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^ ^ amanh ÊAÚ PâULO, 20 a 21 de ABRIL DE 19G7 EDIÇÃO SEMANAL NÚMEEO 4 NCR$ 0,30 TIRADENTES. ESTE SUBVERSIVO fPágina 3) CADA VEZ MAIS Cjjáfijua 13) FUNDO DE GARANTIA £ PARA CAIAR O OPERÁRIO f página 4) JOGADOR DE FUTEBOL TAMBÉM £ MERCADORIA f página 14) EXCEDENTES, GOVERNO £ O ÚNICO CULPADO ('página 12) VEJA A MENTIRA DOS CASAMENTOS DE Síl VIO SANTOS o f página 6)

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amanh ÊAÚ PâULO, 20 a 21 de ABRIL DE 19G7 EDIÇÃO SEMANAL NÚMEEO 4 NCR$ 0,30

TIRADENTES. ESTE SUBVERSIVO fPágina 3)

CADA VEZ MAIS

Cjjáfijua 13)

FUNDO DE GARANTIA £ PARA CAIAR O OPERÁRIO

f página 4)

JOGADOR DE FUTEBOL TAMBÉM £ MERCADORIA

f página 14)

EXCEDENTES, GOVERNO £ O ÚNICO CULPADO

('página 12)

VEJA A MENTIRA DOS CASAMENTOS DE Síl VIO SANTOS

o

f página 6)

Página 2 AMANHi São Paulo, 20/27 do Abril 4o 1967

CARTAS

MOVIMENTO

COMEÇA

COM AMANHÃ

Na última semana, o depu- tado Fernando Perrone pro- nunciou discurso na Assembléia Legislativa analisando o lança- mento de AMANHÃ peic Grê- mio da Faculdade de Filosofia. Eis a íntegra do seu pronuncia- mento:

"Desejo também aproveitar para me congratular com o grêmio dos alunos da Faculda- de de Filosofia, pelo lançamen- to do primeiro número do seu jornal, AMANHÃ, jornal bri- lhante, jornal universitário que inicia uma nova fase na im- prensa universitária do Brasil,

no jornalismo universitário brilhante, • ativo e sobretudo, independente, no momento em que o movimento estudantil inicia uma arrancada rumo à libertação das peias que sofre desde í.o de abril de 1964 peias acentuadas pela Lei Suplicy. Neste momento, o movimento estudantil inicia uma arranca- da, decisiva, com sua afirma- ção, com sua libertação, com o lançamento, pelo grêmio dos alunos da Faculdade de Filoso- fia de São Paulo, do seu jornal, AMANHÃ, um marco impor- tantíssimo dessa luta.

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BANCA DA CULTURA CRUSP Universitários a Serviço da Cultura Livros técnicos e não-técnicos, das melhores editoras do inundo, são livros que você obterá com descontos de 10 a 30% na Assinaturas de AMANHA — Estado de São Paulo Jornal da Tarde — Folha de São Paulo e Artes. Venda Avulsa de Jornais e Revistas na

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FÁBULA O BURRO

E A BOMBA ATÔMICA

rfabendo que o poder nem sempre está nas mãos dos mais sábios, um belo dia o burro resolveu tornar-se o rei dos animais. Resolveu e imediata- mente começou uma violenta campanha.

Em primeiro lugar convocou os animais da mata e anunciou seus propósitos. Disse que sua qualidade principal a burrice, talvez fosse uma virtude inte- ressante para o governo, que colocaria toda sua estupidez a serviço dos animais, que era burro sim, mas não era trouxa, zurrou mais algumas burrices e esperou a reação dos outros.

A reação foi a melhor possí- vel: o burro foi chamado de burro burro, de burro estúpido, o macaco relembrou com todos os detalhes o episódio do asno de Buridan e, finalmente^, sob violentos urros o burro retirou- se indignado.

Derrotado na sua argumen- tação, o burro recorreu à vio- lência. Escreveu nas paredes da floresta que, se êle não fosse coroado rei até a próxima lua cheia, pegaria sua bomba atô- mica e destruiria toda a mata.

Isso só contribuiu para au- mentar a sua má fama Todo mundo riu muito dele. o leão declarou publicamente que a região era uma zona desnuclea- rizada e que, inclusive, era o maior absurdo pensar que um burro — um animal irracional — possuísse uma bomba atô- mica.

Quando chegou a época da lua cheia, estando os animais apreciando a natureza ao cair da noite, chegou-se a eles o im- pávido burro que tirou do bol- so uma bomba atômica, acen- deu-a e destruiu toda a floresta.-

MORAL — Quando um bur- ro pretende ser rei, antes de rir dele devemos desarmá-lo.

fàfu***^

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Benjamin Abdala Júnior Dir. Gerente

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Aloysio Pereira Silva

Impresso nas oficinas da Empresa Gráfica O Dia

Rua Três Rios, 285

Sã* Pauio, 20/27 de Abril de 1§61 AMAMHA Página 3

O IPM DE TIRÂDENTES

Em maio de 1789 o Governa- dor das Minas Gerais recebeu o dedo duro cel. Silvério dos Reis. O coronel devia muito dinheiro no jogo, queria que a sua dívi- da fosse perdoada e, alegando patriotismo, foi contar ao go- vernador que o império da sub- versão dominava Vila Rica.

Tramava-se contra a Coroa. Silvério contou coisas incríveis: que um grupo de subversivos era c Jnira a remessa de miné- rios para a metrópole. Havia mesmo infiltração de idéias es- trangeiras, estando em poder dos conspiradores uma farta li- teratura subversiva sobretudo as de origem francesa e ame- ricana.

Silvério foi rico em detalhes, prestou depoimento falado e escrito. Contou até que os cons- piradores queriam prender o go- vernador, Duas semanas depois da conversa foi instalado o pri- meiro grande IPM da História do Brasil: durou frês anos. Fo- ram indiciadas mais de 70 pes- soas e até os escravos foram ouvidos para falarem contra os seus senhores. Levou o nome de "Devassa".

O Empurra-Empurra Logo que começou o IPM, no

dia 10 de maio, lodo mundo em Vila Rica tratou de tirar o cor- po fora. A primeira providên-

cia foi a queima dos papéis comprometedores, tanto assim que Barbacena, encarregado do IPM, não encontrou nenhum na sua Devassa.

Mas ninguém conseguiu esca- par. A cidade_ nos três anos de IPM, foi ocupada militarmente por tropas da capital porque as de Minas não eram mais dignas de confiança.

Silvério nos seus depoimenlos acusou principalmente Gonzaga e Tiradentes. Gonzaga procurou tirar o corpo fora. Disse que só assistia as reuniões que só em- prestava a casa. Alegava que não tinha tempo para conspirar porque estava confeccionando o vestido de Marília. sua noiva. Foi então que o acusaram de- vido aos seus pendores artísti- cos, de ter feito a bandeira do movimento que representava um escravo quebrando os gri- lhões sob a inscrição Libertas quae serás tamen (Liberdade ainda que seja tarde). Gonzaga negou.

A atitude de Tiradentes foi diferanía da dos demais; êle negava tudo que o incriminasse e incriminasse seus companhei- ros. Esta atitude era muito difí- cil de ser sustentada principal- mente por causa da incòmuni- cabilidade absoluta, método inaugurado naquele IPM.

AREN CONTA

OUTRA HISTÓRIA

Portanto condeno o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha de Tiradentes, a que seja con- duzido pelas ruas públicas ao lugar da força e que nela morra morte natural para sempre e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada aonde será pregada em um poste alto até que o tempo a consuma e seu corpo será dividido em quatro partes e pregadas em postes. Declaro o réu infame e seus filhos e netos também e os seus bens confiscctdos e a casa em que vivia em Vila Ricu será arrasada e sal- gada para que nunca mais no chão se edifique, e no mesmo chão .«e levantará um padrão pelo qual se conserve a memória da infâmia deste abominável réu.

A Primeira Vítima Poucos meses depois, ainda

em Vila Rica, o IPM da Incon- fidência fazia a sua primeira ví- tima: Cláudio Manuel da Costa, não suportando o rigor dos in- terrogatórios, suicida-se na pri- são.

Por causa do clima de intran- qüilidade criado na cidade. Bar- bacena resolveu então, quase um ano depois, transferir os pa- péis e os prisioneiros para o Rio de Janeiro. Lá foram feitos mais interrogatórios e mais uma pri- são: a de um capitão do Exer- cito que cometeu o crime de saber inglês, tinha traduzido a Constituição americana para o português. Constituição esta

considerada subversiva para o governo da época.

A Moral de Tiradentes Pouco a pouco Tiradentes foi

percebendo que alguém teria que ficar como o cabeça do movimento, provavelmente êle. Na quarta inquirição êle pôde ler o depoimento dos outros im- plicados e viu que alguma coisa tinha que ficar de toda aquela luta, alguma moral tinha que sair daquela história.

E veio a decisão. Tiradentes tomou a si toda a culpa e ino- centou os outros. Foi condena- do e executado três anos depois daquele dia em que Silvério dos Reis foi contar tudo no ouvido do governador. f

MANGUEIRA CONTA

UMA HISTÓRIA Tiradentes vai ser contado pelo Teatro de Arena

a partir do dia 21, sexta-feira, e Flávio Império, d cenógrafo da peça, fala da atualidade dos persona- gens e como eles vão ser colocados no espetáculo:

— "Tiradentes é colocado como um romântico, de um nacionalismo exagerado que o leva à forca. No Julgamento, todos os outros componentes abstêm- se da culpa e Tiradentes a aceita".

A peça terá duas partes. Na primeira o Arena vai contar o que levou à inconfidência e na segunda o julgamento dos inconfidentes. No começo há dis- cursos do governador Barbacena parecidos com os que eram feitos pelo ex-presidente Castelo Branco.

Na segunda parte tem o caso de Tiradentes que se junta aos intelectuais e a crítica do Arena a eles:

— "A intelectualidade é colocada como inútil, recitando poemas na hora em que Se organiza o levante" — diz Império. "O que se pretende com essas colocações é mostrar que a intelectualidade fica às vezes preocupada com as idéias importadas deixando em segundo plano a realidade nacional".

' TIRADENTES

(Samba enredo da Mangueira)

Joaquim José da Silva Xavier Morreu a 21 de abrii Pela Independência do Brasil Foi traído e não traiu jamais Na inconfidência de Minas Gerais

Joaquim José da Silva Xavier E' o nome do Tiradentes Foi sacrificado Pela nossa liberdade Este grande herói Pra sempre há de ser lembrado Joaquim.,.

Joaquim José da Silva Xavier Morreu a 21 de abril Pela Independência do Brasil Foi traído e não traiu jamais

Na Inconfidência de Minas Gerais

* f '

Página 4 AMANHA

EDITORIAIS

São Paulo, 20/27 de AM de 1961

MEC-USAID E

DEMAGOGIA CONTRA

OS EXCEDENTES

FUNDO DE GARANTIA É PARA ACABAR

COM QUEM PROTESTA

O governo escorregou na sua própria casca de banana ao ter que enfrentar a crise dos exce- dentes — alunos que consegui- ram aprovação nos vestibulares das faculdades e que agora são obrigados a ficar de fora por falta de vagas. Na tentativa de ganhar maliciosamente o apoio dos estudantes para a sua polí- tica educacional — que vai ser executada em conluio com a Agência dos Estados Unidos pa- ra Ajuda ao Desenvolvimento (USAID) — os homens do poder acabaram revelando toda a sua incapacidade para alterar a es- trutura irracional e superada do atual ensino universitário ao Brasil. Baixaram um decreto determinando o aproveitamento dos excedentes e não soltaram o dinheiro necessário para • criação de novas vagas nas es- colas. E eles sabem melhor do que ninguém que as verbas des- tinadas à Universidade não dão nem para atender as despesas com os alunos que já estão ma- triculados.

A má-fé do governo é eviden- te, pois ao mesmo tempo que fala em "democratizar^ a Uni- versidade, vai executando na surdina o acordo Ministério da Educação USAID — um cadea- do que fecha definitivamente as portas do ensino superior à grande maioria do povo brasi- leiro. Os dois grandes objetivos do MEC-USAID são acabar de uma vez com o ensino gratuito, fazendo com que os próprios alunos paguem seus estudos, e subordinar todas as universida- des nacionais ao governo, o que significa por tabela, que elas passarão a receber ordens da USAID norte-americana por for- ça do próprio acôrdó assinado no tempo de Castelo Branco.

O caso dos excedentes está servindo principalmente para colocar todos esses podres do governo para fora. Os estudan- tes, com um movimento de gre- ve que se está ampliando por todo o Estado a favor da admis- são dos colegas excedentes e, ao mesmo tempo, denunciando a oolítica demagógica do governo.

estão demonstrando o grau de maturidade política alcançado pelos universitários.

A greve é a resposta que estão dando aos homens do po- der, deixando claro que não vão permitir sua utilização como massa de manobra para um go- verno que não tem o menor in- teresse em modificar coisa ne- nhuma. Ao contrário, pretende agravar ainda mais a situação de privilégio decorrente da atual estrutura do ensino supe- rior. Essa é a finalidade prin- cipal do acordo MEC-USAID, que o governo está escondendo na mão esquerda, enquanto que com a direita oferece aos exce- dentes vagas que não existem.

O manifesto assinado pelo Diretório Central dos Estudan- tes e por mais seis Cen- tros Acadêmicos da Universida- de de São Paulo coloca bem o problema quando afirma que "todos os excedentes devem ler acesso à Universidade, já que a cultura não é, nem deve ser privilégio de uns poucos favore- cidos, embora na prática acon- teça o contrário". Uma Univer- sidade verdadeiramente demo- crática tem que abrir suas por- tas para todos, principalmente para aqueles que a sustentam com o suor de seu rosto, traba- lhando nas fábricas e nos cam- pos.

Os operários e seus filhos, cuja grande maioria está impos- sibilitada de freqüentar uma faculdade, têm muita coisa a di- zer sobre a questão da Univer sidade. Eles estão esperando uma palavra de esclarecimento sobre tudo isso per parte dos estudantes em greve, pois o problema do ensino interessa aos trabalhadores mais do que a ninguém.

Uma campanha em coniunío — uninde estudantes e traba- lhadores — visando à reforma pela base da Universidade e do ensino em geral, é o grande ca minho que se abre neste mo- mento para testar as verdadeiras intenções desse governo e ver até onde êle pretende chegar quando fala em dar escola para todo o povo brasileiro.

A grande maioria da cias" se operária não quer nem ouvir falar do tal Fundo de Garantia por Tempo de Ser- viço e tem razões de sobra para adotar essa atitude.

Mas vamos falar das gran- des safadezas, da "filosofia" que está por trás do Fundo que não garante ninguém, a não sèr os interesses daque- les para os quais êle foi feito. As duas grandes armadilhas contra a classe operária dis- farçadas na lei do Fundo são duas: uma de natureza polí- tica e outra econômica. As duas estão muito bem com' binadas entre si por aqueles que fizeram a lei, com a fi- nalidade de destruir a única coisa fundamental com que o trabalhador ainda ,pode contar: a segurança de poder continuar trabalhando mes- mo contra a vontade do patrão — direito que lhe é garantido pela atual Conso- lidação das Leis do Traba- lho

A primeira armadilha é política porque tenta atacar por baixo do pano, a grande arma de luta do operariado: a sua solidariedade de clas- se. O objetivo do Fundo é fazer com que o trabalhador pen- se antes em sua conta bancá- ria (que é fria), em lugar de procurar uma solução cole- tiva junto a seus companhei- ros de profissão, toda vez que tenha de enfrentar pro- blemas com o patrão Indire- tamente, o que o Fundo pre- tende é o que o operário abandone a arma legítima da greve como meio de con- quistar direitos para toda uma categoria de trabalha-" dores que a luta individual nunca possibilitaria atingir.

Mas se o trabalhador esti- ver enquadrado na lei do Fundo, será muito fácil ao patrão botar na rua todos aqueles que não se confor- marem coní as condições de trabalho impostas. Não pre- cisará sequer despedir a fá-

brica inteira: basta eliminar os mais combativos, os líde- res que estiverem à frente do movimento de reivindica- ção.

A armadilha econômica beneficia o patrão de várias maneiras: em primeiro lu- gar, botar na rua um em" pregado enquadrado no Fun- do de Garantia sai mais ba- rato para o dono da emprê" sa do que se tivesse que pa- gar tudo o que a atual Lei do Trabalho estipula. De- pois, ninguém calculou ain* da a quantidade enorme de dinheiro que a rede bancária vai receber por conta dos oito por cento descontados todos os meses de todos os ordenados enquadrados no Fundo Mesmo sendo certo que uma grande parte das empresas não vão recolher esse dinheiro, o aumento de capital disponível para em- préstimos aos próprios pa- trões será tão grande que só por si já representa um óti" mo negócio para eles Em úl- tima análise, eles irão girar com o dinheiro arrancíid-1 do trabalho dos próprios em- pregados,

A outra vantagem dos pa- trões garantida pelo Fundo é no caso de venda da em- presa O trabalhador, que nessa eventualidade tem os seus direitos garantidos atu almente pela Consolidação das Leis do Trabalho, terá que ir procurar o Fundo pa" ra receber o seu O novo do- no compra a firma livre de qualquer responsabilidade trabalhista. A mesma situa- ção pode ocorrer para o tra' balhador caso a firma vá à falência ou peça concorda- ta: se escolheu o Fundo, vai ficar de mãos abanando.

De uma maneira geral, é isso que o Fundo promete aos trabalhadaí-es um futu- ro de insegurança, com as mãos amarradas diante do patrão, que poderá iogar com a sna pessoa como bem entender.

São Paulo, 20/27 de Abril de 1967 AMANHA Página 5

TODOS UNIDOS CONTRA 0 POVO Nega-Se Aluisio Alves, de iní-

cio, a citar nomes dos que arti- culam com êle o movimento, frisando apenas que nele não está nenhum dos representantes credenciados da extinta UDN. Isso, aliás, entra pelos olhos, porque a UDN não iria entregar de mão bei.iada a própria rapa- dura. Diz também que seu gru- po não pretende, de modo al- gum, reivindicar do governo fe- deral cargos ou posições políti- cas, e sim "um tratamento equi- tativo para toda a ARENA, sem que os cargos fiquem na mão de uma minoria". O que, ijo fundo, vem a dar no mesmo, pois o "tratamento equitativo" será a entrega de alguns cargos na direção arenista àquele gru- po, e êle, então, voltará a achar que a democracia campeia na ARENA

OS "RADICAIS" DA OPOSIÇÃO

Com o chamado grupo "dos radicais" do MDB, liderado, aparentemente, pelo carioca Hermano Alves, a coisa não se passa de modo muito diferente: a distinção entre os "radicais" e a cúpula oposicionista acomo- dada é apenas quei enquanto os

primeiros se preocupam mais em fazer média com o povo, a segunda se preocupa mais em fazer média com o governo. Aqueles não fazem mais que substituir, no atual contexto político — e sem grande habi- lidade— o antigo PTB, e esta, quando muito, a "ala moça" do extinto PSD.

Não se trata, pois, de negar que a cúpula da oposição está acomodada. É claro que está. O último dado a este respeito foi a confirmação de que o pre- sidente nacional do MDB, sena- dor ex-pessedista Oscar Passos — velho amigo, por sinal, dos marechais Castelo e Costa, — ao participar, em Puntal dei Este, da comitiva de Costa e Silva, chegou a pedir permissão ao marechal para fazer uma visita ao ex-presidente João Goulart.

O que não se pode esquecer, porém, é que não existe menos demagogia entre uma tirada oposicionista como a de um Os- car Passos e a ação de um "ra- iical" como — para citar dois exemplos paulistas — Davi Le- rer ou Hélio Navarro. Se hou- vesse um concurso nacional de picaretagem política, seria bem

difícil estabelecer uma hierar- quia entre o ex-vereador que conchavava até com Ademar e o ex-presidente do XI de Agos- to que consultava o reitor antes das assembléias de seu Centro Acadêmico...

O movimento dos "radicais", portanto, só vem corroborar o que se previu quando da eleição do deputado Mário Covas para líder oposicionista na Câmara dos Deputados: tanto a lideran- ça quanto- a direção partidária funcionam, em termos de políti. ca nacional, de acordo com o grupo de pressão que predomine na eventualidade. Ora os "aco- modados" dominados pelo PSD, ora os "radicais" sob a lideran- ça do PTB.

QUEM GANHA É COSTA

Dessas e de outras contradi- ções é que parece querer utili- zar-se o marechal Costa e Silva, e até o momento, diga-se de passagem, o sucessor de Castelo não parece ter cometido um úni- co deslize de habilidade políti- ca. Tem o marechal consegui- do, ao menos em sua primeira fase, a famigerada "pacificaç? nacional" que pregou nos últi-

mos meses anteriores a sua posse.

E a demagogia do marechal lá começa a lembrar os tempos de Jango, que em seu governo só não conseguia contentar a ala mais reacionária da UDN e das Forças Armadas (a não ser em seus últimos dias, quando, lide- radas por estas, as outras cor- rentes políticas embarcaram também na canoa do golpe).

O marechal, porém, até aqui, não encontra oposição.

Sua atuação chega a ser en- graçada. Consegue que o sr. Jânio Quadros chame sua polí- tica externa de nacionalista e independente e, ao mesmo tem- po, mostra-se totalmente de acordo com as teses norte-ame- ricanas em termos de desenvol- vimento da América Latina. Com isso, agrada as grandes empresas internacionais que operam no Brasil e a oposição que, em última análise não tem nada a opor a estes grandes gru- pos econômicos.

O grande beneficiado com isso é o povo, que de agora em dian- te, saberá colocar no mesmo sa- co os exploradores externos e os que até agora se disseram na- cionalistas .

v,,*-

ACOSTUME-SE Â CANTAR 0 HINO NACIONAL EM INGLÊS

Quem passar os olhos no último número da revista "Time", que traz Costa e Silva na capa, uma grande reportagem sobre o Brasil e quase que exclusivamente propaganda de empresas si- tuadas em território nacional, verá quão esperançoso está (e com razão) em Costa e Silva o capitalismo dos EUA.

"Foi tão lindo f" — é, por exemplo, o que disse o marechal a Lyndon Johnson sobre a atuação do presidente americano em Punta dei Este.

E é tal o entusiasmo da revista pelo governo do marechal, que chegam a abrir a reportagem com o seguinte trecho do Hino Nacional Brasileiro: "Nature made you a giant IA beautiful, powerful indomitable colossus, / And your future will match this greatness".

Por enquanto, porém, o brasileiro ainda pode cantá-lo assim: "Gigante pela própria natureza, / És belo. és forte, impávido, colosso, / E o teu fu+ur& espelha essa grandeza".

Página 6 AMANHA São Paulo, 20/27 de Abril de 1967

SILVIO SANTOS, ÓPIO PELA TV 'Casameiito na TV" é a úl-

tima invenção do programa Sil. vio Santos, que aliás não é mui- ta novidade, porque já existe há tempos nos Estados Unidos. Através dos namoros encetados e ensaiados nos programas, o que se tenta é reproduzir para o público o esquema fantasioso e irreal da novela. Em qual- quer novela que se preze, o mocinho tão bom, bonito e edu- cado casa com a mocinha pura, depois das muitas vicissitudes e suspenses do enredo. Tudo muito bem dosado para fazer o espectador ficar a semana in- teira preocupado com o que aconteceu com "eles" e esque- cer o mais possível seus pro- blemas reais. Se o mínimo não dá para viver, se o patrão ex- plora ou a sogra é chata, não tem importância porque "a Ma- ria Helena hoje vai dizer para o Alfredo, finalmente, que gos- ta dele".

O "Casamento na TV" repe- te o velho esquema, com uma única diferença: os persona- gens existem, vão ao palco do canal 5 aos domingos represen- tar para o público seus pró- prios romances. Que são evi- dentemente, ensaiados muito bem para não fugir aos planos do produtor do programa.

Valdir e Cleide estão ficando conhecidos do auditório Ela mandou, há 15 dias, uma foto- grafia ao Sílvio Santos, apa- receram vários pretendentes e ela acabou escolhendo o Valdir, um moço de 22 anos que é me- cânico e pretende, como afir- mou, casar com ela daqui a um ano. E enquanto o namoro vai sendo tocado em frente às ca- meras, o público recebe do ca- sal uma imagem côr de rosa: estão perdidamente apaixona- apaj.j combinam tão bem e vão

mo naSl^casamento feliz co-

telenovelas, tG^f00^."35

^*^nsaiadinho

de acordo com os esquemas da televisão. Como nas tele-nove- las, o público se interessa pelo amor dos dois deixando de la- do seus problemas concretos.

A FAMÍLIA QUE NAMORA UNIDA PERMANECE UNIDA

No domingo passado, a fa- mília de Cleide foi ao progra- ma conhecer o namorado da

rá-la. Enfileiraram-se os pre- tendentes no palco, cada um deles com um cartaz de identi- ficação pregado às costas, de onde Sílvio Santos ia lendo os nomes, profissão e salário E a moça. heroína requisitada por tantos cavalheiros,, tinha de es- colher um deles nd fim do pro- grama. Mas, eis que. . . suspen-

Sílvio Santos lê nas costas do noivo o que está escrito

menina. E cada membro da fa- mília fêz uma pergunta ao Val- dir. A mãe, zelosa, como con- vém a toda mãe de novela, foi logo perguntando ao moço se êle era bom para as irmãs. A caçulinha da casa, em tom ino- cente, quis saber se êle gosta- va realmente da mana mais ve- lha. E o irmão, representando o pai que não pôde comparecer ao programa, levou a respectiva 'noiva e fêz votos de grande amizade com o futuro cunhado. O quadro perfeito da família unida e feliz. Evidentemente, pelas respostas, ficou claro que tudo já estava ensaiadinho an- tes de abrir o pano. A família, constrangida, não fêz mais do que repetir o "script" do pro- dutor.

Denise é outra das candida- tas ao casamento pela TV Con. seguiu levar ao programa 10 rapazes interessados em namo-

Programa vende idéias que não interessam ao povo

se! A moça pega o microfone e diz: "Namoro é coisa muito séria. Tenho antes que consul- tar meus pais, por isso só vou dar a resposta na próxima se- mana " A TRADICIONAL FAMÍLIA

PAULISTA Tudo se passa, no programa,

de acordo com os padrões mo- rais da- mais tradicional famí- lia quatrocentona. Evidente- mente, o público que assiste ao programa, composto totalmen- te de operários, não se rege em sua vida cotidiana por esse fal- so moralismo e nem tem a preo- cupação pequeno-burguesa de aparentar o que não é. Mas, há tempos, já dizia um conhecido produtor de cinema norte-ame- ricano que "a função do cine- ma é mostrar às classes po-- bres a vida boa e feliz dos ri- cos". E enquanto os espectado- res se preocupam com os pro- bleminhas apresentados na te-

la, esquecem seus grandes e reais problemas. E como têm sempre diante dos olhos a vida dourada dos cavalheiros endi- nheirados alimentam a falsa ilusão de pelo esforço indivi- dual, fazer parte um dia, da- quele mundo. Ora, as classes ri- cas sabem que, embalado-nes- se sonho, o povo se prestará mais documente à exploração. O que Sílvio Santos faz (e com isso, hoje está rico) é exata- mente a mesma coisa.

GATA BORRALHEiRA GANHA ENXOVAL NA

TELEVISÃO

Se você escolher um noivo no programa, namorar como a te- levisão manda, permitir que as câmeras invadam sua vida par- ticular, então, você poderá no fim, ganhar um enxoval, os móveis da casa e a viagem de lua de mel. É por essa razão que o público se submete aos esquemas propostos por Sílvio Santos. Aí, entra outra vez a novela. A heroína, dando uma de gata borralheira, encontra o príncipe encantado e, no final, casa com êle para ter uma vida farta, rica e feliz Mas, isso só acontece com ela. que é a gata borralheira. Por causa disso, é que, todos os dias, há uma fila enorme de gatas borralheiras levando suas cartinhas ao Canal 5. Com isso, Sílvio Santos tenta provar que é sempre possível subir na vida, se você se sub- meter às regras do programa. Da mesma maneira, os ricos dizem que se você se submeter às regras que eles impõem, po- para entrar no mundo deles para entrar no mundo deles. Esse é o grande serviço presta- do por Sílvio Santos no seu pro- grama "Casamento na TV", que, por uma "estranha coinci- dência" é traduzido de um pro- grama da televisão americana.

M

amanhã CADERNO ESPECIAL

Departamento do Pesquisa

São Paalo, 20 a 27/%bril/«7

Edição Semanal — iV" 4

"O Brasil vai manter vma política de amizade e

interalmhio com as nações africanas.". "O Brasil riãrt

vai esquecer os seus tradicionais taro, de amizade

com Portugal " Estas \ão declarações do presidente

Costa e Silva, quando anunciou a jormulacão de

nvia 'nova" política externa brasileira. Nn verdade, estíts.

duas ajirmações encerram um alnurdo: Ajrica e

Portugal estão travando um<t luta de moile e não admitem

amigos comuns.

Guiné Angola e Moçamhique, colônias portuguesas na Ãjrica; constilnem hoje um outro Vietnã. De um lado estão os negros, organizados em movimentos guerrilheiros, dominando a zona rural apoiados pelas nações socialistas e alguns países alricanos independentes. Do outro estão os portugueses, os interesses das grandes companhias internacionais, os armamentos e o napalm fornecidos pelo governo norte:americauo.

ÁFRICA OS DERROTAM 0 FASCISMO

ANGOLA, onde mais se faz sentir o terrof implantado pelo colonialismo português e onde é maior a exploração de toda a África^ foi a primeira colônia portuguesa a se levantar para a luta pela independência.

A onda de independência varreu a África na década de 50, o Egito em 1952, Bandung cm 1955 e Gana em 1957 aceleraram o despertar político de Angola e das colônias portuguesas.

A liberdade obtida pelo Congo Belga em 1960 criou as condi- ções para o movimento. O Con- go fornecia uma fronteira co- mum de território acidentado, próprio a atividades guerrilhei- ras, com seus pântanos e flores- tas densas. Além disso, o Con- go era simpático às idéias de li- bertação angolanas, os dois paí- ses possuíam uma unidade étni- ca e a fronteira oferecia ótimos refúgios para as unidades de guerrilha, que fugissem à vio- lenta repressão portuguesa.

A Ganância do Capital Elstrangeiro

O café é o principal produto de exportação, mas é através da mineração e da indústria que se conserva o domínio do capital estrangeiro sobre Angola. A principal companhia é a "Dia- mang", filial portuguesa da Anglo American Diamond Cor- poration, grupo formado em .. 1917, com 40% de capitais ame-

1 ricanos, 40% de capitais belgas e 5% do governo angolano. Os principais associados da Dia- rnang — que em 1921 obteve a concessão exclusiva da explora- ção do diamante, com isenção de impostos, protecionismo alfande- gário sobre a importação de má quinas e a exportação de dia mantes — são "The Anglo-Ame rican Corporation of South Afri ca Ltd.", o grupo Oppenheimer, o Morgan Bank. a T. F, Ryan, a Union Minière du Haut Katan- ga, etc. Com o aumento do ca- pital, o governo detém, atual- mente 5% do capital. Entre 1953 e 1957, dos lucros da Diamang, o governo de Angola recebeu .. 16.870.000 dólares, ao passo que só no ano de 58, o lucro líquido da Diamang foi de 75.454.337 escudos, cerca de 6 milhões de dólares.

O petróleo é explorado pela "Companhia dos Petróleos de Angola", com capital dividido entre a Petrofina Belga, com 45%, o governo com 6,9%, e o restante dividido entre quatro bancos portugueses.

Também a distribuição do petróleo, f«ita pela Companhia Concessionária da Distribuição de Petróleos de Angola, está nas mãos do capital estrangeiro. Seus 16.506 títulos estão repar- tidos entre a Carborang Belga, 11,76%, e 3 bancos (Banco de Angola, Banco Burnay e Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa). Além das belgas, há

empresas americanas interessa- das no petróleo de Angola. A Canbida Gulf Oil Company, apoiada pelo Chase National Bank e pelo National City Bank of New York, obteve em 1958 um contrato para três anos de prospecção e 50 anos de explo- ração em Canbida.

Os lucros obtidos pelas companhias exploradoras de pe- tróleo atingem somas fabulosas: a Carborang, em 1958, possuin- do um capital de 1.925.000 dó- lares, obteve um lucro líquido de 1.138.620 dólares.

A produção do cobre está quase inteiramente em mãos de portugueses, O manganês é mo- oopólio exclusivo dos srs. Loui- se A. Thérèse Berman, associa- dos a Lay et Frères e a Socie- dade Comercial J. Fernandes. O alumínio é explorado pela Alumínio Português (ou Péchi- ney), a bauxita pela Biliton Ma- atschappij (holandesa) e o fei- to pela Companhia Mineira de Lobito^ ligada à Krupp alemã.

Todas as riquezas naturais de Angola estão portanto em mãos dos capitais estrangeiros; essa presença se manifesta tam- bém em cada uma das compa- nhias dedicadas à indústria açu- careira, na indústria do cimento através da Cia. de Cimentos de Angola, na indústria têxtil (Tex- tang, de Luanda) e na indústria de óleos vegetais (Induvel) — ligada à Cia. União Fabril — e

única estrada de ferro transan- golana, fundada por Sir Robert Williams — que em 1902 obteve uma concessão por 99 anos — eom capital inicial de 3.000.000 de libras, tem apenas 10 por cento dos títulos de propriedade do governo português. Seu maior investidor é a Tanganika Concessions. britânica, e é, jun- tamente com o porto de Ben- guela, o escoadouro para os mi- nérios de Catanga, onde há tam- bém interesses britânicos.

A opressão

Existem em Angola regimes de trabalho tipicamente escra- vos. O trabalhe» obrigatório, por exemplo, é imposto aos negros, para a manutenção de obras pú- blicas, quando há pouca mão-de- obra voluntária. Êies constróem e conservam, sem receber salá- rios, as estradas rurais. Se são residentes na região por onde a estrada passa; além do trabalho devem fornecer a sua própria alimentação e as ferramentas. Como, muitas vezes, os homens da região executam trabalho forçado em outras, o serviço é quase sempre executado por mulheres e crianças.

Com a independência do Congo, a insurreição arm»da an- golana teve início. Fra feverei- ro de 61, houve * ataque a Lu- «nda, organi^0 Feio MPLA (Moviír^"4" Popular de Liber-

pela CA.D.A., francesa. A f-^o de Angola), e em seguida,

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J5 de março, houve uma insur- reição geral dirigida pela UPA (União das Populações de An- gola).

O MPLA surgiu em 1956, em substituição ao PLUA (Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola), contando com militan- tes das decadentes organizações kgais, a LNA (Liga Nacional Africana) e a ANANGOLA (As- sociação Regional dos Naturais cie Angola)i organização nacio-

aiista criada para atividades de propaganda.

Em 1959, devido à prisão de alguns dirigentes do MPLA em Luanda, a sede do movimento transferiu-se para o estrangeiro — Gonakry — continuando suas atividades principalmente cm Luanda. Em 1961 o MPLA transferiu sua sede para Leo- poldville, quando tentava inu- tilmente fundir-se com a UPA (União das Populações de An- gola) para formar uma frente. Em 1962, Agostinho Neto, um dos fundadores do MPLA que estava preso em Portugal, fu- giu e assumiu a direção do movimento em Leopoldville. Num congresso em dezem- bro, formou-se um c omi- •ürigentes, e com a exclusão de Viriato da Cruz, um dos funda- dores do MPLA.

Em julho âe 1963, numa conferência em Brazzaville, o MPLA juntou-se com 3 outras pequenas organizações, o Ngwi- sako, o MDIA (Movimento para a Defesa dos Interesses de An- gola) e o MNA (Movimento Na- cionalista de Angola), formando o FDLA (Frente Democrática de Libertação de Angola). Comi is- so houve um cisão no MPLA, vários elementos foram expul- sos, entre os quais Viriato da Cruz.

A FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) sur- giu de uma aliança entre a UPA e o PDA (Partido Democrático

de Angola), e em 5 de abril de 62 anunciou a formação de GRAF (Governo Republicano de Angola no Exílio), reconhecido no ano seguinte pelo Gongo- Leopoldville.

Até o fim de 1963, o GRAE, dirigido por Holden Roberto (presidente) e «cm José Kalun- dongo na chefia do Exército de Libertação Naciqnai ^ AngoJa (ELNA), já era rectwOje.

odo por 9 países, entre os quais o Congo-Leopoldville, Tunísia, Argélia, Marrocos e a RAU.

O ataque de fevereiro de 1961, dirigido pela MPLA, sobre postos policiais e militares de Luandaj desencadeou uma vio- lenta repressão sobre os negros. Durante os funerais dos portu- gueses mortos no combate, um bando de brancos atacou os bair- ros negros, matando mais de 24 africanos. Os nacionalistas con- tinuaram porém os ataques a Luanda, aumentando as perdas africanas para qwase 100.

Em março, o Conselho de Segurança da ONU votou a con- denação è repressão portuguesa em Angola. A proposta foi der- rotada.

■ ' No mesmo dia da votação na ONU, iniciou-se tremenda ineurreiçãc no Norte de Angola. Os ataques nacionalistas provo- caram 150 mortesj e tomaram toda a região. A administração portuguesa evacuou cerca de 3.500 colonos portugueses para Luanda. Os portugueses, de- sesperados, tentavam resguardar o sul do avanço rebelde através de uma campanha de terror em massa. Em 20 de abril, a agên- cia "Lusitânia" anunciava que os "terroristas" controlavam "vastos territórios não habita- dos" no norte de Angola. A área ocupada pelos rebeldes, no local das plantações de café, cor- respondia a três vezes o tama- nho de Portugal. A repressão, desorientada planejou uma guerra de extermínio aos rebel- des do Norte: ataques bombas e metralhadoras nos campos e com incêndio nas florestas. O ex- termínio falhou e a repressão recaiu sobre as populações do sul. Segundo cálculos do cor- respondente do "Observer", .. 20.000 africanos foram mortos é milhares presos nos campo? de concentração. Elevado nú- mero de angolanos (cerca de .. 40.000) refügiou-se no Congo. A perseguição estendeu-se aos inte- lectuais, que poderiam tornar- se líderes. Em junho, os mili- tares assumem o controle, mas não conseguem' modificar a si- tuação. Os rebeldes destruíam as plantações de café — que ti- nham deixado intactas, na espe- rança de poder vendê-las após a vitória, — bem como as es- tradas e pontes. O plano de des- truir as densas florestas que es- condiam os rebeldes fracassou.

Os nacionalistas, apesar de con- seguirem manter controle sobre o Norte, não puderam estender- se ao Centro e ao Sul. Depois de reforçados os portugueses fi- caram em condições de iniciar o ataque ao Norte. A ofensiva iniciou-se em Julho, e depois de muitas lutas o exército conse- guiu, a 10 de agosto, tomar Nambuangongo, onde acredita- vam estar o quartel-general mi- litar angolano. Outras regiões foram reocupadas, segundo co- municados oficiais. Nambuan- gongo, entretanto não era um quartel-general rebelde, e o exército de guerrilheiros não ti- nha quartel-general fixo. O exército encontrou em Nambu- angongo, depois de um avanço de três semanas, apenas caba- nas desertas sem importância estratégica. Enquanto isso em alguns bosques, a menos de um quilômetro, as rebeldes conti- nuavam dominando.

Menos de dois meses após os portugueses anunciarem o "fim" da guerra, os nacionalistas fize- ram um súbito ataque ao Norte, enquanto "nova atividade terro- rista" era anunciada em Luan- da, Colu, etc. O exército pro- curava reprimir a rebelião. A guerra entrava numa nova fa- se. A resistência angolana re- distribuiu suas forças e adotou então as táticas clássicas da guerrilha, de ataques em peque- nos grupos.

A guerra continuava, as em- boscadas eram freqüentes. As fontes de informação pró-por- tuguesas tornavam-se pessimis- tas. Em maio de 1962 os portu- gueses se armavam; mas tam- bém a resistência recebia mais e melhores armamentos.

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Atualmente as zonas ocu- padas pelos portugueses estão completamente despovoadas: em Bembe vivem 40 angolanos, um padeiro português, dois armaze- nistas, ao lado de duas compa- nhias de soldados. As autorida- des portuguesas admitem que os guerrilheiros estão melhor ar- mados e exercitados. Admitem que a moral dos guerrilheiros é eiavada e a determinação militar é boa. Segundo as revistas afri- canas os guerrilheiros demons- tram um alto grau de consciên-

cia social e a resistência angola- na transforma-se em verdadeiro exército. Os portugueses recor- rem, a métodos cada vez mais violentos.

Os negros, porém, estão certos de vitória: como disse um dos líderes nacionalistas, em agosto de 1961: "a vitória, para nós reside simplesmente na nos- sa habilidade de continuar a guerra: e isso asseguro que po- demos fazer. No final, os por- tugueses serão forçados a nego-

opo-

ciar conosco. Um acordo político ievar-nos-á à indepen- 'íêncig" J <;

GUiné: Pequena e explosiva r*

Depois da violenta rebelião de Angola, abre-se uma novji frente anti-portuguesa na mj- núscula e pobre Guiné Portvtv guesa.

A economia da Guiné é do- minada pelas empresas estran- geiras. As concessões monppç- Usticas localizava-se principj mente no setor de minérios tróleo: Esso Exploration (Esta- dos Unidos), bauxita; Maatscha- pij (Holanda); ferro, uma compa- nhia da Alemanha Ocidental. A esmagadora maioria da econo- mia da Guiné encontra-se em mãos portuguesas, principalmen- te através do grande truste por- tuguês CUF (Companhia União Fabril), de sua subsidiária, Gou- veia, e do Banco Nacional Ultra- marino. O pilar básico das ati- vidades econômicas da Guiné é a cultura do amendoim. O amendoim fornece cerca de 50 por cento do produto nacional por tonelagem, e de 60 por cento pelo valor. 60 mil famílias cam- oonesas são forçadas a traba- lhar quase de graça, especial- mente para a Gouveia. Como a mão-de-obra é muito barata, não se modernizam os métodos de produção.

Indústria praticamente inexiste na Guiné Portuguesa: 6 serrarias, 3 usinas de descasca? arroz, 2 de amendoim, 1 de pol- pa de madeira e 1 de borrachas. Portugal falhou em todos 06 sentidos nesta pequena colônia africana. Não se contruiu umít infraestrutura econômica ; que possibilitasse uma explorado mais moderna, neocolonialistS. A "çristianização" não frutificou:

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apenas 1 por cento da popula- ção africana — cerca de 600 mil — está convertida ao cristianis- mo. Com apenas 2 a 3 mil brancos no país, a administração t^ve que recorrer a testas de ferro locais, ao contrário do que acontece em Angola.

A 3 de agosto de 1959 hou- ve uma greve dos trabalhadores da GUF Gouveia em Bissau, exi-

gindo melhores salários. A res- postas dos patrões portugueses veio rápida e decisiva: a polícia interveio e 50 trabalhadores morreram. Esse massacre deu início à luta aberta dos africa- nos da Guiné contra o domínio português. Entra em cena então o PAIGC (Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde). Esse partido, começou em 1953, quando um grupo de intelectuais africanos que estu- dara em Portugal organizou as bases de um movimento nacio- lialista clandestino. Fundam en- tão o MING (Movimento para a Independência Nacional da Guiné). Acumulando experiên- cia e desfazendo vários equívo- cos, esse grupo de intelectuais fundou em 1956 uni substituto para o MING, o PAIGC, agru- pando Já nessa época artesãos e trabalhadores manuais. Seu programa consistia em executar a politizaçãe dos trabalhadores mas cidades. Era dirigido por Amílcar Cabral. Depois dos massacres de Pidiiguiti, o PAIGC realiza uma conferência secreta em Bissau, traçando no- vos rumos à luta e transferiu a sede do movimento para Gona- kry. Devido à relativa facilida- de de repressão nas cidades, des- locam-Se os revolucionários para as áreas rurais. A partir daí o PAIGC concentrará seus maio- res esforços na organização dos camponeses. Essa mudança de estratégia trouxe como conse- qüência, dois anos depois, a con- solidação do partido nas zonas rurais. Começa então a verda- deira luta dos revolucionários africanos da Guiné. Amílcar Cabral anunciou a passagem da organização e preparação polí- tica para a desobediência civil ■— apelos aos cipaios africanos do exército português para que desertassem, e à recusa de pa- gamentos de impostos — e a

cuidadosa sabotagem sistemáti- ca paralisou as comunicações em todo o sul do país. Desen- cadeou-se uma violenta repres- são. Tropas portuguesas patru- lhavam ostensivamente o Sul, espancando, prendendo e tortu- rando suspeitos. Depois de um ano de aparente calma, explode a insurreição armada geral. As emboscadas sucediam-se conti- nuadamente. Carros de guerra, quartéis) navios e até aviões iam pelos ares. Irritados os portu- gueses passaram a bombardear os campos e queimar as flores- tas indiscriminadamente. Todo civil, como no Vietnã, era consi- derado um revolucionário a ser morto. As cercas eletrificadas multiplicavam-se. Em meio ano de luta, a insurreição dominava todo o sul do país. O exército confinava-se a isoladas fortifica- ções militares. No entanto na- da disso a opinião mundial co- nhecia . A muralha mais fecha- da de informação situa-se, sem dúvida, nas colônias portugue- sas. Somente em julho de 1963 é que o governo português ma- nifestou sua insegurança publi- camente.

O primeiro jornalista a pisar em solo guinéu, Edward Lax- ton, surpreendido logo na sua chegada por uma emboscada, declarou que as forças revolu- cionárias chefiadas por Amílcar Cabral controlavam um quinto da colônia após três meses. Em pouco tempo as guerrilhas pela independência se espalharam pelo Norte-Centro e pelo Oeste, atuando simultaneamente. Os jatos Sabre F-86, de fabricação americana, encontraram um Ira-

no interior que a violência era supérflua nas cidades.

O PAIGC conseguiu liber- tar extensas áreas do território, desmantelar o aparelho adminis- trativo português e a economia e imobilizar mais de 10 mil sol-

^ dados portugueses e um apre- ciável reforço naval e aéreo. Além disso, o tipo de insurrei- ção para Angola, que passou a consolidar sua rebelião, e para Moçambique, onde a revolução

balho pela frente: queimar al- deias e civis com milhares de bombas e "napalm".

Apesar da violenta repres- são, em março de 1964, Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC deu uma entrevista ao semanário argelino "Revolution Aíricaine", na qual anunciou que 40% do território se encon- trava sob controle dos naciona- listas. Cabral destacou o der- rotismo e a baixa moral do exér- cito português na Guiné. Em tais condições, disse, não era ne- cessário ao PAIGC desencadear o terrorismo urbano. O exér- cito de libertação' era tão' forte

anticolonialista já começava adulta.

MoçamMqme

Na segunda metade do ano de ■1964, iniciou-se 8 luta arma- da pela independência de Mo- çambique.

A exploração dos principais artigos de exportação de. Mo- çambique está nas mãos de três fjrmas, dás quais duas são bri- tânicas e uma portuguesa. Os artigos são, por ordem de impor- tância: algodão, açúcar, caju, co- pra, chá e sisâl. A concessão petrolífera foi dada à Gulf Oil Company. 90% dos capitais in- vestidos na mineração carboní- fera são belga. Dos três bancos instalados em Moçambique to- dos são estrangeiros, só um de- les — o Banco Nacional Ultra- marino — é português. Nas 23 companhias de seguro de vida, 9 não são portuguesas. 80% dos seguros de vida encontram-se em mãos de companhias estran- geiras. Nas plantações de sisal estão investidos capitais portu- gueses, ingleses, alemães e suí- ços, enquanto a copra é princi- palmente portuguesa, com al- gum capital suíço e francês. O trabalho forçado é a forma ge- ral de que se utiliza o colonia- lismo português. Num país de seis milhões de habitantes, tra- balham na agricultura de algo- dão como conscritos meio milhão de nativos, cem mil constituem os chamados trabalhadores agrí- colas e mais 400 mil são traba- lhadores imigrantes, contrata- dos para trabalhar nos regimes racistas da África do Sul e Ro- dé&ia do Sul. Existe também o trabalho compulsório para o Es- tado ou empregadores privados, sempre que se prove que qual- quer africano não esteve empre- gado durante pelo menos seis

meses do ano. Estão em sitca- ção tão desesperadora que cru- zam a fronteira para o Rand, clandestinamente nada menos que 65 mil pessoas por ano. Os recrutas moçambicano^ são a base da força de trabalho nas minas. São os mais regulares, mais disciplinados e mais dóceis entre todos. Trabalham fora do país cerca de 400 mil moçambi- canos, o que eqüivale a dois terços da população tiabalhado- ra masculina do sul de Moçam- bique. Com todo esse regime selvagem de trabalho, menos de cinco por cento dos homens na- tivos, fisicamente aptos do sul de Moçambique estão legalmen- te autorizados a manter-se den- tro dos confins das suas tribos. Dentro desse quadro é que sur- ge a luta armada pela indepen- dência, comandada pela FRELI- MO (Frente de Libertação de Moçambique). A primeira orga- nização política dos trabalhado- res moçambicanos foi a UDE- NAMO (União Democrática Na- cional de Moçambique), tendo por base os trabalhadores emi- grantes ná Rodésia do Sul. Em junho de 1962, quando a insur- reição angolana já se iniciara constituiu-se a FRÉLIMO. En- tretanto, somente em outubrç de 1964, é que a FREL1MO deu início à fase militar de suas Operações, constituindo o triân- gulo anticolonialista: Angola, Guiné e Moçambique. Na Tahgâ- ttia (antiga Tanganica), forças ar- madas em número muito subs- tancial estão sendo treinadas pe- la "Frelimo". M. Harris, um dos maiores especialistas em assun- tos sfro-portugueses declarou:

"üsta não è apenas uma dentre muitas guerras de libertação éfe história da África. Que eu sai- ba, esta guerra pode ser consi- derada a maior e a mais signi- ficativa de todas as guerras efe libertação da história da Áfriéà. A razão para essa peculiaridade do movimento de libertação em Moçambique reside no fato de iue o futuro de Moçambique tem estado, está e estará ligado ao futuro da União Sul-Africana". Embora as notícias sejam siste- maticamente ocultadas, a luta armada de libertação dirigida pela FRELIMO cresce, podenetó desferir um dos mais sérios got 'pês' no colonialismo português,/

PáginalO AMANHÍ São Paulo, 20/27 de Abril de 19S7 ---

r "

INTERNACIOHÂLIZÂÇÂO

DO COHFLITO

Ao perspectivas de uma revisão na política colonial portuguesa em relação a Angola, Gumé o Moçambi- que são quase nulas. Espo- rádicos governadores mais progressistas tentaram in- troduzir reformas no siste- ma de dominação, com o intuito de abrandar as ten- sões sociais, conter os mo- mentos rebeldes para

perpetuar a dominação por- tuguesa. Mas se constltu- cionalmente efetivaram es- sas reformas, elas não saí- ram dos livros e atos dos gabinetes. A luta tem se in- tensüfâcado ultimamente e com seus objetivos já deli- neados os africanos não admiiem mais a presença 1e osupafites estrangeiros

;arv! seu solo. Ssjtenialfvas da ONU pa-

ra minorar, as ativiáaíss rewevsiyas portuguesas

contra a população negra tem se mostrado nulas, já que o jogo político das na- ções impede, com seus in- teresses econômicos, a via- bilidade de decisões. Os es- tados africanos, após mui- tas decepções sofridas em face de suas reivindicações naquela organização, vol- taram-se para um organis- mo próprio, a OPA (Organi- ação dos Países Africa- nos), para tratar dos pro- blemas continentais.

Portugal não poderia so- zinho arcar com uma guer- ra de libertação a longo prazo, A ajuda que a NATO (Organiaçâo do Tratado do Atlântico Norte) tem lhe prestado é um dos princi- pais fafôrss de sua não ca- pitulação.

Corr.o se sabe, a HâTO é um ergasiisrao europeu oci-

dental de defesa militar, equipado pelos EUA. Diante dos fracassos de seus ape- los ao Ocidente para que não mantenha a mão arma- da ditatorial de Portugal na África, os revolucionários têm constantemente acer- tado a ajuda econômica, territorial e militar dos ou- tros países vizinhos e pos- teriormente a presença da ajuda soviética já se fêz sentir assim como também a chinesa. Com essa inter- nacionalização do conflito das nações sobre o domí- nio de Portugal descortina- se um novo Vietnã na Áfri- ca.

Portugal não tem so- mente problemas a resolver em suas possessões na África. Seus problemas in- ternos estão vindo à tona, apesar do controle tomado

para as notícias não serem divulgadas. E em Portugal, o conflito também toma um caráter internacional.

Os nacionalistas portu- gueses, as forças de es- querda, católicos, socialis- tas, comunistas em recen- te congresso num pais eu- ropeu instituíram a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) com o in- tuito de amalgamar as for- ças oponentes à ditadura de Salazar. E na Argélia montou-se um escritório permanente da FPLN para tratar e coordenar os as- suntos atinentes.

Assim, forma-se em tor- no de Portugal, um anel ex- plosivo que cada vez mais aumenta seu potencial. £ o momento de o estopim pe- gar e explodir não parece distante.

São Paulo, 20/27 de Abril de 196' AMANHA Página 11

CINEMA

A Condêssa de Hong Kong

O último filme (até agora) de Charles Chaplin. Pela primeira vez sem a presença do ator Chaplhv e contando apena.s com o roteiro, a música, os diálogos e a direção do velho e respeitado gênio do ci- nema. O íilme íoi mal recebido pela crítica internacional, por ter sido realizado dentro do velho es- tilo fhupUnia.no. que não é tão "moderno". Embora seja o esliloi que aliou sempre sua alta quali- dade artística ao sucesso garantido de público. Um filme que deve ser visto, um filme que o grande pú- blico irá ver- mesmo que a critica não o aceite. Inaugurando o cint PREMIEK, em horário normal- tom Sophia Loren e Marlon Bran- do- em Technicolor.

0 Grupo Filme baseado no "best-seller"

homônimo da escritura norte-ame, ricana Mary McCarthy. Um grupo de estudantes do famoso Vassar, tenta a vida. após sua formatura, nos Estados Unidos da década de 30. Debatcndo-se entre seus proble- mas íntimos, as 8 jovens que com- põem o g^upo vencem, fracassam e se frustram, dentro dos padrões da sociedade americana, dando oportunidade ao diretor do filme (Sidney Lumet) de analisar aquela sociedade, tentando mostrar clara, mente a desagradável verdade que se esconde atrás do "american way of life". — Impróprio até 18 anos. Com Candice Bergen. Elizabetb Hartman, Joan Hacket e outras- Colorido, nos cines Gazeta. Mar roços e Regina.

Adeus Gringo Mais um "wesíern" hispanofran-

co italiano para fazer sucesso de bilheteria em S.Paulo- Repetição, cada vez mais aprimorada e pri- mária da nova fórmula inventada por Cinecittá: o herói boçal, estú- pido, animalizado. que trata todos a patadas, desde seus inimigos até a "mocinha" e o público Estamos em i»Iena época do herói imoral hipócrita, ladrão. O público delira com a impunidade dos fortes. — Windsor, Rio e circuito. Censura LIVRE (Note-se que "A Condêssa de Hong KOng" é impróprio para menores de 14 anos.. )

Quem Tem Medo de Virgínia Woolf Premiado com 5 Oscars, chega-

nos o filme baseado na peça ho- mônima de Edward Aibee. Película pretendida "forte" e "corajosa". Conserva muitos dos palavrões e situações escabrosas da peça origi- nal, e mais do que ela, não conduz a nada. Típica obra decadentista: revela-se uma sociedade podre on- de as pessoas se debatem indivi- dualmente e sem saída. Um mundo que está no fim, que não é mais suportável e que não pode mais se manter de pé. As pessoas se agri- dem e se destroem mutuamente, o conflito geral se reflete nas mes, qninhas lutas individuais. E o fil- me também não vê saída, encara como condição humana universal» uma situação que na realidade é produto da decadência do sistema capitalista "Quem tem medo de Virgínia Woolf" é um tipo de arte que desaparecerá com o sistema que a criou. — Entra em cartaz dia 24. no Astor e Metrópole. Com Eli- zabetb Taylor e Richard Burton- Proibido até 18 anos.

LIVROS

NEOCOLONIALISMO E WKRUMAH 4 "Para sustar a interferência estrangeira nos

assuntos da.s nações em desenvolvimento.^ preciso estudar, compreender, revelar e combater ativa- mente o neoeolonialismo sob qualquer disfarce que este possa usar- Pois os métodos dos neocolonialistas são siutis e variados. Operam não apenas no campo econômico, mas lambem nas esferas política, reli- giosa- ideológica e cultural (pg. 281).

É deste ponto áe vista que o ex-presidente de Gana escreve os 18 capítulos de sua obra NEOCO- LONIALISMO — ULTIMO ESTAGIO DO IMPE- RIALISMO, lançado entre nós pela Civilização Bra- sileira.

N'Krumah penetra no mecanismo econômico e mostra como se dá a espoliação neocolonialista —- elevando os preços dos produtos industriais da me- trópole, rebaixando os preços das matérias-primas; elevando as taxas de juros até 6 e 80/o para os em- préstimos; como a "ajuda" é uma hábil maneira dos países menos desenvolvidos financiarem os de- senvolvidos ; o controle dos seguros como outra fonte de lucros; os "royalties" e a "assistência técnica".

Após historiar o nascimento do neoeolonialismo, através do domínio norte-americano dos bancos e monopólios alemães e de mostrar como o mesmo fenômeno aconteceu com a Itália e o Japão como nações vencidas e se estendeu às próprias nações vencedoras, particularmente a Inglaterra, revelia co- mo a hegemonia do capitalismo mundial ficou com os Estados Uniaos. E não só no terreno econômico:

"No campo operário, por exemplo — escreve — o imperialismo opera através de instrumentos sin- dicais como os partidos social-democratas da Euro- pa, liderados pelo Partido Trabalhista Britânico e através ae instrumentos como a Federação Interna- cional dos Sindicatos Livres"- O dinheiro dos trustes financia os programas sindicais de "Educação de Trabalhadores Treinamentos Vocacionais^Cooperati- vas, Clínicas de Saúde e Habitação" paia encora- jar a "cooperação entre os sindicatos e a direção das empresas para expandir o investimento de .ca- pital norte-americano das nações africantas".

"Um dos métodos mais insidiosos dos'neocolo- nialistas. escreve N^rumah, é talvez o evangelis-

mo". E cita as Testemunhas de Jeová, vai até Hcl- Ijnvood e seus filmes, para concluir: "O evangelismo e o cinema,- no entanto, são apenas dois ramos de uma árvore muito maior. Desde fins de 1961 os EE UU, vêm ativamente aperfeiçoando um imenso plano ideológico para invadir o chamado Terceiro Mundo, utilizando todos os seus meias, de.sdp a im- prensa e o rádio ao Corpo da Paz"

Mostra o que é o USIS e a CIA, como peça-s do chamado "Governo Invisível" que realmente dettm o poder nos EE.UU. e em.grande parte do mundo através de golpes de estado, e acentua o papel de- sempenhado pelo "Rearmamento Moral",

Depois de desvendar todo o neocoíonia-ísmo. N'Krumah chega à sua conclusão:

"Eis assim o catálogo das atividades e métodos do neoeolonialismo^ em nossos dias- Ao lê-lo, os tímidos poderiam achar que devem desistir, desa- nimados ente tamanho aparelhamento de força apa- rente e recursos que dão a aparência de serem ine- xauriveis". E sentencia:

"Felizmente, no entanto, a história fornece inú- meras provas de uma das suas leis mais importan- tes: de que o futuro em germinação é sempre maie forte do que o passado que vai murchando".

N'Krumah termina por preconizar os métodos pacíficos para derrotar o neoeolonialismo a partir da unidade continental.

"Ninguém poderia dizer que se todos os povos da África combinassem formar a sua unidade, sua decisão poderia ser revogada pelas forças do neoeo- lonialismo. Pelo contrário, ante a nova situação, os que praticam o neoeolonialismo se adaptariam a esse novo equilíbrio de forças mundiais exatamente da mesma maneira pela qual o mundo capitalista se adaptou nò passado a quaisquer outras alterações no equilíbrio do poaer".

Quer dizer; é possível libertar os povos colo- niais e semitColoniais sem destruir o neocolonialii- mo e até possível a coexistência dos libertados com o neoeolonialismo.

Depois disso- NKrumah foi derrubado do poder por um golpe dé estado militar. Terá êle conser- vado as mesmas idéias da conclusão de seu livro?

A ORIGEM DOS PELEGOS O movimento operário brasileiro é praticamente

desconhecido, apesar de ter vivido nos últimos anos algumas das situações políticas mais importantes da hisiória do país- E a vida universitária nãò cos- tuma colaborar para suprir esta dificulade; raras são as obras que se voltam para a discussão do tema.

O livro de Azis Simão, "O Sindicato e o Estado", publicado recentemente, procura preencher em parte esta lacuna. Obra rica em material sobre a vida operária no país. constitui-se no mais amplo levan- tamento referente ao tema já elaborado. Informa, por exemplo, que o aumento de estabelecimentos operários no Estudo de São Paulo, subiu, de 1950 a 1960. de 24.519 a 56.383. fazendo com que a popula- ção operária do Estado caminhasse de 484 844 a 969 112. O que fundamenta a importância social que o proletariado paulista passou a ter depois do surto "desenvolvimentista" da década, de 50, alte- rando as concepções de estratégia política vigentes anteriormente. N

Mostra igualmente que as indústrias de mecâ- nica e de material elétrico congregam mais de 1/4 da população operária do Estado; e que somada às dos setores de fiação e tecelagem, e de construção e mobiliário, abrange quase 60% do total dessa po- pulação. Os dados são importantes, particularmen- te no que se refere às indústrias mecânicas e de material elétrico, pois em 1943, elas representavam apenas 5% do operariado paulista. Com isso pode- se perceber o peso excepcionalmente grande da massa chegada do campo para as indústrias, con, centrada mais vigorosamente nas indústrias meta- lúrgicas. E como diminui relativamente a impor- tância de setores tradicionalmente substanciais da nossa indústria, como o ramo de fiação e tecela- gem, que de 35% da população operária, agora ocupa apenas 19%- Sobre este setor vindo do campo é que se coloca o problema de adaptação a péssimas condições de trabalho, porém ainda assim superio- res às que desfrutavam nos seus locais de origem.

Entretanto, além dos dados, o livro procura

apresentar o desenvolvimento das relações entre a estrutura sindical do país e o Estado mais particu- larizado no Ministério do Trabalho e nos seus di- versos órgãos. Vale-se sobretudo do contraste entre a miütância sindical e política do início do sindi- calismo, desenvolvida pelos anarquistas e a miü- tância que caracterizou posteriormente o sindica- lismo- quando da ascensão do getulismo, criando consigo uma liderança sindical pelêga. O imposto sindical e a inexistência da pluralidade sindical seriam os instrumentas mais importantes de que o Betado se valeria para ter nos sindicatos um apoio incessante e seguro. Encaminha-se então o autor para a necessidade de desligamento, ao menos re- lativo, entre a estrutura estatal e as organizações sindicais, requisito para a existência de um sindi- calismo ligado i às bases operárias.

Apesar da- inegável utilidade do livro para quem se interesse por assuntos ligados à classe operária, êle ressente-se de falhas graves. Quem procura ob- ter uma visão geral do tema sindicato-Estado, frus- tra-se pela insuficiência da abordagem: além de destacar exageradamente o papel do anarquismo e de seu momento no movimento operário, deixando de lado uma análise minuciosa dos instantes mais importantes do movimento operário, vividos de 54 até 64, a abordagem do autor é excessivamente his- tórica, chegando às vezes à erudição; a linguagem é acadêmica e a análise relega demais o plano po- lítico, limitando-se praticamente a focalizar a viria sindical isoladamente; o Estado por exemplo não aparece como Instrumento político de classe alte- rando o seu caráter conforme as relações de classe no país: o Estado é tomado formalmente como se fosse uma entidade imutável enquanto que seu ca- ráter tem uma certa mutação, na dependência dos interesses e frações dominantes que se apropriaiaxn dele. Os partidos e organizações políticas ficam as- sim praticamente à margem da obra.

Vale, porém, o livro como colocação ae &.L .:;s problemas — principalmente o centrai, abordadi título — a cujo desafio a vida universitária n:",-> se tem mostrado à altura de corresponder.

Página 12 AMANHA São Paulo, 20/27 de Abril de \mi

EXCEDENTES

GOLPE

DO GOVERNO

O fato mais importante que aconteceu terça-feira à noite, durante a assembléia geral do Grêmio da Faculdade de Filo- sofia da USP, foi o apelo para que o estudante Wanderlei B. dos Santos renuncie à sua vaga na Faculdade de Medicina de Pinheiros e passe a lutar em conjunto com seus colegas ex- cedentes pela admissão na Uni- versidade

O pedido partiu de José Aran- tes de Almeida — presidente do Grêmio da Faculdade de Fi- losofia da USP. Wanderlei B. dos Santos foi admitido na Fa- culdade por força de um man- dado de segurança julgado na semana passada.

José Arantes criticou tam- bém o caráter demagógico do decreto presidencial que manda aproveitar os excedentes, mas que não concede ao mesmo tem- po as verbas necessárias à cria- ção de novas vagas. A opinião quase unânime da maioria dos alunos presentes à assembléia é de que o decreto não passa de ufha manobra política, com a finalidade de ganhar popula- ridade entre os estudantes e a opinião pública. Além disso, o lance do governo visa também criar divisão entre os estudan- tes, jogando os alunos já matri- culados contra os excedentes.

DENUNCIA DA ESTRUTURA

O centro das discussões du- rante a assembléia girou em torno das manobras do govêr- to, que, na opinião dos estu-

antes, não pretende resolver problema algum. Ao contrário, sua intenção é manter a atual estrutura do ensino superior — responsável por todos os pro- blemas surgidos até agora, in- clusive o dos excedentes

Esse é também o ponto de vista de Rubens Belfort - di- retor do Centro Acadêmico Pe- Paulista de Medicina, reira Barreto, da Faculdade

A luta dos excedentes para obterem acesso às escolas não

pode transformar-se num sim- ples movimento reivindicatório. Antes de tudo deve se consti- tuir numa denuncia à atual es- trutura universitária.

Para Belfort a solução do problema não está na admissão pura e simples dos excedentes. Isso não soluciona nada. "O que resolve é reformar a estrutura universitária. Mas não é so- mente ela que está ultrapassa- da. O sistema vigente no país está na base de todos esses pro- blemas".

Belfort diz também que a greve da Escola Paulista de Medicina e a de outras faculda- des representa, antes de tudo,

uma denúncia contra as estru- turas sociais que ai estão "As instituições econômico-sociais não acompanharam o desenvol- vimento do país e não se adap- tam às necessidade de progres- so. Dentro delas pouco ou qua- se nada se pode fazer".

MEC-USAID O diretor do CA Pereira

Barreto afirma que o Governo está usando o problema dos ex- cedentes como maneira de im- pingir à Universidade o acordo MEC-USAID. Quer jogar os es- tudantes contra a opinião pú- blica e apresentar como única solução a que prevê o pagamen-

DEMAGOGIA NÃO RESOLVE A quebra da autonomia uni-

versitária por parte do Gover- no, admitindo os excedentes é uma atitude absurda, arbitrária e demagógica. A autonomia existe por'lei, mas é freqüen- temente violada, tanto pelo Executivo Estadual, como pelo Executivo Federal. As Faculda- des têm razão, os excedentes têm razão O incidente que exis- te é produto da má organiza- ção do Ensino Superior — diz o prof. Paulo Duarte. — Os ex- cedentes têm razão porque fo- ram aprovados. E as Faculda- des têm razão porque não têm meios para atender os exceden- tes nem os alunos matriculados. A intervenção indébita do Go- verno, além de ser uma atitude demagógica revela incompe- tência. Pois somente as uni- versidades possuem meios para solucionar seus problemas Mas as Universidades do Brasil são pessimamente organizadas Tanto do ponto de vista admi- nistrativo, como do ponto de vista da qualidade dos profes- sores e dos Conselhos Universi- tários, cujos membros, am ge- ral, não têm noção do que se- ja uma Universidade.

O que ex;ste, segundo o pro- fessor, é uma Universidade des-

moralizada e inteiramente sub- metida aos governantes. Esta submissão chega a tal ponto que. quando o Governo conge- la arbitrariamente as verbas devidas à Universidade nin- guém fala nada'. O problema dos excedentes é uma simples decorrência da atual desorga- nização em que se encontra o Ensino Superior. Acéfalo e sub- misso aos arbítrios governa- mentais, concluiu Paulo Duarte. MENTALIDADE COLONIAL

Um moço da Medicina de Pi- nheiros, afirmou que era con- tra a admissão dos excedentes porque o nível do curso seria rebaixado. Para êle os exceden- tes não possuem um nível cul- ttural exigido para serem mé- dicos, uma vez que não conse- guiram classificação.

O indivíduo quer ser médi- co para adquirir certa posição íocial, certo prestígio e certa renda também. . Isso é que se pode chamar de uma posição retrógada, herdada do passado colonial — afirma o prof Flo- restan Fernandes. E a prefe- rência de certos cursos do En- sino Superior, nada mais é do que o desejo de adquirir oü manter certo "status", certa po- sição — concluiu.

to de anuidades por parte dos estudantes O MEC USA1D

• apareceria então como o 'sal- vador da Pátria' Alegando que não tem dinheiro para susten- tar o Ensino Superior e não dando a êle verba alguma o pa- gamento de anuidades seria a grande solução E' esse afirma o CA da Paulista, o clima que o Governo está criando. E a opi- nião já está sendo preparada.

NÃO TÊM CONDIÇÕES

Afirma ainda Belfort que ne- nhuma Escola Superior tem condições para admitir mais alunos, E a atitude do Gover- no, admitindo os excedentes não passa de uma medida de- magógica Perguntam os dire- tores do CA Pereira Barreto: o que vale admitir mais alunos se as Escolas não têm condições materiais e humanas para manter os que já estão dentro? E citam por exemplo a Santa Casa. O Governo fêz um acor- do com a Santa Casa prometen- do verbas- desde que ela au- mentasse o número de vagas. De 100 alunos, a Santa Casa passou a admitir 130 Mas as autoridades não soltaram a ver- ba prometida. E as vagas bai" xaram novamente part 100. Esse é o caso da Escola Paulis- ta de Medicina. Nenhuma de- las tem condições^ de admitir mais gente. E' Rubens Belfort que explica: "O Curso Básico da Paulista se vê às voltas com o problema da falta de assis- tentes porque o salário que eles recebem é irrisório E o Curso Clínico está na mesma base. O Hospital-Escola São 'Paulo já está devendo mais de 300 mi- lhões à praça. E o jeito é au- mentar o número de leitos pa- gos, diminuindo o número de leitos gratuitos." Esta diminui- ção de leitos acarreta um enor- me prejuízo para os alunos. Ainda, segundo declarações do diretor do Hospital-Escola, a solução é fechar as portas por- que verba não vem mesmo.

A

*ãií Pmlo, 20/27 de Abril de 1967 AMANHA Página 13

Recebendo pouco, trabalhando mais do que o permitido em lei, sujeito a toda a sorte de pressões por parte dos banqueiros, o bancário, hoje, é tão explorado quanto um

trabalhador de fábrica. O trabalho em banco de acordo com estudos médicos, provoca um desgaste mental muito grande. O IAPB, no Rio gastou em 1965, 1 bilhão de cruzeiros para tratamento de distúrbios mentais

provocados por excesso de trabalho. Por isso a lei restringe o trabalho dos bancários a 6 horas diárias. Mas os bancos não respeitam leis ou direitos. O sindicato não consegue atender à quantidade enorme de reclamações que recebe. E está tainl^ém êle, sujeito a pressões de toda espécie.

BANCÁRIO

CADA VEZ MAIS EXPLORADO "A pior coisa que existe no

trabalho de bancário é o regi- me de colégio interno. Lá onde eu trabalho, a gente tem 10 mi. rütos para ir ao banheiro não pode atender telefone, não pode conversar nem fumar. Chega-se ao cúmulo de, quando o servi- ço do dia acabou, a gente ter de colocar papel na máquina e ficar batendo qualquer coisa prá não pensarem que o pessoal não trabalha."

Essas declarações são de M. T., bancaria há 2 anos e meio. (Omitimos, propositadamente, em toda a reportagem os nomes tíos entrevistados e dos bancos onde trabalham, pois, em caso contrário, seriam sumariamen- te despedidos). M.T. recebe de salário Cr$ 158 000. pouco me- nos que seu chefe, funcionário há 15 anos e que tem de orde- nado Cr$ 280.000 mensais. •'Acho, diz ela, que atualmente não há possibilidade de fazer carreira em banco. Voltei a es- tudar para ver se consigo daqui a alguns anos, um emprego me- lhor Aliás, na minha seção, to- do mundo estuda, são 14 fun- cionários, 12 estudantes. Nin- guém pensa em ficar no banco, porque pra "subir" a gente tem de se submeter a toda sorte de humilhações: bajular o chefe, fazer hora extra sem receber, não pertencer ao sindicato, não reclamar dos abusos, enfim, se comportar como criança de co- légio interno e ser explorado ao máximo."

SALÁRIOS DE FOME

Na maioria dos bancos, atualmente, além dos poucos funcionários de carreira que trabalham há mais de 10 anos. a grande massa de funcioná- rios é de estudantes Por uma razão muito simples: o estu- dante encara o emprego como COiM transitória e o utiliza só para manter-se enquanto estu- da. Desse modo, todos os anos, entram e saem dos bancos, per- mitindo que se pague pouco pe- Io seu trabalho. Quem entra hoje em um banco como escri- turário recebe Cr$ 136000; quem já trabalha há 5 anos re- cebe Cr$ 223 000, isto é Cr$ 87.000 a mais. Além disso, o tiúmero de estudantes que se candidata a empregos em ban- co é muitc grande, por causa das 6 horas de serviço que lhes permitem estudar A concorreu, cia sendo grande, o salário pode ser baixado à vontade pelos banqueiros.

MT não é sindicalizada por. que seria perseguida no banco. 'Não me sindicalizo também, declara ela, porque nãc tenho muito interesse pelos proble- mas da classe. Encaro o empre- go como uma coisa transitória. Logo que puder, saio. "Como ela, a maioria dos estudantes não participa das atividades sindicais- ou porque não se re. conhece como bancário ou por- que são impelidos a participar da política estudantil, onde acreditam ter maiores possibi- lidades de atuação. Os bancá- rios de carreira, enfronhados

nos esquemas servis de traba- lho, repelem as atividades do sindicato e, muitas vezes, como é o caso do Banco Brasileiro de Descontos, agem como "dedos- duros" em relação aos colegas sindicalizados. É sobejamente conhecido que vários bancos fazem pressões a fim de que os funcionários não se sindicali- zem. No Banco Comércio e In- dústria de São Paulo, na lista de demissões figuram em pri- meiro lugar os funcionários sin- dicalizados. No Bradesco, é ne- gado crédito na Cooperativa de Consumo dos Funcionários pelo lato de freqüentarem o sindi- cato. A própria "Folha Bancá- ria" é distribuída com dificul- dade em vários bancos, na por- ta, e às pressas.

HORA EXTRA Ê EXPLORA- ÇÃO A MAIS

"Ganho Cr$ 140.000 ajudo em casa e pago Cr$ 40.000 por mês no cursinho de Direito. Evidentemente, não dá Por isso, resolvi fazer hora extra de manhã", diz G.L, bancário há 2 anos. "Ganho Cr$ 1.200 por hora extra, o que já é al- guma coisa, porque muitos bancos obrigam o funcionário a fazer extra sem pagar."

O Bradesco, de acordo com denúncias feitas recentemente, só agora resolveu pagar hora extra e somente para os funcio- nários que optaram pelo Fundo de Garantia, numa manobra suja que tenta pressionar os que ainda não escolheram o t undo. Antes disso, o funcioná-

rio era obrigado a ficar até "fechar" o serviço de contabi- lidade, sem receber um tostão a mais por isso. Em outros bancos, como o Noroeste, o funcionário trabalha das 9 às 18 horas, em agências, receben- do unicamente Cr$ 1.600 para o almoço (que é de uma hora). Outro recurso utilizado é o do comissionamento. O funcioná- rio é elevado para um cargo de confiança e passa a receber Cr| 32.000 a mais. Porém, o funcionário comissionado não tem horário previsto em lei e pode ser rebaixado quando o banco achar necessário.

GRATIFICAÇÃO EXTINGUE- SE PAULATINAMENTE

O Banco Alfomares resolveu nâo pagar a gratificação de de- zembro. Os funcionários fize- ram uma assembléia e decidi- ram colocar cartazes na rua re- clamando contra a medida. Veio o DOPS, tirou todos os cartazes e chamou vários elementos do sindicato para 'explicar a sub- versão". Até hoje, o Alfomares não pagou a gratificação. No Comércio e Indústria de São Paulo, há 3 anos que os funcio- nários novos não recebem gra- tificação o que já acontecia há tempo' no "Novo Mundo" Em outros bancos, a gratificação de

v dezembro é o 13.o salário As- sim, progressivamente, a grati- ficação vai sendo deixada de la- do e os que tentam fazer a gu- ma coisa contra isso, são taxa,- clos de subversivos.

Página 14 AMANHA São Paulo, 28/27 ds mnl de tS37

A DAN(Â DO DIABO

Pefeu esfava jogando mal no São Paulo, após sair do Flamengo, por- que atravessava uma fase de de- sin'axioação Jogando sob o efeito de ■ doping". sentiu falta dele no tricolor A explicação é do craque Samo, ex-zagueiro do Padeiras, Botafogo e Santos, que acaba ae escrevei '•Futebol, Dança do Dua- bo". foin-aiizando denúncias e con- tando farcj sobre o papel dos ex- citantefí entre os jogadores de fu- tebíri, que retira a questão do ter- reno das especulações para colo- cá-la como problema concreto. In- cluindo nome de médicos- c:ubes. jogadores e técnicos Sarno expôs o problema do "doping" solicitan- do a imediata apuração da verda- de O Sindicato aos Atletas Profis- sionais chegou a constituir uma comissão para investigar o proble- ma que, por defrontar-se com no- mes e entidades poderosas, já co- meça a definhar-

"DÜPING" É UMA REALIDADE

O próprio Sarno afirma que jo- gou várias vezes dopado. "Joguei sob efeito de estimulantes no Pal- meiras na decisão de um título e no Jtabaquara, para não cair na Ia Divisão" — afirma o craque. E salienta que não foram essas as únicas tezes em que jogou nessas condições Algumas ocasiões foram por vontade própria, outras por deciaão doe dirigentes do clube, que lhe deram o estimulante.

Para êle, 60 por cento dos joga- dores profissionais jogam dopados. E os reappnsáveis são os técnicos e os massagistas. Principalmente os técnicos, contratados por curto período de tempo e que, por isso mesmo têm que tirar o máximo dos craques para impressionar ps diri- gentes dos clubes. Sarno diz que muiias vezes são os próprios tor- cedores fanáticos que fazem isso No seu fanatismo, apelam para tudo. pois o negócio é vencer,'nâo importei como.

Em resumo, para Sarno, o "do- ping" .existe porque os jogadores em geral são ignorantes, não têm consciência dos-malefícios que a dopagem acarreta e os clubes não se interessam muito pela questão. A iniciativa teria que ser tomada pelos priprios clubes E os clubes não a tomarão.

INVESTIMENTO EXIGE RENDA

Um clube que pagou milhões pelo passe de um jogador tem seu

! róprio ângulo de encarar o pro-

M/m' Muitos jogadores brasileiros para continuarem de pé JDO

campo (1) são transformados em autômatos (2) cheios de Iso- lihnas até a tampa (3)

blema: em principio, julga-se coln o direito de explorar o craque ad- quirido, para repor e ultrapassar a quantia dispendida. Na verdaoe, reproduz-se aqui o mecanismo da compra da capacidade de trabalho de um operário, pois como disse Zezé Moreira, futebol é indústria- Ainda que guardadas as propor- ções, a situação permite analogias, pois que se trata de um investi- mento de capital por uma merca- doria que por sua vez tem que ser explorada convenientemente para poder render, sob a forma das bi- lheterias dos estadias ou dos con- tratos para jogar no exterior, uma quantta conveniente. Porém, ape- sar das diferenças enormes de re- muneração de um e de outro a mercadoria jogadoi-de-futebol tem coiyj-a si algumas particularida- des: constitui-se num investimen- to de capibal que tem pouco tempo para repor seu valor, por ser tua carreira relativamente curta. (10 ou 15 anos no máximo). Além dis- so, êle não desfruta sequer de uma relativa liberdade de opção entre os empregos a obter, já que seu passe pertence ao clube ao qual está vinculado.

OUTRO TIPO DE MERCADORIA

Tomadas as coisas nessa pers- pectiva, a raiz do problema loca- liza-se m relação do tipo de mer- cadoria, de compra e venda, de propriedade, que se estabelece en- tre o atleta e o clube. Assim, não se toma tão escandalosa a utili- zação áe métodos para, extrair maior renda da produção de um craque. Afinal de contas, trata-se de um mecanismo similar ao das horas extras de tnabalho, as da

utilização áe máquinas mais mo- dernas, ao do trabalho de memr res. enfim ao de todos os artificiois utilizados por um capitalista par,-» auferir a mais-valia proveniente do operário.

Porém, no plano futebolístico as coisas ganham sensação- Ao ano- nimato dos operários contrapOem- se idolos do público. Mas retoma-se situação semelhante; os treinos, os exercícios físicos, as concentrações, operações, tratamentos, estimu lantes — tudo faz parte da pre- paração do jogador para que renda mais.

A LEI DOS CONTRATOS

A comissão de investigações que quiser atingir o cerne do proble- ma deve iniciar a discussão sobre a lei de contratação dos joçadore.s. Situação absolutamente normal no futebol é aquela em que uma vez terminado o contrato, o joga- dor e o clube não chegam a um acordo para a renovação, via de regra o clube oferecendo quantia irrisória. Criado o impasee- o pa.sse do jogador é posto à venda; po- rém, neste momento, apesar de ter oferecido pouco, o clube solicita um preço impossível a outro clu- be. -Daí, após um cerco financeiro em que o jogador não recebe sa- lário, termina o atleta por ceder à imposição do clube. Ou ainda, quando se trata de transferência. em que o jogador tem direito a 15 por cento sobre o pi-eço do seu passe, para que se escamoteie esse direito, os clubes terminam por trocá-lo por outro craque, fórmula em que o atleta não recebe nada.

João Saldanha, em 1963, formu- lou uma proposta que renova a lei

do passe- ac final do crintrato. o clube deveria fixai o preço ào passe do Joi^ador, esperando um mês para que surgi--.em os ;nieres- sados na compra- Não havendo» renovaria pagando de uva.- e or- denados uma quantia de 10 ou 20 por cento sobre o preço do passe fixado. Assim, quando o clube fixa o preço do passe em quantias ís- tronòmi'a,- .tüomáticamemc au- menta ria as condições em que se daria a renovação b ^ue faria a- minuir a especulação e proieg» t a melhor os Interesses d?.s traques.

Há várias formas de diipar d jopdor Para o dr. lluroido Campos, mé-

dico do Coriiitians. o simplei exa- me clínico de um jotiador suspeita de dopaumi não dá resultado. Se- ria necessário um exame de lab»- ratório. E os clubes não dispõem de equipamenío técnico para isso. De onde se conclui que nunca se po- derá saber se um joi-ailor está do- pado ou não. Ainda mais: a dopa- sem nunca é direta. Pode ser-feita através da alimentação ou da be- bida.

Além disso. di7 o dr. Haroldo Campos, não há uma opinião for- mada sobre o que seja a dopa»e!n Para alguns, â tomada de oxigênio durante um intervalo da partida é considerada como tal, Da mesma forma que uma injeção de sheo^e ou de qualquer vitamina. E de argumento cm argumento nio- ijuém afirma que a dopagem exis- te, mas apenas suspeitam que existe. ,.

A despeito .dos, efeitos e das con- seqüências que as drogas possam trazer. Porque a verdade é que os efeitos do tóxico num viciado são os mesmos que para um jogador que toma "pervertin", "bolinha", etc.. Fica fora de si. faz coisas que normalmente não faria. Seu orga- nismo não conhece mu esforço li- mite, vai muito a!ém do normal.

E qual é o resultado disso? O dr. Haroldo Campos dá o exem-

plo do ciclista Karl Chernik q«e. correndo dopado e fazendo um es- forço além do permitido pelo orga, nismo. caiu morto no meio da cor. rida. Não se conhece um fato igualmente í?tal no futebol, mas o jogador dopado tem aos poucos o seu organismo ressentido e em bre- ve terá que abandonar o futebol.

Sãa Paulo, 20/27 de Abril de 1961 AMANHA Página 15

NOTAS

INTERNACIONAIS AMERICANOS MATAM 60 000 CIVIS NO VIETNÃ DO NORTE

Na cidade nortevietnamita de Phu Ly, a 50 km de Haoiói, 80% da população civil morreu vitima- da pelos bombardeios norte-ameri- canos — declarou em Hong Kong um dos quaquers (religiosos pro- testantes) que estiveram recente- mente no Vietnã do Norte. A sra- Eüzabeth Boardman, um dos oito pacifistas dos EUA informou que a cidade contava com 76.000 ha- bitantes e agora é um monte de ruinas. A pacifista afirmou que todos os oito membros da delega- ção dos quakers estão convencidos de que os bombardeios são feitos contra objetivos civis, , inclusive hospitais. Ela mesma disse ter visto um bebê que havia sido atin- gido por tiros de metralhadora an- tes ainda de nascer e uma menina de oito anos com a coluna verte- bral partida. Disse ainda que vai percorrer seu país para contar o que ocorre no Vietnã, pára que todos sintam vergonha de sua con- dição de ser humano. <A noticia é da France Press e foi publicada em São Paulo pela Folha de São Paulo).

A SUÉCIA DO AMOR LIVRE E DO MEDO

Se explodisse hoje a bomba e começasse a terceira guerra mun- dial, a girafa do zoológico de Els- kistuna, Igmar Bergmam, e 500/o da população sueca não teriam problemas: estariam todos salvos dentro dos vários abrigos atômicos da Suécia. Pode ser também que quando isto acontecer, já exista abrigo para toda a população sue- ca, Para isto eles estão trabalhan- do sem parar: todo o prédio cons- truído no país tem que ter um abrigo atômico embaixo e o povo ee preocupa em morar perto dos abrigos para garantir a presença entre os 50% que vão se salvar.

É assim o medo da bomba na Suécia. Para ela isto é uma amea- ça permanente, motivação para intermináveis conferências em Ge- nebra. Um país que tem um go- verno social democrata há 20 anos, que é orgulhoso de sua neutrali- dade, independente de qualquer aliança militar, a Suécia de hoje arrumou um motivo para viver: o medo da bomba.

E A RODÉSIA? A impunidade da minoria bran-

ca racista na Rodésia serve bem para mostrar as limitações da "oposição" dos países ocidentais ao regime de lan Smith. A ONU também aqui não conseguiu mu- dar o rumo dos acontecimentos- A verdade é que a Rodésia do Sul nada sofreu com algumas peque- nas sanções econômicas. Os por- tugueses ajudaram seus amigos da Rodésia desviando pesróleo e ou- tros materiais através de Moça.n- bique. A verdade é que continuam impunes os racistas da Rodésia do Sul e África do Sul, sem que nin» guém mova uma palha, além do ©co palavreado diplomático.

SOMBRA DE GUERRA NA CORÉIA

Acontece atualmente na frontet- va entre a Coréia do Norte e do Bul uma série de escaramuças en- tre forças armadas fronteiriças, parcos e lanchas afundados, sol- àttdos mortos. A Coréia do Sul e Os EUA, que ainda mantém tropas Beste pais, atribuem a responsa- bilidade dos acontecimentos aos comunistas do Norte. A Coréia do Norte protesta junto à Comissão de Armistício da ONU, acusando o imperialismo dos EUA de prepa- rar uma nova guerra na Coréia, um novo Vietnà.

100 MIL CONTRA A GUERRA SUJA

Uma das maiores manifestações

A reunião uruguaia foi pre- parada e organizada pela OEA — Organização dos Estados Americanos e é a história des- ta organização — que foi cria- da com alguns objetivos ex- cusos e outros mal definidos — que pode explicar o sono de Jonhson e toda a Conferência.

A OEA foi criada em 1948, em Bogotá, Colômbia e deveria ser um órgão para cooperação entre os povos da América La- tina e a base do panamericanis- mo. Na realidade, a idéia desta organização vem de antes Ela é inspirada pela política do big stick norte-americano, a políti- ca do grande porrete, e repre- sentava uma organização com a qual Tio Sam pretendia unir a América e fazê-la andar se- gundo seu compasso.

Esta contradição, entre o pan-americanismo dos latino- americanos e o dos EUA torna se cada vez mais aguda dentro da OEA, e são os pontos de vis- ta americanos que prevelecem. Pela sua definição, de acordo com o artigo I da carta que a criou em Bogotá, a OEA deve- ria defender a soberania dos estados americanos, zelar por sua independência, contribuir com o progresso e a civilização no mundo. No entanto, ela sur- ge como um instrumento para favorecer a intervenção arma- da americana, como foi visto na Guatemala em 1954 e na Repú- blica Dominicana em 1964.

A ALIANÇA PARA O PROGRESSO

Outra iniciativa proposta dentro do mesmo esquema de uma aparente solidariedade e

PUNTA DEL ESTE:

A VELHA HISTÓRIA

O aborrecido cochilo de Johnson diante do interminável blé- blá-blá de seu grande aliado Ongania, presidente da Argentina, é o retrato perfeito do que foi a reunião de Punta Del Este: uma conferência vazia e fracassada, onde uns poucos presidentes, vá- rios ditadores e o sonolenlo texano se reuniram para discutir o que de há muito já eslava decidido: que a América Latina deve continuar sendo um campo tranqüilo para os grandes lucros doe frustes americanos. ,

cooperação entre os povos da América foi a Aliança para o Progresso. Com ela, os povos latino-americanos deveriam, com auxílio dos Estados Uni- dos, atingirem o desenvolvi- mento econômico e social Aqui também, a contradição logo veio a tona. Na realidade, o que a Aliança fèz foi pressio- nar os governos latino-america- nos a concederem vantagens às empresas de capital norte-ame- ricano e impôs, uma dependên- cia financeira dos governos da AL aos EUA. Com isso, sufocou as possibilidades de um desen- volvimento e autônomo e subs- tituiu a idéia de independência pela de interdependência Ou seja, ao invés de cooperação, entre os latino-americanos, vol- tava a idéia da união de todos eles mas subordinada, basica- mente, aos interesses norte- americanos.

A CRISE ATUAL Hoje, a Aliança para o Pro-

gresso está quase morta, limi- tando-se a financiar esporádi- cas construções de escolas e es- tradas. A idéia de integração assumiu uma nova forma e é ela quem vai dominar as con- versações de Punta dei Este. As reivindicações dos latino- americanos na Conferência in- cluíam a obtenção de mais aju- da de Washington e redução das tarifas alfandegárias para produtos primários e a autori- zação para utilizar a ajuda norte-americana em compras fora dos Estados Unidos.

Entretanto,, além de consti- tuírem uma aceitação definiti- va da dependência em relação aos empréstimos ianques, elas

se chocaram com a redução da Ajuda à América Latina devi- do ao aumento das despesas com a Guerra do Vietnã

Além destas reivindicações- surgiu a de um Mercado Co- mum Latino Americano, sem a participação dos Estados Uni- dos. Para Johnson essa cwver- sa já era bem mais viável. Em última análise, ela significaria... a manutenção do controle total deste novo mercado, através das grandes companhias que os Estados Unidos possuem em todos os países que integrariam esse pretensamente indepen- dente mercado comum. O es- pelho mais fiel do que seria este mercado é dado por qual- quer reunião dos representan- tes da ALALC — Associação Latino-Americana de Livre Co- mércio. Na ocasião de falar o representante do Brasil, levan- ta-se um dos diretores da Gene- ral Motors ou coisa que o va- lha 'brasileira', e apresenta os "nossos pontos de vista", falan. do um português com um so- taque muito conhecido. Em se- guida levantava-se o represen- tante da Argentina, um dos di- retores da Kaiser, por exemplo e começa a expor as suas idéias, num "castellano" apren- dido em Washington. E assim, um após o outro, se manifes- tam os estranhos representan- tes da "América Latina".

E, dentro desta meema lin- guagem, com o português e o "castellano" "made in USA" se- ria entoada a cantilena deste mercado comum que excluiria, na teoria, aquele que, na práti- ca, seria o seu grande e único representante.

contra a guerra do Vietnã saiu do bairro negro do Harlem e dirigiu- se para a sede da ONU em Nova York. A manifestação movimen- tou cerca de 100 mil pessoas. Nos círculos policiais foram feitas ver- dadeiras manobras de guerra na montagem do dispositivo de segu- rança para controlar os aconteci- mentos.

A esquerda americana, inte- lectuais, negros e estudantes, prin- cipalmente os de Berkeley, deve- rão participar- Chegaram em trene e ônibus especiais manifestantes de todo o país.

Esisa é a maior manifestação contra a guerra do Vietnã até ho- je realizada nòs EUA-

«i-i: AMERICANO ^ PEDE ASILO

EM CUBA Quando em gozo de licença em

Tóquio, o soldado norte-americano Kenneth Griggs, de 21 anos, que serve no Vietnã, pediu asilo à em baixada cubana daquela cidade. A chancelaria cubana confirmou a noticia-

SAO PAULO, 24) a ti àm ABRIL DE 1967 EDIÇÃO SEMANAL NÚMERO 4

INDUSTRIA EXPLORA 0 CÂNCER

Cem mil brasileiros morrem anualmente de câncer. Para en- SSKSítai a morte pelo câncer é preciso antes percorrer um lon- go caminho, o tradicional ca- minho da terapêutica clássica do câncer, o tratamento não cura e custa uma média de 1,5 mil cruzeiros novos. Para fa- zer um diagnóstico, que incluí exame de tecido e exame de laboratório há que pagar de 400 a 600 contos. Antes disso já foram gastos 40 com a cônsul" ta médica Para pagamento das operações e internação. A doen- ça volta e é preciso aplicar tra- tam^pto por radioterapia Pa- ra tumores profundos, por exemplo, usa-se a bomba de Cobalto Cada aplicação custa 25 cruzeiros novos e são feitas em média, 25 aplicações. O analgésico usado, já no fim do caminho quando só resta es- perar, é a morfina, também de preço elevado.

Nesta usina de morte traba- lham milhares de pessoas. Mais de cinco mil medicamentos,' to- dos bastante caros e ineficien- tes. Bombas de Cobalto que custam 80 mil dólares. A esse complexo médico-comercial que explora o tratamento do câncer alguns médicos não confofma- dos já deram o nome de "medi- cina Rockíeller".

A INDÚSTRIA NOS EUA O gasto médio para um tra-

tamento de câncer nos Estados Unidos da América é de 7.500 dó. lares. Isso quando o total de doentes é de meio milhão de pessoas. Calcula-se que, da atual população norte-america na, 50 milhões morrerão dt câncer, e, no mesmo ritmo den- tro de duas gerações, poucos

escapariam dêgte tipo de morte. A punição para os que pro- curam romper o truste do cân- cer é rigorosa. Difamação e perseguição até a derrota total. Só existe uma forma de traba- lhar com o câncer. Inserindo- se nos meios tradicionais acei- tando a situação existente Acei- tando o dogma de que "o cân- cer não é curável". MUTILAÇÃO E MORTE

O tratamento tradicional do câncer, é formado por uma combinação de cirurgia, raiio- terapia e hormônios. Além dis- so, morfina.

Primeiro extirpa-se o tumor, e quase sempre com mutilação Sensível do paciente inclusive eliminação de órgãos vitais ao Organismo. Um pulmão mete de dos rins, parte do estômago e assim por diante. Depois de surgirem sinais da doença em outras regiões então, passa-se a usar a radioterapia, uma das mais rendosas atividades de to-

da a medicina. Os tumores são atacados por meio de radiações, que têm maior poder de des- truição sobre as células can- cerosas que sobre as normais. Mas as aplicações são limitadas pela própria necessidade de proteger os tecidos sãos. Os re- sultados são fracos. Uma pe- quena regressão, e depois um avanço ainda maior da doença. Alguns médicos afirmam inclu- sive, que a extirpaçâo para e simples do tumor é que provo- ca a generalização do câncer, devido ao desequilíbrio súbito do metabolismo específico jue rege a proliferação dos tacidos cancerosos Mas o edi-ício construído sobre os méritos da cirurgia é por demais forte pa- ra ser derrubado. E a não exis- tência de outra alternativa faz com que as operações conti- nuam sempre. Sempre sem re- sultado

Recorre-se aos hormônios co- mo meio auxiliar Já então é o

COBALTO. BOM NEGÓCIO A ma.ji.eira mais íácil de um médico se tornar milionário em

muito pouco tempo, é comprar uma bomba de cobalto. Aplica uns 1S miUióes de cruzeiros, manda alguns viajantes percorrerem O inferior, e mam inslaníe esla com o horário cheio. Para cada aplicação metade fica para o médico que mandou o cliente. Não ha problema de fiscalização de qualquer espécie. O que um mé- dico indica não pode ser contestado. Para isso foi criada a cha- mada ética da distinta classe médica. Uma ética bastante sem ética Uma muralha protetora de qualquer erro, seja intencional ou não. Protegidos por essa absoluta falta de fiscalização ou crí- tica, os médicos encontram um terreno fértil para trabalhar da forma que melhor entenderem. De modo geral essa forma é sem- pre a mais lucrativa. E' escolhido, quase sempre o caminho de maior custo. Já é normal atualmente, antes de iniciar qualquer tratamento, exigir uma coleção de exames de laboratório. E aliás o senhor pode ir ao laboratório assim assado que é muito bom.

Cem mii brasiíejros morrem anualmente de câncer. Mas para encontrar esta morte é necessário percorrer antes um longo caminho em que se gasta milhões de cruzeiros e se alimenta uma indústria até certo ponto muito rendosa

começo do fim. Depois só msta minorar a dor.

A incurabilidade do cáí.cer já se tornou ura mito. Qual- quer manifestação em contrá- rio é encarada com reserva.

Ficou resolvido que o câncer não tem cura. QUEM SAO OS CHARLATAES

Esporadicamente surgem médicos e outros profiss o- nais que anunciam a cura do câncer. Imediatamente movi- menta-se a máquina medicinal. O remédio é consideradi um blefe, seu autor lançado a exe- cração pública. O câncer é in- curável Assim ;|3onteceu no Brasil, nos EUA e na Europa.

É taxado de charlatão qual-, quer um que anuncie um re- médio para a cura do câncer. Acusado de não ter espírito científico e aproveitar-se ape- nas da grande ansiedade das vítimas de mal. E os que tra- tam do câncer dentro das nor- mas estabelecidas, sem conse- guir resultados? Qual deve ser a sua classificação? Pesquisa- dores, experimentadores mé- dicos ou o quê? Essa a grande dúvida já lançada por alguns importantes médicos do mundo. Como se explica permanência desse ritual de tratamento que não cura? Já conformados e habituados com a morte de seus clientes, a atitude do profissio- nal dedicado ao tratamento do câncer se reveste de caracterís- ticas especiais. Já está marca- da, e com pequena margem de erro, a data em que o leito será ocupado por outro. Mas tudo deve ser feito dentro do ritual. Cirurgia, radioterapia, hormô- nios.