avanÇos e limites da participaÇÃo social e do...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO AVANÇOS E LIMITES DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DO CONTROLE SOCIAL NO CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DO MUNICÍPIO DE SANTA INÊS - PB Maria Estelina Nunes Ramalho Pós-graduanda lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB Luiz Antônio Coêlho da Silva Professor Convidado da UAB Virtual do Curso de Especialização em Gestão Pública Municipal - UFPB RESUMO Trata-se de um estudo acerca da participação e do controle social na gestão municipal da Assistência Social, no município de Santa Inês – PB, com a análise do conselho municipal de assistência social (CMAS) deste município. O objetivo do trabalho foi analisar os avanços e os limites da participação e do controle social no referido espaço. A partir de uma abordagem crítica dialética acerca da política de assistência no Brasil, da participação e do controle social, refletiu-se sobre o processo de democratização e institucionalização da participação e do controle social no Brasil, como também o incentivo da participação a nível local por meio dos conselhos existentes. Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, cuja coleta de dados foi realizada com a análise documental, observação e aplicação de questionários aos conselheiros, e ainda com anotações no diário de campo. A análise da qualidade da participação dos conselheiros no CMAS se deu a partir de sua dinâmica de freqüência e de participação, registradas nas atas de reuniões, recorrendo a análise de conteúdo como procedimento de análise dos dados coletados. A pesquisa revelou que existem limitações na dinâmica de freqüência e da participação: falta participação dos usuários, as intervenções priorizam os informes em detrimento das propostas, reivindicações/reclamações e discordâncias. Desse modo, constatou-se que há uma fragilidade no controle social do objeto de estudo, tendo em vista que as intervenções não fortalecem o caráter propositivo do CMAS e seus partícipes. Palavras-chave: Política de Assistência Social, Conselho Municipal de Assistência Social, Participação, Controle Social. 1 - INTRODUÇÃO Este trabalho sistematiza uma aproximação empírica com o espaço de trabalho e reflexão teórica sobre a Participação e Controle Social na Política de Assistência Social por

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

AVANÇOS E LIMITES DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DO CONTROLE SOCIAL NO CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL DO MUNICÍPIO DE SANTA INÊS - PB

Maria Estelina Nunes Ramalho Pós-graduanda lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB

Luiz Antônio Coêlho da Silva

Professor Convidado da UAB Virtual do Curso de Especialização em Gestão Pública Municipal - UFPB

RESUMO Trata-se de um estudo acerca da participação e do controle social na gestão municipal da Assistência Social, no município de Santa Inês – PB, com a análise do conselho municipal de assistência social (CMAS) deste município. O objetivo do trabalho foi analisar os avanços e os limites da participação e do controle social no referido espaço. A partir de uma abordagem crítica dialética acerca da política de assistência no Brasil, da participação e do controle social, refletiu-se sobre o processo de democratização e institucionalização da participação e do controle social no Brasil, como também o incentivo da participação a nível local por meio dos conselhos existentes. Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, cuja coleta de dados foi realizada com a análise documental, observação e aplicação de questionários aos conselheiros, e ainda com anotações no diário de campo. A análise da qualidade da participação dos conselheiros no CMAS se deu a partir de sua dinâmica de freqüência e de participação, registradas nas atas de reuniões, recorrendo a análise de conteúdo como procedimento de análise dos dados coletados. A pesquisa revelou que existem limitações na dinâmica de freqüência e da participação: falta participação dos usuários, as intervenções priorizam os informes em detrimento das propostas, reivindicações/reclamações e discordâncias. Desse modo, constatou-se que há uma fragilidade no controle social do objeto de estudo, tendo em vista que as intervenções não fortalecem o caráter propositivo do CMAS e seus partícipes. Palavras-chave: Política de Assistência Social, Conselho Municipal de Assistência Social, Participação, Controle Social.

1 - INTRODUÇÃO

Este trabalho sistematiza uma aproximação empírica com o espaço de trabalho e

reflexão teórica sobre a Participação e Controle Social na Política de Assistência Social por

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meio dos Conselhos, tendo como recorte o Conselho Municipal de Assistência Social

(CMAS) do Município de Santa Inês na Paraíba, considerando ainda as suas reais

peculiaridades.

A Constituição de 1988 possibilitou significativos avanços no que se refere à

democratização política e à descentralização das políticas sociais no Brasil (BRASIL, 1988).

Em decorrência disso, abriu-se espaço para ampliação da participação da população na gestão

pública, que garante aos cidadãos espaços para influir nas políticas sociais e democráticas,

tornando-os uma peça fundamental na implementação de políticas públicas e de melhorias

sociais decorrentes de reclamações e sugestões.

Nesse contexto, a Assistência Social passa a integrar a seguridade social do país,

junto com a Saúde e a Previdência Social, ganhando assim um caráter de política de proteção

social articulada a outras políticas implementadas por todas as esferas de governo.

Assim, a Assistência Social foi regulamentada pela Lei 8.742 de 07 de dezembro de

1993, denominada Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a qual definiu claramente os

objetivos e as diretrizes da assistência social, a forma de organização e a gestão das ações

socioassistenciais, reforçando a assistência social como sistema descentralizado, com

participação popular e financiado pelo poder público, conforme ordena a Constituição Federal

de 1988. (BRASIL, 1993).

Nesta perspectiva, foram instituídos os conselhos, enquanto instâncias deliberativas,

de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, nas três esferas

de governo.

Os Conselhos caracterizam-se como espaços institucionais legais de luta, negociação

e articulação entre diferentes segmentos da sociedade, que podem participar das decisões

políticas, exercendo, o controle social sobre o Estado, e expondo ainda as suas demandas

sociais.

Este trabalho justifica-se pela necessidade de um maior aprofundamento teórico

empírico a respeito dos conselhos de assistência social em nível de gestão pública municipal,

além da busca por maiores estudos que agreguem sensibilização social a respeito da

importância deste conselho e as implementações dos seus programas.

Nesta perspectiva, busca-se analisar como problemática do estudo os Avanços e os

Limites da Participação e do Controle Social no Conselho Municipal de Assistência Social do

Município de Santa Inês na Paraíba.

Assim sendo, inicialmente têm-se a discussão sobre a Participação e o Controle Social

a partir do processo de democratização no Brasil e seus desdobramentos na Política de

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Assistência Social. Em seguida, tratar-se-á dos procedimentos metodológicos, do resultado da

pesquisa, e logo após as considerações finais.

2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Entendendo a participação a partir do processo de redemocratização e controle

social no Brasil

A formação do Estado brasileiro é caracterizada tradicionalmente por sua tendência

clientelista e autoritária, com intervenções ligadas à defesa dos interesses do capital em

detrimento da classe trabalhadora, subjugada, na sua maioria, à exclusão no acesso às

condições mínimas de sobrevivência (RAICHELES, 2000).

No entanto, se percebe avanços na organização da classe trabalhadora e, mais

recentemente, de outros segmentos da sociedade – mulheres, negros, indígenas, homossexuais

– que entraram em cena demarcando seu espaço nas lutas sociais em defesa de seus interesses,

conquistando formalmente direitos fundamentais ligados à cidadania, aqui entendida como

principal expressão da democracia, constituída por um conjunto de direitos e deveres dos

indivíduos (civis e políticos) e de grupos (sociais e culturais), muitos destes grupos fazem

parte de movimentos sociais que representam uma classe e lutam pela diminuição das

desigualdades sociais no Brasil em suas várias facetas (RAICHELES, 2000).

A democracia é concebida como um processo histórico que tem como princípios

fundamentais à soberania popular, a liberdade e a igualdade para todos. É um tipo de governo

do povo, pelo povo e para o povo, ou seja, um governo no qual existe permanente

participação política dos cidadãos, aliada à igualdade econômica, política e social para todos

os cidadãos.

No Brasil, o final da década de 1970 e toda a década de 1980 foram períodos

marcados pelo processo de redemocratização do Estado, onde houve o aprofundamento do

debate sobre a democracia, expondo em questão a forma de governo autoritário e

centralizador da Ditadura Militar (DEMO, 1991).

Nesta época, várias ações coletivas foram desenvolvidas por diversos segmentos

sociais – estudantes, intelectuais, artistas, etc – organizados em movimentos sociais, como: as

diretas já, movimento operário, movimento pela reforma sanitária, movimento contra o custo

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de vida, entre outros de suma importância para a formação da democracia brasileira. As

principais demandas apresentadas por estes movimentos foram: os direitos de cidadania

(sociais, políticos e civis) e a democratização dos processos decisórios e da relação entre

Estado e Sociedade.

Este cenário, marcado por diversas lutas sociais foi fundamental para o processo

constituinte, no qual reuniram-se várias entidades, associações, sindicatos, movimentos,

fóruns, plenárias, comitês, sobretudo os partidos políticos de esquerda, para propor e discutir

suas demandas, desejos e anseios, como forma de melhorarem a condição econômica e social

em que estas classes viviam, que com consciência estavam desejosos de mudança consistente

igualitária (DEMO, 1991).

Este processo culminou na promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual

tornou-se o marco processual de conquista mais evidenciada da democracia no Brasil.

Outro importante destaque na Constituição Federal foi o reconhecimento formal do

município como ente da federação, ou seja, o município conquista “autonomia” para elaborar

e definir suas políticas a nível local, de acordo com a realidade vivenciada por cada região, a

esse processo deu-se o nome de municipalização (SILVA, 2000).

Assim, a descentralização e a municipalização vieram sinalizar a possibilidade do

exercício pleno da cidadania, já que segundo os seus princípios, o cidadão deixaria de ser

apenas usuário dos serviços oferecidos e produzidos pelo Estado para ser protagonista, do

ponto de vista da participação social, na definição e fiscalização das políticas públicas a nível

local, estadual e nacional, tomando agora o lugar que lhe é devido na política e nas decisões

governamentais.

Neste sentido, a descentralização representa a distribuição de poder entre as esferas

de governo e entre o Estado e a Sociedade Civil; requerendo a redefinição da estrutura de

poder, por meio da transferência de competência decisórias e executivas, assim como dos

recursos necessários para sua implementação (SILVA, 2000).

A Constituição Federal de 1988 provocou mudanças significativas nos processos de

reorganização da sociedade, como a ampliação dos direitos sociais, políticos, civis e a criação

do Sistema de Seguridade Social que de acordo com o art.194, “consiste num conjunto

integrado de ações de iniciativas dos poderes públicos e da sociedade destinados a assegurar

os direitos relativos à saúde, à previdência e a assistência social” (BRASIL, 1988).

A descentralização político administrativa e a participação social são diretrizes

apontadas na Carta Constitucional de 1988 que redefinem o papel de todas as instâncias do

governo.

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Portanto, a Constituição Federal de 1988, por meio de suas diretrizes, reforça a

importância da participação social como trajetória para a construção da cidadania, uma vez

que se estabeleceu, a partir de então, a possibilidade de uma nova relação entre Estado e

sociedade civil; aqui entendido o Estado como uma instância juntamente com a sociedade

civil, mas como um Estado ampliado, que “engloba a esfera da sociedade política e, também a

esfera da sociedade civil” (GRAMSCI apud SILVA, 2000, p.38).

Ainda segundo Silva (2000, p. 38):

[...] Estado e Sociedade Civil não devem ser considerados pólos divergentes, que possam ser dicotomizados entre o “bem” e o “mal”, mas duas faces de uma mesma moeda que se delimitam a partir da correlação de forças entre as diferentes classes e os diferentes projetos societários por elas representados, tanto no seio da sociedade política (através dos aparelhos de coerção) quanto da sociedade civil (através dos aparelhos privados de hegemonia).

Para tanto, foram definidos novos canais de participação popular como plebiscito, o

referendo, a iniciativa popular de lei e os Conselhos de Políticas Públicas e de Direitos

(BRASIL, 1988).

Os Conselhos de Políticas Públicas caracterizam-se como canais de participação

legalmente constituídos para o exercício do controle social das políticas sociais, pois são

investidos de prerrogativas deliberativas e fiscalizadoras e, devem ser constituídos em todas

as esferas de governo.

Os Conselhos configuram-se ainda como espaços contraditórios, uma vez que existem

diferentes interesses em disputa, “mas podem constituir-se em instrumentos abertos ao debate

público, às proposições de estratégias para efetivar direitos já conquistados ou a construir”

(TEIXEIRA, 1996, p. 14).

A década de 1990 foi marcada pela propagação dos Conselhos nas três esferas de

governo, no entanto, atribui-se este fato em alguns municípios à exigência legal para

transferência de recursos das esferas federal e estadual para áreas fundamentais, a exemplo da

educação e da saúde, no âmbito municipal (TEIXEIRA, 1996).

Nesta perspectiva, há um comprometimento na qualidade da participação e no

aproveitamento destes espaços enquanto locais de debates públicos e de apresentação e

conquistas de demandas da população, já que o seu processo de formação se desenvolveu,

muitas vezes e em muitos municípios, de forma antidemocrática, sem nenhuma discussão e

preparação da comunidade, apenas a título de formalidade legais (DAGNINO, 2002).

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Contudo, apesar de todas as suas limitações e ambigüidades, os conselhos

representam canais importantes de luta pela efetivação e ampliação dos direitos adquiridos e

construção de outros novos direitos.

Têm-se que a década de 1990 foi marcada, também, pelo avanço da política

neoliberal, com a proposta de redução do Estado, e ainda segundo Bravo (2002, p. 49):

A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil, com a redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, precarização do trabalho, desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde e educação, que tende a debilitar os espaços de representação coletiva e controle social sobre o Estado, conquistas da Constituição Federal de 1988.

Na atual conjuntura brasileira marcada pelo aprofundamento da desigualdade e

exclusão social, quando grande parte da população se encontra à mercê de políticas sociais

precarizadas, de acesso restrito, faz-se necessário a efetiva participação social na luta pela

efetivação, implementação e ampliação dos direitos adquiridos e construção de outros, sendo

mecanismos importantes dessa atuação e resistência, os Conselhos as Conferências Públicas

Setoriais.

2.2 Discutindo os Conceitos de Participação Social e Controle Social no âmbito da

Assistência Social

O processo de participação é historicamente permeado por diversos significados, ás

vezes contraditórios, condicionados por fatores sócio-econômicos, políticos e culturais,

utilizados em alguns momentos em favor da classe dominante – como instrumento de

manipulação para a conservação e legitimação de seu status, quando esta classe se antecipa e

concede a participação de forma limitada, como estratégia para abafar conflitos e contradições

inerentes ao sistema capitalista, que possui em sua essência a desigualdade social, o

individualismo, a concorrência capitalista, a falta de humanismo e demais mazelas que tornam

povos submissos e uma massa de explorados cada vez mais alienada quanto ao processo

produtivo.

Para Demo (1993), existem classes trabalhadoras que em defesa e em luta por seus

direitos, enquanto sujeitos políticos, tornam o fenômeno da participação algo notório,

configurando-se como movimento social verdadeiro, uma vez que é fruto de um processo

histórico de conquista.

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Ainda para Demo (1993, p. 18):

(...) participação é conquista para significar que é um processo, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo. Assim, participação é em essência autopromoção e existe enquanto conquista processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação que se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir.

Portanto, a participação tem em sua essência o caráter político, uma vez que há

permanente relação social, em que diferentes atores interagem e fazem vigorar seus interesses,

aspirações, direitos e valores; construindo suas identidades, afirmando-se como sujeitos de

direitos e deveres para todos (DEMO, 1993).

O termo controle social tem sua origem na sociologia, empregado tradicionalmente

por diversos autores para classificar o controle do Estado sobre a sociedade, por meio de

normas, comportamentos leis e valores morais, disseminados por instituições sociais como o

direito, à religião e a educação, os quais são internalizados pelos indivíduos e reproduzidos na

sua vida cotidiana para conservar o sistema social dominante, e quando utilizado de forma

crítica para modificar estruturas e transformar o sistema vigente, pondo fim a determinadas

formas de trabalho precárias ou péssimas condições humanas (RAICHELES, 2000).

Nesta perspectiva, outra forma de controle social desenvolvido historicamente pelo

Estado são as políticas sociais – sob a ótica assistencialista, que desfaz o caráter de direito e

cidadania, criadas com o intuito de conter os conflitos de classe, desmobilizando a população.

Assim, o Estado assume o papel de regulador social na defesa dos interesses da classe

dominante: a burguesia, que passa a obter cada vez mais dinheiro, proporcionalmente aos

recursos econômicos que possui, submetendo as classes mais pobres ao seu subjugo constante

(RAICHELES, 2000).

Ainda para Raicheles (2000), o uso da força física, política ou militar,

freqüentemente acompanhada de políticas compensatórias, associadas a uma cultura

paternalista, foram às formas predominantes de controle social praticada no Brasil, até os anos

de 1980, e muitas vezes camufladas até hoje, mas que ainda agrega resquícios desta época.

Contudo, a partir da intensa organização e mobilização popular na década de 1980,

em prol de um Estado democrático e garantidor do acesso universal aos direitos sociais,

evidenciou-se a possibilidade de inversão desta concepção de controle social, na perspectiva

de um controle da sociedade civil sobre o Estado, o qual foi introduzido na Constituição

Federal de 1988.

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Esta concepção pode ser entendida à luz da concepção Gramsciana de Estado

ampliado, que o considera como “todo o conjunto de atividades práticas e teóricas com as

quais a classe dirigente não só justifica e mantém o seu domínio, mas chega a obter o

consenso dos governados” (GRAMSCI, 1978 p. 149). Segundo essa concepção, o Estado é

um espaço conflitante, no qual perpassa interesses de classes, pois apesar de conceber

hegemonicamente os interesses da classe dominante, assumem demandas das classes

subalternas, mas que muitas vezes apenas ressarcem injustiças feitas ao longo dos tempos,

mas que na prática não permitem uma real mudança de vida para estas classes ansiosas por

melhor condição de vida.

Observa-se que a Constituição Federal de 1988 reforça a importância da participação

social como caminho para construção da cidadania, uma vez que se estabeleceu, a partir de

então, a possibilidade de uma nova relação entre Estado e sociedade.

A Constituição Federal de 1988 nos artigos 203 e 204 concebem a Assistência Social

como política de seguridade social não contributiva de responsabilidade do Estado e direito do

cidadão, realizada por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da

sociedade (BRASIL, 1988).

Dessa forma, a Constituição rompeu no campo formal com a concepção de

assistência como benemerência social e dos seus destinatários como tutelados. A assistência

passa a ser considerada uma política pública de proteção social articulada a outras políticas

públicas sociais, voltadas à garantia de direitos.

Em 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS – 8.742, de 1993) foi

aprovada, regulamentando os artigos da Constituição Federal de 1988 que trata da assistência

social, sendo definidos os princípios, as diretrizes, as competências, a gestão e o

financiamento da política de Assistência Social (BRASIL, 1993).

Assim, o controle e a participação social são diretrizes apontadas pela LOAS na

organização da Assistência, por meio da criação dos conselhos nas três esferas de governo.

Posteriormente, a Política Nacional de Assistência Social de 2004, que instituiu o Sistema

Único de Assistência Social - SUAS, reiterou as diretrizes apontadas na Constituição Federal

de 1988 e na LOAS no que se refere à participação da população na formulação das políticas

e no controle das ações desenvolvidas pelo Estado (BRASIL, 1993).

O SUAS, fruto das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social,

realizada em Brasília no período de 07 a 10 de dezembro de 2003, representa um estágio

avançado do conceito da Assistência Social formalizado na Constituição Federal de 1988,

pois instituiu nova forma de regulação e organização das ações da política de assistência

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social. Caracteriza-se por um sistema hierarquizado, descentralizado e participativo de

proteção social básica e especial de média e alta complexidade. Organizado através de um

complexo de programas, projetos, benefícios e serviços que considera o porte dos municípios,

o planejamento técnico e financeiro e o processo de aquisição do vínculo SUAS (BRASIL,

2005).

Os Conselhos em todas as esferas de governo devem ter composição paritária, com

50% de representantes governamentais e 50% de representantes da sociedade civil, eleitos

entre representantes dos usuários ou de organização de usuários da assistência social, de

entidades e organizações de assistência social, e de entidades de trabalhadores do setor.

Com relação aos conselhos municipais, estes são instituídos pelo município através

de lei específica que estabelece sua composição, o conjunto de suas atribuições e a forma pela

qual suas competências serão exercidas. São vinculados à estrutura do órgão da administração

pública responsável pela coordenação da política de assistência social, que lhes dá apoio

administrativo, assegurando dotação orçamentária para seu pleno funcionamento (TEIXEIRA,

1996).

Pela sua composição paritária entre representantes da sociedade civil e governo, e a natureza deliberativa de suas funções no que se refere à definição da política em cada setor e ao controle social sobre sua execução, pode-se considerar que os conselhos emergem como um constructo institucional que se opõe à histórica tendência clientelista, patrimonialista e autoritária do Estado brasileiro (RAICHELES, 2000, p. 64).

Com relação aos conselhos municipais, estes são instituídos pelo município através

de lei específica que estabelece sua composição, o conjunto de suas atribuições e a forma pela

qual suas competências serão exercidas. São vinculados à estrutura do órgão da administração

pública responsável pela coordenação da política de assistência social, que lhes dá apoio

administrativo, assegurando dotação orçamentária para seu pleno funcionamento

(RAICHELES, 2000).

Outra instância de controle social garantida na LOAS são as Conferências de

Assistência Social, que têm o papel de avaliar a situação da assistência social, definir

diretrizes para o aperfeiçoamento da política e verificar os avanços num espaço de tempo

determinado (BRASIL, 1993).

As experiências em curso revelam que os Conselhos, nas diferentes políticas sociais

e nos vários níveis de governo, vêm enfrentando alguns limites que variam de acordo com as

especificidades locais, mas o que existe em comum entre estes, diz respeito à partilha efetiva

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de poder, ou seja, na prática, o poder deliberativo dos conselhos vem se transformando em

uma função consultiva ou até mesmo legitimadora das decisões tomadas nos gabinetes

(DAGNINO, 2002).

A partir deste aporte teórico-conceitual foi que investigou-se os Avanços e Limites

da Participação e do Controle Social no Conselho Municipal de Assistência Social do

Município de Santa Inês, na Paraíba, cujos resultados apresentam-se a posteriori.

3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa é do tipo descritiva e caracteriza-se como um estudo de caso, pois

privilegiou-se uma unidade de análise em campo: Conselho Municipal de Assistência Social

do Município de Santa Inês/Paraíba. Para Gil (2002, p. 53), a pesquisa de campo é focalizada

num grupo social e desenvolvida no local do fenômeno estudado, por meio de questionários

estruturados e anotações de campo no intuito de “captar suas explicações e interpretações do que

ocorre no grupo”.

Quanto ao método e forma de abordagem, trata-se de uma abordagem crítica

dialética (o mundo é visto como um conjunto de processos, onde tudo se relaciona), com

enfoque qualitativo da realidade explorada, tomando como referência a nossa aproximação

teórica e empírica com a área de atuação profissional (Assistência Social), subsidiada pela

sucinta contribuição quantitativa, para uma melhor demonstração e construção da temática em

estudo. Assim, para TRIVINÕS (1987, p. 65), “os objetos, as coisas e os fenômenos se

distinguem entre si pela sua qualidade, isto é, pelo conjunto de propriedades que os caracterizam.

Dessa maneira, a qualidade representa o que o objeto é e não outra coisa”.

Quanto às técnicas de coleta de dados, foi utilizada a observação sistemática das

reuniões plenárias do CMAS, pois a partir destas pode-se apreender e registrar o fenômeno da

participação social no momento que ele ocorre. Para apreensão de elementos que caracterizam

a questão da participação no CMAS, bem como traçar o perfil dos Conselheiros, foi utilizado

08 (oito) questionários, a partir de questões abertas e fechadas, os quais foram aplicados aos

membros titulares do referido Conselho. Portanto, para Marconi e Lakatos (2006, p. 107), “o

questionário é constituído por uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito e

sem a presença do pesquisador”.

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A coleta de dados foi realizada também por meio da pesquisa documental, a partir

das Atas das reuniões, Lei Municipal, os quais viabilizaram a obtenção de dados referentes à

dinâmica de freqüência e da participação dos Conselheiros no CMAS.

Para análise e interpretação dos dados recorreu-se a análise de conteúdo, a partir dos

registros das observações, documentos internos do CMAS foram estabelecidas categorias,

tanto das falas dos sujeitos envolvidos, quanto do contexto teórico e histórico estudados em

maior profundidade. Assim, esta técnica para Bardin (1997, p. 42), é tida de forma geral como

um conjunto de técnicas para a análise das comunicações e que visa, a priori, obter, por

procedimentos, sistemáticos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores

quantitativos ou não, que permitam a análise de conhecimentos das condições de

produção/recepção das mensagens expressas.

4 - ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1 Conhecendo o Conselho Municipal de Assistência Social – CMAS de Santa Inês/PB e

o perfil dos seus conselheiros

Inicialmente, destaca-se que os elementos aqui apresentados sobre Conselho e os

seus Conselheiros, foram obtidos com base nas informações disponíveis no banco de dados do

CMAS, da Lei Municipal de sua criação e a partir de questionários aplicados com

Conselheiros.

Nesse sentido, pretendeu-se traçar o perfil do Conselheiro e ao mesmo tempo

apontar elementos determinantes, que permitissem esclarecer sobre a participação popular no

Conselho Municipal de Assistência Social na cidade de Santa Inês, no Estado da Paraíba.

A cidade do CMAS em análise é Santa Inês, município do estado da Paraíba (Brasil),

localizado na microrregião de Itaporanga. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), no ano de 2010 sua população era estimada em aproximadamente 3.539

habitantes, com área territorial de 324 km², clima semiárido e Policultura de subsistência.

O Conselho Municipal de Assistência Social de Santa Inês/PB – CMAS/Santa Inês

foi criado em 24 de Janeiro de 1997, a partir de legislação específica, a Lei Municipal Nº

006/97, que dispõe sobre sua competência, objetivos, estrutura e funcionamento.

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Para esta pesquisa tomou-se como referência a análise documental realizada por

meio das atas relativas ao período de recorte de nosso estudo (setembro de 2010 a setembro

de 2011), como também, pelas observações sistemáticas às reuniões do CMAS/Santa Inês-PB.

No entanto, localizou-se apenas o Livro de Atas com registros de reuniões datadas a partir de

janeiro de 2005.

Vale destacar que o CMAS foi criado no contexto da década de 1990, quando houve

grande propagação dos conselhos pelo governo brasileiro. No entanto, atribui-se este fato

como na maioria dos municípios à exigência legal para transferência de recursos das esferas

federal e estadual para áreas fundamentais, a exemplo da assistência social.

Apesar da Criação do Conselho datar de 1997, quando a Lei Orgânica da Assistência

Social – LOAS já havia sido promulgada desde 1993 e nela já apresentava-se os dispositivos

legais que estabelecem a Composição dos Conselhos nas diferentes instâncias, a Lei

Municipal não inclui na representação da Sociedade Civil, os usuários ou organizações de

usuários da Assistência Social e trabalhadores do setor, restringindo-se apenas a

representantes de entidades ou associações rurais, comunitárias e igrejas. Fato que não garante

uma participação efetiva dos usuários da Política de Assistência Social no Conselho, enquanto

sujeitos de direitos e não mais indivíduos e grupos de atendidos, sub-representados. Usuários

aqui são entendidos a partir da Política Nacional de Assistência Social – PNAS que o define

como “(...) cidadãos e grupos que se encontram em situação de vulnerabilidades e riscos (...)”

(BRASIL, 2005, p. 33).

Os questionários aplicados, que correspondem cerca de 100% (cem por cento) do

total de Conselheiros Titulares, apresenta composição paritária de representantes do governo e

sociedade civil em 2011.

Os dados revelam ainda a predominância de Conselheiros do sexo feminino, com

75% (setenta e cinco por cento) do total, e 25% (vinte e cinco por cento) do sexo masculino,

distribuídos em uma faixa etária que varia de 27 (vinte e sete) a 50 (cinqüenta) anos.

Observa-se que 98% (noventa e oito por cento) dos conselheiros possuem

escolaridade a partir do ensino médio completo, sendo 37,5% (trinta e sete e meio por cento)

com ensino superior completo, o que demonstra um nível satisfatório de instrução dos

integrantes do CMAS.

Com base nos dados pesquisados, constatou-se que nenhum conselheiro do CMAS

participou de capacitação em Controle Social. Esse dado revela que a participação social pode

estar fragilizada pela ausência de capacitação e formação, pois para o desempenho das suas

atribuições e responsabilidades, o conselheiro necessita de um conjunto de conhecimentos,

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habilidades e atitudes específicos para uma prática efetiva, e ainda, está em constante

atualização a respeito de leis, normas e procedimentos administrativos.

4.2 Dinâmica de Freqüência e Qualidade da Participação dos Conselheiros

Para conhecer a dinâmica de freqüência e qualidade da participação do Conselho,

tomou-se como referência a análise documental realizada por meio das atas relativas ao

período de recorte de nosso estudo (setembro de 2010 a setembro 2011), como também, pelas

observações sistemáticas às reuniões do CMAS, com anotações no diário de campo do

pesquisador.

Quem participa das reuniões do conselho, freqüentemente, são os membros titulares

do CMAS, a assistente social da Secretaria Municipal de Assistência Social, e ainda

esporadicamente, representantes de algumas instituições do Município como o Conselho

Tutelar e o Centro de Referência de Assistência Social - CRAS.

Elaborou-se ainda um modelo para classificar as intervenções por segmento e

assunto. O tipo da intervenção foi classificado de acordo com as falas dos Conselheiros (as)

registradas nas atas, conforme seu conteúdo e objetivo, nas categorias:

Informes: quando o objetivo da fala é apenas oferecer informações a respeito

do funcionamento, organização das ações da política de Assistência no

Município e eventos realizados;

Propostas: quando o objetivo da fala é oferecer sugestões, propostas,

possibilidades, a serem avaliadas e decididas pelo Conselho;

Reclamações/Reivindicações: quando o objetivo da fala é apresentar

demandas, a serem avaliadas e encaminhadas pelo Conselho;

Concordância: quando o objetivo da fala é declara-se concordante com a

proposta apresentada por outro membro do Conselho;

Discordância: quando o objetivo da fala é declara-se discordante com a

proposta apresentada por outro membro do Conselho;

Questionamentos: quando o objetivo da fala é questionar.

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Contabilizou-se, através da leitura e análise das atas de reunião, o registro de um

total de 60 (sessenta) intervenções, das quais 76,6% (setenta e seis, seis por cento) foram

proferidas pelos representantes do Governo e 24,4% (vinte e quatro, quatro por cento) das

intervenções foram feitas pelos representantes da sociedade civil.

GRÁFICO 1 – INTERVENÇÕES DO CONSELHO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE

SANTA INÊS/PB DE SET/2010 A SET/2011

Intervenções

Governo

Sociedade Civil

76,6%

24,4%

Fonte: dados da pesquisa, 2011.

Isso denota a pouca representatividade da sociedade civil no CMAS, estando nas

mãos dos representantes do Governo a capacidade de influir e até mesmo direcionar as

questões tratadas no conselho. Assim, o governo continua representando o povo, porém tal

representação é completamente feita pela equipe de pessoas envolvidas nas tomadas de

decisões desenvolvidas pelos poderes, tornando-se assim, muitas vezes decisões que não

representam o pensamento do povo e seus anseios, os quais perpassam necessidades muitas

vezes não priorizadas pelos governantes, que “demoram” em perceber tais demandas,

implementando o que lhes é conveniente.

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GRÁFICO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS INTERVENÇÕES DO CONSELHO DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL DE SANTA INÊS/PB NO 1º TRIMESTRE DE 2011

1° Trim

informes

propostas

68%

32%

Fonte: dados da pesquisa, 2011.

Com base nos dados pesquisados, constatamos que 68% (sessenta e oito por cento)

das intervenções representam informes, as quais todas foram proferidas por representantes do

governo. Porém, das falas registradas, 32% (trinta e três por cento) foram classificadas como

propostas. Todavia, mais da metade das intervenções representam falas dos representantes do

governo.

Em relação às concordâncias 100% (cem por cento) das falas pronunciaram

concordantes com propostas apresentadas nas reuniões.

Não houve registros de falas que apresentassem reivindicações/reclamações sobre

nenhum assunto em questão.

Com base nestes dados apresentados relativos aos tipos de intervenção em 2011,

observa-se que há uma precariedade do CMAS no que diz respeito ao seu papel propositivo e

fiscalizador, uma vez que as intervenções priorizam os informes em detrimento das propostas,

protestos e discordâncias, fragilizando a efetivação do controle social.

Diante do exposto e relacionando com as categorias analisadas na pesquisa, entende-

se que os limites da freqüência e da qualidade da participação da comunidade no CMAS

podem ser pelo fato de que essa entidade ainda não conta na sua composição, com os usuários

da Política de Assistência Social e seus trabalhadores.

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Verificou-se ainda que os conselheiros estão desmotivados para participar das

reuniões e apresentar pautas relevantes para a construção permanente da Política Municipal de

Assistência Social, devido às várias dificuldades encontradas no Governo, que perpassam pela

falta de recursos, perseguições, desmotivação pessoal e social. Esta análise foi registrada no

diário de campo do pesquisador.

Constatou-se que alguns gestores ainda apresentam resistência no que diz respeito a

investir efetivamente em espaços democráticos como o CMAS, pois às vezes acreditam que

tais espaços podem refletir em maior espaço de luta e de apoio para a oposição ao governo

municipal.

Tais posturas são contrárias à proposta de mudança apontada no processo de

redemocratização e vislumbrada pela sociedade brasileira na perspectiva da construção de

Estado efetivamente de Direito.

Sendo assim, faz-se necessário que os diferentes níveis de governo e a sociedade

civil organizada repensem estratégias de sensibilização e mobilização da sociedade para a

construção de uma cultura política que desperte para a importância da organização política

como estratégia na luta pela efetivação e ampliação de seus direitos formalmente adquiridos.

Além disso, é importante desenvolver ações no interior do CMAS que priorizem o

planejamento das atividades de forma participativa, transparente, contínua e dinâmica, em que

sejam estudados, discutidos os conceitos, a legislação relativa a Política de Assistência Social

e suas respectivas instâncias de participação e controle social.

Faz-se também necessário rever e estabelecer regulamentações que fortaleçam os

princípios e diretrizes do Sistema Único de Assistência Social como sistema público,

descentralizado e participativo, especialmente no que diz respeito a própria Lei Municipal de

criação do Conselho estudado, de forma que contemple com prioridade a participação dos

usuários dos serviços e benefícios da política de Assistência Social.

É imprescindível a implantação de um processo de capacitação continuada para os

Conselheiros, promovida pelo Município em parceria com o Governo do Estado, que garanta

a qualificação dos Conselheiros (Sociedade Civil e Poder Público), a qual proporcione a

compreensão clara do papel dos conselheiros, para que se tenha mais eficácia e efetividade na

organização das atividades e atuação efetiva dos Conselhos no controle social e elaboração de

Políticas Públicas.

Faz-se oportuno destacar que mesmo num cenário de contradições registra-se a

realização de 04 (quatro) Conferências Municipais que mobilizaram e envolveram um número

significativo de cidadãos na definição de propostas materializadas em deliberações que foram

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encaminhadas para as Conferências Estaduais e Nacionais que devem ser observadas e

implementadas pelos governos na elaboração de seus planos e orçamentos.

Portanto, entendem-se os espaços dos Conselhos de Políticas Públicas como

potencialmente importantes para superação do modelo de Estado que conhecemos

caracterizado historicamente pelo autoritarismo, pela ineficácia e pela corrupção, com

intervenções ligadas a defesa dos interesses do capital em detrimento da classe trabalhadora,

subjugada, na sua maioria, à exclusão no acesso as condições mínimas de sobrevivência.

No entanto, os conselhos não são os únicos canais de participação e controle social,

pois contamos com outros espaços tais como: movimentos sociais, organizações, fóruns,

comissões, grupos e outras formas de articulações da sociedade civil com forte presença da

cultura da participação e de construção de direitos para todos os cidadãos.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pressuposto a despeito de alguns avanços alcançados através da implantação

do Conselho Municipal de Assistência Social do município em estudo, nota-se que este vem

funcionando de forma precária, com frágil participação popular, tanto do ponto de vista da

freqüência nas reuniões, como da qualidade das intervenções e proposições feitas no

município.

Nesta perspectiva, foram identificados alguns fatores que vêm limitando o efetivo

exercício do controle social, pois apesar da existência de representação paritária da sociedade

civil no Conselho Municipal de Assistência Social de Santa Inês/PB, há a ausência da

participação direta dos usuários e organizações de usuários do SUAS, fato que têm

comprometido a qualidade da participação na definição de prioridades e tomada de decisões.

Contudo, entende-se que a participação social deste segmento é sempre acompanhada

de desafios, num contexto sócio-político marcado por profundas desigualdades sociais e por

serem tradicionalmente excluídos da cena pública, nos processos de construção de políticas

públicas e do envolvimento com questões de governo.

Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias para a inclusão da

representação direta dos usuários no CMAS, assim como estimular o seu protagonismo nos

espaços de decisões do Sistema Único de Assistência Social para garantir sua efetiva

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participação e o rompimento com o viés do assistencialismo clientelismo ainda presente, mas

revelado por meio de vínculos de subalternidade e dependência.

Contudo, os conselhos são espaços públicos importantes, privilegiados de construção

das políticas públicas, onde sujeitos sociais encontram lugar para transformar suas

necessidades em propostas a serem incluídas na agenda das políticas públicas. Exercem ainda,

um papel fundamental no controle da gestão pública e na democratização das relações que se

estabelecem entre Estado e Sociedade Civil.

Assim, a pesquisa demonstrou que existem várias limitações na dinâmica de

freqüência e da participação, como a falta de participação dos usuários, a priorização dos

informes nas intervenções em detrimento das propostas no CMAS, e a falta de

reivindicações/reclamações e discordâncias. Portanto, constatou-se que há uma fragilidade no

controle social do CMAS, tendo em vista que as intervenções não fortalecem o caráter

propositivo deste órgão e seus partícipes.

Este estudo remonta a importância da assistência social nos municípios, em geral de

pequeno porte; e demonstra a necessidade de estudos futuros sobre o tema de suma

importância para o controle social contemporâneo.

MINI CURRÍCULO Maria Estelina Nunes Ramalho Possui bacharelado em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB (2007) e Especialização em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB (2011). Trabalhou na Prefeitura Municipal de Conceição/PB durantes os anos de 2009 e 2010. Trabalha atualmente na Prefeitura Municipal de Santa Inês/PB.

Contato: [email protected]

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL – SANTA INÊS/PB

Sexo ( ) Masculino Idade: _______________

( ) Feminino

Representação

( ) Governamental

( ) Titular

( ) Suplente

( ) Sociedade Civil

Escolaridade:

( ) Fundamental

( ) Médio

( ) Superior

( ) Pós-graduação

( ) Outro

Formação:___________________________________________________________________

Área de Atuação:_____________________________________________________________

Órgão/Entidade que representa:_________________________________________________

Cargo/função que exerce:_______________________________________________________

Tempo de atuação/envolvimento na área da Política de Assistência Social:

______________________________________________________________________________

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Já participou de algum processo de capacitação em controle social?

( )Sim ( )Não

Participa de outro Conselho Municipal de Política Pública/Direito?

( ) Sim,qual?__________________________ ( )Não

Motivo de ser conselheiro?________________________________________________________

______________________________________________________________________________

O que significa ser Conselheiro?___________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Você acha o Conselho Municipal de Assistência Social importante?

( ) Sim. Por quê?_______________________________________________________________

( ) Não. Por quê?_______________________________________________________________

O Conselho Municipal de Assistência Social já obteve alguma conquista?

( ) Sim. Qual?__________________________________________________________________

( ) Não

( ) Não sabe

Observações/ Sugestões__________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Obrigada pela participação!