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\y^ Uíi Mir^ Pegando a manha do HMU flilUli rtinho S liTi

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DlgggRIAL AFRO REGGAE • Ns 34 • MARÇO • 1999

Fala-se muito na capaci dade impressionante do povo brasileiro de se

adaptar a situações adversas, de enfrentar com bom humor os momentos mais difíceis. Coincidência ou não, os acon- tecimentos sempre acabam, de um modo ou de outro, contri- buindo para esta suposta pe- culiaridade brasileira.

Por exemplo agora que, in- felizmente, o país volta a viver dias de incerteza — com a alta do dólar, juros absurdos e a

perspectiva da volta de inflação alta; sem falar no ataque dos pit- bulls nas ruas das cidades — não é que, justamente neste momen- to, nossa Fernanda Montenegro e o filme Central do Brasil vão deixar o Brasil na torcida pelo Oscar, enquanto isso, Gilberto Gil já papou o Grammy, e já se ele- geu uma nova musa: Tiazinha.

Temos visto capas de revistas por aí afirmando, com orgulho, que este (o de Fernanda Monte- negro e Gil) é o Brasil que dá cer- to. Ora, se esse é o Brasil que dá

certo, qual é o que não dá? A resposta a esta pergunta é que cria todos os problemas, uma vez que na relação entre um e outro, vemos que o Brasil que dá certo não faz mais que com- pensar (ou pior: faz a gente es- quecer) o Brasil que não dá.

De todo modo, há vários brasis dando certo, em vários lugares. O que não pode, é esses brasis abafarem os que não dão certo, fazendo-nos esquecer que ainda há muitos problemas a serem resolvidos.

c^íf Salve Salve irmãos do ARN. Poxa, quanto tempo! será que desativou o movimento em prol dos direitos iguais? Tor- ço que não. Nunca mais rece- bi o jornal, o último foi o n- ZS. Estou produzindo um pro- grama de Reggae Roots, esti- lo de São Luis - MA (agarra- dinho). Espero que volte a me enviar os jornais.

Paulo Sérgio - Teresina - PI VaJeu meu amigo Paulo, envi- aremos além deste exemplar alguns números atrasados.

Écio, interesso-me em rece- ber números do ARN.

Sílvio Roberto - Bairro Cabula - Salvador - Ba

Veio ao meu conhecimento algumas informações sobre o Af roReggae, e gostaria de ter a oportunidade de conhecer mais este trabalho, e de rece- ber algumas edições. Janete Ferreira - Pedra Rui-

vas - Paty do Alferes

Gostaria de saber como eu

devo fazer para adquirir um exemplar do ARN. Fernando Terra da Silveira -

Barreto - Niterói - RJ A partir deste enviaremos, para o seu endereço.

Sou leitor do ARN há vários anos, e sempre admirei e tor- ci pelo trabalho de vocês. Mas, infelizmente, parei de recebê-lo em casa. O que aconteceu com o reggae no Rio? Nem shows de bandas internacionais, nem progra- mas de rádio e até os lança- mentos de Cds foram escas- sos. No mais um abração a meu amigo DJAH Tekko !!!

Elpídio Alves Filho - Bairro Olavo Bilao -

Duque de Caxias - RJ

Quando o ARN retorna por mais de duas vezes, automa- ticamente suspendemos a distribuição. Quando enviar sua carta, solicitando receber o ARN, mande um telefone de contato.

(Spãeautu tr

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O AfrO Reggae NotíCÍaS é uma das atividades promovidas pela Entidade Grupo Cultural Afro Reggae, que desenvolve trabalhos sociais nas comunidades de Vigário Geral e Morro Cantagalo, entre elas os de resgate da cidadania através da música, apoio pedagócio e de saúde. Para quem estiver interessado ém contribuir financeiramente com o GCÀR: Banco do Brasil Ag. 0288-7, C/C 62727-5,

GCAR • Grupo Cultural AFRO REGGAE

Coordenador Executivo; José Júnior Tesoureiro: Plácido Pascoal Coordenação de Promoção e Eventos: Luiz Lopes (Teko Rastafari) Coordenadora Social: Márcia Florêncio Coordenador de Circo: Sérgio Henrique Coordenador de Saúde: José Marmo Coordenador do Centro Cultural: Anderson Sá Consultor Adminis,rativo: Romano dos San- tos Editor do Afro Reggae Notícias: Ecio de Salles

Diretoria: Megan Mylan, Mônica Cavalcanti, Plácido Pascoal e Waly Salomão

Conselho Consultivo: Enza Bozetti, Jane Galvão, João Costa Batista, Lorenzo Zanetti, Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana, Moema Valarelli e Victor Valia

ANO VI • Ns 34 • MARÇO DE 1999 Uma publicação bimestral do GCAR

Jorn.Responsável: Monica Cavalcanti (MTb.17.889) Jornalista: Leonardo Lichote da Silva e Paula L. Pinto Revisão: Ecio de Salles Edição de Arte e capa: Luís Henrique Nascimento (021 224 8910) Capa desta edição (foto): Rui Mendes Fotografia: Sérgio Henrique Colaboradores: lerê Ferreira, Oswaldo Guilherme, Jânio Carvalho (BA), Mariano Ramalho, Vanderlei Berzó, Heloísa Bentes, Kabeça, Makandau, Ras Adauto, Regina Valadão, Djalma (Delfa/SP), Bezerra, Athayde Motta, Márcio Libar, Ales Rabelo, Roberto Moura, Arnaldo Allemand Branco Agente Administrativo: Altair Martins Escriturário: Bráulio R. M. Nunes Núcleos Comunitários de Cultura Centro Cultural Afro ReggaeVigário legal Ag. de Projeto: Luís Gustavo, Edilso Maceió, Robson Souza e Rosemary Santos Instrutores: Apache (capoeira), Paulo "Negueba" (percussão), Branco (futebol), lolanda Demétrio (dança aero-rítmica), Michele Costa (dança), Lápis (capoeira), Geo e Olivar (CTO/Teatro) Cantagalo Circo do Mundo: Teatro do Anônimo (instrutores) Programa Baticum: Fábio Conceição, Tekko Rastafari, Guapi Góis, Gisele Sobral e Viviane Motta Agradecimentos: COINTER/UERJ, CTE/ UERJ, ABIA (Jane Galvão), ASHOKA (Maria Néo e Mônica), Associação de Moradores de Vigário Geral {Seu Lins e Renato), CEM João Goulart (Tânia Novo), CAMPO (Hector Watte), Cindy Albertal Lessa, FASE/SAAP, Fundação Ford, IBISS (Nanko Van Buuren), Médicos Sem Fronteiras (Marcelo), M.W. Barroso. Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Jornal dos Sports Sede: Rua Senador Dantas, 117/1508 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20031 - 201 - Tel./Fax: (021) 220 7804 ■ e:mail: [email protected] - home paga: www.afroreggae.org.br

0 JORNAL AFRO REGGAE NOTÍCIAS é uma publicação do GRUPO CULTURAL AFRO REGGAE (GCAR) e nâo se responsabiliza pelas alterações de última hora nos horários e endereços fornecidos pelos organizadores de eventos e empresas citadas. As matérias assinadas são de total responsabilidade de seus autores

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AFRO REGGAE • N9 34 • MARÇO • 1999

Alexandre Lucas, Alexandre Dantas, Julinho Borges e (retornando ao grupo) Abdulah vêm de diferentes pontos cardeais — trabalhos com Fanzine, Conexão Japeri, Fernanda Abreu, Gabriel O Pensador entre outros — e se encontram agora no Ebony Vox, valorizando ainda mais a black music no Brasil. Nesta entrevista ao ARN, Alexandre Lucas conversa um pouco com a gente sobre o trabalho do grupo. Colaborou Leonardo Lichote

ARN - Vamos começar pelo Ebony Vox. Pelo menos por enquanto, três pessoas: você, o Alexandre Dantas e o Júlio Borges... Alexandre - Mas o Abdulah, ele tá começando a se reintegrar ao gru- po. A gente tá entrando numa outra fase, numa outra formação. E essa mudança não é só musical não, ela também é uma mudança de postu- ra, Não que nós vamos mudar radi- calmente, mas a gente quer ter uma nova formação, porque a gente pas- sou por uma experiência e acredita que possa ser uma coisa mais com- pleta. Daí a gente vai poder lançar mão de mais recursos, entendeu? E o Abdulah, na realidade, nunca saiu do grupo, ele simplesmente passou por uma fase de transição, teve que abrir mão do grupo por outras coi- sas, mas tá se reintegrando. Se rein- tegrando nessa nova filosofia, de postura, de música, enfim, de vida.

E - O que que essa postura vai trazer de novidade para o novo CD do Ebony Vox? AL - Eu acho que ela vai trazer um pouco mais de maturidade pro tra- balho. E um pouco mais de alegria. Ela vai trazer até um pouco mais de popularidade. Eu acho que a gente, com a volta do Abdulah, vai ter um outro recurso. Que o Abdulah é um cara muito ligado nessa coisa de massa, já trabalhou muito com pes- soas que eram muito ligadas a gran- des massas. Ele vem duma época áurea, do Funk Brasil, vamos dizer assim, e ele é um cara que sabe mexer muito bem com essa coisa.

E - E, naturalmente, vocês vão se manter no universo do R&B. AL - Exatamente. A gente tá procu- rando cada vez mais se aproximar do nosso público. Eu acho que essa

referência a gente não vai perder nunca porque é uma coisa que é inerente à nossa personalidade. Só que eu acho que a gente tem que se aproximar mais ainda do público brasileiro. Eu acho que não adianta você querer fazer música america- na se você tá no Brasil. Mas, é aquela história, a referência que nós temos é do R&B, é da música negra norte- americana. Então eu acho que isso a gente não vai perder nunca.

ARN - Um caminho que parece ter se aberto agora foi o de o R&B atual, de boa qualidade, se aliando com o hip-hop mais radical, digamos assim, que vem surgindo no Rio de Janeiro, por vários grupos, inclusive o MV Bill que, aliás, participou do CD de vocês, como o Dantas participou do dele. Esse parece ser o caminho que tá se desenhando, não é? A - É verdade. Justamente a fusão dessas culturas. Eu acho que nos próprio Estados Unidos, hoje em dia, esse tipo de musicalidade, ele tem toda essa fusão, tem toda essa influ- ência. É um completando o outro.

ARN - Qual é a previsão pra esse novo trabalho? Vocês já estão em estão em estúdio, trabalhando, já estão escolhendo música...? AL - Já estamos trabalhando, sim. Existem duas gravadoras super in- teressadas no trabalho, a gente já tá buscando repertório. A gente

acredita que no meio do ano a gen- te já tá com o trabalho pronto aí, um trabalho que a gente mais uma vez faz com muito carinho, que a gente queria oferecer mesmo antes de ser lançado a todos os nossos fãs, aqueles que gostam do Ebony Vox, porque o Ebony Vox ele já... ele pra nós já aconteceu no nosso meio, no meio dos músicos. No meio artístico as pessoas já acredi- tam muito no Ebony Vox.

ARN - É isso que você chama de "chegar mais perto do público"... AL - É verdade. A gente precisa re- almente estar nas rádios, estar perto do público. Você sabe que isso não depende só da gente. Isso aí depen- de de toda uma assessoria, de uma gravadora muito interessada em tra- balhar, de um empresário bom. Por- que não adianta você fazer um dis- co bom pra caramba e ser um disco secreto, né? Ele tem que ser um dis- co que as pessoas possam ouvir.

ARN - Bem, Lucas, tem alguma coisa que você acha que seria interessante falar... AL - É sempre interessante citar que o nosso trabalho, ele tem uma pre- ocupação muito grande com a nos- sa origem, com a nossa verdade. Eu acho que uma das coisas com que a gente sempre se preocupou é em passar aquilo que a gente sente, in- dependente de crítica, independen- te do que vão pensar.

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AFRO REGGAE » Ns 34 • MARÇO • 1999

ADMINISTRADO A SERIO DJTR

Eleja ganhou a vida como camelô nas ruas de Madureira (RJ), foi também um dos idealizadores do maior baile black ao ar livre do Rio, o Projeto Charme na Rua. E hoje, aos 36 anos, é responsável pela trajetória artística de personalidades do Rap nacional, como Racionais MCs, G.O.G. RZOeMVBill, assumindo o papel de diretor da renomada gravadora paulista ZÂMBIA Fonográfica, no Rio de Janeiro. Celso Athaíde é o destaque desse mês, mostrando um pouco do seu lado empresarial e, ao contrário de muitos empresários de gravadoras, o seu lado ideológico para com o povo negro. Confira...

TR: Quando e como foi o seu primeiro contato com o Hip-Hop? Celso Athayde: Foi a partir do Pro- jeto Charme na Rua, onde o Rap já tocava na seqüência do baile. Agora o contato mais direto foi quando eu tive a idéia de comemorar a festa de aniversário do Charme na Rua, e rea- lizei uma pesquisa para saber quem o pú- blico queria como ar- tista para fazer parte da festa, e descobri que as pessoas queri- am artistas como Ra- cionais e Sampa Crew. E a partir do contato com o Milton Salles e o KL Jay dos Racionais, descobri que eles tam- bém estavam a minha procura. Após a festa com a participação dos Racionais recebi o convite para trabalhar com a distribuição de seu material no Rio, o que recusei, pois achava que eles deveriam procu- rar alguém do movimento para representá-los, e porque eu os achava muitos radicais. Eles disse- ram que o fato de eu fazer ou não fazer parte do movimento não fa- zia diferença e que procuravam al- guém com o meu perfil. Comecei apenas distribuindo, eles ficaram surpresos com os resultados e me chamaram para atuar na produção dos seus shows também aqui no Rio. A Zâmbia tomou conhecimen- to por fazer a distribuição dos Ra- cionais e me convidou para representá-la no Rio, e hoje assu- mo a função de articulador. E, em outubro deste ano, a Zâmbia esta- rá montando mais dois núcleos, um em Fortaleza e outro na Bahia, onde serei também o responsável.

TR: Todos sabemos que o Hip- Hop se nega expor-se na mídia devido às divergências ideológicas e às fortes manipulações que resultam na grande dificuldade de divulgar

O fato é que as gravadoras

estão se antenando para uma

realidade que é a expansão

do rap

nossos produtos. Mesmo assim você aceitou o convite da Zâmbia, por quê? CA: Hoje mesmo recebi um convi- te para trabalhar na Sony Music, re- presentando um selo que fará par- te de um elenco de artistas negros, e eu recusei. Era um

salário bastante consi- derável, e a questão é muito simples: A Sony acredita que eu tenho o know-how que ela deseja, devido ao show de lançamento do CD do MV Bill no próximo dia 3 de abril, onde ninguém conse- guiu reunir no Brasil uma soma tão grande

de artistas numa só festa dentro da favela e ao ar livre. O fato é que as gravadoras estão se antenando para uma realidade que é a expansão do rap; só que o rap radical, ele tem um compromisso muito maior do que a venda de CDs. Ele tem um com- ^Immmiimmmm

promisso real que vai a favor das maiorias marginalizadas, que é o povo preto das fa- velas e dos presídios. A partir do momento em que eu conquistei o meu know-how pe- rante essa realidade, ao lado desses artistas mais radicais, que de- fendem essa postura, eu não posso trair es- ^a^^mÊmm

sas pessoas e ir pra Sony em troca de um bom salário. Foram esses artistas que me proje- taram, foi essa ideologia que me projetou e me convenceu de que eu estava trilhando o caminho cer- to — ninguém cai de pára-quedas no Hip-Hop pura e simplesmente. O Rap quer formar adeptos, con- verter pessoas para a sua linha, fa- zer com que as pessoas caminhem lado a lado com a verdade e conscientizem cada vez mais um número maior de pessoas. Simples-

E bom ressaltar que a Zâmbia

não está homenageando o Escadinha e nem nenhum

artista da coletânea está

envolvido nesse propósito

mente me convenci de que este é o caminho correto e estou nele.

TR: A Zâmbia está realizando uma coletânea sobre a vida do legendário traficante Escadinha. Como está o andamento desse projeto? CA: É bom ressaltar que a Zâmbia não está homenageando o Escadi- nha e nem nenhum artista da co- letânea está envolvido nesse pro- pósito. A Zâmbia foi convidada por artistas de Rap de várias gravado- ras, que perceberam que ela é a gravadora que mais se antena com o que o Escadinha representa. A outra razão é que entendeu-se que a Zâmbia seria a única gravadora que aceitaria abrir mão dos recur- sos do disco para o Escadinha, por- que é o nosso propósito. Esse dis- co não intenciona fazer apologia ao crime e muito menos defender o Escadinha — quem tem que de- fender o Escadinha é o advogado dele. O Rap quer apenas sair do discurso teórico e passar à prática. Existem centenas de pessoas na mesma situação do Escadinha, que é ter a pena cumprida e não res- peitada pela justiça. O presidiário que não tem dinheiro fica ã mercê da justiça gratuita, podendo ter ou não um advogado, às vezes cum- prindo 6 ou 7 anos a mais do que devia. Escadinha cumpriu um ter- ço da pena dele, e a lei faculta a ele o direito de sair em regime semi-aberto; a justiça não pode pré julgar que ele voltará a traficar, caso aconteça, nós concordamos plena- mente em que seja feito o papel da justiça. Mas, entendemos tam- bém que a justiça no Brasil não dá condições pra ninguém se recupe-

rar. ^^^^^^ O rap é um elemento

de transformação, e a gente que vive no meio sabe que muitas pessoas já se recupe- raram, o que é o caso do próprio M.V. Bill e dos Racionais, que en- contraram no Rap uma nova oportunidade. Sabemos que existem facções nos presídios que divergem entre si. Elas existem até por uma questão de so-

brevivência. Nem os Racionais, o Marcelo D2, o Consciência Huma- na, o X do Câmbio Negro ou o M.V. Bill estão preocupados com as diferenças políticas entre os tra- ficantes. Eles estão preocupados em trazer à tona pra sociedade uma discussão que é a relação entre a lei, a favela e a população carce- rária, a partir do momento em que elas são as pessoas menos assisti- das e muito mais expostas à mar- ginalidade.

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AFRO REGGAE • Na 34 • MARÇO • 1999

Play list 98 BYDJ"A"

1- Consciência humana - Consciência humana

2- Cooperativa (RJ) - Atitude

3- MV Bili - Traficando informação

4- Câmbio Negro - Um tipo acima de qualquer suspeita

5- Racionais MCs - Diário de um detento

6- Ryo Radycai Repz - 3 R'Z (Rap de guerra)

7- Filhos do Gueto (RJ) - Cotidiano do desempregado

8- G.O.G. - Brasília periférica (RMX)

9- Pivete e Branco - Poder da voz

10- Marcelo D2 - Mantenha o respeito 2

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■ Hip-Hop pelo Rio: Foi a grande ini- ciativa dos grupos cariocas Disciplina Urbana, Juízo Crítico, Ryo Radikal Repz, Filhos do Gueto, Tito, Manifesto 021, Contexto e DJ Cleston, que não se acomodaram e formaram a coletâ- nea independente Hip-Hop pelo Rio. Eclética e autêntica, a coletânea mos- tra as 1001 faces da dura realidade carioca em forma de Rap. Parabéns a Def Yuri e equipe, que provaram que quem quer faz e não fica esperando convite de gravadora. Maiores infor- mações; (021 )248-6364 (Dyak Produ- ções) Caixa Postal 11 086 - CEP 20236-970 (RJ)

■ Balançando sem perder a base: Após uma longa temporada residindo em Sampa, o rapper carioca Big Richard está de volta ao Rio com o seu primei- ro trabalho: Balançando sem perder a base, lançado pelo selo worid mu- sic da gravadora Laser Records. Big provou ser inovador no cenário do Rap nacional mesclando em seu CD per- cussões abrasileiradas, passando pelo samba e completando com alguns temperos de Acid Jazz. Destaque para as faixas "Deixa isso pra lá" (uma re- gravação do grande sucesso de Jair Rodrigues, em versão samba/rap), "Depressão" e "Não compre, plante".

■ Em abril a CDD vai mandar fechado: Dia 03 de abril já está sendo conside- rado o dia do maior evento de hip-hop do Brasil. Será o lançamento do ra- pper carioca M.V. Bill, com o CD CDD Mandando Fechado, que marca tam- bém a presença da gravadora Zâmbia Fonográfica, estimulando o crescimen- to do Rap carioca. 0 show será na praça principal da Cidade de Deus (fa- vela onde Bill nasceu e vive até hoje), totalmente grátis. Presenças já con- firmadas de RZ0, G.O.G., Visão de Rua, Marcelo D2, Consciência Humana, Gabriel 0 Pensador, Câmbio Negro, P.M.C. e DJ Deco e participação espe- cial do grupo de R&B Ebony Vox. 0 evento tem a previsão de começar às 20 horas, sem hora pra acabar. Eu vou, e você? Vai ficar assistindo novela?

■ Hip-Hop em movimento: Foi a pa- lestra que rolou no último dia 20 de fevereiro em BH, feita por mim, com a ajuda dos manos Kaô (MH20 - For- taleza) e Stanley Phrase (Movimento Hip-Hop de Chicago - EUA), na inten- ção de discutir e definir o papel polí- tico e social do Hip-Hop junto às co- munidades mineiras. Agradeço des- de já o convite dos manos Eaze (C.O.R.J.A.), Bruno C. e a rádio Fave- la FM - BH, me colocando à disposi- ção de outros Estados que desejem discutir o posicionamento do Hip- Hop, enquanto um movimento de transformação de massa.

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AFRO REGGAE • Ne 34 • MARÇO • 1999

Por: Ecio de Salles

Dizem que santo de casa não faz milagre. Pode ser verdade, porém hoje, em São Luís do Maranhão — uma cidade tão "reggae" que é apelidada de Jamaica brasileira, produziu-se um pequeno milagre, provando que nem sempre "quem com ferro fere com ferro será ferido" (Talvez porque "o reggae quando bate você nunca sente dor".) E o milagre atende pelo nome de Tribo dejah, cujos integrantes são: Fauzi Beydoun - guitarra base e vocal; José Orlando - percussão e vocal; Aquiles Rabelo - baixo; João Rodrigues - bateria; Alexsandro Enes (Neto) - guitarra solo; Francisco

Santos (Frazão) - teclados.

Agora a Tribo vem de novo CD: "Reggae na estrada". Título, aliás, muito a propósito, já

que neste terceiro CD o grupo pôs literalmente o ritmo reggae na estra- da. E no caminho dessa estrada rea- lizam felizes encontros com outros rit- mos — o pop, o funk, o rap, o blues — sempre baseados no toque de uma percussão pra lá de brasileira. (É isso e a voz do Fauzi que singularizam o grupo.)

Outra coisa que salta aos olhos (ou aos ouvidos) já na primeira audição do disco é que a filiação da Tribo ao reggae — um ritmo que, aqui como lá, nasceu e aconteceu na periferia, cultivado pelos negros, e depois ga- nhou o(s) centro(s) no mundo inteiro — se dá não só pelo viés musical, mas pelo político também: denunci- ando as injustiças sociais e posicionando-se claramente a favor dos excluídos de nossa sociedade. Pra citar um só exemplo, na fai xa Quinhentos anos de história diz a letra: "500 anos de his- tória/ Se não me falha a memó-

ria/ Não há muito que comemorar." E por aí vai. Descendo a lenha.

E além do musical e do político, há ainda o viés religioso e mais o tema do amor, muito presentes no CD. O pessoal da Tribo não é rastafari, é cris- tão. Mas acima de quaisquer juízos e preconceitos, o reggae — como, de resto, quase todas as manifestações da cultura africana espalhadas pelo mun- do — é igualmente forma de expres- são da fé e religiosidade de um povo. Reggae na estrada é também um ca- minho para o coração, sem pieguices.

Tem mais: pra quem gosta de dan- çar, Reggae na estrada não decepcio- na. Se eu fosse obrigado a usar só três palavras pra definir este trabalho eu diria: "reflexão, fé, diversão." Mas talvez essa definição simplista não desse conta do alcance do CD; acon- tece que o espaço na página é pou- co, a Tribo de Jah é muito. (No en- tanto, certamente estes maranhenses

universais visitarão mais vezes as pá- ginas deste veículo [e de outros].

Eles merecem!) Por enquan- to, se liga na crítica que

nosso amigo Tekko Rastafari fez do traba-

lho novo dos caras; é na página 15.

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AFRO REGGAE • Ne 34 • MARÇO • 1999

ABRINDO A

Esta coluna é pautada e redigida pelos jovens (participantes dos projetos do Grupo Cultural Afro Reggae) moradores do Parque Proletário de Vigário Geral, como Jacson Inácio (15), autor da presente matéria (sobre a oficina de capoeira do GCAR em Vigário, parceria com o Abada, de Mestre Camisa).

Oficina de capoeira Chegou em Vigário no

ano de 1995 mais uma oportunidade para

combater o tráfico de drogas. E por incrível que pareça não era um curso profissionalizante e sim um que há uns anos atrás era considerado crime e hoje combate o crime, no sentido de chamar a atenção das pessoas que poderiam se envolver no no T.D. (abreviatura de tráfico de drogas).

Hoje em dia uma das pesso- as que era aluno na oficina de capoeira já se tornou um instru- tor do GCAR: Juninho, conhe- cido na capoeira como Lápis. Ele dá aulas para iniciantes na comunidade, e para ajudá-lo

existem ainda os instrutores ju- niores, que são o Jorge "Negui- nho" (Malzibier na Capoeira) e o Romildo (Mantena), e o mo- nitor Jacson, que sou eu (meu apelido na capoeira é Jambo).

Os três instrutores (Juninho, Jorge e Romildo) fazem aula no Humaitá com o Mestre Camisa e atualmente participam do Es- petáculo Nova Cara, da Banda AfroReggae.

Pra terminar eu gostaria de dizer que graças à Oficina de Capoeira do Afro Reggae eu não perdi dois amigos, que poderi- am seguir um caminho sem vol- ta. As oficinas acontecem às terças, àsl5 horas e quintas, às 9 horas, em Vigário Geral.

Sérgio Henrique

M.W. Barroso Silk Screen Ltda. Rio : Rua Alvarenga Peixoto, 80 • Vigário Geral • RJ • CEP 21240-690 -Tel.: (021) 372 4955 • Fax: (021) 371 7110 • Telex: (021) 35358 • São Paulo: Av. Brigadeiro Faria Lima, 830 • Conj. 64 • Pinheiros • SP • CEP 01452-000 • Tel.: (011) 210 6122 • Fax: (011) 212 2759

DANDO VIDA A SUA IMAGEM .■«VíVIVíVíV.V.VAM.».».».» .<.»«> tm^t i ••«'«"«.■«'«tTiTiv. . . t . i » VVri^VVHtViVéVrtWiV.VVWiV.V.M.t.M.M.*

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AFRO REGGAE • N9 34 • MARÇO • 1999 AFRO REGGAE • Nfi 34 • MARÇO '1999

O som é pesado e a voz

de "X" sobressai

acompanhada na

medida exata pelo

contrabaixo de Daniel,

pela guitarra de Bell,

pela bateria de Ritchie

e pelos efeitos e batidas

do DJ Marcelinho. A

música do grupo, tem

uma identidade muito

própria, chega a ser

difícil rotulá-la; as

letras são inteligentes

e, como não poderia

deixar de ser,

bombardeiam sem

piedade as

contradições da

sociedade em que

vivemos. É o Câmbio

Negro, que vem com

tudo em seu novo disco,

o terceiro do grupo,

lançado pela

gravadora Trama,

intitulado

simplesmente Câmbio

Negro. Precisa mais?!

ARN: "X", conte-nos um pouco de sua história até a formação do Câmbio Negro, e como surgiu seu apelido. Já freqüentava bailes e comecei a dançar break em 1983. Participei de um concurso em 1989 no qual os concorrentes tinham que ter um nome artístico . Eu escolhi "X" pelo fato da letra "x" fazer parte do meu nome. Em 90 formei o Câmbio (for- mação tradicional: rapper.e DJ) e em novembro de 93, após lançar o primeiro disco - "Sub-raça" - formamos a banda (batera, baixo, guitarra, DJ e vocal).'

ARN: Como você avalia os três CD's do grupo? Gostamos dos três. Cada um tem um estilo, uma forma diferente, porém achamos que o terceiro (CÂMBIO NEGRO) mostra clara- mente um amadurecimento musi- cal da banda.

ARN: Em que medida na sua opinião, o fato de o grupo estar vivendo em São Paulo contribui positivamente? Pelo fato de termos mais acesso aos meios de comunicação (jornais, revistas etc.) e também porque es- tando aqui pretendemos facilitar o trabalho dos promotores de sho- ws, facilitando assim nossa contra- tação para shows e eventos.

ARN: E o que você diria de Brasília atualmente (a cidade, o movimento hip-hop, produ- ção cultural etc.)? E de Ceilân- dia, terra natal do grupo? Brasília vai passar por um período extremamente difícil nos próximos quatro anos, principalmente na área cultural. Mas acreditamos no po- der de renovação que nosso povo tem. O hip-hop no Distrito Federal em geral está crescendo, surgindo a cada dia novos grupos. Alguns muito bons, outros, como em todos os movimentos, apenas medíocres. De Ceilândia, posso destacar a for-

fotos Rui Mendes

ç a d e vonta de de ^ alguns: "Os 3 S grafiteiros", "DF Zulu Bre- ackers", grupo de Rap "Falso Sis- tema" e, infelizmen te, o fato de sermos es- ^W quecidos pelo governo. ^

ARN: No release de vocês fala-se em "sonoridade única do Câmbio Negro". A que você acha que se deve essa sonori- dade? Consiste no conhecimento de cada um da banda, na vontade de cres- cer e principalmente, na consci- ência de fazer um trabalho com personalidade e características pró- prias, sem copiar, mas sim criar o nosso som.

ARN: Como se dá a aliança do grupo com as outras frentes do Movimento - o break e o grafitti? Para nós se dá naturalmente por- que nunca nos desligamos do Hip- Hop, pelo contrário, procuramos

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sem- pre exaltá-lo,

com breakers nos clips, scratches no nosso som etc.

ARN: O que você diria da produção do Edu K.? Bom amigo, ótimo produtor, ex- celente profissional. Resultado: óti- mo trabalho. Estamos satisfeitos.

ARN: Como foi a história com o Supa MC TC Izlam, filho do histórico África Bambaataa (e como foi feita a faixa que cita o cara)? Ele estava no Brasil com uma ban- da de amigos. Os caras voltaram para os EUA mas passaram o con- tato de Adriana Pena (diretora de marketing da gravadora Trama) para eventual contato. Ele ligou para ela, que comentou que estávamos em estúdio. No outro dia, ele foi ao Be Bop. Ouviu algumas músicas, gos- tou do som e resolveu fazer uma.

faixa conos-

co. Foi uma honra

e um golpe de sorte.

ARN: Vocês têm incorpora-

do vários instru- ^F' mentos "estranhos" à

tradição do hip-hop (pelo menos na visão dos

mais ortodoxos), além de rit- mos diferentes (como na músi- ca necronomicon). Como a ga- lera do "movimento" aí de Sam- pa - e de Brasília ou do Brasil inteiro — encara essas "novida- des"? Rola muito preconceito contra vocês? Preconceito sempre rola. Porém a aceitação tem sido ótima em todo o país, superando infinitamente as críticas. O fato de misturarmos vá- rios elementos ao nosso som, às vezes causa impacto. Mas no geral agrada, depois de compreendido.

ARN: Quais são os planos do Câmbio para este ano, além de divulgar o disco é claro? Pensar no próximo disco, tocar, conhecer novas pessoas, cultu- ras, cidades e, porque não?, ou- tros países.

ARN: O grupo, ou algum de seus membros, atua em outras frentes (grife, outras bandas, internet e por aí)?

Só nos dedicamos ao trabalho, em desenvolvê-lo da melhor maneira possível. Às vezes, contamos com a ajuda de pessoas como Osvaldo Gomes, que desenvolveu nossa página na internet, (http:// nicolau.net/cambionegro/)

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10 AFRO REGGAE • Ns 34 • MARÇO • 1999

na terra ^ \

Oreggae é a forma de expressão de um povo pobre, oprimido em guetos

miseráveis e violentos: Trenchtown, Shantytown, imensas favelas que dominam a cidade de Kingston, capital da Jamaica.

A ilha de Xamayca, ou dos mananciais, recebeu a visita de Cristóvão Colombo, em 1494, com uma platéia de índios arawaks, que talvez não desconfiassem que não iria passar um século e não haveria nem um selvagem vivo na ilha, dizimados por doenças venéreas, gripes e pela religião católica. Em 1517, desembarcaram os primeiros negros vindos da África como mão-de-obra escrava. Em 1655, os espanhóis eram expulsos pelos piratas comandados pelo corsário inglês Francis Drake — que, pela façanha, foi agraciado com o título de sir, por Sua Majestade, a rainha da Inglaterra.

A ilha foi o centro da exportação escravagista, uma das principais fontes de renda da coroa inglesa junto à pirataria, no Caribe.

Rum, piratas e batuques na senzala — é este o background histórico da decantada Ilha do Sol, de hotéis luxuosos e turismo de primeira classe. At the funk side, pobreza, fome, tráfico de drogas, prostituição e roubo acalentados pelo alto índice de desemprego.

RAÍZES Para compreender o reggae é

necessário pequenos mergulhos na cultura de um povo

extremamente místico; e na raiz deste misticismo, por vezes altamente contraditório, está a figura do reverendo Marcus Mosiah Garvey. Ativista negro, criador do pan-africanismo, anarquista religioso, foi o codificador da seita ã qual o reggae está estritamente ligado — o rastafarianismo.

Marcus esteve em Nova York na década de 20, exortando a consciência anti-racista e afirmando os princípios da negritude. Passeava pelas ruas do Harlem em carro aberto, trajando vestes napoleônicas e fundou a companhia de apoio ao retorno ã África — The Black Starline — e United Negro Improvement Association, célula revolucionária que tinha por lema "Say it loud, Pm black and Pm proud", refrão retomado, quarenta anos depois, por James Brown. Marcus agitou muito e foi expulso em 1927, retornando ao seu torrão, a Jamaica colonial, onde deitou as leis do rastafari.

Surge a grande contradição cultural que paira sobre os rastas. Marcus profetizava a coroação de um rei africano que promoveria o retorno de todos os negros ao solo da mãe África. Acontece que, em plena euforia rasta, foi coroado, em 1930, Lij Ras Tafari Makonnen, filho legítimo do Ras Makonnen de Harar, 225s imperador da Abissínia como eleito de Deus, Senhor dos Senhores, Rei dos Reis, Leão Conquistador da Tribo de Judá, Sua Majestade Imperial Hailé Selassié I, Poder da Santíssima Trindade, 226e rei da dinastia etíope, de 3 mil anos. Leonard Howell, principal

colaborador de Marcus e estudioso de línguas e tradições africanas, convenceu (-se) o reverendo de que Hailé era o rei esperado.

Estava encontrado, afinal, o último detalhe para encabeçar a seita que mistura judaísmo, maconha, negritude, tradições religiosas e mágicas dos indígenas desaparecidos e da África.

Acontece também que, tirando a sua resistência heróica contra o fascismo de Mussolini, Hailé Selassié nunca fez mais nada além de assistir, de seu

faraônico palácio em Adis Abeba, ã fome agônica do povo etíope, que perecia com o nome do líder nos lábios famintos. Acontece, também, que até a sua morte Hailé não moveu uma palha em prol do êxodo negro!

Agradecemos a cessão do material à Editora Siciliano.

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AFRO REGGAE » Ng 34 • MARÇO • 1999 11

feL Parabéns pro GCAR

28.01 - QUINTA-FEIRA, À TARDE, muito calor, e o Afro Reggae comemorava seis anos de fundação. Houve a apresentação de cada projeto do GCAR (Oficina de Capoeira, Usina Musical, Circo do Mundo- Cantagalo, Banda AfroReggae II, Trupe da Saúde, Afro Lata e a Banda AfroReggae, apresentando trecho do espetáculo Nova Cara). Neste dia, várias pessoas foram homenageadas pela participação positiva na história do Afro Reggae nestes seis anos: O prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde; Augusto Boal, Nanko van Buuren (IBISS), Marcelo Yuca (Rappa), e mais um monte de gente boa que, infelizmente, não caberia listar aqui.

c&c Documentário brasileiro é premiado

O documentário ODÔ-YÁ! Vida com AIDS, da diretora Tânia Cypriano, baseado na campanha de prevenção do HlV/AIDS nos terreiros de candomblé e umbanda desenvolvida pelo dentista José Marmo da Silva, no Rio de Janeiro, acaba de ganhar importante prêmio da indústria cinematográfica americana: ODÔ-YÁ! Vida com AIDS foi

antenas escolhido como melhor filme documentário no Pan African Film Festival, o maior festival de cinema negro dos EUA,

patrocinado pelos grandes estúdios de Holywood.

O filme conta com depoimentos de pais e mães de santo, mostra a festa de lemanjá na Bahia, além da campanha de prevenção desenvolvida no carnaval dos blocos afro de Salvador.

ODÔ-YÁ não é um filme só sobre AIDS, pois retrata também a importância da cultura afro- brasileira na vida das pessoas.

No próximo dia 18 de abril José Marmo estará embarcando para os Estados Unidos a convite do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) para a

exibição do documentário na cinemateca do museu e participar da campanha de promoção do documentário em outras cidades americanas.

ODÔ-YÁ também será exibido no Brasil no dia 14 de abril de 1999, na Universidade do Estado

do Rio de Janeiro.

congada de Minas Gerais. O projeto conta com o apoio do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente.

fe^

100!

Paulo Negueba é

O jovem Paulo Sérgio dos Santos Dias, o Paulo Negueba (17), morador de Vigário Geral e uma das estrelas da Banda AfroReggae, foi um dos escolhidos pela revista Veja Rio (edição de 18 a 24 de janeiro de 99) como um dos 100 cariocas de Ouem Você Vai Ouvir Falar No Século 21.

^£c Batuque Legal

GCAR NA INTERNET

O Grupo Cultural Afro Reggae agora tem endereço na Internet. O Site foi lançado com um evento na Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM, do qual participaram o Jornalista Zuenir Ventura, o arquiteto Manoel Ribeiro e José Júnior (coordenador executivo do GCAR), Anderson Sá (Coordenador do Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal) e Ecio de Salles (Editor do Jornal Afro Reggae Notícias). O endereço da página do GCAR é: www.afroreaaae.org.br.

Foi inaugurado em Vigário Geral o projeto Batuque Legal. O projeto consiste em Cursos que buscam ressocializar os jovens moradores desta comunidade, trabalhando também com uma perspectiva de profissionalização através da música, fazendo o resgate de ritmos e manifestações culturais de vários estados do país, como samba do Rio de Janeiro, o maracatu do Recife ou a

^

Nelson Meireles em Vigário

Dia 23 de março o músico e produtor musical Nelson Meireles estará dando workshop de contrabaixo em VG. A atividade é parte da programação do projeto Usina Musical, que o GCAR desenvolve em Vigário Geral, e acontecerá às 10 horas da manhã no Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal.

ÍCPLW&P A 4Atí?^A Este projeto consiste em ensaios

abertos do espetáculo Nova Cara da Banda AfroReggae em escolas públicas e particulares na Cidade do Rio de Janeiro. A intenção é mostrar aos jovens estudantes um resultado positivo de um projeto sócio-cultural que deu certo, com o apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Todos os artistas que

integram o espetáculo são oriundos da favela de Vigário Geral e até bem pouco tempo não tinham muitas perspectivas em suas vidas. Queremos que os alunos das escolas criem afinidades com os jovens do espetáculo, já que os mesmos tem a mesma idade e em alguns casos moram em locais similares.

A Banda AfroReggae fará 4

apresentações por mês (uma por semana) em escolas de interesse do Programa da Juventude e do próprio GCAR. Exemplo: CE. Presidente João Goulart no Morro do Cantagalo, Escola Americana, na Gávea etc. 0 GCAR conta com todos aqueles que se disponham a apoiar este projeto: (021)220-7804 ou (021)9917-0555

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12 AFRO REGGAE • Na 34 • MARÇO • 1999

Rosana Heringer*

Estive na Costa Rica no final de 1998, por três semanas,

•••^rparticipando de um curso promovido pela sede local da FLACSO - Faculdade Latino-Ame- ricana de Ciências Sociais. Locali- zada na América Central, a Costa Rica é mais ou menos do tamanho do estado do Rio de Janeiro, com cerca de 3 milhões de habitantes (metade da população da cidade do Rio de Janeiro). Trata-se de uma das mais estáveis democracias la- tino-americanas, e sua economia baseia-se principalmente na expor- tação de café e no turismo.

Após circular alguns dias pela capital, comecei a ficar curiosa em relação à composição étnica e ra- cial do país. À primeira vista, a população é majoritariamente branca, com alguma presença de pessoas de origem indígena. Os negros são poucos. Aproximo-me de duas costarriquenhas que par- ticipavam do curso (uma branca e uma negra) e pergunto sobre a his- tória da colonização ^^^^^^^ do país e a composi-

ção da população (número de brancos, negros e indígenas).

As respostas são curtas e diretas: - "Aqui não tivemos escravidão". - "Nem sabemos exatamente qual é a composição racial da população, porque aqui não nos preocupamos em nos classificar desta forma. Afi- nal, somos todos iguais. Somos to- dos costarriquenhos."

m&A ^y^s^

parte das duas amigas. Era melhor mudar de assunto. No fim de se- mana livre, o grupo decidia que passeios iria fazer. Dividiam-se en-

tre visitas a vulcões e a centros de compra de artesanato. Mani- festei meu desejo de ir a Limón, a provín- cia mais caribenha do país, onde está concentrada a popu- lação negra.

Após algumas ob- servações irônicas de alguns participantes

("Entonces, te gustan los negros?"), parti num ônibus em direção à costa atlântica do país. Limón é uma cidade histórica, de arquite-

Senti um certo desconforto por tura colonial, e um dos portos mais

À primeira vista, a população é

majoritariamente branca, com

alguma presença de pessoas de

origem indígena. Os negros são

poucos.

^^emorô Vv/.v.Vv O reggae subiu pras montanhas . «V.-"V- -V

amaica ♦ campitig muito som*

cultura rasta. cachoeiras*

caminhadas.

.café da manhã .lanches naturais .sucos e drinks

Jaricas

Sana: a uma hora de Casimiro de Abreu-BK 101, a 2 horas da Kio de Janeiro contatos: (021) 711-8901- Caixa postal: 109.903- Casimiro de Abreu-RJ

importantes do país. A população é predominantemente negra e fala um idioma que mistura o inglês jamaicano e palavras do espanhol. Nas ruas ouve-se re- ggae, caiipso e rap, e os jovens se ves- tem seguindo o esti- lo dos rappers nor- te-americanos.

Começo a con- versar com os locais, buscando saber mais sobre a história da- quela região e do seu povo. Fico sa- bendo que os negros chegaram a Limón em meados do século XIX, vindos da Jamaica, como trabalha- dores livres, para a construção da primeira estrada de ferro do país. Alguns voltaram depois que as obras terminaram, mas a maioria ficou, basicamente na mesma re- gião. Poucos saem para estudar ou trabalhar em San José. Sabem que

Não parece concidência o fato de que a

província mais pobre do país seja também a

que concentra a maior parte da

população negra.

precisam de mais opções de tra- balho na região e que é necessá- rio saber falar "inglês de verdade" ou espanhol para ter mais oportu- nidades.

O discurso da integração, po- rém, permanece presente:

-"Somos todos costarriquenhos e não há racismo neste país."

No ônibus de volta para San José fico pensando em tudo aquilo.

Não parece concidência o fato de que a província mais pobre do país seja também a que concentra a maior parte da população negra.

Abro distraidamente um livro que comprei sobre a história da construção da ferrovia. À certa al- tura vejo a referência a um decre- to do início do século, que proi- bia que os negros de Limón se deslocassem para San José. Esta lei só foi abolida em 1948.

Fecho o livro e penso no dis- curso sobre p passado que ouvi dos costarriquenhos, negros e brancos. Foram unânimes em con- tar que não houve escravidão no país e em omitir que ali já houve ^^^^^^ uma lei de segrega-

ção dos negros. O passado é reconstru- ído a partir de uma história comum, não- discriminatória, uma democracia racial.

A comparação com o Brasil é inevi- tável. Tal como os costarriquenhos, ba- seados na noção de

democracia racial, nos recusamos a reconhecer a desigualdade exis- tente no presente. E seguimos di- zendo ao mundo que somos o produto da feliz união das três raças.

*Doutora em Sociologia e pesquisadora do IERÊ (Instituto de Estudos Raciais e Étnicos).

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™ AFRO REGGAE • Ne 34 • MARÇO • 1999

Você poderia contar um pouco de sua história? EU SOU NASCIDO E CRIADO em Realengo, onde vivi de 1941 até 1969- Desde os 14 ou 15 anos, eu já tocava em baile com a rapazeada. Freqüentava o exército. Meu pai tinha uma vila de casas para militares alugarem, e foi aí que eu conheci pessoas que tinham bandas de música. No bairro, tinha turma de chorinho, música nordestina, macumba, candomblé... Toquei num conjunto famoso, o conjunto "Flamengo", que era conhecido por fazer os melhores bailes do subúrbio, de Santa Cruz até o Méier. Depois deste grupo, percebi que, em terra de cego, quem tem um olho é rei. (Risos)]% estava na hora de sair... Aí, fui para os cabarés da vida: Praça Mauá, dancings da Av. Rio Branco, boates... Até chegar na Zona Sul, onde eu toquei em todas as casas importantes da época: Copacabana Palace, a boate Drink, que pertencia ao Cauby Peixoto e ao Djalma Ferreira... Em 69, eu gravei o primeiro disco do Milton Nascimento e, no ano seguinte, montamos um grupo para acompanhá-lo. Este grupo durou quatro anos e a minha convivência com o Milton já dura quase trinta. Gravei todos os discos dele, com exceção do "Minas", porque eu estava nos Estados Unidos. A minha trajetória, através da música do Milton, se esticou pelo mundo inteiro: Europa, África, Canadá, Japão...

Nós do ARN conversamos com o Paulo Moura sobre o fato de os melhores instrumentistas brasileiros fazerem mais sucesso fora do país do que aqui. Na sua opinião, por que isso acontece? O PROBLEMA É DO GOVERNO mesmo. As Secretarias de Cultura aqui investem em outras coisas, nem olham para os instrumentistas. Empresários nunca querem apostar nisso, só querem o retorno imediato... Mas, como diz o Caetano, eu gosto muito do Brasil. Então, eu vou lutar para fazer minha carreira aqui. Eu sou reconhecido como baterista em vários lugares do mundo e do Brasil porque eu lutei por isso. Assumi esta concepção de instrumentista, e levantei, por exemplo, a bandeira do baterista — o percussionista sofre muito preconceito. Eu até não tenho muito do que reclamar, mas acho que devo agradecer a mim mesmo, porque esta luta foi minha. A sobrevivência do instrumentista brasileiro, na verdade, vem de acompanhar cantor. Aí, ele compra carro do ano, um apê, chinelão e pijama, e vai ver o Faustão... CRJsosJ

CADERNO 13

Robertinho Silva:

Esta estrutura de vida que você tem hoje foi te dada pela sua

família ou pelo trabalho com a música?

FOI A MÚSICA, PORQUE eu me esforço muito. Agora eu tenho um

apê na Barra, uma casa onde às vezes é um centro de percussão...

Mas é sempre bom ter conforto para viver bem, ter uma casa com uma

boa piscina, ter um sítio para levar as crianças... Quem não gosta de

uma grana? Só que, no Brasil, você tem que segurar o padrão da

música, senão o cachê cai. Não adianta você ganhar dinheiro para

caramba acompanhando um cantor de mega-shows, porque depois, se

cai tudo isso, você fica louco.

E qual a sua opinião sobre o surgimento de novas bandas cariocas que têm um caráter percussivo marcante (Farofa

Carioca, Banda AfroReggae, Pedro Luís e a Parede...) ?

FINALMENTE, A RAPAZEADA se mexeu! Eu tenho até reclamado

disso. Ninguém pode falar nada de baiano. Dizem que o baiano é

preguiçoso, mas eles são organizados. Por exemplo, tenho

um centro de percussão que funciona há dois anos, oferece

oficinas e outros tipos de trabalhos relacionados, e ninguém vê isso

aqui no Rio. Estou montando uma banda de quase vinte garotas, tem

um trio de mineiras também... E estou lutando também para ajudar a

fazer performances de grupos com linguagem carioca, sejam de canto,

dança ou percussão.

Como você definiria •linguagem carioca"?

EU ACHO QUE O NEGÓCIO do Rio de Janeiro é samba. É o que a gente

tem de mais rico: é o partido, o repente carioca. Através do Zeca

Pagodinho, esta coisa está crescendo, mas ainda muito pouco.

Eu acho muito bonito o partido. É uma coisa que podia virar moda

logo! (Risos) Nós temos também o Boato, o Mestre Darcy, que luta para

preservar o jongo...

E quanto à questão racial, mais especificamente do músico negro, no cenário artístico

brasileiro? SE VOCÊ ESTÁ POR CIMA da carne

seca, te dizem: "Seja bem-vindo". Se você não está, é diferente. Isso

sempre foi assim, em qualquer lugar do Brasil. Quem é preto, sente isso

até num aperto de mão: quando apresentam um negro, a primeira coisa que o outro quer saber é o que ele faz. Eu respondo que eu

faço arte — sou arteiro, moleque... (Risos)

Colaborou:Fernanda Hamann

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14 AFRO REGGAE • NB 34 • MARÇO • 1999

Ecio de Salles

cidade Rio, do encon tro. Certa-

mente, inúmeras outras cidades poderiam merecer o epíteto, mas nenhuma tanto quanto o Rio de Janeiro. Também não é apenas uma qualidade que vai resumir o que é uma cidade, muito menos uma como o Rio — cujos cantores inventaram adjetivos que vão de "Maravi- lhosa" à "Cidade desespero" (Planet Hemp), passando por "purgatório da beleza e do caos"(F. Fawcet) —; mesmo assim, esta qualidade, a do en- contro, me agrada bastante.

A idéia de encontro, embo- ra a tenha escrito no singular, é

13 para mim uma idéia plural. O que tenho em mente são os vários encontros

que esta cidade propi- ciou e que, de um^ maneira ou de outra, contribuíram para a formação cultural da própria cidade, e também do país.

Desde tempos remotos, do encontro forçado de negros africanos com uma terra estra- nha, onde deveriam reprodu- zir — e ao mesmo tempo adap- tar — sua cultura original, até os dias atuais: dias de re-en- contro dos diversos vieses da cultura brasileira, no formato de grupos que misturam ritmos, tendências, especialidades. Atualmente, nos palcos da vida, é difícil distinguir se um grupo

é de rock, samba, maracatu, hip-hop... Ou mesmo se é um grupo musical ou teatral. Ou uma trupe de circo. Se duvida, veja um show, por exemplo, do Farofa Carioca, do Boato, do Teatro de Anônimo, da Banda AfroReggae, do Mestre Ambró- sio, do Cascabulho...

Em outro nível, penso tam- bém num outro encontro. O encontro especial, porque tam- bém representa muitos outros encontros, entre o poeta per- nambucano Manoel Bandeira e o sambista carioca, um dos pri- meiros sambistas da história ali- ás, Sinhô. Bandeira é poeta da melhor tradição brasileira, co- nhecido e reconhecido no meio acadêmico; Sinhô morreu po- bre, devendo a Deus e ao mun-

do, mas também conheceu o sucesso, graças a seu grande talento. A seu enterro compa- receram prostitutas, bebuns, malandros e lá estava também o poeta Manoel Bandeira.

Este encontro é especial por- que reproduz microscopica- mente a capacidade carioca de aliar o central e o periférico, a tradição e a revolução, o novo e o velho, a poesia e a batuca- da. Hoje em dia, nem Manoel, nem Sinhô, são fenômenos de popularidade. Todavia, boa parte do que ouvimos, fazemos e curtimos atualmente, em ter- mos de cultura, deve-se a en- contros como esse.

Editor do Afroregae Notícias

Af ro Reggae Notícias participa do I Seminário MIDICOM

Entre os dias 13 e 15 de janei- ro de 99 a Associação das Emis- soras de Rádio e TV Comunitári- as e Jornais Comunitários e Al- ternativos do Município do Rio de Janeiro - MIDICOM, em parce- ria com o Escritório Modelo de Relações Públicas da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, promoveu o evento "PERSPEC-

TIVAS, ANSEIOS e PRO- POSTAS" Mídia Comunitá- ria e Alternativa. 0 evento contou com a participação de importantes órgãos da mídia alternativa. 0 tema desen- volvido pelo Afro Reggae Notíci- as, através de seu editor (Ecio de Salles) foi "0 jornal alternativo cultural como meio de divulgação

l** CRftSV

MIDICOM-RJ AI. Vi MEXA COMUMTARIA.ALTaiNATIVa

•W^» DTOJ MiomiMo „

de trabalhos sócio-culturais, de valorização da cultura, da música popular e de conscientização." Parabéns a jornalista Helen Mar- cy pela iniciativa.

Arnaldo Allemand-Branco

mmmMàA

Domingo, das 12 às 14h - Rádio Bícunda

FM 99,3 - Reggae,

Charme, Soul, Híp Hop etc, (021) 220-

7804/ 587-7152 587-7410

Realização GCAR t Centro de Tecnoiosia Educacional da UERJ

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AFRO REGGAE • Ne 34 • MARÇO • 1999 CADERNO 15

Chuveiro Iluminado

Um Grupo de pessoas que a vida toda cantou embaixo do chuveiro, resolveu se reunir para realizar um antigo sonho, antes que seja tarde demais.

Com um rico repertório de tangos e boleros, antigos sambas e marchinhas, entre queijos e vinhos.

Participam deste grupo, entre outros, o embaixador Afonso Arinos de Melo Franco, Otávio Alvarenga (presidente da Sociedade Nacional de Agricultura), Sylvia Wachsner (economista e consulesa do Equador no Brasil dei 988 a 1992), Laura Sandroni (escritora especializada em livros infantis) e os psicanilistas Cecília Boal, Suzana Tonin e Fernando Rocha. A direção musical é de Paulinho Malaguti e a direção geral de Augusto Boal. Cenografia de Cláudia Veloso, iluminação de Fabián Silbert e produção de Branca Ramil.

Os espetáculos serão realizados de sexta a domingo, a partir do dia 12 de março até dia 28 do mesmo mês, no porão da casa de Cultura Laura Alvim.

Estes são os leitores do ARN contemplados com os CD's da Banda

Cabeça de Nego, na promoção da Polygram:

1- Eneida Simas dos Santos (via e-mail) - RJ

2- Iara Ferreira - Engenho Novo - RJ

3-João Marcelo (via fax) - Centro - RJ

4- Cristiani e Silva Ferraz - Leme - RJ

S-JaquelineZentapane -ViladaJenha-RJ

6- Cleide Lopes Gonj -Acari-RJ

Os CD's podem ser apai do GCAR/ARN: Rua Sem -Sala 1508-Centro-RJ.

LANÇAMENTOS - Por DJah Tekko Rastafari Para divulgação desta coluna, os produtores, gravadoras ou selos devem enviar materiais (CD, release e fotos) para redação deste informativo.

MV. BILL - MANDANDO FECHADO

O 1sCDdorapperMVBill, e DJ TR, apresenta boa qualidade de letras e músicas, além das participações especiais de KLJ e Ice Blue (Racionais), Alexandre Dantas (Ebony Vox), PMC, Neo Boy e o Coral Gospel Brother. Bill mostra o retrato fiel de sua comunidade, com algumas músicas bem dançantes,

estilo hip-hop/R&B, e certamente emplacará nos bailes e nas rádios. Destaque para as faixas: A Noite, Marquinhos Cabeção, Pare de Babar, Traficando Informação, Contraste Social, O Verdadeiro Hip-Hop, A Verdade Que Liberta. É mais um lançamento da Zâmbia Fonográfica. Contato para show: (021) 359-6828 ou Cel. 9913 8908.

FACES DO SUBÚRBIO

O hip-hop de Recife mostra sua FACE DO SUBÚRBIO, com o seu 1s CD gravado pela MZA Music. Se você é simpatizante ou gosta muito de Hip-hop, este CD não poderá faltar na sua Cdteca. De tão boa qualidade, chega a ser difícil destacar faixas; mas

as mais pulsantes são: Homens Fardados, Membro da Periferia, Críticas e Críticas, Crime Acima da Lei, Acostumado Com A Violência. O Face é formado por : Zé Brow e Tiger: voz e pandeiro; DJ KSB; Oxi: guitarra; Massacre: baixo; Garnizé : bateria e percussão.

PAPAS DA LÍNGUA - "XA - LA- LA" Depois do CD lançado em

95, a Banda Papas da Língua lança "Xa- La -La", variando estilos como Ska, roots e pop, embora predomine o pop. A faixa Garota do Brasil está na trilha sonora da Novela Malhação. A Banda mantém sua formação desde 94: Serginho Moa(vocal), Léo Henkin(guitarra), Zé Natálio(baixo), Fernando

TRIBO DE JAH

Pezão(bateria) e participação especial de Cao Neto(teclado). Destaque para: Garotas do Brasil, Mary Jane, Não Vou Esperar, Noite de Reggae, Como? e a versão reggae de Rock And Roll Lullaby. Gravado pelo selo Antídoto, distribuído pela Polygram.

Contatos para show: (051) 333-7988 ou (051)966-6107

JÍA-LA-Í-*

ãã REGGAE NA ESTRADA wr

No seu quarto CD, "Reggae Na Estrada" a Tribo de Jah mostra sua autencidade no mais puro reggae roots, na maioria das faixas predomina o estilo maranhaense (para se dançar agarradinho), adicionado de umas pitadas de pop. Valeu a passada pelo Reggae Sunsplash 95, na

Jamaica. Entre as 14 faixas, as principais "pedradas" são: Globalização, Civização Fluvial, Reggae Na Estrada, Black Bahia, Superstar Interestelar, A Razão e o Porque. Mais um lançamento INDIERECORDS,à venda principalmente na Loja Johnny B. Good. Contatos para shows: 0055-11-208-1821.

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