ba&d economia aplicada

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  • 977010381100- 1

    ISSN 0103 8117

    COLABORARAM NESSE NMERO:

    Ana Maria Bonomi Barufi

    Andr Luis Mota dos Santos

    Bernardo Pereira Cabral

    Cludia Malbouisson

    Daniel Silva Antunes de Carvalho

    Daniel Souza Costa

    Doneivan Fernandes Ferreira

    Eduardo Amaral Haddad

    Francisco de Lima Cavalcanti

    Gervsio Ferreira dos Santos

    Gisele Ferreira Tiryaki

    Joo Gabriel Rosas Vieira

    Joaquim Jos Martins Guilhoto

    Lucas Reis de Souza

    Ludmila de S Fonseca e Gomes

    Moiss Diniz Vassallo

    Rafael Noronha Reis

    Rodrigo Carvalho Oliveira

    Rondinaldo Silva das Almas

    Sebastio A. Loureiro de Souza e Silva

    Stefanie Eskereski

    Sydnia de Miranda Fernandes

    Vincius Felipe da Silva

    Weslem Rodrigues Faria

    ECONOMIA APLICADA ANLISE E AVALIAO DE POLTICAS PBLICAS

    N

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    y =

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    0ij = R + P + D

    Secretaria do Planejamento

    BAHIAANLISE & DADOS

    SALVADOR v.24 n.1 JAN./MAR. 2014 ISSN 0103 8117

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  • ISSN 0103 8117

    BAHIA ANLISE & DADOS

    Bahia anl. dados Salvador v. 24 n. 1 p. 001-213 jan/mar. 2014 Foto

    : Age

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  • Governo do Estado da BahiaJaques Wagner

    Secretaria do Planejamento (Seplan)Jos Sergio Gabrielli

    Superintendncia de Estudos Econmicose Sociais da Bahia (SEI)

    Jos Geraldo dos Reis SantosDiretoria de Indicadores e Estatsticas (Distat)

    Gustavo Casseb PessotiBAHIA ANLISE & DADOS uma publicao trimestral da SEI, autarquia vinculada Secretaria do Planejamento. Divulga a produo regular dos tcnicos da SEI e de colabo-radores externos. Disponvel para consultas e download no site http://www.sei.ba.gov.br.As opinies emitidas nos textos assinados so de total responsabilidade dos autores.Esta publicao est indexada no Ulrichs International Periodicals Directory e na Library of Congress e no sistema Qualis da Capes.

    Conselho Editorial ngela Borges, ngela Franco, Ardemirio de Barros Silva, Asher Kiperstok,

    Carlota Gottschall, Carmen Fontes de Souza Teixeira, Cesar Vaz de Carvalho Junior, Edgard Porto, Edmundo S Barreto Figueira, Eduardo L. G. Rios-Neto, Eduardo Pereira Nunes, Elsa Sousa Kraychete, Guaraci Adeodato Alves de Souza, Inai Maria Moreira de Carvalho, Jos Geraldo

    dos Reis Santos, Jos Ribeiro Soares Guimares, Laumar Neves de Souza, Lino Mosquera Navarro, Luiz Filgueiras, Luiz Mrio Ribeiro Vieira, Moema Jos de Carvalho Augusto, Mnica de Moura Pires, Ndia Hage Fialho,

    Nadya Arajo Guimares, Oswaldo Guerra, Renato Leone Miranda Lda, Rita Pimentel, Tereza Lcia Muricy de Abreu, Vitor de Athayde Couto

    Coordenao EditorialGustavo Pessoti

    Urandi PaivaCoordenao de Biblioteca e Documentao (Cobi)

    Eliana Marta Gomes da Silva SousaNormalizao

    Eliana Marta Gomes da Silva Sousa Isabel Dino Almeida

    Coordenao de Disseminao de Informaes (Codin)Ana Paula PortoEditoria-Geral

    Elisabete Cristina Teixeira BarrettoPadronizao e Estilo

    Elisabete Barretto Ludmila Nagamatsu

    Reviso de LinguagemCalixto Sabatini (port.) Clia Sganzerla (ing.)

    Editoria de ArteLudmila Nagamatsu

    CapaJulio VilelaEditorao

    Rita de Cssia Assis

    Bahia Anlise & Dados, v. 1 (1991- ) Salvador: Superintendncia de Estudos Econmicos eSociais da Bahia, 2014.

    v.24 n.1 Trimestral ISSN 0103 8117

    CDU 338 (813.8)

    Impresso: EGBATiragem: 1.000 exemplares

    Av. Luiz Viana Filho, 4 Av., n 435, 2 andar CABCEP: 41.745-002 Salvador Bahia

    Tel.: (71) 3115-4822 / Fax: (71) [email protected]

    Secretaria do Planejamento

  • SUMRIO

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    Apresentao 5

    Efeitos da expanso do Programa Bolsa Famlia sobre a economia baiana

    Ana Maria Bonomi BarufiMoiss Diniz Vassallo

    Joaquim Jos Martins Guilhoto

    7

    Mensurao dos efeitos de mudanas climticas na Bahia

    Weslem Rodrigues FariaEduardo Amaral Haddad

    25

    Crime e desorganizao familiar no estado da Bahia

    Daniel Souza CostaGervsio Ferreira dos Santos

    Daniel Silva Antunes de CarvalhoJoo Gabriel Rosas Vieira

    39

    O efeito da educao sobre o status de sade e a ocorrncia de doenas crnicas na populao

    do estado da BahiaRafael Noronha Reis

    Gervsio Ferreira dos Santos

    55

    Tamanho das turmas e desempenho em matemtica no quinto ano do ensino

    fundamental das escolas de Salvador: tamanho importa?

    Cludia MalbouissonStefanie Eskereski

    Vincius Felipe da Silva

    73

    Nvel e evoluo da desigualdade de renda na Bahia: uma avaliao do papel da educao e

    dos programas sociaisRodrigo Carvalho Oliveira

    Francisco de Lima Cavalcanti

    89

    Mais escolaridade e menos crime? Evidncia do impacto da externalidade da educao nos

    municpios baianosVincius Felipe da Silva

    Bernardo Pereira CabralDaniel Souza Costa

    105

    Contribuio dos recursos minerais e petrolferos ao desenvolvimento econmico dos

    municpios baianosSydnia de Miranda Fernandes

    Andr Luis Mota dos Santos

    125

    Produo de petrleo e gs natural em campos maduros e o desempenho econmico dos

    municpios produtores da Bacia do RecncavoLucas Reis de Souza

    Gisele Ferreira TiryakiDoneivan Fernandes Ferreira

    141

    A disperso espacial da epidemia de dengue na cidade de Salvador e seus condicionantes

    socioeconmicosLudmila de S Fonseca e Gomes

    Sebastio A. Loureiro de Souza e SilvaDaniel Silva Antunes de Carvalho

    161

    O status de sade no estado da Bahia: Uma anlise a partir da desigualdade de renda

    Vincius Felipe da SilvaBernardo Pereira Cabral

    Daniel Souza Costa

    179

    Dinmica das atividades de servios nas microrregies do estado da Bahia: aplicao

    do mtodo diferencial-estrutural para o perodo 2006-2012

    Rondinaldo Silva das Almas

    193

  • APRESENTAO

    E sse nmero da revista Bahia Anlise & Dados, com o tema Economia Aplicada Anlise e Avaliao de Polticas Pblicas, tem por objetivo estimular os pesquisadores a aplicarem as recentes metodologias e tc-nicas de modelagem para a soluo quantitativa de problemas socioeconmicos relacionados anlise e avaliao de polticas pblicas na Bahia, mediante uma slida base terica da rea de economia. O que se espera que a referida publi-cao se constitua no somente em um conjunto de resultados cientficos, mas tambm em proposies para a tomada de decises.

    A rea de economia aplicada est voltada utilizao da teoria econmica em conjunto com mtodos quantitativos para resolver problemas prticos de econo-mia. Entre esses mtodos, destacam-se procedimentos estatsticos, econom-tricos, anlise de insumo-produto, tcnicas de decomposio, pesquisa opera-cional, equilbrio geral aplicado e outros. Quanto pesquisa, sobressaem-se as linhas com fundamentao terica micro e macroeconmica, tais como economia do trabalho, organizao industrial, micro e macrodesenvolvimento, economia da sade, da educao, do crime, monetria, internacional, da energia e do meio ambiente, regional e urbana, do setor pblico e mesmo a histria econmica voltada para o campo da cliometria. Se no processo de modelagem puramente terica utiliza-se um elevado nvel de abstrao, no caso da pesquisa emprica na rea de economia aplicada, ela geralmente reduzida. Isso possibilita que as suposies dos modelos, dos mtodos e das teorias sejam confrontadas com problemas econmicos reais.

    Com essa edio da Bahia Anlise & Dados, a SEI cumpre tambm o papel de estimular os economistas e pesquisadores para que utilizem os recentes avanos tericos e quantitativos da rea de economia aplicada para analisar e avaliar po-lticas pblicas na Bahia. Desse modo, busca-se construir no estado um melhor canal para que o conhecimento cientfico na rea de economia seja utilizado para formular e avaliar polticas pblicas. Nesse sentido, a iniciativa contempla um esforo de ampliar e ao mesmo tempo reforar o papel do economista no estado.

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  • Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 7

    Efeitos da expanso do Programa Bolsa Famlia sobre a economia baianaAna Maria Bonomi Barufi*

    Moiss Diniz Vassallo**

    Joaquim Jos Martins Guilhoto***

    Resumo

    O Programa Bolsa Famlia, institudo em 2004, apresentou um avano bastante signi-ficativo em termos dos recursos destinados s famlias beneficiadas. Na literatura, a maior parte dos trabalhos busca avaliar o impacto dessa poltica sobre desigualdade, pobreza, educao, sade, deciso de trabalho, entre outros temas. Entretanto, inte-ressante compreender como a expanso desse programa afeta a economia do estado da Bahia, tanto em termos de impactos diretos e indiretos do aumento do repasse den-tro do prprio estado, como por efeitos indiretos advindos do crescimento do programa no restante do Nordeste e do pas. Para tanto, ser utilizada a metodologia de insumo--produto, especificamente de Leontief-Myiazawa, para identificar os impactos econmi-cos setoriais e regionais da expanso do programa de 2008 a 2009. Utiliza-se a matriz inter-regional de insumo e produto do Brasil de 68 setores (56 setores econmicos e 12 grupos de famlias por classe de renda, endogeneizadas) e trs regies (Bahia, Resto do Nordeste e Resto do Brasil). Os resultados apontam que o choque agregado adicio-nal no valor de R$ 1,85 bilho em 2009 na renda das famlias beneficiadas em todo o pas teve impacto total de R$ 5,17 bilhes no valor adicionado da economia nacional, considerando o modelo fechado. Na Bahia, especificamente, a variao da renda foi de R$ 244 milhes entre 2008 e 2009, e o reflexo da expanso do programa no pas como um todo foi de R$ 356 milhes sobre a economia baiana. Adicionalmente, os setores mais associados ao consumo das famlias foram os mais beneficiados pelo programa, mas os efeitos no se restringem regio que recebe os recursos. Ainda em relao economia baiana, percebe-se que sua estrutura est mais associada ao Resto do Brasil do que ao Resto do Nordeste. Por fim, um choque na demanda das famlias mais pobres vai ter um impacto relevante na massa de renda das demais classes sociais, em funo do aumento da contratao de mo de obra. Ou seja, os resultados apontam que existem impactos econmicos relevantes diferenciados setorialmente de um pro-grama de transferncia de renda da natureza do Bolsa Famlia, e que essencial lev--los em conta ao considerar as anlises de custo-benefcio de destinao de recursos para tais fins. A anlise aqui realizada permite mensurar um efeito multiplicador total de quase 3 do gasto pblico com o Bolsa Famlia sobre a atividade econmica nacional, sendo que a Bahia se beneficia relativamente um pouco menos na medida em que sua interdependncia com a economia do resto do pas se d mais como demandante do que como ofertante de produtos.Palavras-chave: Leontief-Miyazawa. Bolsa Famlia. Bahia.

    * Mestre em Economia, graduada em Cincias Econmicas e douto-randa em Teoria Econmica pela Universidade de So Paulo (USP). [email protected]

    ** Mestre em Engenharia de Infraes-trutura Aeronutica pelo Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA), graduado em Economia e douto-rando em Teoria Econmica pela Universidade de So Paulo (USP). Professor na Faculdade de Econo-mia, Administrao e Contabilidade da USP. [email protected]

    *** Livre-docente pela Universidade de So Paulo (USP), ps-doutorado e doutor em Economia pela Univer-sity of Illinois - System (Uillinois). Pesquisador do CNPq e Adjunct Associate Professor no Regional Economics Applications Laboratory (REAL) da University of Illinois.

    [email protected]

    BAhIAANlISE & DADOS

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    8 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    AbstractThe Programa Bolsa Famlia, established in 2004, presented a significant growth in terms of resources allocated to beneficiary families. In the literature, most stud-ies seek to assess the policy impacts on inequality, poverty, education, health, work decision, among other topics. However, it is interesting to understand how this expansion affects Bahias economy, in terms of both direct and indirect trans-fer increase within the state itself, as well as indirect effects arising from the program growth in the rest of the Northeast region and in the country as a whole. Therefore, an input-output methodology will be used, specifically the Leontief - Myiazawa Matrix, to identify sectoral and regional economic impacts of the 2008-2009 expansion program. An inter-regional input- output table of 68 Brazil-ian sectors (56 economic sectors and 12 households income groups) and three regions (Bahia, remaining Northeast and remaining Brazil). The results indicate that the additional aggregate shock in the amount of R$ 1.85 billion in 2009 on beneficiary families income across the country had full impact of R$ 5.17 billion in value added to the national economy, considering the closed model. In Bahia, specifically, the income variation was of R$ 244 million between 2008 and 2009, and the reflection of the program expansion in the country as a whole was R$356 million over the Bahian economy. Additionally, the sectors most benefited by the program expansion were the ones related to household consumption, but the effects are not restricted to the region that receives the funds. Still regarding the Bahian economy, one realizes that its structure is more associated with the rest of Brazil than the rest of the Northeast. Finally, a shock in the demand from poorer families will have a material impact on the total income of the other social class-es, due to the increased recruitment of manpower. In other words, the results indicate that a cash transfer program like the Bolsa Famlia generates significant economic impacts which are differentiated by economic sector and that it is es-sential to take them into account when considering cost-benefits of allocation funds with such purposes. The analysis performed here allows to measure as al-most 3 the total multiplier effect of the Bolsa Famlia public spending on national economic activity; nevertheless, Bahia benefits relatively little less than expected due to the type of relationship it has with the rest of the country economy which is more as a product demander than as a supplier.Keywords: Leontief-Miyazawa. Bolsa Famlia. Bahia.

  • AnA MAriA BonoMi BArufi, Moiss Diniz VAssAllo, JoAquiM Jos MArtins Guilhoto

    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 9

    INTRODUO

    O Programa Bolsa Famlia foi institudo em 2004 para unificar diversos programas de transferncia de renda condicionais com objetivos distintos. Des-de ento, o total de famlias beneficiadas passou de 6,6 milhes para 13,9 milhes no final de 2012, e o montante repassado saiu de R$ 3,8 bilhes em 2004 para R$ 21,2 bilhes em 2012. No que con-cerne aos repasses realizados para famlias resi-dentes na Bahia, percebe-se que ocorreu aumento semelhante: de 2004 para 2012, as famlias benefi-ciadas passaram de 0,84 milhes para 1,81 milho, enquanto que o valor anual repassado se expandiu de R$ 0,5 bilho para R$ 2,7 bilhes.

    Uma anlise bastante relevante que pode ser realizada neste contexto como se d a alocao de recursos das famlias beneficiadas entre os diferentes produtos e setores produtivos da eco-nomia . Para tanto, a metodologia de insumo-pro-duto se apresenta como um ferramental bastante

    interessante para oferecer concluses adicionais s providas por mtodos economtricos tradicionais.

    A literatura sobre avaliao de impacto deste programa bastante extensa, focando nos efeitos sobre as decises de trabalho e estudo dos indiv-duos em funo do choque exgeno em sua ren-da. Entretanto, poucos estudos conseguiram de fato avaliar o impacto do programa em termos de seus efeitos sobre a atividade econmica local e das demais regies. Nesse contexto, a metodolo-gia da anlise de insumo e produto surge como uma alternativa, j explorada em Azzoni e outros (2009). Entretanto, aqui se coloca a perspectiva de utilizar uma base de dados mais recente, procu-rando identificar o quanto a expanso do programa de um ano ao outro afeta a economia local e a das demais regies.

    Adicionalmente, vale destacar a importncia de um estudo desta natureza para identificar os im-pactos econmicos diferenciados setorialmente de um programa de transferncia de renda. Ou seja, o

    0,84

    1,07

    1,39 1,41 1,37

    1,58

    1,661,75

    1,816,57

    8,70

    10,97 11,04

    10,56

    12,3712,78

    13,3513,90

    -

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    0,8

    1,3

    1,8

    2,3

    2,8

    2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Famlias beneciadas

    dezembro Bahia

    Famlias beneciadas

    dezembro Brasil

    Milhes Bahia Milhes Brasil

    Grfico 1Avano do Programa Bolsa Famlia em termos do nmero de famlias beneficiadas no ms de dezembro de cada ano Bahia e Brasil 2004-2012

    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento Social.

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    10 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    Bolsa Famlia no apenas proporciona condies para a reduo da pobreza e da desigualdade, mas tambm gera um aquecimento da atividade econ-mica que deve ser levado em conta.

    O restante deste texto organizado da seguinte forma: na segunda seo apresenta-se uma reviso da literatura acerca do Programa Bolsa Famlia; a terceira seo traz a metodologia de insumo-pro-duto; os dados so discutidos na quarta seo; os resultados so expostos na quinta seo; e a sexta seo apresenta concluses e futuros passos.

    REvISO DA LITERATURA

    O Programa Bolsa Famlia tem sido objeto de diversos estudos que buscam avaliar seu impacto. Uma descrio ampla de suas caractersticas e seus principais impactos pode ser encontrada em Soares (2012). De maneira geral, tais estudos pro-curam identificar quais os resultados relacionados

    ao programa, em especial no que tange s condi-cionalidades (educao e sade) a ele associadas, deciso de oferta de emprego, ao bem-estar das famlias e a medidas agregadas de pobreza e de-sigualdade. Em relao a este ltimo aspecto, importante destacar o fato de que, de maneira ge-ral, o Bolsa Famlia considerado um programa de sucesso no que tange sua focalizao (SOUZA, 2011).

    Apesar de no ser um programa com uma pers-pectiva regional de atuao, o Bolsa Famlia acaba tendo um impacto bastante diferenciado entre as unidades da Federao. Isso porque a desigual-dade de renda pessoal possui um padro regional bastante claro. Desse modo, Silveira-Neto e Azzoni (2011) encontram um efeito significativo dessa po-ltica, somada ao fortalecimento do salrio mnimo, para reduzir as disparidades regionais.

    Considerando o impacto de programas de trans-ferncia sobre pobreza, desigualdade e medidas adicionais de bem-estar, Bourguignon e Spadaro

    R$ 0,5

    R$ 0,8

    R$ 1,0

    R$ 1,2

    R$ 1,4

    R$ 1,7

    R$ 1,9

    R$ 2,3

    R$ 2,7

    R$ 3,8

    R$ 5,7

    R$ 7,5

    R$ 9,0

    R$ 10,6

    R$ 12,5

    R$ 14,4

    R$ 17,4

    R$ 21,2

    -

    5

    10

    15

    20

    25

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    3,0

    3,5

    4,0

    2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Valor anual repassado Bahia Valor anual repassado Brasil

    Bilhes - Bahia Bilhes - Brasil

    Grfico 2Avano do Programa Bolsa Famlia em termos do valor anual repassado Bahia e Brasil 2004-2012

    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento Social.

  • AnA MAriA BonoMi BArufi, Moiss Diniz VAssAllo, JoAquiM Jos MArtins Guilhoto

    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 11

    (2006) expem o mtodo de microssimulao. Tal mtodo envolve a definio de um modelo micro-econmico de deciso de consumo e de trabalho das famlias, e o choque da transferncia de renda altera as variveis, dado um deter-minado equilbrio que calibra os parmetros. Assim, pos-svel calcular qual o impacto de um programa dessa natureza sobre indicadores sociais agregados. Cury e outros (2010) combinam mtodos de microssimulao e um modelo de equi-lbrio geral computvel para encontrar o resultado de que o Bolsa Famlia e o Benefcio de Prestao Continuada conseguiram reduzir a desigualdade de 2003 a 2005 e tiveram impacto menos significa-tivo sobre a pobreza.

    O Bolsa Famlia pode ser comparado com outros programas condicionais de transferncia existentes na Amrica Latina (Mxico, Colmbia, Equador e Chile), tal como feito por Soares, Ribas e Osrio (2010). Os autores identificam que, do mesmo modo que os demais programas, o Bolsa Famlia apresentou resultados importantes de reduo de pobreza e desigualdade, melhora de indicadores de educao, sem efeito negativo sobre a oferta de trabalho dos adultos, mas sem observar melhora significativa em indicadores de sade.

    No que diz respeito especificamente reduo da desigualdade, Soares e Styro (2009) sinteti-zam os resultados de outros trabalhos que mos-tram que o Bolsa Famlia foi responsvel por 19% da queda da desigualdade de 1995 a 2006, mesmo representando apenas 0,5% da massa de renda total da populao.

    A deciso de oferta de trabalho por parte dos indivduos discutida por Teixeira (2010), que utili-za um indicador de intensidade de tratamento dado pelo valor recebido pela famlia. Seus resultados apontam efeito nulo sobre as horas trabalhadas pe-los homens, e os efeitos para as mulheres so ne-gativos e mais significativos, mas ainda assim mar-ginais. J Ferro, Kassouf e Levison (2010) utilizam

    uma estimao de um modelo probit com matching de propensity score e encontram um efeito signifi-cativo do programa para reduzir a probabilidade do

    trabalho infantil e aumentar a participao dos pais na for-a de trabalho.

    Snchez-Ancochea e Mattei (2011) sinalizam que os efeitos sobre sade e edu-

    cao podero ser maiores caso a oferta desses servios pblicos acompanhe a demanda. No que concerne ao jogo de poder dentro do domiclio, o Bolsa Famlia garante maior empoderamento s mu-lheres, de acordo com Brauw e outros (2013).

    Como visto nos trabalhos mencionados, pouco usual a anlise dos impactos econmicos de progra-mas de transferncia, em especial do Bolsa Famlia. A atividade produtiva apresenta muitas interligaes entre setores e efeitos de retroalimentao, e assim possvel que ao realizar uma simples anlise eco-nomtrica, se tais efeitos simultneos no forem le-vados em conta, o impacto total sobre a economia seja subestimado. A metodologia de insumo e produ-to oferece um ferramental que pode contribuir nesta discusso, especialmente nos casos em que existam informaes acerca da estrutura de consumo dife-renciada das famlias de acordo com sua renda.

    O trabalho de Azzoni e outros (2007) empre-ga a metodologia de Leontief-Miyazawa (que ser descrita adiante) para avaliar os impactos do Pro-grama Bolsa Famlia nas macrorregies brasileiras. Os principais resultados encontrados pelos autores indicam que o programa produziu efeitos positivos no que concerne reduo da concentrao de renda e da pobreza.

    A metodologia de Leontief-Miyazawa tem sido empregada largamente conforme se encontram bases de dados suficientemente detalhadas para incorporar as famlias matriz de inter-relaes setoriais. Santos e Haddad (2007) utilizam esta ferramenta para avaliar como se caracterizam os fluxos intra e interestaduais para atender deman-da final de cada estado, verificando que a estrutura

    pouco usual a anlise dos impactos econmicos de

    programas de transferncia, em especial do Bolsa Famlia

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    12 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    Metodologia de Leontief-Miyazawa

    O modelo bsico de Leontief apresenta a rela-o de fluxos intersetoriais de bens e servios, de modo que o produto final da economia, X (n x 1), deve atender necessidade advinda da produo de bens intermedirios AX, (sendo A (n x n) a matriz de coeficientes tcnicos de produo), e da deman-da final Y (n x 1).

    X AX + Y (1)

    A equao (1) pode ser reescrita como:

    X BY (2)

    Na qual B = (I A) 1 a matriz inversa de Le-ontief. A demanda final pode ser decomposta em alguns elementos principais, a saber: consumo das famlias (Yf ), exportaes (Ye), gastos do governo (Yg ) e investimento (Yk ). Neste contexto, pode-se separar a demanda final em um componente ex-geno (Y B) e um do consumo das famlias (Y C ), que ser endogeneizado (Miyazawa, 1963, 1976):

    Y xC

    YB

    Y = (3)

    Seguindo Guilhoto e Camargo (2008) e Azzoni et al. (2009), o consumo endgeno composto da seguinte forma:

    Y = CQC (4)

    Sendo que C (n x r) se refere matriz de co-eficientes de consumo e Q (r x 1) o vetor com a renda total de cada grupo de renda. Se E a matriz cujos elementos e

    ik representam a quantidade do

    bem i consumido pelo k-simo grupo de renda, os elementos de C podem ser calculados por:cik

    eikqk

    = .

    A estrutura da distribuio de renda dada pela relao de equaes simultneas Q = VY, sendo

    produtiva tem um papel fundamental na determina-o das desigualdades regionais.

    J Guilhoto e Camargo (2008) aplicam esta me-todologia para avaliar o impacto da estrutura pro-dutiva e da distribuio de renda sobre a gerao de emprego na agricultura familiar e no familiar. Suas concluses so que os impactos de um cho-que na demanda final so bastante heterogneos entre as regies, sendo que em reas nas quais a agricultura familiar pouco expressiva, a gerao de emprego se mantm baixa. Por fim, Almeida e Guilhoto (2006) calculam o impacto de choques setoriais com as famlias endogeneizadas sobre o crescimento econmico e a desigualdade de renda.

    Assim, como ser discutido a seguir, este traba-lho objetivar investigar quais os impactos setoriais e regionais da expanso do Programa Bolsa Fa-mlia de 2008 a 2009, com especial destaque para os efeitos sobre a economia baiana, aplicando a metodologia de insumo e produto com o modelo de Leontief-Miyazawa.

    METODOLOGIA

    A anlise de insumo e produto se baseia na metodologia desenvolvida por Leontief (1936), cujo princpio bsico a hiptese de que existe uma pro-poro fixa de insumos necessrios para produzir determinada quantidade de produto final. Entretan-to, neste trabalho ser empregada a metodologia de Leontief-Miyazawa para considerar explicitamente no apenas a estrutura de produo na economia, como tambm a origem setorial da renda e a aloca-o setorial dos gastos das famlias. Desse modo, requerido um detalhamento bastante amplo de informaes para a base de dados, que ser expli-citado mais adiante. Adicionalmente, ser utilizado um arcabouo inter-regional compreendendo trs regies do Brasil (Bahia, Resto do Nordeste e Res-to do Brasil). Portanto, a anlise ser empreendida levando em conta os efeitos diretos e indiretos da economia de uma regio sobre a das demais.

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    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 13

    que V (r x n) uma matriz com razes de valor adi-cionado, associando a estrutura produtiva do pas estrutura da distribuio de renda. Tomando R (r x n) como a matriz cujos elementos r

    k j representam a

    renda do k-simo grupo de renda gerada no j-simo setor, pode-se calcular v

    k j como:

    vkj

    xj

    =rk j (5)

    Substituindo (3), (4) e (5) em (1), obtida a se-guinte equao:

    X = AX + CVX + YB (6)

    Que pode ser transformada como:

    X = (I A CV ) YB1 (7)

    Tal soluo pode ser expressa em termos da matriz de Leontief:

    X = B (I CVB) YB1 (8)

    Ao substitu-la em (6), o resultado a expresso que segue, que demonstra que a renda para cada grupo depender da participao de cada setor na demanda final exgena:

    Q = VB (I CVB) YB1 (9)

    A matriz insumo-produto inter-regional

    De acordo com Miller e Blair (2009), o modelo inter-regional pode ser expresso utilizando a estru-tura que segue (supondo duas regies):

    Z =Z rr

    Z srZ rs

    Z ss (10)

    Neste modelo, so considerados tanto os fluxos intrarregionais (Z rr ) como os inter-regionais (Z sr ). Analogamente, a matriz de coeficientes tcnicos representada como:

    A =A rr

    A srA rs

    A ss (11)

    Onde os elementos relativos aos fluxos intrar-regionais so definidos como (considerando r e s alternativamente):

    arr

    =ijzrri j

    Xrj

    (12)

    E, para os coeficientes inter-regionais (conside-rando r, s e depois s, r), da seguinte forma:

    ars

    =ijzrsi j

    Xsj

    (13)

    A soluo do modelo de Leontief pode ser rees-crita do seguinte modo:

    I

    I

    0

    0

    A rr

    A srA rs

    A ssx r

    x s=

    f r

    f s (14)

    Efeitos adicionais

    O modelo de insumo-produto possibilita a quan-tificao dos efeitos multiplicadores de cada setor de atividade econmica, sendo essa informao fundamental para a avaliao de impactos de pol-ticas pblicas. Um multiplicador de impacto setorial consiste numa expresso numrica dos efeitos dire-tos, indiretos e induzidos propagados sobre o siste-ma econmico, quando uma determinada atividade apresenta incremento de demanda final.

    O multiplicador direto expressa o impacto de variaes na demanda final do j-simo setor, quan-do so consideradas apenas as atividades que for-necem insumos diretos ao setor em questo. J o multiplicador indireto mede o impacto de variaes na demanda final do j-simo setor, quando se con-sideram apenas as atividades fornecedoras de in-sumos indiretos ao setor analisado. Por fim, o mul-tiplicador induzido fornece o impacto de variaes na demanda final do j-simo setor, considerando a variao adicional da demanda ocasionada pelo incremento no nvel de rendimento da economia,

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    14 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    quando se estimula determinado setor. Este ltimo componente pode ser calculado apenas no caso em que se possua um modelo fechado de insumo e produto (famlias endogeneizadas).

    O efeito direto no caso dos multiplicadores de produo assume o valor 1 para todos os setores. J o efeito indireto pode ser obtido pela soma na colu-na dos coeficientes da matriz B (inversa de Leontief) com as famlias exgenas. Por fim, o efeito total (di-reto + indireto + induzido) calculado pela soma na coluna dos coeficientes da matriz inversa de Leontief com as famlias endogeneizadas (excluindo dessa soma os coeficientes associados s famlias).

    Adicionalmente, os efeitos multiplicadores po-dem ser calculados de maneira agregada ou de-sagregada em relao s regies consideradas na anlise. Assim, os efeitos multiplicadores advindos do aumento da demanda dos setores da Bahia na verdade tm vazamentos para as outras regies, e possvel somar a parte da matriz inversa de Leon-tief concernente a cada regio.

    DADOS

    O Bolsa Famlia um programa de transferncia de renda com trs eixos principais: a transferncia

    de renda em si, condicionalidades e aes e progra-mas complementares1. Partindo do Cadastro nico para Programas Sociais do Governo Federal, o Bol-sa Famlia realiza transferncias para famlias que se enquadram em seus critrios de elegibilidade.

    Alm de ter sido expandido de maneira signi-ficativa na ltima dcada, o programa apresentou uma evoluo importante dos critrios de elegibili-dade e do valor dos benefcios concedidos.

    Apesar de ser possvel estimar indiretamente quantas famlias de cada classe de renda rece-bem o Bolsa Famlia, no trabalho em questo ser feita a suposio de que todo o recurso adicional do programa se destinava s famlias com at R$ 400 em 2008. Esta no uma hiptese to forte ao se considerar o fato de que as famlias com ren-da mais elevada foram capturadas nos primeiros anos do programa, muito em funo de sua prpria capacidade de buscar o recurso (associada sua provvel maior escolaridade), como tambm pelo fato de que em lugares mais afastados em geral so encontradas as famlias mais pobres.

    A principal base de dados considerada neste trabalho uma matriz inter-regional de insumo--produto com as famlias endogeneizadas, que j foi utilizada anteriormente em Hasegawa e outros (2013). A construo desta base de dados partiu

    1 Como apontado por http://www.mds.gov.br/bolsafamilia

    Tabela 1Critrios de elegibilidade e benefcios do Programa Bolsa Famlia 2004-2012

    (em R$)

    Critrios 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Eligibilidade (renda familiar mensal per capita)

    Extremamentepobres 50 50 60 60 60 70 70 70 70

    Pobres 100 100 120 120 120 140 140 140 140

    Benefcio

    BsicoExtremamente

    pobres

    50 50 50 58 62 68 68 70 70

    Varivel 15 15 15 18 20 22 22 32 32

    BVJ 33 33 38 38

    Bsico

    PobresVarivel 15 15 15 18 20 22 22 32 32

    BVJ 33 33 38 38Fonte: Pedroso Jr. (2010) e Gadelha (2013).Nota: Benefcio Varivel: pago s famlias pobres desde que tenham filhos at 15 anos (at trs benefcios variveis). Benefcio Varivel Vinculado ao Adolescente (BVJ): pago s famlias pobres com filhos adolescentes de 16 ou 17 anos frequentando a escola (at dois BVJ).

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    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 15

    da estrutura de gastos das famlias por unidade da Federao e classe de renda, de acordo com a Pesquisa de Oramentos Familiares (POF-IBGE) de 2008-2009. Com isso, os valores de base da matriz so de 2008. Esta matriz, originalmente com-posta por 56 setores e 27 regies (unidades da Fe-derao), alm de 12 classes de renda familiar, foi condensada em uma matriz com 56 setores + 12 classes de renda e trs regies (Bahia, Resto do Nordeste e Resto do Brasil).

    Uma implicao importante do fato da matriz se basear em informaes de 2008 que uma boa par-te dos impactos do Programa Bolsa Famlia j est

    incorporada na estrutura de gastos das famlias. Por-tanto, no faz sentido pressupor que todo o dispn-dio governamental com o programa em 2009 teve impacto no consumo de bens e servios por parte das famlias. Isso faz com que aqui seja apenas con-siderado o efeito marginal da ampliao dos gastos de 2008 para 2009. Na Figura 1 possvel perceber que a distribuio relativa da ampliao dos gastos no perodo se concentrou em algumas unidades da Federao especficas, com maior destaque para Bahia e Pernambuco em termos absolutos.

    Ainda em relao matriz de insumo-produto utilizada, possvel avaliar como se d o gasto das

    Figura 1Gasto adicional com o Programa Bolsa Famlia Brasil 2009/2008

    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento Social.

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    16 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    famlias por setor, de acordo com a classe de ren-da familiar. Considerando a participao de cada setor no total de gastos de cada classe na Bahia, percebe-se que os gastos de todas as classes se concentram em servios e na indstria de alimentos e bebidas. Isso porque, por mais que as famlias estejam endogeneizadas na matriz, seu consumo se d majoritariamente com bens e servios de setores produtores de bens para o consumo final. Este padro se mantm em grande medida ao se analisar a distribuio dos gastos nas demais regi-es, com pequenas variaes na importncia de determinados setores em funo de hbitos locais.

    Um segundo aspecto que merece destaque no Grfico 3 que as famlias de classes de renda infe-riores gastam mais relativamente com alimentos (os alimentos possuem participao maior em sua cesta de consumo) e menos com sade e educao mer-cantil, transportes e servios prestados s famlias. Mais uma vez, nas demais regies o padro da distri-buio dos gastos muito parecido. Assim, ao afetar a disponibilidade de renda de um grupo especfico

    da populao (a camada inferior da distribuio de renda), o Programa Bolsa Famlia dever ter impac-tos bastante especficos, tendo maior efeito sobre os setores cujo consumo relativo desta camada da po-pulao mais elevado. Por fim, as famlias de renda mais elevada acabam poupando mais (a parcela de vazamentos, que se refere a itens como a poupana, mais elevada nesses casos).

    O enfoque deste trabalho estar nas famlias com renda familiar de at R$ 400. Isso porque, por mais que famlias no grupo de renda seguinte tam-bm recebam repasses do Bolsa Famlia, feita aqui a hiptese de que os esforos do governo es-taro concentrados em encontrar as famlias de fato mais pobres que ainda no so atendidas. Portanto, os choques considerados na prxima seo tero como hiptese subjacente que todo o aumento do repasse do Bolsa Famlia se deu para as famlias com renda de at R$ 400 mensais.

    Os grficos que seguem apresentam como a composio setorial e regional dos gastos das fa-mlias desse grupo de renda por regio, apontando

    Grfico 3Composio dos gastos das famlias de acordo com a renda familiar Bahia 2008

    Fonte: Elaborao prpria.Nota: A lista de setores encontra-se no anexo.

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    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 17

    os setores para os quais ocorre maior vazamento dos gastos (as famlias de determinada regio gas-tam fora dela). Ao somar os percentuais dos trs conjuntos de reas, no se atinge 100%, pois os

    grficos contemplam o vazamento do choque para a poupana das famlias.

    Alguns aspectos interessantes podem ser iden-tificados nos grficos anteriores. Em primeiro lugar,

    Grfico 4Participao de cada setor nos gastos das famlias com renda familiar de at R$ 400 da Bahia (4a), do Resto do Nordeste (4b) e do Resto do Brasil (4c) em cada regio 2008

    Fonte: Elaborao prpria.Nota: A lista de setores encontra-se no anexo.

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    18 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    tanto os gastos das famlias mais pobres na Bahia como no Nordeste, alm de estarem relacionados economia local, dependem mais da economia nacional do que da econo-mia mais prxima (os va-zamentos na Bahia se do mais para o Resto do Brasil do que em relao ao Resto do Nordeste, e os do Resto do Nordeste tambm ocor-rem mais para o Resto do Brasil). Adicionalmen-te, o consumo das famlias com renda mais baixa no Resto do Brasil apresenta poucos vazamentos para a economia baiana e para a do Resto do Nor-deste. O setor de Alimentos e bebidas (6) e o de Agricultura (1) so os que apresentam maior vaza-mento relativo dos gastos da economia da Bahia e do Resto do Nordeste. J em relao aos setores de Eletricidade, gs, gua, esgoto e limpeza urba-na (40), Comrcio (42) e Servios imobilirios (46), verifica-se que as despesas se do muito mais no mbito local, resultado que bastante intuitivo, considerando a natureza no transacionvel em termos regionais dos bens produzidos nesses setores.

    RESULTADOS

    A anlise aqui empreendida buscou identificar quais so as regies e setores que mais se benefi-ciam com a ampliao do Programa Bolsa Famlia. Em primeiro lugar, dado um choque na deman-da final considerando a variao do repasse do Programa Bolsa Famlia entre 2008 e 2009, por regio (Bahia, Resto do Nordeste, Resto do Bra-sil). Algumas hipteses foram necessrias aqui: em primeiro lugar, pressups-se que apenas as famlias de renda at R$ 400 foram afetadas por essa expanso de recursos, como mencionado anteriormente. Adicionalmente, permitiu-se que as famlias poupassem parte do choque, prti-ca que usual em modelos com a estrutura de

    Leontief-Myiazawa. Por fim, o gasto foi distribudo na mesma proporo que essa classe de renda gasta entre os setores e entre as regies. Como

    visto, existem diferenas im-portantes na maneira como as famlias dispendem os re-cursos disponveis de acordo com a sua renda, de modo que considerar que as fam-lias mais pobres gastaro

    com cada item na mesma proporo que j vinham gastando dado um choque marginal em sua renda parece ser razovel.

    O valor total do choque, como pode ser visto na Tabela 2, variou bastante entre as diferentes regies consideradas. Uma das razes para isso que o tamanho da populao de cada uma de-las difere bastante: na Bahia, totalizava 14 milhes em 2009; no Resto do Nordeste, 39,3 milhes; e no Resto do Brasil, 138,4 milhes. Outro elemento essencial para explicar essa diferena o percen-tual de famlias que se encaixam nos critrios de elegibilidade do programa.

    De todo modo, o efeito agregado da expanso do Bolsa Famlia na Bahia resulta em R$ 760,7 milhes, enquanto que, considerando todos os choques simultaneamente, a Bahia tem um acrs-cimo de sua produo de R$ 355,9 milhes. Por fim, o acrscimo do Bolsa Famlia no Brasil como um todo apresenta um impacto de R$ 3,99 bilhes, ante um choque agregado de R$ 1,85 bilho.

    A comparabilidade dos efeitos dos choques torna-se mais fcil com a Tabela 3. Nela, cada re-gio recebe o mesmo choque, e percebe-se que na Bahia os efeitos locais so ligeiramente mais elevados do que no Resto do Nordeste, mas infe-riores aos observados no Resto do Brasil para um choque em cada uma das regies.

    Aps descrever os impactos agregados da expanso do Bolsa Famlia sobre as economias locais, interessante estudar como a estrutura econmica da Bahia, pois, conforme alguns seto-res se beneficiem mais ou menos de determinada

    Existem diferenas importantes na maneira como as famlias

    dispendem os recursos disponveis de acordo com

    a sua renda

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    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 19

    poltica, possvel que o impacto sobre a econo-mia do estado seja maior ou menor em funo dos vazamentos para outras regies.

    Nesse sentido, o Grfico 5 apresenta os efeitos multiplicadores do aumento da demanda de cada setor da Bahia em uma unidade, um de cada vez, sobre a economia do pas como um todo (Total). Em seguida, esses efeitos totais so decompostos nos demais grficos. No intitulado Bahia, apre-sentada a parte desse efeito multiplicador que vai permanecer na economia do estado. Os grficos do Resto do Nordeste e Resto do Brasil apresen-tam qual a magnitude dos efeitos que vazam da economia baiana. Adicionalmente, os grficos tambm trazem como o efeito multiplicador pode ser desmembrado em efeitos diretos e indiretos e efeitos induzidos. Como j mencionado, os efeitos diretos associados a multiplicadores de produo vo ser sempre 1. Quanto aos efeitos indiretos,

    eles mensuram quanto as inter-relaes entre os setores vo gerar de produo adicional. Por fim, os efeitos induzidos apontam como os mul-tiplicadores se alteram conforme as famlias so endogeneizadas na matriz de insumo e produto (em comparao situao na qual elas esto exgenas).

    Os maiores destaques esto associados ao fato de que os efeitos multiplicadores advindos do aumento da demanda de cada setor da Bahia vo se concentrar na prpria Bahia e no Resto do Brasil. A economia do Resto do Nordeste mui-to pouco afetada, o que sinaliza que grande parte das inter-relaes da economia baiana se d com unidades da Federao que esto fora da Regio Nordeste. Alm disso, os efeitos induzidos so mais fortes no Resto do Brasil, enquanto que os efeitos diretos e indiretos vo se concentrar mais na Bahia.

    Tabela 2Valor total do choque sobre a demanda final das famlias com renda at R$ 400 mensais em cada regio e seu efeito agregado por regio 2008

    (em R$)

    Regio de origem do choque

    Bahia Resto do Nordeste Resto do Brasil Total

    Valor do choque 240.160.716 672.342.909 935.698.683 1.848.202.308

    Efeito agregado

    Bahia 244.280.067 58.508.976 53.115.745 355.904.788

    Resto do Nordeste 49.027.286 680.984.186 99.477.614 829.489.086

    Resto do Brasil 467.371.539 1.279.737.873 2.240.207.223 3.987.316.634

    Total 760.678.891 2.019.231.035 2.392.800.582 5.172.710.508Fonte: Elaborao prpria.

    Tabela 3Efeitos agregados de um choque padro de R$ 1.000.000 sobre a demanda final das famlias com renda at R$ 400 mensais em cada regio 2008

    (em R$)

    Regio de origem do choque

    Bahia Resto do Nordeste Resto do Brasil Total

    Valor do choque 1.000.000 1.000.000 1.000.000 3.000.000

    Efeito agregado

    Bahia 1.017.152 87.023 56.766 1.160.941

    Resto do Nordeste 204.144 1.012.852 106.314 1.323.310

    Resto do Brasil 1.946.078 1.903.401 2.394.155 6.243.633

    Total 3.167.374 3.003.276 2.557.234 8.727.884Fonte: Elaborao prpria.

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    20 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    Retornando anlise do grfico Total, verifica--se que os efeitos induzidos so mais relevantes na composio dos efeitos multiplicadores dos se-tores mais associados a comrcio e servios, aci-ma do 40 (so mais afetados pelo consumo final,

    enquanto que setores da indstria so mais impac-tados pelo consumo intermedirio). Esse fenme-no faz bastante sentido, pois, de fato, o primeiro grupo de setores acaba produzindo mais bens de consumo final.

    0

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    Efeito direto e indireto Efeito induzido Efeito total

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    29 29

    Total Bahia

    Resto do Nordeste Resto do Brasil

    Grfico 5Efeitos multiplicadores (total, direto e indireto, e induzido) do aumento da demanda final dos setores da economia da Bahia sobre os setores locais e das demais regies 2008

    Fonte: Elaborao prpria.Nota: A lista de setores encontra-se no anexo.

  • AnA MAriA BonoMi BArufi, Moiss Diniz VAssAllo, JoAquiM Jos MArtins Guilhoto

    Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014 21

    Assim, o Grfico 5 permite identificar questes bastante interessantes relativas estrutura da eco-nomia baiana. De fato, existe uma clara interdepen-dncia em relao a outros estados do pas, espe-cialmente aqueles localizados fora do Nordeste, o que indica a importncia absoluta e relativa da eco-nomia do centro-sul do pas. Por mais que em anos recentes determinados investimentos tenham alado a Regio Nordeste a uma posio de maior desta-que para a indstria nacional, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para ampliar o seu prota-gonismo no pas.

    Por fim, uma possibilidade bastante interessante advinda do fato de existirem informaes acerca de como as famlias consomem e participam da pro-duo (como elas so contratadas pelas empresas dos diferentes setores) compreender como uma transferncia de renda afeta determinado grupo da sociedade por ter impactos indiretos sobre a gera-o de renda das demais classes sociais. Ou seja, as famlias beneficirias do Bolsa Famlia, ao rece-berem o recurso, vo consumir mais, gerando um processo que se retroalimenta e acaba resultando em maior gerao de renda na economia.

    No grfico que segue so apresentados os im-pactos sobre a renda das famlias baianas, por faixa de renda, dos choques na demanda das famlias beneficirias do Bolsa Famlia em cada regio con-siderada (o valor do choque pode ser encontrado na Tabela 1). interessante observar que, mesmo que os principais destinatrios desse programa de transferncia de renda sejam as famlias mais po-bres, ainda assim existe um impacto de gerao de renda sobre todas as classes (com especial des-taque para as famlias com renda de R$ 400 a R$ 1.600). Ou seja, a massa de renda gerada para as famlias desse ltimo grupo chega a atingir quase R$ 20 milhes (barras azuis), apenas pelos efeitos indiretos associados contratao de mo de obra gerada pelo choque na demanda final na Bahia.

    Vale destacar que os choques do Bolsa Fam-lia nas demais regies tambm afetam a massa de renda das famlias baianas. Isso se d pelo fato de os setores nas outras regies demandarem bens intermedirios de produtores do estado da Bahia para atender a essa nova demanda. Com isso, de-terminados setores na Bahia vo contratar mais, ampliando a massa de renda das famlias.

    Grfico 6Impacto na massa de renda das famlias baianas em funo do choque agregado da expanso do Bolsa Famlia em cada regio considerada

    (em R$)Fonte: Elaborao prpria.

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    22 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    CONCLUSO

    Este trabalho realizou um estudo sobre o impac-to diferenciado da expanso do Programa Bolsa Fa-mlia no contexto regional e setorial, com destaque para o estado da Bahia. importante notar que os setores mais beneficiados por uma expanso da renda das famlias so aqueles que tm maior par-ticipao no consumo dessas famlias (servios, ali-mentos e bebidas, transporte etc.). O choque agre-gado nacional relativo expanso do Programa Bolsa Famlia no valor de R$ 1,85 bilho em 2009 teve impacto total de R$ 5,17 bilhes no valor adicio-nado, considerando o modelo fechado de insumo e produto, com as famlias endogeneizadas.

    A anlise da expanso do programa por regio aponta que a economia baiana se beneficia de ma-neira mais efetiva quando se considera o choque na sua prpria economia. Ao avaliar os efeitos advin-dos dos impactos indiretos de choques nas outras regies, percebe-se que sua magnitude muito baixa. Isso pode ser um indcio de que, ao menos no que concerne a choques em outras regies que possuem uma estrutura setorial semelhante do consumo das famlias de baixa renda, a economia baiana pouco afetada.

    Adicionalmente, ao avaliar como a Bahia se rela-ciona com as demais regies quanto estrutura se-torial, verifica-se que sua interdependncia muito mais importante com o Resto do Brasil do que com o Resto do Nordeste.

    Por fim, foi possvel identificar que existe um efeito indireto sobre a massa de renda das demais classes sociais em funo do choque estudado. Ou seja, a expanso da renda explicada pelo Pro-grama Bolsa Famlia tem impactos indiretos sobre a contratao de famlias de outros grupos de ren-da, efeito esse que outras tcnicas de anlise no necessariamente permitem identificar.

    Como j mencionado anteriormente, um estu-do desta natureza permite avaliar quais os reais benefcios de um choque na economia advindo de um programa de transferncia de renda. Os efeitos

    econmicos se devem ao aumento da demanda das famlias beneficiadas, derivado da sua expanso de renda. necessria uma reflexo sobre em que medida o Programa Bolsa Famlia poder ser ex-pandido ainda mais, pois j se discute a dificuldade de encontrar os beneficirios que ainda no esto sendo atendidos. Ainda assim, este trabalho permi-tiu analisar de maneira mais completa os impactos positivos do programa sobre a economia baiana e sobre as demais regies do pas.

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    Artigo recebido em 15 de dezembro de 2013

    e aprovado em 17 de fevereiro de 2014.

  • EfEitos da Expanso do programa Bolsa famlia soBrE a Economia Baiana

    24 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.7-24, jan./mar. 2014

    Cdigo Denominao

    1 Agricultura, silvicultura, explorao orestal

    2 Pecuria e pesca

    3 Petrleo e gs natural

    4 Minrio de ferro

    5 Outros da indstria extrativa

    6 Alimentos e Bebidas

    7 Produtos do fumo

    8 Txteis

    9 Artigos do vesturio e acessrios

    10 Artefatos de couro e calados

    11 Produtos de madeira - exclusive mveis

    12 Celulose e produtos de papel

    13 Jornais, revistas, discos

    14 Reno de petrleo e coque

    15 lcool

    16 Produtos qumicos

    17 Fabricao de resina e elastmeros

    18 Produtos farmacuticos

    19 Defensivos agrcolas

    20 Perfumaria, higiene e limpeza

    21 Tintas, vernizes, esmaltes e lacas

    22 Produtos e preparados qumicos diversos

    23 Artigos de borracha e plstico

    24 Cimento

    25 Outros produtos de minerais no-metlicos

    26 Fabricao de ao e derivados

    27 Metalurgia de metais no-ferrosos

    28 Produtos de metal - exclusive mquinas e equipamentos

    29 Mquinas e equipamentos, inclusive manuteno e reparos

    30 Eletrodomsticos

    31 Mquinas para escritrio e equipamentos de informtica

    32 Mquinas, aparelhos e materiais eltricos

    33 Material eletrnico e equipamentos de comunicaes

    34 Aparelhos/instrumentos mdico-hospitalar, medida e ptico

    35 Automveis, camionetas e utilitrios

    36 Caminhes e nibus

    37 Peas e acessrios para veculos automotores

    38 Outros equipamentos de transporte

    39 Mveis e produtos das indstrias diversas

    40 Eletricidade e gs, gua, esgoto e limpeza urbana

    41 Construo

    42 Comrcio

    43 Transporte, armazenagem e correio

    44 Servios de informao

    45 Intermediao nanceira e seguros

    46 Servios imobilirios e aluguel

    47 Servios de manuteno e reparao

    48 Servios de alojamento e alimentao

    49 Servios prestados s empresas

    50 Educao mercantil

    51 Sade mercantil

    52 Servios prestados s famlias e associativas

    53 Servios domsticos

    54 Educao pblica

    55 Sade pblica

    56 Administrao pblica e seguridade social

    Lista de cdigos dos setores e suas denominaes

    Anexo

  • Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014 25

    Mensurao dos efeitos de mudanas climticas na BahiaWeslem Rodrigues Faria*

    Eduardo Amaral Haddad**

    Resumo

    O artigo apresenta os efeitos de mudanas climticas sobre a economia da Bahia. Os principais resultados indicaram uma variao negativa do PIB real da Bahia entre -0,028% e -0,114%, em um cenrio, e entre -0,029% e -0,075% no outro. Estes dados, associados ao fato de que a Bahia possui produtividade agrcola de algumas culturas inferior mdia nacional, sugerem que polticas pblicas e privadas podem ser ado-tadas para mitigar os efeitos de mudanas climticas e aumentar o desempenho, em termos de produo agrcola, relativo aos outros estados do Brasil (incentivo ao cultivo alternativo de algumas lavouras e medidas de estmulo para adaptao s mudanas climticas). Os resultados foram obtidos a partir do desenvolvimento de um modelo de equilbrio geral computvel (EGC) com especificao detalhada do uso da terra para a Bahia. Tal especificao foi incorporada no modelo de forma a considerar 13 distintos usos da terra. Para analisar os efeitos econmicos de mudanas climticas, foi utiliza-da uma metodologia que integrou o EGC a um modelo economtrico. As simulaes tiveram como referncia informaes de um perodo-base e de projees e cenrios climticos do IPCC.Palavras-chave: Mudanas climticas. Bahia. Equilbrio geral.

    Abstract

    The paper presents the effects of climate change on the economy of Bahia. The results indicated a negative change in real GDP of Bahia between -0.028% and -0.114% in one scenario and between -0.029% and -0.075% in another. This result together with the fact that Bahia has agricultural productivity of some crops below the national aver-age suggests that public and private policies can be adopted to mitigate the effects of climate change and increase the performance, in terms of agricultural production, rela-tive to other states. The results were obtained from a computable general equilibrium (CGE) model with detailed specification of land use for Bahia. This specification has been incorporated in order to consider 13 different land uses. In order to analyze the economic effects of climate change an integrated methodology between the CGE model and an econometric model was used. The simulations were based on information from a benchmark and climate projections and scenarios from IPCC.Keywords: Climate change. Bahia. General equilibrium.

    * Doutor em Economia pela Uni-versidade de So Paulo (USP), mestre em Economia pela Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduado em Cincias Econmicas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

    [email protected]** Livre-docente pela Universidade de

    So Paulo (USP), ps-doutor pela University of Oxford (OX) e doutor em Economia pela University of Illi-nois - System (Uillinois).

    BAhIAANlISE & DADOS

  • 26 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014

    Mensurao dos efeitos de Mudanas cliMticas na Bahia

    INTRODUO

    O Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC)1 tem publicado as principais in-formaes referentes s previses de variaes de temperatura e precipitao. Para isso, algumas hipteses so realizadas acerca do comportamen-to econmico, utilizao de combustveis fsseis, uso da terra e adoo de fertilizantes, iniciativas sociais, valorizao do meio ambiente etc. Tais hipteses correspondem a cenrios cujas carac-tersticas so assumidas como de ocorrncia ao longo do tempo. O Quadro 1 resume os principais cenrios adotados pelo IPCC na gerao das esti-mativas dos indicadores de mudanas climticas.

    Como base nos cenrios que definem as hi-pteses acerca da trajetria do mundo, estimati-vas de temperatura foram calculadas e divulgadas pelo IPCC. Os valores so reportados na Tabela 1. As estimativas variam de acordo com o cenrio,

    1 Utiliza-se aqui o seguinte conceito de mudanas climticas do IPCC: Mudana climtica entendida como uma variao estatisticamente significante em um parmetro climtico mdio ou sua variabilidade, per-sistindo um perodo extenso (tipicamente dcadas ou por mais tempo). A mudana climtica pode ser devido a processos naturais ou foras externas ou devido a mudanas persistentes causadas pela ao do homem na composio da atmosfera ou do uso da terra (www.ipcc.ch).

    sendo que o valor mdio mais brando para o aque-cimento global para o perodo 2090-2099 de 1,8C, relativo ao cenrio B1, e o valor mais alto igual 4C, no cenrio A1F1. Em razo da existncia de um clima futuro mais quente, os modelos de previso indicam que a precipitao aumenta de forma generalizada nas reas de mxima precipi-tao tropical regional (e.g. regimes de mones) e sobre o pacfico tropical. Alm disso, prevista reduo da precipitao nas regies subtropicais e aumento em reas de altas latitudes, em razo da intensificao do ciclo hidrolgico global. So projetados aumentos das mdias globais de vapor de gua, evaporao e precipitao (MEEHL et al., 2007).

    Com base em conjecturas de mudanas clim-ticas, como as apresentadas no Quadro 1 e na Ta-bela 1, alguns estudos tiveram como foco a anlise dos efeitos de mudanas climticas no Brasil, com resultados para o Nordeste e o estado da Bahia. Os primeiros desenvolvimentos foram realizados con-siderando a modelagem ricardiana da terra. Nesta metodologia, fatores biofsicos da terra, como tipos de solo e regimes de chuvas segundo estaes, so levados em conta. O mtodo de soluo baseia-se em modelos economtricos em que os produtores

    A1Este cenrio descreve um mundo de crescimento econmico rpido, crescimento populacional que atinge o pico em meados do sculo e rpida introduo de tecnologias novas e mais eficientes. Principais questes subjacentes so a convergncia entre regies, a capacitao e o aumento das interaes culturais e sociais, com uma reduo substancial das diferenas regionais na renda per capita.

    A2

    Este cenrio caracterizado por um mundo heterogneo. A principal questo a autossuficincia e a preservao das identidades locais. Padres de fertilidade entre as regies convergem muito lentamente, o que resulta no aumento contnuo da populao. Desenvolvimento econmico orientado primeiramente para a regio, e o crescimento econmico per capita e as mudanas tecnolgicas so mais fragmentados e mais lentos do que nos outros cenrios.

    B1

    Este cenrio descreve um mundo convergente com a mesma populao global, que chega ao valor mais alto em meados do sculo e declina em seguida, assim como no cenrio A1, mas com rpida mudana nas estruturas econmicas em direo a uma economia de servios e informaes, com redues da intensidade do uso de materiais e a introduo de tecnologias limpas e de recursos tecnolgicos mais eficientes. A nfase dada nas solues globais para a sustentabilidade econmica, social e ambiental, incluindo a melhoria da equidade, mas sem iniciativas climticas adicionais.

    B2

    Este cenrio descreve um mundo em que a nfase reside em solues locais para a sustentabilidade econmica, social e ambiental. Neste mundo, a populao global aumenta continuamente, mas a uma taxa inferior prevista pelo cenrio A2. Prevalecem nveis intermedirios de desenvolvimento econmico, com mudanas tecnolgicas menos rpidas e mais diversas do que nos cenrios B1 e A1. Neste cenrio, a orientao para a proteo ambiental e equidade social ocorre nos nveis local e regional.

    Quadro 1Resumo dos cenrios do IPCC1

    Fonte: Intergovernmental Panel on Climate Change (2007).Notas: 1) Este quadro sumariza os cenrios do Relatrio Especial do IPCC sobre Emisses.

    2) A famlia de cenrios A1 se desdobra em trs grupos, que descrevem direes alternativas da mudana tecnolgica no sistema energtico. Os trs grupos A1 distinguem-se por sua nfase tecnolgica: intensiva em fsseis (A1FI), fontes de energia no fssil (A1T) ou um equilbrio entre todas as fontes (A1B).

  • Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014 27

    Weslem RodRigues FaRia, eduaRdo amaRal Haddad

    objetivam maximizar suas funes de receita de acordo com a alocao da terra nos diferentes usos possveis. Variveis climticas fazem parte do pro-cesso de deciso dos agentes. Alguns resultados preveem, via esta anlise, queda do valor da terra no Brasil proporcionada pelo efeito conjunto do au-mento de temperatura e variao na precipitao, ocorrendo de forma mais intensiva nos estados do Norte e Nordeste (SANGHI et al., 1997; SANGHI; MENDELSONH, 2008).

    Usando essa metodologia, os resultados de ou-tro estudo projetam, com base em cenrios sobre temperatura e regimes de chuvas, que o aumento da temperatura no vero poderia elevar a alocao da terra em pastagem no Nordeste, principalmente em detrimento das reas de floresta e cultura per-manente. O aumento de temperatura no inverno, por outro lado, poderia causar reduo da alocao da terra em pastagem, com aumento de reas de floresta e de cultura temporria no Norte, Nordeste e Centro-Oeste (TIMMINS, 2006).

    Nessa linha de modelagem economtrica, vale destacar ainda os resultados do trabalho de Feres, Reis e Speranza (2009), que buscou identificar o efeito de mudanas climticas globais sobre a alo-cao do uso da terra no Brasil. Tal uso foi dividido entre lavoura, pasto e floresta, nos estabelecimentos agrcolas. Os autores basearam-se em resultados do modelo Providing Regional Climates for Impact Studies (Precis), do CPTEC/INPE, sobre variao de temperatura e precipitao para os cenrios de

    emisses A2 e B2, do IPCC. Os principais resulta-dos das simulaes para a Regio Nordeste apon-tam para uma forte reduo de reas de florestas/matas e um aumento das reas de pastagem. Os dados sugerem que as mudanas climticas tm como consequncia a degradao das terras e a converso de reas de matas em pastos de bai-xa rentabilidade sobre as regies da caatinga e do cerrado nordestino (sul do Maranho, sul do Piau e oeste da Bahia). J as reas de lavoura apresentam variaes negativas significativas em dois perodos de simulao e aumento em outro.

    Em termos de modelagem de equilbrio geral computvel (EGC), um grande estudo foi realizado para mensurar os efeitos de mudanas climticas no Brasil. Tal trabalho, feito no mbito de estudo da economia das mudanas climticas, teve como base projees macroeconmicas at o ano de 2050, que forneceram as condies de contorno da evoluo da economia brasileira e mundial. A trajetria da economia nacional em nvel setorial foi projetada de forma consistente com esta evoluo da economia mundial e com os cenrios de mudan-as climticas do IPCC, A2 e B2. Alm das proje-es macroeconmicas, a estratgia metodolgica considerou um grande procedimento de integrao de modelos, levando em projees para agricultura e uso da terra, energia e demografia para alimentar o modelo EGC. Os resultados desse trabalho indi-cam uma reduo de 0,1% e 0,7% no PIB da Bahia projetados para 2050, considerando a existncia de mudanas climticas dos cenrios A2 e B2, respec-tivamente (MARGULIS; DUBEUX, 2010).

    Vale ser destacado, por fim, um amplo estudo conduzido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (2008), embora no tenha sido utili-zado nenhum dos instrumentais econmicos men-cionados anteriormente, mas sim anlise de zonea-mento de riscos climticos para definir reas aptas ou inaptas de cada tipo de lavoura e simulao de cenrios climticos para o Brasil, a partir do modelo climtico Precis. Os resultados deste estudo acer-ca da avaliao dos efeitos do aquecimento global

    Tabela 1Mdia de aquecimento global da superfcie terrestre projetada para o sculo 21(Mudana na temperatura em C para o perodo 2090-2099 em relao ao perodo 1980-1999)

    Cenrios MelhorestimativaIntervaloprovvel

    B1 1,8 1,12,9

    A1T 2,4 1,43,8

    B2 2,4 1,43,8

    A1B 2,8 1,74,4

    A2 3,4 25,4

    A1FI 4 2,46,4Fonte: Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC (2007).

  • 28 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014

    Mensurao dos efeitos de Mudanas cliMticas na Bahia

    sobre a configurao espacial da produo agrcola no Brasil indicaram que o aumento da temperatu-ra pode provocar um prejuzo para o setor agrcola de R$ 7,4 bilhes at 2020 e R$ 14 bilhes at 2070. Foi previsto que a produo de alimentos pode ser bastante impactada. As reas cultiva-das com milho, arroz, feijo, algodo e girassol sofrero forte reduo na Regio Nordeste, com perda sig-nificativa da produo. A rea correspondente ao agreste nordestino, responsvel pela maior parte da produo regional de milho, e a regio dos cerra-dos nordestinos sul do Maranho, sul do Piau e oeste da Bahia sero as mais atingidas. O estado da Bahia pode ainda ter perdas nas produes de algodo e feijo.

    Em geral, esses estudos indicam que os efei-tos de mudanas climticas podem ser adversos sobre a economia, sendo mais ou menos intensos dependendo do cenrio considerado. A apresenta-o dos resultados j encontrados dos efeitos de mudanas climticas na Bahia e Restante do Brasil tem como objetivo retratar informaes relevantes para contextualizar os possveis resultados que po-dem ser obtidos neste trabalho. Vale destacar que os dados encontrados nas simulaes e anlises da prxima seo suscitam a necessidade da ateno das autoridades na formulao de polticas pbli-cas que visem entender (e.g. o presente trabalho) e mitigar os efeitos de mudanas climticas na Bahia (e.g. incentivo ao uso de tcnicas mais avanadas e intensificao/alternncia do cultivo de algumas lavouras). Tal necessidade surge principalmente devido a duas razes: i) elevar o potencial da pro-duo agrcola do estado a partir da observao de suas principais vocaes e dos custos impostos por este fenmeno; e ii) tornar a Bahia mais competitiva frente a outros estados do Brasil, isto , aumentar a sua produtividade agrcola relativa.

    O objetivo deste trabalho apresentar resulta-dos de projees de mudanas climticas sobre

    a economia da Bahia e do Restante do Brasil uti-lizando um modelo EGC. Para analisar os efeitos econmicos de mudanas climticas, foi utilizada

    uma estratgia de integra-o com os resultados de um modelo economtrico que estimou parmetros da influncia de variveis cli-mticas sobre a alocao de terra entre diferentes usos.

    Alm desta introduo, o trabalho tem mais seis sees: i) uso da terra na Bahia; ii) metodologia; iii) banco de dados; iv) estratgia de integrao do modelo EGC do uso da terra ao modelo econom-trico; v) resultados; e vi) concluso.

    Uso da terra na Bahia

    As tabelas 2 e 3 apresentam os padres de uso da terra na Bahia e Restante do Brasil em 1996 e 2006, respectivamente. O objetivo retratar e comparar o perfil de produo agrcola dessas duas regies para auxiliar o melhor entendimen-to sobre o padro de localizao das atividades agrcolas. Dessa forma, tais informaes podem ser relevantes no estabelecimento mais apropria-do da ligao entre o uso da terra e o problema de pesquisa. A construo das tabelas foi feita com base nas informaes dos censos agropecurios de 1996 e 2006 do IBGE.2

    Cada tabela retrata o valor e a participao (%) da produo e da rea colhida de cada cul-tura agrcola em ambas as regies. Alm disso, apresentada tambm a participao da produo e da rea colhida das culturas agrcolas da Bahia

    2 Vale observar que a atividade de bovinos e outros animais vivos possui elevada participao tanto na produo agrcola como na rea total utilizada nas atividades agrcolas das regies. Por exemplo, em 2006, segundo os dados do Censo Agropecurio, 52,8% de toda a rea agr-cola do estado da Bahia foi utilizada na atividade de bovinos e outros animais vivos. A atividade de extrao vegetal e silvicultura tambm apresentou elevada participao relativa na rea agrcola da Bahia (11,7%). No entanto, para facilitar a observao de determinados pa-dres com relao produo agrcola, alm de facilitar as compara-es realizadas, apenas as atividades de culturas foram retratadas.

    O aumento da temperatura [aquecimento global] pode

    provocar um prejuzo para o setor agrcola de R$ 7,4 bilhes

    at 2020 e R$ 14 bilhes at 2070

  • Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014 29

    Weslem RodRigues FaRia, eduaRdo amaRal Haddad

    nacionalmente em ambos os anos. Em 1995, as principais culturas da Bahia foram outros produtos e servios da lavoura (38,1%) e cana-de-acar (21,8%), em termos de produo. Ressalte-se o elevado nvel de produtividade3 relativa desta cul-tura, uma vez que apenas 1,9% do total de toda a

    3 Considerando uma definio simples de produtividade como sendo o valor resultante da diviso entre produo e rea colhida.

    rea colhida foi utilizado em sua produo. O re-sultado para o Restante do Brasil ratifica o fato de que a cultura de cana-de-acar possui elevado valor em termos de produtividade agrcola relativa. A ltima parte da Tabela 2 mostra que a Bahia, com relao a todas as culturas, possui participa-o (%) mais elevada nacionalmente da rea co-lhida do que da produo. Isso quer dizer que no estado maior quantidade de rea necessria para

    Tabela 2Uso da terra na Bahia em 1996*

    Tipos de uso da terra

    Bahia Restante do Brasil Participao % da BahiaProduo rea colhida Produo rea colhida

    valor % valor % valor % valor % Produo rea colhida

    1. Arroz em casca 58,6 0,9% 50,3 1,5% 7.989,3 2,1% 2.917,8 7,6% 0,7% 1,7%

    2. Milho em gro 596,1 8,8% 544,1 16,7% 24.915,8 6,6% 9.904,4 25,8% 2,3% 5,2%

    3. Trigo em gro e outros cereais 0,4 0,0% 0,3 0,0% 1.432,7 0,4% 842,4 2,2% 0,0% 0,0%

    4. Cana-de-acar 1.483,2 21,8% 60,9 1,9% 263.533,1 69,4% 4.245,7 11,1% 0,6% 1,4%

    5. Soja em gro 721,3 10,6% 355,1 10,9% 20.866,9 5,5% 8.885,2 23,2% 3,3% 3,8%

    6. Mandioca 869,6 12,8% 211,4 6,5% 8.229,6 2,2% 1.004,1 2,6% 9,6% 17,4%

    7. Fumo em folha 6,4 0,1% 10,1 0,3% 445,0 0,1% 289,0 0,8% 1,4% 3,4%

    8. Algodo herbceo 43,8 0,6% 101,4 3,1% 770,4 0,2% 509,3 1,3% 5,4% 16,6%

    9. Frutas citrcas 336,7 5,0% 54,6 1,7% 13.805,1 3,6% 1.067,7 2,8% 2,4% 4,9%

    10. Caf em gro 95,6 1,4% 111,9 3,4% 2.742,6 0,7% 1.700,4 4,4% 3,4% 6,2%

    11. Outros produtos e servios da lavoura 2.588,3 38,1% 1.752,1 53,9% 35.078,6 9,2% 6.988,6 18,2% 6,9% 20,0%

    Total 6.800,0 100,0% 3.252,2 100,0% 379.809,0 100,0% 38.354,5 100,0% 1,8% 7,8%Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Censo Agropecurio 1995-1996 (1998).* Valores da produo em 1.000 toneladas e valores da rea colhida em 1.000 hectares.

    Tabela 3Uso da terra na Bahia em 2006*

    Tipos de uso da terra

    Bahia Restante do Brasil Participao % da BahiaProduo rea colhida Produo rea colhida

    valor % valor % valor % valor % Produo rea colhida

    1. Arroz em casca 21,6 0,2% 14,9 0,4% 9.424,8 1,7% 2.392,3 4,9% 0,2% 0,6%

    2. Milho em gro 1.732,4 14,0% 725,9 19,2% 40.549,4 7,4% 10.993,0 22,4% 4,1% 6,2%

    3. Trigo em gro e outros cereais 0,0 0,0% 0,0 0,0% 2.251,9 0,4% 1.297,5 2,6% 0,0% 0,0%

    4. Cana-de-acar 2.721,5 22,0% 57,6 1,5% 381.443,2 69,9% 5.517,5 11,2% 0,7% 1,0%

    5. Soja em gro 1.715,2 13,9% 630,6 16,7% 38.981,5 7,1% 15.010,0 30,6% 4,2% 4,0%

    6. Mandioca 1.246,8 10,1% 321,3 8,5% 14.847,1 2,7% 2.375,9 4,8% 7,7% 11,9%

    7. Fumo em folha 6,3 0,1% 6,4 0,2% 1.102,7 0,2% 561,1 1,1% 0,6% 1,1%

    8. Algodo herbceo 649,2 5,3% 188,5 5,0% 1.670,8 0,3% 589,5 1,2% 28,0% 24,2%

    9. Frutas citrcas 573,4 4,6% 41,9 1,1% 13.180,2 2,4% 684,8 1,4% 4,2% 5,8%

    10. Caf em gro 145,7 1,2% 107,2 2,8% 2.214,8 0,4% 1.580,2 3,2% 6,2% 6,4%

    11. Outros produtos e servios da lavoura 3.536,5 28,6% 1.683,4 44,6% 40.160,9 7,4% 8.072,4 16,4% 8,1% 17,3%

    Total 12.348,6 100,0% 3.777,7 100,0% 545.827,2 100,0% 49.074,1 100,0% 2,2% 7,1%Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Censo Agropecurio 2006 (2009).* Valores da produo em 1.000 toneladas e valores da rea colhida em 1.000 hectares.

  • 30 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014

    Mensurao dos efeitos de Mudanas cliMticas na Bahia

    a produo de uma mesma quantidade de produto agrcola em comparao com o Restante do Bra-sil para todas as culturas. Por exemplo, de toda a rea colhida na produo de outros produtos e servios da lavoura, 20,0% encontra--se na Bahia. Porm, o es-tado produz apenas 6,9% do total desta cultura. Isso quer dizer que o Restante do Brasil consegue produzir uma mesma quantidade que a Bahia utilizando a mesma quantidade de terra.

    A Tabela 3 apresenta as mesmas informaes discutidas anteriormente, mas para o ano de 2006. Em relao ao perodo anterior, culturas como mi-lho em gro, soja em gro e algodo herbceo ganharam participao no total da produo da Bahia. O estado ainda reverteu condio de pos-suir um nvel de produtividade agrcola inferior em relao ao Restante do Brasil nas culturas de soja em gro e algodo herbceo, embora tal nvel, em termos gerais, seja ainda bem inferior. No entan-to, de um olhar mais profundo das possveis mu-danas no padro da produtividade agrcola entre 1996 e 2006 podem emergir algumas concluses. Faria e Haddad (2013) encontraram evidncias de que mudanas no padro da produtividade agr-cola entre estes dois perodos contriburam para a reduo das disparidades regionais no Brasil, uma vez que os estados mais afetados positivamente (em termos de nvel de atividade econmica) por esta mudana encontram-se nas regies Nordeste e Centro-Oeste.

    Em termos prticos, as estruturas produtivas agrcolas das economias da Bahia e do Restante do Brasil condicionam os resultados encontrados das simulaes para verificar os efeitos econmi-cos das mudanas climticas. Economias mais in-tensivas na produo agrcola tendem a ser mais afetadas. No entanto, a maior produtividade agr-cola contribui para a reduo da vulnerabilidade frente a este fenmeno.

    Estrutura do modelo

    O modelo Brazilian Land Use Energy (BLUE) foi derivado a partir do mo-delo B-MARIA-27, que ser-viu como base para a es-pecificao das equaes comportamentais e para a implementao computacio-nal. A estrutura energtica do modelo ENERGY-BR foi adotada para a incorporao

    dos produtos e setores de energia ao banco de dados do modelo (SANTOS, 2010). Em relao ao B-MARIA-27, o ENERGY-BR adotou uma aborda-gem setor setor de modelagem, que consiste na especificao das funes de produo dos setores de forma a permitir que cada setor produza apenas um produto. O detalhamento completo da estrutu-ra e das caractersticas do modelo encontra-se em Faria (2012).

    O modelo reconhece a economia de 27 regi-es do Brasil, correspondentes s 27 unidades da Federao. Os resultados so baseados na abor-dagem bottom-up, em que resultados nacionais so obtidos a partir da agregao dos resultados regionais. O modelo identifica, em cada uma das 27 unidades da Federao, 42 produtos, sendo 13 relacionados atividade da agropecuria, e nove, de energia. O sistema corresponde a uma relao atividade atividade, adotada para que o mode-lo pudesse observar o componente terra do valor adicionado de forma desagregada, tal qual na es-pecificao dos produtos.

    A escolha desta estrutura em termos da quanti-dade de produtos deveu-se possibilidade de cap-tao do relacionamento entre os diferentes usos da terra e os produtos agrcolas. Assim, tal estrutura do modelo permite que sejam considerados efeitos de transbordamentos do relacionamento sistmico indireto de equilbrio geral entre o uso da terra e os produtos de energia. A utilizao de produtos desagregados de energia se justifica tambm por

    As estruturas produtivas agrcolas das economias da

    Bahia e do Restante do Brasil condicionam os resultados

    encontrados das simulaes para verificar os efeitos econmicos

    das mudanas climticas

  • Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014 31

    Weslem RodRigues FaRia, eduaRdo amaRal Haddad

    permitir a obteno de resultados em termos de emisses, o que representa um bom indicador a ser analisado em contexto de avaliao de efeitos econmicos de mudanas no clima. Isso tambm significa que emisses provenientes do uso indireto da terra tambm sejam consideradas, neste caso, via utilizao de insumos energticos.

    BANCO DE DADOS

    Dados relativos ao core do modelo

    Os dados utilizados para calibrar o modelo, no que diz respeito ao fluxo inter-regional de comrcio de insumos intermedirios, demanda por investi-mentos, demanda das famlias, demanda dos go-vernos regionais e federal, demanda por variao de estoque, exportaes, remunerao dos insu-mos primrios, demanda por margens de transporte e impostos, so relativos ao ano-base de 2007. O fluxo de comrcio inter-regional dos insumos inter-medirios foi gerado a partir de um extenso pro-cedimento que envolveu ampla coleta de dados, compatibilizao das informaes de diferentes institutos de pesquisa e validao das etapas em-pregadas e das informaes obtidas em cada uma. Resumidamente, todo o conjunto de dados obtido e utilizado para completar uma etapa na trajetria de pesquisa foi trabalhado de forma a manter a consis-tncia com as informaes oficiais do novo sistema de contas nacionais (NSCN) do IBGE, em um estilo de abordagem bottom-up. Isto significa que os da-dos foram trabalhados a partir de escalas espaciais inferiores, sendo que, quando agregadas, deveriam representar de forma consistente o comportamento da escala regional superior em cada nvel.

    Dados do uso da terra

    A especificao do uso da terra, tanto em ter-mos da demanda quanto da oferta fsica, constitui

    o ponto central do trabalho. Os dados utilizados nesta anlise so referentes s informaes do mais recente Censo Agropecurio, cujo ano-base 2006, para as unidades da Federao (CENSO AGROPECURIO 2006, 2009). Foram quatro os conjuntos de informaes utilizados deste Censo: i) valor pago de arrendamento de terras pelos es-tabelecimentos; ii) rea colhida, segundo classes da atividade agrcola; iii) utilizao das terras nos estabelecimentos, por tipo de utilizao, segundo os grupos e classes da atividade agrcola; e iv) valor das terras dos estabelecimentos. O primeiro conjun-to de dados foi usado para calibrar as informaes referentes demanda por terra. O terceiro conjunto foi utilizado para calibrar as informaes sobre a oferta fsica de terra. O segundo conjunto de infor-maes forneceu informaes teis no processo de calibrao, servindo como proxy em alguns casos. O ltimo conjunto de dados foi utilizado no clculo das elasticidades de substituio no processo de converso de terra no lado da oferta.

    ESTRATGIA DE INTEGRAO ENTRE A MODELAGEM EGC DO USO DA TERRA E A MODELAGEM DO USO DA TERRA S vARIAES CLIMTICAS

    Para verificar os efeitos econmicos de mudan-as climticas a partir da modelagem desenvolvida neste trabalho, foi utilizada uma estratgia de inte-grao em que os resultados de um modelo econo-mtrico do uso da terra foram acoplados ao mode-lo EGC para a gerao dos resultados. Tal modelo economtrico, desenvolvido nos estudos de Fres, Reis e Speranza (2009) e Barbosa (2011), conside-rou em sua especificao os efeitos de variao e temperatura sobre a alocao de terra de diferen-tes categorias de uso. O detalhamento completo da estratgia de integrao entre as duas modelagens pode ser encontrado em Faria (2012).

    Para a utilizao das elasticidades da alocao da terra s mudanas climticas foi elaborada a

  • 32 Bahia anl. dados, Salvador, v. 24, n. 1, p.25-38, jan./mar. 2014

    Mensurao dos efeitos de Mudanas cliMticas na Bahia

    hiptese de que as decises timas dos agentes representativos do modelo EGC so consistentes com as decises timas do agente representativo da especificao economtrica. Neste sentido, ape-nas os elementos climticos so considerados para fazer a integrao, ceteris paribus os outros elemen-tos levados em conta na especificao economtri-ca. O modelo EGC foi calibrado com elasticidades construdas a partir dos parmetros estimados por Barbosa (2011). A forma de integrao ocorreu adicionando-se termos tecnolgicos exgenos na funo de demanda por terra no modelo EGC para introduzir as variaes percentuais na temperatura e precipitao dos cenrios climticos. Tais termos so multiplicados pelos seus correspondentes ve-tores de elasticidades regionais de cada cultura. A introduo destes termos teve como objetivo pro-mover deslocamentos da funo de demanda por terra em razo de variaes climticas.

    As informaes das variveis climticas so re-lativas base de dados da Climatic Research Unit (CRU/University of East Anglia), e as projees de temperatura e precipitao para o perodo de 2010 a 2099, considerado no presente trabalho, advm do modelo regionalizado Precis, do CPTEC/INPE.

    Na construo dos choques, primeiramente fo-ram calculadas as mdias estaduais a partir das in-formaes microrregionais da CRU e das projees das variveis climticas. Em seguida, foram obtidas as variaes percentuais das mdias trimestrais dos valores das projees, tanto da temperatur