banco central do brasil analista macroeconomia e economia brasileira do bacen area 3 aula 09

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    AULA NOVE

    Ol!

    A proposta das duas prximas aulas a de ser a mais objetiva possvel,

    ou seja, farei a abordagem dos contedos de forma direta, debatendo e

    apresentando os principais temas e assuntos pertinentes a cada item do

    contedo programtico. No menos importante, destaco a voc que

    fundamental para o completo entendimento e fixao dos pontos a serem

    narrados, que voc se dedique um pouco ao estudo da matria demacroeconomia presente no concurso, visto que esta permite uma sustentao

    terica de tudo que ser debatido no curso de Economia Brasileira.

    So os seguintes os pontos a serem abordados:

    Retrospectiva da Economia Brasileira (fundamentos para

    abordagem da Economia Brasileira). II PND.

    No elevado o quantitativo de questes cobrado pelo CESPE em provas

    anteriores, especificamente relacionado aos temas desta aula. Assim sendo,

    como forma de consolidao do contedo, optei por adicionar questes

    cobradas por outras bancas examinadoras.

    Vamos aula.

    Um grande abrao e bons estudos!

    Mariotti

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    1. Retrospectiva da Economia Brasileira

    1.1 Introduo

    O perodo colonial no Brasil foi marcado pela existncia de monoculturas

    produtivas e/ou exploratrias, as quais tinham como destino o atendimento

    aos mercados consumidores europeus (exportao dos bens) e, tambm, o

    enriquecimento dos pases conquistadores e financiadores da explorao

    colonial no pas.

    De maneira objetiva, dividimos est primeira abordagem realizando uma

    anlise sucinta em relao ao perodo colonial, com nfase na produo de

    acar, explorao da minerao e, por fim, a expanso da lavoura cefeeira.

    1.1 A economia brasileira no perodo colonial: a economia

    aucareira do Nordeste

    A ocupao do Brasil colocou o governo portugus diante de um novo

    desafio: tornar rentvel um territrio ocupado por uma populao que no

    produzia qualquer excedente que pudesse ser comercializado. Na frica e no

    Oriente, os portugueses encontraram povos com economias complexas e

    variadas, de comrcio intenso e diversificado. Nessas regies, pela fora ou

    pela persuaso, foi possvel explorar as riquezas produzidas pela populao

    local, como metais preciosos, produtos agrcolas e especiarias.

    No Brasil, a populao era nmade, vivia da caa e da pesca, no

    praticava o comrcio nem utilizava dinheiro; produzia apenas o necessrio

    para o prprio sustento.

    As sociedades indgenas, alm disso, estavam fundamentadas na

    independncia das tribos, sem ter um Estado organizado. Muitas das

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    sociedades africanas e orientais, pelo contrrio, estavam divididas em camadas

    sociais hierarquizadas e sobre as quais o Estado tinha forte domnio, o que

    facilitava a explorao econmica por parte dos europeus.

    Diante dessas caractersticas, a colonizao do pas no esteve nos

    planos da burguesia mercantil portuguesa nos primeiros trinta anos aps a

    viagem de Cabral. Entretanto, havia grande interesse em garantir o domnio

    sobre aquelas terras. Notcias de riquezas minerais exploradas por um reino

    localizado no interior do continente (os incas) fortaleciam esse propsito.

    O meio mais eficaz para consolidar a posse das terras era promover a

    colonizao. Mas para isso era necessrio criar na colnia uma economia em

    condies de gerar produtos que pudessem ser comercializados, com bons

    lucros, na Europa. Nesse processo, Portugal foi novamente pioneiro. Tornou-se

    o primeiro pas europeu a transferir para terras distantes recursos econmicos

    capazes de gerar grandes lucros, como mo de-obra, capital e maquinrio.

    Em 1530, uma grande expedio comandada por Martim Afonso de

    Sousa acabou se tornando marco nesse processo de colonizao. Seus

    principais objetivos eram: percorrer o litoral e, quando julgasse necessrio,

    explorar o interior em busca de ouro e prata; expulsar os franceses que

    encontrasse; organizar ncleos de povoamento e defesa; expandir o domnio

    portugus at o curso de gua que se tornaria conhecido como rio da Prata.

    Localizado em terras que no pertenciam a Portugal pelo Tratado deTordesilhas, este era considerado a porta de entrada para as ricas minas de

    prata do Imprio Inca.

    Ao chegar Amrica, Martim Afonso dividiu a expedio: uma parte

    seguiu para o norte, a fim de explorar a foz do rio Amazonas; a outra,

    comandada pelo prprio Martim Afonso, rumou para o sul, em busca da foz do

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    rio da Prata. Na volta, em 1532, fundou So Vicente, no litoral do atual estado

    de So Paulo. Esse ncleo inicial seria a primeira vila da Amrica portuguesa.

    A ocupao das terras americanas s se tornou possvel na medida em

    que a cana de acar mostrou-se adaptvel ao clima e ao solo da regio

    tropical. Mas, sobretudo, quando se percebeu que o acar era um produto

    rentvel, de grande aceitao no mercado europeu e capaz de gerar bons

    lucros.

    A experincia de Portugal como produtor de acar nas ilhas do Atlntico(Madeira e Cabo Verde) contribuiu para a escolha do produto, assim como de

    sua forma de produo. Por sorte, as condies naturais da colnia americana

    e das ilhas eram semelhantes. Ao lado disso, o acar era uma das especiarias

    mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu. Por essas caractersticas,

    podia atrair o capital necessrio para a implantao do empreendimento

    colonial, principalmente o holands.

    A explorao da colnia portuguesa, com o cultivo da cana de acar,

    assumiu trs caractersticas bsicas: grande propriedade, monocultura e

    trabalho escravo.

    A opo pela monocultura da cana de acar em grandes propriedades

    era decorrncia natural da poltica mercantilista. Os esforos coloniais

    deveriam estar voltados para a aquisio de produtos que pudessem sercomercializados com as naes europeias. Essa condio era preenchida pela

    lavoura de gneros agrcolas tropicais, como a cana de acar. O chamado

    Pacto Colonial, segundo o qual as colnias s perderiam comerciar com suas

    metrpoles, complementava os propsitos dessa poltica econmica.

    1.2Auge e declnio da minerao

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    Desde que chegaram Amrica, os portugueses sonhavam encontrar

    ouro e prata no territrio conquistado. Na tentativa de realizar o sonho, a

    Coroa organizou e incentivou inmeras expedies. Quando o ouro finalmente

    foi encontrado, nos ltimos anos do sculo XVII, uma grande agitao tomou

    conta da colnia. A notcia se espalhou rapidamente e pessoas das regies

    mais distantes, mesmo da Europa, passaram a se dirigir para a regio das

    minas.

    Os primeiros rumores surgiram em 1694, quando o sertanista

    Bartolomeu Bueno de Siqueira encontrou pequenas pepitas na serra deItaberaba. Os anos seguintes foram repletos de novas descobertas. Em 1698,

    Antnio Dias de Oliveira se deparou com um rico filo no lugar que viria a ser

    depois a cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto. De repente, a regio inteira se

    viu povoada por toda sorte de aventureiros.

    Na regio das minas, com um pouco de sorte, qualquer pessoa podia

    encontrar ouro. No incio, pelas caractersticas da regio, o minrio eraencontrado superfcie da terra ou no leito dos rios. A explorao das minas,

    entretanto, era rigidamente regulamentada. Toda descoberta devia ser

    comunicada de imediato Intendncia das Minas, que enviava funcionrios

    para estudar o terreno e dividir a jazida em datas, nome que recebiam as

    propriedades mineradoras. A vantagem do descobridor era escolher a primeira

    data. A Fazenda Real escolhia outra, que depois vendia. As restantes iam a

    leilo. Entre os critrios de aquisio estava o nmero de escravos que cadainteressado possua, que deveria ser compatvel com a potencialidade da rea.

    Minas pequenas ou quase esgotadas eram exploradas individualmente

    pelos faiscadores. Escravos tambm se dedicavam a essa atividade. Eles

    deviam entregar urna quantidade fixa de ouro ao seu senhor. Se conseguissem

    explorar um bom filo, tinham a possibilidade de comprar a prpria liberdade.

    Mas importante atentar para o fato de que a expectativa de vida de um

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    escravo na regio das minas era inferior dos que viviam nos engenhos de

    acar.

    Em grave crise econmica, o governo portugus tratou de reter parte

    considervel do ouro produzido na colnia. Alm das datas a que tinha direito

    ao ser descoberta urna jazida, a Coroa estabeleceu diversos impostos. O

    principal deles foi o quinto. De todo o ouro extrado na regio, o governo ficava

    com a quinta parte. Mas os mineradores encontraram sempre muitas maneiras

    de esconder o metal e vende-lo sem entregar a parte do rei.

    Criaram-se, ento, as Casas de Fundio, s quais deveria ser entregue

    todo o ouro extrado. Ali, o metal era fundido, transformado em barras

    marcadas com o selo real e devolvido ao dono, com o imposto cobrado. Quem

    fosse apanhado com ouro sem o selo real podia perder todos os bens ou

    acabar seus dias numa colnia portuguesa da frica.

    Com o tempo, para garantir a parte do rei, foi estabelecido tambm queos impostos deveriam atingir sempre o mnimo de 100 arrobas (1500 quilos).

    Caso contrrio, seria decretada a derrama. Nesse caso, a populao era

    obrigada a completar as 100 arrobas em contribuies pessoais ou impostos

    cobrados sobre o comrcio, escravos, etc.. Durante a derrama, eram

    suspensas as garantias individuais, podendo ocorrer invaso de residncias,

    prises e confiscos.

    Se considerarmos que aps 1762, devido queda de produo, a

    arrecadao dos impostos nunca mais atingiu 100 arrobas, podemos imaginar

    a tenso em que vivia a regio das minas. A insatisfao popular com a poltica

    do governo gerou, durante o perodo da minerao, diversas rebelies. A

    principal delas foi a Inconfidncia Mineira.

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    1.2.1 A decadncia das minas

    O ouro encontrado na regio das Minas Gerais era, em sua maior

    parte, de aluvio, isto , foi depositado, ao longo de milnios, no leito dos

    rios e nas margens prximas, pelas guas que erodiram rochas matrizes.

    Da a sua pequena concentrao e o rpido esgotamento das jazidas. As

    rochas matrizes, alm de raras, no puderam ser plenamente exploradas

    nos sculos XVII e XVIII, principalmente pelos deficientes recursos e

    conhecimentos tcnicos dos mineradores.

    Contribuiu ainda para a decadncia da economia aurfera a sua forma

    de explorao. Os mineiros entulhavam os vales com a terra das

    montanhas, cobriam com os resduos da lavagem do ouro terrenos ainda

    no explorados, obstruam o leito dos rios com areia e pedras e

    comprometiam a vida dos escravos.

    Destaca-se que a prpria ao do governo pouco colaborou paramanter o nvel da produo; ao contrrio, sua poltica ajudou a acelerar

    esse processo, j que sua nica preocupao eram os impostos; para a

    queda da produo, as autoridades s tinham a fraude como explicao;

    no havia preocupao alguma em melhorar as tcnicas de explorao; os

    funcionrios responsveis entendiam de regulamentos e tributos e nada de

    minerao; o poder pblico era repressivo, respondia com castigos e

    punies grande parte das crticas dos colonos.

    A riqueza do ouro, no entanto, foi ainda mais efmera, pois no

    possibilitou qualquer acumulao de capital. Grande parte do dinheiro

    arrecadado pelo governo foi gasto com a importao de produtos

    manufaturados da Inglaterra; nada ficou na colnia, nem mesmo em

    Portugal.

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    A descoberta do ouro deslocou o centro econmico colonial das

    capitanias do Nordeste para a regio das minas. Isso provocou

    significativas mudanas na administrao colonial.

    1.3 A economia brasileira no sculo XIX: expanso da lavoura

    cafeeira; transformaes no final do perodo: abolio do

    escravismo, incio do desenvolvimento industrial.

    Na primeira metade do sculo XVIII, a minerao atraiu boa parte da

    populao que antes se dedicava a outras atividades. Alm disso, osprodutos coloniais j vinham sofrendo forte concorrncia no mercado

    internacional, como a do acar produzido pelos holandeses nas Antilhas.

    Esses dois aspectos levaram a agricultura colonial beira da falncia.

    Mas, no final do sculo, com a decadncia da minerao, as

    atividades agrcolas ressurgiram, reforando o poder econmico dos

    plantadores. A recuperao da agricultura ocorreu devido combinao dediversos fatores: oa aumento da populao europia, com a ampliao dos

    mercados consumidores de gneros tropicais; a Revoluo Industrial, que

    provocou o crescimento do consumo de matrias primas, estimulando sua

    produo; a substituio dos tecidos de linho e l pelos de algodo,

    cultivado na Amrica; lutas pela independncia que envolveram as colnias

    inglesas da Amrica do Norte e as francesas das Antilhas, diminuindo o

    potencial dos concorrentes no comrcio de produtos agrcolas; polticasistemtica de aclimatao de gneros agrcolas adotada pelo governo

    portugus na poca de Pombal.

    Os trs primeiros fatores reforavam a necessidade do livre comrcio,

    o que contrariava frontalmente os interesses da metrpole. A questo

    econmica sofreu assim uma espcie de "politizao", transformando

    alguns dos colonos em firmes partidrios da liberdade comercial.

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    1.3.1 O Caf

    Introduzido no Brasil em 1727, o caf s ganhou importncia definitiva

    um sculo depois. A independncia dos Estados Unidos, em 1776, contribuiu

    para sua expanso, j que os norte-americanos tornaram-se grandes

    consumidores do produto. No sculo XIX, a exportao de caf cresceria sem

    parar. Entre 1821 e 1830, foram exportadas pouco mais de 3 mil sacas de 60

    quilos. Na dcada de 1880, essa cifra ultrapassaria o nmero de 51 mil sacas.

    Durante o Reinado de Dom Pedro II o caf manteve a posio de maisimportante produto de exportao. Na receita das vendas externas brasileiras,

    entre 1840 e 1890, enquanto caa a participao do acar (26,7% para 9,9%)

    e do algodo (7,5% para 4,2%), a do caf subia de 41,4% para 61,5%.

    A partir de 1860, os tradicionais dficits na balana comercial deram

    lugar a supervits. Em certas camadas sociais e regies melhorou o padro de

    vida e surgiu algum desenvolvimento tcnico (fbricas, meios de transporte ecomunicao).

    Paradoxalmente, a extraordinria importncia do caf constituiria a

    riqueza e a fragilidade da economia brasileira. Sem uma diversificao

    consistente das atividades produtivas, a economia passou a depender quase

    exclusivamente da monocultura cafeeira. Assim, qualquer crise internacional

    ou problema na produo e no comrcio do caf arrastava consigo a economiado pas. Isso seria mais comum no perodo republicano.

    No incio, a expanso cafeeira fundamentou-se na antiga estrutura da

    economia agrcola brasileira: grande propriedade, monocultura de exportao

    e explorao da mo de obra escrava. Mais tarde, revelou uma face dinmica

    ao incorporar o trabalho livre de imigrantes europeus.

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    Apesar da existncia de dificuldades, em meados do sculo XIX, alguns

    fatos possibilitaram a formao de um pequeno surto industrial no pas. Em

    primeiro lugar, a industrializao foi favorecida pela dificuldade do pas em

    pagar importaes de manufaturados. Isso propiciou a aprovao da Tarifa

    Alves Branco, em 1844, que elevou as taxas de importao para 30%, e at

    para 60%, no caso de alguns produtos. As novas tarifas funcionaram como

    barreira protecionista e tornaram os produtos nacionais mais competitivos no

    mercado interno.

    A proibio do trfico de escravos, em 1850, foi outro fato importantenesse processo. Em torno dessa atividade, concentravam-se vultosas somas de

    capitais que, com a proibio, puderam ser redirecionados para outras

    atividades produtivas. Entretanto, parte desse capital acabou tambm

    deslocado para a importao de produtos europeus, aumentando a

    concorrncia.

    Na ltima dcada do Imprio ocorreu um surto considervel deindustrializao. Ele foi possvel por que parte dos lucros obtidos na produo

    e, sobretudo na comercializao do caf passou a ser investida na instalao

    de fbricas e na importao de trabalhadores assalariados de origem europia.

    A chegada dos imigrantes, o desenvolvimento das cidades e o surto

    industrial estimularam o surgimento de uma classe mdia constituda de

    profissionais liberais, pequenos comerciantes e industriais, militares efuncionrios pblicos civis.

    A grande base de sustentao do imprio eram os donos de terras e

    escravos. Com a abolio, a monarquia perdeu essa fora de sustentao. A

    campanha abolicionista havia agitado o pas de norte a sul e, interligando-se

    com a campanha republicana, desmoralizou as autoridades imperiais, cujo

    poder desmoronava.

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    Ao lado disso, a industrializao e a expanso do caf produziram novos

    grupos sociais desejosos de participao poltica. Um desses grupos eram os

    novos cafeicultores do Noroeste e do Oeste paulista, que lutavam por maior

    autonomia para as provncias. Afirmavam que somente com a Repblica isso

    seria possvel.

    1.3.2 A hegemonia do caf

    O mais importante produto brasileiro teve a decisiva contribuio do

    brao imigrante para chegar a representar 70% do comrcio internacional do

    pas. So Paulo, na poca o maior produtor de caf do pas, recebeu cerca de 2

    milhes de imigrantes entre 1889 e 1930. Nem todos acabaram nas lavouras

    de caf. Muitos foram para os centros urbanos, dinamizados em grande parte

    pelos recursos e capitais gerados com a produo e exportao do caf.

    A atividade cafeeira sempre foi pontilhada por crises. O aumento da

    procura internacional provocava a elevao da exportao, assim como do

    preo do produto. Isso fazia com que novos agricultores cultivassem caf. Com

    o aumento da produo, passava a existir desequilbrio entre oferta e procura.

    Em consequncia havia superproduo e os preos caam, levando a economia

    nacional crise. Com o tempo, o governo passou a intervir na produo e na

    venda do caf; o preo do produto passou a ser ento resultado de uma

    poltica deliberada do governo, que representava os interesses dos

    fazendeiros.

    Em 1895, quando uma superproduo fez os preos internacionais

    despencarem, apareceram os primeiros estudos destinados a evitar futuros

    prejuzos. Os governantes de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais

    firmaram o Convnio de Taubat (cidade paulista). Esse acordo foi aceito pelo

    governo federal e sua aplicao representou a primeira interveno estatal

    para valorizar um produto, em benefcio dos cafeicultores.

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    Em sntese, o Convnio implementou as seguintes medidas: garantia de

    preos mnimos para os produtores; criao de dificuldades para a exportao

    de caf inferior ao tipo 7, que deveria ser consumido no pas; organizao de

    servio permanente de propaganda do caf; impostos elevados para dificultar

    a ampliao das reas de cultivo; compra e reteno, pelo governo, das sobras

    de exportao para impedir a queda dos preos.

    Para financiar tais medidas, o governo poderia solicitar emprstimos no

    exterior, at o limite de 15 milhes de libras esterlinas. Com o objetivo de

    valorizar o produto, o governo retirou do mercado, em quatro anos, oitomilhes e meio de sacas de caf.

    Todo este processo, muito embora tenha tido um efeito positivo sobre o

    preo do caf, acabou debilitando por consequncia da retrao dos mercados

    internacionais devido Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O equilbrio foi

    restabelecido apenas com uma forte geada em 1918, que destruiu parte dos

    cafezais paulistas e reduziu a safra.

    Novas crises iriam acontecer. Em 1924 foi criado o Instituto Brasileiro do

    Caf, com poderes para reter a produo sem limites de quantidade. Era uma

    tentativa de resolver o problema definitivamente, mas este perdurou,

    arrastando o pas a uma crise ainda mais sria a partir de 1929. Assim, de

    crise em crise, a economia brasileira seguiria, por muito tempo, dependendo

    do caf e dos mercados internacionais.

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    2. A economia brasileira na primeira metade do sculo XX: as duas

    guerras mundiais; a depresso dos anos trinta e seus reflexos; o

    processo de industrializao: fases, caractersticas.

    O processo de industrializao, e as estratgias de desenvolvimento do

    pas, originaram-se a partir da crescente evoluo das trocas internacionais.

    Com a consolidao da hegemonia britnica, aps a segunda revoluo

    industrial, e a efetiva dependncia de pases agrcolas riqueza da coroa

    inglesa, incluindo-se o prprio Brasil, passa-se a se evidenciar a insero do

    pas no processo de industrializao, especialmente no Estado de So Paulo. Aatividade produtiva era toda baseada na produo cafeeira, responsvel pela

    gerao de riqueza na economia nacional. Com a ecloso da Primeira Guerra

    Mundial (19141918), o Brasil, cuja economia estava voltada para o mercado

    externo, sofreu imediatamente suas consequncias, No s porque, a partir de

    1917, participou diretamente do conflito, mas, sobretudo, porque a guerra

    desorganizou o mercado internacional, trazendo novas dificuldades para a

    exportao do caf, que outra vez teve o seu preo em declnio.

    Essa nova situao determinou com que o governo, internamente,

    promovesse a valorizao do caf, valorizao esta suportada pelo Convnio

    de Taubat. A crise cafeeira foi resolvida em 1918, com a geada e o fim da

    guerra, quando ento a economia internacional retomou o seu ritmo.

    A principal consequncia da Primeira Guerra foi, entretanto, a alteraonas condies do comrcio cafeeiro, em virtude da formao de grandes

    organizaes financeiras que passaram a atuar, cada qual em seu setor,

    praticamente sem concorrncia. Resumidamente, pode-se dizer que a

    economia cafeeira do Brasil passou a ser totalmente dominada pela Inglaterra.

    Em resposta nova situao, criou-se em So Paulo o Instituto do Caf,

    destinado a controlar o comrcio exportador do produto, regulando as entregas

    ao mercado e mantendo o equilbrio entre a oferta e a procura.

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    Sendo o Brasil responsvel pelo fornecimento de cerca de 60% do

    consumo mundial, o Instituto do Caf tinha em mos todos os recursos de que

    necessitava, no s para manter o preo, como tambm para forar altas

    artificiais. O instituto, que tinha como objetivo regular o escoamento do caf,

    transformou-se num estocador cada vez maior do produto.

    Contradies da valorizao precisamente por causa dessa poltica de

    valorizao permanente, que mantinha artificialmente o preo do caf,

    estimulou-se ainda mais a sua produo (o nmero de cafeeiros em 1924 erade 949.000.000, passando em 1930 para 1.155.000.000). Essa situao

    artificial no poderia ser mantida indefinidamente, pois a capacidade de

    estocagem estava diretamente ligada ao apoio financeiro que se obtinha no

    exterior. Em 1929, como veremos adiante, a crise geral do capitalismo tornou

    insustentvel o esquema.

    2.1 O Processo de Industrializao

    At fins do sculo XIX, a economia brasileira era essencialmente

    agroexportadora. Na regio amaznica, produzia-se e se exportava borracha.

    No norte e nordeste, acar, algodo, fumo e cacau dominavam. No Rio de

    janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo e So Paulo, o caf ocupava o primeiro

    lugar. No Rio Grande do Sul produziam-se couro, pele, mate e se exportava

    para outras regies do Brasil o charque.

    Porm, no final do sculo XIX, esse quadro dominado pela economia

    agroexportadora comeou a se transformar. Entre 1886 e 1894, a

    industrializao ganhou impulso, embora a sua origem fosse anterior a 1880.

    Contudo, o surgimento e o desenvolvimento das indstrias estiveram

    intimamente relacionados ao desempenho daquela economia primrio-

    exportadora. Isso at a crise de 1929, quando ento a economia

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    agroexportadora foi superada pela industrializao, que passou a ocupar o

    centro vital da economia.

    A industrializao no ocorreu em todo o pas simultaneamente e,

    tambm, com a mesma intensidade. O seu plo dinmico situava-se no

    sudeste, particularmente em So Paulo, onde se localizava a mais poderosa

    economia exportadora: a cafeicultura. A economia cafeeira paulista,

    desenvolvendo-se no contexto da transio do trabalho escravo para o livre, e

    com ampla possibilidade de expanso nas terras frteis do Oeste, converteu-se

    na mais prspera das economias agroexportadoras. Por essa razo, inclusive,que neste estado a industrializao desenvolveu-se mais rapidamente.

    De incio, a industrializao fazia parte da economia cafeeira, ou melhor,

    do "complexo cafeeiro", pois a produo e a exportao do caf dependiam de

    uma complexa organizao de fatores. Alm da esfera propriamente de sua

    produo, o complexo inclua ainda o seu processamento, um sistema de

    transporte (ferrovias), comrcio de importao e exportao, bancos e, porfim, indstrias. O processo de industrializao acompanhou o ritmo do setor

    exportador. Em momentos de expanso, os investimentos industriais

    aumentavam, e se contraam em momentos de retrao do mercado

    internacional.

    At a Primeira Guerra Mundial o Estado no adotou nenhuma poltica de

    estmulo industrializao. No entanto, ela era estimulada direta ouindiretamente quando o governo aumentava as tarifas alfandegrias e, sem o

    pretender, acabava protegendo as indstrias da concorrncia estrangeira, ou

    mesmo quando desvalorizava a moeda nacional desestimulando as

    importaes.

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    A indiferena do governo em relao industrializao tinha a ver com o

    modelo econmico agroexportador brasileiro. Segundo esse modelo, o Brasil

    exportava produtos tropicais e, em troca, importava produtos manufaturados.

    O primeiro passo no sentido da industrializao foi dado com a

    substituio dessa pequena produo por unidades industriais maiores. E isso

    comeou a acontecer no final da dcada de 1870. No bojo desse processo,

    alterou-se tambm a estrutura do mercado, com a gradual eliminao do

    intermedirio no comrcio exportador/importador: os exportadores

    (estrangeiros) foram direto aos produtores e os importadores espalharamrepresentantes pelo interior.

    Com as poderosas casas importadoras controlando o mercado, agora em

    contato direto com os consumidores, estava claro que o desenvolvimento

    industrial s seria vivel se contasse com uma rede de distribuio do mesmo

    tipo. Dessa situao, saram duas solues: a primeira foi a dos prprios

    importadores montando indstrias, e a segunda, a dos industriais criando asua rede comercial, dando origem aos importadores-industriais e industriais-

    comerciantes, respectivamente.

    O processo de industrializao, que vinha, desde o final do sculo XIX,

    crescendo de acordo com a expanso das exportaes, ganhou uma nova

    direo a partir da Primeira Guerra.

    O primeiro efeito da guerra foi a drstica reduo dos investimentos

    industriais. A produo, todavia, se expandiu em 1915-1916 com a utilizao

    plena da capacidade instalada, mas comeou a declinar em 1917 e o seu

    crescimento tornou-se negativo no ano seguinte, pela falta de matrias-

    primas, mquinas e equipamentos importados.

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    O principal efeito da guerra sobre a indstria foi a mudana da atitude do

    governo. At ento, no existia o que poderamos chamar de poltica industrial.

    A guerra, entretanto, evidenciou os limites e as inconvenincias de um pas

    destitudo de um parque industrial compatvel. Por esse motivo, o governo

    comeou a adotar consciente e deliberadamente um incentivo para o

    desenvolvimento industrial, a fim de promover a sua diversificao. E essa

    atitude do governo manteve-se ao longo dos anos de 1920.

    No final dos anos 20, a economia capitalista internacional deparou com

    uma profunda crise de depresso: a crise de 29. Conforme veremos maisadiante, essa crise eclodiu nos Estados Unidos e teve importantes repercusses

    internacionais, atingindo, inclusive, o Brasil, quando ento a economia cafeeira

    se desorganizou.

    Nos anos que se seguiram crise, com o apoio governamental, a

    industrializao se intensificou e obedeceu ao objetivo de substituir as

    importaes. Porm, o processo de industrializao s se completaria nadcada de 1950, com a implantao da indstria pesada - o importante setor

    em que se concentram mquinas que fabricam mquinas para outras

    indstrias.

    Os anos 20 A partir da abolio da escravatura em 1888, o

    desenvolvimento do Brasil seguiu um padro marcadamente capitalista, tanto

    no segmento agrcola (caf) quanto no urbano (industrializao). No planointernacional, o perodo que vai da Segunda Revoluo Industrial (final do

    sculo XIX) crise de 29 representou a fase final de uma era dominada pelo

    capitalismo liberal, caracterizado pela no interveno estatal na economia e,

    portanto, na crena da autorregulao da economia atravs do livre jogo do

    mercado.

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    Em 1929 houve uma violenta crise do capitalismo, que comeou com a

    quebra da Bolsa de Nova York e propagou-se para o mundo inteiro. A crise de

    29 caracterizou-se pela superproduo, e milhares de empresas, incluindo

    muitos bancos, faliram. Em consequncia, milhes de trabalhadores ficaram

    desempregados. Tornou-se claro, a partir daquele momento, que as livres

    foras de mercado (oferta e demanda) no seriam capazes de levar

    economia novamente ao equilbrio.

    2.2 Da industrializao Brasileira dos anos 1930 ao fim da

    primeira parte do sculo XX

    A evoluo do entendimento econmico, devidamente aplicado

    economia brasileira, passou por um grande processo de mudanas a partir da

    ascenso de Getlio Vargas Presidncia do pas, ainda nos anos de 1930.

    Comeava ali o chamado modelo econmico de Substituio de

    Importaes, o qual consistia na troca de compra da produo externa de

    bens e servios pela escolha de produo interna ao pas. Com a queda de

    Getlio e, posteriormente, com a chegada do mineiro Juscelino Kubitschek

    presidncia da repblica, foi implantado no pas o chamado Plano de Metas.

    Passamos a discorrer mais criteriosamente sobre este perodo, de forma

    a estruturarmos os impactos econmicos sofridos pela economia, bem como o

    modelo de desenvolvimento adotado pelo pas no ps-guerra (fim da segundaguerra mundial).

    2.2.1 O Processo de Substituio de Importaes

    Conforme verificamos, no perodo compreendido entre a proclamao

    da Repblica at a chegada de Getlio Vargas ao poder, a economia

    brasileira dependia basicamente do bom desempenho das exportaes, que

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    na poca se restringiam a algumas poucas commodities agrcolas,

    especialmente o caf, caracterizando a economia brasileira como

    essencialmente agroexportadora. O bom desempenho dependia das

    condies do mercado internacional de caf, sendo a varivel-chave nesta

    poca o seu preo internacional. As condies deste mercado no eram

    totalmente controladas pelo Brasil. Mesmo sendo o principal produtor de

    caf, outros pases tambm influam na oferta, sendo boa parte do mercado

    controlado por grandes companhias atacadistas que especulavam com

    estoques (na medida em que se buscava um aumento do preo do produto

    no mercado internacional, restringia-se a oferta).

    A demanda dependia das oscilaes no crescimento mundial,

    aumentando em momentos de prosperidade econmica e retraindo-se quando

    os pases ocidentais (especialmente EUA e Inglaterra) entravam em crise ou

    em guerra. Deste modo, as crises internacionais causavam problemas muito

    grandes nas exportaes brasileiras de caf, criando srias dificuldades para

    toda economia brasileira, dado que praticamente todas as outras atividadesdentro do pas dependiam direta ou indiretamente do desempenho do setor

    exportador cafeeiro.

    As condies do mercado internacional de caf tendiam a tornarem-se

    mais problemticas na medida em que as plantaes do produto no Brasil se

    expandiam. Nas primeiras dcadas do sculo XX a produo brasileira cresceu

    desmensuradamente. O Brasil chegou a produzir sozinho mais caf do que oconsumo mundial, obrigando o governo a intervir no mercado, estocando e

    queimando caf. Neste perodo as crises externas sucederam-se em funo

    tanto de oscilaes na demanda (crises internacionais), como em decorrncia

    da superproduo brasileira do gro.

    Em 1930, estes dois elementos se conjugaram, a produo nacional era

    enorme e a economia mundial entrou numa das maiores crises de sua histria.

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    A depresso no mercado internacional de caf logo se fez sentir e os preos

    vieram abaixo. Isto obrigou o governo a intervir fortemente, comprando e

    estocando caf, desvalorizando o cmbio com o objetivo de proteger o setor

    cafeeiro1 e ao mesmo tempo sustentar o nvel de emprego, de renda e de

    demanda agregada. Este conjunto que problemas deixava claro que a situao

    de dependncia da economia brasileira, especialmente das exportaes de um

    nico produto agrcola, era insustentvel.

    A crise dos anos 30 foi um momento de ruptura no desenvolvimento

    econmico brasileiro; a fragilizao do modelo agroexportador trouxe tona aconscincia sobre a necessidade da industrializao do pas como forma de

    superar os constrangimentos externos e o subdesenvolvimento. No foi o incio

    da industrializao brasileira (esta j havia se iniciado desde o final do sculo

    XIX), mas o momento em que um novo modelo econmico, sustentado por um

    novo governo, passou a ser meta prioritria.

    Este objetivo, porm, envolvia grandes esforos em termos de geraode poupana (dinheiro utilizado em investimentos produtivos) e sua

    transferncia para a atividade industrial. Isto s seria possvel com uma

    grande alterao na poltica econmica vigente, baseado no rompimento com o

    Estado oligrquico e descentralizado da Repblica Velha, alm da transferncia

    e centralizao do poder e dos instrumentos de poltica econmica nas mos

    do Governo Federal. Este foi o papel desempenhado pela Revoluo de 30.

    Dela decorreram o fortalecimento do Estado Nacional e a ascenso de novasclasses econmicas ao poder, o que permitiu colocar a industrializao como

    meta prioritria, como um projeto nacional de desenvolvimento.

    A forma assumida pela industrializao foi o chamado Processo de

    Substituio de Importaes (PSI). Devido ao estrangulamento externo ora

    1

    A desvalorizao do cmbio faz com que cada unidade de dlar norte-americano compre mais unidades de moedanacional (cruzeiro). Nesta condio existe um estmulo compra de caf.

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    existente, gerado de forma especial pela crise internacional ocasionada pela

    quebra da Bolsa de Nova York, houve a necessidade de produzir internamente

    o que antes era importado, defendendo-se dessa forma o nvel de atividade

    econmica interna (produo interna). A industrializao feita a partir

    deste processo de substituio de importaes foi uma industrializao

    voltada para dentro, ou seja, que visou atender o mercado consumidor

    interno.

    O modelo de Substituio de Importaes consistiu no processo forado

    de industrializao brasileira, como forma de superao dos problemasexternos e, consequentemente, da mudana da pauta exportadora do pas no

    mdio prazo.

    Em linhas gerais, pode-se dizer que o PSI foi derivado do chamado

    processo de estrangulamento externo, referenciado na queda no valor das

    exportaes de produtos agrcolas, mas com a crescente demanda interna por

    bens importados.

    A poltica de PSI teve continuidade durante o perodo de sada e retorno

    de Vargas ao poder, o que significou, em linhas gerais, o fim inequvoco da

    dependncia externa do pas exportao cafeeira.

    2.2.2 As polticas de interveno do Estado na primeira metade

    da dcada de 1950

    No cenrio internacional Ps-Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a

    grande rivalidade entre os EUA e a Unio Sovitica, que no aspecto econmico

    coincidiu com o perodo de escassez de dlares. O Brasil passou por sucessivas

    crises de Balano de Pagamentos, o que fez com que o governo abandonasse

    literalmente o aspecto liberal das polticas econmicas e assim adotasse um

    modelo de desenvolvimento industrial com a relevante participao estatal.

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    O elevado volume de importaes da economia nacional, no perodo

    compreendido entre 1945-1955, levou o governo adoo de medidas de

    controle do cmbio como forma de minimizar os impactos sobre o balano2.

    O carter social do governo Vargas levou publicao de uma extensa

    legislao, especialmente trabalhista, que beneficiou grande parte dos

    trabalhadores. No plano de interveno econmica o governo Vargas fundou a

    Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Siderrgica Nacional, empresas

    estas que passariam a ter papel fundamental no processo industrial do pas.

    Ainda tomava corpo no mbito da interveno econmica promovida por

    Vargas a necessidade de financiamento do desenvolvimento econmico, o que

    coincidiu com a criao do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico

    BNDE3e da PETROBRAS.

    O BNDE foi fruto de profunda discusso entre o governo brasileiro, oBanco Mundial e o Eximbank4. A promessa de repasse de recursos para a nova

    Instituio no montante de US$ 500 milhes permitiu que o projeto fosse

    efetivado, criando-se o Banco em 1952. Muito embora tenha ocorrido uma

    srie de mudanas nas promessas feitas pelos bancos internacionais quanto ao

    repasse de recursos ao BNDE, o projeto da Instituio foi levado frente,

    entretanto, com um menor volume de recursos disponveis para a realizao

    de financiamentos.

    2 Conforme destacadp na nota de rodap 1, com a desvalorizao cambial, alm de estimular as exportaes,

    desestimula-se as importaes, haja vista que os produtos estrangeiros se tornam mais caros em termos da quantidade

    de moeda nacional.

    3Somente em 1982 o BNDE teve a sua denominao alterada para BNDES, isto em funo da criao de uma Diretoria

    destinada anlise de financiamento de projetos sociais.4Instituio Norte-Americana responsvel pelo financiamento de importaes e exportaes ao EUA.

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    A criao da PETROBRAS no ano de 1953 foi decorrente da intensa

    campanha iniciada no Ps-Guerra sob o ttulo O Petrleo nosso. Aps uma

    srie de discusses de cunho poltico foi dada empresa o Monoplio na

    extrao do petrleo5.

    3. A economia brasileira na segunda metade do sculo XX: a

    experincia do Estado investidor da dcada de 1970; Plano de Metas;

    Plano Trienal; PAEG; Planos Nacionais de Desenvolvimento e crise da

    dvida externa. (O Plano de Metas e a industrializao pesada)

    O Plano de Metas adotado no governo Juscelino Kubitschek pode ser

    considerado o auge deste modelo de desenvolvimento; o rpido crescimento

    do produto e da industrializao no perodo acentuou as contradies

    mencionadas. O principal objetivo do plano era estabelecer as bases de uma

    economia industrial madura no pas, introduzindo o mpeto ao setor produtor

    de bens de consumo durveis.

    O Plano foi dividido especialmente nos seguintes objetivos:

    Investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os

    setores de transporte e energia eltrica. No que diz respeito aos

    transportes, cabe destacar a mudana de prioridade que at o

    governo Vargas se centrava no setor ferrovirio e no governo JK

    passou para o rodovirio, que estava em consonncia com oobjetivo de introduzir o setor automobilstico no pas;

    Estmulo ao aumento da produo de bens intermedirios, como o

    ao, o carvo, o cimento, o zinco etc., que foram objetos de planos

    especficos;

    5O processo de distribuio foi atribudo s companhias estrangeiras.

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    Incentivos introduo dos setores de bens de consumo durveis e

    bens de capital (mquinas e equipamentos utilizados na produo);

    e

    Incentivo produo industrial privada por meio da concesso de

    crdito em massa.

    interessante observar a coerncia que existia entre as metas do plano,

    em que se visava impedir o aparecimento de pontos de estrangulamento na

    oferta de infra-estrutura e bens intermedirios para os novos setores, bem

    como, atravs dos investimentos estatais, garantir a demanda necessria para

    produo adicional.

    O cumprimento das metas estabelecidas foi bastante satisfatrio, sendo

    que em alguns setores estas foram superadas, mas em outros ficaram aqum.

    Com isso, observou-se rpido crescimento econmico no perodo com

    profundas mudanas estruturais, em termos da base produtiva do pas.

    No obstante, o plano trouxe uma srie de problemas. O financiamento

    dos investimentos pblicos, na ausncia de uma reforma fiscal6 condizente

    com as metas e os gastos estipulados, teve que se valer principalmente da

    emisso monetria7, observando-se no perodo uma grande acelerao

    inflacionria. Do ponto de vista externo, observou-se uma deteriorao do

    saldo em transaes correntes

    8

    e o crescimento da dvida externa. A

    6Melhoria dos perfis tanto da arrecadao de receita quanto dos gastos pblicos.

    7Uma das formas possveis do governo se financiar por meio da emisso monetria, ou seja, simplesmente rodando

    dinheiro novo e pagando os seus compromissos. Essa ao bastante temerria, visto que tende a provocar a

    depreciao do poder de compra da moeda, dado que um excesso de dinheiro pode gerar inflao, que faz com que

    uma simples unidade monetria compre cada vez menos bens.

    8 As transaes correntes referem-se a uma das rubricas do balano de pagamentos, na qual so computadas as

    exportaes e as importaes de bens, alm do pagamento dos juros da dvida externa contrada pelo pas (setorpblico e setor privado).

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    concentrao da renda ampliou-se devido ao desestmulo agricultura e o

    consequente investimento de capital intensivo na indstria9.

    3.1 Os Anos 1960 e 1970

    O incio dos anos 60 caracterizou-se pela primeira grande crise

    econmica do Brasil em sua fase industrial. Neste perodo ocorreu uma queda

    importante dos investimentos e a taxa de crescimento da renda brasileira caiu

    fortemente em funo da materializao das contradies inerentes ao

    processo de substituio de importaes. Para dar prosseguimento aodesenvolvimento econmico, tornava-se necessrio desenvolver o setor de

    bens de capital10 e ampliar o setor de bens intermedirios11 que estavam

    defasados, assim como a infra-estrutura12urbana.

    Vrios problemas se colocaram neste sentido, em especial a ausncia de

    mecanismos de financiamento adequados, tanto para o setor pblico, que se

    encontrava com elevado dficit pblico13

    devido aos gastos realizados no Planode Metas (durante o governo de Juscelino Kubitschek), como para o setor

    privado, em um momento em que as altas escalas de capital dos setores a

    serem implantados necessitavam de maiores recursos financeiros para

    viabilizar o investimento.

    Outro problema que se colocava ao prosseguimento do desenvolvimento

    era que tanto o setor de bens de capital como o setor de bens intermedirios,chamados setores de demanda derivada, isto , setores em que a demanda

    9Os industriais passaram a acumular a maior fatia da renda, retirando esta do campo e, consequentemente, piorando a

    distribuio dos recursos, visto que boa parte da populao ainda vivia em reas rurais.

    10Bens de capital referem-se produo de mquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo.

    11Bens intermedirios so bens considerados na produo de bens finais. Na produo de um pneu de automvel, por

    exemplo, utilizada malha de ao e borracha. Estes bens podem ser considerados como bens intermedirios.

    12

    Ruas, avenidas, redes de gua e esgoto.13

    Excesso de gastos em relao s receitas pblicas.

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    pelos produtos depende diretamente da demanda pelos produtos finais na

    economia. Em virtude da concentrao de renda da economia e da ausncia de

    mecanismos de financiamento ao consumidor14, a demanda pelos produtos do

    setor de bens de consumo durveis15 era bastante limitada, restringindo os

    impactos (estmulos) deste setor para o resto da economia. A consequncia

    desta situao foi a retrao nas taxas de crescimento e a acelerao

    inflacionria16.

    Era um consenso na poca a necessidade de reformas institucionais que

    promovessem um quadro favorvel retomada dos investimentos.

    O governo Jnio Quadros procurou adotar medidas que cunho

    ortodoxo17, baseando-se na conteno gasto pblico18 e de uma poltica

    monetria contracionista19. Muito embora as medidas tenham sido muito bem

    recebidas, no nvel poltico Jnio enfrentava srias dificuldades para aprovao

    destas, haja vista a inexistncia de base parlamentar no Congresso. Por meio

    de um gesto enigmtico Jnio renunciou, esperando contar com a populaopara que o trouxesse de volta ao poder e assim pudesse dar continuidade s

    suas pretenses. O resultado todos ns sabemos. Jnio no obteve sucesso, e

    ainda gerou um srio problema a ser administrado pelo Parlamento, pois a

    Constituio brasileira poca previa que o Vice-Presidente deveria assumir.

    Por meio de uma soluo de conciliao o Congresso alterou o regime do

    governo do pas do Presidencialismo para o Parlamentarismo, o que permitiu o

    14Concesso de crdito atravs de instituies financeiras.

    15Venda aos consumidores de geladeiras e televises, com produo incipiente no pas.

    16Neste caso a inflao ocorreu pelo lado da oferta, uma vez que existiam poucos produtos disponveis.

    17Ortodoxia, em economia, se refere adoo de polticas econmicas conservadoras, adequadas regra tradicional

    de conduo da prpria economia.

    18A conteno dos gastos pblicos contribui para a reduo do dficit pblico.

    19 Aliado conteno dos gastos, uma poltica monetria restritiva impede um financiamento monetrio dos

    compromissos do governo, contribuindo assim para minimizao do processo inflacionrio decorrente do excesso dedinheiro em circulao.

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    tempo de retorno de Joo Goulart ao Brasil, que se encontrava fora e, ao

    mesmo tempo, que Tancredo Neves assumisse como Primeiro Ministro

    interinamente.

    A fase do parlamentarismo do Parlamentarismo durou at 1962. Neste

    perodo o PIB do pas teve elevado crescimento, derivado da fase de

    maturao do Plano de Metas. No obstante, a inflao no perodo teve forte

    elevao, passando de 40% ao ano. Por meio de um plebiscito convocado por

    Jango, a populao votou pelo retorno do Presidencialismo, o que permitiu ao

    governante mais estabilidade para conduo da Economia.

    Liderado por Celso Furtado o governo lanou o Plano Trienal,

    baseando-se nas propostas de impulso ao crescimento econmico com

    combate inflao e a adoo de reformas sociais. Os objetivos especficos do

    Plano eram:

    Reduzir a taxa de inflao para 25% em 1963, e at 1965 alcanaro patamar de 10%;

    Crescimento dos salrios na mesma proporo do aumento da

    produtividade da mo-de-obra20;

    Realizao da Reforma Agrria tanto para reduo da crise social

    que afetava o pas poca quanto para permitir a elevao doconsumo de ramos industriais;

    20 Aumentado-se a produtividade da mo-de-obra, ou seja, a quantidade de bens a serem produzidos por um

    trabalhador em um mesmo tempo, aumenta-se os ganhos do empresrio e, desta forma, os ganhos dos trabalhadorespor meio do aumento salarial.

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    Busca pela renegociao de dvida externa, a qual gerava grande

    presso sobre o pagamento de juros e, consequentemente, sobre o

    balano de pagamentos; e

    Promover o crescimento do PIB de 7% a.a..

    Muito embora as propostas do Plano fossem positivas, no encontraram

    guarida. A vertente esquerdista do governo contribuiu para o isolamento do

    pas, de forma a impedir com que boa parte do plano obtivesse sucesso. A

    publicao da Lei n

    o

    4.131/62, que tratava do controle de capital estrangeiro

    21

    ,em que a remessa de lucros provenientes dos investimentos produtivos no pas

    ficava limitada a 10%, provocou uma sensvel reduo de novos investimentos

    na economia nacional.

    Afora estes aspectos, mas em linha com a vertente esquerdista da

    poltica, Jango resolveu aumentar o salrio do funcionalismo pblico e

    restabeleceu subsdios agrcolas abolidos no incio do programa, contribuindopara a escalada inflacionria no ano de 1963.

    A elevao das tenses no campo poltico, conjuntamente com a poltica

    de expropriao de empresas estrangeiras, contriburam para a insatisfao

    das foras armadas, cansadas de exacerbada filosofia adotada pelo governo. O

    resultado deste contexto foi queda de Joo Goulart, destitudo por meio do

    Golpe Militar de maro de 1964.

    Em resumo, pode-se dizer que tanto o governo de Jnio Quadros quanto

    o governo de Joo Goulart foram prisioneiros da situao poltica e, apesar de

    buscarem diferentes formas de resolver a questo e encaminhar a soluo

    econmica, ocorreu certo imobilismo no campo nacional e internacional. Neste

    contexto, o golpe militar de 1964, impondo de forma autoritria uma soluo

    21Entrada e sada de recursos estrangeiros.

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    para a crise poltica, foi uma precondio ao encaminhamento tcnico das

    medidas de superao da crise econmica - reformas constitucionais e

    conduo da poltica econmica de forma adequada e segura.

    3.2 O PAEG e o governo militar

    O governo Castelo Branco lanou o PAEG (Plano de Ao Econmica do

    Governo), com vistas a resolver os problemas econmicos do pas. O PAEG

    pode ser dividido em duas linhas de atuao: polticas conjunturais de combate

    inflao, associadas a reformas estruturais que permitiram oequacionamento dos problemas inflacionrios e das dificuldades que se

    colocavam ao crescimento econmico.

    Os objetivos colocados pelo PAEG eram: acelerar o ritmo de

    desenvolvimento econmico; conter o processo inflacionrio; atenuar os

    desequilbrios setoriais e regionais; aumentar o investimento e com isso o

    emprego; e corrigir a tendncia ao desequilbrio externo do balano de

    pagamentos. O controle inflacionrio e/ou as formas de conviver com ela eram

    vistos como precondies para a retomada do desenvolvimento, e o combate

    inflao s poderia ser feito acoplado s reformas institucionais.

    O diagnstico sobre a inflao, que havia subido para 83,2% a.a. em

    1963, centrava-se no excesso de demanda22. Este era explicado em funo da

    tendncia ao dficit pblico23, da elevada propenso a consumir (decorrente da

    poltica salarial frouxa dos perodos anteriores - os chamados arroubos

    populistas) e tambm da falta de controle sobre a expanso do crdito. Estas

    22Um excesso de demanda faz com que haja um volume de procura por bens superior oferta, o que tende a fazer com

    que haja um aumento dos preos e, por conseqncia, da inflao.

    23

    Um excesso de gastos pblico representa um excesso de consumo que, por conseguinte, implica numa tendnciainflacionria.

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    presses inflacionrias propagavam-se com a expanso monetria, que era o

    veculo para sua perpetuao.

    Especificamente, as principais metas do PAEG eram:

    Reduo do dficit pblico mediante a reduo dos gastos e da

    ampliao das receitas atravs da reforma tributria e do aumento

    das tarifas pblicas (a chamada inflao corretiva). Com isso, o

    dficit pblico reduziu-se de 4,2% do PIB em 1963 para 1,1% em

    1966;

    Restrio do crdito e aperto monetrio. Houve aumento das taxas

    de juros reais e consequentemente do passivo das empresas. Este

    fato levou a uma grande onda de falncias, concordatas, fuses e

    incorporaes, processo este que atingiu principalmente as

    pequenas e mdias empresas dos setores de vesturio, alimentos e

    construo civil. Esta limpeza de terreno e consequente geraode capacidade ociosa foi um importante fator para a futura

    retomada do crescimento econmico;

    O terceiro elemento da poltica de conteno da demanda foi a

    poltica salarial, em que se supunha a existncia de uma taxa de

    desemprego relativamente baixa, o que levava a elevados salrios

    reais e inflao crescente. Para romper esta dinmica, o governopassou a determinar os reajustes salariais, via poltica salarial,

    objetivando romper as expectativas e conter as reivindicaes. A

    frmula de reajustes decidida pela poltica salarial teve por

    consequncia uma grande reduo do salrio real.

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    Com estas medidas, a inflao reduziu-se, entre os anos de 1964 e 1967,

    da casa dos 90% a.a. para os 20% a.a. Este resultado se deveu em grande

    parte a uma retrao nas taxas de crescimento econmico.

    3.3 Reformas Institucionais do PAEG

    Quanto aos problemas institucionais, identificou-se como ponto bsico a

    ausncia de correo monetria em uma economia com altas taxas

    inflacionrias. Vrios eram os problemas gerados pelo processo inflacionrio, a

    saber:

    A inflao, conjugada lei da usura (que impedia juros nominais

    superiores a 12% a.a.), desestimulava a canalizao de poupana

    para o sistema financeiro24;

    A lei do inquilinato, numa situao inflacionria, constitua-se em

    forte desestmulo aquisio de imveis e, consequentemente,

    construo civil25;

    Desordem tributria, pois a ausncia de correo monetria, no

    caso dos dbitos fiscais, estimulava o atraso de pagamentos e, no

    caso dos ativos e do patrimnio das empresas, levava tributao

    de lucros ilusrios.

    Neste sentido, se por um lado se fazia necessria a reduo das taxas de

    inflao, tambm se procurou criar mecanismos que possibilitassem o

    crescimento econmico em um ambiente de inflao moderada.

    24Perceba que como havia restrio taxa mxima de juros para concesso de emprstimos, e considerando que a

    inflao corroia os juros, no havia interesse dos bancos em conceder emprstimos.

    25

    Como o reajuste dos aluguis era restrito, havia interesse por parte dos compradores em adquirir novos imveis nosentido de realizar a locao destes.

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    As principais reformas institudas pelo PAEG foram: a reforma tributria,

    a reforma monetria e financeira e a reforma do setor externo.

    3.4 A Reforma Tributria

    Os principais elementos envolvidos nesta reforma foram:

    A introduo da correo monetria no sistema tributrio26,

    visando reduzir as distores j mencionadas;

    A alterao do formato do sistema tributrio. Transformaram-se osimpostos tipo cascata (que incidem a cada transao sobre o valor

    total), em impostos tipo valor adicionado. Criou-se o IPI (imposto

    sobre produtos industrializados), o ICM (imposto sobre circulao

    de mercadorias) e o ISS (imposto sobre servios). A importncia

    desta alterao foi romper o estmulo at ento existente

    integrao vertical da produo27, e facilitar a utilizao dos

    impostos como instrumento de poltica de desenvolvimento e de

    reduo de distores, ao permitir as diferenciaes de alquotas e

    facilitar a concesso de isenes e incentivos fiscais s atividades

    especficas;

    A redefinio do espao tributrio entre as diversas esferas do

    governo. A Unio ficou com o IPI, o Imposto de Renda, os

    Impostos nicos, os Impostos de Comrcio Exterior, o ImpostoTerritorial Rural (ITR). Os estados ficaram com o ICM e os

    municpios, com o ISS e o IPTU (imposto sobre propriedade

    territorial urbana). Alm disso, foram criados os fundos de

    26 Na medida em que as obrigaes tributrias so reajustadas, garante-se o valor real da arrecadao fiscal do

    governo.

    27 A integrao vertical ocorre quando diferentes processos de produo - desde o insumo at a venda final ao

    consumidor - que podem ser produzidos separadamente, por vrias firmas, passam a ser produzidos por uma nicafirma. Ademais, destaca-se que a integrao vertical tende a aumentar o preo do produto final entregue sociedade.

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    transferncia intergovernamentais: o fundo de participao dos

    estados e dos municpios, que se baseavam em parcelas de

    arrecadao do IPI, do IR e do ICMS. Os critrios de distribuio

    dos recursos baseavam-se na rea geogrfica, na populao e no

    inverso da renda per capita, com vistas a favorecer estados mais

    pobres. Houve importante centralizao das decises sobre a

    legislao tributria, inclusive definindo as alquotas dos impostos

    das demais esferas, procurando eliminar a guerra fiscal.

    Dessa forma, as principais consequncias da reforma tributria foram oaumento da arrecadao e uma grande centralizao tanto da arrecadao

    como das decises em termos de poltica tributria, constituindo-se em

    importante instrumento poltico, ao subordinar os estados ao governo central.

    Permitiu ainda, atravs da vinculao da receita e da criao de rgos ao lado

    da administrao direta, uma descentralizao dos gastos, com maior

    flexibilidade operacional.

    3.5 A Reforma Monetria Financeira

    Os principais objetivos nesta reforma eram: criar condies de conduo

    independente da poltica monetria e direcionar os recursos montantes

    promovendo condies adequadas s atividades econmicas.

    Esta reforma divide-se em quatro grupos de medidas:

    A instituio da correo monetria e criao da ORTN (Obrigao

    Reajustvel do Tesouro Nacional). A introduo da correo

    monetria tornava sem sentido a Lei da Usura, eliminando uma

    srie de ineficincias do sistema financeiro. Ao permitir a prtica de

    taxas de juros reais positivas, estimulava a poupana e ampliava a

    capacidade de financiamento da economia. A criao das ORTNs,

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    cuja variao determinaria o ndice de correo monetria, tinha

    por objetivo dar credibilidade e viabilizar o desenvolvimento de um

    mercado de ttulos pblicos que fornecesse instrumentos de

    financiamento no inflacionrios do dficit pblico, bem como

    possibilitasse as operaes de mercado aberto28, visando o controle

    monetrio. Este ltimo objetivo s se viabilizou de fato a partir de

    1970, com a criao das LTNs (Letras do Tesouro Nacional29), pois

    as caractersticas das ORTNs (ttulos ps-fixados de longo prazo)

    dificultavam as operaes de mercado aberto, que devem ser feitas

    com ttulos prefixados de curto prazo

    30

    ;

    A Lei n. 4.595/64 - criao do CMN (Conselho Monetrio Nacional)

    e do BACEN (Banco Central do Brasil). Com esta lei procurava-se

    criar condies para que a poltica monetria fosse conduzida de

    forma independente. O CMN substituiu o conselho da SUMOC

    (Superintendncia da Moeda e do Crdito), e passou a ser o rgo

    normativo da poltica monetria, com a funo de definir as regrase as metas a serem atingidas. O BACEN foi criado (assumindo a

    antiga Carteira de Cmbio e Redesconto do Banco do Brasil e o

    Servio de Meio Circulante do Tesouro Nacional), para ser o agente

    executor da poltica monetria. Alm disso, ele tambm seria o

    agente fiscalizador e controlador do sistema financeiro. O Banco do

    28As operaes de mercado aberto so caracterizadas pela emisso de ttulos pblicos com o sentido de fazer poltica

    monetria. Quando a autoridade monetria (BACEN) vende ttulos pblicos s instituies financeiras, seu objetivo e

    entregar um ttulo com remunerao futura (juros) em troca do recebimento de moeda (dinheiro) hoje, destinado a evitar

    com que este mesmo dinheiro seja emprestado e, assim, possa gerar inflao.

    29As Letras do Tesouro Nacional a espcie mais como de ttulo pblico. Conforme vocs podero verificar em um

    curso de Economia do Setor Pblico, o qual trata da Lei de Responsabilidade Fiscal atualmente vigente no pas, o

    Banco Central no mais realiza a emisso de ttulos (constituio de dvida), mas to somente realiza a colocao dos

    ttulos (compra e venda no mercado financeiro). A emisso feita pelo Tesouro Nacional, o qual as repassa ao BACEN

    por meio da constituio de um ativo para com a autoridade monetria.30

    Curto prazo de vencimento.

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    Brasil, alm de suas funes de banco comercial31, permaneceu

    com os servios de compensao de cheques, depositrio das

    reservas voluntrias32, e caixa do BACEN e do Tesouro Nacional, ou

    seja, constitua-se no agente bancrio no governo.

    Vrios problemas ainda permaneciam para a consecuo do objetivo de

    controle independente da poltica monetria, a saber:

    A subordinao do BACEN ao CMN, o que permitia ingerncia

    poltica na atuao do BACEN;

    A Conta Movimento, criada inicialmente para transferir recursos do

    BB para o BACEN entrar em operao, fez com que o BB no

    perdesse a condio de Autoridade Monetria, uma vez que podia

    expandir sem limites suas operaes de crdito, pois possua uma

    linha direta de financiamento junto ao BACEN33;

    O chamado Oramento Monetrio, que deveria ser pea parajuntar as duas autoridades monetrias (BACEN e BB). Este

    oramento passou a receber vrios gastos de origem fiscal, com a

    criao de vrios fundos e programas que seriam administradas

    pelas Autoridades Monetrias - PROAGRO, PROEX, FUNRURAL etc.

    Com isso, o BACEN, que deveria ser rgo de controle monetrio,

    transformava-se tambm em banco de fomento, criando-se umentrelaamento entre contas monetrias e fiscais, de tal modo que o

    31Um banco comercial, em essncia, aquele que permite ao seu cliente a abertura de conta-corrente bem como a

    movimentao financeira dos recursos depositados, inclusive a tomada de crdito.

    32Recursos que sobram no caixa dos bancos e que estes preferem m anter junto ao BB que, na poca, ainda exercia

    alguma influncia nas decises de poltica monetria.

    33Um banco tradicional tem como principal fonte de recursos os diversos depsitos feitos por correntistas. No caso do

    BB, poca, ele tinha condies de tomar recursos para emprstimos por meio da conta movimento, o que acabava, dealguma forma, por impedir com que o BACEN tivesse o controle efetivo da oferta de moeda na economia.

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    Oramento Fiscal poderia aparecer equilibrado, enquanto todo o rombo se

    colocava no Oramento Monetrio. O BACEN era responsvel pela

    administrao da dvida pblica, podendo emitir ttulos em nome do Tesouro

    Nacional. Dessa forma, a dvida pblica e os gastos com juros do Tesouro

    poderiam crescer, independentemente da existncia de um dficit a ser

    financiado, mas simplesmente por objetivos de controle monetrio. Alm disso,

    criava-se um mecanismo para o Tesouro Nacional forar o BACEN a financiar

    seus dficits via emisso monetria.

    Percebe-se, portanto, que estas medidas acabaram por criar um

    estranho arcabouo institucional, em que se misturavam as polticas fiscal e

    monetria; o BACEN no controlava a poltica monetria nem o Tesouro

    Nacional controlava a poltica fiscal, sendo que o resultado deste quadro foi o

    de inviabilizar o conhecimento e o controle social sobre as operaes do

    governo.

    As demais instituies do mercado de capitais - Bolsa de Valores,

    Corretoras e Distribuidoras - tambm foram regulamentadas e subordinadas

    ao BACEN. Criaram-se vrios tipos de incentivos fiscais para dinamizar este

    segmento, entre os quais se destaca o Decreto-lei n. 157, no qual os

    indivduos poderiam adquirir cotas de fundo de aes com parcela do Imposto

    de renda (pessoa fsica) devido. Merece ainda destaque a criao do Sistema

    Nacional de Crdito Rural (SNCR), sendo o BB o agente central, e os bancos

    comerciais agentes subsidirios. A fonte de recursos para o sistema era, almdos fundos fiscais e da Conta Movimento, uma parcela dos depsitos vista

    captados pelos bancos comerciais, que deveriam obrigatoriamente ser

    utilizados no financiamento agrcola.

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    3.6 A Reforma do Setor Externo

    A reforma do setor externo tinha por objetivo estimular o

    desenvolvimento econmico, evitando as presses sobre o Balano de

    Pagamentos e assim eliminando uma das principais distores do Processo de

    Substituio de Importaes - PSI. Destacam-se duas linhas de atuao neste

    sentido: melhorar o comrcio externo brasileiro e atrair o capital estrangeiro:

    Em relao ao comrcio externo, buscou-se, por um lado,

    estimular e diversificar as exportaes atravs de uma srie de

    incentivos fiscais (isenes fiscais - IPI, ICM, IR - crdito-prmio do

    IPI etc.) e da modernizao e dinamizao dos rgos pblicos

    ligados ao comrcio internacional (CACEX). Quanto s importaes,

    a idia era eliminar os limites quantitativos e utilizar apenas a

    poltica tarifria como forma de controle. A principal medida

    adotada na rea do comrcio externo foi a simplificao e

    unificao do sistema cambial, que objetivava eliminar as

    incertezas decorrentes da conduo errtica da poltica cambial,

    bem como os desestmulos exportao decorrentes da

    valorizao cambial. Para tal, adotou-se o sistema de

    minidesvalorizaes a partir de 1968, pelo qual a desvalorizao

    cambial deveria refletir o diferencial entre a inflao domstica e a

    internacional34;

    Quanto atrao do capital estrangeiro, buscou-se inicialmente

    uma reaproximao com a poltica externa norte-americana, a

    chamada Aliana para o Progresso. Em seguida, efetuou-se a

    renegociao da dvida externa e firmou-se um Acordo de

    34 Como a taxa de cmbio reflete o preo, em moeda nacional, de uma unidade moeda estrangeira, toda vez que

    ocorrer um processo de inflao no pas, com a consecutiva perda do poder de compra da moeda nacional, maior ser

    a necessidade de moeda nacional para se comprar uma mesma unidade de moeda estrangeira. O sistema deminidesvalorizaes tinha este papel, qual seja a de refletir na taxa de cmbio a inflao interna do pas.

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    Garantias para o capital estrangeiro. As ligaes com o sistema

    financeiro internacional foram feitas atravs de dois mecanismos: a

    Lei n. 4.131/64, que dava acesso direto das empresas ao sistema

    financeiro internacional, e a Resoluo n. 63, que possibilitava a

    captao de recursos externos pelos bancos comerciais e de

    investimentos para repasse interno. Esta ltima significava a

    colagem do sistema financeiro nacional ao internacional e o incio

    do processo de internacionalizao financeira no Brasil.

    Com base no que acabamos de descrever, pode-se concluir que a poltica

    adotada no PAEG obteve grande xito na reduo das taxas inflacionrias e em

    preparar o terreno para a retomada do crescimento. Este quadro, como

    veremos, permitiu altas taxas de crescimento ao longo da dcada de 70,

    durante o perodo do chamado Milagre Econmico brasileiro.

    3.7O milagre econmico

    O chamado Milagre Econmico foi o perodo entre 1968 e 1973 em que o

    PIB brasileiro apresentou as maiores taxas de crescimento, derivados de todas

    as reformas e estruturao do parque fabril nos 15 anos anteriores. Associado

    a este crescimento encontrou-se tambm todo o contexto favorvel da

    economia mundial na poca.

    As diretrizes do governo em 1967 j colocavam o crescimento econmicocomo objetivo principal, acompanhado de conteno da inflao, sendo que se

    admitia o convvio com uma taxa de inflao em torno de 20 a 30% a.a.. Nesta

    fase, alterou-se o diagnstico sobre as causas da inflao, destacando os

    custos como principal determinante. Com isso, afrouxaram-se as polticas de

    conteno da demanda. As polticas monetria, executada pelo Bacen, a fiscal,

    realizada pelo governo federal, e a creditcia, capitaneada pelos bancos,

    contriburam favoravelmente para os objetivos do governo. Exceo coube

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    feita poltica salarial, pois esta era considerada como elemento de custos, e

    que como tal poderia impactar o processo inflacionrio. No mesmo sentido,

    teve incio uma poltica de controle de preos, onde os reajustes deveriam ter

    aprovao prvia do governo, com base nas variaes de custos. Para tal fim,

    criou-se o CIP (Conselho Interministerial de Preos) em 1968.

    A busca do crescimento, segundo o governo, deveria processar-se com o

    investimento em setores diversificados e com menor participao do Estado,

    ou seja, deveria basear-se no setor privado. importante destacar que o

    crescimento se colocava tambm como uma necessidade para legitimar oRegime Militar, que procurou justificar sua interveno na necessidade de

    eliminar a desordem econmica e poltico-institucional, e recolocar o pas nos

    trilhos do desenvolvimento.

    Tendo como ponto de partida o plano denominado I Plano Nacional de

    Desenvolvimento I PND, o perodo do milagre teve dentre as principais

    fontes de crescimento, as seguintes:

    A retomada do investimento pblico em infra-estrutura, especialmente

    relacionados Construo Civil, possibilitada pela recuperao financeira

    do setor pblico, devido reforma fiscal e aos mecanismos de

    endividamento interno (financiamento no inflacionrio dos dficits);

    Aumento dos investimentos das empresas estatais, observando-se, noperodo, um aumento nos investimentos e o processo de conglomerao

    destas empresas, atravs da criao de vrias subsidirias; a Petrobrs e

    a Vale do Rio Doce foram exemplos tpicos deste processo;

    Demanda por bens de consumo durveis (geladeiras, veculos, etc.) -

    devido grande expanso do crdito ao consumidor ps reforma

    financeira. Nesta situao, percebe-se que a opo para a ampliao do

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    mercado consumidor se deu em grande medida pelo endividamento das

    famlias;

    Crescimento das exportaes, especialmente a de bens manufaturados,

    graas expanso no comrcio mundial e melhoria nos termos de

    troca. Devido s alteraes promovidas na poltica externa no pas e aos

    incentivos fiscais, verificou-se no perodo um crescimento no valor das

    exportaes (volumes em termos de troca), o que representou ampliao

    significativa na capacidade de importar da economia (quanto mais

    moeda estrangeira entra proveniente de exportaes, maiores so osrecursos para compra de bens importados, tambm cotados em moeda

    estrangeira);

    Tanto o setor de bens de consumo leve (no durveis), quanto a

    agricultura, apresentaram desempenhos mais modestos. O crescimento

    nestes setores decorreu do aumento da massa salarial, que, por sua vez,

    se deve ao aumento de emprego, e ao crescimento das exportaes de

    manufaturados tradicionais e de produtos agrcolas. A agricultura cresceu

    4,5% a.a., em mdia, no perodo, apesar da forte expanso do crdito

    agrcola, centralizado no Banco do Brasil. Nesta fase, deu-se o incio do

    processo de modernizao agrcola, atravs da mecanizao, fazendo

    com que esta se tornasse importante fonte de demanda para a indstria;

    Quanto ao setor de bens de capital, seu desempenho pode ser divididoem duas fases. Na primeira, at 1970, apresentou menor crescimento,

    dado que este se baseou na ocupao de capacidade ociosa e no na

    ampliao da capacidade instalada. Conforme foi sendo ocupada esta

    capacidade, aumentava-se a taxa de investimento na economia, sendo

    que a formao bruta de capital fixo superou os 20% do PIB no perodo

    de 1971/73; e

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    O aumento da demanda por bens de capital fez com que este setor fosse

    o de maior crescimento na segunda fase do perodo do milagre. Ao

    longo de todo o perodo 1968/73, a taxa de crescimento mdio do setor

    foi de 18,1% a.a..

    Tanto no setor de bens de capital, como no setor de bens intermedirios,

    a expanso econmica gerava presso por importaes, causada pela

    insuficincia de oferta interna. Esta presso importadora ainda foi estimulada

    pela poltica do CDI (Conselho de Desenvolvimento Industrial), que concedeu

    incentivos de forma indiscriminada e foi bastante liberal nas importaes, o

    que pode ter contribudo inclusive para o atraso na produo interna de bens

    de capital, cujo crescimento ocorreu apenas depois de 1970.

    A presso por importaes poderia levar necessidade de recursos

    externos, para cobrir o Balano de Pagamentos, no fosse o elevado

    crescimento do valor das exportaes brasileiras. Alm da poltica cambial(minidesvalorizaes cambiais) e comercial (incentivos fiscais e monetrios), o

    crescimento das exportaes foi tambm beneficiado pela expanso do

    comrcio mundial, decorrente do excesso de liquidez internacional, ocasionado

    pelos dficits pblico e externo dos EUA, financiados com expanso monetria.

    A conjugao desses fatores levou tanto ao crescimento da quantidade

    exportada como melhora dos termos de troca, redundando numa balana

    comercial equilibrada no perodo.

    Alm da boa performance do setor exportador, assistiu-se neste perodo

    primeira onda de endividamento externo, com ampla entrada de recursos. O

    aumento das necessidades de financiamento das empresas privadas instaladas

    no Brasil, fruto do acentuado crescimento econmico que se estabeleceu, foi

    suprido, em grande parte, por emprstimos externos. Ao invs dessas

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    empresas endividarem-se no mercado financeiro brasileiro, buscaram recursos

    diretamente no exterior.

    A dvida externa, no perodo, alcanou US$ 13 bilhes, sendo que

    aproximadamente US$ 6,5 bilhes se transformaram em reservas

    internacionais, ou seja, a dvida lquida correspondia a algo em torno de US$ 6

    bilhes. Considerando o grande crescimento das exportaes no perodo,

    verificou-se que o chamado coeficiente de vulnerabilidade externa35 (relao

    entre dvida lquida e o montante de exportaes) atingiu um valor inferior a

    1 (100%)em 1973.

    Tabela demonstrativa da evoluo do Coeficiente de

    Vulnerabilidade Externa

    ANOS Dvida Lquida Exportaes Coeficiente

    ( 1. ) (.2.) (.1)/(.2)

    1968 3,5 1,9 1,841969 3,4 2,3 1,48

    1970 4,1 2,7 1,521971 4,8 2,9 1,661972 5,3 4,0 1,331973 6,1 6,2 0,981974 11,9 8,0 1,491975 17,1 8,7 1,971976 19,4 10,1 1,921977 24,9 12,1 2,061978 31,6 12,6 2,51

    Fonte: Banco Central

    Com base no acima descrito, percebe-se que naquele momento a

    situao cambial estava bastante tranquila. O volume de reservas existentesem 1973 correspondia a mais de um ano de importaes, enquanto o critrio

    tcnico utilizado pelo FMI recomendava um volume de reservas equivalentes a

    trs meses de importaes.

    35O coeficiente de vulnerabilidade um indicador do grau de solvncia externa de um pas, e mede a relao entre

    divida externa liquida de um pas (divida externa reservas internacionais) e o valor das exportaes. O objetivo verificar quantos anos de exportao so necessrios para pagar a divida externa do pas.

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