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Ricardo Jorge Lúcio Campos de Oliveira Farmácia Lopes Veloso

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Ricardo Jorge Lúcio Campos de Oliveira

Farmácia Lopes Veloso

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i

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Lopes Veloso

Janeiro de 2014 a Julho de 2014

Ricardo Jorge Lúcio Campos de Oliveira

Orientador: Dr. Alfredo Lopes Veloso

_________________________________________

Tutor FFUP: Prof. Doutora Maria da Glória Queiroz

_________________________________________

Setembro, 2014

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ii

Declaração de Integridade

Eu, Ricardo Jorge Lúcio Campos de Oliveira, abaixo assinado, nº 200903462, aluno do

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da

Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste

documento.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,

mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes

dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a

outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso

colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 15 de Setembro de 2014

Assinatura: ______________________________________

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iii

Agradecimentos

Quero agradecer a toda a equipa técnica da Farmácia Lopes Veloso pela forma como me

receberam.

Ao Sr. Abílio Nova pela extensa paciência, sabedoria e simpatia demonstradas, pelo

esclarecimento das minhas dúvidas, pela boa disposição, pelos momentos cómicos do dia-a-dia.

Ao Sr. Pedro Pimenta pelos conhecimentos transmitidos, pelo profissionalismo e pela

boa disposição.

Aos meus pais e à minha irmã por estarem sempre presentes nos momentos em que

precisei, pelo apoio constante e por me terem ajudado a terminar mais uma etapa importante da

minha vida.

Aos meus amigos, pela amizade partilhada e pelo apoio constante.

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iv

Índice

Lista de Abreviaturas ................................................................................................................... vi

Índice de Figuras ........................................................................................................................ viii

Índice de Tabelas .......................................................................................................................... ix

Resumo .......................................................................................................................................... x

Parte I ............................................................................................................................................ 1

Descrição das atividades de estágio .............................................................................................. 1

1-Organização do espaço físico e funcional .................................................................................. 1

1.1-Equipa Técnica ....................................................................................................................... 1

1.2-Localização ............................................................................................................................. 1

1.3-Horário de Funcionamento ..................................................................................................... 1

1.4-Caracterização do espaço exterior........................................................................................... 1

1.5-Caracterização do espaço interior ........................................................................................... 2

1.6-Recursos Humanos ................................................................................................................. 4

2-Gestão da Farmácia .................................................................................................................... 5

2.1- Sistema Informático ............................................................................................................... 5

2.2-Gestão de stocks ...................................................................................................................... 5

2.3-Realização de encomendas ..................................................................................................... 5

2.4-Receção de encomendas ......................................................................................................... 6

2.5-Armazenamento ...................................................................................................................... 7

2.6-Controlo dos prazos de validade ............................................................................................. 7

2.7-Devoluções .............................................................................................................................. 8

3-Relacionamento com os utentes ................................................................................................. 8

4-Dispensa de Medicamentos........................................................................................................ 8

4.1-Medicamentos Sujeitos a Receita Médica .............................................................................. 9

4.2-Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica ..................................................................... 10

5-Psicotrópicos e Estupefacientes ............................................................................................... 11

6-Medicamentos Manipulados .................................................................................................... 12

7-Receituário e Faturação............................................................................................................ 12

8-Determinação de parâmetros fisiológicos e bioquímicos ........................................................ 13

9-Valormed® .............................................................................................................................. 14

10-Formações .............................................................................................................................. 14

11-Farmacovigilância .................................................................................................................. 15

12-Merchandising na farmácia comunitária................................................................................ 15

Parte II ......................................................................................................................................... 16

Caso de estudo I .......................................................................................................................... 16

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v

Hipotiroidismo na sociedade ....................................................................................................... 16

1-Introdução ................................................................................................................................ 16

1.1- Anatomia da Tiróide ............................................................................................................ 16

1.2-Histologia da tiróide .............................................................................................................. 16

1.3-Fisiologia da tiróide .............................................................................................................. 17

1.4-Transporte hormonal ............................................................................................................. 18

1.5-Metabolismo hormonal ......................................................................................................... 19

2-Hipotiroidismo ......................................................................................................................... 19

2.1-Epidemiologia ....................................................................................................................... 19

2.2-Etiologia ................................................................................................................................ 19

2.3-Sintomas ................................................................................................................................ 20

2.4-Diagnóstico ........................................................................................................................... 20

2.5-Tratamento ............................................................................................................................ 21

3-Suplementação de iodo na gravidez ......................................................................................... 22

4-Aplicação do caso de estudo na farmácia ................................................................................ 24

5-Conclusão do caso de estudo ................................................................................................... 26

Caso de estudo II ......................................................................................................................... 26

Hiperplasia benigna da próstata .................................................................................................. 26

1-Introdução ................................................................................................................................ 26

1.1-Desenvolvimento da próstata ................................................................................................ 26

1.2-Anatomia da próstata ............................................................................................................ 26

1.3-Principal função da próstata .................................................................................................. 27

2-Hiperplasia benigna da próstata ............................................................................................... 28

2.1-Epidemiologia ....................................................................................................................... 28

2.2-Fatores de risco ..................................................................................................................... 28

2.3-Fisiopatologia ........................................................................................................................ 31

2.4-Sintomas ................................................................................................................................ 32

2.5-Diagnóstico ........................................................................................................................... 33

2.6-Tratamento ............................................................................................................................ 35

2.6.1-Vigilância ativa-medidas gerais ......................................................................................... 35

2.6.2-Tratamento farmacológico ................................................................................................. 36

2.6.3- Tratamento cirúrgico ......................................................................................................... 37

3-Conclusão do caso de estudo ................................................................................................... 38

Conclusão .................................................................................................................................... 39

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 40

Anexos......................................................................................................................................... 44

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vi

Lista de Abreviaturas

AFS-Estroma fibromuscular anterior

CCF-Centro de Conferência de Faturas

CZ-Zona central

DCI-Denominação Comum Internacional

DHT-Dihidrotestosterona

DIT-Diiodotirosina

EGF-Fator de crescimento epidermal

hCG- Gonadotrofina coriónica humana

HBP-Hiperplasia benigna da próstata

HRE-Elementos de resposta hormonal

IGFs-Fatores de crescimento semelhantes à insulina

IMC-Índice de massa corporal

IPSS-International Prostate Symptom Score

KGF- Fator de crescimento de queratinócitos

LUTS- Sintomas do trato urinário inferior

MIT-Monoiodotirosina

MSRM-Medicamentos sujeitos a receita médica

MNSRM-Medicamentos não sujeitos a receita médica

NIS-Co-transportador de Na/I

OMS-Organização Mundial de Saúde

PAX-8- paired box transcription factor 8

PSA-Antigénio específico da próstata

PZ-Zona periférica

SNS-Serviço Nacional de Saúde

SV-Vesícula seminal

T3-Triiodotironina

T4 Tiroxina ou tetraiodotironina

TBG-Globulina de ligação da tiroxina

TBPA-Pré-albumina de ligação da tiroxina

Tg-Tiroglobulina

TGF- β- Fator transformador de crescimento beta

TPO-Tiroperoxidase

TRH-Hormona libertadora da TSH

TSH- Tirotropina ou hormona estimuladora da tiróide

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TSH-R-Recetor específico da TSH

TTF-1- Fator de transcrição da tiróide 1

TTF-2-Fator de transcrição da tiróide 2

TTR-Transtirretina

TUIP-Incisão transuretral da próstata

TURP-Recessão transuretral da próstata

TZ-Zona de transição

URF- Unidades Regionais de Farmacovigilância

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Índice de Figuras

Figura1. Espaço exterior da Farmácia Lopes Veloso………………………………………..…...2

Figura 2. Zona de atendimento ao público da Farmácia Lopes Veloso………….……..………..3

Figura 3. Laboratório da Farmácia Lopes Veloso………………………………………………..4

Figura 4. Balança eletrónica multifuncional com tensiómetro acoplado da Farmácia Lopes

Veloso…………………………………………………………………………………………...14

Figura 5. Anatomia da tiróide (Adaptado de [17]) …………………………...………………...16

Figura 6. Representação sistemática da biossíntese das hormonas tiroideias nomeadamente a

triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Os folículos contem uma camada de células epiteliais que

rodeiam o coloide. O círculo representa a acumulação de iodeto mediado pelo NIS. O triângulo

representa a bomba de sódio e potássio. O quadrado representa o recetor da tirotropina. O

cilindro representa o efluxo de iodeto para o colóide. A TPO representa a tiroperoxidase que

catalisa a organificação do iodeto. As setas indicam a endocitose da Tg seguindo-se a fusão com

o lisossoma e consequentemente a libertação das hormonas tiroideias (Adaptado de: [18]) …..18

Figura 7. Gráfico com as percentagens de vendas de Eutirox®………………………………...25

Figura 8. Anatomia da próstata. (A) -Indivíduo jovem do sexo masculino com hipertrofia

reduzida da zona de transição. (B) -Indivíduo idoso do sexo masculino com hipertrofia da zona

de transição, verificando-se que a zona central encontra-se comprimida. AFS- Estroma

fibromuscular anterior; CZ- Zona central; PZ- Zona periférica; SV-Vesícula seminal; TZ-Zona

de transição (Adaptado de: [33])………………………………………………...……………...27

Figura 9. Diagrama que representa um desequilíbrio entre a proliferação celular e a morte

celular, sendo esta uma hipótese para explicar o aparecimento da HPB. DHT-

dihidrotestosterona. EGF-fator de crescimento epidermal, KGF- o fator de crescimento de

queratinócitos (KGF) IGFs- fatores de crescimento semelhantes à insulina. TGF-β- fator de

transformação do crescimento beta (TGF-β) (Adaptado de: [40])……………………...………31

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ix

Índice de Tabelas

Tabela 1. Equipa técnica da Farmácia Lopes Veloso………...……………………….…….……4

Tabela 2. Dose recomendada de levotiroxina sódica/dia consoante a indicação terapêutica

(retirado de [31])……………………………………………………………….………………..24

Tabela 3. Percentagem de vendas de cada dose de Eutirox® na Farmácia Lopes Veloso……...25

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x

Resumo

O estágio é uma unidade curricular, que tem como objetivo permitir aos estudantes um

contacto com algumas saídas profissionais do curso, como por exemplo a farmácia comunitária

e a farmácia hospitalar.

O meu estágio curricular foi realizado unicamente em farmácia comunitária, na

Farmácia Lopes Veloso, na cidade de Matosinhos, durante um período de 6 meses (entre 13 de

Janeiro de 2014 e 15 de Julho de 2014), sob a orientação do Dr. Alfredo Azevedo.

Atualmente as farmácias encontram-se numa luta constante pela sobrevivência, como

tal é necessário que o farmacêutico, enquanto profissional de saúde, tenha a capacidade de se

destacar na sociedade e ao mesmo tempo marcar a diferença.

O farmacêutico, enquanto profissional de saúde, tem o dever de zelar pelo bem-estar

dos utentes e ao mesmo tempo deve promover uma utilização racional dos medicamentos.

O farmacêutico que trabalha em farmácia comunitária deve também ser possuidor de

conhecimentos em áreas como a gestão, para garantir o correto funcionamento financeiro da

farmácia e outras áreas como a dermofarmácia e cosmética e os dispositivos médicos que são

áreas que têm evoluído dentro deste espaço devido à necessidade crescente de aquisição destes

produtos por parte dos utentes.

Assim, o estágio curricular deve ser encarado como uma oportunidade para os

estudantes aplicarem os conhecimentos teóricos adquiridos durante os 5 anos do curso às

diversas situações do dia-a-dia que podem ser encontradas numa farmácia comunitária.

Pretende-se com este documento descrever o funcionamento de uma farmácia

comunitária, as dificuldades encontradas, os conhecimentos adquiridos e ao mesmo tempo

descrever a minha participação e contribuição para a Farmácia Lopes Veloso através da

realização de casos de estudo sobre o hipotiroidismo e a hiperplasia benigna da próstata.

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Parte I

Descrição das atividades de estágio 1-Organização do espaço físico e funcional

1.1-Equipa Técnica

A Farmácia Lopes Veloso foi fundada em Fevereiro de 1903.

O Dr. Alfredo Veloso é o atual diretor técnico da farmácia. O diretor técnico tem de ser

uma pessoa responsável, tem a obrigação de garantir que se cumprem todas as regras estando

por isso sempre a par de todos os acontecimentos e ao mesmo tempo deve ser capaz de manter o

resto da equipa técnica unida e confiante de modo a garantir um correto e eficaz funcionamento

do estabelecimento.

1.2-Localização

A Farmácia Lopes Veloso situa-se numa das ruas mais conhecidas de Matosinhos

nomeadamente a Rua Brito Capelo nº124, 4450-065,na freguesia de Matosinhos, concelho de

Matosinhos, distrito do Porto. Cumpre ainda referir que a farmácia apresenta uma localização

próxima, para além dos inúmeros cafés e restaurantes à sua volta, da estação de Metro de Brito

Capelo e do Mercado Municipal de Matosinhos o que me permitiu contactar com pessoas de

Matosinhos, de outras cidades ou mesmo de aldeias (que por exemplo iam ao Mercado

Municipal). Esta variedade de utentes da farmácia demonstrou o quanto é necessário conciliar a

atenção e o tipo de atendimento a cada pessoa.

1.3-Horário de Funcionamento

As Portarias nº 277/2012 de 12 de Setembro e nº 14/2013 de 11 de Janeiro referem que

o período de funcionamento não deve ser inferior a 44 horas semanais [1,2].

A Farmácia Lopes Veloso encontra-se em funcionamento:

- De segunda-feira a sexta-feira das 9:00 h às 13:00 h e das 14:30 h às 19:00h.

- Aos sábados desde as 9:00h às 12:30h.

-Aos Domingos a farmácia encontra-se encerrada.

De 29 em 29 dias a farmácia fica em serviço permanente.

1.4-Caracterização do espaço exterior

A Farmácia Lopes Veloso exteriormente encontra-se bem identificada (Figura1), sendo

uma farmácia com um aspeto harmonioso e tradicional. A farmácia contém uma entrada

principal constituída por 2 portas (a principal e uma mais interna) de vidro sendo que a principal

contém informações relativas: ao horário de funcionamento, às farmácias que estão de serviço

permanente, à identificação do diretor técnico. Durante a noite, a porta principal encontra-se

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aberta e por sua vez a porta mais interna encontra-se fechada apresentando um postigo que se

destina ao atendimento durante a noite. Para além das portas, a farmácia apresenta ainda 3

montras de vidro que expõem produtos e informações relativas a estes. A farmácia contém uma

cruz verde luminosa que tem como objetivo identificar a farmácia.

Figura1. Espaço exterior da Farmácia Lopes Veloso

1.5-Caracterização do espaço interior

Segundo o Decreto-Lei nº 307/2007 de 31 de Agosto, as farmácias devem conter uma

sala de atendimento ao público; um armazém; um laboratório e instalações sanitárias [3].

A Farmácia Lopes veloso é constituída por: uma zona de atendimento ao público; um

escritório/armazém; um laboratório; instalações sanitárias; vestiários e um quarto de repouso

para serviços noturnos.

De acordo com as Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia comunitária “o espaço

interior da farmácia deve ser profissional permitindo a comunicação eficaz com os utentes” [4].

A zona de atendimento ao público da Farmácia Lopes Veloso (Figura 2) é um espaço

grande que se encontra bem iluminado, apresenta um ambiente calmo permitindo assim um

contacto saudável entre o farmacêutico e o utente. Esta zona da farmácia contém quatro postos

de atendimento cada um com um computador, um scanner que permite ler o código de barras,

uma impressora de talões e uma gaveta de numerário. Para além destes equipamentos

tecnológicos, cada balcão possui ainda folhetos informativos e produtos que não são sujeitos a

receita médica, com o objetivo de atraírem a atenção do utente.

A zona de atendimento contém quatro cadeiras que permitem que as pessoas aguardem

a sua vez de maneira mais confortável enquanto não são atendidas. Possui ainda uma balança

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3

eletrónica multifuncional que mede a altura, o peso, o IMC (índice de massa corporal), o índice

de massa gorda e um tensiómetro acoplado à balança que permite a medição da pressão arterial.

Na farmácia é possível visualizar lineares, atrás de 3 postos de atendimento, que

integram medicamentos não sujeitos a receita médica, suplementos alimentares e dietéticos,

produtos de dermofarmácia e cosmética como por exemplo pastas de dentes, champôs,

integrando ainda dispositivos médicos como por exemplo ligaduras e pensos.

Na retaguarda de um dos postos de atendimento encontram-se estantes deslizantes

fechadas que contêm medicamentos que não estão visíveis aos utentes da farmácia. Nessas

estantes, os medicamentos estão ordenados por ordem alfabética, contudo cumpre referir que

para além das estantes que contêm medicamentos de marca, existem ainda duas estantes que

contêm somente medicamentos genéricos, uma estante que contém somente pílulas

contracetivas, uma estante que integra só xaropes, uma estante que contém unicamente

suplementos e vitaminas, uma estante onde se encontram os produtos reservados e uma estante

que contém os medicamentos que saem com mais frequência.

Figura 2. Zona de atendimento ao público da Farmácia Lopes Veloso

Para além da zona de atendimento ao público, existe uma zona que funciona como

armazém e escritório e que se situa entre a zona de atendimento ao público e o laboratório

funcionando assim como intermediária. Esta zona contém uma secretária, um computador, uma

impressora de código de barras, um scanner que permite ler o código de barras, dois telefones

fixos, além disso esta zona integra também produtos para venda que não se encontram expostos

na zona de atendimento como por exemplo dipositivos que permitem medir a glucose no

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sangue. Por último contém ainda um frigorífico que armazena produtos que necessitem de ser

mantidos entre 2ºC e 8ºC como por exemplo insulinas sendo que dentro do frigorífico encontra-

se um termómetro que permite o registo da temperatura. Foi também nesta zona onde efetuei a

receção de encomendas.

Cumpre ainda referir que esta zona é muito importante, pois como referi anteriormente,

também funciona como escritório sendo que é neste lugar que o diretor técnico gere a farmácia e

também é o lugar onde se corrige as receitas.

Algumas fontes de informação como por exemplo o Formulário Galénico e a

Farmacopeia Portuguesa podem ser encontradas no escritório.

A farmácia integra também um laboratório (Figura 3) que se encontra sempre limpo e

organizado. O laboratório contém um balcão, uma balança analítica, um misturador mecânico,

um lavatório, entre outros.

Figura 3. Laboratório da Farmácia Lopes Veloso

1.6-Recursos Humanos

A Farmácia Lopes Veloso é formada por uma equipa técnica constituída por quatro

profissionais com características próprias (Tabela 1), que se apoiam mutuamente e apresentam

todos o mesmo objetivo: salvaguardar a saúde pública.

Tabela1. Equipa técnica da Farmácia Lopes Veloso

Nome Função

Dr. Alfredo Azevedo Diretor Técnico

Dr. Filipe Azevedo Farmacêutico Substituto

Sr. Abílio Nova Técnico de Farmácia

Sr. Pedro Pimenta Técnico de Farmácia

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2-Gestão da Farmácia

2.1- Sistema Informático

O sistema informático utilizado pela Farmácia Lopes Veloso é o Sifarma®2000. Trata-

se de um sistema informático intuitivo e prático que ajuda a realizar as tarefas diárias da

farmácia como por exemplo o controlo dos prazos de validade, a gestão de stocks, a realização

de encomendas, entre outros. Cada profissional tem um nº de utilizador (eu fui o utilizador

número 11) e uma password que permite o acesso ao sistema.

2.2-Gestão de stocks

Um dos pilares mais importantes para o correto funcionamento de uma farmácia é a

gestão de stocks, pois não deve existir um elevado ou reduzido stock mas sim um stock

adequado às necessidades dos utentes da farmácia. O stock não deve ser reduzido pois pode

originar falta de medicamentos no momento da dispensa e não deve ser elevado pois os prazos

de validade podem expirar e consequentemente os medicamentes têm de ser devolvidos.

A gestão do stock deve: -dar atenção aos medicamentos que são vendidos com mais

frequência; -dar realce aos prazos de validade dos medicamentos presentes na farmácia; -ter em

conta o preço e os descontos nos medicamentos que a farmácia pretende adquirir.

O Sifarma®2000 é uma ferramenta útil na gestão de stocks pois fornece-nos

informações sobre a quantidade de medicamentos que a farmácia tem em stock e os prazos de

validade dos mesmos.

Nas primeiras semanas na farmácia comecei a efetuar a receção e a arrumação de

encomendas e verifiquei os prazos de validade dos medicamentos que estavam quase a expirar

com o objetivo de ir conhecendo a localização dos produtos e ao mesmo tempo para ir

aprendendo a manipular o sistema informático.

2.3-Realização de encomendas

A realização de encomendas como já referi anteriormente é um processo muito

importante pois permite manter um stock ideal. Na Farmácia Lopes Veloso esta etapa é

realizada pelo Diretor Técnico, o Dr. Alfredo, que possui competências e autoridade para a

realização dessa tarefa, contudo o Dr. Alfredo nas primeiras semanas explicou-me como era

feito o pedido através do Sifarma®2000. Este sistema é extremamente útil pois pode, por

exemplo, estabelecer-se uma certa quantidade de um produto que se quer manter em stock na

farmácia e se essa quantidade for alterada o sistema elabora uma proposta de encomenda com o

objetivo de repor essa quantidade.

A Farmácia Lopes Veloso normalmente trabalha com dois grossistas: a Cooprofar e a

OCP. Geralmente todos os dias é feita uma encomenda (geralmente de manhã) via correio

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eletrónico. Quando se trata de um produto novo ou no caso de se querer saber se o produto

ainda pode vir na encomenda da tarde, o pedido pode ser efetuado por telefone.

Quando a farmácia pretende comprar grandes quantidades de medicamentos, pode

contactar diretamente o fabricante o que permite à farmácia usufruir de preços mais acessíveis e

descontos na compra dos produtos. Quando se efetuam este tipo de compras diretamente ao

fabricante, temos de ter em conta o prazo de entrega e ao mesmo tempo temos de ter em atenção

as patologias mais características de cada estação do ano com o objetivo de comprar apenas os

produtos que irão ser mais vendidos evitando assim compras desnecessárias.

2.4-Receção de encomendas

Tal como descrito anteriormente, nas primeiras semanas do meu estágio comecei a

realizar a receção das encomendas na farmácia.

As encomendas eram transportadas até à farmácia em contentores de plástico

(“banheiras”) ou embalagens de cartão, que continham no seu interior a fatura e os

medicamentos. A primeira coisa que se fazia era abrir as caixas e verificar se existiam produtos

que necessitassem de ser armazenados no frigorífico para se efetuar primeiro a entrada destes

medicamentos para não quebrar a cadeia de frio.

A receção das encomendas na farmácia é efetuada com o apoio do sistema informático.

No Sifarma®2000, seleciona-se janela “Receção de encomendas “ e posteriormente

escolhe-se a encomenda. Após estes passos introduz-se o código do fornecedor, o preço da

fatura e vai-se fazendo a leitura dos códigos de barras dos medicamentos. À medida que se vai

fazendo esta leitura temos de ter sempre em conta:

-a quantidade de unidades de cada medicamento presente na encomenda;

-o prazo de validade do medicamento (se não existir nenhum medicamento em stock

temos introduzir/atualizar o prazo de validade no sistema, caso contrário se existir algum

medicamento em stock temos de ver se as novas unidades apresentam um prazo de validade

superior ou inferior e se for inferior temos de atualizar o prazo);

-o PVP (é necessário verificar se existe alguma alteração no preço e se for necessário,

atualizá-lo para não haver prejuízo para a farmácia) contudo no caso de se tratar de um

medicamento de venda livre o preço é estipulado pela farmácia de acordo com as margens

adotadas;

-se o produto já se encontra reservado ou não;

-o preço de custo de cada produto encomendado, pois o valor final da fatura calculado

pelo Sifarma®2000, tem de ser igual ao valor enviado pelo fornecedor.

No final a impressora de etiquetas imprime as etiquetas que são coladas nos

medicamentos de venda livre e a impressora de talões imprime os talões dos produtos

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reservados que são colocados à volta do produto com um elástico para posteriormente serem

arrumados na estante reservada para este efeito.

As faturas são guardadas e no final do mês são conferidas na fatura-resumo enviada

pelo fornecedor para ver se existem ou não erros.

2.5-Armazenamento

Quando se efetua o armazenamento de um produto é necessário ter em conta o prazo de

validade, pois a arrumação deve ser feita de modo a que os produtos com o prazo de validade

mais curto sejam os primeiros a serem vendidos em relação aos que apresentam um prazo de

validade maior. Na Farmácia Lopes Veloso a arrumação é efetuada por ordem alfabética, e

seguidamente com base no tamanho e dosagem de cada medicamento.

Existem estantes que só integram medicamentos de marca, existem duas estantes que só

possuem medicamentos genéricos, uma estante que só contém xaropes, uma estante que só

integra suplementos e vitaminas, uma estante que possui unicamente pílulas contracetivas, uma

estante destinada aos produtos reservados e uma estante que integra os produtos que saem com

mais frequência.

Como já referi também, os produtos que necessitem de ser mantidos entre os 2 e os 8ºC

são armazenados no frigorífico.

Nas primeiras semanas eu senti algumas dificuldades a arrumar as encomendas, pois

apesar de não conhecer muito bem o nome dos medicamentos, tinha de ter uma noção entre os

medicamentos que saem com mais frequência na farmácia e os restantes para não colocar os

medicamentos nas estantes erradas, mas com o tempo fui-me habituando e deixei de sentir essa

dificuldade.

Os dispositivos médicos, os medicamentos não sujeitos a receita médica, os

suplementos alimentares e dietéticos e os produtos de dermofarmácia e cosmética são

armazenados nos lineares.

Os psicotrópicos e os estupefacientes por sua vez são armazenados no armazém num

lugar fechado e isolado.

2.6-Controlo dos prazos de validade

O controlo dos prazos de validade é muito importante para o funcionamento, para a

qualidade e para o equilíbrio financeiro das farmácias.

Este controlo é feito regularmente na Farmácia Lopes Veloso com a ajuda do sistema

informático que imprime uma folha com os produtos cujo prazo de validade já expiraram ou que

estão próximos do limite. Cumpre referir que os produtos que se encontravam próximos do

limite eram separados para se tentar efetuar a sua venda o mais rapidamente possível ou então

efetuar a sua devolução consoante o prazo.

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Esta foi uma das primeiras tarefas que também comecei a realizar logo desde o início do

meu estágio na farmácia, sendo que foi de grande importância pois ajudou-me a identificar e a

localizar os produtos.

2.7-Devoluções

As devoluções na farmácia podem acontecer por diversos motivos:

-os produtos podem encontrar-se fora do prazo de validade;

- a encomenda pode conter um número incorreto de produtos ou então pode conter

produtos danificados;

- pode ser necessário recolher o produto por ordem do INFARMED.

Nestes casos utiliza-se o sistema informático para emitir uma nota de devolução, para

tal insere-se o código do produto, a quantidade de produto devolvido, o número da fatura e o

motivo de devolução. No final são impressas três vias sendo que uma delas é guardada na

farmácia e a as outras duas são enviadas para o fornecedor. O processo fica terminado quando a

farmácia recebe um novo produto ou então uma nota de crédito.

3-Relacionamento com os utentes

Segundo as Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia comunitária:” A principal

responsabilidade do farmacêutico é para a saúde e o bem-estar do doente e do cidadão em geral,

promovendo o direito a um tratamento com qualidade, eficácia e segurança” [4].

Sendo assim, o Farmacêutico deve ser atencioso, deve transmitir segurança e confiança de

modo a que o utente consiga expor os seus problemas e dúvidas sem qualquer receio. Não

menos importante, o farmacêutico deve ser capaz de articular o seu discurso consoante o tipo de

utente (crianças, jovens, adultos, idosos).

“Os farmacêuticos são obrigados ao sigilo profissional relativo a todos os factos de que

tenham conhecimento no exercício da sua profissão, com excepção das situações previstas na

lei” [5]. Independentemente de qualquer que seja o problema do utente, o farmacêutico deve

respeitar o sigilo profissional não devendo assim expor os problemas do utente a terceiros.

De uma maneira geral o farmacêutico deve falar sempre num tom baixo e sereno de

modo a tratar os problemas do utente com a maior descrição e seriedade possível.

Quando lidei com os utentes tentei sempre cumprir ao máximo estes requisitos de modo

a atrair a atenção e confiança destes.

4-Dispensa de Medicamentos

O farmacêutico, enquanto profissional de saúde, é o agente que se encontra mais

próximo do doente sendo também o último a contactar com o doente. Sendo assim, no momento

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da dispensa de medicamentos o farmacêutico tem o dever de promover uma utilização racional

destes e ao mesmo tempo zelar pela saúde e bem-estar do doente.

De acordo com o Decreto-Lei nº176/2006 de 30 de Agosto, os medicamentos são

classificados, quanto à dispensa ao público, em: Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

(MSRM) e Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) [6].

Consoante o tipo de dispensa, o farmacêutico deve ponderar adequadamente qual o tipo

de aconselhamento a efetuar.

4.1-Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

São medicamentos:

-que quando usados sem vigilância médica podem constituir um risco direto ou indireto

para a saúde do doente mesmo quando usados para o fim a que se destinam;

-que podem constituir um risco para a saúde quando usados com frequência em

quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam;

- cuja atividade e efeitos adversos tem de ser bem avaliados.

Este grupo de medicamentos engloba todos os medicamentos administrados por via

parentérica [6].

Para se efetuar a dispensa deste tipo de medicamentos, o doente deve apresentar ao

farmacêutico uma receita médica (que pode ser renovável, especial ou restrita) [6].

Segundo o Decreto-Lei n.º 11/2012 de 8 de Março, a prescrição de medicamentos deve

ser realizada por Denominação Comum Internacional (DCI) [7]. Esta alteração facilitou o acesso

dos doentes aos medicamentos genéricos (que são medicamentos mais baratos) e ao mesmo

tempo diminuiu as despesas do estado. Contudo o direito de opção de utente pode estar limitado

por exceções que o médico pode utilizar.

Uma receita médica para ser válida deve conter vários itens:

- a identificação do médico prescritor;

-o nome e número de utente do SNS;

-a identificação da entidade financeira e do regime especial de comparticipação (quando

aplicável)

- a prescrição dos medicamentos deve conter a DCI, sendo admitido a seguir o nome

comercial, a dosagem, a forma farmacêutica, a dimensão da embalagem, o número de

embalagens, a posologia, a data de prescrição e a assinatura do médico.

Uma receita só pode conter no máximo quatro medicamentos diferentes sendo que para

cada medicamento não pode ser prescrito mais de duas embalagens. Quando são prescritos

medicamentos de dose unitária, as receitas podem conter até quatro unidades por medicamento.

Enquanto profissional de saúde, o farmacêutico não é um simples vendedor, devendo

por isso ter uma participação ativa na dispensa do medicamento ou seja para além de analisar a

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receita, ele deve assegurar que a prescrição é adequada aos sintomas do utente, deve saber se os

medicamentos sofrem interações com os alimentos ou com outros medicamentos da receita ou

outros medicamentos que o doente já se encontre a tomar, deve conhecer os efeitos adversos dos

medicamentos e por último deve garantir que os medicamentos são corretamente dispensados.

Se o farmacêutico achar que existe alguma irregularidade, deve contactar o médico

prescritor para resolver os problemas com o objetivo de promover a saúde do doente e fortalecer

a relação entre o médico, o doente e o farmacêutico.

Por fim, o farmacêutico deve garantir que o doente sai da farmácia sem dúvidas,

devendo por isso expor muito calmamente as informações necessárias ao utente sobre os

medicamentos bem como responder às suas dúvidas de maneira simples e adequada.

No momento da dispensa dos medicamentos, estes são introduzidos no Sifarma®2000

através da leitura do código de barras e introduz-se as informações necessárias sendo que no

final imprime-se no verso da receita a informação sobre os medicamentos dispensados e a

entidade financeira responsável.

Durante o meu período de estágio tentei cumprir ao máximo os requisitos que expus

anteriormente. Apesar de ser uma tarefa difícil, é muito importante, devendo ser encarada com

grande responsabilidade pois só assim é possível garantir o bem-estar do utente.

4.2-Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica

Os Medicamentos não sujeitos a receita médica, como o próprio nome indica, são

medicamentos que não apresentam as condições previstas para estarem incluídos no grupo dos

medicamentos sujeitos a receita médica [6]. Este tipo de medicamentos pode ser dispensado ao

doente através do Aconselhamento Farmacêutico, por opção do próprio doente ou então por

prescrição do médico.

Tanto na Automedicação como na Indicação Terapêutica, o farmacêutico deve

desempenhar uma participação ativa devendo informar e aconselhar o doente relativamente a

este tipo de medicamentos.

No momento da dispensa, o farmacêutico deve preocupar-se em saber por exemplo: as

queixas do doente, os sintomas e o tempo de duração, se o utente já tomou algum medicamento

para o mesmo fim, com o objetivo de realizar uma seleção adequada do tratamento a instituir.

Aquando da seleção do medicamento, o farmacêutico deve escolher um tratamento simples e

dar preferência às embalagens mais pequenas para evitar abusos na medicação. É também da

responsabilidade do farmacêutico informar o doente acerca das indicações terapêuticas dos

medicamentos, o modo e a posologia, a duração do tratamento, os efeitos adversos e as

interações.

Cumpre ainda referir que o farmacêutico deve ter em atenção se o doente é uma grávida

ou uma mulher a amamentar; uma criança ou um idoso, um diabético (deve-se dispensar

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medicamentos sem sacarose na sua formulação), um doente crónico ou um doente com

problemas psiquiátricos.

Quando o farmacêutico tiver dúvidas, quando achar que não se trata de um transtorno

menor ou quando reparar que o utente não melhora ao fim de algum tempo deve encaminhar o

utente para uma consulta médica.

5-Psicotrópicos e Estupefacientes

Os psicotrópicos e estupefacientes são medicamentos que atuam ao nível do Sistema

Nervoso Central podendo por exemplo exercer uma ação depressora ou estimulante. Contudo

estes medicamentes para além de poderem ser utilizados como drogas de abuso, provocam

dependência e como tal é necessário um controlo mais rigoroso em relação a este tipo de

medicamentos.

Numa encomenda, este tipo de medicamentos vem dentro de um saco de plástico para

se diferenciarem dos restantes. Nestes casos, para além da fatura, a encomenda traz também

uma Requisição de Estupefacientes e Psicotrópicos (o original e o duplicado). O original fica

guardado na farmácia e por sua vez o duplicado é carimbado e assinado pelo diretor técnico

sendo de seguida enviado para o Fornecedor

No momento de receção da encomenda, o Sifarma®2000, no caso de existirem

psicotrópicos ou estupefacientes, emite um código de registo de entrada na farmácia.

Este tipo de medicamentos tem de ser armazenado num lugar especial, isolado, e

fechado; na Farmácia Lopes Veloso o armário é fechado com uma chave.

Quando se efetua a dispensa destes medicamentos, é necessário introduzir no sistema

informático:

-o nome do médico prescritor;

- o nome do doente, morada e código postal;

-o nome do adquirente, idade, morada, código postal, o número do cartão único e a data

de emissão.

A impressora de seguida efetua uma impressão na receita original e emite um talão que

é agrafado na fotocópia da receita original que fica guardada na farmácia. Este duplicado da

receita original deve ficar guardado na farmácia durante 3 anos [8]. Quando se trata de uma

receita manual, o procedimento é o mesmo só que no final imprime-se dois talões, sendo que

cada um é agrafado a cada duplicado da receita original. No final é necessário enviar um

duplicado com o talão agrafado para o INFARMED, sendo que o outro duplicado fica guardado

na farmácia.

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6-Medicamentos Manipulados

Um medicamento manipulado segundo o Decreto-Lei n.º 95/2004, de 22 de Abril pode

ser entendido como: “qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal preparado e dispensado

sob a responsabilidade de um farmacêutico” [9].

Atualmente a preparação de manipulados não é muito efetuada nas farmácias pois é

pouco rentável, os pedidos para a preparação de manipulados são cada vez menores e os custos

associados à aquisição e manutenção de matérias-primas e de material de laboratório não

justificam o investimento. Atualmente as farmácias que preparam manipulados são as farmácias

que recebem muito pedidos.

Na farmácia comunitária, todos os medicamentos manipulados são identificados através

de um número de lote que permite a sua rastreabilidade [4].

Aquando da preparação de um manipulado, o farmacêutico deve garantir que se

cumprem todos os requisitos nomeadamente a limpeza e higiene da banca de trabalho, deve

garantir que as matérias-primas se encontram em boas condições assim como o material de

embalagem e assegurar que se cumprem as especificações que um rótulo deve conter.

O laboratório deve ser iluminado, bem ventilado e deve possuir condições de

temperatura a humidade adequadas.

No final da preparação, o farmacêutico deve preencher uma ficha de preparação com o

objetivo de registar: o número de lote, os procedimentos e as substâncias utilizadas, os controlos

de qualidade, as condições de conservação, os dados do utente e do médico prescritor e o

cálculo do preço de venda ao público [4].

Durante o meu período de estágio não efetuei nenhum manipulado.

7-Receituário e Faturação

Na primeira semana de estágio comecei a compilar as receitas por organismo de

comparticipação, e dentro deste, organizei as receitas por lote e seguidamente por ordem

numérica perfazendo um total de 30 receitas por cada lote. Seguidamente comecei a conferir

receitas, é preciso verificar:

-o prazo de validade,

-o nome e a assinatura do médico;

-se os medicamentos dispensados foram os prescritos pelo médico,

-no caso de haver excepções se estas foram cumpridas;

-se as quantidades dispensadas foram as prescritas;

- a data, carimbo da farmácia e assinatura do profissional que dispensou a receita.

Após a análise de cada lote, a impressora imprime um verbete de identificação de cada

lote que é carimbado e colocado à volta de cada lote com um elástico.

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No final de cada més é impresso a Relação Resumo de Lotes e as faturas destinadas a

cada entidade responsável pelos organismos. As receitas, a Relação Resumo de Lotes e as

faturas (original e o duplicado) são enviadas para o Centro de Conferência de Faturas (CCF) na

Maia e o triplicado das faturas é enviadas por e-mail ou fax para a Finanfarma que mais tarde

efetua os pagamentos.

Este procedimento ajudou-me a familiarizar com as receitas, comecei a ter noção dos

medicamentos que são vendidos com mais frequência na farmácia e ao mesmo tempo comecei a

aperceber-me do historial clínico de alguns doentes o que me permitiu efetuar um melhor

atendimento quando estes eram atendidos por mim.

8-Determinação de parâmetros fisiológicos e bioquímicos

De acordo com as Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia comunitária: “Enquanto

espaço de saúde, a farmácia pode oferecer serviços de determinação dos parâmetros

bioquímicos e fisiológicos dos utentes” [4].

De facto, hoje em dia as farmácias para além de serem um local em que se realiza a

dispensa de medicamentos também são espaços que promovem a saúde pública, por exemplo,

através da determinação e controlo de parâmetros como a glicémia, triglicerídeos, colesterol

total, pressão arterial, testes de gravidez, entre outros.

Os parâmetros que podem ser determinados na Farmácia Lopes Veloso são: o peso, a

altura, o IMC, o índice de massa gorda, a pressão arterial, a glicémia e o colesterol total.

Quando realizei estas determinações e constatei que os parâmetros se encontravam fora do

normal tentei sempre alertar os doentes para as patologias que poderiam decorrer dos valores

anormais, ou então caso os utentes já tivessem alguma patologia tentei sempre aconselhar

medidas não farmacológicas com o objetivo de evitar a progressão da doença.

Cumpre referir que o teste de glicémia deve ser feito em jejum ou então em alguns casos

duas horas após as refeições, como tal preocupei-me sempre por exemplo em saber se o utente

já tinha tomado o pequeno-almoço; por sua vez aquando da medição da pressão arterial no

tensiómetro (Figura 4) perguntava sempre ao utente se este tinha tomado algum café ou outra

bebida estimulante que pudesse afetar as medições.

Após realizar as medições dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos, normalmente

registava no cartão de utente os resultados das medições, a data e a hora da medição pois deste

modo o doente, caso houvesse algum problema poderia entregar o cartão ao médico com os

resultados para este avaliar o perfil clinico do doente.

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Figura 4. Balança eletrónica multifuncional com tensiómetro acoplado da Farmácia Lopes Veloso

9-Valormed®

A VALORMED é uma sociedade que se destina a gerir os resíduos de embalagens

vazias e medicamentos que já não são utilizados. Esta sociedade foi criada com base na

colaboração entre a Indústria Farmacêutica, Distribuidores e Farmácias em face da sua

consciencialização para a especificidade do medicamento enquanto resíduo [10].

Sendo assim, este processo permite proteger o ambiente e ao mesmo tempo evitar que

estes resíduos sejam misturados com os resíduos domésticos.

A Farmácia Lopes Veloso sempre incentivou os utentes para trazerem os medicamentes

que já não eram utilizados à farmácia. Geralmente os utentes traziam os medicamentos dentro

de um saco e de seguida eu ia colocá-lo dentro da caixa da Valormed®. Quando a caixa estava

cheia um funcionário da farmácia fechava, pesava e assinava a caixa que geralmente era

recolhida pela Cooprofar.

10-Formações

Durante o meu período de estágio, frequentei duas ações de formação.

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A primeira formação foi no dia 30 de Janeiro no Hotel Holiday Inn, em Gaia, cujo tema

foi “Qualidade, Segurança, Eficácia e a gama BioActivo”. Esta ação de formação foi importante

pois permitiu-me conciliar os conhecimentos que adquiri na unidade curricular de Química

Bioinorgânica nomeadamente em termos de suplementos, permitindo-me assim efetuar um

melhor aconselhamento farmacêutico no balcão da farmácia.

A segunda ação de formação realizou-se no dia 30 de Abril e o tema foi “Avène-

Solares”. Esta formação permitiu-me melhorar o aconselhamento farmacêutico no que diz

respeito aos protetores solares.

11-Farmacovigilância

A Farmacovigilância tem como objetivo “melhorar a qualidade e segurança dos

medicamentos através da deteção, avaliação e prevenção de reações adversas a medicamentos

(RAM) ” [11].

Os farmacêuticos são profissionais de saúde que interagem constantemente com as

populações, devendo por isso tentar recolher ao máximo informações sobre os efeitos adversos

dos medicamentos nos doentes e consequentemente se necessário preceder à sua notificação.

Quando se pretende notificar uma reação adversa a um medicamento, pode-se recorrer

ao Portal RAM ou então imprimir e preencher um formulário de notificação para utentes ou

profissionais de saúde, enviando-o de seguida à Direção de Gestão do Risco de Medicamentos

do INFARMED, I.P. ou às Unidades Regionais de Farmacovigilância (URF) [11].

Durante o meu período de estágio, a Farmácia Lopes Veloso não recebeu nenhuma

informação de reações adversas a medicamentos desconhecida.

12-Merchandising na farmácia comunitária

A zona de atendimento da Farmácia Lopes Veloso encontra-se pormenorizadamente

organizada com cartazes e panfletos de modo a atrair clientes e aumentar o número de vendas e

a rotatividade dos produtos

A estratégia de Merchandising tem como objetivo gerir o espaço comercial com vista a

proporcionar uma informação e apresentação adequada dos produtos para aumentar as vendas.

Nos dias de hoje, por exemplo no que se refere a produtos cosméticos entre outros, o preço não

é o único elemento que atrai os utentes, a publicidade que se vê na televisão e cartazes também

são importantes, sendo assim as farmácias cada vez mais apostam nesta estratégia com o

objetivo de aumentar as vendas dos produtos.

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Parte II

Caso de estudo I

Hipotiroidismo na sociedade

1-Introdução

1.1- Anatomia da Tiróide

A glândula tiroideia é uma das maiores glândulas endócrinas do Homem sendo a

primeira estrutura endócrina a tornar-se reconhecível durante o desenvolvimento [12,13]. O

peso desta glândula situa-se entre os 15 e os 25 g nos adultos, sendo que é maior nas mulheres e

o seu tamanho pode variar durante a gravidez ou então com a ingestão de iodo [14].

Do ponto de vista anatómico (Figura 5) apresenta uma localização anterior à cartilagem

cricóide, anterior à traqueia, e ligeiramente inferior à cartilagem tiroideia [15].

A glândula da tiróide é constituída por 2 dois lobos que se encontram ligados pelo

istmo. Os lobos laterais estendem-se desde a parte lateral da cartilagem tiroideia até ao nível do

sexto anel traqueal, e o istmo encontra-se sobreposto entre o segundo e o terceiro anel traqueal

[15]. Pode conter ainda um lobo piramidal que se projeta para cima a partir do istmo [14].

É irrigada por duas artérias; a artéria tiroideia superior e a artéria tiroideia inferior e é

drenada por três veias nomeadamente a veia tiroideia superior, a veia tiroideia média e a veia

tiroideia inferior [16].

Figura 5. Anatomia da tiróide (Adaptado de [17]).

1.2-Histologia da tiróide

A glândula tiroideia encontra-se dividida em lóbulos. Cada lóbulo contém entre vinte a

quarenta folículos, sendo que cada folículo constitui uma unidade funcional da glândula [14].

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É constituída pelas células foliculares nas quais as hormonas da tiróide são sintetizadas

e pelas células parafoliculares que são responsáveis pela produção de calcitonina [13].

As células foliculares são estruturas redondas com dimensões variáveis, são revestidas

por uma camada simples de epitélio atenuado ou cúbico e contêm colóide no seu interior. As

células parafoliculares encontram-se localizadas entre os folículos [15].

1.3-Fisiologia da tiróide

Os diversos efeitos da tiróide resultam da biossíntese e secreção de duas hormonas, a

triiodotironina (T3) e a tiroxina ou tetraiodotironina (T4) (Figura 6). O iodeto é um constituinte

essencial da T3 e da T4 sendo que as funções da tiróide dependem de um aporte adequado de

iodeto ao organismo através da dieta [18].

O principal regulador dos efeitos da tiróide é a tirotropina (também conhecida como

hormona estimuladora da tiróide ou TSH) sendo que esta é produzida pela hipófise anterior. Por

sua vez a TSH é regulada pela hormona libertadora da TSH (também conhecida como TRH)

que é produzida no hipotálamo [13]. A TSH tem a capacidade de se ligar a um recetor, o TSH-

R, que está envolvido na organogénese da tiróide estimulando também o seu crescimento, a sua

diferenciação e o seu funcionamento [19].

A síntese e secreção de T4 e T3 pela tiróide é regulada por um mecanismo de feedback

negativo que envolve a modulação da libertação de TSH e TRH pelas hormonas T3 e T4 e

também depende da expressão de três desiodases que participam no metabolismo das hormonas

da tiróide, nomeadamente a iodotironina desiodase tipo 1, tipo 2 e tipo 3 [13].

A caracterização molecular do desenvolvimento da tiróide começou nos anos 90 quando

os fatores de transcrição da tiróide foram identificados, nomeadamente o TTF-1, o TTF-2 e o

Pax-8. Estes fatores têm a capacidade de se ligar às regiões do promotor e do enhancer da

tiroglobulina (Tg), da tiroperoxidade (TPO), do recetor da TSH e do NSI regulando assim a sua

transcrição [13].

A capacidade das células foliculares da tiróide concentrarem iodeto foi reportada em

1915 [18].

O iodeto é bem absorvido no trato gastrointestinal, seguidamente atinge a circulação

sistémica e é concentrado nas células foliculares através de uma proteína plasmática

membranar-NIS (co-transportador de Na/I). A regulação inicial do NIS é efetuada pela TSH e

pelos níveis de iodeto na circulação. Quando ocorre um aumento rápido dos níveis de iodeto, a

incorporação de iodeto é bloqueada devido ao efeito de Wolff-Chaikoff tratando-se assim de um

mecanismo de proteção contra o excesso de iodeto [20].

A tiroglobulina é uma glicoproteína sintetizada pelas células foliculares sendo o local de

armazenamento de hormonas tiroideias dentro do colóide [20].

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No lúmen folicular, ocorre a iodação dos resíduos de tirosina que se encontram na

tiroglobulina formando-se a monoiodotirosina (MIT) e a diiodotirosina (DIT) [21]. Este

processo de iodação é designado por “organificação” e é mediado pela enzima tiroperoxidase

(TPO) [20]. Seguidamente pode ocorrer a união de dois resíduos de DIT formando-se a T4 ou

então a união de DIT com MIT originando-se a T3 [21].

A libertação destas hormonas no sangue envolve a pinocitose do colóide folicular na

margem apical da célula, havendo assim a formação de gotículas de colóide, as quais se fundem

com lisossomas originando “fagolisossomas”. Seguidamente, no interior dos fagolisossomas

ocorre a hidrólise da tiroglobulina por proteases e a T3 e T4 são libertadas no sangue [22].

Figura 6. Representação sistemática da biossíntese das hormonas tiroideias nomeadamente a

triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Os folículos contêm uma camada de células epiteliais que rodeiam o

colóide. O círculo representa a acumulação de iodeto mediado pelo NIS. O triângulo representa a bomba

de sódio e potássio. O quadrado representa o recetor da tirotropina. O cilindro representa o efluxo de

iodeto para o colóide. A TPO representa a tiroperoxidase que catalisa a organificação do iodeto. As setas

indicam a endocitose da Tg seguindo-se a fusão com o lisossoma e consequentemente a libertação das

hormonas tiroideias (Adaptado de: [18]).

1.4-Transporte hormonal

No sangue, a T4 e a T3 encontram-se maioritariamente ligadas a proteínas plasmáticas

[22]. Cerca de 99,97% da T4 encontra-se ligada a proteínas transportadoras como por exemplo a

globulina de ligação da tiroxina (TBG), a pré-albumina de ligação da tiroxina (TBPA) ou

transtirretina (TTR) e a albumina. A TBG apresenta uma elevada afinidade para a T4 e cerca de

77% da T4 em circulação encontra-se ligada à TBG, sendo a principal proteína transportadora

de T4. A T4 apresenta uma afinidade de 15% para a TTR e 10% para a albumina [23].

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Por sua vez, a T3 apresenta uma percentagem de ligação a proteínas plasmáticas menor

do que a T4 (aproximadamente 99,7% de T3 encontra-se ligada a proteínas plasmáticas). A T3

geralmente não é transportada pela TTR, 75% da T3 é transportada pela TBG e 25% é

transportada pela albumina. Pode assim concluir-se, que apenas uma pequena percentagem de

T3 e T4 se encontram sob a forma livre, na circulação sanguínea [23].

Uma vez que a T4 contém uma percentagem de ligação às proteínas superior à da T3, o

seu tempo de semi-vida (cerca de 7 dias) é maior do que o tempo de semi-vida da T3 (cerca de

12 a 24 horas) [20].

1.5-Metabolismo hormonal

Após penetrarem nas células, a T3 e T4 podem sofrer reações que, em última análise,

levam à sua excreção ou inativação [22]. A enzima 5`-desiodase pode converter a T4 em T3 que

é a forma fisiologicamente ativa. A desiodase tipo I atua no fígado/músculo e a desiodase tipo II

no cérebro [20].

Contudo uma parte da T4 pode ser convertida em T3 reversa (rT3), a qual é desprovida

de atividade biológica [22]. A formação da rT3 é catalisada pela desiodase tipo III que se

encontra na placenta, na pele e no cérebro [24].

2-Hipotiroidismo

2.1-Epidemiologia

O hipotiroidismo verifica-se com maior incidência nas mulheres, nos idosos e em certos

grupos étnicos. O hipotiroidismo pode ser clínico, situação em que se verifica um aumento dos

níveis de TSH e níveis de T4 livre reduzidos, ou então pode ser subclínico verificando-se níveis

normais de T4 livre e níveis aumentados de TSH. Estudos efetuados nos Estados Unidos, na

Europa e no Japão permitiram concluir que a prevalência do hipotiroidismo se situa entre 0,6 a

12 casos por 1000 mulheres e entre 1,3 a 4 casos por 1000 homens [25].

2.2-Etiologia

Do ponto de vista etiológico, o hipotiroidismo pode ser: primário; secundário (quando a

desregulação é de origem hipofisária) e terciário (quando a desregulação é de origem

hipotalâmica) [26].

O hipotiroidismo primário pode surgir a partir de uma agenesia ou disgenesia tiroidiana;

pode resultar de defeitos genéticos da homogénese; pode ser provocado por uma tiroidite

linfocítica crónica (Doença de Hashimoto); pode ter origem iatrogénica (pós-cirúrgica ou pós

tratamento com iodo radioativo); pode resultar da ingestão de alimentos que alteram o

funcionamento da tiróide ou então pode ser provocado por uma dieta pobre em iodo [26].

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20

O hipotiroidismo secundário pode decorrer de uma deficiência isolada da hormona

estimuladora da tiróide (TSH) ou então pode ser provocado pelo hipopituitarismo [26].

O hipotiroidismo terciário pode surgir a partir de uma deficiência hereditária da

hormona libertadora da TSH (TRH) ou então pode ser provocado por tumores ou metástases

hipotalâmicas.

A grande maioria dos casos de hipotiroidismo é de origem iatrogénica ou então devem-

se à doença de Hashimoto que resulta do facto das células do sistema imunitário produzirem

autoanticorpos que atacam e destroem o tecido da tiróide [26].

O hipotiroidismo também pode ser induzido pela medicação, por exemplo os

percloratos podem diminuir a captação de iodo, o lítio pode bloquear a secreção das hormonas

tiroideias pela tiróide e os glucocorticoides e a dopamina podem inibir o eixo hipotálamo-

hipófise [25].

2.3-Sintomas

Os sinais e os sintomas do hipotiroidismo variam de acordo com a deficiência

hormonal. No início os sintomas são pouco evidentes, como por exemplo a fadiga e o aumento

de peso. Contudo à medida que o metabolismo vai diminuindo, os sinais e sintomas vão ficando

mais evidentes [27].

Os sinais e sintomas do hipotiroidismo podem ser: aumento da sensibilidade ao frio,

prisão de ventre; pele seca, aumento inexplicado de peso, rosto inchado, rouquidão, fraqueza

muscular, aumento dos níveis de colesterol no sangue, dores musculares, sensibilidade e rigidez,

dor, rigidez ou inchaço nas articulações oligomenorreia, queda de cabelo, ritmo cardíaco mais

lento, falha de memória [27].

Se o paciente com hipotiroidismo grave não for tratado, pode entrar num estado de

hipotermia e torpor, designado por coma mixedematoso [22].

Cumpre ainda referir, que a fisionomia das crianças com hipotiroidismo está relacionada

com a idade em que surgiu a deficiência e com o momento em que foi iniciado o tratamento. O

cretinismo (hipotiroidismo na criança) pode manifestar-se logo no nascimento, mas torna-se

mais evidente nos primeiros meses de vida [22]. Os bebés e as crianças, geralmente apresentam

pele amarelecida, protusão da língua, rosto inchado e engasgam-se frequentemente. Os

adolescentes por sua vez apresentam crescimento deficiente, os dentes definitivos demoram

mais tempo a desenvolver-se, sofrem de puberdade retardada e também podem apresentar um

desenvolvimento mental deficiente [27].

2.4-Diagnóstico

Para efetuar o diagnóstico do hipotiroidismo é necessário recorrer a testes laboratoriais

porque os sintomas nem sempre são específicos [25].

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21

Algumas alterações no organismo como a elevação da creatinina quinase, a

hiperlipidemia e o aumento da taxa metabólica não devem ser utilizados no diagnóstico de

disfunções de tiróide, mas podem exigir exames à tiróide mais específicos [25].

No hipotiroidismo primário verifica-se um aumento dos níveis de TSH no soro e uma

diminuição dos níveis de T4 livre. No hipotiroidismo subclínico, os níveis de TSH estão

elevados, contudo os níveis de T4 livre estão normais [25].

No hipotiroidismo secundário e terciário, os níveis de T4 livres estão diminuídos e os

níveis de TSH não se encontram propriamente elevados, e quando se suspeita que os pacientes

possam estar a desenvolver este tipo de hipotiroidismo é necessário realizar uma radiografia ao

hipotálamo e à hipófise [25].

Os níveis de TSH são medidos através de ensaios quimioluminométricos de terceira

geração [25]. Os valores de referência de TSH situam-se entre: a) 0,35 - 5,50 mUI/L para

crianças até aos 12 anos de idade inclusive; b) 0,35 - 5,50 mUI/L para o sexo feminino; c) 0,35 -

5,50 mUI/L para o sexo masculino [28].

A T3 e a T4 séricas encontram-se maioritariamente ligadas a proteínas plasmáticas

como por exemplo a TBG, a albumina e a transtirretina. Estas hormonas enquanto estiverem

ligadas às proteínas plasmáticas não podem ser medidas. Além disso, sabe-se que a gravidez,

determinadas doenças e alguns medicamentos podem alterar os níveis de ligação às proteínas

dificultando assim a interpretação dos resultados dessas medições. Geralmente medem-se os

níveis de T4 livre e de TSH para avaliar o funcionamento da tiróide [25].

Existem vários métodos para calcular os níveis de hormonas livres da tiróide. A

medição direta da T4 livre pode ser efetuada através de ultrafiltração; através de diálise de

equilíbrio seguida da adição de anticorpos anti-T4 ao soro; ou então através do índice de T4

livre, o qual é calculado com base na quantidade de T4 total e de T3 captadas [25].

Os valores de referência no soro para a T3 livre situam-se entre 3,50 - 6,50 pmol/L e

para a T3 total situam-se entre 58 – 159 ng/dL [29].

Por sua vez, os valores de referência para a T4 livre situam-se entre os 0.71 - 1.85

ng/dL e para T4 total situam-se entre 1.2 - 4.5 µg/dL [29].

A medição de anticorpos anti-TPO em doentes com hipotiroidismo pode ajudar a

determinar a etiologia e permite avaliar o risco de progressão para hipotiroidismo clínico em

indivíduos que sofrem de bócio ou de hipotiroidismo subclínico. Em quase todos os casos de

tiroidite de Hashimoto verifica-se um resultado positivo para a presença de anticorpos anti-TPO

[25].

2.5-Tratamento

O tratamento do hipotiroidismo baseia-se administração das hormonas T4 e T3 em falta

(terapia hormonal de substituição) [24].

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22

Os medicamentos que existem no mercado para o tratamento do hipotiroidismo são de

origem animal ou sintética, contudo os de origem animal deixaram de ser utilizados pois

apresentam várias desvantagens como por exemplo, instabilidade, antigenicidade, entre outros.

As preparações sintéticas que existem são de levotiroxina sódica e de liotironina sódica [24].

A levotiroxina sódica é formulação de eleição para o tratamento do hipotiroidismo, mas

é absorvida de forma variável e incompleta pelo intestino delgado. A levotiroxina possui uma

semi-vida de 7 dias e deve ser ingerida com o estômago vazio [24].

A liotironina é quase completamente absorvida após administração oral, apresenta uma

atividade quatro vezes superior à levotiroxina contudo o seu tempo de semi-vida é mais curto

(24 horas), por essa razão só é utilizada em situações em que se pretenda um início de ação mais

rápido, como por exemplo no coma mixedematoso [24].

As doses de levotiroxina utilizadas no tratamento do hipotiroidismo são: a) crianças 10-

15 µg/kg /dia; b) adulto 1,6 µg/kg/dia: mulher 75-100 µg/dia, homem 100-150 µg/dia [24].

Geralmente o tratamento do hipotiroidismo nos adultos jovens não apresenta

complicações, contudo os doentes que sofrem de hipotiroidismo e que apresentam doença

cardíaca isquémica, fibrilação auricular ou que tenham mais de 65 anos devem iniciar o

tratamento com doses mais reduzidas, iniciando o tratamento com 12,5 µg/dia e ir aumentando

progressivamente a dose até atingir os 25 µg (de 4 em 4 a 6 em 6 semanas), devido ao risco de

agravamento de angina, enfarte do miocárdio, associados aos efeitos cronotrópicos e inotrópicos

da tiroxina [24].

Quando se trata de crianças, o tratamento deve ser efetuado o mais rapidamente possível

para não afetar o seu crescimento e desenvolvimento [24].

Quando se pretende monitorizar a terapêutica deve dosear-se a TSH sérica. O objetivo é

normalizar a TSH no limite inferior dos valores de referência. Quando isto acontece, a

concentração da levotiroxina estará na metade superior ou ligeiramente acima dos valores de

referência, sendo que a alteração da dose administrada de levotiroxina faz variar a concentração

de TSH sérica na razão inversa, devido ao mecanismo de feedback negativo. A avaliação da

TSH sérica só deve ser realizada 4 a 6 semanas após a alteração da dose de levotiroxina [24].

Na maioria dos carcinomas da tiróide, a recessão cirúrgica é o tratamento de eleição

seguido do tratamento ablativo adjuvante com 131I. A administração de levotiroxina após a

cirurgia permite corrigir o desenvolvimento de hipotiroidismo e evita a recorrência da doença

em doentes com carcinomas foliculares ou papilares [24].

3-Suplementação de iodo na gravidez

Um aporte insuficiente de iodo na gravidez pode levar a hipotiroxinémia na mãe e/ou

aumento dos níveis de TSH no feto, sendo que estas condições podem originar problemas

psicomotores em recém-nascidos e em crianças [30].

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23

Durante a gravidez, as mudanças hormonais e as exigências metabólicas provocam

alterações significativas nas funções da tiróide. Na gravidez existe um aumento das

necessidades de iodo devido: ao aumento da produção de hormonas tiroideias; ao aumento da

clearance renal de iodo; e à captação fetal de iodo materno e de hormonas tiroideias [30].

1-Aumento da produção de hormonas tiroideias [30]:

- Durante a primeira metade da gravidez, as concentrações de T4 e T3 aumentam com o

objetivo de manter o eutiroidismo materno.

- No início do segundo trimestre, as concentrações de T3 e T4 são cerca de 30% a 100%

maiores do que antes da gravidez.

- Este aumento das hormonas tiroideias pode dever-se:

a) ao aumento da concentração de TBG;

b) à ação tireotrófica da gonadotrofina coriónica humana (hCG);

c) ao aumento da atividade da enzima iodotironina desiodase tipo III.

2-Aumento da clearance renal de iodo [30]:

- Durante a gravidez as perdas de iodo são maiores, pois existe um aumento da

clearance renal de iodo devido ao aumento da taxa de filtração glomerular provocada pelo

aumento dos níveis de estrogénios.

- A clearance renal de iodo aumenta desde o início da primeira semana de gestação e

persiste até ao final da gestação.

3-Transferência de iodo maternal e hormonas tiroideias para o feto [30]:

- O aumento das necessidades de iodo durante a gravidez pode ser explicado pela

transferência transplacentária de hormonas tiroideias da mãe para o feto. O desenvolvimento da

tiróide do feto começa entre a décima e a décima segunda semana de gestação e apenas a partir

da décima oitava semana a T4 é secretada pela tiróide fetal. Durante este período a transferência

transplacentária de iodo é efetuada a partir da mãe para a glândula do feto. A transferência de

iodo permite a que a glândula tiroideia fetal produza as suas hormonas tiroideias.

Uma deficiência severa de iodo durante a gravidez pode causar bócio, abortos

espontâneos, aumento da mortalidade infantil e anomalias congénitas como por exemplo o

cretinismo que se caracteriza como um estado irreversível de atraso mental e que surge em

associação com nanismo, espasticidade e surdez/mudez [30].

Visto que é necessário manter um aporte adequado de iodo à mulher grávida, a

organização mundial de Saúde (OMS) recomenda a suplementação com iodo a mulheres

grávidas, sendo que estas devem ingerir cerca de 250 µg/dia, devendo também ter-se em

atenção a necessidade de monitorizar periodicamente e efetuar ajuste das doses de iodo na

grávida [30].

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24

4-Aplicação do caso de estudo na farmácia

Durante o meu período de estágio, na farmácia onde estagiei o Eutirox® era um dos

medicamentos mais dispensados. Não tendo como propósito fazer publicidade à marca, este

medicamento tem como substância ativa a levotiroxina e é particularmente interessante pois é o

medicamento que apresenta maior variedade de doses no mercado (25 µg; 50 µg; 75 µg; 88 µg;

100 µg; 112 µg; 125 µg; 137 µg; 150 µg;175 µg; 200 µg) que são prescritas de acordo com as

seguintes patologias (Tabela 2).

Tabela 2. Dose recomendada de levotiroxina sódica/dia consoante a indicação terapêutica (retirado de

[31]).

Durante os meus seis meses de estágio na farmácia, analisei quais as doses que eram

mais prescritas pelos médicos com o objetivo de ter uma noção de quais as patologias mais

frequentes na zona onde a farmácia se encontra e ao mesmo tempo esta análise permitiu ao

diretor técnico ter uma noção de qual a dose mais vendida permitindo assim fazer uma gestão

mais racional do stock de medicamentos (Tabela 3 e Figura 7).

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25

Tabela 3. Percentagem de vendas de cada dose de Eutirox® na Farmácia Lopes Veloso

Eutirox® Percentagem de vendas

Eutirox® 25 µg 46,67%

Eutirox® 50 µg 6,67%

Eutirox® 75 µg 13,33%

Eutirox® 88 µg 16,67%

Eutirox® 100 µg 3,33%

Eutirox® 112 µg 6,67%

Eutirox® 125 µg 0,00%

Eutirox® 137 µg 0,00%

Eutirox® 150 µg 0,00%

Eutirox® 175 µg 6,67%

Eutirox® 200 µg 0,00%

Figura 7. Gráfico com as percentagens de vendas de Eutirox®.

Após a análise dos dados pode verificar-se que a dose mais prescrita foi a de 25 µg. O

que pode sugerir que a maioria dos doentes da farmácia possivelmente poderia estar a fazer uma

terapêutica de substituição.

Devido ao facto do hipotiroidismo ser uma doença muito frequente, realizei uma

apresentação em PowerPoint à equipa técnica da farmácia (Anexo 1) com o objetivo de

expandir os seus conhecimentos e ao mesmo tempo expor os meus dados estatísticos

relativamente à percentagem de vendas do Eutirox®.

46,67%

6,67%13,33%

16,67%

3,33%

6,67%

0,00%

0,00%

0,00%

6,67%

0,00%

Percentagem de vendas

Eutirox® 25 µg

Eutirox® 50 µg

Eutirox® 75 µg

Eutirox® 88 µg

Eutirox® 100 µg

Eutirox® 112 µg

Eutirox® 125 µg

Eutirox® 137 µg

Eutirox® 150 µg

Eutirox® 175 µg

Eutirox® 200 µg

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26

5-Conclusão do caso de estudo

Este caso de estudo permitiu-me aumentar os meus conhecimentos científicos

relativamente ao funcionamento da tiróide e em particular do hipotiroidismo que é uma

patologia frequente e como tal o farmacêutico deve ser capaz de identificar alguns dos seus

sinais, bem como esclarecer os utentes quanto às suas dúvidas no que diz respeito à medicação.

A suplementação de iodo nas grávidas é uma abordagem terapêutica recente e visto que

traz benefícios tanto para a mãe como para o filho, o farmacêutico deve ser capaz de aconselhar

as grávidas a falarem com o seu médico assistente sobre este assunto.

Um bom funcionamento da farmácia implica ter um stock adequado às necessidades dos

seus utentes. Com este caso de estudo concluí que o Eutirox®25 µg foi o mais vendido e como

tal, na minha opinião, a farmácia deve estar sempre bem abastecida com esta dosagem.

Caso de estudo II Hiperplasia benigna da próstata

1-Introdução

1.1-Desenvolvimento da próstata

O embrião masculino e o feminino desenvolvem-se inicialmente de maneira idêntica,

cada um possui gónadas indiferenciadas, ductos de Wolf (que dão origem aos órgão sexuais

masculinos) e ductos de Muller (que dão origem aos órgãos sexuais femininos) [32].

O fenótipo masculino desenvolve-se sob a influência dos androgénios testiculares e sob

a influência da substância inibidora Mulleriana (hormona anti-Mulleriana). A substância

inibidora Mulleriana é uma hormona peptídica que pertence à família do TGF-β (fator

transformador de crescimento beta), esta hormona atua em recetores tipo I e II expressos

nos ductos de Muller provocando a regressão destes ductos no homem. Os androgénios

testiculares atuam nos ductos de Wolf fazendo com que estes se desenvolvam para formar o

epidídimo, o ducto deferente e as vesículas seminais. O seio urogenital quando sofre

influência androgénica origina a próstata, a uretra e as glândulas periuretrais [32].

A diferenciação glandular da próstata é regulada pelo tecido mesenquimatoso do

seio urogenital. Os androgénios testiculares ligam-se aos recetores androgénicos que se

encontram nas células mesenquimatosas e induzem a formação dos ductos epiteliais

prostáticos e de ácinos [32].

1.2-Anatomia da próstata

A próstata humana é constituída por quatro zonas (Figura 8): zona periférica; zona de

transição; zona central; estroma fibromuscular anterior [33].

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27

A zona central rodeia os ductos ejaculatórios [33]. O estroma fibromuscular anterior é

uma banda de tecido fibromuscular contígua com o músculo da bexiga e com o esfíncter externo

[33].

A porção periférica da glândula (também conhecida como zona periférica) é constituída

principalmente por tecido acinar e forma a superfície posterior e lateral da próstata. Numa

próstata normal, a zona periférica representa cerca de 70% do volume glandular total. Neste

contexto é de referir que a grande maioria dos carcinomas da próstata surgem na zona periférica

[34].

A zona de transição localiza-se no centro e é menos desenvolvida em homens mais

jovens. Esta zona sofre hipertrofia com a idade acabando por tornar-se na zona dominante, e

este aumento vai originar hiperplasia benigna da próstata. Com a hipertrofia, todas as outras

zonas são comprimidas e a distinção entre a zona central e a zona periférica deixa de ser

possível [33].

Figura 8. Anatomia da próstata. (A) Indivíduo jovem do sexo masculino com hipertrofia reduzida da

zona de transição. (B) Indivíduo idoso do sexo masculino com hipertrofia da zona de transição,

verificando-se que a zona central se encontra comprimida. AFS- Estroma fibromuscular anterior; CZ-

Zona central; PZ- Zona periférica; SV-Vesícula seminal; TZ-Zona de transição (Adaptado de [33]).

1.3-Principal função da próstata

A próstata apresenta um papel importante na fertilidade pois contribui com a maior

parte do volume ejaculado [32]. A secreção prostática é rica em frutose constituindo um

substrato para o metabolismo oxidativo dos espermatozóides e também contém uma serina

protease (o antigénio específico da próstata ou PSA) que liquefaz o esperma facilitando assim o

movimento dos espermatozóides [32,35].

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28

2-Hiperplasia benigna da próstata

2.1-Epidemiologia

A hiperplasia benigna da próstata (HBP) é uma doença muito comum nos homens mais

idosos. Nesta doença, do ponto de vista histológico, verifica-se um crescimento hiperplásico do

tecido epitelial glandular e estromal na zona de transição periuretral que rodeia a uretra [36].

Estas alterações resultam no aumento da próstata que geralmente é acompanhado por sintomas

do trato urinário inferior (LUTS) [37].

Embora a HBP seja pouco comum antes dos 40 anos de idade, cerca de 50% dos

homens desenvolvem sintomas relacionados com a HBP. A incidência da HBP aumenta cerca

de 10% por década de vida e atinge os 80% aproximadamente aos 80 anos de idade [37].

Resultados obtidos de autópsias indicam que evidências anatómicas ou microscópicas

da HBP estão presentes em cerca de 20% dos homens entre os 40-50 anos, 40% entre os 50-60

anos, 55% entre os 60-70 anos, 80% entre os 70-80 anos e 90% entre os 80-90 anos. Contudo as

alterações microscópicas características da HBP são de maior incidência do que a HBP clínica,

pois apenas 25-50% dos homens que apresentam evidências microscópicas da doença

apresentam manifestações clínicas [38].

Outro fator a ter em conta na HBP é o custo associado ao diagnóstico e tratamento da

doença. No ano de 2000, nos Estados Unidos gastaram-se cerca de 1,1 bilhões de dólares nos

cuidados de saúde relativos ao tratamento da HBP. Foram contabilizadas cerca de 4,4 milhões

de visitas aos consultórios médicos e cerca de 117 mil visitas aos serviços de urgência.

Atualmente, o custo anual estimado no tratamento da HBP ronda os 9,9 bilhões de dólares [39].

2.2-Fatores de risco

Idade. A incidência da HBP aumenta com a idade, especialmente após a 5ª década de

vida. Com o envelhecimento ocorre uma acumulação de massa prostática como resultado das

interações entre o tecido glandular e estromal, sendo que estas interações são provocadas pelos

fatores de crescimento que chegam a estes tecidos através da circulação ou então localmente

através da uretra [38].

Raça e etnia. A incidência da HBP é elevada nos afro-americanos e reduzida nos

japoneses nativos. Contudo a incidência da HBP nas populações chinesas e japonesas que

habitam nos países ocidentais é superior à das populações que habitam nos países orientais; o

que poderá dever-se possivelmente ao ambiente ou à dieta [38].

Doença arterial coronária, hipertensão e diabetes mellitus. Nos homens, a

incidência da doença arterial coronária, hipertensão e diabetes mellitus aumenta com a idade,

independentemente de terem HBP, sendo que esta associação com a HBP pode ser uma

coincidência. Em contraste, a incidência da HBP é reduzida em doentes com cirrose hepática o

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29

que poderá ser justificado pela libertação excessiva de estrogénios que se observa nestes

pacientes [38].

Fumo do tabaco. Existe muita discussão acerca dos efeitos do fumo do cigarro na

HBP. Num estudo transversal efetuado concluiu-se que existe uma pequena associação inversa

entre o fumo do tabaco e a HBP, contudo um estudo prospetivo recente em que se mediu o

tamanho da glândula através de ultra-sons não permitiu encontrar uma relação entre o fumo do

tabaco e a incidência de HBP [38].

História familiar. A história familiar é considerada um fator de risco no

desenvolvimento clínico da HBP. A taxa de concordância da incidência de HBP em gémeos

homozigóticos é superior à dos gémeos heterozigóticos o que pode indicar que fatores genéticos

influenciam a ocorrência da HBP [38].

A ingestão de gorduras na dieta, a ingestão de suplementos vitamínicos e a

obesidade. Estes fatores podem alterar o balanço hormonal do organismo e como tal têm sido

consideradas fatores de risco [38]. Estudos anteriores mostraram que quanto maior a

adiposidade, maior o volume da próstata. O peso corporal, o índice de massa corporal e o

perímetro da cintura têm sido positivamente associados ao volume da próstata em diferentes

estudos populacionais [39].

Dihidrotestosterona. Vários estudos demonstraram um aumento do risco de

desenvolvimento da HBP associado ao aumento das concentrações séricas de

dihidrotestosterona (DHT) [39].

A hormona precursora da dihidrotestosterona é a testosterona. A testosterona é

produzida nas células de Leydig nos testículos, sendo que esta produção é regulada pelo eixo

hipotálamo-hipófise [40]. Nos humanos, cerca de 95% da testosterona é produzida pelas células

de Leydig, enquanto apenas 5% é produzida pelas glândulas supra-renais [41]. A testosterona é

convertida em DHT pela enzima 5α-redutase que é uma enzima muito lipofílica e pode ser

encontrada na membrana nuclear. Existem duas isoenzimas da 5α-redutase, a do tipo 1 e do tipo

2 [40].

A 5α-redutase do tipo 2 encontra-se predominantemente expressa na próstata e em

outros tecidos genitais, enquanto a 5α-redutase tipo 1 encontra-se em todos os locais do

organismo onde a 5α-redutase pode ser expressa, incluindo a próstata e a pele. Ambas as

isoenzimas podem ser encontradas no fígado. As isoenzimas diferem entre si no pH ótimo de

atividade (pH= 5,5 para a do tipo 1 e pH=7,0 para a do tipo 2). Tanto a 5α-redutase tipo 1 como

a 5α-redutase tipo 2 são inibidas pelo dutasteride, contudo o finasteride só inibe a 5α-redutase

tipo 2 [40].

O desenvolvimento e o crescimento normal da próstata assim como o desenvolvimento

da HBP e do cancro da próstata dependem de uma séria de etapas:

1- Síntese da testosterona nos testículos e nas glândulas supra-renais;

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30

2- Conversão da testosterona em DHT;

3- Transporte da DHT para os tecidos alvos;

4- Ligação da DHT ao recetor alvo e consequente modulação dos genes [40].

Na próstata, após a ligação da DHT ao recetor dos androgénios, o complexo DHT-

recetor liga-se aos elementos de resposta hormonal (HRE) o que conduz à produção de proteínas

como o antigénio específico da próstata (PSA) e proteínas reguladoras que modulam o

crescimento e o funcionamento das células [40].

Durante o desenvolvimento, a DHT é responsável pela diferenciação da próstata fetal e

pelo desenvolvimento dos órgãos genitais externos do homem. Na próstata de um adulto, a

DHT é responsável pela manutenção da homeostasia entre a proliferação celular e a morte

celular (apoptose). A DHT, indiretamente medeia a expressão de genes que controlam a

proliferação e a morte celular através do controlo da expressão e secreção de fatores de

crescimento. A DHT pode estimular a produção e secreção de fatores de crescimento como: o

fator de crescimento epidermal (EGF), o fator de crescimento de queratinócitos (KGF) e fatores

de crescimento semelhantes à insulina (IGFs), sendo que todos estes fatores modulam a

proliferação celular. A DHT também pode alterar a atividade do fator transformador de

crescimento beta (TGF-β) que é responsável pela modulação da apoptose [40].

Estudos em humanos sugerem que o desenvolvimento da HBP implica uma interrupção

da homeostasia entre a proliferação e a morte celular provocada pela DHT, em que os processos

proliferativos predominam e os processos apoptóticos são inibidos (Figura 9) [40].

A interrupção da manutenção da homeostasia prostática pode surgir a partir de

alterações dos níveis ou da função dos androgénios (por exemplo pode existir uma resposta

alterada do recetor dos androgénios face à estimulação da DHT) e/ou de perturbações nos níveis

ou na função dos fatores de crescimento mediados pela DHT [40].

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Figura 9. Diagrama que representa um desequilíbrio entre a proliferação celular e a morte celular, sendo

esta uma hipótese para explicar o aparecimento da HBP. DHT- dihidrotestosterona. EGF- fator de

crescimento epidermal, KGF- fator de crescimento de queratinócitos, IGFs- fatores de crescimento

semelhantes à insulina. TGF-β- fator transformador de crescimento beta. (Adaptado de: [40]).

Inflamação. A maioria dos estudos observacionais sugere que a inflamação está

intimamente relacionada com o desenvolvimento da HBP e dos LUTS [39].

A próstata, tal como o intestino, é considerada um órgão imunocompetente, nela podem

ser encontradas células T, células B, macrófagos e mastócitos que se encontram dispersos pelo

tecido estromal e glandular [42].

Os infiltrados inflamatórios são constituídos por células T (cerca de 70%), linfócitos B

(cerca de 15%) e macrófagos (cerca de 15%), e estas células são responsáveis pela produção e

libertação de citocinas que podem causar o desenvolvimento fibromuscular associado à HBP

[42]. Na presença de uma ferida na próstata, as citocinas produzidas pelas células inflamatórias

podem aumentar a produção de fatores de crescimento e potenciar a angiogénese [42]. Embora a

presença de infiltrados inflamatórios na próstata esteja bem documentada, a sua origem

permanece desconhecida. [42].

2.3-Fisiopatologia

A localização anatómica da próstata, junto ao colo da bexiga contendo a uretra no seu

interior, desempenha um papel importante na fisiopatologia da HBP. Contudo sabe-se que a

severidade dos sintomas urinários devido a obstrução não estão unicamente relacionados com o

tamanho da próstata [38].

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Existem dois componentes prostáticos que desempenham um papel importante na

obstrução infravesical e no desenvolvimento dos sintomas do trato urinário inferior: o

componente dinâmico e o componente estático [38].

O componente estático está relacionado com o aumento da próstata provocado pelo

crescimento excessivo do tecido estromal e epitelial glandular. Numa próstata normal, a relação

entre o estroma e o epitélio é cerca de 2:1 enquanto na HBP é cerca de 5:1. A ocorrência de

HBP depende da presença de androgénios na circulação nomeadamente da testosterona e da

DHT que é um indutor potente da proliferação celular [43].

O aumento progressivo da próstata pode levar ao aparecimento dos sintomas do trato

urinário inferior e ao aparecimento de retenção urinária cujo tratamento pode requerer

intervenção cirúrgica [43].

O componente dinâmico caracteriza-se pelo aumento do tónus do músculo liso [43].

O componente dinâmico dos sintomas da HBP está relacionado com alterações no tónus

do músculo liso dentro da cápsula prostática e no colo da bexiga. Um excesso de músculo liso

aliado ao aumento da contração do mesmo, pode ser responsável pelo aparecimento dos LUTS,

pode originar uma diminuição do fluxo urinário e pode provocar uma obstrução infravesical que

em casos mais graves origina retenção urinária aguda. As alterações no tónus muscular podem

também contribuir para o aparecimento de sintomas na bexiga como por exemplo a diminuição

da contratilidade da bexiga e o aumento a montante da pressão requerida para cada contração do

músculo detrusor [43].

Na HBP, o aumento do tónus do músculo liso está relacionado com a elevada inervação

adrenérgica da cápsula prostática e do colo da bexiga, principalmente no músculo liso que

rodeia os ductos prostáticos e os ácinos. Estas regiões contêm quantidades elevadas de recetores

α1-adrenérgicos, tendo-se verificado que no caso de existir HBP a quantidade destes recetores

na próstata é superior à quantidade de recetores existentes numa próstata normal. A estimulação

dos recetores α1-adrenérgicos provoca um aumento do tónus do músculo liso na próstata que

está relacionado com os LUTS/HBP. O bloqueio seletivo dos recetores α1-adrenérgicos nos

pacientes com obstrução infravesical associada à HBP é uma estratégia terapêutica bem aceite e

utilizada para minimizar estes sintomas [43].

2.4-Sintomas

A hiperplasia prostática pode ser definida como uma tríade constituída pelo aumento

benigno da glândula prostática, pela obstrução infravesical e pelos LUTS, sendo que esta tríade

constitui a base para efetuar o diagnóstico da hiperplasia benigna da próstata [44].

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Os LUTS podem ser divididos em sintomas de enchimento/armazenamento vesical

(anteriormente denominados irritativos) e em sintomas de esvaziamento vesical (anteriormente

denominados obstrutivos) [44].

Os sintomas de enchimento/armazenamento vesical devem-se ao aumento da glândula

prostática (o componente estático) e ao tónus do músculo liso do estroma prostático (o

componente dinâmico) enquanto os sintomas de esvaziamento vesical estão associados à

disfunção da bexiga produzida pela obstrução infravesical [44].

Os sintomas de enchimento/armazenamento vesical são: frequência urinária; noctúria;

urgência urinária; incontinência de urgência; dor supra-púbica [46].

Os sintomas de esvaziamento vesical são: hesitação, fluxo de urina reduzido ou lento,

esvaziamento incompleto da bexiga, gotejamento terminal, gotejamento pós-miccional,

hematúria e disúria [45,46].

Os sintomas prostáticos antigamente eram designados por “prostatismo”, contudo este

termo deixou de ser utilizado visto que os LUTS podem ter várias causas e a HBP é apenas uma

delas. O diagnóstico diferencial dos LUTS nos homens passa também por averiguar a existência

de: condições neurológicas como o Parkinson, acidentes vasculares cerebrais, diabetes mellitus,

insuficiência cardíaca congestiva, cancro na próstata ou na bexiga, infeção do trato urinário ou

hipertrofia do colo da bexiga. Contudo, a presença de LUTS associada ao aumento da próstata é

um forte indicador da existência de HBP [38].

2.5-Diagnóstico

História clínica: O conhecimento da histórica clínica constitui a primeira etapa no

diagnóstico da HBP. Esta etapa é muito importante pois permite excluir outras doenças que

possam causar o aparecimento dos LUTS. Nesta etapa, deve-se analisar os seguintes dados

clínicos [46]:

1-A história familiar da doença.

2-A presença de doenças que possam causar os LUTS como por exemplo a diabetes, as

doenças neurológicas (Parkinson, esclerose múltipla), as doenças da bexiga, entre outras;

3- Se o paciente está a fazer algum tratamento com diuréticos (pois estes aumentam a

frequência das micções), bloqueadores dos canais de cálcio (são responsáveis pela diminuição

da contratilidade da bexiga), antidepressivos tricíclicos (aumentam o tónus prostático) e com

anti-histamínicos de primeira geração (diminuem a contratilidade da bexiga).

4-Quadro clínico dos LUTS - os sintomas, o tempo de início dos sintomas e a

severidade destes últimos.

O International Prostate Symptom score (IPSS, ver Anexo 2) é o método mais utilizado

para averiguar a gravidade dos sintomas e a qualidade de vida do doente [47]. Este teste é

constituído por 7 perguntas relacionadas com os LUTS e que são avaliadas de 0 a 5 [46]. A

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soma das pontuações atribuídas a cada pergunta determina a gravidade dos sintomas e a sua

classificação em: leves (0-7), moderados (8-19) e severos (20-35) [32]. A questão 8 está

relacionada com o impacto do LUTS na qualidade de vida do paciente [46].

Exames físicos: Um exame físico adequado deve incluir [46]:

1-Exame geral: para averiguar a presença/ausência de edemas, febre, infeções do trato

urinário.

2-Exame abdominal: para ver se existe alguma distensão da bexiga.

3-Exame escrotal: para verificar o tamanho dos testículos, a sua consistência e

sensibilidade.

4-Exame digital retal: é um exame urológico que é essencial efetuar em homens com

LUTS. Neste exame avalia-se o estado da mucosa rectal, o tónus do esfíncter anal, o tamanho da

glândula prostática, a sua consistência e limites e a mobilidade da próstata. A combinação do

exame digital rectal com a determinação dos níveis do antigénio específico da próstata permite

averiguar a existência de carcinoma da próstata, de prostatites ou de outras doenças pélvicas.

Exames laboratoriais:

1-Urinálise: a urina deve ser analisada através do dipstick test ou então através da

realização de um exame microscópico com o objetivo de excluir a presença de infeções ou

hematúria. A presença de hematúria na urina pode indicar a existência de uma lesão urotelial ou

de litíase renal [45].

2- Doseamento da creatinina plasmática: a HBP pode causar dilatação do trato urinário

superior e insuficiência renal [46]. Diversos estudos mostraram que cerca de 11-30% dos

homens com HBP possuem insuficiência renal. Existe suspeita de insuficiência renal quando os

níveis de creatinina se encontram acima dos 1,5 mg/dL [47].

3-Doseamento do antigénio específico da próstata (PSA): o PSA é um marcador

específico do tecido prostático. O carcinoma da próstata não é o único fator que contribui para o

aumento dos níveis deste marcador, pois sabe-se que outras patologias como por exemplo a

HBP e as infeções do trato urinário podem aumentar os níveis de PSA. Os valores normais de

PSA variam com a idade, contudo os homens mais velhos apresentam valores superiores aos

dos homens mais jovens [47].

Estudos urodinâmicos [38]:

1-Urofluxometria: trata-se de um método não invasivo e muito utilizado para avaliar o

fluxo urinário máximo. Normalmente, valores do fluxo urinário máximo acima dos 15

mL/segundo sugerem ausência de obstrução, valores entre os 10-15 mL/segundo podem indicar

a presença de uma possível obstrução (não conclusiva) e valores inferiores a 10 mL/segundo

geralmente sugerem a existência de obstrução infravesical.

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2-Medição do resíduo urinário pós-miccional: neste teste mede-se o volume de urina

que permanece na bexiga após uma micção completa. Trata-se de uma ferramenta útil que

permite acompanhar a resposta do doente face ao tratamento.

3-Estudo fluxo/pressão: nestes estudos mede-se a pressão na bexiga durante a micção.

Estes estudos devem estar limitados a: pacientes com picos de fluxo normais e com sintomas

sugestivos de obstrução infravesical; a pacientes cuja avaliação inicial sugeriu a existência de

disfunções no esvaziamento da bexiga (por exemplo pacientes com doenças neurológicas).

Exames imagiológicos [47]:

1-Imagiologia do trato urinário superior: é um procedimento de rotina realizado em

pacientes com HBP. Este teste deve ser sempre feito em pacientes que apresentem história

clinica de tumor urotelial, hematúria, retenção urinária ou história clínica de infeções do trato

urinário.

2-Imagiologia do trato urinário inferior.

3-Imagiologia da próstata: atualmente é efetuada através da ultra-sonografia

transabdominal ou através da ultra-sonografia transrectal. É um método útil para avaliar e

confirmar o volume da próstata obtido pelo exame digital retal.

4-Imagiologia da bexiga.

Endoscopia (uretrocistoscopia) [47]: Este procedimento só deve ser realizado quando se

pretende obter informações mais detalhadas que não foram possíveis de obter através dos

exames anteriormente descritos. A endoscopia é um procedimento útil que permite detetar e

avaliar a existência de anomalias intravesicais como por exemplo a existência de lesões

intraluminais que possam indicar a presença de um tumor na bexiga.

2.6-Tratamento

Os objetivos do tratamento da HBP consistem em aliviar os sintomas urinários,

melhorar a qualidade de vida do doente e reduzir as complicações decorrentes da obstrução

infravesical. Uma vez que a maioria dos homens aos 50 anos possuem sintomas associados à

HBP é necessário reconhecer quais os pacientes que precisam de tratamento e quando é que é

necessário intervir (Anexo 3) [45].

2.6.1-Vigilância ativa - medidas gerais

Os pacientes com sintomas leves podem simplesmente necessitar de acompanhamento,

porque a história natural da HBP sugere que alguns pacientes melhoram com o tempo enquanto

outros podem piorar e necessitar tratamento [45].

Existem alguns conselhos gerais que podem ser dados a todos os doentes [48]:

- Urinar durante o tempo suficiente para esvaziar a bexiga de modo adequado.

- Evitar contrariar o esvaziamento vesical.

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- Evitar viagens longas e tentar não ficar muito tempo sentado.

- Contrariar alterações do trânsito intestinal, como por exemplo a obstipação.

- O paciente deve jantar cedo.

- Evitar relações sexuais muito frequentes ou prolongadas.

- Evitar a ingestão excessiva de sal, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e também

evitar ingerir café, chá, e especiarias que possam irritar a bexiga e exacerbar os sintomas.

- Não utilizar MNSRM que tenham descongestionantes adrenérgicos.

- Não tomar antidepressivos tricíclicos ou antiespasmódicos urinários, os quais podem

piorar os sintomas urinários.

2.6.2-Tratamento farmacológico

A farmacoterapia tem como objetivo reduzir o tónus do musculo liso prostático e/ou

reduzir o volume da glândula [45].

a) Bloqueadores α-adrenérgicos - Os bloqueadores α-adrenérgicos não exercem nenhum

efeito no volume da próstata e não impedem o crescimento da próstata. Existem vários subtipos

dos recetores α1 (A,B,D e L), sendo que o subtipo α1A é o subtipo que predomina na próstata. A

estimulação simpática destes recetores leva a um aumento da resistência uretral enquanto o

bloqueio provoca um relaxamento das fibras do músculo liso e consequentemente ocorre uma

diminuição da resistência uretral face ao fluxo da urina [46].

Os bloqueadores α-adrenérgicos não seletivos (como por exemplo a fentolamina e a

fenoxibenzamina) foram os primeiros bloqueadores a ser usados, contudo como atuam tanto nos

recetores α1 como nos recetores α2 apresentam vários efeitos adversos. Por sua vez, os

bloqueadores seletivos dos recetores α1 (como por exemplo a doxazosina, a prazosina e a

terazosina) apresentam menos efeitos adversos. Atualmente, os bloqueadores α1A (como por

exemplo a alfuzosina, e tansulosina) têm sido utilizados como opção terapêutica visto que são

uroselectivos [46]. A tansulosina é um bloqueador α-adrenérgico muito utilizado pela sua

seletividade, devido ao facto de apresentar efeitos adversos moderados (tonturas e astenia) e

também por proporcionar um melhoramento rápido dos sintomas [49].

Contudo, a administração de bloqueadores α-adrenérgicos aos idosos requer atenção

especial pois estes fármacos podem aumentar o risco de hipotensão ortostática, podem originar

tonturas e consequentemente podem provocar um aumento do risco de quedas [49].

b) Inibidores da 5α-redutase: em pacientes com HBP, a concentração de DHT é cerca de

3 a 4 vezes superior à concentração de DHT em indivíduos normais. Os inibidores da 5α-

redutase diminuem o tamanho da próstata em cerca de 20%-30% e são capazes de reduzir os

níveis de PSA para metade [46]. Os inibidores da 5α-redutase disponíveis no mercado são o

finasteride e o dutasteride, contudo o finasteride só inibe a 5α-redutase tipo 2 [46].

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Resultados obtidos de estudos realizados em pacientes que possuíam um volume da

próstata superior a 40 cm3 sugeriram que o finasteride diminuiu os níveis de DHT em cerca de

70 %, causando uma melhoria dos sintomas e redução do risco de retenção urinária aguda.

Enquanto, estudos realizados em pacientes com um volume prostático superior a 30 cm3

mostraram que o dutasteride provocou uma diminuição de mais de 90% dos níveis de DHT com

melhoria dos sintomas com o tempo, uma redução do risco de retenção urinária aguda em cerca

de 57% e de cirurgia em cerca de 48% [46].

Os efeitos adversos mais comuns dos inibidores da 5α-redutase são: a disfunção eréctil,

diminuição da libido, a diminuição do volume de ejaculação e a ginecomastia [46].

c) Terapêutica de combinação: consiste na associação de bloqueadores adrenérgicos α a

inibidores da enzima 5α-redutase. Estudos recentes demonstraram que a combinação terapêutica

entre um bloqueador α e um inibidor da enzima 5α-redutase teve um efeito superior em relação

à monoterapia [46]. Os autores de alguns estudos efetuados nesta área sugerem que a terapêutica

de combinação entre o dutasteride e a tansulosina deve ser aplicada em pacientes que possuam

um IPSS moderado (8-20), um volume prostático elevado e níveis de PSA superiores as 1,5

ng/mL [46].

d) Fitoterapia: têm sido utilizados para melhorar os LUTS, extratos de plantas obtidos a

partir de sementes, cascas, raízes ou frutas. Os principais fitoterápicos utilizados são a Serenona

repens e o Pygeum africanum. Estes agentes apresentam propriedades anti-inflamatórias e

possuem a capacidade de alterar as vias de síntese dos fatores de crescimento [49]. Contudo

apesar destas características, a eficácia destes compostos é limitada [45]

2.6.3- Tratamento cirúrgico

O tamanho da próstata é um fator determinante na escolha da técnica cirúrgica a utilizar

nos tratamentos cirúrgicos da HBP. As principais técnicas cirúrgicas utilizadas são [46]:

a) Incisão transuretral da próstata (TUIP) - é um procedimento cirúrgico utilizado em

pacientes que possuem um volume prostático inferior a 30 cm3.

b) Recessão transuretral da próstata (TURP) - este procedimento está indicado para

pacientes que possuam um volume prostático entre os 30 e os 80 cm3. É o procedimento mais

utilizado uma vez que 90% dos pacientes possuem próstatas cujo volume se encontra neste

intervalo.

c) Prostatectomia aberta ou adenomectomia - é o procedimento de escolha em homens

que apresentem um volume prostático superior a 60-80 cm3.

Outra alternativa no tratamento da HBP consiste na utilização de tratamentos

minimamente invasivos em relação aos procedimentos anteriormente descritos visto que

apresentam aspetos positivos como por exemplo diminuição do risco de sangramento,

diminuição da cateterização e diminuição do tempo de internamento no hospital [46].

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As técnicas cirúrgicas alternativas são [46]:

a) Electrovaporização transuretral (indicada para próstatas com volume pequeno);

b) Ressecção prostática com laser (indicada para volumes prostáticos pequenos a

moderados);

c) Enucleação da próstata com laser holmium (indicada para volumes prostáticos

moderados a elevados).

Como a HBP é uma patologia muito frequente entre os homens, elaborei um panfleto

(Anexo 4) destinado aos utentes da farmácia com o objetivo de fornecer informação que lhes

possa ser útil.

3-Conclusão do caso de estudo

A descrição deste tema permitiu-me expandir os conhecimentos acerca desta patologia.

Tratando-se de um assunto “sensível” para a maioria dos homens, quando algum utente me

questionar sobre este assunto vou poder prestar os devidos esclarecimentos com maior

tranquilidade e discrição.

A HBP é uma doença que afeta a maioria dos homens, como tal quanto mais cedo for

efetuado o diagnóstico, mais fácil é o tratamento e maiores são as probabilidades de cura.

O farmacêutico quando em contacto com um paciente mais idoso, pode aconselhá-lo a

seguir medidas não farmacológicas com o objetivo de evitar os sintomas decorrentes da HBP e

quando suspeitar que o doente possa estar a desenvolver algum dos sintomas, deve aconselhá-lo

a ir ao médico.

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Conclusão

Atualmente a farmácia não é só um local de venda de medicamentos mas um espaço de

saúde pois cada vez mais os utentes vêm à farmácia pedir conselhos, tirar dúvidas sobre a

medicação, medir os parâmetros bioquímicos (como o colesterol e a glicemia) entre outros.

Como tal, o farmacêutico enquanto profissional de saúde tem o dever de acompanhar, informar,

ajudar os utentes, transmitindo-lhes confiança sem nunca desrespeitar o sigilo profissional.

Durante os meus 6 meses de estágio tive a oportunidade de aplicar os conhecimentos

que adquiri na faculdade e ao mesmo tempo aprendi novas formas de colocar em prática esses

conhecimentos. Durante este período aprendi a contactar com os utentes, desenvolvi as minhas

capacidades no que se refere ao aconselhamento farmacêutico e tomei consciência das

dificuldades inerentes à gestão de uma farmácia.

O sucesso de uma farmácia não depende somente do marketing, da sua localização

geográfica, mas também depende muito da equipa técnica. O diretor técnico e a sua equipa

devem estar sempre aptos a contactar com os diferentes tipos de pessoas, devem sempre adequar

o seu discurso à personalidade e nível de conhecimento dos utentes da farmácia e devem sempre

promover uma utilização racional do medicamento.

No que diz respeito aos casos de estudo, estes permitiram-me desenvolver novas

competências e adquirir novos conhecimentos referentes ao hipotiroidismo e à hiperplasia

benigna da próstata. Quando for necessário exercer um aconselhamento farmacêutico sobre

estas patologias, vou estar mais preparado e confiante podendo assim melhor zelar pelo bem-

estar do utente.

Por fim, posso concluir que este período de estágio foi gratificante, positivo, deparei-me

com muitas situações novas que me enriqueceram tanto a nível pessoal como profissional e foi

uma etapa muito importante para a minha transição da vida académica para a vida profissional.

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Anexos Anexo 1. Apresentação em PowerPoint sobre o hipotiroidismo na sociedade.

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Anexo 2. IPSS-Score Internacional de Sintomas Prostáticos (retirado de [50]).

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Anexo 3. Algoritmo para o tratamento médico da HPB (retirado de [50]).

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Anexo 4. Panfleto informativo sobre a hiperplasia benigna da próstata

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