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  • 8/6/2019 B-085 Yarnel de Oliveira Campos

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    PONENCIA EGAL 2011- COSTA RICA

    GESTO AMBIENTAL EM BUSCA DO QUE FORMA, MATM, PROTEGE,

    REGULA E REGENERA O AMBIENTE.

    Yarnel de Oliveira Campos

    Professor Doutor da Universidade Federal do Par - Brasil

    E-mail: [email protected]

    A evoluo histrica dos conceitos e instrumentos de poltica e gesto

    ambiental, nos ltimos 50 anos, indica as tendncias fundadas nas

    transformaes social, econmica e tecnolgica. A sociedade denominada ps-

    industrial baseia-se em uma economia globalizada e em uma crescente e veloztransformao tecnolgica. Segundo DIAS, (2009)

    Na segunda metade do sculo XX, com a intensificao do

    crescimento econmico mundial, os problemas ambientais se

    agravam e comeam a aparecer com maior visibilidade para

    amplos setores da populao, particularmente dos pases

    desenvolvidos, os primeiros a serem afetados pelos impactos

    provocados pela Revoluo Industrial. (DIAS, Reinaldo. 2009, p.12).

    Nesse formato, o ambiente adquiriu nova concepo, transformou-se de

    essencialmente local para uma realidade global e incorporou nas estratgias

    locais os novos e diferentes agentes sociais.

    O crescimento da atividade econmica sempre esteve associado ao

    aumento da utilizao dos recursos naturais e energticos, a partir do momento

    em que as atividades produtivas adquiriram uma nova organizao. Esta

    associao ocorreu tanto na agropecuria como na indstria.

    As velozes mudanas tecnolgicas, com profunda interveno no processo

    produtivo, na economia e no social, introduziram uma dinmica mais intensiva no

    processo de transformao, instaurando um sistema cada vez mais complexo em

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    relao organizao ambiental com base no uso intensivo de recursos de

    matria-prima e de energia.

    Essa velocidade de eventos, a bordo do processo

    multidimensional da globalizao, produziu e precipitou uma das

    mais graves preocupaes para os cientistas da rea ecolgico-

    ambiental, referente capacidade de suporte da terra e

    viabilidade biolgica da espcie humana: o nmero crescente de

    indivduos que passam a ocupar o mesmo nicho, dentro da

    biosfera, ou seja, cada vez mais pessoas adotam os mesmos

    padres de consumo, em todo o mundo, exercendo presses

    crescentes sobre uma mesma categoria de recursos finitos ou cuja

    velocidade de regenerao no est sendo observada. (DIAS,

    2001, p. 92).

    Essa configurao tem provocado mudanas nas estruturas fsicas naturais

    e nas sociais como a transnacionalizao do poder embasado na apropriao das

    informaes e do conhecimento e o crescente esvaziamento da interveno do

    Estado Nacional.

    O processo evolutivo no se revelou de forma homognea, mas possvel

    perceber uma linha mestra que engendra as polticas de forma semelhante. Os

    acontecimentos, no final da dcada de 1960 e incio da dcada de 1970,

    manifestaram um processo de estruturao institucional e elaborao de polticas

    ambientais em diferentes pases, centrada em uma tica essencialmente corretiva

    gerada no mecanismo de controle de impactos ambientais.

    J na dcada de 1980, as polticas ambientais direcionaram-se para a

    preveno de impacto ambiental em quase todos os pases do mundo ocidental.

    Comeavam a utilizar, como instrumento de preveno e auxlio a gesto

    ambiental, a Avaliao de Impacto Ambiental e os Instrumentos de Comando e

    Controle.

    Com a aplicao dos instrumentos de comando e controle, nas dcadas

    de 1970 e 1980, a gesto ambiental foi essencialmente praticada pelo Estado por

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    meio de uma poltica ambiental fortemente centralizada. Durante esse perodo, a

    gesto ambiental foi marcada por intensos conflitos pblicos e privados.

    Com o intuito de promover a harmonia entre as instituies pblicas e

    privadas, as Naes Unidas publicaram em 1987, no Relatrio denominado

    Nosso Futuro Comum, o conceito de desenvolvimento sustentvel, que tem

    sido motivo de calorosos debates. Apesar do desgaste que esse termo sofreu, foi

    um dos constituintes das transformaes percebidas na dcada de 1990 e que

    vem embasando as orientaes buscadas pelas polticas ambientais de diferentes

    pases.

    Na Conferncia das Naes Unidas em 1992, no Rio de Janeiro, houve

    maior divulgao do conceito desenvolvimento sustentvel. Foi nesse contexto

    que se incorporaram novos elementos, como o fortalecimento da administraolocal em resposta ao processo da globalizao e a introduo de mecanismos de

    gesto ambiental nas empresas privadas.

    Aps a Conferncia ECO 92, percebeu-se o desenvolvimento de normas

    voluntrias sobre Sistema de Gesto Ambiental, instrumentos da chamada Gesto

    Ambiental Privada.

    Dentre as iniciativas de auto-regulamentao, esto as

    normas voluntrias relativas aos SGAs que comearam a ser

    elaboradas de modo mais intenso a partir de meados da dcada

    de 1990. O surgimento dessas normas deve-se aos seguintes

    fatores: crescimento da influncia das ONGs que atuam nas reas

    do meio ambiente e correlatas; aumento do contingente de

    consumidores responsveis, ou consumidores verdes, que

    procuram cada vez mais utilizar produtos ambientalmente

    saudveis; intensificao dos processos de abertura comercial

    expondo produtores diferenas pronunciadas de custo ambientais

    e sociais a uma competio mais acirrada e internacional; e

    restries criao de barreiras comerciais para proteger

    mercados dentro da lgica da globalizao, restries que foram

    ampliadas com a aprovao do Tratado de Marrakesh de 1994,

    que encerrou a Rodada Uruguai de negociaes comerciais

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    multilaterais no mbito do Gatt e criou a Organizao Mundial do

    Comrcio (OMC). (BARBIERI, 2004, p. 141).

    Dentre os instrumentos da chamada Gesto Ambiental Privada, destacam-

    se os desenvolvimentos na base da srie de normas ISO 14.0001: Sistema degesto ambiental, Auditoria Ambiental e Avaliao de Desempenho Ambiental,

    relacionados gesto ambiental de organizaes.

    Outro instrumento a Avaliao do Ciclo de Vida (ACV), Rotulagem e

    Aspectos Ambientais em Padres, referentes gesto ambiental de produtos.

    A avaliao do ciclo de vida (ACV) um instrumento de

    gesto ambiental aplicvel a bens e servios. O ciclo de vida que

    interessa gesto ambiental refere-se aos aspectos ambientais de

    um bem ou servio em todos os seus estgios, desde a origem

    dos recursos no meio ambiente at a disposio final dos resduos

    de materiais e energia aps o uso, passando por todas as etapas

    intermedirias, como beneficiamento, transportes, estocagens e

    outras. (BARBIERI, 2004, p. 146).

    Com a emergncia de elementos e novos instrumentos, inicia-se a

    conquista do espao de negociao e prepara-se o terreno para as aes de

    conciliao, sempre embasado em um conceito frgil e alvo de diversas crticas, o

    de desenvolvimento sustentvel. Negociaes cujas partes se constituem de

    mltiplos interesses e percepes ambientais diferentes, de um lado, o

    gerenciamento do Estado e, do outro, a busca da gesto ambiental.

    Na problemtica ambiental, o vocbulo gesto adquire um significado mais

    geral, pois envolve uma multiplicidade interativa de variveis sistmicas

    dependentes e independentes, que interagem ao mesmo tempo em um espao

    imposto pelos gestores. Com essa concepo, ao gerenciar as emergncias

    1ISO 14000 um conjunto de normas que definem parmetros e diretrizes para a gesto ambiental para as

    empresas privadas e pblicas. Estas normas foram definidas pela International Organization for

    Standardization - ISO (Organizao Internacional para Padronizao).

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    oriundas da apropriao dos recursos naturais no se deve perder de vista o todo

    sistmico, a integrao das unidades e a ao e a funo que se desenvolvem na

    sua globalidade.

    Entretanto a gesto ambiental pode ser entendida como um conjunto de

    aes e processos que tem como objetivo a qualidade de vida satisfatria para o

    desenvolvimento econmico e social. Essa busca de qualidade ambiental principia

    na percepo da capacidade de carga do ambiente e das necessidades da

    sociedade local.

    Com a compreenso sistmica do ambiente conduz-se aos fatores que so

    identificados de forma transdisciplinar, que permite a compreenso e a aplicao

    de medidas adequadas na soluo dos problemas ambientais.

    Nessas circunstncias, a gesto ambiental qualifica a atuao institucional,seja governamental ou pela sociedade civil organizada, no sentido de pr em

    execuo a poltica ambiental. Dessa forma, pode-se compreender a gesto

    ambiental como uma ao pblica realizada pela organizao estatal em conjunto

    com a sociedade civil. Assim, as decises perpassam governo com aes

    descentralizadas, o que se constitui na base do sucesso das propostas de gesto

    ambiental.

    Desse modo, a expresso gesto ambiental ser aqui entendida como

    processo de articulao das aes dos mltiplos agentes que atuam e inter-

    relacionam-se em um territrio pr-determinado, no caso, a bacia hidrogrfica,

    com objetivo de atingir efeitos positivos sobre o ambiente, seja mitigando ou

    eliminando os reflexos dos impactos naturais e os provenientes das aes sociais.

    Todas as aes na gesto ambiental envolvem uma intencionalidade

    varivel na sua abrangncia espacial, da qual se esperam os resultados eficazes,

    sejam na escala global, regional ou local, assim como os que se destinam, por

    exemplo, gua, ao ar, ao solo, fauna ou a flora; e de acordo com as diferentes

    instituies que tomam a iniciativa, como governo, empresa, sociedade civil ou

    uma iniciativa com vrias instituies.

    Os problemas se agravam, em sua maior parte, pela estagnao e

    deficincia da teoria e das prticas tradicionais de como se concebe a gesto

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    ambiental. Ao deparar com as emergncias resultantes do desenvolvimento

    tecnolgico e com as diferentes apropriaes dos recursos naturais, evidenciam-

    se as deficincias na ausncia de informaes sobre a dinmica e as interaes

    ambientais e com a obscuridade das definies e objetivos confusos dos rgos

    pblicos e privados, como nos mecanismos articuladores entre os atores sociais

    envolvidos no processo.

    No deixa de ser constrangedor quando admitimos que

    ainda no dispomos de equipamentos tericos e instrumental

    adequado para lidarmos, apropriadamente, com a complexa

    temtica ambiental. Estamos ainda arranhando a superfcie da

    nossa compreenso sobre as mltiplas, complexas, instigantes e

    fascinantes interrelaes ambientais, que se revelam a cada

    pesquisa. (DIAS, 2001, p. 249).

    O gerenciamento ambiental deveria ter uma percepo da dinmica e da

    totalidade ambiental, em que se encontrariam suas funes bsicas, com foco nos

    resultados das interaes emergentes. Nesse sentido, os recursos naturais e as

    aes sociais seriam agregados sob um rgo gestor de bacia hidrogrfica.

    Assim, poder-se-ia evitar o que acontece na maioria das gestes dos Estados,onde se evidenciam as divergncias e a falta de sintonia administrativa e um

    descompasso com a dinmica natural.

    Muitos obstculos devero de ser ultrapassados para que se consiga atingir

    o objetivo da gesto ambiental. A busca da aproximao entre o desenvolvimento

    socioeconmico e a capacidade de carga do ambiente embasa-se nos

    conhecimentos cientficos e na negociao social como articuladora dos diferentes

    interesses sociais e diferentes capacidades naturais, que interagem em diferentes

    espaos. Esse procedimento se manifesta como uma das ferramentas na busca

    da sustentabilidade ambiental.

    Nesse propsito, a gesto ambiental, como articuladora das interaes

    ambientais, tem como objetivo regulamentar o uso, a proteo, o controle e a

    conservao ambiental dos mltiplos agentes sociais que interagem em diferentes

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    configuraes espaciais. Manifesta-se na conduo e nas definies de acordos e

    adequaes para a explorao de acordo com a capacidade de carga do sistema

    local.

    Ao mesmo tempo, tais sistemas esto sujeitos a crises. Toda

    crise, seja qual seja qual for sua origem, se traduz por uma falha

    na regulao, ou seja, no controle dos antagonismos. Os

    antagonismos irrompem quando h crise; eles fazem crise quando

    esto em erupo. A crise se manifesta por transformaes de

    diferenas em oposio, de complementaridades em

    antagonismos, e a desordem se espalha no sistema em crise.

    Quanto mais rica a complexidade organizacional, mais h

    possibilidade, logo, perigo de crise, e mais o sistema capaz de

    ultrapassar suas crises e at de tirar proveito delas para o seu

    desenvolvimento.

    No se pode, ento, conceber organizao sem

    antagonismo, quer dizer, sem uma antiorganizao potencial

    includa em sua existncia e em seu funcionamento. (MORIN,

    2002, p. 154 e 155).

    A degradao ambiental no se justifica apenas pelo desconhecimento do

    funcionamento do sistema natural articulado com o sistema social. Na

    configurao atual dos fatos mais importantes a serem considerados, esto as

    inadequadas aes e as falhas no processo de gesto ambiental. Nesse sentido,

    deve-se dar maior ateno ao conhecimento da funcionalidade, da organizao do

    sistema ambiental e ao desenvolvimento de instrumentos de gesto que

    promovam de maneira sistmica a proteo, a conservao e o monitoramento

    ambiental.A gesto ambiental se constitui, tambm, por poltica pblica, a qual institui

    as diretrizes gerais por um gerenciamento ambiental, que articula funes

    particulares das instituies e pe em prtica os instrumentos legais e seus

    procedimentos metodolgicos na execuo do planejamento ambiental.

    Assim, faz-se oportuno o esclarecimento da diferena entre a compreenso

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    de gesto ambiental e gerenciamento, por representar atuaes e procedimentos

    diferenciados. A gesto ambiental considerada de maneira ilimitada, ampla,

    abrigando todas as aes, incluindo as do gerenciamento ambiental. Considera-se

    gerenciamento ambiental como uma forma de governo que se caracteriza por um

    conjunto de organismos governamentais e privados, constitudo com o objetivo de

    executar a poltica pblica ambiental por meio dos procedimentos metodolgicos

    adotados por um governo e utilizando-se de instrumentos para o planejamento

    ambiental. As aes governamentais se respaldam e orientam-se pela legislao

    em vigor. Assim, estabelece-se o que se denomina por gerenciamento ambiental,

    entendido como arranjo estrutural da administrao do Estado para gerenciar o

    ambiente.

    Os impactos das prticas participativas embasadas na manifestaocoletiva na gesto ambiental conduzem a uma nova qualidade de cidadania, que

    institui o cidado de direitos para a participao social e poltica. Configura-se

    como superao de barreiras a serem superadas para proliferar iniciativas de

    gesto que articulem com eficincia a complexidade ambiental com a democracia.

    Tal fundamento reside no fortalecimento do espao pblico local e na

    participao da sociedade cvil na elaborao das polticas pblicas em uma

    democracia direta, assim como na complexa e contraditria institucionalizao de

    prticas participativas inovadoras, que rompem com o processo predominante,

    superando as aes clientelistas.

    Na complexidade da gesto ambiental, procura-se classificar e ordenar os

    mltiplos elementos para compor um sistema, ocupando-se de procedimentos

    metodolgicos que incluem ou excluem alguns elementos. Utilizam-se as

    informaes em vrias composies organizacionais e com diferentes graus de

    complexidades na construo de uma totalidade sistmica.

    Assim, dependendo da intencionalidade, tem-se uma relativa aproximao

    das unidades sistmicas. As abordagens implicam a uma relativa aproximao de

    suas unidades elementares e de seus processos atuantes que correspondem

    representao do espao e do tempo de um sistema ambiental.

    Entretanto o conhecimento da estrutura e da dinmica do entorno do

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    sistema abordado importante para uma tomada de deciso em uma gesto

    ambiental mais eficiente.

    no idear do espao total que se incluem todos os elementos introduzidos

    pelo homem ao longo da histria. Assim, compreende-se a complexidade nas

    interaes elementares dos componentes naturais intercambiando-os com

    componentes introduzidos pelas aes antrpicas desenvolvidas no tempo e

    localizadas em um espao especfico.

    De qualquer ponto de vista ou hiptese, a nica maneira de

    abranger o universo da territorialidade criada por aes e

    atividades antrpicas sobre os restos de uma natureza

    modificada residir em uma correta anlise do espao total

    regional. Haver sempre a necessidade de delimitar uma core area

    para o detalhamento dessa pesquisa, sem que se desprezem,

    porm, os crculos transicionais dos entornos envolvidos na

    funcionalidade dos espaos integrados. (ABSBER, 1998, p. 31).

    Para tanto, relevante compreender, em uma escala, o espao, o tempo e

    as condies em que ocorrem os fenmenos. Pois os fatores que desencadeiam

    as suas distribuies, reaes e interaes elementares variam no tempo e noespao.

    A diferena de um perodo de ocorrncia de um fenmeno e o tempo de

    reao no sistema so uma questo a ser considerada na escolha da escala, pois

    as relaes elementares dos fenmenos que motivam a sua ocorrncia,

    organizao, possuem tempos diferentes entre a ao e a sua reao.

    Quando o objetivo definir os detalhes que se desejam para selecionar os

    instrumentos e a metodologia adequada para no se perder a representao da

    heterogeneidade dos sistemas, percebe-se a ausncia de conhecimentos e de

    pesquisas que discutam os procedimentos para a escolha da escala apropriada.

    Atualmente, no existe uma escala ideal possvel de diagnosticar as

    mltiplas interaes ambientais. A escolha intuitiva e depende do bom senso do

    pesquisador, pois, na determinao da escala, podem-se perder informaes

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    fundamentais para a compreenso do processo, assim como se podem incluir

    detalhes pormenorizados que resultaro na incompreenso da dinmica do todo.

    O agrupamento dos semelhantes depende da escala escolhida, porque a variao

    da homogeneidade depende do nvel de detalhamento. O desafio reside no que

    no pode excluir informaes elementares que conduzam compreenso da

    dinmica do sistema ambiental com seus conflitos.

    Os impactos ambientais so identificados de acordo com as alteraes

    indesejadas que afetam as condies ambientais e a qualidade de vida. Essas

    situaes resultam das exploraes praticadas no ambiente que podem

    comprometer outros recursos ambientais. A qualidade da gua de um rio pode ser

    comprometida ou inutilizada para o abastecimento humano, quando o mesmo rio

    aproveitado para o lanamento de efluentes industriais ou de esgoto cloacal. Damesma forma, a quantidade de gua usada para a irrigao na agricultura pode

    comprometer o abastecimento de cidades, o uso na indstria e a gerao de

    energia eltrica. O conflito ambiental manifesta-se no resultado da explorao

    praticada em relao a um determinado recurso ambiental e se agrava quando

    uma determinada atividade econmica envolve outra.

    Com os conflitos socioeconmicos provocados pela economia dominante e

    pela concentrao de poder decisrio, emergem novos atores sociais que se

    destacam ao reivindicar qualidade de vida e de gesto compartilhada em busca de

    uma poltica mais democrtica para satisfazer as suas necessidades bsicas e

    aos seus desejos de desenvolvimento econmico, cultural e social.

    A gesto ambiental no se faz mediante de uma percepo esttica dos

    sistemas ambientais. Deve fazer parte a dinmica dos processos que envolvem a

    apropriao dos recursos naturais, na expectativa de perceber a sustentabilidade

    do ambiente.

    Nesse contexto, as questes que surgem no mundo atual tm como

    caracterstica a crescente complexidade que se revela incompatvel com o

    desenvolvimento cientfico, relativo aos estudos metodolgicos, com tendncia ao

    positivismo para a compreenso da dinmica de transformao.

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    Dentro dessa tendncia geral do pensamento positivista, o

    pensamento marxista, o materialismo histrico e dialtico, abriu um

    campo para o estudo dos processos histricos e econmicos e

    para a anlise das estruturas e dos processos que integram o todo

    social, com uma viso mais abrangente de suas diferentesinstncias e processos. A teoria marxista abre-se inclusive para

    uma percepo das conexes entre sociedade e natureza a partir

    da centralidade (da determinao, em ltima instncia) da

    produo material e dos processos econmicos. (LEFF, 2002, p.

    115).

    As condies atuais dos sistemas ambientais no representam os

    resultados dos impactos individualizados desconectados da histria, pelocontrrio, so produtos das aes e reaes que foram organizando entre si, que

    determinaram as condies ambientais atuais de conservao ou degradao.

    Na gesto ambiental, a percepo temporal deve situar o presente, o

    passado e o futuro do sistema. A interpretao dos fenmenos diacrnicos busca

    as respostas das mudanas ambientais. Compete ao gestor identificar as aes

    indutoras que interferem na trajetria das mudanas ambientais e monitor-las em

    prol da qualidade ambiental.A construo sistmica deve retratar um contedo concreto, construdo no

    diagnstico fsico, assim como na poltica governamental, na realidade cultural, na

    legislao vigente. As informaes que contribuem para a construo sistmica

    vo alm das informaes elementares estticas, como somente a rea de uma

    bacia hidrogrfica sem correlacion-la com sua dinmica natural e social.

    imperioso adicionar informaes oriundas dos subsistemas sociais.

    A busca da estabilidade ambiental relaciona-se ao desequilbrio de qualquer

    sistema ambiental. Os sistemas abertos atingem o seu pice em busca de sua

    estabilidade quando estabelecem a menor amplitude entre as foras antagnicas

    que ajustam a dinmica prpria do sistema, ou seja, uma situao de equilbrio

    no se prolonga no tempo, respeita os movimentos e as foras inerentes a

    dinmica do sistema em atividade.

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    Atualmente, a articulao entre o social e o natural limita-se a incorporar

    saberes ecolgicos aos econmicos, marginalizando a anlise dos conflitos

    sociais que se revelam na dimenso ambiental.

    Nesse sentido, h necessidade de compreender as relaes entre os

    processos sociais e as questes naturais, bem como as suas degradaes, a

    marginalizao social, o empobrecimento do solo, o qual depende de inovaes

    tecnolgicas em prol da sustentabilidade ambiental.

    As questes emergentes atuais se manifestam com uma crescente

    complexidade, carecendo de novas ferramentas para a compreenso dos

    mltiplos processos da natureza. A questo ambiental com seus impactos

    negativos necessita de um pensamento sistmico complexo, capaz de captar as

    inter-relaes entre os diferentes processos que ocorrem no sistema ambiental.Com a evoluo do conhecimento das bases econmicas e suas inter-

    relaes com outros sistemas, houve a exigncia de articular diferentes modos de

    produo com intuito de compreender as variaes das riquezas econmicas e as

    condies naturais. Buscou-se, assim, a integrao do todo sistmico que

    organiza o processo material de produo.

    Para caracterizar certa localidade, integrando as relaes de propriedade

    privada, posse da terra, a produo prtica e as culturas locais de cada formao

    econmica e social, requer-se o desenvolvimento de metodologias para a gesto

    ambiental, estabelecendo os limites fsicos e energticos que interagem em

    diversos processos naturais e sociais e que estruturem e caracterizem a sua

    funo produtiva local.

    Assim, as percepes dos processos naturais se manifestam sobre o modo

    de produo histrico indexado terra, por sua vez, limitada por seu valor de uso.

    Com as emergncias tecnolgicas, h necessidade de correlacionar as estruturas

    econmicas com as naturais para particularizar o modo de produo.

    A formao econmica e social serve como processo de construo terica

    que possibilita correlacionar a dinmica de uma sociedade particular com as

    estruturas e funes naturais locais, como base da dinmica produtiva, agregando

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    suas condies restritivas ao seu potencial nato. Isso condicionar a anlise de

    diferentes estratgias ambientais na gesto ambiental.

    A anlise do sistema ambiental, fundamentada na Formao Econmica e

    Social, conduz a gesto ambiental sistmica aos mltiplos processos em um

    territrio especfico. Para que isso ocorra, foroso categorizar as formaes

    ambientais, para compreender o uso e ocupao da terra.

    Assim, procuram-se na multiplicidade elementar complexa de um territrio

    algumas regularidades no processo produtivo a fim de elaborar uma metodologia

    para orientar a gesto ambiental e promover novas estratgias para o uso e a

    ocupao da terra.

    Na gesto ambiental sistmica complexa, esse formato de produo com

    multiplicidades de elementos que se inter-relacionam gera a complexidadesistmica, articula-se com os processos de produo, culturais, polticos,

    econmicos, e a sustentabilidade das funes ambientais. Isso condiciona a

    elaborao de esquemas de anlise capazes de integrar os processos naturais,

    sociais, culturais e tecnolgicos, em um processo dinmico e diacrnico.

    Referncias

    ABSBER, A. N.; MLLER-PLATENBERG, Clarita. (Org.). Previso deImpactos: o estudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul. Experincias noBrasil, na Rssia e na Alemanha. 2. ed. So Paulo: Edusp. 1998. 569 p.

    BARBIERI, Jos Carlos. Gesto Ambiental: Conceitos, Modelos e Instrumentos.So Paulo: Saraiva, 2004. 328 p.

    DIAS, Genebaldo Freire. Educao Ambiental: Princpios e Prticas. 7. ed. SoPaulo: Gaia, 2001. 551 p.

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  • 8/6/2019 B-085 Yarnel de Oliveira Campos

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