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Centro de Pastoral Vernueíro

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2 - RESENHA SINDICALISMO

A CUT, uma alternativa sin

SALVADOR PIRES

É isso mesmo, tompanheiro., Quem esteve presente em

acontecimento como a Conclat em 1981 na Praia Grande e no Condate em 83 em São Bernar- do, teve a oportunidade de sentir as suas dimensões: política, so- cial e principalmente humana. £ de repente você de um lugar, constatar a realidade da classe trabalhadora brasileira, do cam- po e das cidades, com todo o pe- so do processo de exploração que enfrentamos, num País de dimensões continentais. £ você que está em São Paulo, Rio de Janeiro, etc, presenciar as gran- des manifestações, como, por exemplo, pelas Diratat-Ji. Ver as bandeiras com todo tipo e di- mensões de propostas, políticas, sociais e econômicas. Ao mesmo tempo, é você sentar com um congressista vindo lá dos confins do Pará, Nordeste, etc, e ouvir dele o seguinte: "na minha re- gião, a gente até o ano passado não tinha o nosso Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Foi preci- so muita luta para conquistá-lo". Ele fala da grande conquista, sem esquecer todas as formas de perseguições e dificuldades pa- ra continuar lutando. Quase que a mesma realidade ocorre quan- do a gente parou para ouvir os companheiros congressistas, ope- rários de cidades do interior do Pais, onde foram instaladas in- dústrias, que impuseram tpQa. uma dinâmica nova de, çxpípijâ-, çáo contra os trabalhadores- lo- cais e eles aos poucos lutaram e formaram o seu sindicato.

Não temos o direito de esquç-i cer que os sindicatos aí forma- dos estão dentro da estrutura sindical brasileira, controlados diret^entç'p£tó; governo. Pará eles,wuma grande^cpnquista, por- que nada'tinham "ante? que !pá garantisse, qualquer defesa. Na sua' quase totalidade, desconhe- cem o significado dessa 'estrutu- ra sindical, Más aprenderam que o sindicato fo seu órgão de. lu- ta. Quando'falamos em alterna- tiva sindical para a classe tra- balhadora hrasileira, da tem que contemplar essa dura e amarga realidade. -

É de fundamental importân- cia que nos Congressos se defi- na as propostas de lutas básicas: política, econômica e sodal. Què

OSAOPAUIO

essas propostas sejam tiradas a partir da nossa realidade. Criá- mos a CUT em agosto de 1983. Ao mesmo tempo deddimos lu- tar pela defesa de várias pro-

postas, básicas de dimensões: na- cional, regional e local.

Deddimos que a CUT teria, como fundamental" tarefa políti- ca, enquanto alternativa sindi- cal, romper com a «strutura sin- dical brasileira. Mas como rom- per com essa estrutura se no Congresso de fundação foi apro- vado um estatuto para a CUT

que passa^ixcíusivamente pela estrutura sÍPdkal rqú^ nos foi imiíbsta há quase ,56 anos? Não é possível pretender destruir um inimigo usando as suas pró- prias armas.

.: É preciso, que fique bem claro què,.no. Brasil, o número de trabalhadores que são filiados aos sindicatos não chega a 20%. Já, os 80% que sequer ficou sô- dp para. desfrutar do assisten- dalismo que o sindicalismo pe- lego tbrasiíeiro pferece, pode- mos destacar o seguinte: uma, parte não, tem consdênda polí- tica dá importância do sindicato; outra não'tem condições econô- micas:;òutra é a painoria da das- se trabálhadoira -com melhores salários e que se encontra mais ao" lado dos patrões; e finalmen- te existe uma parte que não se associa porque não aerfedita num sindicato controlado direta- mente pelo governo e patrões. A questão, se dá num contexto de luta de classes, queiramos ou não.

Quando Getúlio Vargas nos impôs a atual estrutra sindical, ele nunca disse e muito m^nos se comprometeu a defender o fortalecimento da nossa organi- zação. Ao contrário, os seus ob- jetivos foram muitp daros no sentido de impedir o avanço da nossa organização sindicaL Essa é a mais profunda razão por- que, depois de Vargas, mudaram a Constituição brasileira várias vezes, aconteceram golpes e contra-golpes, mas não tocaram no essendal da estrutura sindi- cal.

É profundamente contraditó- rio quando a CUT só aceita a fi- liação de entidades .sindicais, pré-sindicais ou assodações de

a. ////ü/8f trabalhadores de categorias que por lei não podem ter o seu sin- dicato. £x.: funcionários. públi- cos, trabalhadores domésticos, etc. Quer dizer, só podem se fi- liar á CUT aqueles trabalhadores que o governo já permitiu, se organizarem sindicalmente, ou que venha possivelmente per- mitir.

Qual o espaço político de par- ticipação que a CUT está ofere- cendo para 80% das grandes massas de trabalhadores que não estão filiados aos sindicatos?

Se queremos que a CUT seja de fato uma alternativa sindical, temos o dever de sustentar esse debate, porque discutir a estru- tura orgânica da nossa central única é uma tarefa política tão ou mais profunda que qualquer outra.

Para romper com a estrutura sindical brasileira, é preciso que a classe trabalhadora se or- ganize a partir de outros con- ceitos de estruturas orgânicas.

Queremos construir a nossa Central Única dos Trabalhado- res (a CUT).

E dai?

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SINUii-ALISMO RESENHA

FOLHA DE S. PAULO Um jornaí a serviço do Brasil * • * LÊD/7Í7/P//?/. J

Por um sindicalismo livre j5////è%/

O sindicalismo auiõnomo constitui atividade inerente â economia de mercado c aos regimes democráticos. No momento cm que o País vive intensa- mente os problemas da transição política do autoritarismo à democracia, é atual e relevante o debate sobre a forma e conteúdo da transformação, do sindica- lismo brasileiro.

De inicio, ressalta o enorme anacro- nismo e .obsolescência da .estrutura sindicai corporativista cru nosso pais, intocada desde sua implantação pelo Estado varguista cm um processo que começou com a Lei de Sindicalizaçâo, de 1931, c consolidou-se cora a-Legislação Sindical, de 1939, inteiramente inspirada na Carta dei Lavoro da Itáliafascista.

Com efeito, apesar das mudanças inegáveis ocorridas na sociedade brasilei- ra nestes últimos cinqüenta anos — seja no plano econômico, sócio-cultural, político e mesmo jurídico —, a organização sindical manteve-se intacta e a subordinação orgânica das associações de classe ao aparelho de Estado acabou por parecer um dado "natural" de nossas instituições.

De acordo com estatísticas recentes do Ministério do Trabalho, existiam, em 1982, cerca de oito mil entidades sindicais no Pais, das quais 4 mü c 500 eram de trabalhadores, três. mil, patronais, c quinhentas de autônomos e profissionais liberais. Assim, a estrutura vertical e estatizada de tipo corporativo enquadra igualmente empregados e empregadores, trabalhadores por conta própria c liberais dentro de uma niesma camisa de força, qqe vai do sindicato único por categoria profissional e região até o Ministério do Trabalho, passando por organismos burocráticos de cúpula _ as Federações estaduais ç as Confederações nacionais.

Meio século de subordinação sindical produziu seus efeitos. A figura do imposto sindical compulsório, por exem- plo, propiciou a formação de uma casta burocrática dependente do Estado, vivendo de privilégios e não raras vezes locupletando-se na corrupção, para quem a melhor garantia de preservar <ieus interesses era fazer do sindicato um organismo vazio, alheio a seus eventuais associados. Com isso, descaractenzou-se o principio da representatiyidade: o baixo Índice de sindicalizaçâo, em geral, no Brasil — comparado não só com o índice das nações desenvolvidas, mas também coni o de vários países latino-americanos —, é apenas revelador dessa tendência.

O fato é que, tanto no período pós-1945, quanto no pós-1964, a acomodação em face do sindicato

corporativo foi, com raras exceções, a atitude predominante de lideranças políticas e sindicais.

Na verdade, b que constituiu defor- mação na história mundial do sindica- lismo — convertido em apêndice do aparelho de Estado sob regimes fascistas ou parafascistas, ou cm correia de transmissão do partido único, também estatizado, no caso dos regimes comunis- tas —, passou a ser igualmente norma de funcionamento das entidades sindicais brasileiras.

O principal aspecto a considerar, portanto, reside nos próprios fundamen- tos dos sindicatos no BrasU. Deveriam constituir uma livre associação no âmbito da sociedade civil, organizando- sc com total autonomia1 em relação ao Estado e aos partidos politicos. Este é o pressuposto básico da metamorfose profunda e indispensável do sindicalismo em nosso país, a fim de que possa efetivamente cumprir um papel que, na qualidade de organismo estatizado, se vê impossibilitado de realizar.

Definir o sindicato como entidade de direito civil, de forma coerente com sua origem e evolução, não quer dizer necessariamente reconhecê-lo como apo- lítico. Historicamente, desde o apareci- mento do sindicalismo, diversas e contraditórias tendências políticas têm disputado a direção dessas entidades O problema, pois, não é o de negar algo inerente à própria dinâmica dos movi- mentos trabalhistas,' mas de criar condições que assegurem, ao mesmo tempo, a democracia nas decisões sindicais c sua real representatividade no tocante aòçonjifnto de associados.

Nà estrutura corporativista atual, cssçs dois* requisitos estâp ausentes, a politiza- çâo do aparelho^sindical tem-se verifica- do mais peta via autoritária de controle e manipulação da1 máquina burocrática por parte de grupos partidários e quase nunca através,do debate livre de idéias e divergências, neni da adesão resultante do convencimento democrático e. consen- sual.

• Foi a partir do final dos anos 70 que se iniciou, no interior do movimento sindical brasileiro; 'f discussão sobre os novos caminhos da rcprcsentaçSü classi- ta. .A modernização do aparelho produtivo nacional determinou., em grande parte, uma périe de mudanças quantitativas e çiualitatiyas no perfil da força de \ tralialho.V Novas; práticas sindicais,; mais vinculadas às bases do movimento; "trabalhista, tiveram lugar. Despontar^111 novas lideranças, menos dependentes da tradição "pclega" oy das: agremiações políticas tradicionais.

Es.a renovação de concepções e expe- riências ocorreu de forma mais sólida, ligada a alterações objetivas. Por isso mesmo, parece que hoje estão reunidos fatores altamente favoráveis a uma evolução profunda do sindicalismo brasileiro.

Entre os eventos mais significativos dessa nova tendência destacou-se a realização do 1" Çonclat^ (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras), na Praia Grande, em 1981. As divergências ideológicas e práticas manifestadas ali conduziram o movimento sindical a se bifurcar em duas vertentes básicas que, em 1983, realizaram congressos de onde nasceram embriões de futuras centrais sindicais: a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Conclat (Coordena- ção Nacional das Classes Trabalhado- ras).

Seguindo a tendência ocorrida na maioria dos países democráticos, tam- bém no" Brasil, ao se esboçar o processo de um sindicalismo livre e autônomo, ele surge sob a égide do pluralismo. Na verdade, a experiência do movimento sindical moderno revela a coexistência de varidas íormas de associação, de acordo com..especificidades;[ regionais, grau de desenvolvimento industrial, concentração de trabalhadores etc. Unidade e plurali- dade, organização por ofício e por empresa, assim, são padrões não excludentes que podem combinar-se de forma adequada na vida sindical.

O pluralismo e a liberdade são princípios universais que devem nortear igualmente o reordenamento do sindica- lismo empresarial.fA excessiva burocra: cia, a falta d« representatividade e o esvaziamento dasi ^entidades são efeitos da atual estrutura que- também se observa nos organismos patronais, tanto no setor da indústria quanto no do comércio e agricultura. Com muita freqüência, ■. nota-se um . descompasso acentuado' entrf os sindicatos de empregadores e^uas. respectivas federa- ções estaduais e confederações nacionais.

Somente da' ' perspectiva de um sindicaíismq desatrelado e plural é que as negociações entre empregados e empregadores poderão evoluir para contratos livres e coletivgs entre as partes, eliminando-se a tutela do Ministério do Trabalho e dando ensejo, também, a uma reformulação da Justiça do • Trabalho, cujos limites visíveis decorrem, cm parte, de sua estrutura corporativista.

Qualquer que seja o curso da metamorfose da organização sindical do País, ela terá de garantir a desvinculação completa das entidades de classe — empresariais e trabalhistas — do aparelho do Estado. Sem o que, as tão propaladas liberdad€ e autonomia sindi- cais converter-se-âo em meras palavras 1 vazias.

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.4 - RESENHA SINDICALISMO

Tribimaflperílria. ZTõLIshúlM Papel da comissão de fábrica A organização dos traba-

lhadores no seu local de tra- balho sempre foi uma ne- cessidade imperiosa desde o surgimento do capitalismo. É na fábrica que se dá de forma direta o choque entre o capital e o trabalho. Nela os operários passam a maior parte do seu tempo e na sua luta diária contra a exploração percebem que precisam se organizar e eli- minar o espírito de competi- rão e a dispersão impostos pelos patrões. Com este ob- jetivo se utilizam de vários instrumentos: o mais im- portante é o sindicato, e um que tem se mostrado de grande valia é a comissão de fábncíi.

Comissão facilita a ação sindical no interior da fábrica

Geralmente as comissões de fábrica são conquistadas nos momentos de avanço dos movimentos reivindica- tórios, principalmente du- rante as greves, quando os trabalhadores têm maior força para impor aos pa- trões uma representação classista com alguns direi- tos, como a estabilidade no emprego e outras condições que facilitam a ação sindi- cal.

Eleito democraticamente pelos operários da empresa, o p •■o de trabalhadores que compõe este organismo tem a tarefa de encaminhar aos patrões as reivindica- ções do coletivo da empre- sa. Não cabe a ele decidir pelos operários, mas representá-los junto à dire- ção da firma, usando como forma de consulta democrá- tica as assembléias e reu- niões por setor.

A chave para o sucesso de qualquer comissão de fábri- ca reside no fato dela contar com amplo respaldo do conjunto de trabalhadores da empresa. Este apoio é fundamental para conquis- tar vitórias específicas e, in- clusive, para defender a es-

tabilidade de seus membros que está sempre ameaçada.

Ao contrário do que afir- mam certos setores exclusi- vistas do sindicalismo brasi- leiro, a comissão de fábrica não é uma experiência no- va, surgida apôs a ond<i de greves no ABC paulista em 1978. Por exemplo: em 1946, durante um ascenso grevista no país, ocorreram 33 greves em São Paulo, das quais 15 foram dirigidas pe- los comitês de fábrica.

Para conquistar o reco- nhecimento de suas comis- sões, os operários enfren- tam violenta resistência do patronato. Este não tolera uma organização sindical no local onde se dá a extra- ção da mais-valia; teme que este organismo sirva para unificar os operários da em- presa e posteriormente toda classe; alguns empresários chegam a afirmar que tais comissões podem se tornar no futuro embriões do po- der socialista!

Os instrumentos para alcançar

a comissão

Os trabalhadores c o mo- vimento sindical se utilizam de diversos instrumentos para furar este bloqueio e conquistar a comissão de fábrica. A CIPA (Comissão Interna para Prevenção de Acidentes) é um dos recur- sos mais usados, pois conce- de aos cipeiros a estabilida- de no emprego. Outro é a formação de grupos de ope- rários que se reúnem nas se- des sindicais ou em outros locais distantes da vigilância dos patrões. Agindo inicial- mentede forma não oficial, o grupo de fábrica é em- brião das comissões reco- nhecidas.

O próprio diretor sindical "de_ base~è "um importante instrumento para aglutinar as lideranças da empresa; o delegado sindical, previsto em artigo da CLT, também contribui na organização in- terna. Outro recurso eficaz

tem sido utilizado pelo Sin- dicato dos Metalúrgicos de São Paulo: são as comissões de fiscalização dos acordos de compensação de hora. Após realizar assembléias no interior das firmas para discutir a compensação do trabalho, o Sindicato forma uma comissão, eleita pelos trabalhadores, que-tem es- tabilidade de três anos.

Todas estas formas de or- ganização são vistas como intermediárias, tendo como função primeira a conquista da legalização dà comissão de fábrica. Em inúmeras in- dústrias, principalmente nas metalúrgicas de São Bernar- do e São Paulo, as comis- sões reconhecidas têm .posr sibilitado upi ^enorme salto no nível de organização e luta dos operários v A comis- são é peça indispensável pa- ra termos um • sindicalismo mais avançado, .idemocráti- l co, com raizes no local dq trabalho.

É bastante ilustrativo o exemplo da comissão de fá- brica da Ford do Ipiranga, na capital paulista, mesmo com as falhas de orientação que possui. Formada em 1981, ela conquistou uma série de melhorias para a atuação sindical. O refeitó- rio interno é usado constan- temente para a realização de assembléias; a confissão possui uma sala com telefo- ne e bm todos os banheiros e seções ela tem quadros de aviso; seus dez membros efetivos têm livre acesso a todos os setores da firma. No processo da sua consoli- dação, ela criou uma rede de apoiadores, eleitos em cada setor.

Com este poderoso ins-. trumento os operários da Ford já realizaram várias, greves; brecaram inúmeras, tentativas de demissões." Graças à comissão a Fofd^ hoje uma das firmas mais. mobilizadas da capital pau-, lista e tem contribuído para, o fortalecimento do Sindi-. catç da categoria. ,!

(Alumiro Borges),

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SINDICALISMO RESENHA - -5

Sindicato e comissão: como atuar?

TrilniiiaQperaria -2. t et 2.8lio/w As comissões de fábrica

nâo têm ficado imunes às concepções políticas incor- retas que atuam no meio sindical. Principalmente no que se refere à sua relação com os sindicatos, há inú- meros contrabandos sendo passados à classe operária. A grosso modo pode-se di- tcrenciar três formas de en- carar este problema, afora aquela puramente patronal já mencionada.

TENTATIVA DE DIVIDIR

Uma visão defende que af comissões de fábrica nãc devem ter nenhuma ligação com os sindicatos, ao con- trário, devem atuar contr? eles. A frente desta concep- ção sectária e divisionistf estão os trotsquistas incrus- tados no PT que pregam que "as comissões de fábri- ca jogam papel fundamen- tal na construção do Sindi- cato Livre... na destruição do Sindicato oficial" (bole- tim da Oposição Sindical Metalúrgica).

Com tal prática estes se- tores isolam a luta operária em cada fábrica, negam o papel unificador do sindica- to. No ano passado a greve da Monarck de Santo Ama- ro foi prejudicada pela in- fluência desta visão na co- missão de fábrica. Estes ele- mentos recusaram o auxílio do Sindicato e chegaram a propor a expulsão de um di- retor da entidade numa reu- nião. A paralisação nâo ob- teve conquistas e os mem- bros da comissão foram de- mitidos sem haver qualquer resistência do coletivo da fábrica.

Outra visão prega a total subordinação das comissões ao sindicato, tentando torná-las simples delegacias sindicais sem-qualquer au- tonomia. Também exclusi- vista, esta concepção junta pelegos, reformistas e certas lideranças petistas que, te- mendo perder o controle nas "suas" bases, tentam controlar rigidamente o no- vo organismo e impor sua política.

Esta postura traz um pe- rigo a mais: vincula as co- missões à estrutur-^-«indical atrelada ao governo. No primeiro Estatuto da comis- são da Ford de São Bernar- do, por exemplo, lê-se no artigo 4 que dois diretores do Sindicato são membros efetivos da comissão no car- go de coordenador e vice- coordenador; e no artigo 15, que "o Sindicato pode avocar a repressentação dos empregados na. discus-.ão dos assuntos que sejam ob- jeto da atuação da comis- são". Seguindo este dispo- sitivo, a junta interventora que tomou o Sindicato dos Metalúrgicos em 1983 pode- ria avocar os poderes de di-

rigir a comissão da Ford! Por último, expressivos

setores do movimento sindi- cal entendem que as comis- sões de fábrica devem ter autonomia na sua área de atuação. Como forma de organização dos operários na fábrica, as. comissões têm condições de mobilizar a totalidade das bases. Elas representam o conjunto de trabalhadores na emprsa, têm mais condições de en- contrar os problemas' que afetam o coletivo da fábrica e definir as formas de luta para superá-los. PROPOSTA CLASSISTA

Isto não representa para- lelismo sindical. Pelo con- trário, esta corrente prega o fortalecimento do sindicato por entendê-lo como órgão unificador da categoria. Certas experiências concre- tas em São Paulo demos- tram que seguindo esta orientação o número de sin- dicalizados aumenta, a pre- sença nas assembléias é mais representativa. E a re- cíproca é verdadeira: não se isolando nas fábricas e con- quistando o apoio do sindi- cato, as comissões ganham mais, respaldo e confiança dos operários. Com esta prática,'a comissão contri- bui \ decisivamente para transformar os sindicatos, torná-los órgãos classistas — democráticos, unitários e de massas.

COMISSÃO DE FABRICA Jornalua Oposição C JTi/$(\0\b±

A Comissão de Fábrica é a or- ganizadora de todos os trabalha- dores de uma fábrica para lutar contra a exploração patronal dentro de cada local de trabalho. É para lutar contra as injustiças cometidas em cada, seção e para melhorar as condições de traba- lho e de vida dos empregados de cada empresa. Hoje já existem muitas comissões de fábrica, mas a diretoria do sindicato quer acabar com as verdadeiras Co- mft>òões de Fábrica.

COMISSÃO SINDICAL DE FÁBRICA É PAPO FURADO

A diretoria do nosso sindicato sempre foi contra a Comissão de Fábrica. Só que hoje ela não tem coragem de dizer isso.

Por isso ela inventou uma no- va moda. Vamos entender a di- ferença entre Comissão de Fá- brica e a tal Comissão Sindical que a diretoria quer.

A Comissão de Fábrica é co- mandada pelos trabalhadores. A Comissão Sindical é manipulada pela diretoria do sindicato. São coisas diferentes.

A diretoria quer Comissões Sindicais dependentes sem auto- nomia.

.. Ou seja, a intenção dela é ter a categoria sobre controle para que a diretoria possa negociar com os patrões e governo contra a vontade dos, metalúrgicos.

A COMISSÃO DE FÁBRICA DE VERDADE

Achamos que a Comissão de Fábrica deve ser independente do sindicato. Independente e au- tônoma, porque ela representa todos os trabalhadores da fábri- ca e não só os sindicatos. O Sin- dicato deve incentivar e apoiar, a 'Comissão, mas nâo deve

■ ríominá-la. A relação da Comis- são com o Sindicato deve ser de cctlaboraçào, se a diretoria for a favor dos trabalhadores. Mas sempre deve manter sua liberda- de e independência. A comissão não substitui o Sindicato, nem o Sindicato substitui a Comissão. I

=0 ^H

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6 - RESENHA SINDICALISMO

A Comissàc não pode ser amarrada à atual estrutura sindi- cal que liga os sindicatos ao mi- nistério do Trabalho. Se a Co- missão for dependente do Sindi- cato ela cai junto, quando o Go-

verno cassa a diretoria. Por isso nossa bandeira è: EM CADA FÁBRICA UMA CO- MISSÃO DE FÁBRICA AU- TENTICA.

Tancredo e os peiegos preparam pacto de arrocho

O que foi o pacto de Ia Moncloa

Na semana passada Tancredo Neves se reuniu com empresário paulistas. Neste encontro declarou que o plano econômico do seu governo terá o objeti- vo de um 'pacto social'. Afirmou ser esta a única forma de realizar uma "transição' sem abalos, sem trauma- tismos e sem choques".

Para estabelecer este 'pacto social', Tancredo se referiu ao Pacto de Mon- cloa como sendo o ideal para que o Brasil ultrapasse a atual crise econômi- ca. O que significa isso?

O Pacto de Moncloa (feito no Palácio de Ia Moncloa. residência do primeiro Ministro) foi um acordo assinado na Espanha em 1977, entre o partido do governo, os partidos Socialista e Comu- nista e os sindicatos dos trabalhadores espanhóis.

Este acordo consistia, entre outras coisas, no compromisso dos trabalha- dores de n&o fazerem grever, de aceitar o congelamento dos salários e ainda permitia aos patrões despedir os operá- rios como bem entendessem.

Com o pacto o governo espanhol prometeu aumentar os salários e os empregos. Mas o que aconteceu foi bem diferente. O desemprego triplicou e o salário dos tabalhadores foi reduzi- do çm mais de 10%. Esse pacto foi, assim, uma verdadeira traiç&o dos dois grandes partidos operários espanhóis (PSOE e PC).

Este è o pacto social "sem choques" que Tancredo quer nos fazer engolir. E o primeiro passo ele já deu. Na semana passada fez uma "visitinha" ao Sindi- cato dos Metalúrgicos de S&o Paulo, para garantir o apoio do seu presiden- te, o pelego Joaquinz&o, que já deu várias provas de colaboração à candi- datura Tancredo.

O candidato patronal Tancredo Neves declarou na semana passada que seu governo terá.o objetivo de fazer um "pacto social", citando o Pacto de Ia Moncloa, que torne possível uma "transição sem abalos, sem traumatismos e sem choques" (Folha de S. Paulo. 10 de outubro).

Este senhor, que pretende chegar à presidência da República , apoiado por in- dustriais, latifundiários, militares e demais inimigos da classe-ope;rária, usa palavras um pouco complicadas 'para a maioria dos trabalhadores, traduzindo-as em termos mais simples, o que estas palavras querem dizer é que a política de. Tancredo èna realidade, a de manter o arrocho, a miséria e a fome para continuar pagando a divida ex- terna. Ou seja, que no seu futuro governo os trabalhadores terão a mesma vida miserável que têm hoje, e isto já fica claro agora, com o acordo sobre a lei salarial fechado" recen- temente entre ó PDS e os partidos de "oposição" PMDB, PTB e PDT— os que apoiam Tancredo.

A única diferença é que Tancredo quer dar ao seu arrpcho uma forma mais fácil de ser engolida pelos trabalhadores.. Para isto, ele conta com a colaboração d dirigentes peiegos como Joaquinzão e Pimentcl e dos partidos operários traidores, como o PCB e o PCdoB — que também o apoiam — para iludir os trabalhadores.

A classe operária não pode se deixar enganar pelo canto de sereia de Tancredo e seus aliados. É necessário ter claro que a luta contra os planos de miséria deste e do futuro governo passa por varrer os peiegos dos sin- dicatos. Para isso, è necessário orgariizar e fortalecer as oposições sindicais em todas as categorias, em todos os sindicatos dirigidos pelos peiegos. O primeiro passo que os trabalhadores deveni dar no caminho

ue os levará à conquista de suas reivin- icações é exatamente este: construir

oposições fortes e combativas. a

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~1 SINOICALTSMO RESENHA - 7

Compromisso histórico Metalúrçicc: conquistam ccre^ão trimestral

ISIDE fl^ Os empresários da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e o Sindicato dos Metalúrgicos da cida- de de São Paulo selaram, para alivio da grande maioria dos 400 mil operários do setor nu capital paulista, um histórico compromisso, na quarta-feira passada. Os empregados ganharam, na prática, a corresão trimestral (com antecipação de 80"; do período), e não semestral, como ainda ocorre com as demais categorias em iodo o país. Mais: o acordo prevê também, entre outras concessões feitas pelo patronato aos metalúrgicos paulis- tanos, um reajuste de 100% do INPC para quem recebe até quinze salários mínimos e um aumento real de 4%. A proposta, que partiu das empresas, por certo interessadas cm evitar uma greve programada para esta semana pelo potente sindicato, terminou, porém, por reforçar ainda mais a liderança do controvertido Joaquim dos Santos Andrade, o "Joaquinzão", 58 anos, à fren- te dos metalúrgicos de São Paulo.

Interventor, em 1964, do sindicato que congrega hoje 60 mil dos metalúr- gicos, possuindo arrecadação anual cm tomo de 6,3 bilhões de cruzeiros, e fun- dador da Arena, panido que deu ori- gem ao PDS, Joaquinzão aliou-se, nos últimos anos, às correntes sindicalistas vinculadas às várias facções do PCB,

PC do B e MR-8, o que lhe garantiu a permanência no poder. Com o acordo aprovado na quarta-feira à noite, ele obteve r ".va e expressiva vitória: seus tradicionais adversários - ligados ao PT, grupos católicos e organizações de extrema esquerda -, presentes à assembléia geral, realizada na imponen- te sede do bairro da Liberdade, apro- varam, praticamente por unanimidade, a proposta da FIESP, que fora encam- pada imediatamente pela diretoria do sindicato. i-,ccn

A proposta apresentada pela FIESP era, com efeito, irrecusável e representa uma conquista para os metalúrgicos paulistanos, conforme reconheceu até mesmo um dos mais contundentes opo- sitores de Joaquinzão, o coordenador da comissão de fábrica da Ford, Lúcio Antônio Bellencani, 40 anos, que, ao discursar para cerca de 5 niil com- panheiros, admitiu que "a oposição nâo podia deixar de aprová-la". E o que teria sido. ao que tudo indica, um acor- do de cúpula entre os empresários c os dirigentes sindicais, para evitar, possi- velmente, o aumento da tensão social quando se debate a delicada sucessão presidencial, transformou-se em uma grande peça de propaganda da gestão do veterano líder sindical. "Fomos o primeiro sindicato a explodir o Decreto-

Operário polivalente e ilhas de fabricação

Lei n» 2.065 e agora explodimos a nova lei sindical, um dia depois de ser sancionada pelo presidente da República", observou, "ufónco, Joaquinzão, apóf a assembléia que durou apenas meia hora - uma das mais rápidas da história do sindicato. Pa- ra ele, "foi um acordo arrancado dos pa- trões à custa de muita mobilização e che- gamos a fazer mais de cem greves de em- presa durante os últimos meses".

O grande artífice da adesão das correntes de oposição à proposta da FIESP foi, porém, o amazonense Luís Antônio Medeiros, 36 anos, operário da Gradiente e vice-presidente do sindica- to, que fez um discurso inflamado e carregado de palavras de ordem. "Os patrões tiveram que ceder", afirmou, na assembléia geral, Medeiros, "porque sabiam que iríamos virar São Paulo de pernas para o ar, dia 6, com a greve ge- ral". Temendo que a oposição arrebatas- se a bandeira de novas reivindicações, o hábil Medeiros prometeu ainda que o sin- dicato se mobilizará pela redução da jor- nada de trabalho de 48 para 40 horas por semana e pela estabilidade no emprego^

Na manhã seguinte, a poucos quilô- metros do centro de São Paulo, a ação violenta da polícia contra os quinhentos operários da Aços Villares que se encontravam reunidos no pátio da fábri- ca, em São Caetano do Sul, debatendo o final da greve iniciada onze dias antes, mostrou, contudo, que a repressão não cessou contra os trabalhadores: desalo- jados com bombas de efeito moral e gol- pes de cassetete, quatro operários saíram feridos, um dos quais. Jair Dias Sousa, 22 anos, leve o olho esquerdo perfurado e corre risco de perder a vista. ^

ECONOMIA

Wda unidade

No Boletim do Díeese de agosto de 1984, divulgado esta semana pelo Departa-

mento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sòcio-Econômicos, foi inaugurada uma no- va ssoâo - Linha de Produção - destinada a 'üscutir as mais recentes modificações que se • t>servam na produção das grandes indús- trias instaladas no país..

De acordo com o boletim, "são modifica- ções profundas, que estão, mudando a ma- neira do operário trabalhar, e Introduzem sistemas de automação que interligam várias, máquinas".

No primeiro artigo da série, aborda-se a questão da poli valendo e das ilhas de fabri- cação; • i :}■: 5kf"-.

Polivalêhcia Segundo a publicação do Dicese, em geral

as empresas entendem como operário poliva- lente "aquele que realiza mais de uma tare- fa, operando várias máquinas; dentro de unui mesma jornada de trabalho"./-'

Há várias formas dessa polivalência. A. mais comum, inaugurada em fins da dècadsi de 60 nas indústriaSiSÚccai Volvo c Saab Scania - c que depois espalhou-se por vários países europeus-, é conhecida como grupos.

semi-autònomos. Ou seja, a montagem tina. de um carro, por exemplo, não c feita da for- ma usual conhecida na linha de produção mas sim com a formação de grupos de ope- rários que efetuam a confecção completa de um certo número de veículos (ou de segmen- tos inteiros deles) numásó jornada de traba- lho. .

Para realizar a tarefa, os operários de um grupo dividem as funções de cada um entre si.

A polivalência no Brasil No Brasil, não há os grupos semí-autôno-

mos, mas está sendo introduzida nas fábri- 'Cas1-mais "avançadas tecnologicamente uma outra forma de polivalência: as ilhas ou célu- las de fabricação. Como anota o boletim, "elas substituem os tradicionais departa- mentos ou seções especializadas, como as se- ções de tomo, retifica de fresa, etc".

Cada uma das ilhas abriga um grupo de máquinas de vários tipos, dispostas em linha ou forma de U (como o exemplo ao lado), com capacidade de produzir, do começo ao fim, vários modelos semelhantes de peças. «

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8 - RESENHA ECONOMA

Na operação da célula é que aparece a figura do operário polivalente. Ele opera 3, 6, 8 e ate 1C máquinas ao mesmo tempo. No exem- plo ac lado, 9 postos de trabalho são ocupa- dos po; 3 op-rár^s.

Objetivo: aumentar a eficiência e a exploração

As vantagens para as empresas são mui- lits. Apontemos algumas:

1. Eficiência - ao invés de uma mesma pe- ça passar por várias seções, aguardando tem- po para entrar nas máquinas, na ilha ela è produzida sem interrupções ou esperas. Com isso, reduzem-se os estoques e ganha-se em termo& de tem pode.produção...-

2. Qualificação profissional - como as má- quinas da ilha são, em geral, automatizadas, computadorizadas, rebaixa-se enormemente o requisito de qualificação profissional. Um operário polivaJente pode trabalhar com um torno mesmo não sendo torneiro, trabalhar na fresa sem ser fresador, c assim por diante. Ou seja: os profissionais especializados do setor podem ser substituídos por outros sem qualificação, já que, segundo os técnicos do Dieese, "de um operário que trabalha numa ilha, exige-se praticamente apenas apertar botões e tirar a peça de uma máquina e pô-la na outra".

Nesse aspecto reside uma das diferenças maiores com o sistema de grupos semi-autô- nomos. O sistema dos grupos foi introduzi- do, segundo os técnicos do Dieese, "numa época em que não existia a automação de úl- tima geração, de agora". Vale dizer: na mo- dificação da linha de montagem para o siste- ma de grupos, os operários passaram a cum- prir tarefas mais complexas e, ao mesmo tempo, a participar do ciclo integral do pro- cesso' pródutfvbi^mpéh'dõ"c'círtl'a paíciàli-' zação a que eram submetidos na linha. Em algumas indústrias européias, inclusive, a substituição de um sistema pelo outfo foi fruto da luta sindical.

No sistema de ilhas, ao contrário, perma- nece a parcialização, e há o rebaixamento da qualificação profissional;

3. Produtividade e rotatividade - segundo o boletim, com a introdução das ilhas,."á mesma produção é alcançada com um menor número de operários, ou seja, cada operário consegue produzir mais em cada jornada". AÍém da questão da produtividade, o siste- ma apresenta outra vantíageni para o patro- nato: como as máquinas-são automatizadas, se a produção for reduzida, um só operário pode "tocar" a ilha. E,'se a produção au- mentar, a empresa pode contratar tempora- riamente outros.

No Japão já é freqüente a subcontratação da mão-de-obra, situarão que ainda não se caracterizou no nosso pais, pela recente in- trodução do sistema. É claro o prejuízo aós trabalhadores, pois as empresas, com as ilhas, transformam a flutuação da produção em flutuação da mão-de-obra.

Esses vários elementos, combinados, po- dem ainda gerar outro efeito sobre a classe operária: o arrocho salarial, fruto da des- qualificação profissional e da rotatividade intensiva da mão-de-obra.

Na conclusão do artigo, os técnicos do Dieese anotam outra finalidade das ilhas, li- gada a mais um salto tecnológico: "Abre-se a possibilidade de um sistema de automação que interligue robôs e várias máquinas. Com isto, institui-se o chamado sistema flexível de manufatura, base para automação mais glo- bal (automação integrada) das fábricas".

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M peças

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Inicio Término

. Percurso dos três trabalhadores dentro da Ilha Percurso da peça em produçio

Fonte: INDUSTRIAL ENGINEEfílNG. Atlanla (USA), nov. 1983. pg. 46

— FOIIIADES.PAlL0 3///o/8y

Contribuição mínima ao INPS vai a Cr$ 14.157

Tabela de contribuiçã o ao lapas (autônomo», facultativos• mm dobro)

Tempo de Basode Solárlo-boso Contr.

Plllocòo Cálculo (Cr») (i»,a%)

Mi 1 ono 1 salário mínimo 166.560 31.979

Mais de 1 a 2 2 x maior salário mínimo 333.120 63.959

Mais de 2 a 3 3 x maior salário mínimo 499.680 95.938

Mais de 3 a 5 5 x maior salário mínimo 832.800 159.897

Mait de 5 a 7 7 x maior salário mínimo 1.165.920 223.856

Mait de 7 a 10 10 x maior salário mínimo 1.665.600 319.795

Mais de 10 a 15 12 x maior salário mínimo 1 998.720 383.754

Mais de 15 a 20 15 x maior salário mínimo 2.498.400 479.692

Mais de 20 a 25 18 x maior salário mínimo 2998.080 575.631

Mait de 25 anos 20 x maior salário mínimo 3.331.200 639.590 tí>'

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ECONOMIA RESENHA - 9

Oa Sucursal de Biasilia

A partir de amanhã, a menor contribuição ^.'evidenciaria de um trabalhador será de Cr$ 14 157, mas Mf for um autônomo, que deve recolher tanto a parte patronal, quanto a sua própria, este valor sobe par;. (Y$ 31.979. Para JS empresas, que sempre recolhem lü% do salário de cada empregado, o menor valor de contribuição será de Cr% 16 656. Estes valores divulgados ontem pela Pre- vidência Social entram em vigor junto com o novo salário minimo.

Com a vigência do novo salário mínimo, o teto de contribuição (20 smi, passa dos atuais Crf 1.943.520 pura Cr$ 3,331.200 O empregado que estiver ganhando 20 salários mínimos ou mais passará a recolher mensal- nu-nte para o lapas, Cri 333.120. Se for um autônomo e já estiver contri- biiimlo há mais de 25 anos, a sua contribuição será de Cr$ 639.590.

(loiiiribuivão ao lapas (umpragadoi • • mprogodoroí)

Sa.anut Csnfrlb Alíquota Contrlb. (CH| •mpr«M »«npr«Bodo MI pregado

i6c :>ou 16 656 8 5% 14.157

333 120 33 312 8 5% 28.3)5 499 680 49 968 8 5% 42.472 837 800 83 280 8 75% 72.870

i \ti no 116 592 9,0% 104.932 1.665 600 166 560 9 0% 149.904

1 998 720 199 872 9.5% 189.878 2 498 400 249.840 9.5% 237.348 2 998.080 299.808 10% 299.808 3 331 200 333 120 10% 333.120

Nas tabelas ao lado tanto o traba- lhador autônomo, inclusive os facul- tativos (como as domésticas, os padres e freiras), quanto os que têm vínculo empregaticio podem calcular quanto lhes será descontado a partir de novembro.

Entra em vigor hoje a 9? política salarial

desde 79 FOLHA DE S.PAULO

FRANCISCO SANTANNA Rapórtar da Sucurtal da Bradiia

A partir de hoje começa a vigorar a nona política salarial adotada duran- te o governo Figueiredo. O presidente da República sancionou segunda-fei- ra à noite a lei 7.238, que concede correções de 100% do INPC até três salários mínimos, e de 80% no que exceder a este nível, permitindo a, negociação dos 20% restantes, Como somente hoje estí1 sendo publicada no Diário Oficial, a nova política salari- al só terá efeitos práticos para quem tem reajustes em novembro, uma vez que não existe categoria de trabalha- dores com data-base em 31 de outubro.

A sanção não foi total. O presidente vetou o parágrafo segundo do artigo sexto do projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional. Por este disposi-

tivo, os salários mínimos por hora dos' professores seria calculado to- mando-se como base a divisão do salário mínimo por 162 horas, quando normalmente é feito com base em 240 horas.

Figueiredo entendeu que este crité- rio de cálculo do salário mínimo por hora dos professores não "tem rigor técnico, provocando aumento imoti- vado dos custos da educação". O que, na sua opinião, poderia agravar a evasão escolar provocada pelo custo das mensalidades.

Como isto, para um professor calcular o seu reajuste salarial deve- rá tomar como base o salário mínimo por hora — que a partir de novembro será de Cr| 694. Se o seu salário hora/aula for igual ou inferior a Cr$ 2.082 (três salários mínimos por hora) o reajuste vai ser de 100% do INPC. Se for superior, a parte que

exceder será corrigida com 80%, permitindo-se a negociação dos 20% restantes, a exemplo das demais categorias.

A nova política salarial traz vanta- gens quase que exclusivamente para quem ganha acima de sete salários mínimos, uma vez que pelo DL 2.065 até este nível salarial os reajustes já se davam com base em 80% do INPC. A única diferença é que agora a negociação da diferença para 100% será permitida.

Quem ganha dez salários mínimos, por exemplo, passa a ter uma correção salarial, já computado o "efeito cascata", de 86% do INPC, enquanto que pelo 2.065 este índice seria de 80%. Quanto maior for o salário, maior será a vantagem. Na faixa dos vinte salários mínimos o reajuste passa de 67,5% do INPC para 83%

Calcule o seu reajuste

Com a sanção da lei N0 7.238, os reajustes salariais de novembro fica- rão sujeitos à seguinte sistemática: -

FAIXA 1ALARI Al (Cri)

At* 499 680 Acima d* 499.680 .

ACHSCIN1I (Cri)

1,7130 1.5704

Na realidade, os reajustes maiores beneficiarão uma parcela pequena dos trabalhadores: 10,74% de uma massa de cerca de 18 milhões de •pessoas regularmente contratadas, ou seja, um pouco mais de 1,93 milhão de pessoas.

Salários: a preocupação do Exército. "A queda do poder de compra do traba

Ihador é tão grande nos últimos anos que preocupa o Ministério do Exército, a ponto de ter enviado, há pouco tempo, um relató- rio aos ministros da área econômica, solici- tando maiores investimentos na área so- cial".

E que o Exército constatou que a estatura média e o tamanho das cabeças dos recrutas está diminuindo; a maioria dos soldados é originária das camadas mais po- bres da população.

A denúncia foi íeita ontem em Porto Alegre pelo diretor-técnico do Dieese (De- partamento Intersindical de Estatística e Estudos Sóclo-Econômicos), Walter Barelli ao informar que variação do INPC, entre 1978 e maio deste ano, foi de 3.270% contra uma variação do índice Geral de Preços dOPi, de 4.280%.

Barelli falou ontem, em Porto Alegre, durante a reunião-almoço na Federação das

jornal datarde

Indústrias do Rio Grande do Sul "E flatíraii- te e crescente a perda de poder aqulsltivwdo assalariado brasileiro, em decorrência da política recessiva imposta pelo governo", disse ele, lembrando ainda que, a partir d<) Decreto 2.065, do ano passado, o trabalhador deixou de ganhar, em média, 13% do INí»^ por mês, perda essa revertida em lucro-papa as empresas. «""^

Em recente estudo do Dieese, de acordo com Barelli, houve a conclusão de que o atual salário mínimo deveria ser de Cr$ 587.919,00. "Este novo salário mínimo de CrS 166.560,00, recém decretado pelo govertio. não passa de falta de coragem, pois é uma simples correção do INPC de maio último"

A queda do salário mínimo foi tão g»ati de que o mínimo de 1979 valeria hoje Cr^po mil. Baseado nestes dados, ele entende que as Indústrias e as estatais, apesar da ^fl^e., têm plenas condições de pagar o mínlnjo calculado pelo Dieese. , •

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10 - RESENK' ECONOMIA

Política salarial, ruim para empregados e empresários.

0 ESTADO DE S. PAULO Ov/zz/W

Dei.dc que Im iuaaiíurada a chamada pulltica salarial de distribuição de renda, em 1979, o trabalhador brasileiro vem sendo vitima de sensível empobrecimento. Foram nada menos do que oito os decretos e leis salariais emanados do governo Figueiredo, número suficiente para deixar extremamen- te confuso qualquer empresário, mas Insufi- ciente para garantir aos s&lárlos o mesmo poder de compra.

Os empresários reclamam: nessas condi- ções, é impossível fazer-se o planejamento de uma empresa. A política salarial é uma variável Importante para qualquer projeção financeira. Do lado dos trabalhadores as reclamações ganham intensidade, uma vez que o salário mínimo noje é inferior ao de 1079, em termos de poder de compra.

Os prejuízos puderam ser avaliados re- t-entemente pela Confederação Nacional da I ndüstria (CNI). Conforme levantamento fel- 10, os trabalhadores que recebiam 50 salá- i IOS mínimos em maio de 1979 se continuas- sem no mesmo emprego estariam perceben- do hoje o equivalente a 23 mínimos.

Mesmo para os trabalhadores que ga- nhavam até sete mínimos em 1979 e, menos agredidos pelas alterações salariais, chega- ram a 1984 ganhando 6,8 salários mínimos, us reflexos dessa política de distribuição de renda foram igualmente caóticos. Como iembra Albano Franco, presidente da CNI, nos últimos cinco anos, os reajustes sala-

riais sempre foram feitos abaixo da inflação e do INPÇ (índice Nacional de Preços ao Consumidor)". O que valeu e continua va- lendo é a lei do arrocho.

Outro exemplo da corrosão sofrida pelo puder aquisitivo da classe média é dado por Jullan Chacel, diretor de Pesquisas da Fun- dação Oetúllo Vargas. Segundo ele, o salário hnaldo de um técnico com formação profis- sional que valia 100 em 1979 estava valendo, em Julho de 1984, apenas 35. A gravidade (ifSba^sltuaçáo, entretanto, ficou mais clara nus últimos dois anos.

Conforme estudo feito pelo Departa- mento Econômico da CNI, com a apllcaçáo iio Decreto-Lel n" 2.065, de 27 de outubro de 19U3, os assalariados passaram a ganhar metade do que percebiam. Esse prejuízo i<ode ser traduzido em termos de massa salarial, que diminuiu 40% de Julho de 1981 a julho de 1984.

E tudo isso porque o governo achou por liem entender que os salários eram os únicos responsáveis pela escalada inflaclonária. Um engano que vem custando multo caro aos trabalhadores brasileiros. Não está sen- do fácil para alguns economistas convencer aa autoridades de que "uma política salarial caracterizada por uma .dieta de emagreci- mento do poder de compra de remuneração do trabalho, ao visar conter um foco de pressão inflaclonária só pode produzir resul- tados palpáveis em termos de arrefecimento do ritmo de alta de preços se as outras fontes de pressão forem Igualmente contidas", o que não vem ocorrendo.

Achatamento salarial

Em retrospecto, vale a pena refletir so- bre a política salarial dos últimos anos. cuja tônica foi o achatamento da massa salarial brasileira. Tudo começou com a Lei n" 6 708, quando a 30 de outubro de 1979, o governo Figueiredo editou para o trabalhador uma nova norma Jurídica: aumentos maiores pa- ra quem ganha menos, reajustes semestrais

e com base em um índice Nacional de Preco/s ao Consumidor (INPC). lJ*'.

Previa também, ao lado do reajuste; a livre negociação com base no ganho''üa produtividade, eliminada na nova legislação aprovada pelo Congresso semana passada. Assim, ficava estabelecido reajuste de 110% do INPC para quem ganhava até três salá- rios mínimos, 100% para a faixa de três gde^ salários e 80% para faixas superiores »,'aez mínimos. """'

Em dezembro de 1980, não satisfeito com o resultado dessa lei, o governo prpmtí- veu sua primeira alteração: com a Ltfl-n« 6.886 criou novas faixas para a aplicaçãodq reajuste. Enquanto a Lei n° 6.708/79 estipula- va três faixas (a última de dez salérlçs mínimos ao infinito), a Lei n» 6.886/80 fitííw uma faixa de dez a 15 mínimos, agraciada com 80% do INPC de correção salarial, esta- beleceu outra faixa de 15 a 20 mínimos, à qual caberia o reajuste de 50% do INPC e fixou uma última faixa, a partir de 20 míni- mos, sem reajuste. ,.,-íJOÍ'>'

Com a inflação correndo, splta.gp.vg reestruturação foi anunciada eni íànélTO^ie 1983, quando .p governo deu início a uma parafernália de decretos-lels. A,principal medida dó DL n» 2.012 foi retirar os~tp% adicionais que eram concedidos à íaixíoe até três mínimos, criando, para efeito de reajuste, apenas cinco faixas salariais; ate três mínimos, 100% do INPC; de três a^setç mínimos, 95% do INPC; de sete a 15,80%yle 15 a 20, 50%, e acima de 20 salários mínin»©?; nenhum reajuste. A correção continuava semestral e cumulativa. ^,,1

Essa nova organização de reajuste mata uma vez não convenceu o governo. Dol? meses depois, ou seja a 25 de março de lp83i nova programação era anunciada. Vei»'q Decreto-lei n° 2.024, estabelecendo quafiro faixas para a aplicação da correção: 100% do INPC até sete salários mínimos, 80% para faixas de sete a 15,50% para faixas de 15^20 e reajuste zero para salários acima dg.íO mínimos. •; a

Antes mesmo que o DL 2.024 fosse apre- ciado pelo Congresso o governo baixou o Decreto-lei n0 2.045 estabelecendo que ifft,l° de agosto de 1984 a 31 de julho de 1985 os salários seriam todos eles reajustados .^'cim 80% do INPC. Desta vez, entretanto, o gftvte?- no apertou demais o cerco e foi obrlguídcí a rever rapidamente sua política salarial. Tan- to assim que três meses depois anunciada o Decreto-lei n0 2.064, que também teve:;$jda efêmera, de apenas sete dias. Foi substituí- do pelo Decreto-lei n° 2.065 a 28 de outubro de 1983. * :_

Em meio de multa gritaria, o governo não titubeou e adotou novos reajustes; t00% do INPC para salários de um a três mínimos, 80% para faixas de três a sete mínimos;6í)% de sete a 15 e acima de 15 um reajustç^de 50% do INPC. Contudo, desde sua aprfiya- ção, em outubro do ano passado, o Decreto- Lel n° 2.065, um misto de medidas flsqa&i e salariais, vem sofrendo -criticas de seteréè sindicais, políticos e empresariais. EssalHia- tisfação, no entanto, parece- não ter'Skf() resolvida com a nova legislação aprovada pelo Congresso na semana passada. Líderes sindicais insistem que a filosofia do arrgfiho não foi ainda descartada e que, com a conti- nuidade dessa situação de defasagem, "tare- mos em breve a deflagração de movimentos de base, reivindicando a ampliação doS'di- reitos do trabalhador.

Saletta Lemos

Uma raça de anões

Alturas médias de meninos de 5 anos de idade de paises ImperiaUstas e de estratos aódo-ccooômicos altos e baixos de países dependentes

O capitalismo em decadência destrói dia a dia a própria espécie

, humana. No Brasil esta afirmação é cada vez mais evidente no retrato da fome que traçamos no artigo acima c também neste quadro de um dos efeitos da destruição: a diminuição de tamanho das crianças, que nascem sob estas condições.

(Fonir " Ramo do Bfuil", n* 6)

->

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12 - RESENHA ECONOMIA

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BOLETIM DIEESE é uma publicação mensal do Departamento Intersindical de ts- -nnri^Á-, 1 I tatist.ca e Estudos Sócio-Econômlcos/DIEESE. instituição de pesquisa, análises <^STEfnOf\0/& / e assessor:imento. mantido por sindicatos, federações e confederações de tra-

balhadores

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ECONOMA

Mie a divida pram uma sub-raça no Brasil

RESENHA - 11

"De quase 1,5 milhão de jovens brasileiros alistados em 1983, ape- nas 140 mil foram considerados aptos para prestar o serviço mili- tar. Mala de um milhão estavam íncapacitadot de servir devido i subnutrição, a deficiência dentá- rias e insuficiência de peso e altu- ra" (Fojha de Sio ; Paulo, 5/10/84). .; i:: . .

Estas espantosas, declarações nâo foram feitas por um cientista progressista ou por um economista de "esquerda" mas sim pelo'almi- rante ErnanJ Aboim, diretor de Saúde da Marinha, que falava em nome do ministro chefe do Estado Maior das Forças Armadas briga- deiro Valdir.VascQncelps'., Os:mííi- tares sio obrigados á:-reconhecer uma evidência: o Brasil está mor- rendo de fome aos poucos-e por isto tantos jovens, desnutridos, sip incapazes de servir nas Forças Ar- madas. O que eles evidentemente nâo reconhecem 6 que foi o regime militar, que dirigiu o país durante mais de 20 anos, o grande respon- sável por esta imensa miséria. Com a intenção de pagar sempre a jilvi- da externa os diversos governos militares foram superexplorando cada vez mais a classe trabalhado- ra até o ponto em que a exploração é tanta que ameaça a própria so- brevivência de uma parcela impor- tante do povo brasileiro.

No Brasil a morte lenta pela fome

Uma investigação do Instituto Recentemente "çuixj èstúdárdo

Instituto de Planejamento Econô- mico e Sodal), calculou quedem 1984 « fome atinge 86 milhões de pessoas c pode;estar gerando lima sub-raça de brasileiros. Os, filhos desta população desnutrida em ge- ral são lfi% menores e pesam 20% menos que á média das crianças do paísj (ver quadro 1)

A fome desneceMária

Mas os trabalhadores e campo- neses morrem no meio de uma imensa riqueza e fartura de ali- mentos. O Brasil é o 4o produtor mundial de alimentos, e sua pro- dução de carne, leite, arroz e fei- jão, daria tranqüilamente para ali- mentar todo brasileiro com uma quantidade mais do que suficiente

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Brasileiro de Geografia e Estatísti- ca (IBGE) sobre a nutrição no Brasil, realizada em 1975, mostra uma realidade aterradora. Em 1961/62 a desnutrição atingia um terço da população brasileira (27 milhões de pessoas). Em 1975 esta porcentagem havia dado um salto para dois.terços dst população (72 milhões de pessoas). Esta mesma investigação ;■ dizia ,• que havia um contingente de 13 milhões de pes- soas que"" sofri» de. "desnutrição absoluta", isto é ingeria menos de 1600 calorias diárias. Eram pes- soas que já não podiam se mover com desenvoltura, tal era a sua fraqueza.. . ,..- v v \

de calorias por dia. (ver quadro 1). No entanto, enquanto continu-

armos a pagar a Divida Externa, não veremos nunca a maior parte desta comida. Todos os alimentos estão destinados a pagar apenas os Juros e o restante do serviço da dívida, isto é, pagamos com a fome de milhões de brasileiros e deve- mos sempre mais. Veja só alguns exemplos:

I) A exportação brasileira de car- ne este áno será de 650 mil tonela- das, isto é, só com o que é exporta- do cada um dos 130 milhões de brasileiros, poderia comer 5 quilos de carne* mais por ano (sem levar em conta que milhões são crianças que consomem muito menos).

2) Em 1976, 22,5% da produ- ção agrícola brasileira era exporta- da. Não temos dados mais recentes mas é evidente que esta porcenta- gem subiu muito depois dos acor- dos da ditadura com o FMI.

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Estes dados nos reafirmam uma coisa: se aceitarmos esta situação tanto o atual governo de Figueire- do quanto o futuro governo de

'Tancredb Neves, que já afirmou que vai cumprir os acordos com o FMI, vão sugar até a última gota de sangue do trabalhador. Cada vez trabalhamos mais, ganhamos menos e consequentemente come- mos menos. A saída continua a ser uma só: romper com o FMI e nio pagar a divida.

Nordeste Urbano

Nordeste Rural

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São Paulo Urbano

São Paulo Rural

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ECONOMIA RESENHA - 13

BOLETIM DIEESE e uma publicação mensal do Departamento Intersinúicaí de ís- tatlstica e Estudos Sóclo-Econômicos/DIEESE, Instituição de pesquisa, análises e .HÇs>;s!.or.\men'o nr itid" por sindicatos federi,;5es e confederações de tr

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14 - RESENf\ ECONOMIA

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16 - RESENI-^ MOVIMENTO. CAMPONÊS

Luta em campo minado Os oe^uenos produtoras agrícolas juntam forças para sobreviver

Josó dos Rais Santos Filho

LIVROS SENHOR

vJ*; I sisènua I t. essa, ceria- inciuc, a palavra-chave para encen- dn u auniemo do número de oiga- iii/-a(,òes de pequenos produtores no campo brasileiro. Soorevivência nu vários sentidos. Em primeiro lu- gai, econômica. É essencial garan- m, através da união de iguais (nem sempre muito iguais, já veremos), padrões mínimos de produção e de escoamento de mercadorias. Mas lambem no terreno da defesa de in- ifitsses corporativos mais gerais, .oino políticas agrícolas, subsídios, leis pi evidenciárias etc . . . Final- mciiif, mas cada vez em maior monta, veja-se a quantidade de toiilluos que ocorrem no campo, iobifMvência fisica propriamente du.i Tanto em um sentido amplo de ptula da identidade através da expulsão da terra, como no sentido pino c simples de perda da vida.

O (i escimento do movimento sindual expressa, de alguma forma, isse k-nomeno. Hoje, cerca de 20 .mus após sua criado, espalha-se poi iodo o território nacional. São cerca di- 2.600 sindicatos, mais de 20 leda ações e uma confederação em pioiesso de organização de seu Quai io Congresso. O mesmo Licscimento pode ser visto na Co- missão Pastoral da Terra, entidade d<- apoio ligada á Conferência Na- nonal dos Bispos Brasileiros. No niianio, apesar de mais conhecidas, não se resume a elas o leque de or- ganiiações que articulam interesses e necessidades de lavradores. O fe- nômeno do cooperaüvismo, estu- dado por Maria Tereza Fleury C inclui-se entre elas.

Trata-se, antes de mais nada, dt um movimento. E, como tal, corr adepius e adversários. No Brasil, aí

origens do cooperativismo vinculam-se á insuficiência do abas- tecimento dos centros urbanos. Surge como proposta inicial de produtores com estreita ligação com o mercado. A partir da década de 30, entretanto, recebe o estímulo "orgânico" do Estado. Segundo a autora, interessaria ao Estado a mo- dernização da produção que a coo- perativa eventualmente introduzi- ria, "facilitando sua integração ao mercado". Por outro lado, "em ter- mos ideológicos, ocooperadvismo, por seus princípios doutrinários.

5 ///o/ey revestia-se de um potencial refor- mista, que convinha ao Estado ex- plorar". Reformismo presente na própria idéia de modernização.

Instrumento de associação de produtores em busca de bens e de serviços, a cooperativa não resolveu o problema de todos os seus mem- bros. Essa é, aparentemente, uma das conclusões a serem tiradas do estudo de caso leito por Maria Tereza. Em pesquisa realizada entre produ- tores de leite e cooperativas de la- ticínios do Estado de São Paulo, a autora observou "serem propicias

as condições para que certos grupos se apropriem do poder e o usem cm proveito próprio". Na verdade, trata-se do setor que já ingrçssa na cooperativa na condição de "gran- des produtores". É o grupo .que acentua a diferenciação interna en- tre os produtores de leite, rever- tendo a participação que tem nos postos de comando em vantagens econômicas. Para os pequenos pro- dutores, a forma cooperativa iransiuima-se apenas cm auuüs al- ternativos para comercializar o leite, "norteando-se sua opção pelo custo de transporte".

Na opinião de Maria Tereza, o "modelo democrático" em que se baseia o luncionamento da coope- rativa cria as condições para que o poder interno seja apropriado e uti- lizado como privativo de alguns se- tores. O livro, no entanto, lórnece indicações que apontam a necessi- dade de uma discussão sobre desi- gualdade social e parudpação de- mocrática. Por exemplo, quando mostra que muitos dos pequenos produtores não conseguem partici- par da vida interna da cooperativa, por morarem longe e não efisporem de transporte. De qualquer foirna, Çartindo de outro exemplo, Maria

ereza não elimina a hipótese de que os produtores menos favoreci- dos se possam articular no interior da cooperativa, conscientes de suas necessidades e reivindicações, e de- fendam seus próprios interesses.

Tendo como ponto de partida a delèsa de seus interesses, os traba- lhadores rurais engendraram lor- mas de luta e de organização que não podem ser enquadradas nos ti- pos já mencionados. O grande

' mérito do livro organizado por

Neide Esterci (**) é o de resgatar al- guns exemplos de modos comuni- tários de organização da vida e do trabalho. Modos que terminam co- mo instmmentos de lutas.

O lançamento reúne um con- junto de textos cuja unidade é a participação da Igreja nos processos de organização comuniiários cm várias regiões do País. Laís Mourão, Neide Esterci, Regina R. Novaes c Ligia Tabul discutem casos em que o papel do catequista, do missio- nário, do agente pastoral, da lin- guagem c dos símbolos religiosos são avaliados em sua relação com as iniciativas camponesas. Mas não o ia/em de lonna abstrata. As rele- rencias básicas são as práticas, as concepções, os modos de vida. que constituem o universo do trabalha- dor rural mobilizado.

A resistência impõe também a adequação das maneiras de traba- lhar. Surge o "trabalho agrupado". Nele, "os produtores individuais associam-se dividindo entre si as tareíás produtivas e as de controle armado da área". É a forma de via- bilizar, em uma situação-limife, o trabalho familiar.

Sugestivos, os trabalhos reunidos nesta publicação indicam que, em situações tle dclesa da terra de que necessitam para viver e trabalhar, os trabalhadores se obrigam a retirar tempo de seu tempo de trabalho para as tarefas de resistência Tempo esse que se junta ao tempo que nonnalmente teriam dedicado a seu cotidiano lamiliar e religioso, de la/er etc. Mostram também que, nos acontecimentos em que são en- volvidos, recoirem a instituições tomo a Igreja, rompendo, muitas vezes, o isolamento em que se en comiam. De certa lorm.i, (.oiilrontam-se, rejeitam ou apropriam-se de valores e condi- ções que, em um primeiro mo- mento, lhes são estranhos. E isso pode tanto se referir ao mundo do antagonisia como às propostas dos agenies,..pastoiais ou sindicalistas, ou mesmo à ordem jurídica vigente. Sem dúvida, fornecem pistas, tam- bém, dos projetos de organização social que os resistentes de hoje po- deriam construir em uma situação em que não precisassem viver ape- nas para sobreviver.

(') CüOperalívcLi Agrícolas e CapUaiismo no Brasil Mana Tereza Leme Fíeury Global Ecliíora, Ii2 páginas

l") Covfirralivisrru) e Coleltviíafào no Campo Snde tilrm íorg / I EdUum Manu Zero - li ti páginas

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POLÍTICA RFfTENHA - 17

Porque não termina o arrocho

Ha quase dois anos, desde que co- meçou a aplicação das sucessivas Car- ias de Intenção do Governo com o FMI, foram baixados sucessivos paco- tes modificando a legislação salarial: os Decretos-Leis 2012, 2024, 2045 e o 2065, há um ano em vigor — ele prevê >, reajuste no valor integral do INPC (ín- dice Nacional de Preços ao Consumi- dor, calculado pelo governo) para as ijixas até 3 salários mínimos (S.M.), e os demais recebem progressivamente menos. Ressalte-se a abolição da nego- ciação do adicional de produtividade e o fato do INPC estar sempre abaixo da mllação.

Foi o mais violento arrocho da his- lona do pais. Os trabalhadores conta- bilizam suas perdas: 15% em certas ca- u-gorias. 20 e até mais de 30^0 em ou- nas.

Mas a partir dos metalúrgicos de Sâo Bernardo, em abril, várias catego- rias foram furando a lei e impondo acordos mais vantajosos aos patrões, através da greve. A antecipação tri- mestral contitui-se num passo para a escala móvel de salários, como prevê a plataforma da CUT. Depois, vários patrões começaram a pedir a revisão i.> 2065: seja porque se sentiam preju-

dicados na concorrência inler-capita- lista (em relação às empresas que man- tinham a integra da lei com custos me- nores de produção), sejam porque te- miam pelos efeitos globais do arrocho sobre a economia e a saúde de seus ne- gócios, face à pressão das sólidas em- presas imperíalistas.

Ao mesmo tempo, a base parlamen- tar de sustentação do governo, que permitira a adoção do 2065 pelo acor- do PDS-PTB, foi sendo corroída pela campanha das Diretas-já. Até que um projeto de lei do senador Nelson Car- neiro, do mesmo PTB, permitindo rea- justes salariais no valor do INPC inte- gral para todas as faixas salariais, foi aprovado no Senado no dia 30 de agosto.

A valsa da conciliação

A partir dai era de se esperar a con- iirmação do projeto Carneiro na Câ- mara dos Deputados, onde a oposição conta'inclusive com uma maioria bem mais folgada do que no Senado. Mas, ao contrário -"- e essa é a chave da atual situação política do país — a cú- pula do PMDB, a maioria, começou então uma onda de vais e vens, nego- ciando com o governo uma emenda ao projeto Carneiro, atrás de uma solu- ção de conciliação.

Isso porque Figueiredo ameaça vetar o projeto se for aprovado no Congres- so como está na Câmara.

O acordo PDS-PMDB-PTB veio com a chamada Emenda Marchezan. Por ela, restabelece-se o limite de 3 S.M. para o INPC integral (lOO^o), fi- cando esses trabalhadores no pé que estão, e as demais faixas negociam en- tre 8070 e lOCft dó valor do INPC. Nesse sentido, a Emenda esvazia a der- rota sofrida pelo governo no Senado — afinal, o próprio 2065 já previa para agosto próximo um esquema desses, onde se negociaria entre 707» e lOO^o. Ainda pela Emenda, a produtividade só viria quando "devidamente apura- da" (?!), isto é, outorgada pelo gover- no. Aos funcionários das estatais sob tutela do famigerado CNPS (Conselho

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Nacional de Política Salarial,..pau- mandado de Delfim) e aos aposenta- dos e pensionistas do INPS assim co- mo para todo funcionalismo público, nem sequer se permite negociar livre- mente até os lOO^o do INPC — na ver- dade uma ficção de "livre negociação" porque há um teto^ (o INPC) e todo o aparato de controle so- bre os sindicatos, lei de greve etcJ.. Co- mo de 3 a 7 S.M. já se recebe SOVtdo INPC só os que recebem mais e que são 10% dos assalariados, terão um pequeno beneficio, e nem todos, por- que muitos desses já impuseram algu- ma melhoria nas empresas. " ■ Ninguém aceita o arrocho-Marchezan

Não é de se estranhar a reação geral que este "acordo" provocpu no movimento sindical. A CUT "não aceita qualquer negociação com o go- verno que não contemple reajuste á base da integralidade dó INPC para todas faixas salariais". Nem Joaquim gostou. Houve reação entre os deputa- dos. Em artigo na Folha de SP (23/9) o dep. Eduardo Suplicy, do PT, escla- rfece que "o substitutivo do deputado Nelson Marchezan recebeu o 'de acor- do! das lideranças do PMDB. PTB-c do PDT; mas não doJPT e de alguns parlamentares dos demais partidos";

. O estranho nesse caso foi que o líder do PT. Airton Soares, não acompa- nhasse seu colega do PDT quando ini- ciou üma obstrução à votação da Emenda. Ele."dispõe-se a votar contra a emenda Marchezan. mas não a obs- truir. Tem dito que defende 100% do INPC mas os 80Vo propostos por Mar- chezan'são melhores que a situação atual" (FSP. 21/9). Não se pode en- tender como quem é contra esse arro- cho-Marchezan não faça tudo para impedi-lo, quando pode fazê-lo (mais Airton Soares na pg. 13)

O fim do arrocho'passa pelo fim do regime

Na verdade, nessa questão do arro- cho, assim como em cada uma das principais reivindicações do povo, chega-se à mesma conclusão: para cbnsegul-la é preciso terminar com o regime. E. tal como acontece com a emenda das Diretas-já, é preciso que a maioria de oposição existente no Con- gresso Nacional se assuma como tal. vote e decida conforme a vontade do povo. E não que retroceda ou se dobfè à vontade do General Figueiredo: an- tes pela regra dos 2/3 que ele exige pa- ra adotar as diretas, depois através do preposto Daila que nega sua inclusão na ordem do dia e, agora, ameaçando um absurdo veto anti-democrático.

A maioria deve adotar o projeto Carneiro, melhorá-lo inclusive como se propõe, agindo como os trabalha- dores exigem para terminar o arrocho. A obstrução é um meio legitimo pari reverter a tendência do "acorjdo". En- frentar soberanamente o veto presi- dencial é uma obrigação. E se o gover- no baixar unilateralmente outro Deere tp-Lei, a maioria não pode aceitar mas sim derrotai mais esta humilhação. Nessa via, o apoio ativo do povo mo-, bilizado não lhe faltará. No mpmentc que fechamos este artigo o caminho es- tá aberto.

A menos que se concorde com o lí- der em exercício do PMDB, Egidio Ferreira Lima, em aprovar logo a emenda pois "não se deve mexer em fezes, porque mais se mexe, mais elí fede". Sim, mas onde estão as fezes, nesse caso?

Informática, volta ao início FOLIJADtS. PAULO

■*€>[/o/e i Recentemente, no que foi considerado

como um dos raros episódios de conjugação de interesses por parte dos congressistas, foi aprovado o substitutivo do senador Virgílio távora versando sobre os rumos da política econômica para a informática brasileira.. Embora mantivesse quase inalteradas as orienta- ções técnica e financeiramente isolacio- nistas, constantes do estatuto original preparado pela Secretaria Especial de Informática (SEI), a legislação aprovada Unha como grande vantagem a limitação dos poderes discricionários contidos no primeiro projeto.

Esperava-se que com a criação do Conselho Nacional de Informática e Automação (Conin) — vinculado não mais ao Conselho de Segurança Nacio- nal, e sim à Presidência da República, e no qual participariam representantes do setor privado — o processo de tomada de decisões se tornasse menos autoritá- rio.

Esta expectativa foi frustrada por alguns dos vetos presidenciais.^ ficando claro que deverá ser mantida a concentração de poderes nas mãos da comunidade oficial de informática, característica primordial do projeto original da SEI. No que se refere à composição do Conin. a participação do setor não governamental permanece limitada a oito membros, ao passo que o número de representantes do governo fica em aberto, limitado tão somente pelas instruções do presidente da República.

Da mesma lorma. foi vetada a emenda de número 253, segundo a qual "as informações referentes a pessoas, arquivadas em banco de dados, serão de livre acesso àqueles que nelas são nominados". Como previsto, este dispo- sitivo encontrou oposição dos setores governamentais mais sensíveis ao caráter confidencial de suas informações, muito embora trate-se de um inequívoco direito do cidadão.

Justificável é o veto à criação de comissão paritária de empregadores e empregados com poderes para decidir acerca de introdução de mudanças tecnológicas que envolvessem alterações no nível de emprego. Tratava-se de dispositivo que poderia introduzir sérias distorções nas atividades produtivas, gerando injustificáveis empecilhos para o crescimento da produtividade, e indire- tamente, dos níveis de emprego.

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18 - RESENHA

Igualmente justificável é o veto à autorização para a alocação de 0,8% do orçamento tributário da União para a criação do Fundo Especial de Informáti- ca e Automação, pois não seria aceitável impor pesado ônus ao erário em beneficio de um setor já premiado com a reserva de mercado.

POLÍTICA

Em que pese alguns acertos, o governo não perdeu seus velhos hábitos autoritá- rios. Forçou, em grande parte, o retorno ao projeto originalmente preparado pela SEI, de tal forma que quase nos encontramos agora de volta ao ponto inicial.

Os trabalhadores e a democracia FOLHA DE S. PAULO ^v/^/

KLOHKSTAN FERNANDES Aposição dos trabalhadores na so-

ciedade civil sofreu profundas alterações nos últimos vinte anos.

Enquanto a ditadura privava a Nação de nberdade política (uma privação que não afetava todas as classes sociais igualmente, pois os estratos mais pode- rosos e privilegiados das classes possui- dorab tinham o seu espaço de liberdade protegido pela democracia restrita, iii»ii(uída ° legalmente" pela própria ditadura), as relações de produção sofreram uma revolução silenciosa, que td agora se exibe em toda a plenitude aos observadores. A incorporação ao núcleo do capitalismo monopolista, a industrialização maciça e o aprofunda- mento da penetração do desenvol- vimento capitalista no campo, princi- palmente, modificaram substancial- mente os números, a forma e os dinamismos do regime de classes soci- ais. A opressão policial-militar e políti- ca impediu que tais transformações se tornassem notórias, de imediato, e diluiu o impacto que elas tiveram na imaginação, nas insatisfações e nas realizações dos oprimidos. Proibidos os partidos operários e suprimida a liber- dade dos partidos revolucionários, so- mente uma estreita porção da realidade do movimento operário subiu à tona. Estrangulados os sindicatos e prescritas •■legalmente" as greves, apenas recen- temente constatou-se que os trabalha- dores industriais e os trabalhadores agrícolas não estavam inoperantes. Após a instauração da junta militar, é de 1975 1976 o aparecimento de eviden- cias de "atitudes defensivas", que punham fim à latência do inconformis- mo proletário. Cm seguida, espoucaram e cresceram as greves, que embalaram ostensivamente as falsas seguranças do regime e acordaram a burguesia do sonhu inviável de uma paz de baionetas.

A crise prolongada e o desemprego maciçu, com as migrações de milhões de miseráveis em direções desencon- nadas e o crescimento espantoso da fume absoluta, não secaram a valentia dos trabalhadores rebeldes e o ativismo dus chamados "novos sindicalistas". Os ritmoa declinaram, mas a combativida- .u- se elevou e, com ela, aumentou a solidariedade dos oprimidos. Nos últi- mos anos, de perdas reais em todos os níveis da atividade econômica, compro- vou se a veracidade da afirmação de K. Marx, escrita há quase cento e cinqüen- ta anos. "Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade funda- da no antagonismo de classes. A libertação da classe oprimida implica portanto, necessariamente, a criação de uma sociedade nova." Sob a asfixia de um regime autocrático. os trabalhado- res buscaram meios próprios de autode- fesa coletiva, organizando-se direta- mente nos locais de trabalho e nas comunidades, convertendo as fábricas em bastiões de luta. O mesmo fariam, um pouco mais tarde, os trabalhadores dos canaviais, no Nordeste, e os possei- ros, estabelecendo se assim uma sin-

cronia reveladora A luta social a partir das bases, apesar das debílidades das carências institucionais e das restrições policiais-militares ou "legais" insupe- ráveis no momento, gravita pela iniciativa dos oprimidos da esfera das reivindicações primariamente "defen- sivas" para um campo tático "ofensi- vo". Eram, como ainda são, lutas sociais incertas. Porém, elas exigiam e ostentavam muita coragem e altruísmo. Em particular, tornava-se patente que a ruptura com a República institucional dos generais e dos grandes aproveitado- res nacionais e estrangeiros não proce- dia das ditas "forças democráticas da sociedade". Ela vinha de baixo e testemunhava que uma nova era histó- rica estava sendo inaugurada pelos "humilhados e ofendidos".

Em termos sociológicos, cruzavam-se dois grandes processos histórico-sociais. A formação de uma classe social madura e independente começava a atingir o seu cfimax. A ditadura não pôde e jamais poderia interferir sobre esse processo que transcorria na .orga- nização material e social das relações de produção. Por algum tempo, ela logrou impedir, solapar ou conter a proliferação dos efeitos desse processo no comportamento dos trabalhadores e em seu movimento coletivo. No entanto, até isso logo se tornou impraticável, o que selou o destino da ditadura para as classes dominantes e suas entes. A burguesia precisava de novos espaços para enfrentar as pressões e as inquie- tações dos de baixo, para negociar e barganhar a "liberdade dos trabalhado- res com eles próprios, sem a mediação dissuassiva de um regime ditatorial ineficiente. Ao mesmo tempo, irrompia um processo histórico-social mais com- plexo e que só poderia desenrolar-se progressivamente no solo histórico aberto por uma classe trabalhadora que conquistara certos mínimos de indepen- dência como e enquanto classe e uma expressão morfológica e dinâmica nacional. As manifestações positivas desse processo aparecem na necessida- de de saturar ativamente papéis e tarefas históricas na sociedade civil. Os "morto-vivos", os célebres "homens pobres livres" que deveriam ser cida- dãos de direito e não dispuiham nem de voz para serem cidadãos válidos, co- bram o seu lugar e exigem ser levados em conta Em suma, o espoliado, o excluído, toma a si acabar com a "irresponsabilidade social, jurídica e política" que o esmagava com ou sem o apoio da lei. As manifestações negati- vas desse processo exteriorizaram-se no ímpeto de coibir ou de renegar a supremacia burguesa, o mandonismo e o despotismo dos supercidadãos. Nas fábricas, nas fazendas, nas lojas, nos escritórios, mas também nas comuni- dades e nas instituições-chaves (como a escola, a Igreja etc, e até o Estado), a conquista de peso e voz significa abolição das "prepotências" e "injusti- ças" arraigadas, por obra — ou seja, por conta e risco — dos oprimidos. Os

que ajudaram ou colaboraram no pro cesso apenas o reforçaram ou o aceie raram. Não o criaram, como fingem acreditar os donos do poder, magoados e enfurecidos com a queda de seus penachos.

È dentro desses marcos que se devem situar o clamor e a necessidade de democracia dos destituídos, do cidadão despojado, trabalhador e por vezes miserável. A democracia nao é uma "questão retórica" para essa gente, nas condições concretas em que ela se acha. Ela também não é um expediente para resguardar privilégios, preservar ou multiplicar o poder e a riqueza, um mecanismo político de dominação de classe e de enriquecimento da ordem existente. Ela surge como o único meio possível para revolucionar a sociedade civil, adaptando-a às relações de produ- ção imperantes e ao grau de desenvol- vimento capitalista que ela apresenta E, ao mesmo tempo, o único meio possível para acabar com o monopólio do poder político estatal por parte das classes dominantes, de suas elites e de seus aliados naturais ou circunstanci- ais. Por isso, para os trabalhadores

0 possuem pouco valor as fórmulas ideo lógicas burguesas. Elas desenham limi tes e traçam obstáculos: não cortam clareiras nem uma nova via histórica. "Liberais" e "conservadores' não têm o que oferecer em uma sociedade civil na qual os de cima bloquearam reiterada- mente a passagem aos de baixo e sob um Estado no qual o despotismo dos ricos e esclarecidos converteu a descon- fiança nos trabalhadores e nos destituí- dos, a greve, os sindicatos, os partidos operários, o anarquismo, o socialismo e o comunismo etc, em questões de polícia.

Enquanto as demais classes (mesmo a pequena burguesia e a classe média "tradicional", tao radicais neste instan- te) precisam da democracia para resol- ver certos problemas sociais específicos e mais ou menos transitórios as classes trabalhadoras carecem da democracia para completar o circuito dv seu desenvolvimento independente como classe social e para adquirir pleno acesso a todos os direitos civis e políticos que lhes são tirados na prática Portanto, sua relação histórica com a democracia permite situá-las como classes revolucionárias pois a sua necessidade política da democracia não se esgota com a revolução dentro da ordem, apenas se inicia com ela. Os conservadores, os liberais e os radical- democratas propõem-se "restaurar a democracia". Os trabalhadores lutam por uma democracia de componentes mistos, burgueses e proletários — como dizem os juristas, uma "democracia de conteúdo social" —, o que quer dizer que são os únicos paladinos da revolu- ção democrática.

cot*drátko do O*partom«nlo d« CiAncio» Socioii do j U5P • otuol doconts do PUC SP É oulor do volto obro tociológíeo.

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POLíTICA RESEfslHA - 19

i_»ontraditória sob vários aspectos a situação de Paulo Maluf, que vê rapidamente o solo fugir aos seus pés. Em São Paulo. 1978, ele desafiou o governo militar, o presiden- te em exercício e o presiden- te referendado, o governador de São Paulo e as lideranças principais do seu partido. E desafiou de maneira desconcertante, utilizando a retórica democratizante do sistema para impor, na convenção, uma vitória contra a decisão da cúpula, previamente definida em favor de Laudo Natel. A reação dos que, na época, dis- punham dos atos institucionais e de todo o instrumental do poder discricionário seria rejeitar o desafio e repor as coi- sas nos eixos, tal como em 1966 fizera o presidente Castel- lo Branco, que cassou tantos deputados estaduais no Rio Grande do Sul até assegurar o número necessário para fazer do coronel Peracchi de Barcelos governador do Estado.

Mas entre 1966 e 1978 mudara a retórica do regime. O presidente Geisel prometera, mediante distensão lenta e gradual, restabelecer a democracia. Que fazer diante de uma decisão de aparente conteúdo democrático tomada por uma convenção preparada e articulada segundo os rituais da ditadura? Perplexos, os dois presidentes transi- giram e engoliram o candidato, quando nada para demonstrar a fidelidade à estratégia oficial. A ditadura cedia à vontade do partido.

Já agora em 1984, candidatando-se a presidente da República, Paulo Maluf começou por reproduzir seu pro- cesso de aliciamento, já então identificado pelas demonstrações de comportamento politico-eleitoral dadas ao longo do seu governo paulista, disputando a convenção do PDS contra a vontade do presidente, que queria coor- denar um candidato de união partidária. O primeiro triun- fo de Maluf definiu-se quando Figueiredo, não querendo im- por um candidato, renunciou à coordenação e à sua predile- ção por Mário Andreazza e entregou o PDS ao seu próprio destino, isto é, à vocação malufista da sua maioria fisiológica.

Maluf venceu a convenção e imaginou que, tal como ocorrera em São Paulo seis anos antes, o sistema automati- camente o adotaria e disciplinaria o partido cm tomo do seu nome. Ele não percebeu que as condições do país haviam-se alterado e que os pressupostos da ação política eram outros. O presidente, que rejeitara a candidatura do viwe-presidente - uma proposta de conciliação nacional com respaldo popular -, não teve como conter a rebeldia de Aureliano Chaves e dos governadores que haviam sido logrados por Maluf em seus próprios Estados. Eles tinham um mandato fresco, oriundo do voto popular e indepen- diam de vetos ou determinações do presidente de origem militar. O candidato manteve-se no pressuposto da pre- valência residual da autoridade do Palácio do Planalto e recusara-se antes submeter-se a uma prévia, o que deter- minara, na véspera da convenção, a renúncia do presidente do partido, do seu vice-presidente e a deflagração de uma cisão oficializada no partido do governo. Essa rebelião esti-

mulou os governadores a retomarem o comando em seus próprios Estados.

O resultado: dez dos tre- ze governadores do PDS rejeitaram o candidato da convenção, oito apoiaram ostensivamente o candidato da oposição. Maluf, que invocava a natureza

democrática das suas duas vitórias, em São Paulo e na con- venção do PDS, viu-se ameaçado e não hesitou em apelar

Eara os resíduos do poder ditatorial que remanescem na :gislação e na prática do regime. Na ditadura, usara com

êxito uma tática democrática. Na democracia, apela para métodos ditatoriais que supõe ainda válidos para ganhar o que o Colégio Eleitoral lhe nega. E lhe nega pelas razões conhecidas: por ter o candidato desprestigiado a direção do partido e seus governadores, cavando subterraneamente uma vitória que não teria condições políticas de sustentar.

Sucessão tranqüiliza-se

ISIDE ?////^ tle chegou a ter a sensação de triunfo quando a Mesa

do Senado, adotando duvidosa interpretação dos poderes que lhe atribui a lei suplementar, decretou que seria secre- ta a escolha dos delegados das assembléias estaduais. A manobra não o favoreceu. Mesmo no Maranhão a vitória não foi dele. Foi uma vitória de Figueiredo r Abi-Ackel uma represália manu mUiiarí contra o "traidor" José Sar- ney. Os governadores estavam com as rédeas na mão e alertados. Todos eles controlaram as próprias assembléias e paralisaram as vanguardas malufistas despachadas pelo ministro da Justiça. O primeiro malogro ocorreu em Per- nambuco e se repetiu nos demais Estados. Maluf perdeu a batalha da delegação estadual na convenção, como já per- dera após a convenção a batalha no partido. Setenta parla- mentares do PDS transferiram-se para o outro lado.

Depois de tentar sem êxito transformar em secreto o voto a descoberto na convenção, Paulo Maluf adotou a tese da fidelidade partidária, que, segundo o texto da Constituição c das leis, tem sua aplicação restrita à atividade parlamentar. É um remédio específico para assegurar outrora a vitória dos projetos de lei do governo. Não tem outra valia. Não se aplica a outros membros do partido, como governadores e prefeitos. Não se aplica ao colégio Eleitoral, onde o voto é de consciência pessoal, é manifestado oralmente, membro a membro do Colégio, chamado nominalmente a votar.

Apesar de campeão da fidelidade, Maluf acalma seus aliados, dizendo contraditoriamente que será eleito com o voto infiel da oposição. Isso não acontecerá, e a vitória de Tancredo Neves, que se pôs como candidato de transição c de conciliação, é uma perspectiva tranqüila. Sequer a idéia de golpe, difundida por Magalhães Pinto depois de contactos com generais, impressiona. A melhor informação é a de que as Forças Armadas não se intrometem na sucessão e darão posse ao eleito, referendando a política do presidente. Figueiredo, por sua vez, antecipou que, mesmo derrotado, será vencedor por não ter mudado. Para ele, o essencial é não mudar. O país mudou.

Carlos Castello Branco

OPTea sucessão presidencial

Os

c/ô

PAULSINGER O PT, em sua curta existência,

não conquistou muitos votos, mas goza de ampla credibilida-

de, o que constitui seu principal patrimônio político. Todos sabem que o Partido dos Trabalhadores pensa o que diz e pauta sua açáo pelo que julga serem os interesses dos brasi- leiros que vivem do próprio trabalho. A sua estratégia, face à sucessão Íresidencial, foi desde o principio utar para que ela se fizesse median-

te eleição diretas. È uma estratégia coerente com os

princípios democráticos, mas com data marcada. A luta pelas eleições diretas só deve terminar com a conquista das mesmas, mas a possi- bilidade de que elas venham a acontecer nesta sucessão vai se ^>

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2Ü - KESENh \ POLÍTICA

esgotando à medida que o tempo passa e a data da eleição (indireta > se aproxima. A postura do PT tem sido a de cobrar do resto da oposição uma lula conseqüente pelas eleições ilirctas. com a utilização de todos os rfcurMM parlamentares e extra pai i.uuentares. Mas, depois da retirada tia emenda Figueiredo e do adiamen tu da Teodoro Mendes, a luta pelas diretas-já teria que levar a um impasse institucional ("implodir" o ( olegio Eleitoral) e possivelmente a um confronto direto com o regime militar Pouco importa discutir ago- ra, que conseqüências a adoção desta tática pelas oposições teria tido. É fato notório que, excetuado o hoje minguado grupo de Só Diretas, o grosso das forças oposicionistas re- solveu apoiar a candidatura de Tan- credo Neves e aproveitar a dissidên- cia da Frente Liberal para chegar ao governo por via indireta.

Portanto, chegou a hora de rever a estratégia em relação a esta suces- são presidencial. Continuar a co branca daqui em diante seria repetir tMifadonhamente os mesmos argu mentos de atualidade evanescente fina coisa é conclamar todas as forças oposicionistas a dar prioridade á conquista das eleições diretas. enquanto isso parecia viável. Outra muito diferente é insistir em dizer "Se vocês tivessem querido..." Mes mo a esperança de que o próprio Paulo Maluf, sentindo-se perdido na votação indireta, venha a propor as fli-ições diretas, vai se esvaindo. Suas atitudes antes indicam que ele vai tentar tudo para reconquistar us votos perdidos do PDS e outros de representantes venais da oposição F uma tática quase sem possibilidades de êxito, mas obviamente ele se senie muito mais à vontade na luta por algumas centenas de votos do que por milhões. .

Não creio, no entanto, que o PT ■ lí-va pura e simplesmente aderir a Tam-redo, para impedir a imprová- vel v itória de Maluf. A não ser que a > orrelação de forças mude o que a esla altura já é altamente imprová- vel Tancredo tem a vitória assegu- rada por uma margem muito mais ampla do que os oito votos do PT. Os que cobram do PT esta atitude são os que se sentem desconfortáveis em apoiar um candidato notoriamente conservador, como Tancredo, e que- rem o aval do PT para sua posição.

Também o argumento de que laucredo é um mal menor do que Maluf não deveria inspirar a estraté- gia do PT, um partido que foi criado pntisamente para livrar a esquerda brasileira da eterna necessidade de optar pelo "mal menor". Os que na esquerda vêem como seu principal papel o de evitar o mal maior, estão todos no PMDB. A razão de ser do PT é o de oferecer aos trabalhadores uma opção boa, que de fato represen- te seus interesses.

Mas, a aspiração de conquistar para os trabalhadores upia represen- tação independente na pena política não deve isolar o PT das demais forças que também representam os trabalhadores. O PT, desde seu inicio, nunca se rendeu à tentação messiânica de se proclamar o único partido das classes trabalhadoras (no plural, pois trata-se tanto dos assala- riados como dos autônomos).Portan to, é justo e necessário que o PT adote uma estratégia que não o deixe

em esplêndido isolamento, mas o una a todos os que lutam na mesma trincheira.

Isso significa, na atual conjuntura, negociar com Tancredo e as forças que o apoiam um acordo programáti co que permita aos representantes do PT votar nele no Colégio Eleitoral O fundamental é que tal acordo com prometa publicamente o candidato com uma série de medidas concretas, de interesse vital para os trabalhado res, tais como: direito de greve, autonomia e liberdade sindical, sala rio-desemprego, uma política salarial que assegure o aumento real dos baixos salários, redução da jornada legal de trabalho, garantia da posse da terra aos posseiros etc. São pontos que têm bastante apoio da opinião pública, inclusive de ampla faixa de membros do PMDB E possível^ portanto, que o candidato da Aliança Democrática se disponha a assumi-los de público.

Não adianta, por outro lado, exigir de Tancredo posições que contradi gam as, que iá assumiu ou que sejam incompatíveis com os seus compro- missos com outros aliados. Trata-se de verificar, através de um processo sério de negociação, se há disposição, por parte do candidato, de assumir um mínimo de compromissos com os interesses dos trabalhadores. Não se trata, evidentemente, de enganar os trabalhadores com promessas dema- gógicas e vagas de reformas que nunca se concretizarão. O que se pode e deve almejar é a garantia de que sob o próximo (provável) gover no de Tancredo, o movimento operá- rio e popular terá mais espaço para atuar e verá alguma de suas reivin- dicações mais sentidas serem aten- didas.

Convém trazer o resultado desta negociação a uma próxima Conven- ção Nacional dó PT, para qüe decida se a postura de Tancredo merece os votos do partido. Se a Convenção verificar que os compromissos assu- midos por Tancredo contribuem para o avanço da luta dos trabalhadores aprovará o apoio do PT à sua candidatura. Se a Convenção decidir que as concessões programáticas obtidas do candidato não justificam tal apoio, ficará meridianamente claro a todos que a absteiição do PT no Colégio não decorre de um "principismo" estéril mas da sua coerência na defesa dos interesses do povo trabalhador.

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PAUL SINOiR é •conomillo. pfol«i«or do USP patqunodor do C»nlro BroíiUiro d» Andli»» • Plan»|om«nlo (C»bfop) • pí«id»nl« do Conwlho d» Curador «s do.Fundoção Wilson Pir\h«tro

Marilena Chaui

O PT e o Colégio Eleitoral

Nas discussões sobre o Colégio Eleitoral estáo em debate três posições noTT: .

JJaqueJa que defende a ida ao Colégio e a participação na Aliança para que o PT mtervenha ativamente no processo de mu- dança institucional, empurrando o futuro governo Tancredo para a centro-esquerda e Bloqueando a supremacia da Frente Liberal através de ações conjuntas com setores autenticamente opocionistas. Essa tese for- taleceu-se no período recente, quando dos boaío5 sobre a iminência de um golpe e da necessidade de reforçara candidatura Tan- credo perante' a òpiniiQ pública. Defendem essa posição os deputados paulist&s Aírton Soares (federall e Marços 'Aurélio Ribeiro (èstaduÀl). além de vereadores de vários Estados, tüiados que escreveram artigos para a imprensa (como Chico de OlivetaTou aue enviaram, cartàsie telegramas ao Diretório Nacional do PT- Além de membros de outros partidos que se têm empenhado em explicar como o PT deve ser e como deve agir'

2)'aquela què defende ia ida ao Colégio apenas para o Voto anti-Malüí (aspiração nacional manifesta), sem que o PT se comprometa com a Aliança, guardando a identidade autenticamente oposicionista e sem poupar, desde já, críticas à Aliança e aos compromissos e titubeios de Tancredo. Defendem essa posição os deputados cario- cas José Eudes (federal) e Ll^t Viejra (estadual), o deputado mineiro Luiz Dulci (federal), vereadores de vários Estados, filiados que escreveram artigos para a imprensa (como Hélio Pellegrino) ou envia- ram cartas e telegramas ao Diretório Nacional do PT; ^ ' . x .^ „ ,x .

3)aquela que é contrária a ida ao Colégio por considerar que, embora reais e ponderá- veis as diferenças entre as duas candidatu- ras, o programa do PT defende eleições diretas em todos os níveis através das quais os trabalhadores , (sempre sem peso no mundo da política institucional) podem intervir, a PT sendo contrário è tradição da política partidária brasileira de "pacto das elites", i;cQttciliação pelo alto" e "colabora- ção de classes". Segundo os defensores dessa posição, o PT nasceu para romper essa tradição, para criar um espaço político democrático no qual os trabalhadores pos- sam definir e defender com autonomia seus direitos e interesses, sem serem tutelados por grupos dominantes nem por «es mampu- ladoa como massa de manobra. Consideram,, wtanto, que o pedido de comparedmento ao Colégio implica em levar oFTa oferecer SvàTiSbüeo «uma candidatura que deseja òferecerse como conciliadora^ e unânime. Suando, de fato, não o é. Essa posição nascida da convenção nacional do partido, é de/endida peio Diretório.Nacional pelos Diretórios Regionais e por filiados que escreveram artigos, para a imprensa (como Marco Aurélio Garm eJoséAlvaro Moisés) e peto restante da bancada federal, além de vereadores de vários Estados. ^

As duas primeiras teses aceitam a idéia da Aliança segundo a qual é preciso decidir entre o continuísmo (Maluf) e a transição (Tancredo). A terceira considera que a òresença da Frente Liberai dificulta colocar o continuísmo apenas do lado malufista (e se forem verdadeiras as especulações sobre as conversas leníre Geisei, Figueiredo e Tan- credo, a análise é objetivamente correta). Considera também que as composições dos grupos aliancistas são contrárias ao Pro- grama de 10 Pontos apresentado pelo PT em junho (o que dificulta imaginar o PT interferindo ativamente num governo auan- cista). Considera, por fim, que é pouco realista apostar na transição com a Aliança (basta quése levem a eontaas violências contra trabalhadores em Minas Pernambu- co eem São Paulo, o caso da Vúlares sendo

Essas teses divergentes serão debatidas e votadas peios petistas na convenção nacional de dezembro e obieto de um piebisçito a ser convocado peio Diretdno fiegionai de São Paulo no dia 9, durante o programa de teie visão do partido.

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POLíTICA RESENHA - 21

€erto da derrota governo esvazia

D

Avaliação de situação Algumas convicções estão bem assentadas em

todas as pessoas que paj-ticipam ou acom- panhãm o atuai processo poMco. Sabe-se que a ~f candidatura Tancredo Neves acumulou, lalUii- C do mais de dois meses para a reunião do Colégio i Eleitoral indireto, votos de sobra para impor-se. ^ vitoriosamente; conhece-se, da mesma forma, ^ oue parte do antigq sistema mihtar-político refuga a admissão da derrota e desenvolve ç; esforços indisíarçados para impedir o curso rr natural dos acoolecimentos/A questão ervejai làlica deTine-sirem função desses dois dados ^ fundamentais. Para as,:íorças democratizantes _ trata-se de fazer de um' triunfo estrategicamen- ■£ te estabelecido resultado prático; para os ^ ifrutxis reunidos em tomo dos ultraduros, tipo r Viller Pires e Newton Cruz, tomou-se urgente ^ alcançar êxitos táticos que os capacitem a, pela retomada da iniciativa, aiterar as condições de campo Jevando o adversário a um de/ensivismo ^ capar ' de anular-lhe as vantagens de que -^ usu/nti, no momento. ,- 5

Os dois Jados tám, nas. üitimas semanas, ^ movimentado seus dispositivos, secundo esses ^ p/anos gerais. Desde agosto, d Planalto e os ^ ministros müitares mais comprometidos com o *> autoritarismo desencadearam • uma sene de sortidas autorifaristas, concretizadas em dis- cursos provocativos e em ordens-do-dia, em cima dos tais destemperos peia fala do general-Presidcnle (que vive o ressentimento da incompetência;, na qual foram formuladas as mesmas premissas usadas para a decretação de medidas de emergência, quando da votação da emenda pró-diretas. Na mesma ordem de ação, e com o concurso de seus bagageiros civis o tiovemo, por meio da Mesa do Senado, violentou o modo de escolha dos delegados das Assem- bléias Legisiaüvas e parte, agora para a (.■ntativa de fazer D mesmo em relação ao vpto colegial, tomando* secreto ou «criturai. em- bora o ártico 74 da Carta em vigor declare^ nominativo, isto é,.abertoe orai. ' K,,,,-^

As tentativas de atemonzaçio e as reouiiíes eieitoreíras /oratavtodavaté^ora.anuladaj peia aciódaíreote que apoia Tancredo, a qual, no caso dos delegados estaduais, confirmou sua enorme superioBdàde/mesmo nos Estados de- governos d^PDS. Mas, em lugar de arrefece, rem as investidas oflciaís recrudesceram como

presença nowlègívroúanülando-lbe, osvotos: Convereentemente, enquanto divuiga-se que

será adiada abaixa de parte do conttogenje que compietou o prazo de serviço militar, desen- volvem-se emgmáticas viagensde auxiliares de Figueiredo, como as de Ludwig, à Europa, eoe Medeiros, aos Estados Unidos, e intenso íraòa- mo de contatos políticos, dos quais uni dos mais importantes terá sido ■ o encontro de Leonel Bmola e, de Costa Çavaicanti, no fmal de SeOsfaiostém suficiente eloqüência, enquanto a credibilidade do governo e ào grupo que o pressiona e apoia carece de fundos. A Nação precisa ser mobilizada para diversas, eventuah-, dades, para impedir que, pela ação violenta, um. pequeno«rupo cte audaciosos consiga ^.a" "ÍJ1* \ez fazer da fraqueza força e a partir de êxitos se^riais altere os /atores de decisáo. Há,uma. SfilidTde-separação entre a.maioria dq País e um núcleo de aproveitadores. Essajmha láode^eserapagadk. sob pena de. perda de XüdadeT conseqüente ^HfV^^ut capacidade de responder, de pronto, a QMLsquf* ameaças. Canceiar com/dos, P«>.movermitas ao Páraito e ceder onde é nreciso afirmpr-sf. são meios dç encorajar aventuras. . ,/..

O pnncipai advefsário não ^P^M^ Paulo Maluf, que o Planalte-pão vacilará, 9e} puder.emfazerbçi^piranba^^^n

CARLOS CHAGAS

Numa evidência a mais de es- tar reconhecendo a derrota de Paulo Maluf, e preparando-se para passar o poder a Tancredo Neves, o Palácio do Planalto precave-se. Prepara um decreto restringindo as atividades do SNI. Parte da competência e esfera de ação do Serviço Nacional de Informações será transferida a outros órgãos da comunidade de segurança, espe- cialmente a Policia Federal. A esta seria dada uma espécie de amplia- ção de prerrogativas para que, co- mo repartição estritamente civil, Sonhasse aos poucos dimensão pa- recida com a que dispõe, nos Esta- dos Unidos, o FBI. Há poucas se- manas, no Rio, quando do desapa- becimento do sheüt-general árabe, Mohamed Abdulah Al Kallffa, rea- lizou-se um ensaio geral da nova ordem O SNI não interveio em «enhum momento, sendo toda a busca e apuração do fato conduzi- da e orquestrada pela Policia Fe deral ' o • A idéia-base que preside essa alteração de organograma dentro do governo, e da qual se tem ape- .nas notícia genérica, sem os deta- lhes, é de que o SNI precisa sair da primeira linha dos comentários, te- jmores e impressões formulados nos últimos 20 anos Se tudo o que aconteceu no Pais foi atribuído ao Berviço Nacional de Informações, o sofá vai sair da sala, antes da chegada do novo inquilino. E aque- 4es que o utilizaram ficarão mais resguardados e mais tranqüilos.

■ Não será o momento, hoje, de repetir o adàgío popular de "vox populi, vox dei", mas, dúvidas ine- ■xistem. O SNI fez exatamente o que se fala dele Tomou conta de •tudo, assenhoreou-se dos controles ila Nação, investiu, manipulou e conquistou gradativamente o po- der. Desde intrometer-se em políti- ca partidária até armar operações ■clandestinas e operações de intimi- dação, do favorecimento de pçs- íoas e de empresas amigas ao do- mínio de presidentes da República e de ministros, fazendo-lhes chegar apenas as informações pretendi- 4as por seus dirigentes. •'* Cabeça de poderosa comunida- de, e apesar de comandado por militares, desde 1964, o SNI adqui- riu dimensões e vida própria, fora 4ta estamento castrense, a ponto 4e seus críticos, em tom de piada, imaginarem que só faltou criar far- damento especial para os seus in- tegrantes. Até hospital especial possui, em Brásüia, apesar dos que lá servem pertencerem ao Exérci- to, Marinha, Aeronáutica, e órgãos civis. Cada uma dessas categorias Uíspondo de serviço de saúde para atender seus filiados.

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CL.

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CO

Transíunnado eiii grande pol vo de mil tentáculos nào só para as oposições, mas para a sociedade inteira, pode ser que o SNI nâo mereça todas as pedras que lhe sáo arremessadas nacionalmente, já que, além de cuidar de política, sempre encontra tempo para atuar na área a que deveria restringir-se, de aferição do sentimento popular, dos anseios e tendências da opi- nião pública. Mas tem sido na polí- tica, partidária e não-partidária, que mais navega o órgão líder da comunidade de informações, es- pionando, intrometendo-se na pri-

vacidade dos cidadãos, atuando, direta e indiretamente, para man- ter os controles maiores do País.

Não terá sido de graça que o SNI deu dois presidentes da Repu biica e um fazedor de presidentes da República. Oarrastazu Mediei o chefiou antes de suceder a Costa e Silva, assim como João Baptista Figueiredo, no governo Ernesto Geisel. Isso depois de ter sido, no governo Castello Branco, chefe de sua Agência Central. Antes dos episódios do Riocentro, ou do epi- sódio Alexandre von Baungarten, onde as acusações de um assassi- nado atingem frontalmente a insti- tuição, do que mais se falava era da candidatura do general Octávio Medeiros. Mais do que Isso, porém, salta aos olhos a participação de seu fundador, em todo o processo político moderno brasileiro: o ge- neral Golbery do Couto e Silva deu as cartas durante a primeira admi- nistração revolucionária, como criador do SNI. e, depois, maqui- nou para elevar ao poder Ernesto Geisel e João Figueiredo, impor- tando menos saber que, quanto a este último, arrependeu-se pouco depois. Mas por que? Por ter perdi- do o poder palaciano para o gene- ral Octávio Medeiros...

A esse respeito, vale uma reml- niscência. Nos idos de 1958, no governo Juscelino Kubitschek, o Conselho de Segurança Nacional sofreu uma reformulação. Criou- se, como um departamento, o Ser- viço Federal de Informações e Contra-informações. Seu primeiro dirigente foi o então coronel Gol- bery do Couto e Silva. Num prédio velho, do Rio de Janeiro, em cima da Casa da Borracha, esquina de Uruguaiana com Presidente Var- gas, ele preparou equipe de invul- gar presença na vida política sub- seqüente da Nação. Com ele traba- lharam os coronéis e majores Jai- me Portella, Mário Andreazza, Waltèr Pires, Octávio Medeiros. Newton de Oliveira e Cruz, Danilo Venturini e João Baptista Figuel- j

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22 - RESENI A

redo, além do capitão Heitor Fer- reira, entre muitos outros. Com a posse de Jânio Quadros, o esque- ma foi maiicido, mas, depois da crise da renúncia, deu-se a diáspo- ra.

Foram todos mandados servir longe do mecanismo de informa- ções, de preferência na fronteira em escolas de ensino superior mili- tar ou em guarnições onde pudes- sem ser vigiados. Golbery pediu transferência para a reserva e logo participou da fundação do Ipês. A função daquele ingênuo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, formado por empresários, milita- res e profissionais liberais, muito bem amparados por cruzeiros e por dólares, era a conspiração contra Goulart. O "satânico dr. Go", co- mo foi chamado depois, criou lá uma das mais formidáveis estrutu- ras particulares de espionagem. Os integrantes do governo Goulart eram vigiados e não sabiam. Segui- dos, escutados e fotografados to- dos os dias. Fichários continham informações sobre perto de cem mil pessoas, e os aparelhos de es- cuta, de todos os tipos, saíam dos corredores do inocente Ipês para telefones, gabinetes, apartamen- tos e até restaurantes freqüenta- dos pelos então detentores do po- der.

POLíTICA

Uma história de mneaçus e intromissões

C3

C/3

CO LU CD

Com a vitória da Revolução, foi fácil criar o SNI. A parte estrutural era muito parecida com o organogra- ma do 8FICI, apesar de ampliada. E o material de trabalho, constante de fichas e fitas, foi transportado de caminhão, do Ipês para um andar do Ministério da Fazenda, no Rio, pri- meira sede do SNI.

Apesar de Carlos Lacerda dizer que o SNI não funcionava às segun- das-feiras, pois, naqueles dias, os principais Jornais não circulavam, não era bem assim. Centenas de ope- rações foram montadas lá, e ainda o eram, até pouco, agora que possui vasto e secreto conjunto de prédios modernos, em Brasília. Multas vezes trocaram-se agentes, isto é, uma equipe de Fortaleza vinha até Brasí- lia para atuar desenvoltamente, de- pois retirar-se sem deixar rastros, seja seqüestrando parlamentares, se- ja, como em outras capitais, orien- tando a queima ou depredação de bancas de Jornais, livrarias especiali- zadas em publicações de esquerda, ou mesmo, last but not U«st, plane- jando a explosão de petardos intlmi- datórios ou a expedição de cartas- bornba Contam que o recém-eleito senador Crestes Quércia saía de seu gabinete para fazer o primeiro dis- curso, em abril de 1975, quando se vlii abordado por um desconhecido, no corredor do Senado. O jovem par- lamentar seria muito duro em suas palavras, criticando o regime do go-

verno. O interlocutor extemporâneo o acompanhou até a porta do plená- rio, falando baixo e apontando para uma pasta que trazia. Logo depois, no discurso, Quércia perdeu-se, im- provisou e não pronunciou uma só das criticas que trazia escritas. Foi ameaçado pelo desconhecido, que se apresentou como um agente do SNI, com a divulgação de uma série de documentos envolvendo sua admi- nistração na Prefeitura de Campi- nas. Apesar de falsos, ou de conte- rem meias-verdades, segundo o atual vice-govemador de São Paulo, ele se intimidou e cedeu á pressão.

As histórias se contam aos mi- lhares, nem sendo preciso lembrar o do«si*r Alexandre von Baungarten. A partir de um certo momento, cõn- sio do poder do monstro que diri- giam (as palavras são do general Golbery do Couto e Silva, depois que brigou com o presidente João Figuei- redo), os dirigentes do SNI começa- ram a atuar em áreas ainda mais perigosas. Negócios especiais, junto a estatais e empresas privadas, origi- navam-se em seus gabinetes. Facili- dades eram de lá pedidas ou determi- nadas. Não se acusará o general Oc- távio Medeiros de nenhuma dessas práticas, mas o mesmo não se pode dizer de auxlhares da maior impor- tância. Até o general Newton de Oli- veira e Cruz. durante muitos anos chefe de sua agência central viu-se denunciado por acusações de íavore-

cunento â Capemi e à revista O Cru MltO.

Qx,TC(im exa8ero ou sem exagero o SNI não poderia deixar de ir tornan- do a palmatória do mundo. Deputa dos ^.senadores pediram, inúmeras Vezes, a sua extinção, ou, no mini r., o seu controle pelo Legislativo, ji que as verbas lá manipuladas sâo secretas. E vultosíssimas, pois, para a comunidade de informações, nao hâ Delfim Netto com disposição de negar recursos.

As oposições, reconfortadas com a hipótese de chegar ao poder, falam de ampla devassa no SNI; coisa que Tancredo Neves jamais pretendeu No máximo, sua disposição será a de Umiiar as atribuições, minimizando as e enquadrando seus responsáveis em limites estreitos. Evitar que o passado se repita no futuro. Precisa mente o que o atual governo, com multa premunição, parece que vai fazer. Ou que terá começado a fazer quando o general Braga assumiu sua Agência Central, em substituição au general Newton de OUveira Cruz em 1983, sob os aplaudos do general Wal ter Pires, ministro do Exército, para quem não se justificava o superei i mensionamento do órgão, multo n < nos o prolongado aproveitamento or oficiais do Exército em seus quadros permanentes.

Sintoma de que as coisas estão mesmo para mudar encontra-se na recém-criada lei de informática. A

SEI sempre consistiu em terreno da comunidade de informações, mas. prevendo a chegada das oposições ao governo, não foi pouco o número de altos oficiais do SNI a planejar a transferência definitiva para lá. Ati- nai, continuariam em casa, como de- verão continuar, em função da lei recém-aprovada, que permite a In- tromissão da SEI na privacidade de todos nós, mais ou menos como o SNI faz sem estar autorizado legal- mente. A raposa tentou e está conse- guindo a guarda de outro galinheiro, menor, menos ostensivo, mas Igual- mente farto de comida fácil.

O decreto que restringiria as ati- vidades do SNI enquadra-se nessa espécie de filosofia de trabalho ou de transformação. Ouve-se, por conta disso, estar havendo desde já impres- sionante queima de arquivos, toman- do-se a expressão no seu sentida literal, não no jargão policial. Fichas, relatos de operações clandestinas pastas especiais e sigilosas estariarr ganhando a fogueira ou sendo passa das a acervos particulares, restritos Quando Tancredo chegar, e diantt do que encontrar, terá a impressãc de que o SNI, senão fábrica de pbe slas ou refúgio de arcanjos, represen ta singelo organismo de iníormaçõei com estatísticas referentes ao nume ro de velhinhas desamparadas neces sitando ajuda, ou de colegiais pro •pensos a seguir a carreira jurídica Terá mesmo essa impressão?

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POLÍTICA RESENHA - 23

•áa^í* ••*•••« De onde vem o

terror político

OS RADICAIS,. que pode amea- çar a evolução do País em direção a um regime de- mocrático com partidpaçào po- pular ampliada?

Da esquerda? Da direita? Da oposi- ção? Do regime?

Regimes de terror e ações de ter- ror sio formas políticas; podem ter coníeúdoi diversos: o terror da Revo- lução Francesa, o da Revolução Russa, o do movimento militar de março de 64 no Brasil, nos anos de

.68 a 75 - são aparências semelhantes e tèm significados diferentes.

Tem sentido, portanto, a distussão; <fut terror nos ameaça? Mesníu que sejam ações terroristas isoladas ainda, sem grandes chances de prosperar na conjuntura pre- sente - como é o caso -, de onde tias \ém? A quem servem, politica- mente?

Há pontos de vista diversos, so- bre tema tão candente, especial- mente nesta-hora em que as forças agigantadas e desarmadas da oposi- ção acuam um regime combalido,

mas ainda no comando de todos os botões de tiro.

O general íris Lustosa, do Cen- tro de Informações do Exército, Ciex, e o advogado e fazendeiro Tancredo Neves, por exemplo, pen- sam de modo oposto sobre a ques- tão. O general propaga sua avalia- ção pelos quartéis do País; tem o aval declarado do ministro do Exército e a cobertura tácita do pre- sidente da República. Para ele, a es- querda ladical - os comunistas, os políticos, os intelectuais e os padres progressistas, de José Gregori a Dina Sfat e a dom Paulo - articula a revolução dos famintos, que é imi- nente. Já o candidato da Aliança Democrática, mesmo dizendo-se anticomunista (porque o comu- nismo é anticristão, antidemocrá- tico e antinacional, esclareceu re- centemente), acha que a direita incrustada no governo, é a fonte de todo o perigo. Para ele, na medida em que a máquina policial do Es- tado realiza ações abertas em favor da candidatura Maluf, como no caso do Maranhão, a ameaça exige mesmo uma resposta e sua escalada não pode ser aceita pacificamente.

Vista por um lado ou por outro,

a situação se radicaliza, portanto. Mas que lado passa ao terror, con- cretamente? E que resultados ob- tém c node obter, agora c futura- mente?

O ovo da velha serpente O regime trabalha com o terror, para servir seu filho dileto na busca da Presidência. Se perder, o terror será um bom servidor no futuro Raimundo Rodrigues Penlra

A ultradireita financia Maluf, diz Tancredo. São os homens que vio-

, laram os direitos humanos nos anos recentes, os mesmos que hoje pren- dem e seqüestram, invadem do- micílios e explodem teatros, gráficas e comitês e chegam ao assassinato de lideranças sindicais e políticas (há poucos dias, foi assassinado um dirigente sindical da direção do PC do B, no Maranhão).

As provas? "Eu tenho, você tem, todos nós temos", disse Tancredo a um jornalista, atribuindo à candi- datura Maluf a responsabilidade pela alimentação das forças terro- ristas de direita.

E é fato. Embora nenhum dos mais de 40 atentados terroristas praticados a partir de 1980 tenha sido esclarecido pelo governo, o próprio fato do nao esclarecimento é indicação segura de que o regime está associado ao terror. A revista Veja denunciou, há três semanas, com profusão de detalhes, que um homem situado à mão direita do comando do general Newton Cruz tem tudo para ser o responsável pela ação de um bando terrorista que colava cartazes em Brasília, ten- tando associar Tancredo Neves ao PCB. E nada é investigado ou res- pondido. Da mesma forma pela qual não houve resposta alguma para a acusação formal do falecido jornalista Alexandre Von Baumgar- ren contra o mesmo general Cruz e o general Medeiros, que seriam mandantes de seu assassinato.

^J regime empenha-se em desviar as aicnções de uma opinião pública ainda conservadora para as ações dos partidos clandestinos cm luta por um espaço maior na conjun- tura presente. O curso do PCdoB na Vila Mariana é invadido e a polí- cia do ministro Abi-Ackcl leva em- bora três dezenas de presos e até a placa com o pensamento de Lênin sobre o valor da teoria. As casas de Giocondo Dias, Salomão Malina, João Amazonas, José Duarte c ou- tros velhos e novos dirigentes do PCB e do PCdoB são invadidas c a Policia Federal exibe, orgulhosa, as provas da vida prática dessas orga- nizações, legalmente ainda proibidas.

Ma; o que sobra para a a opi- nião pública? A constatação de que o perigo vennelho aí está, efetiva- mente?

Não, felizmente. Todas as orga- nizações políticas devem ter o di- reito de expressar-se livremente - é um consenso crescente, que vai de José Samey aos próprios comunis- tas.

O que a opinião pública condena são as ações que a polícia - e mesmo tropas cias Forças Amnadas - praticam no outro limite da lega- lidade vigente: quando invadem Assembléias Legislativas de Estados supostamente independentes ou quando ocupam aeroportos de ca- pitais para garantir o desfile do can- didato situacionista.

As ações da Polícia Federal e as do PCB e PCdoB estão em limites opostos da legalidade vigente. A questão é que se formou no País uma nova situação: a opinião pú- blica absolutamente majoritária e uma coligação de forças políticas esmagadoramente vitoriosa quei romper a legalidade atual - com seus códigos, colégios e regimentos espúrios - na direção de mais liber- dade. E o regime trabalha no sen- tido oposto ao da disposição incon- testável da maioria: buscando ali- nhavar novas teias de casuísmos, tenta reabilitar disposições legais já denotadas pela vida prática. Por- que quer imobilizar o País; quer impingir-lhe o fél da candidatura Maluf.

Daí porque, do ponto de vista objetivo, social, concreto, o regime vai tomando-se ilegal, a partir de suas próprias artimanhas, t vai ca- minhando de volta para os métodos do terrorismo político - que lòram os que etc usou, indiscutivelmente, para se instalar sobre o País- O grá- fico quFlíustra este artigo mostra uma relação reveladora: os atenta- dos terroristas, que tiveram início na fase de preparação da derrubada do governo João Goulart, evo- luíram para um máximo Ar véspe- ras da edição do Ato Institucional n» 5. Do Al-5 até o inicio da disten:

são política, o próprio Estado brasi- leiro assumiu caracierísticas terro- ristas abertas, com assassinatos e toi turas de presos poliúcos nas pri- sões e um clima de vigilância poli- cial e violência sobre as ruas, casas e repartições. No período 68-75, os atos terroristas praticados pelo dia-

^> I

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24 - REbET-HA POLÍTICA

matlo "braço clandestino^' da re- pitücsâü cedem lugar aos atos teno- risias praí-^d-s pelo apareliio oli ciai da lepiessao política.

A abertui-a política nào mudou o kCiuiik) dessa equação. Apeados do poder, os giupos tenoristas volta- ram ás ações secretas.

Até agora estiveram protegidos - imivistados, como diz Tancredo - na máquina repressiva estatal, ainda não desmontada. Dai sua agitação, nos dias que correm, quando se iál.i na democratização do Estado e ai gunsalmejam a puniçãodoscriim>

Alguns democratas, o própiii' candidato da Aliança Democrática, sonham com uma pacilicação na- cional que entene o passado de amarguras. Os mortos estão enter- rados, acredita-se, na proposta bem-intencionada.

Seria bom se assim ibsse; se a ser- Eente velha, desdentada, com a ca-

eça semi-esmagada não tivesse p ventre ainda quente do ovo que plantou em ninho infelizmente lér- til.

O regime produziu Malul, por mais que não queria nele se reco- nhecei. E os nuiudos de Malul conlinnam sua tradição, os pais que

teve. Malul agora, por exemplo, está tentando passar-se por um pre- gador cristão que a todos perdoa e a tudo releva. De sua boca rara- mente partem ofensas: só promes- sas, consignações de fé no poívir. Como os títulos de alguns movi- mentos que tem insuflado: "Des- pertar da Consciência", "Ordem, Esperança e Progresso", "Movi- mento Brasil Futuro".

M lesmo este seu esforço de ser popular e bondoso, mesmo a dis- posição que manifestou nas últimas semanas - de ir ás ruas, tocando bumbo na frente de seu comitê fe- minino em Brasília, pondo o Trio Tapajós nas ladeiras de Salvador, para anunciar outro comitê recém- criado - têm, no entanto, os sinais da Besta, que sua política não dis- Eensa. Em Brasília, ao lado do

umbo, estavam as forças parapoli- ciais que jogaram granadas de gás e dispararam tiros para o ar, a fim de conter a massa popular mais revol- tada com a desplante do candidato ulicial. Em Salvador, junto com o uio elétrico ecom os ióliões contra- tados, estavam os lutadores de esco- las marciais de subúrbio e os agen-

cs tia Poliuca Federal, prontos a dar combate e a agredir, como na Freguesia do 0, acMele« filhos do povo que, por coragem pessoal e intuição política, lançam-se á luta para barrar o caminho das ruas para o animal camaleõnico que vem pintado de dinheiro.

No momento, há uma disposição política nacional tão grande por um governo democrático de maior par- ticipação popular que o incipiente terror malulista, mesmo combi- nado com o tenxjr e as armas para- ifg-.iis oliuais, dificilmente seiã tapa/, de opor um obstáculo apre- (iiívtl ao processo cm curso. Mas o ovo csiá posto. O governo Tan- imlo, tin breve, pode ser um imenso governo Montoro, com o iigiavante de ter mais miseráveis e mopoicionalmcnte menos recursos materiais e humanos. Aí, o lilho di- leto do regime que está morrendo espera ter melhores chances. Por essa razão é que é preciso voltar às mas. O povo só se esclarece por sua experiência prática e participa- ção. Este caminho, combinado com u esclarecimento da real situação do País, é o que pode lazer murchar o lenor que já está plantado.

A base social que hoje sustenta a candi- datura indireta do ex-govemador Tan- credo Neves à Presidência da Republica é maior do que o arco que há seis meses sustentava a formidável campanha das diretas já. Por uma porta, é verdade,

I retirou-se o presidente do PT, Luís Iná- cio Lula da Silva, cujo partido se recusa a ir ao Colégio Eleito- ral - mesmo sabendo que essa nao é a opinião comum de todos os seus deputados que deveriam votar em 15 de 1™™°-™* outra porta, porém, entraram os senadores José Sarney e Marco Maciel, oito governadores do PDS, o grosso do empre- sariado brasileiro e um batalhão de políticos de grande influen- cia regional, a começar pelo ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães - e. sobretudo, não saíram as multidões que enfeitaram as praças com o amarelo das diretas c. agora, em volume não tão avassalador. mas de todo modo impressionan- tes ovacionam o candidato das oposições nos seus comícios Imersa nesse quadro de maciça, inequívoca preferencia por Tmcredo a Igreja Católica, uma das duas instituições verda- Lirameme SóLÍS e duradouras da vida brasileira, ao lado das Forcas Armadas, grita cada vez mais alto que. em PO»}«. ma ?o qu?nuncaBé preciso ouvir o povo. Ou seja. na práuca. íãoé exagero dizer que a Igreja também tancredou. A Confe- énc a Snal dos Bispos do Brasil, espécie de concOio pe -

manente que coordena os 246 bisppsem atividade no pais cvv Srá tomí publicamente essa postçâo, fundada no ^balávcl orfncS de que a Igreja não tem partido. "Poderia casuística- mènt^ser um bem mis estruturalmente atrasana o processo "eme^rático. que respeita a Uvre opção ^trejs candidatos pondera dom Luciano Mendes de Almeida 54 an^. o ^J1 • fnnuente bispo auxiliar de São Paulo e «cre^no-geral da enti- dade e por função e formação, adepto convicto da unidade de íu pXio foro. É seguro, no entanto, que q^tro ^^s TardSs brasileiros claramente P^m.^ncn

rd°a°^-

tado Paulo Maluf na Presidência daR=P"bhca Como apurou 1STOÊ na semana passada, entre 50 e 70% do episcopaa? campanha explicitamente os príncipes da Igreja nessa posição sendo virtualmente Ignoradas manifestações significativas em

favor de Maluf.

Na sucessão, a Igreja quer a legalidade ISIDÉ ?/^V

O cardeal-arcebispo da Bahia e primaz do Brasil, dom Avelar Brandão Vilela, 72 anos, é um dos que manifestam grande confiança em Tancredo. O candidato da Aliança De- mocrática, seu velho conhecido, é para ele a melhor opção para que se conclua ajjora a abertura "lenta, gradual e segura desencadeada pelo ex-presidente Ernesto Geisel em 1974", que ele sempre considerou uma "passagem possível" na política brasileira. Para dom Avelar, a atual crise política na verdade é o maior problema brasileiro, e o desfecho do processo de insti- tucionalização a condição necessária para que se ataque o pro- blema da miséria, que tanto preocupa a hierarquia eclesiástica. São razões que não diferem daquelas levantadas, por exemplo, por um bispo 23 anos mais jovem do que ele, dom Alano Ma- ria Pena, responsável pela diocese de Marabá (PA), no centro da selva amazônica: "Apoio Tancredo porque acho que ele poderá contribuir para uma sociedade mais justa, mais demo- crática e mais fraterna". Ou dom Augusto Petró, 66 'anos. bispo de Uruguaiana (RS), no extremo Sul do país, que, em- bora não fale em nomes - "não sou partidarista", costuma di- zer -, é enfático na defesa do prosseguimento da abertura ini- ciada por Geisel: "Ela deve ser levada adiante". K

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POLíTICA RESENHA - 25

Do extremo Norte do país, onde dom Alano conduz um rebanho de posseiros e índios, à rica fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, onde dom Pclró administra uma le- gião de fiéis na qual se incluem grandes comerciantes e fazen- deiros, a questão sucessória está colocada r.j centro da Igreja. Foi ela que levou uma das vozes habitualmente moderadas do

clero, dom Eugênio de Araújo Sallcs, 64 anos, cardeal- arcebispo do Rio de Janeiro, a ler um duro e contundente pro- nunciamento no seu programa semanal A Voz do Pastor, irra- diado na manhã deste sábado, 3. "Aproxima-se a data da esco- lha de um novo presidente da República e surgem, assustado- ramente, episódios que envolvem pessoas, atitudes c decisões, ferindo profundamente princípios morais", proclamou. Dom Eugênio não anuncia publicamente apoio expresso a Tan- credo, mas deixa evidente a quem se refere, e o que não apoia, quando reprova "aquele que conspurca os fundamentos éticos a fim de alcançar intentos pessoais". Ou mesmo quando'-; apropriando-se de uma expressão que o governo consagrou para acusar os políticos que deixaram o abrigo do PDS e hoje sustentam o candidato da oposição -, para dar-lhe outros desti- natários, diz que "traidor se constitui aquele que, com ameaças reais ou fictí- cias, engana a coletividade, levando-a a opções por desconhecer a verdade".

Mesmo numa construção complexa e de percepção nem sempre imediata- mente clara, como geralmente costu- mam ser os textos da Igreja, o período de dom Eugênio deixa claro o recado que se propunha dar quando se dispôs a elevar o tom de seu pronunciamento em A Voz do Pastor - a defesa da legalidade na sucessão presidencial, um tema que hoje forte- mente une a sociedade brasileira {leia página 25) c que tem como cristalinamente beneficiária a candidatura Tancredo, majoritária no Colégio Eleitoral. "Há uma promessa formal de restabelecimento da plena democracia", lembrou dom Eugê- nio aos ouvintes."Aliás, trata-se de restituir o que nos pertence, e não a outorga de um favor", cobrou. Mais claro e mais pre- ciso ainda foi o documento que nove dos onze bispos - dois es- tavam ausentes - integrantes da presidência da Comissão Epis- copal de Pastoral, reunidos em Brasília no último 25 de outubro, divulgaram: "O momento é de se defender corajosamente a legali- dade". O documento reflete a preocupação dos bispos com o que o cardeal do Rio de Janeiro chama de "acidentes de estrada". Isto c, "provocações^ quem esteja interessado em prejudicar o pro- cesso de transição, que está chegando ao final".

"Só falei agora porque estou angustiado", confessa dom Eugênio. "É preciso chamar a atenção do pais para que o pro- cesso de transição chegue ao fim. Tudo o que for modificado, no que está atualmente, tem odor de coisas ilegais." Em seu documento, a Comissão Episcopal de Pastoral esmiuça me- lhor. "No esperado e compreensível processo sucessório em vista da escolha do futuro presidente da República, é neces- sário respeitar as regras constitucionais, mesmo que- não sejam elas - como de fato não o são - perfeitas". Os bispos lembram que a nação quis a eleição direta, mas esse direito não lhe foi devolvido. Conseqüentemente, agora, "deve-se respeitar in- transigentemente as normas estabelecidas para a eleição do presidente, a fim de não se cair na flutuação dos casuísmos jurídicos que geram incertezas e trazem a marca do jogo polí- tico de lamentável nível moral".

No final, o documento procura traçar firmemente os con- tornos da posição que a Igreja, enquanto instituição, adota em relação ao Coléíio Eleitoral - um apelo para que os senadores,

deputados e delegados "escolham quem for realmente o mais competente, o mais honesto e o mais empenhado no bem co- mum e, portanto, na definitiva democra- tização do país". Dom Luciano Mendes de Almeida, um dos subscritores do do- cumento, complementa: "O que não

está certo é mudar na última hora - atenta contra a seriedade do processo", diz. Mas é o próprio dom Luciano quem se apressa a esclarecer que essa postura da Igreja no debate su- cessório de maneira alguma pode ser confundida simplesmente com uma espécie de apoio a este ou àquele candidato, muito embora, ao se manifestar contrária à alteração nas regras do jogo sucessório, ela na prática critique o candidato que reco-

nhecidamente se empenha em manobras legislativas que pos- sam ajudá-lo a inverter a minoria e desvantagem em que atual- mente se encontra - o deputado Paulo Maluf.

"A força da Igreja está no respeito à correção democrá- tica do processo", dl o tccretário-gcral da CN2B. For isso a participação da instituição não estaria "na indicação de um ou de outro, mas na garantia de que eles sejam dignamente esco- lhidos". A posição da Igreja, portanto, funda-se "no atendi- mento às justas reivindicações do povo e na aspiração de que haja no governo da nação um homem que promova o bem co- mum, acelere as reformas indispensáveis para que se dêem condições de vida justas e dignas ao povo, diminuindo as desi- gualdades sociais". Talvez ninguém, como dom Luciano, sinte- tize tão bem o ponto de vista do conjunto da Igreja enquanto instituição. Não seria assim de estranhar que os bispos brasilei- ros tenham reconduzido para um se- gundo mandato à frente da secretaria- geral da CNBB esse carioca que, em 1976, se tomou o primeiro jesuíta sa- grado bispo no país e, nas horas vagas - hoje em dia muito raras -, costuma dedicar-se ao violino ou a uma boa par- tida de.xadrez.

"Ele reflete a opinião do episco- pado brasilejro e se revela um homem de espírito conciliador - em ocasiões como esta elementos conciliadores têm papel relevante e, neste caso, dom Luciano re- flete plenamente o espírito da CNBB", diz dom Adriano Hipólito, 66 anos, bispo de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, que não se esquiva de afirmar alto e bom som que seu candidato na eleição indi- reta é mesmo Tancredo Neves. Dom Adriano é um bispo reconhecidamente ligado à ala progressista da Igreja, mas dom Luciano granjeia simpatias e elo- gios num espectro mais amplo, que chega aos conservadores. Seu perfil fa- vorece esse alcance. "Trata-se de um in- telectual invulgar, prudente e sensato", testemunha dom Petró, de Uruguaiana. Talvez por isso, quando foi eleito para seu primeiro mandato para a secretaria- geral da CNBB, em 1979, ele tenha também se transformado no primeiro dirigente da entidade a eleger-se logo no primeiro escrutínio - dois terços dos votantes é o mínimo exigido para que isso ocorra.

São poucas as dúvidas sobre as habilidades e virtudes polí- ticas de dom Luciano, como o comprovam os sucessivos e difí- ceis encontros que ele manteve com a cúpula do governo para tratar de episódios delicados, como a expulsão do padre Vito Miracapillo, em 1980, a prisão dos padres franceses Aristides Camio e François Gouriou na região do Sul do Pará, cm 1982, ou a preparação, pelo regime, do novo Estatuto de Estrangei- ros, em 1983. "Ê um profissional", atesta alguém decidida-

mente do ramo, o deputado tancredista Thales Ramalho (PDS-PE), ao comentar o desempenho de dom Luciano nas conversas que este teve com o ministro João Leitão de Abreu, chefe do Gabinete Civil da Presidência, sobre o caso dos pa- dres franceses, a cujo teor Thales teve acesso. "Ê extraordinária sua capacidade de dialogar com as pessoas das mais diversas ten- dências sem perder a serenidade e a objetividade de seu raciocí- nio", depõe dom Alano Maria Pena, o bispo de Marabi

Ê com essa objetividade que dom Luciano, depois de dia- logar na quarta-feira à noite com a Sociedade dos Amigos do Belém, em São Paulo, lembra que a Igreja sabe reconhe- cer as aspirações populares. E, a exemplo do que já ocorrera na campanha das diretas já, quando o reconhecimento veio acompanhado da ressalva de que eram indispensáveis "refor- mas urgentes e substanciais", também agora ela nâo apenas está empenhada em juntar-se ao coro dos que exigem a manu- tenção da legalidade da sucessão mas igualmente avança em questões como a fome e o desemprego. È devido a seu com- promisso maior e permanente com a sociedade, repete dom

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?fi - RESEK IA POLÍTICA Paulo Evaristo Ams, cardeal-arcebispo de São Paulo, que a Igreja cumo instituição não manifesta preferência por candida- tos. "A nossa recomendação é que os parlamentares votem se- gundo a f:<Dectativa das bases que representam - só assim ha- verá a Icgiiiinidade do voto", diz. De todo modo, o progressista dom Paulo está totalmente de acordo com o ultramoderado dom Eugênio, cardeal do Rio, na dura linguagem com que este investe contra a possibilidade de se puxar o tapete institucional para que a candidatura majoritária seja fraudada no Colégio Eleitoral. Dom Eugênio critica a "trapaça, uma arma terrível, pri..^.^ .ilmente quando leva ao desespero", lembrando que "a

Revolução de 1964 teve como objetivo preservar da subversão a ordem pública e coibir a corrupção", o que "pôr motivos vários ficou aquém do desejado". Sobre o quadro atual, ful- mina: "Os cristãos e 'cigos que ocupam cargos "a viHa pública assumem grave responsabilidade, diante de Deus e desta na- ção. Será um crime apelar para soluções traumáticas ou en- veredar por caminhos nocivos ao bem público. A Escritura Sa- grada adverte: *0 Senhor criou o pequeno e o grande e cuida igualmente de todos, mas aos poderosos reserva um exame se- vero'". Poucas vezes na história do Brasil a Igreja terá sido tão incisiva: respeito às regras do jogo, já.

sisuJ ino tti • sbis! r,b

Tensão marca relacionamento entre CNBB e Vaticano

FOLHA Ofc S. PAULO «fjW^

A proibição das "Missas dos Qui-

DERMI AZEVEDO Da nona «quip* d* rtportagem

lombos" e da "Terra sem Males", a interrupção do projeto "Por uma Sociedade Superando as Domina- ções" e a exclusão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil da consulta prévia sobre a "Instrução" de Ratzinger a respeito da Teologia da Libertação representam alguns dos momentos de tensão no relacio- namento entre a CNBB e a Cúria Romana, nestes seis anos do pontifi- cado de João Paulo 2o. O Papa tem alternado posturas que às vezes favorecem a linha de trabalho da CNBB e às vezes se alinham com as decisões de seus colaboradores dire- tos.

O confronto entre os projetos pas- torais da Cúria Romana e da CNBB antecede, porém, a chegada de Karol Wojtyla ao papado. Já na adminis- tração de Paulo 6o, o neoconservado- rismo começara a avançar, a partir da América Latina: em 1972, na assembléia do Ceiam (Conselho Episcopal Latino-Americano) em Su- cre, Bolívia, o bispo colombiano

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3J

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^b o Se o relacionamento da CNBB com

a Cúria Romana (especialmente com as congregações para a Doutrina da Fé, para os Bispos e para os Sacramentos) tem sido predominan- temente marcado por tensões, os contatos com o Papa são mais matizados. O principal momento de dístensão ocorreu durante sua visita ao Brasil, em 1980, e as distâncias podem ser atribuídas muito mais à ação dos funcionários da Cúria sobre o Papa.

Oito dias depois das eleições de Wojtyla, a CNBB reuniu-se em Brasí- lia para analisar seus discursos, tarefa que coube ao jesuíta Fernando Bastos Ávila. Üma primeira negativa do Papa à CNBB aconteceria em 1980: considerando a proximidade da visita papal ao Brasil, os bispos propõem a não realização da viagem a Roma prevista para este ano. Argumentam que a visita custará . .11,1 r .|III iimlitriit bur rrilintitu umu

do Rio de Janeiro, membro das Congregações para os Bispos, Igrejas Orientais, Clero, Evangelizações dos Povos e Educação Católica, além de integrar as Comissões Pontifícias para a Comunicação Social, Cultura e o poderoso Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja. Ele converteu o Rio de Janeiro no grande laboratório para a realização do projeto de Ratzinger e Hans von Baltnasar e para a ofensiva contra Boff, Gutiér- rez e a nova história da Igreja na América Latina que Vem sendo escrita por 150 pesquisadores do continente, de forma ecumênica.

1977. O cardeal Joseph Hoeffner, arcebispo de Colônia, Alemanha, presidente da Conferência Episcopal alemã, escreve ao presidente da CNBB, d. Aloísio Lorscheider. Mani- festa preocupação com os padres brasileiros que estudam na Alema- nha e que, segundo afirma, "estão mudando de comportamento". Sete anos depois, Hoeffner é enviado a São Paulo, pela Cúria Romana, para verificar a ortodoxia do ensino mi- nistrado nos seminários católicos.

Uma outra carta seria enviada a d. Aloísio, em 31 de março de 1977,

desta vez pelo cardeal James Knox, Erefeito da Congregação para a

lisciplina dos Sacramentos, exigindo que fosse mantida, no Brasil, a tradição de confessar as crianças antes de receberem a primeira co- munhão. E pedindo um informe sobre a nova prática de distribuir a hóstia consagrada nas mãos dos fiéis.

Em outubro, no Vaticano, o cardeal Aloísio Lorscheider é eleito, com 105 votos, para integrar o Conselho Permanente da Secretaria do Sínodo dos Bispos e escolhido para ser o relator oficial da reunião. O arcebis- po de Cracóvià, Polônia, cardeal Wojtyla, obtém 90 votos.

Em novembro, mais de cem teólo- gos da Alemanha Federal — entre os

âuais Karl Rahner e J. B. Metz — ivulgam memorando denunciando o

início de uma campanha, em grande escala, contra a Teologia da Liberta- ção. Uma primeira articulação neste sentido fora feita em 1975. no encon- tro entre o secretário geral do Ceiam, López TnijiUo, e o presidente da Adveniat (organização católica de apoio a projetos no mundo subdesen- volvido), d. Franz Hengsbach, em Roma. jftóu

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Papa alterna opiniões sobre projetos

,

Alfonso López Trujillo assume a secretaria geral da entidade, cargo em que continuou até 1977, assumin- do depois a presidência até o ano passado. Todo o seu esforço voltou- se, neste período, para desestabilizar a CNBB e para organizar uma grande cruzada contra a Teologia da Libertação.

Hoje, Trujillo é uma figura em declínio no complexo jogo de poder dentro da Igreja. Ao deixar a presi- dência do Ceiam, autocandidatou-se a presidente da Conferncia Episcopal Colombiana, escrevendo para todos

os bispos. Não recebeu sequer um voto. Convencido de que assumiria a presidência de uma das congrega- ções (ministérios) da Santa Sé, ambicionando, inclusive, a Secreta- ria de Estado, Trujillo chegou a alugar uma "villa" em Roma. Não chegou ao posto que pretendia, mas é cardeal arcebispo de Medellín e um dos nomes da "volta da grande disciplina", na expressão do teólogo jesuíta J. B. Llbánio para designar o auge do neoconservadorismo, com João Paulo 2a.

Em seu lugar, aumentam os pontos do cardeal Eugênio Salles, arcebispo

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PCX TTICA RESENHA - 27

que se encontrariam com o Papa aqui mesmo.

Através do cardeal baggio, o Papa responde negativamente, lembrando o encontro que os bispos brasileiros deveriam ter com a Cúria Romana e cobrando relatórios qüinqüenais so- bre suas dioceses. No ano seguinte, João Paulo 2° beatificaria Anchieta, no Vaticano, e pediria à CNBB subsídios para os discursos que faria 10 Brasil. D. Ivo Lorscheiter fez uma

■ evisão final desses textos. Depois de sua visita ao Brasil, o

Papa dá entrevista ao jornal de Cracóvia "Semanário Universal", elogiando o trabalho da Igreja brasi- leira, embora alertando para o perigo de "politizaçáo" nas CEBs. Foi neste contexto que a carta do Papa aos bispos do Brasil, em 10 de dezembro de 1980, causaria surpresa. "A Igreja perderia sua identidade mais profun- da - dizia o Papa à CNBB - e, com a identidade, a sua credibilidade e a eficácia verdadeira em todos os

campos, se sua legitima atenção às questões sociais a distraíssem daque- la missão essencialmente religiosa".

A CNBB diplomaticamente agra- dece mas d. Ivo vai ao Vaticano, a 19 de janeiro de 1981. O Papa nega que a carta (produzida com assessoria de bispos conservadores brasileiros) se- ja um freio à ação da Igreja no

Outra negativa do Papa à CNBB" foi no. caso da elevação da Opus Dei à categoria de prelazia pessoal (dioce- se mundial sem ligação com os bispos diocesanos). Em 3 de novem- bro de 1979, d. Luciano Mendes de Almeida, secretário geral da CNBB, escreveu ao cardeal Baggio, pedindo informações sobre o assunto e suge- rindo que as Conferências Episcopais fossem ouvidas. A resposta vem três anos depois com a transformação da "Obra" de Escrivá de Balaguer em diocese pessoal do Papa, ligado à Opus Dei desde Cracóvia.

No caso Boff, o Papa tem tido uma

posição mais favorável ao diálogo com o teólogo. Confessou a d. Ivo, d. Alüísiü e d. Paulo, no Vaticano, que na "Instrução" de Ratzinger sobre a Teologia da Libertação mandara introduzir a análise dos "aspectos positivos" da TL. No entanto, ele vem fazendo referências críticas às Comunidades de Base; setores da Igreja temem que as CEBs serão o próximo alvo de Ratzinger e da Cúria.

"Lobby" O futuro das relações CNBB e

Vaticano, no papado de Wojtyla, continuará sujeito às oscilações a favor e contra a linha de d. Ivo Lorscheiter e sua equipe. O "lobby" da Cúria Romana na CNBB é repre- sentado pelo cardeal Eugênio Salles, seu auxiliar Karl Romer, o arcebispo de Brasília, d. José Freire Falcão, o auxiliar de Salvador, d. Boaventura Kloppenburg e o arcebispo de Araca- ju, d. Luciano Cabral Duarte.

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^-?P^^«a^ —Então é pra isso que eu estou te pagando o colégio?

INTERNACIONAL

Camponeses votam armados

0 ESTADO DE S. PAULO ^/////W MADRI — "Na terça parte do

Norte da Nicarágua, milhares de camponeses terão de Ir até os locais das eleições com seu fuzil no ombro", revelou esta semana o jornal espa- OÜOI El P«í». reíerlndo-se à região mais afetada pelas ações guerrilhei- ras dos rebeldes anti-sandlnlstas que operam a partir do território hondu- .ftnho — a Frente Democrática Nlca- '«igúense (FDN). Apesar de a FDN Uí .uiunclado na qülnta-felra que vai luspender os combates hoje, os mo-

radores da região temem ser impedi dos de chegar até os locais das umas. Por isso, levarão seus fuzis, que rece- beram do governo como parte da campanha de fornecimento de armas à população para prevenir contra uma eventual Invasão norte-amerl cana. Os moradores dessas regiões levam suas armas quando vão traba- lhar na lavoura de café, preparados para defender-se dos ataques dos re- beldes A maior parte deles Integra as milícias sandinistas.

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28 - RESffNHA

M sua escalada para eliminar as guemJhas de esquerda, os milita- res têm matado cam-

poneses indianas ^ujas ligações com o movimento maoísia Sende- ro Luminoso, não foram devida- mente estabelecidas. Os relatos freqüentes quanto às execuções sumárias têm sido oficialmente desmentidos, mas está se tomando cada vez mais difícil explicar a presença de túmulos recentes nas áreas onde não ocorrem combates há algum tempo. Recentemente foram descobertas duas áreas de sepultamento perto da cidade indí- gena de Huanta, uma com 50 corpos e outra com 15.

Os combates têm afetado também as forças de segurança. O Gal. Adrian Hua- man, comandante-em-efaefe da principal zona de guerrilha no Sudeste peruano, foi demitido dois dias apôs ter apontado a negligência e a corrupção do Governo como causa do alastramento da subver- são. Anteriormente, o Ministro do Inte- rior, Luis Percovich disse que o combate à guerrilha era responsável pelo que ele descreveu como "embrutecimento" da polícia. Ele disse que cerca de 8% dos S mil 218 policiais estão sendo processados por roubo e assassinato.

A idéia de combater o terrorismo com o terror tem encontrado ressonân- cia. Ao mostrar o videotape dos corpos despedaçados de camponeses, o chefe de polícia da cidade andina de Ayacucho disse: "Os terroristas têm o apoio de 80% da população de Ayacucho. Precisamos aqui da solução argentina." Este ponto- de-vista, sabidamente compartilhado por um certo número de oficiais graduados, 6 uma alusão à campanha militar levada a efeito na Argentina, em que milhares de guerrilheiros, simpatizantes e pacíficos opositores do Governo, foram mortos.

Os serviços de segurança dizem que dezenas de oficiais peruanos foram envia- dos à Argentina, durante a vigência do Governo militar naquele país, para faze- rem cursos sobre interrogatórios e segu- rança. Os especialistas argentinos em contra-revolução também visitaram o Fem.

Há dois anos, quando a violência do Sendero Luminoso começou a aumentar, o Governo civil decidiu não se lançar em uma campanha total contra os guerrilhei- ros, preferindo enviar unidades protegi- das por pequenos destacamentos milita- res. O presidente Fernando Belaunde Terry, desconfiado dos oficiais que o haviam derrubado em 1968, argumentou

ue uma campanha total custaria a vida e muitos civis, poria em risco o apoio ao

Governo eleito e minaria a neutralidade política recentemente adotada pelos mili- tares. Desde então, ele tem sido ampla- mente criticado por sua relutância. Tí- nhamos medo de haver uma repressão igual à ocorrida na Argentina," disse o líder do Senado Manoel Ulloa, que, na época, era Primeiro-Ministro, "ou de

criar uma situação igual à da América Central, dividindo o país."

A princípio, alguos militares também recusaram-se a assumir a responsabilida- de por uma "guerra suja", disse um oficial graduado. Eles lembram-se dos ■ combates aos guerrilheiros no Peru, em 1965, quando alguns oficiais discordavam

INTERNACIONAL-

O COMBATE AO TERROR

ao

i métodos empregados pêlos rebeldes, mas aceitavam as suas queixas quanto à injustiça social. Entretanto, no ano pas- sado, à medida que a força policial era superada pela violência do Sendero Lu- minoso, os militares delinearam uma es- tratégia mais poderosa. Desde que o presidente Belaunde colocou sob contro- le militar 13 zonas de emergência nas províncias do sudeste peruano em julho último, 7 mil soldados foram deslocados para pelo menos oito novos acampamen- tos militares. Um especialista em contra- espionagem disse que eles aprenderam as lições fornecidas pelos casos do Vietnam, Colômbia e América Central. Mas os críticos detectam semelhanças com o caso da Guatemala. Lá, como no Peru, os guerrilheiros esquerdistas recrutam nas montanhas índios paupérrimos que pre- servam a sua própria cultura e língua e guardam ressentimento contra o coloni- zador branco que sempre os discrimi- naram.

Em ambos os países, a brutalidade das forças de segurança ajudou a engros- -sar as fileiras da guerrilha.

No Peru, como na Guatemala, o governo organizou milícias camponesas. O intuito era conquistar a lealdade cultural e acabar os laços de solidarieda- de destas comunidades, de forma a forçar os camponeses indígenas a escolher entre a guerrilha e o Governo, disse um espe- cialista em contra-revolução. Como na Guatemala, o terror assumiu um papel primordial. O impacto dos desapareci- mentos e dos cadáveres encontrados nns campos, acrescentou ele, "têm um forte efeito multiplicador".

O acompanhamento da campanha tornou-se cada vez mais difícil. Os guerri- lheiros maoistas desprezam a imprensa 0 repudiam os outros rebeldes latino-

americanos como ourgueses revisionista" Os militares apertaram o controle das informações, desmentindo os relatos so- bre as matanças do Exército e barrando os repórteres em algumas zonas. Quando recentemente alguns correspondentes es- trangeiros visitaram Ayacucho, os oficiais apoderaram-se dos documentos de um deles e interrogaram o outro por três horas. Um jornalista, Jaime Ayala, não toais foi visto desde que entrou no acam- pamento dos fuzileiros em Huanta, no início de agosto, para indagar sobre o

(massacre. Os fuzileiros negaram que o estivessem detendo.

"Desinformação" faz parte da estra- tégia militar, disseram as fontes de infor-

o, mas a imprensa peruana já come- çou a cavar as suas próprias informações. Na semana passada, a revista Caretas, que normalmente tende a ser favorável ao Òoverno, disse que os fuzileiros e não os guerrilheiros mataram seis membros de uma igreja evangélica no dia 1° de agosto. Os dirigentes da igreja disseram, cm depoimento oficial, que os fuzileiroí arrancaram as pessoas para fora do culto e ordenaram que o resto da congregação cantasse. Segundo testemunhas, os fuzi- leiros alegaram ter encontrado provas de que a igreja acolhia terroristas. A "pro- va", disseram as testemunhas aos repór- teres, era um depósito de rifles de madei ra e máscaras usadas pelos alunos na parada do Dia da Independência.

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