baruc carvalho martins
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Baruc Carvalho Martins
ADEUS, VAGABUNDOS:
Um livro-reportagem sobre a memória coletiva de um
grupo de extermínio de Poço Verde
SÃO CRISTÓVÃO
2015
BARUC CARVALHO MARTINS
ADEUS, VABABUNDOS:
Um livro-reportagem sobre a memória coletiva de um grupo
de extermínio de Poço Verde
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à disciplina Projetos
Experimentais em Jornalismo, do
Departamento de Comunicação Social
(DCOS) da Universidade Federal de
Sergipe, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social/Jornalismo.
Orientadora:
DRA. MARIA BEATRIZ COLUCCI
SÃO CRISTÓVÃO
2015
BARUC CARVALHO MARTINS
ADEUS, VAGABUNDOS:
UM LIVRO-REPORTAGEM SOBRE A MEMÓRIA COLETIVA DE
UM GRUPO DE EXTERMÍNIO DE POÇO VERDE
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à disciplina Projetos
Experimentais em Jornalismo, do
Departamento de Comunicação Social
(DCOS) da Universidade Federal de
Sergipe, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social/Jornalismo.
Aprovado em: ______/_____/______
Banca examinadora:
_______________________________________________
Dra. Maria Beatriz Colucci
Orientadora (DCOS/UFS)
_______________________________________________
M. Sc. Michele da Silva Tavares
Professora DCOS/UFS
_______________________________________________
Dr. Ulisses Neves Rafael
Professor DCS/UFS
AGRADECIMENTOS
Agradecer, a essa altura da vida e de todos os acontecidos, é, em boa medida, a
simples confirmação de um passado vivido no presente. Dizer isso, colocando-me
enquanto um velocista que encerra a maratona do TCC, pode soar megalomaníaco. Mas
foi justamente das muitas mãos, e das profundas feridas – e cicatrizes – cultivadas em
um período tão rico, que todo este trabalho, e toda a minha vivência na Universidade, se
consolidou como algo possível.
Por isso, nunca é demais também retornar ao clichê para agradecer
primeiramente a... meus pais , Valdir e Genilda, por toda a persistência e confiança em
mim, arriscando, às vezes, até a própria vida.
À minha irmã, Estéfane, pela aproximação e confidência nesses últimos tempos
– não tão sombrios, mas sem as brigas da infância e adolescência.
Às minhas duas avós: Joaninha e Lourdes (in memoriam).
Aos meus queridos/as primos/as, tios/as e toda a sorte de familiares. Em
especial: tia Floripes, tia Cleodice, tia Zete, tia Nininha (in memoriam), tio Gois, tia
Dejanira, tia Marinalva, tia Ceiça, tia Clenilda, Kyara, Lucas, Jairo, Carlos Alexandre,
Piedade, Fernanda, Mônica.
Aos amigos que me aturaram durante todo este tempo sob o mesmo teto: Jéssika,
Daiane, Greice Kelle, Jessiquinha, Damildes, Maike e Cristóvão.
Aos amigos que me aturaram na nova casa por esses últimos dias (da República
Tcheca): Flávio, Denilson, Nandinho, Nai, Marília...
Aos amigos que de escola que sempre me acompanharam: Da Bahia e Monalisa.
Aos amigos da rua e de sempre: Philippe, Sylvester, Arcanjinho, Raul Marx,
Ronaldo.
Aos amigos que ganhei durante a militância no Rompendo Amarras – e depois
no RUA –, na Insurgência e no PSOL. Em especial: Marília, Rodrigo, Marcelo,
Mariana, Karol, Jordi, Agatha, Babi, Dalvinha, Fran, Henrique, Doug, Mário Leony,
Dante, Adão, Rai.
Às mais maravilhosas e finíssimas trans do mundo: Sofia, Linda Brasil,
Fernanda Bravo (mammys) e Geovana.
Ao mais hermoso homem trans de Sergipe – e quiçá do mundo: Daniel.
À sempre amada – e querida – trans compulsória: Thiago Ranniery. Também te
amo, bee!
Aos Andrés mais inteligentes e destemidos que a vida me proporcionou
conhecer: André Leite e André Borba.
À deputada Ana Lúcia pelo apoio durante o processo de apuração do livro.
Ao pessoal do trabalho do Palácio-Museu Olímpio Campos, pela oportunidade
de me deixar aventurar livre na produção de releases. Em especial: Marieta, Solange e
Marcela Prado.
Às melhores pessoas do mundo para trabalhar que encontrei no MPF: Catarina
Cristo, Enny Danielle e Jéssica França. Sim, naquela Ascom era só amor!
Aos amigos e professores que conheci na UFS e que quero levar pro resto da
vida (vou evitar citar aqui, pois, no fim das contas, era muita gente).
Ao querido – e já consagrado – diagramador do livro Fernando Caldas.
À bee mais closeira de Cícero Dantas: Gustavo Marques (Ninha).
À minha sempre humilde e atenta orientadora Bia Colucci.
E, claro, a todas aquelas pessoas que, para não gastar tantas páginas e linhas, não
consegui mencionar. Seja por um problema seríssimo de rememoração, seja pela
simples necessidade de silenciar. Pois boa parte deste livro é motivada por essa
inquietação e dedicada a essas pessoas que gritam no silêncio.
“Alexandre tem habilidades com artes,
sabe desenvolver trabalhos com origami.”
Avaliador do CREAS sobre jovem que cumpre
medidas socioeducativas
RESUMO
Este relatório traz o processo de fabricação do livro-reportagem “Adeus, Vagabundos”,
que trata da memória coletiva de um grupo de extermínio do município de Poço Verde
(SE). Durante seu período de atuação, o grupo assassinou 17 jovens em seis meses,
gerando uma ampla repercussão social que legitimou os extermínios. Este documento,
por isso, também envolve em sua seara de discussão, a partir da constituição do seu
arcabouço teórico e metodológico, as especificidades e características do suporte (livro)
para o Jornalismo, a problemática do extermínio de jovens e o surgimento dos grupos de
extermínio, sem deixar de lado, ainda, o processo de composição visual, os métodos, as
justificativas e escolhas feitas durante todo o processo.
Palavras-chave: livro-reportagem, new journalism, memória, grupo de extermínio,
Poço Verde.
ABSTRACT
The main object of this report is the making process of “Adeus, Vagabundos”, a book
based on journalistic content, regarding the memories of a death squad from Poço Verde
town. During their six months of onslaught, the gang killed 17 teenagers, arousing a
huge public repercussion. This paper, as means of theory and methodology, turns its
attention to the characteristics of books as support for Journalism. Also, the issue of
young people murders and the emergence of death squads are tackled, as well as the
process of visual composition, techniques, justifications and choices made through the
writing of the book.
Key-words: book based on journalistc content, new journalism, memory, death squad,
Poço Verde.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL .................................................... 12
2.1 O extermínio da juventude ................................................................................... 13
2.1.1 Um breve cenário sobre as mortes matadas ................................................... 14
2.1.2 Características dos grupos de extermínio ....................................................... 15
2.2 O que se entende por memória coletiva................................................................ 16
2.3 O livro-reportagem e suas especificidades ........................................................... 17
2.4 O jornalismo investigativo como técnica ............................................................. 19
3 RELATO TÉCNICO-METODOLÓGICO .................................................................. 21
3.1 Processo de construção da obra ............................................................................ 21
3.1.1 Obstáculos e riscos ......................................................................................... 23
3.1.2 Exclusões e silenciamentos ............................................................................ 24
3.2 Dilemas éticos ...................................................................................................... 24
3.3 Projeto Gráfico e editoração ................................................................................. 25
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 27
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 28
11
1 INTRODUÇÃO
Entre 2012 e 2013, a atuação de um grupo de extermínio no pequeno município
de Poço Verde, interior de Sergipe, promoveu o assassinato de 17 jovens em pouco
mais de seis meses. Ainda que as manchetes dos principais jornais do estado (anexo 11)
tenham divulgado, antes, o sangue desses jovens e condenado a ação dos
exterminadores; na cidade, pairava entre a população uma sensação de alívio pelo medo.
O grupo, aos poucos, havia ganhado legitimidade, engendrando-se na vida social dos
poço-verdenses e dando inteligibilidade a um certo tipo de moral que compreendia que,
na falta da presença do Estado, era possível e necessário matar.
Este relatório, por isso, na tentativa de avançar sobre essa memória de Poço
Verde, e colocando o problema do grupo de extermínio como parte de uma tragédia
coletiva mais complexa, apresenta as justificativas, os métodos e as ferramentas
narrativas utilizadas para a produção do livro-reportagem Adeus, Vagabundos,
apresentado como trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social com
habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Para tanto, dividimos este trabalho em duas partes. Na primeira, serão abordadas
discussões sobre o suporte e as suas especificidades, assumindo o livro-reportagem
como um produto jornalístico não-periódico diferenciado. Além de tratarmos
brevemente sobre a questão do extermínio de jovens no país, com especial atenção ao
processo histórico das mortes e do desenvolvimento dessas forças policiais auxiliares,
movidas pelos grupos de extermínio e esquadrões da morte. Analisando como esse tema
do extermínio da juventude é referendado pela sociedade, servindo como válvula de
escape para problemas que envolvem a segurança pública.
Na segunda parte, será apresentado, a partir do memorial descritivo, todo o
processo de confecção do livro-reportagem. A escolha do estilo de narrativa e da
temática dos capítulos; o método das entrevistas; a localização de observador-
participante; os desafios éticos; o processo de apuração e de organização das
informações e a constituição do projeto gráfico como parte indispensável ao modo de
contar a história.
12
Por fim, apresentaremos a nossa conclusão, balizada em como o processo de
fabricação de um livro-reportagem responde, ou ajuda a colocar a questão, ao tema da
legitimação do grupo de extermínio pelos poço-verdenses.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL
Estava em casa, a poucos metros do Colégio Estadual Professor João de
Oliveira (CEPJO), quando Horácio foi morto, em agosto de 2012. Rapidamente, postei
no grupo “Poço Verde”, do Facebook, uma mensagem pedindo ação urgente da
população e sugerindo que fizéssemos um abaixo-assinado para ser entregue ao
governador. A resposta veio com muita força através de uma Caminhada pela Paz
(anexo 10), realizada uma semana depois ao assassinato de Horácio, e, a partir daí,
criamos o Movimento Unidos pela Paz.
Depois, com o aparecimento do grupo de extermínio, a execução de 17
jovens e as discussões que envolviam a questão da segurança pública, decidi, ainda no
segundo período da graduação em Jornalismo, fazer um livro-reportagem sobre a
cidade. Ou melhor: sobre a circulação do discurso que dá inteligibilidade a um certo
tipo de violência que legitima a atuação do grupo de extermínio – expressa, de maneira
concreta, pela mobilização das pessoas através da morte do suposto líder do grupo de
extermínio (anexo 09).
A escolha pelo suporte, assim, se deu tanto pela possibilidade de exercitar
uma prática jornalística diferenciada quanto pela capacidade de unir diferentes gêneros
em um único produto, colocando a narrativa para conduzir à forma e sem o apego tão
duro às convenções jornalísticas.
Ainda assim, falar sobre a cidade, sendo poço-verdense, também se tornou
uma escolha de fazer circular o debate público sobre o tema, alicerçando, a partir da
memória, e de suas possibilidades de abordagem, uma discussão maior sobre a
legitimidade pública de atuação do grupo de extermínio e sobre o apagamento de
vivências periféricas.
No fim, também se partiu de uma premissa usada por Judith Butler (2010)
sobre as motivações que fazem algumas vidas serem dignas de luto – e outras não –, que
13
situa parte do problema em nossa não compreensão da nossa própria vulnerabilidade
constitutiva – que nos coloca, para existir, em interdependência violenta com um Outro.
2.1 O extermínio da juventude
As mortes provocadas por execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais
sempre estiveram presentes no Brasil desde o seu achamento, há mais de 500 anos –
entendendo essas execuções, aqui, como as praticadas por:
[...] forças de segurança do estado (policiais, militares, agentes
penitenciários, guardas municipais) ou similares (grupos de
extermínio, justiceiros), sem que a vítima tenha tido a oportunidade de
exercer o direito de defesa num processo legal regular, ou, embora
respondendo a um processo legal, a vítima seja executada antes do seu
julgamento ou com algum vício processual; ou, ainda, embora
respondendo a um processo legal, a vítima seja executada sem que lhe
tenha sido atribuída uma pena capital legal. (PIOVESAN et al, 2001:
16).
Do extermínio dos índios, dos quilombolas, até, nos dias atuais, dos jovens negros
nas periferias, a tortura se transformou em ferramenta basilar do Estado Moderno,
sobretudo com a instituição jurídica do crime e das prisões. Pois, foi justamente através
das prisões que os encarcerados comuns vivenciaram a introdução de métodos de tortura
que, só depois, os presos políticos, em períodos como o da ditadura, experimentaram
(SOUZA, 2000).
O que, segundo Paulo Sérgio Pinheiro (1984), põe abaixo uma ideia de
anacronismo da tortura em períodos bem delimitados, como o Estado Novo e a
Ditadura. Períodos em que, ainda conforme o autor, ao contrário das classes populares,
as classes médias e a burguesia puderam experimentar a tortura.
Nesse contexto, após a Ditadura Civil-Militar, uma nova morfologia da força
policial começou a atuar, através, principalmente, dos grupos de extermínio, como meio
acessório ao Estado e a sua capacidade de punição. Culminando, segundo o Mapa da
Violência, num processo de limpeza e purificação que gerou uma taxa de crescimento
das mortes na população em geral de 387%, entre 1980 e 2012 (passando de 8.710 para
42.416 mortes por ano); e de, extraordinariamente, 463,6% entre os jovens, população
14
compreendida entre 15 e 29 anos (passando de 4.415 para 24.882), durante o mesmo
período (WAISELFISZ, 2015).
Dessa forma, a população jovem do país, sobretudo negra e periférica, passou a
vivenciar um processo acelerado de violência policial sobre os seus corpos e as suas
vidas, impulsionado tanto pelos agentes da força de segurança do Estado quanto de seus
similares, como os grupos de extermínio.
2.1.1 Um breve cenário sobre as mortes matadas
O crescimento dessas mortes, entre o período de 1980 a 2012, está diretamente
ligado ao aumento dos homicídios, promovidos por armas de fogo, que foi de 556,6%.
Um fenômeno que, entre os jovens, se explica quase que exclusivamente pelo aumento
de 655,5% dos jovens assassinados, enquanto acidentes, suicídios e indeterminados
caíram ao longo do período (-23,2%; -2,7% e -24,4% respectivamente) (WAISELFISZ,
2015: 21).
Entre as regiões do país, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do
Ministério da Saúde (SIM/MS), o Norte foi o que mais cresceu na taxa de homicídios
por armas de fogo durante a década de 2002 a 2012 (com 94,7%); seguido por Nordeste
(71,3%); Sul (24,9%) e Centro-Oeste (21,6%). Somente o Sudeste, dentre todas as
regiões, teve uma significativa diminuição da taxa, com -45%. Em Sergipe, durante esse
mesmo período, a taxa de crescimento foi de 39%, fazendo-o saltar da 9ª para a 7ª
posição entre os estados com os maiores índices de óbitos no Brasil1.
Esses números, porém, são ainda mais brutais quando avaliamos o extermínio da
juventude por armas de fogo. Nesse caso, o Norte continua com os números mais
significativos, com 168,4% de crescimento; seguido por Nordeste (95,6%); Centro-
Oeste (54,8%) e Sul (35,2%). Do mesmo modo, somente o Sudeste teve redução, com
uma taxa de -47%. Em Sergipe, a mesma 7ª posição foi mantida entre 2002 e 2012, mas
com um significativo crescimento da taxa de óbitos por armas de fogo (de 45,5 para
64,5%).
1 WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: mortes matadas por armas de fogo. 2015.
15
Ainda sobre esses números, é possível identificar uma nítida diferenciação entre
raça/cor2. Conforme dados do Mapa da Violência 2015, as taxas de homicídios de
brancos por armas de fogo caíram de 14,5 para 11,8 em 100 mil brancos; enquanto as
taxas de homicídios de negros aumentaram de 24,9 para 28,5, entre os anos de 2003 a
2012. Ou seja, enquanto a taxa de homicídio de brancos caiu 18,7%, a de negros
aumentou 14,1%. O que permitiu que a chamada vitimização da população negra no
país, que em 2003 era de 72,5%, fosse, em 2012, de 142%.
Por último, os indicadores do SIM/MS, trazem ainda um recorte por idade e sexo.
Quanto à idade, a faixa etária de concentração dos homicídios gira, como dito
anteriormente, entre os jovens de 15 a 29 anos. Tendo o seu pico, entre todas as idades,
aos 19 anos, com um índice de homicídio por armas de fogo de 62,9 por 100 mil.
Quanto ao sexo, essas mortes são concentradas entre os homens, com uma taxa de 95%,
ante 5% das mulheres. Número similar ao de homicídios (95,1% de homens e 4,9% de
mulheres).
2.1.2 Características dos grupos de extermínio
Com o fim da Ditadura Civil-Militar, em 1985, a morte de presos comuns voltou a
ser regra, reforçada, sobretudo, através das ações dos esquadrões da morte e dos grupos
de extermínio. Organizações que se desenvolveram da seguinte forma:
Esses podem ser definidos como organizações criminosas que, em sua
origem, contaram com a participação e o treinamento de policiais
junto a traficantes, seguranças privados e marginais em geral - para a
prática de Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais contra os
presos comuns, como decorrência e em face do mercado de trabalho
constituído durante o regime militar. Não contando mais com o apoio
financeiro do regime, passaram a cobrar „segurança‟ de comerciantes
que se sentiam inseguros com o aumento crescente da violência
comum. (PIOVESAN; Et al, 2001: 21)
2 Os dados apresentados a seguir pelo Mapa da Violência 2015, dada toda a problemática que envolve a
classificação de identidades, foram construídos com base na classificação do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e do próprio SIM/MS. No caso do primeiro, a classificação se dá por auto-
determinação; mas, no segundo, é dada por um agente externo. O que nos faz tomar esses índices com
certa cautela, mas sem negar a natureza do problema que aponta.
16
Porém, com o tempo, as simples execuções deram lugar para outros tipos de
serviço. Como revela o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares
(GAJOP), do Estado de Pernambuco, apud Piovesan et al: “Tem grupo que se
especializa no tráfico de drogas,outros em sequestros, roubos - inclusive de carros -, e
outros em tudo isso junto, assegura o delegado Cleurinaldo Lima, ex-titular da delegacia
de Homicídios (...)”. E, também, com o apoio do poder constituído, como governadores
e funcionários do Estado (PIOVESAN; Et al, 2001).
Em geral, esses justiceiros são policiais militares ou pessoas ligadas à polícia, que
se juntam a líderes comunitários e referendam o que consideram como justiça. E fazem
isso sem o menor pudor, pois contam com o próprio respaldo da polícia, que retiram das
costas dessas organizações a tarefa das execuções, do “serviço sujo” (BICUDO, 1988).
Por tudo isso, os grupos de extermínio funcionam também, e estruturalmente hoje,
como uma linha auxiliar da própria polícia, com o intuito de diminuir os índices de
criminalidade (MERLINO, 2012).
2.2 O que se entende por memória coletiva
A ideia da atividade da memória surgiu da categoria defendida por Sarti
(2014), ao analisar o processo de fabricação de vítimas a partir do fim da Segunda
Guerra, principalmente sobre o que foi o holocausto, quando argumenta que “a memória
é sempre mediada como o mundo está sendo habitado no presente” (SARTI, 2014: 85).
Ou, ainda, da inquietação defendida por Márcio Seligmann-Silva (2014), a partir de
uma análise do desenvolvimento da categoria da memória na Grécia Antiga:
Com relação a esse passado, fica mais evidente em que medida a
memória não é apenas um „bem‟, mas encerra ainda uma carga
espectral que gostaríamos muitas vezes de esquecer – ou enterrar, da
maneira como fazemos com nossos mortos. Esse passado que não
quer passar é também um íntimo conhecido nosso, moradores da era
dos extremos. (SELIGMANN-SILVA, 2014: 42-3)
Para Maurice Halbwachs (1990), a memória só pode ser construída
coletivamente, tendo sua operação tornada possível pelo trabalho individual do sujeito
em seu apego afetivo e relacional com o Outro. Dessa forma, a lembrança é gerida
17
como um processo coletivo de reconhecimento e reconstrução que põe em jogo relações
sociais estabelecidas pelo interesse do presente.
Dessa forma, e em especial em um trabalho como o nosso, que se situa no
campo do rendilhar da oralidade, o material com que permite a existência da memória, e
sobretudo da memória coletiva, também possuem os seus paralelos imutáveis, em
lugares, pessoas e eventos que se dão por projeção ou transferência entre grupos; sem
que, ainda, a memória perca a sua capacidade móvel (Pollak, 1992).
Por isso, entendendo que esse percurso sobre o passado também permite
refuncionalizar o presente, decidimos lançar mão do sensível campo da memória para
discutir novas cartografias políticas que dão inteligibilidade à violência e aos
violentados.
2.3 O livro-reportagem e suas especificidades
A história de um certo tipo de narrar, que fronteiriza a relação entre livro e
jornalismo, data do século XVI, de um período ainda inicial após o domínio da técnica
da prensa de tipos móveis por Gutenberg (ROCHA; XAVIER, 2013). De lá para cá,
conforme o desenvolvimento e hibridização de novas tecnologias de produção e
recepção da notícia, muita coisa mudou. E, junto com essas mudanças, a própria prática
do fazer jornalístico.
No Brasil, com a fuga da coroa portuguesa para o país, em 1808, e a
consequente chegada da imprensa imperial, uma nova cultura de consumo e produção
da notícia foi se estabelecendo. Mas a reportagem só foi se alicerçar com Euclides da
Cunha, através da obra Os Sertões (1902), e Paulo Barreto, mais conhecido como João
do Rio, autor de A alma encantadora das ruas, escrita e publicada no início do século
XX. O que trouxe, para o jornalismo do país, o ar fresco das ruas e incrementou um
projeto já em curso de institucionalização, à moda brasileira, de seus gêneros
eminentemente jornalísticos – como foi o caso da crônica, por Olavo Bilac (RIBEIRO,
2004).
Todas essas transformações, do início do século passado, estavam ainda
atreladas às mudanças sofridas por um processo mais extenso de industrialização da
18
economia, da concorrência com o rádio e os jornais, que começavam a ganhar um tom
mais popularesco.
Com isso, a partir da década de 1960, atravessado por um processo de
globalização que acelerava os processos econômicos, reduzia as distâncias e
reconfigurava o mundo do trabalho e da própria vida; um novo tipo de jornalismo, o
New Journalism, ganhava forma com o incremento da subjetividade e da observação à
descrição meramente objetiva dos fatos e de seus personagens (WOLFE, 1975).
Nesse contexto, a produção da matéria pôde se alicerçar rompendo a
temporalidade e periodicidade do jornalismo diário para se deslocar para outros lugares,
como a sua atuação decisiva junto ao jornalismo literário.
O suporte diferenciado, propiciado pelo livro, possibilitou, assim, um novo
percurso sobre a reportagem e os gêneros jornalísticos, colocando em operação um tipo
de narrativa que dialoga com a realidade factual, e dela extrai a sua força enquanto
produto não-periódico (LIMA, 1995).
O que também permite ao livro, enquanto produto jornalístico, não ser
apenas uma extensão da reportagem, mas um campo diferenciado, que possa mobilizar
– ou não – diferentes gêneros jornalísticos em um único produto – como o
interpretativo, investigativo e literário (ROCHA; XAVIER, 2013).
Ainda segundo Paula Melani Rocha e Cintia Xavier (2013), o livro-
reportagem, por ser um produto com maior número de páginas, também demanda uma
maior disciplina na checagem e verificação das informações, levando até mesmo a
apuração a atravessar todas as fases do processo de realização da matéria,
desembocando, por último, em seu produto final. O que confere ao livro-reportagem
uma mais segura certificação das informações pela grande quantidade de fontes e apelo
humanizado de sua abordagem, que privilegia o deslocamento “de algo universal para o
âmbito particular ou pessoal, ou do abstrato para o concreto” (ROCHA; XAVIER,
2013: 150-1).
Para Edvaldo Pereira Lima (1995), apesar do livro-reportagem ter uma
proximidade com a literatura, três aspectos básicos o diferencia das publicações
literárias. São eles: conteúdo (voltado para o real), tratamento (eminentemente
jornalístico) e função (a de informar, orientar e explicar). Podendo, ainda, ser
19
classificados em 13 categorias de livro-reportagem. Das quais, nos propusemos a
trabalhar com:
Livro-reportagem-atualidade: capta um tema de maior magnitude e
perenidade no tempo, cujos desdobramentos finais não são conhecidos, identificando as
forças em conflito e projetando tendências possíveis de desfecho;
Livro-reportagem-perfil: evidencia o lado humano de uma personagem pública
ou anônima (representante de um grupo social); tem como variante o livro-reportagem-
biografia, com mais destaque ao passado e menos ao presente da pessoa;
Livro-reportagem-depoimento: reconstitui um acontecimento relevante na
visão de um participante ou testemunha. Pode ser escrito pela própria testemunha, com
auxílio de um jornalista, e geralmente sua narração é movimentada, com bastidores e
ações encadeadas;
Livro-reportagem-epopeia: abarca episódios históricos de grande relevância
social (como guerras, conflitos, revoluções e outros);
Livro-reportagem-denúncia: possui propósito investigativo de identificar
injustiças, abusos, desmandos e incorreções, levantando casos marcados pelo escândalo.
A ida a campo traz, ainda, para o livro-reportagem um aspecto importante sobre
a sua dinâmica de produção e os seus modos de prática jornalística, pois aprofunda o
processo de investigação com a captação observacional do ambiente e faz o livro-
reportagem se desvencilhar das amarras do hard news (ROCHA; XAVIER, 2013).
2.4 O jornalismo investigativo como técnica
Imbuído do imperativo da verdade, o jornalismo investigativo surge da
necessidade de identificar lapsos em qualquer mídia disponível sobre uma informação
(Burgh, 2008). Pois se entende que a informação manifestada pela fonte, sobretudo no
caso de autoridades, não está suficientemente isenta; ou, ainda, em casos mais sérios, há
claros indícios de corrupção.
20
No caso desse livro-reportagem, em particular, a decisão de também trabalhar
com o jornalismo investigativo foi crucial para entender a engrenagem que mantinha de
pé o grupo de extermínio, esboçada pelo ofício conjunto assinado pelo procurador e
pelo juiz da comarca de Poço Verde e entregue à Assembleia Legislativa de Sergipe
(Alese), em 2013 (Anexo 01).
E não só isso. Mas também entender, de maneira meticulosa, sobretudo na
apuração e ainda que reconhecendo a capacidade móvel da memória, como a atuação do
grupo de extermínio pôde ser legitimada pela população local. Tudo isso a partir de um
olhar e de uma ética jornalística para atingir, a partir das múltiplas versões apresentadas
no livro, esse fragmento da realidade. Como nos ensina Luiz Costa Pereira Júnior,
O desafio do repórter (no cenário complexo, tentacular, da
desordenada torrente de acontecimentos que forma a vida
contemporânea) é encontrar evidências soterradas em camadas de
versões, procurar certezas em situações de incerteza. O jornalista, por
princípio, não é só testemunha daquilo que o leitor não pôde ter
acesso. É um processador das camadas verificáveis da realidade - não
raro limitado à posição de verificador de fatos inacessíveis de forma
direta, como o 11 de setembro o foi para as redações brasileiras.
(PEREIRA JUNIOR, 2006: 71)
Para Burgh (2008), há ainda outras características que diferenciam o jornalismo
investigativo de um jornalismo de denúncia ou de um jornalismo crítico, que se situam
desde um ceticismo com as fontes e os modelos oficiais até uma rotina diferenciada para
a seleção de informações e a os seus modos de narrar. Implicando, inclusive, em outros
critérios e valores socialmente acordados entre os jornalistas para a produção da notícia,
como os critérios de apuração e noticiabilidade. Pois a fuga do engessamento e
mecanicismo da produção de notícia diária se configura como componente
indispensável para o nível de ceticismo e profundidade que uma apuração investigativa
pede.
21
3 RELATO TÉCNICO-METODOLÓGICO
3.1 Processo de construção da obra
A pesquisa de apuração sobre o grupo de extermínio começou ainda em
2012, ano de seu surgimento, e seguiu até agosto de 2015. Foram três anos selecionando
capas e matérias de jornais (anexo 11), dossiês (anexo 01), ações civis públicas (anexo
06), certidões de óbito (anexo 03) e mapeando diversas entrevistas com familiares dos
matadores, dos matados, dos envolvidos e de pessoas comuns.
Há pouco mais de um ano, quando começamos de fato a montar a estrutura
do livro-reportagem, havia um grande receio sobre a abordagem. Para desviar a atenção
da apuração do conteúdo do livro, e pelas próprias dificuldades de acesso a pessoas e
lugares, decidimos optar pelo tema da morte, a partir do que ele mobilizaria no
imaginário social de Poço Verde.
Contudo, mudamos o rumo a partir da morte do suposto líder do grupo, em
outubro de 2015, e do seu conseqüente processo de desestruturação, e voltamos ao tema
central da memória coletiva do grupo de extermínio.
Depois, começamos a pensar no tipo de narrativa e nas possibilidades de
execução do nosso planejamento inicial. A priori, uma ideia de versificar todo o texto de
modo a trazer aspectos literários mais decisivos, ainda que sem fugir a categorias
centrais da apuração e da precisão jornalística, foi pensada, mas logo descartada devido
ao curto tempo de preparação para a escrita. O que fez essa escolha do modo da
narrativa acontecer depois. Quando todo o material, incluindo as entrevistas, já havia
sido coletado e revisado.
Em paralelo a isso, fizemos entrevistas entre março e abril de 2013 no
Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), no Centro de
Assistência Psicossocial (CAPS), no Conselho Tutelar e na delegacia de Poço Verde.
Desses órgãos, somente a delegacia não nos forneceu informações, justificando que as
informações solicitadas – sobre homicídios e perfil dos crimes – eram de
responsabilidade do 5º Batalhão da Polícia Militar de Sergipe (PM/SE). Depois,
voltamos a esses órgãos, entre fevereiro e julho de 2015, dois anos depois, para
22
confirmar as informações colhidas anteriormente – ou não – e construir novas pistas.
Mas o Conselho Tutelar e o 7º Batalhão, um desmembramento do antigo 5º Batalhão, da
PM não nos responderam. Este último, sob a justificativa de que isso era incumbência
da delegacia.
Já as entrevistas com os familiares dos jovens mortos, com a mãe e amiga
de Zé Augusto, com a irmã de Horácio, com Marcelo e com jovens da cidade, foram
realizadas entre 31 de dezembro de 2014 e junho de 2015. As entrevistas, seguindo a
necessidade de trabalhar a memória, constituíram-se em bem mais que obter respostas –
ou formular perguntas – sobre a violência em Poço Verde. Havia também uma
necessidade de observação, de entender como os personagens pensavam outros
personagens (no caso dos familiares, sobre os seus entes mortos) e de como todos eles,
em alguma medida, tocavam-se.
Após tudo isso, decidimos optar por uma estruturação dos capítulos que
fosse autônoma – mas não independente – entre si. De modo a fazer com que todo o
livro apresentasse versões conflitantes, por vezes inconciliáveis, mas tendo uma espinha
dorsal bem definida, que seria guiada por mim, enquanto personagem-narrador.
Assumindo, assim, um lugar de observador-participante, em quem mesmo vivendo e
interagindo com a comunidade, preservo, em alguma medida, a categoria de observador
(Duarte, 2006).
Dessa forma, o primeiro capítulo serviu para apresentar o cenário que serviu
de estopim para a necessidade de criação de um grupo de extermínio. O segundo, serviu
para apresentar o nosso protagonista – nesse caso, elegemos Zé Augusto, o suposto líder
do grupo, pela capacidade de agenciamento e mobilização da memória do grupo de
extermínio. O terceiro, destinou-se aos familiares dos jovens mortos, problematizando a
infiltração do poder e da legitimidade do grupo também nas famílias e na materialidade
das condicionantes do aparecimento dos “vagabundos”. O quarto, formado por jovens
da cidade escolhidos aleatoriamente, tratou das perspectivas e assimilações da violência
e perspectivas sobre um futuro de uma parcela da população que se situa numa geração
próxima a dos jovens mortos. O quinto capítulo destinou-se a discutir as outras faces e
reverberações da atuação do grupo de extermínio e da forma como ela também se
comunica intimamente com os modos de sociabilidade do município.
23
Por fim, escolhemos o título, a partir de uma expressão muito usada, para
conectar diretamente a ideia de extermínio e de uma lista de marcados para morrer a ser
executada, através de todo o processo visual da diagramação.
3.1.1 Obstáculos e riscos
. Como lidar com um tema tão frágil, do ponto de vista dos ânimos e interesses, é
sempre uma tarefa que merece cuidado; com as informações não poderia ser diferente.
Sobretudo se a manipulação errada de uma palavra ou do sentido de uma frase pode
significar o limiar entre a vida e a morte. Como significou para Marcelo, um amigo que
foi ameaçado de morte e que estampa o quinto capítulo do livro, e que quase significou
para mim, pelos boatos que corriam na cidade sobre a produção desse livro.
Esse cuidado, ou esse medo, proporcionou que algumas escolhas fossem feitas, e
outras descartadas. O tempo também acabou apagando outras possibilidades. Entre elas
a de entrevistar novamente, com o intuito da produção desse livro, o promotor de Poço
Verde, à época de todas as ações do grupo de extermínio, Doutor Lúcio José Cardoso
Barreto Lima, que pediu transferência da cidade após a morte de Zé Augusto.
Quando tentei entrar em contato com ele, já em 2015, e lotado na comarca de
Boquim, apenas tive um aceno por um de seus assessores de que depois retornaria. O
que nunca aconteceu. Em Poço Verde, a saída do promotor foi tomada como medida de
precaução.
Some-se a isso, ainda, as dificuldades impostas pela Polícia Militar para apurar
os dados referentes à cidade, com contundentes suspeitas de participação ostensiva de
vários policiais militares do estado na organização e manutenção do grupo de
extermínio; e, por fim, da negligência da própria Secretaria de Segurança Pública sobre
o caso, através das inúmeras vezes em que tentamos contatar a delegacia de Poço Verde.
Não havia, por isso, nenhuma informação que fosse minimamente confiável a
ponto de merecer crédito sem, antes, haver uma exaustiva verificação de sua veracidade;
ou, pior, uma fonte, em Poço Verde, que pudesse estar recebendo aquelas perguntas sem
o receio sobre os ouvidos sempre abertos do grupo de extermínio. Pois sempre houve o
risco que, indiretamente, as pessoas comentassem sobre o conteúdo desse trabalho e
24
isso, para além de implicar no risco da conclusão da pesquisa, implicava também na
minha vida.
3.1.2 Exclusões e silenciamentos
Houve uma preocupação fundamental com o tom que o livro fosse tomar.
Mesmo porque a manipulação das palavras com um tema tão sensível poderia, de
antemão, conformar algumas verdades. Sobretudo quanto aos números oficiais que
pediam um reforço do aparelho policial na cidade. Havia, por isso, o risco de fazer coro
ao discurso de solução rápida por mais policiais. Ou, ainda, de fácil criminalização do
suposto líder do grupo de extermínio.
Dessa forma, esse fino equilíbrio da narrativa nos fez optar pela exclusão
deliberada da Operação Poço Verde Tranquilo e Seguro (anexo 08), formulada pela
Polícia Militar com o intuito de sanar o problema da segurança através do incremento de
policiais e de sua capacidade de repressão.
Assim como de algumas vozes, como a da Secretaria de Segurança Pública do
Estado de Sergipe (SSP/SE), devido à própria dificuldade de acesso e retorno às nossas
perguntas. O que nos fez, ainda, utilizar a memória, mais uma vez, como ferramenta
discursiv para levar a narrativa para outros lugares, que só foram possíveis aumentando
a nossa capacidade de observação.
3.2 Dilemas éticos
Para Umberto Eco (2002) a ética está ligada à conduta humana, alicerce
necessário para se atingir o aperfeiçoamento e valorização do gênero humano. Pois a
ética se envolve dessa necessidade maior, que se situa acima dos valores, padrões de
comportamento e paradigmas de cada cultura.
A atividade ética, por isso, é intrínseca a um compromisso social, dada por sua
própria estrutura universal, e que cobra de nós, enquanto jornalistas, um compromisso
25
ético, de acordo com o critério objetivado da verdade, resguardando, sobretudo, a
dignidade da pessoa humana (Ferreira, 2012).
O nosso trabalho, assim, ao se pautar em valores éticos estabelecidos em
compromissos sociais com as fontes e com o público, procurou, a partir do método da
entrevista e das observações, selecionar o que fosse estritamente necessário para o tipo
de narrativa a que nos propusemos usar para contar a nossa história. Isso porque, como
havia sempre o receio, por parte, principalmente, da mãe de Zé Augusto e da amiga de
infância, de uma visita indesejada da Polícia Federal, não cabia a nós expor essas
pessoas além do que, erradamente, os grandes jornais já o fizeram – como apregoa o
Código de Ética dos Jornalistas, em seu artigo 7º, inciso IV. Senão, apenas, dissuadir
parte da memória que cultivavam de Zé e que tocava na atuação do grupo de
extermínio, com sua conseqüente legitimação para todas as mortes.
Um processo que demandou também muita espera por mais informações e
contatos para checar a veracidade das informações. Pois, durante todo o processo de
apuração, nenhum risco sucumbiu ao método de levantamento, checagem e validação de
tudo aquilo que havia sido possível comprovar.
Cuidado esse que foi redobrado, principalmente, sobre os documentos ou
informações que tratavam sobre Zé Augusto e os jovens assassinados. Pois significavam
os limites identitários da trama da violência que envolvia a atuação do grupo de
extermínio, notadamente conformados enquanto agressor – no caso de Zé Augusto – e
vítimas – dos jovens.
Ainda sobre esse cenário, boa parte da coleta dos documentos usados na
confecção do livro-reportagem (anexos 01, 02, 03, 04, 06, 07, 08 e parte do 11), devido
à minha militância e trânsito pelas instituições jurídicas, só foi possível através de
conversas com a deputada Ana Lúcia e com a promotoria de Poço Verde. Já outras
informações foram coletadas através de ofício e de canais institucionais de vídeo de
emissoras de TV, pela plataforma da internet.
3.3 Projeto Gráfico e editoração
26
Após algumas reuniões com Fernando Caldas, o diagramador, chegamos a
conclusão de que era necessário alinhar forma e conteúdo, de modo a fazer com que a
própria configuração visual do livro servisse, junto com o texto escrito, no modo de
contar a história. Como nos ensina Antônio Celso Collaro
A adequação do projeto gráfico ao conteúdo da obra é fundamental
para que o leito identifique no design da página a proposta do autor.
Essa relação transcende o simples desenho das páginas, envolvendo a
cor, a tipologia e as imagens. A identidade que esse conjunto de
elementos vai transmitir ao leitor definirá o 'espírito' da obra.
(COLLARO, 2007: 69)
Por isso, decidimos trazer um elemento que se destaca no livro para conduzir
toda a narrativa: a perseguição.
E, para tornar esse elemento da perseguição mais concreto e real, deslocamos a
ideia de um perseguidor e perseguido, a partir do grupo de extermínio e dos jovens
mortos, para uma em que até mesmo nós poderíamos assumir a função daquele que
persegue e do que é perseguido.
Assim, escolhemos fazer uma capa que remetesse à lista de marcados para
morrer (anexo 05), que foi colada na frente de escolas e órgãos públicos, para servir de
guia para o restante da estrutura do livro. Depois, decidimos que a apresentação do
título de cada capítulo iria acontecer de forma decrescente, e com um riscado que se
acumulava na medida em que o livro avançasse, como uma lista que vai sendo
concluída pelo avançar das páginas.
Por último, comprimimos pouco a pouco as páginas, utilizando deliberadamente
do concretismo, para tornar a leitura mais rápida e sufocante, com o intuito de
consolidar, de maneira catártica, na última página, a ideia de perseguição. Para isso,
também escolhemos utilizar do justificado para deixar mais evidente essa compressão
através de uma rima visual com as páginas seguintes.
Esse tipo de estrutura também nos fez questionar sobre as fronteiras entre
literatura e ficção; ou, ainda, entre factualidade e invenção. O que, por uma ideia de
fronteirização e hibridismo, nos fez optar por uma estética bem simples e clara. Sem
fotografias, capas de jornais ou documentos scaneados que dessem uma legitimidade
tácita a partir da imagem. O que também retiraria do texto a sua própria potência de
27
significação, já que escolhemos trabalhar com um material tão volátil como o da
memória.
Por fim, tivemos a ideia de preparar o ritmo do texto para consolidar o seu
aspecto visual. Aumentando e diminuindo a velocidade na medida em que as páginas
fossem se comprimindo. Como último recurso, escolhemos uma tipografia da família
Caecilia, com serifa leve, para suportar a tensão do texto de forma sutil e o formato A5
para o papel.
CONCLUSÃO
O livro-reportagem Adeus, Vagabundos foi uma tentativa de discutir um
problema real, que tanto assola pequenas e médias cidades do país quanto se configura
como uma ameaça iminente ao próprio presente de Poço Verde. Nisso, lidar com o tema
da memória foi, a princípio, mais uma escolha compulsória do que algo deliberado, pelo
próprio risco de morte que uma investigação a fundo implicaria.
Mas esse tipo de escolha, guiada pelo acaso, ajudou a pensar de múltiplas
maneiras a questão da violência, a partir, principalmente, da sua circulação pelo
imaginário coletivo e pelo atravessamento de outros temas que circundam o cotidiano.
Pois, ainda hoje, o tema do extermínio de jovens é tratado como tabu e silenciado
constantemente pela mídia hegemônica, pelo governo e por grande parte da sociedade.
A factualidade deste tema, por isso, e meu próprio envolvimento enquanto
poço-verdense e ferrenho crítico à atuação do grupo de extermínio, foi desafiadora. Seja
pela necessária distância de dentro – para não aumentar os relatos, nem dar mais
informações do que consegui mobilizar –; seja pelo risco certo de morte, com amigos
sendo ameaçados.
Assim, ao assumir esse lugar incômodo, de jornalista e poço-verdense,
decidi trazer essas múltipas vozes que, em geral, dão legitimidade à atuação do grupo de
extermínio para entender como essas relações de poder são intercedidas por afetos e
subjetividades.
28
Por tudo isso, esse livro tentou se fundar na diversidade de pontos-de-vista e
nas singularidades do trato com a vida. Entendendo, por último, também esta
singularidade como um produto relacional, do embate e da maquinação com um Outro.
O que, em alguma medida, nos fez constatar: também somos responsáveis pelos mortos
e por seus carrascos.
REFERÊNCIAS
BICUDO, Hélio. Do Esquadrão da Morte aos Justiceiros. Edições Paulinas. São
Paulo. 1988.
BURGH, Hugo de. Jornalismo Investigativo: contexto e prática. Editora Roca, 2008.
BUTLER, Judith. Marcos de Guerra: las vidas lloradas. México: Paidós, 2010.
CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS. Brasília: Fenaj, 2007.
Disponível em:
<http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileir
os..pdf> Acesso em: 21 de dez. 2015.
COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica da mídia impressa. São
Paulo, 2007.
DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em
comunicação. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006.
FERREIRA, Rui Assis. Ética e deontologia no fenómeno da comunicação.
Comunicação e Sociedade, v. 11, p. 31, 2012.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. SP, Vértice, 1990.
LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas : O livro-reportagem como extensão do
jornalismo e da literatura. São Paulo: Ed. Unicamp, 1995.
MERLINO, Tatiana. Em cada batalhão da PM tem um grupo de extermínio. Caros
Amigos, 2012.
PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. A apuração da notícia: métodos de investigação na
imprensa. Petrópolis: Vozes, v. 70, 2006.
PIOVESAN, Flavia et al. Execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais: uma
aproximação da realidade brasileira. 2001.
29
POLLAK, Michael. “Memória e identidade social”. In: Estudos Históricos, 5 (10). Rio
de Janeiro, 1992.
RIBEIRO, Lavina Madeira. Imprensa e Espaço Público: A Institucionalização do
Jornalismo no Brasil (1808-1964). Rio de Janeiro: E-papers Serviços Editoriais, 2004.
ROCHA, Paula Melani; XAVIER, Cintia. O livro-reportagem e suas especificidades
no campo jornalístico. Rumores, v. 7, n. 14, p. 138-157, 2013.
SARTI, C. A construção de figuras da violência: a vítima, a testemunha. Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, ano 20, n. 42, p. 77-105, jul./dez. 2014.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Antimonumentos: trabalho de memória e de
resistência. Trivium - Estudos Interdisciplinares, v. 6, n. 1, p. 41-54, 2014.
SOUZA, Percival de. Autópsia do Medo. Vida e Morte do Delegado Sérgio Paranhos
Fleury. Editora Globo. São Paulo. 2000.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: mortes matadas por armas de
fogo. 2015.
WOLFE, T. The New Journalism. Londres, Picador, 1975.
Anexos Anexo 01 – Relatório sobre surgimento do grupo de exterminio
Anexo 02 – Decisão do juiz de Poço Verde
Anexo 03 – Certidões de óbito
Anexo 04 – Resposta da policía civil e militar
Anexo 05 – Lista de marcados para morrer
Anexo 06 – Ação Civil Pública
Anexo 07 – Decisão em 2ª instância do TJSE
Anexo 08 – Operação Poço Verde Tranquilo e Seguro
Anexo 09 – Repercussão da morte de Zé Augusto
Anexo 10 – Caminhada pela paz
Anexo 11 – Repercussão na Imprensa sobre a ação do grupo de
extermínio
ANEXO 01Relatório conjunto entregue à Alese pelo promotor de Poço Verde e
pelo juiz da cidade relata a existencia de grupo de extermínio
ANEXO 02Decisão do juiz de Poço Verde sobre a situação-limite da cidade
ANEXO 03Certidões de óbito
ANEXO 04Resposta da polícial civil e militar sobre a situação de seus
respectivos órgãos em Poço Verde
ANEXO 05Lista de marcados para morrer
ANEXO 06Ação Civil Pública
ANEXO 07Decisão, em segunda instancia, do TJSE
ANEXO 08Operação Poço Verde Tranquilo e Seguro (PM)
ANEXO 09Repercussão da morte de Zé Augusto
ANEXO 10Caminhada pela paz
(antes do surgimento do grupo de extermínio)
11/11/2015 POPULAÇÃO POÇOVERDENSE DIZ “EU QUERO É PAZ”! | Edelsonfreitas.com Seu portal de Notícias
http://edelsonfreitas.com/portal/noticias/populacaopocoverdensedizeuqueroepaz/ 1/5
O Que Você Procura?
PÁGINA INICIALFALE CONOSCO
/NOTÍCIAS/ESPORTES/ENTRETENIMENTO/TECNOLOGIA/GALERIA
POPULAÇÃO POÇOVERDENSE DIZ “EU QUERO É PAZ”!
Aconteceu na manhã desta sextafeira(24) na cidade de Poço Verde um manifesto pedindo o fim da violência que assola o município.
Milhares de pessoas, entre cidadãos comuns, estudantes e comerciantes, participaram do ato, que teve apoio docomércio local, SMTT e igrejas.
11/11/2015 Comunidade fará Caminhada pela Paz em Poço Verde Infonet Notícias de Sergipe Cidade
http://www.infonet.com.br/cidade/ler.asp?id=132608 1/2
Webmail
Login
•••••
Cidade
Cidade
Especiais
Notícias
Fotos antigas
Infográficos
NotíciasBlogs
Cidade
Cultura
Economia
Educação
Esporte
Política
Saúde
Vídeos
DiversãoAgenda
Cinema
Eventos
Promoções
EspeciaisImposto de Renda
São João
ServiçosAcesso a Internet
Publicidade
Hospedagem
Comp. em Nuvem
Colocation
Suporte Técnico
Firewall
VPLS
Streaming
Classificados
Empresas
Assinante
Últimas na Infonet
21:04 Coren/SE e MPE fiscalizamHospital da Unimed
21:04 Delegação de SE estápronta para os Jogos no Paraná
21:02 Ginastas carmopolitanos sedestacam em competição
20:58 Viatura do Gati se envolveem acidente na BR 101
20:46 Gerente de posto decombustível é assassinado a tiros
Blogs
Cláudio NunesRicardo Franco noSenado. Eleitor não foienganado
Fernando FreitasCurso especial deMarketing Digital retornaa Aracaju
Classificados Anuncie grátis
Automóveis VENDO ECOSPORTTITANIUM 1.6
Eletrônicos Moto G 8GB pega 2 chips
Imóveis Casa em Aracaju para Venda
Imóveis Casa no Condomínio fechadoVila Viver
Imóveis Apartamento MAIS VIVER PAC.próx da UFS
Veja Também
PromoçõesParticipe das promoções do PortalInfonet
EventosVeja as fotos das baladas maisdisputadas da cidade
Infonet Cidade Noticias Compartilhar:
C omunidade se reúne para traçar metascontra a violênc ia (Foto: Blog CNNPV)
Infonet Cidade Noticias Compartilhar:
19/08/2012 13:47
Comunidade fará Caminhada pela Paz em PoçoVerdeManifestação acontecerá na sexta: protesto contra a violência
Em Poço Verde, a 145 km da capital, os estudantesestão mobilizando a comunidade para a Caminhadapela Paz, manifestação contra a violência a serrealizada na próxima sextafeira, dia 24, na própriacidade. Moradores e profissionais de váriossegmentos da sociedade já aderiram à manifestaçãoque passará por várias ruas da cidade, alcançandoa Praça do Triângulo e o Centro de Comercializaçãode Agricultura Familiar.
Os organizadores da manifestação já começaram acolher assinaturas para um abaixoassinado parasolicitar ao governador Marcelo Déda e ao ComandoGeral da Polícia Militar para aumentar o efetivo policial no município e adotar medidasque possam minimizar os problemas que a população tem enfrentado em função doaumento da violência.
De acordo com informações da estudante Êmile Matos, 20, a população estáinconformada com a onda de violência e os estudantes decidiram deflagrar ummovimento para cobrar atuação da polícia a partir do assassinato do estudante HorácioBarreto de Souza, 26, crime ocorrido na quintafeira, 16.
O crime chocou a comunidade. O estudante foi morto na porta da escola onde estudava.Dois homens ocupantes de uma motocicleta se aproximaram da vítima e dispararamvários tiros. O estudante foi socorrido com vida e morreu no hospital local no mesmo dia.Na semana passada, ocorreu também, segundo Êmile Mota, um sequestro. O dono dacasa em um povoado da cidade teria sido levado por assaltantes e largado em umaestrada porque o carro usado pelos marginais teria faltado gasolina. “E casos assim têmacontecido com muita frequência, não importa a hora: se de manhã, de tarde, meio diaou de noite”, comenta.
Na sextafeira, 17, os moradores se reuniram na sede da escola para avaliar a onde deviolência quando optaram por criar um “movimento formal de luta contra a violência”.
A mobilização já ganhou simpatia de vários segmentos, segundo a estudante ÊmileMatos, inclusive de comerciantes e da Igreja Católica. Os organizadores pretendemagendar uma audiência com o governador Marcelo Déda e com o comandante geral daPolícia Militar para discutir os problemas ocasionados pela violência no município. Naoportunidade, eles pretendem entregar o abaixoassinado.
Por Cássia Santana
Comentários (0) Os comentários são de inteira responsabilidade de seus autores enão representam o pensamento deste portal.
11/11/2015 Comunidade fará Caminhada pela Paz em Poço Verde Infonet Notícias de Sergipe Cidade
http://www.infonet.com.br/cidade/ler.asp?id=132608 1/2
Webmail
Login
•••••
Cidade
Cidade
Especiais
Notícias
Fotos antigas
Infográficos
NotíciasBlogs
Cidade
Cultura
Economia
Educação
Esporte
Política
Saúde
Vídeos
DiversãoAgenda
Cinema
Eventos
Promoções
EspeciaisImposto de Renda
São João
ServiçosAcesso a Internet
Publicidade
Hospedagem
Comp. em Nuvem
Colocation
Suporte Técnico
Firewall
VPLS
Streaming
Classificados
Empresas
Assinante
Últimas na Infonet
21:04 Coren/SE e MPE fiscalizamHospital da Unimed
21:04 Delegação de SE estápronta para os Jogos no Paraná
21:02 Ginastas carmopolitanos sedestacam em competição
20:58 Viatura do Gati se envolveem acidente na BR 101
20:46 Gerente de posto decombustível é assassinado a tiros
Blogs
Cláudio NunesRicardo Franco noSenado. Eleitor não foienganado
Fernando FreitasCurso especial deMarketing Digital retornaa Aracaju
Classificados Anuncie grátis
Automóveis VENDO ECOSPORTTITANIUM 1.6
Eletrônicos Moto G 8GB pega 2 chips
Imóveis Casa em Aracaju para Venda
Imóveis Casa no Condomínio fechadoVila Viver
Imóveis Apartamento MAIS VIVER PAC.próx da UFS
Veja Também
PromoçõesParticipe das promoções do PortalInfonet
EventosVeja as fotos das baladas maisdisputadas da cidade
Infonet Cidade Noticias Compartilhar:
C omunidade se reúne para traçar metascontra a violênc ia (Foto: Blog CNNPV)
Infonet Cidade Noticias Compartilhar:
19/08/2012 13:47
Comunidade fará Caminhada pela Paz em PoçoVerdeManifestação acontecerá na sexta: protesto contra a violência
Em Poço Verde, a 145 km da capital, os estudantesestão mobilizando a comunidade para a Caminhadapela Paz, manifestação contra a violência a serrealizada na próxima sextafeira, dia 24, na própriacidade. Moradores e profissionais de váriossegmentos da sociedade já aderiram à manifestaçãoque passará por várias ruas da cidade, alcançandoa Praça do Triângulo e o Centro de Comercializaçãode Agricultura Familiar.
Os organizadores da manifestação já começaram acolher assinaturas para um abaixoassinado parasolicitar ao governador Marcelo Déda e ao ComandoGeral da Polícia Militar para aumentar o efetivo policial no município e adotar medidasque possam minimizar os problemas que a população tem enfrentado em função doaumento da violência.
De acordo com informações da estudante Êmile Matos, 20, a população estáinconformada com a onda de violência e os estudantes decidiram deflagrar ummovimento para cobrar atuação da polícia a partir do assassinato do estudante HorácioBarreto de Souza, 26, crime ocorrido na quintafeira, 16.
O crime chocou a comunidade. O estudante foi morto na porta da escola onde estudava.Dois homens ocupantes de uma motocicleta se aproximaram da vítima e dispararamvários tiros. O estudante foi socorrido com vida e morreu no hospital local no mesmo dia.Na semana passada, ocorreu também, segundo Êmile Mota, um sequestro. O dono dacasa em um povoado da cidade teria sido levado por assaltantes e largado em umaestrada porque o carro usado pelos marginais teria faltado gasolina. “E casos assim têmacontecido com muita frequência, não importa a hora: se de manhã, de tarde, meio diaou de noite”, comenta.
Na sextafeira, 17, os moradores se reuniram na sede da escola para avaliar a onde deviolência quando optaram por criar um “movimento formal de luta contra a violência”.
A mobilização já ganhou simpatia de vários segmentos, segundo a estudante ÊmileMatos, inclusive de comerciantes e da Igreja Católica. Os organizadores pretendemagendar uma audiência com o governador Marcelo Déda e com o comandante geral daPolícia Militar para discutir os problemas ocasionados pela violência no município. Naoportunidade, eles pretendem entregar o abaixoassinado.
Por Cássia Santana
Comentários (0) Os comentários são de inteira responsabilidade de seus autores enão representam o pensamento deste portal.
11/11/2015 Cidadãos de Poço Verde realizam caminhada pedindo paz
http://www.lagartense.com.br/10911/cidadaosdepocoverderealizamcaminhadapedindopaz 1/5
PUBLICIDADE PUBLICIDADE
Terçafeira, 10 de novembro de 2015
INÍCIO | NOTICIAS 24h | FOTOS | GUIA DO COMÉRCIO | CLASSIFICADOS | TV
| GOOGLE NO SITE buscar
/ Notícias
Portal Lagartense 7 Comentários Tweet 0
24/08/2012 17h15 Atualizado em 05/09/2012 11h57
Cidadãos de Poço Verde realizam caminhadapedindo pazMilhares de pessoas, entre cidadãos comuns, estudantes e comerciantes,participaram do ato, que teve apoio do comércio local, SMTT e igrejas
Aconteceu na manhã desta sextafeira(24) nacidade de Poço Verde um manifesto pedindo o fimda violência que assola o município.
Milhares de pessoas, entre cidadãos comuns,estudantes e comerciantes, participaram do ato,que teve apoio do comércio local, SMTT e igrejas.
Um pano preto foi fixado nas residências eestabelecimentos comerciais, como sinal de lutopelas vidas ceifadas pela violência.
O ato faz parte do Movimento Unidos Pela Paz, que nasceu após a trágica morte do estudanteHorário Barreto de Souza, 26 anos, assassinado com vários tiros no última dia 16, em frente aescola que estudava. O crime abalou mais ainda a cidade, que sofre com tentativas de seqüestro,roubos e tráfico de drogas.
Segundo a estudante Lorendana Alves, uma das organizadoras da caminhada, um abaixo assinadotambém está sendo preparado e deverá ser entregue nas mãos do Governador Marcelo Déda.
Estamos recolhendo 4.000 assinaturas, que representa cerca de 18% da população, para entregarnas mãos do Governador Déda, pedindo medidas imediatas para desfazer o caos que se instaurouna nossa cidade falou Lorendana.
últimasNotícias» 10/11/2015 | 22h20STJ nega provimento ao recurso deValmir Monteiro
» 10/11/2015 | 22h06Ciclista lagartense precisa de nossasolidariedade
» 10/11/2015 | 21h42Augustu´s divulga as atrações do FestVerão 2016
» 10/11/2015 | 21h03Delegado garante ligação de taxistacom sequestradores
» 10/11/2015 | 17h24Homem sofre acidente após perdercontrole de carro
» 10/11/2015 | 16h42II AgroNordeste abre debates sobre apolítica de agrotóxicos no Brasil
» 10/11/2015 | 16h38Projeto de lei visa reduzir número deroubos de celulares
» 10/11/2015 | 16h09Presidente da Deso diz não ter comopagar o 13º salário
» 10/11/2015 | 16h07Moacir Poconé é oficialmente maisum papajaca
» 10/11/2015 | 15h47Alunas são obrigadas a tirar a roupadurante assalto
» 10/11/2015 | 15h06Polícia Civil se pronuncia sobredesaparecimento de jovemlagartense
» 10/11/2015 | 14h34Curso para o concurso de Itabaianaoferece aulas aos sábados emLagarto
» 10/11/2015 | 11h57Karatê lagartense conquista primeirolugar geral em campeonato
» 10/11/2015 | 11h45
PUBLICIDADE
13Curtir Compartilhar
ANEXO 11Repercussão na Imprensa sobre a ação do grupo de extermínio