becker, fernando educaçao e construcao do conhecimento

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1 Educação e Construção do Conhecimento O livro de Fernando Becker apresenta uma coletânea de textos que relacionam-se, em uma visão apoiada em Paulo Freire e Jean Piaget. Estes textos refletem as pesquisas e os estudos do autor, em favor da melhoria da escola pública. Epistemologia "Saber"- engloba os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes. A questão da epistemologia da prática profissional se encontra, evidentemente, no cerne desse movimento de profissionalização. De fato, no mundo do trabalho, o que distingüe as profissões das outras ocupações é, em grande parte, a natureza dos conhecimentos que estão em jogo. A finalidade de uma epistemologia da prática profissional é revelar esses saberes, compreender como são integrados, concretamente, nas tarefas dos profissionais e como estes os incorporam, produzem, utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes às atividades de trabalho. Em que sentido essa definição da epistemologia da prática profissional pode modificar nossas concepções atuais? Os textos abordados foram agrupados pelo critério de uma mesma temática, do ponto de vista da epistemologia genética envolvida na obra de Piaget e as suas relações com a educação. 1- Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos - trata das diferentes concepções de conhecimento nas práticas pedagógicas. Apresentam três diferentes formas de representar a relação ensino/aprendizagem: a) - Pedagogia diretiva e seu pressuposto epistemológico - Sala de aula - O professor fala, o aluno escuta; o professor exige silêncio, decide o que fazer e o aluno executa; o professor ensina e o aluno aprende. Para o Paulo Freire é a Pedagogia do Oprimido. Por que o professor age assim? Segundo o autor, o professor acredita que o conhecimento pode ser transmitido para o aluno. Ele acredita no mito da transmissão do conhecimento. Na linguagem epistemológica - Sujeito e Objeto. O sujeito é o elemento conhecedor, o centro do conhecimento. O objeto é tudo o que o sujeito não é. Visão epistemológica do professor - O indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de conhecimento: é uma folha de papel em branco; é uma tábula rasa. De onde vem o seu conhecimento (conteúdo)? E a sua capacidade de conhecer (estrutura)? Vem do meio físico e social. Empirismo é o nome dessa explicação da gênese e do desenvolvimento do conhecimento. A ação deste professor está fundada, teoricamente, por uma epistemologia segundo a qual o sujeito é, totalmente, determinado pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos e sociais. O professor representa o mundo na sala de aula e, somente, ele pode produzir algum novo conhecimento no aluno. Representação epistemologica: essa relação [ S < O]. Essa pedagogia é legitimada pela epistemologia empirista configurando o quadro da reprodução da ideologia, do autoritarismo, da coação etc. Representação do modelo pedagógico: [ A< P ] - O professor (P), representante do meio social, determina o aluno (A) que é a tábula rasa, frente a cada novo conteúdo. Nessa relação o professor jamais aprenderá e o aluno jamais ensinará. b) - Pedagogia não- diretiva e seu pressuposto epistemológico - Não é fácil detectar sua presença. Ela está mais nas concepções pedagógicas e epistemológicas do que na prática de sala de aula. O professor é um auxiliar do aluno, um facilitador e este deve interferir o mínimo possível, acreditando que o aluno aprende por si mesmo. O aluno já traz um saber , ele só precisa trazer à

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Educação e Construção do Conhecimento

O livro de Fernando Becker apresenta uma coletânea de textos que relacionam-se, em

uma visão apoiada em Paulo Freire e Jean Piaget. Estes textos refletem as pesquisas e os estudos do autor, em favor da melhoria da escola pública. Epistemologia "Saber"- engloba os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes. A questão da epistemologia da prática profissional se encontra, evidentemente, no cerne desse movimento de profissionalização. De fato, no mundo do trabalho, o que distingüe as profissões das outras ocupações é, em grande parte, a natureza dos conhecimentos que estão em jogo. A finalidade de uma epistemologia da prática profissional é revelar esses saberes, compreender como são integrados, concretamente, nas tarefas dos profissionais e como estes os incorporam, produzem, utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes às atividades de trabalho. Em que sentido essa definição da epistemologia da prática profissional pode modificar nossas concepções atuais? Os textos abordados foram agrupados pelo critério de uma mesma temática, do ponto de vista da epistemologia genética envolvida na obra de Piaget e as suas relações com a educação. 1- Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos - trata das diferentes concepções de conhecimento nas práticas pedagógicas. Apresentam três diferentes formas de representar a relação ensino/aprendizagem: a) - Pedagogia diretiva e seu pressuposto epistemológico - Sala de aula - O professor fala, o aluno escuta; o

professor exige silêncio, decide o que fazer e o aluno executa; o professor ensina e o aluno aprende. Para o Paulo Freire é a Pedagogia do Oprimido. Por que o professor age assim? Segundo o autor, o professor acredita que o conhecimento pode ser transmitido para o aluno. Ele acredita no mito da transmissão do conhecimento. Na linguagem epistemológica - Sujeito e Objeto. O sujeito é o elemento conhecedor, o centro do conhecimento. O objeto é tudo o que o sujeito não é. Visão epistemológica do professor - O indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de

conhecimento: é uma folha de papel em branco; é uma tábula rasa. De onde vem o seu conhecimento (conteúdo)? E a sua capacidade de conhecer (estrutura)? Vem do meio físico e social. Empirismo é o nome dessa explicação da gênese e do desenvolvimento do conhecimento. A ação deste professor está fundada, teoricamente, por uma epistemologia segundo a qual o sujeito é, totalmente, determinado pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos e sociais. O professor representa o mundo na sala de aula e, somente, ele pode produzir algum novo conhecimento no aluno. Representação epistemologica: essa relação [S < O].

Essa pedagogia é legitimada pela epistemologia empirista configurando o quadro da reprodução da ideologia, do autoritarismo, da coação etc. Representação do modelo pedagógico: [ A< P ] - O professor (P), representante do meio social, determina o aluno (A) que é a tábula rasa, frente a cada novo conteúdo. Nessa relação o professor jamais aprenderá e o aluno jamais ensinará. b) - Pedagogia não- diretiva e seu pressuposto epistemológico - Não é fácil detectar sua presença. Ela está mais nas concepções

pedagógicas e epistemológicas do que na prática de sala de aula. O professor é um auxiliar do aluno, um facilitador e este deve interferir o mínimo possível, acreditando que o aluno aprende por si mesmo. O aluno já traz um saber , ele só precisa trazer à

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consciência, organizar, ou ainda rechear de conteúdo. Qualquer ação que o aluno decida fazer é a priori, boa, instrutiva. Regime ( laisser- faire) deixar fazer para que ele encontre o seu caminho. A epistemologia que fundamenta essa postura pedagógica é a apriorista. [ S > O ] . "Apriorista" vem de priori - aquilo que é posto antes como condição do que vem depois, que é a bagagem hereditária. O ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética. No desenvolvimento natural da criança, tudo está previsto: ossos, músculos e nervos; e assim, a criança passa a postar-se ereta, engatinhar, caminhar, correr, andar de bicicleta; é da mesma forma que ocorre com o conhecimento. É suficiente proceder a ações quaisquer, para que tudo aconteça em termos de conhecimento. As ações espontâneas farão a criança transitar por fases de desenvolvimento, cronologicamente, fixas, chamadas de "estágios" e que serão confundidas, freqüentemente, com os estágios da epistemologia genética piagetiana. O professor, nesse modelo, renuncia à característica fundamental da ação docente que é a intervenção no processo de aprendizagem do aluno. Representação da relação pedagógica: o modelo epistemológico apriorista - [ A > P]. O aluno (A), pelas suas condições prévias, termina a ação - ou inanição - do professor (P). c) - Pedagogia relacional e seu pressuposto epistemológico - O professor entra com os alunos na sala de aula, e juntos exploram o material pré-estabelecido, porque presume-se que tem algum significado para os alunos. O professor age assim porque acredita, ou melhor, compreende (teoria) - que o aluno só aprenderá alguma coisa, isto é, construirá algum conhecimento novo, se ele agir e problematizar a sua ação. Duas condições são necessárias para que algum conhecimento novo seja construído: a) que o aluno aja ( assimilação) sobre o material e que este possa ser significativo; b) que o aluno responda para si mesmo às perturbações ( acomodação) provocadas pela assimilação

do material, apropriando-se dos mecanismos de suas ações; tal processo far-se-á por reflexionamento e reflexão ( Piaget, 1977), a partir de questionamentos tanto pelo professor como pelos próprios alunos. O professor acredita que tudo o que o aluno construiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta se abrirá para o novo conhecimento. Representação epistemologica desse modelo: [ S <> O ].

O professor que age, segundo o modelo pedagógico relacional, professa uma epistemologia também relacional. 2- O Ato Pedagógico de Ensinar e a Produção do Conhecimento - O Pensamento Científico, segundo Bachelard, produz uma ruptura profunda no pensamento no nível do

senso comum; como as pessoas que passaram pela escola, não tiveram a chance de ter esse momento de ruptura, de poder se valer dos conhecimentos científicos para interpretar o mundo em que vivem? Isto é chamado de primarismo. Todos sabem, muito bem, onde está a causa, e muitos participam dessa produção de ignorância nas salas de aula. Os mecanismos, mesmo com todas as didáticas e metodologias, produzem a reprodução, a repetência e a posterior expulsão da criança da escola. O autor situa os procedimentos pedagógicos de sala de aula em três grandes grupos: Pedagogia convencional, ou Pedagogia tradicional ou escola tradicional. Pedagogia da essência e Pedagogia Conteudista, segundo a crítica de Paulo Freire, Pedagogia do oprimido, que consiste numa pedagogia centrada no professor. Contra essa pedagogia aparece a pedagogia centrada no aluno (laisser- faire), proposta viabilizada pela Escola Nova e que muitos confundem com a proposta piagetiana ou freireana. Trata-se de uma pedagogia, um ensino centrado no aluno dentro de uma proposta libertadora dirigido, especialmente, às chamadas classes populares. É uma pedagogia centrada na relação, precisamente, as relações dentro da sala de aula, que não recebem significação a priori. Pode-se encontrar o fundamento dessa pedagogia em uma epistemologia que está mais ou menos disfarçada na obra de Paulo Freire, exposta e

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bem explicada na obra de Piaget, que é a epistemologia construtivista, de matriz interacionista: epistemologia genética. Nas dimensões epistemológicas, abarcam três modelos pedagógicos: 1) Modelo Empirista - o sujeito é a tábula rasa, determinado pelos estímulos que o rodeiam; 2) Modelo Apriorista - o ser humano nasce determinado com uma bagagem hereditária; basta um processo de maturação e os efeitos aparecerão; nas faixas etárias fixas vão aparecendo as estruturas do pensar e da percepção. Em Psicologia é representado pela teoria de Gestalt e de certa forma pela teoria de Carl Rogers; 3) Modelo Construtivista, uma pedagogia construída a partir da epistemologia genética. O conhecimento não está no objeto, meio físico ou social, ou na cabeça do professor com relação ao aluno, nem mesmo na cabeça do aluno com relação ao professor; o conhecimento se dá por um processo de interação radical entre o sujeito e o objeto, entre o indivíduo e a sociedade, entre o organismo e o meio. É uma epistemologia centrada na relação, ou na ação do sujeito sobre o objeto e do objeto sobre o sujeito, a ação é a ponte que liga o sujeito ao objeto. Para Piaget, compreender é construir estruturas de assimilação e não usar o procedimento de repetições. Estruturas de assimilação constroem-se por abstração reflexionante. Esta abstração é agir sobre as coisas e retirar algo e agir sobre as próprias ações e retirar destas ações alguma coisa. Piaget chama este tipo de abstração, de empírica. A abstração que se sobrepõe a essa primeira é a abstração reflexionante. Caracteriza-se a abstração reflexionante, quando o sujeito age sobre o meio, sobre os objetos, sobre as relações sociais, sobre as ações retirando qualidade da própria coordenação das ações. Trata-se de uma ação de segunda potência. É um conceito pouco explorado. Como analisar o conhecimento matemático?. É a capacidade organizadora do conhecimento humano, de retirar por abstração reflexionante, as qualidades da coordenação de suas ações, é quando o sujeito após um conjunto de ações qualquer, aprendeu os mecanismos dessa ação. Na sala de aula tem que fluir a relação professor- aluno, aluno - professor e aluno - aluno , possibilitando a ação, permitindo a apropriação do próprio fazer, resultando o crescimento cognitivo. É evidente que ameaça de um certo modo, a disciplina escolar. Uma vez que toda disciplina escolar tem como objetivo máximo: a) proibir que a ação se dê, b) inviabilizar, pela imposição de mecanismos comportamentais, a apropriação dos mecanismos dessa ação. Toda disciplina escolar tem um ponto em comum-proibir que tal fato aconteça - e é por isso que se pode falar em produção de ignorância em vez de produção do saber. Se esta interação não se dá (ação de primeira potência), não se dará a seguinte (ação de segunda potência). 3 - Ensino e Construção do Conhecimento: o Processo de Abstração Reflexionante - O processo de abstração reflexionante com base na explicação da proposta de Piaget para a construção do conhecimento. No senso comum, inclusive o acadêmico, o conhecimento é entendido como um produto da sensação ou da percepção. Segundo Piaget, o conhecimento é concebido como uma construção. A abstração reflexionante - O processo comporta dois aspectos: o reflexionamento - é a projeção sobre um patamar superior daquilo que foi tirado do patamar inferior, como acontece com a passagem da ação sensório- motora à representação; ou da assimilação simbólica pré - operatória à operação concreta. A reflexão - é como ato mental de reconstrução e reorganização sobre o patamar superior daquilo que foi transferido do inferior. O material retirado por reflexionamento vem de duas fontes possíveis: 1) - dos observáveis - dos objetos ou das ações do sujeito em suas características materiais. Este mecanismo tem o nome de abstração "empírica". 2) - dos não - observáveis - coordenações das ações do sujeito, coordenações endógenas: ouço, observo uma criança de dois anos chamando um cavalo de "au- au", mas não ouço, não vejo, não observo a coordenação que a levou a generalizar para o cavalo o nome que atribui,

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usualmente, ao cachorro. É possível inferir essa coordenação a partir do comportamento da criança. A essa forma de abstração, Piaget chama de "reflexionante", com desdobramentos: 1) - quando o objeto é modificado pelas ações do sujeito e enriquecido de propriedades tiradas de suas coordenações. Um outro exemplo: uma criança de três anos enfileira, sem plano prévio, alguns carrinhos e ao terminar, chama esse conjunto de "Fórmula Um"; é a abstração pseudo - empírica - aquilo que a criança retirou não está no objeto, está no observável, nas relações entre os objetos (carrinhos); ela retirou o que ela colocou neles e não o que lhes é próprio; 2) - quando o resultado de uma abstração reflexionante de qualquer nível torna-se consciente, temos uma abstração refletida; exemplo: uma criança operatória - concreta se apropria de elementos comuns às operações de adição de unidades, dezenas e centenas, aprende na ação concreta que 3+ 3 + 3 = 3x3; ou quando uma criança operatória - formal se apropria de relações comuns às operações aritméticas apreende que: (2 + 3) + 4 = 2 + (3 + 4). Significado da palavra abstração: retirar, arrancar, extrair algo de algo, nunca a totalidade, mas algumas características. O conhecimento é progressivo, o processo está no que o sujeito pode retirar, isto é, assimilar dos observáveis ou dos não - observáveis. O que ele retira por abstração é aquilo que seu esquema de assimilação atual possibilita que ele retire. Ele pode ser modificado por acomodação. Diferenciação e equilíbrio - o equilíbrio cognitivo não é inativo e sim, uma constante

troca. Epistemologia genética e ação docente - Um novo olhar do professor na sala de aula

com uma visão interacionista e construtivista do ser humano, em geral com bases em conhecimentos adequados, permitirá trabalhar a realidade trazida para dentro da sala de aula, tendo em vista a construção das condições prévias de todo o conhecimento. 4 - O que é Construtivismo? O universo está em movimento se constituindo, se

construindo, ou se destruindo? Como a espécie humana sobreviveu a grandes catástrofes, chuvas de meteoritos? O que se sabe é que a espécie humana que vive hoje na Terra, pouco tem a ver com as que viveram há 650 milhões de anos. São concepções que a ciência foi construindo e refletindo na filosofia e na sociologia. Para Piaget, o homem quando nasce traz com ele uma fascinante bagagem hereditária que remonta há milhões de anos de evolução, mas não consegue emitir a mais simples operação de pensamento ou o mais elementar ato simbólico sendo que o meio social não consegue ensinar a esse recém-nascido o mais elementar conhecimento objetivo. O sujeito humano é um projeto a ser construído, o mesmo acontece com o objeto. Logo, sujeito e objeto não têm existência prévia, a priori . Como isto ocorre: o sujeito age sobre o objeto, assimilando-o, essa ação assimiladora transforma o objeto; esse processo resiste aos instrumentos de assimilação de que o sujeito dispõe no momento. O sujeito reage, refazendo esses instrumentos ou construindo novos instrumentos, capazes de assimilar, transformar os objetos mais complexos. Essas transformações dos instrumentos de assimilação constituem a ação acomodadora. "Conhecer é transformar o objeto e transformar a si mesmo" (O processo educacional que nada transforma está negando a si mesmo) . O sujeito constrói seu conhecimento na interação com o meio, tanto físico como social. Essa construção depende das condições normais do sujeito. Portanto, na periferia ou mesmo na favela é extremamente mais difícil construir conhecimentos do que nas classes média e alta? Piaget criou a idéia de conhecimento - construção , o movimento do pensamento humano em cada indivíduo e apontou que se daria na humanidade como um todo. Portanto, para o Construtivismo nada está pronto e determinado, é sempre um leque de possibilidades que podem ou não ser realizadas. É constituído pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o mundo das relações sociais. O Construtivismo é um modo de ser do conhecimento, uma teoria que nos permite interpretar o mundo em

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que vivemos, além de nos situar como sujeitos neste mundo. Para Piaget, a aprendizagem só tem sentido se coincidir com o processo de desenvolvimento do conhecimento, com o movimento das estruturas da consciência. A educação deve ser um processo de construção de conhecimento, na condição de complementaridade. 5 - Construtivismo e Pedagogia - Piaget - São apresentados passos essenciais para

uma proposta pedagógica com base na epistemologia genética. O texto dá um significado importante ao trabalho pedagógico, orientado por uma epistemologia construtivista. Na obra de Piaget, em termos de conhecimento, a presença do interacionismo pode ser detectada por numerosas díades: assimilação / acomodação, estrutura / gênese ou estrutura/função, coordenação / diferenciação, estados / processos ou estados/transformações, conteúdo/ forma, organização /adaptação, aprendizagem/ desenvolvimento, abstração empírica /abstração reflexionante, reflexionamento /reflexão, ação/ coordenação das ações ou ação/esquemas de ação, heteronomia/autonomia. Segundo Fernando Becker, uma proposta pedagógica que pretende levar em conta os avanços da epistemologia genética, deve contemplar pelo menos os seguintes pontos: > Levar em conta as construções cognitivas do educando ou, o que dá no mesmo, partir dos conceitos espontâneos do aluno; > Instaurar a fala do aluno; > Rever, continuamente, as atividades em função do objetivo; > Considerar o erro como instrumento analítico e não como objeto de punição; > Pôr o aluno em interação com a ciência, a arte, os valores; > Superar a repetição com a construção; > Exercer rigor intelectual; > Relativizar o ensino em função da aprendizagem entendida como construção do conhecimento; > Compreender que há um dinamismo fundamental em toda relação, caracterizado por uma continuidade funcional e por uma descontinuidade estrutural; > Pensar conteúdo e processo como duas faces da mesma realidade cognitiva. 6 - "No princípio era a ação!" Ação, Função simbólica e Inteligência emocional. A abordagem epistemológica segundo Piaget (1973). Epistemologia do senso comum - Duas posturas teórico -epistemológicas: apriorismo - o nascimento da criança - herança genética: tudo está previsto e determinado. Reflexo - a criança recém-nascida é a tábula rasa, e será determinada pelo meio social. A função da ação - Na hipótese teórica de Piaget, a herança genética e o meio social têm importância. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo ocorre pela assimilação, equilibração ou pela abstração reflexionante e sempre com a ação do sujeito. Como Piaget concebe o pensar humano? Pensar é agir sobre o objeto e transformá-lo. Ação e abstração reflexionante - O processo de abstração é, ao mesmo tempo, o processo de construção de conhecimento que se dá por reflexionamento e complementado por uma reflexão ou ato mental de reconstrução e reorganização. Ação e coordenação das ações - quando um bebê olha para um brinquedo, movimenta

a mão na direção do brinquedo, agarra-o e, finalmente, leva o brinquedo à boca, começa a sugá-lo. Para Piaget, acontece "coordenação de ações" - é a relação que o sujeito estabelece entre ações que não existiam anteriormente. Afetividade e inteligência emocional - Na epistemologia genética, razão e emoção

jamais se separam, mas também não se confundem . Piaget afirma que a afetividade é um aspecto energético das estruturas. Isto significa que sem atividade, a estrutura e a ação sem energia é como um automóvel sem bateria. "Não se pode chegar a uma teoria conclusiva da inteligência humana sem um tratado sobre a afetividade à altura do tratado que a epistemologia genética faz para explicar a cognição." É importante não confundir Inteligência e Emoção.