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A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA ELABORAÇÃO DOS PLANOS MUNICIPAIS:
DESAFIOS, AVANÇOS E ESPECIFICIDADES – REFLEXÕES A
PARTIR DO CASO OSASCO
Leandro Resende de Freitas Melina Rombach
Rodrigo Pereyra de Sousa Coelho
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Painel 23/002 Governança e Participação nos Municípios
A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA ELABORAÇÃO DOS PLANOS MUNICIPAIS: DESAFIOS, AVANÇOS E ESPECIFICIDADES –
REFLEXÕES A PARTIR DO CASO OSASCO
Isidro-Filho
Leandro Resende de Freitas Melina Rombach
Rodrigo Pereyra de Sousa Coelho RESUMO
O presente trabalho buscou fazer uma descrição e uma breve análise dos
principais desafios do processo de participação social pela internet no contexto de
elaboração dos planos municipais, a partir da experiência da Secretaria de
Planejamento e Gestão - SEPLAG do município de Osasco, que foi responsável por
coordenar a elaboração dos Planos Municipais Juventude Viva1, de Cultura, Viver sem
Limite2, de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e de Mobilidade Urbana.
A Secretaria de Planejamento e Gestão - SEPLAG foi institucionalizada pela
Lei 261/2013, com a missão de promover o planejamento governamental participativo,
de médio e longo prazo a partir dos planos municipais, visando garantir a
transversalidade das políticas públicas, promovendo a articulação de diversas áreas
da gestão pública municipal, estimulando a participação social e o fortalecimento da
cidadania.
Desde 2013, a SEPLAG trabalhou com os planos de Cultura, Juventude Viva,
Viver sem Limite, Mobilidade Urbana e de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de
1 O Plano Juventude Viva é uma iniciativa do governo federal, coordenada pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República (SGPR) e pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade de jovens negros a situações de violência física e simbólica, a partir da criação de oportunidades de inclusão social e autonomia para os jovens entre 15 e 29 anos. 2 O Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Viver sem Limite é uma iniciativa do governo federal com o objetivo de fortalecer e criar ações em benefício das pessoas com deficiência.
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maneira a trazer a participação social como uma prática real no processo de
elaboração dos planos. Foram realizadas Consultas Públicas pela internet, debates
presenciais (ciclos de debates) nos territórios, diálogos setoriais/sociais com atores
estratégicos, reuniões com Conselhos Setoriais e, por fim, realização de audiências
públicas.
A partir dessa experiência, propomos uma reflexão sobre os resultados das
consultas públicas realizadas como etapa da participação social em cada plano, assim
como das estratégias e mecanismos utilizados. Ainda consiste em um desafio para a
gestão pública que a participação reflita as complexidades e especificidades de uma
cidade, com suas contradições e seus diversos atores sociais, econômicos e políticos.
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1. INTRODUÇÃO
Desde o final dos anos 1980, o Brasil passa por profundas modificações que
acabaram tendo reflexos nas mudanças observadas na administração pública
nacional. Sem dúvida, a mudança mais relevante é a conclusão do longo processo de
transição política que conduziu o país de uma ditadura à uma democracia recém
instalada na metade da década. Este processo de transição foi impulsionado por lutas
da sociedade civil que se organizou a partir de sindicatos de trabalhadores/as, ações
setoriais (como o movimento sanitarista da saúde), diversas entidades profissionais,
igreja, entre outros (WERNECK VIANNA, 1986).
Ao mesmo tempo em que a redemocratização se aprofundava no país, o
contexto político econômico internacional passa por uma guinada, com a eleição de
governos conservadores – especialmente na Inglaterra, nos EUA e na Alemanha –
que passaram a questionar as ações e o próprio sentido do aparato estatal. O setor
privado passa, gradualmente, a ser encarado como paradigma de eficiência e boa
alocação de recursos, em contraposição a um Estado ineficiente e incapaz de produzir
justiça social. No Brasil, assim como em toda a América Latina, este novo ideário
chega durante os anos 1990 (ANDERSON, 1995).
Ambos os processos têm impacto na administração pública brasileira. Na
década de 1990 é marcante devido ao processo de modernização da administração
pública, promovido por Luiz Carlos Bresser–Pereira à frente do Ministério da Reforma
e Modernização do Estado (MARE), com a introdução do chamado Modelo Gerencial
(ABRÚCIO, 1997). O modelo gerencial de administração pública, baseando-se na
experiência dos países anglo-saxões, buscava incorporar à administração pública
algumas das novas ferramentas gerenciais do setor privado que tanto impulsionaram
o crescimento da economia internacional, então em processo incipiente de
globalização. Além da adoção de novas ferramentas tecnológicas, aproveitando os
avanços da informática, e de expedientes de Recursos Humanos típicos das
empresas, como maior flexibilidade dos cargos e avaliação de desempenho, foi
adotado todo um novo paradigma de legitimação da ação do estado: o foco no
resultado, ou – como anunciam seus defensores – foco no cidadão (VAZ, 2008).
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A pauta da reforma gerencialista foi efetivamente incorporada pelo Estado
brasileiro. Ela propunha a superação do modelo burocrático (incompleto) introduzido
na Era Vargas. E, dentro deste contexto, o planejamento estratégico surge como uma
inovação no âmbito da administração pública.
A renovação do papel do planejamento na administração pública, dentro do
contexto de democratização brasileira, acaba assumindo um papel importante frente
à demanda por maior participação social. Neste sentido, Carlos Matus descreve que:
(...) planejar é tentar submeter o curso dos acontecimentos à vontade humana, não deixar que nos levem e devemos tratar de ser condutores de nosso próprio futuro, trata-se de uma reflexão pela qual o administrador público não pode planejar isoladamente, esta se referindo a um processo social, no qual realiza um ato de reflexão, que deve ser coletivo, ou seja, planeja quem deve atuar como indutor do projeto (MATUS, 1993, p. 13).
Matus (1993) entende que o ator que planeja não tem assegurada sua
capacidade de controlar integralmente a realidade, pois isso dependerá da ação de
outros atores; o autor entende, ainda, que existe mais de uma explicação para a
realidade, em função das interpretações dadas pelos vários atores; que vários atores
sociais enfrentam-se, com objetivos conflitantes; e que o poder é escasso e o
planejamento deve sistematizar o cálculo político e centrar sua atenção na conjuntura.
Assim, o planejamento brasileiro ganha um forte acento de participação social,
com construção intersetorial, buscando juntar atores da sociedade civil e
governamentais – incluindo as três esferas de governo.
No que tange ao planejamento estratégico municipal, Pfeiffer (2000) o
considera um instrumento de gerenciamento que, como qualquer outro, tem um único
propósito: tornar a gestão de uma cidade mais eficiente. Cabe ressaltar também Lopes
(1998), que apresenta o Planejamento Estratégico Municipal com objetivo principal de
coordenar os vários níveis e funções estratégicas de uma cidade dentro de um projeto
global, considerando a missão, as estratégias, o orçamento e o controle dos objetivos
das ações municipais. Motta (2004), por sua vez, reitera que este planejamento da
cidade é uma forma de aprendizado sobre as demandas e necessidades externas e
sobre a capacidade de resposta da administração municipal para revelar expectativas
e referências de valor a um grupo de trabalho.
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Este texto busca discutir os desafios de se garantir a participação social no que
tange a elaboração dos planos municipais, a partir da experiência do município de
Osasco. No ano de 2014, o município elaborou três planos, a saber, o Juventude Viva
(que tem como objetivo o combate à violência contra a juventude negra) e o Viver sem
Limite (que tem como público-alvo as pessoas com deficiência) e o de Cultura. Em
2015 foram elaborados os planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e de
Mobilidade Urbana, a elaboração desses planos representou um grande desafio, seja
pelos temas complexos e polêmicos abordados, seja pela necessidade de articular
diversos atores governamentais e não governamentais ao longo do processo.
Para esta discussão, este artigo está estruturado em mais três seções, além
desta introdução. A primeira faz uma apresentação da Secretaria de Planejamento e
Gestão da cidade de Osasco, a segunda apresenta os resultados da participação de
cada Plano Municipal, bem como as estratégias adotadas. Por fim, algumas
considerações finais pretendem sistematizar os principais pontos desta experiência.
2. PLANEJAMENTO EM OSASCO/SP: METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO DOS PLANOS MUNICIPAIS
Em janeiro de 2013 teve início uma nova gestão da prefeitura de Osasco,
município de quase 700 mil habitantes localizado na parte oeste da Região
Metropolitana de São Paulo. O município é densamente povoado (mais de 10 mil
habitantes por Km²) e 100% urbano. O governo que começava mantinha a
continuidade do grupo político que, desde 2005, comandava a Prefeitura – porém,
como sempre ocorre, mesmo sendo um mandato sob o mesmo partido foram
realizadas algumas mudanças na condução político-administrativa da Prefeitura.
Dentre as mudanças realizadas, destacamos aqui a criação da Secretaria de
Planejamento e Gestão (SEPLAG). Esta secretaria teria a função de evitar que, por
entraves burocráticos, os projetos prioritários da Prefeitura tivessem uma lenta
execução. Além disto, a SEPLAG deveria, entre outros objetivos:
a) formular e articular a execução das políticas públicas setoriais e
multisetoriais, de acordo com os objetivos e metas da administração
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municipal, acompanhar o cumprimento das metas e os resultados,
identificar as limitações e dificuldades, e propor as medidas necessárias à
efetividade da implementação dessas políticas;
(...)
h) coordenar a elaboração e implantação das metodologias e procedimentos
de trabalho a serem utilizados no processo de planejamento, prevendo
estratégias de articulação e mobilização das unidades administrativas
(OSASCO, Lei Municipal Complementar nº 261/2013).
Ou seja, entre os objetivos da SEPLAG está o apoio à elaboração de planos
municipais diversos. Isto constitui uma inovação na forma de planejamento municipal,
haja visto que usualmente os planos municipais são tocados pelas respectivas
secretarias municipais afins. O objetivo desta inovação (dar esta competência a uma
única secretaria) foi garantir a coordenação e articulação entre todo o planejamento
da Prefeitura. O apoio prestado pela SEPLAG não excluía, evidentemente, a
participação das secretarias ligadas aos temas – não haveria sentido elaborar um
plano municipal de educação sem a ativa participação da secretaria municipal de
educação, o mesmo valendo para saúde, assistência social, segurança pública e
cultura, por exemplo. Porém, estes diversos planos deviam apontar para a mesma
direção e foi para garantir a unidade no planejamento do governo que a SEPLAG foi
chamada a atuar.
Para tanto, a equipe do Departamento de Planejamento Estratégico (DEPES)
formulou, em 2013, uma metodologia de apoio à elaboração de planos municipais.
Esta metodologia será chamada neste artigo de “inicial” por ter sofrido alterações em
relação a diversos aspectos. Com esta metodologia inicial, o DEPES pretendia dar
conta de apoiar a elaboração de 15 planos municipais setoriais ou intersetoriais que
se apresentavam como prioritários no momento. A figura 1 mostra o rol de planos que
constam na agenda municipal.
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Figura 1. Rol de Planos Municipais setoriais ou intersetoriais a serem elaborados com apoio da SEPLAG, Osasco, 2013.
PLANOS
MUNICIPAIS
DIRETOR
SAÚDE
Fonte: DEPES (2014)
A metodologia inicial desenhada pelo DEPES previa 4 etapas distintas de
planejamento. A primeira seria a etapa diagnóstica, onde seriam debatidos quais os
principais problemas a serem enfrentados com relação a estes temas. Para o DEPES,
A formulação de políticas públicas depende da relação que se estabelece entre
os diversos atores e o modo como é definido o problema que vá sofrer a intervenção
governamental. Uma definição de problema elege determinados aspectos da
realidade que são relevantes para se alcançar objetivos específicos em detrimento de
outros. Ou seja, conforme Dery (1984), a maneira pela qual definimos um problema
não só determina uma situação, mas também circunscreve as possíveis soluções
(DEPES, 2014).
Uma vez identificado os principais desafios, a metodologia inicial previa uma
discussão sobre qual a situação desejada no futuro com relação a estes problemas.
Em outras palavras, quais os objetivos e os impactos esperados do plano sobre a
realidade atual.
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A terceira fase é onde se discutiriam as estratégias, os setores responsáveis,
os recursos que irão fazer com que os objetivos sejam alcançados. Nesta fase se
traçam metas operacionais.
Por fim, todo plano precisa ter claro quais são os mecanismos pelos quais ele
deve ser avaliado e acompanhado. Isto implica em estabelecer meios de
acompanhamento, indicadores quantitativos e qualitativos (quando couber), formas de
debate sobre o rumo da implementação do plano, entre outras formas. A quarta fase
do planejamento deveria se encarregar deste acompanhamento.
De forma esquemática, as fases do planejamento podem ser vistas na Figura
2.
Figura 2. Etapas da metodologia inicial de planejamento, Osasco, 2013.
Fonte: DEPES (2014)
Para tornar estes conceitos mais objetivos, o DEPES elaborou um “Passo a
passo dos Planos Municipais”, onde descreveu didaticamente as ações que deveriam
ser seguidas durante a elaboração do Plano. São elas:
Identificar interlocutores/as dentro das secretarias pertinentes;
Identificar interlocutores/as pertinentes na sociedade civil;
Abrir Processo Administrativo para início do Grupo de Trabalho (GT);
Traçar princípios para o plano;
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Convocar a sociedade civil (audiências públicas e/ou conferências e/ou
consultas públicas) para que ela possa contribuir na elaboração do
diagnóstico setorial;
Elaboração do diagnóstico (o diagnóstico poderá trazer mais secretarias
para o GT);
Traçar os objetivos (em 2 momentos: somente intergovernamental e
junto à sociedade civil via GT e/ou Consulta Pública e/ou Conferências);
Traçar as metas (em 2 momentos: somente intergovernamental e junto
à sociedade civil via GT e/ou Consulta Pública e/ou Conferências);
Estipular indicadores de monitoramento (impacto, resultado e processo);
Submeter o plano à aprovação (em 2 momentos: somente
intergovernamental e junto à sociedade civil);
Enviar o texto final do Plano para a Secretaria de Assuntos Jurídicos da
Prefeitura para transformar o Plano em um projeto de lei;
Encaminhamento para Gabinete do Prefeito para aprovação final;
Envio do texto para Câmara Municipal dos Vereadores.
Em fevereiro de 2014, a SEPLAG passou por mudanças na composição da
equipe. O DEPES foi um departamento particularmente afetado e sua equipe foi
remodelada. A nova equipe assumiu, assim, uma metodologia já elaborada e um
mapeamento de planos a serem realizados no curto e médio prazo no município.
A nova equipe teve como primeira ação avaliar a pertinência da metodologia
inicial e organizar os trabalhos. Logo de cara, a análise mostrou dois pontos que foram
mudados. Em primeiro lugar, a ordem das etapas propostas foi mudada. Se a nova
equipe concordou que a definição de um diagnóstico que apontasse os problemas era
o passo inicial e decisivo do processo de planejamento, não se concordou que os
impactos esperados fossem discutidos em seguida e, somente depois, fossem
pensadas as ações que viabilizariam os objetivos.
No entendimento da equipe, esta dinâmica nos levaria ao estabelecimento de
objetivos ideais, que não estariam vinculados (num primeiro momento) aos limites
orçamentários, técnicos e políticos do que a Prefeitura poderia aportar ao plano.
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Assim, entendeu-se que melhor seria, a partir dos problemas identificados, pensar
quais ações poderiam ser executadas para resolvê-los ou minorá-los. E a partir das
ações estabelecidas, pensar em qual impacto se poderia esperar. Se o resultado é
menos ambicioso do que o inicialmente pensado, acredita-se que ele seja mais
exequível.
A segunda mudança era referente ao grau de participação da sociedade civil
no processo de elaboração. Pela metodologia inicial, a sociedade civil estaria presente
em todas as etapas do processo, apoiando o diagnóstico, o estabelecimento de metas
e o desenho final do plano. Dois complicadores fizeram com que tal proposta fosse
revista. O primeiro foi o tempo necessário para articular diversos momentos de efetiva
participação popular: estes processos são longos, e a agenda de planos a serem
executados era bastante extensa. O segundo complicador era a falta de entendimento
prévio dos setores internos da Prefeitura a respeito dos temas a serem tratados. Na
falta deste entendimento, a discussão poderia ficar a reboque de interesses de
grandes empresas que trabalhem com os temas em análise. Este complicador fica
mais explícito quando se pensa nos Planos de Mobilidade Urbana (onde o
conhecimento técnico das empresas de ônibus supera o dos demais atores), de
Resíduos Sólidos (o mesmo com relação às empresas de coleta de lixo).
Com isso, a metodologia foi alterada para que a Prefeitura fizesse uma ampla
discussão interna, onde identificasse os desafios colocados e sua possibilidade de
intervenção. A partir de um consenso governamental, a discussão passaria a ser feita
junto com a sociedade civil. Ou seja, a sociedade civil discute todos os aspectos do
plano, mas discute a partir de uma postura governamental já acordada entre os
diversos setores da Prefeitura envolvidos no processo.
Estas foram as primeiras mudanças, necessárias para ajustar a metodologia
ao entendimento da equipe responsável pela coordenação do núcleo.
3. DO MÉTODO A PRÁTICA:
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Conforme já apontado anteriormente, a SEPLAG já havia discutido e revisto
uma proposta metodológica de elaboração de planos municipais. Ao mesmo tempo,
havia uma lista de 15 planos a serem elaborados com prioridades e prazos
diferenciados. Evidentemente, não é plausível acompanhar a elaboração
concomitante de um número tão elevado de planos de naturezas tão distintas. Foi
necessário, portanto, elencar as prioridades conforme a característica ou a exigência
legal do plano e definirmos os primeiros planos que seriam desenvolvidos. Assim, foi
definido que os primeiros planos seriam o Juventude Viva, Cultura e Viver sem Limite,
e o segundo bloco de planos municipais seriam o de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos e o de Mobilidade Urbana.
3.1. PLANO JUVENTUDE VIVA E CULTURA:
O primeiro canal de participação da sociedade foi por meio de uma consulta
pública realizada via internet. Os diagnósticos e as propostas foram disponibilizados
e para cada ação proposta, era possível que o cidadão concordasse ou discordasse
da proposta e que apresentasse sugestões, melhorias ou dúvidas. Os planos
municipais de Cultura e o Juventude Viva foram os primeiros planos a serem
colocados para consulta na internet, processo que durou pouco mais de um mês, entre
15 de setembro e 20 de outubro de 2014.
O site foi totalmente elaborado pela Secretaria de Comunicação – SECOM,
sendo todo o conteúdo elaborado pela SEPLAG. O processo de elaboração do site foi
um desafio, tendo em vista que os técnicos da SECOM não dominavam perfeitamente
as ferramentas de consulta pública, assim como a elaboração do site não era uma
prioridade para SECOM, pois a secretaria é responsável por toda a comunicação
institucional da Prefeitura.
Com base no diagnóstico do município, das ações da Prefeitura e do plano de
ação, a participação das pessoas consistia em avaliar se concorda ou não concorda
com a ação apresentada, e caso tivesse alguma proposta de alteração da ação o/a
munícipe poderia escrevê-la.
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Figura 3. Site das Consultas Públicas de Cultura e Juventude Viva:
Levantamos algumas considerações sobre o site:
Toda a elaboração feita pela SECOM
Problemas técnicos na primeira semana de consulta pública
Duas consultas públicas no mesmo período com temas parecidos
Capacidade de Mobilização Social baixa dos atores envolvidos
Apesar de não haver parâmetro do impacto da consulta, pelo caráter
absolutamente inédito dela no município, os resultados foram decepcionantes. No
período, para os dois planos, houve 661 acessos (Visualizações de Página) e 411
sessões (pessoas que interagiram ativamente com o site). Ao final, foram 62
contribuições para o Plano Municipal de Cultura e somente 12 contribuições para o
Plano Municipal Juventude Viva. Dado os públicos a quem se destinam os planos
(juventude e atores da cultura) se esperava grande interesse pela plataforma na qual
se deu a consulta (internet). E, evidentemente, a sensação de frustração com os
resultados deixou algumas lições.
Outro canal de participação social adotado foi a audiência pública. Com um
prazo de um mês de antecedência, as audiências foram convocadas e suas regras
publicadas. A primeira audiência pública a ocorrer foi a do Plano de Cultura, que foi
discutido em uma reunião extraordinária do Conselho Municipal de Cultura, que teve
ampla divulgação e contou somente com a participação dos Conselheiros, em
especial os e as representantes da sociedade civil.
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Já a audiência do plano Juventude Viva ocorreu como uma atividade do
“Novembro Negro”, que é um conjunto de ações que valorizam a cultura negra e a
promoção de debates sobre combate ao racismo e políticas de igualdade racial, a
audiência também divulgada amplamente entre os movimentos sociais, contou com a
participação de 70 pessoas, na sua maioria jovens secundaristas.
Nestas audiências, foi apresentado o processo de elaboração dos planos e
discutido cada ação proposta, as dúvidas surgidas e propostas oriundas da consulta
pública discutidas e, algumas, incorporadas.
3.2. PLANO MUNICIPAL VIVER SEM LIMITE:
Para a realização da consulta pública do Plano Viver sem Limite, a equipe
técnica da SEPLAG definiu que a prioridade do site seria a de possuir ferramentas
que pudessem garantir a acessibilidade e a ampla participação das pessoas com
deficiência. Continuando com a parceria institucional da SECOM, foi solicitado um site
com ferramentas de acessibilidade, o processo de elaboração estourou todos os
prazos estabelecidos demorando 6 meses para chegar na primeira versão, conforme
figura abaixo:
Figura 4. Site elaborado pela SECOM para o Plano Viver sem Limite
Havia recurso de áudio e um vídeo em Libras explicando o que é a Consulta
Pública do Plano e como participar, contudo, após o lançamento foi observado que o
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site estava com problemas técnicos e não estava recebendo as propostas dos/as
internautas. A SECOM apresentou as dificuldades de se trabalhar com essa
ferramenta, assim como a falta de técnicos/as para continuar o trabalho.
A solução adotada pela SEPLAG foi de contratar um programador para a
realização do projeto, contemplando todos os itens solicitados pela equipe, assim
como o registro de um domínio que foi o www.participaosasco.com.br. Assim o novo
site muda o seu layout e ganha as ferramentas de acessibilidade, além de utilizar o
banco das imagens em aquarela para os planos.
Com base no diagnóstico do município, das ações da Prefeitura e do plano de
ação, a participação das pessoas consistia em avaliar se concordava ou não
concordava com a ação apresentada, e caso tivesse alguma proposta de alteração da
ação o/a munícipe poderia escrevê-la.
Figura 5. 2ª Versão do site elaborado pela SEPLAG para o Plano Viver sem Limite:
Algumas considerações levantadas:
Incapacidade de elaborar um Site acessível para pessoas com
deficiência
Problemas técnicos na primeira versão do site
SEPLAG assume a elaboração do site – DEPI – Comunicação e DEPES
Fundamental na elaboração do Plano Municipal Viver sem Limite foram as
ações de estímulo à participação social, que contou com grande apoio da sociedade
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civil organizada que solicitou esclarecimentos sobre o plano para a prefeitura. Nesse
sentido, destacamos como resultado dessa reunião a realização de cinco diálogos
com a população, com apoio de organizações sociais, para apresentar o plano à
sociedade civil. Entres os parceiros envolvidos na mobilização, destacam-se:
Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD Osasco), Associação de
Atendimento Multiprofissional e Ensino Especial Profissionalizante (AAMEEP), Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB Osasco), Associação Pestalozzi Osasco e Associação
Mantenedora de Mães Especiais (AMME Osasco). Esses diálogos sociais tiveram o
objetivo de aproximar o Plano Municipal Viver sem Limite aos anseios da população
de nosso município, principalmente às necessidades das pessoas com deficiência.
A partir desse diálogo social que estimulou as pessoas a participação na
consulta pública via internet, mas também na audiência pública, que teve a maior
lotação e grau de participação dentre todas as realizadas até o momento. Com a
presença de pessoas com deficiência, pais e mães, professores/as da rede municipal
de ensino, representantes de entidades de atendimento ao público-alvo, os debates
se estenderam por dois dias e, ao fim, chegou a um resultado efetivamente mais
participativo em comparação aos dois planos anteriores.
3.3. . PLANOS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PMGIRS) E DE MOBILIDADE URBANA (PMMU):
Ambos planos são norteados por legislação nacional que obriga os municípios
a cumprirem uma série de procedimentos para suas elaborações (Lei de Saneamento
Básico nº 11.445/2007 e da Política Nacional de Mobilidade Urbana nº 12587/2012),
além de condicionarem repasses de recursos e co-financiamento federativo de
projetos à sua existência.
Para as consultas públicas dos planos de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos e de Mobilidade Urbana, o site ganha um layout de portal, com o objetivo de
disponibilizar todos os planos já trabalhados pela SEPLAG. Nessa perspectiva de
integrar todos os planos em um site e com a mesma linguagem de comunicação, a
SEPLAG contratou uma consultoria, empresa responsável pelo projeto gráfico dos
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Planos Municipais. Além do novo layout, o site fica mais dinâmico e todo o conteúdo
foi feito pela equipe técnica da SEPLAG.
Com base no diagnóstico do município, das ações da Prefeitura e do plano de
ação, a participação das pessoas para o Plano de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos consistia em avaliar se concordava ou não concordava com a ação
apresentada, e caso tivesse alguma proposta de alteração da ação o/a munícipe
poderia escrevê-la. As ações estavam organizadas em dez eixos3 com diretrizes
específicas de cada eixo.
Contudo, para consulta pública do Plano de Mobilidade Urbana, as propostas
não estavam organizadas em ações, dessa forma, decidiu-se que seriam
disponibilizados todos os estudos técnicos e o relatório completo de diagnóstico do
município com perguntas norteadoras para que as pessoas pudessem escrever suas
propostas livremente.
Figura 6. Site elaborado pela Consultoria para o Plano de Resíduos Sólidos e Mobilidade Urbana:
3 Eixo 1: Resíduos sólidos domiciliares indiferenciados; Eixo 2: Resíduos sólidos domiciliares secos (materiais recicláveis); Eixo 3: Resíduos sólidos domiciliares úmidos (fração orgânica); Eixo 4: Resíduos dos serviços de limpeza pública; Eixo 5: Resíduos da construção civil e volumosos; Eixo 6: Resíduos de serviços de saúde; Eixo 7: Resíduos industriais; Eixo 8: Óleos comestíveis; Eixo 9: Resíduos da logística reversa; Eixo 10: Gestão de resíduos sólidos no município.
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Eixos do Plano Municipal de Mobilidade Urbana:
Transporte Ativo
Transporte Público Coletivo
Transporte de Cargas e Serviços
Transporte Individual Motorizado
Figura 7. Site elaborado pela Consultoria para o Plano de Resíduos Sólidos e Mobilidade Urbana, página por eixo
Exemplo de texto no eixo de transporte ativo:
Os transportes ativos consistem em todos os meios que permitem mobilidade das pessoas apenas pela sua força física, ou seja, pedestres, bicicletas, triciclos, patins, skates, patinetes, cadeiras de rodas, entre outros.
Nesse sentido, o Plano Municipal de Mobilidade Urbana de Osasco tem o objetivo que criar ações diversas, como calçadas acessíveis e ruas seguras para as pessoas caminharem ou se deslocarem com bicicletas.
Na sua opinião, o que poderia ser melhorado na cidade de Osasco para que os(as) cidadãos substituam o transporte individual motorizado (carro, moto, etc) por viagens a pé ou por bicicleta?
Algumas considerações levantadas:
Contratação de uma empresa para elaboração do site (Consultoria em
Design)
Layout e Design de um portal
Mais dinâmico
Formato com perguntas abertas
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Disponibilização de todo conteúdo técnico para consulta
Atualização constante de conteúdo que a Consultoria não conseguia
atender
Elaboração de cartilhas físicas para divulgação4
A partir das experiências das consultas públicas dos Planos Municipais e da
crescente participação dos/as munícipes a cada plano, promovendo a ideia de
participação social pela internet (Gráfico 1 e 2), alinhado com os ciclos de debate e
diálogos sociais, a equipe técnica do Departamento de Planejamento Estratégico da
SEPLAG, considera fundamental e estratégico fortalecer e garantir a participação
contínua para os próximos planos municipais.
Gráfico 1. Número de acessos ao site
Gráfico 2. Número de contribuições das Consultas Públicas
4 Cartilha do PMGIRS disponível em http://participaosasco.com.br/residuos-solidos/ Cartilha de Mobilidade Urbana disponível em http://participaosasco.com.br/mais-mobilidade/
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Após dois anos e meio do início da gestão, os frutos do trabalho de apoio ao
planejamento setorial estão dando resultados. Além dos planos municipais que se
transformam em lei, algumas considerações devem ser feitas para que o trabalho
futuro seja construído a partir do aprendizado destes últimos anos.
Isto nos leva à nossa primeira consideração: um processo qualificado,
intersetorial e participativo de planejamento é algo que leva tempo. Isto porque juntar
diversas secretarias municipais em torno de um tema, discutir este tema a partir da
realidade local e ampliar esta discussão com o conjunto da sociedade civil são tarefas
extremamente complicadas, especialmente se considerarmos a tradição de
administração pública local brasileira: autoritária, pouco técnica, segmentada e pouco
vinculada à realidade territorial. Neste sentido, vale destacar que a elaboração do
diagnóstico é, ao mesmo tempo, a etapa mais demorada do processo e a mais
importante. Um diagnóstico bem feito deixa claro qual caminho a cidade deverá seguir
no futuro.
A segunda consideração é relacionada com a primeira: realizar um esforço
qualificado, intersetorial e participativo de planejamento exige recursos técnicos e
humanos. Isto porque é necessário conjugar conhecimento técnico específico sobre o
tema abordado com a capacidade de trabalhar em rede e com um espírito democrático
aberto ao debate. Mesmo que à primeira vista pareça contraditório, os temas
urbanísticos são relativamente mais simples de serem tratados, pois uma vez
decifrados os aspectos técnicos, há pouca margem para controvérsias. No caso dos
temas sociais, o senso comum e a discussão baseada em pré-conceitos obriga que
os mesmos pontos sejam constantemente retomados por colocações pouco
pertinentes. No caso de Osasco, as colocações de alguns técnicos/as sobre a
ausência de racismo no município (no caso do Juventude Viva) ou a visão piedosa
sobre a questão das pessoas com deficiência (no caso do Viver sem Limite)
dificultaram avanços mais expressivos nas propostas finais.
A terceira consideração é que no processo de elaboração dos planos fica nítido
a janela de oportunidade que determinados movimentos sociais buscam garantir que
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suas demandas sejam ouvidas e registradas nos processos participativos. Na
elaboração do PMGIRS, a participação do movimento de catadoras e catadores foi
intenso; igualmente os grupos de cicloativistas de Osasco participaram numérica e
qualitativamente de todas as etapas participativas propostas no Plano Municipal de
Mobilidade Urbana.
Em outras palavras, num processo participativo é necessário gerenciar os
limites de todos atores, buscando evitar decisões que levem ao rompimento do
debate. E como resultado, o desenho final do plano nunca chega à expectativa inicial
daqueles que se dedicam com maior afinco à militância no tema.
Da mesma forma, a insistência na participação social, buscando formas de
ampliar e qualificar esta participação também é um ganho em si, independente da
forma final que os planos assumem. Enfim, também o debate público intersetorial é
aperfeiçoado no “fazer” constante; o aprendizado democrático também é um
processo.
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REFERÊNCIA
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AUTORIA
Leandro Resende de Freitas – Bacharel em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo e Gerente de Planejamento Estratégico da SEPLAG
Endereço eletrônico: [email protected]
Melina Rombach – Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo, Mestre em Administração Pública pela FGV e assessora técnica da SEPLAG –
Endereço eletrônico: [email protected]
Rodrigo Pereyra de Sousa Coelho – Doutor em Economia Social e do Trabalho pela UNICAMP e consultor da SEPLAG
Endereço eletrônico: [email protected]