balanço do ano cultural, incluindo as listas pessoais...

20
Meio: Imprensa País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Lazer Pág: 65 Cores: Cor Área: 23,50 x 29,70 cm² Corte: 1 de 20 ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E Balanço do ano cultural, incluindo as listas pessoais dos nossos críticos com 10 escolhas nas áreas de livros, cinema, televisão, música, teatro, dança e exposições

Upload: phamanh

Post on 29-Sep-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 65

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 1 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

Balanço do ano cultural, incluindo as listas pessoais dos nossos críticos com 10 escolhas nas áreas de livros, cinema, televisão, música, teatro, dança e exposições

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 66

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 2 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

a capa da revista “Time”, cinco figuras vestidas de negro olham-nos de frente. Elas são representantes do movimento #metoo, algumas das muitas mulheres que em 2017 se chegaram à frente e denunciaram publicamente o assédio sexual de que foram vítimas, quebrando o manto de silêncio em torno de um problema escondido da sociedade norte-americana: a questão do abuso sistemático que homens com poder exercem sobre quem está hierarquicamente abaixo deles. O rastilho do movimento foi o escândalo em torno de Harvey Weinstein, um dos maiores produtores de Hollywood,

caído em desgraça após revelações sobre a sua conduta imprópria, feitas por atrizes que com ele trabalharam, como Ashley Judd e Rose McGowan. Seguiu-se uma gigantesca bola de neve mediática. A ativista Tarana Burke criou o hashtag “metoo” (“eu também”) e em poucas semanas a internet foi invadida por milhões de relatos de mulheres, famosas ou completamente anónimas, de todas as classes sociais e graus de educação, que partilharam as suas experiências enquanto vítimas de assédio sexual. Pela primeira vez, a verdadeira escala do problema tornou-se evidente. E

com efeitos práticos: multiplicaram-se os casos de abusadores forçados a demitir-se dos seus cargos, sobretudo na indústria do entretenimento. Embora o hashtag só tenha surgido em outubro, o impacto foi tão grande que a “Time” decidiu escolher o movimento para “person of the year”. As cinco figuras vestidas de negro, mais uma de que só aparece um braço (simbolizando todas as vítimas que não querem, ou não podem, mostrar a cara), são algumas das “silence breakers”, as mulheres que finalmente quebraram o silêncio, heroínas dos tempos modernos.

O ano das vozes femininasEspelhando a sociedade, a literatura foi, em 2017, um lugar de afirmação para as mulheresTEXTO JOSÉ MÁRIO SILVA

LIVROS

A escritora canadiana Margaret Atwood esteve na ribalta, com a adaptação de

livros seus a séries televisivas de grande sucesso

NM

AR

K B

LIN

CH

/RE

UT

ER

S

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 67

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 3 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

E por que razão invocamos esta luta, de carácter eminentemente social, num texto de balanço sobre o ano literário? O que tem uma coisa que ver com a outra? Pois bem, muito mais do que possa parecer à primeira vista. Não só pelas correlações diretas, como sejam o aumento do número de ensaios e manifestos sobre questões de género, direcionados para um público mais vasto (e não apenas para os círculos de debate académicos), mas porque a mudança no zeitgeist tem permitido recuperar obras antigas que já abordavam estas questões. Um bom exemplo é o da escritora canadiana Margaret Atwood, cujo romance “The Handmaid’s Tale” (“A História de Uma Serva”, na edição portuguesa da Bertrand) voltou a liderar as tabelas de vendas nos EUA, a reboque do sucesso estrondoso da adaptação televisiva do livro, transformado numa das séries mais vistas e elogiadas do ano. Produzida pela Hulu, um serviço de streaming rival da Netflix, foi uma das grandes vencedoras dos prémios Emmy deste ano, arrebatando oito troféus, nomeadamente o mais importante de todos, para a melhor série dramática. Assinale-se, já agora, que a estreia na televisão portuguesa aconteceu esta semana. Originalmente publicado em 1985, “The Handmaid’s Tale” é um romance distópico, passado num futuro próximo em que o Governo americano foi deposto e substituído por um regime teocrático de matriz cristã. Os 50 estados reduzem-se a um só: Gilead, um mundo hermeticamente fechado, com vigilância militar permanente, onde a antiga constituição foi suprimida, bem como todos os direitos civis. Especialmente os direitos das mulheres. Para resolver uma crise populacional gravíssima (com os índices de fertilidade próximos do zero, o nascimento de crianças passou a ser um acontecimento muito raro), criaram-se comunidades que agrupam as poucas mulheres férteis, postas ao serviço das famílias mais ricas, para serem fecundadas em grotescos rituais de acasalamento, em que os homens fazem o que têm a fazer, mecanicamente, na presença das esposas que não lhes podem dar filhos. Offred, a protagonista, é uma dessas servas cuja principal função é procriar, e através da sua voz desenha-se o retrato de uma sociedade assustadora,

em que os cadáveres dos resistentes enforcados são expostos na via pública, e o único fio de esperança consiste na quase impossível fuga para o vizinho Canadá.Quando a série começou a ser exibida, poucos meses após a chegada de Donald Trump à Casa Branca, tornou-se evidente que a narrativa de Atwood fazia ressoar angústias e receios muito concretos. No livro, a transformação dos EUA em Gilead não é um processo súbito. Antes do golpe militar, a vida democrática foi sendo cerceada pela gradual imposição de uma agenda ultraconservadora, com sucessivas suspensões de direitos básicos, justificados por ameaças imaginárias que servem apenas como pretexto para limitar as liberdades individuais. O verdadeiro terror que “The Handmaid’s Tale” nos provoca nasce da suspeita de que o aparente exagero das transformações que descreve possa não ser, afinal, assim tão exagerado. O ano de 2017 foi excelente para Atwood, que viu outro dos seus livros adaptado a série televisiva (“Alias Grace”), mas também para outras escritoras. Vinte anos após o seu fulgurante romance de estreia, “O Deus das Pequenas Coisas”, a indiana Arundhati Roy regressou à ficção com “O Ministério da Felicidade Suprema”, bem recebido pela crítica e pelos ávidos fãs. Nas várias literaturas do mundo, uma multiplicidade de vozes femininas fortes reflete, quando não antecipa, as lutas ainda necessárias — como a que levou cinco figuras vestidas de negro até à capa da “Time”. b

AX

EL

SC

HM

IDT

/AF

P/G

ET

TY

IMA

GE

S

Vinte anos depois de “O Deus das Pequenas Coisas”, a indiana Arundhati Roy voltou em 2017 à ficção, com um novo romance prontamente traduzido para português

Uma das principais notícias de 2017, no panorama da literatura portuguesa, foi o regresso das bolsas de criação literária, financiadas pelo Ministério da Cultura. Criadas

em 1996, as bolsas haviam sido extintas em 2002, mas o ministro Luís Filipe Castro Mendes, ele próprio um poeta com vasta obra publicada, decidiu recuperar o projeto. Aberto a candidaturas nas áreas da ficção narrativa, da poesia, da dramaturgia, da banda desenhada e das obras para a infância e juventude, o programa prevê um conjunto de seis bolsas anuais e outras tantas semestrais, respetivamente de 15.000 e 7500 euros, num valor total de 135 mil euros. Os resultados, anunciados no início de novembro, confirmaram que este foi de facto um ano forte para a literatura feminina, também em Portugal: na categoria de ficção narrativa, todas as bolsas foram atribuídas a mulheres (Ana Margarida de Carvalho, Patrícia Portela, Isabel Rio Novo e Margarida Falcão Paredes). A principal polémica do ano teve igualmente como protagonista uma escritora. Assim que o júri do Oceanos, um dos mais importantes prémios literários do Brasil, anunciou a sua escolha, Maria Teresa Horta, chocada com o quarto prémio ex aequo que foi atribuído ao seu livro “Anunciações”, publicou um post no Facebook a explicar o motivo por que o recusa, invocando uma questão de “dignidade” e de “respeito” pela literatura, pelos leitores e sobretudo por si própria e pela sua “já longa obra”. Nas redes sociais, as opiniões dividiram-se entre os que elogiaram a coragem da atitude e os que viram na decisão uma forma de arrogância, com a agravante de ter retirado brilho ao talvez inesperado, mas merecidíssimo, triunfo de outra autora portuguesa: Ana Teresa Pereira, a quem foi atribuído o primeiro lugar pelo romance “Karen” (Relógio D’Água). Finalmente, assinalem-se mais dois exemplos de projetos editoriais com um cunho feminino ou feminista. No primeiro caso está o novo fôlego da Cotovia, onde Fernanda Mira Barros assumiu o lugar de André Jorge, desaparecido em 2016, mantendo as principais linhas estéticas do projeto, sem deixar de acrescentar a sua marca. No segundo caso está a editora Sibila, de Inês Pedrosa, ainda a dar os primeiros passos. Muito na linha do que faz a britânica Virago, a ideia é criar um espaço para livros escritos por mulheres. A obra de estreia, “Eu Matei Xerazade: Confissões de uma Mulher Árabe em Fúria”, de Joumana Haddad, uma intelectual libanesa, funciona como eloquente declaração de intenções. / J.M.S.

AN

NIO

PE

DR

O F

ER

RE

IRA

A poetisa Maria Teresa Horta recusou o quarto lugar atribuído a um dos seus livros pelo Prémio Oceanos, no Brasil

Bolsas e prémios

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 68

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 4 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

ÉPICO DE GILGAMEŠAnónimoAssírio & Alvim

AS AFINIDADES ELECTIVASJ. W. GoetheBertrand

VIAJANTE À LUZ DA LUAAntal SzerbGuerra & Paz

VOSSPatrick WhiteE-Primatur

O TEU ROSTO AMANHÃJavier MaríasAlfaguara

CIDADELAAntoine de Saint-ExupéryLivros do Brasil

A CEGUEIRAMarc FerroCavalo de Ferro

A TRAGÉDIA DE UM POVOOrlando FigesD. Quixote

AS MIL E UMA NOITESAnónimoE-Primatur

POESIA COMPLETAMário CesarinyAssírio & Alvim

LEVIATÃ/ESPELHOS NEGROSArno SchmidtAbysmo

SOMBRAS DE SOMBRASAdam ZagajewskiTinta da China

ATOS HUMANOSHan KangD. Quixote

DISTÂNCIA DE SEGURANÇASamanta SchweblinElsinore

VERACRUZOlivier RolinSextante

RAPAZES DE ZINCOSvetlana AlexievichElsinore

DESCRIÇÃO GUERREIRA...Alexandre AndradeRelógio D’Água

HOJE ESTARÁS COMIGO...Bruno Vieira AmaralQuetzal

MAC E O SEU CONTRATEMPOEnrique Vila-MatasTeodolito

OS CORPOSRodrigo MagalhãesQuetzal

OS ROMANOV (2 VOLS.)Simon Sebag MontefiorePresença

O ARQUIPÉLAGO GULAGAleksandr SoljenítsinSextante

LENINE, O DITADORVictor SebestyenObjetiva

O CASO DO CAMARADA...Victor SergeE-primatur

MEMÓRIASRaul BrandãoQuetzal

O FÍSICO PRODIGIOSOJorge de SenaGuerra & Paz

O QUE SE VÊ DA ÚLTIMA FILANeil GaimanElsinore

A CONSCIÊNCIA DAS...Elias CanettiCavalo de Ferro

O CASO SÓCRATESFelícia Cabrita e Joaquim VieiraEsfera dos Livros

REPÚBLICAPlatãoBookBuilders

JALAN, JALANAfonso CruzCompanhia das Letras

A CASA DAS TIASCristina Almeida SerôdioTeorema

1640Deana BarroqueiroCasa das Letras

QUANDO PERDES TUDO...Dulce GarciaGuerra e Paz

AVENIDA DO PRÍNCIPE...Filomena Marona BejaParsifal

OS LOUCOS DA RUA MAZURJoão Pinto CoelhoLeYa

O DESLUMBRE DE CECÍLIA...João TordoCompanhia das Letras

A CONSTRUÇÃO DO VAZIOPatrícia ReisD. Quixote

O PIANISTA DE HOTELRodrigo Guedes de CarvalhoD. Quixote

OS CORPOSRodrigo MagalhãesQuetzal

EscolhasJosé Guardado Moreira

EscolhasJosé Mário Silva

EscolhasLuís M. Faria

EscolhasLuísa Mellid-Franco

Outros livros que merecem destaque: Poesia — “Poesis”, Maria Teresa Horta (D. Quixote); “Poemas Quotidianos”, António Reis (Tinta da China); “Oblívio”, Daniel Jonas (Assírio & Alvim); “Poemas Esco-lhidos”, W. B. Yeats, e “Poemas”, John Donne (ambos Relógio D’Água ); “145 Poemas”, Konstantinos Kaváfis (Flop). Ficção — “Baleia”, Paul Gadenne (An-tígona); “A Revolta dos Anjos”, Anatole France (Cavalo de Ferro); “Ficção”, Má-rio-Henrique Leiria (E-Primatur); “O Es-critor Fantasma”, Philip Roth (D. Quixote). Viagem — “Itália”, António Mega Ferreira (Sextante); “Constantinopla”, Edmondo de Amicis (Tinta da China). Diversos — “Camões”, Hélder Macedo (Presença); “Jalan Jalan”, Afonso Cruz (Compa-nhia das Letras); “Casanova”, Laurence Bergreen (Bertrand); “George Steiner em The New Yorker” (Relógio D’Água); “Entrevistas da Paris Review 3” (Tinta da China); “Nova Antologia Pessoal”, Jorge Luis Borges (Quetzal); “Um Rio à Beira do Rio”, Mário Cesariny (Documenta).

Ano morno, 2017 teve ainda assim mo-mentos felizes que vale a pena sublinhar, em paralelo com a tão subjetiva lista dos “dez melhores”: a edição de dois clássicos da literatura mundial (o “Épico de Gil-gameš”, na Assírio & Alvim, e o primeiro volume das “Mil e Uma Noites”, em tradu-ção direta dos manuscritos árabes, pela E-Primatur); a versão de Alberto Pimenta da “Balada do Velho Marinheiro”, de Coleridge (Edições do Saguão); os “145 Poemas”, de Kaváfis (Flop), e os “Poemas Escolhidos”, de Seferis, dois gregos ge-niais; a poesia completa de Mário Cesa-riny e Eugénio de Andrade, na Assírio, que também editou uma excelente antologia de Rui Costa (“Mike Tyson para Princi-piantes”); a redescoberta dos “Poemas Quotidianos”, de António Reis (Tinta da China); a confirmação de Andreia C. Faria (“Tão Bela Como Qualquer Rapaz”, Língua Morta); e os romances, belos e pertur-bantes, de Ali Smith (“Outono”, Elsinore) e Sandro William Junqueira (“Quando as Girafas Baixam o Pescoço”, Caminho).

No ano em que a Revolução Russa fez cem anos, os livros sobre ela — e aspetos associados — foram tantos que adqui-riram quase o estatuto de um género autónomo. Na impossibilidade de men-cionar todos, destacamos uma biografia de Lenine e uma história da longa dinastia Romanov. Na mesma (ampla) linha vem um belíssimo romance de Victor Serge sobre as purgas estalinistas e o clássico documento que é “O Arquipélago Gulag”. Também a pretexto de uma efeméri-de, mas não só, Raul Brandão recebeu finalmente a atenção que merece. Re-gressando aos temas que se tornam um género, foi inevitável notar a quantidade de obras dedicadas ao caso Sócrates. A última a sair leva exatamente esse título e é das mais exaustivas. Por fim, referência para uma editora que cultiva os livros--objeto (Guerra & Paz) e para obras de Gaiman, Canetti e Platão, trazidas por editoras que também usam o grafismo para tornar ainda mais especiais obras que já o são à partida.

Ninguém disse que era pacífico fazer um curto balanço do que em ficção nar-rativa foi sendo publicado neste ano e que vale a pena destacar. Apostaria no conto, com Valter Hugo Mãe (“Contos de Cães e Maus Lobos”, Porto Editora) ou A. M. Pires Cabral (“Singularidades”, Cotovia); distinguiria ainda o carácter vertiginoso de Gonçalo M. Tavares (“A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-do--Mau-Olhado”, Bertrand) ou de Cristina Carvalho (“Rebeldia”, Planeta), assim como os surpreendentes Sandro William Junqueira (“Quando as Girafas Baixam o Pescoço”, Caminho), Paula Sousa Lima (“O Paraíso”, D. Quixote) e Filipa Fonseca Silva (“Amanhece na Cidade”, Bertrand). Sem surpresa nem vertigem, há dois tipos de escritores: os que goram expectativas por parecer terem perdido a chama (D. Machado, J. L. Peixoto, D. Amaral, A. Ta-vares) e outros (Mário Cláudio, Rui Nunes, Agualusa e Mia Couto, por exemplo) cuja superioridade tem o pernicioso condão de os deixar sem adversário à altura.

LIVROS

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 69

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 5 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

BAIXO CONTÍNUORui NunesRelógio D’Água

GASPAR DA NOITEAloysius BertrandSistema Solar

ALUCINAR O ESTRUMEJúlio HenriquesAntígona

CANCERTilda MarkströmMarcos Farrajota Editor

O CAÇADOR ESQUIMÓMiguel MartinsFahrenheit 451

SINGULARIDADESA. M. Pires CabralCotovia

O PINTOR DA LINHA RUBRAJoão Miguel Fernandes JorgePatavina

BARBEARIA TIQQUNRui BaiãoViúva Frenesi

UMA FACA NOS DENTESAntónio José ForteAntígona

NAGUALDiniz ConefreyQuarto de Jade

145 POEMASKonstantinos KaváfisFlop

O ALIENISTA...Machado de AssisRelógio D’Água

CAMÕES E OUTROS...Hélder MacedoPresença

DIÁRIO DE UM PÁROCO...Georges BernanosPaulinas

LEVIATÃ/ESPELHOS NEGROSArno SchmidtAbysmo

MEMÓRIASRaul BrandãoQuetzal

POEMAS ESCOLHIDOSYorgos SeferisRelógio D’Água

POESIAS COMPLETAS...Alexandre O’NeillAssírio & Alvim

RESGATEFátima MaldonadoAverno

ÚLTIMOS POEMASJosé Miguel SilvaAverno

A TRAGÉDIA DE UM POVOOrlando FigesD. Quixote

O ARQUIPÉLAGO GULAGAleksandr SoljenítsinSextante

O MONARCA DAS SOMBRASJavier CercasAssírio & Alvim

PROBLEMAS DE GÉNEROJudith ButlerOrfeu Negro

A CÉU ABERTOPaulo da Costa DomingosAverno

LINCOLN NO BARDOGeorge SaundersRelógio D’Água

JALAN JALANAfonso CruzCompanhia das Letras

A INVENÇÃO DA CIÊNCIADavid WoottonTemas e Debates

ENIGMAJan MorrisTinta da China

HOJE ESTARÁS COMIGO...Bruno Vieira AmaralQuetzal

DESERTO/NUVEMFrancisco Sousa LoboChili Com Carne

NAGUALDiniz ConefreyQuarto de Jade

A ABOLIÇÃO DO TRABALHOBruno BorgesOficina Arara/Turbina

CANCERTilda MarkströmMmmnnnrrrg

COMER. BEBERFilipe Melo e Juan CaviaTinta da China

MENSURRafael CoutinhoPolvo

NONNONBAShigeru MizukiDevir

SENSUIDois VêsSapata Press

CAPITÃO COCO & O CASO...Anushka Ravishankar e Pryia SundraOrfeu Negro

CÁ DENTROI. M. Martins, M. M. Pedrosa e M. MatosoPlaneta Tangerina

EscolhasManuel de Freitas

EscolhasPedro Mexia

EscolhasRui Lagartinho

EscolhasSara Figueiredo Costa

Perdemos em 2017 um dos nossos maio-res poetas, que era também um notável prosador: Armando Silva Carvalho. E voltámos a constatar que a nova poesia portuguesa (em termos estritamente etários) anda, no mínimo, muito bem escondida. Mesmo uma editora como a Assírio & Alvim parece agora mais interessada em obras poéticas reunidas do que em apostas inéditas verdadeira-mente dignas de atenção. Saliente-se, para compensar um pouco os hiatos e impasses da poesia nacional, o labor com que a Antígona, a Relógio D’Água e a Sistema Solar têm editado ou reeditado autores que era urgente podermos ler em português. De louvar, ainda, a nova edição dos “Poemas Quotidianos”, de António Reis (Tinta da China), o acolhimento dado pela Relógio D’Água à obra de Agustina Bessa-Luís e o reconhecimento de que foi alvo Ana Teresa Pereira — embora uma obra valha sempre mais do que todos os prémios do mundo.

Escolhi dez títulos sobre os quais escrevi em 2017. E de Raul Brandão haveria que acrescentar outras reedições, e os estudos e antologias de Vasco Rosa. Dos ficcionistas portugueses, destaco Bruno Vieira Amaral. E recordo que tivemos a poesia completa de Cesariny, o início das integrais Agustina e Fernanda Botelho, a reedição de “O Canto do Signo”, de Eduardo Lourenço, e a ficção comple-ta de Mário-Henrique Leiria. Na ficção traduzida, escolho Dostoiévski, Henry James, Kawabata, Cortázar, Philip K. Dick. E dois escritores húngaros, Milán Füst e Magda Szabó. Dos vivos, “O Teu Rosto Amanhã”, de Javier Marías, e “A Sétima Função da Linguagem”, de Laurent Binet. Na poesia, vários clássicos, de Ovídio e Coleridge a Rilke e W. B. Yeats. Ensaios de Elias Canetti e artigos de George Steiner. Mais um volume da Bíblia tradu-zida por Frederico Lourenço. E estudos essenciais para compreender a Rússia de 1917 (Figes, Pipes, Service) e a América de 2017 (J. D. Vance).

Primeira nota: ordem é ordem. Mas esta lista é aleatória na forma como foi orde-nada. Graças ao calendário, outra forma de arrumar números, os livros sobre a Revolução Russa de 1917 desembarcaram em força nas livrarias. “A Tragédia de Um Povo”, de Orlando Figes, é o navio-almi-rante desta tomada de assalto. Mas me-recem também destaque “Os Romanov”, de Simon Sebag Montefiore (Presença), “Lénine no Comboio”, de Catherine Meridale (Temas e Debates), “Estaline e os Cientistas” (Temas e Debates), ou “A Revolução Russa”, de Sheila Fitzpatrick (Tinta da China). Este foi também o ano em que a obra de Agustina Bessa-Luís voltou a estar disponível nas livrarias, agora com a chancela da editora Relógio D’Água. A Assírio & Alvim publicou volumes individuais da obra completa de Mário Cesariny, Eugénio de Andrade e Alexandre O’Neill, publicando-se deste último, pela primeira vez, alguns trabalhos dispersos.

Este foi um ano bom para a edição de banda desenhada em Portugal. O número de títulos publicados cresceu e, sobretu-do, foi notória a diversidade de géneros, estilos e temas. Entre livros e fanzines, as editoras portuguesas construíram um panorama como há muito não se via por cá. Às editoras representadas na lista, há que juntar a Kingpin Books, a G Floy ou a Levoir (que, com o jornal “Público”, con-tinua a editar coleções essenciais). No capítulo dos álbuns e livros ilustrados (já está mais do que na altura de deixarmos para trás a ideia do “infantil”), a habitual proliferação de edições não impediu que se encontrassem alguns livros que vale a pena levar para o futuro. Aos que já estão na lista, acrescentem-se mais três: “A Bola Amarela”, de Bernardo P. Carvalho e Daniel Fehr (Planeta Tangerina); “Frida”, de Sébastian Perez e Benjamin Lacom-be (Kalandraka); e “A Meia Perdida”, de Anine Bösenberg (Bruaá).

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 70

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 6 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

E 70

OS MELHORES DE 2017

ão vou cair no sainete, que já nem seria original (depois dos desinspirados Top 10 dos “Cahiers du Cinéma” e da “Sight and Sound”), de escrever que David Lynch fez o melhor ‘filme’ do ano; nem ninguém aqui (listas ao folhear a página) fez a gracinha de colocar “Twin Peaks: The Return” nos melhores. Em primeiro lugar, e para que cada macaco seja metido no seu galho, aquela alucinação extravagante e jamais vista, seja em que ecrã for, é uma série de TV. Por outro lado, virar para ali o disco de 2017 parece-me uma

atitude autosatisfeita e reacionária, a pôr em xeque tudo o que, no cinema, se fez de novo e valeu a pena — e há que desdenhar quem despreza o novo, essa cinefilia de ossadas que, de tão agarrada ao clube dos cineastas mortos, nem se dá conta de como essa preguiça conforta. Não será mais estimulante continuar a procurar o raro ouro que ainda fica na peneira da quimera? Esperar que de entre mil, dois mil, cinco mil filmes que sejam, surja um dotado de poderosos chamamentos e que ponha os mortos e os vivos em contacto? Pôr mortos e vivos em contacto foi coisa que “Twin Peaks: The Return” se deu ao luxo de fazer, e por dezoito vezes, uma por cada episódio. Depois de ter visto (privilégios de Cannes...) os dois primeiros numa sala de cinema, confesso que o melhor de 2017 foram, de facto, aqueles cerimoniais de domingo à noite lá em casa entre meados de maio e de setembro, sala escura e headphones no limite da distorção (Lynch investe ainda mais no som do que na imagem). Não esquecerei Dale Cooper, o seu aluado duplo Dougie e a horda de criaturas que gravitaram à volta deles, Lynch himself. Ou aquele termonuclear episódio 8 que foi um hold up ao universo televisivo desde que a coisa existe. Ou o espantoso desfecho da série, eterno recomeçar em que nada, de facto, acabou.De volta à realidade, 2017 não só foi melhor do que 2016 como, cá pelo burgo, levou mais meio milhão de espectadores às salas. Estima-se que o ano luso termine à volta dos 15 milhões de bilhetes vendidos (ainda assim uma das taxas mais magras per capita da Europa), mais 3,4% do que no ano passado, a condizer com o crescimento da economia — mas para que isso aconteça é preciso que “Star Wars: Os Últimos Jedi” (que ainda não vi nem convenceu os críticos do Expresso que viram) seja o êxito que por cá não foi no ano anterior. No primeiro fim de semana, a franchise da Lucasfilm que é hoje propriedade da Disney (a mesma que ainda agora pagou uma exorbitância para adquirir a Foz, quem diria?) arrancou em grande, com 121.546 espectadores, mas ainda olha por um canudo para os

O ano mediano que Lynch tornou esquisitoA diversidade de escolhas aumentou face a 2016 e até no cinema americano a variedade se refletiu, mas os filmes que mais importam estão a ser cada vez menos vistos nas salasTEXTO FRANCISCO FERREIRA

CINEMA

“Twin Peaks: The Return”, de David Lynch e Mark Frost, a série de TV que

fez sombra a este ano cinematográfico

N

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 71

Cores: Cor

Área: 23,50 x 16,51 cm²

Corte: 7 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

787.724 de “Velocidade Furiosa 8” — o fenómeno da Universal, o filme mais visto do ano em Portugal, lidera uma lista de dez filmes em que metade, sem surpresa, são animações. Ainda na realidade: filmes a superarem um milhão de espectadores no país (nem 10% da população...) são miragem do antigamente (o último que andou lá perto, “Mínimos”, fez 936 mil em 2015), consequência do pobre, monótono e suburbano parque de salas que hoje temos. Já os filmes de autor europeus e asiáticos que chegam tantas vezes com prémios de excelência (lembram-se de quando uma Palma de Ouro valia 40 mil espectadores?), os mesmos pelos quais a crítica, em geral, se bate, quando ‘correm bem’ fazem 10 mil. Um punhado deles, não mais, toca nos 20 mil (o resto é uma miséria). E isso acontece quando são lançados com

“A Fábrica de Nada”, de Pedro Pinho (em cima), “Jackie”, de Pablo Larraín, e “A Morte de Luís XIV”, de Albert Serra, nas listas dos melhores filmes de 2017

visto, que pena. Cannes teve um palmarés pobre, mas foi rico para o cinema francês: Campillo e o notável “120 BPM”, também Claire Denis, Mathieu Amalric, Philippe Garrel, que chega em breve. “A Fábrica de Nada”, de Pedro Pinho e do coletivo Terratreme (imparáveis, acabam de anunciar novo filme: “Terra Comum”, de Susana Nobre, com estreia mundial em Roterdão, já em janeiro) correu o globo em dezenas de festivais internacionais e angariou prémios. O DocLisboa deu-nos mais uma edição extraordinária e, de festivais, do Indie ao Curtas, do Leffest ao Porto/Post/Doc e mais alguns, sem esquecer o trabalho anual da Cinemateca Portuguesa, que é uma das melhores do mundo, estamos bem servidos. Não temos é um circuito de exibição que lhes seja complementar. E é aqui que é preciso investir. b

competência — uma vez mais, sublinha-se o trabalho exemplar da Midas Filmes, que distribui o que gosta e sob rigorosos critérios. Quanto à exibição, no dia em que o Estado perceber que faltam, não um, mas dez projetos espalhados pelo país similares ao do Cinema Ideal, não tenho dúvidas de que muda de figura a relação dos portugueses com o cinema que mais importa. Quero destacar “Logan”, belo filme de James

Mangold, e “Planeta dos Macacos: A Guerra”, de Matt Reeves: dois blockbusters importantes, exceções à regra. Aliás, comparado com o ano passado, o cinema americano subiu nas nossas preferências: aqui estão James Gray, Ira Sachs, Jarmusch, Scorsese, Woody Allen, Barry Jenkins (por “Moonlight”, que roubou o Óscar ao tão olvidável “La La Land”) e, da parte que me toca, “Good Time”, dos manos Safdie, tão bom filme — e tão pouco

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 72

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 8 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

Um ano em que acontece um filme como “São Jorge”, de Marco Martins, jamais se pode dizer que seja um ano ruim. É um dos 10 melhores

de 2017, todas as categorias misturadas, na minha lista privada, e, quando temos um filme assim, haja ânimo! Podemos torcer o nariz aos caminhos percorridos pelo cinema comercial, podemos constatar que há um punhado de projetos que só pensam no dinheiro (pensar no dinheiro é bom; só pensar no dinheiro é que é lamentável...). Todavia, é bom sublinhar que a singularidade de um certo cinema português, a exceção que fez de Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, César Monteiro ou Fonseca e Costa notórios autores, não se eclipsou, embora, internacionalmente, pareça algo nublada — este ano, o Festival de Veneza, desde há décadas o mais atento à nossa cinematografia, ficou deserto de novos filmes... Em 2017, com desigual felicidade, além do já citado filme de Marco Martins, tivemos novas obras de João Botelho (“Peregrinação”), Luís Filipe Rocha (“Rosas de Ermera”), João Canijo (“Fátima”) ou Sérgio Tréfaut (“Treblinka”) — todas merecedoras de mais atenção do que o público lhes deu. Mas saliente-se que, apesar de tudo, nos podemos regozijar com os 41.970 espectadores que “São Jorge” granjeou ou mesmo com os 23.699 de “Fátima”, sobretudo atendendo a que só um filme português — “O Fim da Inocência”, de Joaquim Leitão — ultrapassou a fasquia dos 50 mil, em 2017. E assistimos a formas de distribuição/exibição engenhosas, como a das sessões-acontecimento, em que foi mostrado o documentário

“Rosas de Ermera”, com resultados assinaláveis (uma média, por sessão, de 71,5 espectadores, o que é notável — como termo de comparação registe-se que, até ao momento em que escrevo, o ratio do filme de Joaquim Leitão está nos 22,7). Vimos também emergir novos realizadores, alguns com filmes rodeados de polémica, exaltados por uns, execrados por outros, controvérsia de que o público se alheou, condenando-os ao ostracismo: “A Fábrica de Nada”, de Pedro Pinho (que teve um percurso assinalável nos festivais internacionais desde a sua estreia na Quinzena dos Realizadores, em Cannes), pouco ultrapassou os 7 mil espectadores, “Verão Danado”, de Pedro Cabeleira, foi um desastre: teve 827.Ainda não foi no ano que ora finda que a guerra em volta dos financiamentos do Instituto do Cinema e do Audiovisual teve tréguas duradouras. Continuou a disputa em volta dos júris e do controlo da sua nomeação, continuaram as divergências sobre o rigor da aplicação da lei nas suas decisões. Tarda a paz, consenso talvez nunca.Em tempo: assinale-se que, ao longo de 2017, a Cinemateca Portuguesa começou — finalmente! — a disponibilizar em DVD grandes clássicos do cinema mudo português: “Os Lobos” e “Mulheres da Beira”, de Rino Lupo, numa primeira edição, “Lisboa, Crónica Anedótica”, de Leitão de Barros, mesmo ao fim do ano. É o mesmo labor que leva a que, já em janeiro de 2018, aconteça na Cinemateca Francesa, em Paris, uma retrospetiva integral de Paulo Rocha. Haja memória! / JORGE LEITÃO RAMOS

Nuno Lopes em “São Jorge”, de Marco Martins, um dos filmes nacionais mais vistos este ano

Valha-nos “São Jorge”!

CINEMA

A MORTE DE LUÍS XIVDe Albert SerraFrança/Espanha/Portugal

120 BATIMENTOS POR MINUTODe Robin CampilloFrança

O MEU BELO SOL INTERIORDe Claire DenisFrança

GOOD TIMEDe Josh Safdie e Benny SafdieEUA

A FÁBRICA DE NADADe Pedro PinhoPortugal

O DIA SEGUINTEDe Hong Sang SooCoreia do Sul

O OUTRO LADO DA ESPERANÇADe Aki KaurismäkiFinlândia/Alemanha

BARBARADe Mathieu AmalricFrança

MA LOUTEDe Bruno DumontFrança/Alemanha/Bélgica

WESTERN (INÉDITO)De Valeska GrisebachAlemanha/Bulgária/Áustria

EscolhasFrancisco Ferreira

Com mais meia dúzia de estreias nacionais na lista, teriam entrado: “Aquarius” (Men-donça Filho), “Félicité” (Gomis), “Sonhos Cor-de-Rosa” (Bellocchio), “Paterson” (Jarmusch), “Logan” (Mangold) e “Planeta dos Macacos: A Guerra” (Reeves). Outros filmes importantes, pela ordem em que foram vistos: “Nyo Vweta Nafta”, de Ico Costa; “Spell Reel”, de Filipa César; “L’amant d’un jour”, de Philippe Garrel (es-treia-se em breve); “Farpões Baldios”, de Marta Mateus; “Closeness”, de Kantemir Balagov; “Frost”, de Sharunas Bartas; “Où en êtes-vous?...”, de João Pedro Rodri-gues; “Madame Hyde”, de Serge Bozon; “Good Luck”, de Ben Russell; “As Boas Maneiras”, de Marco Dutra e Juliana Rojas; “Milla”, de Valérie Massadian; “Cocote”, de Nelson Arias; “Les Gardiennes”, de Xavier Beauvois; “L’heroïque lande”, de Klotz/Perceval; “Notas de Campo”, de Cata-rina Botelho; “Vira Chudnenko”, de Inês Oliveira; “Les Quatre Soeurs”, de Claude Lanzmann; “Braguino”, de Clément Cogi-tore; e “Zama”, de Lucrecia Martel.

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 73

Cores: Cor

Área: 12,53 x 27,77 cm²

Corte: 9 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

SILÊNCIODe Martin ScorseseEUA/Taiwan/México

JACKIEDe Pablo LarraínChile/França/EUA/Hong Kong

RODA GIGANTEDe Woody AllenEUA

SÃO JORGEDe Marco MartinsPortugal/França

A FESTADe Sally PotterReino Unido

COCODe Lee Unkrich e Adrian MolinaEUA

GLÓRIADe Kristina Grozeva e Petar ValchanovBulgária/Grécia

MOONLIGHTDe Barry JenkinsEUA

SONHOS COR-DE-ROSADe Marco BellocchioItália/França

EU NÃO SOU O TEU NEGRODe Raoul PeckFrança/EUA

A CIDADE PERDIDA DE ZDe James GrayEUA

HOMENZINHOSDe Ira SachsEUA/Grécia/Brasil

A FÁBRICA DE NADADe Pedro PinhoPortugal

JACKIEDe Pablo LarraínChile/França/EUA/Hong Kong

O DIA SEGUINTEDe Hong Sang SooCoreia do Sul

A MORTE DE LUÍS XIVDe Albert SerraFrança/Espanha/Portugal

PATERSONDe Jim JarmuschEUA/França/Alemanha

MA LOUTEDe Bruno DumontFrança/Alemanha/Bélgica

ELDORADO XXIDe Salomé LamasPortugal/França

NA VERTICALDe Alain GuiraudieFrança

EscolhasJorge Leitão Ramos

EscolhasVasco Baptista Marques

O que é que aconteceu ao plano? Sim, o que é que aconteceu àquele bocado de filme entre dois cortes de montagem onde a composição, o tempo, o trabalho sobre a luz, os movimentos de câmara, as relações espaciais são para ver e ler? A crer nos tentpoles que os americanos fabricam em série para as massas adoles-centes, em que um plano pode durar um segundo e onde um minuto é uma eter-nidade, o plano morreu, o que significa que um filme deixa de ser uma coisa que se veja, o que interessa é o frenesim com que as imagens se sucedem. É o flagelo dos videoclipes que contaminou o cine-ma. Colapso? Nem tanto, o cinema tem um sistema imunitário que não se des-morona do pé para a mão, como se vê da lista que aqui deixo — só com realizado-res que sabem o que é um plano e filmes que o praticam. Mas “A Roda Gigante”, de Woody Allen, “Silêncio”, de Martin Scorsese, ou “A Festa”, de Sally Potter, foram tão mal ou pouco amados que não consigo evitar uma certa melancolia.

Basta fazer um exercício simples (o de comparar os filmes produzidos em 1956-1957 e em 2016-2017) para perceber que o discurso sobre a crise do cinema está longe de ser um flatus vocis. Pergunte-se: quantos dos títulos este ano estreados por cá ombreiam com os que Bergman, Ford ou Ozu assinaram há seis décadas? É com pena que o escrevemos, mas nem o melhor de entre eles (para nós, “A Cidade Perdida de Z”) lhes chega aos calcanha-res. Deste modo se explica a dificuldade que tivemos para compor o nosso top 10 anual. Nele há, ainda assim, uma coisa que vale a pena assinalar, a saber: que, por oposição às últimas colheitas, a de 2017 foi relativamente fértil no que toca ao cinema americano (além do trabalho de Gray, houve também os de Sachs, Larraín e Jarmusch). Uma última nota para a produção nacional, que, contra ventos e marés, nos deu dois filmes magníficos: “A Fábrica de Nada” e “Eldorado XXI”. Esperemos que este surto de criatividade se prolongue por 2018.

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 74

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 10 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

importantes do ano que agora termina? São tempos em que a realidade ultrapassou a ficção e dos quais pouco se espera. Não é que estejamos perante uma sociedade brutalmente transformada por uma revolução teocrática em que se instaurou a República de Gileade, mas talvez também não estejamos numa época em que tudo pode ser dado por garantido. Tomara que a distopia de Margaret Atwood, na qual as Servas férteis são obrigadas a ter relações sexuais com os seus Comandantes, nunca se realize.Será difícil encontrar nas novas séries deste ano algo como a

criação de Bruce Miller, mas isso não significa que este tenha sido o único produto televisivo em estreia a que valeu a pena assistir em 2017. Desengane-se quem o achar, porque foram muitas as histórias de qualidade a entrar em antena. A britânica “Apple Tree Yard”, que segue a história de uma mulher de meia-idade vítima de violação, é um valente murro no estômago, mas “Ozark” (sobre a lavagem de dinheiro no interior dos Estados Unidos) também não desiludiu. “Big Little Lies”, que transporta os telespectadores para a vida da classe alta californiana, apresentou

Grandes históriasOs milhões podem ajudar na hora de produzir uma série, mas sem um bom argumento nada se faz. Este ano foi a prova dissoTEXTO JOÃO MIGUEL SALVADOR

TELEVISÃO

“The Handmaid’s Tale”, protagonizada por Elisabeth

Moss, foi desenvolvida por Bruce Miller a partir do romance

homónimo de Margaret Atwood

PTA

KE

FIV

E/H

ULU

se. Este ano foram dados novos passos rumo à democratização do acesso às plataformas mais recentes, que reforçaram a oferta e que começaram a cativar mais clientes — a adesão a serviços de streaming tem vindo a crescer, mesmo que ainda só sejam subscritos por apenas 5,5% da população —, ao passo que os canais premium têm perdido fãs. Sinais dos tempos, num país com 3,8 milhões de assinantes de televisão paga.Mas que tempos serão estes em que uma série como “The Handmaid’s Tale” se torna uma das mais

ensava-se que era uma revolução, mas afinal não era disso que se tratava. Era de algo mais. Na televisão, o processo revolucionário ainda está em curso, e o crescimento no volume e qualidade dos conteúdos continua a sentir-

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 75

Cores: Cor

Área: 12,28 x 28,52 cm²

Corte: 11 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

uma realidade diferente, embora não tão distante como a de “O Estado”, sobre um grupo britânico no Daesh. No top 10, houve ainda espaço para a misteriosa série alemã “Dark” e para “Mindhunter”, mas também para o fantasioso mundo de “American Gods”, para a vida de Einstein em “Genius” e para o western “Sem Deus”.Nos canais portugueses, continua a destacar-se a aposta da RTP na ficção — com séries de época, como “Vidago Palace” ou “Madre Paula”, na RTP1, ou a polémica “4Play”, na RTP2 —, um campo onde

também a SIC Radical se destacou. O canal temático apostou nos formatos irreverentes, que são a sua assinatura, tendo bons exemplos em “Aleixo PSI” ou na mais recente “A Vida do Sousa”. Das webseries independentes, vale a pena ver “Meia Desfeita” (YouTube), com direção de Hugo van der Ding (de “A Criada Malcriada”). No caso dos generalistas privados, o horário nobre continua a ser ocupado maioritariamente por novelas — com exceção feita ao bem acolhido “E Se Fosse Consigo?” (SIC). No entanto, há que referir que o problema da ficção nacional não é apenas de formato, e exemplo disso são algumas escolhas menos felizes de “A Herdeira”, da TVI. A procura por novas histórias é de louvar, mas a narrativa de séries internacionais deve ser apenas uma referência e há que guardar mais distância de “Narcos”. A série da Netflix, que chegou este ano à sua terceira temporada, continuou a mostrar o mundo do narcotráfico na América Latina e provou que há mais vida para lá de Pablo Escobar. O ator português Pêpê Rapazote foi um dos protagonistas dos novos episódios, criando uma ligação maior da série ao público português, mas esta não foi a única série do serviço de streaming a pôr Portugal no mapa. “The Crown” (Netflix), sobre Isabel II, conta com algumas referências ao país e até inclui um episódio intitulado ‘Lisboa’. Vencedora no último ano, a megaprodução britânica volta a ser referida, agora como uma das produções que continua a valer a pena ver.Das séries que compuseram o leque de escolhas do último ano destaca-se também a segunda temporada de “Outcast” (FOX), mas há uma série que não nos sai da cabeça. É “Stranger Things” (Netflix), dos gémeos Duffer, a aventura sobrenatural passada em Hawkins nos anos 80. A assinalar há ainda o regresso de “This Is Us” (FOX Life), sobre a história contada a dois tempos da família Pearson. Quase em tempo de despedidas, também não foi possível fugir à sétima e penúltima temporada de “A Guerra dos Tronos” (SyFy), sempre entre as mais mediáticas. b

THE HANDMAID’S TALEDe Bruce MillerNOS Play

APPLE TREE YARDDe Jessica HobbsSundance TV

OZARKDe Bill Dubuque e Mark WilliamsNetflix

BIG LITTLE LIESDe David E. KelleyTVSéries

O ESTADODe Peter KosminskyNational Geographic Channel

DARKDe Baran bo Odar e Jantje FrieseNetflix

MINDHUNTERDe David Fincher e Joe PenhallNetflix

AMERICAN GODSDe Bryan Fuller e Michael GreenAmazon Prime Video

GENIUSDe Ron Howard e Brian GrazerNational Geographic Channel

SEM DEUSDe Scott FrankNetflix

Escolhas

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 76

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 12 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

para a fama nacional. O país adora Salvador Sobral e esgotou concertos de jazz só para ouvir ‘Amar pelos Dois’. Salvador ainda lançou o projeto Alexander Search, em parceria com o pianista Júlio Resende, em torno da poesia do heterónimo de Fernando Pessoa, mas teve de se retirar no pico da fama, e este mês foi submetido a um transplante de coração. Uma história para todo o sempre.A morte de Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, aos 61 anos, semanas depois de um último concerto no Coliseu de Lisboa, provocou comoção nacional. Até teve direito a homenagem na Assembleia da República (que este ano já tinha homenageado Salvador Sobral).É grande a lista de gente da música que faleceu em 2017, desde logo com a secção rítmica dos Can à cabeça: Jaki Liebezeit e Holger Czukay. Lembremos Misha Mengelberg, Pierre Henry, Mika Vainio, Durval Moreirinhas, John Abercrombie, Larry Coryell, João Ferreira-Rosa, David Axelrod, Chuck Berry, James Cotton, Bruce Langhorne, Daniel Bacelar, Chris Cornell, Gregg Allman, Walter Becker, Charles Bradley, Tom Petty, Fats Domino, Luis Bacalov ou Johnny Hallyday.Dylan esticou até ao limite a novela Nobel e a 2 de abril foi a Estocolmo receber a medalha e o diploma, numa cerimónia privada. A 5 de junho (cinco dias antes do fim do prazo), a obrigatória palestra foi publicada em www.nobelprize.org. Entretanto, a sua amiga e representante para cerimónias Nobel, Patti Smith, comprou a casa onde Rimbaud passou a infância, nas Ardenas, Bélgica, e onde este escreveu, aos 19 anos, “Une Saison en Enfer”.Registaram-se ataques terroristas em concertos dos Allah-Las em Varsóvia (1 ferido), de Ariana Grande em Manchester (23 mortos) e num festival de música country em Las Vegas (59 mortos).Os Black Sabbath anunciaram o fim do fim, as

Bananarama regressaram à vida ativa. Kendrick Lamar, avassalador, foi o símbolo da força mundial do hip-hop. David Toop publicou a autobiografia... em japonês.O Soundcloud, o maior repositório mundial de música em edição de autor, viu a sua continuidade posta em risco e em julho despediu 40% dos trabalhadores. No mês seguinte foi salvo por uma injeção de capital de 169,5 milhões de dólares.Celebraram-se os 50 anos do Verão do Amor e de “Sgt. Pepper” e os 10 do Record Store Day. David Bowie transformou-se numa indústria, Leonard Cohen quase desapareceu da indústria. Tony Carreira e Ricardo Landum foram acusados de plágio. Brian Eno também devia acusar de plágio os LCD Soundsystem, mas andou ocupado a gravar com os Gift. Ricardo Rocha voltou a tocar a solo. RAC (Porto, 1985) venceu o Grammy de Melhor Remistura. David Lynch (com Dean Hurley) tornou “Twin Peaks” uma obra de arte de desenho de som. Com “Is This the Life We Really Want?”, Roger Waters assumiu o papel de porta-voz dos cantores de protesto contra Trump, e os Pink Floyd deram ao Victoria & Albert Museum a exposição do ano. A “nova vanguarda jazz de Lisboa” teve artigo de fundo na “Wire”. Mais do que a morte de Charles Manson, tive a sensação de final de uma era quando li que no seu disco deste ano, “Unleash the Love”, Mike Love foi acusado de abusar do Auto-Tune — quando um Beach Boy precisa de software para afinar...A “persistência de formas culturais reconhecíveis” neste texto de balanço parece ir de encontro ao que tinha sido teorizado por Mark Fisher, um dos mais brilhantes pensadores e críticos da cultura musical. O suicídio em janeiro do escritor inglês (e blogger com o nome de k-punk) foi o seu gesto final de “cancelamento do futuro” e teve um impacto que irá ser lembrado por muito tempo. [email protected]

Bate coraçãoEmoção com Salvador Sobral, comoção com Zé PedroTEXTO RUI TENTÚGAL

MÚSICA

Salvador Sobral a cantar em Kiev, a 13 de maio; uma foto colocada por Madonna no seu Instagram, a 8 de setembro; e o último retrato que Rita Carmo fez de Zé Pedro, em junho

E

SE

RG

EY

DO

LZH

EN

KO

/EPA

m 2017, Madonna e a Eurovisão açambarcaram a atenção do país. A página da Wikipédia da cantora americana já está atualizada: “Residência: Lisboa, Portugal.” Louise Ciccone está a viver desde o final do verão no Hotel Pestana Palace, na Ajuda, e tem ido aos fados e às mornas, a meio caminho entre a residência fiscal e a residência artística.Quanto ao Festival da Eurovisão, à 49ª tentativa, Portugal ganhou. Os fãs mediáticos tomaram conta do processo de candidatura, escolheram acertadamente, e em Kiev venceu o freak que destoou do freak show. Desde Zé Maria que ninguém passava tão rapidamente do anonimato

D.R

.

RIT

A C

AR

MO

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 77

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 13 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

As artes e a educação regem-se pelo calendário agrícola: semeia-se no outono para colher ao longo do ano. Escolas e universidades, galerias e museus, temporadas de ópera e de concertos começam

em setembro. Na América, o Dia do Trabalho cai na primeira segunda-feira de setembro. Por cá, a única instituição a sério que se orienta pelo ano civil de janeiro a dezembro é a Casa da Música (que dedicou a sua temporada de 2017 ao Reino Unido, e escolheu a Áustria para 2018). A outra instituição com pés e cabeça — a Gulbenkian Música — continua fiel ao ano agrícola, com o pousio do pico do verão (férias). O CCB, mais recetor do que iniciador e produtor, segue o modelo da manta de retalhos, acolhendo sugestões de vários lados.A Gulbenkian revelou-nos a beleza e inteligência maravilhosas da voz de Christian Gerhaher e escolheu o jovem Lorenzo Viotti para diretor musical. Tem provas dadas (incluindo em Lisboa) e na excelente entrevista ao Expresso mostrou que tem ideias e está empenhado em trabalhar com os músicos. (Quem nos dera que Joana Carneiro fizesse o mesmo com a Orquestra Sinfónica Portuguesa!) São os teatros e agrupamentos nacionais que evidenciam as maiores debilidades (devido ao habitual estrangulamento financeiro, excesso de pessoal e gestão duvidosa). O São Carlos, para se dar ares, deu em viajar.Lá fora, as duas estreias operáticas mais esperadas tiveram desenlaces opostos: o sucesso do “Hamlet”, de Brett Dean, em Glyndebourne, e o falhanço de “Girls of the Golden West”, de John Adams, em São Francisco (em parte devido ao libreto inepto de Peter Sellars). A tragédia do ‘Brexit’ começa a ter implicações musicais: duas importantes orquestras europeias, a EU Baroque Orchestra e a EU Youth Orchestra mudaram-se de armas e bagagens para a Bélgica e Itália, respetivamente. Assinalam-se as perdas dos maestros Alberto Zedda (Prémio Internacional do Festival Terras Sem Sombra em 2017) e Jirí Belohlávek, dos cantores Nicolai Gedda, Roberta Knie (a Brünnhilde, com Birgit Nilsson, do “Ring” do centenário em São Carlos, em 1976) e Dmitri Hvorostovsky, e da harpista e compositora Clotilde Rosa (1930-2017). A Metropolitan Opera sofreu um abanão com as denúncias de abuso e agressão sexual de parte do seu diretor musical emérito (entretanto suspenso), James Levine. Deve ser o segredo mais mal guardado das últimas quatro décadas. Monstro em figura de gente, maestro medíocre (mas bom preparador de orquestras), sedento de poder e de dinheiro, Levine elevou o culto da sua personalidade a níveis inauditos. A boa notícia é que Cecilia Bartoli rompeu o tabu e furou o teto de vidro ao cantar a solo com o coro estritamente masculino da Capela Sistina (mas para manter as aparências a sua imagem não aparece na capa do disco da Deutsche Grammophon). Ah, é verdade, a melhor produção do ano foi, para mim, a “Semiramide” na Royal Opera de Londres (com Joyce DiDonato na protagonista). David Alden no seu melhor! Infelizmente, ao escolher o “Peter Grimes”, o São Carlos deu-nos Alden no seu pior... / JORGE CALADO

AM

Y T

. ZIE

LIN

SK

I/R

ED

FE

RN

S/G

ET

TY

Christian Gerhaher estreou-se em Lisboa

a cantar Schubert, Berlioz e Berg

Altos e baixos

SGT. PEPPER’S LONELY HEARTS CLUB... (ANNIVERSARY EDITION)The BeatlesApple/Parlophone

A NEW CAREER IN A NEW TOWN [1977-1982]David BowieParlophone

IN NEW YORK COLLECTED RECORDINGS 1988-1996Lloyd ColePolydor

TAKING TIGER MOUNTAIN... / HERE COME THE WARM JETS / BEFORE AND AFTER SCIENCE / ANOTHER GREEN WORLD (HALF SPEED MASTERING)Brian EnoVirgin/UMC

THE FINAL CUT / A MOMENTARY LAPSE... / DELICATE SOUND OF THUNDER / A COLLECTION OF GREAT DANCE... (REMASTERS 180 G)Pink FloydPink Floyd Records

OK COMPUTER OKNOTOK 1997-2017RadioheadXL

AUTOMATIC FOR THE PEOPLE (25TH ANNIVERSARY EDITION)R.E.M.Craft

EITHER / OR (EXPANDED EDITION)Elliott SmithUniversal

MANCHESTER NORTH OF ENGLAND — A STORY OF INDEPENDENT MUSIC GREATER MANCHESTER 1977-1993VáriosCherry Red

SLIGHTS STILL UNSPOKENVoigt/465Mental Experience

1986Benjamim e Barnaby KeenPataca

CAMANÉ CANTA MARCENEIROCamanéParlophone/Warner

QUANDO SE AMA LOUCAMENTEAldina DuarteSony

DOMINGO À TARDEÉmeCafetra

LO-FI MODAErmoNorteSul/Valentim de Carvalho

ARCHIPELAGOS — PASSAGENSAmélia Muge e Michales LoukovikasEdição de autor

AO LONGE JÁ SE OUVIASopa de PedraTurbina

GOOD BOYSStone DeadLovers & Lollypops

ANTWERPENSurmaOmnichord

ANTOLOGIA DE MÚSICA ATÍPICA PORTUGUESA VOL. 1: O TRABALHOVáriosDiscrepant

EscolhasEdições de arquivo de A a Z

EscolhasPortugueses de A a Z

Escolhas de J.L., L.G., L.P., M.R.V. e R.T.

Escolhas de Alexandra Carita, J.L., L.G., L.P., M.R.V. e R.T.

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 78

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 14 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

THE NAVIGATORHurray For The Riff RaffATO

MEMORIES ARE NOWJesca HoopSub Pop

MASSEDUCTIONSt. VincentLoma Vista

YOUTH DETENTION (NAIL MY...Lee Bains III & The Glory FiresDon Giovanni

MOONSHINE FREEZEThis Is The KitRough Trade

JUST SAY NO TO THE PSYCHO...GnodRocket

WE DISSOLVEChrysta BellMeta Hari

RELATIVES IN DESCENTProtomartyrDomino

FIRST LIGHTDan MichaelsonThe State 51 Conspiracy

50 SONG MEMOIRThe Magnetic FieldsNonesuch

METAMORFOSI TRECENTOLa FonteAlpha

TYE: COMPLETE CONSORT...PhantasmLinn

BUXTEHUDE: TRIO SONATAS OP. 1ArcangeloAlpha

SHEPPARD: MEDIA VITAWestminster Cathedral ChoirHyperion

SORENSEN: MIGNONKatrine GislingeDacapo

LUCREZIA BORGIA’S DAUGHTERMusica Secreta & Celestial SirensObsidian

COMPÈRE: MISSA GALEAZESCHAOdhecatonArcana

RADIGUE: OCCAM OCÉAN VOL. 1VáriosShiiin

TINCTORIS: SECRET CONSOL.Le Miroir de MusiqueRicercar

MACHAUT: SOVEREIGN BEAUTYThe Orlando ConsortHyperion

ART OF PERELMAN-SHIPP (1-7)Ivo Perelman, Matthew Shipp, etc.Leo

SOLO: REFLECTIONS... ON MONKWadada Leo SmithTUM

A QUIETNESS OF WATERP. Evans, Agustí Fernández, M. GutafssonNot Two

A WING DISSOLVED IN LIGHTAnemoneNoBusiness

OPEN BOOKFred HerschPalmetto

INCIDENTALSTim Berne’s SnakeoilECM

CONSTRUCT 2: ARTACTSDEK TrioAudiographic

NOT BOUNDMatthew Shipp QuartetFor Tune

I AM A MANRon MilesYellowbird

ACOUSTIC MAIN SUITE PLUS...SiriusClean Feed

SWEET AS BROKEN DATESVáriosOstinato

OTÉ MALOYAVáriosStrut

WHITE AFRICAN POWERTanzania Albinism CollectiveSix Degrees

WELCOME TO ZAMROCK! VOL. 1VáriosNow-Again

EGHASS MALANLes Filles de IllighadadSahel Sounds

POP MAKOSSAVáriosAnalog Africa

POULO WARALIAwa PouloAwesome Tapes from Africa

SYNTHESIZE THE SOULVáriosOstinato

HAMAD KALKABA AND THE GOLDEN SOUNDSAnalog Africa

ANDINAVáriosStrut

EscolhasJoão Lisboa

EscolhasJoão Santos

Sob este ângulo de escuta, 2017 não pode-ria ter sido musicalmente mais rico. O que, além das provas apresentadas, é facilmen-te demonstrável se repararmos que, fora dos 10 obrigatoriamente selecionados, a ditadura aritmética barrou injustissima-mente a entrada a Aimee Mann (“Mental Illness”), Randy Newman (“Dark Matter), Ryuichi Sakamoto (“async”), Michael Chapman (“50”), Bob Dylan (“Triplicate”), Sleaford Mods (“English Tapas”), The Wea-ther Station (“The Weather Station”), Brian Eno (“Reflection”), Laura Marling (“Semper Femina”), Quercus (“Nightfall”) e mais uma mão-cheia de outros. A radiografar um mundo galopantemente perigoso, saúdem-se os Gnod (“Just Say No to the Psycho Right-Wing Capitalist Fascist Industrial Death Machine”), Public Service Broadcasting (“Every Valley”), Lee Bains III & The Glory Fires (“Youth Detention (Nail My Feet Down to the Southside of Town)”), Protomartyr (“Relatives in Descent”) e, sobretudo, o belíssimo “The Navigator”, de Hurray For The Riff Raff.

CLÁSSICA Menções honrosas: Stile Antigo em “Divine Theatre”, de Wert (Harmonia Mundi); na mesma editora, Matthias Goerne em “Lieder” de Schu-mann e “Cantatas” de Bach; Les Talens Lyriques em “Pygmalion”, de Rameau (Aparté); Ensemble Aleph em “Die Stü-cke der Windrose”, de Kagel (Évidence); Gidon Kremer em “Sinfonias de Câmara”, de Weinberg (ECM); Seong-Jin Cho em “Images”, de Debussy (Deutsche Gram-mophon); Nelson Freire em “Intermezzi”, de Brahms (Decca); Vicki Ray em “River of 1,000 Streams”, de Lentz (Cold Blue Music); Barbara Hannigan em “Crazy Girl Crazy” (Alpha); Emily Pinkerton e Patrick Burke em “Rounder Songs” (New Amsterdam). Do arquivo: “Tiger Balm/Amazonia Dreaming/Immersion”, de Annea Lockwood (Black Truffle); “Rose des Vents”, de Pierre Mariétan (Mana); “Four Indonesian Electronic Pieces”, de Otto Sidharta (Sub Rosa); “Hétérozygo-te/Petite Symphonie…”, de Luc Ferrari (Recollection GRM).

JAZZ Menções honrosas: “Nerve Dance” (Michaël Attias), “Vertical” (Mario Pa-vone) e “Saxophone Special Revisited” (Rova Saxophone Quartet, Kyle Bru-ckmann, Henry Kaiser), na Clean Feed; “The Attic”, de Gonçalo Almeida, Rodri-go Amado e Marco Franco (NoBusiness); “Bells for the South Side”, de Roscoe Mitchell (ECM); “Vessel in Orbit”, de Whit Dickey, Mat Maneri e Matthew Shipp (AUM). Do arquivo: “Karyobin”, do Spontaneous Music Ensemble (Ema-nem); “Divine Music”, de Brother Ah (Manufactured); “Moshi”, de Barney Wilen (SouffleContinu); “Free Jazz”, de François Tusques (Cacophonic); “Song of Soil”, de Masahiko Togashi, Don Cherry e Charlie Haden (Tiger Bay); “Les Liaisons Dangereuses”, de Thelonious Monk (Sam); “On a Monday Evening”, de Bill Evans (Concord); “Truth, Liberty & Soul”, de Jaco Pastorius (Resonance). Foram-se Sunny Murray, Muhal Richard Abrams, Geri Allen, Arthur Blythe e Horace Parlan.

MUNDO Menções honrosas: a anto-logia “The Original Sound of Mali” (Mr. Bongo); “Lam Phloen”, de Phumphuang Duanchan (EM); “Nuits de Printemps”, de Abdou El Omari (Radio Martiko); “Eros in Arabia”, de Richard Horowitz (Freedom to Spend); gravações de campo no Brasil, em “La danse du souffle” (Ocora), e na Etiópia, com “Ethiopian Urban and Tribal Music” (Sub Rosa); “Ragas of Morning & Night”, de Pandit Pran Nath (Just Dreams); “Gulu City Anthems”, de Otim Alpha (Nyege Nyege Tapes); o sétimo volume da Habibi Funk. E uma dúzia de títulos na PMG: “Boys and Girls” (Joe Moks), “Feelin’ Alright” (Kiki Gyan), “Funk With Me” (Danny Offia), “Celebration” (Aktion), “Light My Fire” (Burnis), “Co--Operation” (Foundars 15), “Let’s Have a Party” (Geraldo Pino), “Cold Fire” (Heads Funk), “Only You” (Steve Monite), “Sexy Thing” (Robo Arigo), “Happy Birthday to ‘U’” (Steve Black), “Don’t Stop the Music” (Sony Enang).

MÚSICA

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 79

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 15 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

RAMEAU: LES INDES GALANTESMünchner Festspielorchester, Bolton (d)BelAir

MOZART: REQUIEMFreiburger Barockorchester, Jacobs (d)Harmonia Mundi

BEETHOVEN: SYMPHONIE Nº 9Bayreuther Festspiele, Böhm (d)Orfeo

SCHUBERT: NACHT & TRÄUMEAccentus, Insula Orchestra, Equilbey (d)Erato

BERLIOZ: LES TROYENS (1803)Orchestre Phil. de Strasbourg, Nelson (d)Erato

CHOPIN EVOCATIONSDaniil Trifonov, Mahler Chamber OrchestraDeutsche Grammophon

BRAHMS: DIE SCHÖNE...Gerhaher (bar), Huber (p), Walser (n)Sony

FROM BAROQUE TO FADOOs Músicos do Tejo, Magalhães (d)Naxos

CRAZY GIRL CRAZYBarbara Hannigan (s, d), Ludwig OrchestraAlpha

MAX RICHTER: THREE WORLDSDeutsches Filmorch. Babelsberg, Ziegler (d)Deutsche Grammophon

PURE COMEDYFather John MistySub Pop

NOT EVEN HAPPINESSJulie ByrneBasin Rock

PARTYAldous Harding4AD

BEDOUINEBedouineSpacebomb

SLEEP WELL BEASTThe National4AD

HEY MR FERRYMANMark EitzelDecor

PRISONERRyan AdamsPax Americana

1986Benjamim e Barnaby KeenPataca

THE POET’S DEATHMazganiSony

LOTTA SEA LICECourtney Barnett and Kurt VileMarathon Artists/Matador

ANTISOCIALITESAlvvaysTransgressive

FLYING MICROTONAL BANANAKing Gizzard and the Lizard WizardHeavenly

AMERICAN DREAMLCD SoundsystemDFA/Columbia

MUSIC FOR THE AGE OF...The ClienteleTapete

GOOD BOYSStone DeadLovers & Lollypops

I USED TO SPEND SO MUCH TIME...Chastity BeltHardly Art

RELATIVES IN DESCENTProtomartyrDomino

ROBYN HITCHCOCKRobyn HitchcockYep Rock

DOMINGO À TARDEÉmeCafetra

CASA DE CIMAPega MonstroCafetra/Upset the Rhythm

ARCAArcaXL

LO-FI MODAErmoNorte Sul/Valentim de Carvalho

PLUNGEFever RayRabid

ANTWERPENSurmaOmnichord

MELODRAMALordeUniversal

NO SHAPEPerfume GeniusMatador

PROCESSSamphaYoung Turks

I SEE YOUThe xxYoung Turks

FLOWER BOYTyler, The CreatorColumbia

AROMANTICISMMoses SumneyJagjaguwar

EscolhasJorge Calado

EscolhasLia Pereira

EscolhasLuís Guerra

EscolhasMário Rui Vieira

O ano é o das misturas e contaminações. Canções de Schubert orquestradas por outros (de Liszt a Britten e Krawczyk), Chopin de permeio com homenagens a Chopin, conjunção louca de Berio, Berg e Gershwin, Süssmayr modificado (numa recriação do “Requiem” de Mozart). Não faz sentido comparar maçãs com laran-jas, mas pode sempre misturar-se tudo numa saudável salada de frutas. Como sempre, a minha ordenação é vagamente cronológica. Ana Quintans continua a brilhar no estrangeiro (é Amour e Zaïde na ópera de Rameau em Munique) e viaja com Ricardo Ribeiro na travessia da música portuguesa pelos Músicos do Tejo. Os novos “Troyens” (com Michael Spyres em Enée e direção de John Nelson) são um must, mas também não dispenso Richter na abordagem a três romances de Virginia Woolf. Aposto que Christian Gerhaher é o mais sublime cantor do mundo (mesmo em Brahms), e não esqueço o prazer de ouvir Karl Böhm a dirigir Beethoven.

2016 abriu-nos os olhos para a mortali-dade dos grandes ícones, mas a perda dói mais fundo quando parte um dos nossos. Zé Pedro passou 61 anos no mesmo pla-neta que nós, construindo praticamente do zero o rock (género musical & estilo de vida) no nosso retângulo. À “Blitz”, Henrique Amaro recordou a amizade do fundador dos Xutos & Pontapés com Pedro Ayres Magalhães e não hesita em considerar esta dupla como a criadora do pop/rock em Portugal. Além deste “propósito fundador”, como bem resume o radialista, Zé Pedro tinha — e esta é a verdade dos factos, não mera conversa post mortem — um coração do tamanho do que ajudou a construir. Também por isso, devemos-lhe a promessa de conti-nuar a partilhar aquilo que mais vida lhe deu: a música. Nos últimos meses, foram de mulheres (além das aqui listadas, brilharam Laura Marling ou The Weather Station) muitas das melhores canções. E Father John Misty tirou uma selfie com o mundo todo lá atrás.

Há muitos anos, quando esboçava as pri-meiras investidas no Netscape, a primeira mediação entre um rapaz de 18 anos e essa coisa nova a que alguns chamavam world wide web, era comum dizer-se que ‘na internet podes ser um cão’. Ou seja, na internet qualquer um poderia ser qual-quer outro — e isso era liberdade. Hoje, quem advogar esse discurso parecerá um anacrónico viajante do tempo, mensa-geiro da concórdia universal desse flower power tecnologicamente induzido que foram os anos 90 dos primeiros cliques. No pós-apocalipse — é dos filmes — o povo safa-se como pode. Nunca em 1995 uma banda conseguiria lançar 4 álbuns (provavelmente 5, quando ler isto) em 365 dias, mas debaixo deste denso nevoeiro cósmico de 2017 A.D. foi o que os australianos King Gizzard & The Lizard Wizard fizeram, propulsionados pelo passa-palavra das redes sociais (flagran-tes demónios ao serviço da arte) e por tão ‘analógicos’ espetáculos de música ao vivo. O ano também foi deles.

Há uma certeza escrita na pedra em 2017 que me enche o peito de orgulho: a música portuguesa entrou numa nova fase. Arrojada, sem problemas em ser diferente, bem pensada e executada, com capacidade para ombrear com aqui-lo que ‘vem de fora’ e temos tendência a considerar melhor. Cada vez menos, felizmente. Gostos são gostos, claro, mas é impossível não elogiar quer o feito de Salvador Sobral ao romper o status quo da Eurovisão quer aquilo que artistas com fome de futuro, como Surma, Ermo ou Nídia, trouxeram à música feita em Portugal. Cruzámos fronteiras e perce-bemos que se tornam menos relevantes a cada dia que passa. Entre os álbuns que me arrepanharam os sentidos no último ano, estão o de um venezuelano que deu voz às suas produções experimentais; uma neozelandesa com o futuro da pop nas mãos; uma sueca que chama os bois pelos nomes; e um rapper americano com ganas de estilhaçar convenções. 12 meses de montanha-russa.

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 80

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 16 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

espetáculo maior no ano teatral e a quarta vez que Rogério de Carvalho encena esta peça de Genet, um autor que deixou uma marca particular no teatro e na literatura do século XX.É, contudo, a direção de atores que tem fragilizado muito do atual teatro português; é um aspeto fundamental de grande parte dos espetáculos que continuam a ser feitos e que parece tender a desaparecer sem deixar substituto válido. E é a direção de atores que constitui um dos traços distintivos mais fortes de “Une Île Flottante”, além da inteligência da dramaturgia, da excelência da cenografia, da sensibilidade musical do grande encenador que é Marthaler, das luzes e do trabalho dos atores.“Une Île Flottante” é também um exemplo maior do teatro que se

O céu é o limiteEm 2017 a criação nacional esteve em destaque. O Festival de Almada e o FIMFA asseguraram a programação internacional mais coerente e variadaTEXTO JOÃO CARNEIRO

TEATRO

A direção de atores constitui um dos traços

distintivos mais fortes de “Une Île Flottante”,

com encenação de Marthaler

E

SIM

ON

HA

LLS

TR

ÖM

/IC

ON

IQ S

TU

DIO

GM

BH

faz no estrangeiro. O Festival de Almada e o Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas (FIMFA) — e outros casos dignos de nota, como até agora a Culturgest, com características particulares — são quem, de maneira mais consistente e obstinada, insiste em trazer aquilo que, vindo de fora, serve de exemplo, de confronto, de aprendizagem e de deleite — para todos, artistas ou não. Assim, e além da “Ilha…”, de Marthaler, vale a pena assinalar espetáculos como “Golem”, de Suzanne Andrade, com o seu fantástico e original grafismo; o “Teatro Delusio”, dos germânicos Familie Flöz, ou a inteligência incrível do teatro de marionetas; e “Celui qui tombe”, de Yoann Bourgeois, uma vertiginosa confluência de várias artes de palco — música, teatro, coreografia, acrobacia. O céu é o limite. b

com Ivo Canelas e Pedro Gil; há o “Capitão Michel...”, de Bruno Bravo, um pequeno ‘concentrado’ de inteligência, bom gosto e feliz dramaturgia; há “Topografia”, com que o Teatro da Cidade continua a tentar criar uma linguagem teatral própria, a partir do texto e do rigor da execução, se bem que num modo mais sóbrio do que na estreia do grupo, com “Os Justos”, de Camus, em 2016; há, ainda, “Esquecer”, cinco monólogos de Dimítris Dimitriádis, que Jean-Paul Bucchieri encenou e onde ficou em destaque, principalmente, o trabalho dos atores — e talvez, muito especialmente, das atrizes, Beatriz Brás e Ana Cris; “Cândida ou o Pessimismo”, um monólogo escrito e interpretado por Cucha Carvalheiro, com encenação de Fernanda Lapa; e, finalmente, “Os Negros”, do Teatro Griot, um

m 2017, e além de uma abundante produção escrita quer em peças de teatro quer no campo ensaístico, a criação portuguesa teve uma franca visibilidade, com obras de muitos artistas emergentes ou em início de carreira, sem que o fator novidade ou juventude fosse, contudo, exclusivo. Na lista deste ano não há, praticamente, os novíssimos, os recém-chegados ao teatro; mas há o sólido trabalho de Marta Carreiras e Romeu Costa na encenação de “Pedro e o Capitão”,

UNE ÎLE FLOTTANTE / UMA ILHA FLUTUANTEA partir de Eugène LabicheEncenação de Christoph Marthaler

CELUI QUI TOMBEDe Yoann Bourgeois

TEATRO DELUSIODe Familie Flöz

GOLEMDe Suzanne Andrade

OS NEGROSDe Jean GenetEncenação de Rogério de Carvalho

CÂNDIDA OU O PESSIMISMODe Cucha CarvalheiroEncenação de Fernanda Lapa

A HISTÓRIA ASSOMBROSA DE COMO O CAPITÃO MICHEL PERDEU UM BRAÇOA partir de “O Jantar dos Bustos”, de Gaston LerouxEncenação de Bruno Bravo

PEDRO E O CAPITÃODe Mario BenedettiEncenação de Marta Carreiras e Romeu Costa

TOPOGRAFIADe Teatro da Cidade

ESQUECERDe Dimítris DimitriádisEncenação de Jean-Paul Bucchieri

Escolhas

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 81

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 17 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

paradoxal faz-se dádiva que celebra o encontro, com outros em cena, neste caso mulheres, de diferentes idades e em respirações múltiplas.Foi um ano particularmente marcante na criação artística no que podemos entender como dança num sentido amplo. Corpos que afirmam a sua resistência, rebeldia, cansaço, idade, fôlego, doença, desalento e fundamental eloquência do outro. Corpos poéticos. Corpos políticos. Corpos viscerais. Corpos inconformados. Corpos obscenos. Corpos incoerentes, desequilibrados, irados, que se fazem escutar pela boca e... pelo cu — literalmente. Nesta lista ficam esses momentos irrepetíveis, como a passagem de Yvonne Rainer por Serralves e o olhar do espectador comovido pela súbita revelação do humano. Neste mundo participam peças e criadores que amplificam as vozes que recusam ser caladas e

Intermitências do mundoImplicação, inconformismo e resistência ou poéticas de uma novíssima dança abjecionistaTEXTO CLAUDIA GALHÓS

DANÇA

O regresso de Rui Horta como bailarino,

em “Vespa”, é também um gesto de combate pelo futuro

L

JO

ÃO

DU

AR

TE

transportam consigo inquietações de um mundo por vir, quando a decisão que importa é não abdicar do futuro. Desta escrita materializada em cena constam os nomes indicados na lista em cima, mas outros importam que não são menos fundamentais, como “Antropocenas”, de Rita Natálio e João dos Santos Martins, “Ressaca”, de David Marques, “Captado pela Intuição”, de Tânia Carvalho, “Meeting”, de Antony Hamilton & Alisdair Macindoe, “Terça-Feira: Tudo o Que É Sólido Dissolve-se no Ar”, de Cláudia Dias, “Mixed Feelings”, de Rafael Alvarez, “Fanfare”, de Loïc Touzé, “Ethica, Natura e Origine della Mente”, de Romeo Castellucci, “Peça Feliz”, de Miguel Pereira, “O Duelo”, de Útero, “Brother”, de Marco da Silva Ferreira, “Nova Criação”, de Teresa Silva e Filipe Pereira, “Mother”, de Peeping Tom, para referir apenas alguns... b

onde o ruído interno imparável percorre a emergência de outros corpos no seu corpo próprio, entre o humano, o animal e o artificial, entre a idade que se acomoda à pele e a vitalidade que o põe em movimento. E, no final, fala de amor, pela mulher e pelo outro. É dessa condição excecional, rara, tocante... que se apresenta esta coleção de escolhas de peças do ano. E é de acontecimento único maravilhoso, da respiração que se suspende para entregar intensamente o coração nos braços e nos corpos dos intérpretes, como um derradeiro sacrifício, que é duplo na ferida e no prazer, que pulsa abismal e sublime esse “Ensaio para Uma Cartografia”, de Mónica Calle. Novamente, Calle reafirma que o indivíduo inscrito na arte só faz sentido quando se dá todo, completo, quando é corpo e ser tão implicado que é esquecido de si próprio. Nesse trânsito

embras-te de o ver dançar? As interrogações foram surgindo, desencadeadas por um facto novo: Rui Horta a dançar em palco é uma imagem dos anos 80... Sim, temo-lo visto em perpétuo movimento, mas a criar para outros, com a cabeça (cérebro) como lugar de trânsito vertiginoso. É um zumbido constante e imparável. Por isso, não é de estranhar que este ano Rui Horta tenha celebrado os 60 anos de vida em palco com um solo a que deu o título de “Vespa”. Nesse estado, que é claramente de exceção, propõe uma viagem

VESPADe Rui Horta

ENSAIO PARA UMA CARTOGRAFIADe Mónica Calle

THE CONCEPT OF DUST: CONTINUOUS PROJECT — ALTERED ANNUALLYDe Yvonne Rainer

ADORABILISDe Jonas Lopes & Lander Patrick

BACANTES — PRELÚDIO PARA UMA PURGADe Marlene Monteiro Freitas

PÃO RICODe Vera Mantero

DA INSACIABILIDADE NO CASO OU AO MESMO TEMPO UM MILAGREDe Joana von Mayer Trindade e Hugo Calhim Cristóvão

PARA QUE O CÉU NÃO CAIADe Lia Rodrigues

TRISTE IN ENGLISH FROM SPANISHDe Sónia Baptista

SÍNDROMEDe Olga Roriz

Escolhas

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 82

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 18 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

OS MELHORES DE 2017

m olhar para a lista de exposições que acompanha este texto permite encontrar não tanto uma tendência unívoca de gosto mas uma recorrência estatística de que o escriba só se apercebeu depois dela elaborada. Na verdade, as mostras referenciadas são quase todas exposições individuais de artistas ou de coletivos com trabalho prolongado no tempo.Não se trata, evidentemente, de um preconceito face às exposições mais curatoriais que abrigam obras de diferentes artistas sob um mesmo conceito. Houve várias interessantes

este ano, como a abordagem do sentimento de crise que Hugo Dinis apresentou no Atelier-Museu Júlio Pomar, ou “Escultura em filme”, comissariada por Penelope Curtis, para a Gulbenkian. Mas é difícil não reconhecer que o mecanismo curatorial que molda hoje toda a lógica e hierarquização do campo artístico tende a ofuscar visões mais prolongadas do trabalho dos artistas ou a sujeitá-lo, por vezes, a agendas que são estranhas ao seu núcleo criativo.Neste ano, um bom número de exposições permitiu dar

sentido a esse gosto por observar o desenvolvimento de um percurso, nas suas constâncias e metamorfoses. Em alguns casos, tratou-se de exposições rememorativas de obras de artistas vivos ou já desaparecidos, cuja produção teve um impacto duradouro no tempo ou que, de modo diferido, continua a ecoar nas problemáticas atuais.O caso mais evidente é o da retrospetiva de José de Almada Negreiros (Fundação Calouste Gulbenkian), figura seminal e polémica do modernismo português, que Mariana Pinto dos Santos tratou como deve ser tratado um artista que já não era mostrado há um quarto de século: expandindo o conhecimento da obra com um largo e importante número de inéditos; e sujeitando Almada e as suas ideias a um múltiplo processo de reavaliação. Outra mostra que nos entregou um programa de ação decisivo no seu tempo foi a retrospetiva de Gordon Matta-Clark (Serralves) o “anarquiteto” cuja obra produziu novas relações entre arte, arquitetura e experiência social.Igualmente complexas foram as aproximações de Ana Hatherly à ideia do Barroco que Paulo Pires do Vale levou à Gulbenkian, deixando claro que rondar um autor pode ser algo mais complexo do que juntar-lhe as obras. Para a história das visões retrospetivas do ano ficam ainda as revisitações das obras de Jorge Pinheiro e Maria José Oliveira.Longe dos grandes centros, a exposição que Fernanda Fragateiro realizou em Évora (Fundação Eugénio de Almeida) foi um exemplo de prática rigorosa que investe nos objetos e materiais o peso de transformadas narrativas históricas. A lista pode alargar-se a artistas estrangeiros com discursos visuais consistentes como Julie Mehretu (Serralves), Paloma Bosquê (Pavilhão Branco) ou Paloma Varga Weisz (Galeria Pedro Cera); portugueses de caminho consolidado como Rui Chafes (Galeria Filomena Soares) ou Pedro Casqueiro (Fundação Carmona e Costa); pouco mediáticos como Mattia Denisse (ZDB) ou Otelo M.F. (Culturgest, Porto + ZDB) ou ainda jovens como Joana Escoval

O poder de umUm ano marcado por vozes individuais vindas do passado e por outras que anunciam futurosTEXTO CELSO MARTINS

EXPOSIÇÕES

“Banhistas” (pintura para o café A Brasileira do

Chiado, Lisboa), 1925, na retrospetiva dedicada a

Almada Negreiros pela Fundação Calouste

Gulbenkian

U

CA

RLO

S A

ZE

VE

DO

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 83

Cores: Cor

Área: 13,06 x 29,54 cm²

Corte: 19 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista EImagens da série “A W-Hole, House”, 1973, de Gordon Matta-Clark, em Serralves, no Porto, e na Culturgest, em Lisboa; por baixo, “História fantástica do mergulho: l’essayeur essayé”, 2016, desenho de Mattia Denisse na exposição “Duplo Vê”, ZDB, Lisboa

(Galeria Vera Cortês), Mariana Gomes (Galeria Baginski), Igor Jesus (Gal. Filomena Soares) ou Von Calhau! (Galeria Pedro Alfacinha). Em 2017, assinala-se ainda a ocorrência da Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura; a persistência da Bienal Anozero, em Coimbra, e o surgimento da BOCA, uma bienal dedicada ao cruzamento dos diferentes campos da criação, questão central nas práticas criativas contemporâneas para as quais autoria e porosidade disciplinar não devem ser condições incompatíveis. b

JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS — UMA MANEIRA DE SER MODERNOFundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

SPLITTING, CUTTING, WRITING, DRAWING, EATING... GORDON MATTA-CLARKMuseu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto/Culturgest, Lisboa

ANA HATHERLY E O BARROCO. NUM JARDIM DE TINTAFundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

JORGE PINHEIRO D’APRÈS FIBONNACCI E AS COISAS LÁ FORAMuseu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto

MADONNA: TESOUROS DOS MUSEUS DO VATICANOMuseu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

A RESERVA DAS COISAS NO SEU ESTADO LATENTEFernanda FragateiroFórum Eugénio Almeida, Évora

MARIA JOSÉ OLIVEIRA — 40 ANOS DE TRABALHOSociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

DUPLO VÊMattia DenisseGaleria Zé dos Bois, Lisboa

DO OUTRO LADO DO ESPELHOFundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

FIDUCIA INCORREGGIBILEJoana EscovalGaleria Vera Cortês, Lisboa

Escolhas

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 5,71 x 12,21 cm²

Corte: 20 de 20ID: 72807337 23-12-2017 | Revista E

Integram esta edição semanal, além deste corpo principal, os seguintes cadernos: ECONOMIA, REVISTA E e ainda EXPRESSO BPI GOLF CUP

Fundador: Francisco Pinto Balsemão 23 de dezembro de 20172356 €3,50

Diretor: Pedro Santos Guerreiro

Diretor-Executivo: Martim SilvaDiretores-Adjuntos: Nicolau Santos,João Vieira Pereira e Miguel Cadete

Diretor de Arte: Marco Grieco

www.expresso.ptExpresso

24h

€9,95(CONT.)

MAIS DE 350 SUGESTÕES

DAS MELHORES

TASCAS E PERTISCOS

UM CONTO DE NATAL BOA CAMA BOA MESADE CHARLES DICKENS

€9,95(CONT.)

ACONTECIMENTOS E FIGURAS DE 2017 P32a39

MARCELO é a personalidade do ano

para o Expresso “Um Presidente é isto”,

por Ângela Silva

Não perca o Expresso Diário

Use o código que está na capa da Revista E para ler o Expresso Diário de segunda a sábado no seu smartphone, tablet ou computador, sem pagar mais por isso.

Ministra do Mar afasta FinançasA ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, afastou a Unidade Técnica de Acompanhamen-to de Projetos da renegocia-ção dos contratos de conces-são dos portos de Leixões, Aveiro, Lisboa e Setúbal. A decisão reverte uma ordem do secretário de Estado dos Transportes do anterior Go-verno, Sérgio Monteiro. P10

Notificada autora da fuga no exameA presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, já foi notifi-cada do processo disciplinar que lhe foi instaurado pela Inspeção-Geral de Educação. Edviges Ferreira é suspeita da autoria da fuga de infor-mação no exame de Portu-guês do 12º ano, que permitiu a um número indeterminado de alunos saber o que ia sair na prova. Na semana passa-da, a docente desmentiu ser o alvo deste processo.

Greve nos hipers alargada à FnacHoje e amanhã, a greve na grande distribuição que co-meçou ontem é alargada a lojas como Fnac, Decathlon e Leroy Merlin, entre outras, além dos hipermercados e supermercados Continente e Pingo Doce. A associação do sector, a APED, garante que as compras de Natal não vão ser afetadas.

As confissões do Prémio PessoaNuma longa entrevista de vida publicada na Revista E, Manuel Aires Mateus, Prémio Pessoa 2017, fala da vivência numa família de artistas, da memória do avô paterno e de como a sua morte modificou a vida da-quela criança disléxica que se transformou num dos maio-res arquitetos do mundo. Não usa nem tem computa-dor e defende que a arquite-tura é uma arte. R26 JOÃO GALAMBA:

“MARCELO QUER APROXIMAR O PS DO PSD” P9

PJ INVESTIGA DESVIO DE SUBSÍDIOS NA RARÍSSIMAS P23

REPORTAGEM Das urgências aos cuidados intensivos de prematuros, a vida no interior do maior berço do país, onde já nasceram mais de 600 mil portugueses FOTO NUNO BOTELHO

Um espaço de medo e de luta pela vida: 24 horas na Maternidade Alfredo da Costa R40

OS MELHORES As escolhas dos nossos críticos para os melhores do ano nos livros, cinema, televisão, música, teatro, dança e exposições R65

FELIZNATAL! Reportagem Tráfico

de pessoas e de amêijoas tóxicas no Tejo

Todos os dias, quando a maré baixa, imigrantes tailande-ses e romenos apanham no Tejo toneladas de amêijoas japonesas perigosas para a

saúde que são levadas em carrinhas camufladas para Espanha. O negócio gera mi-lhões de euros e chega a ser tão lucrativo como o tráfico

de droga. Os apanhadores vivem em condições miserá-veis na margem sul do Tejo presos a dívidas e à coação dos intermediários. R46

Mais de mil imigrantes são explorados em Portugal para apanhar toneladas de amêijoas contaminadas no Tejo

Governo quer perdão das multas à Uber e à Cabify

Secretário de Estado José Mendes diz que motoristas e operadores “não são fora da lei” e defende “limpeza” de €4 milhões em multas

Governante defende que em-presas como a Uber estão a ser vítimas de falta de regulamen-tação e responsabiliza a Assem-bleia da República. “Estamos há um ano para legislar”. An-tral considera eventual perdão “uma vergonha”. P15

Família de Frasquilho no ‘saco azul’ do GES

Pai, mãe e irmão do atual chairman da TAP receberam mais de €50 mil entre 2009 e 2011 da ES Enterprises P17

Lourenço só visita Portugal se Vicente for “ilibado”

Portugal “terá de tornar este caso num não caso”, afirma ministro angolano. Manuel Vicente diz que “a verdade virá ao de cima” P11

Vieira da Silva empurrou Santa Casa para o Montepio

> Ata confirma “intenção do Governo” de colocar Santa Casa no Montepio > Ministro reuniu-se várias vezes com Santana e Edmundo Martinho > Marcelo entusiasmou-se mas retraiu-se depois > PM acompanhou à distância > Direção financeira recomenda prudência P3