final

do Projeto. Os conhecimentos do De-sign e do Turismo atuariam como pro-pulsores para o setor de gemas e joias e para o desenvolvimento sustentável da produção joalheira, considerando as questões culturais e históricas da região", explica.

Gabriela Monteiro, também bol-sista do Projeto e graduanda de Design, pela Universidade do Estado do Pará, afirma que aliar o turismo gemológico ao design é uma alternativa viável para os municípios, principalmente em Pa-raupebas, desde que haja planejamento, mobilização e sensibilização dos atores

envolvidos. "Eles precisam sentir-se estimulados a ter uma produção ca-racterística da região, agregando valor cultural às suas peças e buscando novos mercados," conclui.

Serviço: O Projeto é coordenado pela UFPA e pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sec-ti), em parceiras com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa).

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Mayara Albuquerque

Eldorado do Carajás, Itupiran-ga, Marabá, Nova Ipixuna, Parauapebas, São Domingos

do Araguaia e São João do Araguaia. O sudeste paraense é conhecido por apresentar grandes depósitos e jazidas de ametistas, citrino, opala, quartzo rosa, amazonita, ouro, entre outros. Mas também apresenta elementos decorrentes do histórico processo de construção da economia brasileira centrada no desenvolvimento indus-trial, que resultou na concentração de

renda e no acirramento das desigual-dades sociais.

Com o objetivo de contribuir para mudar essa realidade, o Pro-grama de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empre-endimentos Solidários (PITCPES) busca implementar um novo modelo de desenvolvimento e de geração de emprego e renda, utilizando, para isso, o Projeto "Tecnologia e Inova-ção Social: Incubação de Empreen-dimentos Econômicos Solidários da Cadeia Produtiva de Gemas e Joias no Território do Sudeste Paraense",

coordenado pelo técnico Alex Con-ceição dos Santos.

Pioneiro na região, o Projeto, vinculado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Univer-sidade Federal do Pará (UFPA), busca promover a transferência de tecno-logia para a inovação dos processos da cadeia produtiva de gemas e joias por meio da incubação de empreen-dimentos econômicos solidários, ou seja, por meio de ações participativas baseadas nos princípios da economia solidária e do trabalho cooperativo.

Desde 2001, a UFPA vem

disponibilizando transferências de tecnologia social, por intermédio da incubação de empreendimentos solidários em diversos segmentos cooperativistas no Estado, buscando atender comunidades carentes. O pro-cesso, cujo eixo é a tecnologia social em busca da autogestão e da produção via trabalho coletivo, tem um caráter educativo baseado na pedagogia da prática: promover a troca e a difusão coletiva de conhecimento sob a base da pesquisa aplicada na construção de processos de desenvolvimento territorial sustentável.

Divisão de trabalho e renda �Segundo Alex Conceição dos

Santos, onde faltam políticas, o Pro-jeto pode potencializar a geração e redistribuição de trabalho e renda na perspectiva da sustentabilidade, além de elevar a condição da produ-ção local e desenvolver o potencial socioeconômico-cultural do Estado. Segundo o técnico, uma cooperativa voltada para a economia solidária se distingue por apresentar trabalho coletivo, com a sua renda distribu-ída de maneira proporcional para todos.

As ações do Projeto, coordena-do pela professora Maria José Souza Barbosa, ocorrerão de forma partici-pativa e democrática sob parâmetros construtivistas, tendo como ponto de partida a realidade e o conhecimento local, exercitando a autogestão e a economia solidária pautada nos sa-

beres e conhecimentos locais. "Isso se traduz pela facilita-

ção de tecnologia social por meio de instrumentais que operaciona-lizem vivências coletivas capazes de resgatar a história, identificar problemas, estabelecer prioridades e planejar ações para alcançar soluções compatíveis com os interesses, as necessidades e as possibilidades dos protagonistas envolvidos," ressalta o técnico responsável.

O Projeto está inserido no Projeto "Ações de Tecnologia Social para a Consolidação do Sistema Pa-raense de Inovação", que se propõe a desenvolver tecnologias sociais associadas às cadeias produtivas de gemas e joias, de fruticultura de açaí e bacuri, e do leite, as duas últimas realizadas no Baixo Tocantins e na Ilha do Marajó.

Como funciona a incubação? �O processo de incubação se

constitui pelo acompanhamento técni-co, com a alternância entre formação e experimentação, incorporando o conhecimento cientifico e tecnoló-gico com o conhecimento dos atores envolvidos na produção.

Segundo Alex dos Santos, o sistema desenvolvido pelas coope-rativas possui diversas deficiências técnicas e o trabalho da incubadora será primordial para auxiliar a orga-nização da cadeia produtiva. "Espera-mos que o Projeto gere uma melhoria no processo de organização social, de gestão e de produção dos empreendi-mentos econômicos solidários com a capacitação dos seus membros e o aumento da produtividade de gemas e joias", explica.

As ações iniciaram em junho de 2010 e envolvem visitas aos

municípios, momento em que são identificados os grupos. Em seguida, são feitos diagnósticos para ajudar no planejamento das ações futuras, como seminários e cursos de capacitação, além do desenvolvimento de produtos e processos em laboratórios. "Entre os cursos, temos os que tratam os concei-tos de cooperativismo e de economia solidária, a formação de ourives e o desenvolvimento de joias", ressalta o coordenador.

O Projeto propõe a criação de meios para a divulgação e a comercia-lização dos produtos desenvolvidos pelas cooperativas a partir de feiras populares e, para isso, conta com uma bolsista do curso Design e outra do curso de Turismo, que apresente-raram artigos sobre o Projeto na XIV Jornada de Extensão da UFPA e na Semana Acadêmica do ICSA.

Turismo Gemológico como fonte de renda para a região �

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 – 5

Mulheres I

O Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” (Gepem) acaba de lançar o livro Mulheres Amazônidas: Imagens, cenários e histórias, organizado pelas professoras Maria Angélica Motta Maués, Maria Luzia Mi-randa Álvares e Eunice Ferreira dos Santos. A obra faz parte da Coleção Mulheres e Gênero na Amazônia, criada em 2009, pela Editora Gepem.

Mulheres II

Os 23 artigos estão organiza-dos em sete capítulos: Gênero e Ciências nos espaços aca-dêmicos; Histórias de vida, memórias e práticas familiares; Representação Social e Gênero; Cenas, Cenários e Mulheres em Movimento(s); O saber literário de mulheres amazônidas; Tra-balho, Políticas e Condições de Vida e As Tramas da Violência Doméstica. Para adquirir o livro, entre em contato com a secreta-ria do Gepem, pelo telefone (91) 3201-8215.

SBPC

Estão abertas as inscrições para a 64ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. Com o tema “Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para Enfrentar a Pobreza”, a reunião acontecerá na Universidade Federal do Maranhão, em São Luís, no período de 22 a 27 de julho. Mais informações no site http://www.sbpcnet.org.br/saoluis/home/

Luto“A criança vítima de quei-madura e a perda da imagem corporal” é o tema da palestra a ser proferida pela psicóloga Fabiana Oliveira, no próximo dia 25, no Auditório do Centro de Estudos do Hospital João de Barros Barreto, às 9h. O evento faz parte do Ciclo de Palestras do Laboratório de Estudos do Luto e Saúde (LAELS). Os interessados devem enviar nome completo para o e-mail [email protected]

Novo Portal

O novo Portal da UFPA já está no ar. O layout foi desenvolvido com vista a organizar melhor as informações e tornar o acesso mais amigável aos visitantes. O link para o Jornal Beira do Rio permanece na primeira página, destacando duas matérias da edição a cada semana.

Sistema Integrado de EnsinoSIE modernizou gestão e atendimento à comunidade

Dissertação EM DIA

No Portal do Aluno, é possível acompanhar lançamento de conceitos

Maria das Graças Vilhena res-salva que, inicialmente, os técnico--administrativos resistiram ao Siste-ma, "normalmente, uma proposta de mudança gera rejeição e divergência. Nem todos os envolvidos no proces-so concordam plenamente com o que é apresentado como novo".

Diante da necessidade de cumprir as exigências estabelecidas de forma cada vez mais otimizada, os técnicos passaram a reconhecer

a importância do SIE. "Quando isso aconteceu, eles passaram a frequen-tar cursos de capacitação e norma-tização. Com os treinamentos, as pessoas perceberam que poderiam ser gestoras de suas próprias tare-fas", avalia a pesquisadora.

Além dos professores, dos gestores e dos técnico-adminis-trativos, os discentes também po-dem utilizar o Sistema. Uma das ferramentas disponibilizadas é o

"Portal do Aluno", por meio do qual, os estudantes podem acessar suas informações acadêmicas. "O software possibilita que os usuários, vinculados à UFPA, estejam conec-tados a ele, facilitando a obtenção de respostas imediatas para as suas ações e demandas", diz Maria das Graças Vilhena. Após seis anos de funcionamento na UFPA, o SIE será substituído por um novo sistema ainda este ano.

Paulo Henrique Gadelha

O ano era 1995. Fernando Hen-rique Cardoso assumia o seu primeiro mandato como pre-

sidente da República Federativa do Brasil e, como é de praxe, o novo Chefe do Poder Executivo anunciou mudanças no governo federal. Uma das novidades, ainda naquele ano, fora a Reforma Gerencial do Estado, segundo a qual, as universidades do País deve-riam, progressivamente, modernizar as suas gestões acadêmicas adotando um sistema educacional que disponi-bilizasse informações mais precisas e atualizadas.

Assim, pouco tempo depois, a Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Catarina, criou o Sistema de Informação para o Ensino (SIE). O projeto foi aprovado e apoiado pela Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC) e, com o decorrer dos anos, outras insti-tuições passaram a adotá-lo. Em 2006, a Universidade Federal do Pará (UFPA) passou a usar a plataforma.

A fim de analisar como se deu o processo de inserção da UFPA nesse Sistema, a técnico-administrativa Maria das Graças dos Santos Vilhena, lotada no Instituto de Geociências (IG) da UFPA, elaborou a Dissertação Organi-

zação institucional da UFPA no contex-to da Reforma do Estado: uma análise dos modelos de gestão e processos na Implantação do Sistema Integrado de Ensino – SIE/2005 a 2009. O traba-lho, orientado pelo professor Durbens Martins Nascimento, foi defendido no Programa de Pós-Graduação em De-senvolvimento Sustentável do Trópico Úmido do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPA.

"Com esta pesquisa, busquei

avaliar se a implantação do SIE, na UFPA, estava de acordo com as exi-gências e as diretrizes da Reforma Ge-rencial, que determinava às Instituições de Ensino Superior a necessidade de modernização das suas gestões. Diante disso, o estudo analisou até que ponto a Universidade conseguiu modernizar o seu gerenciamento acadêmico utili-zando, para isso, o Sistema Integrado de Ensino", explica Maria das Graças Vilhena.

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Gerência integrada administrativa e acadêmica �A plataforma consiste em um

software para gerenciamento conjun-to, no qual, praticamente, todas as ati-vidades administrativas e acadêmicas de uma Instituição de Ensino Superior são executadas e acompanhadas por ele. Como o SIE realiza várias fun-ções, a autora da Dissertação optou por chamá-lo de Sistema Integrado de Ensino, e não Sistema de Informação para o Ensino.

O SIE promove a gestão inte-grada dos seguintes módulos: Acadê-mico (graduação e pós-graduação); Recursos Humanos (cadastro e ges-tão); Orçamentários (planejamento e execução); Serviços Gerais (frota, espaço físico, almoxarifado, patrimô-nio, licitação e compras); Biblioteca; Legislação; Processo Seletivo; Cen-tral de Atendimento e Protocolo e Módulos Administrativos.

De acordo com a pesquisado-ra, "com a implementação do SIE, passou a ser possível a visualização

do ‘todo acadêmico’. Antes, com o Sistema de Controle Acadêmico, o SISCA, que era o mecanismo antigo, não existia essa possibilidade, pois as informações disponíveis eram dispersas, conflitantes e não estavam consolidadas em uma única platafor-ma, como o SIE oferece".

Para respaldar o seu trabalho, Maria das Graças Vilhena, metodo-logicamente, utilizou três técnicas de pesquisa, a saber: análise documental, aplicação de questionários e entre-vistas com técnico-administrativos, com gestores das faculdades e dos institutos e com membros da Admi-nistração Superior da Universidade. A aplicação de questionários envolveu tanto o Campus de Belém quanto os campi do interior. Já as entrevistas, apenas a capital paraense.

Os resultados encontrados apontam que, na maioria das fontes pesquisadas, o Sistema foi bem aceito pela comunidade universitária. Um

dos principais fatores que possibili-taram esse êxito, conforme explica Maria das Graças Vilhena, é o fato do SIE – à época da sua implementação na UFPA – ser uma plataforma de ges-tão acadêmica moderna, inovadora e composta por uma alta tecnologia em software.

O programa de gerenciamento utilizado anteriormente não possuía tanta tecnologia. "Além disso, o SISCA não disponibilizava dados em tempo real, como o sistema mais recente oferece. Aparentemente, aumentou a burocracia, pois é ne-cessário alimentar, constantemente, a plataforma com informações atu-alizadas, referentes à Universidade. Entretanto o que aconteceu foi um processo de desburocratização, já que as atividades não são mais realizadas separadamente e não demoram tanto tempo para serem executadas. O SIE é, portanto, mais veloz", afirma a pesquisadora.

Inicialmente, técnicos rejeitaram a plataforma �

8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012

Governo amplia garantia de Direitos Estudo analisa políticas públicas para LGBT no período de 2007 a 2010

Cidadania

Uma das iniciativas foi o gran-de apoio à realização das Paradas do Orgulho LGBT. Segundo ele, entre 2007 e 2010, aconteceram mais de 40 eventos desta natureza, por ano, na capital e no interior do Estado. "O movimento considera essa ação o principal instrumento de visibilidade dessa comunidade", afirma.

Os seminários realizados em Belém e em outros municípios paraen-ses, como Castanhal e Marabá, foram outra proposta que surgiu durante as reuniões entre a Coordenação e a militância. Esses eventos funciona-vam como espaços de formação e de articulação de demandas dos Grupos

LGBT. De acordo com a abordagem teórica realizada na pesquisa, os Direi-tos Sexuais devem ser compreendidos como Direitos Humanos.

"Os Direitos Sexuais são de-mandas reivindicadas a partir do entendimento de que, socialmente, a sexualidade é um elemento estruturan-te das desigualdades, pois os atores de um segmento social são discriminados por estarem em desacordo com o que é normatizado pela sociedade. Assim, os Direitos Sexuais devem ser compreen-didos como Direitos Humanos, pois é direito de qualquer ser humano mani-festar a sua sexualidade e identidade de gênero", esclarece o pesquisador.

A partir das suas análises, Sa-muel Souza considera a criação da Co-ordenação de Proteção à Livre Orien-tação Sexual uma iniciativa positiva, "essa instância não deve ser entendida como uma política de um governo específico, mas, acima de tudo, como uma política de Estado e uma conquis-ta do movimento social".

Em 2008, outra política pública veio atender a comunidade LGBT. Uma portaria da Secretaria de Edu-cação passou a permitir que travestis e transexuais pudessem se matricular nas escolas públicas estaduais, com os seus nomes sociais, o que, depois, foi estendido a todos os órgãos oficiais do

Estado, por meio de decreto.Para o pesquisador, "os precon-

ceitos são formações sociais. Não se trata de questões meramente indivi-duais e subjetivas. Quando ingressa-mos em qualquer instituição social, aprendemos o que já está construído nesses espaços. Assim, todo mundo, um dia, já foi, por exemplo, racista ou homofóbico. Os padrões normativos criam essas discriminações. O enfren-tamento com o preconceito e com as desigualdades deve ser constante. E as políticas públicas são medidas neces-sárias que devem ser compreendidas como direitos a serem garantidos pelo Estado".

Paulo Henrique Gadelha

Direitos Humanos é um dos principais temas debatidos no mundo contemporâneo.

Por meio da discussão dessa temá-tica, muitas vezes, busca-se rever conceitos e preconceitos e, assim, executar ações direcionadas a grupos sociais que, histórica e culturalmen-te, tiveram sua cidadania e seus di-reitos preteridos. Tais ações têm sido instrumentalizadas, por exemplo, por meio da implantação de políticas públicas que nascem, sobretudo, do complexo diálogo entre Estado e sociedade.

Um dos segmentos sociais que se busca contemplar com essas políticas é o constituído por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexu-ais (LGBT). A execução de políticas públicas voltadas a esse grupo espe-cífico no Estado do Pará foi objeto de análise da Dissertação Direitos Sexu-ais e Políticas Públicas: o combate à discriminação para a concretização dos Direitos Humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transe-xuais (LGBT) no Estado do Pará. O trabalho, de autoria de Samuel Luiz de Souza Júnior, bacharel em Direito, foi orientado pela professora Mônica Prates Conrado, e defendido no Pro-

grama de Pós-Graduação em Direito do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

"Busquei estudar como se deu, no Pará, o processo específico de implementação de políticas públicas direcionadas à Comunidade LGBT, no período de gestão do Poder Exe-cutivo Estadual compreendido entre 2007 e 2010. Optei por esse recorte temporal devido à criação, nesse período, da Coordenação de Proteção à Livre Orientação Sexual", explica Samuel Souza.

Em 2007, com a mudança de gestão do Poder Executivo do Pará,

as Secretarias de Estado foram re-estruturadas. Assim, a Secretaria de Estado de Justiça passou a ser denominada Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (SEJU-DH) e teve a incumbência de tratar as questões relativas à reivindicação de Direitos Humanos de grupos social-mente preteridos. A Coordenação de Proteção à Livre Orientação Sexual (CLOS), criada ainda em 2007 – pri-meira iniciativa no sentido de esta-belecer uma instância específica, no âmbito da gestão pública paraense, direcionada à Comunidade LGBT –, passou a ser uma das instâncias de competência da SEJUDH.

SEJUDH cria articulação com outras esferas do governo �Segundo o pesquisador, a

Coordenação teve a atribuição de receber as demandas oriundas da Comunidade LGBT e encaminhar essas solicitações às outras secreta-rias e aos demais órgãos do governo do Estado. Assim, por exemplo, demandas da área da Educação eram encaminhadas à Secretaria Estadual de Educação (Seduc). Samuel Souza explica que a Coordenadoria era responsável por algumas ações pon-tuais, como o apoio às Paradas do

Orgulho LGBT. Contudo o objetivo principal sempre foi promover uma articulação em todo o governo.

Um dos pontos observados pelo autor nesse processo de atenção às demandas é a atuação do Movi-mento LGBT do Pará, composto por Organizações Não Governamentais, como o Grupo Homossexual do Pará (GHP), o Grupo pela Livre Orienta-ção Sexual (Apolo) e o Grupo de Re-sistência de Travestis e Transexuais da Amazônia (Greta). "As lideranças

do movimento social organizado são responsáveis pela reivindicação de demandas que podem resultar em políticas públicas. Para isso, mili-tância e poder público, por meio da Coordenação de Proteção à Livre Orientação Sexual, mantêm um di-álogo constante", ressalta.

Samuel Souza considera que, apesar das críticas que possam ser fei-tas a esses grupos, alguns direitos de LGBTs, no Pará, foram conquistados devido à atuação da militância. Se-

gundo ele, "a proposta do Movimento LGBT é despertar para a necessidade de combate à discriminação e às de-sigualdades sociais".

Principalmente, a partir das entrevistas com o coordenador de Proteção à Livre Orientação Sexual e com os seus dois assessores (ges-tores do período de 2007 a 2010), Samuel Souza observou quais po-líticas públicas foram construídas e implementadas ao longo daquela gestão.

Parada do Orgulho LGbT: instrumento de visibilidade �

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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2012 – 7

Agência Cidadã garante assessoria para pequenos empreendimentos Cooperativas e associações são os clientes preferenciais do projeto de extensão da Faculdade de Comunicação da UFPA

Terceiro Setor

"Geralmente, os alimentos orgâ-nicos têm preço similar aos produzidos industrialmente, porém com a enorme vantagem de proteger a natureza e a saúde do produtor, uma vez que não são utilizados agrotóxicos durante a produção. Ao pesquisar e comparar os preços da Cooperativa com os dos su-permercados de Belém, ficou consta-tado que alguns alimentos chegavam, inclusive, a custar menos, desde que vendidos diretamente do produtor ao consumidor. Nosso desafio é informar e comunicar, de forma criativa, para

valorizar o consumo de orgânicos, a Cooperativa e sua produção", explica Rosane Steinbrenner.

Para isso, foi desenvolvida uma estratégia de assessoria de imprensa aproveitando a Semana Nacional de Orgânicos como "gancho". A ação incluiu o levantamento de dados, a redação e o envio de releases para diferentes veículos (jornais, rádios, TVs, portais de internet, blogs, redes sociais). Também foram produzidas pautas especiais sobre a produção de orgânicos e seus personagens para

alguns canais e meios de comunicação da capital. Para construir a identidade da Cooperativa, a Associação adotou o nome fantasia "Orgânicos Campo Limpo". Além disso, foi criada uma representação gráfica e visual para que todos pudessem reconhecer a marca.

Como a primeira fase do Proje-to está chegando ao fim, a professora afirma que o desafio, agora, é garantir a sustentabilidade da Agência Cidadã. Para isso, o Projeto está buscando caminhos institucionais, mas também outras formas de captação de recurso.

"Temos certeza de que pensar e exer-citar a comunicação organizacional de forma contra-hegemônica é fundamen-tal para desenvolver a criatividade e a sensibilidade de nossos alunos para a realidade que os cerca".

Serviço: Para tornar-se cliente ou apoiar o Projeto da Agência Cidadã de Comunicação, acesse o blog agen-ciacidadaufpa.blogspot.com e-mail: [email protected] / [email protected]. Telefone: (91) 3201 8490.

Flávio Meireles

Na Universidade Federal do Pará, é no 7º semestre que os alunos de Jornalismo,

do Curso de Comunicação Social, deparam-se com o Laboratório de Comunicação Institucional, disciplina teórico-prática em que planejam e executam ações em vários meios de comunicação para um determinado cliente, geralmente, organizações do Terceiro Setor.

Porém as produções eram in-terrompidas com a chegada do fim do semestre. Isso provocava frustração tanto entre os alunos quanto entre os

clientes que experimentavam, pela primeira vez, os benefícios de uma comunicação estratégica, desenvol-vida para auxiliar na construção e no fortalecimento da identidade e imagem da organização.

Assim, a Agência Cidadã sur-giu para dar continuidade ao atendi-mento iniciado pelos alunos. O Proje-to de Extensão, vinculado à Faculdade de Comunicação (Facom) da UFPA, tem o objetivo de aplicar princípios da Comunicação Institucional com um diferencial: privilegia-se, neste Projeto, empreendimentos contra-hegemônicos, isto é, organizações que têm uma dinâmica diferenciada do

mercado econômico convencional. "Na verdade, o critério para

trabalharmos com uma organização é que ela esteja pautada pelo interesse público ou que, de alguma maneira, suas ações ajudem a melhorar a quali-dade de vida e/ou a expansão de direi-tos na localidade onde atua", explica a professora Rosane Steinbrenner.

Como forma de atender à linha temática do Edital PROEXT 2010, na primeira fase da Agência, o atendi-mento voltou-se a empreendimentos econômicos solidários que atuam, de forma coletiva, na gestão e na produ-ção, como cooperativas e associações de produtores. Hoje, a proposta é

atender outras organizações, grupos ou ações sediados, preferencialmente, nas vizinhanças do Campus do Gua-má da UFPA.

Na Agência, o atendimento é executado por quatro bolsistas de Jornalismo, em parceria com oito bolsistas de Publicidade e Propagan-da da Oficina de Criação, projeto de extensão da Faculdade de Comuni-cação, coordenado pelas professoras Ana Petrucceli e Lívia Barbosa. Os alunos produzem, sob a supervisão das professoras, produtos para web, rádio, impresso e vídeo. A definição dos produtos é orientada por um plano de comunicação estratégica.

Identidade visual garantiu visibilidade para as ações �Na sua primeira fase de exe-

cução, a Agência Cidadã atendeu duas organizações que também são empreendimentos econômicos so-lidários vinculados às Incubadoras de Instituições de Ensino Superior (IES): a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra Firme (Concaves) e a Associação de Produ-tores e Produtoras Rurais de Campo Limpo (APROCAMP).

A Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra Firme (Concaves), que contou com o apoio da Incubadora de Cooperativas Populares da UFPA (PITCPES), foi criada em 2004 e promove o de-senvolvimento socioeconômico de seus cooperados, por meio da coleta seletiva de vários materiais, como papel, plástico, ferro, cobre, vidros e resíduos de madeira. Os catadores fazem a triagem e dão o destino correto aos materiais coletados no bairro Terra Firme e nos grandes fornecedores como a própria UFPA.

Atualmente, os órgãos públicos são obrigados pelo Decreto Federal n. 5.940/2006 a destinar seus resíduos recicláveis a grupos de catadores organizados.

"Além de gerar trabalho e ren-da, a Cooperativa contribui para en-frentar um dos mais graves problemas ambientais nos dias de hoje: o excesso de lixo produzido nas grandes cida-des. A reciclagem é, portanto, uma bandeira a ser defendida por todos nós", avalia Rosane Steinbrenner.

Todas as ações estratégicas para a Cooperativa da Terra Firme foram pensadas enquanto a disciplina Labo-ratório de Comunicação Institucional estava sendo ministrada. No total, fo-ram criados três vídeos, sendo um ins-titucional e dois educativos, um jingle institucional, três spots publicitários, perfis em redes sociais, como Twitter, Facebook e Youtube. A continuidade do atendimento à Concaves inclui a orientação para o uso e a manutenção das ferramentas, além de assessoria

Associação de Campo Limpo trouxe novos desafios �Já foi como Projeto de Exten-

são que a Agência Cidadã atendeu a Associação de Produtores e Pro-dutoras Rurais de Campo Limpo (APROCAMP). Composta por 34 famílias que vivem da produção de alimentos orgânicos há seis anos, Campo Limpo, localizada no muni-cípio de Santo Antônio do Tauá, é a única associação local a ter a certifi-cação de sua produção, isto é, pode vender o que produz diretamente para o consumidor e também para empresas, restaurantes, hospitais e escolas. Diferente de uma empresa comercial, ela opera com base nos princípios da Economia Solidária, ou seja, produz e comercializa tudo de forma coletiva.

A Cooperativa rural foi indi-cada pela Incubadora Tecnológica da Universidade Federal Rural da Ama-zônia (UFRA), acreditando que o empreendimento poderia beneficiar-se das ações de comunicação para aumentar a renda. A Agência Cidadã realizou um diagnóstico da Associa-ção com o intuito de revelar, a partir da perspectiva da comunicação, a realidade da organização diante de suas metas e objetivos estratégicos.

A partir disso, pode-se desen-volver um projeto de comunicação capaz de contribuir com os avanços pretendidos pela organização social. A Cooperativa de Campo Limpo, a qual vende a maior parte da sua produção em Belém, precisava desde

Localizada em Santo Antônio do Tauá, Associação reúne 34 famílias de produtores

Cooperados, durante coleta, no arrastão do Arraial do Pavulagem

A Semana Nacional de Orgânicos foi utilizada como "gancho" para sugerir pautas que valorizassem o consumo desses produtos

um nome e uma marca para criar sua identidade corporativa, até pensar ações que valorizassem os benefícios do consumo de produtos orgânicos para ampliar e fidelizar seu público consumidor.

Foram realizadas entrevistas

com os dirigentes da Incubadora da UFRA e com os membros da Asso-ciação Campo Limpo, além de uma visita à comunidade, em Santo An-tônio do Tauá. As limitações estru-turais de comunicação (falta de linha telefônica e acesso à internet), a ca-

pacidade de produção e distribuição dos alimentos, além das condições competitivas da produção, tudo foi considerado na elaboração do plano de comunicação que definiu produ-tos e ações que visavam "quebrar" alguns mitos sobre os orgânicos.

Estratégia considerou limitações estruturais do local �

de imprensa e ações de comunicação interna na organização.

Entre os produtos planejados para ajudar na divulgação das ações da Concaves, foram desenvolvidos: fôlderes, placas de identificação para a fachada, uniformes (camise-

tas) para os catadores e adesivos de identificação para o caminhão que realiza a coleta, além de adesivos para pequenos fornecedores de materiais recicláveis e certificados de responsa-bilidade socioambiental para grandes fornecedores.

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