baruc carvalho martins

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Baruc Carvalho Martins ADEUS, VAGABUNDOS: Um livro-reportagem sobre a memória coletiva de um grupo de extermínio de Poço Verde SÃO CRISTÓVÃO 2015

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Page 1: Baruc Carvalho Martins

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Baruc Carvalho Martins

ADEUS, VAGABUNDOS:

Um livro-reportagem sobre a memória coletiva de um

grupo de extermínio de Poço Verde

SÃO CRISTÓVÃO

2015

Page 2: Baruc Carvalho Martins

BARUC CARVALHO MARTINS

ADEUS, VABABUNDOS:

Um livro-reportagem sobre a memória coletiva de um grupo

de extermínio de Poço Verde

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à disciplina Projetos

Experimentais em Jornalismo, do

Departamento de Comunicação Social

(DCOS) da Universidade Federal de

Sergipe, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em

Comunicação Social/Jornalismo.

Orientadora:

DRA. MARIA BEATRIZ COLUCCI

SÃO CRISTÓVÃO

2015

Page 3: Baruc Carvalho Martins

BARUC CARVALHO MARTINS

ADEUS, VAGABUNDOS:

UM LIVRO-REPORTAGEM SOBRE A MEMÓRIA COLETIVA DE

UM GRUPO DE EXTERMÍNIO DE POÇO VERDE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à disciplina Projetos

Experimentais em Jornalismo, do

Departamento de Comunicação Social

(DCOS) da Universidade Federal de

Sergipe, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em

Comunicação Social/Jornalismo.

Aprovado em: ______/_____/______

Banca examinadora:

_______________________________________________

Dra. Maria Beatriz Colucci

Orientadora (DCOS/UFS)

_______________________________________________

M. Sc. Michele da Silva Tavares

Professora DCOS/UFS

_______________________________________________

Dr. Ulisses Neves Rafael

Professor DCS/UFS

Page 4: Baruc Carvalho Martins

AGRADECIMENTOS

Agradecer, a essa altura da vida e de todos os acontecidos, é, em boa medida, a

simples confirmação de um passado vivido no presente. Dizer isso, colocando-me

enquanto um velocista que encerra a maratona do TCC, pode soar megalomaníaco. Mas

foi justamente das muitas mãos, e das profundas feridas – e cicatrizes – cultivadas em

um período tão rico, que todo este trabalho, e toda a minha vivência na Universidade, se

consolidou como algo possível.

Por isso, nunca é demais também retornar ao clichê para agradecer

primeiramente a... meus pais , Valdir e Genilda, por toda a persistência e confiança em

mim, arriscando, às vezes, até a própria vida.

À minha irmã, Estéfane, pela aproximação e confidência nesses últimos tempos

– não tão sombrios, mas sem as brigas da infância e adolescência.

Às minhas duas avós: Joaninha e Lourdes (in memoriam).

Aos meus queridos/as primos/as, tios/as e toda a sorte de familiares. Em

especial: tia Floripes, tia Cleodice, tia Zete, tia Nininha (in memoriam), tio Gois, tia

Dejanira, tia Marinalva, tia Ceiça, tia Clenilda, Kyara, Lucas, Jairo, Carlos Alexandre,

Piedade, Fernanda, Mônica.

Aos amigos que me aturaram durante todo este tempo sob o mesmo teto: Jéssika,

Daiane, Greice Kelle, Jessiquinha, Damildes, Maike e Cristóvão.

Aos amigos que me aturaram na nova casa por esses últimos dias (da República

Tcheca): Flávio, Denilson, Nandinho, Nai, Marília...

Aos amigos que de escola que sempre me acompanharam: Da Bahia e Monalisa.

Aos amigos da rua e de sempre: Philippe, Sylvester, Arcanjinho, Raul Marx,

Ronaldo.

Aos amigos que ganhei durante a militância no Rompendo Amarras – e depois

no RUA –, na Insurgência e no PSOL. Em especial: Marília, Rodrigo, Marcelo,

Mariana, Karol, Jordi, Agatha, Babi, Dalvinha, Fran, Henrique, Doug, Mário Leony,

Dante, Adão, Rai.

Às mais maravilhosas e finíssimas trans do mundo: Sofia, Linda Brasil,

Fernanda Bravo (mammys) e Geovana.

Ao mais hermoso homem trans de Sergipe – e quiçá do mundo: Daniel.

À sempre amada – e querida – trans compulsória: Thiago Ranniery. Também te

amo, bee!

Aos Andrés mais inteligentes e destemidos que a vida me proporcionou

conhecer: André Leite e André Borba.

À deputada Ana Lúcia pelo apoio durante o processo de apuração do livro.

Ao pessoal do trabalho do Palácio-Museu Olímpio Campos, pela oportunidade

de me deixar aventurar livre na produção de releases. Em especial: Marieta, Solange e

Marcela Prado.

Às melhores pessoas do mundo para trabalhar que encontrei no MPF: Catarina

Cristo, Enny Danielle e Jéssica França. Sim, naquela Ascom era só amor!

Page 5: Baruc Carvalho Martins

Aos amigos e professores que conheci na UFS e que quero levar pro resto da

vida (vou evitar citar aqui, pois, no fim das contas, era muita gente).

Ao querido – e já consagrado – diagramador do livro Fernando Caldas.

À bee mais closeira de Cícero Dantas: Gustavo Marques (Ninha).

À minha sempre humilde e atenta orientadora Bia Colucci.

E, claro, a todas aquelas pessoas que, para não gastar tantas páginas e linhas, não

consegui mencionar. Seja por um problema seríssimo de rememoração, seja pela

simples necessidade de silenciar. Pois boa parte deste livro é motivada por essa

inquietação e dedicada a essas pessoas que gritam no silêncio.

Page 6: Baruc Carvalho Martins

“Alexandre tem habilidades com artes,

sabe desenvolver trabalhos com origami.”

Avaliador do CREAS sobre jovem que cumpre

medidas socioeducativas

Page 7: Baruc Carvalho Martins

RESUMO

Este relatório traz o processo de fabricação do livro-reportagem “Adeus, Vagabundos”,

que trata da memória coletiva de um grupo de extermínio do município de Poço Verde

(SE). Durante seu período de atuação, o grupo assassinou 17 jovens em seis meses,

gerando uma ampla repercussão social que legitimou os extermínios. Este documento,

por isso, também envolve em sua seara de discussão, a partir da constituição do seu

arcabouço teórico e metodológico, as especificidades e características do suporte (livro)

para o Jornalismo, a problemática do extermínio de jovens e o surgimento dos grupos de

extermínio, sem deixar de lado, ainda, o processo de composição visual, os métodos, as

justificativas e escolhas feitas durante todo o processo.

Palavras-chave: livro-reportagem, new journalism, memória, grupo de extermínio,

Poço Verde.

Page 8: Baruc Carvalho Martins

ABSTRACT

The main object of this report is the making process of “Adeus, Vagabundos”, a book

based on journalistic content, regarding the memories of a death squad from Poço Verde

town. During their six months of onslaught, the gang killed 17 teenagers, arousing a

huge public repercussion. This paper, as means of theory and methodology, turns its

attention to the characteristics of books as support for Journalism. Also, the issue of

young people murders and the emergence of death squads are tackled, as well as the

process of visual composition, techniques, justifications and choices made through the

writing of the book.

Key-words: book based on journalistc content, new journalism, memory, death squad,

Poço Verde.

Page 9: Baruc Carvalho Martins

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL .................................................... 12

2.1 O extermínio da juventude ................................................................................... 13

2.1.1 Um breve cenário sobre as mortes matadas ................................................... 14

2.1.2 Características dos grupos de extermínio ....................................................... 15

2.2 O que se entende por memória coletiva................................................................ 16

2.3 O livro-reportagem e suas especificidades ........................................................... 17

2.4 O jornalismo investigativo como técnica ............................................................. 19

3 RELATO TÉCNICO-METODOLÓGICO .................................................................. 21

3.1 Processo de construção da obra ............................................................................ 21

3.1.1 Obstáculos e riscos ......................................................................................... 23

3.1.2 Exclusões e silenciamentos ............................................................................ 24

3.2 Dilemas éticos ...................................................................................................... 24

3.3 Projeto Gráfico e editoração ................................................................................. 25

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 27

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 28

Page 10: Baruc Carvalho Martins

11

1 INTRODUÇÃO

Entre 2012 e 2013, a atuação de um grupo de extermínio no pequeno município

de Poço Verde, interior de Sergipe, promoveu o assassinato de 17 jovens em pouco

mais de seis meses. Ainda que as manchetes dos principais jornais do estado (anexo 11)

tenham divulgado, antes, o sangue desses jovens e condenado a ação dos

exterminadores; na cidade, pairava entre a população uma sensação de alívio pelo medo.

O grupo, aos poucos, havia ganhado legitimidade, engendrando-se na vida social dos

poço-verdenses e dando inteligibilidade a um certo tipo de moral que compreendia que,

na falta da presença do Estado, era possível e necessário matar.

Este relatório, por isso, na tentativa de avançar sobre essa memória de Poço

Verde, e colocando o problema do grupo de extermínio como parte de uma tragédia

coletiva mais complexa, apresenta as justificativas, os métodos e as ferramentas

narrativas utilizadas para a produção do livro-reportagem Adeus, Vagabundos,

apresentado como trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Para tanto, dividimos este trabalho em duas partes. Na primeira, serão abordadas

discussões sobre o suporte e as suas especificidades, assumindo o livro-reportagem

como um produto jornalístico não-periódico diferenciado. Além de tratarmos

brevemente sobre a questão do extermínio de jovens no país, com especial atenção ao

processo histórico das mortes e do desenvolvimento dessas forças policiais auxiliares,

movidas pelos grupos de extermínio e esquadrões da morte. Analisando como esse tema

do extermínio da juventude é referendado pela sociedade, servindo como válvula de

escape para problemas que envolvem a segurança pública.

Na segunda parte, será apresentado, a partir do memorial descritivo, todo o

processo de confecção do livro-reportagem. A escolha do estilo de narrativa e da

temática dos capítulos; o método das entrevistas; a localização de observador-

participante; os desafios éticos; o processo de apuração e de organização das

informações e a constituição do projeto gráfico como parte indispensável ao modo de

contar a história.

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Por fim, apresentaremos a nossa conclusão, balizada em como o processo de

fabricação de um livro-reportagem responde, ou ajuda a colocar a questão, ao tema da

legitimação do grupo de extermínio pelos poço-verdenses.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL

Estava em casa, a poucos metros do Colégio Estadual Professor João de

Oliveira (CEPJO), quando Horácio foi morto, em agosto de 2012. Rapidamente, postei

no grupo “Poço Verde”, do Facebook, uma mensagem pedindo ação urgente da

população e sugerindo que fizéssemos um abaixo-assinado para ser entregue ao

governador. A resposta veio com muita força através de uma Caminhada pela Paz

(anexo 10), realizada uma semana depois ao assassinato de Horácio, e, a partir daí,

criamos o Movimento Unidos pela Paz.

Depois, com o aparecimento do grupo de extermínio, a execução de 17

jovens e as discussões que envolviam a questão da segurança pública, decidi, ainda no

segundo período da graduação em Jornalismo, fazer um livro-reportagem sobre a

cidade. Ou melhor: sobre a circulação do discurso que dá inteligibilidade a um certo

tipo de violência que legitima a atuação do grupo de extermínio – expressa, de maneira

concreta, pela mobilização das pessoas através da morte do suposto líder do grupo de

extermínio (anexo 09).

A escolha pelo suporte, assim, se deu tanto pela possibilidade de exercitar

uma prática jornalística diferenciada quanto pela capacidade de unir diferentes gêneros

em um único produto, colocando a narrativa para conduzir à forma e sem o apego tão

duro às convenções jornalísticas.

Ainda assim, falar sobre a cidade, sendo poço-verdense, também se tornou

uma escolha de fazer circular o debate público sobre o tema, alicerçando, a partir da

memória, e de suas possibilidades de abordagem, uma discussão maior sobre a

legitimidade pública de atuação do grupo de extermínio e sobre o apagamento de

vivências periféricas.

No fim, também se partiu de uma premissa usada por Judith Butler (2010)

sobre as motivações que fazem algumas vidas serem dignas de luto – e outras não –, que

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13

situa parte do problema em nossa não compreensão da nossa própria vulnerabilidade

constitutiva – que nos coloca, para existir, em interdependência violenta com um Outro.

2.1 O extermínio da juventude

As mortes provocadas por execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais

sempre estiveram presentes no Brasil desde o seu achamento, há mais de 500 anos –

entendendo essas execuções, aqui, como as praticadas por:

[...] forças de segurança do estado (policiais, militares, agentes

penitenciários, guardas municipais) ou similares (grupos de

extermínio, justiceiros), sem que a vítima tenha tido a oportunidade de

exercer o direito de defesa num processo legal regular, ou, embora

respondendo a um processo legal, a vítima seja executada antes do seu

julgamento ou com algum vício processual; ou, ainda, embora

respondendo a um processo legal, a vítima seja executada sem que lhe

tenha sido atribuída uma pena capital legal. (PIOVESAN et al, 2001:

16).

Do extermínio dos índios, dos quilombolas, até, nos dias atuais, dos jovens negros

nas periferias, a tortura se transformou em ferramenta basilar do Estado Moderno,

sobretudo com a instituição jurídica do crime e das prisões. Pois, foi justamente através

das prisões que os encarcerados comuns vivenciaram a introdução de métodos de tortura

que, só depois, os presos políticos, em períodos como o da ditadura, experimentaram

(SOUZA, 2000).

O que, segundo Paulo Sérgio Pinheiro (1984), põe abaixo uma ideia de

anacronismo da tortura em períodos bem delimitados, como o Estado Novo e a

Ditadura. Períodos em que, ainda conforme o autor, ao contrário das classes populares,

as classes médias e a burguesia puderam experimentar a tortura.

Nesse contexto, após a Ditadura Civil-Militar, uma nova morfologia da força

policial começou a atuar, através, principalmente, dos grupos de extermínio, como meio

acessório ao Estado e a sua capacidade de punição. Culminando, segundo o Mapa da

Violência, num processo de limpeza e purificação que gerou uma taxa de crescimento

das mortes na população em geral de 387%, entre 1980 e 2012 (passando de 8.710 para

42.416 mortes por ano); e de, extraordinariamente, 463,6% entre os jovens, população

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compreendida entre 15 e 29 anos (passando de 4.415 para 24.882), durante o mesmo

período (WAISELFISZ, 2015).

Dessa forma, a população jovem do país, sobretudo negra e periférica, passou a

vivenciar um processo acelerado de violência policial sobre os seus corpos e as suas

vidas, impulsionado tanto pelos agentes da força de segurança do Estado quanto de seus

similares, como os grupos de extermínio.

2.1.1 Um breve cenário sobre as mortes matadas

O crescimento dessas mortes, entre o período de 1980 a 2012, está diretamente

ligado ao aumento dos homicídios, promovidos por armas de fogo, que foi de 556,6%.

Um fenômeno que, entre os jovens, se explica quase que exclusivamente pelo aumento

de 655,5% dos jovens assassinados, enquanto acidentes, suicídios e indeterminados

caíram ao longo do período (-23,2%; -2,7% e -24,4% respectivamente) (WAISELFISZ,

2015: 21).

Entre as regiões do país, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do

Ministério da Saúde (SIM/MS), o Norte foi o que mais cresceu na taxa de homicídios

por armas de fogo durante a década de 2002 a 2012 (com 94,7%); seguido por Nordeste

(71,3%); Sul (24,9%) e Centro-Oeste (21,6%). Somente o Sudeste, dentre todas as

regiões, teve uma significativa diminuição da taxa, com -45%. Em Sergipe, durante esse

mesmo período, a taxa de crescimento foi de 39%, fazendo-o saltar da 9ª para a 7ª

posição entre os estados com os maiores índices de óbitos no Brasil1.

Esses números, porém, são ainda mais brutais quando avaliamos o extermínio da

juventude por armas de fogo. Nesse caso, o Norte continua com os números mais

significativos, com 168,4% de crescimento; seguido por Nordeste (95,6%); Centro-

Oeste (54,8%) e Sul (35,2%). Do mesmo modo, somente o Sudeste teve redução, com

uma taxa de -47%. Em Sergipe, a mesma 7ª posição foi mantida entre 2002 e 2012, mas

com um significativo crescimento da taxa de óbitos por armas de fogo (de 45,5 para

64,5%).

1 WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: mortes matadas por armas de fogo. 2015.

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15

Ainda sobre esses números, é possível identificar uma nítida diferenciação entre

raça/cor2. Conforme dados do Mapa da Violência 2015, as taxas de homicídios de

brancos por armas de fogo caíram de 14,5 para 11,8 em 100 mil brancos; enquanto as

taxas de homicídios de negros aumentaram de 24,9 para 28,5, entre os anos de 2003 a

2012. Ou seja, enquanto a taxa de homicídio de brancos caiu 18,7%, a de negros

aumentou 14,1%. O que permitiu que a chamada vitimização da população negra no

país, que em 2003 era de 72,5%, fosse, em 2012, de 142%.

Por último, os indicadores do SIM/MS, trazem ainda um recorte por idade e sexo.

Quanto à idade, a faixa etária de concentração dos homicídios gira, como dito

anteriormente, entre os jovens de 15 a 29 anos. Tendo o seu pico, entre todas as idades,

aos 19 anos, com um índice de homicídio por armas de fogo de 62,9 por 100 mil.

Quanto ao sexo, essas mortes são concentradas entre os homens, com uma taxa de 95%,

ante 5% das mulheres. Número similar ao de homicídios (95,1% de homens e 4,9% de

mulheres).

2.1.2 Características dos grupos de extermínio

Com o fim da Ditadura Civil-Militar, em 1985, a morte de presos comuns voltou a

ser regra, reforçada, sobretudo, através das ações dos esquadrões da morte e dos grupos

de extermínio. Organizações que se desenvolveram da seguinte forma:

Esses podem ser definidos como organizações criminosas que, em sua

origem, contaram com a participação e o treinamento de policiais

junto a traficantes, seguranças privados e marginais em geral - para a

prática de Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais contra os

presos comuns, como decorrência e em face do mercado de trabalho

constituído durante o regime militar. Não contando mais com o apoio

financeiro do regime, passaram a cobrar „segurança‟ de comerciantes

que se sentiam inseguros com o aumento crescente da violência

comum. (PIOVESAN; Et al, 2001: 21)

2 Os dados apresentados a seguir pelo Mapa da Violência 2015, dada toda a problemática que envolve a

classificação de identidades, foram construídos com base na classificação do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) e do próprio SIM/MS. No caso do primeiro, a classificação se dá por auto-

determinação; mas, no segundo, é dada por um agente externo. O que nos faz tomar esses índices com

certa cautela, mas sem negar a natureza do problema que aponta.

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Porém, com o tempo, as simples execuções deram lugar para outros tipos de

serviço. Como revela o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares

(GAJOP), do Estado de Pernambuco, apud Piovesan et al: “Tem grupo que se

especializa no tráfico de drogas,outros em sequestros, roubos - inclusive de carros -, e

outros em tudo isso junto, assegura o delegado Cleurinaldo Lima, ex-titular da delegacia

de Homicídios (...)”. E, também, com o apoio do poder constituído, como governadores

e funcionários do Estado (PIOVESAN; Et al, 2001).

Em geral, esses justiceiros são policiais militares ou pessoas ligadas à polícia, que

se juntam a líderes comunitários e referendam o que consideram como justiça. E fazem

isso sem o menor pudor, pois contam com o próprio respaldo da polícia, que retiram das

costas dessas organizações a tarefa das execuções, do “serviço sujo” (BICUDO, 1988).

Por tudo isso, os grupos de extermínio funcionam também, e estruturalmente hoje,

como uma linha auxiliar da própria polícia, com o intuito de diminuir os índices de

criminalidade (MERLINO, 2012).

2.2 O que se entende por memória coletiva

A ideia da atividade da memória surgiu da categoria defendida por Sarti

(2014), ao analisar o processo de fabricação de vítimas a partir do fim da Segunda

Guerra, principalmente sobre o que foi o holocausto, quando argumenta que “a memória

é sempre mediada como o mundo está sendo habitado no presente” (SARTI, 2014: 85).

Ou, ainda, da inquietação defendida por Márcio Seligmann-Silva (2014), a partir de

uma análise do desenvolvimento da categoria da memória na Grécia Antiga:

Com relação a esse passado, fica mais evidente em que medida a

memória não é apenas um „bem‟, mas encerra ainda uma carga

espectral que gostaríamos muitas vezes de esquecer – ou enterrar, da

maneira como fazemos com nossos mortos. Esse passado que não

quer passar é também um íntimo conhecido nosso, moradores da era

dos extremos. (SELIGMANN-SILVA, 2014: 42-3)

Para Maurice Halbwachs (1990), a memória só pode ser construída

coletivamente, tendo sua operação tornada possível pelo trabalho individual do sujeito

em seu apego afetivo e relacional com o Outro. Dessa forma, a lembrança é gerida

Page 16: Baruc Carvalho Martins

17

como um processo coletivo de reconhecimento e reconstrução que põe em jogo relações

sociais estabelecidas pelo interesse do presente.

Dessa forma, e em especial em um trabalho como o nosso, que se situa no

campo do rendilhar da oralidade, o material com que permite a existência da memória, e

sobretudo da memória coletiva, também possuem os seus paralelos imutáveis, em

lugares, pessoas e eventos que se dão por projeção ou transferência entre grupos; sem

que, ainda, a memória perca a sua capacidade móvel (Pollak, 1992).

Por isso, entendendo que esse percurso sobre o passado também permite

refuncionalizar o presente, decidimos lançar mão do sensível campo da memória para

discutir novas cartografias políticas que dão inteligibilidade à violência e aos

violentados.

2.3 O livro-reportagem e suas especificidades

A história de um certo tipo de narrar, que fronteiriza a relação entre livro e

jornalismo, data do século XVI, de um período ainda inicial após o domínio da técnica

da prensa de tipos móveis por Gutenberg (ROCHA; XAVIER, 2013). De lá para cá,

conforme o desenvolvimento e hibridização de novas tecnologias de produção e

recepção da notícia, muita coisa mudou. E, junto com essas mudanças, a própria prática

do fazer jornalístico.

No Brasil, com a fuga da coroa portuguesa para o país, em 1808, e a

consequente chegada da imprensa imperial, uma nova cultura de consumo e produção

da notícia foi se estabelecendo. Mas a reportagem só foi se alicerçar com Euclides da

Cunha, através da obra Os Sertões (1902), e Paulo Barreto, mais conhecido como João

do Rio, autor de A alma encantadora das ruas, escrita e publicada no início do século

XX. O que trouxe, para o jornalismo do país, o ar fresco das ruas e incrementou um

projeto já em curso de institucionalização, à moda brasileira, de seus gêneros

eminentemente jornalísticos – como foi o caso da crônica, por Olavo Bilac (RIBEIRO,

2004).

Todas essas transformações, do início do século passado, estavam ainda

atreladas às mudanças sofridas por um processo mais extenso de industrialização da

Page 17: Baruc Carvalho Martins

18

economia, da concorrência com o rádio e os jornais, que começavam a ganhar um tom

mais popularesco.

Com isso, a partir da década de 1960, atravessado por um processo de

globalização que acelerava os processos econômicos, reduzia as distâncias e

reconfigurava o mundo do trabalho e da própria vida; um novo tipo de jornalismo, o

New Journalism, ganhava forma com o incremento da subjetividade e da observação à

descrição meramente objetiva dos fatos e de seus personagens (WOLFE, 1975).

Nesse contexto, a produção da matéria pôde se alicerçar rompendo a

temporalidade e periodicidade do jornalismo diário para se deslocar para outros lugares,

como a sua atuação decisiva junto ao jornalismo literário.

O suporte diferenciado, propiciado pelo livro, possibilitou, assim, um novo

percurso sobre a reportagem e os gêneros jornalísticos, colocando em operação um tipo

de narrativa que dialoga com a realidade factual, e dela extrai a sua força enquanto

produto não-periódico (LIMA, 1995).

O que também permite ao livro, enquanto produto jornalístico, não ser

apenas uma extensão da reportagem, mas um campo diferenciado, que possa mobilizar

– ou não – diferentes gêneros jornalísticos em um único produto – como o

interpretativo, investigativo e literário (ROCHA; XAVIER, 2013).

Ainda segundo Paula Melani Rocha e Cintia Xavier (2013), o livro-

reportagem, por ser um produto com maior número de páginas, também demanda uma

maior disciplina na checagem e verificação das informações, levando até mesmo a

apuração a atravessar todas as fases do processo de realização da matéria,

desembocando, por último, em seu produto final. O que confere ao livro-reportagem

uma mais segura certificação das informações pela grande quantidade de fontes e apelo

humanizado de sua abordagem, que privilegia o deslocamento “de algo universal para o

âmbito particular ou pessoal, ou do abstrato para o concreto” (ROCHA; XAVIER,

2013: 150-1).

Para Edvaldo Pereira Lima (1995), apesar do livro-reportagem ter uma

proximidade com a literatura, três aspectos básicos o diferencia das publicações

literárias. São eles: conteúdo (voltado para o real), tratamento (eminentemente

jornalístico) e função (a de informar, orientar e explicar). Podendo, ainda, ser

Page 18: Baruc Carvalho Martins

19

classificados em 13 categorias de livro-reportagem. Das quais, nos propusemos a

trabalhar com:

Livro-reportagem-atualidade: capta um tema de maior magnitude e

perenidade no tempo, cujos desdobramentos finais não são conhecidos, identificando as

forças em conflito e projetando tendências possíveis de desfecho;

Livro-reportagem-perfil: evidencia o lado humano de uma personagem pública

ou anônima (representante de um grupo social); tem como variante o livro-reportagem-

biografia, com mais destaque ao passado e menos ao presente da pessoa;

Livro-reportagem-depoimento: reconstitui um acontecimento relevante na

visão de um participante ou testemunha. Pode ser escrito pela própria testemunha, com

auxílio de um jornalista, e geralmente sua narração é movimentada, com bastidores e

ações encadeadas;

Livro-reportagem-epopeia: abarca episódios históricos de grande relevância

social (como guerras, conflitos, revoluções e outros);

Livro-reportagem-denúncia: possui propósito investigativo de identificar

injustiças, abusos, desmandos e incorreções, levantando casos marcados pelo escândalo.

A ida a campo traz, ainda, para o livro-reportagem um aspecto importante sobre

a sua dinâmica de produção e os seus modos de prática jornalística, pois aprofunda o

processo de investigação com a captação observacional do ambiente e faz o livro-

reportagem se desvencilhar das amarras do hard news (ROCHA; XAVIER, 2013).

2.4 O jornalismo investigativo como técnica

Imbuído do imperativo da verdade, o jornalismo investigativo surge da

necessidade de identificar lapsos em qualquer mídia disponível sobre uma informação

(Burgh, 2008). Pois se entende que a informação manifestada pela fonte, sobretudo no

caso de autoridades, não está suficientemente isenta; ou, ainda, em casos mais sérios, há

claros indícios de corrupção.

Page 19: Baruc Carvalho Martins

20

No caso desse livro-reportagem, em particular, a decisão de também trabalhar

com o jornalismo investigativo foi crucial para entender a engrenagem que mantinha de

pé o grupo de extermínio, esboçada pelo ofício conjunto assinado pelo procurador e

pelo juiz da comarca de Poço Verde e entregue à Assembleia Legislativa de Sergipe

(Alese), em 2013 (Anexo 01).

E não só isso. Mas também entender, de maneira meticulosa, sobretudo na

apuração e ainda que reconhecendo a capacidade móvel da memória, como a atuação do

grupo de extermínio pôde ser legitimada pela população local. Tudo isso a partir de um

olhar e de uma ética jornalística para atingir, a partir das múltiplas versões apresentadas

no livro, esse fragmento da realidade. Como nos ensina Luiz Costa Pereira Júnior,

O desafio do repórter (no cenário complexo, tentacular, da

desordenada torrente de acontecimentos que forma a vida

contemporânea) é encontrar evidências soterradas em camadas de

versões, procurar certezas em situações de incerteza. O jornalista, por

princípio, não é só testemunha daquilo que o leitor não pôde ter

acesso. É um processador das camadas verificáveis da realidade - não

raro limitado à posição de verificador de fatos inacessíveis de forma

direta, como o 11 de setembro o foi para as redações brasileiras.

(PEREIRA JUNIOR, 2006: 71)

Para Burgh (2008), há ainda outras características que diferenciam o jornalismo

investigativo de um jornalismo de denúncia ou de um jornalismo crítico, que se situam

desde um ceticismo com as fontes e os modelos oficiais até uma rotina diferenciada para

a seleção de informações e a os seus modos de narrar. Implicando, inclusive, em outros

critérios e valores socialmente acordados entre os jornalistas para a produção da notícia,

como os critérios de apuração e noticiabilidade. Pois a fuga do engessamento e

mecanicismo da produção de notícia diária se configura como componente

indispensável para o nível de ceticismo e profundidade que uma apuração investigativa

pede.

Page 20: Baruc Carvalho Martins

21

3 RELATO TÉCNICO-METODOLÓGICO

3.1 Processo de construção da obra

A pesquisa de apuração sobre o grupo de extermínio começou ainda em

2012, ano de seu surgimento, e seguiu até agosto de 2015. Foram três anos selecionando

capas e matérias de jornais (anexo 11), dossiês (anexo 01), ações civis públicas (anexo

06), certidões de óbito (anexo 03) e mapeando diversas entrevistas com familiares dos

matadores, dos matados, dos envolvidos e de pessoas comuns.

Há pouco mais de um ano, quando começamos de fato a montar a estrutura

do livro-reportagem, havia um grande receio sobre a abordagem. Para desviar a atenção

da apuração do conteúdo do livro, e pelas próprias dificuldades de acesso a pessoas e

lugares, decidimos optar pelo tema da morte, a partir do que ele mobilizaria no

imaginário social de Poço Verde.

Contudo, mudamos o rumo a partir da morte do suposto líder do grupo, em

outubro de 2015, e do seu conseqüente processo de desestruturação, e voltamos ao tema

central da memória coletiva do grupo de extermínio.

Depois, começamos a pensar no tipo de narrativa e nas possibilidades de

execução do nosso planejamento inicial. A priori, uma ideia de versificar todo o texto de

modo a trazer aspectos literários mais decisivos, ainda que sem fugir a categorias

centrais da apuração e da precisão jornalística, foi pensada, mas logo descartada devido

ao curto tempo de preparação para a escrita. O que fez essa escolha do modo da

narrativa acontecer depois. Quando todo o material, incluindo as entrevistas, já havia

sido coletado e revisado.

Em paralelo a isso, fizemos entrevistas entre março e abril de 2013 no

Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), no Centro de

Assistência Psicossocial (CAPS), no Conselho Tutelar e na delegacia de Poço Verde.

Desses órgãos, somente a delegacia não nos forneceu informações, justificando que as

informações solicitadas – sobre homicídios e perfil dos crimes – eram de

responsabilidade do 5º Batalhão da Polícia Militar de Sergipe (PM/SE). Depois,

voltamos a esses órgãos, entre fevereiro e julho de 2015, dois anos depois, para

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22

confirmar as informações colhidas anteriormente – ou não – e construir novas pistas.

Mas o Conselho Tutelar e o 7º Batalhão, um desmembramento do antigo 5º Batalhão, da

PM não nos responderam. Este último, sob a justificativa de que isso era incumbência

da delegacia.

Já as entrevistas com os familiares dos jovens mortos, com a mãe e amiga

de Zé Augusto, com a irmã de Horácio, com Marcelo e com jovens da cidade, foram

realizadas entre 31 de dezembro de 2014 e junho de 2015. As entrevistas, seguindo a

necessidade de trabalhar a memória, constituíram-se em bem mais que obter respostas –

ou formular perguntas – sobre a violência em Poço Verde. Havia também uma

necessidade de observação, de entender como os personagens pensavam outros

personagens (no caso dos familiares, sobre os seus entes mortos) e de como todos eles,

em alguma medida, tocavam-se.

Após tudo isso, decidimos optar por uma estruturação dos capítulos que

fosse autônoma – mas não independente – entre si. De modo a fazer com que todo o

livro apresentasse versões conflitantes, por vezes inconciliáveis, mas tendo uma espinha

dorsal bem definida, que seria guiada por mim, enquanto personagem-narrador.

Assumindo, assim, um lugar de observador-participante, em quem mesmo vivendo e

interagindo com a comunidade, preservo, em alguma medida, a categoria de observador

(Duarte, 2006).

Dessa forma, o primeiro capítulo serviu para apresentar o cenário que serviu

de estopim para a necessidade de criação de um grupo de extermínio. O segundo, serviu

para apresentar o nosso protagonista – nesse caso, elegemos Zé Augusto, o suposto líder

do grupo, pela capacidade de agenciamento e mobilização da memória do grupo de

extermínio. O terceiro, destinou-se aos familiares dos jovens mortos, problematizando a

infiltração do poder e da legitimidade do grupo também nas famílias e na materialidade

das condicionantes do aparecimento dos “vagabundos”. O quarto, formado por jovens

da cidade escolhidos aleatoriamente, tratou das perspectivas e assimilações da violência

e perspectivas sobre um futuro de uma parcela da população que se situa numa geração

próxima a dos jovens mortos. O quinto capítulo destinou-se a discutir as outras faces e

reverberações da atuação do grupo de extermínio e da forma como ela também se

comunica intimamente com os modos de sociabilidade do município.

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23

Por fim, escolhemos o título, a partir de uma expressão muito usada, para

conectar diretamente a ideia de extermínio e de uma lista de marcados para morrer a ser

executada, através de todo o processo visual da diagramação.

3.1.1 Obstáculos e riscos

. Como lidar com um tema tão frágil, do ponto de vista dos ânimos e interesses, é

sempre uma tarefa que merece cuidado; com as informações não poderia ser diferente.

Sobretudo se a manipulação errada de uma palavra ou do sentido de uma frase pode

significar o limiar entre a vida e a morte. Como significou para Marcelo, um amigo que

foi ameaçado de morte e que estampa o quinto capítulo do livro, e que quase significou

para mim, pelos boatos que corriam na cidade sobre a produção desse livro.

Esse cuidado, ou esse medo, proporcionou que algumas escolhas fossem feitas, e

outras descartadas. O tempo também acabou apagando outras possibilidades. Entre elas

a de entrevistar novamente, com o intuito da produção desse livro, o promotor de Poço

Verde, à época de todas as ações do grupo de extermínio, Doutor Lúcio José Cardoso

Barreto Lima, que pediu transferência da cidade após a morte de Zé Augusto.

Quando tentei entrar em contato com ele, já em 2015, e lotado na comarca de

Boquim, apenas tive um aceno por um de seus assessores de que depois retornaria. O

que nunca aconteceu. Em Poço Verde, a saída do promotor foi tomada como medida de

precaução.

Some-se a isso, ainda, as dificuldades impostas pela Polícia Militar para apurar

os dados referentes à cidade, com contundentes suspeitas de participação ostensiva de

vários policiais militares do estado na organização e manutenção do grupo de

extermínio; e, por fim, da negligência da própria Secretaria de Segurança Pública sobre

o caso, através das inúmeras vezes em que tentamos contatar a delegacia de Poço Verde.

Não havia, por isso, nenhuma informação que fosse minimamente confiável a

ponto de merecer crédito sem, antes, haver uma exaustiva verificação de sua veracidade;

ou, pior, uma fonte, em Poço Verde, que pudesse estar recebendo aquelas perguntas sem

o receio sobre os ouvidos sempre abertos do grupo de extermínio. Pois sempre houve o

risco que, indiretamente, as pessoas comentassem sobre o conteúdo desse trabalho e

Page 23: Baruc Carvalho Martins

24

isso, para além de implicar no risco da conclusão da pesquisa, implicava também na

minha vida.

3.1.2 Exclusões e silenciamentos

Houve uma preocupação fundamental com o tom que o livro fosse tomar.

Mesmo porque a manipulação das palavras com um tema tão sensível poderia, de

antemão, conformar algumas verdades. Sobretudo quanto aos números oficiais que

pediam um reforço do aparelho policial na cidade. Havia, por isso, o risco de fazer coro

ao discurso de solução rápida por mais policiais. Ou, ainda, de fácil criminalização do

suposto líder do grupo de extermínio.

Dessa forma, esse fino equilíbrio da narrativa nos fez optar pela exclusão

deliberada da Operação Poço Verde Tranquilo e Seguro (anexo 08), formulada pela

Polícia Militar com o intuito de sanar o problema da segurança através do incremento de

policiais e de sua capacidade de repressão.

Assim como de algumas vozes, como a da Secretaria de Segurança Pública do

Estado de Sergipe (SSP/SE), devido à própria dificuldade de acesso e retorno às nossas

perguntas. O que nos fez, ainda, utilizar a memória, mais uma vez, como ferramenta

discursiv para levar a narrativa para outros lugares, que só foram possíveis aumentando

a nossa capacidade de observação.

3.2 Dilemas éticos

Para Umberto Eco (2002) a ética está ligada à conduta humana, alicerce

necessário para se atingir o aperfeiçoamento e valorização do gênero humano. Pois a

ética se envolve dessa necessidade maior, que se situa acima dos valores, padrões de

comportamento e paradigmas de cada cultura.

A atividade ética, por isso, é intrínseca a um compromisso social, dada por sua

própria estrutura universal, e que cobra de nós, enquanto jornalistas, um compromisso

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ético, de acordo com o critério objetivado da verdade, resguardando, sobretudo, a

dignidade da pessoa humana (Ferreira, 2012).

O nosso trabalho, assim, ao se pautar em valores éticos estabelecidos em

compromissos sociais com as fontes e com o público, procurou, a partir do método da

entrevista e das observações, selecionar o que fosse estritamente necessário para o tipo

de narrativa a que nos propusemos usar para contar a nossa história. Isso porque, como

havia sempre o receio, por parte, principalmente, da mãe de Zé Augusto e da amiga de

infância, de uma visita indesejada da Polícia Federal, não cabia a nós expor essas

pessoas além do que, erradamente, os grandes jornais já o fizeram – como apregoa o

Código de Ética dos Jornalistas, em seu artigo 7º, inciso IV. Senão, apenas, dissuadir

parte da memória que cultivavam de Zé e que tocava na atuação do grupo de

extermínio, com sua conseqüente legitimação para todas as mortes.

Um processo que demandou também muita espera por mais informações e

contatos para checar a veracidade das informações. Pois, durante todo o processo de

apuração, nenhum risco sucumbiu ao método de levantamento, checagem e validação de

tudo aquilo que havia sido possível comprovar.

Cuidado esse que foi redobrado, principalmente, sobre os documentos ou

informações que tratavam sobre Zé Augusto e os jovens assassinados. Pois significavam

os limites identitários da trama da violência que envolvia a atuação do grupo de

extermínio, notadamente conformados enquanto agressor – no caso de Zé Augusto – e

vítimas – dos jovens.

Ainda sobre esse cenário, boa parte da coleta dos documentos usados na

confecção do livro-reportagem (anexos 01, 02, 03, 04, 06, 07, 08 e parte do 11), devido

à minha militância e trânsito pelas instituições jurídicas, só foi possível através de

conversas com a deputada Ana Lúcia e com a promotoria de Poço Verde. Já outras

informações foram coletadas através de ofício e de canais institucionais de vídeo de

emissoras de TV, pela plataforma da internet.

3.3 Projeto Gráfico e editoração

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Após algumas reuniões com Fernando Caldas, o diagramador, chegamos a

conclusão de que era necessário alinhar forma e conteúdo, de modo a fazer com que a

própria configuração visual do livro servisse, junto com o texto escrito, no modo de

contar a história. Como nos ensina Antônio Celso Collaro

A adequação do projeto gráfico ao conteúdo da obra é fundamental

para que o leito identifique no design da página a proposta do autor.

Essa relação transcende o simples desenho das páginas, envolvendo a

cor, a tipologia e as imagens. A identidade que esse conjunto de

elementos vai transmitir ao leitor definirá o 'espírito' da obra.

(COLLARO, 2007: 69)

Por isso, decidimos trazer um elemento que se destaca no livro para conduzir

toda a narrativa: a perseguição.

E, para tornar esse elemento da perseguição mais concreto e real, deslocamos a

ideia de um perseguidor e perseguido, a partir do grupo de extermínio e dos jovens

mortos, para uma em que até mesmo nós poderíamos assumir a função daquele que

persegue e do que é perseguido.

Assim, escolhemos fazer uma capa que remetesse à lista de marcados para

morrer (anexo 05), que foi colada na frente de escolas e órgãos públicos, para servir de

guia para o restante da estrutura do livro. Depois, decidimos que a apresentação do

título de cada capítulo iria acontecer de forma decrescente, e com um riscado que se

acumulava na medida em que o livro avançasse, como uma lista que vai sendo

concluída pelo avançar das páginas.

Por último, comprimimos pouco a pouco as páginas, utilizando deliberadamente

do concretismo, para tornar a leitura mais rápida e sufocante, com o intuito de

consolidar, de maneira catártica, na última página, a ideia de perseguição. Para isso,

também escolhemos utilizar do justificado para deixar mais evidente essa compressão

através de uma rima visual com as páginas seguintes.

Esse tipo de estrutura também nos fez questionar sobre as fronteiras entre

literatura e ficção; ou, ainda, entre factualidade e invenção. O que, por uma ideia de

fronteirização e hibridismo, nos fez optar por uma estética bem simples e clara. Sem

fotografias, capas de jornais ou documentos scaneados que dessem uma legitimidade

tácita a partir da imagem. O que também retiraria do texto a sua própria potência de

Page 26: Baruc Carvalho Martins

27

significação, já que escolhemos trabalhar com um material tão volátil como o da

memória.

Por fim, tivemos a ideia de preparar o ritmo do texto para consolidar o seu

aspecto visual. Aumentando e diminuindo a velocidade na medida em que as páginas

fossem se comprimindo. Como último recurso, escolhemos uma tipografia da família

Caecilia, com serifa leve, para suportar a tensão do texto de forma sutil e o formato A5

para o papel.

CONCLUSÃO

O livro-reportagem Adeus, Vagabundos foi uma tentativa de discutir um

problema real, que tanto assola pequenas e médias cidades do país quanto se configura

como uma ameaça iminente ao próprio presente de Poço Verde. Nisso, lidar com o tema

da memória foi, a princípio, mais uma escolha compulsória do que algo deliberado, pelo

próprio risco de morte que uma investigação a fundo implicaria.

Mas esse tipo de escolha, guiada pelo acaso, ajudou a pensar de múltiplas

maneiras a questão da violência, a partir, principalmente, da sua circulação pelo

imaginário coletivo e pelo atravessamento de outros temas que circundam o cotidiano.

Pois, ainda hoje, o tema do extermínio de jovens é tratado como tabu e silenciado

constantemente pela mídia hegemônica, pelo governo e por grande parte da sociedade.

A factualidade deste tema, por isso, e meu próprio envolvimento enquanto

poço-verdense e ferrenho crítico à atuação do grupo de extermínio, foi desafiadora. Seja

pela necessária distância de dentro – para não aumentar os relatos, nem dar mais

informações do que consegui mobilizar –; seja pelo risco certo de morte, com amigos

sendo ameaçados.

Assim, ao assumir esse lugar incômodo, de jornalista e poço-verdense,

decidi trazer essas múltipas vozes que, em geral, dão legitimidade à atuação do grupo de

extermínio para entender como essas relações de poder são intercedidas por afetos e

subjetividades.

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28

Por tudo isso, esse livro tentou se fundar na diversidade de pontos-de-vista e

nas singularidades do trato com a vida. Entendendo, por último, também esta

singularidade como um produto relacional, do embate e da maquinação com um Outro.

O que, em alguma medida, nos fez constatar: também somos responsáveis pelos mortos

e por seus carrascos.

REFERÊNCIAS

BICUDO, Hélio. Do Esquadrão da Morte aos Justiceiros. Edições Paulinas. São

Paulo. 1988.

BURGH, Hugo de. Jornalismo Investigativo: contexto e prática. Editora Roca, 2008.

BUTLER, Judith. Marcos de Guerra: las vidas lloradas. México: Paidós, 2010.

CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS. Brasília: Fenaj, 2007.

Disponível em:

<http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileir

os..pdf> Acesso em: 21 de dez. 2015.

COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica da mídia impressa. São

Paulo, 2007.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em

comunicação. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006.

FERREIRA, Rui Assis. Ética e deontologia no fenómeno da comunicação.

Comunicação e Sociedade, v. 11, p. 31, 2012.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. SP, Vértice, 1990.

LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas : O livro-reportagem como extensão do

jornalismo e da literatura. São Paulo: Ed. Unicamp, 1995.

MERLINO, Tatiana. Em cada batalhão da PM tem um grupo de extermínio. Caros

Amigos, 2012.

PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. A apuração da notícia: métodos de investigação na

imprensa. Petrópolis: Vozes, v. 70, 2006.

PIOVESAN, Flavia et al. Execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais: uma

aproximação da realidade brasileira. 2001.

Page 28: Baruc Carvalho Martins

29

POLLAK, Michael. “Memória e identidade social”. In: Estudos Históricos, 5 (10). Rio

de Janeiro, 1992.

RIBEIRO, Lavina Madeira. Imprensa e Espaço Público: A Institucionalização do

Jornalismo no Brasil (1808-1964). Rio de Janeiro: E-papers Serviços Editoriais, 2004.

ROCHA, Paula Melani; XAVIER, Cintia. O livro-reportagem e suas especificidades

no campo jornalístico. Rumores, v. 7, n. 14, p. 138-157, 2013.

SARTI, C. A construção de figuras da violência: a vítima, a testemunha. Horizontes

Antropológicos, Porto Alegre, ano 20, n. 42, p. 77-105, jul./dez. 2014.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Antimonumentos: trabalho de memória e de

resistência. Trivium - Estudos Interdisciplinares, v. 6, n. 1, p. 41-54, 2014.

SOUZA, Percival de. Autópsia do Medo. Vida e Morte do Delegado Sérgio Paranhos

Fleury. Editora Globo. São Paulo. 2000.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: mortes matadas por armas de

fogo. 2015.

WOLFE, T. The New Journalism. Londres, Picador, 1975.

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Anexos Anexo 01 – Relatório sobre surgimento do grupo de exterminio

Anexo 02 – Decisão do juiz de Poço Verde

Anexo 03 – Certidões de óbito

Anexo 04 – Resposta da policía civil e militar

Anexo 05 – Lista de marcados para morrer

Anexo 06 – Ação Civil Pública

Anexo 07 – Decisão em 2ª instância do TJSE

Anexo 08 – Operação Poço Verde Tranquilo e Seguro

Anexo 09 – Repercussão da morte de Zé Augusto

Anexo 10 – Caminhada pela paz

Anexo 11 – Repercussão na Imprensa sobre a ação do grupo de

extermínio

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ANEXO 01Relatório conjunto entregue à Alese pelo promotor de Poço Verde e

pelo juiz da cidade relata a existencia de grupo de extermínio

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ANEXO 02Decisão do juiz de Poço Verde sobre a situação-limite da cidade

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ANEXO 03Certidões de óbito

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ANEXO 04Resposta da polícial civil e militar sobre a situação de seus

respectivos órgãos em Poço Verde

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ANEXO 05Lista de marcados para morrer

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ANEXO 06Ação Civil Pública

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ANEXO 07Decisão, em segunda instancia, do TJSE

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ANEXO 08Operação Poço Verde Tranquilo e Seguro (PM)

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ANEXO 09Repercussão da morte de Zé Augusto

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ANEXO 10Caminhada pela paz

(antes do surgimento do grupo de extermínio)

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11/11/2015 POPULAÇÃO POÇOVERDENSE DIZ “EU QUERO É PAZ”! | Edelsonfreitas.com ­ Seu portal de Notícias

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POPULAÇÃO POÇOVERDENSE DIZ “EU QUERO É PAZ”!

Aconteceu na manhã desta sexta­feira(24) na cidade de Poço Verde um manifesto pedindo o fim da violência que assola o município.

Milhares de pessoas, entre cidadãos comuns, estudantes e comerciantes, participaram do ato, que teve apoio docomércio local, SMTT e igrejas.

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11/11/2015 Comunidade fará Caminhada pela Paz em Poço Verde ­ Infonet Notícias de Sergipe ­ Cidade

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19/08/2012 ­ 13:47

Comunidade fará Caminhada pela Paz em PoçoVerdeManifestação acontecerá na sexta: protesto contra a violência

Em Poço Verde, a 145 km da capital, os estudantesestão mobilizando a comunidade para a Caminhadapela Paz, manifestação contra a violência a serrealizada na próxima sexta­feira, dia 24, na própriacidade. Moradores e profissionais de váriossegmentos da sociedade já aderiram à manifestaçãoque passará por várias ruas da cidade, alcançandoa Praça do Triângulo e o Centro de Comercializaçãode Agricultura Familiar.

Os organizadores da manifestação já começaram acolher assinaturas para um abaixo­assinado parasolicitar ao governador Marcelo Déda e ao ComandoGeral da Polícia Militar para aumentar o efetivo policial no município e adotar medidasque possam minimizar os problemas que a população tem enfrentado em função doaumento da violência.

De acordo com informações da estudante Êmile Matos, 20, a população estáinconformada com a onda de violência e os estudantes decidiram deflagrar ummovimento para cobrar atuação da polícia a partir do assassinato do estudante HorácioBarreto de Souza, 26, crime ocorrido na quinta­feira, 16.

O crime chocou a comunidade. O estudante foi morto na porta da escola onde estudava.Dois homens ocupantes de uma motocicleta se aproximaram da vítima e dispararamvários tiros. O estudante foi socorrido com vida e morreu no hospital local no mesmo dia.Na semana passada, ocorreu também, segundo Êmile Mota, um sequestro. O dono dacasa em um povoado da cidade teria sido levado por assaltantes e largado em umaestrada porque o carro usado pelos marginais teria faltado gasolina. “E casos assim têmacontecido com muita frequência, não importa a hora: se de manhã, de tarde, meio diaou de noite”, comenta.

Na sexta­feira, 17, os moradores se reuniram na sede da escola para avaliar a onde deviolência quando optaram por criar um “movimento formal de luta contra a violência”.

A mobilização já ganhou simpatia de vários segmentos, segundo a estudante ÊmileMatos, inclusive de comerciantes e da Igreja Católica. Os organizadores pretendemagendar uma audiência com o governador Marcelo Déda e com o comandante geral daPolícia Militar para discutir os problemas ocasionados pela violência no município. Naoportunidade, eles pretendem entregar o abaixo­assinado.

Por Cássia Santana

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C omunidade se reúne para traçar metascontra a violênc ia (Foto: Blog CNNPV)

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19/08/2012 ­ 13:47

Comunidade fará Caminhada pela Paz em PoçoVerdeManifestação acontecerá na sexta: protesto contra a violência

Em Poço Verde, a 145 km da capital, os estudantesestão mobilizando a comunidade para a Caminhadapela Paz, manifestação contra a violência a serrealizada na próxima sexta­feira, dia 24, na própriacidade. Moradores e profissionais de váriossegmentos da sociedade já aderiram à manifestaçãoque passará por várias ruas da cidade, alcançandoa Praça do Triângulo e o Centro de Comercializaçãode Agricultura Familiar.

Os organizadores da manifestação já começaram acolher assinaturas para um abaixo­assinado parasolicitar ao governador Marcelo Déda e ao ComandoGeral da Polícia Militar para aumentar o efetivo policial no município e adotar medidasque possam minimizar os problemas que a população tem enfrentado em função doaumento da violência.

De acordo com informações da estudante Êmile Matos, 20, a população estáinconformada com a onda de violência e os estudantes decidiram deflagrar ummovimento para cobrar atuação da polícia a partir do assassinato do estudante HorácioBarreto de Souza, 26, crime ocorrido na quinta­feira, 16.

O crime chocou a comunidade. O estudante foi morto na porta da escola onde estudava.Dois homens ocupantes de uma motocicleta se aproximaram da vítima e dispararamvários tiros. O estudante foi socorrido com vida e morreu no hospital local no mesmo dia.Na semana passada, ocorreu também, segundo Êmile Mota, um sequestro. O dono dacasa em um povoado da cidade teria sido levado por assaltantes e largado em umaestrada porque o carro usado pelos marginais teria faltado gasolina. “E casos assim têmacontecido com muita frequência, não importa a hora: se de manhã, de tarde, meio diaou de noite”, comenta.

Na sexta­feira, 17, os moradores se reuniram na sede da escola para avaliar a onde deviolência quando optaram por criar um “movimento formal de luta contra a violência”.

A mobilização já ganhou simpatia de vários segmentos, segundo a estudante ÊmileMatos, inclusive de comerciantes e da Igreja Católica. Os organizadores pretendemagendar uma audiência com o governador Marcelo Déda e com o comandante geral daPolícia Militar para discutir os problemas ocasionados pela violência no município. Naoportunidade, eles pretendem entregar o abaixo­assinado.

Por Cássia Santana

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11/11/2015 Cidadãos de Poço Verde realizam caminhada pedindo paz

http://www.lagartense.com.br/10911/cidadaos­de­poco­verde­realizam­caminhada­pedindo­paz 1/5

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Portal Lagartense 7 Comentários Tweet 0

24/08/2012 17h15 ­ Atualizado em 05/09/2012 11h57

Cidadãos de Poço Verde realizam caminhadapedindo pazMilhares de pessoas, entre cidadãos comuns, estudantes e comerciantes,participaram do ato, que teve apoio do comércio local, SMTT e igrejas

Aconteceu na manhã desta sexta­feira(24) nacidade de Poço Verde um manifesto pedindo o fimda violência que assola o município.

Milhares de pessoas, entre cidadãos comuns,estudantes e comerciantes, participaram do ato,que teve apoio do comércio local, SMTT e igrejas.

Um pano preto foi fixado nas residências eestabelecimentos comerciais, como sinal de lutopelas vidas ceifadas pela violência.

O ato faz parte do Movimento Unidos Pela Paz, que nasceu após a trágica morte do estudanteHorário Barreto de Souza, 26 anos, assassinado com vários tiros no última dia 16, em frente aescola que estudava. O crime abalou mais ainda a cidade, que sofre com tentativas de seqüestro,roubos e tráfico de drogas.

Segundo a estudante Lorendana Alves, uma das organizadoras da caminhada, um abaixo assinadotambém está sendo preparado e deverá ser entregue nas mãos do Governador Marcelo Déda.

­ Estamos recolhendo 4.000 assinaturas, que representa cerca de 18% da população, para entregarnas mãos do Governador Déda, pedindo medidas imediatas para desfazer o caos que se instaurouna nossa cidade ­ falou Lorendana.

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ANEXO 11Repercussão na Imprensa sobre a ação do grupo de extermínio

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